INFORMATIVO AMC 15

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Mastologia, Nefrologia, Gastroenterologia, Psiquiatria, Pneumologia, Angiologia, Endoscopia, Urologia, Coloproctologia, Infectologia, Geriatria, Emergências Médicas, Medicina Intensiva, Medicina do Trabalho, Medicina Legal e Perícia Médica, Medicina da Família e Comunidade, e a Sociedade de Médicos Escritores. Inspira-me ainda o entusiasmo e o comprometimento da equipe em proporcionar uma experiência única para todos os participantes.

Estamos nos aproximando do dia 13 de outu bro, data que marca o início da 33a edição do nosso Outubro Médico. Um evento que vem sendo preparado com muita dedicação e carinho há mais de sete meses. E é exata mente essa dose de amor que temos colocado no planejamento do Congresso que promete fazer a diferença no resultado. Após dois anos de eventos virtuais forçados pela pandemia, realizaremos um evento 100% presencial, possibilitando uma programação handson com estações práticas de trabalho, além de valiosas oportunidades de networking e Umsocialização.bomexemplo

disso será o Espaço Medic’Arte, onde poderemos conhecer os dotes artísticos de nossos colegas represen tados na pintura, música, literatura, entre outras expressões de arte. Sinto-me extrema mente honrada com a significativa adesão das sociedades médicas do Estado.

Engajamos os membros da AMC Jovem na divulgação do Congresso em todas as facul dades de Medicina do Estado. Esses “jovens embaixadores” já deram início ao trabalho trazendo ideias criativas, criando grupos de divulgação e contribuindo efetivamente para o engajamento do universo acadêmico no Congresso. Acredito muito no credo popular que diz “A inspiração existe, mas ela precisa te encontrar trabalhando”.

Presidente XXXIII Outubro Médico

COMEÇOU A CONTAGEM REGRESSIVA

Dra. Izabela Parente

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Não é à toa que temos dedicado horas e horas para compor uma programação robusta com elevado nível científico. Temos investido em contatos com as sociedades médicas para trazer os maiores especialistas do estado para nossas mesas de debate. Temos buscado par ceiros fortes para viabilizar as muitas ideias que temos para o evento. No que depender de nós, o 33º Outubro Médico vai entrar para a história.

Já confirmaram presença no Congresso as sociedades de Pediatria, Otorrinolaringolgia,

REFERÊNCIAS

Oliveira GMM, Brant LCC, Polanczyk CA, Biolo A, Nascimento BR et al. EstatísticaCardiovascular – Brasil 2020. Arq Bras Cardiol. 2020; 115(3):308-439.

Dentre as doenças valvares, o acometimento valvar de causa reumática é a principal causa de insuficiência cardíaca em crianças e adultos jovens, levando à morte prematura e afetando substancialmente a força de trabalho de adultos em plena fase produtiva. Seu principal fator de risco é a ineficiência no tratamento da faringoa migdalite aguda por estreptococo do grupo A em pessoas geneticamente suscetíveis3.

O dia 29 de setembro é lembrado como o Dia Mundial do Coração e em alusão a essa data, o mês de setembro é especialmente dedicado ao combate às doenças cardiovasculares, principal causa de mortes no Brasil e no mundo. No ano de 2017, a mortalidade por doença cardiovascu lar no Brasil correspondeu a 27,3% da taxa de morte geral da população1. Apesar das taxas de mortalidade por idade no Brasil terem diminu ído no decorrer dos anos até a pandemia pela COVID-19 em 2020, o número total das doen ças cardiovasculares vem aumentando devido ao envelhecimento da população2.

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I.; et al. Depression, stress and anxiety in medical students: A cross-sectionalcomparison between students from different semesters. Revista da Associação Médica Brasileira, v. 63, n. 1, p. 21-2, jan. 2017. Disponível em <https://doi.org/10.1590/18069282.63.01.21> Acesso em: 13 ago 2022.

Isabela Thomaz Takakura Guedes

Diretora da FUNCOR, Coordenadora Adjunta do Curso de Medicina da Unifor, médica cardiologista e preceptora do internato médico do Hospital Universitário Walter Cantidio

A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) tem o compromisso de reduzir a taxa de mortalidade prematura por doença cardiovascular no Brasil e a Sociedade Cearense de Cardiologia (SBC-CE) se empenha em diminuir essas taxas no Estado do Ceará. Além disso, é importante que políticas públicas possam continuar orientando a popu lação sobre os riscos cardiovasculares a serem controlados e que também busquem melho rias socioeconômicas e educacionais para toda Convidopopulação.a

Marijon E, Mirabel M, Celermajer DS, Jouven X. Rheumatic heart disease. Lancet 2012; 379: MOUTINHO,953–64.

O tabagismo deve ser fortemente desaconselhado.

Os fatores de risco clássicos, como hipertensão, dislipidemia, obesidade, sedentarismo, taba gismo, diabetes e histórico familiar para doença isquêmica do coração, são os mais importantes para o desenvolvimento da doença cardiovas cular, dentre elas, doença isquêmica, doenças valvares, doenças cerebrovasculares, fibrilação atrial e insuficiência cardíaca.

todos os médicos cearenses a con versarem com seus pacientes sobre prevençãode doenças cardiovasculares. É importante ter mos um tempo em nossas consultas destinado às orientações sobre bons hábitos, estimular o cuidado com a mente e o uso correto dos medi camentos para os fatores de risco que necessitam de terapia farmacológica.

Précoma DB, Oliveira GMM, Simão AF, Dutra OP, Coelho OR, Izar MCO, et al. Atualização da Diretriz de Prevenção Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia – 2019. Arq Bras Cardiol. 2019; 113(4):787-891.

Que SETEMBRO VERMELHO possa, num futuro próximo, ser lembrado como o mês em que as metas para uma vida mais saudável e con sequentemente, um coração mais saudável, foram atingidas por grande parte da população.

A maneira mais importante de prevenir as doen ças cardiovasculares é promover estilo de vida saudável, que deve ser adquirido preferencial mente na infância e possa perdurar por toda a vida. A dieta saudável, com consumo de fru tas, vegetais, nozes, cereais integrais e proteínas animais, minimizando a ingestão de gorduras trans, carnes processadas, carboidratos refinados e bebidas açucaradas, deve ser constantemente estimulada. A atividade física de pelo menos 150 minutos por semana, de intensidade moderada ou 75 minutos por semana, de intensidade vigorosa tem efeito protetor para o coração.

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Médico Psiquiatra e Diretor Geral do Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto

Dr. Davi Queiroz

São mais de 800.000 mortes por ano, no mundo (OMS, 2018), sendo a segunda principal causa de morte entre 15 e 29 anos. Estima-se que para cada morte há 20 tentativas não fatais de suicídio (David-Ferdon et al., 2016).

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No Ceará, em 2022, já ocorreram mais de 200 mortes – ultrapassando as mortes por acidentes de motocicleta (SESA-CE, 2022). No serviço de pronto atendimento do Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto, em 2019, ocorreram mais de 4000 atendimentos que envolveram o contexto de comportamento suicida (ideação com ou sem tentativa).

O suicídio é definido como toda morte decorrente de comportamento danoso autodirigido com a intensão consciente de tirar a própria vida. Ele é entendido, desde Durkheim (1897) como um fenômeno social mais que meramente individual. Além disso, a partir da segunda metade do século XX, começa a ser reconhecido como um problema de Saúde Pública.

É neste contexto que o Setembro Amarelo vem como um movimento que nos lembra a todos, médicos e sociedade geral, a importância do cuidado a pessoas em sofrimento psíquico. Importante lembrar que esse cuidado não deve ser uma responsabilidade unicamente dos Psiquiatras. Estudos mostram que 64% das pessoas que tentaram (Younes et al., 2013) e 45% das pessoas que morreram por suicídio (Botswick, 2012) tiveram uma consulta com médicos generalistas um mês antes do evento. A título de comparação, o último autor mostra que apenas 20% dos pacientes que morreram foram a um atendimento em Saúde Mental.

Sabe-se da dificuldade de avaliar ativamente o risco e a ideação suicida

SUICÍDIO

E O SETEMBRO AMARELO

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também deve ter seu papel neste cuidado. Estratégias eficientes para a diminuição dos índices de suicídio não podem prescindir da participação social (Zalsman, 2016). À Sociedade também cabe a identificação, apoio e respeito ao sofrimento alheio na condição de seres Alémhumanos.dessas, cito duas ações que entendo serem bem mais eficazes quando vindas da sociedade como um todo: a vontade e as ações para construirmos uma comunidade mais tolerante, harmônica e acolhedora, junto com o exercício de cidadania de cobrar do Poder Público políticas de saúde que garantam o cuidado integral, tempestivo e eficaz a todos aqueles que estão em sofrimento psíquico.

A Sociedade, de maneira geral,

(Botega, 2017) especialmente para médicos não Psiquiatras, mas essa barreira não deve ser maior que a importância do cuidado. Também por isso, o Setembro Amarelo conclama todos a fazê-lo. Lembrando da máxima “nunca se preocupe sozinho” (Simon et al., 2009), o cuidado a pessoas com comportamento suicida é mais eficaz quando é feito de maneira multidisciplinar, integrando médicos de especialidades distintas e demais profissionais da saúde.

Desta forma, cada ponto do desejado tecido do cuidado deve ter sua responsabilidade, cabendo aos médicos generalistas e das diversas especialidades o estímulo a práticas de promoção de Saúde Mental (exercícios físicos, alimentação, meditação, higiene do sono etc), a identificação de sinais e sintomas indicativos de comportamento suicida, acionamento da família ou rede de apoio, encaminhamento ao Psiquiatra e demais profissionais da Saúde Mental, mantendo sempre o suporte ao tratamento específico e o óbvio respeito ao sofrimento do paciente. Sinais como isolamento, desesperança, diminuição do gosto por atividades dantes prazerosas, tristeza, autodepreciação ou semelhantes nunca devem ser menosprezados e sempre devem indicar uma avaliação mais ampla e minuciosa.

Esse é o espírito do Setembro Amarelo: unir profissionais da saúde, pacientes, familiares e todos os segmentos da sociedade no afã de cuidar da Saúde Mental de todos, acolher o sofrimento dos que mais precisam e, principalmente, buscar salvar vidas.

Dra. Maria Nubia Moreira Melo, recebendo o certificado de patrimônio AMC da nossa Colaboradora Vanderly

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Dra. Maria Nubia Moreira Melo, é associada desde 21 de Julho de 1981

Assessoria da Deduc

Luciana Rocha Lopes da Costa Gerência de Extensão Em Saúde ESP

Alcançar esse novo perfil, coerente

Essemoderna.cenário de transformação tem colocado em questão aspectos rela tivos à formação do médico. Que perfil profissional a sociedade precisa? Liderança, empatia, colaboração, soli dariedade, comunicação, resolução de conflitos, trabalho em equipe, pensamento crítico e reflexivo são competências essenciais para o médico da Nesseatualidade.sentido, a questão da formação médica é um grande desafio na medida

doenças. Os estudantes muitas vezes têm dificuldades de entender o impacto dos fatores ambientais, sociais e comportamentais na etiologia do processo saúde-doença, porque frequentemente não estão familiarizados com contexto de vida dos seus pacientes.

Pedro Leão de Queiroz

As Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Medicina apontam para um novo perfil de egresso: “formação geral, humanista, crítica, reflexiva e ética, ..., com ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilita ção da saúde, nos âmbitos individual e coletivo, com responsabilidade social e compromisso com a defesa da cida dania, da dignidade humana, da saúde integral do ser humano e tendo como transversalidade em sua prática, sem pre, a determinação social do processo de saúde e doença”.

Estamos vivendo em um mundo em transformação. Volatilidade, incer teza, complexidade e ambiguidade são características cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas e da sociedade

que os currículos tradicionalmente estão organizados de forma fragmen tada, centrados no enfrentamento das

EDUCAÇÃO MÉDICA EM TRANSFORMAÇÃO: O PAPEL DO VOLUNTARIADO E RESPON SABILIDADE SOCIAL NA FORMAÇÃO DO MÉDICO DO SÉCULO XXI

Diretora de Educação e Extensão ESP

Olivia Andrea Alencar Costa

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A ideia central do Projeto é desen volver a cultura do voluntariado e liderança social entre os profissionais em formação, através de vivências e experiências de assistência e promoção de saúde a partir da realidade da popu lação em situações e cenários variados.

Exercer o caráter humanitário da pro fissão, dirigida à prática da solidariedade e do genuíno interesse pelas pessoas, suas famílias e comunidade pode ser um caminho para a formação integral do futuro médico, com as característi cas apontadas pelas diretrizes nacionais

essa demanda, uma parce ria entre a Associação Médica Cearense (AMC) e Escola de Saúde Pública do Ceará (ESPCE) está propondo o Projeto Voluntariado da AMC Jovem, que tem o propósito de reunir estu dantes de medicina e demais áreas da saúde em equipe multidisciplinar para prestarem atendimentos voluntários

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A ação voluntária pode ser uma impor tante estratégia para desenvolver essas competências no médico-aprendiz. Entendido como atividade não remu nerada em benefícios de outros, o voluntariado apresenta-se de diversas formas, desde uma assistência a indi víduos em situação de necessidade até esforços coletivos para melhorar a qualidade de vida de famílias e comu nidade. Em seu sentido mais amplo, está relacionado com respeito à dig nidade da pessoa humana, através da responsabilidade social, empatia e soli dariedade com o indivíduo em situação Alinhadosvulnerável.a

com as diretrizes nacionais e voltado às necessidades da população requer um padrão especial de formação diferente do modelo tradicional. O redesenho dos cursos deve incluir abordagens educacionais inovadoras, relacionando a necessária qualidade técnico-cientí fica com o seu papel social de formar médicos preparados para acolher o cuidado integral com as pessoas, no seu contexto epidemiológico, social, político, econômico e cultural.

em instituições filantrópicas do muni cípio de Fortaleza.

Observa-se com frequência a presença de sintomas de ansiedade, depressão e estresse entre os acadêmicos. Um

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E por fim, o estresse se demonstrou prevalente durante todo o curso com picos durante o fim do ciclo clínico e no último semestre da graduação, apresentando como prováveis causas a entrada no internato, a preparação para o exercício da profissão, as expec tativas sobre a residência e a decisão de escolha da especialidade médica.

FALTA NO CURSO DE MEDICINA?

CUIDADO COM A SAÚDE MENTAL DO MÉDICO: SERÁ ESSA A DISCIPLINA QUE

"Curar quando possível, aliviar quando necessário, consolar sempre", este afo rismo, atribuído a Hipócrates, define o compromisso do médico com os seus pacientes. No entanto, o olhar empático e gentil para si muitas vezes é esquecido em meio ao turbilhão de atividades desempenhadas por um único sujeito, o qual destinou anos de sua vida para adquirir a devida instru ção acadêmica e dedica diariamente horas intensas para o zelo com a saúde e o bem estar daqueles que procuram um conforto para as mais diversas injúrias. Por essa perspectiva, percebe-se a importância da discussão sobre saúde mental em todas as etapas da carreira médica: período acadêmico, residência e atuação profissional, tendo em vista a considerável pressão intrínseca à res ponsabilidade de cuidar de vidas.

estudo realizado por MOUTINHO et al. em estudantes de medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora encontrou, principalmente, sintomas ansiosos em acadêmicos do primeiro semestre, sendo levantadas diversas questões como as altas notas de corte para entrada no curso, a expectativa da sociedade sob o profissional em for mação, a nova rotina, o formato da grade e a intensa carga horária. Já os sintomas depressivos foram observados no fim do segundo semestre e durante o fim do ciclo básico, possivelmente devido à abdicação de horas de lazer, à diminuição da euforia inicial pela aprovação no concorrido curso e a frustração com o reduzido número de atividades práticas durante esse ciclo.

Quando não resolvidas, tais questões tendem a piorar durante a residência. Em concordância com essa afirmativa, MATA et al mostrou que os índices

Diretora do Voluntariado da AMC Jovem

Érica Batalha

Arthur Lopes Diretor de Promoções Culturaisda AMC Jovem

médico é confrontado com situações que ultrapassam os limites profissionais e atingem o âmbito pessoal causando Nesseadoecimento.sentido, as demandas psico lógicas dos acadêmicos de medicina precisam ser avaliadas e priorizadas de forma precoce, tendo em vista que estes serão os profissionais atuantes do amanhã e que o agravo à saúde mental se reflete não somente no detrimento de aprendizagem como promove um pos sível prejuízo no futuro atendimento profissional. É salutar promover dentro das universidades, em congressos e em canais de comunicação médica a dis cussão sobre os cuidados com a saúde mental, para que toda a dedicação e olhar empático com o paciente tam bém sejam voltados para o profissional médico que está atendendo.

MATA, D.; et al. Prevalência de Depressão e Sintomas Depressivos entre Médicos Residentes : Revisão Sistemática e Meta-análise. JAMA, v. 314, n. 22, p. 2373 - 2383, dez. 2015. Disponível em: <10.1001/jama.2015.15845> Acesso em: 13 ago 2022.

MOUTINHO, I.; et al. Depression, stress and anxiety in medical students: A cross-sectional comparison between students from dif ferent semesters. Revista da Associação Médica Brasileira, v. 63, n. 1, p. 21-2, jan. 2017. Disponível em <https://doi.org/10.1590/18069282.63.01.21> Acesso em: 13 ago 2022.

de depressão e de sintomas depressivos são elevados entre médicos residentes, se desenvolvendo por diversos fatores, como elevada carga horária e ambiente estressante. O autor também observou que a prevalência de sintomas depres sivos é semelhante entre especialidades e países, sugerindo que as causas sub jacentes de tais sintomas são comuns à experiência de residência em si. Os dados relatados permitem uma reflexão importante sobre o desgaste imposto aos profissionais durante esse período de aprendizados e de experiências, além de revelarem que muitos dos predisponentes à depressão são fatores modificáveis, que, quando identifica dos, são passíveis de resolução.

Passada a marcante fase da forma ção médica, enquanto profissionais, muitos médicos estão convictos de que “problemas pessoais e familiares, complicações e as doenças que afetam outras pessoas não podem afetá-los”. Linda Clever, em seu livro “ A saúde do médico”, apresenta um pensamento intrigante de que “o médico não tem seu próprio médico e apresenta uma extensão patológica da negação”, descrita por ela como “síndrome da invulnerabilidade médica”. Somado a isso, condições de trabalho não ide ais, como a falta de recursos para o atendimento da demanda do serviço, alta jornada de trabalho e instabili dade econômica podem influenciar negativamente na autorrealização dos profissionais. Por falta de preparo, o

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– Ah! Pra lá ele não vai, não! Eu prefiro levar

doenças mais complexas e/ou em condição de maior gravidade, o HIAS mantém um serviço de gerenciamento dos seus leitos, que cuida do remanejamento de pacientes entre as suas unidades e enfermarias, e providencia a transferência inter-hospitalar.

Depois de devolver o prontuário ao Serviço de Enfermagem, a auditora médica dirige-se à acompanhante do menino:

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A Dra. Zilda Barroso (nome fictício) é uma das médicas responsáveis por essa avaliação dos pacientes internados, e, após examinar uma criança na enfermaria desse hospital, ela concluiu que a mesma poderia ser transferida para outro hospital infantil, credenciado ao SUS, localizado na periferia de Fortaleza.

A alta demanda espontânea e a característica de centro de referência em Pediatria do Ceará fazem do HIAS um hospital com elevada taxa de ocupação, havendo uma enorme pressão pelo internamento em seus mais de trezentos Aleitos.excelência

Membro SOBRAMES

CAUSO MÉDICO: ROUBO DE MARIDO

Essa transferência dá-se, após criteriosa aval iação médica, dos enfermos estáveis, com diagnóstico firmado e tratamento resolutivo em curso, porém passível de ser continuado em hospital pediátrico geral, de menor grau de especialização. Com isso, é possível deso cupar leitos, aumentando o índice de giro, propiciando a hospitalização de mais crianças que, de fato, teriam maior benefício se fos sem cuidadas no HIAS.

dos seus atendimentos soma-se à complexidade dos serviços que a instituição presta, concorrendo, também, para justificar a acentuada procura por seus muitos leitos, que não dão vazão ao acolhimento de tan tas crianças necessitadas de hospitalização; não há intenção da direção do hospital, de internar, de qualquer jeito, lançando mão do recurso de espalhar macas pelos corredores, como acontece em outros hospitais públi cos, calejados na prática da superlotação de Alémpacientes.dozelo na admissão, consubstanciado em rigorosa triagem, visando hospitalizar, prioritariamente, as crianças portadoras de

Dr. Marcelo Gurgel

– Dona Sueli, sua criança está bem e pode ser transferida para o Hospital Infantil Dr. Aloísio Fernandes Leal – anunciou a Dra. Zilda.

morar com a nova “periguete”. Não voltou mais, nem pra ver a própria filha.

– Você acha que corre risco disso se repetir com você? – Inquiriu a Dra. Zilda.

– Num foi nada bom! O sacana, assim que o menino da outra teve alta, escafedeu-se e foi

– Quem é que “rouba” lá, para a senhora não querer internar o seu garoto? – Indagou a –médica.Tábem!

– Não é dos médicos de lá que eu falei, não, viu. Eu sei que eles não “roubam”.

– E o que aconteceu? Furtaram os pertences da Suzyane? Ela foi roubada?

meu filho direto pra casa, doutora.

– Qual foi o final dessa paquera?

– Infelizmente, não, D. Sueli! Ele faz uso de antibióticos caros e injetáveis. O tratamento requer acompanhamento médico.

– Você acredita que isso pode ocorrer com você, caso leve o seu menino para lá?

– Mas eu não aceito levar ele pro hospital que a doutora quer – proclamou a mãe.

– Que história é essa, D. Sueli? Nunca houve denúncia de roubo contra esse hospital.

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Vou contar. A minha vizinha, a Suzyane, internou lá a filhinha dela.

– Sim, doutora! Depois, eu já soube de várias mulheres que perderam os seus companhei ros nesse hospital. Lá é uma ladroagem de maridos, que só vendo; tem sempre umas mulheres descasadas ou mães solteiras que avançam no que é dos outros.

– Por favor, me diga a razão dessa sua recusa. É o melhor para o seu filho.

– Eu sei, doutora. É que lá tem muito roubo.

Fonte: SILVA, Marcelo Gurgel Carlos da. Medicina, meu humor! Contando causos médicos. 2.ed. Fortaleza: Edição do Autor, 2022. 144p. p.34-36.

– Sim, doutora! O meu marido é bem bonito e novo. Ele é dez anos mais novo do que eu. Se eu facilitar, as ladronas de marido pegam, né?

– Está bem! Acho que a senhora tem toda razão. É melhor não correr esse risco, de perder o esposo. Vou indicar a transferência do seu menino para o Hospital Infantil Dr. Álvaro Mota.

– Foi pior, doutora. Ela ficou como acompan hante da menina e o marido dela, ia sempre visitar as duas, mas ele só ia lá porque tava de namoro com outra mãe, a acompanhante de um menino internado na enfermaria ao lado.

– Tá ótimo, doutora! Lá não tem roubo de marido, não. Muito obrigada.

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