O papel dos homens na prevenção da transmissão vertical do hiv e

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O papel dos homens na prevenção da transmissão vertical do HIV e na promoção da saúde sexual e reprodutiva Eric Ramirez-Ferreroa, Manjula Lusti-Narasimhanb a

Consultor em Saúde Sexual e Reprodutiva, Departamento de Pesquisa e Saúde Reprodutiva, Organização Mundial da Saúde, Genebra, Suíça b Cientista, Departamento de Pesquisa e Saúde Reprodutiva, Organização Mundial da Saúde, Genebra, Suíça Contato: lustinarasimhanm@who.int

Resumo: Apesar das amplas evidências que apontam para o impacto positivo dos homens na prevenção da transmissão vertical do HIV (PTV), a participação masculina em programas de saúde sexual e reprodutiva ainda é limitada. Esse artigo analisa o nível atual e a natureza do envolvimento masculino, identificando oportunidades para a ampliação dessa participação na PTV e na saúde sexual e reprodutiva. Obstáculos conceituais e políticos facilitaram a imprudente exclusão de homens da PTV e de outros serviços de saúde reprodutiva. A institucionalização histórica da saúde reprodutiva como saúde da mulher produziu serviços de saúde não receptivos aos homens, dificultando as tentativas de envolver os casais nestes serviços. Esse artigo defende que para maximizar os efeitos da PTV e os resultados dos programas de saúde sexual e reprodutiva para homens e mulheres, deve-se compreender o papel dos homens para além de apenas “facilitadores”do acesso das mulheres aos serviços de saúde. Os homens devem ser reconhecidos como parte constituinte das políticas e práticas de saúde reprodutiva. Este artigo propõe estratégias para governantes e gestores de programas atraírem homens e casais para o diálogo e a tomada conjunta de decisões. Essa abordagem pode auxiliar o alcance de metas no campo da saúde, além de gerar relações mais igualitárias entre homens e mulheres. © 2012 Reproductive Health Matters Palavras-chave: prevenção da transmissão vertical do HIV, relações de gênero, homens e saúde reprodutiva e sexual Muitas das pesquisas sobre saúde sexual e reprodutiva e direitos de pessoas vivendo com HIV focam nas intenções reprodutivas das mulheres soropositivas. E quanto aos homens, que são seus parceiros e potencialmente os pais de seus filhos, e que também precisam considerar seu próprio futuro reprodutivo e o papel que podem desempenhar na decisão de ter filhos ou não? No contexto da África Subsaariana, em particular, os homens demonstram atitudes majoritariamente positivas quanto à PTV, mas a sua participação nos programas permanece reduzida. O que impede o envolvimento dos homens? Muitos homens receiam descobrir sua condição sorológica quanto ao HIV e o estigma e a descriminação vinculados a um diagnóstico positivo. Mas talvez o obstáculo mais significativo sejam as barreiras conceituais e políticas que produzem a exclusão dos homens da PTV e de outros serviços de saúde sexual e reprodutiva. A institucionalização histórica da saúde reprodutiva e, particularmente, da saúde materna, como uma esfera que pertence unicamente às mulheres, produziu serviços não

receptivos aos homens e até mesmo a casais, reforçando a percepção masculina de que as clínicas são “ambientes de mulheres” e que a saúde reprodutiva é “saúde da mulher”. Para maximizar os resultados dos serviços de saúde reprodutiva e sexual e da PTV para crianças, mulheres e homens, deve-se compreender o papel dos homens para além de meros “facilitadores” do acesso das mulheres aos serviços de saúde. Os homens precisam ser reconhecidos como parte constituinte das políticas e das práticas de saúde reprodutiva, para seu próprio benefício. Estudos centrados na falta de envolvimento masculino alimentam a imagem de homens como obstáculos à saúde, ou como peças irrelevantes nesse processo. Um crescente conjunto de dados, entretanto, aponta para os muitos benefícios para a saúde das famílias produzidos quando os homens passam a questionar as normas de poder, quando adquirem novos conhecimentos e habilidades, desafiam as ideologias prevalentes de gênero e se envolvem ativamente na descoberta de formas de enfrentamento de questões de saúde1,6. Inicia-

Cohttp://www.grupocurumim.org.br/site/revista/qsr7.pdf

Doi (artigo original): 10.1016/S0968-8080(12)39642-0

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