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UEM nascEU do claMor da sociEdadE E dE vontadE política
from Revista UEM 50 anos
by artesuem
A criação da universidade resolveria o desafio dos pais de mandar os filhos para outras cidades e Estados
Determinação, resiliência, coragem, bravura, visionarismo, são, por assim dizer, qualidades das pessoas envolvidas na criação da UEM, pois tirar a ideia do papel dependia do governo estadual e ainda por cima faltava local onde a instituição se instalaria, inexistia estrutura física e financeira e muito menos a quantidade mínima de sete cursos para dar início a uma universidade.
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Assim é que podemos resumir a situação política da época, em 1969, quando o prefeito Adriano Valente levou adiante o clamor da sociedade maringaense de criar a universidade estadual na cidade. Defensor da iniciativa, Valente desapropriou um terreno de cerca de 80 alqueires onde hoje funciona o câmpus sede, na Zona 7, construiu a edificação para abrigar o antigo Instituto de Ciências Exatas e Tecnológicas (Icet), nos fundos do Instituto de Educação Estadual de Maringá, e nomeou uma comissão com o objetivo de fazer os estudos de viabilidade econômica de criação da UEM.
O estudo foi apresentado ao governador Paulo Pimentel. Ele aceitou, mas disse que criaria, além da UEM, as universidades estaduais de Londrina e de Ponta Grossa. Daí, veio a solicitação pelo surgimento de uma comissão incumbida de elaborar o anteprojeto da lei.
Antes, uma pausa para explicar que o Icet foi uma jogada engendrada pelos maringaenses desta comissão. Somando os cursos de Engenharia, Física, Química e Licenciatura Plena em Ciências, alojados no Icet, com os oferecidos pelas faculdades de Direito, Economia e Filosofia, chegava-se aos sete cursos mínimos necessários para começar a universidade.
Certo é que Pimentel também mostrou vontade política e a instituição saiu do papel, primeiro com a Lei 6.034, de 6 de novembro de 1969, autorizando a criação e, depois, com a sanção do decreto 18.109, de 28 de janeiro de 1970, criando, de fato, a instituição. O reconhecimento da UEM veio bem depois, por meio de decreto federal (77.583) de 11 de maio de 1976.
MODIFICOU A CULTURA
Pelas manifestações de líderes representantes da sociedade à época dá para ter a ideia sobre a relevância do aparecimento da universidade. No livro “Maringá, ontem, hoje e amanhã”, Arthur Andrade sintetiza que a comunidade local queria a criação da UEM porque muitas famílias mandavam os filhos fazerem cursos superiores em outras cidades e Estados.
No livro, cuja capa foi elaborada pelo falecido artista gráfico Reynaldo Costa, o advogado Horácio Raccanello Filho reputa o surgimento da universidade como fato de fundamental importância, causador de uma “evolução social e, sobretudo, uma evolução cultural da mais alta envergadura”.
Criada a UEM, o advogado José Carlos Cal Garcia, então diretor da Faculdade de Direito de Maringá, foi escolhido o primeiro reitor, tendo como vice Airton Pinheiro, também da mesma faculdade.
Hoje o câmpus sede está integrado à cena urbana da cidade (abaixo). Na foto acima, as primeiras construções pré-moldadadas

Nomeados pelo governador, enfrentaram o desafio de conseguir um local para a Reitoria. Garcia alocou a Reitoria no escritório dele, no edifício Três Marias. Depois, foi para um espaço mais adequado, assim que o médico Said Ferreira, que anos mais tarde viria a ser prefeito municipal, cedeu, sem cobrar aluguel, uma sala no edifício Atalaia. Tudo isso, no centro da cidade. Dono da Barbirense à época, o empresário Antonio de Souza Bárbara colocou o mobiliário, até que os dirigentes da universidade tivessem as verbas liberadas para o pagamento destes móveis.
Os capítulos seguintes desta história passaram pelas dificuldades de Cal Garcia em obter dinheiro para iniciar a construção no câmpus sede e pelo reconhecimento dos primeiros cursos instalados, à exceção do de Economia. Para levantar os primeiros blocos, fabricados em estrutura pré-moldada, teve a ajuda de um empresário.
Para alcançar o reconhecimento, o reitor recorreu ao Conselho Federal de Educação, em Brasília, por achar que o conselho estadual, ligado à Secretaria de Educação do Paraná, estava pouco interessado no assunto.
Os dirigentes pensaram em federalizar a UEM, enviando pedido ao Ministério da Educação, por entenderem que a instituição receberia mais recursos financeiros. O pedido foi recusado.
INTERIORIZAR
Dos três primeiros ex-reitores, o único vivo é o professor aposentado Neumar Adélio Godoy, ocupante do cargo de 1978 a 1982. Antes, ele foi vice de Rodolfo Purpur, entre 1974 a 1978. Segundo Neumar, o ex-governador Paulo Pimentel tinha a convicção de que a criação das primeiras universidades estaduais era uma forma de interiorizar o ensino superior no Paraná, tendo como polos as cidades de Londrina, Maringá e Ponta Grossa.
Outra testemunha dos tempos difíceis é o professor José James da Silveira. Ele assumiu a direção da Faculdade de Economia de Maringá, após uma crise administrativa na instituição, em 1966, e veio a compor, mais tarde, a comissão incumbida de fazer os estudos de viabilidade para a criação da UEM. Além dele, a comissão teve a participação dos demais diretores das faculdades de Direito e Filosofia, José Carlos Cal Garcia e Flávio Pasquinelli, respectivamente.
Também aposentado como professor da universidade, Silveira lembra da fixação do prefeito Adriano Valente em criar a universidade no município. Sem a ousada atitude do prefeito de erguer a sede do antigo Icet, as dificuldades de pôr em funcionamento os sete cursos exigidos para dar início à UEM seriam, na avaliação de Silveira, bem maiores.

A UEM optou pela verticalização do ensino, investindo na pós-graduação stricto sensu, e pela política multicampi, descentralizando as atividades por meio da criação dos câmpus regionais. Eles estão nas cidades de Diamante do Norte, Cianorte, Goioerê, Umuarama, Cidade Gaúcha e Ivaiporã, além de Maringá, onde funciona o câmpus sede, com a Reitoria e todo o aparato administrativo.
Para ficar apenas em algumas avaliações, a UEM é a 25ª melhor instituição de ensino superior do País e a 6ª melhor universidade estadual. No ano passado, levantamento do Leiden Ranking, feito por uma universidade holandesa do mesmo nome, apontou a UEM como a segunda universidade do mundo que mais publica artigos científicos com autoria de mulheres.

Vegetação ocupa uma área de quase 470 mil m2 no câmpus sede

Registro noturno do câmpus de Maringá

Local onde funcionava o Icet, fundos do Instituto de Educação Estadual de Maringá

O ex-prefeito Adriano Valente escolhendo o local onde seria instalada a UEM (foto acima). Ao lado, Valente e o ex-governador Paulo Pimentel. E abaixo, a área com a lavoura de café, que viria a ser o câmpussede, tendo à frente o estádio Willie Davids

