Revista Kéramica n.º 366 Setembro / Outubro 2020

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Digitalização

SOLUÇÕES i4.0 E DE DIGITALIZAÇÃO TAMBÉM ESTÃO AO ALCANCE DAS PMES PORTUGUESAS

por Do mi n g o s Mo r e i r a , responsável pelo desenvolvimento de negócio da área de desenvolvimento de produto.

«Indústria 4.0», «digitalização», e «internet das coisas» são palavras ubíquas hoje em dia, e por boa razão. São conceitos que englobam um largo espectro de tecnologias e aplicações, em constante desenvolvimento, e que se traduzem em inúmeras oportunidades para acrescentar valor a produtos e processos, desde a redução do time-to-market, customização em massa de produtos e à rápida escalabilidade de sistemas produtivos. Estas novas tecnologias enfrentam, porém, ainda algumas dificuldades de aceitação. Por um lado, são perfeitamente valorizadas pelos especialistas e empresas/organizações qualificadas e com músculo para implementar soluções complexas, suportadas pelos vários domínios da ciência e da engenharia. Por outro lado, no entanto, ainda observamos uma grande reserva e hesitação por parte dos decisores nas empresas, nomeadamente quanto à capitalização e ao investimento inicial, que, para os casos mais complexos, tende ainda a ser avultado. A tendência para avaliar tecnologias sob o ponto de vista do retorno direto a curto ou médio-prazo, tende a deitar por terra a vontade de implementar novas soluções desta índole. E para empresas com menor capacidade de investimento, o esforço inicial necessário invalida qualquer tentativa. Estamos agora numa fase em que a tecnologia está a amadurecer rapidamente, tendo sido implementada em todos os setores avançados da indústria, como são a título de exemplo os casos da indústria automóvel e farmacêutica. No entanto, as soluções dos fornecedores com maior expressão no mercado são, na maioria dos casos, pouco adequadas à realidade do tecido industrial português, cuja transição para a realidade do 4.0 tem sido lenta. E até em grandes empresas é notório o desfasamento entre a necessidade que motiva uma consulta ao mercado, e o resultado obtido.

Uma realidade exigente impõe abordagens alternativas O mercado está familiarizado com soluções standard, mas estudos comprovam¹ que nem todos os projetos têm sucesso e que a identificação de casos de estudo e a integração de soluções, bem como a gestão de dados, são as maiores dificuldades. Os projetos de implementação de conceitos 4.0 na indústria são de tal maneira complexos que a integração das diferentes soluções em harmonia é, frequentemente, o passo mais complicado. Ademais, os requisitos, as necessidades e os indicadores de gestão das diferentes equipas são muitas vezes contraditórios, e a programação, sendo um processo de lógica, vive mal com este tipo de abordagem. Nesta medida, uma das maiores e mais complexas etapas do processo é o levantamento de necessidades e a sua transformação em requisitos e especificações, alinhadas com os diferentes níveis de atuação. A associar a este ponto, a heterogeneidade dos sistemas obriga-os a um processo de integração, sendo que as linguagens de programação e os protocolos de comunicação são muitas vezes distintos e por vezes propriedade das marcas, criando restrições ao acesso de dados que têm que ser consideradas. Por vezes, obriga a recorrer à integração de elementos e sensores complementares, que operam em paralelo com o equipamento, contornando a falta de acesso a sistemas mais antigos ou fechados, garantindo-se o acesso à informação necessária. A este desafio acresce a dificuldade relacionada com a gestão e qualidade de dados, sendo vastos os estudos que indicam fragilidades neste ponto, com necessidade de investimento em hardware especializado e sistemas de redundância que garantam a recolha e processamento de informação realmente útil. Isto porque os dados devem espelhar a realidade dos processos, e não deve ser

¹ Beechan Research INSIGHT Report: "Why loT projects fail: towards new business value”

Setembro . Outubro . 2020

Digitalização . Kéramica . p.19


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