Geonovas 33 - Nº 1 & 2 2020

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Edite Bolacha 75

ASSOCIAçãO PORTUGUESA DE GEóLOGOS

sudoeste europeu, onde se localizou talvez o protoAtlântico, embora a região tenha sido coberta pelo mar de Tethys” (p.537-538). 5.2. Discussão Os três manuais que começámos por analisar (Torre de Assunção, 1973; Galopim de Carvalho, 1977; Trindade, 1978) por esta sequência cronológica, refletem a evolução do conhecimento, com o primeiro a transparecer dúvidas relativamente ainda à deriva continental, no entanto, a explicar as cadeias cenozoicas no âmbito da mesma teoria, associando-a ao geossinclinal. E, deixando de fora as cadeias paleozoicas no novo enquadramento teórico. Transparece a dúvida de como se terão formado as cadeias paleozoicas no âmbito da TP. Galopim de Carvalho (1977) simplifica os processos de forma bastante didática, integrando o geossinclinal no ciclo de Wilson, nos vários contextos tectónicos. Segue Dietz mas simplificando o seu modelo tal como Mattauer (1973). Por último Trindade (1978) na senda dos anteriores autores apresenta, em primeiro lugar, o modelo tradicional do geossinclinal, com uma só bacia, seguidos dos modelos de formação de montanhas em contextos de subducção e colisão, mais de acordo com Dewey e Bird (1970). Wyllie (1979) parece seguir o mesmo raciocínio que o autor anterior (Trindade, 1978) ao apresentar inicialmente (p. 100) o ciclo geológico tradicional (bacia simples), com a fase de sedimentação e posterior levantamento (ou de tectogénese) da cadeia formada, com consequente erosão. Na visão tradicional do geossinclinal os sedimentos resultantes iriam preencher os geossinclinais vizinhos. Como os autores anteriores Wyllie, descreve a formação de montanhas nos contextos de subducção e colisão sem referir termos geossinclinais, parecendo-nos seguir os modelos de Dewey e Bird (1970). Quando se trata de publicações sobre Geologia de Portugal (Ribeiro et al., 1979; Teixeira, 1981), como o manual de Torre de Assunção (1973), surgem dificuldades em interpretar principalmente as cadeias paleozoicas no âmbito da TP. Contrariamente ao que parecia ser mais provável, é em Ribeiro et al. (1979) que a explicação para a formação da cadeia varisca mais recorre a termos relacionados com a teoria do geossinclinal e dentro do paradigma contracionista (e.g. contração crustal, p. 31). A orogénese é claramente dividida em duas fases, a sedimentogénese e a tectogénese, lembrando o

conceito mais simples de geossinclinal e referido por Mattauer (1973). Curiosamente, apesar de também referir as regressões e transgressões não associadas aos movimentos de placas, Teixeira (1981) associa a evolução geossinclinal a uma zona de subducção e à existência do proto-Atlântico, logo com referências ao modelo de Wilson (1966). Assim, reconhece-se em Teixeira (1981) novamente o modelo de Dietz.

6. Considerações finais No final dos anos 20 e décadas seguintes do século passado, precursores do que viria a ser a TP (Holmes, 1929; Griggs, 1939) associavam o geossinclinal à fossa oceânica, porém, anos mais tarde, os mesmos (Holmes, 1944) ou outros (Kuenen, 1936; Hess, 1938) abandonariam definitivamente o conceito geossinclinal. Modelo muito semelhante ao de Griggs viria a ser ilustrado por Dietz após a formulação da TP (Whitmeyer et al., 2007). Segundo Dietz as forças tangenciais responsáveis pelo alastramento do fundo oceânico seriam também responsáveis pela deformação dos sedimentos que preenchiam as fossas oceânicas. Mas Dietz integra o geossinclinal e alguns dos conceitos acoplados pelos defensores desta teoria às margens dos continentes para explicar a formação de cadeias de montanhas como último episódio do ciclo de Wilson. É principalmente este modelo que ressurge da interpretação dos programas de Geologia do Ensino Secundário, realizada pelos autores dos manuais no final dos anos 80, 90 e início deste século XXI. Em alternativa apresenta-se o modelo de Bird e Dewey, cujos autores substituíram a antiga linguagem pela que agora integrava a TP. No entanto, transparecem nesses manuais e nos que os precederam, dúvidas sobre que modelo(s) adotar. Com a agravante de ser muito mais simples a aplicação desses modelos à formação de cadeias cenozoicas do que às paleozoicas, como as que compõem o território continental português. Não havia bibliografia na época que explicasse a Geologia de Portugal no contexto da TP. Muito do que era necessário conhecer para transpor a teoria do geossinclinal para os contextos da TP estava ainda por realizar ou estava em curso em Portugal, cujo território é, como sabemos, em grande parte de idade paleozoica. Note-se que o primeiro livro de divulgação que conta a história geológica de Portugal no âmbito da TP é já do princípio deste século (Dias, 2007).


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