ALIMENTAÇÃO ANIMAL INVESTIGAÇÃO
TREINAR BACTÉRIAS PARA DEGRADAREM FIBRA, UMA NOVA ESTRATÉGIA NUTRICIONAL Introdução A Fibra tornou-se num tema de renovado interesse no que diz respeito à saúde intestinal e desempenho animal, numa altura em que UE e USA se movem para uma produção livre de antibióticos. A fibra, no entanto, é um tema amplo que abarca muitos componentes como se analisou recentemente no artigo, Desmistificando a fibra: Entendendo o seu impacto na nutrição de monogástricos (Van Wyhe e Tedeschi dos Santos, 2019). Embora a composição das fracções de fibra seja Dr. Tara York
diferente, algumas são mais digestíveis que outras.
North America Technical Manager, AB Vista
As frações de fibra não digeríveis são muitas vezes referidas como polissacáridos não-amiláceos (NSPs) e existe uma grande quantidade de dados que demonstram as suas propriedades anti-nutricionais em dietas de aves (Bedford et al., 1991; Bedford e Classen, 1992; Choct e Annison, 1992). No entanto, na literatura existem numerosos artigos publicados mostrando melhorias no desempenho dos animais desde a introdução das enzimas NSP. Estas enzimas rompem o arabinoxilano em xilo-oligossacarídeos (XOS), fragmentos de carbohidratos mais pequenos que são fermentados por bactérias. Acredita-se que a fermentação de XOS promova
são sugeridos para enzimas NSP, na redução de viscosidade, na destruição da parede celular e na formação de prebióticos. Dentro desta revisão, ele propôs uma adaptação à hipótese prebiótica, sugerindo que as enzimas NSP não produzem per se prebióticos, mas enviam sinais para o microbioma para desenvolver a sua capacidade de degradação das fibras. À medida que o substrato NSP é decomposto em fragmentos menores de xilo-oligossacarídos, as bactérias podem utilizar o substrato de forma mais eficaz, levando ao aumento da fermentação cecal (Masey O’Neil et al, 2014). Bedford propôs que poderia ser a fermentação da fibra da dieta per se, em vez dos oligossacarídos produzidos pela enzima, o que proporciona a energia extra à ave e o feedback à moela permitindo a este órgão moer mais eficientemente e resultando numa melhoria da digestão de nutrientes. Acredita-se que a formação de XOS conduz a uma mudança no microbioma na direção das bactérias produtoras de butirato. Embora a maioria dos micróbios no intestino de aves seja desconhecida, cerca de 75% vêm de espécies pertencentes ao tipo Firmicutes. As principais espécies dentro deste tipo pertencem às famílias
mudanças no microbioma do trato gastrointesti-
Ruminococcaceae e Lachnospiraceae, também
nal, levando a um melhor desempenho dos animais
conhecidas como Cluster Clostridium IV e XIVa,
Gilson Gomes
através da produção de ácidos gordos de cadeia
ambas conhecidas por produzir butirato como
Global Technical Manager, AB Vista
curta (SCFA). Investigações anteriores têm aludido
produto final de fermentação (De Maesschalck
que o desempenho das aves pode estar correla-
et al., 2015). Os mesmos pesquisadores demos-
cionado com a sua microflora e os metabólitos
traram recentemente que quando frangos de 26
que produzem (Rinttila e Apajalahti, 2013), mas à
d de idade foram alimentados com dietas con-
medida que o nosso conhecimento de fibras e enzi-
tendo suplementação de XOS, encontrou-se um
mas NSP evolui, parece que finalmente podemos
aumento do cluster Clostridium XIVa juntamente
utilizar a fibra em beneficio do animal treinando
com outras bactérias no ceco o que corresponde
o microbioma e ativando as suas capacidades de
a um aumento na produção de butirato.
fermentação.
Evolução da fibra e seus benefícios
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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL
Sinalizando o microbioma Embora previamente sugerido que a ave e sua
As enzimas NSP têm sido usadas em dietas de
microflora estão fundamentalmente ligadas, novos
aves há mais de 40 anos para melhorar a absor-
conhecimentos da decomposição da fibra em XOS
ção de nutrientes com o foco principal na gordura,
e os benefícios que os XOS têm ao induzir mudan-
permitindo reduzir custos da dieta. Ao longo deste
ças no microbioma dentro do trato gastrointesti-
tempo, o nosso entendimento de como funcionam
nal, apenas suportam a importância desta ligação.
evoluiu. Num artigo recente de Bedford (2018)
Os benefícios do XOS sobre o desempenho animal
discutem-se três principais modos de ação que
reportados na literatura, foram demonstrados ao