A Agenda do Desenvolvimento Sustentável e a Saúde e os Direitos Sexuais e Reprodutivos

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A agenda de desenvolvimento sustentável e as necessidades não satisfeitas de saúde e direitos sexuais e reprodutivos Marge Berer Editora1, Reproductive Health Matters, Londres, UK. Correspondência: mberer@rhmjournal.org.uk

Durante* a preparação da agenda de desenvolvimento pós-2015, milhares de pessoas viajaram dezenas de milhares de quilômetros, dando a volta ao mundo diversas vezes, contribuindo para a mudança climática, para participar de consultorias, reuniões e sessões oficiais, virando noites em negociações sobre o conteúdo e a linguagem dos documentos e debatendo - às vezes com sucesso e entusiasmo e outras vezes com irritação e amargura - sobre o conteúdo da nova agenda de desenvolvimento. Até um certo nível, esse processo pode ser descrito como uma overdose de inclusão e, por isso, merece elogios se comparado ao processo de tomada de decisões em torno dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Mas também falhou em diversos pontos: • Pela incapacidade em nivelar as discrepâncias de poder entre os participantes,

• Pela necessidade de lutar com unhas e dentes

para que assuntos considerados cruciais recebessem a devida atenção, e

• Porque algumas vezes o poder e o controle fo-

ram usurpados por membros ausentes (na mesa) no momento dos acordos ou pertencentes a minorias que possuem autoridade para sabotar acordos no último minuto ou em outras sessões. A governança global ainda é muito frágil, tem poucos anos de existência no quadro histórico mundial. O livro Governing the World: The History of an Idea2 (Governando o Mundo: a História de uma Ideia, ainda sem edição em português), deixa claro que aqueles que estão no poder veem o palco internacional como um meio de expandir e manter seu controle, mas também como uma fonte de irritação que constantemente reivindica o seu envolvimento em questões que preferem ignorar. Eles até podem participar para não serem

deixados de fora, mas não estão dispostos a abrir mão de seu controle e autonomia. Este livro descreve as frustrações e contradições daqueles que trabalham em instituições globais, muitos dos quais por razões idealistas, e nos ajuda a entender como as questões que eles enfrentam diariamente muitas vezes os fazem voltar pra casa um tanto desesperados. Assim como no plano nacional, internacionalmente o “mundo que queremos” é muito diferente do mundo que temos. No caso dos Objetivos de Desenvolvimento, é o futuro do planeta que está em jogo. No século 21, a comunidade global é confrontada com a escolha entre permitir que uma grande parcela dos seres vivos que habitam a terra morra ou alcançar um acordo internacional além-fronteiras para fazer o que for necessário para assegurar a saúde e a vida do planeta para as futuras gerações. Esse é o cerne do debate pós-2015 e é imperativo que seja enfrentado no nível nacional e no nível mundial.

Os artigos desta edição Pelo menos a metade dos artigos desta edição aborda as questões de desenvolvimento, focando na sua relação com as necessidades de saúde e direitos sexuais e reprodutivos, abrangendo os seguintes temas: • O papel da pobreza, da segurança alimentar e da globalização neoliberal em como obstáculos ao acesso universal à assistência à saúde;

• Abordagens para garantir investimentos nacionais contínuos ao desenvolvimento;

• Conexão entre Objetivos de Desenvolvimento do

Milênio, demografia, saúde e direitos sexuais e reprodutivos (SDSR) e suas implicações políticas;

• O desdobramento da agenda pós-2015 do ponto de vista das organizações multilaterais e outros órgãos;

1 Nota da Editora Brasileira: Marge Berer foi editora da RHM até 2015. Hoje a RHM é editada por Shirin Heidari. 2 London: Penguin Books, 2012. http://www.penguin.co.uk/nf/ Book/BookDisplay/0,,9780713996838,00.html

• População, SDSR e desenvolvimento sustentável;

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Doi: (do artigo original) 10.1016/S0968-8080(14)43775-3

© 2014 Reproductive Health Matters

• Uma análise do boom da população jovem no


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