E-ZINE (D)ESCREVENDO SONS #02

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E-ZINE (D)ESCREVENDO SONS #02

PLÁSTICA PROCESSO SONORA CRIATIVO


NARRATIVA DE PROCESSO CRIATIVO ÁLBUM DIGITAL "SUBMERSIVXS" TURMA DE PLÁSTICA SONORA ARTES VISUAIS / CAHL-UFRB DOCENTE - ANDREA MAY SETEMBRO/ 2021



https://soundcloud.com/artemidia/sets/submersivxs


A surpresa não está no final

Embora não se trate de um curso de música, seguimos animosamente a ementa do componente Plástica Sonora e, ao visitarmos movimentos que muito contribuíram e elucidaram a compreensão da construção dos sons e das suas relações na hibridização com as artes visuais, nos sentimos à vontade para transitar no ambiente instigante das experimentações. Lá, os processos são únicos, solitários, colaborativos, infinitos e até inesquecíveis. Na aproximação com o novo ou abstrato, nas revelações dos caminhos possíveis, no mergulho do mais profundo silêncio que, em verdade, inexiste; onde tudo confunde e acalma, desperta e adormece a quem se permite ser a própria obra em construção. Hoje eu acredito que a surpresa não está no final e sim, ao longo da aprendizado, desde o momento em que nos permitimos uma escuta liberta de preconceitos, que não se curva às imposições mercadológicas e nem ao fascismo. Meu respeito e agradecimento a esta turma de submersivxs! ANDREA MAY Artista visual e sonora, doutoranda em Artes Visuais/ UFBA



FORRÓSFORO

Forrósforo é um forró feito a partir do objeto sonoro caixa de fósforo. Nesta composição buscamos trabalhar com sonoridades, texturas que remetessem ao universo semântico do rústico, do labor (daí a presença das palmas e dos pés), da natureza e do imaginário da zona rural os quais juntos compõem a paisagem sonora deste lugar. Não foi minha intenção construir uma obra tomando como ponto de partida técnicas de construção já enraizados em nossa cultura musical a exemplo de melodia, harmonia, ritmo, (e nem conhecimento para isso temos), mas fizemos o caminho inverso: partimos de um objeto sonoro que, em nosso caso, foi a caixa de fósforo e nos deixamos guiar pelo imaginário, pela poética e lirismo deste objeto. Minhas influências musicais nesse processo foram: Walter Smetak, Tom Zé e o grupo Barbatuques. De Walter Smetak, fui influenciada pelo abstracionismo de suas canções, pelo seu modo de produção sem uma intenção explícita de se fazer “agradável” aos ouvidos; de Tom zé fui influenciada pelo modo que ele agrega onomatopéias e sonoridades presentes em objetos do cotidiano em suas músicas; do grupo Barbatuques, fui influenciada pela forma como eles utilizam o corpo para produzir diferentes tipos de sonoridades e texturas musicais. ARIADNE DE ARAÚJO ROCHA



DOCE BAHIA

Essa faixa é fruto de um laboratório do componente curricular Plástica Sonora, ministrado pela professora Andréa May no curso de Artes Visuais da UFRB, A partir de um som produzido por um objeto cotidiano, não sendo esse um instrumento musical, seria nossa referência inicial para compor uma peça. Um sorteio foi realizado junto aos demais colegas que individualmente gravaram o som de um objeto, posteriormente sendo trocado entre nós. Chegou em minhas mãos o som produzido a partir de uma tampa de açucareiro tocado por uma caneta. Ao fazer a escuta desse áudio, me veio à cabeça uma roda de capoeira e com isso pensei na possibilidade de acrescentar sons de berimbau. Para o projeto usei o software de código aberto Audacity, onde fui acrescentando outros elementos junto aos sons do berimbau e da tampa do açucareiro. Usei diversos efeitos para modificá-los. Já com o projeto pronto, era hora de pensar no título da faixa relacionando com já citado objeto de referência e logo me veio: Doce Bahia. Doce do açúcar e Bahia da capoeira, tão marcante no nosso Estado. AYDANO MORAIS RIBEIRO JUNIOR



SINO AQUÁTICO

Inicialmente, pensei em trazer alguns sons que remete a paisagem de beira de rio e algumas cantigas populares, mas fazendo os testes não gostei de como o sino interagia com os outros sons, então comecei a criar um novo projeto. colocando o sino como base, fui procurar alguns loops, encontrei o som da caixa(tambor) e fui o adequado. A melodia do sino parece cantar quando unida ao compasso da caixa. Inseri o som de gaivota porque me remete a essa paisagem ribeirinha e adicionei o elemento água, depois o baixo para preencher os espaços vazios. CARMEN ROBERTA DOS SANTOS



MINIGAR

Primeira vez usando o software Audacity senti dificuldade no seu manuseio. Após algumas tentativas fui aprendendo alguns macetes porém ainda não havia alcançado o que eu desejava realizar para a obra final. Desenvolvi também novos procedimentos para inserir uma melodia da maneira que idealizei. Assim fui buscando mais informações e contei com a ajuda de um colega, logo consegui concluir o trabalho contando com a sua sensibilidade e experiência. Utilizei plataformas distintas para encontrar sons e ritmos. Foram 11 elementos no total. CLEITON DOS SANTOS ROCHA



RALASQUEIRO

Ralasqueiro é uma faixa sonora criada a partir da conjugação por dois sons diferentes: o ralador e o isqueiro, dois objetos muito presente nas cozinhas. Nesta experiência de criação sonora tentamos seguir os caminhos de Schaeffer e Smetak, do puro som, mantendo a ideia de desenvolver uma estética sonora cômica e crítica à semelhança de algumas produções do Tom Zé. Por isso, embora o resultado final lembre muito uma cacofonia, buscamos imprimir uma sonoridade rítmica relacionada ao trabalho cotidiano, numa tentativa de transformar ruídos em obra de arte. Um ouvido atento perceberá uma atmosfera debochada e crítica que foge ao tradicionalismo musical cheio de ritmo, harmonia e melodias. Buscando inspirações em Schaeffer e Smetak seguimos por um caminho onde o ruído torna-se um importante elemento de criação artística. Já com Tom Zé aprendemos que a sonoridade das palavras também podem gerar criativas composições quando aglutinadas aos ruídos. DAVID RICARDO DE JESUS SILVA



VELCROINANDO

Velcroinando é um verbo inventado para nomear a faixa musical que imerge na problemática da desvalorização das profissionais da costura. O processo criativo começou primeiramente a partir de compilados do que foi discutido em sala de aula, ou seja, aproveitei a oportunidade para fazer experimentos que envolvessem instrumentos ou sons não convencionais. Também dispus do que foi abordado no seminário e me inspirei bastante no estilo musical de Tom Zé. O tema do “som” é algo que eu tento discutir na maioria dos meus trabalhos, aproveito as linguagens artísticas para falar sobre um problema que culmina no mundo da moda e na sociedade em geral. O projeto inicia com a frase “O que é liberdade?” que se repete para provocar ou incomodar o ouvinte. Quando percebo que os clientes querem colocar o valor no trabalho de uma costureira e infelizmente precisamos nos submeter a algumas coisas para garantir o nosso sustento, tenho o propósito de questionar “Existe liberdade no meio da costura?”. Disponho do objeto sonoro que foi enviado e aproveito o som do velcro que faz parte do universo da costura para criar o conjunto de sons que remetam a esse trabalho. Uso sons da tesoura e máquina de costura. Também são acrescentados o som de uma sirene e o meu depoimento como alertas desta causa acerca da degradação desta profissão. FLAVIA NOVAIS DOS SANTOS



RESURGENCE

Imagine para o cenário a cena de um filme de ação: A protagonista andando em slow motion em direção ao seu carro. Depois dirigindo em alta velocidade por uma larga avenida, de cabelos cacheados esvoaçantes, e com ar de quem simplesmente conseguiu. Foi essa a imagem que tive ao ouvir um sample que encontrei no Looperman, motivando a criar todo o restante do cenário. Usei o objeto sonoro que me foi enviado (grampeador) como suporte na construção da parte percussiva do som, recortando e acelerando a gravação até que estivesse na frequência da faixa-base. Adicionei também captações de áudios feitas por mim, sendo uma delas o som de lixas de unha em atrito, a segunda um potinho de acetona sendo balançado (esse foi remixado), e a outra um humming da minha voz em tons diferentes que, quando juntos, davam complemento melódico à experimentação. Do Free Sound fiz uso do som de acidente de carro, as ranhuras do vinil que toda do começo ao fim, um burburinho e duas faixas que apresentam interferências sonoras. O nome da faixa surge a partir das três vezes em que a mesma se inclina para um suposto fim e acaba por voltar à melodia inicial. Ao final da faixa brinquei com isso do ressurgimento forjando um acidente ocorrido perto de muitas pessoas que comentam o acontecido, nos fazendo esperar um novo fim, e aí a melodia volta pela última vez, dando a ideia da protagonista saindo do carro e da cena... viva. LARISSA EVANGELISTA NERES DA SILVA



ANASTOMOSE ESTILÉTICA

Os primeiros experimentos que realizei estavam me direcionando aos ruídos gerados nas obras, que os operários, os pedreiros (como meu pai) produzem e lidam diariamente, porém comecei aprofundar a escuta em outros espaços. Tive a oportunidade de ficar em um ambiente natural que me permitia contemplar a natureza em todos os sentidos, principalmente o sonoro. Foi essa mesma dualidade, que corresponde também ao meu momento de vida, que procurei trazer para "Anastomose Estilética", o qual fui contemplada com o som de um objeto sonoro que desconhecia mas que me permitiu criar uma obra sem amarras, buscando basicamente sua sonoridade, de modo que conectou-se harmoniosamente aos demais elementos. KATIA APARECIDA DOS SANTOS



BORBULHAS AO VENTO

Esta faixa foi criada com uma junção de três efeitos sonoros e a sua execução foi feita no software Audacity, no intuito de se obter uma audição imersiva, que simulasse um ambiente úmido e escuro, como uma caverna. Ao decorrer da faixa pode-se notar ruídos e oscilações que, somados às borbulhas na água nos traz uma sensação de relaxamento, que é o seu principal objetivo. MARIA ISABEL CARNEIRO SANTOS



RESSIGNIFICAR

A arte em si é configurada a partir de uma criação humana, descrevendo manifestações e linguagens diversas ao longo do processo de criação, seja na pintura, no desenho, na música, na dança, na escultura, na escrita e/ou nas mais diferentes formas de expressar suas idéias e emoções. O processo criativo proposto como forma avaliativa da matéria Plástica Sonora, ministrada pela docente Andrea May, do Curso Bacharelado em Artes Visuais da UFRB, foi pensado a partir das múltiplas possibilidades artísticas de produção, prática e uso das ferramentas tecnológicas. O referido procedimento foi ressignificado a partir de um objeto sonoro, uma panela com tampa, cujo sons foram emitidos por outra discente e também d escolha própria de alguns sons da natureza como: ondas do mar, canto de passarinhos e uma melodia tranquila. Focando nas habilidades e possibilidades foi possível criar e buscar nos significados sonoros razões e motivos para continuar aprendendo e identificando as particularidades da interação da arte com a tecnologia, tendo como produto final uma trilha sonora intitulada RESSIGNIFICAR. Gostaria muito de elencar todos os momentos vividos em sala de aula, cujos valores e troca de conhecimentos compartilhados somaram ainda mais em meu crescimento acadêmico, intelectual e profissional. MARIA DO SOCORRO RODRIGUES PINTO



COTIDIANO SONORO

Perceber que o ambiente está sempre interagindo e produzindo diferentes formas de percepção, cruzar os objetos sonoros e produzir esse trabalho foi entender que somos feito de formas e sons que ecoam em intensidades diferentes, e que está disposto a recebê los é entrar em sintonia com o que nos rodeia e é tão desprezado. O som do cotidiano é o próprio som da vida acontecendo nas mais diversas formas. MICHELE DO NASCIMENTO DE JESUS



ALVOROÇO

O objeto em si foi uma longa charada do início ao fim, me concentrei principalmente nas suas batidas, ora ritmadas ora descompassadas. Das batidas fiz minha base. Primeiro tentei relacionar algo com o meu o meu quintal: o arrastar do pé, a melodia, ritmo... algo que desse samba. Tentei um áudio gravado aqui, gravei outros depois... Nada me pareceu funcionar. Voltei várias vezes para esse ciclo e é nessas horas que penso que devo fazer algo além do meu quintal. Assim me direcionei para outro processo de construção sonora, indo para sites que disponibilizam áudios variados para baixar. Procurando por algo que me desse ritmo para trabalhar em conjunto com as batidas do meu objeto achei um áudio curto que ecoava suas curtas notas e o repeti até o fim do áudio gerado ciclicidade nele. Um pouco mais satisfeitas com o que ouvi fui procurar algo que me desse mais harmonia e percebi que estava procurando/criando algo que meus ouvidos gostassem mais, algo que fosse mais comum do que estamos habituados. Ritmo, Harmonia e Melodia... Não era sobre isso! Experimentando novamente as gravações e os áudios disponíveis para baixar, me deparei com o barulho do vento até que um se encaixou na parte que estava rolando enquanto eu fazia essa busca. Era o barulho daqueles sinos dos ventos que com as batidas do meu objeto me fizeram parar para escutar cada detalhe de cada reviravolta que acontecia em meio da ciclicidade que também ecoava. Enfim, meus ouviram gostaram daquele prestar atenção nos detalhes dos sons. Algo orgânico, mas também com padrões. Ainda tentei colocar mais detalhes, adicionar batidas ou ainda outras gravações, mas nada me permitiu continuar com essa sensação da escuta. O nome Alvoroço é sobre como encontrar a calmaria ao meio dele. E ainda na apresentação falaram que o trabalho final lembrou samba... É! No fim acho que tudo é. POLIANA SALES ESTEVAM



ALÉM-CHUVA

No começo estava um pouco perdido, mas logo segui a ideia de criar a faixa a partir de um relato meu escrito para o trabalho colaborativo “E-ZINE (D)ESCREVENDO SONS #01”. Nessa linha, com base nas anotações resolvi explorar os sons da chuva, além de ruídos que surgem quando a mesma termina. De início usei o objeto sonoro, semelhante a um pequeno motor, como ruido de fundo durante toda faixa, alternando entre os lados do fone. Em seguida na primeira parte inseri som de chuva, assim como outros ruídos que me remetem chuva como, aplausos, estralos, cliques, teclas e castanholas. Gradativamente claques de TV (risos de fundo para programas de comédia) vão sendo introduzidos, se destacando na segunda parte juntamente com aplausos, aqui a chuva dá lugar a outros sons que remetem a carros e motos passando em uma avenida, que no texto do E-zine se transformam em metáfora para ondas do mar, motos aquáticas e “praia de asfalto” respectivamente. No fim não fiquei totalmente satisfeito com o resultado, tentei outras ideias como sintetizadores parecidos com teremim, ou texto do E-zine narrado e manipulado, mas tudo isso pareceu excesso. Sinto que falta algo mas não sei o que é, isso me incomodou um pouco, me peguei refletindo sobre o significado de uma obra finalizada, ideias ocidentais de fim e processo, conclui por enquanto que uma obra inacabada, ou em processo é tão valida quanto outras finalizadas. ROGER BARBOSA OLIVEIRA SILVA



WALKING ON A DREAM

A criação da faixa Walking on a dream (andando em um sonho) foi realizada entre incertezas e grandes surpresas. Muitos são os rumos surpreendentes da imaginação. Mas foi em uma confusão, nos encontros e desmanches, que construí a composição. Uma viagem em mim mesmo. Somar, expandir e subtrair para libertar um universo sonoro particular. Entre ajustes e remendos, pude equilibrar o sofrer e o sonhar para costurar loops, samples e efeitos sonoros pelo som modificado de uma máquina de costura em funcionamento como base. Eu bebi do desejo de arriscar sem medo de inventar e reinventar em uma composição na qual me permiti mergulhar na liberdade de encontrar uma segunda vida, que só é vivida quando nos permitimos criar. ROSALVO MARQUES DA SILVA JUNIOR



SONORITY

Meu processo de criação iniciou no momento da escolha dos samples e logo parti para inseri-los no Audacity para produção da primeira amostra com uma breve mix destes recortes, utilizados para criar uma composição ao meu estilo. Inicialmente não foi fácil a escolha dos sons, na minha visão eles teriam que ser harmoniosos, isso dificultou na primeira produção na qual coloquei somente dois samples e ficou totalmente eletrônico, sem permitir uma percepção mais nítida do objeto sonoro que recebi. Concluí o trabalho usando quatro arquivos e o referido objeto, chegando assim a um novo resultado, foi quando pude melhor assimilar o software na execução da faixa final com maior satisfação. TIARA ALMEIDA SANTOS


Centro de Artes, Humanidades e Letras


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