Gestão Hospitalar - Nº34 2008

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100% da Saúde é suprida pelo Sistema Ú nico de Saúde brasileiro, como o interior dos estados do Nordeste, os estados do Norte, algumas vastas regiões do Centro. Em alguns lugares da região Sudeste, por exemplo, mais de 40% da população é assistida pelo Sistema Único de Saúde e pelo sistema suplementar. Há uma desigualdade muito grande que tem de ser vencida e é aqui que nós encontramos as insatisfações. Nós temos muitas cidades na região Sudeste - onde existe um médico para cada 200 habitantes - que é m uito mais que na totalidade dos países europeus. Por outro lado, há várias regiões do país onde temos um médico para 1200 a 1500 habitantes. Há ainda um número grande de cidades - cerca de m il - sem qualquer assistência médica.

GH - E há médicos da América Latina a procurar o Brasil devido a essa instabilidade? JLGA - Muitos. Recebemos muitos médicos sobretudo da Bolívia, alguns da Argentina ... da Colômbia, Venezuela e alguns ainda - embora menos - do Paraguai. No caso do Peru, há fases. A instabilidade política facilita. O que temos acompanhado, no Brasil, é a criação de escolas médicas na América Latina voltadas para absorver brasileiros. Há muitos estudantes brasileiros de Medicina fora do Brasil. GH - E a qualidade? JLGA - A qualidade é péssima! São faculdades feitas especificamente para formar para o exterior. Um problema que se está a agravar, a tomar proporções preocupantes é Cuba. Este país tem exportado muitos médicos para a América Latina e nós nem sabemos exactamente se são médicos ou não. É um processo mais de cunho ideológico,

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doutrinário, incluindo a criação de faculdades para formar médicos especificamente para a América Latina. Esses médicos saem dos países de origem - geralmente são indicados por partidos políticos ou movimentos sociais - e depois tentam voltar. Quando se submetem aos exames de revalidação a taxa de aprovação é muito pequena, o que deixa claro que a qualidade de ensino nessas instituições é muito fraca. Apenas 10%, ou menos, são aprovados.

As faculdades de Medicina que estão a abrir na América Latina não têm formação de qualidade

GH - Como é que está a saúde dos brasileiros? JLGA - Muito longe do que se considera aceitável. O Brasil não é um país que possa ser tratado como uma estrutura única ... há vários "brasis". Há Medicina de alta qualidade em alguns centros de excelência - comparáveis aos bons centros médicos e universitários da Europa e da América do Norte, mas também tem Medicina de péssima qualidade. Cerca de 20% dos brasileiros, 40 milhões, são assistidos pela Medicina suplementar - que são seguros de saúde, planos de saúde. E este sistema investe aproximadamente 50% do orçamento total da Saúde. Ou seja, metade do orçamento de Saúde do país aplica-se apenas a 20% dos brasileiros. A outra metade do orçamento aplica-se a 100% da população, porque inclui aqueles 20% . Então, quase 80% da população socorre-se de um recurso muito pequeno. E isto provoca diferenças na assistência. Há áreas do país em que praticamente

vem em conta-gotas e enfrenta uma série de limitações em função de doenças pré-existentes e recusas de cobertura, que se tornam num problema adicional.

GH - O governo tem investido nos cuidados de sa úde? JLGA - Muito pouco! O investimento não chega a 80 mil milhões de reais, cerca de 30 mil milhões de euros. Parece um volume razoável, mas se se dividir por 186 m ilhões de habitantes, o valor per capita é, acredito, um décimo do que se investe em Portugal. GH - Não há d inheiro ou não há vontade política? JLGA - Principalmente não há vontade política. Mas outra questão importante é que a gestão destes poucos recursos é muito má.

GH - Sem um médico, nem no serviço privado? JLGA - São cerca de mil cidades, pequenas, pobres, sem um único médico. Como no Sistema Único de Saúde não há um plano de carreira para médicos; estes não se sentem estimulados a deslocarem-se para essas regiões. A assistência médica, nestes locais, está ainda muito sujeita às influências políticas, às mudanças de governo, ao interesse do Prefeito (presidente da câmara municipal). GH - Em Portuga l existe um sistema público de cuidados de saúde, que está cada vez mais a abrir-se aos privados. Esta também é uma tendência que se verifica no Brasil? JLGA - Penso que não existe essa possibilidade, em função do desnível económico existente. O Brasil hoje tem 186 milhões de habitantes e não temos mais de 4 0 milhões com capacidade financeira para adquirir um seguro de saúde. Tem existido alguma intervenção do governo no sentido de facilitar a acção de planos de saúde de baixo custo, mas daí têm resultado muitos conflitos. Um cidadão compra um seguro de saúde de baixo custo mas quando ele precisa, o resultado também

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