Geonovas 33 - Nº 1 & 2 2020

Page 65

GEONOvAS vOL.

ASSOCIAçãO PORTUGUESA DE GEóLOGOS

33, N.º 1-2: 63 a 78, 2020 63

O Geossinclinal nos finais do séc. XX em Portugal: revolução tardia ou evidências da natureza da Ciência? Edite Bolacha IDL, Universidade de Lisboa e Escola Secundária D. Dinis, Rua Manuel Teixeira Gomes, Lisboa *Autor correspondente: ebolacha@netcabo.pt

Resumo A teoria do geossinclinal (TG) no programa de Geologia do 12º ano, nos finais do séc. XX/início do séc. XXI, enquadrava a formação de cadeias de montanhas. O objetivo “…interpretar a teoria do geossinclinal à luz da Teoria da Tectónica de placas (TP) na explicação da formação de algumas cadeias de montanhas”, permite interpretá-la como História da Ciência, ou que a TP enquadrava algumas cadeias de montanhas. A análise de textos/imagens de manuais escolares evidenciou que a TG era aceite na época. No entanto, transparecem dúvidas e incertezas, quer na abordagem isolada quer quando acoplada à TP. Igual tipo de análise dos programas precedentes e de referências da época confirmam diferentes abordagens. Razões para as dúvidas persistentes podem residir; na complexidade da formação de montanhas, no fenómeno não ser central na primeira formulação da TP, ou na exigência de tempo para consolidar conhecimento científico no contexto da nova teoria. Palavras-chave: Geossinclinal, Tectónica de placas, formação de cadeias de montanhas, Ensino da Geologia, História da Geologia. Abstract The geosynclinal theory (TG) in the 12th grade Geology program, at the end of the 19th century/ early 20th century, framed the building of mountain ranges. The objective “… to interpret geosynclinal theory in the light of Plate Tectonics Theory (TP) in explaining the building of some mountain ranges”, allows to interpret it as History of Science, or that TP framed some mountain ranges. Text / image analysis of textbooks showed that TG was accepted at the time. However, doubts and uncertainties appear, both in the isolated approach and when coupled with the PT. The same kind of analysis of previous programs and references of the time confirms different approaches. Reasons for lingering doubts may lie in the complexity of mountain building, the phenomenon not being central to the first formulation of TP, or the time required to solidify scientific knowledge in the framework of the new theory. Keywords: Geosynclinal, Plate Tectonics, Mountain Building, Geology Teaching, History of Science.

1. Introdução A formação de montanhas, incluindo os processos associados de deformação, magmatismo e metamorfismo, foi desde o início da individualização da Geologia, um dos fenómenos centrais de investigação (e.g. Daubrée, 1860; Oldroyd, 1996), tendo sido determinante para a formulação e consolidação da Teoria

da Tectónica de placas (TP) desde Taylor (1910), passando por Wegener (1912), por Wilson (1966) e continuando na atualidade com a previsão dos ciclos supercontinentais ou oceânicos (Duarte et al., 2018). James Hutton (1726 - 1797), considerado como fundador da Geologia moderna, fez constar do seu ciclo geológico a formação de montanhas. Como plutonista Hutton defendia que as forças verticais,


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.