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Com mais de 8 mil árvores, o bosque da UEM tem uma das mais fantásticas coleções de plantas do Brasil, com árvores oriundas de todas as regiões brasileiras e até de outros continentes

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Valentim Jordão dirigiu o mais completo inventário da vegetação do câmpos sede

O câmpus da Universidade Estadual de Maringá é um bosque tão grande quanto o Parque do Ingá, o Bosque 2 e o Horto Florestal, com a diferença que em meio às suas mais de 8 mil árvores há dezenas de construções, pistas asfaltadas e alguns quilômetros de calçadas, por onde se movimentam diariamente cerca de 20 mil pessoas que não parecem atentas à arborização. Outra diferença é que, enquanto os outros bosques são restos da Mata Atlântica preservados em plena área urbana, o bosque UEM não existia até 50 anos atrás, todas suas árvores foram plantadas por mão humana e é formado por árvores oriundas de todo o Brasil e até de outros países, de outros continentes.

Além das árvores gigantes, como peroba, pau-d’alho, pau-ferro, samaúma, patade-vaca, magnólia, palmeira real, palmito, grandiuva, aroeira, capixingui, coração de nego, tipuana, canafístula, jacarandá, amendoim, jequitibá, guarita, louro, ipêroxo, peroba-rosa, cedro, cabreúva e outras, há também milhares de plantas arbustivas.

A arborização cobre todos os espaços ainda não ocupados pelos blocos de salas

Parque Ecológico, onde tudo começa

O Parque Ecológico (PQE) da UEM é o órgão que dá atendimento aos projetos paisagísticos do câmpus sede, coordena a manutenção das áreas arborizadas e jardins, produção de mudas, varrição, catação de papéis e atividades afins. Também dá apoio às atividades de ensino, pesquisa e extensão, e atende empresas públicas e filantrópicas, nas áreas de meio ambiente, educação ambiental e paisagismo, por meio de doação de mudas, sementes, estacas, etc.

Segundo o agrônomo Valentim Ricardo Jordão, supervisor do Parque Ecológico e de toda a arborização do câmpus sede da UEM, a implantação do PQE envolveu seis subprojetos: Urbanização do Câmpus, Horto de Plantas Medicinais, Viveiro de Produção de Mudas, Orquidário, Bromeliário e Bolsa de Sementes.

de aulas, mas o câmpus conta ainda com dois hortos, um Didático, ao lado do Centro de Ciências Biológicas (CCB), e um Medicinal, ao lado do Centro de Ciências da Saúde (CCS).

A implantação da arborização do câmpus sede da UEM ocorreu no início da década de 1970, o que se tornou necessário devido às condições de clima árido no câmpus que se instalava onde antes era uma lavoura de café. As árvores eram para refrescar o ambiente e de início não houve qualquer planejamento. Mas, com o tempo, aumento no número de salas e de árvores, foi necessária uma certa organização.

Por muito tempo, a organização da arborização esteve a cargo do professor Bruno Luiz Domingos de Angelis, que acabou repassando a responsabilidade a seu pupilo Valentim Ricardo Jordão, o Tino, agrônomo formado na UEM e que durante a elaboração de sua dissertação de mestrado, há 15 anos, passou meio ano fazendo um inventário de todo o verde do câmpus.

Junto com uma acadêmica do curso de Agronomia e o funcionário do Parque Ecológico (Viveiro) da UEM José Valença, o Zé Lambada, e orientação de Bruno de Angelis, Tino fez o diagnóstico fitogeográfico da arborização, identificando todas as plantas pelo nome popular, nome científico, localização, procedência e, quando possível, época em que foi plantada no câmpus sede.

Para este trabalho, ele contou com o apoio de professores e de mateiros capazes de identificar cada planta.

Na época, 16 anos atrás, já eram 6,5 mil árvores, um patrimônio dividido em 46 famílias botânicas, 115 gêneros e 155 espécies. De lá para cá o acervo cresceu em mais de 2 mil árvores.

A partir daquele censo, a universidade teve dados confiáveis para dar início a um plano de manejo e Tino tornou-se, sem dúvida, a pessoa que melhor conhece a arborização do câmpus sede, capaz de identificar qualquer planta à primeira vista. “O bosque da UEM continua crescendo, ocupando as áreas

Não é um mar de rosas

Manter uma arborização em uma área do tamanho do câmpus sede da UEM não é tão simples quanto possa parecer. Segundo a arquiteta Tânia Galvão Verri, diretora de Obras e Projetos da Prefeitura do Câmpus Universitário da UEM, além do fato de árvores ou pelo menos galhos caírem durante vendavais, podendo atingir as construções do câmpus, pessoas e veículos, há a necessidade de muito critério na hora de plantar uma muda. “Temos que analisar bem se aquele local no futuro não será ocupado por uma construção, pois teremos uma longa burocracia e muitas exigências dos órgãos ambientais se uma hora precisarmos transplantar a árvore para outro ponto”.

vazias, aumentando a presença do verde que atrai pequenos animais que foram perdendo seu habitat natural para o crescimento da cidade”, diz Jordão. Segundo ele, muito é plantado por sua equipe, algumas árvores são oferecidas por pessoas da cidade e outras nascem a partir de sementes espalhadas por pássaros e pelo vento.

Há 27 anos trabalhando no Parque Ecológico, ele comanda uma equipe de homens que planta, replanta, transplanta, poda, corta e cura as árvores. Além disto, esta equipe, hoje desfalcada devido a aposentadorias de quase 20 servidores nos últimos anos, é que garante a coleta de galhos, folhas, flores e frutos que caem o ano inteiro.

Marcelo Monteiro ao lado de uma de suas esculturas

Nas mãos de Marcelo, árvores têm vida após a morte

A ligação de Marcelo Vieira Monteiro com a Universidade Estadual de Maringá (UEM) aumentou quando ele, na época acadêmico de História, aceitou participar do projeto EsCulturas, desenvolvido pela universidade em conjunto com a Sociedade Eticamente Responsável (SER) que pretendia aproveitar os troncos de árvores podadas ou mortas para transformar em escultura. Com a habilidade de quem já esculpia desde criança, Marcelo procurou fazer trabalhos que significassem a relação do ser humano com a natureza e com a própria universidade. Assim, durante o tempo em que fez o curso de História, o artista realizou vários trabalhos, entre os quais ganharam destaque as obras “O Contemplador”, talhada em um tronco de flamboyant condenado, “O Imigrante”, que mostra o olhar perdido e saudoso dos jovens que vêm de outros países ou mesmo de outras cidades para estudar em Maringá e, ao mesmo tempo, a origem de milhares de pessoas que ajudaram a formar a população maringaense, e “A Leitora”, que mostra uma jovem abstraída pela leitura de um livro, uma imagem bem comum entre os estudantes da instituição.

Marco Antonio se sente entre velhos amigos

Do local onde passa o dia preparando mudas de árvores, arbustos e herbáceas para o paisagismo do câmpus, no viveiro do Parque Ecológico da UEM, Marco Antonio Moreira precisa apenas levantar a cabeça para enxergar a fileira de gigantescas árvores de pau-ferro margeando a rua e orgulhar-se: “Fui eu quem plantou”. Há mais de 30 anos ele faz parte da equipe, planta e cuida da arborização do câmpus. “Aquela fila de palmeira real, também. Tudo no enxadão”. Segundo o servidor, um de seus prazeres é caminhar pelo câmpus, a trabalho, e rever gigantes árvores que ele plantou ou mesmo conheceu quando eram

frágeis plantinhas saindo da terra, rever árvores que ele e seus companheiros de trabalho podaram muitas vezes ou, sob orientação do agrônomo-chefe, trataram contra alguma doença, praga ou parasita. Lembrança dos velhos quintais

Quem observa a frente da Universidade Estadual de Maringá (UEM), na avenida Colombo entre a avenida Lauro Eduardo Werneck e rua Ardinal Ribas, verá pelo menos meia dúzia de gigantescos pés de manga, goiabeiras de tronco grosso e uma gigantesca falsa seringueira, para muitos conhecida como figueira, para outros, seringueira. Na realidade, a parte frontal do câmpus conserva características dos quintais que ali existiam antes da área ser desapropriada para a instalação da universidade, no inicio da década de 1970. Até pouco tempo existiam outras plantas comuns de quintais, como pés de pinha, jaqueiras, laranjeiras e muitos pés de limão rosa, que morreram de velhas e não foram repostas.

Mangueira de Izaltino resiste ao tempo

Visitar o câmpus da Universidade Estadual de Maringá (UEM) é sempre motivo de emoção forte para o pioneiro Izaltino Machado. Ele morou vários anos na esquina das avenidas Colombo e Lauro Eduardo Werneck, onde está fincado o mastro da Bandeira do Brasil, até o terreno ser desapropriado para implantação da universidade. No local está um gigantesco pé de manga que Izaltino plantou quase 50 anos atrás no quintal de sua casa. A velha mangueira continua dando frutos, que parecem mais doces do que no passado. Outro motivo de emoção é que no exato lugar de sua antiga casa está a casa de madeira que ele e seus irmãos construíram em 1947 para abrigar a família do diretor da Companhia Melhoramentos, o suíço Alfredo Nyffeler, a primeira construção do Maringá-Novo. Levada para o câmpus, a casa de Nyffeler hoje abriga o Museu da Bacia do Paraná.

Antonio Manfrinato e sua árvore de estimação

Manfrinato e a figueira de 70 anos

O pioneiro Antonio Manfrinato, o seo Tonico, tem árvore de estimação no câmpus da UEM. Por décadas ele morou e cuidou de um cafezal de um diretor da Companhia Melhoramentos, desapropriado para a implantação da universidade e cuidou de árvores que davam sombra útil para o descanso dos trabalhadores durante as colheitas e capinas. A preferida de seo Tonico era a figueira ao lado do carreador principal, que, após a derrubada do cafezal e construção das salas de aula, foi preservada. Imponente, a figueira de mais de 60 anos ainda chama a atenção ao lado do Restaurante Universitário (RU). Foi em janeiro de 1948, o local estava todo desmatado. No meio da clareira aberta, viu uma plantinha começando a crescer. Acrescentou terra e deu no que deu. “Tomei muito café embaixo dela”, brinca.

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