DECNOTÍCIAS Novembro de 2022
Novembro de 2022
DECNOTÍCIAS
Mensagem da Direção do DEC 3
1 Resenha Histórica do Curso de Engenharia Civil no DEC 4 Notícias 2 Seabra Santos Condecorado com a Grã Cruz da Ordem da Instrução Pública 10 3 Luís Simões da Silva Eleito Membro da Academia de Engenharia 10 4 Colaboração do DEC com Angola 11 5 Inauguração do Centro de Inovação e Competências da Floresta (SerQ) 13 6 Comemoração dos 40 Anos do DEC 14 7 Conceição Cunha Distinguida pela Royal Academy of Engineering
17 8 António Tadeu Recebe a Medalha George Green 2017
17 9 Luís Simões da Silva Recebe o Grau de Doutor Honoris Causa
18 10 Mobilidade Internacional no DEC
20 11 Eurace, Atribuída aos dois Cursos de Mestrado Integrado do DEC
24 12 Laginha Serafim Recebe Medalha de Ouro (OE), a Título Póstumo
25 13 O DEC na Nova Equipa Reitoral 30 14 Raimundo Mendes da Silva no Gab. da Secretária de Estado da Habitação 32 15 Lusitano Proferiu a sua “Última Lição” 34 16 Seabra Santos Proferiu a sua “Última Lição” 34 17 José Machado do Vale Proferiu a Lição Laginha Serafim 2017 36 18 Celestino Quaresma Proferiu a Lição Laginha Serafim 2018 37
Artigos
de opinião
19 João Coutinho: Ensinar: Uma arte em Permanente Construção 45 20 Rui Furtado: A Ética e a sua Importância na Actualidade 47 21 João Coutinho: Quem foi Laginha Serafim? 49 22 Celestino Quaresma: Ser Engenheiro 51 23 António Pais Antunes: A Engenharia Civil da UC nos Rankings 52 Entrevistas 24 Alvarinhas 56 25 José Barbosa Lourenço
Ernesto Oliveira Domingues
José Luís Machado do Vale
Nuno Ferrand Pinto
Rui Leal Pedroso de Lima
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Tatiana Sá Marques 75
Lusitano dos Santos 82
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66 30 David Taborda ………………………………………………………………………………………………….……..…..……… 69 31 Izel Issufo ………………………………………………………………………………..…………………………..……………… 71 32 Ângela Lemos 73
Rui Furtado 77
Luís Simões da Silva 93
Rafael Ferreira 104
Celestino Flórido Quaresma 106
Filipe Bandeira 114
Rui Marques 127
Ana Bastos e Isabel Pinto 134
Raimundo Mendes da Silva 138
Jorge Almeida e Sousa 144
Além do Trabalho
Almoço de Natal 2011 150
Queima das Fitas 2017 151
Gala Pilar d’Ouro 2018
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Almoço de Natal 2018
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90º Aniversário de Rui Furtado
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Gala Pilar d’Ouro 2019
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Queima das Fitas 2019
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Edição Editores: Isabel Pinto, Ana Bastos e Anabela Ribeiro Colaboradores: Paulo da Venda Oliveira e Nelson Fernandes Endereço: Departamento de Engenharia Civil, FCTUC, Polo II, Rua Luis Reis Santos, 3030 788Coimbra Telefone (+351) 239 797 100 E mail: decmail@dec.uc.pt
Mensagem da Direção
O Departamento de Engenharia Civil (DEC) da Universidade de Coimbra (UC) posiciona se hoje num elevado patamar de prestígio, a nível nacional e internacional, nas vertentes do ensino, investigação, formação avançada e transferência e valorização de conhecimento. O mérito tem, naturalmente, de ser atribuído a todos: docentes, investigadores, funcionários, estudantes e colaboradores que, ao longo dos últimos 50 anos, deram o seu contributo e se empenharam no desenvolvimento do DEC.
O DEC iniciou o seu funcionamento em instalações com condições físicas bastante restritivas, inicialmente na Quinta da Nora e, mais tarde, no Edifício do Departamento de Física (Polo I). Com a transferência para o novo e atual Edifício no Polo II da Universidade, no ano letivo 1999 2000, o DEC passou a dispor de instalações com as condições adequadas para o desenvolvimento das suas atividades. Tendo em conta o dinamismo e a qualidade do corpo docente e de investigadores, a competência do corpo técnico e de funcionários, e a qualidade das instalações e equipamentos, o DEC, apesar de ainda se confrontar com alguns constrangimentos, tem motivos para encarar o futuro com otimismo. Na vertente do ensino, o DEC começou com a lecionação do Curso de Licenciatura em Engenharia Civil, cujos 50 anos de existência agora se comemoram, mas oferece hoje mais de 20 cursos, entre licenciaturas, mestrados, doutoramentos e cursos não conferentes de grau. No ano letivo 2022 2023 foram iniciados 3 novos cursos: a Licenciatura em Gestão de Cidades Sustentáveis e Inteligentes, que preencheu todas as vagas disponibilizadas, o Mestrado em Construção em Madeira e o Mestrado em Estruturas de Betão da Conceção à Reabilitação, todos criados no âmbito do “Impulso Jovens STEAM” do Pano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Na vertente da investigação científica e formação avançada, o prestígio do DEC é igualmente notório. Os seus Docentes desenvolvem investigação (fundamental e aplicada) de ponta no âmbito de projetos e redes de investi
Rui António Duarte Simões Diretor do DEC
gação nacionais e internacionais. Por seu lado, a formação avançada tem permitido ao DEC registar um nível muito elevado na atração de estudantes internacionais. O DEC desenvolve também uma extensa atividade de prestação de serviços especializados de engenharia nas diversas áreas de atuação, para empresas e entidades externas nacionais e internacionais, cumprindo desta forma uma outra importante missão, que é a transferência e valorização de conhecimento.
A comemoração dos 50 anos do Curso de Engenharia Civil e do próprio DEC, para além de ser um momento de confraternização e reencontro entre diferentes gerações de docentes, de investigadores, de estudantes, de funcionários e de colaboradores do DEC, deve constituir uma oportunidade para se revisitar a história do DEC e também para se perspetivar e discutir os desafios futuros da Engenharia Civil e da Engenharia do Ambiente.
O DEC Notícias tem sido um dos instrumentos utilizados para divulgação e registo de tudo o que de mais relevante vai acontecendo no DEC. A presente edição pretende recordar 50 registos que foram publicados nas diversas edições do DEC Notícias desde a sua primeira edição, em 2010. Muitos outros registos foram publicados e mereceriam igualmente destaque.
A atual Direção do DEC pretende manter o caminho que tem sido seguido, procurando ultrapassar com sucesso os desafios futuros e presentes, nomeadamente o problema da redução de estudantes nos cursos de base o qual, embora afetando todas as escolas de engenharia do país, tem tido repercussões negativas consideráveis na gestão da presente estrutura e dimensão do DEC. Para se vencer este e outros desafios é fundamental a união de toda a comunidade DEC em prol de um objetivo comum a melhoria contínua do DEC.
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Resenha histórica do curso de Engenharia Civil no DEC
A Génese do Curso de Engenharia Civil
Este artigo apresenta uma síntese sobre a criação do curso em engenharia civil na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, elaborada pelo Prof. Lusitano dos Santos, Prof. Jubilado do DEC. Descrevem-se sumariamente a situação no ano letivo de 1976/77 do Departamento de Engenharia Civil quanto a instalações, equipamentos, corpo docente e pessoal técnico e auxiliar. Faz-se referência ao Plano de Estudos inicial, os métodos pedagógicos e os métodos de avaliação de conhecimentos, realçando os cuidados havidos para “recuperação” de alunos durante os anos letivos de 1973/74 e 1974/75. Apresentam-se alguns elementos estatísticos que mostram a evolução do Departamento e a sua influência no país e no estrangeiro.
Parte da informação que serviu de base a esta comunicação foi fornecida por João Benjamim Pereira, engenheiro civil, à data Assistente Eventual da FCTUC.
A Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra
A Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) tem mais de dois séculos de existência. Efe vamente, o Marquês de Pombal criou, em 1772, na Universidade de Coimbra, as Faculdades de Filosofia (Natural) e Matemá ca onde passaram a ensinar-se as ciências da natureza e as ciências matemá cas.
A Faculdade de Ciências foi uma criação do governo da Primeira República que, no ano de 1911, promulgou uma reforma que abrangeu todos os estabelecimentos de ensino e criou a Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra como resultado da junção das Faculdades de Filosofia e de Matemá ca.
Em 1934 passaram a exis r, além dos cursos preparatórios para as Escolas Militares, já existentes, os cursos preparatórios para Engenharia Civil, Engenharia Mecânica, Engenharia Eletrotécnica, Engenharia de Minas e Engenharia Química Industrial.
A reforma de 1971 (Decreto nº 443/71 de 3 de Outubro, sendo José Veiga Simão Ministro da Educação Nacional ) introduziu, entre outras, a possibilidade dos planos de estudo dos dois úl mos anos de licenciatura serem organizados pelas faculdades. Deste modo, poderiam ser oferecidos aos alunos ramos de especialização cien fica, de acordo com as necessidades do país e da região e a disponibilidade de recursos humanos e materiais dos departamentos.
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O Departamento de Engenharia Civil
O Departamento de Engenharia Civil (DEC), criado na sequência do Decreto-Lei n.º 259/72 de 28 de julho (Ar go 5º), foi orientado para os tradicionais campos de a vidade deste ramo do conhecimento: Fundações e Estruturas, Hidráulica, Edificações e Urbanização e Vias de Comunicação.
O plano de estudos visava fornecer aos futuros engenheiros uma sólida formação de base, de nível universitário, que lhes permi sse não só a resolução dos problemas clássicos da sua especialidade mas também as bases cien ficas necessárias para análise de situações novas com que correntemente pudessem vir a ser confrontados ao longo da sua a vidade profissional, orientando-os no sen do da inovação tecnológica.
Outro obje vo relevante prendeu-se com a garan a das condições necessárias à realização de inves gação cien fi ca e ao apoio técnico-cien fico a en dades exteriores ao Departamento, públicas e privadas, do país e da região. Tal preocupação jus ficou a criação de Laboratórios didá cos, de inves gação e de prestação de serviços à comunidade.
Em 1972/73 os terceiros anos dos cursos de engenharia iniciaram o seu funcionamento nas novas instalações da Quinta da Nora, previstas para o Ins tuto Industrial de Coimbra. Com o 25 de abril de 1974 as “Engenharias” foram obrigadas a abandonar essas instalações (que seriam ocupadas pelo Ins tuto Industrial de Coimbra - o legí mo proprietário) e a instalar-se nos novos edi cios da ”Cidade Universitária” localizados na Alta de Coimbra e previstos para os Departamentos de Física e Química.
O Departamento de Engenharia Civil acabou por se instalar no edi cio da Física, distribuindo-se pela sub-cave, rés-dochão, primeiro e segundo andares.
1.ORGANOGRAMA
O organograma foi aprovado em reunião de docentes realizada em março de 1977, com carácter transitório. O Departamento subdividiu-se, do ponto de vista académico, nos quatro seguintes grupos de cadeiras:
-Fundações e Estruturas; -Edificações; -Hidráulica; -Urbanização e Vias de Comunicação.
Os grupos de cadeiras estavam ainda diretamente relacionados com o funcionamento dos respe vos laboratórios: Laboratório de Estruturas, Laboratório de Mecânica dos Solos, Laboratório de Ensaios de Materiais, Laboratório de Hidráulica e Laboratório de Urbanismo.
As a vidades de cada grupo eram coordenadas por três docentes, que no seu conjunto cons tuíam a “Comissão Cien fica e Pedagógica Interna”. Eram funções desta Comissão, entre outras, instalar os Laboratórios, preparar o pessoal docente e funcionários (nomeadamente os preparadores e auxiliares de laboratório), elaborar os Planos de A vidade e Orçamentos, colaborar com o Conselho Cien
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Quinta da Nora
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Dep. Física, Polo I
fico da FCTUC e estabelecer relações com as en dades exteriores ao Departamento.
Foi ainda cons tuída a Comissão Dire va que contava com o apoio da Secretaria. Este órgão coordenava o funcionamento das estruturas gerais de apoio departamental, como a Biblioteca, o Centro de Cálculo, as Oficinas e a Sala de Desenho, dependentes também da Comissão Cien fica e Pedagógica Interna.
2.PLANO DE ESTUDOS
O Decreto n.º 256/73 de 21 de maio veio fixar o plano de estudos dos três úl mos anos dos cursos de engenharia da FCTUC, complementando assim os pedagógicos de Engenharia Civil.
Para a engenharia civil o plano foi organizado com grande flexibilidade no 4º e no 5º ano: previa uma disciplina de opção em cada semestre do 4º ano e, no 5º ano, disciplinas opcionais e seminários, 16 horas TP no primeiro semestre e 18 a 20 horas no segundo. Esta flexibilidade des nava-se a permi r ao novo departamento oferecer disciplinas de acordo com as suas potencialidades, as necessidades da região e do país e o interesse dos alunos.
Apesar da prá ca ter mostrado que a flexibilidade dificilmente conduzia ao desenvolvimento da escola, a verdade é que permi u adaptar o curso, em cada ano, às necessidades dos alunos e complementar as deficiências verificadas na sua formação e no contexto social vivido com o 25 de abril de 1974.
Assim, o Plano de Estudos adotado em 1974/75 (já com os 3 anos em funcionamento) incluiu, no 4º ano, as cadeiras de Hidráulica e Mecânica dos Solos,
também lecionadas no 3º ano. Esta inclusão foi mo vada pelas condições deficientes em que decorreu o ano le vo de 1973/74, em especial o segundo semestre a par r de 25 de Abril. No 2º semestre do 5º ano o plano incluiu as disciplinas de opção de Hidráulica Aplicada, Estruturas e Urbanismo.
A discussão rela va ao plano para 1975/76 levou à necessidade de complementar a formação técnica dos engenheiros com a formação humanís ca e à definição de grupos de cadeiras com vista à cons tuição de sectores de especialização no domínio da Engenharia Civil.
Por conseguinte, o 4º ano incluiu uma nova disciplina, Economia e Sociologia e, nos dois semestres do 5º ano, foram oferecidas disciplinas de opção das áreas de Estruturas, Hidráulica e Urbanização e Vias de Comunicação. No 2º semestre do 4º ano foram incluídas ainda as disciplinas de Hidráulica Aplicada e Introdução ao Planeamento Regional e Urbano para permi r que os alunos escolhessem conscientemente a área de opção a frequentar no 5º ano e garan r, àqueles que não escolheram determinadas opções, um conhecimento mínimo sobre essas matérias.
O Plano de Estudos de 1976/77 diferiu do anterior apenas pela inclusão da disciplina de Vias de Comunicação no 4º ano, de frequência obrigatória por todos os alunos. Verificou-se, contudo, que um plano de estudos mais rígido facilitaria o desenvolvimento do Departamento.
O plano proposto para 1977/78 manteve os critérios de 1975/76, dando maior relevo à formação humanís ca dos engenheiros com o desdobramento da cadeira de Economia e Sociologia e sua inclusão no 5º ano, reduziu a duas as áreas de opção (Hidráulica e Urbanização e Vias de Comunicação), introduziu os Seminários no 2º semestre do 5º ano e aumentou a escolaridade para 31 horas semanais.
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3. INFRAESTRUTURAS DE APOIO
Para apoio geral ao Departamento foram criadas a Biblioteca, a Sala de Desenho, o Centro de Cálculo e a Oficina de Apoio. Foram montadas instalações próprias para funcionamento dos Laboratórios de Hidráulica e Ensaios de Materiais; Os Laboratórios de Estruturas, Mecânica dos Solos e Urbanismo não dispunham ainda de instalações próprias, embora dispusessem já de algum equipamento.
O Centro de Cálculo des nava-se fundamentalmente a apoiar o Laboratório de Hidráulica. Era também u lizado para apoio didá co na resolução de problemas e na elaboração de projetos. A linguagem de programação u lizada era a Basic. O centro era ainda u lizado por alunos de outros departamentos e por profissionais locais (cidade e região).
4. CORPO DOCENTE E NÃO DOCENTE
Com a criação dos cursos completos, a contratação de docentes da especialidade reves u-se da maior importância. A preocupação da FCTUC foi contratar doutorados ou profissionais altamente qualificados, que não abundavam no país, e menos ainda em Coimbra. Atendendo a que à data apenas exis am duas escolas de engenharia (o Ins tuto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa e a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto), o número de engenheiros civis doutorados disponíveis para integrarem o corpo docente do Departamento era pra camente inexistente.
A Direção da FCTUC teve que recorrer a engenheiros civis reconhecidos enquanto profissionais pres giados, que se disponibilizassem para lecionar as disciplinas da especialidade então criadas.
No ano le vo de 1972/73 foram contratados, como professores catedrácos, os engenheiros Joaquim Laginha Serafim, considerado o engenheiro civil português mais pres giado a nível internacional, Inves gador do Laboratório Nacional de Engenharia Civil e Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Victor Manuel do Nascimento Graveto, com doutoramento em Hidráulica pelo Massachussets Ins tut of Tecnology dos Estados Unidos da América.
No ano le vo de 1973/74 foram contratados como equiparados a professor auxiliar, os engenheiros Lusitano Moreira Mar ns dos Santos, Especialista do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, e Rui Jorge de Almeida Furtado, com Mestrado ob do na University of Southampton, em Inglaterra.
Também a par r do ano le vo de 1972/73, e à medida das necessidades, foram contratados profissionais de engenharia civil de reconhecido mérito, na qualidade de equiparados a assistente (a tempo total ou a tempo parcial). Por concurso foram contratados assistentes e assistentes eventuais.
Assim o corpo docente do Departamento é cons tuído, à data, pelos seguintes 35 elementos:
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Os primeiros Professores Catedrá cos do DEC/FCTUC: (a) Prof. Laginha Serafim; (b) Prof. Victor Graveto
-2 professores catedrá cos;
-1 professor agregado;
-2 equiparados a professor auxiliar;
-3 assistentes;
-3 equiparados a assistente a tempo total;
-7 equiparados a assistente a tempo parcial; 17 assistentes eventuais.
Estes docentes de nham formações profissionais de base diferenciadas: 1 sociólogo, 1 matemá co, 2 engenheiros geógrafos e 31 engenheiros civis. 13 destes engenheiros civis concluíram a sua licenciatura no Departamento. O matemá co era o Doutor Salazar da Paixão Ferreira Ferro, professor do Departamento de Matemá ca da FCTUC que se inscreveu como aluno de engenharia civil e concluiu o curso em 1974/75. Foi contratado como professor agregado a tempo parcial. O sociólogo é oDr. Armando Mar ns Tavares, licenciado pelo Ins tuto Superior de Ciências Sociais e Polí ca Ultramarina da Universidade Técnica de Lisboa, que foi contratado como equiparado a assistente a tempo parcial.
Dos engenheiros civis, dois encontravam -se a preparar o seu doutoramento e outro encontrava-se nos Estados Unidos da América a completar a sua formação. Outros dois frequentaram, no ano le vo seguinte 1975/76, cursos de pósgraduação com vista à preparação do seu doutoramento.
Nessa altura o DEC contava ainda com 13 funcionários, entre os quais um téc-
nico auxiliar de primeira classe, um chefe de oficina e quatro auxiliares de laboratório.
5.MÉTODOS PEDAGÓGICOS
Os métodos de ensino empregues nham subjacente a preocupação de garan r uma forte ligação entre a teoria e a prá ca. Nesse sen do a maioria das aulas eram teórico-prá cas (embora com excepções). As aulas apoiavam-se em demonstrações experimentais recorrendo, por vezes, a laboratórios de en dades exteriores à Universidade como por exemplo a Junta Autónoma de Estradas.
Dirigiam-se convites a engenheiros civis da região para colaborar com o Departamento através de exposições sobre o seu trabalho profissional. Organizavamse visitas a obras em curso (são exemplo a Fábrica de Cimentos de Souselas, Barragem da Aguieira, etc.) e a organismos técnicos especializados (Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra, LNEC, Gabinete da Área de Sines também em Lisboa, etc.).
As aulas apoiavam-se frequentemente em meios audiovisuais nomeadamente acetatos, diaposi vos e filmes.
6.AVALIAÇÃO DE CONHECIMENTOS
Os critérios de avaliação de conhecimentos variavam, naturalmente, de disciplina para disciplina. Procura-se, contudo, recorrer a critérios avançados de avaliação de conhecimentos de mo-
do a garan r uma sólida preparação dos estudantes e exercer um controlo rigoroso do nível de conhecimentos cien fi cos adquiridos.
Nas disciplinas de projeto (Projeto de Obras Correntes, Urbanização, Vias de Comunicação), a avaliação fazia-se por discussão de um trabalho elaborado, individualmente ou em grupo, acompanhado de exame oral sobre toda a matéria. Noutras cadeiras (Betão Armado, Resistência, etc.) a avaliação fazia-se por frequências e exame escrito (ou oral).
Noutras disciplinas (Sociologia, etc.) a avaliação baseava-se unicamente na discussão de um trabalho individual e na assiduidade às aulas.
7.ORIGENS E EMPREGABILIDADE
No ano le vo de 1972/73 inscreveramse no 3º ano de Engenharia Civil 60 alunos, o dobro da média de alunos saídos com os Preparatórios nos quatro anos anteriores (30). O número total de alunos do Departamento foi, naturalmente, aumentando, a ngindo os 408 no ano le vo de 1976/77.
Analisada a origem de 433 alunos e exalunos verificou-se que 388 eram portugueses e 45 estrangeiros. Angola e Moçambique eram os países representados com maior número de alunos, 22 e 12, respe vamente. Do Brasil vieram 5 alunos. Contudo, o Departamento atraiu também alunos de países estrangeiros de língua não portuguesa: Congo, Vene-
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zuela e Zaire, com dois alunos cada. No que respeita aos Portugueses, verificou-se que a maioria era originária da Região Centro, (280), seguida da Região Norte (88) e da Região Sul (12) e das regiões autónomas (3 dos Açores e 5 da Madeira). Do Alentejo vieram 3 alunos e do Algarve 4. Quando analisada a distribuição por distritos, verificou-se que a maioria dos estudantes eram oriundos de Coimbra (145), seguido dos distritos de Aveiro, Porto, Viseu e Braga com, respe vamente, 48, 38, 34 e 29 alunos. Nessa altura, a área de influência do Departamento era, claramente, a das regiões Norte e Centro de Portugal. Em 1974/75 saíram os primeiros licenciados: 23. Em 1975/76 saíram 39. Dos 62 novos engenheiros civis, 34 encontraram emprego na Região Centro, 4 na Região Sul e 3 no Brasil.
O emprego dos licenciados com local de trabalho na Região Centro repar a-se por 3 pos: ensino, en dades públicas e en dades privadas. As empresas privadas absorveram 8 licenciados; as en dades públicas, em especial Câmaras Municipais e Gabinetes de Apoio Técnico, 10; área do ensino 21. Destes 21 licenciados empregados no ensino, 13 foram absorvidos pelo Ensino Universitário, (12 dos quais no próprio Departamento de Engenharia Civil) e 5 no ensino técnico e secundário.
O Departamento mostrou-se o maior empregador dos seus licenciados (12) seguido da Administração Pública Local (10). Não é de estranhar que assim tenha acontecido dada, à altura, a carência de quadros técnicos da administração central e local e a incipiência empresarial ainda existente. A natural absorção pelo Departamento dos seus melhores alunos visava, naturalmente, as preocupações com o seu desenvolvimento qualificado.
Com o evoluir do tempo e o natural desenvolvimento do DEC, em grande parte mo vado pelo aumento sistemá co do número de alunos, e por inerência do seu corpo docente, as instalações integradas no Departamento de Física revelou-se insuficiente e condicionante ao desenvolvimento de a vidade cien fica de ponta. Era incontornável, a necessidade de dispor de laboratórios e de infraestruturas
capazes de dar resposta com qualidade às exigências académicas e cien ficas. Em 1999 esse desígnio foi a ngido e com ele a transferência das instalações do Polo I para o Polo II– Pinhal de Marrocos.
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Lusitano dos Santos Professor Jubilado
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Condecorado com a Grã Cruz da Ordem da Instrução Pública
O Professor Seabra Santos foi condecorado pelo Sr. Presidente da República, no passado dia 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, em Castelo Branco. Foi distinguido com a Grã Cruz da Ordem da Instituição Pública, que se destina a galardoar altos serviços prestados à causa da educação e do ensino. As Ordens de Mérito Civil têm oobjectivo de galardoar o mérito civil, manifestado no exercício de funções públicas ou privadas, em especial na área social, na educação e no meio empresarial. O Professor Seabra Santos foi Reitor da UC entre 2003 e 2011. A ele as nossas felicitações!
Em dezembro de 2014, o Professor Luis Simões da Silva, Professor Catedrático da área de Mecânica Estrutural foi eleito Membro da Academia de Engenharia. A cerimónia de Imposição de Insígnias aos Novos Membros decorreu durante a sessão comemorativa do Dia da Academia da Engenharia. A Academia de Engenharia, fundada em 1995, tem como principais objetivos contribuir para a valorização da Engenharia na Sociedade e encorajar o desenvolvimento de investigação nas suas áreas técnicas e científicas, designadamente nas áreas que potenciem o progresso do nosso País. Procura ainda promover a cooperação no domínio da Engenharia em Portugal, na União Europeia e noutros países e, na resolução de problemas da sociedade e no desenvolvimento da investigação para esse fim. É ainda de realçar a sua cooperação com
os órgãos de governo, com o Euro Case (European Council of Academies of Applied Sciences, Technologies and Engineering), com a Academia das Ciências de Lisboa e com a Ordem dos Engenheiros em assuntos de interesse mútuo e, em particular, nos que respeitarem à valorização e desenvolvimento da Engenharia e da profissão de Engenheiro.
Professor Luís Simões da Silva Eleito Membro da Academia de Engenharia
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Fotografias cedidas por Diário de Coimbra/Figueiredo
Newsletter 10 | março 2015 11
Formação de Engenheiros Civis em Luanda (Angola)
Publication date: 16 03 2015 17:33
A participação do DEC na formação de Engenheiros Civis em Luanda (Angola )
Nos meses de agosto a novembro deu se início à primeira colaboração do DEC na prestação de serviço docente no Instituto Superior Politécnico de Tecnologias e Ciências (ISPTEC), em Luanda.
O ISPTEC é uma instituição de ensino superior, localizada no universo das empresas da Sonangol, que iniciou as suas atividades académicas em 2012. Atualmente é composta por dois departamentos: o de Ciências Sociais Aplicadas, onde são ministrados os cursos de Economia e de Gestão, e o de Engenharias e Tecnologias, com os cursos de diversos ramos das engenharias (Civil, Química, Mecânica, Eletrotécnica, Informática e Produção Industrial). No entanto, prevê se que, num curto prazo, a sua oferta seja mais alargada, nomeadamente nas áreas de Ambiente e de Geociências. Dispõe de instalações de boa qualidade para prática letiva, com salas de aula, biblioteca e laboratórios bem equipados, para além de outros serviços como cantina e pavilhão multidesportivo. É também de salientar as excelentes instalações laboratoriais do ISPTEC, dispondo de equipamentos de elevada qualidade (e quantidade), mas ainda em fase de montagem e implementação. Com esta capacidade instalada, o ISPTEC pretende vir a prestar serviços ao exterior e a desenvolver projetos de I&D.
Tratando se de uma instituição ainda jovem, está neste momento em fase de formação do seu corpo docente, por enquanto ainda escasso e insuficiente para o funcionamento pleno dos cursos ministrados. Neste sentido, o ISPTEC tem estabelecido protocolos de colaboração com a UC, que tem resultado na deslocações de curta duração (1 3 semanas) de docentes da FEUC e da FCTUC a Luanda para dar formação a docentes do ISPTEC. Coube a um docente do DEC, pela primeira vez, desenvolver atividades em permanência no ISPTEC durante a quase totalidade de um semestre letivo.
O docente do DEC, José Carlos Grazina, desenvolveu diversas atividades durante a sua missão, nomeadamente na lecionação de disciplinas das áreas de Estruturas e de Geotecnia, na organização do plano do curso e na definição dos programas das disciplinas, dando continuidade ao trabalho prévio desenvolvido no DEC pelo colega Jorge Almeida e Sousa. Para além das atividades letivas foi também solicitada a sua colaboração na organização do laboratório de geotecnia e na preparação de uma palestra. O tema escolhido para a palestra “Estudar, Aprender Com os Erros, Fazer Engenharia” foi baseado na sua experiência profissional como docente e como colaborador em trabalhos de prestação de serviço ao exterior.
Refira se que houve um reconhecimento da qualidade do trabalho desenvolvido, que resultou num pedido de colaboração alargado a um maior número de docentes do DEC, das áreas de Geotecnia e de Estruturas, e com períodos de permanência que cubram a totalidade dos semestres letivos. O ISPTEC iniciou em março o 4º ano letivo do curso de engenharia civil prevendo se que, com o maior número de cadeiras da especialidade, venha a ser alargada esta colaboração a outros ramos da engenharia civil, à qual o DEC irá conseguir certamente dar uma contribuição de inestimável valor.
Do contacto direto que teve com o ISPTEC, o docente observou a preocupação em formar uma escola com uma cultura de exigência e rigor de níveis elevados, tendo a ambição de se estabelecer como a melhor instituição de ensino superior de Angola, nas áreas das engenharias, num breve prazo.
Newsletter10 | março2015 12
Newsletter 15 | setembro 2015 13
O DEC comemorou, em 2015, os 40 anos dos primeiros Licenciados em Engenharia Civil. O programa, que contou com várias iniciativas, decorreu entre setembro e dezembro, com uma grande adesão por parte da comunidade académica e da sociedade em geral. Veja aqui, de forma resumida, algumas dessas iniciativas.
Europeu para a Investigação, Ciência e Inovação, foi um dos intervenientes que juntou, no Auditório Laginha Serafim, mais de 250 participantes. O evento contou ainda com a presença do Magnifico Reitor da UC, Prof. João Gabriel e com múltiplas personalidades, destacando se o Presidente do LNEC, e a Presidente da CCRDC, Dra. Ana Abrunhosa.
Durante a sua intervenção, o Comissário Europeu defendeu que uma formação em Engenharia Civil dá aos alunos “as bases de análise e gosto pelo detalhe”, característica única e chave do sucesso profissional. Sublinhou que o curso de Engenharia Civil se adapta a qualquer futuro, preparando os formandos para exercerem outras funções.
Também o Magnifico Reitor da UC sublinhou que a missão da Universidade é produzir conhecimento, transmiti lo à sociedade e potenciar a criação de valor acrescentado ao tecido empresarial. Realçou que a Universidade, enquanto polo de conhecimento, assume um papel decisivo na transformação da sociedade, na perspetiva de evolução e de desenvolvimento económico e, na criação do bem estar das po-
pulações. Dirigindo se aos empresários presentes, realçou a disponibilidade e interesse da UC em aprofundar a interligação com o tecido empresarial.
A Presidente da CCRDC centrou a sua intervenção na apresentação das políticas regionais e no programa P2020. Para além dos programas operacionais nacionais, realçou a abertura de programas operacionais regionais (POR) geridos a partir da CCDR. A prioridade é apoiar a inovação, competitividade e a internacionalização assente nas universidades, centros de conhecimento, politécnicos e unidades de interface do sistema cientifico e tecnológico. Informou que no P2020 e no âmbito dos POR existem incentivos ao desenvolvimento de projetos em parceria e à inovação que vão desde a produção de conhecimento e tecnologia, até à sua transferência para a economia.
Alta de Coimbra: visita à história
Palestra itinerante do Professor Raimundo Silva, curador da candidatura a património Unesco da Universidade de Coimbra, Alta mo a Engenharia Civil e do Ambiente se com Património Histórico da Cidade de Coimbra, particular ao reconhecido pela Unesco, e cia que a recuperação em curso e prevista património pode ter para a Cidade Universitária antiga de Portugal
DEC Noticias | 4º Trimestre 2016
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Tertúlias
Casos de Sucesso do DEC
Na tertúlia que envolveu antigos alunos do DEC de diferentes gerações, e com percurso profissional de relevo, partilhou se essencialmente a experiência da vida académica e profissional. Foram convidados: José Paixão (Águas do Norte), Ana Paula Alexandre (Rede Ferroviária Infr. PT), Manuel Magalhães (Consultan) e Sofia Correia (Noctula), licenciados em 1978, 1997, 2011 e 2013, respetivamente.
40 anos de Engenharia Civil em Coimbra
Num ambiente agradável e intimista, foi se contando a história do DEC, desde a sua criação, através das histórias na primeira pessoa de alguns dos seus docentes e antigos estudantes. O evento incluiu ainda a entrega de prémios do Concurso de fotografia (ver notícia em baixo) e uma palestra sobre a importância do DEC para a Engenharia em Portugal, proferida pelo Presidente do Conselho Diretivo da Região Centro, Eng. Octávio Alexandrino. Decorreu na Sede da Ordem dos Engenheiros Região Centro.
de Engenharia Civil e do Ambiente
”
Num incentivo à capacidade de observação e à criatividade no olhar único e original de obras de Engenharia Civil e do Ambiente, o concurso de fotografia, aberto à participação da população em geral, teve grande adesão, e foram mais de 80 as fotografias com grande qualidade que foram submetidas à apreciação do júri (1ª prémio à foto da esquerda e 2º à da direita).
história projetando o futuro Mendes da mundial da e Sofia: corelacionam Coimbra, em a importânprevista para esse Universitária mais
Exposição 40 anos 40 momentos
Esta exposição ilustra os momentos mais marcantes da história do DEC, desde a criação do curso de Engenharia Civil (1972) até à data das comemorações, incluindo a criação do curso de Engenharia do Ambiente.
DEC Noticias | 4º Trimestre 2016
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palestra que permitiu aos presentes reviver os primeiros anos de funcionamento do DEC e o confronto com o desabrochar das novas tecnologias. O jantar de encerramento, que decorreu na cantina do Polo II da UC, juntou atuais e antigos professores, alunos e funcionários num ambiente de convívio e confraternização. Para além das tradicionais fotografia de grupo, o jantar contou ainda com um momento musical com a tuna feminina “As da Universidade de Coimbra.
DEC Noticias | 4º Trimestre 2016
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PRÉMIOS E DISTINÇÕES
Professora Conceição Cunha
Distinguida pela Royal Academy of Engineering
A Royal Academy of Engineering é a academia de engenharia do Reino Unido. Reune os engenheiros mais bem sucedidos e talentosos de todos os setores de engenharia para um objetivo comum, o avanço e promoção da excelência em engenharia.
Trabalha para melhorar a conscientização pública e a compreensão da engenharia e assume se como uma academia nacional com uma perspectiva global, que usa as parcerias internacionais para garantir que o Reino Unido se beneficie de redes internacionais, expertise e investimento.
A Professora Maria da Conceição Cunha foi distinguida pela Royal Academy of Engineering do Reino Unido com uma prestigiada “ Distinguished Visiting Fellowship”, com o objetivo de reforçar a ligação da Universidade de Coimbra com o CWS (Centre for Water Systems) da Universidade de Exeter.
Durante a sua estadia de um mês no Reino Unido no âmbito desta bolsa, a Profª Conceição Cunha foi convidada para apresentar seminários de investigação sobre ferramentas de apoio à decisão em planeamento e gestão de infraestruturas de abastecimento de água nas Universidades de Exeter e de Bristol, e ainda no Imperial College, a fim de estimular o reforço da investigação conjunta nestas áreas. Este tema é de grande interesse para a sociedade moderna, face aos desafios complexos introduzidos pela necessidade de responder às necessidades das populações, aumentando a eficiência e lidando adequadamente com a incerteza futura.
DEC Noticias | 3º Trimestre 2017
A Medalha George Green é uma iniciativa da University of Mississippi (USA), em associação com o Wessex Institute of Technology (UK) e pretende homenagear George Green pelo seu trabalho desenvolvido na área dos elementos de fronteira, nomeadamente pelo desenvolvimento de funções que servem de base à utilização destes elementos.
Professor António Tadeu Medalha George Green 2017
O Prof. António Tadeu viu reconhecida a qualidade do seu trabalho através da atribuição, em setembro, da medalha George Green. Este prémio é atribuído pela Universidade do Mississippi em associação com o Wessex Institute of Technology, e pretende distinguir percursos académicos de excelência na aplicação do método dos elementos de fronteira e de outras técnicas de redução de malha.
O Prof. António Tadeu é especialista em modelagem computacional. O seu percurso teve início com estudos para a aplicação de equações integrais à resolução de problemas na área sísmica, ainda no MIT, no âmbito do seu doutoramento. Regressado ao DEC, continuou os seus trabalhos alargando o âmbito das aplicações, nomeadamente a problemas térmicos e acústicos.
A primeira Medalha George Green foi atribuída na “37th International Conference on Boundary Elements and Other Mesh Reduction Methods”, em 2014 . DEC Noticias
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Professor Luís Simões da Silva Doutor Honoris Causa
onal qualidade do seu trabalho científico.
O início da colaboração do Prof. Luís Simões da Silva com a Universidade de Liège data já de 1993, no âmbito do projeto COST C1 (Control of the semi rigid behaviour of civil engineering structural connections). A colaboração tem se mantido sem interrupções, em vários domínios, nomeadamente através da participação conjunta em vários projetos europeus na área da construção metálica e mista.
O Prof. Luís Simões da Silva, professor catedrático do Departamento de Engenharia Civil da FCTUC (DEC), recebeu, no passado dia 24 de março, o grau de Doutor Honoris Causa pela prestigiada Universidade deLiège, na Bélgica.
Foi sob proposta da Faculdade de Ciências Aplicadas, que a Universidade de Liège decidiu atribuir o título de Doutor Honoris Causa ao Prof. Luís Simões da Silva, como reconhecimento da exceci-
O Prof. Luís Simões da Silva é Coordenador da área de Mecânica Estrutural do DEC, diretor do ISISE Institute for Sustainability and Innovation in Structural Engineering, unidade de investigação financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) que foi classificada como EXCELLENT na última avaliação (2014), e ainda presidente da CMM (Associação Portuguesa de Construção Metálica e Mista). É também membro efetivo da Academia da Engenharia desde 2015.
A Universidade de Liège não tem uma história "longa", comparativamente com outras universidades europeias. Foi fundada apenas em 1817, por iniciativa do rei Guillermo I da Holanda, como o culminar de uma longa tradição intelectual que remonta às origens do Principado de Liège. A reputação das escolas medievais que deram origem à Universidade, deram a Liège o apelido da "Atenas do Norte" ou "Nova Atenas”. A Universidade de Liège , tem atribuído o título de doutor honoris causa a diversas personalidades como reconhecimento da excelência da qualidade do trabalho e contributo fundamental para o progresso da sociedade. Desde a sua fundação, a Universidade de Liège concedeu o prêmio de doutor honoris causa a mais de 550 figuras públicas, entre os quais Louis Pasteur, Ilya Prigogine, Umberto Eco, Rei Baudouin, Frederico Mayor, François Mitterrand, Nelson Mandela, Yasser Arafat e Shimon Peres, Helmut Kohl, Robert Badinter, SM King Albert II, Nancy Huston, Pierre Alechinsky Agnès Varda, Abdou Diouf, Frank De Winne, Matthieu Ricard, Pierre Rabhi e Erik Orsenna. O título também foi concedido a associações como a Amnistia Internacional, Médicos Sem Fronteiras, e o Fundo Mundial para a Natureza.
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Mobilidade Internacional
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No ano passado, foram amplamente comemorados os 30 anos do Programa ERASMUS, aprovado em junho de 1987 e classificado por muitos como uma das realizações mais bem sucedidas da Comissão Europeia, tendo permitido a muitos jovens europeus mas igualmente aos seus professores e ao pessoal técnico das universidades alargar os seus horizontes e contactar com outras realidades, bem como desenvolver competências posteriormente valorizadas pelos empregadores. O Erasmus+ teve início no dia 1 de Janeiro de 2014 e veio substituir os anteriores programas de financiamento da Comissão Europeia para as áreas da educação, formação, juventude e desporto, nomeadamente: o Programa de Aprendizagem ao Longo da Vida LLP ERASMUS, o Programa Juventude em Ação e outros programas internacionais, incluindo o Jean Monnet e o Erasmus Mundus.
A Universidade de Coimbra (UC) desde há muito participa ativamente e incentiva os seus estudantes e docentes a usufruir de iniciativas de intercâmbio entre universidades pertencentes a diferentes redes, nacionais e internacionais, promovendo o seu crescimento e aprendizagem em cenários mais globalizados.
O Departamento de Engenharia Civil (DEC) tem proporcionado aos seus alunos a realização de um período de estudos noutras instituições congéneres nacionais e estrangeiras de mérito reconhecido nas áreas da Engenharia Civil e da Engenharia do Ambiente, no âmbito de um conjunto de Programas de Mobilidade de Estudantes (PME). Estes PME visam fundamentalmente incentivar o intercâmbio internacional de estudantes do ensino superior, ao mesmo tempo que permitem aprofundar as relações institucionais do DEC com outras escolas de referência nas áreas temáticas lecionadas. Estas relações de intercâmbio preveem tanto o envio (OUTgoing) como a receção de alunos (INcoming) durante um período pré estabelecido. No âmbito do Programa ERASMUS+, os alunos têm ainda a possibilidade de realizar estágios não curriculares no estrangeiro, em empresas, centros de investigação ou numa instituição de ensino superior em contexto de trabalho, sendo esta oportunidade alargada aos recém graduados, que podem realizar um período de mobilidade até um ano após a graduação.
Complementarmente, a celebração dos acordos bilaterais tem permitido alargar
o intercâmbio a docentes (ou mesmo a pessoal não docente), nomeadamente para efeitos de participação em seminários temáticos, workshops, palestras e outras atividades pedagógicas (e de formação), de investigação e de cooperação científica.
No DEC, o intercâmbio de alunos conta já com mais de 25 anos de existência, tendo se iniciado com um acordo bilateral estabelecido entre o DEC/UC e a Universidade de Liége (Bélgica), envolvendo ainda as Universidades de Santander (Espanha), Bari (Itália) e Exeter (Reino Unido). Desde então, o número de acordos tem vindo a aumentar de modo significativo, maioritariamente devido à iniciativa de alguns docentes do DEC, mas também por iniciativa da Divisão de Relações Internacionais (DRI) da UC ou de serviços congéneres de universidades estrangeiras, ou ainda de alguns alunos do DEC. Esses acordos são formalmente estabelecidos pela Divisão de Relações Internacionais da UC, sob proposta do Coordenador de Mobilidade Departamental.
Hoje em dia o DEC conta com cerca de 150 acordos bilaterais com instituições de ensino superior distribuídas pela Europa e pelo resto do mundo (ver mapa).
Evolução
DEC DEC Noticias | 1º Trimestre 2018 21
Identificação esquemática dos países com os quais existem acordos bilaterais de mobilidade formalizados.
da Mobilidade de Estudantes do
Estes acordos preveem o intercâmbio por períodos que variam entre 6 e 12 meses, dependendo da instituição com a qual o acordo é formalizado. Os créditos obtidos na Instituição de Acolhimento, durante o período de intercâmbio, são mutuamente reconhecidos (numa base ECTS European Credit Transfer and Accumulation System), mediante o estabelecimento de um plano de estudos devidamente discutido, aceite e aprovado pelas duas instituições envolvidas (que integra o contrato de estudos do aluno e se designa por Learning Agreement).
O programa de mobilidade ERASMUS+ continua a ser o mais procurado pelos alunos, contando atualmente com 40 acordos bilaterais estabelecidos na área da Engenharia Civil e com 20 na área da Engenharia do Ambiente, distribuídos por instituições de 14 países europeus, designadamente Alemanha, Bélgica, Bul-
gária, Croácia, Eslovénia, Espanha, França, Grécia, Hungria, Itália, Polónia, República Checa, Roménia e Suécia. Contudo, é possível contar também com outros PME, designadamente o MAUI/Rede de Utrecht (envolvendo 15 acordos com universidades norte americanas), o AEN/ Rede de Utrecht (com 7 acordos formalizados com universidades australianas), e ainda com outras instituições internacionais (assumindo um grande peso as universidades brasileiras, com cerca de uma centena acordos bilaterais nas áreas das ciências e das engenharias). Por seu lado, pode se referir o programa de mobilidade nacional, o Programa Almeida Garrett, que engloba instituições de ensino nacionais, incluindo ilhas, e que conta já com um total de 16 acordos bilaterais.
A adesão dos alunos aos PME, em termos globais, tem vindo a aumentar ao longo dos anos, tanto pelo aumento da oferta, como pelo crescente reconheci-
mento das vantagens associadas a este tipo de intercâmbio. Esta experiência tem permitido aos alunos levar a cabo um período de estudos numa instituição com diferentes recursos e meios, métodos de ensino, docentes e colegas, ao mesmo tempo que lhes proporciona o contacto com diferentes estilos de vida, culturas, sociedades, locais, etc., numa vivência conjunta de novas experiências académicas, sociais e profissionais. Contudo, a redução do número global de alunos do DEC particularmente nos últimos três anos, refletiu se numa redução do número de alunos com possibilidade de realização de PME, e por inerência na redução de alunos OUTgoing; por outro lado, saliente se um número muito significativo de mobilidades INcoming, em 2012, relacionado com o programa brasileiro Ciência sem Fronteiras, ou o número muito interessante de alunos estrangeiros recebidos no DEC nos últimos dois anos letivos.
Evolução do número de alunos envolvidos em períodos de mobilidade no DEC (OUTgoing:
acolhidos no DEC).
Por parte dos alunos do DEC que se interessaram pela realização de mobilidades no exterior da UC, a procura tem se mantido quase em exclusivo em relação a Instituições Europeias e a Universidades Brasileiras, registando se uma procura meramente pontual de outros programas de mobilidade. Em relação aos dois últimos anos letivos, em 2016/17
foram 21 os alunos de Engenharia Civil e de Engenharia do Ambiente que realizaram períodos de mobilidade, 15 dos quais no âmbito do Programa ERASMUS+ e 6 no âmbito dos convénios com universidades brasileiras e com a Universidade de Macau. No ano letivo de 2017/18, o número de alunos em mobilidade decresceu (13), com 9 períodos de mobilidade no âmbito do Progra-
ma ERASMUS+, 2 que tiveram como destino o Brasil e uma mobilidade realizada noutra universidade portuguesa, ao abrigo do Programa Almeida Garrett. Nos anos letivos mais recentes, tem se registado alguma diminuição do número de alunos em mobilidades fora do DEC, particularmente notória nos alunos que procuravam as universidades brasileiras.
alunos do DEC a realizar mobilidade no exterior; e INcoming: alunos
DEC Noticias | 1º Trimestre 2018 22
Como já se referiu, o menor número de alunos que tem saído do DEC em mobilidade tem sido fortemente compensado, nos últimos três anos letivos, pela vinda de alunos de universidades estrangeiras para estudar em mobilidade no DEC. De facto, em 2016/17, o DEC recebeu 59 alunos oriundos de diferentes universi-
dades e, em 2017/18, acolheu 58 alunos de mobilidade (provenientes, designadamente, 18 do Brasil, 17 de Itália, 12 de Espanha, 3 de França, 3 da Polónia, 2 da Argentina, 1 da Alemanha, 1 da Eslovénia e 1 da República Checa). É possível registar que, desde 2010, cerca de 200 alunos do DEC (maioritariamente do
Evolução do número de alunos do DEC a realizar períodos de mobilidade em universidades europeias e brasileiras (OUTgoing).
MIEC) participaram em períodos de mobilidade noutras universidades, e que, no mesmo período, o número de alunos estrangeiros que realizaram as suas experiências de mobilidade no DEC será de aproximadamente o dobro daquele valor (uma proporção semelhante à verificada, globalmente, na UC).
Terminou recentemente o período para manifestação do interesse dos alunos do DEC que pretendam realizar um período de mobilidade durante o próximo ano letivo de 2018/19. De um total na UC que ultrapassa as 1450 pré candidaturas a mobilidades OUTgoing, registaram se 21 que correspondem a candidaturas de alunos de Engenharia Civil e do Ambiente do DEC. Essas candidaturas foram já seriadas e encontram se atualmente em análise e preparação dos respetivos planos de estudos, correspondendo praticamente na totalidade a mobilidades a realizar em instituições europeias, ao abrigo do Programa ERASMUS+.
O cenário de recessão económica e social que afectou o país e o mundo nos últimos anos, afetou de forma marcante, particularmente a indústria da Construção Civil. Este aspeto conjuntural, agravado pelos fortes condicionalismos orçamentais ligados ao investimento público,
conduziu a uma procura privilegiada de países emergentes, como foi o caso do Brasil. Recentemente os alunos voltaram a procurar maioritariamente países europeus, designadamente na fase conclusiva dos seus estudos, na expectativa de estabelecerem ligações sociais e profissionais. Apesar desta conjuntura negativa, e numa altura em que poderão ter surgido sinais de viragem, o DEC tem se revelado capaz de atrair um número igual ou superior de alunos vindos de instituições estrangeiras, o que certamente se deve à sua elevada reputação internacional que é acompanhada por um esforço crescente por parte da instituição e do seu corpo docente na recepção e no acompanhamento destes alunos, garantindo a sua devida integração e êxito académico.
Evolução do número de alunos de mobilidade acolhidos no DEC (INcoming).
DEC Noticias | 1º Trimestre 2018 23
Paulo Amado Mendes Ana Bastos João Vieira
Marca de qualidade EUR ACE® foi atribuída aos dois Cursos de Mestrado Integrado do Departamento de Engenharia Civil.
O DEC tem os seus dois cursos de Mestrado Integrado reconhecidos pela ENAEE (European Network for Accreditation of Engineering Education) através da atribuição da Marca de Qualidade EUR ACE®. Em junho o DEC já tinha visto reconhecido o seu curso de Mestrado Integrado em Engenharia Civil (MIEC) e em agosto foi a vez do Mestrado Integrado em Engenharia do Ambiente, receber essa mesma marca de qualidade.
A marca EUR ACE® é um certificado concedido a cursos de Engenharia do Ensino Superior, baseado na avaliação de um conjunto de requisitos que integra requisitos educacionais e as opiniões e perspetivas das principais partes interessadas no processo, entre outras, os atuais e antigos estudantes, empregadores, instituições e autoridades locais, bem como associações de profissionais ou agências de acreditação.
Este sistema de acreditação consubstancia se na valorização acrescida dos diplomados perante o mercado de trabalho, tanto nacional, como internacional, conferindo ao curso a garantia de cumprimento dos padrões de qualidade e o seu reconhecido pelos empregadores na Europa e no mundo. Neste contexto, o elevado reconhecimento internacional do EUR ACE® é um elemento facilitador da mobilidade académica e profissional.
Em Portugal, a entidade emissora desta Marca de Qualidade às Instituições de Ensino Superior é a Ordem dos Engenheiros, devidamente credenciada pela ENAEE. A Marca de Qualidade EUR ACE® representa, assim, o início de um novo ciclo de acreditação a nível Europeu, visando a mútua acreditação de cursos de Engenharia com critérios de reconhecida exigência
O selo EUR ACE, atribuído ao MIEC e ao MIEA é válido por seis anos, o período mais longo concedido pela Ordem dos Engenheiros.
DEC Noticias | 3ºTrimestre2018 24
Medalha de Ouro Professor Laginha Serafim
(atítulopóstumo)
A Ordem dos Engenheiros, no Dia Nacional do Engenheiro, dia 24 de novembro, atribuiu a Medalha de Ouro, a tulo póstumo, ao Prof. Joaquim Laginha Serafim. Foi a primeira vez que a OE atribuiu a medalha de ouro, a tulo póstumo. Segundo as palavras do Bastonário, era uma dívida histórica que devia ser paga, e que nunca é tarde para reparar os erros do passado. A medalha foi recebida pela sua filha, Engenheira Margarida Laginha.
DEC No cias | 4º Trimestre 2018 25
O Dia Nacional do Engenheiro, decorreu no dia 24 de novembro, na Fundação Engenheiro António deAlmeida,noPorto.
A Ordem dos Engenheiros (OE) atribuiu a Medalha de Ouro, pela primeira vez, a título póstumo, ao Prof. Joaquim Laginha Serafim, pela mão da sua filha, Engenheira Margarida Laginha. Segundo as palavras do Bastonário, Engenheiro Carlos Mineiro Aires, era uma dívida histórica que devia ser paga, pelo que, dirigindo se diretamente à filha, justificou da seguinte forma esta atribuição: “Os engenheiros são pessoas agradecidas, alguns dos nossos pares se distinguiram durante a vida, e que, por uma razão ou por outra, a sua Ordem profissional na altura não lhes prestou a devida homenagem e reconhecimento público. Foi entendimento do atual Concelho Diretivo Nacional, apesar da distância do tempo que
nos faz com que a presença física do nosso colega Laginha Serafim, nós temos uma dívida de gratidão … recordo me que naquela altura foi talvez o engenheiro a nível internacional mais conhecido como barragista, toda a gente sabe, que criou uma grande empresa, mais tarde em Portugal, e portanto, esta era uma dívida histórica, que devia ser paga, que devíamos aos Portugueses, e que devíamos a nós próprios. E nunca é tarde para reparar os erros. Foi um esquecimento! E é isso que estamos a fazer, hoje, e espero que sejamos acompanhados, por todos, com o mesmo sentimento de gratidão em relação ao seu pai.”
Durante a sua intervenção, a filha, de forma emocionada, agradeceuahomenagem: “… A homenagem que é hoje prestada a Joaquim Laginha Serafim, dá alto sentido e dignidade profissional aos engenheiros portugueses. Nome de grande importância que dentro e fora de Portugal deu fama e prestigio relativamente às conquistas científicas e técnicas no domínio da engenharia das barragens e dos aproveitamentos hidroelétricos, nomeadamente através da fundação da empresa COBA, em 1962. A sua obra, foi sem dúvida um paradigma de um esforço individual em prol do esforço coletivo. Interessado, ativo na análise e no empenhamento dos problemas sociais e humanos, pronto conselheiro, Joaquim Laginha Serafim foi também para os seus colegas, alunos e colaboradores, um amigo! O rasto que transmitiu pela sua paixão pelo saber e pelo estudo, bem como pela sua grandeza de ser corajoso, verdadeiro e honesto, deixa nos muitas saudades...
Antes que termine permitam me Excelências e Sr. Bastonário que exprima, invocando o meu pai, o nosso agradecimento pela honra que nos foi concedida em exaltar a sua memória, 24 anos após a sua morte. Muito obrigada!“
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Seguiu se a intervenção do Dr. Ricardo Oliveira,enquantocolega,amigoerepresentante da COBA. A sua intervenção é aqui reproduzida quase na totalidade: “É com muita satisfação, e é para mim uma honra, associar me, ao convite do Bastonário, para estar presente na homenagem da OE a Laginha Serafim (LS). Participei já em várias homenagens, em sua memória, já lá vão 24 anos, com destaque para as iniciativas da COBA, da Universidade de Coimbra e da Comissão Nacional Portuguesa das Grandes Barragens. Coube me naturalmente, tal como hoje, recordar e enfatizar a sua ação como investigador, projetista, empresário, professor e homem do mundo. Por o ter acompanhado em muitas dessas atividades, nos cerca de 30 anos do nosso permanente convívio, e de ter assegurado a presidência da COBA já após a sua saída, bem como da saída dos seus sócios e dos seus amigos fundadores também da empresa. LS, como digo, foi um dos fundadores da COBA em 1962, e foi sem dúvida oprincipal impulsionador da empresa durante os primeiros 25 anos da sua existência, durante os quais ele presidiu aos seus destinos e à sua atividade.
Conheci o LS em Janeiro de 1960 quando então ingressei no LNEC, como assistente, e com ele aí privei até 1963, quando da sua saída do laboratório, então, ele, chefe do serviço de barragens. Apesar da diferença de idades, criou se entre nós, desde logo, um clima de franca conivência de amizade nas tertúlias diárias que em breves minutos animavam o início dos nossos dias de trabalho. Foi justamente em razão desse relacionamento e da amizade que em múltiplas situações fui cimentando também com o Eng. António Ferreira da Silveira, que o substitui na chefia do serviço de barragens, fui por eles convidado para, em acumulação ao LNEC, colaborar regularmente na COBA, na área da Geotecnia, nos finais de 68, colaboração essa que se mantém e que tem hoje 50 anos de idade. Com ele viajei por todo o país e um pouco por todos os continentes, estudando locais de barragens, participando em reuniões com clientes privados e institucionais, contactando com o Banco Mundial, as Nações Unidas, e outras instituições financiadoras dos programas bilaterais, participando em simpósios e congressos internacionais, enfim, com ele aprendendo todas estas vertentes da vida profissional, ao
mesmo tempo que cimentávamos profunda amizade, numa base de respeito mútuo e, pela minha parte, de grande admiração das suas qualidades intelectuais e pessoais, que lhe permitiam a penetração fácil em todas as instituições e o acesso direto aos seus mais importantes responsáveis.
LS foi investigador distinto, engenheiro inspirado, professor brilhante, personalidade eminente. Teve uma carreira invulgar reconhecida em Portugal e mais ainda no estrangeiro, onde, como já foi dito, recebeu várias distinções, entre elas os doutoram honoris causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade de Liège. A ela sempre se entregou com o melhor do seu saber e a energia da sua prolongada juventude. Era um espírito irrequieto, que sempre buscava inovação nas oportunidades de intervenção que se lhe deparavam. A sua independência e o engenho resultante da sua inteligência foram durante anos os principais ingredientes, os responsáveis pelo desenvolvimento da COBA, e pela criação de outras COBAS noutros países, como, nomeadamente no Brasil, em Espanha e na Grécia, que tiveram uma atividade notável
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Faço uma referência (peço licença para o fazer), para dizer que os presentes, a maioria dos presentes sabe que o Brasil, hoje em dia é um grande país, com um número notável de barragens de aproveitamento hidroelétricos. A única barragem de betão abóbadas múltiplas que ainda existe no Brasil é a barragem do Funil, projetada pela COBA, projeto esse liderado pelo LS, nos anos 60. Em paralelo, ele próprio, graças ao prestígio internacional justamente granjeado no domínio das barragens e da Mecânica das Rochas, ia desenvolvendo significativa atividade de consultor independente para alguns dos mais importantes empreendimentos mundiais, no âmbito dos aproveitamentos hidroelétricos. Por tudo isto, e porque tinha fácil poder de comunicação em várias línguas, foi igualmente notável a sua atividade internacional,
associativa, com realce para a desenvolvida no seio da Comissão Internacional das Grandes Barragens, onde foi presidente de comissões, relator geral de congressos, animador de debates e finalmente seu presidente no período entre 1988 e 1991.
O gosto do ensinar, que praticava constantemente na COBA junto dos seus colaboradores, levou o até ao prestigiado MIT nos EUA, onde foi professor visitante no ano letivo 1964/65, e a ingressar, em 1972, como também já foi referido aqui, na Universidade de Coimbra, onde iniciou oprimeiro curso de Engenharia Civil, e onde permaneceu cerca de 20 anos, até à sua jubilação.
Lutador pelos seus ideais, também políticos, sofrendo por isso algumas consequências, mas sendo, por seu lado, ele próprio consequente, LS rumou a Moçambique em 1977, para lecionar, por um ano, como professor de engenharia civil na Universidade de Eduardo Mondlane, em resposta a um desafio pessoal do Presidente Samora Machel, que lhe disse: “o meu amigo está sempre a dizer que é amigo de Moçambique, o meu amigo foi um dos principais responsáveis pelo projeto da barragem de Massingir, mas só quer vir cá e vai embora…” Ele tomou isso como um desafio, aceitou o desafio, e foi para África, com a sua mulher, durante o ano de 1977, onde foi professor na Universidade Eduardo
porariamente, obviamente, as atividades que tinha na UC e também na COBA.
Homem culto, e de cultura, interessou se igualmente por outros temas, com realce para a História, a Filosofia, as Ciências sociais e a Literatura, chegando mesmo a publicar, para além de numerosos textos sobre esses temas, o livro Irecaldom, historiador humanista, editado em 1983 pela Editorial Europen. A sua clarividência, e também, não esquecendo nesse aspeto os seus dois companheiros de aventura, levou o à conclusão, então com pouco mais de 65 anos, que o esforço físico e psicológico exigidos para assegurar a gestão da empresa começava a ser exagerado, já tinha cerca de 400 pessoas, tendo conduzido a questão de forma a criar condições para que um novo e jovem concelho de administração surgisse do interior da empresa, para, numa solução de continuidade, prosseguir a obra que, com tanta dedicação e esforço ele fez nascer no início da década de 60. Por tudo isto, não podia ser, na minha modesta opinião, mais merecida, esta homenagem que a OE hoje lhe presta. Em nome da COBA e da sua amizade, muito obrigado também!”
Na plateia, foram vários os docentes do DEC que fizeram questão de estar presentes nesta sessão e assim homenagearem aquele que foi um dos fundadores e das personalidades mais notáveis que passarampeloDEC.
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A eleição do Reitor da Universidade de Coimbra é feita, desde 2011, em reunião plenária do Conselho Geral da instituição. O organismo é constituído por 35 membros: 18 representantes dos professores e investigadores, cinco representantes dos estudantes, dois representantes dos funcionários não docentes e não investigadores e dez personalidades de reconhecido mérito, externas à Universidade.
O Conselho Geral da UC, em reunião plenária de 11 de fevereiro, elegeu o Professor Amílcar Falcão, Professor Catedrático na Faculdade de Farmácia, para o cargo de Reitor, para o mandato 2019 2023. O seu programa de ação é intitulado “Citius, Altius, Fortius” (inspirado no lema olímpico “mais alto, mais forte, mais longe”). Os outros candidatos à eleição do Reitor da Universidade de Coimbra para o mandato 2019 2023 foram Duília Fernandes de Mello, Ernesto Costa e José Pedro Paiva.
A investidura do novo Reitor e a tomada de posse da restante equipa reitoral teve lugar na Sala dos Grandes Atos (Sala dos Capelos), no dia 1 de março, dia da Padroeira da Universidade de Coimbra, dia que a UC comemorou 729 anos de existência. A equipa que vai acompanhar o Reitor é composta por oito vice reitores e dois pró reitores, e inclui dois Professores do DEC, o Prof. Luís Simões da Silva e o Prof. Alfredo Dias.
O DEC na nova equipa Reitoral
Professor Luís Simões da Silva
O Prof. Luís Simões da Silva foi nomeado Vice Reitor para opelouro da Inovação e Empreendedorismo
DEC Noticias | 1º Trimestre 2019 30
Reitor
Reitor
DEC Noticias | 1º Trimestre 2019 31
Reitor
Professor Raimundo Mendes da Silva
Adjunto no Gabinete da Secretária de Estado da Habitação
Na sequência da coordenação do projeto “Reabilitar como Regra”, concluído em março de 2019, o Professor Raimundo Mendes da Silva foi convidado a integrar o Gabinete da Secretária de Estado da Habitação (SEH), onde desempenha as funções de adjunto desde 1 de abril.
A Engª Catarina Mouraz, que concluiu o MIEC e o MRE no DEC e que agora está inscrita no PDEC também integra, neste momento, a equipa da SEH, com a função de Técnica Especialista.
O docente coordenou, também por nomeação da Secretária de Estado da Habitação, arquiteta Ana Pinho, o projeto “Reabilitar como Regra” (“RcR”), desenvolvido entre novembro de 2017 e março de 2019, e que tinha como principal objetivo a “revisão do enquadramento legal e regulamentar da construção, de modo a adequá lo às exigências e especificidades da reabilitação”, conciliando as “(…) atuais padrões de segurança, habitabilidade, conforto e de simplificação do processo de reabilitação, com os princípios da sustentabilidade ambiental e da proteção do património edificado, em sentido lato”.
O projeto RcR integra um conjunto de medidas estruturantes da “Nova Geração de Políticas de Habitação” (NGPH) do XXI Governo Constitucional, em que a reabilitação do edificado é uma das suas peças fundamentais, não só para recuperar o parque edificado, com qualidade e custos racionais, com maior segurança para todos os atores, mas também para aproximar Portugal das metas e práticas europeias, neste setor, de
forte impacte ambiental.
O projeto RcR foi criado pela Resolução do Conselho de Ministros nº 170/2017 e foi concretizado através de Protocolo de Colaboração entre o Fundo Ambiental, o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) e o Instituto Pedro Nunes (IPN), da Universidade de Coimbra, e foi acompanhado por uma Rede de Pontos Focais, constituída por 23 entidades públicas e privadas do sector:
1. Governo Regional dos Açores
2. Governo Regional da Madeira
3. Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana
4. Laboratório Nacional de Engenharia Civil
5. Inst. Mercados Públicos, do Imobiliário e da Construção
6. Instituto Nacional para a Reabilitação 7. Turismo de Portugal
8. Instituto da Segurança Social 9. Direção Geral do Território 10. Direção Geral de Energia e Geologia 11. Direção Geral do Património Cultural 12. Direção Geral das Autarquias Locais 13. Direção Geral de Segurança Social 14. Direção Geral das Atividades Económicas 15. Conselho Nacional do Consumo 16. ADENE Agência para a Energia 17. ANACON Autoridade Nacional de Comunicações
18. Autoridade Nacional de Proteção Civil 19. Associação Nacional de Municípios Portugueses 20. Ordem dos Engenheiros 21. Ordem dos Engenheiros Técnicos 22. Ordem dos Arquitetos 23. Conf. Portuguesa da Construção e do Imobiliário
O projeto surgiu como imperativo para ultrapassar o desajustamento do quadro regulamentar à reabilitação, que se pode resumir em cinco aspetos principais:
• O quadro regulamentar em vigor está direcionado para a construção nova;
• A regulamentação é fragmentada, muitas vezes contraditória, e de difícil interpretação e aplicação a edifícios existentes, face à sua diversidade;
• Em 2014 foi criado um regime de exceção polémico e perigoso, cujo impacte não é suficientemente conhecido, controlado ou controlável (DL 53/2014 RERE ou RERU);
• A preocupação com a preservação dos valores patrimoniais do edificado corrente (não classificado) não se encontra definida ou balizada;
• A preocupação com a sustentabilidade ambiental é praticamente inexistente no corpo regulamentar e muito incipiente na prática de projeto de reabilitação.
O projeto RcR apresentou propostas de alteração regulamentar para ultrapassar ou mitigar estas dificuldades, em diversos domínios, nomeadamente: RGEU (Regulamento Geral das Edificações Urbanas), Segurança contra incêndios, Comportamento térmico e eficiência energética, Comportamento acústico, Acessibilidades, Instalações.
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Crê se que as propostas do projeto RcR, que em breve serão tornadas públicas e fazem ainda a articulação com o domínio da segurança estrutural, incluindo a segurança sísmica, permitem responder às seguintes expectativas:
• Enquadramento regulamentar adequado à especificidade da reabilitação;
• Revogação do Regime Excecional (RERU) DL 53/2014; (*)
• Respeito pelo património construído corrente;
• Sustentabilidade ambiental das intervenções, sobretudo material;
• Melhoria progressiva da qualidade e intervenções equilibradas e proporcionadas;
• Flexibilidade para responder à diversidade do parque construído. Uma vez terminados os trabalhos do projeto RcR, onde também colaboraram outros docentes do DEC
(Professores Luís Godinho, Diogo Mateus, Ana Ferreira, Tiago Ferreira), alunos de Mestrado em Reabilitação de Edifícios e alunos do Programa Doutoral em Engenharia Civil, tornava se necessário fazer a apresentação e discussão dos resultados com as dife-
rentes entidades e áreas governativas, tendo em vista a sua consagração legal. É neste contexto que surge a nomeação do Prof. Raimundo Mendes da Silva, que se prevê prolongar se até ao encerramento do processo legislativo.
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Última Lição do P
rof. Lusitano
opassado dia 24 de Fevereiro o Professor Lusitano proferiu a sua “última lição”, tal como anunciado. O Auditório Laginha Serafim, apesar dos seus 230 lugares, foi pequeno e algumas pessoas tiveram de ficar em pé. Foram muitos os colegas, funcionários e alunos do DEC, colegas do seu tempo de estudante, um dos seus professores e ainda muitos membros da nossa Sociedade que estiveram presentes. Todos quiseram despedir se do Prof. Lusitano “enquanto professor de forma regular”, pois tal como o Prof. Pais Antunes acentuou: um professor será professor durante toda a vida. A apresentação foi feita pelos Professores João Pedroso de Lima (enquanto Director do DEC) e António Pais Antunes (enquanto representante da área). A lição versou sobre a Evolução da Legislação dos Planos, incluindo Os Velhos e Novos Calvários. Teve o suporte de 70 slides, número especialmente escolhido pelo Prof. Lusitano, por ser aos 70 anos que se dá a última lição. A lição foi seguida com grande interesse por todos, havendo mesmo alguns momentos de risotas dado o bom humor transmitido pelo Prof. Lusitano. No final, após uma grande ovação da plateia, a Prof. Anabela Ribeiro (enquanto herdeira das actividades lectivas deixadas pelo Prof. Lusitano) agradeceu a excelente lição em nome de todos. Formou se depois uma longa fila de pessoas que fizeram questão de felicitar pessoalmente o recém Jubilado.
Encontro de Águas a última lição assinala a Jubilação do Professor Catedrático da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC). A cerimónia teve lugar, às 17 horas, no Auditório Laginha Serafim do Departamento de Engenharia Civil da FCTUC, no Polo II da Universidade de Coimbra. Fernando Seabra Santos, cientista de reconhecido mérito, é Doutorado pela Universidade de Grenoble (França), na área de Oceanografia Física, e foi o primeiro coordenador da Licenciatura em Engenharia do Ambiente da FCTUC.
Reitor da Universidade de Coimbra entre 2003 e 2011, os seus mandatos ficaram marcados pela criação do Instituto de Investigação Interdisciplinar, do Colégio das Artes, do Grupo Coimbra de Universidades Brasileiras e do Museu da Ciência. Em abril de 2003 lançou a candidatura da Universidade de Coimbra a Património da Humanidade, cujo dossier coordenou diretamente durante oito anos e apresentou formalmente à UNESCO em dezembro de 2010.
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Entre 2007 e 2010, ocupou o cargo de presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), período em que decorreram as
Ao nível empresarial, Seabra Santos fundou a Friday - Ciência e Engenharia do Lazer, SA com o objetivo de conceber, projetar, construir e co-
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A Lição Laginha Serafim 2017 decorreu no passado dia 28 de março integrada nas Conferências do DEC@2017 e foi proferida pelo Eng. José Machado do Vale. O orador é ex docente do DEC e atual Vice presidente e Chefe Executivo da CARPI TECH, com sede na Suiça. A relevância e o interesse do tema abordado “A ampliação do Canal do Panamá A obra do século XXI” trouxe ao DEC colaboradores, simpatizantes, ex e atuais alunos e docentes do DEC, esgotando a capacidade do Anfiteatro Laginha Serafim.
O Prof. Álvaro Seco, na sessão de abertura, relembrou a génese da Lição Laginha Serafim, evento que procura homenagear o Prof. Laginha Serafim o qual conjuntamente com o Prof. Vitor Graveto, foi um dos grandes responsáveis pelo bem sucedido lançamento do Departamento de Engenharia Civil na UC, no ano de 1972. Realçou que o evento procura permitir que os atuais docentes e alunos dos vários cursos, de todos os ciclos de ensino, desde a licenciatura ao doutoramento, conheçam e beneficiem
da experiência de alguns dos mais ilustres ex docentes e ex alunos do DEC, dos últimos quase 50 anos. A sessão prosseguiu com a Lição Laginha Serafim. O Eng. Machado Vale começou por fazer uma breve apresentação da história do canal antigo, uma obra do Século XIX, bem como das maiores dificuldades que enfrentava nos últimos tempos, que essencialmente resultavam do elevado número de navios e da grande demora na travessia. Estas dificuldades conduziram à necessidade da abertura de um novo canal. O estudo do fluxo da água foi feito através de métodos numéricos, bem como de um modelo físico a escala reduzida, construído na Holanda. Após cerca de 6 anos de construção, o novo canal foi finalmente inaugurado em junho de 2016. O palestrante descreveu os aspetos técnicos mais relevantes associados a este tipo de obra, sempre de modo bastante interessante e esclarecedor. Considera esta obra como sendo atualmente “A OBRA DO SÉCULO XXI” por toda a sua grandiosidade e especificidade.
“
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Pela sua grandiosidade e especificidade a ampliação do Canal do Panamá será a obra do século XXI
”
sua licenciatura em Engenharia Civil pela FEUP, em 1968. Foi docente no DEC/ FCTUC e na Universidade de Aveiro, onde foi responsável pelas disciplinas de Resistência de Materiais, Materiais de Construção e Projecto de Obras. Foi sócio gerente da empresa Celestino F. Quaresma Lda, com sede em Coimbra, por mais de 25 anos. Foi Projetista com longo curriculum na área do Projecto de Estruturas de Edifícios, Pontes e Estruturas Especiais e autor de vários pareceres técnicos em obras públicas e privadas. Entre os múltiplos cargos que assumiu, destaca se ter sido Presidente do Conselho Directivo e Presidente da Mesa da Assembleia da Região Centro da Ordem dos Engenheiros (OE), Membro do Conselho Diretivo Nacional da OE e Membro do European Monitoring Comittee (EMC) da Federação Europeia das Associações Nacionais de Engenheiros (FEANI) para avaliação dos Planos de Estudo de Engenharia nos 33 países membros.
É membro Conselheiro da OE e Presidente do National Monitoring Committee (NMC) da FEANI em Portugal para a análise dos Planos de Estudo de Engenharia a incluir no FEANI INDEX e para a análise das candidaturas ao título de EURING Engenheiro Europeu. É Presidente do National Register Committee (NRC) para a análise das candidaturas ao Cartão de Engenheiro Europeu e respetiva emissão em Portugal.
É membro do CAQ Conselho de Admissão e Qualificação da OE, em representação da Engenharia Civil onde tem presidido ao Júris de Avaliação dos Planos de Estudo de Engenharia Civil para a atribuição do selo de Qualidade EURACE. Em representação da Ordem dos Engenheiros, tem participado em Júris de Acreditação da Agência de Acreditação A3ES dos Planos de estudo de Engenharia Civil. É autor de vários artigos de opinião nas áreas da Educação, do Ensino, da Engenharia, da Inovação e da Competitividade e é membro de várias associações científicas e técnicas ligadas à área das Estruturas, Estruturas Metálicas e Betão. Este artigo apresenta a Lição proferida no passado dia 13 de março, no auditório Laginha Serafim. Dada a sua extensão, houve a necessidade de cortar alguns pequenos excertos procurando se manter a sequência das ideias, o seu conteúdo e as emoções envolvidas. Fica desde já o pedido de desculpas pelos cortes efetuados.
A todos saúdo e cumprimento. Agradeço este convite ao Prof Luís Godinho e à Profª Ana Bastos. Sensibilizado, pela sua presença, saúdo o meu Bastonário Carlos Mineiro Aires. Saúdo também a colega Margarida Laginha Serafim e o Vasco, filha e neto do Prof. Laginha Serafim. A vossa presença tem aqui um profundo significado emocional.
Eu sinto me em casa. Ajudei a nascer este Departamento. Recordo com saudade o Professor Engenheiro Joaquim Laginha Serafim. Conheci o muito bem. Trabalhei com ele. Tive o como muito amigo e orgulho me disso. Aprendi com ele a ver mais longe. Recordo também que, nos 26 anos que por cá estive, em cada novo ano, no meio da mole humana de jovens que queriam ser engenheiros, se destacava sempre um grupo de dois ou três, com uma inteligência e uma capacidade de trabalho excecionais. Eles garantiram a continuidade e o elevadíssimo prestígio Nacional e Internacional que esta Instituição já atingiu. Esses jovens são agora professores de referência e estão aqui na minha frente. A emocionar me com a sua simples presença e com o inesperado convite que me foi feito, para aqui refletir sobre a nossa profissão,
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no âmbito da já tradicional Lição Laginha Serafim.
Entrei nesta Instituição em um de março de 1973, há 45 anos. Quando me iniciei aqui como Assistente, a vivência que eu já tinha da profissão levava me a incutir a necessária mentalidade profissional. É que, nesse tempo, Coimbra não tinha ainda sensibilidade para o que é fazer engenharia. Eu tinha o curso da FEUP que era então a melhor formação em Engenharia Civil que o País tinha. Entrei aqui com vontade de trazer a mentalidade da exigência e do rigor e nunca abdiquei disso. Houve recetividade e compreensão por todos os colegas. Os alunos tiveram que entrar nesse ambiente de exigência. Insistiu se nas ciências de base e nas ciências da Engenharia. Foi essa a principal razão do êxito e do prestígio atingido neste Departamento. Formaram se aqui e continuam a formar se engenheiros civis e, agora também engenheiros do Ambiente, altamente competentes.
Hoje, caros colegas, caras amigas, caros amigos e caros Estudantes, tenho uma visão mais alargada para além do Ensino e da investigação em Engenharia Civil. Para além mesmo do exercício da profissão de Engenheiro de qualquer especialidade. As funções que exerci na Ordem dos Engenheiros, a que continuo ligado como membro do CAQ Conselho de Admissão e Qualificação, as funções que tive durante seis anos na FEANI Federação Europeia das Associações Nacionais de Engenheiros e a ligação que ainda lá mantenho mostraram me preocupações e horizontes para que antes não estava sensibilizado. O contacto com colegas e com amigos dos 33 países membros da FEANI mostraram me realidades e mentalidades novas.
2. Os grandes nomes da Enge-
nharia
Civil em Portugal
Em certas profissões, os êxitos conseguem se à custa da comunicação social. A fama, o sucesso e o vedetismo conseguem se mediante certas modas, quase sempre efémeras. Mas isso não acontece na Engenharia!
Intervenção do Sr. Ministro
Os Engenheiros estão habituados não às páginas das revistas e dos jornais, não ao destaque fotográfico, não ao palco, não às luzes da ribalta. Mas aos bastidores, ao anonimato dos que trabalham, dos que fazem a qualidade de vida. Os engenheiros usam a inteligência, o engenho e a arte mas acabam por dar a fama aos outros. Por exemplo, quando se fala na pala do Pavilhão de Portugal em Lisboa, pensa se em Siza Vieira, mas poucos sabem que foi o Engenheiro Segadães Tavares que calculou e realizou essa pala. Não nos deixemos iludir e não nos atirem areia para os olhos! Um fez um risco com umlápispara dizero que gostava de ter e o outro responsabilizou se pela sua realização e pela sua segurança, através da Engenharia de Estruturas. É bom que se compare e se mostre à comunidade onde está a competência, a sabedoria, a responsabilidade e o mérito nestas duas atuações. É preciso contrariar esta tendência! Temos de relevar a importância da Engenharia Civil. Temos de lembrar e homenagear alguns dos grandes nomes que prestigiaram e prestigiam a Engenharia Portuguesa. Portugal, no século XX e no século XXI, pode orgulhar se de estar ao nível do melhor que se fez no mundo nas intervenções da Engenharia Civil. Começo por destacar aqueles que considero os dois Engenheiros Civis portugueses mais importantes do século XX: Manuel Rocha e Laginha Serafim. Manuel Rocha (1913 1981) foi o fundador do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) e foi um especialista de prestígio internacional na área da Mecânica das Rochas. Foi Presidente da Sociedade Internacional de Mecânica das Rochas e foi o mais prestigiado Bastonário da Ordem dos Engenheiros. O LNEC colaborou, desde o início, na realização de objetivos nacionais, como os primeiros programas de obras públicas, que tiveram início após a II Guerra Mundial. Mas cedo começou também a sua ação no mun-
Professor Laginha Serafim
do, com intervenção em todos os continentes, tanto no apoio ao desenvolvimento das colónias portuguesas, como na realização de inúmeros estudos e pareceres, para cerca de 50 países. Refiro, p.ex., o estudo do alargamento da praia de Copacabana. Ainda hoje o LNEC participa em dezenas de projetos internacionais, associado a outras entidades nacionais e estrangeiras.
Joaquim Laginha Serafim (1921 1994) foi, sem dúvida, o Engenheiro Civil português mais conhecido e prestigiado internacionalmente no âmbito da Segurança e Construção de Grandes Barragens. Foi Chefe da Secção de Barragens do LNEC, Membro e Vice Presidente da Comissão Internacional das Grandes Barragens. Foi Membro de Comissões Técnicas do Conselho Superior de Obras Públicas e Transportes, fundador da empresa COBA Consultores de Engenharia e Ambiente, com especial intervenção no projeto de Grandes Barragens. Foi ele, com Vítor Graveto, que fundaram o Curso de Engenharia Civil na FCTUC. Laginha Serafim foi um engenheiro do Mundo, chegou a ter escritórios em Lisboa, Madrid, Rio de Janeiro e Atenas. Ao mesmo tempo era Professor em Coimbra. Este anfiteatro tem o seu nome.
De entre os grandes nomes da Engenharia Civil Portuguesa no século XX, há ainda que destacar os Engenheiros Almeida Garrett, Joaquim Sarmento, Correia de Araújo, Edgar Cardoso, Joaquim Sampaio, Álvares Ribeiro, Costa Lobo, Armando Lencastre e Carvalho
“Portugal, no século XX e no século XXI, pode orgulhar se de estar ao nível do melhor que se fez no mundo nas intervenções da Engenharia Civil “
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Quintela. E, já no fim do século XX e início do século XXI, há que relevar os nomes de Segadães Tavares, Adão da Fonseca, Mota Freitas, Câncio Martins, Tiago Abecassis, António Reis, Armando Rito e Rui Furtado. Falemos agora da formação do engenheiro, e na sua posição na sociedade.
3. Ser Engenheiro hoje
Recordemos o que foi a Engenharia Civil na última metade do século XX. O ano letivo de 1968/69 foi o ano em que se atingiu o mínimo de estudantes em Engenharia Civil na FEUP e no IST. E eram estas as únicas Escolas a formar Engenheiros.
A partir da década de 50, Portugal começou a pensar na construção das suas infraestruturas básicas fundamentais. Portugal nada tinha porque era pobre e a Europa nada tinha, porque com a Grande Guerra, tinha tudo destruído. Tratamento de resíduos sólidos urbanos, redes de abastecimento de água potável, de saneamento básico, de gás natural, redes elétricas, de telecomunicações, Hidráulica Marítima, Hidráulica Fluvial, Irrigação, Hidráulica Agrícola, Autoestradas, Beneficiação de Estradas, Aproveitamentos hidroelétricos, Obras portuárias e fluviais, Construção intensa de edifícios com qualidade, Planeamento Regional e Urbano, e Grandes empreendimentos. Estava tudo por fazer e veio o tempo áureo da Engenharia em Portugal e no resto da Europa. Por isso, já na década de 70, os estudantes começaram euforicamente a procurar os cursos universitários de Engenharia Civil. Havia, então, muito prestígio da Profissão de Engenheiro Civil.
Os Engenheiros Civis, tocando nas seis áreas de intervenção (Construção, Estruturas, Hidráulica, Geotecnia, Vias de Comunicação e Transportes e Planeamento Regional e Urbano) eram, e são ainda, os profissionais de formação mais completa. Eram eles que dirigiam e resolviam os problemas de que o País precisava. E Portugal hoje é outro!
A formação em Engenharia preocupa
se com o detalhe das coisas. De facto, não se pode entender a totalidade sem ir ao pormenor de cada uma das partes. É isso que caracteriza o ensino em Engenharia. Nós adoramos o detalhe porque sabemos que sem o detalhe não podemos construir o todo.
A Engenharia é um fator determinante para o desenvolvimento económico das nações. Cada vez mais a criação e a produção de bens de grande valor fazem a diferença na balança comercial do mundo globalizado. A formação dos engenheiros deve privilegiar os conteúdos essenciais, preparando os para uma normal adaptação aos novos conhecimentos e a novas técnicas, privilegiando a capacidade de inovação. Mas a inovação tecnológica não é uma mera aplicação da ciência. Ela precisa não apenas do conhecimento científico, mas das próprias tecnologias já existentes que os engenheiros têm de conhecer e dos aspetos económicos e comerciais. A ciência, só por si, não faz progredir a inovação. As empresas têm de dialogar com as universidades. Têm de trabalhar em conjunto com a investigação científica e tecnológica.
As empresas portuguesas, e falo de algumas das mais importantes, ainda não procuram os engenheiros douto-
maioria, as empresas portuguesas são Pequenas e Médias Empresas e essas não têm capacidade para contratar doutores nem para financiar a investigação.
Não podemos aceitar a crítica comum de que o ensino da engenharia deveria ser mais prático, com mais componente de trabalhos e projetos! É que, se não houver cuidado, os trabalhos e as disciplinas de Projeto, podem transformar se num conjunto de receitas e de técnicas já muitas vezes repetidas, que se desatualizam e só trazem rotina e pouca ou nenhuma criatividade. Não devemos confundir, nem deixar que se confunda, a informação superficial com as bases científicas formativas do “saber pensar”, do “saber fazer” e do “ser capaz de inovar”.
A Universidade deve ensinar bem as ciências de base e as ciências de engenharia! É com essas ciências que se estuda um problema de engenharia. Que se entende o que vem nos livros e nos artigos científicos de engenharia. As técnicas e os modos de trabalhar desatualizam se com facilidade. Variam no espaço e no tempo. Os conhecimentos e a formação científica de base, esses não se desatualizam. É com esse background que se faz inovação, que se concebem novas técni-
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“Os Engenheiros Civis, tocando nas seis áreas de intervenção eram, e são ainda, os profissionais de formação mais completa“
Esse apenas resolve problemas concretos que já viu resolver. O que se pretende é alguém capaz de criar, capaz de gerir sistemas de informação e, com base na análise, seja capaz de planear a produção. O que se pretende é alguém que saiba interpretar quantitativamente a informação, mas com a intuição e a sensibilidade que o conhecimento científico proporciona no apoio à decisão. O que se pretende é que o engenheiro saiba aproveitar a informação para fundamentar as decisões e os processos e as técnicas que constituem a produção, sem nunca descurar a inovação.
Numa economia cada vez mais aberta, em que a competitividade e a produção de riqueza são alicerçadas no conhecimento e na capacidade de inovação, a formação dos engenheiros é um aspeto fundamental a ter em conta. Esta formação é tanto mais valiosa quanto mais eficaz e duradoura for a sua influência na vida profissional. A passagem da Universidade para a vida profissional tem de fazer se com uma bagagem de conhecimentos, de competências e de valores culturais e éticos, bem ajustada às exigências das situações em que a engenharia hoje atua. Em face do progresso científico e da constante inovação tecnológica, quando se fala da formação estamos, também, a falar de formação contínua
ao longo da vida. É preciso mentalizar, desde bem cedo, o jovem engenheiro para uma contínua atitude e capacidade de permanente aprendizagem. Na Universidade aprende se a aprender. Ninguém se forma de uma vez só. Ser Engenheiro é ser toda a vida estudante de Engenharia.
Fazer engenharia é inovar. Inovar é fazer melhor, em menor tempo e com menor custo. Em projeto ou em obra cada caso é um caso. É sempre preciso criar soluções novas. E não falo apenas na inovação tecnológica. Falo também na inovação na gestão e nas relações de trabalho.
A comunidade não entende e não sabe qual o verdadeiro valor da formação de um engenheiro civil. É preciso explicar lhe que, de todos os cursos existentes, a engenharia civil é seguramente o curso universitário que mais competências dá a um cidadão. E se lhe juntarmos alguma cultura geral, ética e social teremos num engenheiro civil o perfil mais completo para intervir ou para ser consultado nas grandes decisões nacionais.
No século passado, insistia se exclusivamente na formação científica de base e na formação técnica. Era o necessário para se ser engenheiro. Mas à maior parte deles faltou a cultura geral. E essa tem sido uma crítica apontada aos engenheiros pela comunida-
de. Aos estudantes e aos colegas mais jovens, eu quero deixar uma mensagem de confiança e otimismo. Com a formação de base que vocês trazem deste mestrado integrado, com a excelência exigida neste Departamento, não tenham qualquer receio de encarar a profissão de engenheiro civil qualquer que seja a área de atuação. Mas não queiram ser só engenheiros! Aprendam a gostar de música, das artes plásticas, da literatura, da poesia, do teatro, do cinema, do desporto e da informação do que se passa no mundo. Cultivem se! Um engenheiro que só sabe engenharia nem engenharia sabe! Sejam ambiciosos! Mas sejam pacientes, porque os êxitos não se conseguem de um dia para o outro! Não tenham medo de tomar decisões. Em face de um problema é pior não decidir do que ter medo de errar. É com os erros que se aprende. Só não erra quem não decide. Definam objetivos ambiciosos e atuem nesse sentido com a confiança de que esses objetivos vão ser atingidos. A vossa ambição tem que ser consequência da vossa formação e da vossa cultura, tem de vos levar a subir a fasquia
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“… com a excelência exigida neste Departamento, não tenham qualquer receio de encarar a profissão de engenheiro civil“
da qualidade, tem de vos levar ao nível do melhor no espaço global! O futuro está a dar vos uma dimensão que vos permite atuar em qualquer parte do mundo. Hoje tem de ser esse o vosso horizonte. Vocês vão ter que dialogar com uma grande diversidade de seres humanos e de sensibilidades. Na realização de um empreendimento, nos processos administrativos, em projeto ou em obra, intervêm sempre vários profissionais, cada um de sua especialidade. Um engenheiro civil nunca trabalha sozinho. Numa equipa de projeto, a solução ótima para a especialidade onde estamos a intervir pode não ser a melhor para a obra, porque pode colidir com outras especialidades. Há sempre que discutir e que negociar. A nossa credibilidade é fundamental para convencermos os nossos interlocutores de que a nossa solução é boa. E é a nossa cultura e o respeito pelos valores éticos e deontológicos que faz a nossa credibilidade. Há pessoas que pensam que a engenharia civil só serve para projetar e construir casas, mas ela tem competências de base científica para analisar os grandes temas nacionais. Os engenheiros têm de intervir nos problemas da comunidade como os respeitantes à Segurança nas suas diversas vertentes: Segurança e Higiene no Trabalho, Segurança rodoviária, Segurança contra incêndios, Segurança estrutural,
Segurança em caso de catástrofes e fenómenos naturais, Segurança na construção, Segurança ambiental, etc. Têm de sensibilizar a comunidade e o poder político para entender que as pontes, os edifícios, as barragens, as autoestradas, os aeroportos, etc. tal como os seres vivos, têm a sua vida útil e as suas doenças e hão de acabar um dia. É preciso olhar permanentemente para a sua saúde. E só os engenheiros civis têm competência para realizar a manutenção e a beneficiação das obras existentes, monitorizando o seu estado estrutural de conservação e avaliando a sua fiabilidade.
É preciso sensibilizar para a necessidade de se incentivar os processos de certificação dos edifícios no que respeita à qualidade da construção. Quem compra uma casa tem que saber o que está a comprar. É preciso ainda sensibilizar para a necessidade de eliminar as barreiras arquitetónicas que impedem os deficientes de circular em meio urbano e de usar os equipamentos do dia a dia em suas casas.
É a formação científica de base que permite estudar problemas de Engenharia e problemas de Medicina ou de Farmácia. São estas profissões que interferem no funcionamento da Natureza. A Engenharia garante a segurança e a qualidade de vida e a Medicina garante a saúde. E esses são os bens mais inestimáveis a proporcionar aos
cidadãos. Nas populações mais abandonadas e nas zonas mais subdesenvolvidas, a engenharia, construindo infraestruturas básicas como estradas, habitações condignas, redes de abastecimento de águas, redes de saneamento, redes elétricas, pode fazer muito mais pela saúde pública, em termos de prevenção e de esperança de vida, do que os médicos e os Ministérios da Saúde.
Mas não tenhamos ilusões: essa formação de base ou se exige no início dos cursos universitários ou nunca mais se aprende. A informação está toda na Internet, mas a formação, essa não se encontra lá! Para conceber novas técnicas e novos métodos de trabalho é preciso formação científica. A engenharia tem de ser muito exigente nessa formação.
Os Engenheiros Civis têm de prevenir e minimizar os efeitos das catástrofes naturais, como os sismos, os maremotos, os furacões ou as inundações. Têm de garantir a proteção das orlas costeiras, um melhor aproveitamento dos recursos naturais, melhorar o ordenamento e o desenvolvimento do território e as condições para elevar a qualidade de vida das populações. Têm de garantir a defesa do ambiente, minimizando os impactos das construções, de reduzir a sinistralidade nas estradas, bem como nos estaleiros de construção, através de melhores
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projetos e sistemas construtivos adequados. E têm de combater a corrupção, através de propostas que simplifiquem as normas e regulamentos em vigor, com análise dos processos produtivos e dos sistemas de avaliação e de decisão nos processos de concurso.
A especialização prematura está, claramente, em conflito com a visão generalista exigida aos novos profissionais. Será mais prudente dotá los de uma formação científica básica sólida, fazê los conhecer os problemas e as ferramentas mais importantes da Engenharia, ao lado do desenvolvimento de características pessoais cada vez mais importantes para as novas funções que os engenheiros passam a desempenhar. Fazê los adquirir uma visão do mundo e das necessidades da sociedade, ensinar a estimar a viabilidade comercial de um produto. Esses conhecimentos não se desatualizam.
A especialização excessiva e prematura dos engenheiros tem origem na ideia errada de que eles já têm de sair direcionados para empregos específicos. Que têm de se inserir imediatamente na cadeia produtiva das empresas. Que têm de responder às necessidades do mercado empregador. Mas o empregador é que não quer gastar tempo e dinheiro para adequar os seus profissionais de nível superior às especificidades de seu ramo de atuação. Este não é, historicamente, o papel da universidade e não deveria ser um desejo das empresas que contratam profissionais. É que esses profissionais podem tornar se, rapidamente, inoperantes diante das novas tecnologias por desatualização ou por falta de capacidade de adaptação do que aprenderam ao que se lhe apresenta de novo.
A generalização e a especialização extremadas e exageradas acabam por levar a uma insensatez. O especialista acaba por ser aquele que sabe quase tudo sobre quase nada e o generalista acaba a saber quase nada sobre quase tudo. Tendo em conta que o mundo e a tecnologia estão em contínua mudança, se nos especializarmos muito numa determinada área, corremos o risco de perder facilmente o nosso
valor perante a empresa que nos contratou porque a tecnologia em que trabalhamos pode ficar desatualizada. Se formos demasiado especializados a empresa pode ter dificuldades em nos atribuir trabalho quando já não necessitar de alguém daquela área. E também diminui a probabilidade de arranjar emprego. Por outro lado trabalhar sempre na mesma área pode tornar se ao fim de algum tempo demasiado entediante. Poderá vir a faltar nos o entusiasmo e o desafio necessários para nos sentirmos realizados. É que, com a idade e ao longo da vida, a certa altura, apetece nos mudar de atividade e isso é salutar.
Mas a generalização também pode apresentar inconvenientes. Se não formos particularmente úteis numa determinada área, as empresas não nos vão contratar porque os nossos serviços podem não oferecer o valor suficiente para os objetivos da empresa. Se conhecemos apenas mais um pouco do que o cliente, a empresa poderá ter de procurar uma pessoa mais especializada. Só com ideias gerais, podemos perder a noção do que somos dentro da empresa e de qual o
papel que desempenhamos. Sendo especialistas ganhamos um nível de habilidade que poucas pessoas têm, uma vez que a especialização deve ser numa área muito procurada e em que onosso conhecimento seja uma mais valia.
Em conclusão a formação de primeiro ciclo deve ser generalista e ao nível de segundo ciclo pode ser já especialista. Não se pode ser especialista sem ter sido generalista. Com a experiência profissional é que surge a necessidade de especialização e essa pode adquirir se em ações e cursos de formação contínua. É bom ser especialista mas com visão e espírito generalista.
Falemos agora do Cartão de Engenheiro Europeu, do Engineering Card. Em 2008, muito antes de a Comissão Europeia propor o cartão profissional para todas as profissões no Espaço Europeu, já na FEANI se tinha estudado um genial cartão profissional. Trata se do Engineering Card. Em qualquer dos
“a formação de primeiro ciclo deve ser generalista e ao nível de segundo ciclo pode ser já especialista. É bom ser especialista mas com visão e espírito generalista. “
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Em Portugal sou eu que tenho a honra de presidir a este Committee que tem representantes da Ordem dos Engenheiros e representantes da Ordem dos Engenheiros Técnicos.
O Engineering Card tem, no NRC, a validação e a certificação do curriculum do candidato que fica a constituir o seu Registo, ou seja a Base de dados curricular certificada por este órgão da FEANI. Esse registo em pdf ou acessível através duma password poderá ser apresentado ao empregador em qualquer país, com a garantia da sua certificação. É o curriculum certificado pela FEANI. O Engineering Card é um cartão de tamanho e modelo semelhantes aos cartões de crédito. Além da informação biográfica do candidato tem, mediante o uso das letras A, B e C, a seguinte informação:
Formação Académica (A):
A1 se a sua formação for de 1ºciclo (Bacharelato ou licenciatura post Bolonha em Engenharia). A2 Se a sua formação for de 2º Ciclo (Licenciatura Pré Bolonha ou Mestrado Integrado em Engenharia). A1A2 Se se tratar de 2º ciclo em Engenharia com certificado de 1º ciclo em Engenharia. A2A3 para doutorados em Engenharia com certificado de Mestrado integrado ou de Licenciatura Pré Bolonha em Enge-
trabalhar na função pública. B3 pelo menos dois anos a trabalhar por conta própria.
Formação contínua (C):
C1 pelo menos 3 ações certificadas de formação em que apenas se exige presença. C2 Pelo menos uma acção de formação em que tenha havido a classificação do candidato. C3 pelo menos uma acção ou curso de formação em que, além da classificação tenha sido atribuído um título de grau. Os processos de candidatura ao Engineering Card encontram se bem explicados na NET, no Sítio da Ordem dos Engenheiros
No sentido de sensibilizar os engenheiros para a cultura geral, a Comissão Europeia, a partir do início deste milénio recomendou, à FEANI, a exigência de 10% de ECTS para “Assuntos não técnicos” no conjunto das Unidades Curriculares dos diversos cursos de Engenharia, logo nos primeiros ciclos. A FEANI a partir de 2006 passou a exigir isso para os cursos a incluir no FEANI/INDEX, às vezes sem rigor na exigência desses 10% mas com atenção à existência destes temas nos Planos de Estudo. Temas da área da Economia, do Direito, das Humanidades, das línguas Estrangeiras, das Artes, do
máticas nestas Ciências. Para a análise dos Planos de Estudo dos Segundos Ciclos, exige se o total de 120 ECTS e exige se a declaração por parte da Escola em como só são aceites à matrícula desses Segundos Ciclos, os candidatos que apresentem certificado de conclusão de um primeiro ciclo em Engenharia.
Quanto ao selo de qualidade EURACE, trata se de uma garantia saída da ENAEE European Network for Acreditation of Engineering Education. Em Portugal a Ordem dos Engenheiros tem, por delegação, a missão de atribuir o selo de qualidade EURACE aos cursos de Engenharia de 1º e 2º ciclos. O selo de qualidade EURACE tem que ver fundamentalmente com as competências dos seus diplomados para o início da profissão.
Recentemente, reuniram se os Planos de Estudo incluídos no FEANI/INDEX com os que têm o Selo de Qualidade Eurace e criou se o EEED European Engineering Education Database. É importante confirmar a presença no EEED dos Planos de Estudo de Engenharia de qualquer dos 33 países da FEANI.
4. Ser Engenheiro no futuro
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Na saúde, na educação, na indústria, no Comércio, na proteção ambiental e até na agricultura.
Não acompanhar a transformação digital, perder a terceira vaga da Internet e esta quarta revolução tecnológica seria um erro grave para Portugal, para o resto da Europa e para o Mundo. Nesse campo, os engenheiros portugueses estão em vantagem, pelas suas competências nas áreas das ciências fundamentais, sobretudo pelo seu espírito empreendedor e participativo.
Está a chegar o mundo do conhecimento científico e tecnológico bem estruturado. Vai ser o mundo dos engenheiros e Portugal tem de se integrar neste novo mundo.
A formação de um Engenheiro tem passado por uma sólida formação nas ciências básicas e em outras matérias relacionadas com o mundo físico, permitindo projetar sistemas que transformem matérias primas em produtos úteis à sociedade. Esta faceta da Engenharia continuará, seguramente, a ser muito importante no futuro. Importa que a formação básica nestas áreas não seja sacrificada pelas muitas pressões existentes nesse sentido.
Os engenheiros do futuro, para além de transformar matérias primas em produtos acabados, vão ter necessidade de transformar a informação (as bases de dados) em produtos e serviços úteis à Sociedade. Cada vez mais, existe uma maior necessidade de usar os dados para criar novas funcionalidades em produtos existentes. Para criar novos produtos e serviços que antes não existiam. Algumas das grandes empresas da atualidade, como a Amazon, a Google, a Uber, etc. são empresas que transformam dados em valor económico. Com a crescente disponibilização de dados em maior quantidade, sobre um número crescente de atividades humanas, essa tendência é cada vez mais notória. É uma nova maneira de fazer Engenharia. Os engenheiros do futuro vão ter que ter ginástica mental e ferramentas mentais para
manipular dados. Para transformar dados em soluções, da mesma forma que os engenheiros do século XX tiveram as ferramentas para transformar matérias primas em novos produtos.
É preciso repensar a formação fundamental dos Engenheiros. Para além da física, da química, da matemática e das outras ciências básicas, que continuam a ser indispensáveis, esta nova formação terá que cobrir de forma profunda e sistemática o que já se designa por pensamento computacional.
Mas o pensamento computacional não é simplesmente conhecer uma linguagem de programação ou saber programar. Saber programar não garante, por si só, capacidade para vencer os desafios do futuro. O pensamento computacional, necessário para a manipulação da informação, exige um conjunto de competências muito diversas.
Exige abstração que é a capacidade para analisar um problema concreto. Para criar a abstração necessária e adequada para a modelação computacional do problema. Por exemplo, se o problema for o trânsito automóvel numa cidade, a abstração adequada para a rede viária pode ser, por exemplo, um grafo, com um nó para cada cruzamento e um ramo para cada rua, para cada estrada ou avenida. Se o problema for a hierarquia numa empresa, a abstração será por exemplo uma ár-
gência artificial, funcionam principalmente com base no reconhecimento de padrões. Um carro autónomo aprende a conduzir por si porque identificou um conjunto de padrões nos seus sensores e aprendeu a tomar as ações corretas com base nesses padrões, como travar, acelerar e virar. É uma competência complexa, que o cérebro humano domina com naturalidade, mas que virá a ser progressivamente integrada em todos os sistemas de Engenharia, sejam eles edifícios, pontes, máquinas ou veículos.
E exige ainda capacidade para projetar um algoritmo e analisar a sua complexidade. O algoritmo resulta da capacidade para abstrair, para decompor e para reconhecer padrões. Um algoritmo é uma sequência de passos elementares, perfeitamente definida sem ambiguidades, que permite a um computador ou a um ser humano levar a cabo uma determinada tarefa. A complexidade desta sequência de passos determina se a solução é ou não exequível e o sistema final é ou não viável. Depois vai ser necessário traduzir os algoritmos para uma linguagem de programação. Este passo é que já tem que ser feito por especialistas da área da computação. Os outros passos dependem da aplicação e têm que ser da responsabilidade de cada especialidade de engenharia. No mundo de hoje, nenhu-
“Não acompanhar a transformação digital, perder a terceira vaga da Internet e esta quarta revolução tecnológica seria um erro grave para Portugal“
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JOÃO COUTINHO
Professor Associado com Agregação
Ensinar: Uma arte em permanente construção
Era ainda Agosto O arauto electrónico chegava mais uma vez rápido, discreto, como sempre Insensível à época de defeso (para a maioria) e ao calor tórrido da época, vinha entregar uma notícia e deixava um pedido: a próxima edição do “DEC Notícias” seria dedicada ao Ensino, pelo que se solicitava aos Professores “mais graduados” a escrita de um artigo sobre o assunto
O pressuposto estava na missiva: bem do alto do promontório da sua sabedoria, pelo menos alguns de nós deveríamos poder escrever algo acertado sobre a disseminação formal do conhecimento afinal somos profissionais nesta área, ao mais alto nível Ensinar é, com efeito, a palavra chave em qualquer Escola Mas, será que cada um de nós a poderá definir de modo diverso? Será que tal palavra está gasta de tanto uso, tornando difícil e árdua a tarefa de sobre ela escrever? Escrevinhar sobre este tema relativamente à Engenharia Civil (EC) e à Engenharia do Ambiente (EA), será equivalente a acrescentar mais umas gotas à imensidão do mar mas tudo acrescenta
Várias vertentes podem ser exploradas ao querer falar se sobre transmissão de conhecimento No caso particular do DEC, inserido numa “Escola Europeia de Investigação”, a vertente ligada à produção do conhecimento é uma das que deve estar presente Paradoxalmente, ela é também muitas vezes apontada como concorrente da função Ensino (e até prejudicial a esta no entendimento de alguns) no que se refere à mobilização e dedicação do corpo docente Como se fossem duas componentes antagónicas, de costas voltadas Tal visão é errada, e tal prática errada seria, com prejuízos para ambas as partes (Ensino e Investigação). Para adquirir conhecimento é preciso estudar, mas para adquirir sabedoria é indispensável pesquisar Efectivamente, só quem se posiciona na vanguarda do que ensina (o que se atinge através da Investigação) poderá conferir à transmissão do conhecimento a sua verdadeira abrangência Só quem detém competências científicas, por produzir conhecimento em determinada área, será capaz de orientar convenientemente trabalhos de investigação, teses e dissertações (estas agora obrigatórias ) A classificação de tal relação como divórcio constitui um erro, talvez resultante de forte miopia de quem acha que quem ensina basta saber até ao limiar do que tem de ensinar. Escolas de EC não faltam por aí… Mas talvez não estejamos longe do tempo onde, dada a abundância da
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oferta de profissionais, a Escola de formação vai (também) ser um elemento chave nas preferências dos empregadores A maioria dos alunos já estarão cientes disso (ou teriam preferido outro tipo de escolas muitas vezes associadas a ensino dito mais “prático”, mais leve, exercendo uma avaliação de conhecimentos menos exi gente, contentando se com médias de entrada mais baixas e não pressupondo até certos conhecimentos de base…).
A EC foi a primeira das Engenharias a ter um ensino científico e uma escola formal (École Nationale des Ponts et Chaussées, Paris, 1747, criada com 50 alunos que faziam a sua formação teórica por auto aprendizagem e ensino mútuo nos domínios da geometria, álgebra, mecânica, hidráulica, compare se esse pioneirismo com a actual “inovação Bolonhesa” ) Porque foi criada tal Escola? Porque sempre foi importante a actividade do Homem ligada à arte de construir, porque tal actividade envolve muitos conhecimentos e tem muitos e diversificados impactes, porque passou a ser importante Ensinar a partir de princípios científicos que então emergiam. Com efeito, até meados do séc XIX o conhecimento das propriedades e funcionamento mecânico dos materiais foi sendo acumulado especialmente nos cerca de 2 séculos anteriores com Galileo, Newton, Leibniz, Hooke, Bernoulli, Euler e Coulomb. O inglês Thomas Young, em 1807, traz a definição moderna de módulo de elasticidade (ainda conhecido por módulo de Young) Louis Navier publica a teoria da elasticidade para vigas em 1826 O conceito de estrutura estaticamente determinada é estabelecido por Otto Mohr em 1874, embora fosse usado intuitivamente desde há várias décadas A maioria das estruturas do séc XIX eram intencionalmente articuladas, pois as estruturas hiperestáticas só viriam a ser cabalmente analisadas já no séc XX Todo esse saber ligado às áreas mais clássicas da EC, foi sendo produzido, acumulado e ensinado a sucessivas gerações de engenheiros
EnsinarEngenharia = transmitir conhecimento antes criado (investigação)
Mas o conhecimento não é algo que se possa alguma vez considerar acabado Após a 2ª Guerra Mundial têm surgido novas vertentes no saber permitindo estudar muitos aspectos das complexas realidades da engenharia com base em modelos simbólicos, mais abstractos, aparentemente mais desligados das representações físicas Novos desafios para o Ensino aqui se colocaram criar pontes entre uma realidade física (seja ela um material, um edifício, uma cidade, ou um sistema ainda mais lato ) e a sua representação simbólica Felizmente que a evolu
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ção do computador (nomeadamente o designado computador pessoal) veio permitir nesse domínio, mais recentemente, implementações impensáveis meia década antes. A sua presença no Ensino é hoje uma realidade inquestionável. De certo modo veio permitir nos voltar aos primeiros tempos do ensino da engenharia civil: partir da realidade física para as suas representações simbólicas e destas, de novo, para representações que mimetizam o mundo físico nalguma espécie de realidade virtual que o computador hoje permite. O computador pode, sem dúvida, constituir um auxiliar precioso no Ensino, um laboratório sempre disponível onde se experimenta antes de intervir na realidade
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Ainda no que respeita aos alunos, é efectivamente crescente a quantidade, a diversidade e a natureza de estímulos a que vêm estando sujeitos (especialmente na última década) Esse integral de informação, de novas experiências, e até de dúvidas e interrogações poderá ser aproveitado no ensino ou, ignorando o, arriscamo nos a que se transforme num elemento perturbador da aquisição de conhecimentos na formação do Engenheiro? Haverá algo a inovar aí por parte de quem ensina, ou será melhor (continuar a) adoptar uma atitude mais conservadora?
Mais de 2 séculos e meio depois da criação formal do Ensino da EC onde estamos então? Da EC foram divergindo com o tempo as outras engenharias, como os dedos de uma mão, ligados todos à mesma origem mas independentes entre si Um cerne unificador, fornecendo as fundações de outros conhecimentos mais especializados e aplicados da engenharia, teve de ficar e perdurou no Ensino, envolvendo disciplinas tais como a Matemática, a Física, a Química, etc Tal como o sangue tem de percorrer a palma da mão antes de chegar aos dedos, também estas matérias têm de ser ensinadas nos primeiros anos São disciplinas que suscitam aos nossos alunos quer atracção quer repulsa. Muitas vezes não vislumbram as aplicações na sua Engenharia. Mas essas matérias exigem esse grau de abstracção da realidade A experiência e a criatividade de quem ensina poderá sempre acrescentar as tais gotas ao mar, algumas centelhas para as aplicações futuras, e atrair mais quem está a aprender Talvez por isso haja quem advogue deverem ser os Professores mais experientes, mais séniores, a ensinar aos primeiros anos.
Passando às disciplinas mais especializadas, mais focadas nas áreas da EC e da EA, a compartimentação crescente de saberes existe, ligada naturalmente à especialização: das Estruturas à Geotecnia e Fundações, do Betão e das Metálicas à Térmica e Acústica, da Hidráulica e Recursos Hídricos ao Planeamento e Gestão do Território, etc Valerá agora (re)pensar se esta tão grande especialização deverá prosseguir num sentido analítico (tal como a ciência no seu início), ou haverá lugar à criação (ou intensificação) de modos de Ensino mais transversais e interdisciplinares (como a própria ciência, mais modernamente, tende a ser)? Isto é, fomentar a fecundação recíproca de saberes no acto de Ensino, arranjar maneira de (também) dar aos nossos alunos perspectivas mais abrangentes e menos compartimentadas da EC (e da EA) do que aquelas que, naturalmente, eles mostram por vezes possuir?
Ensinamos duas engenharias muito abrangentes: a mãe de todas as Engenharias e uma das suas mais novas filhas, que herdou daquela informação genética marcante A própria ligação entre as duas é, nas realizações práticas, quase sempre incontornável Com efeito, a palavra “sustentabilidade” invadiu tudo o que é tentativa do Homem para usar recursos da Natureza e continuar a construir. Já não é mais possível ensinar que a EC compatibiliza fundamentalmente economia com segurança (como há 30 anos ) As exigências de um planeta agastado, as da procura da racionalidade nas decisões que levam às intervenções do Engenheiro no Mundo, as de uma realidade que é cada vez mais dinâmica, as de um mundo fortemente tecnológico onde a Informação passou a ter valor especial (e a circular à velocidade da luz) onde a economia dos bits afronta muitas vezes a velha economia dos átomos, todas elas (essas exigências) devem levar nos a pensar melhor qual o futuro papel desse Homem construtor Obviamente que o Ensino não pode estar alheio a todos esses desafios e oportunidades. Obviamente que é um erro pensar que se ensina e se aprende sem esforço Respeito quem tem certezas sobre tudo (mesmo quando as mesmas mudam com o nascer de cada dia ) Mas, qual a fórmula certa de ensinar, qual o modo mais eficaz de ir adaptando o que se ensina e a forma como se ensina ao dinamismo da evolução dos tempos e à trepidante voracidade do dia a dia, isso talvez ainda ninguém saiba. Apenas algumas convicções ficam: ensinar não pode ser uma actividade passiva, pressupõe uma actividade do outro lado que é aprender; ambos os lados têm de sentir a necessidade de aprofundar o conhecimento; quanto mais se investiga mais se sabe, quanto mais se ensina mais se aprende. O Homem, nunca satisfeito com o que já atingiu, continuará a ser sempre um construtor de saber, um veículo vivo que produz, transporta, aplica e transmite conhecimentos
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Ensinar = ponte humana com múltiplos intervenientes em equilíbrio
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Ensinar pressupõe actividade de outra parte = aprender
I fui convidado a proferir uma palestra sobre A Ética e a sua importância na actualidade No seguimento desta conferência surgiu a ideia e, por consequência, o convite para este artigo com vista à publicação no DEC Notícias. É um documento que circula no seio de uma comunidade bastante restrita mas com características de alguma exposição eriscodeocorrênciadeeventosmenoséticos
Foi com grande prazer que aceitei o convite, em primeiro lugar, porque continuar a colaborar com o Departamento, ao qual dediquei grande parte da minha vida, é para mim umahonraeprivilégio Emsegundolugar,porquetambém o tema me é muito caro, pela sua importância e actualidade
De facto, de há uns anos a esta parte , digamos na última década, deparamos frequentemente na comunicação social diária ou semanal com referências ao comportamento pouco ético de alguns cidadãos, com maior incidência nos políticos, dada a sua exposição Relatam casos mais ou menos escandalosos, que têm ocorrido em Portugal e também um pouco por todo o mundo, com maior ou menor repercussão e/ou gravidade nas suasconsequências Parece pois oportuno que sefaça um apontamento procurando sensibilizar a sociedade que nos rodeia e, em particular, o meio universitário, origem provável de grande parte da futura liderança do país, currentementereferidacomo“elitedopoder”
A título informativo saliento as acções da Ordem dos Engenheiros que em 2000 iniciou cursos de Ética e Deontologia, o último dos quais, o XXV, se realizou em Coimbra,nospassadosdias15e16deOutubro
Retomando o assunto, entende se a Ética como um capítulo da Filosofia que trata da Moral, da finalidade da vida humana e meios de a alcançar Tem por objectivo uma reflexão e consequente juízo de apreciação com vista à distinção entre o Bem e o Mal Etimologicamente deriva do grego “ethike” ou do latim “éthica”. Com esta reflexão pretende se estabelecer princípios que possam gerar normas de conduta na sociedade, um padrão de comportamento que propicie bases de decisão do nosso “modus vivendi” individual e em sociedade Para melhor compreender o tema convém apresentar previamente algumasdefiniçõesfundamentais:
▪ Moral: conjunto dos costumes e opiniões de um indivíduo ou de um grupo social respeitantes ao comportamento, criando normas de conduta consideradas mais ou menos absolutas e universalmente válidas. Na filosofia entende se como o domínio que se ocupadosproblemasrelativosà condutado ser humano,
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quernavidaprivadaqueremsociedade;
▪
Deontologia: conjunto de regras e/ou prinicípios que regulam o exercício de uma profissão e se baseiam numa Ética e seus princípios. Tem origem no grego “deon, déontos” = dever + “logos”= tratado Temosportantootratadododever
A Ética e a Moral, não sendo formalmente idênticas, são correntemente utilizadas indistintamente: a Moral tem um sentido mais lato, implicando um esforço de reflexão sobre o bem e o mal, criando as bases do estabelecimento das regras de conduta que regulamentam associedades humanas,enquanto quea Deontologia, baseada nos princípios estabelecidos pela Ética, tem um sentido mais restrito criando regras que orientam o exercício de uma profissão e estabelecendo sanções quando os comportamentos violam essas regraspré estabelecidas
tempo espaço, significando que podem variar de sociedade para sociedade, contemporâneas ou não, embora tendam aparentemente para uma certa uniformidade com o evoluir dos tempos e com a generalização da comunicaçãoglobal(viainterneteoutrosmeios).
Introduzidas estas noções, fácil se torna entender a importância cada vez maior da Ética e da Deontologia, que, qual irmã siamesalhe estáassociada,na regulação dos comportamentos de uma sociedade, que será considerada tanto mais evoluída quanto mais conseguir assimilar e cumprir os princípios éticos pelos quais se deve reger
Infelizmente épocas existem que, por razões várias, as sociedades num todo e o ser humano em particular atravessam períodos de maior lassidão (crises) nas suas exigências éticas, provocando um desrespeito pelos conceitos, valores e regras “universalmente” aceites, tendocomoresultadoumcomportamentocívicodaso
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No âmbito da disciplina de COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
RUI FURTADO
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Professor Jubilado
ciedadeque desregula completamente os valores que possibilitam umarelação social e intersociedades minimamenteharmoniosa, com o consequenteaumento deinjustiças e desigualdades,prenúnciodo caos próximo quandonãooportuna e resolutamentecontrariadas.
Do agravamento da degradação social são bons exemplos os casos depromiscuidade entre orgãos do poder ea ocupaçãode cargos superiores de gestão nas instituições dependentesdopoder instituído. Mas embora mais visível, não é seguramente só na política que se verificamviolações de ética e demoral Nas empresas, na sociedade, na vida particular, essas violações são visíveis e, por vezes, noticiadas na comunicaçãosocial No nosso próprio meio universitário, em quenãopoucas vezes se verificam violações dos princípioséticos,com comportamentos incorrectos extensivos a toda a comunidadeacadémica, ou seja, nointerrelacionamento de todos: professores, alunos e funcionários
Em muitas situações, talvez porque certos comportamentos já se banalisaram,as pessoas não têm hoje em dia a noção da gravidade dos actos que praticam no seu dia a dia Em particular, noque serefere aos alunos, verifica se com frequência o recurso, numa prosa e/ou trabalhodeavaliação, a meios ilícitos (cábulas) de consulta, ou quando recorrem à cópia(plágio) da informação retirada da “internet” ou de outras fontes,sem qualquer referência às fontes de consulta. Valorizam assim a sua classificação, provocandoinjustiças e demons trando com essa condutaum total desprezopelos colegas e ausênciade valores éticos
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Todos temos a obrigaçãomoral e cívica de zelar por um comportamentodigno,de nãopactuar com situações menos transparentes, evitandoatitudesdúbias eo recurso a meios fraudulentos nasprovas e trabalhosque somos chamados a apresentar. Sequeremosuma sociedademaisjusta, temos de nos esforçar por reduzir os desequilíbrios gritantes com que nos deparamosno dia a dia e isso sóserápossívelse cada um“deper si”, e todos no seu conjunto respeitarmos as regras que a ética
É afinalumademonstração prática dodenominado espírito“chico esperto”, tão valorizado e doagradodo nosso modode estar e actuar na vida,considerado como umademonstração da capacidadede “desenrascar” que pode, por vezes,resolver umasituaçãopontual,mas não pode nem deve ser considerada como uma filosofia de vidae de trabalho. Estas práticas revelam uma atitude pouco ética, caracterizandouma concorrência desleal que todosnos devemosesforçar por eliminar
A denúnciadecomportamentos um dever assumida com dignidade e consciência dos riscos queuma tal prática, considerada pouco dignificantepela sociedade, comporta em si e que devemser bemavaliados. De todo, a denúnciaanónima deve ser veementemente repudiada
Código de Hamurabi (2200 AC)
Se o construtor de umacasa não a fizer sólida e a casa sofrer colapsoeprovocaramorte do cliente entãooconstrutor será executado
Se oconstrutor de umacasa não afizer comos necessários requisitos previamente estabelecidos e uma parede cair oconstrutor deverá refazê-la às suasexpensas.
DEC
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Notícias
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… Cabulas e “auxiliares de memória”
Quemfoi Laginha Serafim?
“Se,depoisde eu morrer, quiseremescrever a minha biografia, nãohá nada mais simples Tem só duas datas a da minha nascença ea da minha morte Entre uma e outra todosos dias são meus ” Extracto deum texto de Caeiro/Pessoa, quepoderia ser tambémentendido como afirmaçãodealguémque atravessou a vida a um ritmo que não se compadecia com grandesparagens, nem com dias perdidos, nem com qualquersubmersão namediania.A vida deJoaquimLaginhaSerafim, Professor Catedrático do DEC/FCTUC desde 1972 até ao início da última décadado século XX, é uma dessas vidas únicas,cheia de enormeactividade,sempre ligada à Engenharia Civil aomais alto nível internacional Licenciado em Engenharia Civil peloIST em 1944, chefiou o Serviço deBarragensdo LNEC entre 1948 e 1963 De 1946 a 1957 desempenhoutambémfunções na Hidroeléctrica do Zêzere onde estudou e projectou grandesbarragens como asdo Picote, Castelo de Bode, Cabril, Bouçã e Chicamba (estaem Moçambique).A barragemdo Cabril (1954),pelos seus 132m de altura acima da fundação, ba�a o recorde das barragens portuguesas, tendo sido a primeira inteiramente projectadano país.A concepção e construção daquelas obras muito terão contribuídopara o desenvolvimento dos métodos experimentaisdedimensionamento e de observação debarragensde betão (por exemplo, no âmbitodasactividadesdesenvolvidas pelo LNEC) Notabilizou se tambémpelasmuitas contribuições para o avançodoconhecimentoquerno importante domínio das fundações debarragens, quer em áreas relacionadas com o projectode barragens abóbada em betão (por exemplo,a abóbada definida através de três arcos com centros distintos), barragens de abóbadasmúltiplas, e formasdebarragens cascapelo métododamembrana Mas a sua actividadeno projecto de barragens estendeu se a vários países tais como Espanha (Belesar, Sta Eulália,Susqueda,Almendra, El Vellon, El Atazar, La Baells, etc ),Grécia(Sfikia, Assomata,Temenos, Platanovrissy, Thesavros), Brasil, Venezuela, Irão, Costa Rica, etc Nas ex colónias a sua acção nos aproveitamentoshidráulicos estendeu se desde Moçambique (rios Zambeze, Revué, Pungué e dos Elefantes), a Angola (rios Quanza e Catumbela)passando pela Guiné (rio Geba)
Fundou e foi presidentedeempresasrelacionadas com estudos e projectos debarragensno Rio de Janeiro (ERN Engenhariade Recursos Naturais, SA), em Madrid (CONSULPRESA),e em Lisboa foi fundador da COBA (1962). Integrou Comissões Técnicas doConselho Superiorde Obras Públicas e Transportes, nomeadamente a Sub Comissão doRegulamentode Segurança deBarragens Pertenceu a vários Comités Técnicos da ICOLD International Commission on Large Dams (comités sobre Aspectos Sísmicos, Análise e Projecto, Segurança, e Riscos para Terceiros gerados por GrandesBarragens). Foi Vice presidenteda ICOLD entre 1988 e 1991,e talveztivesse sido seu Presidente se um acidente vascular cerebral, à saída da Reitoria em Coimbra, não lhe tivesse atraiçoadoum percurso alucinante...
Joaquim Laginha Serafim Loulé, 21 de Janeiro de 1921 Lisboa, 28 de Novembro de 1994
No DEC/FCTUC, foi responsável fundamentais, como “Resistência outras relacionadas com barragens, taiscomo Análise Experimental de Tensões e Observaçãode Obras” ou “Mecânica das Rochas” . Tornou se internacionalmente famoso pelos avançosdoconhecimentono domínio das barragens e pelo facto de ter sido não só projectista desses grandes empreendimentos, como também perito na resolução deproblemas ocorridos em grandes barragens construídas em vários países (Portugal, Espanha, E.U.A., Canadá,Venezuela,Turquia, etc.).
Foi Membro da Association Internationale des Ponts e Charpentes, do American ConcreteInstitute, da AmericanSociety of CivilEngineers,e da Institution of Civil Engineers. Devido às suas intervenções foi notabilizado com diversas condecorações: no Reino Unido com o Overseas Premium atribuído em 1962 pela Institution of Civil Engineers (Londres); em Espanha com a MedalhaAldeadávila,a Medalhade El Altazar ea Comenda de Mérito Civil deEspanha; em Portugal com a Ordem de Santiago de Espada Recebeu Doutoramentos Honoris Causa pela UniversidadeFederaldo Rio de Janeiro (1967)e pela Universidadede Liège, Bélgica (1979). Foi Professor Visitante no MIT Massachusetts Institute of Technology em 1964/65 (bolseiro sénior da National Science Foundation SeniorForeignScientist Fellowship) prestigiada escola deengenhariaonde já tinhafrequentadoum curso de Verão para engenheiros e cientistas estrangeiros (1951).
Foi autorde mais deumacentenadepublicações sobre barragens(algumastraduzidas emrusso) Existe, com o seu nome,umaavenida em Loulé (sua terra natal), tal como um anfiteatro no edifício do DEC/FCTUC Muitos dos seus amigosestrangeiros (especialmente os americanos) tratavam no por Jack
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Memória DEC Laginha Serafim 9 décadas após o seu nascimento
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Castelo de Bode
ESTUDOS/ PROJECTOS DE BARRAGENS
NO MUNDO
ANGOLA: Lomaum Malobas Capanda BRASIL: Salto do Funil COSTA RICA : Cachi
ESPANHA: Albarellos Aldeadávila Almendra Bubal Belesar El Atazar El Vellon La Baells Las Portas Manzeneda Puerto Seguro Sela Sta Eulália Susqueda Valdecañas GRÉCIA: Assomata Platanovrissy Sfikia Temenos Thesavros IRÃO: Tang-e-Soleyman MOÇAMBIQUE: Massingir
PORTUGAL: Alto Cávado Alvito Asse-Dasse Azibo Bouçã Cabril Capinha Castelo Bode Covão do Meio Funcho Girabolhos Lindoso Alto Meimoa Odeáxere Odelouca Picote Salamonde
VENEZUELA: La Corcovada Taguacita Yacambu
CONSULTOR:
PROBLEMAS
DIFÍCEIS
EUA: Auburn CANADÁ: Daniel Johnson Ex JUGOSLÁVIA: BukBijela TURQUIA: Sir
VENEZUELA: Yacambu
Era facilmente recebido no estrangeiro por importantes individualidadesdomundo científico, masnão só Lembro mede termos sidorecebidos por proeminentes Professores do MIT, de Berkeley e de Princeton, praticamente sem appointment prévio, aquandode viagensatravés dos EUA no âmbito deactividadesde investigaçãono domínio dasegurançadebarragens Mas, para além domundoacadémico, conseguia penetrar facilmente noutros domínios e ser até recebido pelo Secretário Geral da ONU, como Pérez deCuéllar (aconteceu nos duranteuma estada em Nova Iorque em quetestemunhei a facilidade com que nos abriu as portas da ONU atravésdeum telefonema “ele nuncarecusará receberProfessores da UniversidadedeCoimbra, a nossa Universidade é conhecida e famosa em todo o mundo” , assegurava meentão…).
Com o seu vasto conhecimentodomundo científico da Engenharia Civil, abria portas deuniversidades estrangeiras a quem,do DEC/FCTUC, lá quisesse prosseguirestudos para tal, emitia pareceres e chegava mesmo a telefonar a Professores dessas Universidades Era, nisso, umimpulsionador,um “fiador” generoso e desinteressado Proporcionava nos visitas privilegiadasao LNEC, àsentranhasdegrandesbarragensonde tomávamos contacto com a instrumentaçãode monitorizaçãodo corpo e fundações,ao gabinete de estudosdo Professor EdgarCardoso(que chegou a trazer ao DEC no âmbito das suas aulas)ondepodíamos observar os seus modelos reduzidos depontes e extensómetros, a laboratórios e universidades estrangeiras (como o MIT, Princeton, Berkeley, ), etc
Nassuas aulas gostava de transmitir conhecimentosmuito para além das matérias oficiais do programa. Nunca sentia dificuldade em desvincular sedesse caminhodemasiado marcadoquequalquer livro técnico científico abre a quemqueraprender Contavaas suas histórias, como tinha ido resolver o problemadeumaimportante barragemnoCanadá, comotinha andado pela então URSS em actividades técnico científicas, como sedeslocavaem
Número 5 |1º Trimestre 2011
Angola e em Moçambiquede helicóptero ao longodos rios para escolher o melhor sítio para uma barragem (relatava nas aulas, por exemplo, a sua contribuição para a escolha do local onde viria a ser construída Cahora Bassa ), ou como nesse continente teria deixadoum elefante amigoquebem o conhecia sempreque voltava…
“Não hánadamaisnobre numa profissãoqueensiná la aosoutros” , disse meumdia,damesma forma que muitas vezes me dizia(era eu entãoum assistente estagiário que comele trabalhava) “sequiseres trata me por tu, eu sou Algarvio, sou assim...” . Olhandoentão para a situaçãodopaís,lembro me queafirmava estarmos “atrasados duas gerações” Hoje talvezconstatasse que a vertigem dosonhoamericano para uns e algum oportunismomisturado comincompetência atrevidade outros, não nos poderiam ter deixadoapeados senão ondeestamos entre umprometidosonho e uma barreira degrandes dificuldades a transpor, talvez mais alta queumabarragem gigantesca
LaginhaSerafim faria 90 anosagora, em 2011. Como alguém afirmou sobre o Professor, “ os grandeshomens não morrem ”.E os projectos válidosque eles lançam tambémnão se esfumam Agora, em 2011, poderemos viajarvirtualmenteparaqualquergrandebarragem em Portugal ou em muitos outros locais doplaneta; podemos também ver onde o Homem teve deaprender com erros ou com comportamentos imprevistos nesses grandes empreendimentosdeengenharia, em várioslocais do mundo Tudo isso são algunsresultadosde um projecto de investigaçãodesenvolvido à escala mundialque retomámos e continuámosaqui,no DEC/FCTUC, usando agora a tecnologia do presente Está ao alcance deum clique sobre umaqualquerbarragem codificadacomcor em GoogleMaps Ascoordenadasdaentradasão: Endereço: http://dams.dec.uc.pt/ User: testeDEC Password: Laginha=90
Laginha Serafim visitou, em serviço profissional: África do Sul, Alemanha, Angola, Áustria, Bélgica, Brasil, Bulgária, Canadá, Chile, China, Colômbia, Costa Rica, Dinamarca, Espanha, EUA, Formosa, França, Grécia, Guatemala, Guiné, Inglaterra, Irão, Japão, Jugoslávia, Líbano, Marrocos, México, Moçambique, Noruega, Panamá, Perú, Polónia, República Dominicana, Rodésia, Roménia, Suécia, Suíça, Turquia, União Soviética, Venezuela
DEC Notícias Departamento
Engenharia
2| DEC Notícias
de
Civil
DEC@FCTUC,
2011, João Coutinho. Barragem do Cabril, rio Zêzere, Portugal (arquivo da Comissão Nacional Portuguesa das Grandes Barragens, INAG)
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é a ENGENHARIA.
O Engenheiro Valadares Tavares no seu trabalho “A Engenharia e a Tecnologia ao serviço do desenvolvimento de Portugal” define Engenharia como a actividade de concepção, projecto e realização de sistemas ou de produção de bens e serviços, destinados a satisfazer as necessidades da sociedade, com base no conhecimento científico e tecnológico, e segundo paradigmas de ética, eficiência e eficácia, bem como de sustentabilidade e equilíbrio em relação ao meio ambiente.
A engenharia transforma e adapta a natureza com o fim de optimizar a qualidade de vida dos seres humanos. Para melhorar a qualidade de vida, o homem sempre fez e faz engenharia Engenharia exige formação científica, engenho, criatividade e inovação
A formação de um engenheiro, em qualquer das especialidades de engenharia, deve assentar numa base científica onde têm lugar as ciências básicas como a Matemática, a Física, a Química, a Geologia e até a Biologia, logo a seguir, as ciências de engenharia, que devem incluir disciplinas como a Estática Aplicada, a Mecânica dos Sólidos Deformáveis, a Ciência dos Materiais, os Materiais de Construção, a Resistência de Materiais, a Hidráulica, a Hidrologia, a Metereologia, a Electricidade, a Metalurgia, a Termodinâmica, a Mecânica dos Solos e das Rochas, a Topografia e a Informática, desejavelmente complementadas com a Economia, a Gestão, a Sociologia, a Psicologia, alguns princípios do Direito e, uma ou outra disciplina de carácter humanístico!
Como aplicação, vêm depois as disciplinas de especialidade: ao nível de Projecto, de Gestão, de Planeamento e de Produção
Os trabalhos e as disciplinas de Projecto, Gestão e Produção nas universidades, se não houver cuidado por parte do Professor, podem levar o estudante a um conjunto de receitas e de técnicas já muitas vezes repetidas, que só trazem rotina e pouca ou nenhuma criatividade As disciplinas de projecto têm de ser verdadeiros laboratórios de soluções novas e arrojadas.
Por isso, é desejável uma chamada de engenheiros com carreiras profissionais de excelência comprovada, como professores convidados nas Escolas de Engenharia, para colaborar em disciplinas de Projecto, de Gestão, de Planeamento e de Produção
A Universidade deve ensinar bem as ciências de base e as ciências de engenharia! É com esse “background” que se faz inovação, que se concebem novas técnicas, novas soluções e novos métodos Quando se contrata um engenheiro, o que se pretende não é um chefe de oficina ou um encarregado, que apenas resolve problemas
concretos que já viu resolver O que se pretende é alguém que saiba criar e gerir sistemas de informação e, com base na análise, saiba planear a produção O que se pretende é que o engenheiro saiba interpretar quantitativamente a informação, mas com a intuição e a sensibilidade que o conhecimento científico proporciona no apoio à decisão. O que se pretende é que o engenheiro saiba aproveitar essa interpretação da informação para fundamentar as decisões e os processos e as técnicas que constituem a produção, o aprovisionamento e a distribuição, sem nunca descurar a inovação.
Os engenheiros vão funcionar como verdadeiras “máquinas de resolver problemas”! Mas para desempenhar bem essa função, precisam de uma boa formação científica e tecnológica e também de sensibilidade cultural, humanística, ética e deontológica Se o Engenheiro for detentor dessa formação pode e deve difundir a mentalidade da inovação
A formação de um engenheiro será tanto mais valiosa quanto mais eficaz e duradoura for a sua influência na vida profissional A passagem da Universidade para a vida profissional tem de fazer se com uma bagagem de conhecimentos, de competências e de valores culturais e éticos, bem ajustada às exigências das situações em que a engenharia hoje actua E quando se fala em formação estamos, também, necessariamente a falar da formação contínua ao longo da vida profissional É preciso mentalizar, desde bem cedo, o jovem engenheiro para uma contínua atitude e capacidade de permanente aprendizagem.
Ninguém se forma de uma vez só. Um engenheiro tem de ser, toda a vida, “estudante de engenharia” . Para além da formação científica e tecnológica é muito importante, também, passar para os estudantes, a mensagem da importância da cultura geral É complementando a cultura científica e técnica com a cultura geral que o engenheiro se faz um profissional completo Um técnico sem cultura não tem presença de engenheiro É sempre cilindrado em reuniões pluridisciplinares de trabalho. Há que avisar os estudantes de Engenharia Civil: não queiram ser só engenheiros, habituem se a conversar com arquitectos, juristas, economistas, poetas e artistas, professores, comerciantes, etc É isso que vos espera Ter de dialogar com uma grande diversidade de seres humanos e de sensibilidades. Para convencermos os outros de que a solução que propomos é a melhor temos de ter credibilidade Essa credibilidade é também feita pela nossa presença em termos de cultura geral e de saber estar Numa obra ou numa equipa de projecto, a solução óptima para a obra pode não ser a melhor solução para a especialidade onde estamos a intervir Também é bom que nos habituemos a entender isso.
Para o complemento da formação cultural, a Universidade de Coimbra conta com as diversas secções da Associação Académica, estrutura ímpar neste país pela diversidade de opções culturais que oferece aos estudantes. Também por isso, o Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Coimbra é, nesta data, uma das melhores Escolas de Engenharia Civil de Portugal (se não a melhor!)
DEC Notícias Departamento de Engenharia Civil 1| DEC Notícias
Número 7 | 3º Trimestre 2011
que
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ELESTINO FLÓRIDO QUARESMA ORDEM DOS ENGENHEIROS
“A Engenharia Civil da Universidade de Coimbra nos Rankings Académicos”
António Pais Antunes
(ProfessorCatedráticodoDEC)
1.INTRODUÇÃO
É costume ouvir dizer se que os rankings académicos valem o que valem. Por trás desta expressão tautológica está a ideia de que eles não traduzem devidamente, e menos ainda inequivocamente, a realidade do posicionamento relativo das universidades ou das áreas de atividade nelas prosseguidas. A verdade é que dificilmente poderia ser de outro modo, uma vez que estão em causa múltiplos critérios de comparação, cuja ponderação é naturalmente subjetiva. Para além disso, os próprios indicadores a associar aos critérios serãosemprediscutíveis.Sejacomofor, desde que surgiram, em 2003, os rankingstêm vindo aconstituir secomo
referências cada vez mais incontornáveis, estando na origem de uma vasta literatura científica sobre as metodologias em que se baseiam e sobre os impactos que têm nas instituições, nos governos e, em geral, na sociedade (ver, e.g., Jons & Hoyler 2013, Marginson 2014, Hazelkorn 2015 eMoed2017).
Esta nota tem por objetivo analisar a posição da área de Engenharia Civil da Universidade de Coimbra (UC) nos rankings académicos e a forma como ela tem vindo a evoluir ao longo do tempo. Embora sejam muitos os rankings disponíveis, só três são relevantes para os presentes efeitos, por serem os únicos que tratam as áreas de atividade das universidades de
forma suficientemente desagregada: o Ranking QS, publicado por uma empresa privada sediada no Reino Unido (Quacquarelli Symonds); o Ranking NTU, promovido pela Universidade Nacional de Taiwan e conhecido pela designação de Ranking de Taiwan; e, desde o corrente ano (2017), o Ranking ARWU (Academic Ranking of World Universities), nascido na Universidade Jiao Tong de Shangai e conhecido pela designação de Ranking deShangai.
Os resultados da análise realizada, assim como uma descrição pormenorizada de cada um dos rankings considerados, são apresentados em seguida em secções separadas.
2.RANKING QS
A principal característica do Ranking QS é, provavelmente, a de ser um ranking global, no sentido em que cobre ou pretende cobrir os principais planos de atuação de uma universidade: ensino, investigação e extensão universitária. Este ranking combina critérios objetivos (50%), com critérios reputacionais (50%) avaliados com base em inquéritos realizados junto de académicos e empresários (Tabela 1). Os critérios objetivos dizem respeito à qualidade e impacto da investigação, que são medidos através de dois indicadores: o número médio de citações de artigos de autores de dada instituição (um indicador do tipo relativo, onde o efeito da dimensão da instituição é descontado); e o índice H1 (onde não é). A consideração de dados reputacionais na avaliação das universidades faz sentido, pois seria estranho classificar como de qualidade uma universidade a quem ninguém reconhece qualidade. No entanto, o recurso a este tipo de dados traz consigo a possibilidade de manipulação, e tem exposto este ranking a críticas fortes (Marginson 2014, Leiter, 2017), que os respetivos responsáveis têm procurado contestar(Bizzozero2017).
A área de Engª Civil da UC ocupa atualmente a posição 101 150noRankingQS(entreas200instituiçõesneleincluídas),a mesma que a da Universidade do Minho (UM) e
imediatamente atrás das Universidades de Lisboa (UL) e do Porto (UP), ambas na posição 51 100 (Tabela 2). A posição das universidades portuguesas nesta área é muito melhor do queemqualqueroutra área(onderarissimamenteháalguma instituição portuguesa classificada entre as 150 primeiras), e só não é mais elevada por causa dos critérios reputacionais. Tal como nos outros dois rankings que abordaremos adiante, cada indicador está medido numa escala de 0 a 100, onde 100 é o valor atribuído à instituição ou instituições mais bem posicionadas em termos desse indicador. Em termos relativos, o indicador mais fraco da UC é claramente o índice H, pois todos os outros estão em bom nível considerando a dimensão das instituições e das regiões onde se inserem. Quanto à comparação com outras áreas da UC (Tabela 3), a superioridade da Engª Civil é manifesta, tanto quando se considera o conjunto da Universidade (apenas 401 410) como o conjunto das Engenharias (335), como ainda, individualmente, cada outra Engenharia (251 300 ou mais baixo).
Desde 2011, a área de Engª Civil da UC tem se mantido praticamente no mesmo nível, sendo exceção a subida verificada em 2014 da posição 151 200 para a posição 101 150 (Tabela 4).A situaçãodaUM tambémpoucotem variado desde que nesse mesmo ano de 2014 entrou diretamente no ranking na posição 101 150. No caso da UL e da UP as variações de posição têm sido notórias, sublinhando se o seu desaparecimento do ranking em 2014 e, no caso da UL, também em 2015 (neste caso, as variações poderão explicar se em parte com a transformação que a universidade atravessou).
DEC Noticias | 4ºTrimestre2017 52
Ranking QS
Critério/indicador Peso (%)
Reputação
Impacto e qualidade da investigação
Académica AREP 40 Empregadores EREP 10
Número médio de citações por artigo nos últimos 5 anos ACIT_5 25 Índice H dos artigos dos últimos cinco anos HIND_5 25
Fontes: Inquéritos a membros da academia e a empregadores & base SCOPUS
Tabela 2. Posição da área de Engª Civil das universidades portuguesas em 2017 segundo o Ranking QS
U.Lisboa 51 100 69 62 88,4 87,3 U.Porto 51 100 68,8 65,1 94,9 87,3 UCoimbra 101 150 66,6 61,3 86,3 70,4 U..Minho 101 150 66,4 53,1 94,9 84,9
Tabela 4. Evolução da posição da área de Engª Civil das universidades portuguesas entre 2011 e 2017 segundo o Ranking QS
EngªCivil 101 150 EngªInformática 251 300 EngªQuímica 251 300 EngªMecânica 301 350 TodasasáreasdeEngenharia 335 Todasasáreas 401 410
U.Lisboa 151 200 151 200 51 100 U.Porto 151 200 101 150 51 100 51 100 51 100 U.Coimbra 151 200 151 200 151 200 101 150 101 150 101 150 101 150 U.Minho 101 150 101 150 101 150 101 150
1 Índice H: número de artigos de dada área citados mais vezes que esse número de artigos (por exemplo, se o 25º artigo mais citado com pelo menos um autor de uma dada instituição for citado 25 vezes ou mais, o índice H dessa instituição será 25).
3.RANKING DE TAIWAN
Ao invés do Ranking QS, o Ranking de Taiwan foca se fundamentalmente na investigação, cuja quantidade, qualidade e impacto procura aferir. Baseia se apenas em dados objetivos, utilizando 8 indicadores relacionados
Tabela 5. Descrição do Ranking de Taiwan
Ranking de Taiwan Critério
Quantidade de investigação
Impacto da investigação
direta ou indiretamente com o número de artigos e/ou de citações. Cinco indicadores, com o peso global de 60%, têm a ver com a investigação recente, mas os três outros referem se a um período longo, de 11 anos, o que naturalmente tende a estabilizar as classificações. Com exceção do número
médio de citações por artigo (ACIT_11), todos os indicadores são do tipo absoluto, o que obviamentefavorece as áreas e departamentos de maiores dimensões (os DEC da UL e da UP têm cerca do dobro do número de professoresdosdaUCedaUM).
Indicador Peso
Número de artigos dos últimos 11 anos
PUB_11 10%
Número de artigos do último ano PUB_1 15%
Número de citações nos últimos 11 anos CIT_11 15%
Número de citações nos últimos 2 anos
Qualidade da investigação
CIT_2 10%
Número médio de citações por artigo nos últimos 11 anos ACIT_11 10%
Índice H dos artigos dos últimos 2 anos HIND_2 10% Número de artigos muito citados nos últimos 11 anos HCIT_11 15% Número de artigos do último ano em revistas de grande impacto TOP_1 15%
DECNoticias | 4ºTrimestre2017
Tabela 1. Descrição do Ranking QS
Fonte: Base ISI
Tabela 3. Posição da área de Engª Civil no contexto das Engenharias e da UC em 2017 segundo o Ranking Área Posição
Instituição Posição Indicador AREP EREP ACIT_5 HIND_5
Instituição Posição 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
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A observação da posição neste ranking da área de Engª Civil das várias universidades mostra a UL numa posição muito elevada em termos mundiais (29), tal como a UP (53) (Tabela 6). A UC está na posição 230, em 5º lugar entre as principais universidades, havendo a referir que, neste caso, as Universidades de Aveiro (UA) e Nova de Lisboa (UNL), também estão classificadas (a UA em 3º lugar).
à UC, os indicadores mais positivos em termos relativos são PUB_11 e HCIT_11, e os menos positivos são ACIT_11 e, sobretudo,TOP_1.
menores, encontrando se a Engª Informática (posição 239) e a Engª Mecânica (243) ambas bastante próximasdaEngªCivil.
As diferenças entre as universidades esbater se iam muito se fosse descontado o efeito da dimensão, sendo curioso notar que, no único indicador de tipo relativo (ACIT_11), a UL é uma das universidades piores classificadas e a UNL uma das melhores. No que respeita
O desempenho negativo neste último indicador e a necessidade para que ele poderia apontar (publicar em melhores revistas) não devem, no entanto, ser especialmente valorizados é que, em anos anteriores, TOP_1 tinha sido várias vezes um dos nossos indicadores mais positivos. Se excluirmos a presença da UA no ranking, estes resultados acabam por ser bastante compatíveis com os do Ranking QS. Tal já não acontece quando se compara, na UC, a área de Engª Civil com as outras áreas (Tabela 7). Neste caso, as diferenças são claramente
Tabela 6. Posição da área de Engª Civil das universidades portuguesas em 2017 segundo o Ranking de Taiwan
U.Lisboa 29 75,9 74,7 67,8 74,4 44,8 64,9 62,8 65,0 66,5 U.Porto 53 60,3 61,0 63,6 63,7 53,7 64,4 53,7 68,8 61,3 U.Aveiro 195 51,3 52,8 49,2 52,4 45,2 56,2 46,4 55,0 51,0 U.Minho 223 52,5 53,6 52,7 49,6 49,8 51,0 46,4 46,2 50,1 U.Coimbra 230 53,2 52,3 50,3 50,3 44,5 53,5 50,0 44,9 49,8 U. N. Lisboa 275 47,5 47,9 48,0 49,0 50,3 53,3 46,4 48,3 48,6
Tabela 8. Evolução da posição da área de Engª Civil das universidades portuguesas entre 2011 e 2017 segundo o Ranking de Taiwan
Ao longo dos últimos seis anos, e à semelhança do que acontece com o Ranking QS, a classificação da área de Engª Civil da UC no Ranking de Taiwan tem sido bastante estável, oscilando entre as posições 194 e 248 com ligeira tendência para melhorar (Tabela 8). As variações de ano para ano são mais nítidas nas outras universidades, e a tendência para melhorar também nelas se verifica, sendo mais forte no caso da UL (porventura também por efeito da transformaçãodauniversidade). Área
Instituição Posição 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
U.Lisboa 109 115 90 67 47 36 28 29 U.Porto 126 97 67 54 50 59 58 53 U.Aveiro 227 295 269 261 228 245 195 U.Minho 278 240 241 217 187 209 182 223 U.Coimbra 248 246 224 241 194 230 U.N.Lisboa 247 253 300 294 275
Neste ranking, todos os indicadores são do tipo absoluto, pois a normalização de citações que é realizada no cálculo do indicador CNCI diz respeito às subáreas em que os artigos são publicados e não à dimensão da instituição. A colaboração internacional é valorizada, embora com pouco peso. Um dos indicadores é relativo a um prémio importante de Engenharia de Estruturas, que nunca foi atribuído a um professor de uma universidade portuguesa.
4.RANKING DE SHANGAI
O Ranking de Shangai, tal como o de Taiwan, tem por referência a atividade de investigação e recorre a dados objetivos (Tabela 9). Embora a classificação das universidades por área tenha surgido apenas este ano, justifica se que lhe façamos referência aqui, dado ser um dos rankings mais prestigiados (no que beneficia talvez de ser o mais antigo).
Neste ranking, a posição da área de Engª Civil da UC é excelente: 51 75 (Tabela 10). Além disso, a área de Transportes está na posição 76 100. Considerando apenas instituições europeias, estamos no top 30 em ambos os casos. Melhor em Portugal só a UL, na posição 41 em Engª Civil e, igualmente,76 100emTransportes.
Posição EngªCivil 230 EngªMecânica 243 EngªQuímica 289 EngªEletrotécnica 295 TodasasáreasdeEngenharia 301 400 Todasasáreas 381 Tabela 7. Posição da área de Engª Civil no contexto das Engenharias e da UC em 2017 segundo o Ranking de Taiwan Instituição Posição Indicador Score PUB_11 PUB_1 CIT_11 CIT_2 ACIT_11 HIND_2 HCIT_11 TOP_1
DEC Noticias | 4ºTrimestre2017 54
Ranking de Shangai
Indicador Peso
Númerodeartigosdosúltimos5anos
PUB_5 100
Númerodecitaçõesnormalizadonosúltimos5anos CNCI_5 100
Número de artigos dos últimos cinco anos com pelo menos um autor de uma instituição estrangeira IC_5 20
Númerodeartigosdosúltimos5anosnas20%revistasdaáreacomfactordeimpactomaiselevado TOP_5 100 Númerodeautoresdainstituiçãodetentoresdo"InternationalAwardofMeritinStructuralEngineering" AWARD 100 Fonte: BaseISI
Tabela 10. Posição da área de Engª Civil das universidades portuguesas em 2017 segundo o Ranking de Shangai
Instituição Posição
Indicador PUB_5 CNCI_5 IC_5 TOP_5 AWARD
U.Lisboa 43 70,6 47,8 57,9 29,7 0
U.Coimbra 51 75 46,8 41,4 64,5 45,4 0
U.Minho 76 100 44,4 47,5 69,0 29,7 0
U.Aveiro 201 300 36,2 44,3 72,0 0 0
A UM também está bem classificada em Engª Civil (76 100). Ao invés, a UP aparece apenas na posição 201 300, muito abaixo do que acontece nos outros rankings. Relativamente à UL, a UC perde claramente na quantidade de artigos (PUB_5) e perde também nas citações (CNCI_5), mas ganha no nível de colaboração internacional (IC_5) e, sobretudo, na qualidade das revistas onde publica (TOP_5). A vantagem da Engª Civil relativamente às outras Engenharias da UC e ao resto da universidade é tão acentuada como no Ranking QS (Tabela 11).
Tabela 11. Posição da área de Engª Civil no contexto das Engenharias e da UC em 2017 segundo o Ranking de Shangai
U.Porto 201 300 46,8 42,4 64,8 0 0 Área Posição EngªCivil 51 75 EngªInformática 151 200 Engª Mecânica >300 EngªQuímica >300 TodasasáreasdeEngenharia >200 Todasasáreas 401 500
5.C
Em termos dos rankings académicos mais desagregados em termos de área de atividade, o desempenho da área de Engª Civil da UC é de bom nível mundial, e tem vindo a melhorar embora lentamente. No âmbito europeu, estamos de certeza no top 50 tendo em conta a nossa dimensão. Infelizmente, as outras Engenharias e, sobretudo, a UC no seu conjunto estão longe deste nível (oque não ajuda). Chegámos aqui
6.REFERÊNCIAS
nomeadamente como resultado de uma política de valorização da atividade de investigação traduzida em incentivos concretos para os professores capazes de atingir determinadas metas de produtividade científica. Esta política terá certamente concorrido para que, hoje, praticamente todos os professores desenvolvam investigação com qualidade suficiente para ser publicada em revistas de topo. Relativamente ao futuro, o desafio é, principalmente, o de
mantermos o nível em que agora estamos. A demografia não favorece a UC, e a evolução positiva recente da economiaportuguesatardaaterreflexos no sector da construção civil e obras públicas, mas temos de acreditar que, por méritos próprios e com uma evolução favorável do nosso contexto, vamos conseguir vencer o desafio que temospelafrente.
Bizzozero, S. (2017). “Critique of QS University Rankings Methodology Was Inaccurate and Defamatory”. The Chronicle of Higher Education, http:// www.chronicle.com/blogs/letters/critique of qs university rankings methodology was inaccurate and defamatory/ Hazelkorn, E. (2015). “Globalization and the Reputation Race”. In E. Hazelkorn, Rankings and the Reshaping of Higher Education: The Battle for World Class Excellence, Palgrave MacMillan, pp. 1 25.
Jöns, H. & Hoyler, M. (2013). “Global geographies of higher education: the perspective of world university rankings”. Geoforum 46, 45 59.
Leiter, B. (2017). “Academic Ethics: To Rank or Not to Rank?”. The Chronicle of Higher Education, http://www.chronicle.com/article/Academic Ethics To Rank or/240619.
Marginson, S. (2014). “University Rankings and Social Science”. European Journal of Education Part I 49 (1), 2014, 45 59.
Moed H.F. (2017). “A critical comparative analysis of five world university rankings”, Scientometrics 110, 967 990.
Tabela 9. Descrição do Ranking de Shangai
DECNoticias | 4ºTrimestre2017 55
1.Quando iniciou a sua licenciatura em Engenharia Civil?
Nessa altura, o que o levou a optar por esse curso?
Desde pequeno que tinha o “bichinho” das obras Todos os meus familiares eram operários e desde sempre os acompanhei de muito perto ajudando, aprendendo e trabalhando com eles. Sempre tive jeito de mãos e a engenharia era um meio de poder aprender e construir coisas
2. Porque escolheu a Universidade de Coimbra para levar a cabo os seus estudos?
Para quem vive numa vila situada a vinte quilómetros de Coimbra, esta é sempre a primeira opção Depois há a mítica associada à Universidade e à Cidade que conheci desde os primeiros anos do liceu. Também foi preponderante o bom grupo de amigos, que desde o liceu fomos alimentando a ideia de tirarmos todos o curso, se possível juntos, entreajudando nos, pois todos, de uma forma ou de outra, tínhamos “queda” para as engenharias Entrámos todos e mantivemo nos juntos
3. Sabemos que numa primeira fase decidiu interromper o curso, antes de terminar a sua licenciatura Quais as razões que motivaram essa interrupção? o que o levou a retomá lo posteriormente?
Há um tempo para tudo, e o facto de não ter concluído o curso em tempo útil levou à sua sobreposição com o trabalho Conciliar a responsabilidade de uma empresa com o estudo era impossível. Voltar, bem, aí a coisa é difícil de explicar, pois a conclusão da licenciatura foi sempre uma realidade adiada, embora sempre presente Durante muito tempo existiu a convicção de que nunca há tempo para mais nada, mas em determinada altura da vida percebi que esta coisa do tempo é uma questão de atitude Há também uma questão de brio e satisfação pessoal que não escondo. Também me deu um certo “gozo”, reconheço.
4. Tem ideia de quantas reestruturações do curso apanhou ao longo do seu longo percurso académico? Considera que as mesmas foram positivas e indispensáveis e de que maneira o afectaram directamente?
Durante a estadia (matrículas de 79 a 87) apanhei três reestruturações. Desde que deixei de estar matriculado, não tenho ideia, mas acabado de reingressar, “apanho” logo com Bolonha As primeiras reformas não me afectaram directamente, pois tratou se, se ainda me lembro, de converter cadeiras semestrais em anuais, que posteriormente voltaram a ser semestrais Entre essa fase e a da reentrada, houve certamente muita reforma, com algumas cadeiras que foram sendo introduzidas e outras
Número 2 | 2º Trimestre 2010
adaptadas Uma coisa é certa: as cadeiras base e estruturantes, como “as análises”, “as estruturas”, “as hidráulicas”, por exemplo, pouco ou nada mudaram.
5. De que forma considera que a adaptação do curso ao processo de Bolonha afectou o plano de estudos? Considera que os nossos alunos de Engenharia Civil estavam preparados para essas alterações?
A adaptação ao processo de Bolonha não afectou o meu plano de estudos dado que fiz questão de concluir a licenciatura pré bolonha. Assim, já detentor de habilitação especial poderia concluir o segundo ciclo de Bolonha na área da minha experiência profissional sem ter de a concluir na área de formação Foi o que sucedeu Quanto aos alunos estarem preparados ou não, o que me parece é que muda o paradigma do ensino, ou melhor, da aprendizagem. Os alunos têm de ser mais disciplinados e trabalhar mais autonomamente, sem tanto acompanhamento das aulas e dos professores, dado que os programas são semelhantes, sendo a carga horária menor Por outro lado, como deixa de haver tantas aulas, a única forma de se cumprir um determinado programa é o aluno estudar, por si, as várias matérias. Não esqueço a primeira aula de resistência dos materiais (suponho que muitos dos meus colegas que hoje são professores no DEC também não) com o saudoso Prof Laginha Serafim que nos disse “não estão aqui para aprender a ser Engenheiros, estão aqui para aprender a aprender a ser Engenheiros” . Penso que ainda hoje essas palavras são válidas, isto é, os alunos de Engenharia Civil ficam com uma “bagagem” que lhes permite em qualquer momento adquirir outros conhecimentos e interagir com outras artes ou outros profissionais Nessa perspectiva estou convencido que os alunos estão preparados para essas alterações
6. Na sua opinião, a melhoria das instalações infraestruturais do DEC (transferência das instalações do Pólo I para o Pólo II) afectaram as condições de aprendizagem dos alunos?
Não há qualquer dúvida As instalações são actuais, pensadas para as diferentes áreas do saber da Engenharia e suponho que estão preparadas para a utilização dos laboratórios para a aprendizagem. O que me parece necessário é usá los, fazer com que a aprendizagem seja mais prática, melhor, que os conhecimentos teóricos possam ser evidenciados e consolidados com mais actividades práticas
7. Como encara a evolução, ao longo do tempo, da maturidade dos alunos de Engenharia Civil? É dos que considera que, há alguns anos, os alunos eram mais maduros do que hoje? Em contrapartida acha que adquiriram outras competências como seja um maior conhecimento sobre a actualidade a nível político, social e cultural, ou uma maior capacidade de intervenção e espírito crítico?
Têm outras “maturidades” Há anos atrás, optava se pelo curso por se gostar mesmo; hoje os motivos da entrada são mais abrangentes, e à saída o leque de actividades que se pode desenvolver é maior, logo a motivação de
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ALVARINHAS
Engenheiro Civil Ex aluno do DEC
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Entrevistado por: ANA BASTOS E ISABEL PINTO
cada aluno é diferente e, nesse sentido, podem revelar diferentes atitudes perante o curso Quanto às competências adquiridas na faculdade, são muito mais amplas em termos científicos e muito mais abrangentes em termos técnicos.
Dada a facilidade de obtenção de informação e formação deveriam estar muito mais atentos à actualidade, que nos entra pelos olhos dentro, mas parece me exactamente o contrário, isto é, são tantas as solicitações que desenvolvem “nichos” de interesse por não terem tempo para tudo.
Como a escola ainda não está directamente aberta à formação nos campos politico, social, e mesmo cultural as competências a esse nível são claramente menos, apenas na capacidade reivindicativa me parece maior, mas isso também é um reflexo da sociedade. É claro que há sempre excepções, nomeadamente aqueles alunos que se envolvem em actividades extra curriculares e esses normalmente têm mais capacidade de intervenção e espírito crítico
8. O que acha do facto dos inquéritos dos alunos servirem como um dos meios de avaliação dos professores?
A ideia que tenho é a de que não serve de nada especificamente para quem já está instalado O dono da cátedra é sempre o dono da cátedra Agora parece me evidente que perante a “avaliação” das pessoas a quem servimos e transmitimos os nossos conhecimentos, ninguém com bom senso poderá ficar indiferente. Eu acredito no bom senso!
9. Quer deixar algumas sugestões como possíveis contributos para a melhoria da qualidade do ensino no DEC? Em sua opinião, de que forma se pode incentivar a frequência às aulas teóricas?
Animação! Motivação! É caricato que com os meios existentes nos nossos dias algumas aulas continuam a ser o despejar de matéria da mesma forma que há vinte anos atrás. Hoje existem meios tecnológicos que permitem evidenciar de forma dinâmica os conhecimentos teóricos que são transmitidos Estou a imaginar as cadeiras de estruturas com recurso a demonstrações animadas com programas informáticos abundantes na internet Estou a lembrar me da dificuldade que era perceber a matéria das análises matemáticas, na década de 80, com o Saudoso Prof Miranda e a delícia que foi perceber quão “simples” é, vinte anos depois, com outro Professor (uma Senhora com S)
Seria conveniente que os docentes tivessem alguma formação em pedagogia. Outra crítica que não posso deixar de fazer é a falta de experiência prática dos docentes de cadeiras que exigem essa experiência Da forma como a Universidade está organizada torna se muito difícil obter essa experiência, no entanto, considero a fundamental em algumas cadeiras. É importante termos pela frente um professor com espírito crítico, e uma coisa traz a outra: gente interessante e experiente a leccionar faz certamente com que os alunos tenham gosto e interesse em frequentar as aulas, logo alunos interessados e que não faltam Felizmente no DEC temos alguns bons exemplos disso
Número 2 | 2º Trimestre 2010
10. Acha que os alunos deviam assumir um papel mais relevante no desenvolvimento das actividades e projectos de investigação levados a cabo pelos docentes?
Considera que os alunos têm conhecimento sobre as acções técnico cientificas em desenvolvimento no DEC?
Acredito que uma coisa leva à outra Um maior envolvimento dos alunos levará a ter papeis mais activos e maior conhecimento sobre as acções e, por outro lado, leva os a ter mais interesse em participar, o que os levará a consolidar os conhecimentos teóricos
Esta interactividade é um dos principais motivos de interesse e que leva os alunos a ser cada vez mais curiosos e a descobrir nichos de interesse e de especialização em temas particulares.
Parece me que este tipo de participação em actividades mais práticas ou de investigação têm de ser uma realidade no decurso do segundo ciclo em que já se está a definir a especialização
11. O seu longo percurso académico deveu se essencialmente ao facto de ter sido trabalhador estudante desde o primeiro ano de frequência no curso. Pensa que foi benéfico ter tido direito a mais épocas de exames? Considera que se tivesse tipo a oportunidade de frequentar as aulas em horário pós laboral teria sido ainda mais vantajoso?
Na realidade, nunca usufrui do estatuto de trabalhador estudante, tendo sempre executado os trabalhos fora dos horários das aulas Isto porque sem frequência de aulas, não era nem é fácil conseguir acompanhar as matérias
Acompanhando as aulas não seria necessário haver exames especiais. Mesmo após o reingresso, não usufrui do estatuto, porque não teria conseguido acompanhar os estudos sem a frequência das aulas É aqui que reside a dificuldade deste tipo de curso: é quase impossível obter resultados sem frequentar as aulas Felizmente que pude ter alguma flexibilidade de horário na empresa, o que me permitiu frequentar as aulas teóricas. Em relação às práticas houve menos dificuldade, por haver aulas mais ao final da tarde
Esta é uma grande lacuna no DEC, e provavelmente na UC, que tem sido debatida desde que me lembro, que é a não adequação dos cursos aos trabalhadores estudantes A criação de aulas em horário pós laboral é sem dúvida um assunto a resolver. É imprescindível a criação de uma turma por cadeira, no horário pós laboral, para permitir a frequência por trabalhadores
12. De que forma, o facto de ter terminado o Mestrado Integrado em Engenharia Civil afectou a sua actividade profissional?
Foi uma realização pessoal acima de tudo. O facto de terminar a licenciatura foi marcante também a nível empresarial dado que assim tenho a possibilidade de assumir um controlo como técnico num sector que tinha necessariamente de depender de outros por não possuir o título A possibilidade de concluir o Mestrado Integrado permitiu me reunir num documento (Tese) os mais de vinte anos de experiência na construção de interiores com placas de gesso laminado.
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1. O Engenheiro foi docente no DEC de 1972 a 1976 e mais tarde de 1979 a 1993 Leccionou algumas disciplinas da área de Estruturas e Tecnologia da Construção Que memórias guarda desse tempo?
O início da minha colaboração com a Universidade de Coimbra foi o culminar de um certo gosto de ensinar que começou nos últimos anos do curso de Engenharia Civil na FEUP dando explicações a alunos do ensino liceal, que continuou nos anos 1961 a 1969 como assistente na UP, e nos anos 1972 a 1974, como convidado na Universidade de Luanda, e terminou com o convite para professor convidado na UC.
A minha acção docente foi sempre acompanhada por uma forte integração na actividade de projectista em regime de profissão liberal até 1981 e na de director do meu gabinete de projectos (GPBL) nos anos seguintes.
Para se entender este percurso de vida, habitual para os docentes de Engenharia civil da minha geração, importa relembrar a necessidade de ligar a teoria à prática e ainda que no início da minha actividade, um assistente ganhava cerca de duas vezes e meia menos que os colegas que optavam pela carreira técnica do Estado, e em 1969, ano da primeira interrupção da minha actividade docente, qualquer jovem aluno recém formado ganharia três vezes, ou mais, o salário de um Professor Catedrático
O segundo corte com a actividade docente resultou essencialmente de um enorme desenvolvimento da actividade de projectista que me obrigava a frequentes deslocações no país e no estrangeiro, dificultando a minha colaboração na UC
Olhando para trás, reconheço que sempre senti uma enorme satisfação em toda a minha actividade docente Isso nunca impediu que me sentisse também um Engenheiro no verdadeiro sentido na palavra, procurando “engenhar” as soluções mais apropriadas para resolver os problemas que me eram colocados.
2. O que se passou de mais marcante nestes cerca de 30 anos que entretanto decorreram?
Além da descrição feita na resposta anterior, parece me de interesse assinalar, por vários motivos, a minha colaboração com o Metro do Porto e no trabalho de Levantamento e Análise do Estado Patrimonial de milhares de edifícios na cidade do Porto Neste trabalho, apoiando me no meu gabinete, tive oportunidade de pôr ao dispor das diferentes equipas de técnicos envolvidas no
empreendimento, e da comunidade em geral, os conhecimentos até então adquiridos
3. O que pensa sobre o curso de Engenharia Civil e em particular a sua evolução ao longo do tempo?
Tendo tido oportunidade de dar emprego a alguns engenheiros recém formados pela UC, pude naturalmente apreciar o seu nível de desenvolvimento tendo ficado com gratas recordações de muitos que têm ocupado lugares de destaque na nossa sociedade Relativamente aos cursos de engenharia civil, creio que continuarão a ter um papel importante para os nossos jovens não escondendo, no entanto, que a época áurea da construção civil já passou, pelo que eles devem estar preparados para migrar para os países em que as nossas empresas se irão implantar
Digo, como já pensava nos finais dos anos 60, que deve ser prestada especial atenção à tecnologia das construções e à programação e controle de obras, tendo em especial atenção o futuro desenvolvimento das áreas de reabilitação predial e urbana
4. Que mais pode partilhar connosco e que poderá ter interesse para os leitores do DEC Notícias?
Em primeiro lugar quero manifestar o meu agradecimento por o DEC Notícias me ter dado a oportunidade desta entrevista
Em segundo lugar, e para os jovens alunos, dizer lhes o que certamente muitos dos meus antigos alunos se lembrarão de me ouvir dizer:
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Aproveitem bem o tempo estudando e exigindo dos vossos docentes, pois é a única fase da vossa vida que estarão a trabalhar apenas para vocês, a seguir na vida profissional irão certamente trabalhar muito para os outros;
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Não esqueçam que só se aprende a fazer, fazendo, Estar a olhar só para os outros e vê los a fazer, não é suficiente;
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Tenham bem presente que o saber não ocupa lugar, mas é com o saber que se ocupam os lugares
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Número 7 | 3º Trimestre 2011
OSÉ BARBOSA LOURENÇO GPBL
… o saber não ocupa lugar, mas é com o saber que se ocupam os lugares
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no DEC de 1975 a 1985 e leccionou algumas disciplinas das áreas da Geotecnia e Vias de Comunicação Que memórias guarda desse tempo?
Fui docente no DEC nos anos de 1975 a 1980 (a tempo inteiro) e de 1981 a 1985 (a tempo parcial, a 40%), tendo desempenhado funções docentes diversas, em primeiro lugar, como Assistente Eventual (primeiros dois anos) e depois como Assistente, nomeadamente:
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no primeiro ano (ano lectivo de 1975/1976), aulas práticas das disciplinas de Teoria das Fundações (4 º ano do curso de então), cujo docente das aulas teóricas era o Professor Rui Furtado) e Vias de Comunicação I ( 1.º semestre do 5.º ano), cujo docente das aulas teóricas era o Engenheiro Albertino;
Número
colaboração profissional, terminada a construção do empreendimento em referência (que se previa concluir em finais de 1981) Assim, com o acordo das partes envolvidas, fiquei ainda a prestar funções docentes como Assistente Convidado, em regime de tempo parcial, a 40%.
Essa situação veio posteriormente a prolongar se, porquanto, na Brisa, foi entretanto decidida a continuação do programa de construção da A1 (com os troços de fecho a norte de Coimbra, até Aveiro) e, para esse acompanhamento, veio aquela empresa manifestar o seu interesse na continuidade da minha colaboração Nesta fase estendia se já pelo apoio e supervisão dos trabalhos da designada obra geral, envolvendo as áreas de terraplenagens, pavimentação e geotecnia associadas e fundações das designadas obras de arte (pontes e viadutos) e estruturas de suporte.
Finalmente, no início de 1985, continuando o exercício da actividade profissional na Brisa a manter diversos aliciantes, mas cada vez mais afastadas da carreira académica anterior, e tendo se tornado cada vez mais inconciliáveis as deslocações a Coimbra, também por motivos familiares, terminei o meu vínculo com a carreira docente regular e o DEC da FCTUC
▪
nos anos seguintes, 1976/1977 e 1977/1978 e, ainda, 1980/1981 a 1984/1985, Teoria das Fundações (aulas práticas em geral, excepto no ano 1979/1980 em que acumulei as aulas teóricas dessa disciplina por indisponibilidade do Engenheiro Rui Furtado).
No ano de 1978/1979, não desempenhei quaisquer funções docentes, por ter sido dispensado pela Faculdade para frequentar o curso de pós graduação em Mecânica dos Solos da Universidade Nova de Lisboa, em regime de Bolseiro do então Instituto Nacional de Investigação Cientifica
Nos primeiros anos, em que fui assistente a tempo inteiro, era docente de carreira, como era então definido. Entretanto, em finais de 1980, enquanto ainda estava a ponderar qual a possibilidade de prosseguimento da carreira académica, nomeadamente quanto à hipótese de avanço para algum programa de doutoramento (que na época se afigurava um processo muito difícil), surgiu um convite da Brisa para integrar a equipa de fiscalização da obra de construção da Auto estrada A1, entre Condeixa e a Mealhada A missão inicial seria apoiar e supervisionar os trabalhos de estabilização de taludes acidentados que, por essa altura, tinham atingido dimensões volumosas e estavam a configurar se como problemas condicionantes do regular prosseguimento desse empreendimento A minha colaboração foi procurada em função dos conhecimentos mais especializados na área da geotecnia que tinha adquirido entretanto, no curso de especialização
Contudo, na época, não estava ainda totalmente decidido a deixar, em definitivo, a carreira docente universitária e o Departamento de Engenharia Civil (DEC) da FCTUC, em particular Por outro lado, não estava nessa altura perspectivada a eventual necessidade ou interesse da parte da Brisa ou da minha na possível continuação dessa
Em resumo, considero que a minha colaboração na actividade docente no DEC teve uma significância determinante na minha carreira profissional, uma vez que foi através da ligação às matérias da Mecânica dos Solos (leccionadas na designada disciplina de Teoria das fundações), que se configuraram as soluções de prosseguimento académico e profissional seguintes Acima de tudo, relevo uma grande ligação afectiva que tal passagem envolveu, designadamente nos primeiros anos (de 1975 a 1978), em que havia um corpo docente do DEC da FCTUC jovem e imbuído de um forte espírito de missão de instalação de um curso que ainda estava em fase de afirmação nos meios universitários e técnico/profissionais portugueses. Desse tempo, apesar das significativas dificuldades de enquadramento e apoio que limitavam a actividade docente, e da também relativa menor apetência dos alunos para as matérias leccionadas nas nossas disciplinas, relembro, com grande satisfação, o facto de ter podido, de alguma forma, ajudar uma geração de alunos que se vieram a formar em Engenharia Civil, com uma qualidade equiparável aos formados em outras escolas congéneres do país, mais antigas e conceituadas Tem ainda sido com grande satisfação e regozijo que tenho podido verificar, ao longo dos anos posteriores, como muitos desses ex alunos se têm distinguido, seja em carreiras académicas brilhantes, seja em carreiras técnicas e/ou profissionais bem reconhecidas nos meios empresariais ou institucionais do país
2. O que se passou de mais marcante nestes cerca de 30 anos que entretanto decorreram?
Nos 30 anos que decorreram desde que deixei a actividade docente a tempo inteiro no DEC acabei por permanecer sempre na Brisa e sempre ligado à coordenação e fiscalização dos programas de construção de troços de auto estradas novas
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RNESTO OLIVEIRA OMINGUES BRISA
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Nesse âmbito desempenhei funções, em primeiro lugar, como Engenheiro Adjunto de fiscalização e, posteriormente, já como Chefe de Fiscalização e Gestor de Empreendimentos. No âmbito dessas funções estive envolvido na construção dos sublanços da A1, de Coimbra sul a Aveiro sul (40km), e de Torres Novas a Leiria (40km), da A2, de Palmela a Marateca (20km), da A6, da Marateca a Elvas (140km) e da A13, Marateca a Almeirim (90km) Actualmente, desde 2006, desempenho as funções de Director de Fiscalização das obras de Alargamento da A3 (AE Porto/Valença, com 10 km já realizados e outros 10 km em curso) e, em paralelo sou também o Director responsável pelo Laboratório de Ensaios da Brisa, Engenharia e Gestão (Laboratório de Solos, Agregados, Betões e Betuminosos), que presta serviços de apoio laboratorial a todas a obras da Brisa e eventuais clientes externos.
De todas as obras referidas, as mais marcantes foram:
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O sublanço Coimbra sul a Mealhada da A1, designadamente pelos trabalhos especiais de estabilização de taludes realizados, dois dos quais foram dos mais volumosos e importantes que foram realizados em toda a rede de auto estradas da Brisa;
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Depois de ter deixado a docência regular, apenas tive algumas colaborações em actividades exteriores ao trabalho na Brisa
Com relevância, apenas posso referir a colaboração, nos anos de 1986 e 1987, com o Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro, onde leccionei um programa de Estabilidade e Estabilização de Taludes, num curso de formação complementar do curso de Geologia de Engenharia daquela Universidade
3. O que pensa sobre o curso de Engenharia Civil e, em particular, da sua evolução ao longo do tempo?
Quanto ao curso de Engenharia Civil actual, em geral, e do DEC, em particular, e designadamente na sua forma mais recente (“Bolonha”), ainda não tenho grande opinião, porquanto não estou realmente a par dos programas e implementações que se vão desenvolvendo.
Na verdade, desde há alguns anos que tenho estado bastante afastado dos meios académicos e mesmo institucionais correlacionados com essa problemática
Em alternativa, por vezes tenho tido possibilidade de contactar com alguns jovens engenheiros, um ou outro do DEC (mas não dos mais recentes de “Bolonha“), os quais me têm parecido possuírem razoável formação de base, faltando lhes geralmente é alguma boa experiência prática.
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O sublanço da A1 entre Torres Novas e Fátima, que implicou o atravessamento da Serra de Aire e Candeeiros e do Parque Nacional aí definido, envolvendo escavações (2,5Mm3) e aterros (2,0Mm3) no maciço rochoso calcário carsificado, geotecnica e ambientalmente delicadas Essas dificuldades prendiam se com a necessidade de se detectar e, por vezes, preservar as cavidades cársicas intersectadas, quer pela obrigação de se monitorizarem e limitarem as vibrações da aplicação de explosivos em estruturas patrimoniais sensíveis das vizinhanças, quer ainda por terem de se aplicar os volumes de rocha desmontados em aterros de rocha controlados (pedraplenos), cuja experiência e especificações de aplicação em obras rodoviárias ainda era muito incipiente na época (1989).
Nas obras rodoviárias em referência, as áreas técnicas geralmente envolvidas e determinantes do seu desenvolvimento têm como aspecto predominante a geotecnia, pelo que se pode dizer que, na generalidade, parte importante da minha actividade profissional tem se mantido ligada à área científica em que leccionei Além disso, em particular nos casos acima referidos e noutros menos relevantes e mais esporádicos, tenho mantido contacto activo com entidades exteriores, designadamente o LNEC ou especialistas de geotecnia ou estruturas, para apoio ou estudo especializados de alguns processos mais delicados ou ainda pouco ou nada conhecidos Infelizmente, nunca houve oportunidade, até agora, de ter tido qualquer colaboração com o DEC
Na prática, o exercício da Engenharia Civil, no âmbito da construção das obras rodoviárias, não tem modificado muito ao longo dos 30 anos em que tenho acompanhado o sector Na verdade, e no essencial, a execução deste tipo de obras (pelo menos é assim nas que tenho acompanhado ou conheço) continua a ser tutelada por Engenheiros Civis e, nos organigramas das obras, também predominam esses técnicos
Contudo, se para algumas funções existe até especificação legal de habilitações que obriga à presença de Engenheiros Civis com qualificação graduada, já para outras funções sectoriais, envolvendo os processos de execução de obras de significativa complexidade e responsabilidade, tal exigência ou não existe ou não é tão taxativa Este aspecto estará ainda aberto a alguma melhoria das regulamentações de enquadramento das actividades de construção, o que , neste âmbito, poderia significar uma melhor especificação das qualificações dos responsáveis por alguns processos de construção que deveriam estar reservados a Engenheiros Civis
Quanto às eventuais oportunidades que surgem aos nossos Engenheiros Civis de incursões profissionais pelo estrangeiro, sendo embora matéria na qual também não estou muito documentado para opinar, o que apenas se me oferece referir é que, em alguns casos de Engenheiros Civis que conheço que já exerceram actividades em países estrangeiros, os mesmos tiveram, em geral, bom desempenho e aceitação. Estes estiveram principalmente em países de língua portuguesa (Brasil, Angola, etc ) e norte de África, países esses que estarão ainda na primeira linha das oportunidades de colocação profissional que se parecem perspectivar no futuro próximo
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…países de língua portuguesa (Brasil , Angola, etç.) e norte de África, estarão na primeira linha das oportunidades de colocação profissional… 60
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docente no DEC de 1982 a 1984, e leccionou Hidráulica Geral e Hidrologia Que memórias guarda desse tempo?
Tirei a licenciatura de Engenharia Civil na FEUP, em 1978 Depois do estágio no LNEC, fui colocado em Coimbra pela Direcção Geral dos Recursos Naturais, na Fiscalização da construção do Açude Ponte e na regularização fluvial do Baixo Mondego Em 1980 fui chefiar a Fiscalização da Barragem do Azibo, em Macedo de Cavaleiros
Tendo vontade de regressar a Coimbra, concorri a Assistente da Secção Autónoma de Engenharia Civil da FCTUC tendo sido aceite para leccionar as aulas práticas de Hidráulica Geral e Hidrologia Na altura era regente destas disciplinas o Professor Graveto
Por motivos burocráticos, no primeiro semestre fui Assistente Convidado, passando depois para Assistente de Carreira Em simultâneo iniciei uma colaboração em “part time” com a empresa Tecnasol na Barragem da Raiva onde tive a responsabilidade pelo controlo do tratamento das fundações com resinas acrílicas. Quando terminei esse trabalho em 1984, desafiaram me para entrar nos quadros da empresa e a vontade de fazer obras foi mais forte do estímulo que tinha como professor assistente
Recordo com prazer e alguma nostalgia os tempos que vivi em Coimbra, onde fui feliz e onde comecei a minha carreira de Engenheiro. Da minha experiência académica guardei muitos amigos, alguns dos quais acompanharam me nas empresas onde trabalhei
Aprendi muito como professor, sobretudo a aprofundar as matérias que tinha de ensinar, a comunicar o saber aos alunos e a aprender também com eles
2. O que se passou de mais marcante nestes cerca de 30 anos que entretanto decorreram?
Integrei os quadros da Tecnasol em 1984 como Director de Obra, chegando a Administrador em 1991, aquando da compra da empresa pela Somague. De Abril de 2006 até Novembro de 2007, após a compra da Tecnasol por parte da Edifer, fui administrador executivo da Tecnasol e da Edifer Construções
Desde Dezembro de 2007 sou Presidente do Conselho de Administração da Somague SGPS, da Somague Engenharia, da Somague Concessões e da Somague Imobiliária, pilares de actividade do Grupo SyV em Portugal
Sempre me interessei pelas Obras Hidráulicas e pela Geotecnia, graças aos professores que tive na FEUP que estavam ligados ao projecto das barragens da EDP.
Assim procurei sempre empregos que me envolvessem com projectos de obras públicas onde pudesse desenvolver os meus conhecimentos no domínio da hidráulica aplicada e da geotecnia Acabei por me especializar no tratamento das fundações e da problemática associada à segurança de estruturas e da iteração com as suas fundações
Algumas das obras de que guardo as melhores recordações, pela sua importância, estão a Regularização Fluvial do Baixo Mondego, as Barragens da Aguieira e da Raiva, a reabilitação da Barragem de Pracana, a Estação Baixa Chiado do Metro de Lisboa, a barragem de Ait Hammou em Marrocos, as Estações subterrâneas do Metro do Porto, o Túnel de acesso à Estação de Sans, em Barcelona, da linha de alta velocidade, a reabilitação do Túnel do Rossio, as Estações da linha 9 do Metro de Barcelona, a Barragem do Alqueva, a Ampliação do Porto de Valência, a Basílica da Santíssima Trindade em Fátima, o Hospital Pediátrico de Coimbra, o Hospital de Braga, sem descurar algumas das obras que a Somague tem em curso, onde se destacam o Túnel do Marão, a ampliação do terminal de Gás Liquefeito de Sines e a construção do novo Canal do Panamá
Tenho participado em diversas organizações nacionais e internacionais, destacando a Comissão Internacional das Grandes Barragens em que sou membro do Comité Nacional, a Sociedade Portuguesa de Geotecnia onde já fui membro da Direcção, da Ordem dos Engenheiros, onde sou Membro Sénior e Especialista em Geotecnia
Apesar das funções de gestão desde cedo me terem ocupado uma parte significativa do tempo, procurei sempre manter me actualizado na Engenharia e participando em congressos nacionais e internacionais, muitas vezes como conferencista. Até à data publiquei 49 trabalhos relacionados, sobretudo, com obras geotécnicas, hidráulicas, subterrâneas e ambientais
3. O que pensa sobre o curso de Engenharia Civil e em particular a sua evolução ao longo do tempo?
A Engenharia Civil portuguesa continua a ser reconhecida por este mundo fora, não só pela qualidade das Escolas, mas sobretudo pela expansão internacional das nossas construtoras. A qualidade e a capacidade inovadora dos nossos profissionais permitiram que a quebra de actividade em Portugal pudesse ser compensada nos mercados internacionais
A isto se deve a sólida formação académica ministrada pelas escolas e, sobretudo, pela vocação internacional das principais empresas de construção portuguesas. Hoje, conseguimos colocar no exterior cerca de 50% da nossa capacidade operacional
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Número 7 | 3º Trimestre 2011
JOSÉ LUÍS MACHADO DO VALE
Somague SGPS
A Engenharia Civil portuguesa continua a ser reconhecida por este mundo fora...” 61
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Os jovens licenciados do DEC de Coimbra e das outras escolas tradicionais de Engenharia Civil em Portugal, chegam às empresas com uma preparação académica que lhes permite, em curto prazo, assumir responsabilidades nos projectos, tanto nacionais como internacionais. Alguns ex. alunos do DEC continuam a trabalhar comigo ou em outras empresas, hoje em níveis de responsabilidade elevados
Nos últimos anos e após Bolonha, a generalidade das Faculdades de Engenharia sofrem um problema de adaptação às novas regras que resultaram da transformação da licenciatura de cinco para três anos, mantendo praticamente os curricula dos cursos como antes, como se nada se tivesse passado, com a formação académica completa a terminar apenas com o mestrado
No meu entender não foram capazes de se adaptarem aos tempos modernos e prepararem três tipos de Engenheiros: os de execução, os de concepção e os de gestão Os dois primeiros são da competência da formação universitária de base, licenciatura ou mestrado e doutoramento, mas o terceiro obtém se com a experiência profissional e com as oportunidades que se agarram.
Uma escola de Engenharia moderna terá de ser capaz de satisfazer o mercado de trabalho formando profissionais que superem as exigências solicitadas, sempre em evolução, mas com ciclos razoavelmente longos que permitem a alteração curricular dos cursos Num mundo em mudança as escolas que não se adaptarem irão perder importância no mercado de trabalho
Creio que em três anos é possível formarem se profissionais de engenharia capazes de renderem para a generalidade das solicitações do mercado, sem descurar que necessitamos também de especialistas capazes de assumirem responsabilidades diferentes Para isso teremos de ser exigentes no curso generalista de três anos, preparando gestores de obra competentes e polivalentes. Isto não é impossível. Para não falar de tempos passados em Portugal, dou como exemplo o MIT, que tem cursos de Engenharia de três anos, se bem que muito exigentes e difíceis
No novo modelo de ensino de engenharia pós Bolonha, os melhores alunos, ou os mais motivados, ou até os que, após um curto período profissional, podem fazer a especialização, vulgo mestrado Este modelo não é diferente do que se discutia nos anos 80, antes de Bolonha, usando o modelo sueco ou o francês A diferença é que se estabeleciam rácios de, por exemplo na Suécia, as vagas para o curso de 5 anos eram de 1 para cada 20 cursados em 3 anos A realidade da Suécia nessa altura não era a mesma de Portugal, sem bem que na formação escolar de base, nós ainda não fomos capazes de chegar ao nível que eles já tinham na década de 80
A escolaridade obrigatória já era até ao 12º e o abandono escolar muito baixo
Os últimos anos do secundário eram profissionalizantes e uma parte importante entrava nos cursos superiores, onde terminava a formação de engenheiro técnico. Ainda hoje, na Suécia, um manobrador de jumbo ou de tuneladora é engenheiro, com vantagens evidentes para a produtividade do equipamento
Em Portugal discutiu se (discute se) muito o que fazer, mas nunca se fizeram as reformas necessárias para que do secundário cheguem às Universidades jovens bem preparados para completarem uma formação profissional Isto é muito importante para que os alunos rendam e consigam terminar um curso de engenharia em 3 anos. Por outro lado, falta adaptar a oferta de cursos às necessidades do mercado ou dos mercados, colocando nos curricula matérias que preparem os novos profissionais para a satisfação das exigências dos mercados internacionais
4. Que mais pode partilhar connosco e que poderá ter interesse para os leitores do DEC Notícias?
Vivemos tempos difíceis e com uma recessão grave na actividade de construção, que se teme duradoura Neste contexto, nos próximos anos em Portugal o mercado de trabalho para os jovens licenciados vai ser mais difícil
Devemos aceitar que é uma fase cíclica menos boa e que, com o trabalho esforçado de todos, vamos sair da crise No entanto o nível da actividade de construção que tivemos nos últimos anos não voltará a repetir se, pois o grau de execução das principais infraestruturas é elevado.
Alguns dos novos engenheiros vão ter de procurar trabalho no estrangeiro e neste novo paradigma o que devem fazer as escolas de engenharia?
Na minha opinião não devemos formar técnicos competentes para a emigração mas sim colaboradores habilitados à satisfação das necessidades em Portugal e nos mercados onde as empresas portuguesas conseguem trabalhar
Felizmente os países da portugalidade estão em crescimento e com forte aposta no desenvolvimento de infraestruturas de transporte, rodoviárias e ferroviárias, portuárias e de energia As carências de técnicos qualificados são grandes e aqui também existem oportunidades para as nossas escolas estabelecerem parcerias para formação de jovens desses países.
Termino chamando a atenção dos nossos jovens que a capacidade de trabalho sobre pressão e a mentalidade empreendedora, inovadora e multicultural, acompanhando a formação sólida nas ferramentas tradicionais da Engenharia Civil, são requisitos que necessitam desenvolver para os desafios do mercado
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Uma escola de Engenharia moderna terá de ser capaz de satisfazer o mercado de trabalho formando profissionais que superem as exigências solicitadas…
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1. O Engenheiro foi docente no DEC de1980 a 1982, e leccionou Hidráulica Geral e Estruturas. Que memórias guarda desse tempo?
Excelentes memórias! Ser escolhido como Assistente logo depois de me ter formado, precisamente em Coimbra, foi para mim uma experiência muito enriquecedora, quer pela preparação das aulas quer pelo extraordinário relacionamento com os alunos dos antigos 3º e 5º anos do Curso, actuais Colegas Foram tempos de que ainda guardo boas saudades
Na altura os regentes de Hidráulica Geral eram os colegas Seabra Santos e Alfeu. Em Estruturas III e IV o colega Diogo leccionava as teóricas e o colega Manuel Queiró partilhava comigo as práticas
Havia contudo pontos cinzentos nesta actividade:
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O salário de Assistente na altura era muito baixo, cerca de 29 contos mensais ilíquidos, o equivalente a cerca de 145 Euros
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2. O que se passou de mais marcante nestes cerca de 30 anos que entretanto decorreram?
Nestas quase 3 décadas posso talvez dividir a minha actividade em dois períodos distintos, um que decorre de 1982 a 1996 e o outro de 1996 até hoje
Depois de ter deixado a Brisa, ingressei no Quadro de várias Empresas Construtoras, essencialmente como Director de Obra de inúmeras Empreitadas um pouco por todo o País
O último e honroso convite que me fizeram partiu da Teixeira Duarte, onde me encontro desde 1987, que na altura estava a deixar a sua exclusividade no sector da Geotecnia e Fundações Tinha iniciado recentemente a sua actividade na área da Construção Civil, e pretendia arrancar igualmente com meios próprios no sector da construção de Obras Públicas, essencialmente centrada nas grandes obras de Auto Estradas, Aeroportos, Obras Ferroviárias, Pontes e Barragens Recordo me que ganhámos a primeira obra neste novo sector na construção do IP5 entre Aveiro e Albergaria a Velha num Consórcio alargado a outras Empresas, tendo exercido nessa obra o cargo de Director Geral do Consórcio.
Nesta Construtora tive a sorte de ter sido até hoje o mais jovem Director de Produção no século passado, tendo sido nomeado internamente para esse cargo em 1989, estava debaixo da minha responsabilidade a coordenação e supervisão de todas as obras da empresa no sector das Obras Públicas na zona Centro de Portugal
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A matéria era demasiado teórica e a ligação ao mundo empresarial muito insípida, quase inexistente Felizmente em 1981 fui convidado pela Brisa para o cargo de Engenheiro Fiscal das Pontes da A1. Na altura encontrava se em construção o troço Condeixa Mealhada Esta experiência foi muito enriquecedora, pelo contacto com a realidade das grandes construções de Obras Públicas em Portugal Quanto à remuneração, mesmo em part time, que foi a condição que impus, era quase 3 vezes mais do que a da Universidade Além de outras regalias, tinha também viatura de serviço
A actividade da Produção em grandes obras de Engenharia Civil requer muito esforço, uma dose elevada de atenção e controlo permanente e exige um grande sentido de responsabilidade, uma vez que recai sobre os seus responsáveis máximos o ónus de ter de responder perante resultados financeiros, prazos, qualidade das obras executadas e segurança de milhares de pessoas trabalhadoras, que muitas vezes arriscam a vida em situações e fases de obra muito complicadas
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Na altura o DEC atravessava uma fase complicada, por albergar dois grupos em conflito Infelizmente era impossível ficar afastado das tentativas de aliciamento de cada uma dessas facções, o que tornava difícil a concentração nas tarefas que tinha de desempenhar Não era, certamente, um clima propício para a carreira que no início poderia ter sonhado ou ambicionado
A corrente vencedora na altura instituiu internamente que os professores teriam de optar por sair da Universidade ou exercer o ensino em regime de exclusividade Não me deixaram então outra opção que não fosse sair da Faculdade!
Abandonei assim a Universidade como Assistente em 1982, ponderadas as questões expostas, com alguma pena minha devido ao excelente relacionamento que mantinha com os Colegas docentes e com os meus alunos em geral
Nas empresas construtoras estamos sempre a pôr à prova a nossa capacidade de inovação e engenho em soluções construtivas que são um desafio permanente às nossas capacidades profissionais e humanas É um trabalho exigente e em que se está sob uma pressão permanente
Em 1996 aceitei um novo desafio na Teixeira Duarte, ao deixar o sector da Produção e passar a ser o Coordenador Geral das equipas que se iriam dedicar em Portugal ao novo programa das Concessões ou Parcerias Público Privadas no sector das novas Auto Estradas que iriam ser lançadas no regime do tipo DBFO (Design, Build, Finance, Operate).
No lançamento das primeiras Concessões SCUT existiam essencialmente 3 grandes grupos concorrentes nacionais, devido à necessidade de distribuir por um grande número de empresas construtoras de grande dimensão as quotas de distribuição dos respectivos
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UNO FERRAND PINTO
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TEIXEIRA DUARTE
capitais próprios em níveis de financiamento absurdamente elevados, para a escala habitual em Portugal Estes agrupamentos eram constituídos essencialmente por empresas de grande dimensão pelas seguintes razões:
▪ ter acesso a crédito elevado junto da Banca nacional e internacional
▪ ter capacidade de obter e responder por garantias bancárias na casa das várias dezenas de milhões de Euros em cada Projecto
▪ serem o único tipo de empresas habilitadas a conseguir obter os lucros do negócio nas 3 vertentes duma concessão:
margem de lucro na construção gigantesca a implementar margem de lucro no retorno dos capitais próprios na fase de operação após terminada a construção - eventual margem de lucro na fase de alienação das suas acções em OPV no caso das concessionárias pretenderem mais tarde vir a ser cotadas em Bolsa
Quando as Concessões foram lançadas em Portugal na 2ª metade da década de 90, havia um grande desconhecimento deste tipo de negócios, tudo era novidade e navegava se em águas turvas onde nada se conseguia vislumbrar abaixo da ondulação. Dos três grandes grupos portugueses que se alinhavam à partida para este “super negócio”, dois deles foram recrutar “experts” de liderança ao exterior e apenas um optou por escolher alguém da prata da casa
O primeiro desses grupos era liderado pela Mota Engil, que foi buscar à Presidência da Estradas de Portugal (que na altura se chamava Junta Autónoma de Estradas) o Eng Rangel de Lima.
O segundo grupo tinha como empresa de topo a Somague, que foi convidar o presidente da Brisa (única concessionária de auto estradas em Portugal até essa data), o Eng. Vasconcelos Guimarães.
O terceiro grupo era liderado pela Teixeira Duarte, e incluia empresas nacionais de grande prestígio como a Soares da Costa, a Alves Ribeiro e a A Silva e Silva, e também composto por algumas construtoras estrangeiras que se encontravam em posição accionista minoritária A Administração da Teixeira Duarte entendeu convidar me para chefiar este grupo, um desafio de dimensões e responsabilidades tremendas uma vez que passava a ser responsável por liderar equipas exteriores pluridisciplinares altamente profissionais compostas por Engenheiros, Orçamentistas, Advogados, Bancos Assessores nacionais e estrangeiros e Consultores dos mais variados sectores No meu caso tinha de responder por um conjunto decisões que totalizavam algumas centenas de milhões de Euros por Projecto, acumulando a chefia operacional de todas as delegações de negociação das Concessões adjudicadas com o Estado Português
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Presentemente, face à crise que Portugal atravessa e à suspensão do programa de PPP por parte do actual Governo, estou em crer que as Concessões irão ficar em banho maria por um período de alguns anos. A minha actividade tem se por isso centrado mais no apoio comercial às obras de valor vultuoso e de dificuldade técnica acima da média que vão aparecendo nos mercados de África e do Brasil
3. O que pensa sobre o curso de Engenharia Civil e em particular a sua evolução ao longo do tempo?
Foram passando por mim alguns jovens estagiários formados em Coimbra ou noutras Universidades, nomeadamente IST e FEUP
Recordo umas obras de infra estruturas que liderava nos anos 90, em especial numa grande empreitada de vias rápidas e pontes com métodos de construção em carrinhos de avanço que realizámos para os acessos à Expo 98 Aceitei na altura ser orientador de alguns trabalhos de estágio que davam acesso à Ordem dos Engenheiros, e em geral fiquei muito bem impressionado. Recordo em particular um trabalho de um jovem formado em Coimbra que inovou no campo das variâncias das resistências dos betões de alta resistência através da introdução dum doseador automático de aditivos em centrais de betão de elevada precisão Conseguiu aumentar substancialmente a qualidade do produto final obtendo desvios padrão muito abaixo do habitual.
Na Teixeira Duarte os Colegas de Coimbra são em geral bem vistos e não trazem qualquer “handicap” à partida No geral posso afiançar que não se distinguem pelo facto de se terem formado em Coimbra, Lisboa ou Porto mas sim pela evolução profissional e méritos pessoais que cada um vai dando prova ao longo da sua carreira
Creio que a capacidade de adaptação dos jovens engenheiros estagiários, nas décadas de 80 e 90, à resolução dos problemas em obra era fácil após os primeiros meses de adaptação e orientação Mostravam muito empenho e motivação, dedicação e gosto pelas actividades que lhes eram distribuídas Recentemente, como estou um pouco afastado do sector da Produção, apenas tenho a referência de outros colegas com elevada experiência quer da Teixeira Duarte quer de outras empresas da concorrência Queixam se essencialmente de que os jovens estagiários da geração actual em geral não compartilham do mesmo entusiasmo pela profissão que era visível em gerações formadas até ao início deste novo século. Talvez o facto de serem formados num curso que não constituiu a sua primeira escolha, devido às limitações de entrada na Universidade, esteja na origem deste menor entusiasmo
4. Que mais pode partilhar connosco e que poderá ter interesse para os leitores do DEC Notícias?
A formação em Engenharia Civil nas Universidades portuguesas em geral deveria ser acompanhada por dois vectores complementares cada vez mais importantes no mundo de hoje:
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A ligação das Universidades à realidade empresarial tem de ser cada vez mais incentivada e acarinhada como vector fundamental na área da Engenharia Civil
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Contactos cada vez mais frequentes com as grandes empreitadas de construção para uma aprendizagem do que é o mundo real dos estaleiros e organização de obras
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Formação séria e aprofundada no campo da gestão de recursos, sejam eles do tipo de materiais, equipamentos, humanos e financeiros
Porque não, a partir de convites mais frequentes a Directores de Empresas de Engenharia, abordar duma forma mais regular em seminários ou conferências, matérias mais práticas, problemas reais de gestão e aproveitamento de recursos com que se debatem as empresas construtoras: ▪ meios de execução das obras de engenharia ▪ gestão de equipas de trabalho ▪ foco no essencial ▪ constituição das equipas de ataque ▪ preparação das obras e a aceleração das tomadas de decisão ▪ optimização de soluções em conjunto com os Projectistas aproveitando os recursos de equipamentos existentes nas empresas, poupando assim novos custos e evitando recorrer a novos investimentos ▪ como ganhar nos prazos à concorrência ▪ quais os novos desafios das grandes obras e concessões num País sem dinheiro
Penso contudo que este caminho de ligação das Universidades à realidade empresarial tem vindo a ser trilhado cada vez mais e a ser sentido como necessidade, quer da escola quer das empresas. A interligação destes dois mundos, que não devem estar de costas viradas, tem de ser cada vez mais incentivada e acarinhada como vector fundamental na área da Engenharia Civil se queremos ter jovens engenheiros aptos e confiantes do seu valor na resolução dos problemas que irão enfrentar no futuro
É cada vez mais frequente que o Engenheiro, na sua evolução natural assuma lugares de chefia em níveis crescentes de responsabilidade, tornando se cada vez mais gestor decisor e menos engenheiro prático
No mundo empresarial o Engenheiro deve estar habilitado a resolver todo o tipo de problemas de forma prática e expedita Nesta vida ultra concorrencial, cada vez mais tudo deve ser resolvido hoje e nada deve ser deixado para amanhã, porque a concorrência está atenta a poder nos cilindrar e daí resultar a decadência da empresa Não podemos perder tempo com grandes detalhes, os Engenheiros hoje em dia têm de dirigir os seus esforços ao essencial das questões a resolver No ensino da engenharia dão se muitas bases teóricas e exige se detalhe que consome muito tempo que poderia ser eventualmente melhor aproveitado
Recordo um episódio passado comigo, quando era Engenheiro Fiscal na Brisa (ver caixa ao lado), que ilustra esta minha mensagem
O Director da Fiscalização, com dezenas de anos de experiência em obras e empreiteiros, chamou me ao gabinete e deu me uma tarefa específica:
Nuno, tenho aqui uma reclamação do empreiteiro que está a construir as Pontes sobre o rio Mondego Pede trabalhos a mais e alega que as medições que eles fizeram ao aço passivo do Viaduto Y sobre o canal principal são superiores às do Projectista (nota: o Projectista era o Professor Edgar Cardoso) Reveja os desenhos do ferro e verifique p f quem tem razão
Bem, nem vos digo nem vos conto, peguei nos desenhos do Projecto e comecei de imediato a identificar e a separar todos os lotes de aço com as respectivas classes e diâmetros, medir com o máximo de cuidado, verificar e atribuir os comprimentos de amarração e os ângulos de ataque correctos de acordo com os artigos do regulamento em vigor na altura (REBAP). Foi um horror de trabalheira que me encheu horas infindas de trabalho de calculadora, mais de 30 páginas de esquemas de corte, desenhos individuais por varão, agrupamentos por diâmetro e grupos de fundações, encontros, pilares e tabuleiros, enfim, não quero ser imodesto mas estava ali um trabalho visto e revisto com todo o detalhe digno de ser apreciado para uma disciplina de betão armado e cálculo detalhado de pontes. Para concluir encadernei o com todo o cuidado, com páginas todas numeradas, na altura ainda não havia computadores pessoais, uma capa com uma ponte a condizer e um título pomposo, uma bela publicação, um mimo!
Quando terminei o trabalho fui pessoalmente entregá lo, queria ouvir da boca do Director um elogio pelo excelente trabalho que tinha feito:
Caro Engenheiro, aqui está o trabalho que me pediu, verifique p.f. se está tudo conforme pretende!
Então deixe cá ver, Nuno
Para meu espanto não viu nada do trabalho, abriu apenas na última página, olhou só para o número final do peso total de armaduras passivas, tomou nota do valor e devolveu me o dossier que me dera tanto trabalho a elaborar:
Humm, deixe me tomar nota, ok, 128 946,38 kg, (nota: o número não era o verdadeiro porque não me lembro dele, isto é só para recriar a história). Está bom, tome nota deste valor porque vai passar a ser a referência da Brisa para o valor a comparar com o do Projectista para a reclamação dos trabalhos a mais do empreiteiro
Senhor Engenheiro, não me deixe frustrado, então não quer verificar se a metodologia empregue no trabalho das medições está correcto, veja o resto do trabalho, porque razão aceita logo o meu valor final?
Mas você tem aí um número final aproximado às centésimas do quilo, isso para mim é sinal que estudou bem o assunto e teve de o rever certamente por várias vezes Para nós o que interessa é só o número final, o seu trabalho serve apenas de justificativo, não vamos perder mais tempo, siga agora com a carta, escreva ao empreiteiro a indicar que o seu valor é o valor final encontrado de referência que vai servir para rectificar os trabalhos a mais!
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Neste número, a newsletter do DEC foi ao encontro de Rui Leal Pedroso de Lima, ex aluno do DEC e com um percurso promissor. Terminou o seu curso de Mestrado Integrado em Engenharia Civil, na Área de Especialização em Hidráulica, Recursos Hídricos e Ambiente, em 2013, sendo que desde sempre procurou novos desafios além fronteiras.
Começou com um estágio na Deltasync, empresa multinacional dedicada à investigação e consultoria na área das cidades flutuantes, onde teve a oportunidade de avaliar o potencial deste tipo de estruturas no combate à escassez de espaço em meio urbano. Atualmente é investigador da recém formada INDYMO, (Innovative Dynamic Monitoring) com sede em Delft, na Holanda, onde explora a utilização de técnicas inovadoras na gestão dos recursos hídricos e qualidade da água.
1. Que problemas ou preocupações lhe suscitavam, na sua época de estudante no DEC, o curso e a Universidade?
À medida que fui avançando no curso, percebi que a conjuntura económica que atravessava o país estava cada vez mais a limitar o acesso a oportunidades de emprego de qualidade Como consequência, a minha preocupação era a mesma de todos: a previsível falta de oportunidades para entrar no mercado de trabalho, assim que acabasse o curso Sentia também alguma insegurança, pela falta de experiência profissional e vertente menos prática do curso (de acordo com o expectável de um curso universitário, com uma formação teórica de base forte)
Nesse aspeto parece me que seria benéfico o DEC promover junto dos estudantes a realização de estágios em ambiente empresarial (por exemplo com a abertura de algumas vagas para estágios de curta duração, ou em regime de part time), e apostar em estágios curriculares integrados em algumas disciplinas de especialização, à semelhança do que acontece noutros cursos da FCTUC Esses estágios, juntamente com a inclusão de outras atividades abrangentes e multidisciplinares (por exemplo a inclusão de trabalhos de grupo entre estudantes de diversas áreas de especialização, ou até de outros cursos) poderiam contribuir, desde logo, para facilitar a integração dos alunos no mercado de trabalho e prepará los para responder às exigências e competitividade empresarial
2. Depois de terminar os estudos, o DEC saiu da sua vida?
Não Mantenho contactos com o DEC, nomeadamente com a minha supervisora da dissertação de mestrado, mas também com outros professores, especialmente da minha área de especialização (Hidráulica) apesar da minha situação ser um pouco particular, dada a ligação da minha família ao Departamento O facto de fazer parte do MARE (Centro de Ciências do Mar e do Ambiente) que é um centro investigação nacional e que conta com a participação de investigadores da UC e do DEC, também contribui para manter essa ligação aberta Entretanto, colegas de curso começaram/continuaram também a trabalhar no DEC (enquanto investigadores ou alunos de doutoramento), por isso sempre que vou a Portugal a passagem pelo Departamento torna se obrigatória, onde reencontro sempre caras conhecidas!
3. Porque decidiu sair do país? quais as maiores dificuldades que teve para se adaptar, tanto a nível pessoal como profissional?
Este é um tópico algo complexo Ao contrário do cenário que geralmente se generaliza, não “emigrei” (não me identifico com o termo, já que do meu ponto de vista emigrar atualmente num mundo globalizado representa algo totalmente diferente do significado clássico) por falta de oportunidades, nem pelas fracas perspetivas de remuneração aceitável ou de boas condições de trabalho em Portugal Obviamente que tudo isso não ajudou a por a hipótese de permanecer no país, mas ao longo do curso fui me apercebendo da necessidade e da mais valia de investir na minha internacionalização e de desenvolver uma mindset internacional que a curto médio e também longo prazo me possa abrir muitas portas e oportunidades (inclusivamente em Portugal) Assim, ir para o estrangeiro nesta fase inicial da minha carreira era algo que sempre quis fazer Queria ganhar experiência fora do país e queria trabalhar em inglês.
No entanto, viver/trabalhar num país estrangeiro não é só rosas. Tem algumas coisas melhores, e muitas consideravelmente piores Para mim a adaptação foi fácil, não só por permanecer perto de Portugal, num país extremamente organizado que é parte desta aldeia europeia, mas também porque não vim sozinho e já tinha tido a oportunidade de viver diversas experiências no estrangeiro (período de mobilidade em Espanha e nos Estados Unidos) Mas claro, não estou no meu país, não falo a língua local, e vivo numa cidade a 60km do local de trabalho que, juntando ao facto de não ser tarefa fácil estabelecer grandes
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Entrevista a
amizades em ambiente de trabalho, não facilita a vida por aqui! Encontrar casa é também um desafio (vivi em 4 casas diferentes em menos de 1 ano), numa fase de incertezas, onde não sabia o que se iria passar dentro de 3 meses (aluguer de casa geralmente requer no mínimo 6 meses de contrato, e envolve orçamentos muito superiores aos que estamos habituados em Portugal) Encontrar trabalho também não foi simples, nem imediato, mas acabei por ter sorte de começar num sítio que acabou por se tornar uma mina de enormes e aliciantes oportunidades, apesar de ter tido que passar por uma sucessão de contratos temporários de curta duração (3meses+3meses+2meses), sem garantia de continuidade
4. Pode fazer nos um breve retrato da sua vida profissional desde que acabou o curso? Como chegou a Investigador/Engenheiro da INDYMO?
Comecei com um estágio na Deltasync, onde estive envolvido num projeto diferente de qualquer coisa que já tinha experenciado até ao momento, que consistia num estudo do potencial de cidades flutuantes como forma de combater a escassez de espaço e de outros problemas das mega cidades mundiais (BlueRevolution) A ideia tem por base uma visão sustentável e integra a produção de energia e de comida (aquacultura), aproveitamento de nutrientes em excesso na zona e reutilização de resíduos Após este estágio, contrataram me para trabalhar num projeto em que o objetivo era investigar qual o possível impacto dessas mesmas estruturas flutuantes na qualidade da água e na ecologia Para isso, utilizámos um drone submarino (ROV) equipado com sensores e câmaras de vídeo para medir a qualidade da água, e efetuámos medições na vizinhança de diversas estruturas flutuantes existentes na Holanda Este estudo foi um sucesso, e de repente, a utilização do drone como ferramenta para efeitos de monitorização tornou se um exemplo de inovação Na sequência do projeto foi criada uma nova startup chamada INDYMO (Innovative Dynamic Monitoring) para explorar esta e outras técnicas inovadoras com aplicações na gestão da água, que é onde trabalho atualmente.
5. Como vê o futuro? tenciona regressar a Portugal a curto prazo?
Sinceramente, pensar no futuro é algo complicado nos dias que correm Não só em Portugal É algo global e que resulta na frequente referência a uma “geração temporária” E não considero que seja um problema, mas sim algo diferente da realidade dos nossos pais e avós, onde um emprego estável e garantido indefinidamente era comum O atual mercado de trabalho, mais dinâmico, resulta num acréscimo de pressão sobre nós que implica a necessidade de estar constantemente a trabalhar para melhorar, para ter um melhor currículo e para adquirir competências e conhecimentos que nos diferenciem dos outros, sob pena de não conseguir o emprego seguinte e ficar desempregado por período incerto
Regressar a Portugal, acredito que sim; quando, não sei. Para já: Holanda. Não até sempre, seguramente, mas com a velocidade a que as coisas mudam, julgo ser irrelevante começar já a pensar onde será a próxima aventura daqui a 4 5 anos Cada coisa a seu tempo, e só o futuro dirá É me mais útil pensar no rumo que quero dar à minha carreira, e continuar a descobrir aos poucos exatamente a área que mais me atrai, e o tipo de trabalho que gosto mesmo de fazer
Representação do conceito BlueRevolution (http://blue21.org)
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6. Quer deixar alguma recomendação aos actuais alunos do DEC?
Tendo estes pontos em conta, aproveito para deixar alguns conselhos aos atuais alunos de Engenharia Civil Tentem desenvolver ao máximo as soft skills durante os anos de Universidade Coimbra é perfeita para isso, já que existem inúmeras associações de estudantes disponíveis, e um sem fim de atividades extra curriculares em que se podem envolver Fazer estágios em empresas/instituições sempre que possível também é fundamental (prática corrente, e mesmo obrigatória na Holanda chega mesmo a fazer parte dos planos de estudo), para evitar o que me aconteceu a mim, que foi chegar ao fim do curso com pouca experiência profissional em ambiente de trabalho, e ainda com uma forte necessidade de me familiarizar e adaptar às novas exigências e responsabilidades
Floating Pavilion, Roterdão. Exemplo de uma das estruturas flutuantes estudadas na investigação sobre impactos na qualidade da água. Deltasync esteve também envolvida no projeto, que é um ícone da adaptação da cidade às alterações climáticas (flood proof buildings).
Imagem subaquática do ecossistema presente debaixo de uma casa flutuante, capturada com o drone submarino (ROV) em Maasbommel, Holanda
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Rui Lima, com o drone submarino equipado com sensores (ROV)
A newsletter foi à procura do ex aluno do DEC David Taborda. Entrou para o DEC em 1999, tendo em 2004 concluído a sua Licenciatura em Engenharia Civil, especialidade em Geotecnia. Foi monitor na área de especialização em Geotecnia, mas foi no Brasil que iniciou a sua atividade profissional, ao acompanhar as obras do metro de S. Paulo. A sua entrada no Imperial College deu se enquanto aluno de doutoramento, trabalho que veio a concluir em 2010.
Depois de uma passagem pelo mercado de trabalho, voltou em 2012 para o Imperial College, como docente no grupo de Geotecnia do Departamento de Engenharia Civil
impressões guarda da sua passagem pelo DEC? Que memória lhe traz a vida académica no DEC??
Predominantemente guardo excelentes recordações da minha passagem pelo DEC Durante os cinco anos em que tive o prazer de ser aluno no DEC fiz grandes amizades que ainda hoje tenho a felicidade de manter e aprendi imenso com docentes competentes tanto cientificamente como pedagogicamente O curso exigiu imensa dedicação e trabalho recordo noites intermináveis a trabalhar em projetos e relatórios mas, como recompensa, providenciou uma série de ferramentas que me foram úteis em diversas fases da minha vida académica e profissional nos últimos 10 anos Igualmente importante (ou, em alguns aspetos, ainda mais importante) foi a componente, na falta de melhor definição, extra curricular: os convívios organizados pelas diferentes faculdades, as festas académicas da Latada e Queima das Fitas, os jogos da Briosa, os jantares de curso, etc Guardo uma lista de recordações das quais o único lamento é saber que não se poderão repetir e, com elas, histórias que partilho com muitos amigos
2. Pode fazer nos um breve retrato da sua vida profissional desde que acabou o curso? Como chegou a docente no Imperial College London?
Durante o meu quinto ano, tive o privilégio de trabalhar no Laboratório de Geotecnia como Monitor, sob a orientação do Prof. Almeida e Sousa. Neste período dei os primeiros passos em análise numérica em Geotecnia, campo desde então central a toda a minha atividade profissional e de investigação Depois de terminar os estudos em 2004, estive durante seis meses em São Paulo, Brasil, onde acompanhei o projeto de diversas estações das Linhas Amarela e Verde do Metro de São Paulo Esta passagem pela indústria, onde aprendi como aplicar na prática um grande número de conceitos que tinha aprendido no curso, ajudou me a decidir que queria aprender mais sobre o comportamento do solo e de obras geotécnicas Quando voltei para Portugal e retomei a minha posição como Monitor, dediquei me mais a atividades de investigação e concorri, com sucesso, a uma Bolsa de Doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia Este apoio permitiu me ingressar no Imperial College como aluno de doutoramento em Geotecnia, onde investiguei como simular o comportamento do solo sob ações cíclicas de modo a este aspeto poder ser incluído com maior realismo no projeto de estruturas de Engenharia Civil Apos concluir o doutoramento em 2010, trabalhei durante dois anos numa empresa especializada em consultoria de projetos geotécnicos Voltei ao Imperial College em 2012 como docente no grupo de Geotecnia do Departamento de Engenharia Civil, responsável pelo desenvolvimento da área de Energia em Obras Geotécnicas, tanto do ponto de vista numérico como experimental.
3. Depois de terminar os estudos, o DEC saiu da sua vida? Atualmente mantem algum contacto pessoal/académico com o DEC?
Devido ao meu percurso profissional e às excelentes recordações que tenho do meu trabalho enquanto Monitor, sempre mantive frequente contacto com o Laboratório de Geotecnia do DEC Profissionalmente, esta relação traduziu se não só em diversos trabalhos científicos com membros do Laboratório publicados em varias conferências nacionais e internacionais, principalmente com o Prof António Pedro, como também na coorientação de alunos de doutoramento com o Prof Paulo Coelho, com o qual partilho interesse científico no comportamento cíclico de solos De facto, o DEC é paragem obrigatória sempre que estou em Portugal
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Entrevista a David Taborda
4. Como divide a sua atividade em termos letivos e de investigação? Algum projeto que queira destacar?
No Imperial College o meu trabalho é maioritariamente focado em investigação, onde coordeno o trabalho na área de Energia em Obras Geotécnicas, o que implica, por ser um campo novo na instituição, longos períodos de trabalho a desenvolver tanto métodos numéricos para cálculo de transferência de calor entre estruturas e solos, como também de ferramentas experimentais para a caracterização do efeito da temperatura no comportamento de solos Paralelamente, contribuo para uma área que tem conhecido grande desenvolvimento na Europa que é a das fundações para geradores eólicos off shore, onde participo no projeto Pile Soil Analysis (PISA) com outras duas Universidades e que é financiado diretamente pelas maiores empresas a operar no Mar do Norte e no Mar Báltico. Este projeto tem como objetivo revolucionar os métodos de dimensionamento de estacas para este tipo de estruturas e para isso inclui análise numérica com modelos avançados, caracterização laboratorial de amostras de solos representativos das condições do Mar do Norte e testes em campo com estacas com diâmetros até 2m As minhas atividades letivas incluem a regência da cadeira de Matemática I do curso de licenciatura em Engenharia Civil, cuja responsabilidade foi recentemente transferida para o nosso departamento, e da cadeira de Comportamento Avançado de Solos para o Mestrado em Mecânica dos Solos Tenho ainda que coordenar uma das cadeiras de um programa doutoral em Sustentabilidade em Engenharia Civil e que contribuir para a cadeira de Sistemas de Energia do primeiro ano da licenciatura A isto soma se ainda a responsabilidade de orientar a investigação de alunos do último ano da licenciatura, de mestrado e de doutoramento.
eólico do efeito da temperatura em solos. poço assinalado vermelho com abstração de água no poço assinalado a azul.
5. Que conselhos dá aos atuais alunos de Engenharia Civil? Que áreas devem ser privilegiadas na sua formação?
Aos atuais alunos de Engenharia Civil, digo apenas para aproveitarem ao máximo o privilégio de serem alunos do DEC que certamente continuará a providenciar aos seus alunos todas as oportunidades para o seu desenvolvimento profissional Para além deste aspeto, Coimbra, como cidade, é um local extremamente ativo do ponto de vista cultural, o que ajuda a expandir os horizontes pessoais dos alunos da UC, que é tão importante como qualquer assunto científico abordado no curso
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Modelo numérico para análise de fundações Gerador
Izel Issufo
Engenheiro Civil
Entrada no DEC: 2011/2012, Mestrado
Porque escolheu o DEC para estudar?
Quando acabei o ensino secundário, em Moçambique, pus a hipótese de estudar em Portugal. Tinha que analisar, devidamente, três opções: UC, FEUP e IST. A grande questão era decidir me entre Coimbra e Porto, como primeira escolha. Depois de analisar o ranking das Universidades e, tendo em atenção a fama internacional de Coimbra, acabei por escolher em primeiro lugar a UC. O DEC, para mim, representou a minha segunda casa. Era frequente a colaboração entre todas as partes envolvidas no processo de aprendizagem e o espírito de camaradagem era uma constante. Fiz muito amigos, desde colegas a professores. O que sei hoje, como engenheiro civil, devo o ao DEC.
Como surgiu e até onde o levou o seu interesse em viajar?
O meu interesse em viajar levou me já a conhecer todos os continentes
(expeto Oceânia), e surgiu desde que decidi estudar em Portugal. Foi essa a minha primeira grande viagem, sair de Moçambique para Portugal. Na altura, apenas tinha saído para países vizinhos de Moçambique. Comecei no meu segundo ano no DEC quando decidi fazer o Interrail durante aproximadamente um mês (Portugal, Espanha, França, Suíça, Áustria, Republica Checa, Alemanha, Holanda, Bélgica e Inglaterra). Nas férias de verão voltava, sempre, a Moçambique. Preferia apanhar um voo com escalas e, além de sair mais barato, tinha hipótese de conhecer mais lugares! (Qatar, Emirados, Itália, Etiópia, Tanzânia). Geralmente, parava uma ou duas noites em cada lugar, o que me possibilitava sair e apreciar outras vivências e culturas.
O ano mais marcante, foi o meu 4º ano. Decidi fazer intercâmbio, no 1º semestre, em Macau. A partir daí visitei a China, Taiwan, Malásia, Tailândia, Cambójia, Vietnam e Laos. No 2º semestre fui estudar para o Brasil onde viajei bastante. Passei, também, pela Argentina e Paraguai.
A minha viagem mais longa foi de comboio, no Vietnam, de Ho Chi Min para Hanói (cerca de 32h). De avião foi a de Lisboa para Hong Kong (cerca de 24h com escalas), e o meu recorde de voo mais longo foi de Washington para Johannesburg (16.5 horas de voo, sem paragem).
O que há de melhor e de menos bom nas viagens? Como seleciona o destino e faz o planeamento? Viajar é uma atividade enriquecedora, mas dispendiosa … como gere essa questão?
O pior nas viagens é, apenas, o cansaço. Como exemplo, refiro a viajem que fiz, na Ásia, com quarenta e cinco dias de duração e com a média de três dias em cada cidade. Quando regressava a casa só me apetecia ficar uma semana no descanso… mas, depois, o “bichinho” instalava se, outra vez, e começava logo a pensar em mais viagens! Quanto ao planeamento uso, habitualmente, sites: Tripadvisor, Booking, Hostelworld, Trivago, etc houve alturas que, também comprei livros como os da lo-
Integrado em Engenharia Civil, Especialização de Geotecnia
“Adoro Viajar...”
DEC Noticias | 1º Trimestre 2017 71
sua aquisição. Sempre geri da melhor forma a minha mesada, mas também, sempre que foi preciso, contei com o apoio dos meus pais. No caso da Ásia, por exemplo, a viajem foi paga por mim graças ao trabalho part time que arranjei na Universidade de Macau e as poupanças que fui acumulando durante a minha estadia naquele país, pois o custo de vida em Macau era relativamente mais baixo que em Coimbra. Na América Latina, a situação foi semelhante à da Ásia, tendo trabalhado na Universidade Federal de Minas Gerais.
Tem algum episódio marcante que queira partilhar? em que medida esta atividade influencia a sua maneira de ser e o seu desempenho no DEC?
As experiências mais chocantes e arrepiantes que tive foram, certamente, na Ásia, por serem culturas muito diferentes. O mais constrangedor foi comer cobras, baratas ou escorpiões. Já a nível da adrenalina, foi a experiência de conduzir na Tailândia e Vietnam ou apanhar o táxi mota, no centro do Vietnam, sem capacete. Esta atividade nunca afetou o meu desempenho no DEC, pois apenas viajei durante as férias. As viagens realizadas na Ásia e América Latina efetuaram se aquando dos Intercâmbios referidos e durante o período de cerca de três meses de férias. As diferenças de calendário escolar entre Macau e o Brasil possibilitaram estas deslocações.
Desde que terminou o curso, que oportunidades lhe têm surgido? O que pensa vir a ser a sua vida profissional a curto/médio prazo?
Depois de terminar o curso viajei pelo Canadá, onde passei cerca de dois meses. Depois desse período fiz várias entrevistas de trabalho, nomeadamente para a Noruega, UK, Brasil, África do Sul e Moçambique. Entretanto, desde dezembro que trabalho como freelance em Nacala, Moçambique. Enquanto aguardo os resultados dessas candidaturas, estabeleci parcerias com algumas empresas portuguesas o que me tem possibilitado a elaboração de projetos em diversas áreas da engenharia civil.
Nesta fase gostaria de trabalhar numa boa empresa multinacional, de preferência fora de Moçambique, de modo a consolidar os conhecimentos obtidos durante o curso. Gostei muito da empresa norueguesa, Statoil, onde tive a oportunidade de fazer uma entrevista presencial e entrar em contacto com o mundo empresarial norueguês e, principalmente, com o seu método de trabalho. De momento, espero o resultado da mesma. Caso seja aceite, esta será a minha primeira opção dado que trabalhar numa das maiores empresas do mundo ligada as energias, é sempre um privilégio. Teria a oportunidade de exercer na área da minha especialização, geotecnia offshore e onshore e, quem sabe, não seria um incentivo para um doutoramento no futuro próximo.
DEC Noticias | 1º Trimestre 2017 72
Ângela Lemos
Engenheira de Estruturas na Pell Frischmann (Londres)
Entrada no DEC: 2010/2011, Mestrado Integrado em Engenharia Civil, Especialização em Mecânica Estrutural
Escolheu Engenharia Civil como primeira opção? porquê?
Sim, escolhi como primeira e única opção na verdade. No meu caso, escolher foi difícil no inicio do secundário, mas fácil no final do mesmo. Inicialmente comecei o secundário em artes. Pensava em seguir arquitetura. Após um período percebi que não pertencia ali. Decidi, então, pedir transferência para o curso de ciências. Foi difícil no inicio, com a implementação dos exames intermédios em 2008. Passei as férias do Natal a estudar para compensar toda a matéria perdida em aulas que não tinha frequentado. No entanto, todo este esforço inicial valeu a pena quando percebi que tinha tomado a decisão certa e que gostava daquilo que estudava. Isso é omais importante! Temos que gostar sempre daquilo que estudamos e é fácil perceber. Basta sentir nos motivados. Quando pedi transferência foi quando decidi que queria ir para Engenharia Civil. Talvez por ter percebido que gostava mesmo muito de física e de matemática que são na verdade os grandes alicerces de Engenharia Civil e porque era a engenharia que mais se aproximava de arquitetura. Nunca mais voltei a pensar sobre o assunto. No final do secundário, quando foi preciso escolher o curso preenchi apenas a primeira opção: Engenharia Civil na Universidade de Coimbra, deixando todos os restantes espaços em branco. Nesse dia, quando cheguei a casa, o “professor Lemos” perguntou me: “O que escolheste?”. Ao que eu
respondi: “Engenharia Civil em Coimbra”. O meu pai continuou: “Sim filha. E mais?”. Eu olhei para a sua cara de admiração e respondi: “Mais nada!”. Os meus pais ficaram perplexos.
Terminou o curso com uma das melhores classificações de sempre do DEC, sendo mesmo a mais alta obtida por alguém do género feminino. Quais as principais razões que pode apontar que contribuíram para este excelente resultado?
Quando comecei a Universidade nunca pensei que poderia ter o desempenho que tive. Nos primeiros exames obtive boas classificações e fiquei um pouco surpresa. Na altura era bastante desorganizada. Perdia cadernos nos autocarros, levava folhas soltas para as aulas, fazia exercícios práticos em folhas de rascunho e, depois ou mesmo durante a resolução, mandava as folhas para olixo. Se quisesse consultar o racio-
cio ou ia ao lixo buscar, se é que era possível encontrar alguma coisa nos montes de papel que enchiam aquele caixote. Extremamente prático como se pode ver. Mas com o tempo, percebi que podia fazer mais. Sentia me motivada. Comecei a precisar de ser organizada. Comecei a usar dossiers nos quais fragmentava cada cadeira em 4 subcapítulos: apontamentos das aulas; resumos; exercícios práticos das cadeiras; e exames resolvidos. No segundo ano comecei a preparar estes dossiers para a minha “afilhada de praxe”. O facto de estar a preparar as coisas para o uso de outra pessoa também me ajudou a ser mais metódica e organizada. Passado algum tempo, os apontamentos já não eram só para a minha “afilhada”, mas para muitos outros colegas, conhecidos e até desconhecidos da Universidade. Penso que os ingredientes da receita para o meu sucesso foram, então, motivação, ambição, persistência,
“Temos que estar bem com o que fazemos e não ter medo da mudança...”
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xante em casa e com os amigos. Tudo isto aliado a muito trabalho já que, por melhor que alguém seja, nada se consegue sem muito trabalho. Também é importante dizer que a vida social e as atividades extracurriculares que tive, curso de jazz e futebol feminino mais tarde, sempre me ajudaram a aliviar o stress dos estudos.
Como imagina/desejaria que fosse a sua vida profissional a curto/ médio prazo? No país ou no estrangeiro? num gabinete de projetos, na produção, ou como investigadora (continuar para doutoramen-
Perguntei todas essas questões a mim mesma há um tempo atrás. Já tive a oportunidade de trabalhar como investigadora na Universidade de Coimbra durante um ano e foi me oferecida a possibilidade de continuar para doutoramento. No entanto, acabei por desistir após concluída a parte curricular do doutoramento. Todos os meus estudos foram em Coimbra e sempre foi a cidade onde vivi. Por agora, decidi ir trabalhar para uma empresa de projetos e consultoria em Inglaterra (Londres), Pell Frischnann. Têm vários gabinetes e fazem projeto um pouco por todo o mundo. Sinto que
vou aprender bastante com pessoas experientes no campo da indústria. A transferência de conhecimento é uma constante. Um dia ele é te transmitido e tu esperas transmiti lo a uma próxima geração. Quanto ao doutoramento não ponho de parte a hipótese de o fazer. Continuo a procurar. Penso, no entanto, que esse é um passo que requer muita reflexão e ponderação seguido de uma motivação forte. No meu caso, não encontrei exatamente aquilo que queria. O tema que tinha não me estava a dar motivação suficiente e precisava de mudança. Decidi, então, prosseguir para a indústria e mudar me para Londres. Acima de tudo, temos que estar bem com o que fazemos e não ter medo da mudança. Somos jovens e as escolhas devem ser conscientes e não precipitadas.
De que forma o estágio que desenvolveu, no âmbito de um programa de mobilidade internacional, a marcou e influenciou no rumo profissional que seguiu. Recomenda a participação dos atuais alunos em programas de mobilidade?
A minha experiência de Erasmus teve partes boas e más. Boas porque gostei bastante do departamento de LiÈge (Bélgica), os professores que me orientaram deram me bastante apoio: um escritório para trabalhar e grande disponibilidade para esclarecimentos. Adorei a cerveja belga. Melhorei o meu Inglês, fiz amizades no estrangeiro, sai da rotina de Coimbra. A parte negativa de Erasmus esteve relacionada com o facto de ter escolhido viver nas residências de estudantes. Pensei que ia conhecer mais estudantes de Erasmus e aproveitar mais o am-
biente académico mas a verdade é que muitas das pessoas que viviam nas residências não eram estudantes, o ambiente não era omelhor, as residências eram longe do centro, não tinha nenhum supermercado perto, não havia transporte até tarde e consequentemente era pouco económico sair à noite. A experiência vale sem dúvida a pena, pode abrir horizontes, ajuda a fazer contatos no estrangeiro e é uma experiência única. Mas tem que ser devidamente programada. Coisa que eu não fiz...
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colher a Universidade de Coimbra e o curso em Engenharia Civil?
Sou natural de Coimbra e residi sempre nesta cidade até ao início da minha atividade profissional. O fascínio pela Academia, a excelência de ensino que a instituição representa, fez com que cedo aspirasse estudar nesta universidade.
A opção pelo curso de Engenharia Civil surgiu naturalmente com meu deslumbramento precoce pelas construções mais arrojadas, que constantemente desafiam o Homem à procura das soluções mais audazes para vencer os grandes desafios impostos tanto pela Natureza, como pelas exigências da arquitetura moderna.
Como surgiu a oportunidade para trabalhar na Coba?
As barragens e os Aproveitamentos Hidráulicos sempre foram obras que me despertaram uma enorme curiosidade, quer pela dimensão, quer pela complexidade e envolvimento de vastas equipas multidisciplinares. A Coba é uma empresa a qual ambicionei integrar quando, durante o curso, percebi que além de ser uma das maiores referências mundiais no projeto de barragens, um antigo docente do DEC UC, o Professor Laginha Serafim, tinha sido fundador dessa empresa. Participar na equipa de projeto de barragens da Coba foi um objetivo que felizmente consegui atingir. O grande número de barragens espalhadas pelo mundo e projetadas pelo Prof. Laginha Serafim são exemplos vivos da qualidade e excelência exímia de Enge-
Tatiana Sá Marques
Prémio melhor estágio 2016 da O.E. – Colégio de Engenharia Civil
Entrada no DEC: 2006/2007, Mestrado Integrado em Engenharia Civil, Especialização em Mecânica estrutural
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Participar na equipa de projeto de barragens da Coba foi um objetivo que felizmente consegui atingir...”
nharia feita em Portugal.
Pode descrever de forma breve a atividade desenvolvida no âmbito do seu estágio, submetido à OE?
O meu estágio para a OE, desenvolvido no âmbito do projeto de estruturas especiais, designadamente barragens e aproveitamentos hidroelétricos, consistiu na realização de projetos de estruturas metálicas, de betão, estruturas hidráulicas e estruturas geotécnicas. Desenvolvi o cálculo estrutural, preparação, acompanhamento de peças desenhadas e escritas, e tarefas administrativas associadas aos respetivos projetos de execução. Destaco pela importância e dimensão os seguintes projetos em que participei: Projeto de Execução do A.H. de Ribeiradio Ermida, em Portugal; Projeto de Execução da Estrutura de Controlo de Inundação do Rio Imboaçu, no Brasil, e Projeto Base do A.H. de Caculo Cabaça, em Angola. Em todas estas obras integrei equipas coesas e experientes, permitindo me desenvolver capacidades de interação profissional, de organização, bem como aprofundar os conhecimentos de outras áreas através da participação em projetos estruturantes e vitais para a economia dos países destinatários das obras: Portugal, Brasil e Angola.
Quais lhe parecem ser as vantagens e desvantagens competitivas do curso de Engenharia do Civil da FCTUC comparativamente aos dos outros concorrentes ao cargo que ocupa na Coba?
Sinceramente, acredito que o curso de Engenharia Civil da FCTUC proporciona as ferramentas necessárias
para o sucesso profissional de qualquer aluno empenhado, e nunca senti alguma lacuna na minha formação de base, quando comparado com outros colegas formados noutras instituições. Além da minha própria experiência, conheço proximamente outros casos de ex alunos de Coimbra, que vingaram noutros países e as suas empresas empregadoras manifestam se satisfeitas com odesempenho das suas funções. Não obstante, existem algumas desvantagens que se prendem fundamentalmente pelo enquadramento económico e geográfico de Coimbra: a região centro encontra se com poucas oportunidades profissionais, com escassez de empresas competitivas no setor da Engenharia Civil e da indústria. Este facto naturalmente influencia os alunos na altura de escolher a escola onde pretendem tirar o curso de Engenharia Civil.
Em que Projetos relevantes já teve oportunidade de participar desde que terminou o seu curso?
Além dos projetos que desenvolvi durante o estágio, e que citei anteriormente, tive ainda oportunidade de fazer revisão de projeto de algumas obras hidráulicas e dimensionamento de viadutos, na Argélia, ao serviço da Coba. Simultaneamente tenho desenvolvido, em atividade liberal, outros projetos, nomeadamente, projeto de reservatórios para abastecimento de água, moradias, estudos de viabilidade de aproveitamentos hidroelétricos para sistemas de rega, etc., uma vez que considero importante, para o crescimento profissional de um engenheiro, a sua experiência o mais eclética possível.
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O que representa o DEC para si, qual a sua visão sobre a vivência no DEC?
Pessoalmente, pelo facto de ser de Coimbra, acredito que a minha vivência no DEC não foi tão marcante como terá sido para estudantes que vieram de outros locais do País. No entanto, creio que existe um núcleo de estudantes que dá apoio aos alunos e os instiga a participar nas diferentes atividades promovidas pelo DEC. Da minha experiência pessoal, acho importante existir iniciativa do DEC em promover visitas de estudo a obras importantes em Portugal, de modo a estimular e motivar os alunos a serem empenhados durante o seu percurso académico. É importante existir a ambição necessária para serem bons profissionais de Engenharia. Penso que este contacto com as construções existentes permite ganhar sensibilidade com a profissão e perceber a importância e responsabilidade do nosso trabalho na sociedade civil.
Na sua opinião, qual é a imagem que a Universidade de Coimbra tem no panorama universitário nacional e estrangeiro?
A UC tem tido dificuldade na captação de alunos, quer pelo paradigma económico depressivo nacional, e que se revela ainda mais agravado na Região Centro, conforme já referi anteriormente, quer também pela
existência de outras instituições de ensino na proximidade da região que, ao contrário da UC, têm desenvolvido ações de promoção e divulgação dos seus cursos há mais tempo e com maior expressão. Acredito piamente que a UC, assim como qualquer instituição, empresa ou entidade, necessita ser dinâmica e acompanhar as necessidades do mercado profissional, sendo versátil e adaptando os programas de ensino às exigências das empresas atuais, com a mesma velocidade com que os mercados mudam.
A capacidade de desenvolvimento de trabalho científico de qualidade na UC é indubitável, tanto nacional como internacionalmente, contudo, só será possível ser mantida se a instituição for sustentável e, para isso, é necessário captar alunos e ter capacidade de inseri los posteriormente no mercado de trabalho.
Usufruiu de um período de mobilidade na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. De que forma essa experiencia influenciou a sua formação e percurso profissional? Que conselhos daria aos alunos que ponderam sair em mobilidade?
A minha experiência de mobilidade internacional foi importante na medida em que tive contacto com outra realidade académica e profissional, desenvolvendo assim a minha capacidade de adaptação a diferen-
tes contextos. Cada país tem uma tradição na prática de engenharia e regulamentação próprias e, como tal, é crucial um engenheiro ser versátil e ter a capacidade de adaptação necessária para desenvolver a sua prática em qualquer parte do mundo, respeitando as normas vigentes no país onde decorre a obra e ainda, adaptando as suas soluções à realidade da local. No panorama mundial atual, as empresas necessitam de ser competitivas a nível global, pelo que o seu mercado, outrora limitado ao contexto nacional, passou a ser o mundo. Por todas estas razões, recomendo vivamente uma experiência internacional como um primeiro contacto com um contexto distinto, ainda que limitado pelo âmbito académico.
Pondera a hipótese de prosseguir para doutoramento?
Na minha ótica, qualquer engenheiro, ao longo da sua vida prática de engenharia, necessita estudar continuadamente e acompanhar o desenvolvimento tecnológico da sua profissão, já que as tecnologias são mutáveis ao longo do tempo. Como tal, sendo o estudo uma necessidade intrínseca ao exercício da minha profissão, se algum dia necessitar de aprofundar conhecimentos mais específicos numa determinada área, odoutoramento será certamente uma hipótese a ter em considera-
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imagens propriedade da Coba, Consultores de Engenharia e Ambiente
Rui Furtado
Engenheiro Civil
Nascido em 1929 na Beira, Moçambique, é Especialista em Geotecnia, Membro Sénior e Membro Conselheiro da Ordem dos Engenheiros. É prémio Conselho Diretivo da Região Centro da Ordem dos Engenheiros, e tem duas das suas obras referidas no livro publicado pela OE “As 100 obras de Engenharia Civil Portuguesas do Século XX”
Como veio ter à Engenharia Civil? como era a sua vida nessa altura?
Na verdade, o meu sonho era ser médico, mais precisamente psiquiatra. Um problema de saúde do meu pai, um AVC, e as dificuldades económicas que, por consequência, lhe seguiram, foram determinantes para desistir do meu sonho. Fui trabalhar como Aspirante no quadro administrativo, e nos Caminhos de Ferro de Moçambique, aproveitando para requerer fazer tropa aos 20 anos de idade, e assim fiz a recruta e o curso de Oficial Miliciano (1º e 2º Ciclos). Vivia convencido que não conseguiria ter condições para estudar. Perante a minha tristeza, o meu irmão e três amigos combinaram ajudarem me a concretizar o meu sonho, e deram cada um deles 500 escudos para vir estudar para Portugal. Tive muita sorte, pois no exame de admissão tive nota de 16 valores, o que deu direito a uma bolsa de estudos dada pelos CTT’S aos seus funcionários e familiares (o meu pai tinha sido funcionário), e assim não foi necessário beneficiar da oferta referida.
Entrei no curso de Minas no IST, que era um curso de poucos alunos e se perspetivava de boa saída profissional. No entanto, no segundo ano desisti e mudei para Engenharia Civil, um tanto ou quanto devido à minha fobia por espaços fechados e pequenos, mas principalmente porque me agradava a grande paleta de temas abordados na Engenharia Civil
(pontes, vias, estruturas, hidráulica, etc.) e consequentemente a maior hipótese de realização pessoal. Ainda tive de cumprir 6 meses de Serviço Militar durante o 3º ano do curso, ao contrário dos colegas que tiveram de fazer 1 ano, e terminei o curso em 1958.
Teve algum professor que o tivesse marcado em especial ?
Tive bons professores, mas um foi realmente especial, e marcou me, pela maneira distinta de ensinar: o Eng. Edgar Cardoso, professor de Pontes e Estruturas Especiais. Tinha uma grande sensibilidade acerca do comportamento das estruturas, muito devido à experiência dos modelos físicos que desenvolvia e ensaiava. Ele procurava fomentar nos alunos a compreensão do comportamento, o “sentir” a estrutura. As aulas não tinham um formato tradicional, eram conversas, onde descrevia situações e pedia soluções. Essas possíveis soluções eram apresentadas e
devidamente justificadas pelos alunos, sendo habitualmente contrariadas pelo Eng. Edgar Cardoso. Estas discussões pretendiam incentivar o desenvolvimento da inovação nas soluções, o trabalhar em equipa e o envolver das componentes principais do conhecimento: os materiais, as estruturas e a geotecnia.
Ao longo da vida fui tendo várias oportunidades de me encontrar com ele, os nossos caminhos profissionais foram se cruzando de onde em onde, encontros esses que foram sempre muito agradáveis e que eu recordo com saudade.
Tem uma frase: “Faz parte do ser humano um gosto intrínseco de domar a Natureza”. A atividade da Engenharia Civil é propícia a isso … oque é para si ser Engenheiro Civil?
Aquilo que o Homem mais faz é efetivamente mudar a Natureza a seu
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Agradava-me a grande paleta de temas abordados na Engenharia Civil ...
...Aquilo que o Homem mais faz é efetivamente mudar a Natureza a seu favor, em especial na Engenharia, nomeadamente na Civil.
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nomeadamente na Civil. A parte mais nobre, as grandes obras da Engenharia Civil são as Barragens, as Pontes, os Túneis, o Melhoramento dos terrenos … ora as barragens mudam tudo, muda se o curso dos rios, permitem a rega e por isso o controle da natureza na sua componente “verde”, são centrais de energia, permitindo entre outras coisas a vivência durante a noite como se fosse de dia … as pontes, os túneis, … o túnel de Londres vai até cerca de 40 m de profundidade!!! e o túnel que passa por baixo do Canal da Mancha? … estas obras mudam completamente a maneira como nos movimentamos, hoje não há limites graças à Engenharia!! e o melhoramento dos solos o que é, se não o alterar da natureza? Ai o solo não serve? então escolhe se uma técnica, os materiais, e voilá, já serve! A Geotecnia é realmente essencial, se esta falha … falha tudo, e por isso é tão desafiante!
Tem algum episódio/obra marcante na sua vida que queira partilhar?
Tenho vários, mas um em especial que gosto de contar, porque mostra a importância de o engenheiro olhar para o problema de perspetivas diferentes.
A Companhia elétrica de Moçambique apresentou um projeto para a linha de alta tensão Mavudzi Beira, que consistia em grandes sapatas 7x4 m2 e 8x4 m2, em betão armado com aço A50 e A60, que não era produzido em Moçambique. Pediram me para o substituir por A24 e A40, que, esse sim, era produzido lá. Analisado o projeto perguntei se era possível apresentar uma variante, ao que disseram que sim. A variante que apresentei não só utilizava aço produzido na região, mas também evitou a construção de ensecadeiras para a construção das sapatas de grande dimensão, que foram substituídas por poços, um para cada pé da torre, travados com vigas. Transformou se assim uma ação de momento por um binário compressão/ tração. Cada poço, com 2 m de altura, era constituído por duas manilhas sobrepostas, muito utilizadas na construção, foi selado no fundo com betão, e preenchido com enrocamento. Fáceis de cravar num terreno de argilas muito moles, esta solução permitiu, apesar do tempo necessário à revisão do projeto, cumprir todos os prazos anteriormente estabelecidos, terminar a obra antes da época das chuvas, com muito menos custos, e com um prémio aliciante.
Começou por exercer a sua atividade profissional em Moçambique, onde permaneceu durante vários anos, mas em 1972 regressou a Portugal. O que o fez sair de Moçambique? Arrependeu se dessa decisão?
Na verdade, logo após terminar o curso, e ainda em Portugal, trabalhei na Comissão Executiva das Obras Militares Extraordinárias, na construção das novas instalações da NATO. Só ao fim de um ano (Novembro de 1959) é que regressei a Lourenço Marques, para trabalhar no Laboratório de Ensaio de Materiais e Mecânica dos Solos, mais tarde designado por Laboratório de Engenharia de Moçambique, LEM.
Em 1964 aproveitei uma licença graciosa (férias ultramarinas de 5 meses a cada 4 anos) e fui trabalhar na empresa Dinamarquesa, a Christien & Nielsen, em Copenhague, uma grande empresa de projeto e consultadoria internacional. Entretanto interessei me por ir tirar o Mestrado a Inglaterra, às minhas custas, e tive, mais uma vez, sorte, que é sempre importante na vida. Por questões políticas, a Fundação Calouste Gulbenkian foi nessa altura obrigada a dar bolsas para o Ultramar. Como só um médico e eu estávamos a tratar do processo para irmos estudar no estrangeiro, apenas nós apresentámos a candidatura e fomos felizmente contemplados. Ele foi para Londres e eu fui para a Universidade de Southampton para o curso “Advanced Engineering”, durante um ano. Fiz a parte escolar, o trabalho prático (no meu caso, projeto de uma ponte parte do tabuleiro, encontro e fundação) e a tese (Estruturas Plissadas).
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A Geotecnia é realmente essencial, se esta falha … falha tudo, e por isso é tão desafiante! ”
Antes de voltar para Moçambique, em 1966, passei ainda três meses em Portugal para tirar um curso sobre o “Novo Regulamento de Betão Armado”, que introduzia o conceito do cálculo à rotura e cálculo não elástico.
Nesse curso fui aluno, mas também professor, de dois outros capítulos: “Cálculo Plástico de Estruturas” e “Linhas de Rotura”, pois o professor encarregado, o Eng. Vítor Monteiro tinha sido entretanto mobilizado para a Guiné, e eu tinha conhecimento destas matérias, adquiridas no Mestrado. Regressei depois ao LEM onde mais tarde cheguei a chefiar o serviço de Sondagens e Fundações. Nesse período colaborei ainda com a Universidade em Moçambique, atualmente denominada de Eduardo Mondlane, na regência de várias cadeiras, tendo colaborado na formação das primeiras 4 gerações de Engenheiros dessa universidade.
A vinda para Coimbra foi, mais uma vez, uma mudança de vida não planeada. Em 1972 vim a Portugal numa outra licença graciosa, e ditou o acaso encontrar o Eng. Fernando Frade, na altura administrador da CINORTE, que me convidou a trabalhar na construção da fábrica de cimentos que iria começar em Souselas. Na mesma altura o Prof. Cotelo
Neiva, Reitor da Universidade de Coimbra, também me convidou a dar aulas no Departamento de Engenharia Civil, na época com instalações na Quinta da Nora. Era amigo do Diretor de Obras Públicas e fundador do LEM, Eng. Pimentel dos Santos, e conseguiu convencê lo a deixar me sair do LEM. Já não regressei a Moçambique, e fiquei em Portugal a acumular funções na agora CIMPOR e no DEC. Em 1999, ano de mudança do DEC para o Polo II, dei a minha última aula, a aula de Jubilação, por ter atingido o limite de idade, 70 anos. Nesse ano de 1999 fui a Maputo colaborar no curso de Engenharia Civil.
Não, não me arrependi, de modo algum, e considero mesmo que foi a melhor decisão que tomei na vida. Foi uma experiência muito enriquecedora, quer relativamente ao trabalho que tive na CIMPOR como no DEC, como o facto de o exercer em paralelo. No DEC, cativou me essencialmente a oportunidade constante da atualização do conhecimento, a aprendizagem contínua, bem como a felicidade de o poder transmitir aos mais novos. Na CIMPOR, considero que, após 12 anos de formatura, tive o melhor estágio do mundo. Foi uma obra muito grande, que em certos picos de trabalho chegou a ter cerca de 1200 trabalhadores e por isso também tive que trabalhar como relações humanas e na coordenação desses trabalhadores. A construção incluiu vários tipos de obras, sendo necessário resolver problemas de grande diversidade, para os quais houve que utilizar novas técnicas, novos materiais: foram vários os tipos de fundações, incluiu silos de 60 m de altura, chaminés de 90 m (construídas com recurso a cofragem deslizantes, pela Engil, que na altura mandara especializar nesta técnica, no estrangeiro, o Eng. António França), cobertura de pavilhões de 30 m de vão foi uma obra realmente marcante .
Cimpor, Souselas
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1972 Lourenço Marques
Tem cinco filhos (e seis netos) de que muito se orgulha, mas um deles destaca se no panorama artístico. Como é ser pai do “Tiger Man”? como lida com a fama?
Tenho uma família de que me orgulho realmente. De todos, sem exceção!
Lido muito bem com a fama do Paulo, o benjamim da família. Ele é excecional, 5 estrelas, é muito exigente no que faz, e é realmente um “self made men”! O estilo de música não é propriamente o estilo que ouço regularmente, mas os ecos da sua fama chegam a mim, e chegam me principalmente através da malta nova com quem convivo, nomeadamente os alunos do DEC, os alunos do MIEC Geotecnia, e os alunos dos cursos de Ética da Ordem dos Engenheiros. Fico obviamente muito contente com o sucesso que está a ter, sucesso esse que acredito sinceramente ser merecido.
Jubilou se há 18 anos, mas continuou ativo profissionalmente. O que fez e o que ainda está por fazer? Nunca se sentiu cansado e com vontade de parar?
Não, vontade de parar, nunca. Cansado sim, por vezes, mas só às vezes. Desde essa altura que tenho dado o curso de Ética e Deontologia da Ordem dos Engenheiros, Região Centro (Coimbra, Covilhã, Viseu), em conjunto com a Drª Fátima Cunha, mas este ano foi o último. Dei aulas ao
curso de Engenharia Civil no Piaget, durante 10 anos, em Viseu e em Mirandela. Tenho dado conferências, sob convite, no IST, na O.E. (Coimbra e Lisboa), no DEC, …
O que está por fazer? escrever um livro. Está prometido ao colega António Alberto, um livro sobre “Aquilo que não nos ensinam na Universidade”, que será essencialmente o resultado da minha vivência profissional. Durante muitos anos pretendi fazer o Doutoramento, pode ser que se concretize, se conseguir a passar a escrito a experiência adquirida. Gosto muito de fazer introspeção, não compreendo porque as pessoas não se entendem, e gostava de escrever sobre isso. Sobre o casamento, a posição do cidadão na Sociedade, sobre o ensino, etc etc. As pessoas têm de estar engajadas nos problemas sociais da sua época, o que é uma coisa independente de se estar filiada nalgum partido.
Tem vivido intensamente a vida. Tem medo da morte? como gostaria de ser recordado? Como pensa que será recordado?
Tive muita sorte na vida. Casei com a mulher que amo, tenho uma família de que me orgulho, trabalhei sempre no que gostava. Não tenho medo da morte, é uma coisa natural, não quero é morrer já! Gostava de ser recordado, no plano familiar, como um bom pai e marido, e na
sociedade, como um cidadão civicamente responsável e amigo dos seus amigos, além de bom profissional (bom professor e bom engenheiro).
O BI indica 88 anos, mas lá no fundo não se sente com essa idade, pois não? Apesar de nos ter pregado alguns sustos, parece estar de boa saúde e ainda cheio de energia. Qual o segredo?
Não há segredo. Há dias que acordo com mais de 100 anos, mas com o decorrer do tempo volto para os 70 anos. Se há algum segredo então é o andar, fazer caminhadas, não ser pessimista, não pensar muito nos problemas e acreditar que melhores dias virão. Procurar ser realista, nem olhar só para o que correu mal nem andar nas nuvens, há que ter os pés bem assentes na terra. No fundo é a velha história, no meio é que está a virtude. Deve se procurar conviver, não se isolar, esse também é um bom caminho. Em termos de cuidados de saúde ultimamente comecei a procurar ser mais cuidadoso, nomeadamente com o que como.
1999, Aula de Jubilação
1999, Aula de Jubilação
DEC Noticias | 3º Trimestre 2017 80
“ O que está por fazer? escrever um livro sobre “Aquilo que não nos ensinam na Universidade”, que será essencialmente o resultado da minha vivência profissional ”
Que conselhos quer deixar aos jovens e não tão jovens Engenheiros Civis?
Acima de tudo, que procurem permanecer atualizados profissionalmente e não só. Há limites, o tempo não estica, não se pode pretender dominar todas as matérias, todas as técnicas. O curso é polivalente, mas depois há que haver especialização e ter a capacidade de poder contar com apoio de outras áreas, trabalhar em equipa. Procurar fazer investigação nas áreas que tenham interesse para o País, fomentar uma maior ligação entre as empresas e a Universidade. Eu fui um privilegiado, pois estive na Universidade e na Indústria, e houve benefício mútuo. Este aspeto atualmente já está melhor, mas ainda há margem para melhorar. Lá fora os empresários financiam investigação que lhes interessa, mas por cá estamos a ensaiar os primeiros passos.
Na vida profissional, temos a Rotina, que corresponde a cerca de 80% da atividade, a Renovação, há que manter os conhecimentos atualizados para progredir, e por fim a Inovação. Para haver inovação, o grande motor do desenvolvimento, há que ter os conhecimentos, e saber usá los para criar novas soluções. Quando há que resolver um problema, não seguir de imediato para a solução rotineira, há que pensar em soluções alternativas, inovadoras, para
que com menos custos financeiros e ambientais se consiga a mesma ou melhor qualidade de resposta. Outro aspeto importante e que me tem preocupado nos últimos anos, é a facilidade com que se acredita nos resultados fornecidos pelos programas de computador e a insensibilidade acerca do significado dos números. Lá por saírem os resultados com seis casas decimais não quer dizer que tenham de estar corretos! Não se pode acreditar cegamente nos resultados, há que analisar, comparar, verificar. Há que utilizar métodos de cálculo expeditos para prever esforços, pré dimensionar mais corretamente, e principalmente criticar os resultados que saem do computador. Costumo dizer que o que se passa com os computadores é como sucede nas máquinas: entra porco e sai chouriço, mas se o porco estiver doente o chouriço vem estragado. Convém, no entanto, reconhecer o progresso enorme na computação, permitindo a simulação da realidade com maior exatidão, a uma velocidade de cálculo impressionante, e a simulação das várias solicitações, melhorando o entendimento da resposta das estruturas a essas solicitações.
Muito importante ainda é o conhecimento das cargas e sobrecargas que podem estar envolvidas nas situações reais e que os códigos nem sempre especificam conveniente-
mente, nomeadamente na indústria, atividade fabril. Tem de se conhecer a realidade para dimensionar corretamente, com segurança e com economia.
O engenheiro é antes de mais um cidadão. Que conselhos daria para fortalecer a voz dos engenheiros na sociedade?
Que sejam um bom exemplo na sociedade, que haja coerência no seu exemplo, ou seja, que haja boa correspondência entre as ideias e as ações. Devem participar o mais possível na O.E., nos jornais, na sociedade em geral. Penso que nos faltam obras espetaculares para serem faladas e admiradas pela sociedade, como ocorreu no Século passado com as barragens, pontes e algumas obras marítimas.
Por saírem os resultados com seis casas decimais não quer dizer que tenham de estar corretos! Não se pode acreditar cegamente nos resultados, há que analisar, comparar, verificar.
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Lusitano dos Santos
Engenheiro Civil, Nascido em Dezembro de 1939, em Vilarinho do Bairro, Anadia
Iniciou a sua carreira profissional no Laboratório Nacional de Engenharia Civil, em 1967, ainda como aluno finalista. Em 1973 foi contratado pela FCTUC como equiparado a Professor Auxiliar. Manteve sempre uma vida profissional repartida entre a academia, a política e o associativismo.
Como veio parar ao Departamento de Engenharia Civil?
Formei me no Instituto Superior Técnico, Lisboa. No último ano do curso fui trabalhar para o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), como Tirocinante Aluno do Técnico, para o Serviço de Hidráulica, a desenhar planos de ondulação e a efetuar cálculos matemáticos (coisas que hoje se fazem com computadores mas que, à época, tinham de ser feitas por pessoas, naturalmente qualificadas). Desenhei os planos de ondulação para as obras da Praia de Copacabana, molhes submersos que o LNEC estava a estudar, destinados a evitar a fuga da areia da praia e a aumentar o areal. Concluído o curso em 1967, fui fazer oestágio profissional em Luanda, no Laboratório de Engenharia de Angola. Aí estudei solo cimento, para resolução dos problemas do Aeroporto. As chuvas abriam largas fendas no solo musseque que marginava a pista e avançavam para debaixo do pavimento arruinando o e pondo em risco a descolagem e aterragem dos aviões. A solução foi construir, de cada um dos lados da pista, um caminho com 5m de largura, em solo cimento. Fiz o estudo e fiscalizei a obra. Vi levantar e aterrar aviões a jato, a poucos metros da mim. Pensei ficar a trabalhar em Angola, mas recebi um convite do LNEC para ingressar como “Estagiário para Especialista”, o primeiro grau dos “Técnicos Superiores” e deci-
di regressar a Lisboa. No LNEC tive uma primeira entrevista com o Diretor, o Engº Manuel Rocha. A minha experiência profissional tinha me mostrado que um engenheiro civil gosta de todas as áreas, desde que nelas tenha alguma vez trabalhado. Trabalhei em hidráulica marítima e gostei, em estradas e gostei, em barragens de terra (também em Angola) e gostei, mas tinha a sensação de que me faltava alguma coisa: a presença das pessoas como objetos principais do meu trabalho de engenheiro, era essencial. Isso tinha a ver com a questão do urbanismo. Tinha estudado urbanização no IST com o Prof. Manuel da Costa Lobo, a disciplina de que mais tinha gostado. Talvez pelas minhas características humanas e sociais e pela atividade associativa que comecei no liceu em Aveiro, depois na universidade em Coimbra e finalmente no Técnico.
Na entrevista mostrei vontade de trabalhar em urbanismo, área que era muito incipiente, ou inexistente então, no LNEC. O diretor retorquiu: “Está bem, mas nós precisamos de si na Hidráulica”. Aceitei ficar na área das Estruturas Hidráulicas (órgãos
hidráulicos de barragens).
O trabalho era ainda mais abstrato e “despersonalizado” que os outros trabalhos de engenharia que tinha feito. Estudei o fecho do rio Zambeze para a construção da Barragem de Cabora Bassa (duas barragens ensecadeiras em enrocamento), os descarregadores de cheia de Cabora Bassa, que me levaram ao Canadá a ver os descarregadores da Manic 5 no Alasca, ou ainda cá, o descarregador de cheias da Barragem da Aguieira. Tudo estudos em modelo reduzido. Embora gostando dos trabalhos, mantinha se a minha insatisfação.
Decidi contactar o Prof. Costa Lobo e pedir lhe que me deixasse trabalhar com ele nos Planos de Urbanização. Comecei a ir, ao fim da tarde, trabalhar para o seu Atelier. Comecei com oPlano de Urbanização da vila de Figueiró do Vinhos, e tive de fazer um inquérito. Acompanhado pelo Regedor da freguesia, que conhecia toda a gente, corri a vila e falei com praticamente todos os “responsáveis” de família. Para além de querer conhecer as condições em
Visita à barragem Manic 5 , Alasca ...tinha a sensação de que me faltava alguma coisa: a presença das pessoas como objetos principais do meu trabalho de engenheiro, era essencial. Isso tinha a ver com a questão do urbanismo….
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que viviam, queria também saber aquilo que entendiam ser necessário para as melhorar, e que deveriam ser previstas no Plano. Foi uma experiência humana impressionante. A segunda, foi outro inquérito idêntico, que organizei e coordenei para o loteamento clandestino de Vale de Milhaços, no concelho do Seixal. A experiência humana foi ainda mais enriquecedora. Estava encontrada a minha vocação como especialidade dentro da engenharia civil. Era preciso dar lhe continuidade...
Em 1972 foram criados os cursos de engenharia na UC e uma das novas disciplinas do curso de civil era a de Urbanização, integrada no segundo semestre do 5º ano. Como entretanto tinha iniciado a minha carreira profissional no LNEC, e tinha concluído as provas para Especialista, achei que tinha chegado a hora de mudar de ramo e passar a trabalhar, a tempo inteiro, em urbanismo. Propus me regressar a Coimbra e trabalhar na Universidade. Contactei o Diretor da FCTUC, Prof. José Simões Redinha. Certamente que se informou a meu respeito. Contratou me para iniciar funções em 1973, mas acabei por tomar posse apenas a 15 de Julho de 1974, na sequência de despacho da então Junta de Salvação Nacional. Foram duas as causas da
Em 1972 com a criação dos cursos de engenharia na UC achei que tinha chegado a hora de mudar de ramo e passar a trabalhar, a tempo inteiro, em urbanismo.
demora: O Diretor do LNEC não me quis deixar sair (“O Laboratório investiu muito em si, não pode agora deixá lo ir!”) e o parecer negativo que tinha, vim a saber mais tarde, da Direção Geral de Segurança (ex PIDE, Polícia de Intervenção e Defesa do Estado), pelas minhas ideias e atividades políticas, toleradas num profissional do LNEC, mas não num futuro docente universitário.
Quando tomei posse, já o Prof. Redinha tinha sido substituído, pelo que fui recebido pelo Prof. Luís Mendonça de Albuquerque, Presidente da Comissão de Gestão da FCTUC.
Quando iniciou a sua atividade no DEC? Como era a vida nessa altura? E o que o levou a seguir a carreira académica?
Depois da tomada de posse dirigi me ao Departamento de Engenharia Civil, na Quinta da Nora, e apresentei me ao Presidente da Comissão de Gestão, Engº Albertino Augusto Reis e Sousa, que tinha sido meu colega nos Preparatórios de Engenharia Civil, que ambos fizemos em Coimbra. Ele acabou o curso no Porto, eu fui para Lisboa. Éramos velhos conhecidos, embora eu, enquanto estudante de Coimbra, estivesse
alinhado com o Conselho das Repúblicas e a oposição ao Governo e ele estivesse conotado com os estudantes de direita. Demo nos, contudo, sempre bem e fomos bons colegas. Fiquei espantado ao vê lo a chefiar um cargo que, na minha ótica, só deveria ser ocupado por pessoas não afetas ao antigo regime (Estado Novo). Mas nada disse, até porque desde os tempos de estudante que não nos víamos, e as pessoas podem mudar Ficou muito espantado com a minha presença e ignorava, naturalmente, a minha situação de contratação.
Tinha me comprometido com o Prof. Simões Redinha ir, nesse mesmo ano, para a Universidade de Edimburgo fazer um doutoramento em Urbanismo e que o Prof. Costa Lobo, Catedrático do Instituto Superior Técnico, viria dar as minhas aulas enquanto eu estivesse fora.
Expliquei esse plano ao Engº Albertino, como aliás o tinha explicado ao Prof. Luís de Albuquerque. Retorquiu: “O Costa Lobo nunca! Pois vamos saneá lo da Câmara! Vem para cá a minha cunhada, Teresa Ponce de Leão, dar as tuas aulas”. Nada disse, mas decidi, nesse mesmo ins
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Tomada de posse como Pró reitor
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tante, não sair para Edimburgo. Claro que me senti, de algum modo, prejudicado. Já tinha estabelecido contactos com a Universidade e o Diretor do Mestrado, o Prof. Johnson Marshall, que aliás conhecia através do Prof. Costa Lobo, que era então um dos seis associados portugueses da Associação Internacional de Urbanistas, a que o Prof. Marshall também pertencia.
Tinha acontecido há pouco tempo o 25 de Abril, e Portugal estava a sofrer transformações. Dificilmente eu voltaria a viver momentos como estes. Viver estas transformações foi também uma das razões que me levaram a desistir de sair para a Escócia.
Como viveu a Revolução e o período que se seguiu, de grandes convulsões em Portugal?
Sinto que contribuí, de algum modo, para o 25 de Abril de 1974, quer pelas minhas atividades associativas enquanto estudante, quer pelas atividades políticas, já como profissional e cidadão responsável.
Enquanto estudante integrei, em 1962/63, a Direção Geral da Associação Académica de Coimbra e vivi a crise académica de 1962. No Técni-
co, para além do trabalho nas secções, integrei a Direção da Associação de Estudantes em 1965/66. Penso que foi importante o trabalho de discussão política com os colegas militares que, tal como eu, iam para oTécnico concluir o Curso, depois de fazerem os Preparatórios na Academia Militar.
Dois desses colegas, o José Pereira Pinto (major engenheiro de aeródromos) e o Nuno Pinto Soares (capitão engenheiro do Exército), que eram, como todos os colegas militares, pouco politizados, vieram a fazer parte da Comissão Coordenadora do Movimento das Forças Armadas, MFA e do Conselho da Revolução. Outro colega, o capitão engenheiro do Exército Augusto Branquinho Ruivo, veio a coordenar a execução das obras de construção dos edifícios da Física e da Química no Polo I.
Penso que as grandes, animadas e calorosas discussões que tínhamos nos intervalos das aulas, durante a elaboração dos trabalhos de grupo para as disciplinas, ou ainda durante os almoços na Cantina da Associação, aumentaram a sua consciencialização política, as questões da guer-
Na Universidade de Coimbra participei apenas como “expectador” nas assembleias gerais da minha Faculdade, respeitantesaos “saneamentos”, nomeadamente uma realizada na Quinta da Nora, onde se “saneou” o Prof. Laginha Serafim….
ra colonial e a situação do regime em Portugal. Não me espantei portanto, e até fiquei contente, quando ouvi na rádio, no dia 26 de Abril, o seu nome entre os militares constituintes da Comissão Coordenadora.
Já como profissional mantive, para além de atividades associativas e culturais (nomeadamente na Associação do Pessoal do LNEC), as atividades políticas. Pertenci à Direção do Centro Republicano José Estevão, que mantinha uma creche, e também à Direção do Clube Recreativo Ameixoeirense. Outros colegas do LNEC inscreveram se noutras associações e clubes recreativos O objetivo era promover a politização dos sócios e famílias a coberto de atividades recreativas e culturais. Assim, conseguíamos discutir e esclarecer os problemas com que se debatia o país, nomeadamente as questões da guerra colonial. No Centro Republicano fazíamos, para além disso, atividade política pura: escrever, imprimir e distribuir, mão a mão e na rua, comunicados sobre a situação política ou sobre questões objetivas do
3º Congresso Republicano, Aveiro, 1973
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momento. Foi numa dessas distribuições de comunicados que foi preso pela DGS, na Alameda das Linhas de Torres, o sócio Mário Sottomayor Cardia, que veio a ser ministro da Educação do Primeiro Governo de Mário Soares. Bateram lhe e partiram lhe os óculos. Entretanto foi criado o Movimento Democrático Português, Comissão Democrática Eleitoral, MDP/CDE, tendo em vista a participação nas eleições. Naturalmente colegas do LNEC, eu e outras pessoas das nossas áreas de residência, integrámos oMDP.
No dia 25 de Abril de 1974, estava na Universidade do Porto, num seminário organizado pela FEUP sobre “Planeamento em Áreas de Povoamento Disperso”, organizado pelo Professor Barbosa de Abreu e pelo Engenheiro Valente de Oliveira. Decidi participar neste seminário a pensar na preparação para as minhas futuras atividades docentes na UC. Estávamos a ouvir uma conferência sobre a “O Porto de Sines”, uma obra do regime que previa a construção de um porto de águas profundas e de uma “cidade nova”, Vila Nova de Santo André, quando fomos interrompidos com a notícia da insurreição militar. Acabou logo tudo ali.
Concluiu o Engº António Martins, conferencista e Presidente do Gabinete da Área de Sines, com as seguintes palavras: “Não sabemos o que aí vem, mas seja qual for o governo, a obra de Sines continuará. É do maior interesse para o País”.
E cada um regressou à sua vida. Já não fui levar à fronteira de Quintanilha o “alferes miliciano”, que ia “fugir” para França, para não ter de combater na guerra colonial, e a que me tinha comprometido com os meus amigos “Católicos Progressistas”. Regressei ao LNEC.
Participei nas assembleias gerais de funcionários, convocadas para debater a “democracia” e discutir o “saneamento dos fascistas”, questões que estavam na ordem do dia. Num dos plenários defendi que devíamos substituir apenas alguns colegas que ocupavam cargos nomeados pelo regime, mas não os expulsar da função pública como queriam os mais exaltados. A minha opinião foi aceite. Até porque o LNEC era, à data, um oásis em termos de qualidade e organização, com excelentes relações de trabalho e respeito pelas opiniões pessoais. Não havia qualquer razão para “sanear” fosse quem fosse. Descobrimos alguns “bufos” (informadores da ex PIDE /
DGS), mas nem esses foram saneados. A divulgação pública das suas atividades foi forte castigo.
O Diretor do Laboratório, Engº Manuel Rocha, saiu para ocupar o cargo de Ministro do Equipamento Social e do Ambiente do primeiro governo provisório, que tomou posse a 16 de maio de 1974. Levou para Secretário de Estado da Habitação e Urbanismo oArquiteto Nuno Portas, especialista do Serviço de Edifícios, que viria a instituir o Serviço de Apoio Ambulatório Local, destinado a resolver os problemas habitacionais das famílias mais carenciadas e que se manteve ativo até outubro de 1976.
Na Universidade de Coimbra participei apenas como “expetador” nas assembleias gerais da minha Faculdade, sobre os “saneamentos”, nomeadamente uma realizada na Quinta da Nora, onde se “saneou” o Prof. Laginha Serafim, apesar de ser conhecido como oposicionista do regime deposto.
Tem algum episódio/projeto marcante na sua vida que queira partilhar?
Vivi muitas situações únicas. As mais marcantes talvez estejam ligadas com a atividade política clandestina, que vivi antes do 25 de Abril de 1974. Não relacionada com a política recordo dois episódios, na Comissão de Coordenação da Região do Alentejo, quando, dispensado do serviço docente, estive, em 1981, a efetuar trabalhos de campo, relativos ao meu doutoramento.
Tinha que analisar a situação dos municípios de Borba, Estremoz e Vila Viçosa, tendo em vista a promoção do seu desenvolvimento. Sendo a agricultura uma das mais importantes atividades (outra era a exploração de mármores), foi decidido inquirir, por amostragem, as condições de gestão das explorações agrícolas, através da reconstituição das contas de gerência do ano anterior.
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Évora, início da década de 80, aquando dos estudos de doutoramento
Tinha sido elaborado, em 1979, o “Inquérito às Explorações Agrícolas”, que veio a servir para o dimensionamento e seleção da amostra. A reconstituição das contas de gerência foi feita com o apoio do Centro de Estudos de Economia Agrária do Instituto Gulbenkian de Ciência em Oeiras. Dois dos seus mais importantes investigadores, o Engº Carlos Borges Pires e o Engº Carlos Silva (também professor convidado da Faculdade de Economia da UC), disponibilizaram se para elaborar o inquérito e apoiar os trabalhos de campo. Contei também com o apoio do Regente Agrícola, João Pereira Lopes, filho de grande latifundiário recém expropriado, funcionário do Serviço Nacional de Parques a exercer funções na Comissão de Coordenação da Região do Alentejo, e profundo conhecedor do caso de estudo.
Dois episódios marcaram me neste trabalho:
O primeiro surgiu logo no início, no pré teste do inquérito, na freguesia da Glória, Estremoz, numa exploração de 20 hectares, pertencente ao Sr. António Toureiro. À sombra de um sobreiro, sentados nuns banquitos de madeira, o Engº Borges Pires explicou ao Sr. Toureiro e à esposa o que se pretendia e começou a preencher a ficha de inquérito. Usando uma pequena máquina de calcular que apenas fazia as quatro operações, começou pelo cálculo das terras, das sementes, das produções etc., passou ao gado. O meu espanto era imenso. Como podiam as pessoas lembrar se, com tanto pormenor, do que tinha acontecido, no ano anterior?
“Sr. Toureiro, há um ano atrás, quantas galinhas tinha, quantos ovos puseram, quantos pintos criaram?”. A mulher respondia, tudo se registava e fazia se as contas. Quantas vacas, quantas crias, quantos litros de leite (bebidos e vendidos), quantos queijinhos (comidos e ven-
didos), quantos sacos de ração (comprados). Feitas algumas contas, oBorges Pires parou, cofiou o bigode, levantou a cabeça para o Sr. Toureiro e disse: “Sr. Toureiro, venda as vacas! Até agora, o senhor já perdeu com elas 30 contos” (vendia o leite e fazia queijo mas comprava ração leite em pó muito caro para alimentar as crias). Gritou a mulher: “Eu bem te dizia que as vacas davam prejuízo! Que andavas a dar dinheiro e a engordar os homens da farinha!” E gerou se uma grande discussão entre marido e mulher, que o Borges Pires conseguiu acalmar.
O segundo episódio passou se num final de um dia de novembro, bastante escuro e frio, em que o Pereira Lopes e eu fomos contactar o Sr. Inácio Raminhos, proprietário de uma exploração agrícola de 7 hectares, na freguesia da Orada, Borba, para saber se estaria disponível para responder ao inquérito e quando. Batemos à porta da “cozinha de fora, ou da matança”, e recebeu nos a esposa. Dissemos ao que vínhamos. Ela informou nos que o marido tinha ido cuidar das ovelhas. Dissemos
que esperávamos que regressasse. Como o frio era muito, a porta estava aberta e ao fundo estava uma fogueira, entrámos sem pedir licença e sentámo nos ao lume. A senhora saiu imediatamente e desapareceu. Passado um tempo ouvimos um ruido e fomos até à porta. Era o Sr. Raminhos que chegava com a mulher e uma espingarda na mão. Nem falou. Apresentei me logo como professor da UC e ao Pereira Lopes, como funcionário da Comissão de Coordenação. Expliquei o que pretendíamos. O Sr. Raminhos retorquiu: “Então ninguém vos conhece e os senhores entram pela minha casa a dentro! A minha mulher nunca vos tinha visto, saiu logo e foi chamar me assustada. Vinha preparado para vos dar um tiro!” Mas lá concordou com o inquérito, e no final queria, à viva força, que passássemos a noite de Natal com a sua família, em sua casa!
Foi este o “projeto” que mais me marcou. Uma experiência humana inesquecível. Uma aprendizagem excecional, sobre as “relações cidade campo”.
Foi este o “projeto” que mais me marcou. Uma experiência humana inesquecível. Uma aprendizagem excecional, sobre as “relações cidade-campo”.
Sr. Raminhos e esposa
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Ao longo da sua carreira académica, não deixou de cultivar e exercer a sua veia política. Como foi conciliar a vida académica e a política?
Não tendo ido para Edimburgo efetuar o doutoramento, dediquei me às atividades académicas. Tinha a política, naturalmente, na massa do sangue, mas desconhecedor da realidade de Coimbra, limitei me, nos primeiros anos, a observar e acompanhar os acontecimentos que se viviam na Universidade.
Apresentei, em novembro de 1974, um Plano de Atividades como “Engenheiro responsável” da área de “Planeamento Regional e Urbano”. Até sob o ponto de vista da linguagem, e também do conteúdo, verifiquei mais tarde, que a terminologia que utilizei denotava o desconhecimento da realidade. Na Universidade, à época, não se utilizava a denominação de “engenheiro”, mas sim “licenciado” ou “doutor. Foi esse plano que orientou a minha atividade até ao doutoramento: preparação teórica, organização de um biblioteca especializada, definição de temas de investigação de interesse nacional, lançamento das bases da futura área de opção e elaboração de textos de apoio para as disciplinas que lecionava.
Sob o ponto de vista da política partidária, era conotado com a extrema esquerda, mas pouca atividade mantinha. Na sequência das ligações a Lisboa, anteriores ao 25 de Abril, conheci e também reencontrei, colegas da mesma área política. Ajudei a organizar e dinamizar a União Democrática Popular em Coimbra, a procurar um edifício para sede, ocupá lo, prepará lo e iniciar atividades partidárias. Rapidamente abandonei essas tarefas. Gostava muito do que estava a fazer na Universidade e a política começou a desinteressar me: “Agora é fácil fazer política! Não se correm riscos! Não é preciso ser corajoso! Todo o “bicho careta” faz política!” Eram pensamentos que
nasciam na minha cabeça e que discutia com muitos “camaradas” e isso fez me perder o interesse.
Voltaria à política mais tarde, já com odoutoramento, mas na ótica de “praticar” o que ensinava aos meus alunos: o desenvolvimento regional e os planos e políticas municipais.
Naturalmente que a política nunca estava arredada das minhas preocupações. Em todos os locais e em todas as tarefas, académicas ou não, nunca deixei de praticar política, manifestando e defendendo as minhas ideias. Até nas matérias que lecionava, nunca deixei arredadas as questões políticas. Quantas vezes dizia aos meus alunos: “Os engenheiros, enquanto engenheiros, estão sempre ao serviço da política, não esqueçam! Mas se quiserem ter atividade política, não o façam enquanto engenheiros, mas enquanto cidadãos!”
Orgulho me de ter influenciado muitos dos alunos a ter atividade política, principalmente como presidentes de câmara ou vereadores. Em todos os partidos isso aconteceu.
A carreira política foi sempre secundária, em relação à minha vida académica, exceto num período em que me candidatei à presidência da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital (1997). Perdi as eleições, mas mantive me como vereador da oposição, sem pelouro. Tinha dado a minha palavra à população, e quis cumprir (posição rara, na época). Foram quatro anos, em que me deslocava duas vezes por mês às reuniões do executivo e em que tive muitas vezes de analisar localmente situações, para decisão. Prejudiquei então, de algum modo, a vida universitária, contudo também tive uma aprendizagem complementar ao trabalho académico, que me beneficiou bastante.
Fui candidato a vereador à Câmara de Coimbra (1990), mas apenas para prestigiar, com a minha presença, a
lista que apoiava. Era o último dos suplentes. Recusei participar na primeira “atividade como eleito” para que fui contactado: assistir a um “jogo” do campeonato de futebol no Estádio Municipal, onde se defrontava o Clube Académico de Coimbra com um outro clube da primeira divisão. Nunca mais voltei a ser contactado!
É difícil conciliar vida académica com a política. A vida académica, para ser completa, implica uma dedicação total. A vida política também. As duas ao mesmo tempo, com dedicação plena, não é possível. Bem sei que há políticos famosos que também são (ou foram) professores universitários. Que me lembre, nenhum das áreas das ciências e tecnologia.
Ao mesmo tempo sempre foi um grande defensor da zona da alta antiga de Coimbra. De que forma essa sua atividade associativa influenciou a atividade académica e o exercício da sua profissão?
Foi a trabalhar em urbanismo no “Atelier” do Prof. Costa Lobo, que aprendi a conhecer e a gostar mais das cidades e, dentro destas, dos centros tradicionais ou históricos. A experiência de Figueiró dos Vinhos ensinou me a olhar com cuidado
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para todas as pessoas e para todas as construções, sem nada desprezar, seja gente humilde ou analfabeta, sejam construções simples, mansões apalaçadas ou edifícios monumentais, classificados ou não. A observar um edifício primeiro como caso individual, depois, como integrado no conjunto de edifícios da rua ou do quarteirão. A identificar o ano de construção, os materiais utilizados, o estado de conservação e o estilo arquitetónico. A anotar o que, pelas suas características, ressaltava e importava evidenciar.
No Atelier, discutíamos as questões da “Conservação”, então em moda na Inglaterra. A Isabel Rito (em 1965 a única mulher do curso do IST), engenheira da Direcção Geral dos Serviços de Urbanização, e também colaboradora do Atelier, após visita de estudo a Inglaterra, trouxe um livro: “York, the Conservation”. Lemos e discutimos. As questões da “conservação” das cidades históricas “monumentais” começava a estar na “moda”, em Portugal. Acabámos a criticar a defesa da “Conservação para manter um museu” e a defender a “conservação” para, além da imagem, manter também os residentes e melhorar a sua qualidade de
vida. Surgiu naturalmente o conceito de “Reabilitação”.
Enquanto estudante de Coimbra vivi na Alta, na Rua do Correio, na República dos Kágados a 50 metros da Sé Velha. Nessa altura, primeiros anos da década de 60, a cidade pouco mais era do que a “Alta e a Baixa”, ou seja a cidade histórica. Percorri todas as suas ruas, largos, praças, becos e vielas. Fiz trupes e rapei caloiros. Participei em serenatas a colegas e tricanas. Conheci a vizinhança, a mercearia do Mário, a tasca do Alfredo, o “café Oásis” do Mário do café, a casa de pasto do Mário das canjas, o Ateneu... Fiz amizade com alguns futricas, entre os quais o Mário alfaiate e o Baltazar das chaves.
Já tinha consolidado na minha cabeça a importância dos centros históricos das cidades. Tinha vivido num, enquanto estudante. Em Lisboa escolhi viver no coração da Ameixoeira, uma freguesia histórica, relativamente próxima do meu local de trabalho. Ao regressar a Coimbra, fui viver para uma casa arrendada na Avenida D. Afonso Henriques, aberta na década de 40 e destinada, no Plano De Groer de 1938, a residência das “Classes Abastadas”. Sempre a pensar em regressar à Alta. A minha
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Integrei a Direção que organizou, em 1987, o
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mulher, já sensibilizada para as questões do património e dos centros históricos, com uma planta topográfica à escala 1/1000 na mão, encarregou se de percorrer a Alta e procurar prédios, em mau estado de conservação ou em ruinas, que também tivessem quintal (os jardins suspensos da Coimbra antiga). Escolhemos oque nos pareceu melhor, contactamos o proprietário (os seus 13 herdeiros) e comprámo lo em 1977. Fizemos obras, salvaguardando o mais possível a sua traça. Em 1990 mudámo nos para a Alta, apesar das opiniões contrárias de alguns familiares e amigos: “A rua é estreita. Não tens garagem. Não tens lugar para estacionar na rua. As ruas são muito inclinadas. A calçada é desconfortável….”. Hoje, passados 40 anos, toda a gente “que se preza” ambiciona viver na Alta!
O 25 de abril tinha trazido a preocupação pela promoção dos nossos valores tradicionais. A perda das colónias fez nos olhar para o interior do país. A necessidade de nos virarmos para a Europa, fez nos valorizar as nossas diferenças. Começaram a surgir as primeiras associações de defesa do património.
“1º Encontro da Alta de Coimbra”. Aí se propôs, pela primeira vez, a candidatura da “Alta de Coimbra” a Património da Humanidade... DEC Noticias | 3º Trimestre 2017 88
Na Faculdade de Letras, em 1977, por iniciativa do Prof. Jorge de Alarcão e de um conjunto de alunos de Arqueologia, foi informalmente “criado” o Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. Rapidamente ultrapassou as paredes universitárias e transformou se, em 1978, numa associação de divulgação e defesa do património. A sua atividade inicial consistiu em divulgar o património da cidade de Coimbra e da região centro, através de visitas guiadas, da realização de conferências e colóquios e da edição de uma revista. Fiz parte da sua Direção que organizou, em 1987, o “Primeiro Encontro da Alta de Coimbra”. Foi neste encontro que, pela primeira vez, se pro-
pôs a candidatura da “Alta de Coimbra” a Património da Humanidade, classificação que viria a ser conseguida pela Universidade em 2013.
Alguns sócios do GAAC, residentes na Alta de Coimbra, decidiram criar uma associação de moradores para a defesa do património e das condições de vida da Alta de Coimbra, bem como à melhoria da situação económica dos moradores. Assim nasceu a Associação de Desenvolvimento e Defesa da Alta de Coimbra.
Foi por ter consciência das minhas responsabilidades como professor e profissional, que participei na criação destas associações e fiz parte dos seus órgãos sociais.
Qual foi a pior e a melhor decisão que tomou na sua vida?
A pior decisão, que ainda hoje me marca, foi a de recusar para provas a tese de mestrado pré Bolonha de uma licenciada em Geografia, professora do Ensino Secundário.
Em 1986 tinha criado, com os Profs. Fernando Rebelo, Lucília Caetano e Henrique Albergaria, os dois primeiros do Instituto de Geografia da Faculdade de Letras e o terceiro da Faculdade de Economia, o Instituto de Estudos Regionais e Urbanos da Universidade de Coimbra. A 25 de Julho de 1989 o Instituto de Geografia decidiu criar, para funcionar a partir de 1990, um Mestrado em Geografia Geografia Física, Geografia Humana e Geografia Regional. Fui convidado, e também o Prof. Henrique Albergaria, para reger disciplinas e orientar teses de mestrado da área de especialização em Geografia Regional.
Recusei aconselhar para provas uma das teses de mestrado que orientei, por a considerar incipiente e fraca.
Antes desta decisão, enviei o texto da tese aos membros coordenadores das três áreas de especialização e reuni me posteriormente com eles, para analisar e decidir o que fazer.
Os três coordenadores concordaram com as deficiências da tese, mas recusaram se a emitir a sua opinião deixando me só a mim, o encargo da decisão final. Habituado às exigên-
cias de “profundidade, qualidade e rigor”, habituais nas teses da Engª Civil, e então acrítico das ideologias dominantes da “excelência”, “prestígio” e “sucesso”, decidi não aceitar a tese.
Verifiquei, pouco tempo depois, nas provas em que participei como membro do júri, e noutras a que assisti, o erro que tinha cometido. Foram
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aprovadas, e até com muito boas classificações, teses de qualidade muito inferior ao trabalho que recusei.
Verifiquei que aquela exigência de “profundidade, qualidade e rigor” que pensava deverem nortear as decisões, não era seguida por outros professores, e talvez nem por outras áreas disciplinares. Soube depois que a obtenção do grau de mestre pelos professores do ensino secundário se traduzia, para além da satisfação pessoal, fundamentalmente por melhorias salariais. A aluna ficou, por minha causa, além de certamente traumatizada pelo insucesso, impossibilitada de aceder às melhorias salariais.
E aprendi, mais tarde, a falsidade da ideologia do “sucesso, do prestígio e da excelência”. Aprendi que a vida é muito mais do que a procura daqueles objetivos. O ótimo é inimigo do bom. O bom inimigo do suficiente. Claro que entendo que um profissional deve bater se, na sua vida e na carreira, sempre pelo ótimo, mas não deve ser criminalizado, se o não conseguir atingir.
Este ato pesa me na consciência. Resolvi nunca mais recusar a apresentação de teses a provas. Nunca mais decidir sozinho sobre a vida de pessoas. Penso hoje, que esta recusa foi um erro grave.
A melhor decisão foi certamente deixar o LNEC onde, depois das provas para Especialista, me esperava uma carreira de “sucesso e prestígio”, e abandonar Lisboa onde, mercê das minhas ligações e atividades políticas, me esperava certamente uma carreira política também de “sucesso e prestígio”. Os meus amigos, e companheiros de “percurso”, vieram a ocupar lugares prestigiados nos partidos, na Assembleia da República, no Governo e até na Presidência da República.
Sabia que o meu regresso à “província” significava abandonar
essas “brilhantes” carreiras. Sabia que iria iniciar uma nova vida totalmente desconhecida, mas não hesitei. Considerei mais importante regressar às origens, lidar com jovens estudantes universitários e trabalhar na área profissional que já sabia ser a minha vocação.
Quarenta anos depois, não estou arrependido
Jubilou se há 7 anos, mas continuou ativo profissionalmente. O que tem vindo a fazer ao longo dos últimos anos?
Importa referir que o Departamento me manteve sempre o gabinete e o apoio logístico que tinha antes da jubilação. Estas condições facilitaram, e facilitam, naturalmente, a minha atividade. Do ponto de vista docente, ainda lecionei, a pedido
dos alunos e durante dois anos, uma disciplina, no Departamento de Arquitetura Planeamento e Gestão Urbanística Municipal. Fui ainda convidado para lecionar cursos livres, fazer conferências e participar em seminários sobre urbanismo na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, também durante dois anos, e na Universidade Católica Portuguesa, um ano, ambas em Lisboa. Nunca quis receber qualquer pagamento por estas atividades.
Do ponto de vista da investigação académica o meu trabalho tem sido acabar publicações iniciadas, mas nunca concluídas, embora tenham
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Aprendi que: O ótimo é inimigo do bom. O bom inimigo do suficiente… “ “
sido apresentadas em congressos ou seminários. Rever e corrigir os textos de apoio elaborados para os alunos. Continuar a investigar a história do urbanismo em Portugal e investigar a história do ensino da Engenharia Civil e da Arquitetura na Universidade de Coimbra.
Do ponto de vista de apoio à comunidade continuei, através do IERU, a apoiar a Câmara Municipal de Oliveira do Hospital, na revisão do seu Plano Diretor Municipal. O plano revisto foi aprovado a 2 de outubro de 2014, após 12 anos ininterruptos de trabalhos e calvários. Mantenho a ligação ao IERU, como Presidente da sua Assembleia Geral, mas sem a obrigatoriedade de participação ou responsabilização por projetos.
tal e agrícola. Retomar a atividade de apicultor, abandonada em 1957, quando fui frequentar o Liceu Nacional de Aveiro e passei a viver nesta cidade. Tudo isto sempre numa ótica de economia familiar e passatempo saudável.
Do ponto de vista político e associativo cultural, as minhas atividades foram reduzidas à manutenção da minha qualidade de associado. Participo em realizações pontuais, quando sou convidado para isso.
Passei contudo, a dar maior contribuição ao Grande Oriente Lusitano Maçonaria Portuguesa, a que pertenço desde 1985. Participo nas sessões de trabalho aos diversos níveis. Elaboro e apresento comunicações específicas nalgumas dessas sessões.
Não sei se a genética não estará por trás disso. A manutenção de atividade física e intelectual serão também boas razões.
Mas a existência de um ”ideal que nos norteie na vida”, terá contribuído, certamente, muito mais. Olhar para o mundo à nossa volta e constatar que, apesar do que foi feito, há ainda tanto para fazer, faz com que deixe de pensar menos em mim e na minha idade, para pensar mais naquilo que ainda posso fazer para melhorar o mundo, enquanto por cá estiver. Penso que é o que vou fazendo, e o que enunciei na resposta à questão anterior, contribuirá de algum modo para isso .
Tem vivido intensamente a vida. O que continua por fazer?
Acabar o que falta e continuar, agora que a moral e a ética não têm valor social, a pugnar pelo cumprimento dos deveres, sem esquecer, naturalmente de procurar cumprir os meus, omelhor possível.
Que conselhos quer deixar aos jovens e não tão jovens Engenheiros
Não gosto de dar conselhos. Quem sou eu para dar conselhos? E lembro me sempre daquele aforismo “Não me deem conselhos. Sei muito bem fazer disparates sozinho!”.
Ultima Lição, 24 de fevereiro de 2010, Auditório Laginha Serafim do DEC., dedicada à Evolução da Legislação dos Planos, incluindo “Os Velhos e Novos Calvários”.
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ros, jovens ou menos jovens, não como engenheiros, mas como cidadãos responsáveis, o que penso que deve guiar o seu comportamento na vida: Cumprir sempre os seus deveres!
Falo do cumprimento dos deveres porque, em Portugal, desde o 25 de abril, se fala apenas de direitos. Parece que temos só direitos e que nunca temos deveres. Quando, em maio de 2001, se discutia a “Carta Constitucional de Coimbra” que veio a ser aprovada a 26 desse mês, comentei com um dos seus redatores, Prof. Vital Moreira, que a proposta só se preocupava com direitos, esquecendo que “a cada direito corresponde sempre um dever (cívico)”. Exige uma cidade limpa, mas lança papéis ou lixo para o chão. Que era necessário falar também sobre esses deveres que são, pelo menos, tão importantes como os direitos. Ficaram consignados dois artigos respeitante a direitos e um a “deveres e responsabilidades para com a cidade e as instituições”.
Os nossos deveres, enquanto cidadãos, são muito mais vastos e importantes. São esses deveres que quero aqui lembrar. Temos ”deveres para consigo próprio”, “para com a família”, “para com o próximo”, “para com a pátria e “para com a humanidade”. Não vou explicitar cada um destes deveres. Cada engenheiro que o faça. Contudo, não quero deixar de lembrar que, de entre os “deveres para consigo próprio”, inclui se o de ser um profissional cumpridor, competente e responsável que, no caso dos engenheiros, implica, para além do aperfeiçoamento e atualização constantes, a preocupação com o rigor e a qualidade dos seus projetos e obras, estudos e pareceres.
“
O engenheiro é antes de mais cidadão. Que conselhos daria para fortalecer a voz dos engenheiros na
sociedade?
A voz dos engenheiros na sociedade resulta, em primeiro lugar, do trabalho de cada um como profissional. O cumprimento dos deveres para consigo próprio, que explicitei na resposta anterior, é fundamental. A imagem com que os “clientes” ficam do engenheiro que “contrataram”, se for boa, é o maior contributo para ofortalecimento da sua voz.
Resulta ainda do seu comportamento como cidadãos e, neste caso, do modo como cumprem todos os seus deveres. O que fizerem como cidadão, reflete se no engenheiro.
Penso ainda que um dos bons meios para fortalecer duma maneira pró ativa a “voz dos engenheiros na sociedade”, é através da sua Ordem. É à Ordem dos Engenheiros que compete, como representativa das suas atividades profissionais, intervir na sociedade. Intervir politica e socialmente consiste em pronunciar se sobre os principais problemas com que o país se debate e que pressupõem a intervenção dos engenheiros. A Ordem deve intervir através da realização de encontros, seminários e congressos, donde possa sair uma posição “isenta e independente”, sobre esses mesmos problemas.
Em primeiro lugar deve preocupar se com a questão do “plano” ou “programa” de ordenamento e desenvolvimento do país. Será a base
onde deverá assentar a discussão de todas as outras questões. Sem ele dificilmente serão tomadas decisões corretamente fundamentadas. Precisamos de saber para onde ir o que queremos para Portugal , como ir e quando ir.
“ “
so-
Discutir depois a questão das grandes obras públicas: o novo aeroporto de Lisboa, as grandes rodovias, os caminhos de ferro, os portos…
Participei como orador, há vários anos, num seminário organizado em Coimbra, no DEC, pela Ordem dos Engenheiros sobre a questão da localização do novo aeroporto de Lisboa. Fiquei, no final, com a sensação de que tal encontro tinha sido organizado para defender uma opção pré determinada.
A Ordem não pode defender opções que signifiquem defender interesses particulares ou validar decisões públicas já tomadas, por muito legítimas que sejam. Tem de discutir as questões dum modo isento e independente, preocupada apenas com ointeresse público.
Não vejo outro modo de obter reconhecimento social!
...a cada direito corresponde sempre um dever … “
A voz dos engenheiros na
ciedade resulta, em primeiro lugar, do trabalho de cada um como profissional.
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Luís Simões da Silva
Engenheiro Civil
Nascido em 1962 em Coimbra, é Professor Catedrático, Coordenador da área de Mecânica Estrutural do DEC, Diretor do Centro de Investigação ISISE Institute for Sustainability and Innovation in Structural Engineering, Presidente da CMM (Associação Portuguesa de Construção Metálica e Mista), Membro Sénior e Especialista em Estruturas na O.E., Membro efetivo da Academia da Engenharia, Doutor Honoris Causa pela Universidade de Liège em 2018
Como veio ter à Engenharia Civil? que memória guarda dos tempos de estudante no DEC?
Não tenho memória de ter escolhido omeu curso por sentir uma vocação particular pela Engenharia Civil. Pelo contrário, penso que foi um processo progressivo de eliminação de possíveis cursos: primeiro, uma clara preferência pela matemática, o que obviamente eliminou as ciências humanas e sociais aquando da transição para o curso complementar dos liceus (atual 10° ano); segundo, uma repulsa instintiva (custava me ver sangue!) pelas áreas da saúde, medicina em particular. Nesse momento, aproximadamente quando iniciei o atual 12° ano (ano propedêutico na altura, lecionado pela televisão), a constatação da falta de saídas profissionais dos cursos de ciências exatas para além da carreira de professor, levou me a decidir escolher um curso de engenharia. Finalmente, explico a opção por Engenharia Civil pela preferência em atuar profissionalmente no território, com intervenção em obras e produtos à escala do edifício, ao invés de trabalhar em ambiente fabril. Os cinco anos do meu curso foram marcados por uma progressiva normalização do ensino superior em Portugal após o período turbulento pós 25 de abril. Apesar disso, guardo na memória um curso com qualidade e uma grande preocupação por parte da maioria dos docentes em transmitir conhecimentos com muito profissionalismo e pragmatismo.
Relativamente à vivência estudantil, sublinho o bom ambiente e camaradagem entre a maioria dos colegas, com proveniências de todos os cantos de Portugal.
Depois de ter terminado o curso (1984) com uma excelente média decidiu ficar como docente no DEC. O que o motivou? Houve aqui alguma influência familiar?
Em 1984, Portugal era um país muito diferente do que é hoje. O país começava a recuperar de um período de inflação elevada (30% ao ano, viva o euro!) e não existia globalização tal como a conhecemos hoje. As oportunidades eram fundamentalmente ao nível nacional, entre administração pública, diretor de obra, gabinete de projeto ou docente do ensino superior, sendo que esta opção era na época muito valorizada. No meu caso, esta era também uma opção natural por razões familiares, mas é importante salientar que nes-
sa altura todos os melhores alunos escolhiam esta opção.
Iniciou os seus trabalhos de investigação no Imperial College em Londres, onde concluiu o Mestrado em "Structural Steel Design" (1986) e o Doutoramento em “Structural Mechanics” (1989). Que memórias guarda desse tempo?
Guardo uma memória muito positiva do meu mestrado já que o elenco de disciplinas e a qualidade do curso deu me uma preparação excecional em matérias que não haviam sido abordadas no meu curso na UC. Assim, o mestrado constituiu uma mais valia pessoal enorme. Quanto ao doutoramento, tenho sentimentos divididos. No meu imaginário, pensava que ia descobrir qualquer coisa que iria mudar o mundo. Infelizmente, verifiquei que a realidade é mais terra a terra e que tinha realizado apenas um trabalho competente que me deu boas bases para a mi-
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Finalmente, devo salientar o quão enriquecedor foi sair da minha terra e viver durante 3 anos numa grande cidade, exposto a outras formas de olhar o mundo e interagir socialmente. Guardo ainda uma boa memória de um torneio de basquetebol que organizei no Imperial College e que a minha equipa de All Stars internacionais (seis nacionalidades diferentes de quatro continentes) ganhou com grande merecimento.
Pode fazer nos um breve retrato da sua vida profissional desde que terminou a sua formação académica? Como se chega a Doutor Honoris Causa?
Olhando retrospetivamente para a minha carreira profissional desde o meu doutoramento em março de 1989 quero em primeiro lugar testemunhar que foi um percurso com muito trabalho, sem o qual o sucesso profissional é impossível. Destaco também outra característica que considero muito importante numa carreira bem sucedida: a disponibilidade para lutar por causas que contribuam para o coletivo, dando sem estar preocupado em receber e sempre com paixão. Igualmente, e sem qualquer hierarquização, uma constante preocupação com a injustiça e oabuso de poder, procurando sempre atuar com grande coerência e determinação.
Em segundo lugar, ao longo dos quase 30 anos que decorreram desde 1988, altura em que regressei de Londres com a minha tese de doutoramento submetida, identifico 3 períodos distintos na minha carreira que ilustro com uma analogia com o desenvolvimento de um incêndio natural na figura ao lado.
constituíram o desafio do começar do zero. Em princípios de 1989, fui o sétimo docente doutorado (ex equo!) do DEC, num departamento que apenas lecionava a licenciatura em Engenharia Civil, que não tinha laboratórios experimentais e onde a investigação científica era incipiente, já que todo o corpo docente desenvolvia os seus mestrados ou doutoramento fora da UC, com orientadores externos à UC. Para um jovem com 26 anos sem experiência ficar à solta e sem enquadramento foi uma faca de dois gumes, com aspetos positivos e negativos. Confesso que me questionei nessa altura se conseguiria obter satisfação profissional nesse contexto! Aproveito para confessar que em 1989 cheguei mesmo a fazer candidaturas espontâneas a dois grandes grupos empresariais portugueses (penso que muito pouca gente sabe disto). Assinalo que um deles nem me respondeu enquanto que o outro enviou um administrador de topo para falar comigo que basicamente me transmitiu que, se eu estivesse interessado, me contratariam exatamente com as mesmas condições que me teriam oferecido em 1984, como Diretor de Obra!
Assim sendo, como alternativa, decidi tentar uma experiência empresarial, tendo criado em 1989 com alguns ex alunos aquilo que hoje em
dia se chamaria uma “spin off” mas que na altura era apenas um gabinete de projetos de engenharia e uma “software house” para produção de programas informáticos para engenharia civil. Esta iniciativa, muito enriquecedora do ponto de vista profissional, ensinou me muita coisa, com boas e más experiências, e tornou me consciente das vantagens da multidisciplinaridade, hoje em dia tão na moda.
No DEC, tendo percebido de imediato a necessidade de o tornar um polo de investigação científica, criei o primeiro curso de mestrado pré Bolonha do DEC (Mestrado em Engenharia Civil: Estruturas), em 1990, oqual permitiu que as dissertações de mestrado dos docentes do DEC na altura assistentes estagiários pudessem desenvolver atividades de investigação no DEC em vez de alimentar com mão de obra gratuita as outras universidades portuguesas. Assinalo que a primeira tese de mestrado concluída no DEC ocorreu em 1995. Este marco permitiu finalmente iniciar a orientação de teses de doutoramento, a primeira das quais veio a ser concluída em 2000.
Na primeira metade desse período, também a intervenção na gestão departamental foi muito intensa, com alterações contínuas da organização do DEC.
Período 1989 1999: Ignição = Aprendizagem
Estes 10 anos iniciais da minha carreira profissional pós doutorado
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Cedo percebi que a ligação com a indústria era um pilar essencial para desenvolver um grupo de excelência, pelo que fui membro fundador da cmm.
”
Agregação,
2000
Do ponto de vista das atividades de extensão universitária, desempenhei várias funções no contexto do rejuvenescimento e modernização da Ordem dos Engenheiros que ocorreu a partir de 1992.
Finalmente, de 1991 a 1999, fui Professor Convidado na Universidade da Beira Interior, tendo sido responsável por diversas disciplinas da Licenciatura em Engenharia Civil. Esta experiência foi muito enriquecedora do ponto de vista pessoal, pelas pessoas (colegas e alunos) que conheci, entre as quais não posso deixar de destacar oProf. Ryszard Kowalczyk.
Do ponto de vista científico, assinalo como grande marco deste período a definição da área de ligações metálicas como o grande objetivo de investigação. De facto, após regressar de Londres com um doutoramento em
Júri de Agregação,
estabilidade de painéis sanduiche, tinha a convicção que não havia nada de muito relevante a acrescentar ao que já havia conseguido. Tinha principalmente a impressão instintiva que, nessa altura e em Portugal, o âmbito de continuar a desenvolver trabalho de investigação em painéis sanduiche era demasiado estreito para conduzir a resultados novos interessantes. Foi aqui que a falta de enquadramento numa estratégia de investigação do DEC que não existia e por colegas mais experientes foi determinante. Apesar de ter produzido alguns resultados publicados em conferências internacionais, nunca achei que tinham qualidade para merecer publicação em revistas. Curiosamente, motivado por um colega inglês, repesquei um desses trabalhos em 2005 que publiquei com sucesso e à primeira no Journal of Applied Me-
2000
chanics! Regressando ao tópico de ligações metálicas, a minha participação na rede temática COST C1, de finais de 1992 a 1998 foi determinante para uma internacionalização da minha carreira, a identificação dos problemas relevantes nesse domínio e o estabelecimento de uma rede de colaboração para investigação em construção metálica e mista. Identifico os seguintes tópicos como as contribuições mais relevantes desse período: ductilidade de ligações e comportamento ao fogo de ligações. Cedo percebi que a ligação com a indústria era um pilar essencial para desenvolver um grupo de excelência, pelo que fui membro fundador da cmm Associação Portuguesa de Construção Metálica e Mista, criada em 1997.
Este período concluiu se com a minha promoção a professor associado em 1999.
Período 1999 2006: “Flashover” = Consolidação
Este período praticamente iniciou se com a obtenção do grau de Agregado pela Universidade Técnica de Lisboa, em 2000. Em finais de 2003 fui promovido a professor catedrático no DEC. Identifico os 4 marcos seguintes que permitiram a consolidação da minha carreira: (i) organização do 2º Encontro Nacional de Construção Metálica e Mista em Novembro de 1999 no DEC, o qual praticamente inaugurou o edifício do DEC no pólo 2 da Universidade; ii) a organização em
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Reunião do Projeto Europeu “Feasibility study of active suport railway track”, 1995 1998
EUROSTEEL, 2002
Setembro de 2002 em Coimbra da 3ª Conferência Europeia de Estruturas Metálicas (Eurosteel’2002); (iii) a criação do curso de mestrado avançado em Construção Metálica e Mista, que se iniciou em setembro de 2005; (iv) a participação como membro efetivo dos comitês técnicos 8 Estabilidade e 10 Ligações do ECCS a partir de 1999.
Do ponto de vista científico, considero que este período ficou marcado pela publicação de alguns artigos que se mantêm ainda hoje em dia no topo das minhas contribuições com maior número de citações (7 no top 10), todas enquadradas no tópico de ligações metálicas e mistas, bem como pela orientação regular de alunos de doutoramento, atingindo uma taxa de teses orientadas concluídas nesse período de 0.5/ano e pelo lançamento da temática da sustentabilidade das estruturas a nível europeu.
Finalmente, durante este período passei também a dedicar bastante tempo e esforço a tarefas de gestão universitária, tendo sido Presidente do DEC de 2001 a 2003 e novamente de 2005 a 2007, Presidente da Co-
missão Científica do DEC de 2003 a 2006, Vice Presidente do Conselho Diretivo da FCTUC de 2004 a 2008, Vice Presidente do Conselho Científico da FCTUC de 2004 a 2005, Membro do Conselho Científico da FCTUC de 2003 a 2006, Membro da Assembleia de Representantes da FCTUC de 2002 a 2009, Membro da Assembleia de Representantes da UC de 2002 a 2008 e Membro do Senado da UC de 2006 a 2008. No âmbito das minhas responsabilidades de gestão do DEC, fui responsável pela criação da ACIV Associação para o Desenvolvimento da Engenharia Civil em 2001, tendo sido o seu primeiro Presidente de 2001 a 2003, iniciativa esta que constituiu um desenvolvimento estratégico essencial para o DEC.
Fui ainda responsável pelo reformulação dos lugares do quadro do DEC (professores catedráticos e associados), desbloqueando as progressões
dos docentes de carreira do DEC, o que permitiu as promoções de colegas do DEC que se vieram a concretizar durante a década de 2000 2010. No DEC, fui ainda responsável pela adequação das licenciaturas em Engenharia Civil e Engenharia do Ambiente a mestrados integrados no contexto do processo de Bolonha.
Ao nível da FCTUC, em 2001, fui responsável pela candidatura da lista para o Conselho Diretivo que ganhou as eleições em finais de 2001, liderada pelo saudoso Prof. Lélio Quaresma Lobo e que encetou uma série de mudanças estruturais no funcionamento da FCTUC com uma visão que ainda se mantém atualmente.
Período 2006 presente: “Full development” = Excelência
Considero que este período se iniciou com o projeto Europeu RFCS HISTWIN em 2006.
Reunião do curso 79 84 25 anos DEC Noticias | 2º Trimestre 2018 96
HISTWIN em 2006. Destaco os seguintes aspetos: (i) criação de uma unidade de investigação de raiz, ISISE Institute for Sustainability and Innovation in Structural Engineering, em 2007, como uma joint venture entre a Universidade de Coimbra e a Universidade do Minho que reuniu os docentes de engenharia de estruturas do DEC e da UM que partilhavam uma visão comum sobre investigação científica e transferência de conhecimento, a qual veio a ser avaliada em 2008 com VERY GOOD e novamente em 2014 com EXCELLENT e que congrega hoje em dia cerca de 28% dos docentes de carreira do DEC das áreas de engenharia de estruturas, ciências das construções e geotecnia, sendo uma referência de excelência a nível internacional. Assinalo como dado avul-
SE ganhou 33% de todos os projetos candidatados na área de Engenharia Civil no recente concurso nacional promovido pela FCT/COMPETE (02/ SAICT/2017); (ii) coordenação e/ou participação em 57 projetos de investigação internacionais (35) e nacionais (22) com financiamento comunitário ou nacional em regime competitivo, totalizando 61.8 M€ de orçamento global e 15.1 M€ de orçamento para o seu centro de investigação desde 2005 e 10 redes temáticas internacionais; (iii) participação intensa na atividade de gestão da ECCS European Convention for Constructional Steelwork de 2005 a 2013, sendo membro do seu Conselho de Administração desde 2005, Presidente de 2011 a 2013 e desempenhado o cargo executivo de Presidente do TMB Technical Managede 2007 a 2013. Neste
contexto, fui responsável pela gestão dos Comitês Técnicos do ECCS que reúnem cerca de 400 especialistas em construção metálica e que são responsáveis pelo desenvolvimento de toda a atividade pré normativa europeia deste setor e pela atividade técnica editorial da ECCS, a qual constitui uma referência e nível mundial e da qual destaco a iniciativa de publicação dos ECCS Eurocode Design Manuals; (iv) Presidente do Conselho de Administração da cmm Associação Portuguesa de Construção Metálica e Mista, desde 2005; (v) criação do Programa Doutoral em Construção Metálica e Mista em 2009; (vi) Mestrado Europeu Erasmus Mundus SUSCOS Sustainable constructions under natural hazards and catastrophic events; (vii)desenvolvimento de conceito modular COOLHAVEN e respetiva patente internacional, bem como criação de empresa spin off; (viii) criação de uma plataforma tecnológica dedicada à segurança contra incêndios FIRELAB.
Do ponto de vista científico, considero que este período espelha o reconhecimento internacional nos tópicos em que considero que tenho produzido contribuições interessantes, tal como descrevo mais pormenorizadamente no quadro anexo: Estabilidade estrutural de elementos, componentes ou sistemas metálicos, Análise e dimensionamento de ligações metálicas e mistas e Sustentabilidade, “life-time engineering”, monitorização e manutenção.
Com o interregno do período 2008 a 2013, continuei a dedicar tempo e esforço à gestão universitária, tendo sido Diretor do DEC de 2013 a 2015, Membro eleito da Comissão Científica do DEC de 2009 a 2019, Membro eleito do Conselho Científico da FCTUC de 2013 a 2019 e Membro eleito do Conselho Geral da UC a partir de Dezembro de 2016.
SUSCOS, 2014 DEC Noticias | 2º Trimestre 2018 97
Rio de Janeiro, 2010
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na minha escala de valores, a distinção representa um reconhecimento independente e não solicitado da excelência de um percurso profissional que é atribuído a um número muito reduzido de pessoas. Esta distinção aumenta ainda mais a minha motivação para tentar chegar mais longe...
Grau de Doutor Honoris Causa , Liège, 2018
Membro da Academia da Engenharia, 2015
Keynote Speaker, Roménia, 2015
Reunião Anual do ECCS Hosting the Award ceremony Lisboa, 2012
Prémio Personalidade do Ano Journal Construction, 2013
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Capa de Revista Keynote Speaker, 2013
Finalmente, a minha carreira profissional culminou este ano com o Doutoramento Honoris Causa atribuído pela Universidade de Liège
Período futuro a partir de data incerta: “Decay” = Resiliência
A beleza da vida está precisamente aqui. O futuro é desconhecido e pode ser sempre uma surpresa. Amo a vida e lutarei continuamente para que o “Decay” aconteça o mais tarde possível...
O que sentiu, qual foi a sua reação quando recebeu a notícia de que tinha sido escolhido para receber o grau de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Liège?
Em primeiro lugar, foi uma total surpresa a atribuição do doutoramento Honoris Causa. Por vezes, sabemos que existe a intenção de nos atribuírem um determinado prémio ou distinção, embora tal possa não se concretizar. Tal não aconteceu neste caso: recebo um e mail com essa informação, o que literalmente “swept me off my feet”. Nesse momento senti me muito emocionado! Naturalmente que me encheu de
minha escala de valores, representa um reconhecimento independente e não solicitado da excelência de um percurso profissional que é atribuído a um número muito reduzido de pessoas. Esta distinção aumenta ainda mais a minha motivação para tentar chegar mais longe. Não posso deixar de associar a esta distinção pessoal todos os companheiros de trabalho que comigo trabalham no dia a dia, alguns já há muitos anos, e sem os quais tal não teria sido possível.
Como vê atualmente o ensino da Engenharia Civil em Portugal e em especial no DEC? Como o compara com o que conhece lá fora?
Olhando apenas para a meia dúzia de escolas de referência em Portugal, todas dotadas de um corpo docente altamente qualificado (100% de doutorados), considero que alguns docentes não fizeram o esforço de se atualizar devidamente, refugiando se em ensinar com base naquilo que aprenderam nas suas licenciaturas ou mestrados integrados. Olhando para o DEC em particular, considero essencial que todos os
çam um esforço para dominar as ferramentas que os estudantes têm de aprender e utilizar proficientemente (estou a falar de “softwares” comerciais de análise e dimensionamento estrutural, sistemas de informação geográfica, ferramentas de programação, etc.). É ainda essencial que os docentes sejam continuamente confrontados e interiorizem os desafios da realidade profissional. Claro que não é fácil implementar soluções para este problema pois a verdadeira experiência só se consegue trabalhando em contexto empresarial, com a inerente responsabilização. O enquadramento atual da carreira docente universitária não permite ultrapassar este problema, pela obsessão bibliométrica e, fundamentalmente, pela consequente implementação simplista e superficial da avaliação de desempenho dos docentes pelos responsáveis pela gestão universitária, associada a uma prática de gestão que negligencia os objetivos estratégicos e apenas privilegia os aspetos orçamentais de forma cega e normalmente demagógica. Penso que este é um assunto em que deveria haver uma
ISISE Day Out, 2017 DEC Noticias | 2º Trimestre 2018 99
No contexto internacional, estamos claramente acima da média europeia em termos de ensino. Esta afirmação é facilmente comprovada pelo sucesso profissional dos nossos diplomados que abraçam uma carreira profissional no estrangeiro, bem como o mais recente sucesso na captação de alunos brasileiros para os nossos cursos especializados. No entanto, o nosso sucesso poderia ser maior se a UC tivesse uma estratégia para o ensino e a investigação, tema sobre o qual não me vou alongar pois daria para uma nova entrevista!
Como é lá fora a aceitação/ reputação dos nossos formandos (ex alunos)?
As estatísticas mostram que o grau de empregabilidade dos nossos diplomados é muito elevada. Isto continuou a verificar se mesmo durante o recente período de crise. Repetindo o que já respondi na pergunta anterior, osucesso profissional dos nossos diplomados no estrangeiro é assinalável. Considero, no entanto, que é necessário combater alguma visão provinciana que possa estar a ser incutida aos nossos alunos e que decorre da falta de mecanismos de atualização que motivem os docentes a acompanhar a evolução da sociedade e do setor. Neste contexto, considero muito interessante uma recente iniciativa do Diretor do DEC, Prof. Luís Godinho, em promover visitas de estudo exclusivamente dedicadas aos docentes.
Quais lhe parecem ser as vantagens e/ou desvantagens competitivas do curso de Engenharia Civil no DEC comparativamente com as outras universidades nacionais e internacionais? Qual é a imagem da Universidade de Coimbra e do DEC no panorama universitário em Portugal e no estrangeiro? Em que medida é a Universidade de Coimbra afetada pela centralização excessiva em Portugal?
O curso de Engenharia Civil forma profissionais com boa aceitação no mercado, com uma preparação para omercado de trabalho que se compara favoravelmente com as congéneres nacionais ou internacionais. Infelizmente, a excessiva centralização do País em Lisboa tem tido um resultado perverso que tem criado concorrência desleal no mercado de trabalho na procura do primeiro emprego sempre que o empregador está sediado em Lisboa. Isto é particularmente gritante quando o empregador pertence ao setor empresarial do Estado.
A imagem da Universidade de Coimbra é bastante positiva a nível internacional, em particular no Brasil. A nível nacional, fruto da decadência da cidade de Coimbra não goza da mesma reputação, o que em termos práticos desvaloriza muito a sua capacidade de captação de estudantes portugueses. A Universidade de Coimbra persiste como uma recordação nostálgica de um passado que não
volta, suscitando comentários simpáticos da sociedade em geral, mas não motivando os jovens e as famílias para a escolher como o destino da sua formação universitária. Este status quo contrasta significativamente com a realidade há trinta anos atrás em que os estudantes oriundos de fora da zona de Lisboa ou do Porto escolhiam a Universidade de Coimbra como primeira opção em pé de igualdade com Lisboa ou o Porto (vejam o destino de estudantes madeirenses ou açorianos que entram em primeira escolha, por exemplo).
O curso de Engenharia Civil e a restante oferta formativa gerida pelo DEC têm uma reputação alguns furos acima da reputação média da UC, apesar de alguns problemas estruturais de longo prazo que a Universidade de Coimbra não tem a coragem de resolver. Note se que sistematicamente, desde que existem indicado res (aproximadamente desde há cinco anos) o DEC ocupa uma posição de topo na investigação científica em comparação com as restantes escolas (veja se o recente ranking de Xangai), isto apesar de se debater diariamente com a ineficiência das estruturas centrais de gestão da Universidade de Coimbra. Não quero, no entanto, deixar de afirmar de forma otimista que penso que ainda existem condições para embarcar num período de prosperidade para o DEC!
A minha colaboração com a Universidade da Beira Interior na década de 1990 permitiu me ainda tomar cons-
DEC Noticias | 2º Trimestre 2018 100
ISISE Jantar de Natal, Concurso, 2015
ciência das perversidades da centralização. Coimbra, que dista em linha reta 79 km da Covilhã, estava há quase 30 anos a duas horas e meia da Covilhã, duas horas e meia essas que se mantêm hoje, com praticamente as mesmas acessibilidades que efetivamente impedem que a Região Centro atue como um núcleo económico coeso. Em contrapartida, Lisboa, que dista em linha reta 227 km da Covilhã, estava a mais de cinco horas de distância, está já há mais de 10 anos a duas horas e cinquenta e cinco minutos de distância, com vias rodoviárias confortáveis e muito mais seguras. É por isso muito caricato ouvir falar hoje de descentralização, o que só demonstra a falta de honestidade e competência por parte dos nossos políticos, supostamente os nossos representantes.
Considera que o mercado nacional valoriza devidamente a formação académica avançada (Mestrados, Doutoramentos)? O que poderão fazer as universidades para melhorar essa situação?
Um grau académico não é por si só condição suficiente para o reconhecimento pelo mercado de trabalho. A valorização dos graus académicos tem necessariamente de estar associada ao desempenho e ambiente de trabalho. Sendo este princípio válido hoje em dia para qualquer profissão, considero que o mercado de trabalho valoriza adequadamente a qualifica-
ção de Mestre e, progressivamente valoriza cada vez mais os profissionais com doutoramento. Esta afirmação é facilmente suportada por estudos estatísticos que têm aparecido na imprensa e que revelam que a remuneração média de diplomados com mestrado é superior à dos diplomados com licenciatura.
No que diz respeito aos doutoramentos, começo por deixar as seguintes estatísticas: mais de 50% dos doutorados do Programa Doutoral em Construção Metálica e Mista que obtiveram o seu grau no quinquênio 2013 2017 estão a trabalhar em empresas. Embora sem dados estatísticos objetivos e apenas de forma casuística, verifico o mesmo com alguns doutorados de outros cursos, imediatamente recrutados para trabalhar em gestoras de aeroportos, cadeias de logística ou na indústria aeroespacial. Em contrapartida, vejo também em Portugal muitas escolas que produzem doutoramentos apenas com o objetivo de produzir “papers” para os seus orientadores, o que resulta muitas vezes em profissionais com uma formação desequilibrada, que têm depois muita dificuldade em entrar no mercado de trabalho pois medem a sua competência apenas pela capacidade em publicar “papers” e não na geração de valor para os seus empregadores. É precisamente neste aspeto que considero que as universidades portuguesas têm de melhorar muito, alterando a forma como valo-
rizam o desempenho dos seus docentes e, consequentemente, a atitude de muitos docentes.
Como vê atualmente o nosso país, a Engenharia Civil tem futuro? Que recomendações daria aos nossos alunos com vista ao melhor aproveitamento da oferta formativa do DEC para uma vida profissional futura de maior sucesso?
A Engenharia Civil é uma das grandes áreas de intervenção da sociedade e constitui um dos pilares do seu desenvolvimento sustentável. Os desafios societais atuais, tais como os efeitos das alterações climáticas, a segurança, a qualidade de vida, entre outros, estão intrinsecamente ligados e dependem das contribuições da Engenharia Civil. Como será possível viver em Marte sem o contributo decisivo da Engenharia Civil? Ou limpar os oceanos? Ou adaptarmo nos aos efeitos das alterações climáticas, em particular à irreversível subida do nível da água do mar que vai inundar zonas costeiras densamente povoadas nos próximos 50 anos?
No entanto, estas preocupações não estão a ser devidamente enquadradas no DEC, da mesma forma que a sociedade em geral (a reboque agora de Trump) continua a ignorar a realidade e a caminhar alegremente para oabismo. Considero essencial que o DEC assuma a responsabilidade de liderar uma consciência coletiva que tem de pôr estes problemas na primeira linha das prioridades sociais, substituindo nesse “ranking” a futilidade do futebol que atua como anestesia e mecanismo de desresponsabilização coletiva. Os valores da honestidade, ética e uma intolerância completa para com a corrupção devem também ser uma bandeira dos profissionais de Engenharia Civil, fazendo parte integrante da missão da carreira universitária.
Como em qualquer profissão, os alu
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Ensinando crianças da Escola João de Deus, 2017
nos do DEC devem encarar o curso com paixão e ser exigentes com a formação que lhes é ministrada. Este é na minha opinião o segredo do sucesso. E que conselhos daria aos jovens docentes, ainda em início de carreira, para um percurso académico de excelência?
Trabalhar com paixão e humildade. Trabalhar em equipa. Ter como meta aprender todos os dias qualquer coisa de novo. Tentar continuamente extrair ensinamentos do que nos rodeia. Usar o mundo como referencial e não apenas a sua quintinha. Cumprir as metas e os objetivos coletivos. Não se acomodar nunca. Não ter medo de arriscar e de defender os seus pontos de vista. Ter autoconfiança. Nunca se contentar em analisar as questões e os problemas superficialmente.
Tem algum episódio marcante na sua vida que queira partilhar connosco?
Em 2008 foi me detetado cancro do pulmão em estádio 2, com uma probabilidade de sobrevivência a cinco anos de 70%. Esta experiência marcou me naturalmente de forma muito profunda e ajudou me a tentar ser uma pessoa melhor, com maior tolerância para com as falhas e os erros que todos inevitavelmente cometemos. Tornou me, curiosamente, uma pessoa mais forte. Por outro lado, a perspectiva de um doente com cancro, que só pode ser verdadeiramente compreendida por quem osente na primeira pessoa, criou me uma urgência de atingir objetivos, sempre numa lógica de curto prazo, nunca planeando para lá dos seis meses, o que por vezes não é compreendido pelos meus colegas que não podem perceber esta vontade de concluir coisas em tempo útil.
Este testemunho pode ser desconfortável para algumas pessoas, mas acima de tudo mostra que, 10 anos
depois, continuo com motivação crescente para fazer mais e melhor, e espero que possa motivar outros para encararem com coragem e otimismo os obstáculos que a vida nos coloca continuamente no caminho.
Qual foi a pior e a melhor decisão que tomou na vida?
Encaro todas as decisões que tomei na minha vida como uma aprendizagem contínua. Assim sendo, não registo a pior ou a melhor decisão da minha vida, mas sim experiências que me permitiram ser mais eficiente, mais justo e, em última análise, mais feliz, procurando sempre aprender com opassado e com o que me rodeia.
Tem algum hobby? Sendo um hobby, por princípio, uma atividade de caracter pessoal, em que medida o relaciona com a atividade profissional? quão sério o leva e quanto tempo lhe dispensa?
Sempre gostei muito de desporto e competição, quer com os outros quer comigo próprio, tentando me superar continuamente. Gosto particularmente de experimentar todo o tipo de desportos, radicais incluídos. Hoje em dia, apesar da minha doença, vou religiosamente ao ginásio cerca de 3 vezes por semana desde 2008. Adoro música, que ouço continuamente e que me dá uma sensação de paz interior muito grande. Trabalho ao som da música desde muito novo. Gosto muito de blues, embora seja muito eclético no meu gosto musical.
Por volta de 2005, comecei a planear escrever alguns romances, hobby que tenho cultivado de forma irregular, por vezes com períodos mais intensos, intercalados com largos períodos de inatividade. Tenho um romance meio escrito, com mais de 200 páginas escritas, que espero conseguir terminar um destes dias, para além de mais meia dúzia de maquetes de outros romances apenas esboçados.
2015 DEC Noticias | 2º Trimestre 2018 102
1991 Lulea, Suiça, 200C,
ÓPICOS COM RECONHECIMENTO INTERNACIONAL SIGNIFICATIVO DO PONTO DE VISTA CIENTÍFICO
Tópico 1: Estabilidade estrutural de elementos, componentes ou sistemas metálicos
Contribuições significativas para o desenvolvimento de conhecimento teórico, implementação prática e transferência de tecnológica, destacando se os seguintes aspetos Desenvolvimento e implementação de uma formulação teórica consistente para colunas, vigas e vigas coluna com secção variável, suportada por ensaios experimentais a escala real.
Proposta de uma metodologia detalhada para a avaliação probabilística da segurança das regras de dimensionamento, baseada nos procedimentos gerais do Anexo D da EN 1990, suportada por uma caracterização sistemática das variáveis de base relevantes, através da criação de uma base de dados Europeia.
Avaliação sistemática da segurança das regras de dimensionamento da EN 1993-1-1.
Extensão em curso das regras de dimensionamento para aços de alta resistência, incluindo colunas com tirantes pré-esforçados.
Desenvolvimentos inovadores para painéis curvos metálicos, conduzindo a metodologias para o dimensionamento de painéis curvos reforçados e não reforçados em pontes, estruturas offshore e aplicações navais.
A maioria destes desenvolvimentos estão relacionados com projetos de investigação financiados (HILONG, SAFEBRICTILE, STROBE, TAPERSTEEL, ULTIMATE PANEL e OUTBURST), os quais já resultaram em 5 teses de PhD e 10 teses de MSc, 5 livros, 36 artigos em revistas indexadas no SCI, 122 artigos em conferências e 5 palestras por convite. Estes resultados tiveram impacto direto numa correção do Eurocódigo 3 e num Anexo novo (E), o qual recomenda parâmetros estatísticos para as propriedades dos perfis metálicos
Tópico 2: Análise e dimensionamento de ligações metálicas e mistas
Contribuições significativas para o desenvolvimento de metodologias baseadas no desempenho focadas na previsão do comportamento de ligações sujeitas a ações arbitrárias, contemplando: (i) a ductilidade das ligações (1997 ); (ii) o comportamento ao fogo de ligações (1998 ); (iii) comportamento sísmico de ligações (1995 ); (iv) comportamento semi rígido de ligações de eixo fraco e ligações entre vigas I e colunas tubulares (1995 ); (v) ligações sujeitas a momento fletor e esforço axial (2001 ); (vi) ligações mistas aço betão (1995 ); (vii) ligações com vigas de altura desigual; (viii) ligações sujeitas a impacto; (ix)comportamento tridimensional de ligações metálicas. Estes desenvolvimentos experimentais, numéricos e analíticos conduziram a:
Desenvolvimento e implementação de um macro elemento genérico 3D que simula o comportamento de um nó estrutural (incluindo todas as ligações) sujeito a ações estáticas monótonicas e cíclicas.
Desenvolvimento de um modelo cíclico no contexto do método das componentes para a previsão do comportamento de ligações sob ação sísmica.
A maioria destes desenvolvimentos foram atingidos através de projetos financiados em regime competitivo (COMDYNCOMPST, SJOINTSEXTEV, INFASO, ROBUSTFIRE, HSS SERF, COMPFIRE, FRAMEUP, INFASO+, EQUALJOINTS, FREEDAM, INNO3DJOINTS, EQUALJOINTS+, IMPACTFIRE, 3DJOINTS), os quais resultaram em 2 livros, 66 artigos em revistas indexadas no SCI, 204 artigos publicados em atas de conferências, 5 palestras por convite, 10 teses PhD e 21 teses de MSc.
e manutenção
Contribuição para a introdução dos princípios da sustentabilidade no domínio da engenharia de estruturas ao propor uma rede Europeia em Sustentabilidade das Construções – uma abordagem integrada para “life-time structural engineering”, em 2005, a qual conduziu ao desenvolvimento de metodologias para a análise de ciclo de vida de edifícios e pontes, incluindo a fase operacional dos edifícios, bem como o desenvolvimento de conceitos inovadores para habitação modular baseados em industrialização.
A maioria destes desenvolvimentos foram atingidos através de projetos financiados em regime competitivo (COOLHAVEN, ECOSTEELPANEL, SBRI, SB_STEEL, LVS3, MODCONS, OPTIBRI, SBRI+, PROLIFE)e a rede temática COST C25, que conduziram a 2 livros, 23 artigos em revistas indexadas no SCI, 71 artigos publicados em atas de conferências, 3 palestras por convite,, 2 teses PhD, 8 teses de MSc e a criação de uma empresa spin off.
Tópico 3: Sustentabilidade, “life time engineering”, monitorização
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T
Engenheiro Civil desde 2011, especialidade: Mecânica Estrutural
vida profissional.
Porque escolheu a Engenharia Civil e o DEC para estudar? Que memórias guarda desse tempo? Depois de terminar os estudos, o DEC saiu da sua vida?
Escolhi Engenharia Civil porque sempre foi o curso que tinha projetado para a minha vida. É um curso muito amplo e que nos permite desenvolver uma carreira profissional em diferentes sectores. O DEC foi escolhido por pertencer à Universidade de Coimbra e, sendo natural da cidade, desde o início que a única opção era estudar em Coimbra.
A memória é de uma vida académica muito intensa, desfrutada de todas as maneiras, sempre com a dedicação necessária a cada coisa, estudos, associativismo e ao lazer que este percurso oferece. Infelizmente o contacto com o DEC já não pode ser o mesmo, mas logicamente que nunca será esquecido, porque foi a “casa” que me preparou para este longo percurso que é a
De que forma o curso de Engenharia Civil o preparou para o percurso profissional que seguiu? Que memória lhe traz a vida académica no DEC?
O curso de engenharia civil no DEC é um curso muito exigente, devido ao seu conteúdo programático e logicamente aos professores que nele lecionam. Estes dois fatores obrigam a uma aplicação constante e uniforme dos alunos se assim querem obter o sucesso. No final posso dizer com todas as garantias que essa mesma exigência se traduz numa boa preparação para iniciar uma vida profissional .
O que destacaria, enquanto antigo estudante do DEC, na experiência no cargo que ocupa atualmente? Teoricamente, temos sempre de aplicar muitos conhecimentos adquiridos ao longo do curso. Ainda assim, oqual destaco mais e esse é uma
auto lição que o DEC e não só nos oferece, é a gestão de recursos humanos. Penso que as skills para exercer esta função são adquiridas naturalmente, sendo que o DEC e os seus Professores, na sua maioria, também tem um papel muito importante.
Que problemas ou preocupações lhe suscitavam, na sua época de estudante no DEC, o curso e a Universidade?
É uma fase da nossa vida em que existe uma transição de preocupações. Passamos naturalmente a estar preocupados com o sucesso académico (exames), a começar também a ter uma pequena reflexão do que irá acontecer no final do curso. Ou seja, a entrada no mercado de trabalho começa também a estar nas nossas preocupações, ainda por cima, tendo eu terminado o curso de Engenharia Civil em plena crise na construção.
Porque e quando decidiu sair de Portugal? Quais as maiores dificuldades de teve de enfrentar, tanto a nível pessoal como profissional?
Decidi sair por questões pessoais. A maior dificuldade é a própria entrada no mercado de trabalho. Mas depois de estar inserido nele, as coisas já acontecem com maior naturalidade. Dificuldades a nível pessoal, apenas a mudança de cultura. Sendo que ao final de alguns meses, depois de já inserido nos costumes da sociedade, a convivência e o dia a dia já é perfeitamente natural.
Pode fazer nos um breve retrato da sua vida profissional desde que acabou o curso?
Rafael José Abrantes Ferreira
Atualmente: Project Manager na empresa Tetris Arquitectura SL, em Madrid
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Desde que acabei o curso tive 4 experiências profissionais: Engenheiro Civil Fiscal na VHM (durante 4 anos), Gestor de Projeto na construção do Sapientia Boutique Hotel (durante dois anos) para o cliente final, Business Manager (durante 1 ano) na empresa JD7 Group já em Madrid e faz dois meses que comecei esta nova aventura como Project Manager na Tetris Arquitetura SL España .
Como decorreu o processo de reconhecimento das habilitações enquanto engenheiro, de modo que lhe permitisse exercer a profissão sem limitações resultantes da sua formação ter sido feita noutro país que não Espanha?
Nas experiências que tive, foi me sempre solicitado os certificados de habilitação e não existiu qualquer problema de reconhecimento. Ainda assim, reconheço e sei da experiencia de alguns colegas em outros países que tiveram uma maior dificuldade.
Como vê atualmente Portugal? A Engenharia Civil tem futuro? Algo que necessite ser mudado? quais os principais desafios que enfrentam hoje as empresas portuguesas?
Portugal de momento passa por uma fase muito positiva, não só pelo que leio e vejo nas noticias mas também pelo feedback que tenho de
colegas de trabalho. Ainda assim, temo que seja novamente uma fase passageira e que ao final de 2/3 anos a crise apareça novamente. O que penso que deveria ser feito é o reconhecimento e valorização das empresas com os seus trabalhadores, neste caso com os Engenheiros Civis. As exigências e responsabilidades imputadas as nossas funções em nada se enquadram com as condições oferecidas. Paralelamente a esta questão, penso que a Ordem deveria ter uma posição mais ativa e defender de uma maneira diferente os jovens Engenheiros Portugueses.
Como compara o exercício da profissão de engenheiro e a indústria da construção em Portugal e em Espanha?
cimento é muito positivo em Portugal como no estrangeiro. Fora de Portugal e neste caso em particular em Espanha, a reputação da Universidade de Coimbra continua a ser muito boa. Realizei duas formações na UC, Mestrado Integrado em Engenharia Civil no DEC e um MBA para Executivos na Faculdade de Economia e o seu reconhecimento em Espanha é muito bom, ainda pelo prestigio que a nossa universidade continua a ter.
“ ”
Neste momento penso que Espanha e Portugal atravessam dois bons momentos na nossa área. A diferença está na valorização do trabalhador pelas empresas. O que sinto onde trabalho é que as nossas opiniões e preocupações são tidas em conta. Para além disso, penso que o esforço e dedicação tem, de um certo ponto de vista, a sua recompensa.
O que nos pode dizer sobre a aceitação/reputação dos engenheiros formados no DEC? ?
O DEC é uma excelente escola de Engenheiros e esse mesmo reconhe-
Que conselhos daria aos atuais estudantes do DEC, face às atuais perspetivas da futura vida profissional?
Que tenham um percurso consistente e que não se desleixem na quantidade de anos que ficam a efetuar o curso. Por outro lado, deixo um conselho fundamental do meu ponto de vista para poder integrar e interagir no mundo profissional de outra maneira: sejam ativos e envolvam se com vontade e espirito no associativismo. A conjugação destas duas experiencias ao longo da vida académica é fundamental para o inicio da vida profissional.
Sapientia, em Coimbra
... foi me sempre solicitado os certificados de habilitação e não existiu qualquer problema de reconhecimento DEC Noticias | 2º Trimestre 2018 105
Flórido Quaresma
Engenheiro Civil
Nascido em 1942 em Louredo, V. N. Poiares, é Presidente do NMC National Monitoring Committee, e do NRC National Register Committee, da FEANi em Portugal. É Membro Conselheiro da Ordem dos Engenheiros (OE), foi Presidente do Conselho Diretivo da OE Região Centro e foi Membro do Conselho Diretivo Nacional da OE . Foi docente do DEC entre 1973 e 1998.
Porque decidiu estudar Engenharia Civil? Como era tirar um curso superior naquela altura? Teve algum professor que o tivesse marcado em especial?
Bem! Depois de nascer, até aos seis anos, eu era completamente analfabeto! Comecei em 1948 a aprender e a usar os números e as letras. Fui me entusiasmando até que atingi um gosto especial pela Matemática. Fui explorando tudo o que, nessa época, havia sobre Matemática recreativa. A Matemática era para mim o que hoje a informática é para os jovens. Queria um curso onde aplicasse a Matemática. Inscrevi me em Engenharia Electrotécnica. Tive nota muito elevada em Química Geral e, entusiasmado, mudei para Química. Fiz textos de apoio de Química Geral com as aulas do Prof. Pinto Coelho, que foram usados em cerca de duas décadas nas universidades de Coimbra e Lourenço Mar-
ques. Com isto perdi um ano porque acabei por mudar definitivamente para Engenharia Civil (estávamos em 1963) que, não era muito procurado (em Coimbra havia apenas os Preparatórios nas Ciências de base). Nesse tempo não era nada fácil tirar um curso superior e, muito menos Engenharia ou Medicina, que exigiam 6 anos na Universidade. Aconteceu que o meu pai, empreiteiro, teve um processo de falência. Herdei dívidas e tive que trabalhar. Fui Professor no Externato Príncipe das Beiras em Penacova. Era professor a tempo inteiro nas quartas, sextas e sábados e era estudante nos outros dias. Era obrigatório ir às aulas. Chumbava se por faltas. Tinha de conseguir compatibilizar horários e tempo para estudar e ser professor. Ensinei Matemática e Físico Químicas nos antigos 4º e 5º anos do Liceu. Tive muito sucesso como professor. Comecei a dar aulas com 20 anos. Ainda hoje se
fala nas aulas que eu dava a alunos da minha idade. Quando fui para a FEUP, continuei a ser professor à noite na Escola Industrial de V. N. de Gaia e estudante de Engenharia Civil, na FEUP, durante o dia. Acabei o curso em 1968.
Recordo Maria do Carmo Simões, a professora da Instrução Primária que foi o alicerce da minha formação. Recordo, no secundário, a professora de Filosofia que aos meus 17 anos me ensinou a pensar. Recordo, na Universidade de Coimbra, o Professor Luís Albuquerque, como Homem de cultura que me fez compreender que a Matemática é um meio mas não é um fim em si. Aprendi a olhar de outra forma para a cultura geral. Recordo também o Professor Joaquim Ribeiro Sarmento da FEUP,
Celestino
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Último ano na FEUP
106
Estudante às segundas, terças e quintas
professor de Resistência de Materiais e de Betão Armado e Pré Esforçado. Faleceu recentemente com 101 anos. Com quase cem anos preocupava se com toda a espécie de assuntos que estudava a fundo. Com ele, os estudantes ganhavam a mentalidade e o “feeling” de Engenheiro. Fiz com ele um relacionamento de amizade. Ligava me algumas vezes para falar longamente sobre vários assuntos, incluindo literatura e poesia.
Ao longo de uma parte importante da sua vida acumulou a atividade liberal com a universitária (foi docente no DEC e na Universidade de Aveiro). Como foi conciliar essas funções? Qual a obra que teve a oportunidade de conceber e que mais marcou a sua carreira profissional?
O exercício simultâneo de duas atividades começou logo quando, com 18/19 anos publiquei os textos de Química Geral .
Depois, com a necessidade que tive de ser, ao mesmo tempo, Estudante e Professor habituei me a gerir o tempo e nunca mais perdi o gosto e ohábito de ter duas actividades diferentes em simultâneo. Estive na guerra colonial na Guiné de 1970 a 1972 e fui simultaneamente professor na Escola Industrial de Bissau. Recebi um louvor do Comandante Chefe General António de Spínola que deu direito a que as propinas universitárias dos meus filhos fossem pagas pelo Exército. Foi o que aconteceu quando tardiamente fui informado disso. Quando regressei, estive um ano na SeteNave em Setúbal . Conheci o Professor Engenheiro Laginha Serafim que me perguntou se queria vir para Coimbra para Assistente no Curso de Engenharia Civil. Aceitei, entusiasmado, até porque sou do distrito, e vim em Março de 1973 com o objetivo
Professor de Matemática, Física e Química nas quartas, sextas e sábados
Almoço de reunião de curso em 1992, declamando o poema épico “Os Civilíadas” perante os colegas e os professores da FEUP
DEC Noticias | 3º Trimestre 2018 107
Visita de estudo de estudantes à obra do Túnel da Cruz da Areia em Leiria, projecto da nossa equipe
de seguir a carreira universitária. Mas, com o vinte e cinco de Abril de 1974, chegou a estar em dúvida a sobrevivência do DEC/FCTUC. No País e na Universidade de Coimbra em particular, foi uma loucura e uma experiência inolvidável. Estando a ver as coisas muito difíceis, resolvi trabalhar, em simultâneo, como Engenheiro na firma Solum Construções de Coimbra, Lda. Fui autor do projeto e direção de obra da quase totalidade do património construído na SOLUM.
Na loucura daqueles tempos, o Prof Laginha Serafim, mesmo sendo um homem de esquerda, foi saneado e acabei por ficar responsável pela Resistência de Materiais, ajudado pelo colega Joaquim Dinis Vieira, excecional amigo, que já não está entre nós. O Professor Laginha foi reintegrado em 1979/80.
Sempre como professor convidado, e já fora da empresa Solum, acabei por abrir um Escritório de Estudos e Projetos de Engenharia, que fechou com a crise de 2011.
Ainda como Professor Auxiliar Convidado e, depois, como Associado fui, em 1998, em exclusividade, para a Universidade de AVEIRO.
Entretanto fui incitado a concorrer pela oposição a Presidente do Conselho Diretivo da OE na Região Centro. Pensava que perdia porque a oposição nunca tinha ganho. Pedi a aposentação na Universidade. Ganhei por 14 votos. Tinha 62 anos. Custou me muito deixar o ambiente excecional que tinha na Universidade de Aveiro. Os alunos, hoje colegas e amigos, fizeram me uma festa surpresa com a última lição e ofereceram me um relógio com símbolos ligados à Engenharia Civil. Foi uma experiência inesquecível. Tanho lá muito boas Amizades.
Na OE/Centro, organizaram se, no meu primeiro mandato, três inesquecíveis viagens à China profunda. Em contacto
João d’Orey, diretor executivo da OE/Centro, organizou tudo em 2005, com êxito inexcedível. Foram 100 pessoas (membros da OE e famílias) à China durante cerca de 22 dias a preço inacreditável hoje em dia. Em 2006 e 2007 repetiu se esta viagem. Esta foi primeira viagem de um grupo europeu à China. Tudo organizado por uma empresa chinesa.
Grupo OE Pequim 2005
Aplicação de chapas de punçoamento
Laje de cobertura de capela ligada apenas por chapas metálicas na sua periferia
Tive sempre tendência para introduzir técnicas novas nos projectos de estruturas ” DEC Noticias | 3º Trimestre 2018 108
“
Na minha atividade como engenheiro, tive sempre a colaboração de excecionais estagiários provenientes do DEC/FCTUC. Sempre com essa colaboração, fizemos projetos interessantes com inovações arrojadas e sempre criativas. Foram muitos. Não vale a pena e é difícil detalhar. Como intervenção importante refiro a coordenação da equipe multidisciplinar de engenharia e economia para definir o Estudo Prévio da Ponte Europa em Coimbra. Foi um “sonho” inicialmente encomendado a esta
equipe pelo então Presidente da Câmara Municipal Manuel Machado, no seu primeiro mandato. O projeto foi continuado pela equipe do professor António Reis do IST.
Tive sempre tendência para introduzir técnicas novas nos projetos de estruturas. Foi assim a complexa intervenção na CELBI na Figueira da Foz. Foi assim o uso de lajes fungiformes em edifícios de andares. Foi assim com as novas soluções estruturais no Edifício das Galerias Aveni-
da. Foi assim a ideia de introduzir chapas metálicas para absorver as tensões do punçoamento em lajes fungiformes. Foi assim a introdução de chapas metálicas para apoios pontuais de coberturas de betão armado, como na capela do Lar de idosos de Tomar. Foi assim conseguir grandes vãos à custa de tirantes em apoios de suspensão em vez de pilares como no edifício Cristal Mar em Buarcos e no Lar das Irmãs Reparadoras de N. Sra das Dores em Fátima.
O dia de aniversário é um dia especial para si? Cultiva um espirito jovem e positivo, referindo que quer durar, pelo menos, até aos 100… Se pudesse, a que ano gostaria de voltar? O que é que ainda não teve oportunidade de fazer e gostava de ter feito?
O dia de aniversário é um dia normal para mim. Os meus familiares e amigos é que me acarinham mais nesse dia. Essa é que é a diferença.
Acho que estou satisfeito com o tempo que já vivi. Esforço me (isso treina se!) por andar sempre bem disposto. Pratico Yoga. Costumo dizer que quero viver até aos 120 anos e que se for antes será contrariado!
Não tenho o hábito de pensar no passado. Procuro viver intensamente o dia a dia com programação apenas para os poucos dias seguintes. Não me preocupo com o futuro. Vou analisando as realidades à medida
Com o amigo Faísca
No ASHRAMA YOGA COIMBRA
Ando sempre bem disposto. Costumo dizer que quero viver até aos 120 anos e que se for antes será contrariado! DEC Noticias | 3º Trimestre 2018 109
“ ”
Foi o palestrante da III Lição Laginha Serafim (ver DEC Notícias 2008 1T), e foi com enorme prazer que recebemos os seus ensinamentos, fruto da rica experiência de vida, mas também nos revelou algumas preocupações com o futuro. De tudo, o que verdadeiramente o preocupa mais na realidade Portuguesa? Tem dois filhos, ambos Engenheiros Civis. Como se sente por terem enveredado pela Engenharia Civil?
A minha intervenção na III Lição Laginha Serafim foi das vivências mais gratificantes da minha vida.
Sou um otimista incorrigível e, assim, estou muito confiante na Juventude e no seu futuro. Parece me mais importante pensarmos no futuro da vida neste Planeta do que particularmente num pequena parcela dele.
Quanto aos meus filhos têm a vida que procuraram. Lutam pela vida como qualquer pessoa. A minha mulher, eles e os meus quatro netos são, naturalmente, o meu apoio e a minha motivação de vida.
Sente se uma pessoa realizada? Arrepende se de alguma decisão que tenha tomado? algum período menos feliz? Mais feliz? Algum projeto
em que se tenha envolvido que tenha sido especialmente desafiante?
Todos temos, na vida, um pouco disso tudo. Com intensidade digna de ser referida não tenho nada para me arrepender. Considero me um privilegiado. Para mim, a felicidade é “não ser feliz” sem que isso nos incomode. Gosto muito da minha Família e essa é mesmo a minha maior riqueza. Já fui vítima de doenças que costumam matar e de outras muito incómodas mas tenho as vencido com o inexcedível apoio da minha mulher, da restante Família, dos Amigos e da Medicina. Sou um sortudo! Levo a vida a rir mas sempre atento durante as gargalhadas. Amo profundamente a vida e as coisas boas que ela tem. Estou satisfeito com a vida mas não estou realizado. Gostaria de fazer muitas coisas mas sei que o tempo não me vai deixar. Convivi com pessoas excecionais com quem aprendi muito e que influenciaram a minha personalidade. Foram e são o meu modelo. Procuro seguir esses modelos. Mesmo não os conseguindo atingir, procuro seguir esse caminho. Exemplifico, como excecional, a figura do Dr. António Arnaut, criador do Serviço Nacional de Saúde. Ética, cultural e socialmente, foi a Personalidade que mais admirei. Conheci o bem durante uns
anos. A energia que dele emanou para todos os que o ouviram e que o leram influenciou a minha maneira de estar na vida.
Como surgiu e quando, a sua ligação ativa à OE? Quando se começou a interessar e a envolver na temática da avaliação e acreditação dos planos de estudo, do reconhecimento do grau de engenheiro? O que tem sido mais motivante?
Como já disse, em 2004, ganhei as eleições para Presidente do Conselho Diretivo Regional da Zona Centro da OE. Por inerência fiz parte do Conselho Diretivo Nacional da OE sob a Presidência do Bastonário Fernando Santo, de quem fui adversário nas eleições mas que hoje é um bom amigo. Recordo com saudade a grande referência de cidadão que foi para nós o Engenheiro Adolfo Roque, então Presidente da Mesa da Assembleia Regional do Centro da OE. O anfiteatro Adolfo Roque perpetua o seu nome na OE.
Em 2008, fui indicado pela OE para fazer parte do EMC/FEANI European Monitoring Committee da FEANI com sede em Bruxelas. Trata se de um Comité de 15 membros, um de cada Nacionalidade, que analisa e aprova os Planos de Estudo de Engenharia de todas as Escolas Superio
Tomada de posse do 2º mandato, em 2007, como Presidente do CDRC/OE perante Adolfo Roque, Presidente da Mesa da Assembleia Regional
Levo a vida a rir mas sempre atento durante as gargalhadas. Amo profundamente a vida e as coisas boas que ela tem. Estou satisfeito com a vida mas não estou realizado DEC Noticias | 3º Trimestre 2018 110
“ ”
res dos 33 países da área da FEANI que vai para além do próprio Espaço Europeu. Também atribui o título de Euring (Engenheiro Europeu). Atribui ainda o Engineering Card (Cartão de Engenheiro Europeu). Estive nessa função durante dois mandatos de 3 anos, até Outubro de 2014. Fiz algumas boas amizades, que mantenho por essa Europa fora.
Em 2016, porque esse Comité estava sem capacidade para tanto trabalho, a nova Presidência (agora de um Português Prof Engenheiro José Vieira da U. Minho) entendeu, e bem, ter em cada país membro um NMC com poderes delegados para aprovar nesse país os Planos de Estudo a incluir na base de dados FEANI/INDEX e um NRC com poderes delegados para emitir o Engineering Card aos Engenheiros desse país. Este cartão de Engenheiro Europeu está ligado a uma base de dados que é o curriculum certificado pelo NRC e é particularmente importante para quem trabalha fora de Portugal. Como eu tinha a experiência de dois mandatos do EMC em Bruxelas, fui indicado para presidir em Portugal a esses dois comités.
Em 2008 nasce, também, na Europa a ENAEE European Network for
acreditation of Engineering Education para atribuir o Selo de Qualidade EURACE semelhante ao Selo de Qualidade do Acordo de Washington dos Estados Unidos da América. Acontece que a OE nesse tempo já tinha uma larga experiência na acreditação de cursos de Engenharia, que foram organizados com base na experiência do “Washington Accord”.
O Prof Engenheiro Sebastião Feyo de Azevedo, ex reitor da Universidade do Porto, grande amigo e então Vice presidente da OE foi um dos fundadores da ENAEE que iniciou então o processo EURACE na Europa. Dada a experiência em acreditações que a OE já tinha, Portugal foi dos primeiros países em que a ENAEE delegou a competência de atribuir o selo EURACE. É o CAQ Conselho de Admissão e Qualificação da OE que tem essa missão. Os júris para a análise dos Planos de Estudo são constituídos por três ou quatro elementos sendo obrigatoriamente pelo menos um engenheiro não ligado ao ensino e o Presidente costuma ser um dos dois membros do CAQ dessa especialidade.
A representação Portuguesa nestes trabalhos, é importante relativamente aos outros países? Qual a influên-
cia de Portugal? Em que medida os vários países são obrigados a fomentar/cumprir as deliberações?
Portugal e a OE em particular, com a sua experiência na Acreditação, é dos membros da FEANI mais avançados na organização e no conhecimento do que se passa com a generalidade dos cursos de Engenharia. Com alguns países como a Irlanda, está na vanguarda do que se está a organizar no que respeita à Formação Contínua (CPD Continuing Professional Development) e ao sistema de créditos que está em estudo nesse processo. O Presidente Geral da FEANI, já em segundo mandato, é Português.
As Escolas Superiores de Engenharia dos países membros, para certificar aos empregadores a qualidade dos seus diplomados, têm todo o interesse em que os seus Planos de estudo façam parte da base de dados FEANI/INDEX.
Já este ano, foi decidido juntar as duas bases de dados: Cursos com o selo Eurace e cursos incluídos no FEANI/INDEX. Trata se da EEED European Engineering Education Database.
Ao longo da sua vida decerto, mas principalmente nos últimos anos, como representante Português nos comités internacionais, teve oportunidade de conhecer a realidade internacional no que diz respeito à prática da Engenharia Civil e à indústria da construção. Como a compara com a realidade nacional?
No que respeita à prática da Construção não me pronuncio porque não tenho dados para poder emitir opinião. No entanto, a Indústria da construção tem que ver com as necessidades e carências de cada país no que respeita ao parque habitacional e às obras públicas e, também, com a capacidade financeira para
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Reunião do EMC European Monitoring Committee Bruxelas 2014
realizar as obras. A construção é, obviamente, mais notória e necessária nos países em desenvolvimento.
O pico desse gráfico, na Europa há muito que terminou e em Portugal está a terminar. Na Europa há é que beneficiar e conservar o Património edificado. Na África, por exemplo, a construção começa a estar numa curva bastante ascendente.
No que respeita à formação em Engenharia Civil estamos ao nível do melhor do mundo. A Prática da Engenharia Civil costuma destacar se pela visibilidade e importância da obra projetada e, por razões óbvias, isso vai acontecendo nos países ricos como a grande China ou o pequeno Dubhai.
Que conselhos pode aqui deixar aos jovens e não tão jovens Engenheiros Civis?
Hoje, a formação em Engenharia tem que fomentar a capacidade de inovação. Mas a inovação tecnológica não é uma mera aplicação da ciência. Ela precisa não apenas do conhecimento científico, mas das próprias tecnologias já existentes que os engenheiros têm de conhecer e dos aspetos económicos e comerciais. A ciência, só por si, não faz progredir a inovação.
As técnicas e os modos de trabalhar desatualizam se com facilidade. Variam no espaço e no tempo. Os conhecimentos e a formação científica de base, esses não se desatualizam. É com esse “background” que se faz inovação, que se concebem novas técnicas, novas soluções e novos métodos.
Por isso, é preciso mentalizar, desde bem cedo, o jovem engenheiro para uma contínua atitude e capacidade de permanente aprendizagem. Na Universidade aprende se a aprender. Ninguém se forma de uma vez
só. Ser Engenheiro é ser toda a vida estudante de Engenharia.
Fazer engenharia é inovar. Inovar é fazer melhor, em menor tempo e com menor custo. Em projeto ou em obra cada caso é um caso. É sempre preciso criar soluções novas. E não falo apenas na inovação tecnológica. Falo também na inovação na gestão e nas relações de trabalho.
No que respeita à formação em Engenharia Civil estamos ao nível do melhor do mundo. A Prática da Engenharia Civil costuma destacar-se pela visibilidade e importância da obra projetada...
No século passado, insistiu se exclusivamente na formação científica de base e na formação técnica. Era o necessário para se ser engenheiro. Mas não era suficiente, porque à maior parte deles faltou a cultura geral. E essa tem sido uma crítica apontada aos engenheiros pela comunidade. Aos estudantes e aos colegas mais jovens, eu quero deixar uma mensagem de confiança e otimismo. Com a formação de base que levam de um mestrado integrado, com a excelência exigida nas boas Escolas de Engenharia, não tenham qualquer receio de encarar a profissão de engenheiro civil qualquer que seja a área de atuação. Mas não queiram ser só engenheiros! Aprendam a gostar de música, das artes plásticas, da literatura, da poesia, do teatro, do cinema, do desporto e da informação do que se passa no mundo. Cultivem se! Um engenheiro que só sabe engenharia nem engenharia sabe! Sejam ambiciosos! Mas sejam pacientes, porque os êxitos não se conseguem de um dia para o outro! Não tenham medo de tomar decisões. Em face de um problema, é pior não decidir com medo de errar. É com os erros que se aprende. Só não erra quem não decide. Definam objetivos ambiciosos e atuem nesse sentido com a confiança de que esses objetivos vão ser atingidos. A vossa ambi-
ção tem que ser consequência da vossa formação e da vossa cultura. Essa ambição tem de vos levar a subir a fasquia da qualidade. Tem de vos levar ao nível do melhor no espaço global! O futuro está a dar vos uma dimensão que vos permite atuar em qualquer parte do mundo. Hoje tem de ser esse o vosso horizonte.
Sendo gestor do seu tempo, como ofaz? tem algum hobby? Pode nos dizer se é o engenheiro que escreve aqueles contos magníficos com que a OE nos brinda em cada Natal?
Gosto de escrever sobre temas de opinião e de reflexão. Desde há alguns anos, tenho publicado em alguns jornais, artigos de opinião sobre diversos assuntos. Também gosto de produzir alguma poesia mas para mim mesmo. Gosto ainda de me divertir, para os amigos, com poemas satíricos e humorísticos. Gosto de dizer poemas dos grandes poetas portugueses e não só. Tenho tomado parte ativa em Sessões públicas de poesia. Lembro aqui o poema “ODE ao DEC” que eu compus e declamei em Julho de 1998, a bordo do Basófias, quando Seabra Santos e Lusitano dos Santos foram para vice reitores.
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Não tenham medo de tomar decisões. Em face de um problema é pior não decidir com medo de errar DEC Noticias | 3º Trimestre 2018 112
Quanto aos contos que refere, não sou eu o autor deles. Começaram a ser publicados na IE da Ordem dos Engenheiros da Região Centro quando eu fui Presidente do seu Conselho Diretivo e daí essa confusão.
Foi a qualidade e o nível desses contos que levou o CDRC/ OE de então a acarinhar e incentivar a produção literária de um colega nosso, também Professor Universitário. E continuamos a ler esses contos.
Tem algum episódio marcante na sua vida que possa partilhar connosco?
Como qualquer pessoa tenho episódios marcantes na vida. Uns muito positivos outros muito negativos. Mas são tantos que acho melhor não os referir. Por exemplo, fui eleito Presidente da Mesa da Assembleia da Freguesia de Arrifana de onde sou natural. Faltava me esta função no Curriculum! Mas em convívio, ao vivo, é que dá para contar episódios.
Que pergunta ficou por fazer e que teria dado uma perspetiva diferente ou mais esclarecedora sobre si?
Penso que me fizeram perguntas em número mais do que suficiente!
Mas dentro da simpatia, do entusiasmo e da vaidade que me deu responder a esta entrevista foi para mim um grande privilégio tentar responder, da maneira mais informal, ao que me perguntaram.
Tenho muita saudade e orgulho dos tempos que passei no DEC/FCTUC e nas Amizades que aí conservo. Bem Hajam todos!
Com a formação de base que levam de um mestrado integrado, com a excelência exigida nas boas Escolas de Engenharia, não tenham qualquer receio de encarar a profissão de engenheiro civil qualquer que seja a área de atuação. Mas não queiram ser só engenheiros! … Cultivem-se!
Já muitos verões, em vão, eram passados Por cá se esperando sempre, anos melhores, Bons alunos em “Profes” transformados, Apenas mestres uns, outros doutores. Mas foram dois, um dia, convidados p’ra ficarem a ser quasi reitores. Naquele tempo, oreitor Rebelo, visitando o hidráulico canal quedou se a vê lo e, com a voz muito formal, às águas, disse: Abracadabra! A água que se abra! Faça se um vice! Escolhido entre tantos, Fernando Seabra Santos, vice serás tu! Quero também um PRO P.R.O. mas vou buscá lo ao PRU P.R.U.! Naquele tempo disse o Reitor em voz viril: Deixai vir a mim os de Civil, gente da Água e do Planeamento! Tragam aquele Departamento para os meus pés! E disse ainda: Mas ficai lá com o Moisés e co’ a Lucinda! Investiga Lusitano, investiga e manda massa p’ro teu Departamento pera que, depois, com tanto invento, e de mansinho, à Hidráulica do Seabra, Baco diga que das águas do Mondego faça vinho ou geropiga! Não queremos ditadura! Queremos abertura! Que tudo se abra! Que se abra a Universidade! Que se abra a Reitoria! Que se abra a Faculdade! Que se abra a Engenharia! E a Geografia! Com tudo aberto será, de certo, realizado oprojectado e o sonhado!
Celestino Quaresma COIMBRA, 16/
Mesa da Assembleia da Freguesia de Arrifana
ODE AO DEC
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Filipe Jorge Monteiro Bandeira
Engenheiro Civil
Nascido em 1956 no Bombarral, Leiria. Licenciado no DEC em 1978, exerceu a atividade profissional em diversos domínios da Engenharia civil, desde a direção, projeto, fiscalização, formação, ao desenvolvimento de software. Professor convidado no DEC, na área de Construções, de 1981 a 2017, é atualmente técnico na área de consultoria no Itecons
O que o levou a estudar Engenharia Civil? Como era tirar um curso superior naquela altura ? É preciso recuar muito no tempo até cerca dos meus 10 ou 11 anos de idade para observar o meu gosto por ciências e por engenhocas. Lembro me que uma vez comecei a pensar como funcionavam os sistemas de rodas dentadas no caso de haver 4 ou 5 rodas e lembro me que me torcia e revirava em cima de uma cama a pensar no assunto pois não tinha à mão nenhum papel para fazer esquemas. Quando descobri a solução (omeu primeiro teorema) escrevi o no lado de dentro da porta do roupeiro do quarto e era mais ou menos assim:
“Num sistema de rodas comunicantes a relação de rotações entre a primeira e a última só depende dos seus diâmetros e é independente das rodas intermédias”
Para provar a justeza do teorema fiz um desenho do tipo do que se apresenta abaixo.
Passados muitos anos encontrei o armário em casa dos meus avós e ainda tinha o teorema. Entretanto, perdi lhe o rasto.
O exemplo mais significativo do meu gosto pelas engenhocas foi um teleférico feito com peças LEGO e cordões, que subia duma mesa para o alto de um armário. Na altura o LEGO já tinha um motor que me permitia fazer subir e descer o teleférico.
Atualmente ainda tenho 10 potes de vidro, tipo aquário, cheios de peças LEGO, que utilizo para fazer modelos e experiências. Uma das últimas foi um sistema de ligações para aplicar em painéis fotovoltaicos flutuantes, para permitir que acompanhem a ondulação das águas em qualquer direção.
Fiz o liceu em Évora, Barcelos e Leiria (o meu pai era empregado bancário e na altura era corrente mudarem frequentemente de agência, sobretudo para subir na carreira).
Quando terminei o antigo 5º ano (atual 9º), o meu gosto era a arquitetura ou a engenharia. Mas a arquitetura era dada nas escolas de Belas Artes e tinha de fazer um exame de admissão em que uma das provas era desenhar à mão um jarro, uma estátua ou outra peça do género, o que me assustou. Por isso para o 6º e 7º ano optei por uma alínea que me conduzia a engenharia, deixando a alínea de arquitetura.
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No fim do 7º ano tinha algumas dúvidas sobre que ramo de engenharia seguir. Pedi então a opinião ao meu professor de matemática, que era engenheiro mecânico. Disse me que os cursos onde eu podia, com mais facilidade, ver concretizado, na prática, o resultado do trabalho de gabinete era engenharia civil ou mecânica mas que teria mais facilidade de encontrar trabalho como engenheiro civil, como comprovava a sua situação de engenheiro mecânico a dar aulas no ensino secundário.
E assim avancei para engenharia civil, em Coimbra, pois era a Universidade mais próxima de Leiria. Aluguei um quarto na rua Tenente Valadim, junto à praça da República, por quatrocentos escudos (2 €) e vivia com dois contos por mês (10 €). Isto era possível porque um café ou um jornal custavam 1 escudo e um pequeno almoço com uma sandes de queijo e um galão direto custava, no café Tropical, 3,5 escudos (1,75 cêntimos).
Os dois primeiros anos do curso, comuns às várias engenharias, eram dados no Departamento de Matemática, exceto as aulas de química, dadas no “Laboratório Chímico”. Por serem dadas a vários cursos, as matérias eram demasiado genéricas e lembro me, por exemplo, que tive dois semestres de topografia e não aprendi a implantar uma obra. As análises matemáticas eram 4 cadeirões difíceis de fazer e sinto que a matéria seria muito melhor absorvida se fosse dada em paralelo com as matérias que dela necessitavam.
Apanhei o 25 de Abril no meu 1º ano, tendo aproveitado um pouco de algumas facilidades dadas nesse ano devido à perturbação com as assembleias magnas, saneamentos, etc. No meu caso apenas o Prof. Pinto Coelho, de Química foi saneado pelo que tive passagem administrati-
va em Química I. A Física I é um exemplo de algumas facilidades: Para o exame eram publicados 20 problemas. Desses 20 saiam 10 na prova. O aluno podia escolher 5 e, se acertasse 2, passava. No segundo ano, a situação voltou ao normal.
O 3º, 4º e 5º anos foram dados no edifício do Polo I, onde está o Departamento de Física. O curso era novo e não havia professores de carreira, à exceção do Prof. Graveto, único doutorado. As aulas eram dadas por um conjunto de profissionais que conjugavam o ensino com as atividades nas empresas de construção ou gabinetes. Não se pense que era uma menor valia. Sinto que usufrui de um ensino teórico sempre ligado à prática, acompanhado de exemplos reais. Entre outros, destaco os engenheiros Meneses Torres, Rui Furtado e Celestino Quaresma.
Teve algum professor que o tivesse marcado em especial ?
As viagens de fim de semana para Leiria eram feitas de autocarro ou à boleia. De autocarro eram 27$50 e demoravam quase duas horas devido às 7 saídas da estrada nacional para passar dentro das povoações. Andar à boleia era, na ocasião, muito comum. Às sextas feiras à tarde, na avenida Inês de Castro, em Santa Clara, havia dezenas de pessoas a
pedir boleia para Sul. Em média demorava 45 minutos para apanhar boleia. Lembro me que fiz uma placa a dizer “Leiria” e que tinha acoplada uma mão de papel, oscilante, com o polegar levantado, de forma a fazer osinal típico de boleia.
De Leiria para Coimbra era mais fácil, pois havia menos concorrência. Numa segunda feira de manhã estava eu a pedir boleia e parou um MG B GT (coupé desportivo de dois lugares). Entrei, arrancámos e o condutor começou a conversar. Perguntou me que é que eu ia fazer a Coim
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Grupo de colegas em
1976
bra e, quando lhe disse que era aluno de engenharia civil, pergunta me ele com voz de gozo:
“Com que desplante é que um aluno de engenharia civil se vem meter no carro de um professor de engenharia civil?”
Era o Engenheiro Laginha Serafim. Viemos toda a viagem a falar de engenharia em geral e da sua intervenção em particular. Não me lembro porquê, mas não chegou a ser meu professor. Mais tarde voltámos a encontrarmo nos no Departamento, quando eu era já era assistente estagiário. Tivemos várias conversas e, apesar de não ter sido meu professor, como já referi, considero, pelas suas características como homem e como engenheiro, oprofessor que me marcou em especial.
Pode fazer nos um breve resumo da sua vida profissional desde que terminou a sua formação aqui no DEC em 1978? Sabemos que foi bastante diversificada: projeto, construção, fiscalização, elaboração de programas computacionais. Como veio parar ao Departamento de Engenharia Civil? Como foi conciliar essas funções?
Terminei o curso em 1978. Apesar de ter boa nota, na altura não eram habituais os mestrados e para fazer um doutoramento teria de ir para o estrangeiro. Como não queria sobrecarregar a família financeiramente e queria pôr em
prática os meus conhecimentos, tratei de arranjar emprego.
O meu primeiro emprego foi um desafio interessante. Tratava se de construir uma fábrica de folha de madeira para contraplacados, em Leiria. O equipamento tinha sido adquirido de uma fábrica na Bélgica, que tinha falido. Os grandes equipamentos tinham sido cortados aos bocados, com maçarico, para caberem nos camiões e, chegados a Leiria, foram descarregados numa pilha. Como não havia documentação, tivemos de fazer a montagem procurando na pilha as peças da mesma cor e fomos encaixando as como num puzzle gigante. Durante este período, comprei o meu primeiro carro, um Fiat 850 Sport usado.
No ano seguinte, terminada a fábrica, casei me. Com iríamos morar para Lisboa, para trabalhar noutra empresa do mesmo proprietário, em vez de gastar o dinheiro que
nos deram no casamento numa lua de mel jeitosa, resolvemos ir acampar para o Gerês no parque que na altura ainda era selvagem e com o dinheiro demos a entrada para um apartamento T0 na Póvoa de Santo Adrião. Quando o meu patrão me perguntou o que queria de prenda de casamento, pedi lhe madeira. Comprei um berbequim Black & Decker, daqueles que davam para acoplar uma serra, uma lixadora, uma plaina, etc. e com a madeira fiz umas divisórias para transformar o apartamento num T1 e as mobílias (à exceção dos sofás). Durante o período nesta empresa, concebi um sistema de casas pré fabricadas que juntava painéis de betão leve com tetos e coberturas de madeira. Ainda montei 3 dessas casas.
Entretanto, surgiu a oportunidade de ir trabalhar para a filial de Lisboa da Soares da Costa que, na altura, era a maior empresa de construção civil de Portugal. Concorri e fui admitido como chefe da “Secção de Controlo Orçamental e de Produtividade”. Tínhamos um controlador em cada obra, onde contabilizava as despesas e rendimentos de trabalho e depois comparávamo los com os previstos nas reorçamentações que previamente fazíamos, permitindo controlar custos e obter valores para futuros orçamentos.
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Na sede, no Porto, o controlo de produção funcionava de forma muito diferente, com os controladores a funcionarem também como observadores para recolher informações que serviam para alimentar poderes internos.
A filial de Lisboa tinha adquirido autonomia porque tinha, com grandes obras, salvo a empresa de uma situação difícil. Quando a sede recuperou quis retirar a autonomia, passando cada secção de Lisboa a depender da congénere do Porto. Tal não me agradava e juntando este facto à vida que levávamos em Lisboa (demorava de manhã e à tarde 45 minutos para fazer os 10 km entre a casa e o Saldanha) decidimos voltar para a “província”. Voltámos então para Leiria, onde moravam os meus sogros, que poderiam tomar conta do filho bebé, enquanto trabalhávamos.
Arranjei um emprego numa empresa de construção de Leiria, em tempo parcial e concorri ao lugar de assistente estagiário no DEC. Estávamos em 1981.
Comecei por ser assistente do Engº Meneses Torres, na cadeira de Organização de Estaleiros e Planeamento de Obras. Foi muito útil para esta cadeira a experiência que tinha adquirido na Soares da Costa, sobretudo na área de organização de estaleiros.
Mais tarde fui assistente do Engº Jerónimo Manso nas cadeiras de Betão Armado I e II. Tinha já elaborado diversos projetos para a atividade imobiliária da empresa de construção com que colaborava e, também aqui, foi muito útil a experiência prática. Para me manter como docente no DEC e subir na carreira tinha de fazer um doutoramento, um mestrado ou provas de aptidão pedagógica e capacidade científica.
Para fazer um doutoramento ainda tinha de ir para o estrangeiro e a minha vida financeira e familiar não opermitia. O professor Laginha Serafim insistia comigo para que eu o fizesse e eu argumentei que ele era oexemplo vivo de que não era necessário um doutoramento para ter uma carreira reconhecida.
Os mestrados estavam no início, davam muito trabalho e os que vi não tinham qualquer resultado que contribuísse para a evolução da engenharia civil. Quando vi o título de um mestrado “Estudo de um vírus detetado numa folha de uma acácia da tapada da Ajuda”, foi o fim. Não queria atingir tal nível de especialização e desisti do mestrado. Avancei então para as provas. Tinha de fazer uma pequena tese e dar uma aula.
Para fazer a tese comprei um computador Spectrum (os mais velhos sabem o que é) e fiz um programa
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de planeamento de obras utilizando ométodo PERT mas permitindo a sobreposição de atividades, como acontece na realidade das obras, e tal como o programa “PROJ” da MS veio a permitir. Para dar a aula escolhi o tema da organização de empresas. Fiz um inquérito junto de muitas empresas e conclui que independentemente da sua dimensão as funções são sempre as mesmas. A organização é que varia, especializando se as secções, divisões e direções à medida que as empresas crescem. Fiz então um esquema universal dinâmico que mostrava como todas as funções se iam juntando ou desagregando de acordo com a dimensão da empresa.
A apresentação da aula não correu muito bem. Em primeiro lugar por-
que me cortaram a palavra ao fim de uma hora, ainda eu não tinha acabado nem mostrado o quadro final, que era o mais importante. Nunca pensei que nestes casos não houvesse tolerância e não tinha preparado a aula para apenas uma hora. Em segundo lugar porque tinha dito no início que os objetivos das empresas era a construção e obter dessa construção mais receita do que despesa. Um dos membros do júri mostrou se muito indignado por eu dar mais relevância ao lucro que que aos objetivos sociais da construção: habitações, fábricas, hospitais.
Apesar disto tive “Bom” e passei a assistente. Por não me dedicar a tempo inteiro, em 1990 passei a assistente convidado em tempo parcial e em 1995 a professor auxiliar convidado em tempo parcial, assim me mantendo até 2017.
Durante este período lecionei as seguintes cadeiras, no Departamento de engenharia civil:
• Seminário
• Construções civis
• Processos gerais de construção
• Direção de obras
• Gestão de empresas e fiscalização de obras
• Projeto de edifícios / Projeto de Engenharia Civil
Como docente do DEC dei ainda aulas de “Economia Ambiental” no curso de Engenharia do Ambiente e aulas de “Princípios de funcionamento estrutural dos edifícios” no curso de Arquitetura.
Voltando à atividade profissional que nunca teve interrupção, em 1990 surgiu na empresa de constru-
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Ser engenheiro é ter engenho para resolver problemas. Não é ser especialista numa pequena área e desconhecer o que está à volta. 117
ção um individuo Luxemburguês a propor que fossemos concessionários de uma multinacional (ASTRON) que se dedicava à fabricação e de edifícios metálicos profissionais (naves, pavilhões, centros de exposições, etc.). Não havia muito interesse da parte da empresa mas ainda se importou um edifício para uma piscina pública.
A ideia era, contudo, interessante e eu, juntamente com outro colega, propusemos ao dono da empresa criar uma outra empresa para se dedicar, em exclusivo, à importação e montagem de edifícios metálicos. Surgiu assim a CASAPE, SA, em que me mantive como acionista e administrador da área técnica até 1998, altura em que resolvi vender as ações ao outro colega e criar um gabinete de análise estrutural, em Leiria, para me dedicar aos projetos.
Ainda durante este período, quando a autoestrada A1 estava a ser con cluída, com os troços entre Torres Novas e Coimbra, o Engº Ernesto Domingues (antigo docente do DEC, meu professor de Mecânica dos Solos e meu cliente de um programa de cálculo) chefiava a fiscalização dos sublanços Torres Novas Fátima e Fátima Leiria, precisava de um chefe de fiscalização para as obras de arte (pontes e viadutos) e convidou me. Como era uma atividade nova não pude resistir.
Embora em tempo parcial, foram os anos menos stressantes da minha carreira. Na atividade imobiliária há sempre os riscos financeiros, na construção há o risco de falta de trabalho quando se sobem os preços e orisco de perdas quando se descem para o angariar. Na atividade de projeto há sempre o risco de erros de cálculo. Na atividade de fiscalização, desde que exista um bom caderno de encargos, como era o caso, praticamente não havia riscos pois qual-
quer erro era sempre imputado a terceiros.
Note se que o período foi interessante, não só por ser pouco stressante, mas também por ter oportunidade de ter um trabalho ativo na busca de soluções para situações inesperadas, sobretudo a nível de fundações.
No período do gabinete de cálculo estrutural foram elaborados dezenas de projetos dos quais destaco as estruturas industriais para as fábricas de cimento, pontes e edifícios públicos.
Entre 1993 e 1996 consegui ainda elaborar programas automáticos para cálculo de estruturas (NEWTON), dimensionamento de pavimentos pré esforçados (PRELIS, LEIRIVIGA e PRECLARO) e gestão e programação de obras (PLANOR, PLAREV , PLACON e PLEQUIP), que comercializei através de uma empresa de Coimbra.
Por fim, em 2006 o Itecons convidou me para integrar a sua equipa, pri-
meiro nas instalações do DEC e depois nas instalações próprias que conhecemos. Mantenho me nesta atividade até hoje por se tratar de uma atividade variada, nomeadamente consultoria e projeto.
Tem algum episódio marcante, enquanto docente, que queira partilhar?
O episódio mais marcante é precisamente o da saída e pelo lado negativo. Dei aulas no DEC, continuamente durante 36 anos. Nos últimos 23 anos fui professor convidado o que pressupunha contratos anuais que terminavam no fim de Julho de cada ano e eram renovados no início de Setembro. Não havia, portanto, qualquer obrigação legal de renovação. Contudo, sempre assumi que havia uma obrigação moral de me avisar que o contrato não seria renovado. Em agosto de 2017 ainda estive a preparar o plano de estudos que o Departamento de Arquitetura me pediu para a cadeira que iria lecionar em 2017 2018. Comecei entretanto a estranhar que não me cha-
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massem para assinar o contrato e dirigi me à secretaria do DEC. Foi então que soube que já não era professor do DEC.
Não é que fosse uma surpresa a não renovação, devido à falta de alunos e ao meu vínculo precário, o que não esperava era que acontecesse desta forma. O terem já decorrido 36 anos de serviço e o facto de ter sido professor de grande parte dos atuais professores e dirigentes, levava me a crer ser merecedor de mais consideração.
Sabemos que está envolvido no projeto da nova ponte sobre o rio Paiva, integrada nos passadiços dos Paiva, que será a maior ponte pedonal mundial. Conte nos sobre isso.
Não posso contar muito porque a obra ainda está em curso, há muitos interesses à volta do assunto e quando se soube que iria ser a maior ponte pedonal do mundo levantaram se uma série de interesses concorrenciais da parte de gabinetes e entidades habituadas a monopolizar os projetos desta grandeza. Escandalizaram se, sobretudo pela simplicidade do cálculo, mas o cálculo de estruturas com cabos é mesmo simples. Os cabos não resistem a momentos fletores, nem a esforços transversos, nem à compressão, o que significa que as cargas que sustêm tem de ser transmitidas aos
apoios unicamente através de tração e com a direção do cabo. O cabo terá forçosamente de chegar inclinado ao apoio de forma que a sua componente vertical seja igual à das
verá abrir ao público na Primavera ou Verão, depois de realizados ensaios de carga. A ponte foi projetada para receber simultaneamente 1815 pessoas, terá 516,50 m de vão, medido entre eixos de pilares, e o tabuleiro terá 1,20 m de largura. O pavimento é quase transparente, devido à disposição do gradil, mas não é em vidro, como foi anunciado nalguma comunicação social. A altura em relação ao rio Paiva é de 175 m.
O que é para si ser Engenheiro Civil?
Como disse no início, uma das coisas que me conduziu para a engenharia foi o facto de gostar de engenhocas. Ser engenheiro é ter engenho para resolver problemas. Não é ser especialista numa pequena área e desco-
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cargas verticais a descarregar (cargas conhecidas). A componente horizontal da reação é igual à componente vertical a dividir pela tangente do ângulo que o cabo faz com a horizontal e a força no cabo pode ser obtida com o seno do mesmo ângulo ou com o teorema de Pitágoras. A mesma simplicidade se aplica no cálculo da pala do edifício de Portugal na Expo ou na cobertura do estádio de Braga. Ora esta simplicidade põe em pé os cabelos de muitos projetistas que apenas dão crédito a modelos com cálculo matricial complexo e resmas de folhas de resultados.
Agora quanto à ponte, como disse, está em execução. Os pilares de betão armado, que elevam os cabos para aumentar o ângulo com a horizontal e reduzir os esforços estão realizados. Espera se lançar os cabos principais (catenárias) até ao fim do ano e montar os pendurais e o tabuleiro no início de 2020. A ponte de-
nhecer o que está à volta.
Na minha anterior casa tinha construído um elevador para ir ao sótão (mais uma engenhoca) e estava com problemas de travagem no motor elétrico. Um dia, à hora de almoço, encontrei na cantina um professor de engenharia mecânica, e perguntei lhe se sabia como funcionava o travão do motor elétrico. Ele não sabia mas disse me que devia ser um problema elétrico. Uns dias mais tarde, encontrei um professor de engenharia eletrotécnica o pus lhe o mesmo problema. Disse me que não sabia, mas deveria ser um problema mecânico. Tive de abrir o motor. Verifiquei que o travão funcionava com uma bobina elétrica que atraía um disco ligado ao eixo do motor para uma superfície fixa. Era um problema eletromecânico. Certamente a questão colocada não dizia respeito à matéria que lecionavam mas chocou me o facto de nem sequer fica-
simplicidade põe em pé os cabelos de muitos projetista que apenas dão crédito a modelos com cálculo matricial complexo e resmas de folhas de resultados DEC Noticias | 3º Trimestre 2019 119
rem com curiosidade para irem analisar a questão. Isto não é ser engenheiro.
Quando faço um projeto de estrutura metálica, opto sempre pela fabricação total em fábrica e a montagem em obra por aparafusamento, sem cortes nem soldaduras, de forma a poder “galvanizar” as peças por imersão em tina de zinco fundente. Mas não me limito a dimensionar um perfil. Verifico se não há um mais económico que cumpra as mesmas funções, se fica esteticamente bem, se se encontra no mercado com facilidade, se os cortes não dão muito desperdício, se o seu comprimento não excede a dimensão da tina de zinco, se o transporte para a obra é possível quando há ruas estreitas no caminho, se há grua para o montar e se a grua tem espaço de manobra, se há espaço nas ligações para enfiar os parafusos, se há acesso às chaves de aperto e espaço para rodar as porcas e se estas operações não envolvem risco excessivo. Considero que isto é ser engenheiro.
Não quero assustar os mais novos porque tudo o que referi não pode aprender se na escola. Mas se houver curiosidade e vontade para adquirir os conhecimentos em falta, isso já é ser engenheiro. Se pudesse, a que ano gostaria de voltar?
Esta questão é de difícil resposta sem saber as condições. Voltar atrás
sem saber o que sei hoje não traria grandes resultados pois certamente iria tomar as mesmas decisões que tomei e seria uma cópia da minha vida. Voltar atrás sabendo o que sei hoje também seria complicado. Era triste estar a rodar uma antena de televisão para tentar apanhar a imagem a preto e branco com menos grão, sabendo que a televisão digital a cores estava para chegar. Agora voltar atrás apenas para reviver pequenos períodos seria bom.
Voltava de bom grado ao tempo em que as famílias à noite se reuniam nos cafés a conviver, a ler o jornal, a jogar bilhar. Também gostava de voltar à minha adolescência para me declarar às diversas miúdas por quem nutri um amor platónico e que a minha ingenuidade e timidez impediram.
Gostava de voltar aos poucos dias após o 25 de Abril, em que toda a gente estava feliz. Até os apoiantes do antigo regime (excluindo dirigentes e PIDE) consideravam que já era tempo de mudança. Havia um sentimento geral de felicidade.
O que é que ainda não teve oportunidade de fazer e gostava de ter feito
Em termos profissionais eu já fiz quase tudo. Trabalhei como dono de obra, como construtor, como fiscal, como projetista, como professor, como consultor, como programador. Também colaborei com diversas associações cívicas e profissionais. Já tive oportunidade de fazer quase tudo. É claro que houve períodos melhores e piores dentro das várias atividades. Aquilo que mais gosto é de desafios e trabalhos novos. O meu sonho seria poder ter uma atividade profissional a inventar engenhocas. O meu pesadelo seria trabalhar a tirar fotocópias.
Sente se uma pessoa realizada? Arrepende se de alguma decisão que tenha tomado? Algum período me-
nos feliz? Mais feliz?
Sentir me ei uma pessoa profissionalmente realizada quando a ponte sobre o rio Paiva estiver concluída e com muitas pessoas a divertirem se ao passá la.
Não me lembro de ter tomado uma decisão má relevante, exceto a saída de Lisboa quando abandonei a Soares da Costa. Tenho de reconhecer que as grandes oportunidades estão em Lisboa. Por outro lado ganhei em qualidade de vida.
É claro que tomei ao longo da vida muitas decisões más, mas que na altura em que as tomei pareciam as melhores. Por exemplo, na década de 90 comprei um Volkswagen Golf usado com motor diesel 1500. Passava óleo para o sistema de arrefecimento e rebentava os tubos de água. Por fim andava com um garrafão de água e um conjunto de tubos de borracha e abraçadeiras no porta bagagens para substituir os tubos que rompiam durante as viagens. E foram várias vezes. Foi realmente uma má decisão a compra do Golf mas na ocasião não sabia que os motores 1500 tinham estes problemas quando eram reparados.
Quanto a período menos feliz, em termos profissionais, recordo os dias que passei na sede da Soares da Costa, no Porto, para aprender os métodos que queriam implementar na filial de Lisboa. O poder da senhora que chefiava aquela secção era enorme à custa das informações confidenciais que conseguia obter com a sua rede de espiões (controladores).
Em termos pessoais foi o falecimento da minha mulher, em 2008, vítima de um cancro fulminante.
Relativamente aos períodos de felicidade tenho que dizer o seguinte: se, ao realizar qualquer trabalho, me cair um euro do bolso e não o encontrar fico muito mais aborrecido
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do que feliz por encontrar um euro por exemplo ao aspirar o carro. Isto significa que tenho mais tendência para a infelicidade.
Tive muitos motivos de felicidade ao longo da vida mas sempre diluídos no tempo. Felicidade marcante seria receber uma muito boa notícia de forma instantânea e, de preferência, inesperada, como ganhar a lotaria. Destas não tenho nenhuma, mas também não posso ter, porque não aposto.
Que conselhos pode aqui deixar aos jovens e não tão jovens Engenheiros Civis?
Aos engenheiros que seguem a via do projeto recomendo que não se entreguem de forma dogmática aos computadores. A minha atividade no Itecons permitiu me verificar que uma grande parte das patologias que nos pedem para diagnosticar nos edifícios se devem a erros de projeto. Quando contactamos os respetivos projetistas a resposta tipo é “Não pode estar errado, foi o computador”. Os computadores também “erram” (dados incorretos, limitações do programa, má interpretação dos resultados,...) e só deveríamos calcular automaticamente aquilo que saberíamos calcular manualmente,
de forma a podermos criticar os resultados e reconhecer problemas.
Aos jovens engenheiros que seguem a via das obras recomendo que tentem esconder a ignorância sobre o assunto, junto dos encarregados e operários. Na verdade o curso de engenharia civil está muito pouco ligado à produção e há coisas básicas que lá não aprendemos.
O pessoal das obras pensa que o engenheiro civil sabe tudo. Se descobre ocontrário perde a confiança e o respeito.
Quando fui para o meu primeiro trabalho (fábrica de folha de madeira), a determinada altura, quando íamos Ponte na praia fluvial Palheiro Zorro Torres do Mondego
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iniciar as alvenarias, o encarregado perguntou me “Ó senhor engenheiro, com que traço vamos fazer a argamassa?”. Eu tinha aprendido muito sobre argamassas (granulometrias, módulos de finura, …) mas não tinha aprendido os traços para trabalhos correntes. Então perguntei ao encarregado “Então, como é que estava a pensar fazer?” e ele respondeu “1:4”. Fingi pensar no assunto por uns segundos e disse lhe “Está bem, pode ser”. Eu tinha a ideia que não estava muito mal e por isso arrisquei. Atualmente até podem, logo de seguida, confirmar na internet, sem que o encarregado veja, e depois arranjar qualquer desculpa para alterar, se for necessário. Reconheço que é triste usar estes métodos, mas considero menor.
Cada vez mais se fala mais na necessidade das pessoas se especializarem. Contudo, também é verdade que cada vez mais se pensa na figura do especialista como “aquele que procura saber cada vez mais sobre cada vez menos, até que chega ao ponto de saber quase tudo sobre quase nada e não saber nada sobre quase tudo”. Que pensa sobre este conceito?
Considero que este conceito retrata a realidade. Conheço doutorados de dois tipos: os que partem de uma base de conhecimentos alargada e se vão especializando criando uma espécie de pirâmide de conhecimento e há os que sem base de conhecimento alargada se especializam numa área, como se estivessem a subir numa corda vertical. O pior é os que, entre estes, se consideram superiores aos outros que estão cá em baixo, mesmo que tenham um campo de futebol de conhecimentos.
Grande parte das teses que tenho visto não trazem nada de novo. As primeiras 30 páginas são dedicadas aos agradecimentos, aos resumos e aos índices. Depois revê se a história
da matéria: em 1930 o senhor X escreveu isto, em 1948 o senhor Y escreveu aquilo Depois relatam se os ensaios feitos, acompanhados de muitas fotografias. Comparam se as diversas teorias e por fim… acabou se. Normalmente sem conclusões práticas.
É um trabalho positivo que compila e analisa os conhecimentos numa determinada área, mas nada mais do que isso.
Considero que as especializações deveriam ser realizadas depois de
surgiu a ideia duma casa assim tão inovadora? Está satisfeito com ela?
A primeira ideia ainda era mais maluca. Fiz, com peças do LEGO, uma casa elevatória e rotativa. A elevação era conseguida com um sistema em tesoura movido pelos macacos pneumáticos do LEGO Technic. A elevação poderia ser útil em terrenos inundáveis ou em terrenos muito pequenos onde não houvesse espaço para pôr o carro durante a noite ou apenas para melhorar a vista. Até cheguei a pedir o preço para os macacos
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ao prémio de inovação SIM de 2011, promovido pela SAMSUNG. Concorremos e vencemos. Foi o pontapé de saída para a construção da casa.
Sendo a Câmara de Coimbra conhecida por dificultar e atrasar os processos de construção, fui previamente falar com o diretor de serviços, adjunto do presidente, para lhe expor a ideia e perguntar como a câmara iria reagir. Respondeu que apoiariam entusiasticamente a ideia. Perante tal resposta comecei a procurar terrenos que tivessem boa vista, boa exposição solar e se enquadrassem no limite financeiro pré definido. Encontrei um terreno nestas condições e o proprietário pediu 50 mil euros. Não era nada caro. Combinámos encontrarmo nos uns dias mais tarde para concretizar o negócio. Quando lhe perguntei como queria que pagasse os 50 mil euros ele disse me que não eram euros, eram contos (250 mil euros)! Foi um choque para ambos. Continuei à procura do terreno e acabei por comprar um lote numa urbanização em Banhos Secos, onde vim a construir a casa.
Iniciámos a execução do projeto com troca permanente de ideias entre mim e o meu irmão. Quando apresentámos o estudo prévio à Câmara, este foi chumbado, porque o plano de urbanização exigia moradias T3 e esta só tinha dois quartos e porque a geometria da implantação não era a prevista (como poderia ser com uma casa rotativa?). Para resolver a questão foi preciso ir à Câmara perguntar se aquilo é que era o apoio entusiástico.
Entretanto a EDP passa uma linha de alta tensão sobre a urbanização quase a rasar as casas. Como desconheço oefeito dos cabos de alta tensão sobre uma casa de estrutura metálica rotativa pressionei os proprietários da urbanização para que obrigassem a EDP a enterrar o cabo pois este
Montagem e estrutura
Fabricação
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Projeto de estabilidade
nem estava previsto no acordo estabelecido para uma anterior linha e poste. Foi preciso esperar por 2015 para que o cabo fosse enterrado e apresentássemos o projeto final. Comecei a obra em 2016. Primeiro sem eletricidade porque a EDP demorou 6 meses a ligar a corrente. Tivemos de utilizar um gerador. Com estes problemas a obra não foi concluída no prazo da licença e tive de pedir a prorrogação. A prorrogação foi concedida mas não havia ninguém para a assinar pois tinham decorrido as eleições autárquicas e ainda não havia vereador para o pelouro. A EDP, que tinha demorado 6 meses a ligar a corrente, cortou a no dia em que terminou a licença. Por fim, quando a nova licença de 6 meses foi assinada já tinham passado 3 meses da sua validade. Paguei 6 meses e só pude usufruir de 3. Foi preciso voltar a reclamar.
A obra conclui se no verão de 2018, e depois começou a telenovela do certificado energético. Nenhum dos vários técnicos que contactei conseguia preencher o formulário para a certificação energética de forma a obter um resultado positivo, pois não estão previstas casas rotativas.
Vista noturna
Rotação noturna
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Montagem dos revestimentos
Quando se apresentou o caso à ADENE confirmaram as limitações e sugeriram que considerasse a casa fixa mas na posição mais favorável. Ora a casa tem, pelo menos, duas posições mais favoráveis, uma de verão e outra de inverno. Por fim teve de se utilizar um método simplificado que conduziu a um resultado positivo (B) mas muito longe do que merecia, face ao seu desempenho energético. Moro na casa há menos de um ano e a última vez que comparei os gastos de energia com igual período no apartamento onde morava, obtive uma poupança de 45%, apesar de ter mais área e dois portões elétricos.
Em resumo, todos os políticos gostam muito de falar na necessidade de inovação mas quando alguém tenta inovar tudo fazem para travar. Não digo que o façam com intenção, mas permitem que os funcionários o façam na nua ânsia de mostrar poder. Também não procuram medidas simples que permitam aligeirar os processos. Porque é que uma simples prorrogação de prazo não pode ser assinada pelo diretor do serviço? Porque é que a EDP precisa de uma licença para abrir e tapar uma vala de 20 m num passeio?
Quanto à casa, esta tem uma cave fixa, toda em betão armado, com uma abertura circular no teto onde recebe o prato giratório da zona superior. Ao contrário do que normalmente se pensa, a casa não tem nenhum eixo físico para rotação. Primeiro porque a aplicação de rotação no eixo implicaria forças e esforços de torção enormes e depois porque necessito do eixo livre para saírem os esgotos e entrarem a água, energia e telecomunicações. Também ao contrário do que normalmente se pensa, não há um conjunto de rodas a girar sobre uma pista ou carril, mas sim uma pista a rodar sobre um conjunto de 24 rodízios de poliamida. Esta opção tem a vantagem de evitar a acumulação de lixo ou poeiras na pista, que poderiam prejudicar o rolamento. Existem ainda 8 rodízios horizontais que mantêm o prato no eixo virtual. A rotação é gerada por um motor elétrico que atua numa corrente que percorre a periferia do prato.
Sob o pavimento da cave existe um depósito de 45 m3 destinado a recolher a água das chuvas, para utilização na rega do jardim e horta.
O rés do chão é vazado, apenas com a entrada e escada de acesso ao 1º
andar com o objetivo de manter a visão sobre Coimbra a quem passa na rua a aligeirar a imagem da casa, parecendo que “voa”. O 1º andar é o único piso habitável e o terraço cobertura no 2º andar é o local com melhor vista e onde está montado o sistema de aquecimento solar. Espero ter, em breve, também um conjunto de painéis fotovoltaicos.
Inicialmente imaginava a casa a rodar para acompanhar o sol. Contudo, apercebi me que, como tenho zonas envidraçadas a fazerem 120o e bastam 2 ou 3 horas de sol para aquecer a casa, não é necessário rodá la durante o dia mas apenas quando o tempo muda. Se está frio, viro a para sul, se está a aquecer demasiado viro a para norte e para situações intermédias viro a para posições intermédias.
Como disse numa entrevista à SIC, também a viro sempre que me apetece dar uma volta sem gastar gasolina, ou quando vêm visitas cá a casa para desfrutarem da magnifica vista sobre Coimbra, sobretudo à noite.
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Vista diurna
Tem algum hobby? Quão sério oleva e quanto tempo lhe dedica ?
Tenho dois hobbys: a fotografia e a “bricolage”.
A fotografia começou no meu tempo de estudante e cheguei a ser dirigente da secção de fotografia da AAC e a dar aulas teóricas e práticas de fotografia. Comprei uma máquina Mamya a um estudante americano que precisava mais de dinheiro do que da máquina. Apesar das limitações técnicas e financeiras dava um gozo enorme ver as fotografias a preto e branco começarem a surgir no fundo da tina do revelador. Atualmente basta clicar em imprimir. E as solarizações? As dezenas de tentativas que eram necessária para obter um bom resultado? Cheguei a ter um laboratório de revelação a preto e branco em casa.
Quanto à bricolage, sempre me acompanhou. Como já referi na minha casa em Lisboa fiz a mobília. Em Leiria fiz as divisórias e a calçada de acesso ao escritório. No apartamento em Coimbra fiz uma sala de cinema no sótão e o elevador para acesso. Na moradia atual fiz tudo o que podia em todas as áreas que não exigissem perfeição profissional. Tenho na cave uma divisão destinada a estas atividades. Também cheguei a fazer um Kart com um motor de motorizada mas correu mal, por falta de um diferencial.
Que pergunta ficou por fazer e que teria dado uma perspetiva diferente ou mais esclarecedora sobre si?
Temo que tenha reclamado demasiado, dando a ideia de uma pessoa muito pessimista. Na verdade aproveitei a oportunidade para desabafar. Sou tímido e in
trovertido, mas até sou otimista, tolerante, penso que todos os pequenos problemas hão de resolver se e encaro sem grande receio os problemas irresolúveis.
Lia banda desenhada (tenho a coleção completa da revista Tintim 1968 1982), gosto de filmes italianos e franceses, música dos anos 70 (Pink Floid), humor inglês (Monty Python, Mister Bean, Gato fedorento), trocadilhos e determinado tipo de anedotas.
Montagem da canalização
Construção terminada
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Rui Miguel Soares Marques
Engenheiro Civil desde 2013, especialidade: Construções
Atualmente: Engenheiro na empresa Regras Próprias, elemento do grupo musical Os Quatro e Meia
Porque escolheu Engenharia Civil e oDEC para estudar?
A Engenharia era já uma paixão, eu gostava de perceber como é que as coisas funcionavam e como se encaixavam e relacionavam entre elas. Na verdade a Engenharia Civil era o ramo da engenharia que a minha vida me deu a conhecer mais de perto. Entretanto, o facto de ser uma Engenharia que trabalhava com a melhoria real na vida quotidiana das pessoas, fez me apaixonar por todas as vertentes que o programa do curso oferecia.
A escolha do DEC foi baseada em duas questões particulares:
• a reputação do curso era fora de série; a exigência do curso dava uma excelente preparação aos alunos que lhes iria permitir fazer face a um maior conjunto de possíveis adversidades do mercado.
• era um curso situado na mais antiga e conceituada universidade do país com alguma proximidade à minha terra Natal, o que me permitia ter um trabalho em part time para ajudar a cobrir as despesas da universidade.
O curso desiludiu o? Qual a sua opinião sobre sua qualidade?
Não me desiludiu. O curso de Engenharia Civil pode ser caracterizado por uma exigência muito grande por parte dos professores, pois é um curso que abrange uma grande variedade de temáticas fundamentais para o exercício da nossa profissão
na sociedade. No entanto, na minha opinião, e baseada na minha experiência enquanto Projetista e Director de obra, penso que o curso melhoraria se sofresse algumas alterações a nível curricular. Um exemplo claro é oincluir uma disciplina comum obrigatória, a disciplina de PEF (Projeto de Edifício e Fundações). Na mesma temática, mas de cariz mais complicado de concretizar, penso que Engenharia Civil se trata de um curso que poderia mesmo ter 6 anos letivos, em que o último ano deveria ser um ano de experiência de estágio coordenada por um professor em conjunto com uma empresa. Esta seria também uma forma de potenciar a empregabilidade dos recém formados.
O DEC será sempre uma segunda casa para mim, na medida em que faz parte da pessoa e profissional que sou hoje. Tenho tantas e tão boas memórias do departamento que poderia estender esta entrevista a um livro. Mas citando memórias específicas, relembro com saudade os magustos e convívios do departamento. Sempre em dias que acaba-
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vam por coincidir com algum evento da vida da Tuna e que acabavam por se tornar dias fantásticos de convívio, do início ao fim
Há algum episódio marcante na sua vida de estudante no DEC que queira partilhar?
O que representa o DEC para si e que memória lhe traz a vida académica no DEC?
Gosto particularmente de recordar o dia em que defendi a minha dissertação no perfil de construções. Lem
é um curso que abrange uma grande variedade de temáticas fundamentais para o exercício da nossa profissão DEC Noticias | 3º Trimestre 2019 127
bro me da vontade que tinha de ingressar o mercado de trabalho e de exercer a profissão.
Que preocupações lhe suscitavam, na sua época de estudante no DEC, ocurso e a Universidade?
Na época em que estava a frequentar o curso, os media iam descredibilizando numa base diária a classe profissional de Engenheiro Civil, as empresas de construção, imobiliárias e tudo o que estava diretamente relacionado com esta área profissional. Em termos da área de urbanismo, a grande maioria das posições diziam respeito a cargos públicos, sendo que a contratação pública era praticamente inexistente. Como é lógico, penso que, como eu, todos os meus colegas pensavam acerca das dificuldades que o futuro nos reservava. Quanto a mim, sempre fui muito pragmático quanto ao futuro: mesmo que não arranjasse emprego logo, eventualmente as oportunidades deveriam aparecer. Felizmente consegui emprego cerca de 2 semanas após ter terminado o curso, julho de 2013.
De que forma o curso de Engenharia Civil o preparou para o percurso profissional que seguiu?
Eu penso que o curso me preparou da melhor forma possível que um curso neste formato me poderia preparar. Senti que poderia ter uma componente mais próxima do mercado de trabalho, mas também percebo a dificuldade de isso acontecer numa época de crise financeira que afetou, em particular, esta área.
Fez algum programa de mobilidade? De que forma a participação no programa de mobilidade influenciou o seu percurso profissional?
Não fiz qualquer programa de mobilidade. Apercebi me que as opções dos programas de mobilidade que existiam não iam de encontro às minhas expectativas para aquilo que deveria ser um programa de mobili-
dade. Há ótimos programas de mobilidade para muitos cursos. Infelizmente, Engenharia Civil não é um deles. Além disso, o nosso curso era tão forte no DEC que não vi a necessidade de ingressar um programa de mobilidade. No entanto, agora enquanto engenheiro, gosto muito de viajar para oestrangeiro e averiguar como é a engenharia, no geral, nesse país, bem como a importância que a sociedade atribui aos profissionais dedicados a esta área.
“ ”
Duas semanas depois de defender a minha dissertação e de terminar o curso, fui admitido numa empresa especializada em carpintaria Civil. Trabalhava integralmente em estruturas de madeira, bem como carpintarias interiores, o que estava longe de ser a minha especialidade. Na altura a empresa procurava alguém para ajudar no processo de expansão. Era uma empresa que
Pode fazer nos um breve retrato da
Tenho tantas e tão boas memórias do departamento que poderia estender esta entrevista a um livro DEC Noticias | 3º Trimestre 2019 128
civil e seria eu, após um período de adaptação e formação, que iria para a sucursal que estavam a montar em Moçambique. Antes desse momento acontecer, uma outra empresa fez me uma proposta que, sendo uma empresa de construção civil mais genérica, estava integrada num grupo de empresas onde estava também inserida uma empresa de projeto.
O potencial de fazer parte de laços empresariais mais abrangentes que as estruturas de madeira cativou me e aceitei a proposta. Neste momento sou Engenheiro Sénior no grupo e já está sobre mim praticamente to-
da a responsabilidade de projeto, direção de obra e fiscalização de obra (quando nos é contratada). Também sou responsável pelo alvará da empresa de construção.
Há algum episódio marcante na sua vida profissional que queira partilhar?
Lembro me de um em particular que agora me faz rir, mas que na altura não achei piada nenhuma. Numa obra na multinacional FINSA, na sede da sua sucursal em Portugal, denominada Luso FINSA, tínhamos um camião contentor alugado para carga de entulhos. Nesse mes-
mo contentor foram colocadas
bocas de descarga de entulhos para que os operários pudessem descarregar de forma ordenada e que os volumes pudessem ser distribuídos omais uniformemente possível pelo contentor. Entretanto entrei numa reunião com os responsáveis, para representar o nosso cliente. A meio da reunião ouviu se um enorme estrondo que alarmou todas as pessoas presentes. Tentou se perceber o que se tinha passado. Na verdade, o cenário que era visível era o de um contentor, que era o atrelado de um grande camião de transporte de entulhos, completamente “afocinhado” a verter óleo contra a fachada envidraçada do edifício em obras e com entulho todo do mesmo lado.
Que conselhos dá aos atuais alunos de Engenharia Civil? ?
Presentemente, que apostem em formação extra curricular. Se fosse hoje teria feito formações extra em Cype, SAP2000, Autodesk Revit.
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Se tiverem oportunidade para o fazer, sugiro também trabalho em empresas para ter contacto com o universo profissional. Refiro me a pequenos estágios em tempo de férias.
Como surgiu o seu interesse na música e há quanto tempo toca? Este gosto influenciou a escolha do perfil, na medida que é em Construções que se estuda a acústica? Aliás … a sua tese foi desenvolvida nesta temática da acústica. Simples coincidência?
O interesse na música começou aos 5 anos quando os meus pais me inscreveram na escola de música local. Na verdade toco há cerca de 25 anos.
A escolha do perfil nada teve a ver com este meu gosto pela música, foi mera coincidência. Para a escolha do tema da tese (Estudo da absorção acústica de soluções para tetos), isso sim, já pesou bastante na escolha.
Em que medida a sua participação em Tunas académicas influenciou oseu desempenho no DEC e agora, como membro d’Os Quatro e Meia, a sua vida profissional? como fez/faz a gestão do tempo para conciliar as duas atividades?
A minha vida académica nas tunas teve um papel preponderante na formação d’Os Quatro e Meia. Relativamente ao desempenho no DEC, é natural que tenha retirado algum
tempo que poderia ser de estudo. Mas nem tudo na vida é estudo, trabalho e dinheiro e por vezes prescindir de algum tempo em prol de outras atividades e presença noutros ambientes traz outras valências e oportunidades que de outra forma nunca se proporcionariam.
Relativamente à gestão de tempo, essa será sempre a eterna questão. Quando Os Quatro e Meia começaram a ter alguma notoriedade e o
tempo. Por essa altura eu já tinha um papel minimamente importante na empresa. Isto fez com que pudesse ter alguma abertura para fazer essa gestão. Não tenho propriamente dificuldades com a entidade patronal em ausentar me em dias de concerto. Por outro lado, é também verdade que trabalho mais horas diárias que as habituais 8. Desde que não provoque atrasos ou que prejudique o meu desempenho penso que todas as pessoas
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nem tudo na vida é estudo, trabalho e dinheiro e por vezes, prescindir de algum tempo em prol de outras atividades e presença noutros ambientes traz outras valências e oportunidades que de outra forma nunca se proporcionariam
número de concertos aumentou ao ponto de exigir gestão de tempo, eu já era Engenheiro Civil há algum
com quem trabalho diariamente até tenham algum orgulho em que faça parte d’Os Quatro e Meia.
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Considera que a passagem por Coimbra influenciou este seu rumo pela música? Como surgiu a sua participação no grupo? Supomos que tenha sido logo no início, uma vez que consta que o Rui é o “Meia”, tendo por isso influenciado o nome do grupo ... todos foram estudantes em Coimbra mas em departamentos diferentes: qual foi o elo comum para se conhecerem enquanto músicos?
Foi a vida académica de Coimbra que juntou os elementos da banda. Na verdade, para além de um engenheiro civil a banda conta com 3 médicos, um engenheiro Informático e um professor de música.
O elo comum foi a vida académica e de tunas que fez com que todos nos juntássemos. Já gostávamos de tocar mesmo antes da banda existir, assim como já gostávamos de tocar antes de estarmos na universidade.
Os Quatro e Meia são um grupo formado por amigos estudantes de Coimbra, que atuam de uma forma muito descontraída e bem disposta. Alguma vez imaginaram/sonharam vir ter o estrondoso sucesso que têm tido? Esgotaram rapidamente as 3 noites seguidas cá no Convento de S. Francisco (janeiro/2018), esgotaram os coliseus (Porto em novembro/2018 e novamente o do próximo mês de outubro em Lisboa), entre outras salas importantes, como a Casa da Música p. ex.. Logo o primeiro disco, os Pontos nos Is, entrou diretamente para o topo do top de vendas nacional …
Na verdade, nem nos nossos maiores sonhos vimos isso como uma possibilidade. Era para ser um concerto apenas naquela noite no TAGV. Acabámos por manter a banda porque no fim desse concerto nos convidaram para mais 2, um dos quais nas festas da cidade de Vale de Cambra. Daí até aos coliseus foi um percurso muito bonito e que foi sempre acompanhado pelos nossos amigos que nunca nos deixaram de ir ver a cada concerto.
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Esse público e conjunto de amigos foi crescendo e hoje sentimos orgulho a cada concerto que fazemos e que tem toda a gente a cantar as nossas músicas. No próximo dia 19 de outubro estaremos no Coliseu dos Recreios em Lisboa e já não há nem um bilhete para venda.
Há algum episódio marcante enquanto membro d’Os Quatro e Meia que queira partilhar connosco ?
Lembro me em particular do casting que fizemos para o Agitágueda. Como é frequente, saímos dos nossos trabalhos e fomos para, neste caso, Águeda, para fazer o casting. Quando chegou a nossa vez e começamos a retirar os instrumentos das caixas para os ligar, verifiquei que o meu contrabaixo tinha o tirante que segura o cavalete das cordas partido. Não é um dano grave mas não era possível de resolver na hora. Então, alguém de uma outra banda no casting fez o enorme favor de me emprestar um baixo de 5 cordas para substituir. Era um indivíduo enorme, pelo que a correia, mesmo adaptada, fazia com que o baixo me ficasse bastante grande e desconfortável. Senti me, nesse dia, o maior “rocalheiro” vestido de fato que já vi na vida. Entretanto o casting, que era de 3 músicas começou. Na segunda música onde era necessário colocar um dispositivo nas guitarras para subir o tom da música (denominado “capo”) um dos meus colegas colocou o “capo” no sítio errado. Tivemos que recomeçar a música. Como se os contratempos tivessem sido poucos, na terceira música falta a luz no auditório. No final daquilo tudo, não só fomos selecionados para estar no Agitágueda, como o júri ainda disse que tínhamos sido “uma lufada de ar fresco nas participações”.
Esse público e conjunto de amigos foi crescendo e hoje sentimos orgulho a cada concerto que fazemos e que tem toda a gente a cantar as nossas músicas DEC Noticias | 3º Trimestre 2019 132
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uma lufada de ar fresco
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Dez Anos de DEC Notícias
No regresso à nova normalidade, o DEC Notícias olha para o futuro do nosso Departamento sem deixar de honrar o passado.
Dessa forma, passados dez anos da sua existência, foi conversar com as duas colegas responsáveis pela manutenção deste pequeno jornal: as Professoras Ana Bastos e Isabel Pinto. Como sabemos ou imaginamos, preparar um documento destes representa trabalho que se soma à quantidade extraordinária de trabalho que enfrentamos todos os dias. É um desafio enorme mas assumido com mestria por estas duas colegas. Será difícil igualar a sua extraordinária capacidade de mostrar o que de bom se vai fazendo neste Departamento e todos lhes devemos um sentido agradecimento. Agradecendo também a sua disponibilidade para conversar connosco, aqui ficam as suas impressões do trabalho realizado ao longo destes últimos 10 anos.
1.Quando pensam nestes anos de dedicação ao DEC notícias, qual a primeira impressão que vos surge?
gregando os esforços de toda a comunidade do DEC, permitisse divulgar o que de mais relevante aí se passava. O instrumento surgia como forma de alavancar a união interna da comunidade, ao mesmo tempo que fomentava o sentimento de pertença, de integração e de aproximação entre a comunidade e a instituição.
A primeira impressão que nos surge é indubitavelmente o sentimento de dever cumprido! Foram cerca de 10 anos de dedicação intensa ao DEC, às suas gentes e às atividades desenvolvidas. Recordamos com nostalgia o dia em que este projeto arrancou do nada, mas ao qual se juntou uma enorme vontade de fazer aquilo que nunca tinha sido feito: criar um instrumento interno de informação e de divulgação que, con-
A ideia surgiu no final de 2009, durante a Direção do Professor João Pedroso de Lima. Na altura o DEC via crescer a sua comunidade académica a bom ritmo e era comum nos confrontarmos, nos longos corredores do DEC, com a presença de novos colegas que simplesmente não conhecíamos. Se nem as pessoas se conheciam todas entre si, como se poderia dar a conhecer as suas atividades e assim fomentar as inter relações entre áreas cientificas e a promoção de projetos técnico científicos comuns? Era por isso determinante dispor de um instrumento interno que potenciasse a divulgação de tudo o que de mais relevante se passava no DEC, nas suas diferentes vertentes e formas de atuação, designadamente ao nível dos recursos humanos, dos investimentos e das atividades letivas e de investigação. Assim, nasceu o DEC Noticias, cujo 1º número foi publicado respeitante ao 1º Trimestre de 2010.
Aos poucos e poucos o canal de informação foi tomando forma e captando um interesse crescente e cada vez mais alargado, dentro e fora do DEC, tendo mesmo sido considerado uma referência de comunicação ao nível da UC. O projeto, que iniciou em modo papel
associado a uma divulgação meramente interna, passou por diferentes modelos evolutivos, tendo sido inevitável, com o seu crescimento, abri lo ao exterior, o que ocorreu em meados de 2014, atingindo a caixa do correio de mais de 18000 destinatários. Foi na direção do Professor Luís Simões da Silva que o DEC Noticias sofreu esta alteração de forma: foi criada uma versão online, com notificação via email, com divulgação quinzenal, servindo paralelamente como motor de alimentação do site do DEC. Este foi um impulso determinante à mudança, e em 2016 o DEC Noticias, na direção do Prof. Álvaro Seco, sofre nova reformulação, com a adesão à plataforma issuu, associando lhe um novo design e forma.
Se pensarmos que todo o trabalho foi sempre desenvolvido por nós as duas (editoras), de forma autónoma e autodidata (desde a identificação à aprendizagem de softwares da especialidade e manuseamento das plataformas de divulgação), sem qualquer formação ou apoio profissional, não será presunção admitirmos que sentimos orgulho no caminho percorrido. Muito se fez, se bem que também muito ficou por fazer. No entanto, estamos convictas que a mudança é sempre positiva e necessária, pelo que deve ser incentivada. Apesar de nunca nos termos acomodado a um modelo passivo, é importante dar a oportunidade a outros colegas que, com visões diferentes, atuais e inovadoras, sejam capazes de alimentar e manter vivo o projeto, o façam engrandecer e assim, perdurar no tempo.
DEC Notícias | 1 º Semestre 2020
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Gala dos 15anos do NEEC, 2016
Dez Anos de DEC Notícias
De que modo esta publicação foi fazendo a diferença na relação entre colegas, sobretudo entre colegas de diferentes áreas de Engenharia Civil, pela forma eficiente como foi dando conhecimento a todos sobre o trabalho dos colegas?
Queremos acreditar que o DEC Notícias atingiu efetivamente esse fim. Desde a fase inicial que nos apercebemos que os assuntos tratados nos números publicados eram temas de discussão à mesa do café e nos corredores do DEC. Em pouco tempo sentimos que muitos colegas e funcionários se sentiam orgulhosos por serem objeto de notícia e que essa publicação era motivo de reconhecimento por parte dos restantes colegas. As novas contratações, as progressões na carreira, mas também as aposentações, passaram a ser noticiadas e assim a proporcionar as merecidas e honrosas homenagens. Os prémios e distinções em que, felizmente o DEC é bastante rico, muito contribuíram para a conversa de café, mas também para a ampla sustentação do mérito e da excelência da atividade técnico científica desenvolvida no DEC.
No entanto, o DEC Notícias foi muito mais longe. Foi reavivar memórias e procurar muitos daqueles que por cá passaram e fizeram história a nível nacional ou mesmo internacional Foram vários os ex alunos, atuais personalidades que entrevistámos, procurando perceber a forma como a sua formação DEC/FCTUC contribuiu para o êxito da sua carreira profissional e vida pessoal. Saudade, vida académica única, excelência do ensino, são alguns dos termos que marcaram a maioria dessas entrevistas.
Destacamos ainda com particular ênfase a forma dedicada com que muitos colegas colaboraram com o DEC Notícias, com reflexões críticas e alargadas a diferentes temas, em entrevistas ou artigos de opinião sobre assuntos determinantes para o DEC, e que em muito contribuíram para enriquecer os conteúdos do jornal, ao mesmo tempo que se revelaram centrais a discussões internas e reflexões complementares. Este foi igualmente o canal privilegiado para as sucessivas direções do DEC informarem toda a comunidade sobre as suas opções de investimento, decisões assumidas seja em termos de gestão académica e
organizacional seja ainda das preocupações que enfrentavam em cada momento.
Este instrumento de informação e divulgação foi igualmente o canal privilegiado utilizado para que, em cada época, todos tomassem conhecimento dos projetos de investigação angariados pelo DEC, os montantes de financiamento envolvidos, as equipas e parceiros associados, bem como os assuntos e outputs previsíveis, fomentando assim o networking e manifestação de interesse por parte de potenciais interessados internos ou exteriores ao DEC.
Seguimos de perto as datas marcantes do DEC, as atividades recreativas desenvolvidas, as celebrações e homenagens, enfim, tudo o que consideramos ser relevante, para mais tarde podermos recordar!
Parece nos assim que esse objetivo foi atingido em quase toda a sua plenitude, para além de que, desde 2010 que o DEC conta com um repositório rico e interessantíssimo que, em qualquer altura, lhe permitirá reproduzir a sua história contemporânea. Porém, para que a história mais antiga do DEC não caísse no esquecimento ou se deixasse abafar pela história recente, o DEC Noticias procurou, em datas marcantes, recordar aqueles que muito contribuíram para que o DEC seja esta escola atual. Realçamos aqui a história e a evolução dos cursos de Engenharia Civil e Engenharia do Ambiente, desde a sua génese até à atualidade, mas também aquele que foi a vida e obra dos dois grandes fundadores do curso de Engenharia Civil, os Professores Victor Graveto e Joaquim Laginha Serafim.
Houve algum momento de maior emoção pelo teor e conteúdos de determinada peça ou entrevista?
É difícil e até injusto apontarmos um ou outro momento crucial, já que todos os conteúdos abordados e as diversas pessoas entrevistadas nos marcaram de forma muito positiva e construtiva. A história do DEC Noticias confunde se com a própria história recente do DEC, pelo que foi uma década de sucessivas descobertas e aprendizagens. Presenciámos e vivemos entusiasticamente grandes momentos de orgulho em nome do DEC, designadamente sempre que al-
guns dos nossos colegas foram agraciados com prémios importantes, como reconhecimento pelo seu esforço, mérito e percurso profissional. Sem querermos menosprezar todos aqueles que com o seu trabalho contribuíram para enaltecer o nome do DEC, relembramos, pela sua relevância, o Prémio Honoris Causa pela Universidade de Liège do Prof. Luís Simões da Silva, a Medalha de Ouro a título Póstumo atribuída pela Ordem dos Engenheiros ao Prof. Laginha Serafim e a condecoração com a Grã Cruz da Ordem da Instrução Pública, atribuída pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio, ao Prof. Seabra Santos. Contudo, foi igualmente com grande entusiamo e regozijo que anunciámos, nos últimos 5 anos, consecutivos, que o curso de Engenharia Civil do DEC se mantinha sistematicamente classificado no Top 150 no Ranking mundial do QS, sendo mesmo o único curso da UC a conseguir tal proeza, o que seguramente resultou de um esforço conjunto e concertado de toda a sua comunidade. Também o elevado número de docentes do DEC distinguidos anualmente pela FCTUC e os convites dirigidos a alguns colegas para assumirem funções de relevo a nível nacional, mereceu notícia e foi motivo de orgulho generalizado da nossa comunidade. A honrosa presença assídua de elementos do DEC no órgão supremo de decisão da UC tem elevado onome deste Departamento ao mais alto nível, sendo que o DEC conta já, na sua história, com um Reitor, dois Pró Reitores e atualmente com 2 vice Reitores. O orgulho do Departamento não se cinge ao corpo docente! Fomos também dando conta, ao longo do tempo, dos mais variados prémios atribuídos aos nossos estudantes dos vários ciclos de estudo, fruto do seu trabalho e da qualidade científica da investigação por eles desenvolvida.
Paulo Catrica
DEC Notícias | 1 º Semestre 2020 135
Dez Anos de DEC Notícias
Encheram nos a alma as entrevistas aos nossos ex alunos, onde nos deram conta do seu sucesso profissional, onde reconheceram a importância do DEC, seja pela excelência da sua formação de base, mas também pela extraordinária vivência académica que lhes proporcionou. E…o que dizer da emoção que nos proporcionaram as longas conversas com os nossos Professores Jubilados, durante a preparação das entrevistas, e oprivilégio que sentimos sempre que nos deram a conhecer, não só outras atividades e competências desenvolvidas, mas também, e em especial, a “outra perspetiva” da pessoa humana e de grande valor, muitas vezes completamente desconhecida dos restantes colegas? E poderíamos continuar a enumerar muitos mais momentos únicos vividos ao longo destes 10 anos, mas continuaríamos a não relatar muitos outros momentos e episódios igualmente dignos de registo e que muitos nos gratificaram e horaram, pela cumplicidade e partilha de informações.
Porque o DEC Notícias não se associou apenas a momentos de alegria e regozijo, também foram notícia os momentos de dor e de sentimento de perda profunda. Recordamos, com imensa saudade, os nossos colegas Eng.º Meneses Torres e Prof. Graveto, no momento da sua partida, numa homenagem simples, mas genuína.
Sempre nos associámos à divulgação e organização da Lição Laginha Serafim, enquanto momento único, e que, desde a sua génese, procurou contribuir para oreencontro entre antigos e atuais docentes e estudantes do DEC.
Por fim e porque muito possivelmente constituiu um dos momentos mais marcantes para o DEC ao longos destes 10 anos, cobrimos a celebração dos 40 anos dos primeiros licenciados em Enge-
nharia Civil, celebrados em dezembro de 2015. Foi com orgulho e emoção que oDEC recebeu alguns dos primeiros licenciados pelo DEC/FCTUC, procurando reproduzir e assim eternizar, muitos dos que foram os discursos, as presenças e o sabor do reencontro.
Quais as principais dificuldades encontradas ao longo deste percurso?
Atravessamos várias dificuldades, mas o DEC Noticias foi sobrevivendo ao tempo e às dificuldades, acima de tudo pela dedicação que sempre lhe impusemos.
Desde o início do projeto, fase em que o DEC Noticias limitava a sua divulgação ao domínio interno, que muitos foram os que manifestavam a sua descrença relativamente à continuidade e sobrevivência do jornal, assente essencialmente na ideia de que rapidamente iriamos esgotar formas e conteúdos. Sempre retorquimos e recusámos ceder a essas tendências pré anunciadas, já que sempre acreditámos no projeto e na capacidade do DEC e de toda a sua comunidade para criarem e alimentarem conteúdos interessentes e dignos de notícia. O tempo acabou por nos dar razão... a vida do DEC revelou se bastante rica, dinâmica e merecedora para desencadear permanentemente um conjunto surpreendente de conteúdos. Ou seja, essa nunca se veio a revelar como uma dificuldade real, pelo que muitas vezes tivemos de selecionar conteúdos para não ultrapassar as cerca de 50 paginas.
A maior dificuldade que sentimos ao longo de todo o tempo, e que não era percetível para a generalidade das pessoas, centrou se no facto de sermos apenas as duas a realizar todo o trabalho: desde a aprendizagem e utilização autónoma do software e plataformas de edição e divulgação, passando pela pro-
cura, contactos e entrevistas aos convidados, compilação, redação e revisão dos textos, até à produção final dos conteúdos, sua publicação e divulgação, tudo foi recaindo de forma sequencial e coordenada sobre as duas editoras. Sempre defendemos que seria relevante e essencial dispor do apoio direto do gabinete de divulgação e imagem do DEC, fosse na angariação da informação, nos contactos, na insistência do envio de lembretes aos convidados, fosse no trabalho final de produção e divulgação. Contudo, a escassez de recursos humanos que há muito se faz sentir no DEC e que agudizou nos últimos anos, sempre impossibilitou esse apoio complementar, mas para nós absolutamente essencial.
Alguns artigos não chegaram a ser publicados porque, apesar de algum esforço despendido, e das nossas inúmeras insistências, não foi possível juntar em tempo útil o material oriundo de diferentes fontes. E esta foi outra das grandes dificuldades enfrentadas. Apesar de reconhecerem a relevância do DEC Notícias e da necessidade do DEC divulgar as atividades desenvolvidas, vários colegas relegavam a sua participação no jornal para um segundo plano, priorizando as tarefas pedagógicas e científicas cotidianas, as quais, e só por si já se revelam extremamente absorventes e exigentes. Afinal, a preparação de um artigo para o DEC Noticias pode dar imenso trabalho e no final, em nada contribui para a avaliações de desempenho docente.
Contudo, as dificuldades, para nós, sempre foram encaradas como desafios a serem vencidos, e um estimulo para continuar, pelo que no final de cada publicação, ficava bem espelhada na cara de ambas: ”mais uma pequena vitória alcançada!” .
DEC Notícias | 1º Semestre 2020 Gala do MIEC, 2017 Gala do MIEA, 2016 136
Dez Anos de DEC Notícias
No final, qual o balanço?
O balanço é, decididamente, 100% positivo. Ao longo destes anos demos sempre o nosso melhor, e, apesar das dificuldades enfrentadas, sempre acreditámos no projeto e nunca nos desviámos dos objetivos basilares previamente traçados. Desde o primeiro número publicado que sentimos o apoio e o reconhecimento, quer da Direção do DEC, quer dos colegas. Esse reconhecimento foi patente nas colaborações assíduas, prontas e voluntárias de todos aqueles que connosco foram colaborando na angariação e redação de noticias, documentários e reflexões. Mas também as mensagens de apreço e congratulações que fomos recebendo dos vários quadrantes internos e externos ao DEC, nos alimentavam o entusiasmo para continuar. Muitos duvidaram que tal tarefa se limitasse ao trabalho de duas pesso-
as, em “modo noite e fim de semana”, mas foi! Por isso, e sem qualquer dúvida, as principais dificuldades se centraram na falta de tempo para dedicar à tarefa, sendo o jornal o produto das muitas pausas que ambas nos obrigávamos a fazer, entre as inúmeras tarefas pedagógicas e cientificas que sobre nós recaíam.
Para terminar, não podemos deixar de aqui recordar que no início deste projeto nós eramos duas meras colegas de trabalho que se cumprimentavam cordialmente nos corredores do DEC. Esta década de dedicação a uma causa comum permitiu nos desenvolver, estreitar e consolidar uma amizade, cumplicidade e respeito pessoal, que extravasa as paredes do DEC e seguramente perdurará no tempo. Agradecemos às sucessivas Direções do DEC nos terem desafiado a criar, encorpar e engrandecer este projeto de comunicação também porque, para além do gozo da descober-
ta e da vontade de fazermos cada vez melhor, nos deu cumulativamente a oportunidade de crescermos juntas quer do ponto de vista profissional, quer e sobretudo na esfera pessoal. Da nossa parte, damos o tempo despendido como muito bem empregue! Resta nos a esperança que todos aqueles que nos deram oprivilégio de ir seguindo os diversos números publicados validem esta nossa presunção…
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Gala do MIEC, 2018
DEC Notícias: O Professor Raimundo é um dos docentes que mais contribui para o bom nome do Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Coimbra. Para além da sua grande dedicação às causas do desenvolvimento da investigação científica (e extensa produção associada) e do desenvolvimento da qualidade científica e pedagógica dos cursos lecionados no DEC, nomeadamente com a criação do Mestrado em Reabilitação de Edifícios, tem desenvolvido importantes e intensas atividades na ligação entre esta Engenharia e a sociedade que está vocacionada para servir: a civil. Destacam se nestas ligações não só o seu papel enquanto curador no processo da candidatura de Coimbra a Património Mundial (Universidade de Coimbra Alta e Sofia), como também a sua recente nomeação enquanto Adjunto do Gabinete da Secretária de Estado da Habitação.
Como perspetiva o papel da especialização de Reabilitação Urbana no contexto dos novos Cursos de Engenharia Civil do DEC?
RMS: Um dos maiores desafios nesta nossa missão de ensino universitário, que se pretende informativo, formativo e potenciador de inovação, é encontrar, em cada momento, o melhor equilíbrio entre a formação de base e as formações especializadas, como é o caso da Reabilitação Urbana. Este equilíbrio é dinâmico e é difícil de antever, porque as nossas decisões de hoje têm repercussão pedagógica daqui a dois ou três anos e repercussão na sociedade daqui a 5 ou a 10.
Não tenho dúvida da importância da formação em Reabilitação Urbana e da sua mais valia, mas não posso deixar de me questionar, nesta e noutras áreas, se aquilo a que chamamos especializações não são sobretudo atos de sensibilização e marketing, quando inseridos no contexto da formação de base, e se, em diversos casos, não poderiam ser substituídos, com igual ou maior eficiência, por seminários temáticos no domínio de competências transversais de engenharia civil, claramente distintas das atuais “competências transversais”, cujo sentido de cultura alargada tem sido relativamente desvirtuado.
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RMS: O Mestrado de Reabilitação de Edifícios está a terminar a sua 5ª edição e vai entrar no último ano da acreditação vigente. Ao longo destes anos, cumpriu, assim acreditamos, um papel importante, quer na formação de engenheiros e arquitetos, quer na promoção da imagem da UC e, em particular, do DEC, pelos trabalhos, projetos e dissertações que se aproximaram de diversas entidades, nomeadamente câmaras municipais, e ainda pelas aulas abertas, fortemente participadas. Durante este período, tivemos sucessos e insucessos, ideias mais inovadoras e outras menos, mas, sobretudo, construímos uma comunidade de docentes, estudantes e antigos estudantes que constituem uma clara rede de conhecimento, profundamente interdisciplinar, com grande massa crítica. A consolidação da relação com outros departamentos da FCTUC e com outras faculdades (Direito, Economia e Letras) corroboram esta convicção. Face à evolução dos
desafios nacionais e internacionais neste domínio, julgamos que continua a haver lugar para esta formação, e importa repensá la para uma melhor adequação à evolução da realidade e do público alvo. Não se preveem alterações estruturais significativas, ainda que estejamos sempre a tentar inovar, por exemplo com a recente disponibilização de conteúdos no Youtube No próximo ano letivo, a coordenação do curso e os seus docentes já se disponibilizaram para pôr em prática uma resposta às incertezas provocadas pela pandemia, e vão assumir que as aulas presenciais (que todos desejamos que possam voltar a ser lecionadas) sejam transmitidas “online”, de forma síncrona, para todos os que encontrem dificuldades na deslocação e estada em Coimbra. O modelo está estudado com detalhe e implica um ou dois pequenos períodos obrigatoriamente presenciais, para trabalhos laboratoriais, trabalhos de campo e uma maior ligação académica.
DEC Notícias: O Mestrado em Reabilitação de Edifícios vai manter se? O que vai mudar?
Vitória
Reabilitação
Edifícios 2017 Viseu Inspecção de Edificios durante o projeto Viseu Património DEC Notícias | 1º Semestre 2020 139
2019 Praia da
Aula de Campo do Mestrado de
de
DEC Notícias: Como avalia os resultados da classificação enquanto Património Mundial da Universidade de Coimbra Alta e Sofia, agora que já passou quase uma década?
RMS: É preciso recuar vinte anos, em Coimbra e na Universidade de Coimbra, para ganharmos perspetiva e analisarmos o efeito de todo o processo de candidatura e, posteriormente, de inscrição na Lista do Património Mundial da UNESCO. Falo em vinte anos, porque, apesar da candidatura ter começado a ganhar expressão em 2003 e, logo a seguir, em 2004, ter sido concretizada a inscrição na Lista Indicativa de Portugal para Património Mundial, a mudança de sensibilidade e atitude começa antes, com o início de funções, co-
mo Vice Reitor, do nosso colega Professor Seabra Santos. O efeito deste processo é inequivocamente positivo.
O período pós inscrição na lista do Património Mundial é, naturalmente, o que agora nos move, e muito se fez e muito há a fazer, não só para aproveitar todo o potencial desta nova condição, como para cumprir em pleno uma responsabilidade cultural acrescida, agora com o mundo como testemunha. São inquestionáveis os números que refletem o aumento do turismo e as ofertas formativas, de 2º e 3º ciclos, ligadas ao património, mas não é possível saber qual a parcela de responsabilidade da inscrição na UNESCO. Acreditamos que seja significativa.
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Universidade de Coimbra Alta e Sofia Património da Humanidade desde 2013
DEC Notícias: Agora que os alunos estão a terminar otrabalho da disciplina de Projeto Urbano 2019/2020, que incide na reabilitação urbana da zona ribeirinha, entre a Portagem e Coimbra B, o que mudaria na zona se fosse responsável pelo respetivo plano de Reabilitação Urbana e Social?
RMS: Coimbra tem trunfos extraordinários e nem todos estão suficientemente explorados. A zona ribeirinha foi muito modificada, para bem de todos, a montante da Ponte de Santa Clara, mas ainda precisa de grande atenção a jusante, pelo menos até à Ponte Açude. As ideias vão certamente surgir do trabalho dos estudantes, devidamente orientados, e acredito que elas irão ultrapassar, em imaginação e inovação, todas as que eu poderia sugerir em breves palavras. Fico muito curioso em relação às propostas que possam vir a apresentar
DEC Notícias: Se tivesse de escolher um projeto emblemático de entre os muitos em que já esteve envolvido desta área de especialização, enquanto exemplo a apresentar não só a alunos, mas também para plateias não especializadas, qual escolheria?
RMS: Quando terminei as minhas funções de Pró Reitor, em 2011, fiz uma pequena memória, onde escolhi 20 projetos em que tive oportunidade de participar na perspetiva política, estratégica, técnica, científica ou pedagógica. Foi um exercício aliciante, mas muito difícil, porque quis usá lo para uma autoavaliação séria da minha atividade, naquele período. Quase dez anos depois, tudo se torna ainda mais difícil. Arrisco escolher quatro: o estaleiro pedagógico da obra de restauro da Torre da Universidade, a candidatura a Património Mundial da “Universidade de Coimbra, Alta e Sofia”, o projeto “Viseu Património” e o projeto “Reabilitar como Regra”.
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2013 CAMBOJA Plenário da Assembleia Mundial da Unesco para o património mundial
DEC Notícias: O que representa para si esta nomeação enquanto Adjunto do Gabinete da Secretária de Estado da Habitação, que será certamente um ponto alto da sua carreira?
RMS: Aceitei desempenhar funções de adjunto no Gabinete da Secretária de Estado da Habitação com ocoração muito dividido. Se, por um lado, tinha a consciência de que era muito importante dar o meu contributo para a publicação do novo “Regime aplicável à reabilitação de edifícios e frações autónomas” (Decreto lei n.º 95/2019) e das Portarias conexas, uma vez que tinha coordenado, durante
ano e meio, o projeto “Reabilitar como Regra” que lhe deu suporte técnico e científico, por outro, tinha receio de não ter o conhecimento suficiente, em todas as áreas envolvidas, para todo o processo de discussão institucional de uma nova lei. Mas a maior angústia inicial resultava de ter de abandonar, formalmente, a Universidade, durante cinco meses. Rapidamente se dissipou, porque fui autorizado pela Secretária de Estado a deslocar me, alguns dias por semana, a Coimbra, para acompanhar de perto, voluntariamente, o Mestrado em Reabilitação de Edifícios.
1 - O estaleiro pedagógico da
2 A candidatura a Património Mundial da “
” 3 - O projeto “Viseu Património” 4 O projeto “Reabilitar como Regra”. “ProjetosFavoritos,arriscariaescolher”: DEC Notícias | 1º Semestre 2020 1 1 2 3 4 142
obra de restauro da Torre da Universidade
Universidade de Coimbra, Alta e Sofia
O importante deste processo não foi a eventual notoriedade do cargo, mas a importância do objetivo definido e o facto de termos conseguido uma mudança estrutural tão importante na regulamentação da construção, consagrando os princípios da proteção e valorização do existente, da sustentabilidade ambiental e da melhoria proporcional e progressiva, em todas as obras de reabilitação de edifícios.
DEC Notícias: A atual situação, traz um futuro incerto quanto à partilha dos espaços interiores dos edifícios. De que forma a Engenharia Civil e/ou a Reabilitação Urbana podem ajudar?
RMS: O futuro sempre foi o grande desafio da Engenharia Civil, e continuará a ser. É isso que nos move. Como a Engenharia não se alheia da sociedade e das outras áreas de saber, saberá estar certamente ao serviço das complexas transformações que se vierem a produzir. Abertura de espírito, disponibilidade, inovação e capacidade de concretização serão certamente palavras chave deste contributo.
DEC Notícias: Se fosse convidado para elaborar uma ‘TED Talk’, qual seria o título?
“
O futuro não é uma folha em branco. Há muito que estamos a escrevê lo!”
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Entrevista ao Professor Jorge Nuno V. Almeida e Sousa
Caro Professor, acabou de adquirir o estatuto de Professor Jubilado do Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Coimbra. Porque uma carreira nunca acaba, começamos pelo final: o que pretende fazer no futuro na área da Geotecnia?
Em primeiro lugar gostaria de deixar um testemunho de como encarei o facto de, por limite legal de idade, ter tido que jubilar no passado dia 3 de novembro. Encarei o como um acontecimento natural para alguém que, como eu, escolheu o serviço público para a sua realização profissional, mas não tendo vontade de o comemorar, antes sentindo uma certa nostalgia por considerar, provavelmente sem muita razão, que a velhice, enquanto perdas de capacidades físicas e psíquicas, não estaria assim tão perto e, também, um certo receio pelas possíveis dificuldades de adaptação às mudanças inerentes a esta nova etapa da vida com tempo livre de constrangimentos impostos pelas normas e regras do trabalho.
Naturalmente que no meu projeto de vida reorganizado a Geotecnia continuará a ter um papel preponderante Em primeiro lugar, colaborando no nosso departamento, sempre que a área para isso me solicite, nas funções legalmente definidas que os professores jubilados podem exercer, como sejam a orienta-
ção ou coorientação de dissertações de mestrado e de teses de doutoramento, a participação em júris para atribuição de grau de mestre ou de doutor e a lecionação de algumas temáticas em unidades curriculares cujos respetivos responsáveis julguem importante aproveitar a minha experiência no domínio.
Ainda no âmbito do ensino da Geotecnia, um projeto que gostaria muito de concretizar, se e quando isso for possível, seria o de colaborar com a Universidade de Lúrio em Pemba, Moçambique, instituição onde estive por duas ocasiões lecionando unidades curriculares para as quais não havia disponibilidade de docentes. Essa experiência foi para mim extraordinariamente enriquecedora, ao constatar, apesar de todas as limitações e dificuldades existentes, a enorme vontade de aprender da generalidade dos estudantes e a superior capacidade de alguns deles. Nessa futura colaboração, o que me propunha a fazer tem a ver com a ajuda na montagem do Laboratório de Mecânica dos Solos e a formação dos docentes na área da Geotecnia.
Também na área da Geotecnia, pretendo continuar a realizar trabalho de consultoria, agora que parece que vai existir um maior investimento do estado na construção de infraestruturas, nomeadamente no domínio dos transportes,
como é o caso da construção de novas linhas do Metropolitano de Lisboa e do Metro do Porto.
Finalmente, um projeto que muito gostaria de concretizar tem a ver com a escrita de um livro que trate da conceção, do projeto, da construção e da reabilitação de obras subterrâneas, particularmente de túneis, e que, simultaneamente, consiga ajudar os estudantes que se iniciam nesta temática e servir de manual de apoio à prática profissional de um engenheiro geotécnico.
O que representa esta área no contexto da Engenharia Civil?
Tendo em atenção que na grande maioria da Estruturas de Engenharia Civil a sua conceção e o seu dimensionamento são em parte, ou, mesmo em muitos casos, no essencial, controlados pelo comportamento hidráulico e mecânico dos maciços terrosos ou rochosos onde estão implantadas, facilmente se percebe o quão importante é a área da Geotecnia no contexto da Engenharia Civil. E esta importância deverá aumentar com a utilização cada vez mais intensiva do espaço subterrâneo, como consequência da tendência a priorizar a melhoria da qualidade de vida com o menor impacto ambiental possível, que faz com que se torne inaceitável para a sociedade a ocupação desenfreada da superfície.
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Jorge Nuno V. Almeida e Sousa
Esta deve ser preservada para atividades nobres como moradia, trabalho e lazer, enquanto as atividades de infraestrutura, como transporte e armazenamento, devem ser transferidas para o subterrâneo.
Mas não apenas na Engenharia Civil a Geotecnia é importante, já que ela tem ganho nos últimos anos cada vez mais destaque em problemas associados ao Ambiente e à Sustentabilidade, como sejam, entre muitos outros, a prevenção de desmoronamentos e de deslizamentos, o tratamento e o armazenamento de resíduos, a migração e a dispersão de poluentes nos maciços e nos respetivos aquíferos.
Em relação a outras áreas de especialização, todas elas, naturalmente, também importantes no contexto da Engenharia Civil e responsáveis pelo mercado de trabalho de um engenheiro civil ser amplo, já que ele é capaz de atuar nos mais diversos setores, gostaria de salientar um aspeto que torna o trabalho em Geotecnia, nomeadamente no domínio do projeto, diferenciado e, do meu ponto de vista, mais aliciante. Ele tem a ver com o facto de um geotécnico trabalhar com materiais naturais, cujas características mecânicas têm uma variabilidade muito maior que a de materiais fabricados, muitas vezes até com controlo de
qualidade, como é o caso do betão ou do aço. Assim sendo, as obras geotécnicas, sobretudo aquelas que têm um grande desenvolvimento longitudinal, o que dificulta a definição de um modelo geológico realmente representativo das condições reais, são realizadas em circunstâncias previsivelmente incertas.
dos fornecidos pela instrumentação da obra que será confirmado o projeto efetuado ou introduzidas eventuais alterações. É por isto que poderemos dizer que o projeto de muitas obras geotécnicas só estará verdadeiramente concluído quando a obra estiver terminada.
Isto faz com que, como um famoso geotécnico (Peck) já falava em 1969, os resultados dos cálculos devam ser encarados como meras hipóteses de trabalho, a serem alteradas ou confirmadas durante a construção. Deverá ser com base na análise e interpretação dos resulta-
É sem dúvida um dos Professores que deixa uma marca mais profunda nos alunos que frequentaram e frequentam este Departamento, pelas suas notórias capacidades pedagógicas. Que mensagem deixaria aos novos alunos? Alguma frase que gostaria de deixar e que tivesse a oportunidade de se tornar ‘famosa’?
Das várias mensagens que tenho pretendido, nos últimos anos, transmitir aos novos alunos na unidade curricular de Introdução à Engenharia Civil, gostaria de salientar duas. A primeira é, fundamentalmente, destinada àqueles alunos que ao longo do curso irão confirmar o acerto da sua escolha inicial, enquanto a segunda se destina àqueles outros que, pelo contrário, vão verificar que o curso os não satisfaz, os está a preparar para algo de que não gostam ou para o qual sentem que não têm as competências que julgam necessárias.
Aos primeiros, gosto de os alertar para aquela sensação de insegurança que no início da sua atividade profissional muitos engenheiros civis sentem, ao constatarem o facto do conhecimento que foram adquirindo ao longo dos anos que passaram pelos bancos da Escola não ser osuficiente para uma atuação plena no mercado de trabalho
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Chiado
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Terreiro do Paço
Jorge Nuno V. Almeida e Sousa
Esta situação justifica se, em grande parte, pela grande abrangência que um curso de Engenharia Civil tem, o que torna razoável admitir que os recém diplomados não possam ser uns profundos conhecedores de todas as suas possíveis áreas de intervenção.
E que medidas eles devem tomar para minimizar esse risco? Sem dúvida que valorizar o conhecimento das ciências básicas que lhes é transmitido nos primeiros anos do curso, habituarem se a estudar por livros e de forma autónoma, procurarem envolver se em atividades de investigação ou de prestação de serviços à comunidade a decorrerem no departamento e a frequência de estágios em empresas, lhes irá permitir durante o curso unir a teoria à prática, melhor os preparando para os desafios profissionais que encontrarão no futuro.
Já aos segundos, lhes lembro que tudo devem fazer para ser felizes. E ser FELIZ é muito mais fácil se trabalharmos naquilo que gostamos, naquilo que sentimos que somos capazes de fazer bem. Assim sendo, os alerto para que o mais cedo possível façam a sua escolha e tomem a decisão sobre desistirem do curso e procurarem outros caminhos para os quais se sintam mais vocacionados. Mas também lhes chamo a atenção
para que se a mudança não for feita durante o curso, nunca será tarde para a fazerem. E dou lhes o meu exemplo pessoal. Licenciei me em Engenharia Civil dez anos depois de ter concluído o curso de Engenharia Eletrotécnica. E fui muito feliz enquanto docente de Engenharia Civil.
Como vê o passado/presente/futuro do Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Coimbra? O que mudaria?
Quando em 1983 entrei para assistente do DEC, estava ele albergado no edifício da Física no hoje chamado Polo I da Universidade, a atividade existente se reduzia quase exclusivamente ao ensino, sendo praticamente inexistentes a atividade científica desenvolvida e a prestação de serviços à comunidade. A situação começou a alterar se nos anos seguintes com o regresso dos primeiros colegas que haviam feito o seu doutoramento em universidades estrangeiras. Para além da atividade pedagógica, os docentes do departamento começaram a fazer investigação e a realizarem trabalhos para o exterior.
O crescimento da atividade científica e tecnológica, nas diferentes áreas temáticas da Engenharia Civil, e mais tarde
nas de Engenharia do Ambiente, ao longo dos anos foi tão significativa, que hoje todos os docentes do DEC são doutorados, muitos na Universidade de Coimbra e alguns em instituições de referência a nível mundial, e o seu trabalho é reconhecido nacional e internacionalmente, como é bem traduzido por variados indicadores, como sejam projetos de investigação, publicações, “rankings” internacionais, etc.
Também na transferência de saberes e na prestação de serviços à comunidade a atividade desenvolvida no DEC tem, em muitas das áreas temáticas, sido reconhecida, verificando se, mesmo, que alguns dos docentes têm estados envolvidos em projetos de algumas das obras mais importantes e emblemáticas executadas no país.
Se nestas duas atividades, investigação e prestação de serviços ao exterior, a situação atual do departamento me parece suficientemente consolidada para que o futuro seja perspetivado de forma otimista, o mesmo não posso dizer no que respeita ao ensino. Em primeiro lugar porque julgo que o “sistema” não lhe atribui a importância que lhe é devida, desvalorizando o demais em relação às outras atividades, nomeadamente à de investigação, a que um docente está obrigado. Exemplo disso é a importância dada na avaliação do desempenho do docente à componente da investigação, em detrimento da dada à docência, o que pode levar, e tem levado, a que alguns elementos do corpo docente não se sintam realmente motivados à elevação das práticas pedagógicas e ao empenhamento efetivo nas atividades letivas de acompanhamento e de avaliação dos estudantes.
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Depois por causa da pouca procura que os mestrados integrados da responsabilidade do departamento têm tido nos últimos anos, com particular relevância no de Engenharia Civil, como consequência da sua menor atratividade devido à forte contração do setor do estado da construção civil e, ainda, do facto de o recrutamento de estudantes nacionais para todos os cursos da Universidade de Coimbra estar demasiado concentrado na região Centro, zona de baixa densidade populacional e com o tecido empresarial demasiado enfraquecido.
Em relação a este último aspeto abordado, gostaria de salientar o grande esforço que tem sido feito pelo departamento na promoção e divulgação dos seus mestrados integrados com o objetivo de aumentar a sua atratividade, logo o número de estudantes que os procurem para um nível mais de acordo com as necessidades do país. Também me parecer ser de extrema justiça referir o esforço feito nos últimos 5/6 anos no aumento da oferta formativa a nível de Mestrados de Especialização Avançada e (ou) de Formação ao Longo da Vida, oferta esta que, complementada com aquela que existe, já há mais anos, a nível de programas doutorais, deve fazer do nosso departamento aquele que no país maior número de ciclos de estudo disponibiliza à comunidade.
Queria também referir que, do meu ponto de vista, esta última alteração legislativa que acabou com os mestrados integrados e implementou o sistema de licenciaturas e de mestrados de continuidade não é favorável ao DEC nesta luta para aumentar o número de alunos inscritos nos seus cursos, já que me parece poder vir a facilitar futuras transferências para a frequência do mestrado naquelas duas instituições, IST e FEUP, localizadas em regiões do país onde o tecido empresarial é mais
possante e a oferta de emprego é bem maior.
Ainda uma breve referência à reformulação dos planos dos cursos que o departamento foi obrigado a fazer como consequência da alteração legislativa
atividade, o seu espírito de cooperação deve ser salientado. Em todos os anos em que estive no departamento, nunca encontrei resistência a nada do que solicitei que fosse feito.
de que falei acima. Em relação aos cursos de Engenharia Civil não posso deixar de dizer que não consigo concordar com algumas das alterações feitas ao nível das unidades curriculares da licenciatura, nem com o número exagerado de mestrados criados. Julgo que estas alterações, já aprovadas pela A3ES, não vão ajudar a atrair mais estudantes. Deus queira que eu esteja enganado, porque o DEC merece continuar a ser uma escola de referência a nível nacional e para que tal aconteça necessita de ter estudantes nos seus cursos.
Por fim, nesta questão sobre como vejo o departamento, não posso deixar de agradecer ao pessoal não docente, cada vez em menor número, pelo papel extremamente importante que tiveram, e continuarão a ter, na história do DEC. Para além da competência e rigor sempre manifestados, pela enorme maioria, no exercício da sua
Sobre a questão do que mudaria, responderei falando num assunto que não tem a ver apenas com o DEC, mas antes com toda a Universidade de Coimbra e, provavelmente, com todas as universidades portuguesas. Esse assunto refere se à Avaliação do Desempenho da Atividade Docente. Não discuto a necessidade dessa avaliação, apenas a forma como ela é feita e aos resultados a que conduz.
Uma avaliação justa deveria ser capaz de distinguir as pessoas. Todos nós conhecemos docentes que têm em todas as áreas de intervenção um desempenho excelente e outros que, pelo contrário, têm na maioria dessas áreas um desempenho não relevante. Estes casos são, no entanto, exceções e isso deveria ser traduzido nos resultados da avaliação. Deveriam ser baixas as percentagens de docentes classificados como excelentes ou dos classificados como não relevantes. Não é isso que acontece.
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Jorge Nuno V. Almeida e Sousa
Jorge Nuno V. Almeida e Sousa
Uma percentagem muito significativa é classificada como excelente, existindo mesmo departamentos da FCTUC que já tiveram 100% de excelentes. Isto não é justo, sobretudo quando comparamos com o que acontece com a avaliação do pessoal não docente. Aqui, só uma muito pequena percentagem pode ser classificada com a nota mais elevada.
Quais os momentos mais marcantes da sua vida enquanto a) aluno; b) docente da Universidade de Coimbra?
Como aluno, posso referir dois momentos marcantes.
O primeiro tem a ver com a entrada na Universidade de Coimbra em outubro de 1968 para os preparatórios de Engenharia Eletrotécnica. Vivi em Lisboa na infância e na adolescência, vindo apenas a Coimbra passar as férias nas casas das minhas duas avós. Na da avó paterna, aos Arcos do Jardim, falava se muito da Universidade de Coimbra, dos seus Mestres e dos seus Doutores, e daí surgiu o meu desejo de para aqui vir estudar. Sempre considerei esse desejo como um sonho não realizável, já que vivíamos a pouca distância do IST e não acreditava que os meus pais isso permitissem. Foi então para mim uma surpresa bem agradável quando, uns dias antes de se iniciarem os exames do antigo 7º ano, levantei a questão e eles com ela concordaram. Foi essa a primeira vez que escolhi Coimbra para viver. O outro momento marcante enquanto aluno que gostaria de referir tem a ver com o facto de ter tido como docente o Engenheiro Rui Furtado, já que foi ele que me despertou o interesse pela Geotecnia mas, mais do que por isso, pelo que aprendi com a sua maneira de estar na vida, caracterizada por uma permanente vontade de tudo aprender e tudo compreender.
Enquanto docente, o primeiro momento marcante relaciona se com a minha
contratação em 1973 para assistente no Departamento de Engenharia Eletrotécnica da FCTUC a convite do Professor Carlos Sá Furtado, que pelo modo entusiasta com que vivia a Escola me despertou um imenso gosto pelo ensino. Na altura, escolhia entre duas opções de trabalho disponíveis (bons tempos): LNEC ou Hidroelétrica do Cávado. Mas surgido o convite, não hesitei. Segunda vez que escolhi Coimbra para viver. Uma dúvida me assalta: a minha opção teria sido a mesma hoje?
Outro momento marcante como docente relaciona se com a escolha feita pela Geotecnia. Não só pelo muito gozo que me dá trabalhar na área, mas também pelo grupo fantástico que, desde sempre, conseguimos formar. Mais que boas relações de trabalho entre todos nós, existe uma profunda amizade que nos faz vibrar com os sucessos de cada um e nos faz sentir como nossos os problemas e as dificuldades dos outros. Espero que este bom ambiente perdure por muitos e bons anos na área, primeiro passo para que o grupo de Geotecnia da Universidade de Coimbra se torne a principal referência nacional no domínio. Não posso também de deixar de referir aqui como momento marcante a conclusão do meu doutoramento. Demorou, mas deu me muito prazer fazê lo e fazê lo nas condições em que, por opção própria, o fiz. Enquanto o preparava, nunca deixei de exercer a minha atividade docente normal, lecionação de unidades curriculares e orientações de teses de mestrado, e prestei serviços à comunidade de significativa relevância, podendo salientar a consultoria prestada em várias obras, nomeadamente no projeto e construção de alguns dos maiores túneis rodoviários no Continente e na ilha da Madeira e de diversos túneis e de duas estações Baixa Chiado e Telheiras, do Metropolitano de Lisboa.
Mas naturalmente que numa carreira de tantos anos não há só momentos bons a relembrar. Há outros, não muitos francamente, que me entristeceram. Particularmente marcantes para mim foram as decisões do Conselho Científico da FCTUC que, em claro desrespeito pela dignidade da pessoa humana, valor que considero fundamental do constitucionalismo contemporâneo, não deu a nomeação definitiva a três colegas nossos. Colegas que exerceram a sua atividade no nosso departamento durante muitos anos de forma exemplar em muitos dos domínios da sua atuação, particularmente na docência, como são bem elucidativos os resultados dos inquéritos pedagógicos todos os anos realizados junto aos estudantes, nunca se negando em colaborar naquilo que fosse necessário em prole do departamento, sem alguma vez questionar o que daí poderiam vir a obter para proveito próprio. Anseio para que justiça ainda um dia lhes possa ser feita.
De entre as muitas histórias que tem para contar escolha uma que ache que ocaracteriza.
Para além do ensino, duas das coisas que mais prazer me propiciaram na vida foram o convívio com os amigos e jogar futebol.
Durante mais de 25 anos conseguiconciliar no DEC estes dois prazeres. Todas as semanas eram organizados jogos de futsal entre a equipa dos professores e diferentes equipas de alunos, que acabavam quase que invariavelmente com um convívio e umas boas cervejas no Bar do Pavilhão Jorge Anjinho. Em mais de 90% das ocasiões, a vitória, por vezes folgada, foi da equipa dos professores, já que ela tinha um guarda redes praticamente intransponível e que até às vezes fazia uma “perninha” à frente.
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Jorge Nuno V. Almeida e Sousa
O tal guarda redes era tão bom que até fazia parecer que tipos como o Luís Picado, o Luís Simões da Silva, o Tó Zé Antunes, o Paulo Coelho, o António Pedro, entre outros, parecessem que jogavam alguma coisa. Bons tempos esses
O que é um aluno de Engenharia Civil?
Um aluno de Engenharia Civil é, em primeiro lugar, alguém que soube fazer a escolha certa, alguém que escolheu preparar se para uma profissão com grande impacto social, uma profissão que procura soluções criativas que façam a diferença na vida das pessoas nos mais variados domínios da atividade humana. Mas para bem se preparar para ela e para todas as suas exigências, o aluno deve já ter determinadas aptidões.
Em primeiro lugar, gostar das ciências exatas, fundamentalmente de Matemática e Física, já que as soluções de
muitos dos problemas que a um engenheiro civil se colocam passam pela interpretação do fenómeno físico e pelo estabelecimento e resolução de um modelo matemático que o consiga traduzir.
Mas um engenheiro civil não se limita a fazer alguns cálculos. Em qualquer projeto de Engenharia Civil, a primeira fase consiste na conceção da obra, e para isso aos conhecimentos das ciências físicas e matemáticas, adquiridos por via de estudo, experimentação e prática, há que juntar o engenho. Assim, um aluno de Engenharia Civil deve aliar a lógica à criatividade e, ao mesmo tempo, não ter medo de inovar.
Uma outra característica da profissão é a necessidade de trabalhar com equipas multidisciplinares e com profissionais de outras áreas. Isto exige facilidade de comunicação e espírito de liderança, com sensibilidade para identificar as habilidades e limitações de cada
um dos membros da equipa.
Ainda uma outra aptidão que julgo, que hoje em dia, um aluno de Engenharia Civil deve possuir é a sensibilidade para as questões ambientais e a compreensão da importância da questão da sustentabilidade, uma vez que a Engenharia Civil é uma das profissões mais importantes quando se pretende aliar o progresso à manutenção da qualidade de vida das gerações futuras. Por fim, uma aptidão importante que, julgo, um aluno de Engenharia Civil, ou de qualquer outro curso, deve ter é a de reconhecer os seus limites, o saber até onde pode chegar. É esta aptidão que eu valorizo muito nas unidades curriculares do último ano do curso. Digo muitas vezes que mais facilmente passo um estudante que sabe pouco mas que sabe que sabe pouco, do que um outro que pode saber um pouco mais mas que julga que sabe muito.
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Número 8 | 4º Trimestre 2011
Almoço de Natal
Realizou se, no passado dia 20 de Dezembro, o tradicional almoço de Natal que reuniu actuais e antigos docentes, funcionários e demais colaboradores do DEC. À semelhança do ano anterior, o almoço teve lugar no restaurante das Piscinas do Mondego e juntou quase 70 participantes
Num momento de descontracção, de confraternização e de alegria, a sala reservada para o efeito, proporcionou o convívio entre todos O Prof João Pedroso de Lima aproveitou a oportunidade para fechar o ciclo da anterior direcção, fazendo um balanço positivo sobre a actividade desenvolvida, agradecendo e enaltecendo a colaboração da equipa de trabalho que com ele colaborou. Posteriormente, e envolto em boa disposição, procedeu à entrega simbólica da chave do Departamento ao novo responsável pelo DEC, o Prof Raimundo Mendes da Silva
O novo Director recebeu este símbolo emblemático com sentido de responsabilidade e dirigiu se aos presentes num discurso marcado pela conjuntura actual, referindo estar consciente dos desafios que terá de enfrentar, mas convicto que, com a colaboração de todos, teremos o DEC numa posição de cada vez maior destaque como instituição de ensino de referência nacional e internacional.
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A Queima das Fitas
A Academia e a cidade de Coimbra estiveram em festa de 5 a 12 de maio. O início foi marcado, como habitualmente, pela tradicional serenata, e ao longo da semana não faltaram diversas atividades, que incluíram concertos musicais diários no Parque da Canção. Um dos pontos mais altos da semana foi o cortejo de carros alegóricos decorados pelos estudantes finalistas, realizado no domingo, que como habitualmente atraiu milhares de pessoas entre familiares, amigos, atuais e ex démicas. Contou se com boas condições climatéricas, extremamente favoráveis ao
to devidamente aproveitados por toda a comunidade estudantil, familiares
convívio académico, e portan-
e demais participantes.
Carro da Engenharia Civil Carro da Engenharia Ambiente
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No dia 6 de abril manteve se mais uma vez a tradição com a realização da Gala Pilar D’ouro, atividade organizada pelo Núcleo de Estudantes de Engenharia Civil (NEEC). À semelhança dos dois últimos anos, o jantar decorreu na Quinta de São Pedro da Pousada, em Cernache.
Com a sua habitual elegância e envolvida num ambiente de requinte e classe, a gala contou com a presença de alunos dos vários anos, professores e acompanhantes, envoltos em momentos de convívio e confraternização, numa noite que foi longa.
O evento contou com a atuação musical da dupla Caio Battaglia (estudante de engenharia civil) e Maria Castro, que atuaram ao vivo ao longo de toda a noite assegurando uma música de fundo durante o jantar e a animação dos períodos intermédios à entrega dos prémios Pilar D’Ouro. A noite contou ainda com o DJ HoneyWalk, que animou a festa pela noite dentro, envolta num clima de boa disposição e convívio.
A entrega dos prémios constituiu o ponto marcante da noite, onde todos os presentes vibraram com os
galardoados nas várias categorias. Houve ainda tempo para pequenos discursos efusivos e animados, reavivando o espirito académico.
Envolvidos por um espírito de convívio e união, característica habitual no seio da comunidade do DEC, o ambiente foi festivo e animado, onde os alunos puderam conviver entre si e com os professores presentes de uma maneira extremamente cúmplice e descontraída.
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Almoço de Natal do DEC—2018
Realizou se, no passado dia 5 de dezembro, o tradicional almoço de Natal, que reuniu atuais e an gos docentes, funcionários e demais colaboradores do DEC. O almoço teve lugar no Restaurante Tertúlia dos Eventos, juntou cerca de 60 par cipantes, num ambiente aco lhedor e de confraternização.
Foi um período de descontração, e de grande alegria, que proporcio
nou um salutar convívio entre to dos os presentes e o reencontro com todos aqueles que, ao longo do tempo, colaboraram com o DEC.
O Diretor do DEC, num breve dis curso, agradeceu a presença de todos e desejou Boas Festas e um ano de 2019 cheio de realizações pessoais e profissionais. A Direção do DEC, aproveitou ainda a opor
tunidade para presentear todos os par cipantes com um bloco de notas que incorpora a nova ima gem e grafismo do DEC.
Na sequência do almoço e como já vem a ser igualmente hábito ao longo dos úl mos anos, decorreu a ul ma reunião da comissão cien ‐fica do DEC de 2018.
PARA ALÉM DO TRABALHO
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Almoço de Natal do DEC—2018
Aniversário do Engenheiro Rui Furtado: 90 anos
No dia 12 de fevereiro o Engenheiro Rui Furtado, ex docente do DEC, completou a magnífica idade de 90 anos. Em sua homenagem, um gru po de amigos organizou um jantar de comemoração desta data, à qual se juntou a Direção do DEC. O jantar que decorreu no restaurante das Piscinas, juntou mais de 40 amigos e colegas maioritariamente do Depar tamento de Engenharia Civil da UC e da Ordem dos Engenheiros – Região Centro.
O Jantar foi uma completa surpresa para o aniversariante, que demons trou por várias vezes ao longo da noi te, a emoção e alegria causada pela presença de tantos e importantes ami gos que o acompanharam ao longo de vários anos da sua vida profissional. O jantar coberto de grande animação, emoção e jovialidade, contou ainda com alguns discursos de felicitações, e com a entrega de pequenas lembran ças. O Diretor do DEC, Prof. Luís Godi nho, em nome do DEC ofereceu lhe o livro “Biblioteca Joanina”, Edição UC. De forma extremamente emocionada, o Eng. Rui Furtado agradeceu a pre sença de todos ao mesmo tempo que foi recordando alguns dos episódios que mais marcaram a sua longa vida, muitas vezes vivenciados por alguns dos presentes. O desejo mais repe da
mente evocado, é que “venham mais 10” para que, novamente e em con junto possamos festejar o centenário! Felicidades Engº Furtado...
PARA ALÉM DO TRABALHO
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Com o intuito de promover mais um momento de convívio e de lazer, o NEEC/AAC organizou mais uma edição da Gala Pilar d’Ouro. Esta Gala decorreu no dia 29 de março nas Caves de Coimbra, um espaço muito dinâmico e versátil. Neste ambiente mais formal podemos contar com muitos participantes, entre os quais Professores de todos os perfis do Mestrado Integrado em Engenharia Civil. Durante o jantar de Gala ocorreu a tradicional entrega dos vários prémios para os quais várias pessoas estavam eleitas, sendo que estes foram os vencedores das seguintes categorias:
Débora Amorim ObradeArteFeminina
Caio Sales ObradearteMasculina
Gonçalo Fernandes Caloirod’Ouro Mariana Fernandes Caloirad’Ouro
Francisco Rodrigues Prodígio d’Ouro
Ivan Pinto Barrild’Ouro
João Zeferino Docented’Ouro
José Miguel Martins Tachod’Ouro
André Correia Talentod’Ouro Ricardo Ferraz Personagemd’Ouro
Após o jantar houve tempo para um momento de convívio que se seguiu da ia para a discoteca NB Coimbra. Como habitualmente, foram disponibilizamos autocarros de ida e volta para todos os participantes! O NEEC/AAC gostaria de agradecer a todos aqueles que participaram e ajudaram à realização de mais uma edição da Gala Pilar d’Ouro.
LuísC.Abreu
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Atividades dos nossos alunos
Queima das fitas
A semana da Queima das Fitas decorreu de 3 a 10 de maio, tendo tido início com a Serenata no largo da Sé Velha. Uma vez mais, para a conquista do lugar de maior destaque, o mais ambicionado de todos, foram muitos os alu-
crítica à mistura. Entre carros da Universidade de Coimbra e carros do Politécnico de Coimbra foram 100 os carros que desfilaram este ano. Quer o MIEA quer o MIEC participaram, cada curso com o seu carro.
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