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Entrevista

ENTREVISTA – COM O DR. MIGUEL CAPÃO FILIPE PRESIDENTE DA DIRECÇÃO DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE CIDADES E VILAS DE CERÂMICA

Kéramica – Dr. Miguel Capão Filipe, é o atual Presidente da Direção da APTCVC - Associação Portuguesa de Cidades e Vilas de Cerâmica, é uma circunstância do acaso ou tem, ou tinha, alguma ligação à cerâmica.

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MCP - Sou médico, mas “o médico que só sabe de medicina, nem de medicina sabe.” A APTCVC foi fundada em abril de 2018, abençoada pelo Real Edifício de Mafra e fui o seu primeiro Presidente da Assembleia Geral, inerente a ser Vereador da Cultura de Aveiro; neste novo ciclo autárquico que se seguiu, a Direcção anterior cessante, na pessoa da sua Presidente (Dra. Célia Fernandes de Mafra) e respectiva direcção, acharam – como continuei no exercício da vida autárquica - com o perfil de memória e continuidade para este desígnio de ainda fase instituidora. Por outro lado, como alguém também disse “no princípio sempre foi o homem, o espírito e o barro”; isto é ADN aveirense, aqui qualquer cidadão tem ligação à cerâmica.

Kéramica – Quando foi constituída a APTCVC? Qual o desafio que esteve na origem da sua criação? Qual a missão que a rege?

MCP - Conforme referi foi fundada, concretamente a 17 de abril de 2018, em Mafra, tendo a sua Sede Social nas Caldas da Rainha. Trata-se de uma associação sem fins lucrativos composta por municípios, podendo incluir também associados honorários (entidades colectivas que não municípios ou individualidades ligadas à cerâmica). O desafio foi o de englobar, numa corporação de abrangência nacional, os principais centros cerâmicos de Portugal, caracterizados por uma forte atividade e tradição sustentável da cerâmica. Uma referência especial ao nosso Director Executivo, o Dr. José Luís Silva, que a desafio do Sr. Beppe Olmetti, italiano e secretário-geral da Associação Europeia foram verdadeiros iniciadores desta congénere portuguesa. Como está definido nos Estatutos, a APTCVC tem como principais missões a defesa, a valorização e a divulgação do património cultural e histórico cerâmico, o intercâmbio de experiências entre os associados, o estabelecimento

Exposição Itinerante da AptCVC, Batalha

de parcerias, a promoção da criação artística e a difusão da cerâmica tradicional e contemporânea. Pretende-se dar resposta ao “Portugal Cerâmico”, numa dimensão transversal a partir da Cultura, em contributo para o desenvolvimento sustentável – económico e social, de investigação e I&D, de criatividade e inovação- de muitas das Regiões do país, também através do ecossistema “Cerâmica”. Reafirma-se o quanto pode ser pertinente e decisivo o papel da Associação, do trabalho dos municípios que a compõem bem como dos membros honorários, numa Rede dinâmica com várias componentes - do ensino, da investigação, da preservação patrimonial, etc. – na afirmação da cerâmica portuguesa. Igualmente, a APTCVC poderá vir a participar em missões e projetos europeus via Agrupamento Europeu Territorial das Cidades Cerâmicas (AEuCC), cuja adesão nossa, de Portugal, foi concretizada recentemente, em 2021.

Kéramica – Quais as cidades, vilas, entidades são associadas da APTCVC? Como funciona a adesão, por convite ou por manifestação de vontade?

MCP - Constituída por 22 municípios portugueses, tendo como fundadores, em 2018, Alcobaça, Aveiro, Barcelos, Batalha, Caldas da Rainha, Ílhavo, Mafra, Montemor-o-Novo, Redondo, Reguengos de Monsaraz, Tondela, Viana do Alentejo, Viana do Castelo e Vila Nova de Poiares, admitiu-se em 2020, como novos membros Oliveira do Bairro e Porto de Mós e depois em 2021 Leiria e Condeixa-a-Nova. Já no início do ano de 2022 aderiram o município do Fundão, Estremoz, Loures e Vila Real. No que diz respeito a associados honorários, temos entre outras entidades a APICER - Associação Portuguesa das Indústrias de Cerâmica e de Cristalaria (Coimbra), CENCAL - Centro de Formação Profissional para a Indústria Cerâmica (Caldas da Rainha), CEPAE - Centro de Património da Estremadura (Batalha), CTCV – Centro Tecnológico da Cerâmica e Vidro (Coimbra), DEMaC - Departamento de Engenharia de Materiais e Cerâmica da Universidade de Aveiro (Aveiro), ESAD.CR - Escola Superior de Artes e Design (Caldas da Rainha), PH - Património Histórico PH – Grupo de Estudos (Caldas da Rainha), SPCV - Sociedade Portuguesa de Cerâmica e Vidro (Aveiro), Projecto SOS Azulejo e como associado honorário individual o Arquiteto Manuel da Bernarda e o mestre Manuel Cargaleiro. As adesões funcionam dos dois modos referidos na pergunta, por convite, após sugestão de um dos membros associados ou então por manifestação de vontade; é um processo dinâmico, temos neste momento várias adesões em curso, carecendo a sua aprovação definitiva em Assembleia Geral.

Kéramica – Que iniciativas estão a desenvolver ou preveem desenvolver a curto e médio prazo?

MCP - Dentro das Iniciativas Nacionais, destacamos: O “Bom Dia Cerâmica”, normalmente no terceiro fim de semana de maio. A APTCVC concretiza através dos seus associados, anualmente o Dia Europeu da Cerâmica ou também chamado “Bom Dia Cerâmica”, uma das principais iniciativas de marca das cidades cerâmicas a nível europeu, em articulação com a Rede Europeia de Cidades de Cerâmica.

Na sequência de uma Resolução da Assembleia da República que consagra o dia 6 de maio como o Dia Nacional do Azulejo, os membros da Associação participam através de programas próprios no dia comemorativo do azulejo. Estamos em curso com o melhoramento do processo de comunicação, com o reforço da página Web da APTCVC e a criação de uma Newsletter, através das quais daremos a conhecer a programação regular dos associados, nas suas actividades próprias anuais associados à cerâmica tais como Eventos, Exposições, Feiras, I&D e Serviço Educativo, entre outros.

Procederemos à melhoria da presença nas redes sociais e já temos a funcionar um serviço clipping, monitorização e avaliação da atividade da marca Cerâmica em Portugal, distribuído diariamente aos nossos associados. A nível das edições está em curso a elaboração do Catálogo da Exposição Itinerante da APTCVC, dum Dicionário digital dos recursos cerâmicos em Portugal do tipo “Quem é Quem?” e de um Centro de Documentação Digital da Cerâmica, em Rede. Já marcámos, estando em fase de organização o 1º Congresso Nacional e Mostra das Cidades e Vilas

Cerâmicas, para o fim de novembro do próximo ano de 2023, no Centro de Congressos de Aveiro.

Kéramica – O público em geral participa nas exposições realizadas ou ainda há um caminho a fazer, neste campo? Os jovens manifestam interesse nestas artes cerâmicas?

MCP - Temos uma Exposição Itinerante da APTCVC em curso, a Exposição “A Cerâmica Portuguesa” que dá uma expressiva panorâmica da cerâmica portuguesa através de um conjunto de obras das 22 vilas e cidades que formam a Associação e escolhidas pelas próprias. A partir da exposição apresentada nas Caldas da Rainha, também começaram a fazer parte da mesma, trabalhos dos seus membros honorários. A próxima etapa da exposição será Leiria. Temos sabido de um forte número de visitas pelos diferentes municípios da Rede por onde tem passado. Estudamos a realização de outras iniciativas e exposições, passíveis também de uma itinerância pelos municípios da Rede. Sendo decisivo e importante o Sistema Educativo (famílias e Crianças) e o cativar dos jovens nomeadamente por intercâmbios de estágios ou residências em municípios, fábricas, entre outros.

Kéramica – A APTCVC faz parte de uma rede europeia. Quais os objetos desta rede europeia? Que países fazem parte da mesma? As preocupações são comuns?

MCP - Como já referido foi concretizado em 2021 a adesão de Portugal ao Agrupamento Europeu Territorial das Cidades Cerâmicas (AEuCC), que passou a contar com 7 países, dos fundadores às mais recentes adesões, respetivamente Itália, França, Espanha, Roménia e mais recentemente Portugal, Alemanha e República Checa. Outros países estão em processo de adesão, aproximandose rapidamente das duas centenas de cidades cerâmicas europeias. O objetivo desta Associação inclui a participação nas Assembleias Gerais e acompanhamento das iniciativas para a defesa em comum da cerâmica na Europa, o potencial de participação em Feiras internacionais organizadas pelas associações nacionais das cidades cerâmicas e a participação que se espera cada vez mais crescente e importante em Projetos Europeus apresentados a cofinanciamento à Comissão Europeia pela AEuCC, num trabalho em Rede.

Kéramica – Os turismos, especialmente em municípios mais afastados da costa, podem incrementar o interesse e a preservação do artesanato local?

MCP - Com o número crescente de empresas de cerâmica artesanal, de trabalhos de autor realizados por ceramistas portugueses em ateliers, a utilização da cerâmica em formas de expressão criativa e cultural na arte pública, da

Comemorações do 4º aniversário no Fundão

classificação de património existentes ou em curso, numa espécie de “EN2” também pela cerâmica, obviamente que será factor apelativo em termos de turismo fora das grandes rotas.

Kéramica – Celebraram recentemente o 4ª aniversário. Quais são as expectativas para o futuro da associação?

MCP - No passado dia 27 de maio e integrado na jornada europeia do “Bom Dia Cerâmica 2022”, comemorámos o 4º aniversário da criação da Associação na inspirativa Casa do Barro, em Telhado, Fundão. Na sessão, foram destacados os principais desafios da cerâmica artesanal, industrial, tecnológica ou artística, bem como patrimonial no nosso país, bem como o seu enquadramento na cerâmica europeia, tendo sido destacado que presentemente Portugal é o segundo produtor mundial da cerâmica de mesa e decorativa, bem como existe um forte movimento para valorizar e incrementar a cerâmica artesanal e de autor em todo o país, com o apoio de muitas autarquias.

Nesta reunião, foi anunciada a realização no final do próximo ano em Aveiro, por ocasião da Bienal Internacional da Cerâmica Artística, do 1º Congresso Nacional e Mostra de Cidades e Vilas de Cerâmica, com a participação internacional de todos os países que compõem o Agrupamento Europeu das Cidades Cerâmicas, que já conta com mais de uma centena e meia de cidade de toda a Europa. Saímos, todos nós equipa directiva, restantes órgãos sociais, membros associados, deste aniversário com a expectativa de contributo e missão em prol da “Cerâmica Portugal”, ainda com a maior pertinência como é no contexto actual do pós-Pandemia, e de outros factores a afectar a indústria cerâmica - dos maiores consumidores de gás natural -, como é a Crise Energética e a Guerra na Ucrânia. Sempre em Rede, em trabalho de Equipa e onde a APICER e os seus distintos associados constituem nós essenciais da malha desta Rede.