“EXPLORING FRONTIERS OF THE MIND-BRAIN RELATIONSHIP”, Springer, 2012
Prefácio A compreensão da mente e consciência é uma das jornadas mais excitantes e desafiadoras na busca pela compreensão de nós mesmos e do universo como um todo. Em primeiro lugar, qual é a natureza da mente e sua relação com o cérebro? O que nos faz humanos e proporciona as qualidades e habilidades que nos tornam aquilo que somos? Qual é a fonte da experiência de nós mesmos? Apesar de sua importância, essas questões mantiveram-se amplamente negligenciadas pela filosofia e a ciência durante a maior parte do século vinte. Contudo, nas últimas duas décadas, tem havido uma excitante renovação do interesse nesse assunto entre o meio acadêmico. Descobertas, em particular, nas áreas de Neurociência e Neurotecnologia, têm fornecido uma janela única através da qual nós podemos ter um vislumbre dentro do complexo funcionamento do cérebro humano. Mesmo que essas tecnologias tenham evoluído, elas ainda têm mostrado as limitações fundamentais que atualmente existem na nossa compreensão da mente humana. Como dito pelo filósofo da mente David Chalmers (1995), apesar dos extraordinários avanços da neurociência, explicar a experiência consciente “apresenta os problemas mais instáveis na ciência da mente” (p.200). Entretanto, muitas pessoas, mesmo no mundo acadêmico, pensam que essas questões já foram respondidas. Elas acreditam que o cérebro humano é a resposta, que a mente não existe ou é apenas um produto (para alguns, um epifenômeno, um subproduto ineficaz) da química cerebral e atividade elétrica. Muitos também vêem o cérebro como uma entidade que pode ver, ouvir, pensar, sentir e tomar decisões. Porém, essas parecem ser conclusões não comprovadas. Como dito pelo neurocientista Eccles (Popper e Eccles 1977:225): Existe uma tendência geral de supervalorizar o conhecimento do cérebro, o que, infelizmente, também acontece com muitos cientistas e autores. Por exemplo, nos dizem que o cérebro “vê” linhas, ângulos (...) e sendo assim, nós logo seremos capazes de explicar como uma figura completa é “vista” (...). Mas essa afirmação é enganosa. Tudo que acontece e temos conhecimento no cérebro é que neurônios do córtex visual causam lançamento de trens de impulso em resposta a alguma entrada visual específica.
Uma reclamação similar foi feita por outra dupla composta por um filósofo e um neurocientista que consideram “o relato de atributos – em particular, cognitivos e intelectuais – psicológicos do cérebro é (...) fonte de muita (...) confusão. (...) As grandes descobertas da neurociência não requerem essa forma de explicação errada.” (Bennett e Hacker 2003:3-4) Embora o materialismo reducionista seja uma hipótese que vale a pena seguir, não é um “fato científico”, como muitos acreditam. Contudo, diversos reducionistas aceitam que ainda não é um “fato cientificamente comprovado”, mas que irá se tornar um logo. Essa crença que “em algum ponto não específico do futuro” (p.205) vai ser cientificamente