Revista B2L Corporate 14

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SUMÁRIO Gestão Hospitalar Humanizar é preciso

Onde mirar novos negócios Sócios B2L respondem esta e outras questões

capa Educação em pauta: Cristovam Buarque fala sobre apagão intelectual

Raio-X Logístico Gargalos preocupam setor


Gestão Hospitalar

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Gestão Hospitalar

Dando continuidade à nossa série sobre Gestão Hospitalar, conversamos com o presidente da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares (FBAH), Valdesir Galvan, que abordou todo o universo que envolve a gestão – desde a entrada do paciente até sua alta. Sistema complexo e completo, a gestão está presente em todas as áreas de suporte, envolvendo os setores administrativo, financeiro, de logística, manutenção, higiene, nutrição, bem como todas as áreas assistenciais. Para garantir um processo eficiente, o gestor hospitalar precisa ter a visão como um todo. “São pequenas empresas, de diferentes segmentos, trabalhando juntas”. Galvan alerta que, se um hospital não tiver boa gestão, dificilmente terá sucesso. Para ele, ter os melhores doutores e não ter boa gestão pode levar ao fracasso. “Muitos hospitais têm dificuldade de entender que são uma empresa e que devem ser tratados como tal. Não dá para separar a parte clínica da administrativa. Precisam de agilidade. Por outro lado, dependem de licitações, mas o processo tem se acelerado”, diz.

Muitos hospitais têm dificuldade de entender que são uma empresa e que devem ser tratados como tal. Não dá para separar a parte clínica da administrativa.

Parcerias feitas pelo governo com as organizações sociais têm feito a diferença. Em São Paulo elas vêm acontecendo há 15 anos e têm se espalhado por todo o Brasil. “Isso porque os hospitais atendem em regime público, mas têm que pagar os profissionais pelo preço de mercado”, comenta. Investir em infraestrutura, manter a atualização dos equipamentos, melhorar a remuneração dos profissionais e adequar a localização dos hospitais – devem estar presentes em regiões com maior demanda – são pontos em que é preciso avançar, na visão de Galvan. Isso porque cerca de 70% dos pacientes não precisariam ir a um hospital geral e sim a uma unidade básica de saúde.

Valdesir Galvan, presidente da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares (FBAH)

“Muitos hospitais de alta complexidade estão tendo que atender baixa complexidade. Falta organização no fluxo da demanda. Algumas regiões têm US suficientes para diluir o atendimento. Seria necessária uma análise como um todo para distribuir melhor o atendimento”, aconselha. O presidente aponta que a assistência humanizada deveria ser tratada com naturalidade e não como um diferencial, e reforça o caos instalado na saúde com corredores lotados, pacientes no chão, falta de estrutura, superlotação. Estudo recente do Banco Mundial – em análise dos 20 anos do SUS – aponta que falta mais eficiência ao Sistema Único de Saúde do que verba, e que problemas de acesso e cuidados especializados têm mais a ver com desorganização e ineficiência do que com falta de dinheiro. Sobre o assunto, Galvan reafirma que o grande problema é a falta de gestão; não de dinheiro como tanto se propaga. “O formato do SUS é maravilhoso. O problema é quanto e como se remunera. O que não se sabe é se a distribuição de recursos é adequada. Com relação ao modelo de remuneração para os hospitais como um todo, hoje o sistema do SUS é melhor do que o sistema privado.” Os custos hospitalares crescem a cada ano. Cinquenta por cento dos gastos dos hospitais são cobertos pelo SUS. A outra metade vem dos pacientes privados. Quem mais atende SUS são hospitais filantrópicos devido à isenção fiscal. Hoje 50 milhões de usuários possuem plano de saúde no Brasil. Os outros 150 milhões dependem do SUS. “A gestão na esfera pública tem que organizar o sistema. A saúde se tornou evidência com frequência na mídia, e políticos acabam usando-a como bandeira, o que não se fazia no passado.”

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Gestão Hospitalar

Reconhecimento Há grandes hospitais premiados quando o assunto é humanização. Um exemplo é o Hospital Israelita Albert Einstein que recebeu em 2012 a designação “Planetree - Hospital Centrado no Paciente”. O hospital é o primeiro da América Latina a ser certificado pelo Planetree, uma organização americana sem fins lucrativos, que reconhece as instituições de saúde que oferecem serviços centrados no paciente, em ambientes saudáveis e propícios para a cura. Em todo o mundo apenas 27 instituições de saúde receberam esta designação.

envolvidas no tratamento se sintam valorizadas. Foram avaliados mais de 60 critérios, sendo que todos respondem às crenças do Planetree: acesso à informação, envolvimento da família, ambiente físico, alimentação e nutrição, espiritualidade, artes e entretenimento e terapias integrativas. A Designação Planetree, conforme a organização americana, é o único prêmio que reconhece a excelência no atendimento humanizado em instituições de saúde.

Atualmente o Albert Einstein (hospital-geral de alta complexidade, prontoDentre as atividades que ilustram os tra-atendimento, maternidade e medicina balhos de humanização desenvolvidos diagnóstica) conta com 647 leitos e no hospital a partir da filosofia Planetree, atende por dia 194.353 pacientes. O estão o acolhimento a acompanhantes total de colaboradores incluindo terceie familiares dos pacientes, visita de cléClaudio Lottenberg, presidente rizados chega a 12.322. rigos de diferentes religiões, conselhos do Albert Einstein consultivos de pacientes, reunião mensal com pacientes para discussão e sugestão de melhorias, músicos, trovadores e um mímico que Dados de 2012 se apresentam nas áreas comuns e de convivência do hospital. Número de exames realizados 4.954,6 mi Além disso, sabe-se que o envolvimento da família e Tamanho estrutural 300.323 m2 amigos é fundamental para uma boa recuperação, sendo assim, um novo conceito de horário de visita para os paSalas cirúrgicas 34 cientes foi proposto em todas as unidades. As visitas não Número de cirurgias (exceto partos) 37.866 devem ser restritas a horários específicos. E, durante procedimentos especiais, elas são negociadas entre as equipes e familiares. “Nosso foco principal é o paciente, ele está acima de tudo. O selo Planetree chegou para reforçar esta prática”, explica Claudio Luiz Lottenberg, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein. Para celebrar esta conquista o Hospital implementou diversas iniciativas e novas práticas destinadas a melhorar o atendimento à saúde a partir da perspectiva do paciente. Desde a sua fundação, em 1978, foi pioneiro em personalização, humanização e desmistificação das experiências de saúde para indivíduos em tratamento e seus familiares. Uma instituição designada pelo Planetree, como o Einstein, reconhece aos pacientes e à família mais poderes de decisão – por meio de informação e de educação – e incentiva as “parcerias de cura” como forma de aumentar a sua participação. Além do paciente, o Planetree também tem foco na relação dos colaboradores com as instituições hospitalares, criando uma rede em que todas as pessoas

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Parcerias públicas com a Prefeitura de S. Paulo Unidades Básicas de Saúde Equipes de Saúde da Família Atendimentos Assistência Médica Ambulatorial Atendimentos Centros de Apoio Psicossocial Adulto

13 82 2.001.825 4 1.093.968 1

Hospital Municipal Dr. Moysés Deutsch M’Boi Mirim Pacientes-dia Leitos operacionais Atendimentos de pronto-socorro Número de cirurgias (exceto partos)

94.577 229 202.767 3.193


Gestão Hospitalar

A gestão deve ocorrer dentro da necessidade do paciente e não do processo em si De acordo com o presidente do Hospital, a percepção da qualidade em saúde e particularmente, o conceito de valor não é voz diária por parte de quem consome saúde e isto dificulta negociações e por vezes a sustentabilidade. “Temos preocupações de caráter regulatório, mas até o presente momento nada que nos afete de forma tão direta e sentimos que a prática ainda não é facilmente ordenada em protocolos, o que gera muitos desperdícios”, pontua.

Humanização Como atingir uma assistência mais humanizada por parte dos profissionais da saúde? A resposta, de acordo com Lottenberg está na política de humanização, que faz parte do dia a dia da instituição. A UTI a pratica há quase quinze anos quando passou a permitir novas formas de acompanhamento e até dispensou o uso de paramentação para estes acompanhantes. “Temos rotineiramente serviço de psicologia hospitalar destinado à pacientes e a acompanhantes. Entretanto há três anos optamos por sermos certificados por um grupo externo e adotamos a plataforma Planetree. Neste processo elencamos dez eixos que compreendem desde instalações físicas, suporte espiritual e mesmo visitas de animais para casos selecionados. Quem sabe tenha sido como tudo aqui dentro, pois certos processos ao serem validados externamente acabam refletindo algo intrínseco desta organização que é o compromisso e eu diria até mais, uma obsessão pela excelência.” Sobre o estudo do Banco Mundial, o presidente afirma que a saúde no país é de caráter universal e credita aos inspiradores desta proposta e àqueles que a mantém dentro deste princípio um mérito muito grande. “O SUS é uma realidade e

merece respeito internacional pelo seu tamanho, pelo seu crescimento e pela melhoria de qualidade dentro de sua proposta. Não é tarefa fácil se preocupar e cuidar da saúde de 200 milhões de brasileiros”, defende. Entretanto, continua, é um sistema de financiamento e, como tal, depende não só de boas intenções e de boas práticas, mas também de recursos materiais. Nesta linha, a atenção que recebeu não foi prioritária e ela repete o curso histórico que provém ainda da época do Império, passando pela Medicina Campanhista e as práticas que a associaram à previdência. “Dentro desta linha, do tamanho do desafio, da alta complexidade que é a prática a assistência à saúde, a importância da segurança, aos volumes envolvidos, imagino que deva existir uma aproximação cada vez maior entre o setor privado e o público na construção deste processo e aí, tanto na alocação destes recursos como na melhor maneira em usá-los. A saúde tornou-se um processo complexo e necessita de um apoio muito grande de quem o faz, de maneira muito ordenada”. Internacionalmente, conforme aponta, inúmeros são os estudos que validam a importância dos diferentes atores deste cenário e daí classifica os entes puramente governamentais, os sem fins lucrativos e os com fins lucrativos. Interessante notar que os com fins lucrativos concentram suas ações em processos rentáveis sob a ótica financeira, e os demais não; preocupando-se com os interesses de suas comunidades. “Por isto alguns hospitais privados não se interessam por produtos de menor margem e dentro da legitimidade do sistema onde operam, isto é plenamente compreensível, mas não sustentam um processo de médio e longo prazos na ótica da sociedade maior.”

O espaço para este debate é amplo, pois a saúde suplementar é responsável pelo atendimento de cerca de 30% da população brasileira e imaginar sua pouca importância ou a sua desmotivação, significaria onerar ainda mais o Sistema Único de Saúde. Existe uma necessidade de um debate mais profundo sobre este tema. “Há enormes oportunidades para todos diante das necessidades futuras e atuais e, com diálogo acerca de todos os cenários que registrem graus de complexidade, regionalidades, com quadros regulatórios mais consistentes que poderiam ser criados sem engessamentos, isto levaria à criação de um quadro em que os recursos seriam mais bem distribuídos e melhor utilizados. O Brasil é um país de diversidade muito grande, com perfis epidemiológicos diferentes nas distintas regiões, com poder de compra também distinto e, portanto, não havendo processos incentivados e que encarem esta realidade de maneira abrangente e desprovida de teor político, vejo o futuro de forma ruim. Entretanto, acho que temos uma excelente oportunidade de, ao mesmo tempo, incentivar um mercado, impor padrões éticos, criar oportunidade de trabalho e principalmente atender este direito universal que é a saúde”. Lottenberg conclui afirmando que o primeiro equívoco já nasce do pressuposto de que a gestão é de caráter hospitalar. O Hospital é parte de um processo e desintegrá-lo de uma visão ambulatorial significa amputar oportunidades de melhorias embora tenha uma lógica operacional. “Sob meu ponto de vista o caminho é o inverso. A gestão deve ocorrer dentro da necessidade do paciente e não do processo em si. Assim o passo é centralizar o modelo na melhoria frente ao paciente e não frente ao recurso físico, pois afinal ele existe para atender e não para produzir”, reflete.

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Gestão Hospitalar

dentro dos mais avançados padrões científicos, alcançando índices de cura de cerca de 70%, semelhantes aos de instituições europeias e norte-americanas. Criado em 1991, atendendo em uma casa dentro do conceito hospital-dia, sete anos depois a instituição fundou o Instituto de Oncologia Pediátrica – IOP, unidade administrada pelo GRAACC em parceria técnico-científica com a Unifesp – Universidade Federal de São Paulo. Com 11 andares em uma área de 4.200 m2, trata-se de um centro de referência no tratamento do câncer infanto-juvenil, atendendo crianças e adolescentes de todo o Brasil – 40% deles vêm de fora.

Expansão Por estar no limite técnico de ocupação, o GRAACC necessita ampliar as instalações de seu hospital. O pontapé inicial foi dado com a doação de um terreno de 4.191 m² pela Prefeitura de São Paulo. As obras para a ampliação do hospital começaram em 2011. Os investimentos estão estimados em R$ 100 milhões para erguer um complexo com cerca de 16 mil m² de área. O complexo todo tem previsão de conclusão até 2015. Entre as diferentes formas de ajudar financeiramente o projeto de expansão está a captação de recursos por meio do Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente - Fumcad (http://fumcad.prefeitura.sp.gov.br).

Combate ao câncer infantil Conversamos também com Valdesir Galvan sobre o GRAACC (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer), do qual igualmente é presidente. De acordo com a assessoria de imprensa, o grupo conta com hospital próprio. De janeiro a novembro de 2013 realizou 24.521 consultas médicas, 36 transplantes de medula, 10.436 sessões de quimioterapia e 1.538 procedimentos cirúrgicos. Com um orçamento de R$ 84 milhões anuais - e especializado em casos de alta complexidade, como tumores do sistema nervoso central, tumores ósseos, leucemias e outras neoplasias que necessitam de transplante - atende mais de 3 mil crianças e adolescentes por ano. Foram atendidos 286 novos casos e realizadas 1.258 internações no período. Referência no tratamento e pesquisa do câncer infanto-juvenil na América Latina, uma das mais respeitadas e bem-sucedidas ONGs do país, o GRAACC é uma organização sem fins lucrativos que nasceu com a missão de garantir a crianças e adolescentes com câncer, o direito de alcançar todas as chances de cura com qualidade de vida. A organização é reconhecida pelos expressivos resultados obtidos

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O fundo permite a destinação de parte do imposto de renda de pessoas físicas e jurídicas para projetos que garantem os direitos fundamentais da população infanto-juvenil, como o GRAACC. Pessoas físicas podem destinar até 6% de seu imposto de renda devido, e pessoas jurídicas, até 1%. Galvan explica que 90% dos atendimentos são feitos pelo SUS e 10% pelos planos de saúde. O câncer é uma das patologias mais caras que existem.

Parcerias O sucesso do GRAACC se deve, sobretudo, às consistentes parcerias que estabeleceu ao longo dos anos: com a Unifesp-Escola Paulista de Medicina, que dá o suporte técnico e científico e garante o conhecimento, ensino e pesquisa; os empresários, que participam da gestão e do financiamento; a sociedade civil (milhares de pessoas fazem doações mensalmente) e os voluntários - 400 que atuam em 18 setores e mais de três mil voluntários que trabalham em eventos pontuais de mobilização para a causa e captação de recursos financeiros. A gestão eficiente rendeu a certificação de qualidade de seu voluntariado, ISO 9001, entregue recentemente pelo ABS Quality Evaluation – QE, um dos líderes mundiais em certificação. Anualmente, o GRAACC é auditado pela KPMG.


Gestão Hospitalar

Constatada a doença, o primeiro atendimento que a família do paciente recebe é do serviço social do GRAACC, que esclarece todos os direitos do paciente (transporte público gratuito, resgate do fundo de garantia, entre outros). Esse serviço desenvolve, por meio de uma equipe multidisciplinar, projetos que trazem benefícios a seus pacientes: Clínica da Dor, acompanhamento constante da dor durante o tratamento; Projeto Perna Amiga, junto com empresas parceiras, faz doações de próteses; e Projeto Profissionalizante, de encaminhamento profissional dos ex-pacientes, entre outros. “São criadas condições para que a criança e o adolescente não desistam do tratamento”, diz o presidente.

Pós-tratamento Também dentro da filosofia de tratamento integral, o GRAACC criou a Clínica Multiprofissional de Atendimento aos Pacientes Fora de Tratamento – CForT, que dá apoio aos pacientes fora de tratamento há no mínimo dois anos. Tem caráter multidisciplinar e envolve as áreas de enfermagem, médica, nutrição, fonoaudiologia, fisioterapia, psicologia, assistência social e educação. Após o tratamento, quando o paciente volta ao hospital para exames de rotina, ele passa por essas áreas, recebendo atendimento completo, com o intuito de prevenir efeitos tardios, sejam eles físicos ou emocionais. O projeto é sustentado por três pilares: reinserção do paciente à sociedade, trabalho emocional com as famílias e lembranças do tratamento (traumas). Um dos principais objetivos da CForT é mudar o quadro de vitimização do paciente, na tentativa de mostrar que ele tem condições de levar uma vida normal.

Taxas comparativas de sobrevida de câncer Hospital Graac Leucemia Linfoide Aguda1

4%

(Câncer de Sangue)

83% 50%

Linfoma de Hodgkin

89%

(Câncer nos Gânglios Linfáticos)

Linfoma não Hodgkin

7%

(Câncer nos Gânglios Linfáticos)

71%

Retinoblastoma

75% 89%

(Câncer no Olho)

Neuroblastoma (Câncer do Tecido Nervoso, comum no abdomen de crianças pequenas)

10% 45%

Leucemia Linfóide Aguda

50% 92%

(Câncer de Sangue)

Leucemia Linfoide Aguda2

20% 61%

(Câncer de Sangue)

Leucemia Linfoide Aguda3

30%

(Câncer de Sangue)

Leucemia Linfoide Aguda2

88% 5%

(Câncer de Sangue)

Leucemia Linfoide Aguda1

68% 10%

(Câncer de Sangue)

71%

1 - Baixo Risco 2- Não Metastáticos 3- Ressecáveis

1962 (Dados obtidos do Departamento de Rel. Públicas do St. Jude, Memphis, TN) Presente (Dados obtidos do Registro Hospitalar Instituto de Oncologia Pediátrica IOP - GRAAC - UNIFESP)

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case de sucesso

A Maven investe em atendimento rápido, capacitação para solução de problemas, monitoramento e atuação proativa, o que cria a sensação real de segurança aos clientes Inovação e atendimento: esses são os pontos fortes da Maven, empresa voltada à tecnologia para publicações digitais. Focada em novas soluções, oferece uma ferramenta-modelo para jornais e revistas, que possibilita a leitura em computadores, tablets e smartphones, além de uma solução única para visualização de processos eletrônicos e órgãos públicos.

Fundada em 2009 pelos idealizadores Aline Deparis e Marison Souza, dispõe de uma equipe pequena, porém qualificada, que impulsiona a empresa a se desenvolver cada vez mais: a Maven vem dobrando de tamanho a cada ano com crescimento próximo a 100% desde 2010. Em 2013 realizou investimentos em qualificação interna, P&D e novos produtos, diversificando seus clientes e serviços; com isso,

espera-se continuar com a mesma taxa de crescimento, em 2014. Em entrevista à revista B2L Corporate, Marison Souza, diretor operacional da Maven, conta o processo de crescimento da empresa responsável pelo Mavenflip, referencial em publicação digital no Brasil, atuando fortemente nos setores público e editorial.

B2L - Referência em soluções de tecnologia, a empresa tem apresentado notável crescimento nos últimos anos. A que se deve esse desenvolvimento?

Os sócios, Aline Deparis e Marison Souza, responsáveis pelo sucesso da Maven

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A busca por inovação nas empresas do ramo editorial e a procura constante de redução de custos e modernização do setor público casaram perfeitamente com o modelo de negócio criado pela Maven. Para a área privada no Brasil existiam apenas dois players que atuavam fortemente para jornais e revistas, com soluções ultrapassadas desde 2007 e não havia alternativas. No setor público tudo ainda era muito embrionário e os incentivos para redução do


case de sucesso uso de papel contribuíram para a busca por soluções digitais. O Mavenflip chegou no momento exato, e esse timing foi essencial para o sucesso do produto.

B2L - Como a Maven se diferencia das demais empresas do segmento? Investindo fortemente em inovação e atendimento, buscamos incansavelmente novas soluções. Os clientes dos nossos clientes possuem acesso rápido às principais inovações do mercado, e a Maven conta com monitoramento constante para a ferramenta não sofrer com a defasagem tecnológica com o passar dos anos. Além disso, a principal queixa dos clientes de outras empresas do segmento é em relação ao atendimento, falta de suporte técnico e apoio, por isso a Maven investe em atendimento rápido, capacitação para a solução de problemas, monitoramento e atuação proativa, o que cria a sensação real de segurança em nossos clientes. Eles contam hoje com a Maven como parte de seu corebusiness, e é assim que temos que nos posicionar.

B2L - Como a Maven avalia a concorrência? A área de tecnologia é muito ampla e há possibilidade de atuação em diversas vertentes e ramos de negócio. A Maven iniciou sua trajetória com o Mavenflip, e todos os esforços foram focadas neste produto, o que direcionou a empresa para a especialização em publicações digitais com foco neste mercado, o que a posiciona em uma zona visível aos clientes que buscam parceiros de negócio e não apenas fornecedores. Jornais e revistas de grande circulação carecem de parceiros em tecnologia que garantam a sustentação de seu negócio e inovação constante, e é isto que a Maven oferece e executa com primor, diferenciando-se da concorrência.

B2L - Como a empresa analisa os serviços prestados aos órgãos públicos? Os órgãos públicos necessitam de modernização para combater a inércia e defasagem de suas soluções tecnológicas. Devido ao fato de possuírem um processo mais burocrático de contratação para a correta prestação de contas à sociedade, essa modernização não ocorre no mesmo timing que as empresas da área privada. Por isso, a Maven tem como desafio reduzir essa distância e aproximar os gestores de TI e de comunicação de uma solução mais completa, sem agregar trabalho e custos para os setores; muito pelo contrário, servindo como redutor de gastos e agregador de produtividade para a equipe.

B2L - A Maven dispunha de estrutura para atender estes contratos? Como foi o processo de adaptação?

No início a Maven precisou investir muito para ter a possibilidade de atender um tribunal. Tribunais e empresas de grande porte exigem suporte 24 horas SLA de atendimento de pouquíssimas horas, solução de problemas de imediato, acompanhamento do sistema em produção e uma série de requisitos irreais de serem atendidos por empresas sem uma organização necessária para tal. A Maven investe em consultorias de planejamento estratégico, jurídico, marketing e contábil, o que nos garantiu uma redução na quantidade de trabalho fora do nosso corebusiness e o pleno atendimento aos contratos firmados com a iniciativa pública e grandes empresas.

B2L - Quais os principais clientes atendidos no setor privado e quais serviços são os mais procurados? Nossos principais clientes da área privada são o Grupo Sinos, um dos maiores grupos de comunicação da Região Sul, onde somos responsáveis por mais de 15 publicações entre jornais, cadernos e revistas. Em São Paulo destaca-se a editora Lamonica com 16 títulos de grande sucesso e a editora CrazyTurkey com nove revistas de expressão no mercado. Já no Nordeste destacamos o Diário de Pernambuco, o jornal mais antigo da América Latina em circulação.

Produtos e Serviços: Mavenflip Serviço de publicação digital em nuvem para empresas que precisam publicar documentos em formato responsivo. Mavenflip in House Produto licenciado e instalado em servidores do cliente onde se agregam serviços de suporte técnico, consultoria e customização para atender às necessidades específicas. Aplicativos para publicação e leitura de documentos em dispositivos móveis (tablets e smartphones).

Receita: Serviço

Faturamento

Mavenflip como serviço SAAS

35%

Mavenflip in House (utilizado por governos e grandes empresas)

50%

Demais serviços (aplicativos e desenvolvimento sob demanda)

15%

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perspectivas 2014

O que esperar do novo ano? Que áreas serão mais promissoras? Onde o apetite estará presente? O que as empresas podem esperar? Onde mirar novos negócios? Que setores merecerão os olhares atentos dos investidores? Estas e outras perguntas foram respondidas por sócios B2L, marcando a primeira edição do ano. Carlos Martins, fundador da Wizard, que revolucionou o ensino de inglês no Brasil, também nos brinda com sua opinião.

Entendo que os setores promissores em 2014 para

Assim como ocorreu no ano passado, o setor de

o Grupo B2L serão o agronegócio, imobiliário e

saúde continuará em pleno crescimento em 2014,

o setor de varejo. No agronegócio enxergamos

sustentado por uma crescente classe média que busca

fantásticas oportunidades principalmente na

atendimento de qualidade superior ao sistema público.

conversão de pastagens em áreas produtivas.

Destaque para os planos médicos e odontológicos

Além disto, o desenvolvimento de silos e

e clínicas de exames médicos. Já sobre a segurança,

armazéns para estocagem de grãos em regiões

em virtude do aumento significativo dos índices de

selecionadas.

criminalidade, principalmente nos crimes contra o

No setor imobiliário, teremos grandes

patrimônio, 2014 será um ano de expansão para este

oportunidades no financiamento à produção de

segmento econômico, especialmente para as empresas

imóveis residenciais, parcerias em equity nas SPEs,

que atuam na vigilância e monitoramento de bens e

negociação com os recebíveis performados e

pessoas. Por fim, considerando que o Brasil sediará a

operações de real state de imóveis comerciais e

Copa do Mundo de futebol, haverá uma grande procura

galpões de logística. O ano de 2014 será ainda de

por opções de lazer e turismo nos Estados-sede,

consolidação do varejo no Brasil, especialmente

especialmente pelos turistas estrangeiros que visitarão

no farmacêutico, de eletrodomésticos e vestuário.

nosso país no período dos jogos mundiais.

Rubens Serra (presidente do Conselho)

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Raul Delgado (sócio B2L)


perspectivas 2014 O Brasil não pode continuar vivenciando crescimentos tão baixos em uma economia com tanto potencial (interno e externo). É necessário que as empresas entendam que é preciso ter um foco em competitividade (gestão, inovação, tecnologia etc.), e não somente ficarem à espera de medidas intervencionistas do Poder Público. Para o ano que inicia, apontamos duas variáveis que irão influenciar diretamente a nossa economia: Copa do Mundo e Eleição Presidencial. O primeiro evento terá reflexo direto e positivo no setor de turismo, sendo o principal segmento que irá impulsionar a economia. Em relação ao segundo, haverá impacto direto, especialmente no primeiro semestre, ancorado ainda no primeiro evento, no setor industrial e em particular às empresas que atuam na área de infraestrutura. Por fim, o setor de serviços continuará também sendo bastante promissor em termos de crescimento, com destaque para a área de educação, dado que o baixo desemprego, o aumento da renda, a oferta de mão de obra especializada no mercado de trabalho interno e a acessibilidade aos cursos têm gerado uma grande procura por conhecimento.

Mauricio Perucci (sócio B2L)

O que se planta, colhe-se. Plantamos errado, em

O Estado do Pará possui uma vocação nata para o

termos de política econômica e, portanto, estamos

empreendedorismo. Nesse sentido, destaco como

colhendo: juros altos, inflação alta, dólar alto, consumo

uma das áreas mais promissoras o setor de logística e

e crescimento baixos. O ano de 2014, por isso, se

todas as atividades que giram em torno dele - como

apresenta como um ano difícil para os setores ligados

a venda de veículos pesados propiciando uma maior

aos bens de consumo. Não há dúvidas de que a

performance no transporte de mercadorias e dos

população brasileira passa por um amadurecimento

produtos fabricados no Estado. Pois, hoje, a logística

não só na idade mas também na contenção e

dá um suporte essencial à área de mineração nos mais

conscientização dos gastos. Por isso, o brasileiro deve

diversos polos de extração no Estado. Destaco ainda

começar a gastar mais com serviços. A aposta seria em

mais, o setor de prestação de serviços; embora alguns

serviços relacionados à educação, ao envelhecimento

possam ser contrários, acredito que a terceirização da

(como saúde e previdência) e, adicionalmente,

mão de obra é um caminho sem volta para quem deseja

à aquisição da casa própria (como imobiliárias e

uma economia dinâmica e voltada à competição em

construtoras voltadas à primeira moradia).

busca dos melhores resultados.

Gustavo Sardinha (sócio B2L)

Tito Valente (sócio B2L)

Eu acredito que o Brasil é um país que tem muitas oportunidades para o jovem empreendedor, especialmente na área de serviços. Lamentavelmente, vivemos num país onde a qualidade dos serviços é muito pobre. Então qualquer empresa que passar a oferecer um produto/serviço com qualidade, imediatamente terá uma aceitação maior no mercado. Também há outro aspecto: hoje temos 40 milhões de brasileiros no país, com dinheiro e recursos no bolso, que estão ávidos para se vestir, alimentar e se qualificar melhor. Então, quem tiver uma visão para poder atender às necessidades desta classe emergente de quase 40 milhões de pessoas, certamente terá muitas chances.

Carlos Martins (fundador do Grupo Wizard)

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Semana global

Investimento Anjo cresce 25% no Brasil A constatação faz parte de um levantamento feito pela Anjos do Brasil - organização sem fins lucrativos de fomento do investimento anjo para apoio ao empreendedorismo - e apresentado na 2ª conferência nacional da entidade, realizada no fim do ano passado. O crescimento se refere ao período 2012/2013. O estudo é efetivado considerando o período de julho a junho, totalizando R$ 619 milhões investidos, contra R$ 495 milhões do período de 2011/2012. Cassio Spina, empreendedor por 25 anos e fundador da Anjos do Brasil, aponta que, por outro lado, o número de investidores anjo brasileiros cresceu apenas 2,3%, passando de 6.300 para 6.450 pessoas físicas que aplicaram recursos e conhecimento em empresas iniciantes, as chamadas startups. Foi destacado que cerca de 80% destes investidores são apenas receptivos, isto é, aplicam somente quando são procurados por empreendedores. “Em 2013 observamos um fenômeno inverso ao ocorrido no período anterior. Tivemos um aumento maior do valor investido e menor do número de investidores, reflexo do baixo crescimento do número de pessoas com capital para investimento, mas ao mesmo tempo aumento do valor aplicado pelos investidores ativos”, afirma. Conforme Spina, o crescimento de 2,3% se deve à barreira da proteção jurídica (por não conhecer como se proteger para eventuais passivos que a empresa venha a contrair) e falta de estímulo e incentivos. A economia brasileira não está crescendo no mesmo ritmo, e o número de investidores também não cresceu. Ainda segundo este estudo, o valor médio aplicado por investidor anjo aumentou de R$ 79.000 para R$ 96.000, o que é justificado por a maior parte dos investidores ser do período anterior, tendo incrementado seus investimentos individuais. Apesar de ter sido um bom crescimento em termos de valor, comparando com os EUA, onde foram investidos US$ 22,9 bilhões em 2012 conforme estudo do Center for Venture Research, da Universidade de New Hampshire, o

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valor total do investimento anjo brasileiro ainda é apenas 1,2% do americano, demonstrando que o potencial de crescimento do nosso mercado é muito significativo. “Perguntamos aos investidores quanto eles teriam interesse em investir e apuramos que, em média, daria mais “Os investidores devem ser transde R$ 200 mil por formados em investidores ativos”, ano, por investidor defende Cassio Spina – na mesma pesquisa a relação investimento por investidor aponta um mínimo de R$ 100 mil. A intenção de investir é mais do que o dobro. O potencial está aí, o que precisa é criar condições para que isso realmente cresça”, observa. O fundador acredita que no Brasil o investimento anjo é feito de forma muito passiva e que os investidores devem ser transformados em investidores ativos. “Já vemos uma evolução grande no processo, inclusive com a participação da imprensa. Mas ainda há muito espaço para disseminar o conhecimento. Ainda há muito trabalho a ser feito. No dia em que houver uma política pública de investimento anjo, pelo estímulo e divulgação, muita gente irá avaliar melhor a questão”, aposta.

Entendendo os resultados: Enquanto nos Estados Unidos são concedidos diversos incentivos para os investidores anjo aplicarem em empresas emergen-


Semana global

tes (startups) chegando até 100% de isenção fiscal em alguns de seus Estados, no Brasil ainda não existe nenhuma política de estímulo ou sequer de proteção dos investidores anjo. Apesar de ter melhorado muito o perfil dos empreendedores brasileiros, conforme apontado em pesquisa elaborada pelo GEM (Global Entrepreneurship Monitor), ainda falta muita capacitação para a criação de negócios inovadores de alto potencial. De acordo com a Anjos do Brasil, o investimento anjo proporciona ganhos não só para os investidores, mas para a economia do país como um todo, pois como seu foco são empresas inovadoras de alto potencial, os sucessos proporcionarão negócios com grande geração de empregos qualificados e tributos recolhidos. “Exemplo disto é a Apple, maior empresa do mundo em valor de mercado, que iniciou com os fundadores Steve Jobs e Steve Wosniak e o investidor anjo Mike Markkula. Também existem exemplos de grande sucesso no Brasil, como o caso da empresa Buscapé, fundada por quatro engenheiros recém-formados em 1999, contando com apoio de um investidor anjo e que, após apenas dez anos, foi vendida por US$ 342 milhões, com mais de 700 funcionários”, pontua. Spina cita ainda a empresa Bematech, também fundada por dois alunos de mestrado com apoio de investidores anjo em 1992 e hoje listada na BOVESPA, com faturamento superior a R$ 350 milhões e mais de 1.100 funcionários.

Capital e Private Equity, o Instituto Educacional BM&F BOVESPA, a Endeavor, a CONAJE e o CJE-FIESP, entre outras.

SGE A 2ª Conferência Nacional da Anjos do Brasil faz parte da Semana Global do Empreendedorismo (SGE) - maior movimento de empreendedorismo no mundo, realizada no mês de novembro. A conferência contou com participantes presenciais e on-line (mais de 4 mil pessoas assistindo pela internet). Para a terceira edição, a intenção é apresentar um foco ainda mais prático, orientando cada vez mais os empreendedores. A SGE é um movimento global, que busca fortalecer a cultura empreendedora: conectando, capacitando e inspirando as pessoas para que possam empreender. Deste movimento participam mais de 130 países, milhares de organizações e milhões de pessoas. Em 2012, mobilizou no Brasil mais de 1,6 milhão de pessoas, com quase 4 mil atividades - o que faz da Semana brasileira a maior do mundo, com três premiações internacionais. A principal característica do movimento é convidar pessoas e organizações envolvidas com empreendedorismo a serem parceiras da causa e criar atividades sobre o tema. Grandes nomes internacionais também apoiam a causa, como: Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, príncipe Charles e a secretária de Estado americana, Hillary Clinton. No Brasil a lista conta com Luiza Helena Trajano, empresária e presidente do Magazine Luiza, Luiz Seabra, fundador da Natura, Oscar Metsavaht, criador da marca Osklen, entre outros.

O investidor anjo exerce um papel fundamental no sucesso destas empresas, pois, além de contribuir com o capital financeiro, aplica a experiência, conhecimento e sua rede de relacio- Com o tema “Se existe um sonho, existe um caminho!”, namento, tanto aumentando suas chances de sucesso quanto a SGE de 2013 trouxe discussões acerca dos Seis Pilares acelerando seu crescimento. “Esta importância é tão relevan- Para um País Mais Empreendedor sugerido pela OCDE: te, que estudo da OCDE (Organização de Cooperação para o Ambiente Regulatório, Mercado, Acesso a Capital, InovaDesenvolvimento Econômico) em mais de 30 países, identifi- ção, Capacitação e Cultura. cou que os investidores anjo têm um papel crítico no sucesso das empresas iniciantes”. A 2ª Conferência Nacional da Anjos do Brasil faz parte da SGE

Sobre a Anjos do Brasil A Anjos do Brasil (www.anjosdobrasil.net) é uma organização sem fins lucrativos criada para o fomento do investimento anjo e apoio ao empreendedorismo inovador brasileiro, promovendo ações para a disseminação de conhecimento e capacitação aos empreendedores e investidores, bem como possuindo uma rede de investidores anjo para empresas startups, com presença em mais de dez Estados brasileiros em pouco mais de dois anos. Conta ainda com apoio de entidades como a ABVCAP - Associação Brasileira de Venture


ESPECIAL EDUCAÇÃO

Apagão

intelectual

contamina o Brasil

O termo é forte. Contundente. O fato é que a única certeza que se tem no país hoje quando falamos em Educação, é a de que estamos vivendo um verdadeiro apagão. O resultado: um abismo intelectual que se agiganta com a falta de políticas adequadas e coerentes com o setor. A declaração é recorrente nos discursos do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), e faz parte da postura sustentada há anos em defesa do setor no Brasil, cuja situação qualifica como uma “tragédia”. A questão é que, em cinco séculos não se conseguiu resolver os problemas e construir uma economia baseada em mão de obra qualificada; tão pouco se

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conseguiu construir uma educação igual para todos - única forma possível de acabar com o atraso no país. Em entrevista à B2L Corporate, o senador aborda esta e outras ideias. Formado em Engenharia e doutor em Economia, o pernambucano Cristovam Buarque já foi reitor da Universidade de Brasília, governador do Distrito Federal e ministro da Educação. Candidatou-se pelo PDT à presidência da República e atualmente é senador. É responsável pela formulação da Lei do Piso Salarial dos Professores, em vigor desde janeiro de 2009.

A mente brasileira não é favorável à educação


ESPECIAL EDUCAÇÃO Convocar as forças nacionais para debater a crise no ensino brasileiro representa, na visão do senador, o início da construção de uma educação de melhor qualidade. Recentemente, pela primeira vez no Senado, foi realizado um debate sobre o papel da educação na infraestrutura. O Brasil que conta com estradas, portos, aeroportos, energia, colocou a educação em debate.

Observando tais índices, o senador ressalta que estamos muito ruins, porque na média o Brasil só tem 15 países atrás. Muita gente comemora porque o IDEB de hoje é melhor do que de dez anos atrás. “É um equívoco comparar-nos com nós próprios. Nós de hoje com nós de ontem. Temos que nos comparar com os melhores do mundo e olhar como a gente faz para chegar à Coreia do Sul, Finlândia, Singapura”.

Economistas e empresários encorparam o coro que chegou à conclusão de que sem infraestrutura educacional, o país não tem futuro. Cristovam defende que se não houver uma base federal, ao invés de municipal ou estadual, não teremos futuro porque são poucos os municípios que têm recursos para uma boa educação.

Para Buarque, o Brasil vive um conformismo em educação. “Compare a reação brasileira quando a Unesco diz que somos a 88ª nação do mundo em educação com a nossa reação quando diz que somos vice-campeões mundiais de futebol. Não nos conformamos em ser vice-campeões; mas em ser lanterninha na educação”, lamenta.

Para tentar reverter o apagão intelectual, é preciso partir dos menores. “Sempre perguntamos por onde começar do ponto de vista educacional para dar resposta imediata. Não há resposta imediata para o apagão educacional. Tem que começar pelo Ensino Fundamental. Isso não quer dizer que vamos parar de fazer cursos de qualificação e parar de trabalhar formas de melhorar o Ensino Médio, mas a verdadeira revolução tem que ser a partir do Ensino Fundamental”, alerta.

Países como Coreia do Sul, Índia, China e Irlanda, que há trinta anos estavam em situação pior do que o Brasil, hoje estão melhor. Na Irlanda, por exemplo, nos anos 70 líderes de todos os partidos se reuniram e se perguntaram: onde vamos investir o dinheiro que a gente vai ter com a Comunidade Econômica Europeia? E decidiram investir em educação. Muda governo, entra governo, sai governo e o investimento é em educação. Hoje é um país de ponta no setor, que se recupera da crise que atravessou porque tem uma população educada; Ciência e Tecnologia que o mercado mundial precisa.

Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) melhor média: federais melhores escolas: particulares (na média, estão abaixo das federais) PISA (indicador médio de educação por país) aponta que: • federais estão em 10º lugar • particulares em 25º • estaduais e municipais nos últimos cinco lugares entre as 53 nações que são avaliadas

Federalização da educação Sobre federalizar o ensino, Cristovam Buarque cobra a aprovação da PEC 32/2013, de sua autoria, que responsabiliza a União pelo financiamento da educação básica pública. A expectativa é de que comece o grande debate. “Ninguém pode imaginar que vai ser rápido. Os governos no Brasil acham que são eternos. Há uma confusão entre país, governo e partido do governo. São três coisas diferentes. O país é permanente, o governo é a administração disso e o partido que está no governo é provisório, não vai ficar para sempre. É como dar um pequeno passo, sem querer olhar lá na frente, dando passos maiores”, afirma. Sobre a criação de uma carreira nacional do magistério público (defendida pelo senador), pagando com dignidade, identificando vocações, quebrando a ideia de estabilidade plena, e oferecendo escola de qualidade para os professores exercerem suas aptidões, ela está distante de se concretizar do

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ponto de vista político de se decidir fazer e do ponto de vista de levar a todo o Brasil depois de começar. Após decidir por uma carreira nacional do magistério, será necessário contratar esses professores, pois não existem educadores com essa qualificação para pagar o que o senador propõe: R$ 9.500,00 por mês. “Não vamos conseguir dois milhões de jovens, pois eles hoje preferem outras carreiras. Eu proponho que seja aos poucos no Brasil, mas de imediato nas cidades. Ao longo de 20 anos, chegaríamos a todo país. Escolas federais com professores da carreira nacional do magistério, em prédios novos, bonitos e equipados, em horário integral”, projeta.

Inimigos do professor O que mais afasta o professor da sala de aula? Uma das coisas é a própria escola. O salário afasta, mas o faz menos do que o clima das salas de aula, a degradação dos equipamentos, o descontentamento dos alunos que leva à violência. Depressão e doenças na garganta são preocupantes, pois muitos ministram 40 horas de aula e ainda dão aula em outro lugar para complementar o salário. “Vai dar aula, não tem giz; as cadeiras estão quebradas, os alunos estão com raiva e são violentos. Um dos lugares mais violentos no Brasil hoje é a sala de aula. A escola não é adaptada às crianças. O quadro-negro, como existe há 150 anos no mundo, é como um pau de arara de tortura para uma criança. Uma tortura mental, pois estão acostumadas com computador, televisão, colorido, movimento”. Quanto aos impactos da realidade de nossa educação na economia brasileira aliados às crescentes exigências de ciência e tecnologia, o senador apresenta dois impactos imediatos: um, é o produto que a gente faz; o outro, é a ineficiência com que é feito. Para ele, sem educação de base para todo mundo, estamos jogando fora cérebros. “É como se a gente descobrisse um poço de petróleo quando nasce uma criança e tapasse quando não põe na escola. Estamos jogando fora um recurso fundamental que é a criação intelectual, que hoje é determinante”, comenta Buarque.

O senador revela que o futuro não pode estar na exportação de soja e ferro, que são exportados há 500 anos. E sim na exportação de bens de alta tecnologia, que não temos condições de criar. “Nem mesmo automóvel. Não tem um automóvel brasileiro com nome brasileiro e sim americano, coreano, japonês.” A falta de educação leva à falta de mão de obra criativa e produtiva, o que culmina nas dificuldades de hoje.

Um dos lugares mais violentos no Brasil hoje é a sala de aula

Quanto o Brasil precisa investir • R$ 9 mil por aluno por ano • isso representa quatro vezes o que se gasta hoje • para ter todas as crianças com R$ 9 mil ao ano e pagar R$ 9.500,00 por mês para os professores, são necessários R$ 450 bilhões por ano • se em 20 anos o PIB crescer 3% ao ano, esse valor vai representar 6,5% do PIB • Plano Nacional de Educação pensa em colocar 10% • educação de base custaria 6,5% • sobraria dinheiro (3,5%) para o ensino superior e todas as outras formas de educação

Criamos uma cultura que não dá valor à educação. O governo despreza a educação porque o eleitor o faz.

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O quadro-negro, como existe há 150 anos no mundo, é como um pau de arara de tortura para uma criança.

Crédito: Geraldo Magela | Agência Senado

Olhar a educação com respeito “Não enxergamos a educação com a importância que ela deveria ter. Como coisa fundamental, símbolo de riqueza. No Brasil, ser rico é ter um carro bom, conta bancária, uma casa boa, outra na praia, viajar para longe. Diploma na parede não é sinônimo de riqueza. No máximo, significa que a pessoa vai ter uma renda alta. As pessoas estudam para ter uma renda, não porque educação seja enriquecedora.” A cultura brasileira difere de outros povos onde, quando você mostra um diploma de professor, as pessoas se abaixam. “Não vamos nem perguntar sobre o salário deles... No Brasil quando se fala em professor e se pensa no salário, trata-se com desprezo. Criamos uma cultura que não dá valor à educação. O governo despreza a educação porque o eleitor o faz”, observa, completando que a educação não faz parte das variáveis que o eleitor usa para tomar decisão em quem votar. Ela entra muito distante. Responsável pela formulação da Lei do Piso Salarial dos Professores (Lei 11 738), Cristovam Buarque afirma que do ponto de vista legal a questão está resolvida. “Demorou muito. Primeiro eu consegui aprovar o projeto de Lei criando o piso. Governadores tentaram impedir no Supremo, dizendo que era inconstitucional. Nós ganhamos. Depois, o problema foi com a maneira de reajustar. Mas no Brasil tem lei que não pega. O piso não pegou em todas as cidades e Estados.” Conforme o senador há Estados ricos que não pagam o piso alegando que não têm dinheiro. A maior parte deles, se fizesse uma mudança nas prioridades, teria dinheiro. “Outros, porém, acho que não conseguiriam pagar mesmo. Por isso defendo que pelo menos o piso seja pago pela União”. Todo brasileiro professor receberia o valor do piso: R$ 1.652,00 do governo federal e os governos estaduais e municipais dariam a diferença. Os que pagam hoje; pagariam a mais. O salário ficaria igual em todo o Brasil, mas o piso seria pago garantidamente. “Isso foi um passo até a gente chegar à federalização definitiva em que todos os professores seriam funcionários federais, como são hoje os profissionais de todos os órgãos federais do país”, conclui.

Sem educação de base para todo mundo, estamos jogando fora cérebros

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MAPA DE OPORTUNIDADES

Analfabetismo De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), a taxa de analfabetismo no Brasil, de pessoas com 15 anos ou mais, parou de cair. Em 2012, os números foram estimados em 8,7%, que corresponde ao contingente de 13,2 milhões de analfabetos. Em 2011, essa taxa foi de 8,6% e o contingente foi de 12,9 milhões de pessoas. Segundo dados da pesquisa, essa é a primeira vez em 15 anos que a taxa de analfabetismo aumenta. Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a variação de 0,1 ponto percentual está dentro do “intervalo de confiança” e não significa necessariamente que o analfabetismo aumentou, e sim, que se manteve estatisticamente estável.

Desenvolvimento Apenas cinco cidades foram classificadas com o índice “muito alto” de desenvolvimento em educação. Dos 5.565 municípios do Brasil, somente Águas de São Pedro-SP, São Caetano-SP, Santos-SP, Vitória-ES e Florianópolis-SC foram classificados como maior índice de desenvolvimento. Água de São Pedro, no interior paulista, está no topo da lista; Melgaço, no Pará, ocupa o pior lugar. Os dados são do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD Brasil).

USP Um estudo divulgado pela Times Higher Education (THE) coloca a Universidade de São Paulo (USP) como a 11ª melhor universidade de países emergentes. A China foi o país com mais destaque no ranking, ficando com os dois primeiros lugares, quatro nos dez primeiros e 23 no top 100. Já o Brasil aparece com quatro universidades entre as 100 melhores das economias emergentes. Além da USP, aparecem Unicamp (24), UFRJ (60) e Unesp (87). O segundo país com maior número de universidades no ranking é Taiwan, com 21.

Matrículas Em 2003, 65% dos jovens com 15 anos frequentavam a escola no Brasil. Em 2012, o país conseguiu matricular 78% dos adolescentes nesta faixa etária. Segundo estudos, muitos dos jovens que passaram a fazer parte dessa porcentagem vêm de comunidades rurais ou famílias socioeconomicamente desfavorecidas.

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Ranking O Brasil aparece em penúltimo lugar no ranking da educação, de acordo com um estudo divulgado pela empresa Pearson, de materiais e serviços educacionais. Apenas os estudantes da Indonésia figuram atrás dos brasileiros. Foram avaliados 39 países mais a região de Hong Kong. A pesquisa levou em conta testes internacionais e colocou à frente do Brasil nações como Colômbia, Tailândia e México. No topo da lista, figuram países como Finlândia, na primeira posição, e Coreia do Sul, na segunda. O Japão ocupa a quarta posição; Estados Unidos, 17ª.

0,5 Esse é o percentual de jovens estudantes brasileiros capazes de compreender um texto desconhecido tanto na forma quanto no conteúdo, e fazer uma análise elaborada a respeito. A pesquisa, feita pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), aponta que apenas um em cada duzentos alunos atinge o nível máximo de leitura e que 49,2% dos estudantes conseguem, no máximo, entender a ideia geral de um texto que trata de um tema familiar, ou fazer uma conexão simples entre informações lidas e o conhecimento cotidiano. Com esses indicadores, o Brasil está no mesmo patamar de interpretação de texto de países como Colômbia, Tunísia e Uruguai.


MAPA DE OPORTUNIDADES

Baixa posição Mesmo após conseguir evolução significativa em itens avaliados pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), o Brasil ainda ocupa baixas posições no ranking. Dentre os 65 países avaliados, ficou em 58º lugar. A avaliação foi feita pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e é aplicada a jovens de 15 anos, a cada três anos. O estudo avalia o desempenho dos estudantes em três áreas: leitura, matemática e ciências. Em 2009, o Brasil ficou em 54ª lugar.

67 milhões Esse é o número de crianças no mundo que não têm acesso à educação. Essa realidade é encontrada principalmente em países com alta taxa de natalidade e alvos de conflitos armados. Os dados foram levantados pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (Ecosoc), e a informação consta no relatório “A crise oculta: Conflitos Armados e Educação”. De acordo com o documento, 79% dos jovens que vivem em países afetados por conflitos são analfabetos e que, entre 1999 e 2008, ao menos 52 milhões de crianças foram matriculadas na educação primária, o que representou aumento de um terço com relação à década anterior.

Despesas militares Ainda segundo relatório divulgado pela Ecosoc, se o conjunto das 21 economias mais desenvolvidas do mundo investisse apenas 10% dos recursos que são destinados às despesas militares em educação, seria possível alfabetizar mais 9,5 milhões de crianças.

Ensino superior No Brasil, existem 2.377 instituições de ensino superior, segundo dados do MEC. Deste total, 85% são faculdades, 8% são universidades, 5,3% centros tecnológicos e 1,6% são institutos tecnológicos.

Ensino superior II Somente 26,7% da população adulta em vida universitária no Brasil (18 a 24 anos) está matriculada no ensino superior. A média é três vezes menor do que em países europeus e nos Estados Unidos. Fontes: Exame, Época, Globo, INEP, MEC, Terra, Folha de S. Paulo

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INSTITUCIONAL

Última rodada de negócios reúne oportunidades e network Foi assim que os participantes definiram a última rodada de negócios realizada pelos sócios da B2L. O encontro, que foi dividido em dois, contou com a participação da CRP Investimentos e DGF Investimentos. Na ocasião, foram apresentadas oportunidades de acordo com alguns critérios preestabelecidos pelos fundos, assim, estas eram colocadas em prática sob a análise dos investidores. O presidente do Conselho do Grupo B2L, Rubens Serra, mentor das rodadas de negócios, explica que os encontros existem para trazer oportunidades para os investidores e que estas rodadas refletem o princípio do Grupo: aproximar empresários, donos de negócios e investidores. “O objetivo hoje é aprimorar novas oportunidades, trazendo velocidade, objetividade e credibilidade tanto para os fundos quanto para os empresários, demonstrando que a B2L tem um relacionamento sólido com os fundos de investimento”, complementa. O primeiro encontro, que aconteceu na sede da B2L, em São Paulo, foi com a CRP Companhia de Participações – pioneira na indústria brasileira de Venture Capital e Private Equity –, e reuniu dez empresários com oportunidades de investimentos, que estão com projetos de crescimento e/ou expansão. João Marcelo Eboli, Officer Senior e sócio da CRP, conta que o encontro foi extremamente positivo, tanto pelo network quanto pela estrutura, com empresários apresentando seus negócios e repassando informações sobre projetos. “O que eu acho bacana do encontro, não só do ponto de vista do investidor, é você receber estas informações e conhecer detalhes do negócio como performance e desenvolvimento, por exemplo”.

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INSTITUCIONAL

O sócio da CRP também destacou dois pontos positivos para a rodada: a oportunidade de os empresários receberem feedbacks sobre seus projetos apresentados e conhecer mais sobre outros negócios e mercados onde eles não atuam. “Isso faz com que entendam melhor os objetivos dos investimentos que nós queremos fazer, o que também é importante para que possam se preparar melhor quando forem procurar um investidor”. Já para a CRP, Eboli reforça a oportunidade para encontrar os empresários e ter acesso a novos projetos. “O que para nós é a fonte: poder achar as empresas - esse filtro feito pela B2L, com o trabalho de prepará-los para a apresentação - faz com que economizemos muito tempo, e isso é muito importante para nós”, conclui. A segunda etapa da rodada aconteceu em novembro, com a DGF Investimentos, que se dedica à gestão de fundos de investimento em participações, modalidade também conhecida como Private Equity. Em outras palavras: o fundo busca empresas que estão na fase de startup, e as que já têm certa maturação, com o mínimo de faturamento, e de preferência com projetos sustentáveis. O analista de investimentos, Luiz Henrique Noronha, da DGF Investimentos, também avalia a participação como uma oportunidade para ampliar a rede de contatos e conhecer empresas em um curto período de tempo. Para ele, a dinamicidade das rodadas de negócios otimiza a avaliação de empresas. “De forma geral foi muito positivo, pois ainda não conhecíamos os sócios da B2L, então foi bom para ampliarmos nossa rede de contatos e por poder ver várias empresas”, expõe. A sócia Priscila Spadinger explica que foi uma experiência a mais para todos os empresários, que muitas vezes não têm oportunidade para entender como funciona o mercado de capitais. “Foi, no mínimo, um trabalho social que a B2L fez, principalmente para divulgar o tema de Venture Capital e Private Equity na sociedade de origem, que é o foco da B2L: mercados fora do eixo Rio-São Paulo”. Priscila enfatiza que também foi uma oportunidade para as empresas agregarem o poder de síntese, pois dessa vez tiveram que ser rápidos. “Foi ainda uma chance para apresentar fundos de investimento e tirar o conceito de que somente bancos privados oferecem a oportunidade de investimento. Agora é possível buscar mercados de capitais e governança, enfim, tudo aquilo que eles precisam para a melhoria da empresa”. Durante 2013 foram realizadas quatro rodadas de negócios, e a previsão para 2014, de acordo com Serra, é de dez encontros, dentro de um trabalho setorizado e pontual.

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Raio X

Desempenho logístico apresenta

defasagem de 67%

Tivemos em julho passado, o maior apagão logístico. Foi uma semana com todos os portos, transbordos e armazéns paralisados, totalmente sem condições de movimentar nada. Caminhões nas filas, trens e armazéns parados Basta uma rápida pesquisa para constatar o que muitos já sabem e sentem no bolso: o setor logístico brasileiro vai de mal a pior; faltam investimentos e infraestrutura. Um estudo do Índice Comparado de Desempenho da Infraestrutura de Transportes (IDT) mostra que o desempenho logístico de regiões metropolitanas do Brasil apresenta defasagem de 67% em comparação com as regiões mais avançadas do mundo em termos de infraestrutura. Os dados foram elaborados pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) em trabalho desenvolvido com a colaboração de professores da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

O estudo em questão comparou o desempenho de 18 indicadores, divididos em rodovias, número médio de pousos e decolagens, quilômetros de ferrovias e hidrovias, porcentagem de rodovias segmentadas, entre outros setores. Após a análise, constatou-se a gravidade dos problemas em termos de logística e estrutura.

Quem precisa conviver com esta realidade no dia a dia sabe que a sensação é de abandono. De acordo com Carley Fernando Welter, gerente de logística da Bom Jesus Transportes, quando se trata de responsabilidade governamental, o setor logístico no Brasil está desamparado e sem gestão. Há problemas em todos os pontos que são administrados e/ou operados pelo governo federal: portos, ferrovias e rodovias, e com o crescimento da produção agrícola nos últimos anos, houve um aumento considerável das movimentações, sobrecarregando o que já era ruim.

Ainda segundo Welter, faltam planejamento estratégico e investimentos. “No Brasil não se faz gestão integrada, os setores não se conversam, não integram suas ações. Sem integração, não conseguiremos manter um equilíbrio na logística (produção, armazenagem e movimentação)”.

“Tivemos em julho passado, o maior apagão logístico que já presenciei. Foi uma semana com todos os portos, transbordos e armazéns paralisados, totalmente sem condições de movimentar nada, caminhões nas filas, trens e armazéns parados”, expõe. Isso aconteceu porque os portos não conseguiram escoar o que tinham planejado, afetando assim toda a cadeia de trens e caminhões aos armazéns no interior que ficaram impossibilitados de movimentar-se.

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Com isso, as operações ficam mais lentas e dispendiosas. Como não há muitos transbordos no interior, a necessidade de caminhões é muito grande, gerando altos investimentos para as transportadoras.

Como exemplo, o gerente de logística cita os altos investimentos do governo nos incentivos à produção agrícola e o baixo repasse à logística. A resposta do setor agrícola é rápida, em menos de um ano, mas sem aumento das condições de escoamento os problemas são certos. Uma possível solução seriam investimentos feitos nos portos e em transbordos no interior, além de melhorias na estrutura das unidades de recebimento, para agilizar os processos de carga e descarga. “Somos o celeiro do mundo. A menos que venhamos trazer o mundo para comer aqui, precisamos de condições logísticas para levar este alimento para o mundo todo. Mais do


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que uma vontade, é uma obrigação fazermos com que os alimentos e bens cheguem aos quatro cantos do país e do mundo”, conclui.

Indicadores avaliados 1. Km de rodovias por 10.000 habitantes 2. Porcentagem da população com acesso ao aeroporto principal com raio de até 80 km 3. Número médio de pousos e decolagens por hora 4. Km de ferrovias por 10.000 habitantes 5. Km de hidrovias por 10.000 habitantes 6. Distância do centro da RM ao porto internacional mais próximo 7. Número de conexões intermodais por 10.000 habitantes 8. Número de óbitos nas rodovias por 10.000 habitantes 9. Porcentagem de rodovias pavimentadas 10. Porcentagem de partidas sem atraso 11. Tempo de liberação de cargas em aeroportos 12. Número de acidentes em ferrovias por milhões de km . trem 13. Porcentagem de conteinerização da carga geral

Bom Jesus Transportes Há 12 anos no mercado, a Bom Jesus Transportes nasceu para ser o braço logístico do Grupo Bom Jesus, empresa do ramo de agronegócios, com 30 anos de atividades na produção de soja, milho, algodão, sementes de soja, comercialização de produtos agrícolas e compra de commodities. Oferece serviços de transporte em geral. Seu maior mercado são emCarley Fernando Welter, gerente de logística da presas do ramo de commodities Bom Jesus Transportes agrícolas, transportando soja, milho, algodão, fertilizantes, corretivos, além de defensivos agrícolas, combustíveis, alimentos etc. Com 400 colaboradores diretos, está entre as cinco maiores empresas no setor de transportes, no segmento de pluma de algodão, sendo a empresa com o maior volume transportado. “Para 2014 estimamos uma receita em R$ 420 milhões”.

Copa do Mundo Enquanto que para alguns a realização da Copa do Mundo, um dos mais importantes eventos esportivos do mundo, traz benefícios, para o setor logístico não será época para muitas comemorações. “Com certeza será um mês de muitos “feriados”, o que impacta nos locais de carregamento e descarga, dificultando as operações, além das restrições para o trânsito de caminhões nas rodovias”, constata Welter. Apetite de crescimento: 15% ao ano Atuação: em dez Estados do país, nas principais regiões de produção agrícola

14. Milhões de TKU de carga, transportados em ferrovia por km de linha 15. Custo médio de exportação de um contêiner de 20 pés nos portos 16. Frete rodoviário em US$ por 1.000 toneladas .km 17. Frete ferroviário em US$ por 1.000 TKU 18. Frete hidroviário em US$ por 1.000 TKU Fonte: FIESP

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Tecnologia

Startup inova na produção de informação e conhecimento Uma meta bastante ousada para 2014: dobrar o faturamento. Operando com pouco mais de dois anos no mercado, com faturamento que bate à porta dos R$ 4 milhões em 2013 e investimentos iniciais zero para uma ferramenta que representa 50% da carteira de clientes. Resumidamente, esta é a história da startup BigData Corp., empresa de tecnologia focada em resolver problemas de Big Data. Fundada por Thoran Rodrigues e Khalid Salomão, foi, aos poucos,

conquistando espaço no mercado e crescendo. Hoje são 15 pessoas trabalhando (cinco sócios e dez funcionários), com uma meta bastante ousada para 2014: dobrar o faturamento. O CEO da BigData Corp., Thoran Rodrigues, explica como funciona e como foi possível lançar uma empresa no mercado com custo inicial zero, além de apresentar o carro-chefe: a ferramenta BigWeb.

B2L – O que é e como funciona, na prática, a BigData Corp?

(ReportMe), e um serviço com um foco mais operacional (IdMe).

Somos uma startup que transforma o potencial de Big Data em valor real para os nossos clientes. Os problemas relacionados com Big Data são os mesmos de qualquer trabalho com dados e passam pelos mesmos passos: coleta, tratamento, análise e operacionalização. Dessa forma, desenvolvemos internamente um conjunto de serviços que se configuram em uma plataforma de trabalho com Big Data, atendendo a cada um dos passos mencionados. Temos um serviço focado na coleta e integração de fontes de dados dispersas e não estruturadas (UpgradeMe), um serviço de tratamento, padronização e validação de dados (VerifyMe), um serviço de análise e geração de relatórios automática

B2L – Como a Big Data Corp. se diferencia das demais empresas do segmento?

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Temos, no Brasil e no mundo, centenas de empresas dizendo que atuam com esse serviço, simplesmente porque possuem ou gerenciam grandes bancos de dados, e porque este é o termo da moda dentro da área de TI. Para nós, é mais do que uma tecnologia específica: é mudarmos a maneira como trabalhamos e produzimos informação e conhecimento. Hoje, a maioria do trabalho com informação é feito de forma manual. Por mais efetivo que seja esse processo, os volumes de informação que estão sendo gerados hoje tornam esse trabalho ma-

nual inviável. Para podermos tratar o Big Data, precisamos buscar a automação, e utilizar os recursos computacionais que estão a nossa disposição para trabalhar com os dados de forma mais automática e eficiente possível. Uma boa analogia é a revolução industrial. Nesta época, as pessoas fabricavam produtos “físicos” de forma artesanal. Esses produtos não eram de baixa qualidade, mas um processo de fabricação manual jamais seria capaz de atender à demanda atual. Com Big Data, temos uma situação similar. Big Data é só um termo, mas ele representa uma revolução na forma como fabricamos “produtos de informação”, através da aplicação de tecnologia para automatizar esse processo de produção. Nós nos diferenciamos das outras empresas, pois, enquanto a maioria delas


Tecnologia está focada em tecnologias específicas, nós estamos focados no processo. Nossos serviços automatizam (ou viabilizam a automação) das diferentes etapas do processo de lidar com dados e com informação, independente da tecnologia que está sendo utilizada por baixo. Na verdade, como entregamos nossos produtos sob a forma de serviços, a tecnologia fica totalmente transparente para o usuário final, o que é o mundo ideal. Voltando à nossa analogia, da mesma forma que você não está preocupado com a máquina que foi utilizada para fabricar as roupas que está usando hoje, as pessoas não deveriam ter que se preocupar com a tecnologia utilizada para gerar a informação que utilizam em seu dia a dia, apenas com a qualidade da mesma.

B2L – Como funciona e para que serve a ferramenta BigWeb? Ela é o principal serviço oferecido? Como nasceu e quais foram os investimentos? O BigWeb é uma expressão desse nosso processo e da nossa maneira de trabalhar com a informação. Ele surgiu de uma pergunta muito simples: “Quantos sites de e-commerce existem no Brasil?”. As empresas que provêm esse tipo de informação para o mercado hoje dependem de um processo manual, cujos sites de comércio eletrônico se cadastram e têm que informar todos os seus dados: que produtos vendem, que meios de pagamento aceitam, como fazem a entrega, e assim por diante. O que percebemos é que esse processo não dava uma ideia real, e que ninguém sabia a verdadeira resposta. Aplicamos então a nossa própria filosofia, focando em construir um processo automático capaz de visitar milhões de sites e identificar, de forma automática, quais eram sites de e-commerce e quais não eram. O que vimos, ao montar esse processo, é que podíamos ir muito além: era possível identificar sites do governo, blogs, sites corporativos, de notícia, portais, e muitos mais; era possível também identificar assuntos, temas, serviços in-

tegrados, e milhares de outras informações extremamente relevantes que podíamos extrair para trazer uma visão única do mercado. Uma vez extraídas as informações, aplicamos nosso sistema de análise automática para encontrar os dados e agrupamentos mais relevantes, e os agregamos em um grande dashboard sobre o mercado, que permite aos nossos clientes realizar seu planejamento estratégico com uma riqueza de detalhes e um entendimento do mercado sem precedentes. Como um subproduto, conseguimos coletar da web informações de contato que estão publicadas nos sites, permitindo a realização de abordagens para a oferta de serviços com uma efetividade e um grau de segmentação ímpar.

calculamos que já poupamos mais de US$ 2,300 milhões de custo com infraestrutura por estarmos utilizando a plataforma da Amazon ao invés de termos adquirido infraestrutura própria (US$ 2 milhões de investimento inicial, mais US$ 300 mil de investimento em suporte, manutenção e evolução do ambiente de processamento).

B2L – É possível citar os principais clientes? Qual a solução mais buscada? O nome da maioria de nossos clientes é protegido por acordos de confidencialidade. Temos hoje clientes nos mais diversos segmentos: financeiro, telecomunicações, varejo (on-line e off-line), meios de pagamento, e outros mais. Temos clientes nacionais e internacionais, de diferentes portes. A solução mais procurada hoje é o BigWeb (que representa mais de 50% da nossa carteira de clientes), e a que tem o maior faturamento é o UpgradeMe.

B2L – Quais são os caminhos e as perspectivas futuras para a empresa?

Thoran Rodrigues, CEO da BigData Corp.

Nosso investimento inicial foi zero, pois utilizamos fortemente a plataforma de computação na nuvem da Amazon. Assim, conseguimos toda semana levantar mais de 1.500 servidores para realizar o processamento de dados, apenas durante o tempo em que eles são necessários, e depois os derrubávamos do ar. Isso nos permitiu uma otimização de custos sem precedentes. Na verdade,

Estamos e pretendemos continuar em franca expansão no mercado. Para tanto, estamos buscando diversificar as áreas de atuação dos nossos diferentes produtos, e também consolidar nossa posição nos mercados onde já atuamos. O Brasil e o mundo se encontram em um momento especial de transformação, de revolução na forma como capturamos, processamos e analisamos dados e informações, e a Big Data está na fronteira do que está sendo feito nesse mercado hoje. Pretendemos continuar nessa fronteira, desenvolvendo nossos produtos conforme o mercado evolui.

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ARTIGO B2L

Sua empresa está pronta

para Mais um ano se foi e, como sempre, o momento é de reflexão. Projetos pessoais e profissionais na mesa e analisados de forma muito objetiva e fria: foram ou não atingidos? Realizações e frustrações se misturam no sentimento confuso deste clima que cerca o fim/início de cada ano. Uns gostam, outros nem tanto, mas a verdade é que temos que encarar a realidade e nos prepararmos para o que vem logo à frente. Indo apenas para o ambiente empresarial, a maioria das empresas, por razões óbvias, já iniciaram o seu Plano Estratégico há alguns meses. Mas é nesse momento que as forças se voltam apenas para o novo ano que começa. Um ponto que precisa ser lembrado é se sua empresa está ou não, pronta para a expansão; comprando ou sendo comprada. Muitos ainda não estão e não se ativeram a esta necessidade, como já falamos aqui em outros artigos (*). Mas precisamos frisar este ponto por um simples motivo: 2014 deve ser um ano espetacular para as fusões e aquisições, especialmente no middlemarket. Em 2010, as fusões e aquisições no Brasil movimentaram US$ 90 bilhões. Já em 2012, a quantia ficou abaixo dos US$ 60 bilhões. Nos três primeiros trimestres de 2013, não chegaram ao patamar dos R$ 40 bilhões — foi registrada uma queda de 8,7% no primeiro semestre em relação ao ano anterior. Isso é o reflexo da política econômica brasileira: juros altos na tentativa frustrada de controlar a inflação; inflação alta, incólume à alta dos juros; consumo baixo, freado pelos altos juros e inflação; e o consequente crescimento pífio que estamos experimentando. Ora, o cenário, então, não parece nada promissor, não é verdade? Não! O que se desenha é, na linguagem popular, “juntar a fome com a vontade de comer”. Com as fusões e aquisições aceleradas nos anos anteriores,

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o mercado se consolidou e, em muitos segmentos, já temos oligopólios formados. O que sobra? Grandes em uma ponta e pequenos em outra. Todos os outros ou foram adquiridos ou quebraram. Simples assim. E aí, temos a equação que aponta para um ano promissor: os grandes precisam se expandir para compensar o crescimento baixo, buscando novas alternativas, e os menores amargando mais um ano dificílimo – do ponto de vista econômico – com dificuldades no acesso ao crédito, consumo baixando, inflação subindo, dólar altíssimo. Resultado da equação: vender ou correr sérios riscos de não conseguir superar a crise que se desenha. E some-se a tudo isso o fato de que, como o Brasil é um mercado muito grande, em termos absolutos, o investidor não se afasta do país facilmente. Índia, China e Rússia, em comparação ao Brasil, têm níveis de segurança mais baixos, e os vizinhos – como o Chile – são ainda pequenos demais para quem quer investir no mercado de bens de consumo. Bons ventos se aproximam neste ano. Mas a pergunta é: Sua empresa está pronta para 2014?

(*) Dica de leitura: artigo A busca pelo tesouro perdido, edição de agosto/2013, disponível também em: http://www.b2law.com.br/revistacorporate/publicacoes.asp

Gustavo Sardinha Sócio B2L


EMPREENDEDORISMO

Empresários compartilham

trajetórias de sucesso Dicas para empreendedores: Preparar a empresa para o mercado, especialmente com a obtenção de capital

Treinamento e qualificação de equipes

Muito trabalho e dedicação Inspirar a nova geração de empreendedores a partir de histórias verídicas de sucesso, contadas por pessoas que enfrentaram e superaram obstáculos para tirar sonhos do papel e construir grandes corporações. Essa foi a proposta do CEO Summit, um dos principais encontros de empreendedorismo do Brasil, correalizado pela EY (antes Ernst & Young), Endeavor e Sebrae, que reuniu cerca de 400 empresários, investidores e executivos em Curitiba. No estilo talk-show, que consagrou a apresentação dos empreendedores, a fim de fomentar o empreendedorismo de alto potencial, esta foi a segunda edição do evento no Paraná. Na abertura do encontro, o sócio-líder da EY no Paraná, Claudio Camargo, enfatizou a importância de preparar a empresa para o crescimento, especialmente através de treinamento. “Precisamos unir esforços entre governo, iniciativa privada e organizações da sociedade para fomentar o empreendedorismo.” Já o coordenador regional da Endeavor Paraná, José Rodolpho Bernardoni, afirmou que o intuito do CEO Summit é plantar uma semente para os empresários tirarem ideias do papel. Segundo Camargo, empreender é um desafio sem receitas prontas, e a melhor forma de ajudar nesse caminho é provocar o diálogo. “Sabemos quanto essas lições são valiosas e o poder que essas pessoas têm de inspirar outros a sonhar grande. E, acima de tudo, buscamos provocar reflexões sobre os temas ligados ao negócio e fomentar o relacionamento para causar impactos cada vez maiores no ambiente empreendedor no Estado do Paraná”, concluiu.

Áreas promissoras para investimentos em 2014:

educação

construção civil

O primeiro painel, moderado pelo sócio da EY, Marcos Quintanilha, apresentou a trajetória de crescimento da indústria catarinense WEG, pelo olhar de Décio da Silva, presidente do Conselho de Administração e filho de um dos fundadores da empresa. A WEG foi fundada em 1961 por Werner, Egon e Geraldo (as iniciais que geraram o nome da companhia) e hoje, é uma gigante internacional com quase 30 mil funcionários. O presidente contou que a sinergia entre os fundadores foi o segredo para o crescimento da WEG. “Eram habilidades e personalidades diferentes, mas que se complementavam. Para fazer sociedade, é preciso pensar mais do que para se casar. E ali teve química”, contou. Silva também elencou o que considera as características do empreendedor. “É preciso ter ambição. Se você tiver metas medíocres, corre-se o risco de obtê-las”, brinca. Em seguida,

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EMPREENDEDORISMO Segundo o empresário, um dos desafios é precificar a inovação por metro quadrado. “Há um custo a mais ao construir um empreendimento sustentável. Esse custo é amortizado ao longo da projeção de 50 anos de vida útil do empreendimento, quando claramente demonstra-se o retorno do investimento. É nisso que apostamos.”

Superação

tratou sobre sucessão de empresas familiares. “As empresas têm de entender que não se muda sempre suas lideranças, mas por outro lado, não provocar mudanças é perigoso.”

Sustentabilidade O segundo painel foi apresentado por Valério Gomes, presidente do empreendimento Pedra Branca, e moderado por Caio Bonatto, fundador da TecVerde. Gomes expôs que “pensar fora do quadrado” sempre foi a tônica da empresa. Por isso, acredita no projeto do bairro sustentável que está sendo construído a 20 quilômetros de Florianópolis, que já reúne faculdade e cerca de 8 mil moradores. “Estamos vivendo uma época em que as pessoas estão carentes do encontro pessoal, da humanização das cidades, e de uma mobilidade urbana adequada. São essas soluções que estamos oferecendo. Queremos que ali as pessoas morem, trabalhem e tenham acesso a serviços. Tudo a pé e de bicicleta”, ressaltou.

ele nasce como uma estratégia. E quando falo estratégia, ela é puramente uma ideia, um conceito, que está na mente do futuro empreendedor”. Já no segundo passo é necessário transformar a ideia em um plano de ação e estabelecer prioridades. Posteriormente, depois que a estratégia está montada e o novo empreendedor tem o plano de ação de como fazer, chegou a hora de arregaçar as mangas e implementar o plano.

No terceiro painel, mediado pelo coordenador regional da Endeavor Paraná, José Rodolpho Bernardoni, o curitibano Carlos Martins, fundador da escola de idiomas Wizard e considerado um dos maiores empresários do setor no mundo (autor do best-seller “Desperte o Milionário que Há em Você”) contou como foi sua trajetória até se tornar líder mundial em escolas de inglês. De origem humilde, Martins pontuou que sua história foi marcada por garra e persistência. Como não tinha condições para custear um curso de inglês, contou com a ajuda dos mórmons, aprendeu o idioma e foi estudar nos Estados Unidos. Quando voltou para o Brasil, aos 30 anos, conseguiu um emprego e foi demitido após seis meses. Encontrou em aulas particulares de inglês na sala de sua casa uma chance para se reestruturar, e de um aluno passou a dar aula para duas, três turmas; assim surgiu a Wizard, que mais tarde se tornou uma rede de ensino com metodologia própria. Para o empresário, o segredo do sucesso é dividido em cinco partes. “Primeiro

De acordo com Martins, quando acontece de uma ideia não dar certo, há duas saídas: uma readequação de rumo, corrigindo os erros, ou descontinuar o plano. Assim, o próximo passo é redirecionar o conceito e voltar para a estratégia. “Mas aí vão me perguntar: Carlos, voltamos para o início? Não. Sabe por quê? A estratégia que deu certo no passado, talvez não dê certo hoje. E a estratégia que está dando certo hoje, talvez não dê certo no futuro.” “É mais ou menos como se você atravessasse um túnel escuro sem ter uma lanterna na mão. Você tem apenas uma luz de um metro ou dois. À medida que vai caminhando, vai descobrindo as respostas”, revelou.

Pedras no caminho Como todo empreendedor, Martins contou que também encontrou pedras no caminho durante o percurso para o sucesso. De acordo com ele, a Wizard, que começou na década de 80 com um governo considerado complicado na


EMPREENDEDORISMO

época, como toda nova empresa, também sofreu. “A cada seis meses tínhamos um plano econômico diferente, com uma inflação na casa dos 60, 70% ao mês. Além das novas moedas – cruzado, cruzado novo, real, real novo, tudo isso com mudanças bem bruscas. De repente chegou o Collor, confiscou todas as contas bancárias do país. Muita gente veio à falência naquela época”. Porém, com persistência, foi possível vencer as oscilações da economia e sobreviver. Martins explica que hoje o mercado financeiro está estabilizado e isso possibilita previsões e planejamentos. “Certamente todo empreendedor é um sonhador, um otimista incansável. Não importa se está com a situação negra ou sombria, ele consegue buscar uma saída”. Com visão de longo alcance, ele sabia que não devia abrir uma escola, mas uma rede, e criar a própria metodologia. Assim, nasceu a Wizard, coincidin-

do com a abertura da ABF (Associação Brasileira de Franchising). “Não acredito na sorte. Para mim, o sucesso é vinculado ao trabalho. É a convergência da preparação e oportunidade”.

Assumindo riscos No quarto painel, mediado pelo diretor de novos negócios do GRPCOM, Eduardo Fontana, Benjamin Quadros, presidente da BRQ, empresa pioneira na implantação da tecnologia Internet Banking no país, contou como arriscou para atingir o sucesso. Depois de um emprego estável na IBM, saiu da empresa para assumir um projeto do Unibanco com prazo determinado de um ano. “Foi uma decisão motivada por paixão e irracionalidade”, brincou. A aposta deu certo. Hoje, a BRQ possui 4 mil funcionários, fatura aproximadamente R$ 500 mil por ano e cresce à taxa média anual de 30%. Fundador no passado da e-bit, Quadros afirmou que poderia ter vendido mais tarde a empresa para o grupo Buscapé,

já que em 2006 a internet ainda estava morna. Mas tira lições valiosas de todas as experiências. “Nunca pensei em desistir, porque é nos momentos difíceis que a gente se transforma”, apontou. Quadros reforçou a importância do mentoring, que não existia na época. Se tivesse um coaching, ele acredita que o processo de crescimento seria mais rápido. E finalizou observando o desafio do país em empreendedorismo. “No Brasil, não é o dinheiro que falta, mas times e projetos”, concluiu.


Nós Construímos o Futuro

Conheça mais a fundo os responsáveis pelo grande sucesso do Grupo B2L. A seção segue o nome do lema, que tem mostrado, desde abril de 2011, a força e a ousadia destes profissionais.

Região de atuação: Estado da Bahia

Emilia Azevedo Área de atuação: Atendimento a clientes, desenvolvimento e novos negócios no MBAF Consultores e Advogados.

Expertise em qual área da B2L? Intermediação de empresas, assessoria negocial e due diligence trabalhista.

Região de atuação: Piauí (Teresina, Parnaíba, Picos e Bom Jesus)

Área de atuação: Direito empresarial e tributário, com ênfase em compliance, planejamento tributário e sucessório.

Expertise em qual área da B2L? Assessoria em M&A, com foco em contratos e reorganização societária.

É articulista esporádico em revistas específicas de direito tributário.

Tito Valente do Couto Expertise em qual área da B2L? Área de novos negócios

Área de atuação: Recuperação judicial, falências e direito societário.

Contato: carlosyury@b2law.com.br

Região de atuação: Belém (Pará) Contato: E-mail: titoadv@titoadv.com.br

Região de atuação: Estado de Santa Catarina

Felipe Lollato

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É articulista esporádica.

Carlos Yury

Livro publicado : Transação e arbitragem no âmbito tributário, Ed. Fórum, 2008.

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Contato: eazevedo@b2law.com.br

Expertise em qual área da B2L? Stress Crédit

Contato: felipelollato@b2law.com.br É articulista no Jornal Diário Catarinense


SAÚDE EMPRESARIAL

A passividade que corrói Diante de um mercado extremamente dinâmico e com alta rotatividade de informações e pessoas, na qual o comportamento pessoal e em equipe é tão fundamental quanto o conhecimento técnico, vemos posturas pessoais novas. Há o medo das demissões e também a queixa da falta de reconhecimento pelo trabalho desempenhado. Para manter a segurança as pessoas optam por adotar comportamentos que causam extremo desconforto interno, pois confrontam suas convicções. Estamos diante das pessoas passivo-agressivas. Nossa vida psíquica é basicamente dividida em três funções: A: Situação ativadora: aquela que lhe acontece e você não tem poder nenhum sobre ela. É uma ordem, uma situação externa à sua vontade. Exemplo: alguém pisou no seu pé. B: Crença / Sentimento: é aquilo que a situação A gerou em você. Qual sentimento lhe trouxe? O que acredita que aquilo significa? Exemplo: Pisou no meu pé porque não gosta de mim. Pisou no meu pé por acidente. C: Comportamento: de acordo com seu sentimento você terá um comportamento. Um, deve ser congruente com o outro, para não gerar sofrimento psíquico. Exemplo: Já que não gosta de mim, eu piso no pé dele também. Já que foi um acidente, eu aceito as desculpas e fica tudo bem. Percebemos que uma mesma situação ativadora pode gerar diferentes comportamentos. E é assim para tudo. O grande problema é quando há discrepância entre seu comportamento e seu sentimento. Muitas vezes odiamos uma situação, achamos abusiva ou errada. Porém, por motivos pessoais (geralmente medos), adotamos uma postura de aceitar. Estampa-se um sorriso amarelo no rosto, uma voz calma e baixa, e diz que “sim” para algo que dentro de você diz que “não”. Isso é ser passivo-agressivo. Pessoas que no fim das contas agirão com procrastinação, ressentimento ou o não cumprimento de uma tarefa. Além da enorme ferida que fica no íntimo desta pessoa, ela estará fazendo mal a si mesma e ao ambiente corporativo.

A melhor forma de reverter essa situação é reavaliar suas crenças. Muitas vezes somos vítimas de nós mesmos. A história de vida de cada um lhe traz sentimentos e crenças que para outros podem ser falsas. Não há regra fixa. Reavalie se o sentimento causado é realmente verdadeiro, porque você acredita naquilo, ou se é uma simples crença automática. Muitas vezes você manterá seu sentimento. Caso ainda haja discrepância entre o sentir e o fazer, a palavra mágica é assertividade. Os assertivos são pessoas agradáveis, dispostas a colaborar, olham nos olhos das outras pessoas quando falam com elas, envolvendo-as. São objetivas e práticas, dizem o que precisa ser dito, falam não ou sim com a mesma naturalidade e espontaneidade. Sabem dosar o humor e a ponderação em conformidade com cada situação. Têm maturidade suficiente para evitar confrontos e a disciplina necessária para levar adiante um projeto ou um processo de comunicação. Aja com transparência sobre seus sentimentos, seja verdadeiro sem ser rude, pois há várias formas de expressar suas convicções. Uma pessoa assertiva tende a ser aceita com mais facilidade do que a que é agressiva, passiva ou passivo-agressiva, pois defende seus direitos e sabe flexibilizar-se para aceitar as outras pessoas como são. Expressa com clareza seus sentimentos e pensamentos, emite sua opinião quando julga conveniente. Enfim, o sucesso de uma carreira ou corporação depende de pequenos sucessos humanos, individuais (em menor quantidade) e de relacionamentos. Estar de bem consigo e com suas convicções e agir de acordo com elas, traz satisfação pessoal. A satisfação corporativa vai além. É preciso agir pelo bem comum, pelo sucesso de todos, trabalhando dentro de nós, formas de expor nossas ideias e atitudes de modo doce e assertivo. A frustração é nula, e a vitória é comemorada de forma muito mais gostosa, pois foi conquistada em conjunto; afinal, é impossível brindar uma vitória sozinho.

Raquel Heep Bertozzi CRM 22080 – Especialista em Psiquiatria – Integrante da Sociedade Paranaense de Psiquiatria.

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Cautela

Fundos ampliam investimentos

Mesmo que o cenário brasileiro apresente uma retomada das operações globais de fusões e aquisições, pesquisa lançada pela multinacional de auditoria e consultoria EY aponta recuo no apetite pelas transações por parte de empresas brasileiras. De acordo com o estudo, os executivos brasileiros estão menos confiantes na economia local, e as preocupações com o ambiente regulatório aumentaram. Como saída, estão apostando nos desinvestimentos – venda de ativos – vistos como uma forma viável para captar recursos e otimizar capital.

Com valores que ultrapassam US$ 5 trilhões, os fundos soberanos, constituídos com recursos das reservas de governos, ampliaram os negócios no Brasil. Grandes bancos como Santander e BTG Pactual, e empresas como a Odebrecht Óleo e Gás, receberam, de forma indireta, investimentos “estatais” - no caso, de países como Catar, China e Cingapura. Objetivos como atenuar impactos de ciclos econômicos e formação de poupança para financiar gerações futuras fazem parte dos países com a constituição de fundos.

R$ 186 milhões Esse foi o montante do fundo voltado para o desenvolvimento de micro, pequenas e médias empresas com alto índice inovador, e que atuam principalmente nas áreas de agronegócios, biotecnologia, tecnologia da informação, novos materiais e nanotecnologia, do segundo fundo de capital semente Criatec, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Fonte: Exame, Portal ABVCAP, Valor Econômico e Literal Link.

NEGÓCIOS & VOCÊ




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