boletim o Alforge

o alforge ao serviço dos valores e da comunidade

número 25

março 2021

Arciprestado Seia - Gouveia

ANO “FAMÍLIA AMORIS LAETITIA”

boletim (in)formativo

www.oalforge.pt distribuição gratuita

A 19 de março de 2021, a Igreja comemora 5 anos da publicação da Exortação Apostólica Amoris Laetitia.

Neste mesmo dia, o Papa Francisco inaugura o Ano “Família Amoris Laetitia”, que terminará em 26 de junho de 2022, por ocasião do X Encontro Mundial das Famílias, em Roma, com o Santo Padre.

Papa convoca Ano dedicado a São José A Iniciativa assinala 150.º aniversário da declaração como padroeiro da Igreja universal, evocando em particular migrantes e trabalhadores

Editorial

02 | O Alforge | março 2021

Oportunidades de crescimento na Vida (e na Fé)!

Deus, autor da alegria, oferece ao homem projetos de vida, não de morte, mesmo que o caminhar na terra não seja sempre sereno e se vivam momentos de dor e doença como este que estamos a viver do COVID-19.

O fruto do encontro com Jesus é uma vida com sentido, mesmo na nossa fragilidade. É para isso que servem os vários momento do ano, como a Quaresma que estamos a viver!

Enquanto seres humanos e nos momentos de dificuldade, fazemos a experiência do mistério da vida, das incertezas que lhes estão associadas, mostrando a impotência dos nossos actos e de uma vivência isolada.

A dor, a morte questiona -nos sobre o sentido da vida e deita por terra a absolutização da vida que julgamos nunca perder.

O tempo que estamos a viver têm-nos feito, de algum modo, sentir especialmente inseguros.

Adiámos expectativas uma e outra vez. Custa-nos, mais do que nunca, a realidade. Mas só a partir da realidade humana tocada por toda esta incerteza podemos

experimentar a gratuidade da salvação que Jesus nos oferece.

Por isso, a Quaresma oferece-nos a possibilidade de acolher a vida como ela nos é dada neste momento concreto da História. A dádiva de Jesus acontece no concreto do nosso quotidiano.

Por isso, o Papa Francisco – esta bênção de Deus à humanidade, convocou o "Ano de São José", que nasce do coração paternal de Francisco e deseja chegar ao coração de todos os católicos, convidando cada um a conhecer melhor o pai adotivo do Senhor e a sua importância no plano salvífico de Deus.

Assim, em comemoração aos 150 anos da proclamação de São José como guardião universal da Igreja, pelo Papa Pio IX, o Papa Francisco deu um presente à Igreja, o “Ano de São José” através da Carta Apostólica Patris Corde “Coração de Pai”.

O Papa Francisco refere que em São José “vemos como se responde à vocação de Deus: com disponibilidade e prontidão; mas vemos também qual é o centro da vocação cristã: Cristo. Guardemos Cristo na nossa vida, para guardar os

outros, para guardar a criação!”

Esta Carta, como o próprio título sugere, é cheia de afecto. O objetivo desta carta apostólica é aumentar o amor por este grande Santo, para nos sentirmos impelidos a implorar a sua intercessão e para imitarmos as suas virtudes e o seu desvelo.

Outro momento importante para os cristãos, e não só, foi a proposta de um Ano especial dedicado à família.

Por decisão do Papa Francisco e sob a coordenação do Dicastério para os Leigos, Família e Vida, vai celebrar-se o Ano “Família Amoris Laetitia”.

Este ano, terá início a 19 de março de 2021, quinto aniversário da Exortação Apostólica “Amoris Laetitia”, e terminará a 26 de junho de 2022, por ocasião do X Encontro Mundial das Famílias em Roma.

Como o Papa Francisco referiu: «Quando a fé fica reduzida a exercícios verbais estéreis, sem se envolver na história e nas necessidades do outro, então falha a coerência entre o credo professado e a vida real».

Este ano de reflexão sobre a Amoris Laetitia, será uma oportunidade para

aprofundar os conteúdos do documento. Estas reflexões vão ser colocadas à disposição das comunidades eclesiais e das famílias, para os acompanhar no caminho.

Diz-nos o Papa Francisco: Confiamos à Sagrada Família de Nazaré, em particular a São José, marido e pai solícito, este caminho com as famílias de todo o mundo. Que a Virgem Maria, a quem agora recorremos com a oração do ângelus, faça que as famílias de todo o mundo sejam cada vez mais fascinadas pelo ideal evangélico da Santa Família, para se tornarem fermento de uma nova humanidade e de uma solidariedade concreta e universal.

O Papa observa que a apresentação de “um ideal teológico do matrimónio” não pode estar distante da “situação concreta e das possibilidades efetivas” das famílias “tais como são”, desejando que o discurso católicos supere a “simples insistência em questões doutrinais, bioéticas e morais”.

Que o Senhor Jesus Cristo nos ajude nesta caminhada da fé e que estes momentos sejam uma oportunidade de crescimento.

Ficha Técnica Propriedade e Administração: Arciprestado de Seia e Gouveia Equipa Responsável: Carlos Sousa (Pe.), Joaquim Pinheiro (Pe.), João Barroso (Pe.), Paulo Caetano (Dr.), Rafael Neves (Pe.) Colaboradores nesta Edição: José Dionísio (Pe.), Manuel Morujão (Pe.), Márcio Carreira (Frei), Maria Fernanda & João Xavier (Eng.), Paulo Teixeira (Eng.), Paulo Caetano (Dr.), Rui Gomes (Eng.), Sónia Neves (Dra.).

Revisão dos Textos: Anabela Jorge (Dra.), Cláudia Lopes (Dra.).

Morada para Correspondência: Av. Visconde Valongo, n. 11, 6270-486 Seia Contatos: p.caetano@mail.telepac.pt | www.oalforge.pt Nota: Os Textos são da responsabilidade dos próprios autores.

Separata: São José, O Mestre do Silêncio 03 | O Alforge | março 2021

As Alegrias de São José Esses são os eventos da vida de José que o levaram a se alegrar imensamente. As “7 Alegrias de São José” são uma devoção que faz o contraponto das “7 Dores de São José”.

Aquela reflete sobre os acontecimentos felizes na vida de São José que o levaram a se alegrar.

A tradição vem de uma história popular sobre dois franciscanos que foram surpreendidos por uma tempestade.

História Dois padres da ordem franciscana navegavam ao longo da costa de Flandres, quando surgiu uma terrível tempestade, que afundou o navio, com os seus trezentos passageiros. Os dois padres tiveram a presença de espírito suficiente para agarrar-se a um destroço, sobre a qual foram jogados de um lado para outro nas

ondas, durante três dias e três noites. No seu perigo e aflição, todos recorreram a São José, implorando a sua ajuda na sua triste condição.

São José ter-lhes-ia aparecido, ajudando-os a chegar a um porto seguro.

Em seguida, o santo aconselhou-os a recitar diariamente o Pai-Nosso e a Ave-Maria sete vezes, em memória das suas sete dores ou sofrimentos, e das suas sete alegrias, e depois desapareceu.

Alegrias Aqui estão as sete alegrias de São José, baseadas nas várias passagens da Bíblia, conforme registradas num livro devocional do século XIX, The Glories of the Catholic Church.

Em primeiro lugar, “eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: José, filho de David, não temas receber Maria por

tua esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo” (Mt 1, 20.)

Em segundo lugar, a boa nova trazida por um anjo aos pastores, de que o Salvador tinha nascido na Cidade de David, e “subitamente ao anjo se juntou uma multidão do exército celeste, que louvava a Deus e dizia: Glória a Deus nas alturas e Paz na terra aos homens de boa vontade” (Lc 2, 10-14).

Terceira alegria: dar-lhe “o nome de Jesus, como lhe tinha chamado o anjo, antes de ser concebido no seio materno” (Lucas 2, 21).

A quarta alegria aconteceu quando São José viu que os magos vieram do oriente a Jerusalém para adorar o Menino Jesus: “entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrandose diante dele, adoraram-No. Depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-lhe

como presentes: ouro, incenso e mirra”. (Mt 2, 1-2, 11).

A quinta alegria refere-se ao momento em que “Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: Este menino está destinado a ser uma causa de queda e de surgimento para muitos homens em Israel” (Lc 2, 34).

A sexta alegria: na terra do Egito, quando ele viu os ídolos caídos diante do Menino Deus e ouviu do Anjo: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe e retorna à terra de Israel, porque morreram os que atentavam contra a vida do menino” (Mt 2, 20).

A sétima alegria refere-se ao encontro de Jesus no Templo: “Três dias depois o acharam no templo, sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogandoos” (Lc 2, 46).

Imploremos a São José, a graça das graças: a nossa conversão.

Salve, guardião do Redentor e esposo da Virgem Maria!

A vós, Deus confiou o seu Filho; em vós, Maria depositou a sua confiança; convosco, Cristo tornou-Se homem. Ó Bem-aventurado José, mostrai-vos pai também para nós e guiai-nos no caminho da vida.

Alcançai-nos graça, misericórdia e coragem, e defendei-nos de todo o mal. Ámen.

Roma, em São João de Latrão, na Solenidade da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria, 8 de dezembro do ano de 2020, oitavo do meu pontificado.

Papa Francisco

Separata: São José, O Mestre do Silêncio 04| O Alforge | março 2021

São José, a Família e o tempo presente

José António Dionisio Sousa, nasceu a 22 de fevereiro de 1967, em Orjais, Covilhã. Foi Ordenado a 2 de fevereiro de 1992 e é Pároco de Santa Maria e de S. José (Cidade da Covilhã ) e de Vila do Carvalho.

Delegado Arciprestal de Covilhã-Belmonte ao Conselho Presbiteral.

Existe uma tradição cheia de ternura que representa São José deitado a dormir. Já outro José _o do Egipto_ também foi apelidado de “homem dos sonhos”.

Ambos foram pessoas atentas aos planos de Deus, querendo realizar a Sua vontade.

O nosso São José, teve de tomar decisões muito importantes, a partir das revelações que recebeu durante o sono. Mas, S. José não é um dorminhoco! São José também não é um santo mudo! Alguém dirá: ‘mas não há palavras ditas por ele, nos Evangelhos’… É verdade. Todavia, sabemos por experiência própria, desde pequenos, que um simples olhar da mãe ou do pai pode dizer muito mais que três dúzias de palavras. A sua figura e a sua vida falam.

O Papa Francisco convocou a Igreja Católica _assim de repente_ a viver dois ‘anos’ de espiritualidade e de caminhada pastoral: ele marcou para um ano e meio _ de 8 de Dezembro de 2020 a 26 de Junho de 2022_ o ‘ano de São José’ e também um ‘ano especial dedicado à Família’ à luz da ‘Amoris Laetitia’ (AL).

Podemos deixar algumas perguntas sobre esta ‘concorrência de anos’ em contexto de caminhada na Igreja Católica. Reflectir sobre o Padroeiro [pater] da Santa Igreja não inclui desde logo a Família, e esta reflexão não nos conduziria a pensar em S. José como modelo dos pais e mesmo mães de família? Não chegava um só?!

Outras questões interessantes surgem

também: como perscrutar a ‘alegria do amor’ _que é fruto do Espírito Santo_ pela meditação do papel de São José na Sagrada Família e, hoje, na Igreja?

A opinião pública muito aberta, pouco exigente e conformista com as mais recentes mudanças culturais no âmbito do conceito de família e de ideologia de género, não coloca dificuldades inultrapassáveis para as famílias que pretendem viver, à maneira católica, o seu compromisso?

Posto isto, quais são então, os objectivos de cada um destes ‘anos’? E, como se podem ‘casar’ os dois?!

despercebido, o homem da presença quotidiana discreta e escondida. Mas também um intercessor, um amparo, uma guia para os momentos de dificuldade.

Que outra coisa havemos de querer para estes meses e anos, da parte de Deus e, por meio de São José, senão que o seu exemplo de vida nos ampare e nos guie em tempos de grande dificuldade!?

Tantos pais e mães que sofrem com toda esta pandemia que se instalou no mundo e em cada sociedade, precisam de referências.

Precisam de modelos de paciência. Assim como os filhos necessitam de crescer na obediência esclarecida.

O Papa Francisco logo na introdução da Carta Apostólica ‘Patris corde’ diz, acerca deste ‘Ano de São José’, que todos os fiéis podem encontrar nele o homem que passa

E todos precisamos de calma.

E de mais trabalho que dignifique o próprio e seja útil a todos. E de amor que prevê, que antecipa, que evita sofrimentos maiores para os mais novos e os mais idosos.

Separata: São José, O Mestre do Silêncio 05 | O Alforge | março 2021

São José, a Família e o tempo presente

A Igreja e o mundo precisam de lutar contra os assaltos do cansaço e do desânimo, que podem gerar mais indiferença e desigualdades. São desafios para este ano e meio de convocatórias papais, e para o pós-pandemia. A intuição de Francisco apresenta-nos a figura de S. José. Em boa hora.

Quanto ao Ano ‘Família amoris laetitia’, é uma iniciativa do Papa Francisco, que pretende enriquecer todas as famílias com propostas para a vivência da fé e até mesmo como incentivo à criatividade cultural.

Esta riqueza terá como fonte a exortação apostólica Amoris Laetitia.

E se o n. 87 da Exortação Apostólica recorda que a Igreja é uma família de famílias, a experiência presente da pandemia trouxe de novo à ribalta o papel central da Família como Igreja doméstica.

Assim, é útil não esquecer aquilo que São José significa na dimensão da família cristã e tudo o que ela pode e deve

aprender com o santo pai do silêncio e da obediência, nas complicadas questões actuais da vida familiar…Por exemplo, a questão do trabalho.

Desde o Antigo Testamento, o trabalho apresenta-se como fonte de equilíbrio físico e emocional da família, e causa de serenidade.

Para o pai, mas também para a mãe de família. Para o marido e para a esposa, mestres da escola da vida para os mais novos.

Daí, afirmando-se a necessidade do trabalho como motor de desenvolvimento pessoal e da sociedade, vai um pequeno passo até ao Novo Testamento. Conhecemos bem a afirmação peremptória de S. Paulo que acha que os que podem e não querem trabalhar, também não devem comer!

Francisco não se esqueceu de o referir na Amoris Laetitia. Perante dificuldades que se perpetuam, cito o seu n. 25: “… o desemprego e a precariedade laboral geram sofrimento, como atesta o livro de Rute e como lembra

(Continuação)

Jesus na parábola dos trabalhadores sentados, em ócio forçado, na praça da localidade (cf. Mt 20, 1-16) […] Isto mesmo vive tragicamente a sociedade actual em muitos países, e esta falta de emprego afecta, de várias maneiras, a serenidade das famílias”.

Voltemos à pessoa de S. José.

Como nós, nos tempos estranhos que vivemos, ele não entendeu muito bem a realidade que o envolveu, assim de rompante. Aquilo que se passava com a sua prometida. Porém, não a julga, não a condena, mas decide afastar-se para a proteger dos rigores da lei.

Façamos um esforço por nos afastarmos um pouco da espuma dos dias. E dos seus números incompreensíveis também para nós.

O Papa Francisco tem-nos aconselhado, desde há muito, a não ficarmos só em lamúrias e lamentos perante as crises que nos envolvem. Também da família.

E da pandemia. E do desemprego e pobreza que espreitam… Deus nos inspirará sonhos belos e audazes que nos farão sair desta depressão geral.

Escreveu o Bispo norte-

americano Fulton Sheen _que alcançou muita audiência até na Televisão_, nos anos cinquenta do século XX, que S. José foi, provavelmente, um homem jovem, forte, viril, atlético, bonito, casto e disciplinado, o tipo de homem que se vê a trabalhar numa oficina de carpintaria.

Em vez de ser um homem incapaz de amar, ele deve ter ardido interiormente com amor...

A partir destas palavras, um tanto estranhas para algumas almas devotas, podemos sonhar com um futuro melhor para a Família e para a sociedade.

Com vontade e força para trabalhar e para amar, cada um (a) há-de conseguir ser como S. José: humilde, sensato, terno, prudente e heróico para renovar a Esperança, a cada dia que passa. Sua e dos outros. Da Família e de cada Homem.

São José, protegei-nos !

Separata: São José, O Mestre do Silêncio 06 | O Alforge | março 2021

A propósito de São José…

São José “é o homem que não fala, mas obedece, o homem da ternura, o homem capaz de levar adiante as promessas para que se tornem firmes, seguras”.

Papa Francisco “A bem da verdade, José não respondeu ao «anúncio» do anjo como Maria; mas «fez como lhe ordenara o anjo do Senhor e recebeu a sua esposa». Isto que ele fez é puríssima «obediência da fé» (cf. Rom 1, 5; 16, 26; 2 Cor 10, 5-6)”.

São João Paulo II

“Temos ainda no ouvido um discurso pronunciado a 19 de março de 1928, com uma alusão que ele (Papa Pio XI) não soube, não quis calar, em honra de S. José, do caro e bendito S. José, como gostava de saudá-lo”.

São João XXIII São José “é grande este carpinteiro! Silencioso, trabalhador e guardião que carrega as fraquezas e é capaz de sonhar. Uma figura que tem uma mensagem para todos”.

Papa Francisco

outrora costumava socorrer santamente, em todo e qualquer acontecimento, a Família de Nazaré, também agora cubra e defenda com o seu celeste patrocínio a Igreja de Cristo”.

Papa Leão XIII “Se um protetor celeste é indicado para conseguir do alto, em sua preparação e realização, aquele “poder divino” pelo qual ele parece destinado a marcar época na história da Igreja contemporânea, a nenhum dos protetores celestes poderia ser mais bem confiado do que a S. José, augusto chefe da família de Nazaré e protetor da santa Igreja”.

São João XXIII

“São José Padroeira de todos os pais! … / ...

“O exemplo de São José é para todos nós um forte convite a desempenhar com fidelidade, simplicidade e humildade a tarefa que a Providência nos destinou”.

Papa Emérito Bento XVI

“Que São José obtenha para a Igreja e para o mundo, assim como para um de nós, a bênção do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.

São João Paulo II

“Ele (São José) entre todos, impõe-se pela sua sublime dignidade, dado que, por disposição divina, foi guardião e, na opinião dos homens, pai do Filho de Deus. Daí se seguia, portanto, que o Verbo de Deus fosse submisso a José, lhe obedecesse e lhe prestasse aquela honra e aquela reverência, que os filhos devem aos próprios pais”.

Papa Leão XIII

“Desejo confiar a São José, padroeiro universal da Igreja, todos os pastores, exortando-os a oferecer aos fiéis cristãos e ao mundo todo, a humilde e cotidiana proposta das palavras e dos gestos de Cristo”.

Papa Emérito Bento XVI “É algo conveniente e sumamente digno para o Bem-aventurado José, portanto, que, de modo análogo àquele com que

“Uma só coisa lhe (a São José) ocupava o coração: Jesus e Maria, este duplo e tão caro tesouro — como diz uma conhecida oração — que o Pai lhe confiara”.

Padre Paulo Ricardo

“José foi convidado por Deus a «levar para sua casa Maria, sua esposa», grávida d’«Aquele que nela foi gerado pelo poder do Espírito Santo» (Mt 1, 20), para que Jesus, «chamado Cristo», nascesse da esposa de José, na descendência messiânica de David (Mt 1, 16) (33)”.

Catecismo da Igreja Católica (§437) “No Deus trino, autor do mundo, proclamemos nossa fé, imitando a vida e a morte do operário São José”.

Liturgia das Horas

Dossier: Ano “Família Amoris Laetitia ” 07 | O Alforge | março 2021

Caminhando com as Famílias 12 propostas e sugestões para uma pastoral familiar à luz da exortação apostólica Amoris Laetitia.

Cada realidade eclesial é convidada a levar em consideração aquelas que julga possível realizar ou implementar a nível local, de acordo com suas próprias condições e necessidades.

1. O Fortalecer a pastoral da preparação para o matrimónio com novos itinerários catecumenais a nível diocesano e paroquial (cf. AL 205-222) para oferecer uma preparação para o matrimónio remota, próxima e imediata e um acompanhamento dos cônjuges nos primeiros anos de casamento. Um compromisso confiado de modo particular aos casais que, com os pastores, se tornam companheiros de viagem dos namorados, noivos e dos esposos mais recentes.

2. Potencializar a pastoral de acompanhamento dos esposos com encontros de aprofundamento e momentos de espiritualidade e oração dedicados a eles para adquirirem consciência do dom e da graça do sacramento nupcial (cf. AL 58ss e 223-230).

3. Organizar encontros para os pais sobre a educação dos filhos e sobre os desafios mais atuais (cf. AL 172-ss e 259 -290), respondendo à indicação do Papa Francisco, que sugere que os pais procurem compreender “onde os filhos verdadeiramente

estão no seu caminho” (cf.

AL 261).

4. Promover encontros de reflexão e discussão sobre a beleza e as dificuldades da vida familiar (cf. AL 32-ss e 89-ss), para encorajar o reconhecimento do valor social da família, e a constituição de uma rede de pastores e de famílias capazes de fazer-se próximos nas situações difíceis, com o anúncio, a partilha e o testemunho.

5. Intensificar o acompanhamento dos casais em crise (cf. AL 232-ss.) para apoiar e formar a uma atitude resiliente, que leve a ver as dificuldades como oportunidades para crescer no amor e se fortalecer.

6. Inserir casais de esposos nas estruturas diocesanas e paroquiais para configurar a pastoral familiar (cf. AL 8688) e a formação dos agentes pastorais, dos seminaristas e dos sacerdotes para que eles estejam à altura dos desafios de hoje (cf. AL 202ss), colaborando com as famílias. Para isso, será importante fazer funcionar a reciprocidade entre a “família- Igreja doméstica” e a Igreja (AL 200), para que se descubram e se valorizem como dom insubstituível uma para a outra.

7. Promover nas famílias a sua natural vocação missionária (cf. AL 201, 230 e 324), criando momentos de formação para a evangelização e iniciativas missionárias (por exemplo, por ocasião da formação dos filhos para os sacramentos, matrimónios, aniversários ou momentos litúrgicos importantes).

8. Desenvolver uma pastoral dos idosos (cf. AL 191-193) que vise superar a cultura do descarte e a indiferença e a promover propostas transversais em relação às diferentes idades da vida, tornando também os idosos protagonistas da pastoral comunitária.

9. Envolver a pastoral juvenil com iniciativas de reflexão e discussão sobre questões como família, casamento, castidade, abertura à vida, uso das redes sociais, pobreza, cuidado da criação (cf. AL 40). Precisamos de ser capazes de despertar o entusiasmo e valorizar a capacidade dos jovens de se comprometerem plenamente diante dos grandes ideais e dos desafios que eles acarretam. Uma atenção especial seja dada este ano às crianças, para que fiquem cientes do Ano “Família Amoris Laetitia” e

das iniciativas propostas.

10. Promover a preparação ao X Encontro Mundial das Famílias com as catequeses e percursos formativos que, através de várias etapas e experiências, acompanhem as famílias para o Encontro com o Santo Padre.

11. Lançar iniciativas de acompanhamento e de discernimento para as famílias feridas (cf. AL 50ss, 241ss e 291ss), para ajudá-las a descobrir e cumprir a missão que têm na sua família e na comunidade, a partir do Batismo.

12. Organizar nas paróquias e nas comunidades grupos de aprofundamento sobre a Amoris Laetitia, para aumentar a consciência das oportunidades pastorais concretas que surgem em cada comunidade eclesial (cf. AL 199ss).

Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida

Dossier: Ano “Família Amoris Laetitia ” 08 | O Alforge | março 2021

Viver a nossa família na «Alegria do Amor»

Sónia Neves, 36 anos, natural de Aveiro. Casada e mãe de dois filhos. Licenciada em Comunicação e jornalista na Agência ECCLESIA, há 11 anos. Foi animadora de jovens, fez parte da equipa de comunicação da Pastoral Juvenil Diocesana e foi membro do Departamento Nacional de Pastoral Juvenil.

28. No horizonte do amor, essencial na experiência cristã do matrimónio e da família, destaca-se ainda outra virtude, um pouco ignorada nestes tempos de relações frenéticas e superficiais: a ternura. - Alegria do Amor

sentido perante as experiências de fé que tivemos na juventude, seja em grupos de jovens, na catequese ou nos escuteiros, seja depois onde nos conhecemos, no caminho de Santiago de Compostela, a caminho.

no seu canto; eu, jornalista, gosto de ler e viajar, sendo uma entusiasta da vida, adoro falar e contar uma boa história.

Esta citação faz-me recordar a base que quisemos, e continuamos a querer, para a nossa família. Esta ternura falada na exortação faz-me viajar à ternura e compromisso com que os nossos pais e padrinhos nos levaram ao batismo, esse sacramento de iniciação onde ficamos a pertencer à grande família da fé.

100. Um olhar amável faz com que nos detenhamos menos nos limites do outro, podendo assim tolerá-lo e unirmo-nos num projecto comum, apesar de sermos diferentes. O amor amável gera vínculos, cultiva laços, cria novas redes de integração, constrói um tecido social firme. Alegria do Amor

Assumimos, há quase dez anos, aquele que seria o nosso “grande desafio”, o matrimónio, com grandes transformações na vida de cada um, e que nos trazia ainda a "responsabilidade de receber os filhos e os educar na fé cristã".

E, quer para mim como para o meu marido, Zé, aquele dia foi sendo perpetuado e espelhado em muitos momentos da vida. A fé foi aumentando e fazendo

Fomos namorando e conhecendo-nos melhor… O Zé, engenheiro informático, gosta de fotografia, de passeio ao ar livre e “estar

Embora diferentes, e com várias experiências diferentes, alinhámos fazer um caminho juntos e ter um “projeto comum”.

O nosso caminho de família, marcada por esta fé cristã, é muitas vezes por nós apontado como “um desafio para a sociedade, um problema para amigos que não partilham da mesma fé mas uma oportunidade” que

entendemos ser como caminho de felicidade.

123. Depois do amor que nos une a Deus, o amor conjugal é a «amizade maior». É uma união que tem todas as características duma boa amizade: busca do bem do outro, reciprocidade, intimidade, ternura, estabilidade e uma semelhança entre os amigos que se vai construindo com a vida partilhada. - Alegria do Amor Dois anos depois de casados chegou o primeiro filho e quatro anos depois o segundo, um menino e uma menina, respetivamente. Aqui recentrámos o Amor.

Este era agora o maior desafio que já tínhamos assumido, ser pais. Surgiram muitas dúvidas, pusemos muita coisa em questão,

Dossier: Ano “Família Amoris Laetitia ” 09 | O Alforge | março 2021

Viver a nossa família na «Alegria do Amor» tivemos de nos centrar no essencial e deixar passar o tempo. Com muito diálogo e respeito e, também, partilha de muitas alegrias, a vida foi -se desenrolando sabendo que a nossa casa era o nosso "porto seguro".

com músicas diferentes ou até um vídeo de Páscoa que fizemos em tempo de confinamento e foi enviado aos amigos; pequenos momentos em que envolvemos as crianças,

adaptação, o mundo parou devido à pandemia.

sentindo-se parte e aprendendo, em coisas simples, os valores em que acreditamos.

estarmos em teletrabalho e ter duas crianças, de dois e seis anos na altura, a precisar de atenção, ajuda, refeições e tudo mais o que se pode imaginar!

Toda a circunstância dos confinamentos e outras limitações nos levou a redefinir prioridades, momentos chave e o diálogo entre casal mostrou-se mais uma “arma” de harmonia.

Depois do “choque inicial” percebemos que tínhamos a oportunidade de

Ficámos “reduzidos” às quatro paredes da nossa casa, para segurança de todos, com o que implicava

A ternura de que sempre fomos entusiastas e a grande amizade que nos une são o grande “tapete” que nos conforta desde o momento em que passámos a ser responsáveis por novas vidas, passámos a ser mãe e pai, papéis que fomos aprendendo a cada dia…

Com as limitações de tempo que as nossas profissões impõem, há dias que passam a correr mas sabemos que, quando estamos com os nossos filhos, o tempo é de qualidade, estamos a 100%.

Gostamos de passear juntos, nem que seja só uma ida ao parque, uma caminhada na praia, um simples piquenique ou uma visita a família ou amigos.

Quanto à educação cristã foi natural, para nós, levarmos os nossos filhos à Eucaristia, uns dias portavam-se lindamente, outros faziam muito barulho mas não desistimos!

Em casa, sempre tivemos muitas iniciativas com eles, seja a oração da noite, o "anjinho da guarda", seja uma caminhada de advento

276 . A família tem de inventar, todos os dias, novas formas de promover o reconhecimento mútuo. Alegria do Amor E em 2020, quando íamos numa fase diferente das nossas vidas, com o filho mais velho no primeiro ano da escola e da catequese, numa etapa que que ainda estávamos a conhecer e em

poder criar novas coisas e valorizar outras mais esquecidas... É também nestes momentos difíceis que reforçamos a esperança e não podemos destruir a alegria e a ternura que nos vem da fé. Com o filho mais velho na catequese tivemos mais consciência que a “responsabilidade e parcerias” são necessárias para a educação na fé e lá fomos acompanhando em família as dinâmicas e depois, até suscitando outras.

São inevitáveis os “estragos” feitos pela distância imposta, em relação à família mais alargada e amigos, mas é importante que este 2021 seja vivido com olhos da esperança, dando a confiança às crianças que esta é uma fase e que a nossa família vai cá estar para seguir o caminho.

172. Os gestos de amor passam através do dom do seu nome pessoal, da partilha da linguagem, das intenções dos olhares, das iluminações dos sorrisos.

Assim, aprendem que a beleza do vínculo entre os seres humanos mostra a nossa alma, procura a nossa liberdade, aceita a diversidade do outro, reconhece-o e respeita-o como interlocutor. (...) E isto é amor, que contém uma centelha do amor de Deus».

“Há três palavras mágicas: “Pedir licença" para não ser invasivo na vida do cônjuge.

Agradecer o que o outro fez por mim, a beleza de dizer “obrigado".

E a outra, “desculpa", que às vezes é mais difícil, mas é necessário dizê-la".

Papa Francisco, na Audiência Geral na Praça de São Pedro, quarta-feira, 2 de abril.

Dossier: Ano “Família Amoris Laetitia ” 10 | O Alforge | março 2021

A Alegria do Amor, no ano de São José

Paula & Rui, Casal responsável da Pastoral Diocesana da Família.

A amargura com que muitos homens e mulheres crentes vivem atualmente a sua relação conjugal, pelo facto de ela não ser conforme ao ensinamento da Igreja sobre o matrimónio, encontrou eco no coração do Papa Francisco.

Movido pela misericórdia de Deus, plasmou o seu pensamento sobre tão delicada questão, na Encíclica A Alegria do Amor.

Não mudou a doutrina oficial da Igreja, mas pediu a todos os cristãos uma atitude diferente. Dito de outra maneira, desafiou todos os cristãos – clérigos, religiosos e leigos – a refletir, com vistas a que sejam encontradas melhores respostas nos anos próximos.

A vida real não é uma coisa a preto e branco.

Perante situações matrimoniais irregulares, a atitude não deverá ser a denúncia, a maledicência e a exclusão, porque isto vai contra a misericórdia de Deus para com todos.

O Papa Francisco teve a coragem de dizer que a pastoral da família não se reduz à aplicação de leis morais (Cf. A Alegria do Amor, nº 305).

Sendo assim, o posicionamento face às situações irregulares, nomeadamente o casamento civil e o segundo casamento após o fracasso do primeiro, terá se ser outro.

Nuns casos, ajudar os cônjuges a regularizar a situação; noutros casos, acolhê-los efetivamente e deixar que eles decidam em consciência quanto ao facto de se abeirarem ou não da comunhão eucarística.

Esta nova atitude, que o Papa Francisco pede a todos, não deverá ser entendida no sentido de que doravante cada um faça como bem entender.

A Igreja, para ser fiel a Deus, terá de propor sempre aos cônjuges a medida alta do amor. Porque o amor humano é frágil, necessita de uma imagem grande do amor. Deus é amor.

Este ser de Deus teve um rosto, Cristo Jesus, que por nós e para nossa salvação, se fez homem e entregou a sua vida no altar da cruz.

A fé cristã tem de reabilitar a figura de Jesus.

Sem ela, nunca chegará a compreender bem o que é o amor. Amar é dar vida (paternidade de Deus).

E amar é ainda dar a vida (Jesus, o Filho de Deus, por nós, se imolou).

Deus é a medida do amor.

Porém, essa medida necessita de concretizações humanas, para que nos possa fascinar, tocar de perto.

Estamos a viver um ano dedicado a São José, esposo da Virgem Maria, 150 anos depois de ter sido proclamado guardião universal da Igreja.

O Papa Francisco, através da Carta Apostólica Patris Corde (Coração de Pai), convida cada um a conhecer melhor o pai adotivo de Jesus e a sua importância no plano salvífico de Deus.

Num tempo, em que um número crescente de casais se debate com problemas de infertilidade, São José poderá ser uma figura inspiradora.

De acordo com a lei de Moisés, José poderia ter repudiado Maria. Porém, como no seu coração havia

Dossier: Ano “Família Amoris Laetitia ” 11 | O Alforge | março 2021

Do Papa para o mundo

uma justiça maior do que a justiça da conformidade com a lei, não exporia aquela que lhe estava prometida em casamento a qualquer difamação.

Aliás, essa justiça maior fez com que ele tivesse ainda um gesto mais admirável: recebeu Maria em sua casa e permaneceu a seu lado em todas as dificuldades que foram surgindo.

Eis aquelas de que se fala nos textos evangélicos: o nascimento de Jesus numa gruta de Belém; a apresentação do Menino no templo de Jerusalém; a morte das crianças decretada pelo rei Herodes; a fuga para o Egito; a perda e o reencontro de Jesus no templo; a vida discreta em Nazaré, exercendo a profissão de carpinteiro.

E José fez tudo isto numa atitude de grande silêncio, porque entendeu a sua vida a partir de Deus e do conhecimento progressivo que ia tendo vontade divina.

(Continuação)

Actividades da Pastoral da Família em 2021 Principal atividade e que envolve toda a Diocese da Guarda é a “Jornada Pastoral Diocesana sobre a realidade Familiar “1) Território; 2) População: população residente, Densidade Populacional, Envelhecimento; 3) Realidades Sociais: Casamentos e divórcios,

Nados vivos fora do casamento, Idade casamento e do primeiro filho; 4) Tipos de famílias: Núcleos familiares clássicos, Famílias monoparentais, Famílias reconstituídas

Encontro Peregrinação Nacional CPM, Em casal e em Igreja Oportunidades, desafios, vantagens e perigos. dia 6 de março 2021 Padre Paulo Duarte, sj e Paulo Rocha (Ecclesia)

(*) 12 de fevereiro “O jovem da atualidade e o compromisso na Igreja e na Matrimonio” Palestrante Padre João Paulo Vaz

(*) 19 março 2021 Comemoração “Dia do Pai”

(*) 6 março 2021 - 51º

-26 março 2021 Colóquio “Direito, Casamento e Família” palestrante Dr. José Mário Costa (*) 1 maio Dia José dia de São José Operário (*) 2 maio “Dia da Mãe” (*) 15 maio “Dia da Família” (*) 26 julho “Dia dos Avós” (*) Acompanhar Equipa JMJ Seia na preparação das JMJ 2023 (*) 27 a 29 agosto XVI Congresso Nacional da Pastoral da Familiar em Fátima

Dossier: Ano “Família Amoris Laetitia ” 12 | O Alforge | março 2021

O papel da mulher na Igreja A participação das mulheres na vida da Igreja ainda está longe de ser totalmente concluída. É uma problemática ainda em aberto.

Pode parecer que o progresso da sociedade civil, onde as mulheres assumem cada vez mais papéis de responsabilidade, possa ditar a necessidade de uma mudança na Igreja.

Na verdade, esse é Frei Márcio Carreira, é Frade apenas um motivo da Ordem Menor Franciscana. adicional, que estimula a Tem Mestrado Integrado em reflexão.

Pois a razão Teologia na Universidade fundamental para exigir Católica de Braga. uma mudança na Igreja é muito mais profunda e tem outra natureza.

Não se trata de mais ou menos democracia, porque a Igreja não é uma democracia.

A Igreja, como comunidade visível e espiritual, é ao mesmo tempo “uma única realidade complexa, formada pelo duplo elemento humano e divino” (LG 8).

Consequentemente, no caso de uma sociedade divino-humana, os motivos que justificam uma verdadeira participação das mulheres na Igreja, e que podem ser exigidos, são de natureza teológica, visto que as também são membros do Povo de Deus, chamadas a ser discípulas.

A mulher procura hoje em dia uma maior visibilidade na Igreja, quer nas decisões, quer no seu envolvimento pastoral e litúrgico e não ser utilizada apenas como uma mera serviçal.

Não devemos reduzir a sua visibilidade apenas ao acesso à ordenação presbiteral, pois não deve

ser o único problema, pois esta não vai dignificar mais a mulher. Para a ordenação, é necessária vocação e é apenas um serviço à igreja.

A dignidade, a que todos temos direito, envolve toda a pessoa e isso deve ser reconhecido por toda a comunidade eclesial e social.

Explorar positivamente todas as capacidades da mulher e usufruir do que ela pode oferecer são instrumentos essenciais para a descoberta de novas formas de ver o mundo, bem como ter em conta o contributo fundamental para a solução de vários problemas eclesiais e sociais.

A mulher e o homem devem complementar-se, entregando-se reciprocamente ao serviço da Igreja, com tudo aquilo que são e possuem.

Para as mulheres – como para todo o fiel – o direito inalienável de participar plenamente da vida da Igreja deriva do baptismo: é por isso que falamos de igualdade e dignidade na Igreja. A este respeito diz-nos o Papa Francisco: “o papel da mulher na Igreja não é feminismo, é direito! É um direito de baptizada com os carismas e os dons que o Espírito concedeu. Não se deve cair no feminismo, porque isto reduziria a importância da mulher”.

A tentativa de demonstrar a necessidade de uma maior participação das mulheres, com base no seu carácter espontâneo e materno, também é inadequada. Essa visão é o resultado de uma interpretação parcial e redutora que o documento Mulieris dignitatem de São João Paulo

II faz.

De facto, esta mentalidade fez com que não houvesse mudanças substanciais na Igreja e que certas formas de marginalização fossem favorecidas, como se a participação das mulheres na Igreja pudesse ser resolvida com a imagem arcaica e angelical da mulher modesta e silenciosa.

Na actualidade, o Papa Francisco traz à consciência eclesial um modelo de mulher que é tudo menos submissa e secundária, mas antes determinada e participativa, com uma missão, dirigida aos próprios apóstolos pela vontade de Cristo.

A solução para a problemática da participação da mulher, portanto, não deve ser encontrada externamente, em teorias e ideologias contra a fé, mas deve ser encontrada internamente e em diálogo com as ciências sociais.

Trata-se de redescobrir o que já faz parte da herança da fé e discernir como ler essa herança em relação à Igreja dos dias de hoje.

Partirmos da dignidade baptismal comum não é ideologicamente negar os diferentes modos pelos quais cada um participa da missão eclesial e realiza a vocação para a santidade. É, sim, uma diversidade que pertence à vitalidade da Igreja.

A necessidade de progresso é essencial e urgente! No entanto, recorrer a soluções precipitadas não favorece as mulheres. A tarefa deste pontificado é ainda mais difícil, pois é marcada pela consciência de que, como Francisco afirma, “o tempo é sempre superior

Dossier: Ano “Família Amoris Laetitia ” 13 | O Alforge | março 2021

O papel da mulher na Igreja ao espaço” (EG 222).

A eficácia de Francisco, perante o seu trabalho a favor das mulheres, passa por um delicado exercício de discernimento.

Num recente estudo que realizei, muitas mulheres objectam que já esperaram o suficiente e que mais atrasos não são toleráveis, que a paciência das mulheres em muitas situações eclesiais atingiu o limite, as mulheres esperam um avanço da parte da Igreja.

Efetivamente, ainda que não seja assim tão visível, já existem lugares e espaços onde há uma presença das mulheres e a sua plena participação, como sinal da igualdade baptismal.

Todavia, esta presença

(Continuação…)

visível poderia se tornar parte integrante da normalidade da vida na Igreja. A questão do papel da mulher não pode continuar a ser um assunto posterior, mas algo que deve permanecer em reflexão, com a ajuda de uma teologia saudável, em que se considere as diferenças antropológicas, masculinas e femininas, para explicar, em toda a sua riqueza, o que, nesse sentido, a fé e o discernimento têm a dizer.

Antes de ser criar espaços para uma maior presença feminina, deve olhar-se para a mulher, reconhecendo, com firmeza, a sua dignidade.

Reflectindo, com clareza, sobre a fecundidade nos seus trabalhos apostólicos, não podendo olhar para a mulher

como uma mera serviçal ou instrumental, mas sim alguém que está disposta a trabalhar com o homem e não para o homem.

A sua participação pode ser desempenhada na missão, no acolhimento, na protecção e no conselho.

A mulher, auxiliando o povo de Deus pode cooperar na direcção espiritual, na evangelização, no ministério da Palavra, na gestão das paróquias, cooperando sempre com o homem na condução de todo o povo de Deus.

Para terminar, a mulher e o homem são chamados a complementarem-se, trabalhando juntos no serviço da Igreja e do mundo, numa entrega

Maria é "Mãe de Deus" e tudo consegue; é mãe dos seres humanos e tudo concede.

São Francisco de Sales

recíproca de si, com todas as suas potencialidades e características.

Não poderá haver espaço nem para subalternidade, nem para discriminação.

O contributo do feminino e do masculino devem unirse de forma a ler os sinais dos tempos e a dar respostas na resolução dos problemas mundiais.

Todavia, é altura de começar a mudar e a colocar os carismas e talentos do género feminino ao serviço de toda a comunidade eclesial.

Dossier: Ano “Família Amoris Laetitia ” 14 | O Alforge | março 2021

Papel dos Avós na transmissão da Fé

Maria Fernanda e João Xavier, Casados, naturais e residentes numa pequena vila da Cova da Beira e casados há 43 anos.

SER AVÓS Maria Fernanda trabalhou como administrativa, sendo o seu último lugar de trabalho o Posto de Correios da Junta de Freguesia.

João foi professor de matemática e outras disciplinas em diversas escolas da região.

Já estamos os dois aposentados, mas continuamos a cultivar pelos nossos meios uma quinta de 6 hectares onde sempre vivemos.

Ambos somos católicos e ao longo da nossa vida temos integrado alguns movimentos e instituições ligados à Igreja e também participado ativamente em instituições de solidariedade social.

OS NOSSOS AVÓS Dos nossos oito avós só

conhecemos seis e destes seis só cinco viram o nosso casamento. De entre todos destacamos uma avó, de quem alguns familiares diziam ser a melhor pessoa da família e nós concordamos: a avó Filomena.

Estava sempre disponível para ajudar os outros, tinha sempre uma fatia de pão para dar a quem via que tinha necessidade, trabalhava mais do que falava, repreendia quando necessário e tinha também um bom conselho para dar, apesar de ser analfabeta, como todos os outros avós.

Faleceu há quase quarenta anos, mas o seu ideal e o seu modo de ver o mundo e a família continua presente nas nossas vidas.

OS AVÓS DOS NOSSOS FILHOS Nós casamos em 1977 e nos anos 80 e 90 participamos em diversas ações e cursos de formação, jornadas e retiros e isso só foi possível porque havia alguém que ficava com os nossos filhos. Eram os nossos pais, principalmente os pais de Maria Fernanda.

Para os nossos filhos era uma alegria irem passar um fim de semana a casa dos avós. Uma das primeiras vezes que lá ficaram todo o fim de semana quando vínhamos de regresso fomos conversando sobre a reação deles quando nós chegássemos. Nós estávamos cheios de saudades deles e pensávamos que eles também. Quando chegamos pouco nos ligaram e continuaram a brincar sinal de que a estadia deles em casa dos avós foi boa e até ficaram aborrecidos por

terem que voltar para casa.

A casa dos avós foi o “Jardim de Infância” deles e o mesmo apoio se verificou durante a frequência da “Escola Primária” quando os nossos horários de trabalho não se ajustavam com os da Escola. Na época não havia aqui infantários nem ATL. E assim se criou uma grande afeição entre netos e avós.

Há valores que eles interiorizaram principalmente da convivência que tiveram com eles. Infelizmente em pouco espaço de tempo estes avós partiram, mas temos a certeza que os nossos filhos não os vão esquecer tão cedo.

AGORA OS AVÓS SOMOS NÓS Quando nos casamos havia um curso para concluir e projetos de trabalho para começar e solidificar, por isso retardamos um pouco a vinda dos filhos. Aconteceu que três anos depois faleceu de acidente uma tia nossa que deixou três filhos ainda bastante novos. Um deles, uma rapariga de cinco anos, começou a frequentar a nossa casa e cá ficou em definitivo. Os nossos dois filhos já nasceram com ela cá em casa e nós sempre a tratamos como filha e eles sempre se trataram como irmãos. Essa rapariga casou construíram uma casa perto da nossa e tiveram dois filhos.

Quando nasceu o primeiro destes dois filhos decidimos que a Maria Fernanda poderia deixar o seu trabalho para ajudar o “neto” e os nossos pais que estavam a começar a precisar de mais ajuda. O

João até era dirigente de uma instituição que tinha lar de idosos, creche e infantário, mas decidimos que para ajudar a nossa família essa seria a melhor solução. Há coisas mais importantes que o dinheiro.

Aconteceu que há quase seis anos essa nossa “filha” foi vítima de um cancro feroz e para o pai poder continuar a trabalhar a alimentação deles passou a ser em nossa casa e também nos encarregamos dos transportes para a escola.

Tem sido uma missão complicada que continua e em que precisamos de ser mais que avós.

Para nos dedicarmos à família ficam outras coisas por fazer, mas não sabemos se nos fariam mais felizes.

Há acontecimentos da nossa vida que não compreendemos, há decisões que vamos tomando que também não são compreendidas pela sociedade em que vivemos, mas é em tudo isto que vamos englobando a nossa Fé.

São José, que este ano estamos a celebrar, também não compreendia alguns aspetos da sua vida, mas participava ativamente no plano salvífico de Deus. São José não foi avô, mas tem todas as características dos avós que amam e apoiam incondicionalmente os netos mesmo sabendo que poderão já não estar em sintonia com os valores que receberam e lhes tentam transmitir.

Que Santa Ana e São Joaquim, pais da Virgem Maria e padroeiros dos avós, nos ajudem a nós e a todos os avós a transmitir aos nossos netos os verdadeiros valores que recebemos dos nossos avós.

Meditando...

15 | O Alforge | março 2021

Compreender a Quaresma

Manuel Morujão, sj nasceu a 4 de março de 1946, em Bordonhes, S. Pedro do Sul. Entrou para a Companhia de Jesus em Soutelo, Braga, em 1962. É padre Jesuíta e foi por voz da Conferência Episcopal Portuguesa. Publicou várias obras, no campo da espiritualidade e pastoral.

Sete perguntas e respostas que nos ajudam a entrar mais profundamente neste tempo litúrgico tão importante para a Igreja.

Que importância tem a quaresma na vida de um cristão?

A paixão, morte e ressurreição de Cristo são um mistério fundamental da nossa fé como cristãos.

Todos os grandes acontecimentos, na vida humana e cristã, devem ser convenientemente preparados para serem

plenamente vividos. A quaresma é o tempo litúrgico de preparação da Páscoa.

Que significa quaresma?

Porque são 40 dias?

Dizer quaresma é o mesmo que dizer quarentena. São os 40 dias de preparação da celebração da Páscoa, que começam na quarta-feira de cinzas e vão até ao tríduo pascal: quinta, sexta e sábado santo.

O facto de serem 40 dias é muito mais que uma questão de contabilidade.

Este número recolhe simbolicamente o significado de Cristo ter passado 40 dias e 40 noites no deserto, em jejum e oração, antes de iniciar a sua vida pública.

Também no Antigo Testamento encontramos o mesmo número simbólico de uma preparação séria: 40 anos de travessia do deserto para preparar o povo de Israel a fim de entrar na Terra Prometida; 40 dias que prepararam Moisés e Elias para o encontro com Deus, no Monte Sinai e no Monte Horeb, respetivamente; 40 dias de penitência pregados por Jonas para salvar Nínive.

Porque é que o carnaval vem antes da quaresma?

Tendo a quaresma uma dimensão penitencial, de jejum e abstinência de carne, as festas e folias do carnaval são uma despedida para entrar neste período em que se cultiva a ascese e o sacrifício, como purificação para a celebração da Páscoa. Aliás, a palavra «carnaval» vem do latim: «carne vale», ou seja, adeus à carne, porque, sobretudo nas sextas feiras, se deixava de comer carne.

A quaresma é um tempo especial de penitência?

O Concílio Vaticano II sublinha dois aspetos principais da quaresma: «recordação ou preparação do Batismo» e penitência: «Inculque‑se nos espíritos, a par com as consequências sociais do pecado, a própria natureza da penitência, que é detestação do pecado por ser ofensa de Deus» (SC 109).

Que penitências são recomendadas na quaresma?

A principal penitência é a conversão de nós mesmos, renunciando ao pecado e a toda a espécie de egoísmo, convertendo‑nos mais a Deus e ao amor fraterno. O nosso Papa Francisco aponta a quaresma como «um caminho de conversão, de luta contra o mal, com as armas da oração, do jejum, da misericórdia».

Assumir voluntariamente algum sacrifício ou penitência é como que uma ginástica espiritual, ou espiritoterapia, que nos treina para evitar o pecado e exercitar as obras do bem.

Por exemplo, privar‑nos de alguns alimentos, particularmente de guloseimas; visitar quem vive na solidão ou está doente; praticar alguma obra de misericórdia; ajudar quem precisa de nós, renunciando a ficarmos centrados no nosso conforto.

Porque é que não se deve comer carne nas sextas-feiras? É a norma comum a toda a Igreja, da qual naturalmente estão dispensados os idosos,

as crianças e os doentes.

Trata‑se de concretizar, com uma prática, o espírito de penitência, de conversão, de renúncia ao mal e adesão ao bem.

Este gesto penitencial da tradição da Igreja poderá ser substituído «pela privação de outros alimentos e bebidas, sobretudo mais requintados e dispendiosos ou de especial preferência de cada um»; também pela oração, pela esmola ou outra obra de renúncia e caridade, segundo as normas da Conferência Episcopal Portuguesa (1985.01.28).

Porquê às sextas‑feiras e não noutro dia de semana?

Para ser um gesto comunitário de penitência, de conversão, tinha de se escolher um dia, e a sextafeira é o dia em que Jesus Cristo entregou a sua vida numa cruz para a salvação da humanidade.

Como é que a renúncia aos bens materiais nos pode aproximar mais de Deus?

Partilhar com quem passa necessidade é mais do que um ato de generosidade, é um ato de justiça. Também o jejum deve ter este horizonte de partilha: privamo nos de algo, em solidariedade com os que experimentam situações de pobreza, oferecendo a nossa contribuição para uma obra social, para as Misericórdias ou a Cáritas…

As Dioceses costumam fomentar, em cada quaresma, uma campanha para a entrega do «contributo penitencial» com uma finalidade determinada.

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