Pobreza, segurança alimentar e acesso universal a serviços de saúde sexual e reprodutiva: um apelo à articulação entre movimentos contra a globalização neoliberal TK Sundari Ravindran Professora do Centro de Estudos da Ciência de Saúde Achutha Menon, Instituto de Ciências Médicas e Tecnologia Sree Chitra Tirunal, Trivandrum, Querala, Índia. Contato: ravindrans@usa.net
Resumo: O acesso universal a serviços de saúde sexual e reprodutiva foi um dos objetivos da Conferência Internacional de População e Desenvolvimento de 1994. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs) têm como mais alta prioridade a eliminação da pobreza. O acesso universal à saúde e a serviços de saúde também deverão estar entre os objetivos da agenda de desenvolvimento pós-2015, que substituem ou complementam os ODMs. Mas não apenas estamos longe de alcançar qualquer um desses objetivos, como parece que nos perdemos no meio do caminho. A pobreza e a ausência de segurança alimentar têm impedido, por meio das suas múltiplas conexões com a saúde e o acesso à assistência, o avanço em direção ao acesso universal a serviços de saúde, incluindo as necessidades de saúde sexual e reprodutiva. Nesse processo, a influência mais traiçoeira é a globalização neoliberal. Este artigo tem como objetivo descrever a globalização neoliberal e suas políticas econômicas, demonstrando os seus efeitos na pobreza e na segurança alimentar e o impacto desigual que produz sobre as mulheres em comparação aos homens. O artigo explora os efeitos das políticas econômicas neoliberais na saúde, nos sistemas de saúde e na universalização do acesso aos serviços e suas implicações para o acesso à saúde sexual e reprodutiva. Defender o acesso universal à saúde e à assistência à saúde é também lutar contra a globalização neoliberal. Palavras-chave: acesso universal a serviços de saúde sexual e reprodutiva, globalização neoliberal, pobreza, segurança alimentar O acesso universal a serviços de saúde sexual e reprodutiva pode ser assim definido: “Possibilitar igual oportunidade a todas as pessoas, de acordo com suas necessidades, para receber informação, triagem, tratamento e assistência adequadas ao longo de sua vida reprodutiva, independentemente da idade, sexo, classe social, lugar de moradia ou etnia/raça, garantindo a sua capacidade para:
• Decidir livremente se, quando e quantos filhos ter, assim como evitar e adiar a gravidez;
• Conceber e parir de maneira segura, criando crianças saudáveis, e tratar problemas de infertilidade;
• Prevenir e tratar doenças do trato reprodutivo e
infecções sexualmente transmissíveis, incluindo HIV/AIDS e outras enfermidades reprodutivas, como o câncer; e
• Desfrutar de relações sexuais saudáveis, seguras e
satisfatórias, que contribuam para a melhoria da vida e das relações pessoais”1
Conteúdo online: www.rhm-elsevier.com
Em 2012, uma avaliação sobre os avanços no acesso universal a serviços de saúde sexual e reprodutiva em 21 países da Ásia e do Pacífico* destacou a grande lacuna entre a meta desejada e a situação atual. Na grande maioria dos países examinados, mais de um quinto das mulheres em idade reprodutiva, por exemplo, ainda apresentava necessidades contraceptivas não satisfeitas. Em oito países, mais de 50% das mulheres pariram sem assistência especializada adequada. O acesso aos serviços de aborto seguro era precário e entre 10 e 16% de todas as mortes maternas tiveram como causa abortos inseguros. Salvo algumas exceções, a cobertura do tratamento antirretroviral (ARV) ficou abaixo dos 50% entre todas as pessoas vivendo com HIV e, entre mulheres grávidas vivendo com o HIV, a cobertura só foi maior do que 25% em quatro países. A educação sexual oferecida como parte do currículo do ensino médio dava * Afeganistão, Bangladesh, Butão, Burma, Camboja, China, Índia, Indonésia, Kiribati, Laos, Maldivas, Nepal, Paquistão, Filipinas, Papua Nova Guiné, Samoa, Sri Lanka, Tailândia e Vietnã. Doi: (do artigo original) 10.1016/S0968-8080(14)43751-0
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