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Editorial

Era minha convicção de que o Editorial do número anterior da KÉRAMICA tivesse sido o último do meu mandato como Presidente da Direção da APICER. Assim não é na realidade, mas esta será mais uma história a ficar para o futuro. Entretanto, e com pedidos de desculpa aos nossos leitores pela ousadia de ocupar este prolongamento em tempo extra com memórias pessoais, gostaria de aproveitar este espaço fazendo jus a factos e sobretudo a pessoas que marcaram a minha vida associativa na cerâmica. Para além do prazer que me dá reviver estes factos, faço-o também com sentido de justiça para com essas pessoas, algumas das quais ainda felizmente entre nós, e entidades algumas das quais ainda existem também. Afinal estamos em tempo de comemoração de aniversário da APICER, pelo que é entendível que o faça neste momento. À cabeça vem-me a experiência vivida ainda em tempos da APICC (entretanto extinta para surgimento da APICER), na área da Formação para empresários (que agora se chama pomposamente de capacitação). A necessidade de evoluir na gestão, levou-nos na altura à contratação dos serviços de um consultor externo, dedicado exclusivamente aos empresários da cerâmica, com os quais trabalhava durante um ano, deslocando-se a todas as empresas inscritas para esse curso que tinha a duração de 1 ano, com 12 empresários por ano. Refiro-me ao Engº Vasco Cruz de quem alguns empresários ainda se recordarão, e que classifico como um verdadeiro especialista na área da comunicação e da gestão. Não direi que fez milagres, mas foi verdadeiramente o responsável por uma mudança significativa nos padrões de gestão, que mexeu com o subsetor e o fez crescer de forma visível e objetiva. A história do que conseguiu com o seu trabalho é afinal património do subsetor, mas a história de hoje conta-nos como conseguiu a APICC contratar os seus serviços, sem meios financeiros próprios para o fazer, e sem poder contar com a cobertura dos custos pelos seus beneficiários, como seria razoável e adequado.

E não conseguia essa cobertura dado tratar-se de uma experiência nova, numa área em que muito poucos acreditavam como sendo uma mais-valia, e considerando ainda que ao tempo, o recurso à Formação profissional era um sinal de atraso e de incompetência que cairia menos bem aos olhos da opinião pública. Por isso, o primeiro grupo de participantes foi feito a convite da APICC, e sem qualquer custo para os inscritos. Estes primeiros 12, passaram a sua experiência ao segundo grupo e depois ao terceiro, até ao 6 grupo. Foi o custo necessário ao lançamento da ação, e à criação de agentes mobilizadores para replicar novas ações. No total, o Engº Vasco Cruz trabalhou nestas condições durante seis anos, sempre com 12 participantes/ano, dos quais apenas o primeiro foi gratuito e os seguintes foram sendo cada vez mais caros até que as receitas das inscrições cobriram completamente os respetivos custos.

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Mas quem financiou então a primeira sessão? Sem meios próprios e sem receitas suplementares, mas sobretudo porque a APICC acreditou na mais-valia desta iniciativa e no seu sucesso, recorremos ao CEDINTEC, associação que ainda existe e à qual apresentamos o nosso projeto e a necessidade de cobertura integral da primeira ação e o apoio nas duas seguintes. O CEDINTEC acreditou no projeto e financiou-o a 100% no primeiro ano. A minha e a nossa homenagem fica aqui para os responsáveis do CEDINTEC na altura, Dr. Alcides Pereira, Engº Vitor Vasques, Eng. Carvalho Oliveira, Dr. José Manuel Moreira e Engº Jorge Tello. Do mesmo CEDINTEC e com os mesmos protagonistas, fica ainda o apoio do CEDINTEC/IAPMEI à criação do 1º Laboratório Móvel para a cerâmica, como ainda um outro episódio que aqui recordo a seguir. Numa altura de maior aperto financeiro para a APICC, dirigi-me pessoalmente ao CEDINTEC para pedir um apoio reembolsável. Era Presidente do IAPMEI o Engº Amadeu Pires que, com os mesmos Vitor Vasques, Carvalho Oliveira, José Moreira e Jorge Tello, aceitaram sem reservas fazer o empréstimo que pedimos, e até com o pormenor de que podia ter trazido ainda nesse mesmo dia o cheque da importância que pedimos, apenas com a assinatura de documento comprovativo da receção desse cheque, com despesas a justificar posteriormente. Podemos chamar a isto o que quisermos, mas … que bons velhos tempos, em que a confiança era a palavra de ordem, e o compromisso era cumprido como foi, com o reembolso do empréstimo concedido. Isto parece pré-histórico, mas foi apenas há menos de 4 décadas. Como as coisas mudaram …!!! Gratos ao Engº Vasco Cruz, ao CEDINTEC e aos seus dirigentes, porque sem a colaboração e empenho de um e dos outros, teriam perdido não só a cerâmica como o País!

Dr. José Luís Sequeira (Presidente da Direção da APICER)