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AS ILHAS, A CANA DE AÇÚCAR E A HISTÓRIA DO MEIO AMBIENTE

Alberto Vieira

"Islands seem always to have occupied a significant place in the environmental imagination of man" (D. Worster, Nature's economy. A History of Ecological ideas, Cambridge, 1977, p. 115)

As ilhas são um universo à parte. São o fascínio das lendas e dos sonhos em todos os tempos. Desde a Antiguidade que as ilhas Atlânticas são as principais protagonistas disso. Ilhas de utopia ou de sonho acabam por se revelar de forma extasiada aos navegadores do século XV. A literatura de Antiguidade clássica mediterrânica fez do Atlântico o seu lugar de sonho e ilusão. Aí fez nascer ilhas paradisíacas; os jardins das Hespérides, como também se desfizeram algumas, como a testemunha a mítica atlântica. Foi este fascínio que acompanhou os navegadores peninsulares que desde o século XIV as demandaram obstinados pela sua conquista e ocupação. O seu objectivo era trazer o paraíso ao seu mundo e fazer dele a sua morada. A ilusão, a obstinação do paraíso bíblico domina a chegada dos navegadores portugueses às ilhas, como Colombo às Antilhas e os colonos de Mayflower às costas americanas1. A chegada é considerada um acto de reconciliação. O homem regressa ao paraíso da bíblia2. O mesmo pensamento domina a passagem dos cientistas europeus, nomeadamente britânicos, pela ilha a partir do século XVIII. As expedições científicas imbricam-se de forma directa no traçado das rotas comerciais que ligavam as metrópoles às colónias3. Deste modo a ilha da Madeira vai assumir de novo um desusado protagonismo. O paraíso é sinónimo de conhecimento e investigação. A Europa maculada e perdida pela presença humana procura nestes rincões refazer o paraíso perdido. Repetem-se os epítetos vindos da pena destes cientistas e literatos. A ilha conquista-os pelas condições que oferece. O seu clima ameno faz dela uma escala retemperada para a cura da tísica pulmonar ou na da incessante busca dos segredos que esconde a MãeNatureza. Para além do fascínio que a ilha oferecia a todos que se deixavam envolver no seu seio é de salientar a importância que assumiu desde que em princípios do século XV foi revelada aos portugueses. Primeira terra descoberta e revelada em todos os seus encantos acabou por assumir um papel fundamental no contexto da expansão europeia no Atlântico. Aqui aportaram os primeiros europeus e aquilo que identifica o mundo natural desses bravos aventureiros. A descoberta é também um acto de transformação do meio natural, adaptado às exigências dos novos habitantes. A arca de Noé acompanha os navegadores-povoadores e faz com que tudo se transforme num ápice.

1 Barbara Novak, Nature and Culture- american landscape painting. 1825-1875, N. Y., 1980, p.4, 18; Richard Grove, Ecology, climate and Empire. Studies in colonial environmental. History 1400-1940, Cambridge, 1997, p.184. 2 J. Prest, The Garden of Eden: The Botanic Garden and the Re-creation of Paradise, New Haven, 1981. 3 Cf. David Arnold, The Problem of Nature: environment, culture and European Expansion(new perspectives on the past), Oxford, 1996, p.165


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