Artista
An a C at a r in a M o u s in h o Curadoria
M a r i a d o C a r m o N in o FOTOS E Tratamento de Imagens
Edo u a rd Fra ip o n t Projeto Gráfico e Diagramação
Le t z D e s ig n www. let zd es ig n .co m . b r
23 de maio a 27 de julho
ORIGEM E FIM SÃO DA ORDEM DO INFINITO
ao contrário, baças, fora de foco, podem
A linha é um ponto que foi passear
contraste do contato entre duas áreas de
também se apresentar como o resultado em cor. Nem dominante nem companheira, mas insubmissa, rebelde.
“O
trabalho deve permanecer a “caixa
No que tange o aspecto gráfico, nesta frase
preta”. Vivo ou não. Isso é tudo. Se
bem humorada do pintor Paul Klee que nos
não for, para a cesta!”
serve de subtítulo, está implícita a ideia de
Henri Michaux
deslocamento, logo, trajetória do cruzamento de uma área e a temporalidade que dela De imediato algo que me chama a atenção nos trabalhos de Ana Catarina Mousinho é a onipresença da linha. E a linha é antes de tudo um meio de comunicação primordial. Elas fazem parte de nosso mundo, podem ser observadas em nosso cotidiano mais simples: arestas, caligrafias, hachuras, texturas, valores tonais, cores, gestualidades, figuras, expressões, etc. Uma lista de suas características físicas e materiais seria muito longa. Nas obras que vemos aqui elas podem vagar como em um
advém. Narrativa. Contações, eu diria. Gosto deste neologismo [uma espécie de amálgama entre contar e ação] para escrever o que afinal não pode ser dito, explicado. Entre o pictórico e a escrita, e ao falarmos de escrita, falamos tanto de imagem quanto de textos, mas sobretudo de algo que só é definível por aquilo que o simbólico consegue definir, como a um poema. E poesia não significa. Ela mostra...o que não se exime de uma apologia do sabor, toda ela em detrimento do saber.
desenho ansioso para submergir a si mesmo,
Seria então a característica de uma
numa espécie de investigação cega, podem
linguagem que vive em luta constante com
ser curtas ou longas, finas ou espessas,
os sentidos, como sua experimentação da
dinâmicas ou mais estáveis, bem definidas ou
impossibilidade. A arte complexifica o mundo,
não apenas o duplica, deixa-o mais rico,
menos uma exclamação. A imagem acessa
promove o tempo, o debate, o contraditório,
o real pela memória. A lógica da mostração
um eterno devir que tem o poder de mostrar
é do lado das analogias e não do discurso.
o que não está escancarado, vertigem do que
As metáforas então, adquirem aí a sua
jamais conseguiremos comunicar plenamente.
importância. O ato de mostrar se inscreve
Assim, a artista aqui usa a linha, no seu
no ato de expor. Cabe a nós dançarmos
caso de um modo subjetivo, para agregar
conforme a coreografia engendrada pela
os significados objetivos ou emocionais às
artista a partir do caos do mundo.
suas imagens. Instigantes deambulações que dão curso livre ao traçado sobre o suporte, variando o nível da espontaneidade do gesto. Alusivas. Ilegíveis. Mas toda imagem é uma pergunta em potencial, cujo valor expressivo difere de sua significação. Poderíamos perguntar: suas imagens narram? Mas o que podem as imagens? O que querem as imagens, afinal? A imagem, assim como o poema, mostra, mas não conta. É muda. Toda imagem toca o real, uma vez que na memória tem a imaginação, o conhecimento. Os significados que possam vir a ser atribuídos via interpretação, são parte do poder de sugestão subconsciente por ela gerado. Imagens abrem muitas perspectivas sem que estas possam ser definidas com certeza, mas sim sugeridas, mais uma interrogação e
Maria do Carmo Nino
AC01_APG052018 Vermelho 1 2018 Óleo sobre tela 37 x 47 cm
AC03_APG052018 Vermelho 5 2018 Óleo sobre tela 37 x 47 cm
AC02_APG052018 Vermelho 2 2018 Óleo sobre tela 37 x 47 cm
AC04_APG052018 Vermelho 3 2018 Óleo sobre tela 47 x 37 cm
AC05_APG052018 Vermelho 4 2018 Óleo sobre tela 47 x 37 cm
AC06_APG052018 Vermelho 6 2018 Óleo sobre tela 47 x 37 cm
AC07_APG052018 Vermelho 9 2018 Óleo sobre tela 50 x 40 cm
AC09_APG052018 Sem título 2018 Carvão sobre papel 113 x 77 cm
AC08_APG052018 Sem título 2018 Carvão sobre papel 113 x 77 cm
AC10_APG052018 Sem título 2018 Carvão sobre papel 113 x 77 cm
AC11_APG052018 Sem título 2018 Carvão sobre papel 113 x 77 cm
HS03_APG052018 É cedo 3 2018 Pigmento mineral sobre papel algodão 30 x 40 cm
HS05_APG052018 É cedo 5 2018 Pigmento mineral sobre papel algodão 30 x 40 cm
HS04_APG052018 É cedo 4 2018 Pigmento mineral sobre papel algodão 47 x 37 cm
HS10_APG052018 É cedo 10 2018 Pigmento mineral sobre papel algodão 50 x 67 cm
HS02_APG052018 É cedo 2 2018 Pigmento mineral sobre papel algodão 30 x 40 cm
HS12_APG052018 É cedo 12 2018 Pigmento mineral sobre papel algodão 50 x 67 cm
CB13_APG122017 Téc. Mista sobre papel 54 x 61,5 cm
HS16_APG052018 É cedo 16 2018 Pigmento mineral sobre papel algodão 50 x 67 cm
HS15_APG052018 É cedo 15 2018 Pigmento mineral sobre papel algodão 50 x 67 cm
HS17_APG052018 É cedo 17 2018 Pigmento mineral sobre papel algodão 50 x 67 cm
HS07_APG052018 É cedo 7 2018 Pigmento mineral sobre papel algodão 30 x 40 cm
HS08_APG052018 É cedo 8 2018 Pigmento mineral sobre papel algodão 30 x 40 cm
HS20_APG052018 É cedo 20 2018 Pigmento mineral sobre papel algodão 50 x 67 cm
HS13_APG052018 É cedo 13 2018 Pigmento mineral sobre papel algodão 50 x 67 cm
HS11_APG052018 É cedo 11 2018 Pigmento mineral sobre papel algodão 50 x 67 cm
HS01_APG052018 É cedo 1 2018 Pigmento mineral sobre papel algodão 30 x 40cm
HS14_APG052018 É cedo 14 2018 Pigmento mineral sobre papel algodão 50 x 67 cm
HS06_APG052018 É cedo 6 2018 Pigmento mineral sobre papel algodão 30 x 40 cm
CB23_APG122017 Marcador sobre papel 61 x 48 cm
HS19_APG052018 É cedo 19 2018 Pigmento mineral sobre papel algodão 50 x 67 cm
HS09_APG052018 É cedo 9 2018 Pigmento mineral sobre papel algodão 50 x 67 cm
ENTRE PRIMEIROS E ÚLTIMOS TEMPOS A história só se constitui através do próprio ato de contá-la
O olhar de Hélia, ao contrário, adota uma visão menos conformista, elege, se interessa e torna memorável aqueles momentos que passariam desapercebidos a um olho destreinado, abraça aqueles instantes
“A importância crucial de uma obra
que não se fazem anunciar, onde não há pose nem sorrisos para a câmera, são
se revela a partir dos signos que ela
instantâneos que trazem um traço estético
coloca em disponibilidade para nossa
e estilístico particular, o de serem captados
reflexão”
no frescor do momento, sutis, exaltam a
Otávio Paz
iluminação natural, o cenário cotidiano e simples. Estas imagens se confirmam
Na série de imagens da fotógrafa Hélia Scheppa reunidas sobre a expressão “É Cedo!” e que vem sendo compartilhada nas redes
como o fruto de uma observação atenta, contínua e muita intimidade com as pessoas retratadas.
sociais, nós nos deparamos sobretudo diante
A dimensão iconográfica e simbólica
de uma historia de afeto. São imagens que
dada pelo foco preciso em uma imageria
poderiam, sim, constar dentro de um álbum
intergeracional entre a criança e a idosa,
de família, usada para fins de comunicação
neste auscultar de um presente sincrônico,
visual privada, mas que ao mesmo tempo
mostra-se através da decisão do ponto
não se restringem aos usos, hábitos e técnica
de vista adotado, do enquadramento, da
usualmente ligados a esta forma específica
história de cada gesto, de cada forma
de expressão cuja narrativa, em sua maioria,
traçada pela luz. O campo natural da câmera
pretende ressuscitar para a memória, detalhes
é o mundo das coisas como elas são para as
importantes, celebráveis das nossas vidas.
pessoas aqui envolvidas.
São imagens que constituem uma poderosa
A fotografia, como parte da história das
narrativa pontuada por certos momentos,
representações, se constituiu desde suas
atitudes, locais, situações, ou idades, fatias
origens em um fator de empoderamento
de vida inseridas na grande marcha do
no que concerne à democratização da
tempo ao qual estamos todos submersos.
habilidade de fazer as próprias imagens.
Interações entre alfa e ômega, seríamos
Mas o que caracteriza a nossa cultura
tentados a dizer.
atual com a internet, é a reconfiguração
Deixei implícito no início que esta é uma narrativa no presente, em processo, que vem servindo de mote para que Hélia propicie a seu público a possibilidade para que reflitamos sobre o que é mostrado nas imagens. O modo como respondemos à historia simbólica é mais importante do que a realidade dos fatos relatados em si. No que pesa o enorme valor pessoal e sentimental advindos dos laços de parentesco com aquelas que incidem sobre estas imagens para a autora, fotografar pessoas é sempre e acima de tudo se reportar à como vivemos, à nossa cultura e à sociedade nos moldes como a fazemos funcionar, reafirmando assim os valores de sua estrutura.
da estrutura do espaço público. Nós nunca tivemos privado e público, mídia e família no mesmo espaço, e o que era da ordem da invisibilidade se torna da ordem do visível. É uma cultura de glosas, de trocas onde a imagem tem um fator que é preponderante, e o ato de compartilhar tornou-se a assinatura desta operação cultural. Maria do Carmo Nino
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23 de maio a 27 de julho