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Durante 6 meses a Diocese da Guarda fez a sua caminhada sinodal, dando seguimento ao pedido pelo Papa Francisco, para que caminhasse em conjunto, escutando o Espírito Santo e a Palavra de Deus, para participar na missão da Igreja e na comunhão que Cristo estabelece entre todos.

A devoção ao Sagrado Coração de Jesus representa um convite a toda a Igreja e particularmente aos Seus devotos, para se abrirem ao amor de Deus revelado no seu Filho.

o
serviço dos valores e da comunidade www.oalforge.pt boletim (in)formativo distribuição gratuita número 29 junho 2022 Arciprestado Seia - Gouveia CONVITE Lançamento do Livro 8 de julho | 21h00 Auditório da Casa Municipal da Cultura de Seia
alforge ao

A Devoção na Comunhão, Participação e Missão

Numa altura em que a sociedade actual passa por grandes indefinições devido à pandemia Covid-19 que não nos larga e pela guerra imposta pela Rússia ao mundo dito desenvolvido, o Boletim Informativo O Alforge dedica esta Edição a dois temas: por um lado, às conclusões da Comissão Sinodal Diocesana, sobre a fase diocesana do Sínodo, com o lema: “Por uma Igreja sinodal”; por outro lado, faz uma reflexão dedicada à devoção ao Sagrado Coração de Jesus.

Ao convocar este Sínodo, o Papa Francisco convida toda a Igreja a refletir sobre um tema que é decisivo para a sua vida e missão: “O caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milénio”. No seguimento da renovação da Igreja proposta pelo Concílio Vaticano II, este caminho em conjunto é simultaneamente um dom e uma tarefa.

Refletindo juntos sobre o caminho feito até agora, os diversos membros da Igreja poderão aprender com as

experiências e perspetivas uns dos outros, guiados pelo Espírito Santo.

Iluminados pela Palavra de Deus e unidos em oração, seremos capazes de discernir os processos para procurar a vontade de Deus e dar seguimento aos caminhos para os quais Deus nos chama – rumo a uma comunhão mais profunda, a uma participação mais plena e a uma maior abertura ao cumprimento da nossa missão no mundo.

Em toda esta fase, procurou-se dar voz aos fiéis e promover o diálogo. Contudo, verificou-se que o dialogo é uma palavra mais repetida do que praticada, tanto na Diocese como nas paróquias, onde há poucas estruturas de diálogo acionadas. Nas paróquias os conselhos pastorais quase não existem e muito menos uma articulação entre as várias estruturas de diálogo pastoral. É oportuna a criação de novas estruturas de comunhão e diálogo e/ ou a revitalização das existentes.

Por outro lado, a Igreja celebra em junho, a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Durante esta festa litúrgica, que ocorre exatamente 19 dias após o Pentecostes, celebramos o amor de Nosso Senhor Jesus Cristo por cada um de nós.

Celebrar a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus é uma oportunidade para examinar onde nos encontramos na estrada que percorrermos e a maneira como a percorremos e partilhamos.

Como crentes, é mais do que legítimo, talvez necessário, que a questão se torne um humilde apelo, assim como tantas pessoas e povos têm feito e continuam a fazer em circunstâncias onde nem tudo é claro: “Fazei-me sentir, depressa, a vossa bondade, porque ponho em vós a minha confiança. Mostrai-me o caminho que devo seguir, porque para vós se eleva a minha alma” (Sl 143,8). Numa das suas aparições a Santa Margarida-Maria Alacoque, Jesus revelou o tamanho desse amor ao

dizer: “Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar -Se e consumir-Se, para manifestar-lhes seu amor. E como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, desprezos, irreverências, sacrilégios, friezas que têm para comigo neste Sacramento de amor”.

Cabe-nos a nós situarmos neste contexto global que tem trazido tanta inquietação. Para uns mais do que para outros, está a ser retomada uma certa regularidade na vida e nas atividades. Mas o sofrimento continua e as dificuldades não faltam.

No meio de tudo isso, é necessário que tanto pessoalmente quanto em comunidade, enquanto agimos, continuemos a refletir e a responder a perguntas essenciais: o que tudo isso nos deixou? O que aprendemos? Como temos reagido? Entre estas e tantas outras perguntas possíveis, não deve faltar uma: como prosseguir?

Cada um responderá.

Ficha Técnica

Propriedade e Administração: Arciprestado de Seia e Gouveia Equipa Responsável: Carlos Sousa (Pe.) e Paulo Caetano.

Colaboradores nesta Edição: Carlos Silva, Comissão Sinodal Diocesana da Guarda, Dário Pedroso (Pe.), Maria Emília, Paulo Caetano.

Revisão dos Textos: Anabela Jorge (Dra.), Cláudia Lopes (Dra.) e Estela Brito (Dra.).

Morada para Correspondência: Av. Visconde Valongo, n. 11, 6270-486 Seia

Contatos: p.caetano@mail.telepac.pt | www.oalforge.pt

Nota: Os Textos são da responsabilidade dos próprios autores.

Editorial 02 | O Alforge | junho 2022

Sínodo Diocesano da Guarda

Sínodo na Diocese da Guarda

Diocese da Guarda, com o lema sinodal tomada de posse no dia 1 de outubro de 2021, da Equipa Sinodal constituída pelos seguintes elementos: Padre Jorge Manuel Pinheiro Castela (responsável); Padre Francisco Pereira Barbeira; Diácono Paulo Caetano Abrantes Jorge; Irmã Maria da Graça Afonso; Tânia Patrícia Dinis Marques; Ana Rita Ferreira Loureiro; Joaquim Monteiro Brigas.

O processo sinodal diocesano foi aberto no dia 17 de outubro de 2021, na celebração da Eucaristia, a partir da Sé da Guarda, com a apresentação pública da referida Comissão e encerrou no dia 29 de maio de 2022 com a reunião présinodal, seguida de Eucaristia de encerramento na mesma catedral.

A questão fundamental proposta pelo Papa no Vademecum Preparatório sinodal, ao anunciar o Evangelho, «caminha em ação, estruturas e

género feminino e 28% do género masculino.

funcionamento. Já no que respeita à vida e ação das paróquias, há disparidade de opiniões, de acordo com as diferenças existentes de paróquia para paróquia. Afinal, somos todos diocesanos da mesma Diocese, mas paroquianos de diferentes paróquias.

Estamos num tempo

algumas realidades socioculturais como, por exemplo, o individualismo vincado e o excessivo moralismo, em geral, mas dá-se destaque particular ao envelhecimento da população e baixa taxa de natalidade, ao contínuo envelhecimento das comunidades cristãs e do

fechando cada vez mais sobre si mesmas, funcionando quase unicamente num registo sacramental.

O “caminhar juntos” diz respeito às pessoas não só enquanto membros de uma paróquia, mas também enquanto membros de um arciprestado, de uma diocese, de uma província eclesiástica e da Igreja universal.

anos.

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37,7% mais
de 65

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Reflexão e análise aos Inquéritos

A reflexão patente nos relatórios anda muito à volta do culto e do litúrgico, e a maior concordância nos inquéritos online vai em igual sentido, dando a entender que as pessoas ainda pensam na Igreja como espaço essencialmente do culto e da liturgia. E embora se tenha clamado por uma presença maior da Igreja nas questões sociais, por um tipo de Igreja mais humanizadora e por uma abertura maior, fica-se com a sensação de que o conhecimento sobre a Igreja se reduz bastante a esta ação ad intra.

A Eucaristia dominical continua a ser o principal acontecimento de congregação das pessoas. Mas, dada a dificuldade crescente em assegurar regularmente celebrações de Eucaristia nas paróquias rurais, as celebrações da Palavra na ausência de presbítero podem manter as paróquias mais coesas.

Os sacerdotes têm pouco tempo para as pessoas, para interagir com elas fora do espaço sagrado. Os fiéis gostavam de os ver mais próximos deles e também gostavam que as celebrações fossem mais dinâmicas, com mais vida e maior abertura.

É um facto que tem vindo a diminuir o número dos fiéis que participa assiduamente na Eucaristia dominical, sendo sobretudo notória a ausência de crianças e jovens, que não entendem a linguagem celebrativa ou não lhes é dada a oportunidade para se sentirem atores da celebração. Um grande número destes desconhece o que é a Igreja, ao que acresce

Inquérito dos Jovens e crianças

Aos inquéritos para jovens e crianças, responderam respetivamente 214 e 319. Dos 214 que responderam ao Inquérito para Jovens, 63,1% eram do género feminino e 36,9% do género masculino. Em termos de residência, 91,6% reside na área da Diocese. A idade dos respondentes foi distribuída por três classes etárias: 72,9% tem entre 13 e 16 anos; 16,8% 17 a 21 anos e 10,3% 22 a 25 anos. Na relação com a Igreja a larga maioria (72,4%) considera-se católico/a praticante; 18,7% católico/a não praticante; 3,7% católico/a consagrado/a; 4,2% não crente e 0,9% praticante de outras confissões religiosas. Das 319 crianças, 51,7% são do sexo feminino e 48,3% do sexo masculino. A larga maioria (95%) vive na área de residência da Diocese. Em termos de idade, responderam ao inquérito: 11,9% com seis anos; 18,5% com sete anos; 11,9% com oito anos; 14,7% com nove anos; 13,5% com dez anos; 14,4% com onze anos e 15% com doze anos.

um desinteresse pela sua ação. O rosto da Igreja que hoje aparece, sobretudo na comunicação social e nas redes sociais, é pouco apelativo e de difícil compreensão. A dificuldade sentida pela Igreja em cativar e congregar os jovens, tem causas internas como a linguagem algo cifrada, a escassez do testemunho, o receio da criatividade, o pouco acompanhamento, mas também alguns tabus que permanecem. As crianças e os jovens deverão ser uma prioridade na pastoral paroquial e diocesana. E como esta realidade está intimamente relacionada com as famílias, entende-se que também estas são prioritárias na ação pastoral da Igreja.

O afastamento crescente de muitas das pessoas batizadas da Igreja é um facto. Isso é particularmente visível nas faixas etárias da

infância e juventude, mesmo nos jovens-adultos, já com as suas vidas definidas em termos de relações de intimidade e profissionais. Contudo, o afastamento verifica-se também noutros grupos de pessoas, nomeadamente das pessoas com contextos familiares não conformes com as normas da Igreja: mães solteiras, pessoas em união de facto ou casadas apenas civilmente, pessoas recasadas e pessoas com orientações sexuais diferentes do padrão comum.

Muitas destas pessoas têm uma certa perceção de que são objeto de censura Para além da vergonha, sentem que há falta de vontade, tempo e acolhimento das estruturas, indiferença e preconceito dos cristãos, motivos muito associados à inação dos

principais agentes pastorais. A estas pessoas juntam-se algumas minorias como, por exemplo, a etnia cigana. A resposta da Igreja a todas estas realidades tem ficado aquém do que se espera. Reconhece-se que tem havido alguma abertura, mas não a suficiente.

No geral, existe consciência de que a Igreja é constituída por todos os batizados, embora a visão tradicional (hierarquia e leigos mais comprometidos) ainda permaneça. No entanto, a maior parte dos batizados tem pouca participação na vida da Igreja: uns porque não querem, outros porque não lhes são dadas oportunidades de participação, outros ainda porque não se sentem identificados com a Igreja. Se, por um lado, se refere que os leigos não são escutados, por outro, refere-se que os mesmos também não se comprometem. Há dificuldade em que os leigos se pronunciem com coragem, sinceridade e responsabilidade.

O rosto da Igreja local são os párocos e as pessoas que mais diretamente colaboram com eles. Sobressai o clericalismo e a dificuldade prática de levar a Igreja a assumir a corresponsabilidade e a participação laical. Embora haja comunidades onde se vai fazendo sentir a assunção da participação laical, os tempos atuais reclamam que os leigos, cumprindo a obrigação que contraíram pelo próprio

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Separata: Sínodo Diocesano da Guarda

Reflexão e análise aos Inquéritos

Batismo, se empenhem em ser Igreja e assumam a missão que a Igreja tem. Eles não podem ser um apêndice no conjunto da Igreja.

É necessária uma mudança de atitudes que todos os batizados, não obstante as suas diferenças, se sintam como companheiros de viagem. E esta mudança tem de começar ao nível dos agentes principais da pastoral, especialmente o presbitério. Conclui-se que tem havido sérias dificuldades na corresponsabilidade e fraternidade entre os sacerdotes do presbitério, onde se inclui o prelado. Há quem questione se a falta de sinodalidade não é consequência da falta de sinodalidade do clero.

É urgente passar para um modelo pastoral integrador, de comunhão, configurado sobre a unidade fundamental de exigências, objetivos, dignidade, e sobre a diversidade de dons e carismas, de funções e necessidades. A Igreja é uma comunhão de diferentes. Por isso, os seus membros deveriam ser mais corresponsáveis. Neste sentido, o importante não é só uma reunião de carismas, mas a articulação e complementaridade de todos, que haja participação de todos os membros, com as específicas responsabilidades, sem excluir, reduzir ou silenciar algumas.

Os resultados desta fase sinodal denotam algum contrassenso à hora de articular autoridade e participação. Fica a impressão de que algumas decisões são tomadas sem que os párocos

29,6% ensino secundário; 4,6% bacharelato; 22,1% licenciatura; 7,8% mestrado e 0,7% doutoramento.

e os seus mais diretos colaboradores tenham procurado perceber o sentir de outros paroquianos, seja em questões administrativas seja em questões de ordem pastoral. Não se deve criar uma noção de Igreja em que uns decidem e outros cumprem. Também é um facto que a inclusão dos leigos na tomada de decisões é bastante diminuta. Os leigos sentem que são pouco escutados pela hierarquia e, quando são escutados, sentem ainda que as suas opiniões são pouco valorizadas. Sugere-se que sejam organizados fóruns e criados espaços onde as pessoas possam falar abertamente das questões relacionadas com a Igreja.

Embora tenha sido pedido que os órgãos de conselho na Igreja sejam mais deliberativos que consultivos, há disparidade de opiniões sobre o assunto. Reconhece-se, entretanto, que, ao menos nas paróquias, o órgão consultivo que tem algum peso nas decisões tomadas é o Conselho para os

Assuntos Económicos. Naquelas em que há alguma transparência na administração dos bens, muito se deve a este organismo. Sabe-se o que as paróquias têm, donde provêm os rendimentos e onde vão sendo gastos. Ainda que esta realidade seja reconhecida, varia muito de paróquia para paróquia, pois ainda há casos em que esta transparência não existe, onde se inclui a Diocese.

Sobre o diálogo da Igreja com a sociedade, é notório um ambiente desanuviado. Se há algumas décadas a Igreja parecia ter uma atitude de desconfiança em relação a pessoas e instituições da sociedade civil, agora a atitude habitual é de cooperação. O tom crítico já não faz parte da forma como a Igreja se refere ao mundo sociopolítico. No entanto, constata-se também que este diálogo tem vindo a decrescer.

Embora haja bons e raros exemplos, aponta-se que a

órgão privilegiado de comunicação da Diocese.

No geral, refere-se que não existe uma estratégia de comunicação eficaz na Diocese e nas paróquias e dão-se alguns exemplos desta debilidade, onde se destaca o desconhecimento generalizado sobre a vida, ação e estruturas da Diocese. A linguagem usada pela hierarquia é por vezes demasiado técnica e, portanto, pouco acessível ao comum dos fiéis, e de modo particular aos jovens. Seria desejável que houvesse uma maior divulgação online dos horários das celebrações.

O ambiente eclesial carateriza-se agora por uma ausência de propostas formativas e ainda pelo desinteresse das poucas que surgem. Também se denota que a pouca formação religiosa que existe, ocorre sobretudo em âmbito paroquial e ao nível dos movimentos. Sobre a Diocese, tem-se a ideia de não fomentar muito a formação. Por isso, é recorrente a sugestão de ser retomada a Escola Teológica de Leigos. A

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Reflexão e análise aos Inquéritos (conclusão)

formação dos leigos é sentida como uma necessidade cada vez maior. Sem ela, não é possível dar respostas satisfatórias às questões colocadas pelos jovens, nem ter pessoas capazes para o exercício de ministérios e desempenho de serviços. É já um facto que a vida de muitas paróquias se apoia na dedicação abnegada de poucas pessoas, quase sempre as mesmas, com ou sem formação.

A formação surge como uma das prioridades e, dentro desta, a Catequese que carece de uma reformulação e revitalização para ser menos escolar e doutrinal e se tornar mais kerigmática e testemunhal. Constata-se que ela não tem ajudado a formar crentes ou a amadurecer a fé. Os jovens referem que a catequese não vai ao encontro das suas inquietações. É recorrente a sugestão de envolver mais as famílias na catequese.

A promoção dos ministérios laicais parece ter entrado numa fase de estagnação. A formação para esses ministérios continua como que suspensa e não tem havido convite e motivação de pessoas para que vão substituindo aquelas que já faleceram ou deixaram de ter condições para continuar a exercê generalidade dos leigos pede se que façam coisas e raramente se lhes pede opinião sobre assuntos que dizem respeito à vida paroquial. Mas também é um facto que os leigos recusam cada vez mais a assunção de compromissos nas paróquias. Estão disponíveis para ações pontuais, mas não para

serviços regulares e de longa duração. É imperioso valorizar mais e revitalizar os diferentes ministérios laicais existentes (acólitos, leitores e catequistas), e criar novos ministérios ligados à Liturgia, ao sociocaritativo e outras áreas da ação pastoral da Igreja, tal como o já abordado Ministério do Acolhimento.

A maior participação das mulheres nos ministérios e na ação eclesial depara-se com uma barreira estrutural. O facto de lhes estar vedado o acesso ao presbiterado e ao diaconado gera ainda alguma resistência em vê-las no exercício de alguns ministérios litúrgicos e em cargos de maior responsabilidade nas paróquias. Muitas pessoas, mas sobretudo os mais jovens, já não entendem a razão de ser das barreiras estruturais, não só na questão do acesso das mulheres ao sacerdócio, mas também na recusa da ordenação de homens casados e na obrigatoriedade do celibato. Apesar destes assuntos não estarem nas propostas de

análise do Sínodo, são temas recorrentes.

Na generalidade, é considerado que tanto a Diocese como as paróquias são inclusivas. Não obstante, deixam-se notas explícitas de muitas exclusões e, entre elas, uma merece particular preocupação numa diocese envelhecida: a falta de atenção ou mesmo exclusão das pessoas idosas. Muitas delas estavam ligadas à vida da paróquia e, agora, a paróquia não vai ao encontro delas, sobretudo das que estão mais sozinhas. A visita aos doentes, idosos e pessoas sós é fundamental, assim como uma ação pastoral, nesta área, mais concertada.

Refere-se que entre os fiéis existem algumas discórdias, os padres são vistos como pessoas que fazem coisas, a linguagem eclesial é pouco inteligível, há um défice de comunicação sobre o que se pretende fazer ou se fez, de diálogo entre as pessoas, de formação, de participação e

de ação, e de atividades conjuntas e abrangentes. Tudo isto denota que os fiéis estão aquém de “caminhar juntos”. Esta insatisfação é apenas atenuada pela opinião das pessoas de mais idade que, dotadas de uma perspetiva diacrónica da Igreja, reconhecem que esta deixou o seu estilo rígido e conservador e está agora disposta a falar abertamente sobre as coisas.

Não é possível pôr os fiéis a “caminhar juntos” quando eles quase não se falam. Quer isto dizer que a formação para a sinodalidade passa, antes de tudo, pela conversão pessoal. Dada esta condição, será então possível o empenho na causa comum, que é a missão do anúncio da Boa Nova da Salvação. É manifesta a necessidade de assumir a sinodalidade como método para ser Igreja hoje, para ser Igrejacomunhão e missionária. E assim, a Igreja que somos nós, há de aparecer no mundo como corpo de Cristo que quer servir e não ser servida.

sentimento geral, que esta comissão também assume, o de que esta síntese da fase diocesana do Sínodo sobre a sinodalidade na Igreja não seja um ponto de chegada, mas um ponto de partida. O caminho sinodal deve continuar na Igreja em geral e na Diocese da Guarda em particular.

consagrado. Apenas dois não crentes e um praticante de outras confissões religiosas responderam ao inquérito.

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Que Sugestões e conclusões?

Na transversalidade de todo o processo sinodal da Diocese da Guarda, surgem as seguintes sugestões/ conclusões:

1. Melhorar a comunicação e linguagem. Sendo a comunicação um fator tão importante nos dias de hoje, também a Igreja tem de se qualificar nesse sentido. A sua linguagem tem de ser cada vez mais adequada e ajustada à realidade e aos seus destinatários.

2. Fomentar o acolhimento e o acompanhamento, onde se destaca o Ministério do Acolhimento. É fundamental que sejam mobilizadas condições para acolher todos, incluindo os que se encontram nas periferias ou estão afastados, e com eles fazer caminho, descobrindo o desejo de Deus para cada um.

3. Dar lugar à formação do laicado, que deverá ser vista como um desígnio e um imperativo. Formação que será teológica, bíblica, pastoral e espiritual. Reformular e revitalizar a catequese, para ser mais kerigmática e testemunhal, incrementando a catequese de adultos e a catequese com as famílias.

4. Promover a participação laical e a corresponsabilidade eclesial, com a criação e valorização de espaços de

encontro e diálogo, ao nível da Diocese e das paróquias, e o progresso para uma dimensão deliberativa.

5. Valorizar, revitalizar, criar ou implementar ministérios laicais, a começar pelos já existentes (acolitado, leitorado e catequista), mas a acrescentar outros, onde se destaca a proposta de criação do Ministério do Acolhimento.

6. Valorizar os movimentos, procedendo a uma articulação efetiva entre eles de modo a que cada um, com o seu carisma, contribua para o crescimento do Reino.

7. Considerar novas realidades eclesiais, tais como o celibato opcional, a ordenação de homens casados, a ordenação de mulheres, o papel das

mulheres na Igreja. Criar espaços de aprofundamento da reflexão acerca destas temáticas.

8. Prestar maior atenção e procurar respostas dignas a novas situações: minorias e situações fraturantes, tais como as decorrentes de situações familiares menos tradicionais, orientação sexual, classes sociais ou periferias existenciais, construindo com elas a sua história pessoal à luz da Boa Nova de Salvação.

9. Concretizar e implementar a desejada reorganização diocesana que já está prevista, melhorando assim a coordenação pastoral e a pastoral de conjunto. Fomentar espaços de diálogo e de partilha para que todo o povo de Deus

possa colaborar na construção de uma Igreja mais missionária que materialize o desejo expresso de reorganização diocesana.

10. Incentivar e incrementar a pastoral juvenil e familiar, de modo a chegar a todos os espaços e vivências existentes na Diocese.

11. Reforçar a abertura da Igreja a outras instâncias da sociedade: política, economia, cultura, área social, saúde, entre outras, desbravando e aprofundando novos caminhos de diálogo para que a dimensão da Igreja esteja mais presente no mundo, integrando e iluminando as várias dinâmicas sociais.

12. Criar espaços de comunhão e sinodalidade, institucionalizando espaços e estruturas de diálogo, escuta e reflexão corresponsável, tais como grupos de diálogo, fóruns abertos, assembleias de fiéis, dando continuidade ao processo sinodal agora iniciado e promovendo uma participação mais abrangente de todo o povo de Deus.

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Reflexão: Devoção ao Sagrado Coração de Jesus

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Sagrado Coração de Jesus pelas Bem Aventuranças

Refletirsobreo SagradoCoraçãode Jesusépensarnas Bem-Aventuranças comoformade santidade.Paraisso, socorremo-nosda ExortaçãoApostólica “Alevrai-voseExutai”, doPapaFrancisco,em especialnoCapituloIII – ÀLuzdoMestre.

santidade que as bemaventuranças e S. Mateus 25, 31-46 nos propõem, pretende-se recolher algumas caraterísticas ou traços espirituais que, são indispensáveis para compreender o estilo de vida a que o Senhor nos chama (Cf n.º 110).

Sobre a essência da santidade, podem haver muitas teorias, abundantes explicações e distinções. Jesus explicou, com toda a simplicidade, o que é ser santo; fê-lo quando nos deixou as bem-aventuranças (cf. Mt 5, 3-12; Lc 6, 20-23).

Estas são como que o bilhete de identidade do cristão. Assim, se um de nós se questionar sobre «como fazer para chegar a ser um bom cristão», a resposta é simples: é necessário fazer –cada qual a seu modo –aquilo que Jesus disse no sermão das bemaventuranças. Nelas está delineado o rosto do Mestre, que somos chamados a deixar transparecer no dia-a-

A palavra «feliz» ou «bemaventurado» torna-se sinónimo de «santo», porque expressa que a pessoa fiel a Deus e que vive a sua Palavra alcança, na doação de si mesma, a verdadeira felicidade (N.º 64).

Estas palavras de Jesus, não obstante possam até parecer poéticas, estão decididamente contracorrente ao que é habitual, àquilo que se faz na sociedade; e, embora esta mensagem de Jesus nos fascine, na realidade o mundo conduz-nos para outro estilo de vida. As bemaventuranças não são, absolutamente, um compromisso leve ou superficial; pelo contrário, só as podemos viver se o Espírito Santo nos permear com toda a sua força e nos libertar da fraqueza do egoísmo, da preguiça, do orgulho (N.º 65).

Voltemos a escutar Jesus, com todo o amor e respeito que o Mestre merece. Permitamos-Lhe que nos

palavras, que nos desafie, que nos chame a uma mudança real de vida. Caso contrário, a santidade não passará de palavras. Recordemos agora as diferentes bemaventuranças, na versão do Evangelho de Mateus (cf. 5, 3 -12).

«Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu»

O Evangelho convida-nos a reconhecer a verdade do nosso coração, para ver onde colocamos a segurança da nossa vida. Normalmente, o rico sente-se seguro com as suas riquezas e, quando estas estão em risco, pensa que se desmorona todo o sentido da sua vida na terra. O próprio Jesus no-lo disse na parábola do rico insensato, falando daquele homem seguro de si, que – como um insensato –não pensava que poderia morrer naquele mesmo dia (cf. Lc 12, 16-21).

As riquezas não te dão segurança alguma. Mais ainda: quando o coração se

de si mesmo que não tem espaço para a Palavra de Deus, para amar os irmãos, nem para gozar das coisas mais importantes da vida. Deste modo priva-se dos bens maiores. Por isso, Jesus chama felizes os pobres em espírito, que têm o coração pobre, onde pode entrar o Senhor com a sua incessante novidade.

Esta pobreza de espírito está intimamente ligada à «santa indiferença» proposta por Santo Inácio de Loyola, na qual alcançamos uma estupenda liberdade interior: «É necessário tornar-nos indiferentes face a todas as coisas criadas (em tudo aquilo que seja permitido à liberdade do nosso livre arbítrio, e não lhe esteja proibido), de tal modo que, por nós mesmos, não queiramos mais a saúde do que a doença, mais a riqueza do que a pobreza, mais a honra do que a desonra, mais uma vida longa do que curta, e assim em tudo o resto».

«Felizes os mansos,

porque possuirão a terra»

É uma frase forte, neste mundo que, desde o início, é um lugar de inimizade, onde se litiga por todo o lado, onde há ódio em toda a parte, onde constantemente classificamos os outros pelas suas ideias, os seus costumes e até a sua forma de falar ou vestir. Em suma, é o reino do orgulho e da vaidade, onde cada um se julga no direito de elevar-se acima dos outros. Embora pareça impossível, Jesus propõe outro estilo: a mansidão. É o que praticava com os seus discípulos, e contemplamos na sua entrada em Jerusalém: «aí vem o teu Rei, ao teu encontro, manso e montado num jumentinho» (Mt 21, 5; cf. Zc 9, 9).

Disse Ele: «Aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito» (Mt 11, 29). Se vivemos tensos, arrogantes diante dos outros, acabamos cansados e exaustos. Mas, quando olhamos os seus limites e defeitos com ternura e mansidão, sem nos sentirmos superiores, podemos dar-lhes uma mão e evitamos de gastar energias em lamentações inúteis. Para Santa Teresa de Lisieux, «a caridade perfeita consiste em suportar os defeitos dos outros, em não se escandalizar com as suas fraquezas».

«Felizes os que choram, porque serão consolados»

O mundo propõe-nos o contrário: o entretenimento, o prazer, a distração, o divertimento. E diz-nos que isto é que torna boa a vida. O mundano ignora, olha para o lado, quando há problemas de doença ou aflição na família ou ao seu redor. O mundo não quer chorar: prefere ignorar as situações

dolorosas, cobri-las, escondêlas. Gastam-se muitas energias para escapar das situações onde está presente o sofrimento, julgando que é possível dissimular a realidade, onde nunca, nunca, pode faltar a cruz.

A pessoa que, vendo as coisas como realmente estão, se deixa trespassar pela aflição e chora no seu coração, é capaz de alcançar as profundezas da vida e ser autenticamente feliz. Esta pessoa é consolada, mas com a consolação de Jesus e não com a do mundo. Assim pode ter a coragem de compartilhar o sofrimento alheio, e deixa de fugir das situações dolorosas.

Desta forma, descobre que a vida tem sentido socorrendo o outro na sua aflição, compreendendo a angústia alheia, aliviando os outros. Esta pessoa sente que o outro é carne da sua carne, não teme aproximar-se até tocar a sua ferida, compadece-se até sentir que as distâncias são superadas. Assim, é possível acolher aquela exortação de São Paulo: «Chorai com os que choram» (Rm 12, 15).

«Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados»

«Fome e sede» são experiências muito intensas, porque correspondem a necessidades primárias e têm a ver com o instinto de sobrevivência. Há pessoas que, com esta mesma intensidade, aspiram pela justiça e buscam-na com um desejo assim forte. Jesus diz que elas serão saciadas, porque a justiça, mais cedo ou mais tarde, chega e nós podemos colaborar para o tornar possível, embora nem sempre vejamos os resultados deste compromisso.

Mas a justiça, que Jesus propõe, não é como a que o mundo procura, uma justiça muitas vezes manchada por interesses mesquinhos, manipulada para um lado ou para outro. A realidade mostra-nos como é fácil entrar nas súcias da corrupção, fazer parte dessa política diária do «dou para que me deem», onde tudo é negócio. E quantas pessoas sofrem por causa das injustiças, quantos ficam assistindo, impotentes, como outros se revezam para repartir o bolo da vida. Alguns desistem de lutar pela verdadeira justiça, e optam por subir para o carro do vencedor. Isto não tem nada a ver com a fome e sede de

justiça que Jesus louva.

Esta justiça começa por se tornar realidade na vida de cada um, sendo justo nas próprias decisões, e depois manifesta-se na busca da justiça para os pobres e vulneráveis. É verdade que a palavra «justiça» pode ser sinónimo de fidelidade à vontade de Deus com toda a nossa vida, mas, se lhe dermos um sentido muito geral, esquecemo-nos que se manifesta especialmente na justiça com os inermes: «procurai o que é justo, socorrei os oprimidos, fazei justiça aos órfãos, defendei as viúvas» (Is 1, 17).

«Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia»

A misericórdia tem dois aspetos: é dar, ajudar, servir os outros, mas também perdoar, compreender. Mateus resume-o numa regra de ouro: «o que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles» (7, 12). O Catecismo lembra-nos que esta lei se deve aplicar «a todos os casos», especialmente quando alguém «se vê confrontado com situações que tornam o juízo moral menos seguro e a decisão difícil» (N.º 80).

Dar e perdoar é tentar

Reflexão: Devoção ao Sagrado Coração de Jesus
09 | O Alforge | junho 2022
Sagrado Coração de Jesus pelas Bem-Aventuranças

Reflexão: Devoção ao Sagrado Coração de Jesus 10 |

O Alforge | junho 2022

Sagrado Coração de Jesus pelas Bem-Aventuranças

reproduzir na nossa vida um pequeno reflexo da perfeição de Deus, que dá e perdoa superabundantemente. Por esta razão, no Evangelho de Lucas, já não encontramos «sede perfeitos» (Mt 5, 48), mas «sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. Dai e ser-vos-á dado» (6, 36-38). E depois Lucas acrescenta algo que não deveríamos transcurar: «a medida que usardes com os outros será usada convosco» (6, 38). A medida que usarmos para compreender e perdoar será aplicada a nós para nos perdoar. A medida que aplicarmos para dar, será aplicada a nós no céu para nos recompensar. Não nos convém esquecê-lo.

«Felizes os puros de coração, porque verão a Deus»

Esta bem-aventurança diz respeito a quem tem um coração simples, puro, sem imundície, pois um coração que sabe amar não deixa entrar na sua vida algo que atente contra esse amor, algo que o enfraqueça ou coloque em risco. Na Bíblia, o coração significa as nossas verdadeiras intenções, o que

realmente buscamos e desejamos, para além do que aparentamos: «O homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração» (1 Sam 16, 7). Ele procura falar-nos ao coração (cf. Os 2, 16) e nele deseja gravar a sua Lei (cf. Jer 31, 33). Em última análise, quer dar-nos um coração novo (cf. Ez 36, 26).

«Vela com todo o cuidado sobre o teu coração» (Prv 4, 23). Nada de manchado pela falsidade tem valor real para o Senhor. Ele «foge da duplicidade, afasta-Se dos pensamentos insensatos» (Sab 1, 5). O Pai, que «vê no oculto» (Mt 6, 6), reconhece o que não é limpo, ou seja, o que não é sincero, mas só casca e aparência; e de igual modo também o Filho sabe o que há em cada ser humano (cf. Jo 2, 25).

Quando o coração ama a Deus e ao próximo (cf. Mt 22, 36-40), quando isto é a sua verdadeira intenção e não palavras vazias, então esse coração é puro e pode ver a Deus. São Paulo lembra, em pleno hino da caridade, que «vemos como num espelho, de maneira confusa» (1 Cor 13, 12), mas, à medida que reinar verdadeiramente o amor, tornar-nos-emos capazes de ver «face a face» (1 Cor 13, 12). Jesus promete que as pessoas de

coração puro «verão a Deus». «Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus»

Esta bem-aventurança faznos pensar nas numerosas situações de guerra que perduram. Da nossa parte, é muito comum sermos causa de conflitos ou, pelo menos, de incompreensões. Por exemplo, quando ouço qualquer coisa sobre alguém e vou ter com outro e lho digo; e até faço uma segunda versão um pouco mais ampla e espalho-a. E, se o dano que consigo fazer é maior, até parece que me causa maior satisfação.

O mundo das murmurações, feito por pessoas que se dedicam a criticar e destruir, não constrói a paz. Pelo contrário, tais pessoas são inimigas da paz e, de modo nenhum, bem -aventuradas.

Os pacíficos são fonte de paz, constroem paz e amizade social. Àqueles que cuidam de semear a paz por todo o lado, Jesus faz-lhes uma promessa maravilhosa: «serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 9). Aos discípulos, pedia-lhes que, ao chegar a uma casa, dissessem: «a paz esteja nesta casa!» (Lc 10, 5).

A Palavra de Deus exorta cada crente a procurar, juntamente «com todos», a paz (cf. 2 Tim 2, 22), pois «é com a paz que uma colheita de justiça é semeada pelos obreiros da paz» (Tg 3, 18). E na nossa comunidade, se alguma vez tivermos dúvidas acerca do que se deve fazer, «procuremos aquilo que leva à paz» (Rm 14, 19), porque a unidade é superior ao conflito.

«Felizes os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu»

O próprio Jesus sublinha

que este caminho vai contracorrente, a ponto de nos transformar em pessoas que questionam a sociedade com a sua vida, pessoas que incomodam. Jesus lembra as inúmeras pessoas que foram, e são, perseguidas simplesmente por ter lutado pela justiça, ter vivido os seus compromissos com Deus e com os outros. Se não queremos afundar numa obscura mediocridade, não pretendamos uma vida cómoda, porque, «quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la» (Mt 16, 25).

Para viver o Evangelho, não podemos esperar que tudo à nossa volta seja favorável, porque muitas vezes as ambições de poder e os interesses mundanos jogam contra nós. São João Paulo II declarava «alienada a sociedade que, nas suas formas de organização social, de produção e de consumo, torna mais difícil a realização [do] dom [de si mesmo] e a constituição [da] solidariedade inter-humana». Numa tal sociedade alienada, enredada numa trama política, mediática, económica, cultural e mesmo religiosa, que estorva o autêntico desenvolvimento humano e social, torna-se difícil viver as bemaventuranças, podendo até a sua vivência ser mal vista, suspeita, ridicularizada.

Opinião: Devoção ao Sagrado Coração de Jesus

EIS O CORAÇÃO...

Contemplar o Coração de Jesus é entrar no santuário do amor, n'Aquele que é fornalha ardente, abismo de todas as virtudes, oceano infinito de todas as graças. Contemplar o Coração de Jesus é perceber que o nosso Deus é um Deus de Coração aberto e rasgado para derramar sobre nós torrentes de misericórdia e de graça.

Contemplar o Coração de Jesus é contemplar o amor do Pai, o amor trinitário, que se revela no Deus e Homem, o Verbo feito carne no seio da Virgem Maria. Contemplar o Coração de Jesus é ter a certeza de que Ele é paz e consolação, repouso e refúgio, salvação e graça.

Contemplar o Coração de Jesus para aprender com Ele a viver o Evangelho, a mansidão e a humildade, a pobreza e a misericórdia e todas as outras virtudes. Contemplar o Coração de Jesus que Se dá todo na Eucaristia, a maior dádiva do seu amor, para nos ficarmos a saborear o sacramento do amor, o sacrifício e o mistério da nossa fé.

Contemplar o Coração de Jesus para entrar nessa escola divina de virtude e de graça, de vida e de amor, de paixão e de zelo. Contemplar o Coração de Jesus, a solução da nossa vida, entregandoLhe tudo o que somos e que temos.

Contemplar o Coração de Jesus esse fogo, esse braseiro imenso que quer incendiar todos os corações, qual fornalha ardente que ardia diante de Moisés. Contemplar o Coração do Redentor, do Salvador, do Bom Pastor e do Bom Samaritano para aprender com Ele a arte

divina de amar e de ser ao jeito do Evangelho.

Contemplar o Coração do Redentor, para nos incendiarmos no zelo e na paixão pela salvação de todos os homens e do homem todo. Contemplar esse Coração que ama apaixonadamente a humanidade e deseja que todos O conheçam para terem a vida e a terem em abundância. Contemplar esse Coração aberto , rasgado, sempre a jorrar sobre nós sua graça, para nos dar o zelo, a audácia, dos Apóstolos na manhã de Pentecostes. Contemplar o Coração de Cristo, apaixonado pelo Pai, com zelo pela sua casa, com ardente desejo de fazer só a sua vontade. Contemplar esse Coração que nos convida ao amor e ao dom, que se apresenta diante de nós como mendigo do nosso amor.

Eis o Coração... foi a maneira como Jesus se dirigiu aos homens para "suplicar", mais amor, mais companhia, mais amizade, mais tempo, mais oração, mais reparação, mais intensidade de resposta ao seu amor louco e apaixonado por nós. Eis o Coração... foi a maneira que Jesus usou para nos dizer quanto nos ama, quanto faz por nós, quanto bem nos quer, quanto nos compreende, perdoa, acolhe, aceita, quanto deseja que tenhamos confiança n'Ele, o Salvador e Redentor.

Eis o Coração... foi o modo de colocar diante de nós o símbolo extraordinário do amor, um Coração sempre a jorrar torrentes de

graça e de misericórdia, um Coração que é «bica a correr», manancial divino de graça e de santidade.

Eis o Coração... é convite a que aprendamos a ter um coração como o d'Ele, sempre aberto e rasgado, para amarmos como Ele amou, à sua semelhança, se necessário até à morte, ao dom da vida, como prova de amor.

Eis o Coração... é apelo constante a olharmos para Ele, a contemplar o Coração trespassado, meditando as divinas loucuras do seu amor infinito, não tirando os olhos da nossa alma do Coração d'Aquele que nos ama sem cessar.

Eis o Coração... é a palavra sedutora para nos conquistar o nosso coração, para nos seduzir por dentro a uma intimidade cada vez mais intensa, a uma comunhão cada vez maior, a uma troca de corações, de vidas, de amores.

Eis o Coração... é o modo de colocar diante de nós o Coração que, no Evangelho, se revelou Bom Pastor e Bom Samaritano, Vítima de amor até ao holocausto mais puro, Cordeiro imolado para remir e salvar.

Eis o Coração... que mendiga o nosso amor e o nosso próprio coração, que tem sede de nós, daquilo que e nós é mais importante que é o nosso coração e a nossa capacidade de amor, que mendiga a nossa amizade e quer que saibamos retribuir amor com amor.

Dário Pedroso, é sacerdote jesuíta. Nasceu na Póvoa de Santo Adrião, Lisboa, em 1943. Foi ordenado sacerdote em 1975. Licenciou-se em Filosofia e em Teologia. Publicou dezenas de obras.

Eis o Coração... reflexo do amor do Pai, do amor da Trindade, que veio ensinar-nos a amar, que nos diz que a santidade se mede pelo amor, que nos deixou o seu mandamento, que exige que nos amemos uns aos outros como Ele nos amou.

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Opinião: Devoção ao Sagrado Coração de Jesus

junho 2022

Sagrado Coração: devoção e espiritualidade

Como alguém disse, a dedicação ao Sagrado Coração de Jesus, desenvolvida ao longo da vida da Igreja, é mais que uma devoção, é uma espiritualidade. Para tal, o mês de junho é dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, onde somos convidados pela Igreja a contemplar e experimentar, nesta devoção, o infinito amor de Deus por nós.

Para mim, celebrar o Coração de Jesus torna-se uma importante ocasião para que junto de toda a comunidade cristã sinta este admirável Sacrifício e Sacramento do coração de Jesus à própria vida.

Na Bíblia, há uma dedicação do povo às coisas do coração. “Tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne” (Ez 11,19). “Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei.

Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas”. (Mt 11, 28-29)

O coração de Jesus é o coração manso e humilde de Deus colocado dentro do nosso peito. O Senhor não é só uma inteligência suprema, Ele é coração, e o coração de Jesus é a manifestação visível do amor do Pai.

Como dizia o papa Bento XVI, na relação com Cristo, podemos reconhecer quem é verdadeiramente Deus (cf. encíclica «Haurietis aquas», 29,41; encíclica «Deus caritas est», 12-15). Mais ainda, dado que o amor de Deus encontrou a sua expressão mais profunda na entrega que Cristo fez da sua vida por nós na Cruz. Ao contemplarmos o seu sofrimento e morte, podemos reconhecer, de maneira cada vez mais clara, o amor sem limites de Deus por nós: «tanto amou Deus ao mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que crer nele não pereça, mas que tenha vida eterna» (Jo 3, 16).

Ao longo destes dois mil anos de história da Igreja, os santos padres desenvolveram a espiritualidade do coração de Jesus. Mais tarde, Santa

Maria Margarida, no século XVII, teve a imagem do coração de Cristo para fora do peito, coroado de espinhos e inflamado de amor. Essa imagem acabou por fazer história e aprofundamento dessa espiritualidade.

Por outro lado, o mistério do amor de Deus por nós não constitui só o conteúdo do culto e da devoção ao Coração de Jesus: é, ao mesmo tempo, o conteúdo de toda verdadeira espiritualidade e devoção cristã. Portanto, é importante sublinhar que o fundamento dessa devoção é tão antigo como o próprio cristianismo. De fato, só se pode ser cristão dirigindo o olhar à Cruz de nosso Redentor, «a quem transpassaram» (João 19, 37; cf. Zacarias 12, 10).

A encíclica «Haurietis aquas» lembra que a ferida do lado e as dos pregos foram para numeráveis almas os sinais de um amor que transformou, cada vez mais incisivamente, sua vida (cf. número 52).

experiência interior, o que as levou a confessar junto a Tomé: «Meu Senhor e meu Deus!» (Jo 20, 28), permitindo-lhes alcançar uma fé mais profunda na acolhida sem reservas do amor de Deus (cf. encíclica «Haurietis aquas», 49).

A Festa do Sagrado Coração de Jesus foi oficializada pela Igreja em cada primeira sexta do mês.

Por isso, desde criança que aprendi com a minha mãe esta atração pelo Sagrado Coração de Jesus. Para isso, leio muitas vezes as palavras da Irmã Maria do Divino Coração, sobre a devoção ao Santíssimo Sacramento: “Nunca pude separar a devoção ao Coração de Jesus da devoção ao Santíssimo Sacramento. E nunca serei capaz de explicar como e quanto o Sagrado Coração de Jesus se dignou favorecer-me no Santíssimo Sacramento da Eucaristia”.

Reconhecer o amor de Deus no Crucificado se converteu para elas numa “A contemplação do ‘lado transpassado pela lança’, na qual resplandece a vontade infinita de salvação por parte de Deus, não pode ser considerada, portanto, como uma forma passageira de culto ou de devoção: a adoração do amor de Deus, que encontrou no símbolo do ‘coração transpassado’ com a sua expressão histórico-devocional, continua a ser imprescindível para uma relação viva com Deus”.

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Papa Emérito, Bento XVI

Opinião: Devoção ao Sagrado Coração de Jesus

Sagrado Coração de Jesus – “sentimentalismo” ou algo mais?

A solenidade do Sagrado Coração de Jesus é celebrada anualmente na sexta-feira seguinte à Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. Desde o princípio da história da Igreja houve lugar à contemplação do Coração de Jesus, no qual o discípulo amado reclinou a cabeça na Última Ceia (cf. Jo 13,23), e que foi trespassado pelo soldado Longino quando Jesus já estava morto na Cruz (cf. Jo 19,34). Porém, apenas no séc. XVII se difundiu esta devoção, a partir das visões místicas de Santa Margarida Maria Alacoque, monja do Convento da Visitação em Paray-le-Monial (França), cujo confessor era o padre jesuíta S. Cláudio la Colombière. Foi a ele que Santa Margarida Maria contou as visões do Coração de Jesus entre 1673 e 1675: um coração em chamas de amor e coroado de espinhos, do qual saía sangue e emergia a cruz.

Serão precisamente Santa Margarida Maria e São Cláudio la Colombière os grandes promotores da devoção ao Sagrado Coração desde então, mas só quase dois séculos mais tarde, em 1856, no pontificado de Pio IX, é que se tornará formalmente aprovada para todo o mundo. Desde então, todos os Papas têm dedicado atenção particular a esta piedade, tendo o Papa Pio XII escrito uma encíclica em que esclarecia o seu alcance e a defendia dos seus críticos, que a refutavam como inútil e sentimentalista “mais própria para mulheres do que para pessoas cultas” (cf. Haurietis Aquas, número 6).

Tendo presente este contexto, importa refletir

sobre como esta devoção ao Sagrado Coração de Jesus ajuda a contemplar os mistérios da fé cristã. Sublinho quatro dimensões essenciais características da fé cristã:

1) O Sagrado faz-se Carne

Este é um facto absolutamente essencial da fé cristã. Em Jesus, o Sagrado faz-Se carne e já não está separado, mas faz-se homem e tem coração! Esta dimensão corpórea e tangível de Deus manifesta-se em toda a Sua vida como expressão máxima do amor de Deus por todos os homens. O diálogo com Tomé, a quem Jesus diz «chega cá o teu dedo (…) aproxima a tua mão e não sejas incrédulo, mas crente» (cf. Jo 20, 27), retratado no famoso quadro de Caravaggio, mostra o realismo da encarnação de Deus, que assume um Corpo e a Quem já se pode ver, tocar, conhecer e acreditar, reconhecendo-O pelas marcas da Paixão e pela Ressurreição.

2) A Carne de Cristo é dada para a Comunhão Deus não quer apenas ser visto e tocado, mas tem um coração que continua a bater, como sinal da Sua vida eterna. É muito significativo que a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus seja logo depois da festa do Corpo de Deus. Nesta celebramos a Presença Real e amorosa de Jesus connosco na Eucaristia, vivo e ressuscitado. Jesus promete estar sempre connosco até ao fim dos tempos (cf. Mt 28,20) e afirma: «Eu sou o pão vivo, o que desceu do Céu: se alguém comer deste pão, viverá eternamente; e o pão

que Eu hei-de dar é a minha carne, pela vida do mundo» (cf. Jo 6,51). Por mandato de Jesus – «fazei isto em memória de Mim» –esse pão consagrado em cada Missa como nosso Alimento para a Comunhão mantém a mesma aparência, mas pelo milagre da transubstanciação, já não é só pão, mas realmente o Corpo de Cristo, a Sua carne entregue por todos na Cruz.

3) A Comunhão é um transplante de Coração

O coração é o lugar metafórico das nossas paixões e centro de vida e de amor e é nesse órgão central que está a necessidade de cura e tratamento, sob perigo da própria vida interior se perder se deixamos de amar.

Jesus, como Médico que vem para nos salvar da morte e do pecado, vem curar o nosso coração dessas “taquicardias” e “arritmias” que atingem a nossa vida espiritual e que nos impedem de amar e ver a Deus. Por 33 vezes Jesus se refere ao coração no Evangelho e faz o diagnóstico: «Do coração procedem as más intenções» (cf. Mt 15,19) e a indiferença e falta de fé vem da «dureza do vosso coração» (cf. Mt 19,8), no qual por vezes domina a perturbação e a tristeza (cf. Jo 14,1 e Jo 16,6).

Em certo sentido, em cada Missa acontece então um transplante de coração, conforme a profecia do profeta Ezequiel: «Dar-vos-ei um coração novo e introduzirei em vós um espírito novo: arrancarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei um coração de carne» (cf. Ex 36,26).

4) A devoção ao Sagrado

Coração não é mero sentimentalismo

Esta imagem do transplante de coração levanos ao último ponto: a fé cristã não é simples adesão ou assentimento meramente racional a um conjunto de verdades religiosas acerca de Deus e do homem, mas quer ser encarnada na vida de cada fiel e nas suas obras.

Se é certo que há momentos de aridez na vida espiritual e não podemos ficar reféns dos sentimentos e das consolações, mas prosseguir caminho com fidelidade mesmo aí, é certo também que a fé cristã é uma experiência sensível e gozosa do amor de Deus, que tem um “coração misericordioso” (cf. Lc 1,78). Essa experiência amorosa de Deus, que pode acontecer na oração ou nos sacramentos, em momentos de contemplação, de imensa alegria ou de dolorosa dificuldade, marca o encontro com Jesus vivo e ressuscitado, com um Deus que tem coração. Dizia o Papa Bento XVI: «Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo.» (Deus caritas est, 1).

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Pe. Tiago Fonseca, Sj.

Opinião: Devoção ao Sagrado Coração de Jesus

O MOVIMENTO DO APOSTOLADO DA ORAÇÃO, em SEIA

De acordo com uma notícia já com várias décadas, o Movimento do Apostolado da Oração (A.O.) foi instituído na Paróquia de Nossa Senhora de Assunção, em Seia, no mês de dezembro do ano de 1877, no decorrer de uma Missão Apostólica pregada pelos Padres Jesuítas, Próspero e Guerreiro. Estes Padres distintos, muito considerados e conhecidos à data no país, desenvolveram muitas outras Missões Apostólicas que originaram a fundação de centenas de Centros de Apostado da Oração.

Em Seia, a primeira Presidente foi a Dª Maria Stockler. Sucedeu-lhe a Dª Maria Joana de Melo Pinto Stockler, virtuosíssima senhora e fidalga da Casa das Obras. Por ocasião da fundação do A.O., inscreveram-se dezasseis Zeladoras e catorze Zeladores, sendo um destes José Borges da Silva, de Santiago. O Movimento do A.O., em Seia, durante a presidência de D.ª Maria Joana, esteve muito ativo. Com os fundos do Movimento fez-se o douramento dos três altares principais da Igreja Matriz e da tribuna; e, por essa ocasião, foram compradas, em Braga, as imagens do Sagrado Coração de Jesus, do Imaculado Coração de Maria, de Nossa Senhora da Assunção e do Senhor dos Aflitos.

Outras presidentes deste centenário e digníssimo Movimento Católico foram a Dª Ofélia da Rocha Vaz Preto Casal, a Dª Maria da Glória Simões Pereira e a Dª Maria

Emília Sousa, que durante cerca de quarenta anos esteve à frente do Movimento, coadjuvada pela D.ª Lurdes Cabral, como Secretária, e pelo Sr. Amadeu Tavares, como Tesoureiro, terminando estes as suas funções na reunião do mês de outubro de 2013.

Decorria o mês do Sagrado Coração de Jesus do ano de 2013, quando eu, Carlos Silva, respondi sim ao convite de um irmão na Fé e Zelador do Movimento do A.O. da Paróquia de Nossa Senhora da Assunção. Nesse mesmo ano, a 8 de novembro, fui nomeado Presidente do Movimento do A.O., coadjuvado por um Secretário e um Tesoureiro. O Movimento do A.O. tem Estatutos próprios e a sua missão é mobilizar os católicos, através da oração e da ação, para os desafios da sociedade e da missão da Igreja.

profunda da entrega que Jesus fez de si mesmo por nós. Neste dia, o Movimento realiza a reunião que é presidida pelo nosso pároco, Padre Joaquim Cardoso Pinheiro, importante pilar do Movimento. Após a leitura e aprovação da ata da reunião anterior e algumas eventuais informações, prosseguimos a reunião mensal com a escuta da Palavra de Deus, e depois meditamos sobre ela e sobre a intenção do Santo Padre para o mês. Por fim, concluímos com uma oração. Terminada a reunião, seguese a celebração da Santa Missa, com a intervenção de alguns Zeladores na Liturgia da Palavra, no Peditório e na distribuição Sagrada Comunhão.

No 2º sábado de cada mês, os cânticos da Santa Missa estão a cargo do Movimento do A. O.; no mês de outubro, a recitação do Rosário é orientada pelo A.O.; no mês de novembro, aos sábados, o Rosário, também é orientado pelo A.O., é aplicado pelas Almas do Purgatório. São ainda orientadas pelo A.O. as novenas do Sagrado Coração de Jesus e da Imaculada Conceição.

Todos os meses, na 1ª sexta-feira, dia dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, a Igreja nos convida a Lhe oferecermos, na oração e na ação, o que Deus nos pede todos os dias: a totalidade do nosso ser, com uma consciência ainda mais

No dia 26 de maio de 2018, este Centro do A. O. promoveu um Encontro de Formação para o Arciprestado de Seia, que teve por tema “A Espiritualidade do Apostolado da Oração”, e que foi desenvolvido pelo Padre António Valério SJ, Diretor da Rede Mundial de Oração do Papa em Portugal. O Padre António Valério focou a importância da espiritualidade do Coração de Jesus na vida da Igreja e do

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Carlos Silva Presidente do Centro do Apostolado da Oração, em Seia

Opinião: Devoção ao Sagrado Coração de Jesus

O MOVIMENTO DO APOSTOLADO DA ORAÇÃO, em SEIA (Continuação)

Apostolado de Oração em particular, mas também a da profundidade da união entre a missão e a oração, característica essencial do A.O., tendo como figuras inspiradoras Santa Teresinha do Menino Jesus e os Santos pastorinhos Francisco Marto e Jacinta Marto. No período da tarde, centrou-se na apresentação de sugestões práticas para a dinamização da vida dos Centros, à luz da nova dinâmica da recriação do A.O. como Rede Mundial de Oração do Papa. O Encontro conclui-se com um tempo de Adoração ao Santíssimo Sacramento e a celebração da Santa Missa, na Igreja Matriz. Participaram neste Encontro cerca de 122 pessoas vindas de dezassete paróquias do Arciprestado de Seia.

No dia 8 de junho de 2019, decorreu em Seia o Encontro Diocesano do Apostolado da Oração da Diocese da Guarda. Teve como Oradores o Padre António Valério e o Padre Rafael Mourão, respetivamente responsáveis

do A.O. ao nível nacional e diocesano. Este Encontro teve lugar no ano em que se completaram 175 anos da fundação do Movimento Católico do Apostolado da Oração em Portugal. Participaram cerca de 135 Zeladores e Associados de dezassete paróquias da diocese da Guarda. No final, e após um tempo de Adoração Solene do Santíssimo Sacramento, o Bispo diocesano, D. Manuel da Rocha Felício, presidiu à celebração da Missa Vespertina da Solenidade do Pentecostes.

Desde que fui nomeado Presidente do Movimento do A.O., em 2013, muitas pessoas responderam sim ao convite que lhes dirigi, tendo assim ingressado no Movimento sessenta novos Zeladores. À semelhança do que tem acontecido desde os primórdios da fundação do Movimento na outrora vila de Seia e hoje cidade, todos os anos é celebrada a Festa do Sagrado Coração de Jesus.

No ano de 2020, por razões que todos nós conhecemos – a situação pandémica que assolou o mundo – o dia do Sagrado Coração de Jesus não foi assinalado com as cerimónias próprias; no entanto, a missão que cabe a cada um de nós, Zeladores, a de promover a devoção ao Coração de Jesus e a de fomentar a Oração na vida dos crentes, continuou a ser levada a cabo ainda com mais entusiasmo e perseverança.

Neste ano de 2022, iremos retomar, com muita alegria, a Festa do Sagrado Coração de Jesus, que se celebra a 24 de junho. Pelas 19 horas, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, e à semelhança de Jesus que nos acolhe de coração e braços abertos, acolheremos mais treze novos Zeladores, completando-se deste modo o número simbólico de 100 Zeladores. Isto é apenas possível pela Graça de Deus e pelo Seu infinito Amor. Demos Graças a Deus pelo fervor e dinamismo

espirituais deste Movimento da Paróquia.

Em tempos difíceis como os que temos vindo a passar, devido ao COVID-19 e à guerra na Ucrânia, provocada pela invasão russa, são, em momentos destes, que mais podemos encontrar Deus, que melhor podemos escutar a sua Palavra e sentir o Amor que Ele tem por cada um de nós. Sendo a oração o valor maior do Movimento A.O., confiamos que, a partir da intensidade da oração, mas também pela ação, o Movimento do A.O. possa renascer e ou até ser fundado noutras paróquias. Termino citando o Padre António Valério “…Os dramas do mundo de hoje são de enorme preocupação: guerra, pobreza, maus-tratos à nossa Mãe Terra… Estes dramas são horizonte da missão de um coração tocado por Jesus e desejoso de transformar o mundo, pela força da oração, mas sobretudo pela força do testemunho.” In Mensageiro do Coração de Jesus, junho 2022.

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Ó Coração de amor, ponho toda minha confiança em Ti, temo minhas fraquezas e falhas, mas tenho esperança em Tua Divindade e Bondade”.
(Santa Margarida Maria de Alacoque)

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