PENSAR, CRIAR E FAZER
JOELSON GOMES | MANUEL DANTAS SUASSUNA | MAURÍCIO CASTRO
11 de marรงo a 18 de abril de 2015
ORA ET LABORA Joelson Gomes, Manuel Dantas Suassuna, Maurício Castro
Raul Córdula
Esta exposição com que a Arte Plural mais uma vez brinda seu público mostra artistas que nasceram na passagem da pósmodernidade para a contemporaneidade, artistas da geração dos anos de 1980 que vivem a maturidade de suas aventuras criativas.
Guimarães, responsável pelas imagens de um pequeno e notável livro com as imagens das obras produzidas pelos dois, dos ambientes do ateliê e das paisagens da mata sul. Os textos são de autoria de Luzilá Gonçalves, Mónica Carballas e Kevin Power.
Pensador, inventor e criador todo artista é. Nenhuma novidade, porém ao organizar esta exposição com Joelson Gomes, Manuel Dantas Suassuna e Maurício Castro percebemos como cada um deles direciona suas compulsões criativas.
Citando Roberta Guimarães também colocamos o interesse de Dantas e Joelson pela fotografia. Dantas realizou em 2012, aqui na Arte Plural, a exposição Cabeça-Retrato, quando interferiu com pinturas em telas onde estavam impressas fotografias de autorretratos. A mesma coisa fez Joelson com a foto de um pássaro captada na instalação Jardim de Narciso, da Japonesa Yayay-Kusama, no Instituto Inhotim. Este pássaro se tornou o motivo principal de suas criações recentes que agora mostramos, e consta de pinturas em tela, fotografias impressas também em tela, como em Dantas, e de um Livro de Artista.
Joelson mantém seu ateliê/olaria nas imediações do Capibaribe, no Poço da Panela. Dantas transita entre seu ateliê no porto do Recife e Taperoá, no Cariri paraibano, onde está sua Oficina Cabeça de Cabro; Maurício reside no Recife, mas seu ateliê é num sítio em São Lourenço da Mata. A ligação com a terra os aproxima claramente, mas é na materialidade de suas obras que transcendem à pintura e buscam outros meios como a cerâmica, a xilogravura, a fotografia e o livro de artista, onde eles revelam traços de fidelidade à tradição sem desviarem o olhar do presente. A cerâmica ligou Joelson e Dantas desde o projeto Olaria Ocre, projeto patrocinado pelo Funcultura, desenvolvido como ateliê residência em Tracunhaém com duração de três anos. Olaria Ocre contou também com a participação da fotógrafa Roberta
Dantas também expõe livros de artistas com pinturas sobre revistas de moda que criam metáforas sobre o desejo, o tabu e a intolerância, como imagens de burcas pintadas sobre modelos de passarelas. O Livro de Artista é uma categoria da arte contemporânea onde o artista utiliza o livro como suporte. Não exatamente como o suporte gráfico ou pictórico para criar imagens, mas também como suporte técnico (encadernação, etc.) e linguístico, para criar uma obra.
Apesar do mesmo meio de expressão, de encarnarem a ideologia da arte, Joelson difere de Dantas como o Capibaribe difere do Cariri paraibano. A dureza do traço, a memória rupestre e o sentido armorial dos quase-brasões desenhados com óxidos de ferro nas figuras e potes criados por Dantas se opõem à organicidade dos testículos de bodes e os discos modelados com cenas de nudismo das esculturas de Joelson. Por sua vez Dantas apresenta um fragmento de sua série Labirinto, alusão aos pintores descobridores do Brasil como os holandeses de Nassau. Trata-se de florestas sem folhas, agrestes, secas, onde a garrancheira se desenha como ferros de marcar o gado, e nisto ele aponta para duas direções: a marca que sempre interessou a Ariano, seu pai, e a marca de propriedade, daí a alusão batava. Já o que sucede com Maurício não o atrela necessariamente ao ruralismo dos outros dois, mas sim à crítica da imagística metropolitana recorrente neles. Sua vontade telúrica se confunde com o sentido periférico que a arte de agora assume por intermédio das manifestações gráficas dos quadrinhos, da poética e da crítica social eivadas de humor, e do emprego da xilogravura, meio popular por tradição. Algum tempo antes ele coordenou, na antiga fábrica de móveis da arquiteta Janete Costa, a oficina Balneário
Água Fria, onde desenvolveu construções de ferro ao lado de Fernando Augusto, Maurício Silva, a galerista Lúcia Santos e Cristina Machado, que lá construiu a escultura de seu corpo em ferro. Vale a pena lembrar e citar nomes ligados à sua trajetória, pois ele foi um criador de espaços coletivos de pensamento, invenção e trabalho. Ao lado do escultor José Paulo, Maurício também criou, e mantiveram entre 1988 e 1994, a Quarta Zona de Arte, no Bairro do Recife, do qual participaram Fernando Augusto, Flávio Emmanuel, Márcio Almeida, Cristina Machado e Aurélio Velho, e em 2001 a oficina Submarino, com a participação de Juliana Notari, Juliana Calheiros, Isabela Stapanoni, Jacaré e Fernando Augusto. Importante também é dizer que ele esteve à frente da criação do SPA – Semana de Artes Visuais do Recife. Como escreveu certa vez Paulo Sérgio Duarte apresentando um livro sobre Antônio Dias: O papel do artista: trabalhar e refletir, que me lembra o lema beneditino Ora et Labora, tendo a pensar que este vaticínio completa a razão de seus ofícios, pois nestas pinturas e gravuras, que olham para o dia-a-dia com estranha poética, vemos permanecer o sentimento coletivo de Maurício, e nisto a postura generosa de quem se reinventa constantemente, como faz também Dantas ao captar os labirintos da história, e Joelson ao marcar a insustentabilidade dos pássaros.
6 Joelson Gomes
Esferas em cerâmica 12cm de diâmetro Cerâmica JG01_APG032015
7
Impressão s/ Canvas com aguadas de acrílicas 80 x 110cm Mista JG02_APG032015
8
Sem título 45 x 35cm Acrílica s/ tela JG03_APG032015
9
Sem título 45 x 35cm Acrílica s/ tela JG04_APG032015
10
Disco em cerâmica 40cm de diâmetro Porcelana e fotografia JG05_APG032015
11
Disco em cerâmica 35cm de diâmetro Porcelana e fotografia JG06_APG032015
12 Dantas Suassuna
Sem título 140 x 200cm Acrílica s/ tela DS01_APG032015
13
Sem título 84 x 135cm Acrílica s/ tela DS02_APG032015
14
Sem título 120 x 120cm Acrílica s/ tela
Sem título 120 x 120cm Acrílica s/ tela
DS03_APG032015
DS04_APG032015
15
Sem título 120 x 120cm Acrílica s/ tela
Sem título 120 x 120cm Acrílica s/ tela
DS05_APG032015
DS06_APG032015
16
Sem título 120 x 120cm Acrílica s/ tela DS07_APG032015
17
Sem título 120 x 120cm Acrílica s/ tela DS08_APG032015
18 Maurício Castro
Nóia 50,8 X 35,0cm Gravura em linóleo com montagem volumétrica MC01_APG032015
19
Eu hamster 15 x 15cm Gravura em linóleo MC02_APG032015
Eu hamster 150 x 150cm Acrílica s/ tela MC03_APG032015
20
O grande Deus Qwerty 71x 201cm Acrílica s/ tela MC04_APG032015
Qwerty 11,3 x 30,7cm Gravura em Linóleo MC05_APG032015
21 Banheiro 33,2 X 51,1cm Gravura em Linóleo
Leão da Neméia 12,0 x 18,5cm Gravura em Linóleo
MC06_APG032015
MC07_APG032015
Lugar para ficar parado 21,7 x 31,4cm Gravura em Linóleo
Responsa 13,0 x 19,2 Gravura em Linóleo
MC08_APG032015
MC09_APG032015
22 O pendurado 16,0 x 8,0cm Gravura em Linóleo MC11_APG032015
Pegue leve 20,3 x 18,7 Gravura em Linóleo
“Mandril” 7,5 x7,5 Gravura em Linóleo
MC10_APG032015
MC12_APG032015
Anel caveira 5,8 x 5,8cm Gravura em Linóleo MC13_APG032015
Onça 7,5 x 7,5cm Gravura em Linóleo MC14_APG032015
Artista 23
JOELSON GOMES MANUEL DANTAS SUASSUNA MAURÍCIO CASTRO Curadoria
RAUL CÓRDULA
Fotografia dos Artistas
AMÉLIA COUTO Fotografia das Obras
GUSTAVO BETTINI Tratamento de Imagem
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