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Loucuras de amor de Pe. Luiz
Ao Pe. Luiz,
Pe. Luiz, vou falar como se o senhor estivesse ali na última fila de cadeiras desse cineteatro. Porque o último lugar era sempre o seu. Primeiro, os meninos. Primeiro as meninas. E se está escrito que os últimos serão os primeiros no reino do céu, é lá que o senhor está.
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Mas, nessa noite, aqui nesse teatro, você ouvirá cada acorde e todas as notas musicais serão tuas.
E aí de você, menino e menina, ai daquele que desafina.
Teu ouvido era sensível demais e qualquer nota fora do tom o senhor percebia. A arte pede rigor.
Fim de tarde, o senhor largava tudo pontualmente às 17 horas, atravessava o pátio da escola e ia ver os ensaios da banda. Se o maestro Costa Holanda se esmerava para apresentar tudo em harmonia, os meninos mais ainda. Pe. Luiz era o educador do rigor e da ternura.
Loucuras de amor era mandar para a Europa 60 adolescentes para espalhar a música mundo afora. “Porque a música afasta o mal do mundo”.
Lembro muito bem quando a situação financeira pesou e uma ‘bacana’ te disse: “Pe. Luiz, para quê esses meninos vendo o Louvre (museu) se eles nunca saíram de Caucaia?”
. Vejo tua cara de ira e, polidamente, dar as costas para a tal ‘bacana’. E, de novo, a Banda Juvenil Dona Luiza Távora voltou ao Primeiro Mundo. E o fez muitas vezes.
Loucura de amor foi quando entregava diariamente cinco mil refeições, enquanto segurava sozinho uma escola profissionalizante e outra formal, e um gentil senhor te vendo, de novo, naquela situação fi nanceira precária te aconselhou: “Padre Luiz, diminua suas ações. Pare a música, a distribuição de co- midas”. O senhor voltou pra casa mais fi rme de que antes. E a ordem dada foi: nenhuma ação a menos!
Até que tua loucura de amor chegou ao máximo: uma greve de fome.
Foi aí, padre Luiz, que eu e muitas pessoas da sociedade, vimos que o amor te alimentava. Tua vida foi alimentada por amor.
E, por amor, estamos aqui. Em plena desobediência. Vê, agora temos meninas na banda. Você nos ensinou a desobedecer, a subverter a ordem.
Bendita foram as tuas lições.
Bendita seja tua memória em nós e nos meninos e meninas que compõem a Banda Juvenil Dona Luiza Távora.
Galeara Matos de França
*Esta carta foi lida no Cineteatro São Luiz, na apresentação do Concerto Comemorativo dos 50 anos da Banda
Dona Luiza Távora