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32 anos dE gratUidadE
from Revista UEM 50 anos
by artesuem
Alvaro Dias, governador na época, assina projeto da gratuidade Assembleia no Restaurante Universitário

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Processo que resultou no fim da cobrança estava inserido no contexto de outras lutas
Tão aplaudida à época, a conquista da gratuidade nas universidades estaduais paranaenses está fazendo 32 anos. O triunfo pelo fim da cobrança das mensalidades decorre de uma luta sem precedentes encampada pela sociedade em geral, com a participação decisiva das classes estudantil e docente, tendo, ainda, o engajamento dos funcionários.
Os primeiros movimentos em defesa de uma universidade pública gratuita surgiram na segunda metade da década de 1970. Importante considerar que a criação da Universidade se deu em plena época do regime militar, num contexto político voltado para a ampliação do ensino pago.
Para além da questão da gratuidade, outras bandeiras eram empunhadas pelos agentes universitários e professores, como a conquista de salários mais dignos e melhores condições de trabalho. Ao mesmo tempo, é fato que setores da classe média do País se movimentavam para pedir a expansão do ensino superior público e gratuito em todo o Brasil.
No dia 21 de dezembro de 1987, o então governador Alvaro Dias sancionou a Lei Estadual 8.675, prevendo a gratuidade. A regulamentação da lei, no entanto, ocorreu em 11 de janeiro de 1988, por meio do Decreto 2.276.
O assunto virou tema de pesquisa na academia. O professor Reginaldo Benedito Dias, do Departamento de História, num artigo escrito para ser um dos capítulos do livro “Paraná Insurgente”, organizado por Joseli Mendonça e Jhonatan Souza, sustenta que “a introdução da gratuidade ocorreu em fase avançada do processo de redemocratização do país e de

Reginaldo Dias registrou a luta em livro Jairo de Carvalho era o presidente do DCE na época

democratização das universidades. Talvez não seja um fato suficientemente divulgado e sedimentado na memória coletiva que a Lei 8.675 traduziu uma negociação consignada no desfecho da greve sindical de 1987”.
NÃO CONSEGUIAM PAGAR
Dias também é autor do livro “Uma Universidade de Ponta Cabeça”, onde relata, em detalhes, todo o processo sobre a conquista da gratuidade. Ele foi estudante do curso de História da UEM e membro da coordenação geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE), em 1985, além de ter participado diretamente, de 1983 a meados de 1987, dos movimentos que culminaram no fim da cobrança de mensalidades no ensino superior público.
Ex-presidente do DCE, Jairo de Carvalho, funcionário da UEM, lembra que quando estudou na instituição, de 1981 a 1986, os alunos pagavam o carnê equivalente ao semestre no qual estavam matriculados, além das outras taxas.
Em depoimento à Assessoria de Comunicação Social da universidade, em 2017, ele declarou que os estudantes “nem sempre conseguiam [pagar]. Quando isso ocorria, tinham que negociar o parcelamento das suas dívidas com o setor de finanças da instituição ou abandonar, provisória ou definitivamente, o seu curso”, diz.
Ainda conforme Carvalho, houve semestre em que um número próximo a quinhentos alunos não tinham saldado seus débitos. Também era significativo o número de estudantes que dependiam das bolsas de estudos do governo federal repassadas por deputados, que fidelizavam alguns eleitores entre as pessoas que recebiam as bolsas e ficavam assim devendo favores aos políticos.
O DCE da UEM foi criado em 1980, na vanguarda da redemocratização do país, organizando os estudantes contra os aumentos e reajustes das mensalidades. “Estivemos nessas lutas como estudantes e chegamos à direção do Diretório Central dos Estudantes no final de 1982. Era a gestão “Outras Palavras”, liderada pelo companheiro Ademir Demarchi que, logo de início, organizou a campanha de boicote às anuidades com o recolhimento dos carnês”.
Tendo vencido as eleições seguintes para a entidade, depois de um ano de lutas intensas, a gestão “Próximos Passos”, na qual Carvalho era o presidente, intensificou ainda mais as atividades pela gratuidade do ensino e contra o reajuste nas taxas.
“Em 1984, a dificuldade em negociar o congelamento do preço das refeições do Restaurante Universitário elevou o clima, culminando com a ocupação da Reitoria e outras dependências da universidade pelos estudantes por vários dias, só retornando às aulas depois que o congelamento foi conquistado, com a ajuda do prefeito municipal, Said Ferreira”.