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2. 3 FAVELAS COMO UMA FORMA ESPECÍFICA

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6. BIBLIOGRAFIA

6. BIBLIOGRAFIA

A noção de Terrain, com a de Vague, contém ao mesmo tempo a ambiguidade e a multiplicidade de significados que fazem desta expressão um termo especialmente útil para designar esta categoria urbana com que nos aproximamos dos lugares, territórios ou edifícios que participam de uma dupla condição. {Significa} uma área disponível, cheia de expectativas, de forte memória urbana, com potencial original: o espaço do possível, o espaço do futuro. (MORALES, 2008, p. 23)

Para entender como se dá o processo de favelização, é essencial que seja entendida a potencialidade existente nos “vazios” das cidades.

A relação entre a ausência de um uso, de uma atividade e o sentido de liberdade, de experiência, é fundamental para entender toda a potência vocativa que esses Terrain Vagues têm nas cidades.

Essas áreas vazias são estranhas às cidades, ficam fora do circuito De um certo modo, indústrias, estações, portos, áreas residenciais inseguras, áreas contaminadas, se convertem em espaços onde as cidades não podem ser vistas, já que estão fora da dinâmica urbana

Para Marc Augé, o não lugar é o lugar do possível, e quem dá o uso desse espaço são as pessoas São os entre espaços O desenho não deve ser um elemento de exclusão das atividades, o não-lugar é o lugar do real, do possível.

Espaços entre formas, ou formas espaciais entre coisas utilitariamente definidas, constituem agora campos para ações imprevistas, onde nem função nem forma são abandonadas, mas enriquecidas, um campo propício para uma emissão de vetores de intensidade múltiplos e simultâneos além de uma superfície programática favorável, constantemente em mutação, geradora de conflitos, em permanente latência à espera de novas relações. (GUATELLI, 2005, p.209).

E diante de toda essa potencialidade existente nos vazios das cidades, aqueles que buscam moradia em locais próximos às áreas de centralidade se apropriam desses lugares, antes vazio

De uma maneira geral, as favelas ocupam aqueles lugares que estão disponíveis, sejam eles morros, vazios urbanos, áreas não urbanizadas da cidade nas periferias planas ou não, áreas alagadas, áreas protegidas, zonas de várzeas, ou outros terrenos disponíveis nas cidades.

As favelas ocupam, portanto, os “vazios” da cidade.

A favela apresenta uma maneira de se organizar muito diferente dos trechos da cidade formal, sejam locais planejados, ou aqueles que surgiram de forma orgânica. As favelas possuem especificidades que estão muito além de conceitos estabelecidos sobre cidades, que para Morales (1997) são o parcelamento, a urbanização e a edificação.

Assim, nas favelas, as edificações surgem diante de um parcelamento peculiar, que se dá sempre nas proximidades de alguma área urbanizada com redes de infraestrutura, sistema viário, equipamentos e espaços públicos, aspectos que são essenciais para trazer urbanidade aos cidadãos.

A primeira constatação com relação à forma geométrica do traçado urbano é a ausência de um plano de conjunto previamente formalizado, capaz de orientar a abertura das ruas. As ruas apresentam -se irregulares e tortuosas como nas cidades caracterizadas por processos de crescimento aditivo que resultam, fundamentalmente, da agregação de sucessivas iniciativas singulares ao longo do tempo. (Duarte, 2008).

Como observa Maria Teresa Fedeli, da Sehab, os interstícios urbanos da favela são carentes de mobilidade e, muitas vezes, de fatores como Sol e ventilação para tornar aquele lugar salubre, o que faz com que, muitas vezes a favela seja vista como um problema a ser resolvido.

Já para o arquiteto Jorge Jauregui, responsável pelo projeto Favela-Bairro no Rio de Janeiro, a favela é uma questão a ser entendida, ouvida, com uma relação de sensibilidade, cm uma aproximação específica Na favela existe uma criatividade exposta em um emaranhado de construções

Nas favelas as ruas não seguem um padrão planejado Ao contrário, os caminhos possuem uma lógica própria, diante da conformação das capilaridades dos fluxos existentes, que fogem da formalidade viária estabelecida nas cidades. É a partir dos fluxos existentes, do território e da sua topografia que se constrói a cidade.

As favelas acabam criando novos usos como forma de suprir suas necessidades. Algumas favelas maiores como a Rocinha, o Morro Santa Marta, o Complexo do Alemão no Rio de Janeiro, Heliópolis, Paraisópolis e São Francisco em São Paulo chegaram a desenvolver suas próprias centralidades, dentro de seu território, em razão das dimensões que possuem (Souza, 2012).

Em um primeiro momento, o processo de crescimento das favelas e sua consolidação não guarda qualquer preocupação com a forma A importância principal é dada a função: o Morar Nesse processo, há pouca ou nenhuma preocupação com a melhoria do ambiente urbano.

Assim, satisfeita a função primordial do morar, o fácil acesso a uma infraestrutura, mobilidade e o acesso aos equipamentos públicos dos mais diversos usos têm a capacidade de trazer às favelas alguma sensação de integração com o restante da cidade.

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