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ESCOLA DE MÚSICA E BELAS ARTES DO PARANÁ DEPARTAMENTO DE PESQUISA PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

ANDRÉ BARROSO DA VEIGA

DA FOTOGRAFIA COMO REGISTRO À FOTOGRAFIA COMO LINGUAGEM

CURITIBA 2012

ESCOLA DE MÚSICA E BELAS ARTES DO PARANÁ DEPARTAMENTO DE PESQUISA PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

ANDRÉ BARROSO DA VEIGA

DA FOTOGRAFIA COMO REGISTRO À FOTOGRAFIA COMO LINGUAGEM

Trabalho de pesquisa acadêmica entregue para o Projeto de Iniciação Científica da Escola de Musica e Belas Artes do Paraná como Relatório Final para a Fundação Araucária.

Orientação: Prof. Dr. José Eliézer Mikosz.

CURITIBA 2012 2

SUMÁRIO RESUMO................................................................................................................................... 4 ABSTRACT .............................................................................................................................. 5 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 6 PROCESSOS GRÁFICOS E PRÉ-FOTOGRAFIA ............................................................. 7 FIXAÇÃO DA IMAGEM FOTOGRÁFICA ......................................................................... 9 CAMERAS PORTÁTEIS: KODAK E OS IRMÃOS LUMIERE ..................................... 10 LINGUAGEM FOTOGRÁFICA E REALIDADE FOTOGRÁFICA .............................. 11 ANÁLISE FOTOGRÁFICA: DO REGISTRO À LINGUÁGEM .................................... 13 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 15 ANEXOS ................................................................................................................................. 17 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 25

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RESUMO

Este trabalho trata sobre questões relativas à fotografia, como registro, documento, criação, subjetividade. Para tal apresenta um levantamento histórico dos processos gráficos de criação e reprodução de imagem, partindo da gravura de entalhe, os processos químicos da litografia até o advento da fotografia. A fixação da imagem fotográfica junto a busca por melhorias técnicas como mobilidade dos equipamentos, matriz sensível, reprodução e principalmente o tempo de exposição, de vários minutos para um clique. A fotografia serve a sociedade, amplamente difundida, torna-se ofício. Esteticamente herda características compositivas da pintura e técnicas e operacionais da gravura.

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ABSTRACT

This paper deals with issues related to photography, as a record, document creation, subjectivity. For this presents a historical survey of the graphic processes of creation and reproduction of the image, leaving the picture of Nick, the chemical processes of lithography until the advent of photography. The fixing of the photographic image with the search for techni-cal improvements to mobility equipment, sensitive array, reproduction and especially the exposure time of several minutes to a click. The photograph serves society, am-diffused widely, it is craft. Aesthetically inherits compositional characteristics of painting and printmaking techniques and operational.

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INTRODUÇÃO

Este projeto de pesquisa de iniciação científica teve início no ano de 2011quando realizei uma prova para assumir, como professor substituto, disciplinas no curso de Artes Visuais da UFPR. O tema sorteado para minha aula foi Da Fotografia como Registro à Fotografia como Linguagem , título do presente trabalho. Quando surgiu a oportunidade de me inscrever no Projeto de Iniciação Científica da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, resolvi retomar o tema em uma pesquisa mais aprofundada.

Logo se mostrou um tema complexo. Pois em Arte é difícil apontar onde se começa uma coisa e onde termina outra. Do nome desta pesquisa podemos dar início a uma reflexão: existe uma fotografia como registro e outra como linguagem? Seria possível então as dividirmos? Porém parece improvável distinguir tão objetivamente estes dois momentos da fotografia, pois fica claro que a fotografia é um registro em sua essência, mas sabemos também que ela possui uma linguagem própria que foi construída através de sua história.

Talvez seja possível encontrar em que momento a fotografia deixa de ser apenas um equipamento frio e uma técnica, uma máquina que produz um registro de uma realidade e passe a ser encarada como uma possibilidade artística. Partindo do pressuposto que a câmera fotográfica é fruto de uma evolução técnica das artes gráficas, ou seja, que ela aconteceu a partir de pesquisas que resolvessem problemas da imprensa, da tipografia, da reprodução de imagens e também da criação de imagens fiéis à realidade vista pelo homem. São estas questões que permeiam esta pesquisa.

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PROCESSOS GRÁFICOS E PRÉ-FOTOGRAFIA

Pensando a fotografia como uma evolução dos processos de criação e reprodução de imagens, levando em conta a sua qualidade técnica de reproduzir uma imagem fiel da realidade para a qual a lente da câmera foi apontada, encontramos esse desejo de uma arte que possa criar imagens realistas muito antes do advento do equipamento fotográfico. Podemos encontrar vestígios da ideia de fotografia já na antiguidade. Platão, em seu Mito da Caverna vem a apresentar as projeções de imagens na parede da caverna como sendo a representação da realidade, ou, as imagens são copias da realidade. Na alegoria, quem vive na caverna enxerga apenas a sombra da árvore projetada na parede e não a própria árvore, por exemplo. E estes acreditam que a sombra é o objeto real. Sem querer entrar nas questões mais profundas que são levantadas pelo filósofo, em uma leitura possível desta alegoria, podemos entender que a imagem de uma coisa é uma cópia desta coisa, uma projeção realista desta coisa. Uma imitação.

Esse conceito de mimese, ou imitação, relativa às representações criadas pelo homem acompanharam a história da arte ocidental. Em seu livro Poética, Aristóteles explica a arte como sendo a representação do real e da função desta arte ser a representação do real: “Da mesma maneira como algumas imitam muitas coisas, expressando-se por traços e por cores.

Todas realizam a imitação pelo ritmo, pela linguagem e pela melodia, de modo separado ou combinado” (ARISTÓTELES, 1999, p. 37) e vem a dizer que isso é causado pelo próprio modo de cognição da obra de arte, ele continua: Prova disso é o que ocorre na realidade: temos prazer em contemplar imagens perfeitas (...) se olhar as imagens proporciona deleite, é porque a quem contempla sucede aprender e identificar cada uma delas. Se acontecer de alguém não ter visto o original, nenhum prazer despertará a imagem como coisa imitada, mas somente pela execução, ou pelo colorido, ou por alguma outra causa da mesma natureza. (ARISTÓTELES, 1999, p. 48)

O conceito da câmara escura já era entendido desde a antiguidade grega, mas foi Brunelleschi, artista da renascença italiana do período do Quattroccento, conhecido pelos seus trabalhos na arquitetura, no desenho técnico e nos avanços nos estudos da perspectiva, o criador da Travoleta. Equipamento este que fazia coincidir o ponto de vista e o ponto de fuga.

Invento que veio a se transformar na câmara escura, foi a partir do século XVI, quando no pequeno buraco das câmeras obscuras originais foi colocada uma lente convexa, que o apare7

lho se transformou num meio para o registro de imagens. Alguns artistas passaram a utilizar tal equipamento, a câmera, para a criação de algumas das suas obras. Mas era para “desenhar por cima” que a câmera obscura servia antes da invenção da fotografia, ou mais especificamente da fixação da imagem fotográfica.

Nesse momento histórico temos o uso das técnicas de gravura como um dos meios de reprodução de imagens. Entende-se por gravura, o processo de criação e reprodução de imagem a partir de uma matriz, onde nela se constrói a imagem e, a partir dela, se faz uma tiragem de cópia da imagem em questão. Vamos observar os modos de gravura mais usuais.

O alto-relevo “refere-se as partes elevadas, que ficam sem cortar, da matriz de impressão. São elas que irão absorver a tinta e transferi-las ao papel.” (LE ROY, 2006, p.11) Como é o caso da xilogravura ou gravura em matriz de madeira. O baixo-relevo que “refere-se às partes afundadas, encravadas, riscadas ou esculpidas, da matriz de impressão, que são preenchidas com tinta. Durante a impressão, a tinta é absorvida pelo papel úmido.” (LE ROY, 2006, p.11) São modelos de baixo-relevo as gravuras em matriz de metal com técnicas de gravação direta e indireta. Na gravação direta são usados buris e pontas-secas. No caso da gravação indireta é utilizado acido para produzir os sulcos onde será depositada a tinta, em técnicas chamadas de água-forte, para criar linhas, e água-tinta, para construir massas de cores.

A gravura aqui geralmente é tratada apenas como meio de reprodução de imagens. Dürer (1471-1528) evolui a técnica da xilogravura e passa a tratá-la como arte, como linguagem.

Gutenberg (1398-1468) desenvolve o tipo móvel e aperfeiçoa o processo de impressão e edição gráfica. Rembrandt (1606-1669) trata a gravura também como arte, utiliza o talho doce, ponta seca e buril, junto às técnicas com ácidos, água-forte. Goya (1746-1828) desenvolve, em suas séries de gravuras, a água-tinta, criando massas de cores, preto e branco. Surge a xilogravura de topo, em que a matriz é de um corte perpendicular ao tronco, ao veio da madeira, permitindo, junto ao trabalho com o buril, criar imagens mais perfeccionistas.

Surge a litografia ou planografia.

O termo “plano” refere-se a pedra lisa que é utilizada como matriz para a litografia.

Esta técnica baseia-se no fenômeno físico de que água e gordura se repelem. Um desenho é feito com material gorduroso na superfície polida de uma rocha calcária.

Depois, essa pedra é trabalhada com uma goma arábica ácida, ela se torna porosa e absorve água, enquanto o desenho gorduroso repele a água (...) a pedra ainda molhada recebe tinta de impressão gordurosa. A tinta é absorvida pelo desenho, enquanto as partes molhadas da pedra a repelem. Sob a prensa, o papel absorverá a tinta do desenho (...) A variedade quase infinita de formas e a técnica relativamente simples 8

de impressão com múltiplas cores desencadeou uma revolução no atelier do tipografo. ( LE ROY, 2006, p. 13)

Desta evolução nos processos gráficos, tanto nos meios mecânicos quanto nas técnicas físico-químicas, chegamos à fixação da imagem fotográfica. A gravura em seu primeiro momento era usada principalmente na reprodução de imagens, depois, com os tipos móveis, a imprensa ganha corpo. Porem até o advento da litografia os jornais ainda eram caros e poucos os compravam, eram lidos geralmente em cafés. Assim surgem jornais e revistas ilustradas. A litografia ainda estava em seus primórdios quando surge a fotografia.

FIXAÇÃO DA IMAGEM FOTOGRÁFICA

Com o desenvolvimento da indústria gráfica e estudos para evoluir tais técnicas ligadas a profissionais e pesquisadores de várias áreas do conhecimento, químicos, físicos, engenheiros, artistas, o advento da fotografia, ou, a fixação de imagem fotográfica, parecia apenas uma questão de tempo.

Em 1800, John Frederick William Herschel, astrônomo alemão, descobre a região infravermelha do espectro de luz e em 1819, descobre o fixador fotográfico, o hipossulfato de sódio. A ele a História sempre atribuiu o mérito de ter criado palavras relativas ao novo invento. Inscreveu seu nome já em 1839, quando conseguiu a primeira fotografia em vidro. Foi um homem que soube usar as palavras, pois cunhou em seus diários os termos fotografia e fotográfico, criou os termos Matriz: negativo e positivo. Em 1860, idealizou outras palavras que fariam carreira: disparo e instantâneo.

No Brasil, Hercules Florence (1804-1879), pintor francês (suíço) radicado neste país, no ano de 1833, fotografou através da câmera escura em uma chapa de vidro como negativo e usou papel sensibilizado para a impressão por contato. Ainda que totalmente isolado e sem conhecimento do que realizavam seus contemporâneos europeus, Florence obteve o resultado fotográfico possível de reprodução, que chamou pela primeira vez de Photografie. Tratava-se de um fotograma, uma técnica onde se submete um objeto ao banho de luz sobre a placa ou papel sensível, isso, porém, em um processo ainda muito precário.

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Os pesquisadores Niépce, em 1826, e Daguerre, em 1835 chegam ao resultado fotográfico com uma técnica que precisava de menos tempo de exposição da chapa fotográfica para sua sensibilização. Logo o estado interveio e coloca a patente em domínio público, depois de indeniza-los, acelerando ainda mais seu desenvolvimento.

No início, a imagem fixava-se em uma placa de prata, iodadas e expostas na câmara escura. Tinham que ser manuseadas de vários modos até que se pudesse reconhecer uma imagem ali gravada. Mesmo assim, a fotografia ganha o mercado, principalmente o dos pintores retratistas como veio a dizer Walter Benjamin em sua tese “A pequena História da Fotografia”. Segundo o autor: No momento em que Daguerre consegue fixar a imagem na câmara escura, os técnicos substituíram, neste ponto, os pintores. Mas as verdadeiras vítimas não foram os pintores de paisagem, e sim o retrato em miniatura. A evolução foi tão rápida que por volta de 1940 a maioria dos pintores de miniaturas se transformaram em fotógrafos, a princípio de forma esporádica e pouco depois exclusivamente. A experiência de seu ofício original foi-lhes muito útil, embora o alto nível de seu trabalho fotográfico se dava mais à sua formação artesanal que a sua formação artística (BENJAMIN, 2008, p. 97).

Assim podemos notar como a técnica fotográfica alcançou rapidamente o público e quais foram os trabalhadores que passaram a utilizar tal técnica em seu oficio. Seja na composição, na disposição dos modelos ou mesmo nos temas a serem fotografados, claramente a pintura vai dar à fotografia muitos de seus meios estéticos de criação de imagem.

CAMERAS PORTÁTEIS: KODAK E OS IRMÃOS LUMIERE

Com a evolução técnica do processo fotográfico, principalmente com a fixação da imagem em papel e a diminuição do tempo para sensibilizar o clichê, a fotografia ganhou força, tanto na indústria gráfica quanto no acesso ao público, através de jornais, revistas ilustradas e feiras, aonde iam fotógrafos exercerem seu ofício. Ganha força o caráter documental da fotografia, com a ida de fotógrafos a territórios em guerra. Nos Estados Unidos George Eastman desenvolve o colódio seco, que melhorava a mobilidade das chapas sensíveis. Logo depois cria uma máquina fotográfica portátil com rolo de papel com 100 poses. Essa veio a ser a primeira câmera KODAK, que logo evolui o suporte para um plástico a base de celulose que irá ser chamada de suporte em película.

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Aparece, em 1878 a Cronofotografia. Processo desenvolvido pelo fotografo inglês Eadweard Muybridge que consiste em várias câmeras que agem quase simultaneamente, capturando assim, imagens em movimento.

Na França, já em 1895, os irmãos Lumière, August e Luís, fazem a patente do cinematógrafo, que veio a dar origem ao cinema, e se empenham na descoberta da fotografia colorida criando assim o Autocromo, onde trabalhavam com fécula de batata em placas de vidro criando assim efeitos coloridos.

Com a diminuição do tempo de exposição à luz e com as câmeras em menores tamanhos, mais compactas, aumentou então o acesso a fotografia pela população em geral.

LINGUAGEM FOTOGRÁFICA E REALIDADE FOTOGRÁFICA

No seu surgimento, a fotografia teve o intuito de uma representação perfeita da realidade, ideia que por tempos foi considerada verdadeira. Primeiramente se reconhece a fotografia como o espelho do real. Este é o discurso da mimese, em que o efeito de realidade encontrado na fotografia se dava graças à semelhança entre este objeto e a imagem real referente.

Aquela seria mimética por essência, ou, cópia do objeto fotografado.

Charles Baudelaire buscava uma arte expressiva, viva e não atrelada a cânones acadêmicos neoclássicos onde se exigiam a representação da realidade de maneira que se pudesse reconhecer os objetos reais nas criações artísticas. O poeta e teórico de arte chega a criticar de maneira pessimista o acontecimento da fotografia dizendo: Nesses dias deploráveis, uma nova indústria surgiu, que muito contribuiu para confirmar a tolice em sua fé... de que a arte é e não pode deixar de ser a reprodução exata da natureza... Se for permitido à fotografia substituir a arte em algumas de suas funções, em breve ela a suplantará e corromperá, graças à aliança natural que encontrará na tolice da multidão. É preciso, pois, que ela cumpra o seu verdadeiro dever, que é o de servir as ciências e as artes (BAUDELAIRE IN BENJAMIN, 2008, p.107).

Talvez pelo fato de grande parte dos pintores retratistas passarem seu ofício para a fotografia, esta tenha se formado sobre os moldes estéticos da pintura. É característico que o debate tenha se concentrado na estética da “fotografia como arte”. Porém, como escreve Wal11

ter Benjamin, o fato mais evidente é da “arte como fotografia”. Pois se pensarmos numa história da pintura, ou mesmo da imagem, a fotografia vem a resolver o problema da pintura naturalista, a da reprodução do real, do natural. Será a fotografia uma imagem da realidade objetiva? Num primeiro momento acreditava-se que sim, por ser um processo mecânico, sem o toque do Homem. Porém, é o fotógrafo quem enquadra, decide o momento, aperta o botão e registra essa realidade e depois manipula o negativo, os processos de revelação. Assim como em outras linguagens, é a visão do artista que está representada, então é sim uma realidade, porém subjetiva.

Assim ganha espaço um segundo ponto de vista, em que se reconhece a fotografia como transformação do real. Segundo o francês Philippe Dubois, este é o discurso do código e da desconstrução. A partir de então, tentou-se mostrar que a fotografia não é um espelho neutro, mas que é utilizada como um instrumento de transposição, de análise, de interpretação e até de transformação do real. Através da fotografia existiria um processo de atribuição, em que a imagem remete ao seu referente, indo além do efeito do real. Indo, além disso, em seu livro O Ato Fotográfico de 1983, o autor reconhece na história da fotografia três tempos: A fotografia como espelho do real (o discurso da mimese). O efeito de realidade ligado à imagem fotográfica foi a principio atribuído à semelhança existente entre a foto e seu referente. De início, a fotografia só é percebida pelo olhar ingênuo como um “analogon” objetivo do real. Parece mimética por essência.

A fotografia como transformação do real (o discurso do código e da desconstrução). Logo se manifestou uma reação contra esse ilusionismo do espelho fotográfico. O principio de realidade foi então designado como pura “impressão”, um simples “efeito”. Com esforço tentou-se demonstrar que a imagem fotográfica não é um espelho neutro, mas um instrumento de transposição, de análise, de interpretação e até de transformação do real, como a língua, por exemplo, e assim, também, culturalmente codificada.

A fotografia como traço de um real (o discurso do índice e da referência). Por mais útil e necessário que tenha sido, esse movimento de desconstrução (semiológica) e de denúncia (ideológica) da impressão de realidade deixa-nos contudo um tanto insatisfeitos. Algo de singular, que a diferencia dos outros modos de representação, subsiste apesar de tudo na imagem fotográfica: um sentimento de realidade incontornável do qual não conseguimos nos livrar apesar da consciência de todos os códigos que estão em jogo nela e que se combinaram para a sua elaboração. Na foto, diz R. Barthes em A Câmara Clara, “o referente adere” em direção a tudo e contra tudo.

Diante da imagem fotográfica, não se pode evitar o que J. Derrida qualifica em A Verdade em Pintura de “processo de atribuição”, por meio do qual se remete inevitavelmente a imagem a seu referente. Deve-se, portanto, prosseguir a análise, ir além da simples denúncia do “efeito de real”: deve-se interrogar segundo outros termos a ontologia da imagem fotográfica (DUBOIS, 1993, p. 26-27).

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A fotografia é então o registro de um ato, de uma ação, da ação de fotografar. Para tal, ao analisarmos uma imagem fotográfica, temos de levar em conta o acontecimento histórico e cultural da imagem em questão.

ANÁLISE FOTOGRÁFICA: DO REGISTRO À LINGUÁGEM

Como vimos anteriormente, a fotografia, em seu início, irá atingir o mercado dos pintores retratistas, principalmente os pintores de pequenos formatos que vendiam seus trabalhos em feiras, rapidamente muitos pintores desse estilo passaram a trabalhar como fotógrafos retratistas. Talvez este seja um dos motivos pelo qual a fotografia absorve muito da linguagem da pintura. Claro que também influenciada pela própria história da criação de imagens ligadas a uma produção realística, mimética.

A fotografia herda, então, estilos de composição ligados à pintura. Ao observarmos uma fotografia de Daguerre (1787-1851), onde ele retrata seu atelier como uma natureza morta, em que toda a composição é formada por objetos estáticos dispostos não arbitrariamente no campo de visão da lente, podemos notar claramente estas influências.

Não podemos deixar de lembrar que neste momento o tempo de exposição da imagem a ser fotografada ainda é muito extenso, chegando até trinta minutos. Não por acaso, muito fotógrafos irão escolher ambientes como cemitérios, por se tratar de um lugar ao ar livre, portanto com alta intensidade de luz solar, e com pouco movimento de pessoas. Imagens com um ar fantasmagórico, não apenas pela locação escolhida, neste caso o cemitério, mas também pelo fato da necessidade da longa exposição dos objetos e principalmente personagens que, com pequenos movimentos corporais dos braços, cabeça e, sobretudo, dos olhos criavam fotografias onde tais personagens ficavam com expressões embaçadas. Era comum o uso de equipamentos para manter a pessoa fotografada imóvel para evitar tais vultos na imagem fotográfica.

Eram peças únicas com um preço alto, por isso, guardadas em estojos, como joias. As classes mais abastadas passaram a consumir tal produto. Aos nobres e aristocratas eram feitos retratos mostrando apenas a figura do homem em questão, já para os burgueses, criava-se imagens da figura em um cenário, para apresentar e ostentar suas riquezas.

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Com a possibilidade do múltiplo, câmeras menores e com o tempo de exposição mais curto, em um clique, a fotografia ganha o instante. Não havendo mais a necessidade absoluta de poses ou de uma composição estática. Muitos artistas passam a pesquisar a linguagem fotográfica, passando a tratá-la não apenas como um novo modo de reprodução de imagem ou, mais ainda, de um meio de criar imagem realistas, mas sim, como uma nova linguagem artística.

Segundo Giulio Carlo Argan em seu livro Arte Moderna de 1988: As fotografias “artísticas” do final do século XIX e do início do século XX, são semelhantes às estruturas perfeitas em ferro ou cimento que os arquitetos “estruturais” revestiam com um medíocre aparato ornamental para dissimular sua funcionalidade e assim, como só surgirá uma arquitetura estruturalista quando os arquitetos se libertarem da vergonha pelo suposto caráter não artístico de sua técnica, só surgirá uma fotografia de alto nível estético quando os fotógrafos, deixando de se envergonhar por serem fotógrafos e não pintores, cessarem de pedir a pintura que torne a fotografia artística e busquem a fonte do valor estético na estruturalidade intrínseca à sua própria técnica. (ARGAN, 1992 p. 80)

Quando observamos a fotografia de Bresson (1908-2004), onde um homem corre a saltar por possas, espelhos d’água, e que o artista capta o exato momento do personagem a flutuar sobre estas possas antes de tocar seus pés na água. Ou seja, uma fração de segundo antes ou depois do instante fotografado, a imagem seria outra e com outra potência. A fotografia aqui acontece no tempo, no instante.

Temos que reconhecer, também, em Bresson, na sua trajetória profissional a criação, junto de outros fotógrafos, da agência Magnum após o final da Segunda Guerra Mundial. Onde pode desenvolver trabalhos mais sofisticados e autorais. A agência tinha uma forma cooperativa de trabalho onde os fotógrafos davam os caminhos criativos de seus trabalhos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As breves linhas deste artigo não têm a pretensão de apontar ou qualificar o que é ou o que não é uma boa fotografia, ou mais ainda se dada imagem analisada é arte ou não. Esta pesquisa pretende sim apresentar historicamente os passos que levaram o homem a chegar ao advento do processo fotográfico e o seu desenvolvimento subsequente.

Para tal lançamos o olhar sobre a ideia de imagem e do como esta veio se desenvolvendo na produção gráfica e de sua reprodução. Por isso, uma rápida passada na evolução da gravura e da imprensa até a fixação da imagem fotográfica projetada no funda da câmera escura.

Após este acontecimento a fotografia ganhou espaço no mercado gráfico e depois na arte. Isso graças a artistas e entusiastas deste mecanismo que vieram a desenvolver a linguagem fotográfica e, é claro, seu consequente acesso nos espaços formais da arte, ou seja, os museus e galerias.

Podemos citar o exemplo do MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, nos Estados Unidos da America, que a partir do final da década de 1920, passou a promover mostras e exposições fotográficas. Reconhecendo assim as práticas fotográficas desenvolvidas pelas vanguardas artísticas.

Primeiro, por sua fraca sensibilidade a luz e produzidas em clichês que não eram possíveis de cópia e reprodução. Isso evoluiu. Chegando ao clique, o momento, o instante fotográfico transformou a técnica e o próprio olhar do artista sobre a realidade. Com a evolução tecnológica aumentou o acesso ao produto fotográfico e sua produção. Com isso aumentou também o mercado. Sua utilização tanto por parte do trabalho puramente comercial ou industrial, focado na técnica, quanto por parte dos artistas interessados em desenvolver uma produção consistente em relação a uma nova linguagem, deu à fotografia uma gama de possibilidades estéticas. Logo o mercado da fotografia irá extrapolar ao das revistas ilustradas ou dos retratos de família, chegando assim aos grandes museus e galerias.

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Talvez aqui, possamos encontrar um limite entre a aceitação para com a fotografia e, consequentemente, novos desdobramentos estéticos. Os artistas já experimentavam na fotografia a sua linguagem. O mercado encontrava na fotografia a resolução de problemas gráficos, como reprodutibilidade de imagem e fidelidade ao referente fotografado. O uso experimental por parte das vanguardas artísticas europeias do inicio do século XX e as primeiras mostras e exposições realizadas no MoMA em Nova Iorque parece que findam as discussões relativas à fotografia como um produto técnico industrial ou à fotografia como uma nova linguagem estética.

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ANEXOS

Figura 1. Travolleta desenvolvida por Brunelleschi.

Figura 2. Esquema da C창mera de Daguerre.

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Figura 2. Xilogravura de DĂźrer.

Figura 4. Gravura em metal de Rembrandt. Ă gua-forte.

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Figura 4. Gravura em metal de Goya. Ă gua-tinta

Figura 4. Xilogravura de topo de Gustave DorĂŠ.

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Figura 5. Litografia. Retirado de Mobiliario - Hogar.

Figura 6. Fotograma de Hercules Florense.

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Figura 7. Fotografia de Ni茅pce.

Figura 8. Exemplo do Cliche daguerre贸tipo.

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Figura 9. Cronofotografia de Eadweard Muybridge.

Figura 10. Fotografia Autocromo dos Lumieres.

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Figura11. Fotografia de Louis Jacques MandĂŠ Daguerre.

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Figura 12. Fotografia de Henri Cartier-Bresson.

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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARISTÓTELES. Os Pensadores. Editora Nova Cultural Ltda, SP, 1999.

ARGAN,G.C. Arte Moderna.Cia das Letras,SP,1992.

BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas: Magia e Técnica, Arte e Política, Volume 1. 11º Ed, Brasiliense, SP, 2008.

BUSSELLE, Michael. Tudo sobre Fotografia. Livraria Pioneira, São Paulo, 1998.

CIVITA, Vitor. Fotografia-Manual Completo de Arte e Técnica. Abril Cultural, São Paulo, 1978.

DUBOIS, Philippe. O ATO FOTOGRÁFICO. Papirus, 9º Ed. Campinas, SP. 1993.

LE ROY, F. Org. Catalogo exposição Seis Séculos da Arte da Gravura. Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, PR, 2006.

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