Amazônia Viva Ed. 33 / Maio 2014

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a importância da poesia, da criação em linguagem, em detrimento ao envelhecimento normal do corpo humano. Aos 15 anos, junto com os jovens Max Martins, Jurandyr Bezerra e Antônio Cumaru Leal, fundou uma academia de Letras ousada e irreverente, a Academia dos Novos. “Naquele período, o modernismo estava entrando em sua fase mais forte, com Carlos Drummond de Andrade. E esses quatro meninos resolveram fundar a Academia dos Novos com a finalidade de manter viva a poesia clássica contra a poesia moderna”, explica Edy-Lamar. A Academia existiu até 1945 e viveu sua fase áurea com a entrada de Benedito Nunes e Haroldo Maranhão. Naquele período, Haroldo conseguiu que as publicações da Academia, o jornal “A Pacotilha” e a revista “Bohemia”, fossem publicadas pela gráfica do jornal “Folha do Norte”, de seu avô Paulo Maranhão. O fim do grupo de jovens poetas foi devido à mudança de pensamento de Max sobre poesia e a entrada de Jurandyr Bezerra, na Academia Paraense de Letras aos 18 anos. Em 1963, Alonso Rocha tornou-se também imortal. Até o seu falecimento, em 2011, dedicou-se inteiramente às suas atividades na Academia Paraense de Letras, exercendo diversos cargos, tais como primeiro secretário. “Ninguém jamais fez igual ao seu trabalho realizado na Academia Paraense de Letras. Ele jamais faltou uma sessão de plenária”, relembra a biógrafa. Segundo a ensaísta, o poeta acreditava que a instituição precisava ser composta por intelectuais de alta envergadura, que fossem capazes de promover discussões importantes. Fiel amiga e defensora da memória de Alonso Rocha, Edy-Lamar D’Oliveira é autora de um livro de 500 páginas sobre o poeta. Nele, além da análise literária da obra, há informações sobre sua vida e aspectos específicos do fazer poético do autor. O trabalho, no entanto, ainda aguarda incentivos para a publicação

ILUSTRAÇÕES: JOCELYN ALENCAR

E

xistem muitas definições para o significado da palavra poesia. Para o poeta e pesquisador mexicano Octavio Paz, entre outras coisas, a poesia é a subversão do corpo; o momento em que o ser humano, por meio da linguagem, desrespeita a ordem natural das coisas e cria novas formas de existência. É preciso se ter isso em mente ao lembrarmos a vida daquele que foi eleito o quarto Príncipe dos Poetas do Pará, Raimundo Alonso Pinheiro Rocha. Autor de dois livros de poesia publicados, “Pelas Mãos do Vento” e “O tempo e o Canto”, Alonso Rocha tem como principal característica de sua poesia a rigidez com que se dedicou à forma do poema sem deixar de ser eclético. “Acredito que ele é um gigante em todas as formas de poesia. No entanto, sua especialidade é o soneto”, explica Edy-Lamar D´Oliveira, poetisa, ensaísta, amiga e biógrafa de Alonso Rocha. Segunda ela, sua relação com o poeta começou com uma grande admiração. “Sempre admirei os poetas sonetistas por sua capacidade de concisão. O Alonso era um estupendo sonetista. Ele, inclusive, foi escolhido como um dos 100 melhores poetas sonetistas do Brasil em todos os tempos”, afirma a estudiosa. Como outros artistas da palavra, como Castro Alves, Alonso Rocha descobriu sua vocação muito cedo. Aos 13 anos, em 1940, escreveu seu primeiro poema em uma situação dramática. “A poesia do Alonso explodiu num momento de dor. Quando ele perdeu a mãe. Ao voltar do enterro, escreveu o poema intitulado Órfão”, diz Edy-Lamar. Nesses versos, já é possível perceber a influência da poesia simbolista do seu pai, o também poeta, Rocha Júnior. O simbolismo se caracteriza pelo trabalho com elementos imagéticos da palavra. Um exemplo disso é a capa do livro “O tempo e o Canto”. Segundo a biógrafa, o poeta optou por grafar a palavra “tempo” com a primeira letra em minúscula e a palavra “canto” em maiúscula para evidenciar


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