4 minute read

Arquitetura

AZULEJO, LUZ E REFLEXOS

por João Tiago Aguiar, Arquitectos

Advertisement

O azulejo, um elemento intemporal, está de volta a marcar as novas tendências da arquitectura em Portugal pela cor, brilho, expressividade e carácter que impõe aos edifícios. O atelier João Tiago Aguiar, arquitectos valoriza este elemento, tão tradicional, pelo ritmo, impressão visual e diversidade de sensações que propicia. “O azulejo é uma óptima escolha quando pensamos nos diferentes efeitos de luz que proporciona ao longo do dia, em especial em dias de sol”, refere o arquitecto João Tiago Aguiar para quem os cambiantes de luminosidade induzem a variadas experiências e leituras das composições azulejares. O impacto da luz numa fachada pode ser experienciado pelo observador atento, reavivando memórias e significados ou induzindo momentos introspectivos ou de simples bem-estar. Nem o transeunte assoberbado escapa à intensidade de uma frontaria iluminada e em constante transformação; seja ao longe, ao perto, pela manhã ou ao final da tarde as nuances alteram-se e novas leituras surgem.

O azulejo nos projectos

A materialização dos conceitos luz, brilho e movimento faz-se através de uma selecção rigorosa do azulejo, desde as matérias-primas utilizadas no fabrico das peças,

Restaurante LOCO, Lisboa

Restaurante 560, Lisboa

até à cor, padrão, textura e relevo. O elemento azulejo tem de integrar-se, com exactidão, no conceito do projecto que se está a desenvolver, isto é, como uma parte intrínseca e em perfeita simbiose com o todo. A preferência recai sobre o azulejo artesanal e semi-artesanal, peças, muitas vezes, produzidas em exclusivo para o atelier que imprimem originalidade e um impacto ambiental e visual concebido para cada cliente específico. Lisos, tridimensionais ou uma mescla de ambos, as composições geram impactos únicos e impressões sensoriais muito próprias. Aos critérios de escolha do azulejo está ainda subjacente uma sinergia entre o atelier e o cliente para se encontrar um compromisso e retirar-se o maior partido deste elemento tanto em exteriores como em interiores. Mais audaz ou subtil, em harmoniosa ou dissonante, a composição azulejar é, como diz João Tiago Aguiar, “uma escolha inicialmente nossa mas que rapidamente o cliente aceita e defende.” Ainda sobre este assunto, o arquitecto esclarece: “Conhecer os gostos do cliente, os seus desejos e motivações são requisitos essenciais que nos motivam a obtermos ideias concretas na altura de definirmos um projecto. Queremos que o cliente se identifique e se envolva em pleno com as nossas propostas, seja em revestimentos ou apontamentos estéticos.”

Aplicação prática

A cor, o brilho e a padronização e textura é variável conforme a área a ser revestida. Em fachadas, procura-se criar composições que valorizem o edifício do ponto de vista arquitectónico e, em muitos casos, patrimonial. Em interiores, procura-se, igualmente, engrandecer e dignificar os espaços, mas sem esquecer a utilidade do azulejo como elemento prático e de fácil manutenção. Exemplo disso são não só zonas comuns como as caixas de escadas, o hall de entrada ou uma parede decorativa mas também as zonas húmidas, como cozinhas e casas-de-banho, onde a par da funcionalidade e da higiene do azulejo, a estética não era descurada com cada década a seguir a sua tendência em tons e padronização cerâmicas. Hoje, tal como antes, não há cozinha ou casa-de-banho sem azulejos e, novamente, as tendências em voga aplicam-se aqui como em qualquer outro espaço da casa. A vertente eclética do azulejo permite as mais variadas combinações de cor e de padrão, com a sua possível colocação de variadíssimas formas em que factor a ter em conta é que o resultado final seja equilibrado e com excelente impacto visual. Segundo o arquitecto João Tiago Aguiar, “tanto as zonas húmidas como as circulações de uma casa deixaram de ser lugares um pouco frios para se tornarem espaços mais vivos e pensados para nos sentirmos bem e onde o azulejo desempenha um papel de monta.”

O Azulejo português

O tradicional azulejo pode ser visto em exteriores e interiores de monumentos, estando muito ligado, enquanto arte, à arquitectura religiosa, com magníficos painéis a criarem atmosferas ímpares. Muitos palácios, solares e casas particulares, ao longo dos tempos, também se serviram do azulejo como expressão de monumentalidade e um meio de contar histórias e deixar memórias. O azulejo português, a sua originalidade e qualidade é fruto do trabalho de ceramistas que lhe dão forma, de artistas que lhe dão sentido e arquitectos que lhe dão uso, cumprindo uma dupla função: funcionalidade e estética. Como potenciador da luz, o azulejo eleva a percepção do ambiente a um outro patamar com mais intensidade, mais brilho e novas leituras espaciais que se renovam a cada instante.

João Tiago Aguiar Nasceu em Lisboa - Portugal, em 1973. Formado na FAUTL em 1996, colaborou com van Sambeek & van Veen Architecten, Amesterdão – Holanda, de 1997 a 2000 e com Broadway Malyan Portugal de 2000 a 2004. Em 2004 forma em sociedade o atelier acarquitectos. Em 2008, de forma individual, prossegue sob a designação João Tiago Aguiar, arquitectos. O atelier, a funcionar no centro de Lisboa, foca-se essencialmente na disciplina de projecto de arquitectura e conta já com várias obras construídas bem como inúmeros projectos em curso. O seu trabalho tem sido publicado em diferentes revistas, livros e blogues de arquitectura, tanto nacionais como estrangeiros. O atelier João Tiago Aguiar Arquitectos foi distinguido com o prémio londrino “Surface Design Awards” por 2 anos consecutivos: - Em 2016 vence com uma parede de azulejo branca no “Restaurante Loco”; - Em 2017 conquista o mesmo galardão com um projecto na Ericeira denominado “Casa Ericeira”. Em 2016, o atelier recebe o prémio “Prémio de Recuperação Arquitetónica de Nova Oeiras – RENOV”, uma iniciativa da Câmara Municipal de Oeiras.

Apartamento Chagas, Lisboa

Apartamento FFII, Lisboa