Revista Amazônia Viva ed. 41 / janeiro de 2015

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REVISTA ENCARTADA NO JORNAL O LIBERAL. NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE.

JANEIRO 2O15 | EDIÇÃO NO 41 ANO 4 | ISSN 2237-2962

A ÁGUA E A CIDADE DIANTE DA CRISE GLOBAL DE ABASTECIMENTO NOS GRANDES CENTROS URBANOS, O QUE A BELÉM DE 399 ANOS TEM A ENSINAR SOBRE O USO SUSTENTÁVEL DESSE RECURSO TÃO IMPORTANTE PARA A REGIÃO?

REALIZAÇÃO

PATROCÍNIO



Para um mundo com novos valores.


da editoria

TARSo SARRAF

puBlicação menSal DELTA PUBLICIDADE - Rm GRAPH EDIToRA Janeiro 2015 / edição nº 41 ano 4 iSSn 2237-2962 presidente LUCIDéA BATISTA mAIoRAnA presidente executivo RomULo mAIoRAnA JR. diretor Jurídico RonALDo mAIoRAnA diretora administrativa RoSÂnGELA mAIoRAnA KzAn

pARA TODOs Os lADOs

A água em abundância é um elemento presente no dia a dia dos moradores de Belém, seja da cidade grande, da periferia e das ilhas.

rEpENsAr o uso DA ÁGuA NEstE ANo Nesta primeira edição de 2015

e sustentável do recurso natural se

procuramos festejar os 399 anos de

tornou uma discussão de primeira

Belém do Pará sob uma abordagem

grandeza. No Brasil, talvez a ques-

jornalística diferente. Em nossa re-

tão tenha chamado mais atenção

portagem de capa e nas demais se-

nos últimos meses devido à crise

ções desta revista você vai perceber

de abastecimento no sistema Can-

como a capital paraense possui um

tareira, em São Paulo. As torneiras

significado intrínseco com as ques-

secas por longos meses e a impo-

tões urgentes da Amazônia, com

tência das autoridades diante do

sua gente e com seu desenvolvi-

problema fizeram o País se pergun-

mento socioambiental e cultural.

tar sobre o que fazer numa situação

4 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

diretor industrial JoÃo PoJUCAm DE moRAES FILHo diretor corporativo de Jornalismo WALmIR BoTELHo D’oLIVEIRA diretor de novos negócios RIBAmAR GomES diretor de marketing GUARAnY JÚnIoR diretores JoSé EDSon SALAmE JoSé LUIz Sá PEREIRA conselho editorial RonALDo mAIoRAnA JoÃo PoJUCAm DE moRAES FILHo WALmIR BoTELHo D’oLIVEIRA GUARAnY JÚnIoR LázARo moRAES REDAÇÃo Jornalista responsável e editor-chefe FELIPE JoRGE DE mELo (Srte-pa 1769) coordenação geral LUCIAnA SARmAnHo editor de arte FILIPE ALVES SAnCHES (Srte-pa 2196) pesquisador e consultor técnico InoCÊnCIo GoRAYEB

Para nossa matéria principal

como essa. Na Amazônia, segundo

Colaboraram para esta edição o liberal, Vale, agência pará de notícias, agência Brasil, museu paraense emílio goeldi, universidade Federal do pará, Fundação cultural do pará - oficinas do curro Velho (acervo); camila machado, Fabrício Queiroz, Victor Furtado, anderson araújo, moisés Sarraf, abílio dantas, Brenda pantoja, Bruno rocha, natália mello, Sávio oliveira, rosana medeiros, João cunha, Vito gemaque (reportagem); moisés Sarraf, Fabrício Queiroz, Janine Bargas (produção); hely pamplona, Fernando Sette, tarso Sarraf, roberta Brandão, everaldo nascimento (fotos); inocêncio gorayeb (artigo) andré abreu, leonardo nunes, Jocelyn alencar, Sávio oliveira, márcio euclides (ilustrações); alexsandro Santos (tratamento de imagem).

escolhemos um tema que está na

especialistas, uma realidade dessa

moda, tanto na boca da imprensa, dos

envergadura dificilmente será vista

FoTo DA CAPA ilha do Combu, por Tarso Sarraf

ambientalistas, dos pesquisadores e

nos próximos séculos. Mas isso não

como da população em geral. Liga-

significa que estamos em uma zona

AmAzônIA VIVA é editada por delta publicidade/ rm graph ltda. cnpJ (mF) 03.547.690/0001-91. nire: 15.2.007.1152-3 inscrição estadual: 158.028-9. avenida romulo maiorana, 2473, marco - Belém - pará.

mos a TV, acessamos um site, e, cada

de conforto. Precisamos adotar ini-

amazoniaviva@orm.com.br

vez mais, vemos notícias - de todos os

ciativas que nos façam administrar

tipos, sérias e sensacionalistas - so-

melhor a água que temos.

bre o futuro do “líquido precioso”.

FELIPE JORGE DE MELO Editor-chefe

diretora comercial RoSEmARY mAIoRAnA

E como ela é símbolo de vida,

A necessidade do bom uso da

purificação e renovação, vamos nos

água nunca foi um segredo uni-

esforçar para que este novo ano seja

versal para ninguém, mas parece

um rio de possibilidades para uma

que somente de 20 anos para cá a

Belém melhor, que corre rumo aos

preocupação com a gestão racional

400 anos da cidade.

JANEIRO DE 2015

produção

realiZação

patrocÍnio

reViSta impreSSa com o papel certiFicado pelo FSc - ForeSt SteWardShip council


JANEIRO 2O15

neSta edição

EDIÇÃo nº 41 / ANO 4

ÁGuAs DA AMAzÔNIA

Mesmo longe de uma crise de abastecimento, como a que assola o Estado de São Paulo, é preciso ser cada vez mais consciente do uso sustentável desse recurso. ASSuNTO DO MÊS JULIA RoDRIGUES / DIVULGAÇão

RoBERTA BRANDão

HELy PAmPLoNA

RoBERTA BRANDão

16

36 54

58 subsIstêNCIA

EstrobosCÓpICo

Coordenadora do

o guitarrista Leo Cher-

IGuAlDADE

Laboratório de Biologia

roMÂNtICo

mont e o baterista Arthur

A doutora em Antropolo-

Pesqueira e manejo dos

o vocalista do grupo de

Kunz, do Duo Strobo,

gia Social, marilu Campe-

Recursos Aquáticos

pagode Nosso Tom, Júlio

fazem experimentações

lo, dedica seus estudos

da UFPA, a professora

Cézar, celebra com os

inovadoras entre luz e

à cultura, aos compor-

Victória Isaac diz que a

outros cinco integrantes

som, em que os elemen-

tamento e à religião dos

atividade pesqueira deve

da banda o sucesso que

tos se misturam criando

africanos que se fixaram

ser mais valorizada como

começou a despontar há

um espetáculo à parte

na Amazônia.

geradora de economia.

15 anos em Belém.

em suas apresentações.

QuEM É?

OuTrAS CABEçAS

DEDO DE PrOSA

ArTE PESQuiSADA

4 6 7 11 13 15 17 17 18 19 19 20 20 21 21 22 24 46 49 49 50 60 62 63 65 66

E MAIS DA EDiTOriA AS MAiS CurTiDAS PriMEirO FOCO TrÊS QuESTõES AMAZÔNiA CONNECTiON PErGuNTA-SE Eu DiSSE APPliCATiVOS COMO FuNCiONA FATO rEGiSTrADO DEu N’O liBErAl CuriOSiDADES DA BiODiVErSiDADE ElES SE ACHAM DESENHOS NATurAliSTAS CONCEiTOS AMAZÔNiCOS EM NÚMErOS OlHArES NATiVOS COMPOrTAMENTO SuSTENTÁVEl BONS EXEMPlOS MuDANçA DE ATiTuDE ViDA EM COMuNiDADE MEMÓriAS BiOGrÁFiCAS AGENDA FAçA VOCÊ MESMO BOA HiSTÓriA NOVOS CAMiNHOS

JANEIRO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 5

TARSo SARRAF

38


ASMAISCURTIDAS DESTAQUES DAs EDIÇões ANTERIORes

GINA lobrista carlos borges

Excelente a entrevista com a cantora Gina Lobrista (“Índia apaixonada pelo Ver-o-Peso”, Dedo de Prosa, dezembro de 2014, edição nº 40). Gostaria que a revista tivesse mais reportagens com esses artistas ainda não tão conhecidos pela grande mídia. Maria Telles Belém-Pará

estamos todos apaixonados

A entrevista com a cantora Gina Lobrista na edição passada recebeu o maior número de curtidas e comentários até hoje no Facebook da revista. A “índia apaixonada” conquistou o coração de uma legião de leitores. hely pamplona

ANIMAIS

A foto mais acessada e comentada em nosso Instagram, na edição passada, foi a desse faminto suí-azul. Clicado pelo experiente Hely Pamplona, que dispensa apresentações, o passarinho foi flagrado no momento em que devorava um suculento mamão, em um dos vastos pomares da região marajoara de Soure.

ÁREAS VERDES

carlos borges

Prezado jornalista Thiago Barros, lendo o seu artigo “Áreas Verdes, um Direito dos Cidadãos” (Novos Caminhos, dezembro de 2014, edição nº 40), parabenizo-lhe pela sensibilidade com que defende o meio ambiente como um direito comum e não apenas uma bandeira dos militantes, mas uma obrigação do governo e da sociedade. Nelson Chaves Belém-Pará

Para se corresponder com a redação da Amazônia Viva envie comentários,

fb.com/amazoniavivarevista

dúvidas, críticas e sugestões para o email amazoniaviva@orm.com.br ou escreva

instagram.com/amazoniavivarevista twitter.com/amazviva 6 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2015

A beleza amazônica da cantora Gina Lobrista rendeu a melhor capa da Amazônia Viva de 2014. Fernanda Teixeira Belém-Pará

Em nome de todos os animais que já salvamos e os que ainda vamos salvar, o “Amor de Patas” agradece a equipe da revista Amazônia Viva pela oportunidade de apresentar nosso trabalho voluntário (“Um ato de amor pelos animais abandonados”, Comportamento Sustentável, dezembro de 2014, edição nº 40). Esperamos que mais e mais pessoas participem dessa corrente do bem. Associação Amor de Patas Belém-Pará

o doce encanto do pássaro azulado

Siga a Amazônia Viva nas redes sociais e compartihe a edição digital, DISPONÍVEL gratuitamente no issuu.com/amazoniaviva

A internet tem mesmo o poder de transformar uma pessoa anônima em uma celebridade. E a Gina Lobrista merece esse momento. Kubitschek Nunes Benevides-Pará

para o endereço: Avenida Romulo USE um leitor de QR Code para acessar A EDIÇão digital de dezembro

Maiorana, 2473, Marco, Belém - Pará, CEP 66 093-000 ou FAX: 3216-1143.


o QUE é NoTÍCIA PARA A AmAzôNIA FERNANDo ARAÚJo / ARQUIVo o LIBERAL

PRImEIRoFOCO

DE olHo No Céu

sIstEMA MoNItorA tEMpo E ClIMA EM ÁrEAs DE opErAçõEs DA VAlE No NortE Do brAsIl PáGInA 8

mESTRADo uFpa vai inaugurar o primeiro

DESTAQUE Designer de joias paraense,

curso profissional de pós-graduação em gestão de risco e desastre na amazônia.

Brenda Lopes tem o trabalho selecionado para o concurso AuDITIONS Brasil 2014-2015. PáG.11

PáG.9

PRESERVAÇÃo a ong WWF criou a campanha “adote uma espécie” para proteger a arara-azul e o boto-cor-de-rosa da amazônia. PáG.15

JANEIRO DE 2015

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primeiro Foco

pArA MoNItorAr o ClIMA DA rEGIão

C

huvas excessivas, ventos fortes, alta probabilidade de seca ou mesmo qualquer alteração incomum na vazão de rios pode trazer impactos econômicos, sociais e ambientais sobre uma cidade ou sobre a operação de uma empresa. Para minimizar este problema, o Grupo de Pesquisa em Mudanças do Clima do Instituto Tecnológico Vale (ITV), de Belém, desenvolveu o Sistema de Monitoramento e Previsão de Tempo da Amazônia Oriental, o Forecast Network - o primeiro do tipo desenvolvido inteiramente por uma empresa privada no Brasil. A ferramenta monitora as condições de tempo e clima para emitir boletins diários, que ajudam no planejamento das ações. A previsão do tempo feita por instituições de meteorologia se baseia em modelos globais, destinadas a um país ou a um estado. Esta é a diferença para o sistema do ITV, que é feito em uma escala menor. “Enquanto

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JANEIRO DE 2015

os institutos identificam um sistema de grande escala, por exemplo, uma zona de convergência intertropical, que afeta vários estados, o nosso sistema é mais detalhado. Ele permite estudar fenômenos de escala regional, um conjunto de nuvens carregadas que pode afetar a área do porto ou da mina”, explica Bergson de Moraes, um dos pesquisadores do grupo. O sistema alcança as regiões onde estão localizadas as minas de minério de ferro N4 e N5, em Carajás; o Terminal de Ponta da Madeira, em São Luís; e todos os 893 quilômetros da Estrada de Ferro Carajás (EFC), que corta 27 municípios do Pará e do Maranhão. Os registros mostram os dados de chuva nos últimos dias e as previsões regionalizadas de 24h, 48h e 72h de antecedência. De posse destas leituras, os responsáveis pelas áreas de logística, porto e meio ambiente podem adotar medidas para reduzir os custos provocados por eventos naturais extremos.

NELDSoN NEVES / ARQUIVo o LIBERAL

“Na estação chuvosa, por exemplo, a programação de embarque de minério pode ser alterada de acordo com o volume pluviométrico previsto para um determinado período. As informações podem ainda evitar danos materiais, como o que ocorreu em 2009, quando uma chuva muito forte elevou o nível do rio Vermelho, em Marabá, e inundou parte da ferrovia. Uma composição ficou parada no local, parcialmente submersa”, esclarece. Atualmente, o Forecast Network utiliza os dados históricos de 22 estações meteorológicas, mas o projeto prevê a construção de 12 estações próprias, sendo 10 meteorológicas e duas hidrológicas, para controlar o nível de vazão dos rios. Cinco delas já foram inauguradas no Maranhão. Os pesquisadores do ITV querem disponibilizar a tecnologia para os núcleos de meteorologia no Pará e no Maranhão, além de capacitar pesquisadores desses órgãos públicos.

chuVA E sOl

A Amazônia é conhecida pelos intensos períodos de chuva e também por um verão “quente e úmido”

12

EsTAÇõEs pRópRIAs DEVEm sER cONsTRuídas pelo sistema Forecast Network, do ITV, na Amazônia


Projeto Pacto das águas / divulgação

CURSO

Desastre natural

A Universidade Federal do Pará (UFPA) abrirá vagas para o novo curso de Mestrado Profissional em Gestão de Risco e Desastre na Amazônia, vinculado ao Instituto de Geociências. A ideia é integrar uma rede de instituições que serão apoiadas para formar pessoal com atuação na área de mitigação de eventos climáticos extremos. “O convite para participar dessa rede foi uma oportunidade para mobilizar pesquisadores em torno de uma iniciativa de relevância para a população local, sobretudo para aqueles que são recorrentemente afetados por desastres naturais na região amazônica”, pontuou o pró-reitor de Pesquisa e PósGraduação, professor Emmanuel Tourinho. As linhas de pesquisa se dividirão em

Projeto gera renda para índios e seringueiros Em sete anos de existência, o projeto Pacto das Águas, patrocinado pela Petrobras, gerou mais de R$ 5 milhões em renda para seringueiros e índios de tribos como Cinta Larga, Rikbaktsa, Gavião e Arara. A iniciativa promove a conservação de matas e mananciais de água, além do manejo sustentável de culturas locais na Amazônia mato-grossense. Além disso, já envolveu 3 mil pessoas na extração sustentável e comercialização de quase duas mil toneladas de castanha-do-pará e 90 toneladas de lá-

“Ameaças Naturais no Ambiente Amazônioportunidade

O Pacto pelas Águas já rendeu mais de R$ 5 milhões para seringueiros e índios

tex. Mais de 300 pessoas já foram capacitadas em oficinas para atuarem como agentes ambientais e gestores de negócios com foco em estratégias de desenvolvimento local e manejo florestal. A redução do êxodo rural e a preservação de dois mil hectares de floresta estão entre os benefícios destacados pelo coordenador do projeto, Plácido Costa. “Também fortalecemos a organização política e social dos índios e seringueiros e unimos povos que foram inimigos no passado na disputa pelos recursos da floresta”.

co” e “Vulnerabilidade de Populações em Áreas de Risco”.

ICMBIO

Áreas protegidas

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) lançou a revista e o site “Práticas inovadoras na Gestão de Áreas Protegidas”, apresentando 27 experiências bem sucedidas na gestão de Unidades de Conservação (UC) desenvolvidas pelos servidores. Os projetos foram selecionados por solucionarem problemas do dia a dia das unidades e pelo potencial de replicabilidade. “Nestas experiências, as comunidades abraçaram as UCs porque as unidades souberam se

andré abreu

VOA, VOA, INSETINHO

abrir e reconhecer que sem essa participação nós não teremos chance”, destacou o

Há cerca de 480 milhões de anos surgiram os primeiros insetos na Terra. Mas

presidente do ICMBio, Roberto Vizentin.

somente 80 milhões de anos depois é que eles conseguiriam voar, aponta

O objetivo da publicação é qualificar a

uma pesquisa publicada na revista “Science”. O estudo também mostra que

gestão e promover a troca de experiências

os insetos e plantas terrestres se originaram ao mesmo tempo. As libélulas

sobre temas comuns às 320 unidades de

foram as primeiras a desenvolver asas, além de fortes mandíbulas.

conservação em todo o país. FOTOS: accultura.wordpress.COM E Marcello Casal Jr / agência brasil JANEIRO DE 2015

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primeiro Foco

NEGÓCIOS

MONITORAMENTO

Para contribuir com o desenvolvimento sus-

sas em Gestão de Negócios. o curso reuniu

cElulAREs sERãO usADOs pARA pROTEGER A flOREsTA AmAzôNIcA

participantes de Parauapebas, Canaã dos

A oNG norte-americana Rainforest Connection entrou em contato com índios Tembé da

Carajás e marabá, que aprenderam mais sobre

terra indígena Alto Rio Guamá para propor a implantação de um projeto que pretende

Gestão Estratégica, Gestão Financeira, Gestão

instalar telefones celulares em copas de árvores para fiscalização da terra contra invasões

de Pessoas e Sustentabilidade, com foco em

de madeireiras ilegais e derrubadas sem controle de árvores. o sistema começará a fun-

segurança, saúde e meio ambiente. A capa-

cionar no início deste ano e consistirá em uma rede de celulares alimentados por energia

citação foi realizada pela REDES - Inovação e

solar que serão escondidos nas copas das árvores para monitorar os 2.800 km2 da terra dos

Sustentabilidade Econômica, uma iniciativa da

Tembés. os aparelhos estarão programados para captar sons de caminhões ou motosser-

Federação das Indústrias do Estado do Pará

ras e enviar alertas aos responsáveis por guardar a reserva.

tentável de fornecedores no sudeste do Pará, a Vale contribuiu na certificação de 14 empre-

(Fiepa), em parceria com a mineradora por

ENtENDA CoMo FuNCIoNArÁ o MoNItorAMENto

meio do Programa Inove.

VALE / DIVULGAÇão

SAÚDE

FAMílIAs Em Canaã dos Carajás, no sudeste paraense, 158 profissionais de saúde já participaram de oficinas de capacitação realizadas pelo projeto Ciclo Saúde. A iniciativa é uma parceria entre a Fundação Vale, Secretaria de Saúde do município, Centro de Promoção da Saúde (Cedaps) e Universidade Estácio de Sá. A ideia é colaborar para melhorar as condições de trabalho das equipes de Estratégia da Saúde da Família, fortalecendo a atuação

1 2 3

4 5 6

CAPTURA DE ENERGIA os celulares serão colocados na copa das árvores e serão alimentados pela energia armazenada por pequenos painéis solares acoplados neles VIGÍLIA os microfones dos celulares ficarão ligados por tempo integral e utilizarão um software especial.

AVISO Sons de alto volume e com timbre de motosserras ou tratores, ao serem detectados, acionarão sinais de rádio que serão emitidos pelos celulares. COMUNICAÇÃO os sinais serão captados pela rede local de telefonia celular e enviado a outros telefones, que ficam em poder de quem protege a área. LOCALIZAÇÃO o local de onde o sinal partiu será indicado num mapa por um aplicativo. Será possível ligar para o aparelho e ouvir os sons daquela área.

CONSEQUêNCIAS Checadas as informações, as autoridades deverão ser acionadas para tomar providências.

junto à comunidade e ampliando a efetividade do atendimento oferecido. Além das aulas presenciais, os participantes terão acesso a uma plataforma on-line disponibilizada para viabilizar uma capacitação permanente. Ainda dentro do projeto, as dez Unidades de Saúde Básica (USB) de Canaã dos Carajás já começaram a receber instrumentos e utensílios que também vão contribuir para a melhoria do atendimento à comunidade. Ao todo são 384 itens entre estetoscópios, aparelhos de nebulização e de pressão, além de geladeiras para conservar vacinas e mesas para exames clínicos. fOntE: RAInfORESt COnnECtIOn

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JANEIRO DE 2015

INFoGRAFIA : mÁRCIo EUCLIDES

CErtIFICADos


FUNDAÇÃO VALE/ DIVULGAÇÃO

TRÊSQUESTÕES

Designer do pará é selecionada em concurso mundial A designer de joias Brenda Lopes, integrante do Programa Polo Joalheiro do Pará, foi uma das selecionadas para a etapa classificatória da 11ª edição do AuDITIONS Brasil 2014-2015, um dos maiores concursos de design de joias em ouro

Fundação Vale apoia combate à violência sexual

A violência sexual contra crianças e adolescentes é o tema da série “Que Abuso é Esse?”, realizada pelo Canal Futura e Fundação Vale. O programa foi lançado em alusão ao Dia Internacional dos Direitos Humanos, celebrado em 10 de dezembro, e utiliza uma linguagem lúdica para discutir o assunto. Os protagonistas são três personagens de marionetes - a professora Elvira, o agente de saúde Damião e a dona de casa Neusa. Em oito episódios, são abordados temas como a definição de abuso sexual, as diferenças entre o carinho afetuoso e o abuso, as formas de reconhecimento dos indícios

de abuso e os caminhos da notificação da denúncia. Além da exibição na tela do Futura às quintas-feiras (com reprise aos domingos), o programa será usado pela Fundação por meio de seu programa social de enfrentamento à violência sexual infantil, Proteger é Preciso, nos estados de atuação da Vale. O conteúdo foi desenvolvido em conjunto por 55 organizações integrantes da rede de proteção em todo o País. A parceria entre o Futura e a Fundação Vale já resultou em duas séries anteriores: “Que Direito é Esse?”, sobre direitos humanos, e “Que Trabalho é Esse?”, acerca do trabalho escravo.

RECADO DADO

Os personagens da série “Que Abuso é Esse?” usam uma linguagem lúdica para discutir temas, como abuso contra crianças e adolescentes

enviados 905 projetos de todas as regiões do Brasil. O Pará participou com 46 inscrições. Brenda conta um pouco da expectativa de estar participando do evento, que divulga o resultado final em maio.

Como surgiu a ideia de participar do concurso? Em 2012, eu já tinha participado desse evento, mas na época eu ainda era estudante. Então decidi me inscrever de novo, mas dessa vez como designer. Quis participar também pela importância do concurso e por ser um grande salto para a carreira profissional.

No que consiste o projeto AuDITIONS Brasil?

3

É O NÚMERO DE SÉRIES EDUCATIVAS

produzidas pelo canal Futura e a Fundação Vale

NOVA ATLÂNTIDA andré abreu

deste ano é “Recombinações”. Foram

O tema dessa edição é “recombinações”. Na minha peça eu tive a ideia de unir o mundo das joias e o mundo da moda. Uma combinação de materiais e estilo. É um colar na frente e outro atrás, fazendo dessa conexão um colar só.

Qual a expectativa na participação do evento? Quando vi que tinha sido selecionada fiquei muito emocionada. Essa conquista

Viver de baixo d’água é o projeto de uma empresa japonesa para um futuro

já é muito gratificante. Acho muito impor-

“verdadeiramente sustentável”. O plano é construir uma cidade dentro de um

tante verem o que estamos produzindo

globo flutuante de 500 metros de diâmetro, “maximizando o uso dos recursos

no Pará. É bom para divulgar o trabalho

das profundezas do mar”. A empresa estima que a primeira unidade fique

do Estado, nossos estilos e ideias.

pronta em cinco anos, a um custo de 3 trilhões de ienes (R$ 66 bilhões). JANEIRO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 11

arquivo pessoal

do mundo. O tema da edição


primeiro Foco

EMpREENDEDORISMO

PORTO

CHINA

Acordo assinado entre o Terminal marítimo Ponta da madeira, no maranhão, e o Porto de Qingdao, na China, abre caminho para aumentar a movimentação de minério de ferro entre os dois países. Pelo documento, o Brasil e o país asiático irão intensificar a troca de informações, boas práticas e estudos de interesse comum e benefício mútuo em relação a comércio e promoção de rotas marítimas. Isto significa buscar otimização de processos, cooperação para desenvolvimento, planejamento e gestão portuária, uso e promoção de produtos de baixo carbono, entre outras ações que contribuem para a economia de energia e redução de emissões. o Ponta da madeira é capaz de receber cinco navios ao mesmo tempo e é usado

quAlIfIcAÇãO pARA mIcROEmpREsAs No mês passado, Vale e Sebrae assinaram convênio de cooperação técnica e financeira que prevê investimentos de R$ 4,9 milhões para qualificar e capacitar cerca de 500 micro e pequenas empresas dos estados do Espírito Santo, maranhão, mato Grosso do Sul, minas Gerais e Pará. Com duração de dois anos, o convênio tem como objetivo promover a competitividade e o desenvolvimento sustentável de potenciais fornecedores da cadeia de valor da empresa. “Cada grande empresa tem suas necessidades específicas, com requisitos de compra e distribuição de seus produtos, por isso o Sebrae faz a ponte, identificando as oportunidades e preparando

os pequenos fornecedores e distribuidores a serem mais competitivos no mercado”, destaca o presidente do Serviço, Luiz Barretto. o diretor de Inteligência e Desenvolvimento de Suprimentos da Vale, Rodrigo Colombaretti, acredita que regionalizar as compras de materiais e serviços é uma das principais formas de construir um legado positivo. “Considerando os níveis de qualidade necessários para nossas operações e projetos, é necessário desenvolver e qualificar potenciais fornecedores, para que seja possível maximizar o volume de negócios locais de forma atrativa e sustentável para toda a cadeia do negócio”, afirma.

principalmente para exportar minério de ferro, manganês, concentrado de cobre e ferro-gusa e soja de terceiros. Considerado um dos maiores portos do mundo, Qingdao é um importante centro para

CARRAPATO

trAtAMENto

JAQUELINE mATIAS / EmBRAPA mG

ferro gusa produzidos pela Vale, além de

pAísEs lAtINos FIrMAM ACorDo AMbIENtAl

o comércio internacional no Pacífico e

A saliva do carrapato Amblyom-

recebe mais de 100 milhões de toneladas

ma cajennense, conhecido como

de minério de ferro por ano.

carrapato-estrela, pode ajudar

restar 20 milhões de hec-

no desenvolvimento de um medica-

tares foi assumido pelos

mento contra o câncer. A partir dela é

países do México, Peru,

TOXINA

bEttINA FErro

O compromisso de reflo-

produzida uma molécula, descoberta

Guatemala, Colômbia,

Secreção abundante da saliva, identificada

por pesquisadores do Instituto Butantan,

Equador, Chile e Costa

cientificamente como sialorreia, é uma

em São Paulo. o estudo identificou que a proteína encontrada no parasita

Rica durante a Confe-

das consequências de paralisia cerebral e

era capaz de destruir tumores cancerígenos sem causar danos a células

rência Climática das

agora tem na toxina botulínica uma opção

saudáveis. Após testes bem-sucedidos em camundongos e coelhos, o teste

nações Unidas (COP20),

comprovada de tratamento. A eficácia

da nova droga em humanos depende da autorização da Agência Nacional

em Lima. A medida foi

da substância foi atestada em um estudo

de Vigilância Sanitária (Anvisa).

batizada como “Inicia-

desenvolvido no Instituto Paraense de Aplicação de Toxina Botulínica (IPAT),

tiva 20x20”, pois visa à

ÁGUA

recuperação de terras

vinculado ao Hospital Universitário Bettina

bArCArENA

Ferro de Sousa. A toxina é usada para redu-

Um projeto da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) busca qualidade

terá US$ 365 milhões em

zir a produção de saliva entre 70% e 80%

de vida na comunidade ribeirinha de Ilha das onças, no município de Barcare-

apoio de parte de inves-

em pacientes que sofrem de contraturas

na, e foi o grande vencedor na categoria “Ensino” do Prêmio Agência Nacional

tidores privados. A meta

musculares crônicas, espasmos faciais e

das Águas 2014. Intitulado “Promovendo a Sociobiodiversidade: Restauração

é reduzir as emissões de

de membros, que também são sequelas de

Ambiental com Geração de Renda em Comunidades Ribeirinhas na Amazônia”,

gases de efeito estufa,

Acidente Vascular Cerebral (AVC). Atual-

a meta é implantar um modelo de desenvolvimento sustentável, melhorando

gerados pelo desmata-

mente, em torno de duas mil pessoas já

também a renda de comunidades tradicionais. Pelo menos mil pessoas já foram

mento e pela mudança

fazem o tratamento com a toxina no IPAT.

beneficiadas com as ações do projeto.

no uso do solo.

12 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2015

degradadas até 2020 e


TARSo SARRAF / ARQUIVo o LIBERAL

AmAzônIACONNECTION

ColÔMbIA EstuDA A populAção DE MArAbÁ

Um diagnóstico da realidade da participação popular na elaboração de políticas públicas no contexto da América Latina está sendo construído por universidades TRADIÇãO

A Festa da marujada foi um dos temas do trabalho vencedor do prêmio “Escola Voluntária”, em São Paulo

20

muNIcípIOs sãO AlcANÇADOs

pela Rádio Educadora Fm, do município de Bragança, no nordeste paraense

brAGANçA GANHA DEstAquE EM prêMIo NACIoNAl A iniciativa de apresentar reportagens e programas da Rádio Educadora FM, de Bragança, no nordeste paraense, rendeu aos estudantes da Escola Rio Caeté o segundo lugar no prêmio nacional “Escola Voluntária”, em São Paulo. A transmissão é feita pela Igreja local e alcança 20 municípios, em uma área de 68 mil km². A conquista chama atenção para o universo amazônico, por abordar o cotidiano e os atrativos turísticos de Bragança. Nesse contexto estão, além da hospitalidade dos cidadãos bragantinos, as particularidades como a Festa da Marujada, a Igreja de São Benedito, construí-

da por escravos, a fartura de pescado, farinha e frutas regionais, a música com o uso da rabeca, e a praia oceânica de Ajuruteua. O coordenador do projeto “Aluno Repórter”, o professor Roberto Amorim, também foi premiado como Educador Destaque 2014. Para o bispo de Bragança, dom Luís Ferrando, o trabalho da rádio católica contribui para a formação dos estudantes, capacita jovens para o mercado de comunicação e integra comunidades escolares, pois ao produzirem os programas, eles passam a conhecer conteúdos que não estão no currículo escolar.

da região. Coordenado pela Universidade de Los Andes, da Colômbia, o projeto conta com parcerias na Bolívia, no Equador e no Brasil, onde o Laboratório de Justiça Global e Educação em Direitos Humanos da Amazônia (LAJUSA) integra a rede de pesquisa. Em cada país, diferentes políticas sociais são observadas como o direito das populações indígenas, o combate a violência de gênero e o acesso à moradia, área de interesse da pesquisa brasileira. Com o projeto “A participação ativa cidadã pela luta à moradia”, o LAJUSA investiga como a população de marabá integra os conselhos deliberativos sobre moradia no município. Em uma segunda etapa do projeto serão promovidas ações de empoderamento da comunidade para que eles conheçam as instâncias de participação popular e possam ser atores ativos na construção das políticas de habitação locais. Para a coordenadora do laboratório, professora Paula Arruda, a experiência deverá gerar impactos tanto no atendimento às demandas da comunidade quanto na visualização dos resultados. “muitas vezes, a universidade pesquisa ‘sobre’ e não ‘com’. E na maioria das vezes sequer volta para apresentar os resultados porque

ANDRé ABREU

GrAFItE pré-HIstÓrICo

eles foram como um objeto de pesquisa e não como um ator participante, que é o

o Homo erectus, que viveu entre 1,8 milhão de anos e 300 mil anos atrás, já

que eles também reivindicam”, diz.

praticava uma forma rudimentar de arte: gravuras. Um padrão em zigue-za-

Ela acredita que a experiência deverá

gue, com idade estimada em 500 mil anos, foi encontrado em uma concha na

gerar resultados que garantem a defesa

África do Sul. Registros parecidos de destreza manual costumam ser aponta-

e a promoção dos direitos humanos.

dos como indícios de uma “revolução mental” do ser humano. JANEIRO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 13


primeiro Foco

pRODuTOREs DE pARAGOmINAs E ImAzON lANÇAm puBlIcAÇõEs ALIMENTOS

proDução

A Cooperativa mista de Produtores de Alimentos e Artesanatos de Serra Pelada (CoomIPASP) inaugurou a nova sede, após reforma total e ampliação do espaço, melhorando a capacidade produtiva da entidade e contribuindo com a normatização dos produtos para atender padrões sanitários exigidos pelo mercado de alimentos. A expectativa agora é que a produção de banana cresça de 600 para 1.200 cachos por mês e com isso o doce de banana, que é especialidade da cooperativa, chegue a 6 mil unidades. A iniciativa faz parte da estratégia de geração de trabalho e renda da Fundação Vale, que busca fortalecer

o projeto “Pecuária Verde”, que conta com o apoio do Fundo Vale desde 2011, lançou em Belém duas publicações com dados e resultados das atividades desenvolvidas no Estado em 2014. o material foi apresentado durante evento de encerramento do programa, organizado em parceria com o Sindicato dos Produtores Rurais de Paragominas (SPRP). o projeto foi uma aposta nas boas práticas agropecuárias baseada na intensificação da pecuária, reduzindo o desmatamento por abertura de novas áreas para pastagens, melhorando a rentabilidade do produtor e aindam provando que é possível atrelar a conservação do meio ambiente com a atividade. A primeira publicação, “ITR – Imposto Territorial Rural”, do Instituto do Homem e do meio Ambiente da Amazônia (Imazon), mos-

tra que na Amazônia pessoas desmatam e ocupam terras públicas aguardando a valorização futura, o que gera perdas ambientais, sociais e econômicas. A segunda publicação, “Pecuária Verde – Produtividade, legalidade e bem-estar na fazenda”, do SPRP, traz a experiência do modelo de pecuária em Paragominas, bem como seus desafios. Além disso, apresenta depoimentos de produtores e detalhamento do que é a pecuária verde. Um dos grandes resultados do projeto é a mudança de cultura e melhoria da qualidade de vida do profissional responsável por tocar as atividades no dia a dia da fazenda. Hoje, por exemplo, há um novo conceito de bem-estar na fazenda, agregando responsabilidade social, mudança de paradigmas na atividade agropecuária e adequação ambiental.

as vocações locais e negócios sociais das comunidades onde a Vale atua. o Instituto de Socioeconomia Solidária atuou junta-

pAlAvREADO

ções em empreendedorismo e gestão de negócios. “Ver nossa fábrica pronta é um incentivo, tanto para nós cooperados como para a comunidade. Ela trará muitos bons frutos e isso era o que faltava para Serra

pROfEssORA ORGANIzA DIcIONáRIO DO cABOclO A Fundação Cultural do Pará publicou em

Pelada”, avaliou a presidente da CoomI-

dezembro do ano passado o livro “Vocabu-

PASP, Francisca Ana miraser Barros.

lário Jitinho: linguajar de Belém”, de autoria da professora doutora em Língua Portu-

CACAU

MElHorAMENto

guesa, Rosa Assis. A obra reúne em mais de 30 páginas, expressões, palavras, letras de

Para melhorar a qualidade das amêndoas

músicas e poemas que trazem elementos tí-

de cacau na região da Transamazônica, a

picos do linguajar falado em Belém do Pará.

Empresa de Assistência Técnica e Extensão

o livro é resultado da pesquisa iniciada em

Rural do Pará (Emater) e o Instituto de De-

1992 por Rosa Assis e apresenta tam-

senvolvimento Florestal (Ideflor) trabalham

bém parte do levantamento do projeto

juntos na implantação de estufas para a

Valunorte – variação linguística da região

secagem do produto. Tradicionalmente, o

Norte, desenvolvido pelo curso de Letras

cacau é secado em lona e exposto ao tem-

da Universidade da Amazônia (Unama).

po. A estufa tem capacidade de atender até

A professora afirma que o trabalho é

cinco toneladas ao ano e reduz o tempo de

importante “para quem quer entender e

secagem de 11 para 4 dias, além de diminuir

conhecer o linguajar da nossa cidade de

o custo de produção em até 60%.

quase 400 anos”.

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JANEIRO DE 2015

Conheça alguns verbetes do “Vocabulário Jitinho” XERIMBABO Substantivo masculino. Qualquer animal de criação ou estimação. Pode ser também estendido a pessoas. JITO Adjetivo. Pequeno. ABATUMADO Adjetivo. Cheio de mais, amontoado. ALEGRAÇÃO Substantivo feminino. Alegria. MARIOLA Adjetivo. Pessoa que presta serviço remunerado carregando objetos, coisas ou simplesmente servindo para outros fins.

INFoGRAFIA : mÁRCIo EUCLIDES

mente e o projeto também levou capacita-


Antônio Gaudério / Folhapress / arquivo o liberal

ARQUIVO O LIBERAL

MARCELO SEABRA / ARQUIVO O LIBERAL

PERGUNTA-SE

Leite materno e vinagre curam conjuntivite?

Conjuntivite é uma doença incômoda, contagiosa e sem um remédio específico. Para se livrar desse perrengue, sobram remédios “milagrosos”, mas sem fundamento científico que sustentam o uso de vinagre ou leite materno, por exemplo. Fuja dessas soluções ancestrais, como recomenda a especialista em Cirurgia Refrativa, Córnea e Lentes de contato, Cristina

preservação

O boto-cor-de-rosa e a arara-azul agora fazem companhia ao urso-panda nas campanhas de proteção ambiental da ONG World Wide Fund for Nature

WWF ajuda a defender o boto e a arara-azul

6,5

de conservação ambiental, é também mobilizar o maior número de pessoas para mudar essa realidade”, diz Renata Amaral Soares, superintendente de Comunicação, Marketing e Engajamento da ONG. A União Internacional para a Conservação da Natureza estima que a população da arara-azul seja de 6,5 mil indivíduos, mas está em declínio, sendo considerada uma espécie vulnerável. Sobre o boto cor-de-rosa, encontrado na Amazônia brasileira, não há dados suficientes para determinar se ele está ameaçado de extinção. Sabese que 13 mil animais vivem na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Estado do Amazonas.

Bettina Ferro de Souza, que alerta para complicações piores que uma conjuntivite. A médica explica que a doença é a inflamação da conjuntiva ocular, membrana transparente que recobre a parte branca do olho. Os sintomas são olhos vermelhos, lacrimejamento, coceira, sensação de corpo estranho e secreção. Existem os tipos viral, bacteriano e alérgico. Só um oftalmologista é capaz de diagnosticar o tipo e indicar o melhor tratamento. Em todas as formas, é preciso fazer a higiene e usar compressas geladas, preferencialmente com água filtrada. “A viral é mais agressiva, de fácil propagação e é tratada com uso de lubrificantes. Importante evitar contato direto com outras pessoas devido risco de transmissão. A bacteriana é tratada à base de colírios antibióticos e possui risco de transmissão inferior. Na alérgica é importante afastar a pessoa do causador da alergia. Deve-se usar colírios antialérgicos, lubrificantes e até mesmo anti-inflamatórios. Não possui risco de transmissão”, esclarece a oftalmologista. carlos borges

A organização não governamental World Wide Fund for Nature (WWF-Brasil) acrescentou duas espécies muito conhecidas no país à campanha “Adote uma Espécie”. A proposta possibilita que as pessoas se tornem contribuintes na preservação da arara-azul e do boto-corde-rosa, além do urso-panda, símbolo da entidade. Para “adotar” uma espécie, é preciso contribuir com uma doação mensal. O objetivo é chamar a atenção para a causa, financiando o trabalho em defesa da expansão dos mil habitats protegidos, além de reduzir os impactos humanos ARaras-azuis vivem no ambiente natural. “Nosna Amazônia, segundo dados da União sa missão, enquanto organiInternacional para a Conservação da Natureza zação que realiza trabalhos

Coimbra Cunha, do Hospital Universitário

VIDA CURTA Menos de um ano é o tempo de vida do Austrolebias bagual, um peixinho andré abreu

de 5cm de comprimento. A espécie foi descrita em outubro e ainda não tem nome popular. Ela vive em poças d’água da chuva na região Sul, mas morrem com a chegada do verão. Os embriões passam pela “diapausa”,

MANDE A SUA PERGUNTA

Envie perguntas instigantes sobre hábitos, costumes e fenômenos da região amazônica para o e-mail: amazoniaviva@orm.com.br

voltando a se desenvolver e eclodir com o retorno da chuva. JANEIRO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 15


Quem É?

MArIlu CAMpElo

PEsQUisAdoRA dA cUltURA NEGRA

NOmE

marilu marcia Campelo

IDADE 50 anos

fORmAÇãO

Graduada em Ciências Sociais e doutora em Antropologia Social

TEmpO DE pROfIssãO 31 anos

T

ratados em condições desumanas durante o período da escravidão no Brasil, dos escravos negros ainda resta o legado de luta social e resistência, que ajudam a manter viva as tradições, costumes, história e religião africana, componentes fundamentais da mistura característica da população brasileira. Da necessidade de estudar esses processos de identidade negra surgiu, em 2002, o Grupo de Estudos Afro-Amazônico (GEAM), o primeiro núcleo de estudos Afro-Brasileiros da região amazônica, idealizado pela pesquisadora e professora da Universidade Federal do Pará, Marilu Campelo. “O GEAM vai além de um grupo de pesquisa exclusivamente acadêmico. Somos um grupo de atuação, que funciona como interface não só para estudos, mas, principalmente, de apoio às ações de combate ao racismo, defesa e divulgação das culturas negras e a

16 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2015

TEXTO bRUNO ROChA FOTO RObERTA bRANDãO

busca por políticas de ações afirmativas”, explica Marilu. Um dos projetos elaborados pelo grupo e que foi implantado na UFPA foi o de cota cor nos processos seletivos da universidade. Mas a pauta prioritária é a defesa do respeito às religiões afro-brasileira e é esse também o principal tema pesquisado por Marilu. Para a pesquisadora, as religiões afro fazem parte de uma construção cultural que atravessa o processo civilizatório do Brasil. “O sistema de crença africano vai para além da concepção europeia do que é religião. É, na verdade, um modo de vida e representa a base de formação da sociedade amazônica, que tem a especificidade da presença dos encantados, por exemplo, no Tambor de Mina. E isso faz parte do cotidiano das pessoas e do imaginário amazônico”. A dificuldade de reconhecimento dessas práticas e o preconceito ainda são latentes na sociedade. Segun-

do pesquisas feitas pela professora, são mais de 1.100 terreiros no Pará sem reconhecimento por parte de órgãos oficiais. Por isso, os esforços do grupo são na promoção do diálogo entre pesquisadores e sociedade civil para fomentar seminários, cursos e outras ações ligadas a questão do negro na sociedade paraense. Uma atividade importante para essa difusão foi o “Nós de Aruanda”, evento vinculado ao grupo de pesquisa de Marilu que surgiu em 2011, pela precisão de inserir artistas de terreiro no circuito das artes visuais do estado, em uma exposição anual. Marilu garante que na sua trajetória de pesquisadora “mas do que lançar livros e publicar estudos é quando a comunidade de terreiro nos reconhece não como pesquisador, mas como um parceiro de luta”, fala, citando a menção honrosa que ganhou dos terreiros pela, parceria nesta trajetória de resistência.


carlos borges

EU DISSE

APPLICATIVOS

Boas ideias num toque de dedos

“Essa sobrevivência é de grande importância para a conservação e evolução da espécie, já que no meio natural menos de 1% chegam à fase adulta”

GreenMeter

Antônio Messias Costa, pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), sobre o nascimento de 200 tartarugas na incubadora do Parque do Museu. (Site MPEG)

O aplicativo mede a quantidade de combustível gasta pelo seu carro levando em conta fatores como a taxa de aceleração do carro, a aerodinâmica do veículo e o clima ambien-

“Precisamos instituir o desmatamento zero para ontem e recuperar o que já foi degradado”

te, dando ao motorista a possibilidade de aumentar a eficiência do veículo e de seu uso. A interface é bem detalhada e fornece feedback em tempo real, com gráficos, números e dicas. Plataforma: iOS Preço: US$ 5,99

Antônio Donato Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) sobre um levantamento de 200 estudos sobre o clima da Amazônia. (Revista Galileu)

Sensor Sense Uma ferramenta para pessoas curiosas e com

“As próprias escolas irão apresentar o carimbó para os alunos. A partir daqui, inicia-se um novo ciclo para o carimbó”

senso de medida não muito acurado. Com o smartphone é possível medir a aceleração, gravidade, campo magnético, localização (com latitude e longitude), temperatura, voltagem, umidade relativa, som. Esta última

Patrick Moraes, professor de Artes da Universidade Federal do Pará (UFPA) (Revista Beira do Rio)

ferramenta, por exemplo, é útil para saber se o usuário está aproveitando o volume do som sem desrespeitar a vizinhança. rodolfo oliveira / arquivo agência pará

Plataforma: Android Preço: Gratuito

Flipboard Trata-se de um dos mais populares leitores de notícias integrado com redes sociais, já passando de 500 milhões de pessoas usando. Neste app, notícias de vários veículos do mun-

“Estamos aprendendo a planejar com grande participação popular as metas do Plano Nacional de Educação”

do são reunidas e postadas quase integralmente, prontas para serem lidas como numa revista digital, comentadas e compartilhadas. É possível integrar contatos das redes sociais, como Facebook e Instagram. Plataformas: iOS, Android e Windows Phone

Licurgo Brito, ex-secretário adjunto de Ensino da Secretaria de Estado de Educação (Seduc). (Agência Pará)

Preço: Gratuito FONTES: PLAY STORE E iTUNES

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como Funciona

O minhocário TEXTO E iluSTrAçÃO SávIO OlIvEIRA

Terra e húmus por todos os lados.

Do nascer ao morrer, do comer ao

habitantes do solo. E os humanos

Seja qual for a ideia, qualquer

Um santuário para minhocas, em

copular, um minhocário é um local

fazem isso com dois objetivos: pro-

minhocário tem um funcionamento

que todas as etapas do ciclo da

em que as melhores condições são

duzir mais minhocas ou enriquecer o

parecido e pode ser feito de forma

vida são realizadas em abundância.

oferecidas em fartura aos anelídos

solo com matéria orgânica.

horizontal ou vertical.

3

No burACo DA MINHoCA

...sombra e umidade.

Crie seus próprios anelídeos em casa e, de quebra, faça a compostagem do seu lixo orgânico

Com um local livre de estresse e predadores, como as formigas, as folgadas minhocas

1

podem comer matéria orgânica à vontade, que serão digeridas e

A primeira coisa a ser feita é adicionar matéria orgânica de origem vegetal, como folhas secas e cascas de frutas, ou esterco à terra. Assim, você também está fazendo um processo de compostagem do lixo orgânico. o processo natural feito por bactérias e fungos decompositores irá iniciar e será acelerado e enriquecido pelas...

transformadas em...

4

...húmus, um produto cheio em nutrientes, excretado em bolinhas pelas minhocas. A humificação produz uma massa escura, composta de uminas e ácidos fúlvico e húmico, moléculas orgânicas ideais para a estrutura-

2

ção do...

5

... minhocas-vermelhasda-califórnia (Lumbricus

rubellus), a melhor

...solo, que fica mais

espécie para criação

equilibrado e rico em

em cativeiro. Podendo

microrganismos e

medir até 20cm de

nutrientes, melhor para

comprimento, as califor-

o plantio, crescimento e

nianas abrem túneis que

cultivo de vegetais, que

facilitam a passagem

serão consumidos ou

de ar e água no interior

depositados novamente

solo, deixando o local

no minhocário.

bem fresquinho. Calmas e tranquilas, elas são as

fOntES: AntônIO éLSOn CUnHA CAvALCAntE, téCnICO dO MInHOCáRIO dO InStItUtO fEdERAL dO PARá, CAMPUS CAStAnHAL. GIBERtA CARnEIRO SOUtO, PROfESSORA dE OLERICULtURA dO IfPA CAStAnHAL. SéRGIO GUSMãO, PROfESSOR dE AGROnOMIA dA UnIvERSIdAdE fEdERAL RURAL dA AAMAzônIA.

preferidas da minhocultura porque também adoram... 18 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2015


DEU N’O LIBERAL reprodução / o liberal

arquivo museu goeldi

FATO REGISTRADO

Conferência mudou políticas ambientais

Fotógrafo em primeiro plano Só os detalhes podem contextualizar a imagem. Os veículos de grande porte ao fundo indicam a atividade econômica desenvolvida sobre um terreno característico que muitas vezes já foi veiculado na história da Amazônia. O fotógrafo fotografado indica um evento em que havia outras câmeras no mesmo ponto. O preto e branco é a característica final. Em 1980, início das atividades da mina de ferro na serra de Carajás, sul do Pará, muitos profissionais acompanharam autoridades que visitavam o projeto

para fazer registros importantes sobre a maior mina de ferro do mundo. Registros como este são a História. História obtida através de um ofício muitas vezes desconhecido. Apesar de se prepararem a vida inteira para grandes momentos, para escrever a trajetória humana em imagens, muitas vezes os fotógrafos são heróis sem condecoração. Estão em todos os grandes fatos da humanidade, sempre à margem, realizando seus registros sem ganhar os holofotes. Estiveram no período vitoriano, nas duas grandes guerras,

diante da história

O fotógrafo desconhecido presenciou - e registrou - o início da produção mineral na serra de Carajás, na década de 1980

na ascensão e na queda do mundo de Berlim e, agora, são onipresentes da sociedade da informação. Na foto, com o início das atividades da produção do minério de ferro na serra dos Carajás, um raro momento em que o repórter fotográfico exerce sua função, concentrado em recortar a realidade, assim como em vários outros momentos importantes da história da Amazônia, indo da biodiversidade aos conflitos sociais, da cultura à economia. Um salve aos flashs que retrataram – e retratam – a Amazônia.

A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em junho de 1992, mudou a política ambiental do mundo inteiro. No evento que ficou conhecido como ECO 92, ou RIO 92, cerca de 180 delegações estrangeiras se reuniram e discutiram os temas relacionados ao meio ambiente de 4 a 14 de junho daquele ano. O LIBERAL noticiou diariamente o encontro que foi marcado por grandes controvérsias entre os países em desenvolvimento como o Brasil e países da América Latina e aqueles considerados, à época, do Primeiro Mundo (Estados Unidos e Europa Ocidental). Aquela foi a segunda conferência da ONU para tratar do tema. A primeira foi em Estolcomo, Suécia, em 1972. Graças à conferência muitas conquistas foram alcançadas como a assinatura da Agenda21, um programa que já indicava um novo padrão de desenvolvimento ambiental e racional. O documento tentava conciliar assuntos como a proteção ambiental, justiça social e desenvolvimento econômico.

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CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE

Na região do Marajó, as andorinhas da espécie Tachycineta albiventer, conhecidas como andorinhas-do-rio ou andorinhas-ribeirinhas, ganham um reforço para este nome popular: são presenteadas pelos ribeirinhos com casinhas no meio da água para que façam ninhos. Vê-las é um alento e um passatempo para os pescadores e crianças dessas áreas. A água está tão presente nas características do pássaro que uma das principais cores é o azul de sua plumagem, que chama atenção. É uma ave pequena, de até 13,5 centímetros, e se alimenta, principalmente, de insetos. As aves são muitos familiares, como os próprios ribeirinhos, e se organizam em casais para criarem os filhotes, em ninhadas que chegam a seis

ovos. Porém, podem ser vistos sozinhos. São encontradas em todo o Brasil, mas nas regiões Sul e Sudeste, por exemplo, não há o costume de se construir as casinhas para essas aves. Esse é um hábito amazônico que reflete a preocupação do ribeirinho com a preservação da vida que o cerca. As andorinhas-do-rio costumam ser vistas mais pela manhã e final da tarde, horários em que a contemplação dos equivalentes aviários dos ribeirinhos é possível. Costumam ser dóceis e por isso constroem sem pudor os ninhos nas casinhas oferecidas pelos ribeirinhos. Não costumam cantar muito e têm apenas assobios curtos e de comunicação essencial, pois, assim como exímios pescadores, sabem que a tranquilidade evita perder a pescaria.

inocêncio Gorayeb

Casinha para a andorinha-do-rio

pescador só

O socozinho é um hábil caçador, apesar da aparência desengonçada

ELES SE ACHAM

As larvas de uma espécie de maripo-

Como uma legítima sociedade se-

sa da família Saturniidae formam a

creta, chegar perto do grupo não

“Sociedade da Cobra Grande”. Pa-

é permitido tão facilmente. Além

rece coisa de algum grupo secreto,

do visual ameaçador, possuem

mas, na verdade, trata-se de uma

substâncias urticantes na pele que

formação que elas assumem quan-

queimam ao contato. Os espinhos

do se deslocam juntas na hora de se

também são perigosos. Muitos pre-

alimentar. Ficam como uma enorme

dadores entendem o recado e não se

e ameaçadora serpente, com pele

aproximam da Sociedade da Cobra

cheia de espinhos. Elas ficam tão jun-

Grande. E quando formam o casu-

tas, mostrando o poder da união, que

lo, permanecem juntas e perigosas,

é difícil pensar que são vários insetos

com tecido externo urticante. Ao

juntos ao invés de uma cobra para

deixarem o grupo, cada uma leva os

boiaçu nenhuma botar defeito.

segredos dessa sociedade com elas.

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JANEIRO DE 2015

abstrato

Insetos da espécie Cladonota se transformam em obras de arte da natureza

inocêncio gorayeb

A Sociedade da Cobra Grande


DESENHOS NATURALISTAS

CONCEITOSAMAZÔNICOS sávio oliveira

uma cena amazônica

Uma das 174 pinturas de pranchas de João Barbosa Rodrigues expressa a importância do murumuzeiro para os ribeirinhos

Com aquela cuíra no corpo

João Barbosa Rodrigues / reprodução / museu goeldi

Sabe quando a menina ou o menino estão naquela aflição pra começar a namorar, que não se sossegam em casa no fim da tarde? É a ansiedade da espera por quem saiu e custa a voltar: a mãe que não dorme, o pai preocupado, a tia faladeira na sala. Véspera de resultado de vestibular, as horas que antecedem o parto; final de campeonato pelo rádio, último capítulo de livro. Todos estão num momento cuíra! O termo de origem tupi, que também compunha o Nheengatu, é coringa nas con-

Cotidiano ribeirinho A paisagem composta por uma cabana ribeirinha, ladeada por uma horta feita sobre a canoa velha mostra uma mulher a carregar água em cabaças. O objeto principal da cena amazônica, porém, são as palmeiras magrelas que se edificam em primeiro plano. O engenheiro, naturalista e professor de desenho João Barbosa Rodrigues pintou uma obra complexa para retratar espécies de palmeiras em seu livro “Sertum Palmarum Brasiliensium (1842-1909)”, que comporta 174 pranchas de desenhos coloridos com palmeiras do Brasil. A paisagem, como indica a legenda da prancha,

fica no Amazonas: “Tipupá de caa-açu na ilha do Espírito Santo em Villa Bella da Imperatriz”. O termo Caa-açu se refere a árvores de folhas grandes. Na imagem, a Bactris littoralis, hoje B. riparia, nome científico de uma espécie de pupunha brava com ampla ocorrência – Equador, Colômbia, Peru, Bolívia e Brasil. Mais à frente, a Geonoma bijugata, conhecida popularmente como ubim, cujas folhas secas são usadas para cobrir casas em toda a Amazônia. A rainha da imagem é a Astrocaryum murumuru, palmeira encontrada em toda a Amazônia, do estuário do rio Amazonas aos

seus afluentes. A espécie é de várzea, ocorre em áreas úmidas e temporariamente inundadas, geralmente em rios e lagos. A dispersão de seus frutos é feita por essas mesmas águas, pela fauna aquática e terrestre. Conhecida como murumuruzeiro, a palmeira é importantíssima: corresponde a 15% das espécies de palmeiras ocorrentes, com alta relevância econômica. As pranchas fazem parte do index amazônico, que, nas mãos e sob o olhar do mesmo João Barbosa Rodrigues, virou arte amazônica nas araras vermelhas a voar, no poço d’água e no dia que se esvai na prancha do naturalista.

versas do caboclo. Seu significado original tem uma ligação direta com o seu atual uso: pessoa ou animal que deseja algo com muita intensidade, que mal se pode esperar. É usado para se referir aos impacientes – gente agoniada. Também é usado para tratar dos atarantados, gente que não se quieta, como se tivesse sentada numa cadeira de cheia de saúvas. É uma comichão, um tipo de coceira psicológica. Muito utilizado pelo povo amazônida, a expressão tem seus significados modernos, sendo que um deles diz respeito a uma inquietação também, mas coletiva: muita gente agoniada com vistas a um objetivo, seja ele cultural, profissional ou comercial. Tanto que, em Belém, ele é o nome de um grupo de teatro e do próprio teatro, o Cuíra. Na região tocantina, mais precisamente nas bandas de Cametá, cuíra é uma forma de tocar a guitarra, a guitarrada cuíra. Já em Macapá (AP), é o título do jornal impresso e do portal de notícias, que reúne ainda a rádio e a TV Cuíra, todos veículos laboratoriais do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Amapá (Unifap). JANEIRO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 21


em nÚmeroS

CAMpo DE prospErIDADE

o PARÁ É dEstAQUE NAcioNAl No AGRoNEGÓcio TEXTO vICTOR FURTADO iNFOGrAFiA MáRCIO EUClIDES

o agronegócio e a agroindústria são

paraense é tida como uma das me-

alguns produtos florestais usados

a ser fortalecidas em 2008, com o

responsáveis por 33% do Produto

lhores do mundo. Parte disso se deve

na siderurgia, produção de celulose

projeto Preservar, da Federação de

Interno Bruto paraense. E, no campo

às condições geográficas, geológicas

e papel, painéis de madeira recons-

Agricultura e Pecuária do Estado do

da agropecuária, o Estado está

e climáticas favoráveis do Estado.

tituída (mDF e mDP) e produtos de

Pará (Faepa), desenvolvido com di-

sempre bem posicionado como um

Com a tecnologia auxiliando na

madeira sólida, além do mercado de

versas parcerias. A meta é reforçar a

dos maiores produtores de diversos

redução do desmatamento para

créditos de carbono.

legalidade e sustentabilidade - tanto

segmentos alimentícios de origem

expansão do agronegócio, cresce

Parte do negócio de floresta em pé

econômica quanto ambiental - de

animal e vegetal.

também a demanda por refloresta-

e soluções tecnológicas do setor

tudo o que é produzido em território

Para se ter uma ideia, a carne bovina

mento. os preços são atrativos para

agropecuário paraense começaram

paraense.

70 m

1 HECtArE = 10 MIl M²

30 m

(maior que um campo oficial de futebol)

21 milhões foram de bovinos

100 m

21,5

milhões de cabeças é o total do rebanho criado em 2013

DA tErrA

A área utilizada no agronegócio no Estado é altamente produtiva

480.508 foram de bubalinos

1/3 Dos 125 milhões de hectares do território total do Estado 30 milhões de hectares são usados no agronegócio

22 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

90% correspondem à pecuária (16 milhões de hectares)

JANEIRO DE 2015

10%

são para agricultura e silvicultura (14 milhões de hectares)

da produção é para consumo interno


2/3

são exportados para o mercado para o Brasil e o exterior

500 mil

empregos diretos são gerados na pecuária e 1,5 mil indiretos no setor

plANtANDo tuDo DÁ

A fruticultura rende muitos frutos para a economia paraense

lugar na produção nacional de abacaxi

DE Grão EM Grão

o Pará tem representatividade nacional no campo da agricultura

4,6 milhões

de toneladas de mandioca são plantadas no Estado, sendo o maior produtor nacional

24,66%

são de soja, com 119 mil hectares

20,23%

são de arroz, com 98 mil hectares

lugar no ranking nacional da produção de coco

são de feijão, com 51 mil hectares

lugar na produção de banana do país

da área plantada é de milho, com 216 mil hectares

10,62% 5º

44,48%

485 mil

hectares de área plantada de grãos em 2013

lugar na produção nacional de laranja, maracujá e mamão

90.235

Com toneladas, o Pará é o segundo maior produtor de cacau em amêndoas do Brasil, respondendo por 32% do total produzido

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OLHARES NATIVOS

24 窶「 REVISTA AMAZテ年IA VIVA 窶「

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Grandiosidade de Belém aos 399 anos de vida Eles chegaram e encontram um pedaço de tudo. Verde, barrento, exuberante, lindo. Cheio de homens e mulheres vermelhos de pele. Com suas roupas mofadas e a pele branca fincaram suas estacas na terra, ergueram seus fortes e igrejas e contaram que, naquele lugar, à beira do rio, nada havia para gravarem, na glória da posteridade, seus nomes com os grandes construtores e pioneiros de Santa Maria de Belém do Grão-Pará. Cresceu o pequenino povoado, a partir do bairro da Cidade Velha com sua Sé Catedral, nos moldes lusitanos primeiramente e em quatro séculos suas marcas estão salpicadas no concreto e asfalto decorado com o verde que ainda nos presenteia todo dia. Belém vai se emaranhando com o tempo em seus telhados, paredes, portas, vielas, bulevares, praças, malogros, vitórias e desejos de uma gente multicor de tantos e intermináveis costumes. Reinventase, corrói-se e se reconstrói em ritmo veloz com a personalidade de uma deusa soberana a se expandir na península. FOTO: OSWALDO FORTE JANEIRO DE 2015

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OLHARES NATIVOS

Pôr-do-sol na Estação das Docas A cada cidade o mesmo sol nasce e morre de modos diferentes, embora todos tenham consciência de que é o mesmo espetáculo. O mesmo nascente e poente em toda parte reinterpretado de acordo com o que cada lugar representa para quem contempla. FOTO: FERNANDO SETTE

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A força do trabalho É da força dos homens que nascem os símbolos depois cantados em verso e prosa e eleitos como síntese de um povo. E o que seria do açaí se não houvesse os braços para erguer os frutos no paneiro? FOTO: FERNANDO SETTE

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OLHARES NATIVOS

Círio nas águas do Caraparu Brotam estradas, morrem trilhos, multiplicam os voos e o rio ainda é marca e símbolo de caminho na Amazônia. Seja nos volumes de água impressionantes ou nos igarapés, o amazônida não perde seu contato com as águas. FOTOS: FERNANDO SETTE 28 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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Pequenos amazônidas Os caboclinhos, curumins, meninos do rio. Forjados nas margens onde aprendem o que é a vida e onde empregar sua fé. São eles, de todas as cores, o riso nas beiras de mangue e a contrição nas procissões sagradas do interior. FOTOS: FERNANDO SETTE JANEIRO DE 2015

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OLHARES NATIVOS

Cambacica, o polinizador Pousa e se demora. Enfeita teu espaço com pena e bico e olho arredio, desconfiado. Compõe a natureza bonita da bananeira em flor (que nem flor parece). Alimenta-te

Coerela flaveola e germina o chão para que nasçam outras bananeiras e outros pássaros possam usufruí-las. FOTO: HELY PAMPLONA

Envie as suas fotos para a seção Olhares Nativos 30 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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Para participar da seção “Olhares Nativos” da revista Amazônia Viva basta enviar fotos com temática amazônica para o e-mail amazoniaviva@orm.com.br acompanhadas pelo nome completo do autor, número de identidade e uma breve informação sobre o contexto do registro fotográfico. As imagens devem ser autorais e com resolução de no mínimo 300 dpi. A publicação das fotos tem fins meramente de divulgação, não implicando em qualquer tipo de remuneração aos autores. Participe!






oPINIão, IDENTIDADE, INICIATIVAS E sOluÇõEs TARSo SARRAF

IDEIASvERDES

ÁGuA é VIDA A DIsCussão ACErCA Do boM uso DEssE rECurso é CADA VEz MAIs prEsENtE NA soCIEDADE. PáGInA 38

mAnEJo a coordenadora do laboratório de Biologia pesqueira e recursos aquáticos, Victória isaac, fala sobre a pesca na região. PáG. 36

ESPoRTE o manbol é uma modalidade esportiva criada por um professor de educação física que mistura vôlei e tênis de quadra. PáG.46

PARTILHA o projeto troca de Saberes aproxima realidades culturais bem diferentes em uma mesma região amazônica. PáG.50

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OUTRAS CABEÇAS

M

ais do que uma atividade tradicional, a pesca faz parte da vida na Amazônia, devido à abundância de ambientes aquáticos e de espécies. Ela existe desde a época dos indígenas e atualmente é dividida, principalmente, em pesca industrial, concentrada principalmente em Belém, e a artesanal, mais forte e que ainda mantém o ofício aprendido com os antepassados. Além disso, a pesca é uma atividade comercial muito importante, pois ela movimenta mais de R$ 4 milhões brutos por ano no Estado. Estima-se que o Pará tenha mais de 100 mil pescadores. A pesca também é alvo de estudo científico. O Laboratório de Biologia Pesqueira e Manejo dos Recursos Aquáticos do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), da Universidade Federal do Pará (UFPA), realiza pesquisas em favor de melhorias da pesca na Amazônia. A revista Amazônia Viva conversou com a coordenadora do laboratório, a doutora em Ciências Marinhas, Victoria Isaac.

Quais os avanços da atividade pesqueira na Amazônia? Primeiramente, a própria UFPA, com a pós-graduação em Ecologia Aquática e Pesca, representa um grande avanço, porque a academia deve acompanhar a evolução dessa atividade e há alguns anos não se tinha pesquisadores nessa área. Outro avanço são os movimentos sociais dos pescadores que têm se fortalecido muito nos últimos anos, por iniciativa dos próprios pescadores, pela necessidade de se defender perante situações que lhe dizem respeito. Em relação a avanços temos também a criação das unidades de conservação de uso sustentável, as reservas extrativistas (resex), que vêm dando certo. Nessas unidades de conservação, a comunidade cuida dos próprios recursos. Isso também funciona na Amazônia. Esses são exemplos promissores que temos que pesquisar e incentivar. 36 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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“O manejo deve ser mais participativo”

a coordenadora do Laboratório de Biologia Pesqueira e Manejo dos Recursos Aquáticos, victória isaac, afirma que a atividade pesqueira no estado deve ter o envolvimento de governos e centros acadêmicos TEXTO rosana medeiros FOTO hely pamplona


E qual a contribuição da Universidade para a proteção dos recursos pesqueiros? Nós temos vários projetos vinculados à pesca. Terminamos há pouco tempo um trabalho com as reservas extrativistas marinhas no litoral paraense, em que fizemos um plano de manejo para a pesca dentro dessas unidades de conservação. Como pesquisadores, contribuímos na elaboração coletiva junto com os pescadores de um plano de manejo para todas as noves reservas do litoral. Agora, esse plano está em estudo para ser implementado. Temos ainda um trabalho nas ilhas no entorno de Belém, onde a pesca é muito artesanal, os pescadores trabalham com pouca quantidade de peixe, principalmente camarão, e complementam sua renda com açaí, pequenas lavouras etc. Estamos com um plano de pesquisa cuja finalidade é sugerir zoneamentos para a proteção dessas ilhas, ou seja, áreas que deveriam ser mais preservadas, que poderiam ser desenvolvidas de forma mais intensa, por exemplo, para o turismo. No Pará, como se dá a formação profissional para área da pesca? Em Belém, nós temos o curso de Engenharia de Pesca e a pós-graduação em Ecologia de Águas Interiores, da Ufra (Universidade Federal Rural da Amazônia); na UFPA, o curso de Oceanografia, a pósgraduação em Ecologia Aquática e Pesca, além dos cursos de Biologia, de economia e outros que acabam se interessando pela área da pesca. Por que incentivar a formação profissional na área da pesca? Esses cursos são para a pesquisa sobre pesca, são cursos para acadêmicos. Sem os estudos não tem como regulamentar a utilização dos recursos. É uma formação multidisciplinar, você tem que saber engenharia, biologia, oceanografia, geografia, física, química etc. O profissional tem bastante área de trabalho na região, inclusive fora da Universidade. O laboratório também recebe ajuda de outros pesquisadores? Contamos com vários pesquisadores as-

“Nós fazemos os estudos, mostrando os resultados. Fica a cargo da comunidade dar continuidade ao trabalho.”

sociados e com o apoio do programa de pósgraduação da UFPA. O laboratório também conta com a colaboração de pesquisadores como da Alemanha e dos Estados Unidos. Além disso, temos cooperações com pesquisadores brasileiros de Campinas, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, entre outros. Atualmente, o laboratório está desenvolvendo dez projetos de pesquisa. Como é a relação do laboratório com os ribeirinhos? Em todos nossos projetos a gente acaba tendo contato com os ribeirinhos, fazendo reuniões, apresentando nosso trabalho e isso tem sido sempre muito positivo. O problema é que, lamentavelmente, esses projetos têm início, meio e fim. Nós não somos uma ONG que pode trabalhar a longo prazo com certas propostas. Os nossos projetos têm duração de dois, três anos, quatro, no máximo e, então a continuidade do trabalho fica comprometida. Nossos trabalhos são de pesquisa, nós fazemos os estudos, mostrando os resultados, mas acaba aí. Fica a cargo da comunidade dar continuidade ao trabalho. O que está sendo feito para contribuir com a preservação das espécies? Existem muitas regras como o defeso, regras proferidas a outras espécies e também as políticas de crédito. Mas existe uma

necessidade de coordenação de integração das políticas porque têm muitas formas de apoiar o pescador, mas elas efetivamente não se traduzem em políticas de conservação e fortalecimento dos pescadores. Existe um estudo realizado em 130 diferentes localidades do mundo, buscando indicadores de sustentabilidade que conclui que a pesca é mais bemsucedida e sustentável nos locais onde os pescadores têm maior organização social. E como está a organização dos pescadores na Amazônia? Ainda é fraca. Tem os acordos de pesca, mas são pontuais. Nas organizações de base, nas colônias de pescadores ainda há muitos problemas. Essas organizações precisam ser fortalecidas para que cumpram efetivamente sua função. Qual é a realidade da pesca artesanal na região? O governo tem uma série de incentivos para a pesca artesanal, como para a compra de equipamentos. Mas ainda só incentiva a compra de equipamentos. Nós não temos, no Pará, por exemplo, nenhuma instituição que se dedique a pesquisa de tecnologias, ao melhoramento da eficiência de pesca. Em relação à infraestrutura, nós vivemos no mundo do supersimples. A pesca da Amazônia é sofisticada pelas tradições, mas possui meios de produção muito elementares. Trabalha com pouca tecnologia e muita mão de obra. Não tem infraestrutura de gelo nas comunidades em geral, os portos mal tem rampa para o barco entrar. Então, é tudo muito simples, mas mesmo assim funciona muito bem. São pescarias bastante eficientes. Existem ações para o manejo sustentável na Amazônia? O que é manejo e o que é sustentável? Vamos começar fazendo uma breve definição. A gente entende por manejo qualquer medida administrativa que tende a regular a forma que se extrai o recurso. Essas medidas podiam ser as que já existem. Para que elas sejam sustentáveis tem que ser apoiadas de baixo para cima. O segredo do manejo sustentável é que ele tem que ser mais participativo. JANEIRO DE 2015

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ASSUNTO DO MÊS

imponente à beira do rio

Cercada pela baía do Guajará, Belém, aos 399 anos de fundação, apresenta desafios e soluções na gestão dos recursos hídricos

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dIAntE dA CRISE GLOBAL dE ABAStECIMEntO nAS GRAndES CIdAdES, A REGIãO dEtéM GRAndE POtEnCIAL dESSE RECURSO nAtURAL. MAS AIndA ASSIM é PRECISO SABER USá-LO dE fORMA CAdA vEz MAIS COnSCIEntE. TEXTO bRUNO ROChA FOTO TARSO SARRAF

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ASSUNTO DO MÊS

Á

gua é sinônimo de vida e não por acaso. É o componente bioquímico fundamental da espécie humana e também o meio de vida de espécies vegetais e animais. Além disso, é seguramente o único elemento natural que transcorre todos os aspectos da história de qualquer civilização, seja no desenvolvimento econômico e social, através da agricultura e indústria, seja na invenção de símbolos culturais e religiosos. Quer dizer: sem água não haveria vida no nosso planeta e isso não é exagero já que pesquisas demonstram que dois terços 40 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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da Terra é constituída por ela. E os mesmos pesquisadores afirmam que a falta de água doce pode gerar no futuro conflitos e crises de desenvolvimento socioeconômico em nível global. Com o aumento populacional mundial, hoje na casa dos 7 bilhões, e com o crescimento das atividades industriais, o problema da escassez de água se agrava com o passar dos anos. Estima-se que a falta de água afeta 460 milhões de pessoas, que vivem com menos de 5 litros de água por dia, volume mínimo para ingestão, preparo de alimentos e higiene. Uma das

principais preocupações é sobre as fontes de água potável, recurso hídrico que pode ser consumido por pessoas e animais e empregado na agricultura, sem riscos à saúde. De acordo com estudos realizados pelo Programa das Nações Unidas pelo Desenvolvimento (PNUD), mais de um bilhão de pessoas no mundo vivem sem acesso a água potável. O Brasil tem a maior quantidade de água doce do mundo. Em torno de 12% do total da reserva do planeta estão aqui. E a região Norte é uma das mais privilegiadas, concentrando 68% de toda água do

exISTÊNCIA

A qualidade das águas dos rios amazônicos é fundamental para as populações, como as que dependem da pesca para sobreviver


País. Isso significa que a situação não é tão alarmante se comparada à recente crise de abastecimento que o Estado de São Paulo sofreu com as baixas no sistema Cantareira, no ano passado. Situação longe da realidade da Amazônia desde que, claro, se saiba como cuidar desse recurso vital. Às portas dos 400 anos de Belém também se faz necessário olhar para o presente e o futuro da água na capital paraense. Mas para resolver um problema é preciso antes de tudo conhecê-lo. O coordenador do Laboratório de Recursos Hídricos e Meio Ambiente da Universidade Federal do Pará (LARHIMA), professor Milton Matta, assegura que a crise de gerenciamento é um dos principais fatores que podem levar à escassez da água. Para ele, a distribuição, a cultura do desperdício e a contaminação dos cursos de água são alguns dos fatores mais preocupantes nesse sentido. “Em estudos realizados pelo LARHIMA, nós podemos verificar que há água em quantidade suficiente

na nossa região, assim como no Brasil e no mundo para abastecer a população. O que se precisa é aprender a usar essa água”, afirma. Para o professor, mesmo que tenhamos o sistema aquífero Alter do Chão, considerado o maior do mundo em volume, a falta de água em Belém pode se dar pela rede de distribuição, que apresenta falhas. “O abastecimento feito pelos lagos Água Preta e Bolonha, depois que passam pelo tratamento são perfeitamente consumíveis. O problema é quando entra na rede de distribuição, que é muito antiga. Por isso, no laboratório estudamos uma alternativa para esse abastecimento. Verificamos, por exemplo, que o uso de águas subterrâneas é mais barato, porque não precisa das estações de tratamento, tem melhor qualidade físico-química e é mais protegida contra a contaminação. Já fi zemos propostas de abastecimento, a partir desses estudos, para os bairros da Pedreira, Marco, para as bacias do Tucunduba e Paracuri, além

de Barcarena e Abaetetuba, mostrando como pode ser feito um abastecimento setorizado, usando água subterrânea”, explica o pesquisador. Importante ponto levantado pelo professor é a orientação para o uso racional da água. O LARHIMA desenvolve projetos que buscam incentivar e promover a participação dos movimentos sociais e da população na manutenção e recuperação dos corpos de água. Um desses projetos foi realizado em 2012 com apoio da mineradora Vale. Segundo Milton Matta, o estudo “Os Recursos Hídricos e Qualidade de Vida na Bacia do MataFome, Belém-Pará: Doenças de Veiculação Hídrica e o Contexto Geo-Sócio-Ambiental”, teve como objetivo desenvolver planos de trabalho e fundamentos básicos dos recursos hídricos do Igarapé Mata-Fome, em Belém, que pudessem auxiliar gestores municipais, contribuindo para o planejamento urbano e para a melhoria da qualidade de vida da população.

“Há água em quantidade suficiente na nossa região. O que se precisa é aprender a usar essa água”

pAís DAs ÁGuAs

o Brasil tem a maior quantidade de água doce do mundo

12% do total da reserva do planeta estão no Brasil

68% de toda a água do Brasil está na região Norte FoNTE: oNU

ANTIcRIsE

o pesquisador milton matta defende a ideia do abastecimento setorizado no Estado, com uma nova forma de distribuição em bairros e municípios

mIlTON mATTA

CooRDENADoR Do LARHImA

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ASSUNTO DO MÊS banco0 de imagens / fiepa

INDÚSTRIAS

O setor industrial é importante para a economia da nossa região e vem sentindo a necessidade de trabalhar melhor as questões ambientais envolvendo o uso consciente da água. Depois da agricultura, as indústrias são as principais responsáveis pelo consumo de água doce no Brasil, somando um gasto em torno de 20%. Mas a simples redução do consumo nessa atividade pode implicar em perda de produtividade. Mesmo assim, é impossível ignorar a consciência do uso sustentável dos recursos hídricos. Para se adaptar a essa nova realidade a Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa) criou o Conselho Temático de Meio Ambiente (CTMA), responsável por elaborar princípios de gerenciamento de problemas ambientais. Luís Moura (acima), responsável pelo conselho, afirma que a metalurgia e a mineração são tipos de atividade de altíssimo consumo de água, mas que já desenvolveram processos próprios de tratamento e reuso da água utilizada durante a produção, com alto grau de segurança. “A maioria das empresas já consegue reutilizar mais da metade do que foi gasto nas suas operações. Isso é importantíssimo, porque a indústria retira, usa e devolve o que pode em perfeitas condições para o reaproveitamento”, comenta Moura. O coordenador ressalta que a Amazônia tem água em abundância, mas a atenção tem que ser voltada também para a qualidade de seu aproveitamento. 42 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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Gestão sustentável nas empresas Reutilizar água nos processos industriais é hoje

maior. O gerente de operações do Complexo do

a grande estratégia das empresas e isso decorre da

Sossego (abaixo), Anderson Miranda, diz que a recir-

urgente preocupação ambiental, que faz com que

culação de água na usina de beneficiamento do co-

esse tipo de processo ganhe cada vez mais espaço

bre chega a 99%. “Isso é resultado de melhorias que

nos ciclos produtivos. A água é o principal insumo

começamos em 2008, quando fizemos um balanço

de algumas das grandes empresas da região Nor-

hídrico do projeto justamente para desenvolver

te. Por isso, o tratamento racional desse recurso

ações que pudessem diminuir o uso de água nova”,

traz vantagens econômicas e ambientais.

afirma o gerente. Antes dessas mudanças a opera-

A mineradora Alcoa, por exemplo, trabalha uma

ção retirava do rio Parauapebas uma quantidade de

proposta de mineração sustentável, que perpassa

água suficiente para abastecer por seis meses uma

não somente por questões ambientais, como um

cidade de 25 mil habitantes.

método de recirculação de água e inovações na

As duas empresas, assim como outras na Ama-

reabilitação das áreas mineradas, mas também

zônia, mostram que a gestão adequada do recurso

pela dimensão social, com a criação de um tripé

hídrico pelo setor industrial garante sustentabilida-

que envolve sustentabilidade, financiamento de

de e posição diferenciada no mercado. Reutilizar a

projetos e indicadores de desenvolvimento.

água nas casas, na agricultura ou na indústria é im-

O diretor da unidade da Alcoa em Juruti, Affonso Bizon, explica que “depois da lavagem do mi-

portante alternativa para a preservação de um bem tão precioso e fundamental à vida do planeta.

nério, a água com argila é direcionada para um

RICARDO TELES/ VALE

reservatório protegido, onde passa por processo de decantação, que separa a argila. Ali, o próprio peso da argila faz com que a separação ocorra naturalmente e exponha na superfície a água que posteriormente volta para o processo, garantindo a reciclagem.” Para ele, a grande dificuldade, mas que ao mesmo tempo se torna um desafio especial, é estar em uma região de dimensões gigantescas e com uma das maiores biodiversidades do planeta. “Estamos sempre em busca de novos produtos e soluções para avançar. Por isso investimos constantemente no talento e na criatividade de nossos funcionários”, diz Bizon. Com as soluções implementadas nas operações o percentual de recuperação da água pode chegar a superar os 90%. Outra empresa que consegue reaproveitar quase a totalidade da água usada na produção mineral é a Vale, que só em 2012 investiu US$ 125,9 milhões na gestão de recursos hídricos. Algumas das unidades no Pará, por exemplo, estabeleceram metas de redução da demanda específica, que preveem a captação de um volume menor de água por tonelada produzida ou movimentada. Em 2013, a empresa conseguiu reduzir a captação de água nova, em relação ao ano anterior, em aproximadamente 3%, ou 10 milhões de m³, com taxa de reutilização de 75%. Ou seja, deixaram de captar aproximadamente 1 bilhão de m³ de água em fontes naturais. Em algumas unidades, o percentual é ainda

REUSO

No processo de produção de cobre, no complexo do Sossego, em Canaã dos Carajás, a reaproveitamento de água chega a 99%


NAS ILHAS

Desde cedo, os moradores da região insular de Belém aprendem o valor da água dos rios em suas vidas

REAPROVEITAMENTO

Preocupado com a qualidade da água consumida na região amazônica, o geólogo e doutor em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido, Ronaldo Mendes, do Núcleo de Meio Ambiente da UFPA (Numa), conheceu em 2007, durante uma viagem para avaliar o abastecimento nas ilhas que circundam Belém, um sistema de armazenamento de água da chuva, feito em cisternas. Pode não ser novidade nenhuma, já que desde a antiguidade se fazia a estocagem de águas pluviais, mas a originalidade do projeto na porção insular do Estado está na percepção dessa ser uma alternativa viável. “A gente pode se perguntar para que um ribeirinho precisaria de água de

chuva se ele pode beber água do rio ou de um poço. A questão é que essas áreas não possuem esgotamento, ou seja, os dejetos são lançados direto no rio e perfurar um poço se torna difícil, por serem áreas alagadas que possuem uma camada de argila muito espessa”, explica Mendes, que coordena o Grupo de Pesquisa Aproveitamento de Água da Chuva na Amazônia (GPAC) da UFPA. A vantagem desse sistema artesanal é a ausência de grandes mecanismos de captação, sem a necessidades de bombas e motores elétricos. A água cai no telhado, em seguida vai para uma calha que leva para uma caixa d’água e o próprio beneficiário é quem a filtra.

a ÁGUA NOSSA DE CADA DIA Discutir o tema da escassez é também se preocupar com uma questão de saúde. Devido à grande quantidade de água que compõe a formação do organismo humano (de 65% a 70% do peso corpóreo), ficar sem ingerir água em quantidade suficiente significa alterar todo o metabolismo, causando desidratação celular e, consequentemente, algumas doenças. A ingestão de 2,5 litros de água por dia, recomendada à pessoa adulta, reduz a possibilidade de infecção urinária e de aparecimento de pedras nos rins, contribui com a saúde bucal, incentivando a produção de saliva, que contém substâncias antibacterianas e ajuda a evitar a retenção de líquido no corpo. JANEIRO DE 2015

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ASSUNTO DO MÊS

Ronaldo Mendes lembra que hoje, no Brasil, mais da metade das pessoas em leitos hospitalares são acometidas por doenças de veiculação hídrica. Desenvolver esse tipo de tecnologia pode ajudar a diminuir drasticamente as chances de adoecimento. “Nós instalamos esse sistema nas ilhas do Murutucu e Ilha Grande e eles funcionam lá desde 2011. A prefeitura de Belém tomou conhecimento do projeto e resolveu investir e a ideia agora é instalar em larga escala nas comunidades ribeirinhas e atender inicialmente, no mínimo, 800 pessoas”, conta o pesquisador, que agora é consultor da prefeitura para o plano municipal de saneamento básico nas zonas rurais. Em Belém, em um único mês, pode chover quatro vezes mais do que numa região semiárida, como o Nordeste brasileiro. Mas, ainda assim existem mais de 300 mil pessoas sem água potável na capital paraense. Para Ronaldo Mendes, estudos como o do GPAC alinhados a parcerias com poder público podem ajudar esse número a diminuir. “É isso que buscamos”, resume o pesquisador.

Olhar para o rio

“Belém ainda vê seu rio e igarapés com um olhar do exótico”, define o doutor em Geografia Humana Saint-Clair Trindade, do Núcleo de Altos Estudos da Amazônia (Numa), ao falar da relação dos moradores da capital paraense com seus cursos d’água. Ele coordena a pesquisa “A cidade e o rio na Amazônia: mudanças e permanências face às transformações sub-regionais”, concluída em 2012. Para Saint-Clair, ainda falta ao belenense maior interação com o rio para além do aspecto contemplativo e, embora exista a realidade das águas, que funciona como movimentação da produção e meio de sobrevivência, a população divide essa relação com a estrada. Isso não se dá apenas na circulação, mas na construção de valores culturais, como expli-

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ca o pesquisador. “Mesmo em regiões pouco impactadas por essas mudanças, como algumas cidades do Baixo Tocantins, elas acabam mudando valores e comportamentos. Ainda assim, o rio acaba tendo um sentido muito grande nessas localidades, que podemos chamar de ribeirinhas propriamente dita.” Nos seus estudos, Saint-Clair verificou que nessas regiões a água do rio é usada na locomoção, na limpeza de roupas e objetos e

para o banho e também em atividades lúdicas de socialização. Há também a cultura do simbólico, com festas religiosas de São Pedro e Santa Bárbara, por exemplo, santos católicos ligados à água. Mas é no rio onde está o pescado, a água, que dá vida também para a várzea e mangues. Com o crescimento das cidades essas dimensões vão sendo anuladas. “Muitas vezes o que chamam de cidade ribeirinha, como é o caso de Belém, tem apenas uma ou duas dessas

características e a relação com rio está muito mais ligada com o espetáculo do que com o uso de fato desse rio. Somos praticamente uma cidade beira-rio”, afirma. Para Saint-Clair, políticas de subsídio a circulação fluvial, por exemplo, fariam com que as pessoas voltassem a ter essa conexão fundamental com o rio e potencializaria a vivência de uma população que tem a água como elemento fundamental do seu desenvolvimento humano.

“O rio acaba tendo um sentido nessas localidades, que podemos chamar de ribeirinhas”

valores

Para Saint-Clair Trindade, os recursos hídricos fazem parte do desenvolvimento humano na Amazônia

Saint-Clair Trindade

doutor em Geografia Humana

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COMPORTAMENTO SUSTENTÁVEL

Manbol, um esporte com a cara de Belém

Modalidade esportiva em que os jogadores usam bolas em forma de manga conquista o Brasil TEXTO Abílio Dantas fotos Everaldo Nascimento

D

ois meninos brincam com mangas caídas no quintal de casa em Belém. Entre risos, um arremessa ao outro uma fruta com o intuito de testarem seus reflexos. A diversão fica ainda maior quando outra

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manga passa a fazer parte da brincadeira, tornando o jogo mais rápido e exigindo mais atenção dos jogadores. De situações prosaicas da infância paraense, como a descrita acima, surgiu em 2004 o manbol, esporte criado pelo

professor de educação física Rui Hildebrando. A modalidade, hoje praticada por cerca de 2 mil adeptos em todo o Brasil, e que possui uma confederação nacional em Nova Iguaçu, no estado do Rio de Janeiro, atrai a atenção de pessoas de todas


TEM MANGA NA QUADRA

fOntE: ASSOCIAçãO MAnBOL BRASIL / InfOGRAfIA: MáRCIO EUCLIdES

Com a junção dos nomes “manga” + “Voleibol”, o manbol tem como características o uso de bolas ovais, como as de futebol americano.De acordo com a Associação manbol Brasil (AmB), o objetivo de incentivar o brincadeira amazônica é conquistar parceiros e contribuir para o crescimento do esporte no País Conheça as principais características e regras do manbol A quadra deve ter 10 m de comprimento por 5 m de largura. A rede fica a 1,65m do chão.

20 cm

As bolas ovais medem 20 cm de comprimento e pesam entre 90 a 110 gramas. Também podem ser substituídas por mangas.

1,65 m o esporte pode ser praticado por dois adultos individualmente ou equipes de duplas e trios. Para as crianças, vale até grupos formados por quartetos, quintetos e sextetos. 10 m

5m

A primeira bola deve ser arremessada fora da área de saque e a segunda poderá ser jogada de dentro da quadra, respeitando o limite da linha 2-L, nome dado à área do saque. Independentemente do que venha a acontecer na primeira bola, a segunda deve obrigatoriamente ser colocada em jogo logo em seguida.

o primeiro fundamento do manbol é o arremesso. é com ele que realizamos o saque e todos os ataques durante o jogo. o arremesso deve ser feito com apenas uma das mãos (e somente com elas), sendo sempre executado abaixo a linha do ombro, ou paralelo a ele. Não são permitidos movimentos de empurrar (como passe de peito do basquete), nem movimentos partindo acima da linha do ombro (como arremesso do handebol ou a cortada do voleibol).

Um set é fechado com 12 pontos. As partidas oficiais são disputadas em melhores de três sets.

DE olHo No plACAr Um jogador ou equipe marca um ponto quando: . A bola toca o solo da quadra adversária. Um adversário comete erros. . Quando o adversário comete uma falta grave . Em todas as jogadas, quando a primeira bola for definida, isto é, após tocar o solo, o jogo irá continuar normalmente até que a segunda seja finalizada.

as idades devido ao seu modo original de diversão e boas práticas para a saúde. De acordo com Rui Hildebrando, a invenção do esporte nasceu a partir de um momento de intuição. “Criei o esporte e as regras com uma boa dose de inspira-

Faltas graves que valem pontos:

. Arremessos frontais . Finta de braço . Arremessos com as duas mãos .Segurar a bola por mais de 2 segundos . Segurar as bolas simultaneamente . Golpear a bola

Faltas leves que não pontuam, mas dão inversão de posse: . Saltar dentro da quadra para qualquer lance de ataque . Invasão no saque . Invasão da quadra adversária

2 seg

ção. Inspiração superior, simplesmente criei”, acredita. O que era então apenas uma atividade praticada entre amigos, em quintais, passou a tornar-se um empreendimento sério. Em 2004, foi fundada a Associação Manbol Brasil (AMB), entida-

de de caráter representativo nacional do novo esporte. O manbol é comparado com frequência ao voleibol e ao tênis de quadra devido ao uso de uma rede, mas possui duas particularidades principais: a utilização JANEIRO DE 2015

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COMPORTAMENTO SUSTENTÁVEL

“O manbol é original. A inovação é importante desde que atenda a uma necessidade” karu gabriel

Educador físico

de duas bolas simultaneamente e a versatilidade com relação ao piso da quadra, pois pode ser praticado na areia, grama, cimento ou taco. O número de esportistas em cada equipe também pode variar. Segundo o documento “Base Pedagógica Completa Manbol”, as partidas podem ser praticadas em modalidade individual, onde jogam um contra um, na modalidade dupla, e em trios ou quartetos. Estas últimas são indicadas especialmente para crianças.

PRÁTICA

A unidade do Serviço Social da Indústria (SESI), no município de Ananindeua, é um local de prática e difusão do esporte desde 2005. O gerente de Cultura, Esporte e Lazer da instituição, Dário Silva, afirma que o SESI apoia o Man48 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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bol desde a sua criação. “O Rui veio conversar com a gente e nós reconhecemos que é um esporte excelente, pois causa um gasto calórico muito grande. Vimos que ele podia ser usado em empresas e escolas”, diz. Atualmente, o manbol é um esporte oficial dos jogos do SESI. O professor de educação física e técnico de esporte e lazer do SESI, Karu Gabriel, que trabalha com o manbol há aproximadamente dez anos, defende a importância do quesito originalidade na área esportiva. “Experimentar o novo é sempre estimulante. E o manbol é original e faz você se divertir e diminui o estresse. A inovação é importante desde que atenda a uma necessidade”, afirma. Segundo Karu Gabriel, o esporte atrai praticantes de todas as ida-

des. “É incrível como tanto crianças quanto idosos se sentem muito à vontade com o manbol. É claro que precisamos respeitar a limitação de cada corpo”, diz. O professor assegura ainda que o esporte traz muitos benefícios para a saúde, especialmente nos exercícios de membros como glúteos e peitoral, ocasionados pela execução de movimentos como agachamento e arremessos. A partir deste ano, o SESI Ananindeua contará com uma quadra oficial de manbol, que consiste em um retângulo de 10 metros de comprimento e 5 metros de largura circundada por todos os lados por uma zona livre de, no mínimo, 1,5m de largura. De acordo com Karu Gabriel, a construção é um investimento que visa à popularização ainda maior do esporte em Belém.

benefícios

O professor de educação física e técnico de esporte e lazer do SESI, Karu Gabriel, afirma que o manbol faz bem para o corpo e para a mente


BONS EXEMPLOS

MUDANÇADEATITUDE vivamelhoronline.com / reprodução

roberta brandão

use inseticidaS naturais em sua casa

Nesse período de chuvas fortes na região, a quantidade de insetos aumenta nas casas e junto o uso de inseticidas. Esses repelentes

Espaço cultural para discutir a cidadania

Apesar de o nome remeter ao universo da literatura o Espaço Cultural Nossa Biblioteca surgiu de uma demanda muito mais ampla, e tem sua história ligada às lutas por melhorias da população do bairro do Guamá. Já são 37 anos de vida com uma atuação que vai além do que se espera de um simples local para leitura. “Ainda na década de 1980, quando era apenas uma biblioteca, além de dar acesso aos livros, servia de abrigo para reuniões de entidades comunitárias que organizavam as lutas sociais e que, por causa disso, não lhes era permitido reunir em áreas públicas. Foi desta necessidade que surgiu a ideia de se ter um espaço maior, que não fosse só uma biblioteca, mas

um local para assembleias, cursos, apresentações artísticas e de formação.”, conta o professor Raimundo Oliveira, coordenador e presidente do Espaço. A ideia de montar uma biblioteca comunitária surgiu para que os frequentadores se sentissem capazes de ter ferramentas que lhes possibilitem conhecer o mundo que os cerca refletindo no consequente crescimento intelectual a partir da leitura “O Espaço já esteve em várias mobilizações no bairro e na cidade. Já lutamos para aterrar ruas até fazer pronto-socorro. Mas vimos que só a mobilização pelo que era mais imediato não conseguiria, sozinha, elevar o nível de cidadania dos moradores. Por isso, passamos a focalizar mais a construção de ações que

desenvolvessem o conhecimento e uma visão mais ampla da existência humana na sociedade.”, explica o coordenador. Hoje, os livros dividem espaço com práticas esportivas, como capoeira, jiu-jitsu, taekendô e, aos sábados, um círculo de leitura, formação de contadores de história e o “Cineguamá”, atividade fundamental que o Espaço usa para debater problemas atuais da sociedade, além de ser uma forma de entretenimento no bairro. “Agora trabalhamos pela criação do Plano Municipal do Livro, Leitura e Literatura de Belém, que deverá ser uma lei que permita um maior investimento na construção e manutenção de bibliotecas, comercialização e divulgação do livro”, diz Raimundo.

comerciais contêm um componente chamado dietiltoluamida (DEET), uma substância tóxica e que, em concentrações mais elevadas, pode causar problemas de saúde. Porém, uma alternativa saudável sem deixar de se proteger contra os insetos é a criação de inseticidas naturais e caseiros. Na natureza, encontramos agentes repelentes naturais e que podem ter o seu uso sem prejudicar o organismo ou o meio ambiente. Ao plantar espécies como lavanda, hortelã, alecrim, arruda e andiroba no jardim, o aroma mais acentuado delas irá ajudar a afastar os mosquitos indesejados. O crisântemo ajuda a afastar baratas percevejos, pulgas e carrapatos. Já hortelã ajuda a afastar as formigas do jardim, então plantá-la ao redor de todo o local ajuda a se livrar do excesso de formigas. A cânfora, por sua vez, inibe aranhas e traças e pode ser utilizada diluída para borrifar em paredes e armários. Um ingrediente também muito usado nessa composição é a citronela. O odor da planta afasta naturalmente qualquer tipo de inseto e ela ainda pode ser usada no corpo. Para deixar o ambiente protegido, basta pingar três gotas de óleo de citronela na água de um difusor, que pode ser encontrado em casas de aromaterapia. O aparelho pode ser ligado por cinco minutos a cada duas horas. Se preferir, use pedaços da folha da planta e deixe sobre um prato no local desejado e lembrar de trocar as folhas todos os dias para ter uma proteção contínua.

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VIDA EM COMUNIDADE

Partilha de sentimentos em Comum

projeto Troca de Saberes incentiva o intercâmbio cultural de arte-educação e respeito pela vida na Amazônia TEXTO Camila Machado fotos Roberta Brandão

“S

omos todos reais e cada um com a sua originalidade para oferecer ao outro”. Assim o cacique Neto Tembé expressou a satisfação ao concluir a sua participação no Projeto Troca de Saberes. O evento, realizado no sítio Luar Lindo, em Ourém, teve como proposta relacionar ideias e valores através do espírito fraterno e significado do “reaprender” na vida de cada participante. Pluralidade foi a palavra mais falada ao longo daqueles dias do final de novembro, quando se reuniram mestres de boi de Ourém, cerca de 40 pessoas da comunidade Rio Branco e representantes da comunidade quilombola Mocambo. Na programação, exposições fotográficas, vídeo mapping, apresentações circenses, teatrais, de grafite e outros segmentos culturais serviram como instrumento de intenção e revitalização de hábitos socioculturais esquecidos. A ideia era a de “remexer” a memória local, no exercício do respeito e o valor do homem amazônida dentro de seu contexto cultural, reaproximando assim as pessoas 50 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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com as tradições populares. O cacique Tembé conta que o intercâmbio de cultura foi uma experiência inédita para a tribo dele, que teve a oportunidade de mostrar um pouco mais do seu cotidiano para as outras pessoas. “Foi um momento único que levaremos para sempre conosco. Essa troca de valores só enriquece cada vez mais a nossa cultura e acrescenta coisas boas”, afirmou. Ele recordou ainda um momento em especial no evento. “Lembro de ter sentido uma emoção muito grande quando uma moça chegou no sítio, olhou para mim e se emocionou dizendo que nunca tinha visto um índio de perto. Aquilo me fez perceber que essa é a troca mais valiosa que nós podemos ter: a de sentimentos”. A índia Kwzawaza Tembé também sentiu essa emoção ao entrar em contato com outras experiências. “Eu adorei tudo que aconteceu durante o projeto. É muito bonito ver que existem muitas pessoas que se interessam pela minha cultura e ao mesmo tempo perceber que ela pode se relacionar com outras”, disse.


Essa troca de valores envolveu ainda a vocalista da banda Gang do Eletro, Keyla Gentil, que participou dos três dias de evento. Ela se sentiu feliz pela oportunidade de entrar em contato com as suas origens. “Sei do quanto é difícil para eles (indígenas) manterem a sua cultura. Vivemos na capital e não entendemos muitas coisas que envolvem a nossa própria história. Fiquei muito surpresa quando vi eles dançando brega, tremendo e cantando as nossas músicas. Vê-los com a mente aberta para essas coisas é muito gratificante”.

PLURALIDADE

disseminar a alegria

Crianças quilombolas e indígenas tiveram contato com a arte Clown, com a apresentação de palhaços por toda a comunidade

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MORADORES DA COMUNIDADE RIO BRANCO, de Ourém, participaram das atividades do projeto Troca de Saberes, que envolveu arte, debate sobre cultura e valorização das pessoas que constroem a Amazônia no dia a dia

Formado por produtores culturais, arteeducadores, músicos, atores, escritores, mestres da oralidade, o projeto Troca de Saberes promoveu ações que finalizaram um ciclo de interação em Ourém, no nordeste paraense, a 182 km de Belém. Desta vez, quem recebeu as oficinas de formação cultural, como teatro, flauta e audiovisual, foi a comunidade Rio Branco. Com duração de duas semanas, as oficinas tiveram seus resultados apresentados no Cortejo Cultural, que reuniu todos os participantes do evento pelas ruas na cidade, e finalizou com um show da Banda Gang do Eletro na orla do município. Para Erivelton Araújo, um dos organizadores do evento, esse é um momento de compreender a formação cultural de cada amazônida. “Esse processo é muito dinâmico. É preciso compreender o que cada um faz e aprender em cima disso. Não existe um trabalho melhor que o outro, todos eles podem interagir e se ajudar. É uma revitalização de informações”, comenta. Um dos participantes do evento, o grafiteiro Daniel Ops, da Conexão Rodovia Crew, acredita que o evento contribuiu diretamente com o seu trabalho. “É uma oportunidade única para todos nós. A troca acontece porque rola uma identificação com a cultura do outro, pois você admira. Não tem como sair perdendo em projetos assim. Legal essa mistura de gerações, a relação com a natureza e o bom convívio. É ideal para repensarmos a nossa própria identidade. Você acaba formando a sua cultura, unindo à do outro. Como exemplo JANEIRO DE 2015

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VIDA EM COMUNIDADE

aprendizagem

O cacique Neto Tembé participou das atividades do Troca de Saberes e vai levar o conhecimento adquirido para seu povo. Visitantes também aprenderam o ofício de populações tradicionais, como a produção da farinha de mandioca.

disso, criei o meu graffiti baseado em elementos da região”, explica. Para o integrante do coletivo Miasombra, Milton Aires, o primeiro dia no Troca de Saberes foi fundamental para sua experiência. “Somos todos iguais aqui. Também foi um sentimento de reencontro comigo mesmo. Essa é a grande troca: se sentir livre”, comenta.

INTERAÇÃO

Ao desenvolver trabalhos em comunidades ribeirinhas, com arte, poesia e literatura, a Biblioteca Itinerante Infantil Barca das Letras vivenciou pelo segundo ano consecutivo o encontro cultural do Troca de Saberes. Comandada pelo educador Jonas Banhos, o palhaço Ribeirinho, o foco principal era brincar de ler com as crianças presentes: indígenas Tembé, os filhos dos participantes do evento e as crianças moradoras vizinhas do Sítio, para incentivar o prazer da leitura. Ele conta que o trabalho desenvolvido é uma troca constante, onde ambas as partes sempre saem ganhando. “Eu trago os ele52 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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mentos e as crianças montam a biblioteca, fazem desenhos, se vestem de palhaços, fazem o varal da poesia, tudo no tempo deles, com carinho. Eles só querem ser ouvidos. É um trabalho de gentileza e crescimento juntos”, afirma Jonas. O educador destaca ainda a importância desse tipo de trabalho com as crianças para despertar nelas o verdadeiro sentido da infância. “Hoje em dia, em meio a tecnologia, parece que as crianças esqueceram o valor dessa interação com outras culturas, de experimentar os vários sentires e saberes, entrar em contato com novas pessoas e experiências. É fundamental que elas passem por isso nesse período”, diz. O filho do diretor teatral Jhonny Russel, Matheus, de seis anos, foi uma das crianças que participou da Barca das Letras. Ele ressalta a importância do filho participar do evento e de como essa experiência pode influenciar no seu futuro. “Fico muito feliz que ele tenha esses momentos, porque eu não tive isso quando era criança. Ele sempre me acompanha nesse tipo de projeto como o Troca de Saberes, pois é uma for-

“Uma moça se emocionou dizendo que nunca tinha visto um índio de perto. Essa é a troca mais valiosa que nós podemos ter: a de sentimentos.” Neto Tembé cacique

ma dele entrar em contato com novas culturas, conhecer outros tipos de vivências. Tenho certeza que isso ajudará a trazer uma bagagem cultural muito grande, fazendo dele um cidadão melhor”, conclui.


arte, cultura e reflexão KARINA MENEZES / divulgação

PENSELIMPO

som & cor

a banda strobo, formada pelo guitarrista Leo Chermont e o baterista Arthur Kunz , experimenta novas possibilidades visuais em suas apresentações

pÁGINA 58

tom 15 anos Um dos principais grupos de pagode da cidade, o Nosso Tom se mantém fiel às origens românticas de seu trabalho. Pág. 54

legado O médico e engenheiro agrônomo

belém 400 anos A um ano para completar

Eurico Pinheiro dedicou a vida acadêmica à pesquisa das seringueiras da região amazônica. Pág.60

quatro séculos de história, a capital paraense representa a urbanidade no meio da floresta. Pág.66

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DEDO DE PROSA

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Sem fugir do tom

com 15 anos de estrada, o grupo Nosso Tom continua mais romântico do que nunca. para o vocalista Júlio Cézar, manter o som fiel às origens ALIMENTA o espírito apaixonado DOS PAGODEIROS DA BANDA. TEXTO João Cunha FOTOS Roberta Brandão

“P

esado, batuqueiro, mas sem perder a ternura”. Assim poderia ser apresentado “Novas Trilhas”, sexto disco do Nosso Tom. O trabalho mais recente do grupo, gravado na Cia. dos Técnicos, no Rio de Janeiro, ganhou forma em volume e fúria com o experiente instrumental de sambistas cariocas, a exemplo de Rildo Hora. Mas também carrega a marca duradoura do sexteto de versar sobre amor: suave, sentimental, à moda antiga. Característica que, para Júlio Cézar, explica a longevidade e o sucesso do Nosso Tom nas noites e nas rádios paraenses. Não ter seguido os sons da moda e prezar, acima de tudo, pelo romantismo e a qualidade musical. Com 15 anos recém-completados, o grupo já é um veterano do samba e do pagode de Belém, acompanhou a ascensão e queda de vários estilos no seleto nicho das “mais tocadas” e

se manteve incólume para assistir a retomada da “sofrência” romântica, capitaneada por Pablo do Arrocha. Nessa entrevista, o vocalista do Nosso Tom afirma a identidade pagodeira do grupo, com orgulho e sem deixar de ter uma forte ligação com o regional, e fala do orgulho em ser uma das atrações da 3ª edição do Ver-o-Peso da Nossa Música, projeto de fomento cultural com patrocínio da Vale em homenagem aos 399 anos de Belém. Recentemente, vocês lançaram “Novas Trilhas”, um CD gravado na Cia. dos Técnicos do Rio de Janeiro, com a participação de músicos de renome no samba. Como foi o processo de gravação e qual a cara desse novo disco? Foi maravilhoso. Foi um disco que nos aproximou de muitas pessoas que a gente admira. O Boris, produtor do Sorriso Maroto, nos produziu. Além dele, tivemos a participação do Rildo Hora, pro-

dutor do Zeca Pagodinho, Camilo Mariano, baterista do grupo Sorriso Maroto, J. Moraes, produtor da cantora Maria Rita. E isso nos trouxe uma sonoridade nova, não gosto de dizer que ela é carioca, porque o samba não é só do Rio de Janeiro, ele é do país todo. É um disco mais pesado, romântico como é o nosso estilo, mas muito batucado. Vocês têm a característica de gravar composições próprias. Dentro do próprio grupo a criação é muito grande. Nesse novo trabalho, no entanto, só uma música é assinada por um membro do Nosso Tom. Por que essa escolha? É o disco que tem menos músicas do Nosso Tom, mas era o momento para isso. Apareceu tanta coisa boa, de compositores novos, que fizeram música para o Nosso Tom gravar, que precisávamos gravar. Tem gente daqui, de São Paulo, de Porto Alegre. Eu gosto de mapear, usar o ouvido pra descobrir gente que compõe e faz harmonias diferentes. JANEIRO DE 2015

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DEDO DE PROSA

DIVULGAÇÃO

sexteto musical

Há 15 anos, os integrantes do Nosso Tom mantêm a identidade do pagode romântico na Amazônia

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O Nosso Tom iniciou 2015 no palco da terceira edição do “Ver-oPeso da Nossa Música”. O projeto, patrocinado pela Vale, foi uma homenagem ao aniversário de Belém (realizado nos dias 11 e 12 de janeiro, no Centur), que reuniu diversos artistas paraenses. Como foi fazer parte dessa programação? Um projeto como o “Ver-o-Peso da Nossa Música”, de incentivo à cultura, deveria acontecer sempre, pela iniciativa pública e privada. Eventos dessa natureza, shows abertos e gratuitos, são momentos importantes para a sociedade e para o artista, porque muitas vezes você consegue mostrar um pouco da sua música para um público mais amplo. Quando se tem uma iniciativa que levanta uma questão regional, que fala da nossa terra, e você ser lembrado, é motivo de orgulho, a gente que JANEIRO DE 2015

levanta a bandeira do nosso Estado, mesmo tocando um ritmo que não é tão regional, mas não deixamos de ser artistas paraenses, e quando você é reconhecido desse jeito em um evento dessa proporção, é gratificante. Além da valorização da cultura local, o Ver-o-Peso da Nossa Música tem como mote a celebração dos 399 anos de Belém. Essas datas comemorativas também ensejam uma reflexão de como está a cidade. Como você percebe a Belém de hoje? Belém é uma cidade fantástica. Eu adoro viajar e tive a oportunidade de conhecer grandes cidades do mundo e Belém é uma delas. Eu considero uma grande cidade aquela que te mostra uma geografia própria e uma culinária peculiar. E Belém tem tudo isso. Nossos

“Nós mantemos uma identidade romântica, de pagodeiro, que é um rótulo do qual a gente não se envergonha, porque eu percebo que o som chegou a muita gente e está estabelecido” rios, a floresta, nosso povo, e a comida, ingredientes nossos, temperos nossos, uma forma de falar nossa, e uma música nossa. A banda é apaixonada por Belém e acho que o maior barato dos nossos 15 anos é que as pessoas que não são daqui sabem que em Belém existe um grupo que vive da sua própria música e foi a cidade que nos deu tudo isso. Então é uma relação de gratidão muito grande. Você já se vê na posição de um veterano, de abrir portas para outra geração de artistas? Sim, acredito que o Nosso Tom tem um compromisso muito grande, nunca abandonamos o nosso movimento, e, por isso, temos essa responsabilidade. Seria fácil, nesses 15 anos, seguir o estilo da moda. Teve a onda do axé, da suingueira, e eles continuam por aí,


ficaram os bons, os que fazem a música por amor. Acho que esse foi o segredo do Nosso Tom: nunca ter se curvado às tendências que aconteceram. Nós mantemos uma identidade romântica, de pagodeiro, que é um rótulo do qual a gente não se envergonha, pelo contrário, por que eu percebo que o som que eu faço com os meus cinco companheiros chegou a muita gente, mesmo aos que não gostam, e está estabelecido. E isso serve de espelho para quem inicia. Eu vejo músicos jovens, de 16, 17 anos, que conhecem a nossa discografia toda. Me sinto com essa responsabilidade. O Nosso Tom surgiu quando a Internet era novidade no Brasil. Como a banda acompanhou a transição digital? As redes sociais e as plataformas de compartilhamento de música, como o Soundcloud, são um canal importante, tanto para divulgar o trabalho de vocês, as músicas, como de comunicação com o público? Bastante. Em termos de divulgação de trabalho, basicamente minhas redes são para isso. Instagram, Facebook, Twitter, Whatsapp são redes que eu uso muito como um canal com os fãs do Nosso Tom e para poder distribuir nossas músicas. Acho que unindo nossos perfis particulares com as redes oficiais do grupo, temos quase 40 mil seguidores ativos, que estão sempre nos dando respostas, ideias. As redes sociais vieram como um benefício para a divulgação do nosso trabalho. A volta de grupos e artistas de pagode dos anos 1990 e a realização de shows e festas dedicadas a esse estilo, também fazem parte desse retorno ao romantismo ou se integram a um sentimento maior de nostalgia? Acho que a revalorização dos pagodes dos anos 1990, com a volta do SPC (Grupo Só Pra Contrariar), o projeto conjunto do Chrigor, Salgadinho e Márcio Art (ex-vocalista do grupo Art Popular), acontece porque as pessoas sentem falta da música com esse idealismo e qualidade também! Eu costumo falar

que muita gente se refere àqueles pagodes como algo menor, mas eles não são. São harmonias bem construídas, acordes difíceis de serem tocados, arranjos de corda, metais, não é fácil tocar aquelas músicas de Exaltasamba, Kiloucura, são canções muito ricas sonoramente. E por isso ela perdura, por isso você pode tocar até hoje uma canção daquela época, que vão ter várias pessoas cantando junto. É comum a fusão do pagode e do samba com outros estilos, como o funk, o rock e o forró. E quanto aos ritmos regionais? Nunca interessou ao grupo fazer um diálogo musical? Misturar, por exemplo, a percussão do pagode com o curimbó ou com a batida eletrônica do tecnobrega? Sim, são coisas que podem acontecer no nosso próximo DVD, que vamos lançar este ano. Temos vontade de fazer uma mistura com a guitarrada. Acho que tem tudo a ver. Temos uma relação superboa com o pessoal do (Trio) Manari. A música é aberta, universal, mesmo que você toque num ritmo, várias conexões são possíveis. Recentemente, eu estive com a Keila (Gentil, vocalista da Gang do Eletro) e nós conversamos sobre alguma parceria que tenha a batida do tecnobrega, tecnomelody, que é romântico muitas vezes. A gente pode fazer essa fusão sim.

Novos tons

Júlio Cezar não descarta a possibilidade de fazer boa música com outros parceiros, como a turma do tecnobrega

Nosso Tom no Youtube: “Era paixão, não era amor”

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“Amar Você”, do DVD Uma História de Amor - 2006

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ARTE PESQUISADA ALAN SOARES / DIVULGAÇÂO

A dupla de rock instrumental formada por Leo Chermont e Arthur Kunz revela como a LUZ se transforma na extensão das notas musicais

A DUO no palco

O guitarrista Leo Chermont e o baterista Arthur Kunz fazem da interação entre luz e som o reflexo do próprio trabalho: uma parceria

A cor do som da Strobo TEXTO Natália Mello

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ssistir a um espetáculo musical é como vivenciar uma sinestesia. Mas, se deparar com o frenesi das cordas de Leo Chermont e com o groove das baquetas de Arthur Kunz no palco é, sem dúvida, uma experiência sensorial particular. Sem a força do vocal para envolver o público, o guitarrista e o baterista da Strobo se valem de múltiplos recursos visuais para fazê-lo, onde imagens e cores se confundem com as cadências sonoras. As projeções em vídeo mapping se movimentam de acordo com os acordes transpostos pelos músicos e se transformam em um forte aliado do projeto musical, apenas instrumental, que começa a dar passos largos no cenário artístico de Belém e do Brasil. Embora o lance visual estivesse sempre presente desde o início do duo, em 2011, consolidar a proposta atual da dupla foi um processo evolutivo. “Sempre trabalhamos com imagem, o nosso primeiro clipe foi assim, mas nunca tínhamos trabalhado com vídeos sincronizados. A gente ia tocar e levava um cara para colocar vídeo mapping. A in-


REVOLUÇÃO DIGITAL

A concepção do que seria a Strobo começou a ser constituída no “Metaleiras da Amazônia”. Posteriormente, formaram o trio instrumental “Floresta Sonora”, com MG Calibre. “Ele é o culpado de tudo, dessa união. Só que não chegamos a uma concepção de sonoridade e o Arthur me chamou para tentarmos um trabalho eu e ele”. A sonoridade ímpar da Strobo foi alcançada a partir de muita pesquisa. Filha da revolução digital, a dupla buscou na tecnologia um aporte para suprir a necessidade de se sobressair no cenário musical, e usou isso a seu favor. Muitas das composições do último disco, “Mamãe Quero Ser Pop”, foram feitas a distância. “Chegou a um ponto em que estamos criando a nossa própria tecnologia. O objetivo é que a gente não perca o tempo da realidade do Brasil na nossa sonoridade. Existem maneiras mais legais de se fazer música que não são ligadas só a softwares”, analisa o baterista Arthur Kunz. A Strobox é o resultado desse trabalho criativo do duo. Com ela, a

viagem sonora sai do universo dos músicos e invade a imaginação do público. No show de lançamento do novo álbum, no final de novembro, em Belém, uma fã pode subir ao palco e experimentar alguns acordes. Para dar certo, a caixa tem uma consonância harmônica com as canções. “Queríamos improviso, queríamos que fosse uma coisa como se fosse a hora que a gente está compondo. O irmão do Kunz que fez tudo, pesquisou código, potenciômetros, montou a caixa. A escala está no tom de Mi menor, e a gente toca dentro dessa escala. Ela não desafina, mas o ritmo e todo doido”, conta Leo Chermont, lembrando da experiência. “A ideia de tudo isso é a pessoa poder participar do show da gente, fazer parte da banda, e isso pode abrir a mente de uma galera que nunca fez música. Isso é divertido”, completa Arthur.

CRIAÇÃO

A criatividade é o carro-chefe da Strobo. Com uma trajetória consolidada no cenário musical paraense, os dois começam a alçar voos mais altos. Depois de se apresentarem em Manaus (AM) e Natal (RN), agora tentam se lançar na região Sudeste do país. A mistura, que imprime no rock uma pegada regional, é consequência de um mashup. “A gente viveu e vive um pouco isso. O Arthur tocou com o Felipe Cordeiro, gravou disco da Aíla (Magalhães). Eu tive um estúdio no comércio e uma galera passou por lá, Mestre Viera, Dona Onete. Já está dentro da gente. E é muito louco porque somos dois caras branquelos classe média, mas que conseguiram interagir com essa galera mais roots. Hoje, a gente se sente apropriado disso para fazer a nossa música. Não fica piegas. Não é pela tendência, porque está vendendo. A gente faz o que a gente vive”, conclui o guitarrista Leo Chermont.

SAIBA MAIS Conheça o trabalho da Strobo em www.bandastrobo.com

ALAN SOARES / DIVULGAÇÂO

tenção desse projeto atual é ter uma interação tecnológica. Como a gente trabalha com música instrumental, a gente busca isso da interação, então quando surgiu o projeto dos shows escrito pela AmpliCriativa foi interessante”, diz Leo. Sincronizar as batidas da guitarra e da bateria com as imagens projetadas ainda é um trabalho pouco presente entre as bandas no Brasil, segundo os músicos. Para “sincar” vídeo e som é preciso método, e o motion designer Gustavo Senna, do Espírito Santo, foi trazido especialmente para concretizar a ideia. “Conhecemos ele no Movimento HotSpot, em meados do primeiro semestre de 2014. Daí, nós passamos a trabalhar nisso, e a geração dos vídeos foi toda pensada com som”, explica Arthur.

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MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS

um apaixonado por seringueiras TEXTO rosana medeiros ilustrações jocelyn alencar

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Eurico Pinheiro 1927-2011


Q

uando aceitou o emprego de laboratorista no Instituto Agronômico do Norte (IAN), aos 21 anos, o calouro de medicina Eurico Pinheiro não imaginava que estava mudando para sempre a sua história e a da Amazônia. No Instituto, foi designado para trabalhar no laboratório de tecnologia da borracha. Foi quando começou a se interessar pelos problemas do campo, principalmente com os trabalhos de pesquisa para o estabelecimento de um sistema racional de cultivo da seringueira na Amazônia. Quatro anos após ingressar no instituto, Eurico Pinheiro foi aprovado para a recém instalada Escola de Agronomia da Amazônia (EAA). Recebeu o grau de engenheiro agrônomo em 1954 e, a partir daí, passou a compor o quadro de pesquisadores do IAN. Já no ano seguinte, foi indicado para dirigir a estação experimental do Baixo Amazonas, onde teve contato com a heveicultura (cultura da seringueira), numa das plantações idealizada pelo industrial norte-americano Henri Ford. Nesse período, desenvolveu estudos sobre espaçamento, técnicas de corte, cobertura verde, adubação, entre outras técnicas de cultivo da seringueira. Além disso, realizou trabalhos de melhoramento da heveicultura, desenvolvendo e avaliando clones de seringueira, como os da série IAN e Fx. Em 1959, Eurico retorna para Belém, retoma os trabalhos de pesquisa no IAN e lança alguns clones que permitiram dinamizar a cultura da seringueira na Bahia, São Paulo, Mato Grosso e em algumas áreas do Pará. Os clones se adaptam com maior facilidade a determinado contexto ambiental, gerando plantios de seringa mais produtivos e impactando diretamente na vida do produtor de seringueira. “Ele estava mais preocupado com o que tinha efeito no setor produtivo e na vida do produtor”, diz Alfredo Homma, engenheiro agrônomo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Em Itacoatiara, no Amazonas, Pinheiro desenvolveu um projeto que visava ao plantio de seringueira e dendê por pequenos produtores. Outro fato importante de suas pesquisas

foi a descoberta do fungo Microcylus ulei como agente causador do “mal das folhas”, praga que destrói a seringueira. Essas pesquisas são a base para o desenvolvimento do conceito de “zona de escape”, áreas onde as seringueiras têm melhores condições ambientais de desempenho. Cientista responsável e apaixonado por seu trabalho, Eurico vai além e desenvolve junto com a professora Lucieta Martorano, pesquisadora em agrometeorologia da Embrapa Amazônia Oriental, estudos onde estabelecem em que local do Pará ocorre a zona de escape, sendo possível plantar seringueira sem medo do “mal das folhas”. Segundo a pesquisadora, com o desenvolvimento dos clones e a descoberta da “zona de escape”, Eurico Pinheiro revitalizou a heveicultura. “Ele era um idealista, um ser brilhante, com uma cabeça incansável para fazer ciência”, afirma Lucieta. Mas o trabalho de Eurico não ficou apenas no campo. Em 1970, ele foi convidado pelo então governador Fernando Guilhon (1971-1975) para exercer o cargo de Secretário de Estado de Agricultura (Sagri). Nesse período, estabeleceu um programa de desenvolvimento agropecuário baseado em projetos por atividade/produto, dentre os quais se destacam o algodão, o maracujá, a seringueira, o dendê, a avicultura e a piscicultura. Com esse projeto, Eurico foi pioneiro em apostar e incentivar o plantio da cultura do dendê no Pará, chegando a implantar uma usina de beneficiamento da planta no Estado. Ele também foi o responsável pela criação da Centrais de Abastecimento do Pará (Ceasa-PA), tornando-se o primeiro diretor-presidente da entidade. Eurico Pinheiro faleceu em 2011, aos 84 anos. Ele deixou uma história de amor pela seringueira e pela Amazônia, traduzida em vários trabalhos. Um deles, foi lançado recentemente em forma de livro, com participação de Lucieta Martorano e um dos filhos de Eurico, Sergio Pinheiro. Para a pesquisadora, a obra “A cultura da seringueira: histórico e perspectiva de produção e coeficiente no estado do Pará”, é um legado científico para a sociedade. JANEIRO DE 2015

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AGENDA Tamara Saré / Agência Pará

BOLSA Com a finalidade de promover a capacitação profissional na área de conservação ambiental em níveis local e nacional, a Rede WWF criou a Bolsa Prince Bernhard voltado para estudantes e profissionais. O principal objetivo é prover suporte financeiro para treinamento de curto prazo ou estudos formais, para que o indivíduo possa contribuir de maneira mais eficiente com a conservação ambiental em seu próprio país. Informações em www.panda.org/scholarships.

fotografia Pelo quinto ano, a Fondation Alliance Française de Paris promove o Concurso Internacional de Fotografia que esse ano, com o tema “Clima, estado de urgência”, chama atenção para os problemas globais em relação ao meio ambiente. O concurso que acontece com apoio das Alianças Francesas de todo mundo, é promovido no Pará pela Aliança Francesa de Belém. O período de envio das fotografias dos interessados em participar da competição é de 14 de janeiro a 14 de maio de 2015. Para a seleção local, os interessados devem enviar duas fotos alusivas ao tema de até 1 mega para o email: concurso@afbelem.com. Mais informações no site www.afbelem.com.

CIÊNCIAS FLORESTAIS

Pós-graduação

CURSO A Universidade do Estado do Pará (Uepa) está com inscrições abertas, até o dia 23 de

O Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais (PPGCF), da Universidade Federal Rural da Amazônia

janeiro, para o processo de seleção para o

(Ufra), para candidatos com formação em Engenharia Florestal ou áreas afins, está com inscrições abertas

regime de Tempo Integral com Dedicação Ex-

para 13 vagas no mestrado e 12 para o doutorado. Os interessados tem até o dia 30 de janeiro para efetuar a

clusiva (TIDE). São considerados habilitados

inscrição. Para mais informações, basta acessar o site www.portal.ufra.edu.br.

para concorrer a uma das 25 vagas ofertadas, docentes efetivos que integram a carreira do Magistério Público Superior da Uepa, entre

teatro nA UFPA

Segue aberto o processo seletivo do Curso Técnico de Nível Médio profissionalizante da Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará (ETDUFPA). No total são 150 vagas distribuídas entre os cursos técnico em ator, Cenografia, Dança – Interprete/criador, Técnico em Dança Clássica e Técnico em figurino cênico. O processo seletivo consta de duas etapas - prova escrita e prova pratica- com dia e horários estipulados no edital. Mais informações na secretaria da ETDUFPA: 3212-5050 e 3212-5334.

outros requisitos. Mais informações no edital disponível no site www.uepa.br.

ODONTOLOGIA De 14 a 17 de janeiro Belém recebe o XXI Encontro do Grupo Brasileiro de Professores de Dentística. O evento contará com palestras, cursos de dentística, simpósios, apresentação de painéis, entre outros. O evento conta com o apoio de Universidade Federal do Pará. A programação completa pode ser encontrada no site www.xxigbpd.com.br.

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Faça VocÊ meSmo

PORTA-TRECO DE PAPELÃO O jornal foi lido, o papelão já não é mais caixa. Já imaginou jogar no lixo, todos os dias, a quantidade de jornais e papelão utilizados? É hora de transformar esses materiais em um novo produto a partir das dicas da Fundação Curro Velho e da revista Amazônia Viva. Siga nosso passo a passo para a confecção de um portatreco que lhe renderá, além da economia de dinheiro, uma atividade terapêutica e

aquele sentimento de estar no caminho certo rumo à sustentabilidade – que tem de começar de alguma forma, por menor que seja a ação. A técnica utilizada será a papietagem, com jornal, cola e papelão. E a imaginação do leitor também é bastante importante. Essa é mais uma das atividades feitas pelas Oficinas do Curro Velho, da Fundação Cultural do Pará, onde qualquer pessoa pode participar.

a nos r valho, 15 a C y il n e D

Do quE VAMos prECIsAr?

• • • • • • • • • •

Cola adesiva Tesoura com pontas arredondadas Estilete com travas Lixa 1 pedaço de bobina de papelão 1 pedaço de borracha tipo E.V.A. Jornal e papelão Barbante de qualquer cor Cola de contato Lápis e pincel

INsTRuTORA SônIA BARROS cOlABORAÇãO dEUSA vASCOnCELOS fOTOs RAIMUndO CALAndRInO jUnIOR

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ATENçÃO: essa atividade pode ser feita por crianças, desde que acompanhadas por um adulto responsável

2

Depois de amassado, rasgue o jornal em tiras

3

Lixe a bobina de papelão para aderir à cola

1

4

Agora, use a cola nas tiras do jornal e grude na bobina

5

Faça o molde por fora da bobina e, então, faça o fundo do porta-treco

6

Novo passo: faça a marcação da borracha por dentro

7

Corte o molde de papelão em formato de roda para o fundo do porta-treco

8

Com estilete, corte o molde com a borracha preta para fazer o pé do porta-treco

9

Primeiro passo: amasse bem o jornal

10

Cole a roda de borracha com a cola de contato no fundo do seu novo objeto

11

Para a decoração, enrole o barbante com a ponta virada para cima, começando pelo fundo do porta-treco

Está quase lá: passe a cola no fundo da bobina e cole a roda feita de papelão

12

Depois de pronto, impermeabilize com a cola pra fixar a colagem e o acabamento. o porta-treco está pronto para uso!

pArA sAbEr MAIs Quem quiser conhecer mais sobre técnicas artísticas pode se inscrever nas oficinas do Curro Velho, da Fundação Cultural do Pará. Crianças a partir de 12 anos podem participar. o Curro Velho fica localizado na rua Professor Nelson Ribeiro, nº 287, esquina com a travessa Djalma Dutra, bairro do Telégrafo. Telefones: (91) 3184-9100 e 3184-9109. 64 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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RECoRTE AQUI

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BOA HISTÓRIA

leonardo nunes

se belém

Se Belém fosse em frente ao mar? Se fizesse 16 graus

às duas? E se o contorno do Mercado não marcasse a paisagem? Se os urubus fossem habitar outras beiras para nunca mais? Se as esquinas não guardassem os esquecimentos que vão crescendo nos remendos das calçadas como ervas daninhas? E se os poetas nunca deixassem Belém? Haveria de ter uma profusão interminável de Maxes, Paranatingas, Brunos, Juracis? E se sumissem de Belém todas as construções que a transformam numa sufocante e gostosa e ardente máquina do tempo? Se não cansássemos de Belém nunca? E nunca deixássemos nossa casa e nossas árvores? Se não houvesse mais árvores? Se nos quintais não tivessem espatifado nossas melhores lembranças? E se não tivéssemos instituído as cadeiras na calçada para a conversa de fim de tarde como patrimônio histórico cultural e imaterial nosso? O que seria de nós?

Se a cidade não fosse metade desencanto, metade saudade e uma terceira metade, desafiadora das regras da Física, de ir e ficar e, se ir, nunca mais deixar de têla dentro de si como ferida aberta e viva? E se não a olhássemos pequenina na distância e impossivelmente tufada na convivência de metrópole desvairada, nervosa e só em noites turbulentas e tardes que não terminam? E se Belém não soubesse dançar e fosse travosa que só? E se não houvesse tambores noturnos transformados em rodas festivas de dia? E se o insólito mudasse para outro canto? Haveria as velhas visagens das igrejas e os causos da mata que insistem em morar ainda nos prédios de agora? Se cantássemos baixinho como meninos do internato? E se ignorássemos os instrumentos e sumissem os músicos, as cantoras, os compositores e os artistas sem obras, tantos, tantos, espalhados por aí? Se Tó ainda tocasse por aí

e Eneida soprasse nostalgia e força como antes? Se regássemos nossas flores? Se houvesse mais flores na cidade? Se não nos tornássemos aqueles velhinhos de camisa puída e um sorriso ancestral no rosto vagando embaixo de árvores, paradas de ônibus, nas praças e bulevares? Se não nos virássemos as senhorinhas de língua afiada e olhos vivos que estão por toda a cidade sendo a avó de alguém? Se perdêssemos a estranha fé de se amontoar nos outubros calorentos? E se jamais chovesse na cidade? Perderíamos a cor de terra e o encanto, a gaitada aguda e o sorriso triste de vez em quando? Quem serias, Belém? Seríamos quem? Segue tua sina e deixa as nãorespostas estiradas por aí para quem nelas insiste, Belém. Os que te vivem e te sabem terão a glória e o sufoco de te ter, por onde forem, encruada na alma com o cabedal de perguntas a sobrevoar a cabeça para sempre. JANEIRO DE 2015

Anderson Araújo

é jornalista, escritor e blogueiro

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NOVOS CAMINHOS

eu sempre quero uma belém melhor Belém é uma cidade ótima, especial, tropical, viva, úni-

Inocêncio Gorayeb é mestre e doutor em Entomologia, pós-doutor em sistemática zoológica e pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi

ca, diferente. Muitas laudas gastaria para dizer os porquês, mas destaco, em linhas insuficientes, o seu povo bom, mestiço, moreno, índio, caboclo que tem orgulho de ser belenense, que vive a cidade e vai às ruas, tornando-a pujante de gente, que é feliz, mesmo no esforço diante das dificuldades. Gente que expressa toda a sua cultura e características sociais em bela e rica arte. Povo solidário e que sabe acolher quem vem de fora; que tem orgulho das riquezas naturais e, ainda assim, não é pavulagem. A água da chuva parece colorir a pele dessa gente e ao mesmo tempo amolecer o coração, que fica assim bondoso, querendo bem aos outros, mas também se faz resistente às mazelas da vida. No entanto, Belém, em seus 399 anos, não merece algumas realidades. Claro que é preciso melhorias na cidade. Merecemos água suficiente e de melhor qualidade para as pessoas, pavimentação nas ruas e saneamento, casas menos faveladas, energia por preço justo. Seria utópico querer uma nova macrodrenagem sem a cimentação quadrangular e de barras de concreto, que além de impedir a própria dragagem é um castigo visual permanente? Seria utópico desejar que os

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canais voltassem a ser como furos sinuosos com margens verdes e voltássemos a nos sentir ribeirinhos? Poderíamos passear de canoas e ter canoas-táxis? Muitas outras questões, propostas e ideias lógicas, óbvias e simples poderiam ser listadas para carregar o coração dos belenenses e poderiam ser usadas em políticas públicas, mas poderiam fazer parte de um plano urgente e de revigoramento da cidade. Quem sabe um programa nos moldes “Amor Belém 400”, com metas, prazos, recursos e apoiado pelo município, estado, governo federal e empresas. Assim como eu, certamente cada habitante de Belém tem ideias e propostas para uma capital melhor. Precisamos, porém, primeiro expressar o que nos aflige, o que nos indigna e declarar, além do amor por Belém, atitudes. Falando de atitudes, que são inesgotáveis, também se poderia organizar nas ruas, bairros, associações, comunidades, igrejas, partidos, escolas e outros centros a discussão da ideia “Amor Belém 400”. Ajudar a elaborar as prioridades, acompanhar a execução das metas, definir seus conselhos e assim promover esse movimento de cidadania por Belém. Vamos pensar no agora para os próximos 400 e tantos mais. Então, como acender esse pavio?

Belém, em seus 399 anos, não merece algumas realidades. Claro que é preciso melhorias na cidade.


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