Um novo paradigma de desenvolvimento pós-2015, com metas abrangentes para a igualdade de gênero e a saúde e os direitos sexuais e reprodutivos. Marge Berer Editora, Questões de Saúde Reprodutiva, Reino Unido.
“Essas são as nossas conclusões… Contamos com a coragem de todos os governos para defender questões controversas quando lidam com realidades complexas, muitas das quais relacionadas às causas mais profundas das desigualdades… 1. Mantenham suas promessas; 2. Defendam nossos direitos sexuais; 3. Exigimos justiça econômica; 4. Deixem-nos um planeta saudável; 5. Somos colaboradores e não público-alvo.” (Declaração do Encontro da Juventude pós-2015, Outubro 2013).* Que tempestade de palavras nos legaram a Conferência Internacional de População e Desenvolvimento (CIPD) - Para Além de 2014 e as agendas de Desenvolvimento Sustentável Pós-2015! São tsunamis de discussões, reuniões, relatos, declarações, listas de demandas e revindicações e expectativas diversas oriundas de todas as partes do mundo! Eu não sei como o Secretário-Geral da ONU consegue lidar com tudo isso, mas a minha caixa de entrada de emails já está quase cheia. Mas essa tempestade também trouxe um conjunto valioso de comentários, críticas e análises políticas, que eu gostaria de compartilhar com vocês. E o mesmo se aplica aos excelentes artigos dessa edição da revista. Nesse editorial eu gostaria de dar destaque a duas questões que, juntas, expressam o cerne dessa edição da revista e do que eu acho que está acontecendo no mundo para além dessa explosão verbal:
• Neste momento, temos a oportunidade de esta-
belecer metas de desenvolvimento sustentável que podem superar diversas limitações dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs), expandindo o grau de responsabilização e compromisso para melhorar a saúde global e os direitos humanos. Essas metas devem incluir a igualdade de gênero e a saúde e direitos sexuais e reprodutivos. No entanto, há fortes evidências de que os es-
forços para se alcançar a igualdade de gênero tem obtido pouco sucesso e a área da saúde tem sido subfinanciada por muitos governos, a despeito de compromissos já assumidos, especialmente na África†, mas não apenas lá. Novas metas precisam ser configuradas de maneira a levar em conta a interdepêndencia dos direitos humanos, o que significa que nenhum ser humano deve ser delas excluído. A princípio, até que esse compromisso seja alcançado, um novo paradigma e novas metas de desenvolvimento não passam de aspirações sem esperanças de sucesso. Os ODMs da área da saúde desviaram o foco da saúde e dos direitos sexuais e reprodutivos (SDSR), articulados ofi mente pela primeira vez no Programa de Ação do Cairo, limitando-se à redução da mortalidade materna no ODM5, em detrimento de quase todas as outras questões da SDSR. A mortalidade materna foi reduzida, mas não o suficiente, e não diminuiu nada nos países mais pobres, enquanto a assistência ao parto não foi ampliada de forma concomitante no mesmo período. Nós, ativistas da SDSR, enfrentamos problemas urgentes. Alguns aspectos específicos da saúde não se tornarão metas e, certamente, a SDSR também não. Assim, como podemos garantir desta vez que a saúde e os direitos sexuais e reprodutivos serão inteiramente incluídos nas metas de desenvolvimento sustentável para a saúde pós-2015, junto com todas as outras questões urgentes de saúde e desenvolvimento que vêm sendo defendidas por outros grupos sociais?
Texto completo em: https://docs.google.com/file/ d/0B2zDeXV8KPlrdkhEQ1VUYm9YeHc/edit?usp=sharing&pli=1.
† “Doze anos depois da Declaração de Abuja, quando os governos africanos se comprometerem a alocar pelo menos 15% dos seus orçamentos anuais para a saúde, apenas seis países alcançaram essa meta. Mais importante, cerca de um quarto dos países membros da União Africana retrocederam e agora gastam menos em saúde do que em 2001." Governos africanos continuam subfinanciando a saúde. Irin News. 23 July 2013. http://www.irinnews.org/report/98459/african-governments-stillunderfunding-health.
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Doi: (do artigo original) 10.1016/S0968-8080(13)42750-7
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www.grupocurumim.org.br/site/revista/qrs8.pdf