Fotografias de João Urban em Pernambuco, a paisagem e o sagrado
JOÃO URBAN
JOÃO
FOTOGRAFIAS DE JoÃO URBAN EM PERNAMBUCO
URBAN A PAISAGEM E O SAGRADO
2020
10/MAR A 18/ABR
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JOÃO
FOTOGRAFIAS DE JoÃO URBAN EM PERNAMBUCO
URBAN A PAISAGEM E O SAGRADO
10/MAR A 18/ABR DE 2020
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O POLACO VIU O MUNDO E ELE ESTAVA NO BODE
Por incrível que possa parecer, aqueles poloneses e seus descendentes que João fotografou, me remetiam ao sertão nordestino. Homens e mulheres que mantinham paralisado um tempo perdido, um lugar remoto. Eram passado e
Em um dia perdido de 2016 um amigo me disse:
presente juntos, como se não importasse o
“João Urban está no Recife, vivendo e morando!”.
futuro. E haviam os cenários incríveis, as casas
Pensei imediatamente em procurá-lo, me apresentar,
de madeira repletas de imagens religiosas, de
conversar, tomar cervejas. Fiquei imaginando o
fotos, adereços, lembranças, identidades. As
que trazia o polaco curitibano ao Recife.
mesmas cores. Um lugar próximo do Sertão que eu havia encontrado, tão distinto da tragédia da
João Urban é uma das grandes referências da
seca e da ausência de tudo.
fotografia documental no Brasil,. Expôs em vários lugares do mundo. Cuba, Veneza, México, Polônia,
Por fim, foi na Arte Plural Galeria que finalmente
China,França… Tem livros icônicos, publicados na
encontrei João. O Atelier de Impressão me
Alemanha e no Brasil, além de ganhar os prêmios
convidou para mediar uma conversa de João
JP Morgan, e a Bolsa de Pesquisas Vittae. As
com a fotógrafa Flora Negri, numa noite incrível,
fotografias de João fazem parte das principais
junto a jovens interessados em ouvi-los e
coleções e acervos sobre a fotografia Brasilianista.
conhecê-los.
João Urban é um Mestre da fotografia Brasileira. Então João partiu do Recife e nunca sentamos Do seu trabalho sobre os imigrantes poloneses
para aquela conversa imaginária, repleta de
no sul do Brasil, estão fixadas em mim as fotos
revelações e segredos que todos nós desejamos
das comunidades que os poloneses fundaram no
quando encontramos com amigos ainda
Paraná na virada do século 19 para o 20. Cidades
desconhecidos. Agora, João volta ao Recife,
que preservaram hábitos, práticas, costumes,
nesta mesma Arte Plural, e me coube apresentar
arquitetura e a língua como eram originalmente
suas fotos inéditas. As fotos pernambucanas de
na Polonia, na época que vieram.
João Urban.
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João morou cinco anos no Recife e com sua
João Urban nos traz o Recife de um caminhante
companheira Jussara Salazar frequentou a
pelos rios e arrabaldes, várzeas e pontes, um
comunidade do Bode, que fica ali entre o Pina
singelo constraste entre a cidade do mangue e
e o Cabanga, o Encanta Moça e o mangue,
a delicadeza de seus detalhes espalhados pelos
a antiga Bacardi e Brasília Teimosa. Com seu
muros, quintais, fachadas, janelas e suas árvores.
interesse voltado ao Maracatu Nação Porto Rico
Símbolos sagrados da sua gente mais potente.
e Encanto do Pina, e o universo do Candomblé,
Mais pernambucano, impossível.
vai nos revelando este Recife e seus arredores, com os mesmos olhos que viram seu povo
O polaco viu o mundo e ele começava no Bode!
atravessar o mundo e estacionar neste novo mundo. América. Polaco - como se define este descendente de poloneses, que agora nos apresenta estas fotos, é o mesmo João que documentou a vida dos Boia-frias ou os caminhos dos antigos tropeiros do sul do Brasil, ou os religiosos de Aparecida em São Paulo. Conhecemos agora este Recife/Pernambuco de João Urban, que igual a um estrangeiro descobrindo seu próprio País, nos mostra o que viu de mais luz da terra, dos descendentes africanos que atravessados à força pelo Atlântico, despejados nesta América com seus cantos, danças e sua fé, movem esta Nação de
Fred Jordão - Fotógrafo
festa e luz.
fevereiro de 2020.
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JOÃO URBAN
JU16_APG022020 João Urban Poção 2018 60 x 90 cm
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A PAISAGEM E O SAGRADO
JU14_APG022020 João Urban Gravatá dos Gomes 2018 85 x 60 cm
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JU15_APG022020 João Urban Poção 2018 60 x 90 cm
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JOÃO URBAN
JU17_APG022020 João Urban Castelo de Pesqueira 2013 60 x 92 cm
JU22_APG022020 João Urban Recife, visto de Olinda, entardecer 2014 40 x 60 cm
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A PAISAGEM E O SAGRADO
JU18_APG022020 João Urban Pintura em Muro no Bairro das Graças, Recife 2018 90 x 60 cm
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JU19_APG022020 João Urban Árvore na Rua do Príncipe 2013 82 x 60 cm
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JOÃO URBAN
JU20_APG022020 João Urban Pé de Fruta-Pão, Olinda 2014 60 x 82 cm
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JU24_APG022020 João Urban Coqueiros no Alto da Sé, Olinda 2014 40 x 44 cm
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A PAISAGEM E O SAGRADO
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JOÃO URBAN
JU25_APG022020 João Urban Reflexos de prédios no Rio Capibaribe, Recife 2015 40 x 60 cm
JU21_APG022020 João Urban Rio Capibaribe, Noturna, Recife 2018 40 x 53 cm
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JU23_APG022020 João Urban Barbearia na Comunidade do Bode 2014 40 x 60 cm
JU26_APG022020 João Urban Coqueiros na praia do Pina 2018 40 x 60 cm
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13 IMAGENS DE JOÃO URBAN: RITOS DE UMA PASSAGEM PELO RECIFE DOS “XANGÔS”1 “Nagô, nagô Nossa rainha já se coroou!...”
Profano e sagrado, ritual e dança, elaborações de uma síntese luxuosa, naquele sentido da riqueza de signos que, em Recife sopram com a brisa naturalmente. E assim, Urban chega a estes lugares através dos tambores do maracatu, vistos e ouvidos nas velhas ruas, nas esquinas do “antigo”, soando misturados à brisa do rio e do mar entre as
Ao chegar em 2013 a Recife João Urban traz
pontes. Recife ponte entre cultos e culturas,
consigo o mesmo olhar, ou gosto, ou ainda o
cultivos, tradição e a resistência que levou o
saber que em terras de Espanha também sabe
fotógrafo um dia à Comunidade do Bode no
a sabor, gosto de gostar de aromas e cores,
bairro do Pina onde plantou seu olhar e sua
no caso gosto pelos saberes desta terra onde
câmara experientes no convívio com o humano.
cultura, festa e religiosidade se confundem. Sim, seu trabalho como fotógrafo desde a 1
Cultos de origem africana praticados no Haiti e em
resistência em 64 e posteriormente povoado de
Cuba (vodu, santeria), e no Brasil (candomblé: crença e
boias-frias, tropeiros e mestres da congada foi
festas religiosas originadas com os negros jeje-nagôs,
realimentado pela convivência com o baque do
na Bahia, e os bantos). O “xangô” (Alagoas) e o culto
maracatu Porto Rico, que ali tem sua sede, no
shango de Trinidad derivam de Xangô, poderoso orixá,
acolhimento que recebeu da rainha Mãe Elda de
“um dos mais populares, prestigiosos e divulgados orixás dos candomblés, terreiros, macumbas do Recife ao
Oxóssi, no Ilê Axé Oxóssi Guangoubira, que hoje
Rio Grande do Sul”, segundo Câmara Cascudo. Xangô,
tem a frente o Mestre e Babalorixá Chacon Viana
ou Shango, é uma presença forte no continente ou nas
de Xangô e a Mãe pequena Edileuza da Oxum.
ilhas americanas, onde quer que os povos de origem africana tenham se fixado a partir principalmente do século XVIII. Fonte principal: Alaôr Eduardo Scisínio, Dicionário da Escravidão. Léo Christiano Editorial, 1997.
E sabe-se que os espaços e os mistérios de um Ilê são segredos da sagrada Mãe África, heranças trazidas pelo seu povo em forma de
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culto, com suas loas e cantos, ervas e signos,
Hoje, quando vivemos um momento em que
panos e palhas da costa, riqueza de saberes que
a intolerância religiosa se apresenta de forma
só aos iniciados é permitido partilhar. Urban,
violenta em ataques aos terreiros e casas
pela profundidade e intensidade de seu trabalho
de culto afro-religiosos, esse conjunto de
foi aos poucos conquistando um lugar a partir
fotos significam uma atitude não apenas de
de um ângulo raro nesse universo fechado, por
resistência, mas também de respeito que João
se tratar de um espaço de ancestralidade e
Urban propõe como o fotógrafo que desde
espiritualidade. A comunidade o recebeu e assim
sempre se irmanou com todas as lutas pela
foi possível iniciar o grande trabalho de seis
dignidade humana, produzindo suas imagens e
anos fotografando praticamente todas as festas,
sempre ombro a ombro no diálogo com o povo
desde as obrigações de carnaval até os toques
das ruas e nas comunidades populares. Sua
de cada Orixá na casa.
passagem por Recife, portanto, traduz-se num rito único e solidário. E se reflete em não apenas
Todo esse material, imenso registro etnográfico
um, mas em todos os terreiros e caminhadas de
e fotográfico encontra-se aqui representado
luta empreendidas pelo “povo do santo”. Asé!
nessas 13 imagens, nesse 13 mágico que evoca a herança afro-religiosa e afro-cultural que, por ser tão cara como registro tanto fotográfico como humano, revela o interior e a emoção entre o corpo e o espírito. Aqui encontramos a natureza em sintonia com seus elementos vitais, através do uso que o candomblé faz de um retorno às raízes mais profundas, não apenas das culturas vindas de África, mas de igual maneira da memória das culturas ameríndias, nesse caso irmanadas com sutileza e adoração pelo sagrado saber da Jurema e dos mestres e mestras.
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Jussara Salazar, fevereiro de 2020.
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JOÃO URBAN
JU01_APG022020 João Urban Noite do Dendê-Ylê Axé Oxossi de Guangoubira 2014 60 x 90 cm
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A PAISAGEM E O SAGRADO
JU09_APG022020 João Urban Entrega para Oxum 2017 60 x 75 cm
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JU08_APG022020 João Urban Toque de Oxossi, Ylê Axé Oxossi de Guangoubira 2017 40 x 54 cm
JU02_APG022020 João Urban Noite do Dendê-Ylê Axé Oxossi de Guangoubira 2014 40 x 63 cm
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JOÃO URBAN
JU11_APG022020 João Urban Toque de Oxum 2018 40 x 60 cm
JU07_APG022020 João Urban Toque de Oxossi, Ylê Axé Oxossi de Guangoubira 2017 60 x 85 cm
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A PAISAGEM E O SAGRADO
JU06_APG022020 João Urban Osé, Ylê Axé Oxossi de Guangoubira 2017 40 x 55 cm
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JU12_APG022020 João Urban Toque de Oxum 2018 40 x 53 cm
JU10_APG022020 João Urban Toque de Oxum, saída de Ogans 2018 40 x 60 cm
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JOÃO URBAN
JU03_APG022020 João Urban Festa do Inhame-Ylê Axé Oxossi de Guangoubira 2014 40 x 60 cm
JU04_APG022020 João Urban Obrigação de Carnaval-Ylê Axé Oxossi de Guangoubira 2016 40 x 60 cm
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A PAISAGEM E O SAGRADO
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JU05_APG022020 João Urban Obrigação de Carnaval-Ylê Axé Oxossi de Guangoubira 2016 40 x 55 cm
JU13_APG022020 João Urban Noite dos Exus 2017 40 x 57 cm
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ARTISTA
CURADORIA
João Urban
Fred Jordão
TRATAMENTO DE IMAGEM
PROJETO GRÁFICO
APOIO
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INFINITY C E R T I F I E D
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P R I N T I N G
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