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05 Alberto Vieira

O MACHADO E A FÉNIX

Bomba Manual, adquirida em 1889 pela Câmara Municipal do Funchal.

Cadernos de divulgação do CEHA. Projeto “Memória das Gentes que fazem a História” / SRETC / DRC | N.º 05. VIEIRA, Alberto, O Machado e a Fénix Funchal. Junho de 2017.


O Machado e a Fénix

DA FORÇA E PRESENÇA DO MACHADO E DA FÉNIX Os “soldados da paz “ em defesa e proteção da Madeira e dos madeirenses.

© ALBERTO VIEIRA

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O Machado e a Fénix

Bomba manual da Câmara Municipal do Funchal. Bombeiros Sapadores do Funchal. 2017

O presente texto é da autoria de Alberto Vieira e foi feito para uso exclusivo do Centro Interpretativo dos “Soldados da Paz”, não podendo ser reproduzido, em qualquer tipo de suporte, sem autorização expressa e documentada do seu autor.

FOTOGRAFIA. եե Alberto Vieira եե Biblioteca e Arquivo Regional da Madeira. Acervo Museu Vicentes e Perestrelos Fotografos. եե Bombeiros Municipais do Funchal եե Bombeiros Voluntários do Funchal եե Cláudia Faria եե Ricardo Perestrelo

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O Machado e a Fénix

Que génese laboriosa, a desta ilha de florestas e de bruma! Nada que lembre o mitológico nascimento de Afrodite quando emergiu docemente do seio das águas, coberta por alvo manto de espuma que lhe oculta a virginal nudez. A Madeira é obra de ciclopes, do desencadear brutal de forças enraivecidas e insubmissas, produto de tremendas convulsões submarinas, do pavoroso conflito do fogo com a água. Remontam a longínquas idades geológicas as grandes convulsões geocinéticas que fazem erguer das profundidades abissais uma enorme montanha, sobre cujos planaltos uma outra montanha se levantou, erguendo seus altos picos cinco mil metros acima dos últimos submarinos. E durante milhares de milénios esta pobre ilha perdida no mar é joguete dessas forças brutais que a modelam e transformam. A custa de levantamentos e de erupções vulcânicas cresce e consolida-se o dorso montanhoso: é o primeiro e informe esboço do corpo da ilha, trabalho gigantesco depois do qual se acalma a fúria criadora. Mas o fogo logo se extinguiu no ventre da montanha e irrompe mais tarde em focos vulcânicos periféricos. De novo estremece e se agita a montanha mártir, novas torrentes de lava incandescente se despenha no oceano que referve raivoso em cachões, sob colunas alterosas de vapor; como se o próprio Vulcano, na sua gigantesca fúria, temperasse o corpo candente da ilha na imensa celha do mar. Misteriosamente findaram um dia, como misteriosamente haviam começado, as convulsões submarinas e a actividade vulcânica; extingue-se, pouco a pouco, o fogo interno, e a ilha transforma-se num corpo frio e inerte, enorme e torturado esqueleto rochoso, manchado de escórias e de cinzas, contra o qual as ondas raivosas embatem.

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O Machado e a Fénix Triunfara a obra ciclópica do fogo; porém, esse rochedo é um corpo estranho na imensa superfície liquida, uma mácula, um estorvo ao livre arfar das ondas. E chegou então a vez de a água tentar destruir o que o fogo construíra. Desabam com fragor as falésias corroídas na base pela abrasão; chuvas diluvianas formam torrentes de brutal violência e, como gigantesca garra, a erosão abre vales e desfiladeiros, provoca temerosos desabamentos, morde, dilacera, mutila a montanha e arrasta vitoriosamente para o mar os despojos da luta titânica. Piedosamente, a vida vegetal surgiu um dia a revestir aquela nudez, a opor uma barreira viva A catastrófica destruição. De soródios vindos de longe brota o líquen que fabrica as primeiras partículas de solo vegetal; colaboram com a planta os agentes meteóricos na decomposição da rocha; trazem as aves e as correntes oceânicas, em piedosa romagem, as primeiras sementes. Pouco a pouco, um manto ténue de verdura esconde as chagas da ilha desnuda. E durante milhões de anos a evolução prosseguiu ate que a floresta se pode erguer opulenta e magnífica: e durante milhares, de milénios vicejou esplendorosa, envolvida pelo seu manto de bruma. Um dia chegou. Porém, em que a barca da aventura acometeu aquele grande negrume que a ocultava, e logo a acha incendiária flamejou sinistramente para destruir em breve espaço de tempo a floresta prodigiosa que levara milénios sem fim a constituir-se. Em boa verdade, a ilha da Madeira deixou de ser a ilha das florestas no dia em que Zargo e Tristão lançaram o primeiro e cobiçoso olhar para os troncos dos arvoredos preciosos e para o solo fecundo em que a floresta vicejara. (…) A Madeira que nos comove e nos deslumbra é a Madeira heróica, campo de luta do homem contra as forças hostis da Natureza: e para a sentirmos, e para a compreendermos, não vejamos a Ilha do fim para a princípio, do sul para o norte, como é costume, mas do princípio para o fim. Antes do diamante lapidado. Apreciemos a matéria bruta que consentiu tal prodígio e debrucemo-nos sobre o titã que realizou tal milagre. (…) Neste cenário apocalíptico tudo é negro, frio, brumoso e triste. Contra as grandes escarpas basálticas, como infatigável ariete, teimosamente e raivosamente arremetem as ondas, e a orla branca da sua espuma mais faz avultar o sinistro negrume da grande mole rochosa. Nas cumeadas das serranias, quando a bruma se descerra, entrevêem-se as manchas sombrias da floresta primitiva: arvoredos estranhos, verde-negros, cujas folhas jamais amarelecem ao desmaiar do Outono, ou tombam açoutadas pelas ventanias do Inverno. Dos apertados vales de erosão, abertos na escava, irrompe a água em torrentes tumultuosas, como que fugida ao contacto grosseiro e agressivo dos rochedos e ansiosa por regressar ao mar natal. Rochas e água, o eterno conflito do estático com o dinâmico que tragicamente se reflecte na orografia da ilha. A água paciente, ágil, perversa, desgasta e corrói o esqueleto rochoso, hirto, impassível, severo. Como há milhares de séculos atrás, a água móvel parece empenhada em aniquilar a montanha inerte. É a abrasão a corroer as falésias e a provocar os grandes desabamentos; é ainda a própria água do mar que, sob a forma de nuvem, vai condensar-se nas cumeadas das serranias para correr, depois, tumultuosa e devastadora pelas ribeiras. Na costa noite, dir-se-ia que se renovam os nossos olhos todos os atormentados passos da longa história da ilha. O milagre dos madeirenses foi harmonizar esses elementos hostis, tarefa ciclópica que data de há quinhentos anos, e que hoje prossegue com a mesma coragem e o mesmo ardor. (…) E o homem, o pigmeu, atacou a montanha. Durante séculos não cessou o trabalho rude da picareta e da alavanca, e à custa de vidas, de suor e de sangue talharam-se na rocha as gigantescas escadarias, sem que o alcantilado das escarpas, a fundura dos despenhadeiros ou a vertigem dos abismos detivessem os passos do titã. Monumento este único no mundo, porque jamais em parte alguma, com tão grande amplitude, tanto esforço humano foi empregado na conquista da terra. E o madeirense venceu a água o que era torrente perigosa e rebelde, força agressiva e destruidora, CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA

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MOINHO DE ÁGUA. Ocupação e Valorização Humana do território

sujeitou-se à vontade do Homem. E a água corre agora docemente pelas levadas; o estrépito das torrentes transformou-se em brando murmúrio, em terna melopeia de inofensivo e remansoso regato; e a água impulsiva que desgastava a rocha e sulcava a ilha de profundos vales fecundou a terra e permitiu o milagre da vegetação luxuriante e os prodígios da sua agricultura. Pouco a pouco, aqui e ali, as flores surgiram neste cenário grandioso, timidamente se entreabriram, e por fim triunfalmente desabrocharam a coroar, como uma bênção, a obra portentosa dos obscuros heróis. (...) E o vilão ataca e tritura a rocha para a transformar em solo agrícola; geme sob o peso de enormes pedras para construir um socalco; marinha pelas falésias para conquistar um palmo de terra, mesquinha gleba, pouco maior por vezes do que um ninho de águias alcandorado no pendor de uma fraga. Antes de ser agricultor, é cabouqueiro e arquitecto. Labuta de sol a sol e transforma o seu horto, a sua courela, num jardim. Onde a água corre, o agricultor heróico e operoso faz milagres; a levada empurra-o e ele empurra a levada. Novos poios se sobrepõem a outros poios, e assim esse trabalhador humilde, além de transportar sobre os ombros o peso da sua cruz, constrói nos degraus da montanha o seu próprio calvário, É a Madeira sobrepovoada que luta. Este vilão madeirense, de torso hercúleo, máscara rude e austera, personificação da paisagem, figura de painel quinhentista; O homem que cinzela montanhas, escala abismos e amansa torrentes, é uma figura estranha. Não se deixou vencer pelas seduções traiçoeiras do clima desta antessala dos trópicos que despertam em nós, lusíadas indolentes, sonhadores e sensuais, o horror ao esforço paciente e metódico, A meus olhos, o vilão é português que teve a coragem de partir a guitarra, aquela guitarra que todos nós trazemos na alma e no coração a consolar-nos, com seus acordes de plangente fatalismo, dos desencantos e dos fracassos da vida. A luta com a Natureza rebelde fortaleceu-lhe o ânimo suportou durante séculos infortúnios e iniquidades, fomes e injustiças, sem que se alterasse a sua bondade ingénita. Não venceu a rocha apenas com

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O Machado e a Fénix a picareta e a força dos seus músculos, senão com a férrea tempera a sua indómita coragem. Dir-se-ia que uma força espiritual poderosa o guia e ampara o amor da sua ilha, que nele palpita sempre vivo, exaltado, ardente. (…) Para compreender e para amar a Madeira não basta, pois, debruçarmo-nos maravilhados, como poetas, perante a inexprimível e aliciante beleza desta ilha mitológica: rochedo de Ciclopes perdido na glauca e ondeante campina de Anfitrite, e em cujas serranias tenebrosas Flora e Pomona fizeram brotar o horto mimoso e florido, que amorosamente granjeiam, com suas mãos peregrinas, sob o afago tépido de uma perpétua Primavera. Para compreender e para amar a Madeira, não basta vivemos, como artistas, o deslumbramento deste mundo de beleza; admirarmos a ilha acolhedora, florida, gentil, nos seus jardins magnificentes, na euforia das flores, na sedução e no milagre da paisagem. Não basta que nos detenhamos, comovidos e extasiados, perante a grandiosidade das agrestes serranias, ou a modelação torturada dos montes, e nos deixemos embeber da doce poesia da terra, do mistério da bruma, da melancolia das montanhas verde-negras que emergem das névoas para de novo nas névoas se diluírem, como que a arrastar a nossa fantasia para o irreal, o vago, o sonho (…) Para amar e para compreender a Madeira, temos que nos debruçar sobre a ilha mártir, sobre o que ela contém de dramaticamente humano, de tenso e de comovente; ver o homem humilde, rude e simples, nas suas mudas angústias, na sua existência heróica e na sua imensa grandeza. E preciso que o pensamento se detenha momento sobre esta epopeia rústica, tecida de tragédia, e que nos debrucemos, enfim, num gesto caloroso de solidariedade humana, de compreensão e de enternecida simpatia, sobre a Madeira que moureja porfiadamente para ter mais terra, e para dessa terra venha a brotar mais pão. [J. Vieira Natividade, A Epopeia Rural, Funchal 1953, pp. 14-17, 28-31, 39-42]

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O Machado e a Fénix

Bomba Manual, adquirida em 1889 pela Câmara Municipal do Funchal.

APRESENTAÇÃO.

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imagem do processo de apropriação da ilha pelos europeus no século XV ficou bem expressa no texto de Vieira Natividade (1954), acima transcrito que, embora nascido em Alcobaça, foi quem melhor entendeu a indiossincrasia do madeirense. O autor, agrónomo de profissão, traça-nos a epopeia madeirense de humanização da ilha, insistindo na bravura e força do colono/agricultor. Não fez, porém, qualquer referência aos apaziguadores de conflito neste enfrentamento do madeirense com os elementos que corporizam o meio, a natureza, os “soldados da paz”. Aliás, foi essa a atividade inicial dos primeiros portugueses na ilha, que lutaram para defender a sua vida contra a bravura e voracidade do fogo ateado à floresta.

Atente-se que, de acordo com a teoria cosmogénica ocidental ou dos quatro elementos, o fogo, o ar, a água e a terra são as raízes de tudo, no sentido de que são os elementos básicos da matéria1. Desta forma, tudo se inicia e se transforma pela energia destes quatro elementos. 1

De acordo com Empédocles (490 a. C. - 430 a. C.), são “Quatro raízes de todas as coisas: fogo, ar, água e terra”, embora se deva considerar, segundo a filosofia aristotélica, a chamada quinta essência, apresentada como o éter, no que se aproxima da Ayurveda. Note-se que para o conhecimento filosófico oriental são cinco os elementos. A teoria dos cinco elementos (madeira, fogo, terra, metal e água) surgiu na filosofia chinesa com Tson Yen, entre 350 a 270 a.C. Na Ayurveda, temos também cinco elementos (éter, fogo, terra e água) como forma de expressão da matéria no universo.

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O pássaro mitológico, conhecido desde a Antiguidade, que renascia das cinzas. (Hartmann Schedel, Nuremberg Chronicle)

O Homem, o primeiro colono europeu que está nas origens do madeirense, é o fruidor, mas também o agente desestabilizador desta harmonia, geradora de situações de conflito, de catástrofes que obrigam à intervenção apaziguadora e protetora dos chamados “soldados da paz”, pois, para a ilha e arquipélago da Madeira, a presença destes quatro elementos é sempre atuante e define situações de harmonia e conflito no quotidiano e História dos madeirenses. Para nós, este esforço intelectual pretende apenas ser uma forma de preito e homenagem aos soldados da paz” da ilha, bem como uma chamada de atenção a todos os madeirenses para que contribuam de forma ativa para o alinhamento dos quatro elementos, sendo geradores de harmonia e nunca de conflito. Há dois elementos identificadores da ação destes soldados da paz: o machado e a Fénix2. Enquanto o primeiro identifica a atividade de salvamento, o segundo estabelece uma ligação mitológica com o fogo, que destrói, mas que também faz renascer tudo das cinzas. Esta identificação está documentada em quase todas as associações de bombeiros madeirenses. Apenas nas associações de bombeiros dos municípios de Câmara 2

A Fénix é uma ave mitológica, com ligações simbólicas muito claras ao fogo, com representação evidente na tradição mitológica e religiosa ocidental e oriental.

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A imagem do interior da ilha: encostas íngremes e escalvadas. Gravura de E. G. Smith. 1842. Do Acervo do Museu da Quinta das Cruzes.

de Lobos, Machico e Santa Cruz o único elemento iconográfico presente é o machado. A ilha, pelas condições orográficas do território disponível para a sua humanização, obrigou, muitas vezes, o madeirense a construir a casa e a assegurar o seu sustento à beira ou em pleno abismo. Isto permitiu uma forte relação espiritual com as montanhas, bem como uma capacidade de lidar, de forma permanente, com todos os obstáculos e perigo com que se deparou na natureza. E que nunca foram poucos. Começou por construir os poios e as casas no abismo, transformando os declives e as arribas em minúsculos poios. Viu-se, então, forçado a construir levadas que pudessem fazer chegar a água das ribeiras aos poios, aos engenhos e azenhas. Depois, adicionou a partir dos séculos XIX e XX, a construção de inúmeros”furados”, para condução destas levadas, em situações de permanente luta contra o perigo e a morte,assim como dos caminhos que, muitas vezes, são escavados no meio do abismo. Sabemos, ainda, que as montanhas da ilha, com os seus declives acentuados, clamavam a sua atenção para o aproveitamento de diversos recursos com valor económico, como a apanha da urzela, onde aconteciam quase sempre aconteciam desasatres e mortes. Mas nestes tempos longínquos, que perduram até ao século XIX, não estavam presentes os soldados da paz, tudo acontecia por interação dos moradores que traCADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA

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Rede

zem doentes e feridos na tradicional rede. Na atualidade, a circulação nas levadas e no interior da ilha continua a ser uma atividade de elevado risco para nacionais e forasteiros, que, por razões distintas, parecem desafiar o abismo. Desta forma, nos últimos anos, são múltiplas as notícias de queda de estrangeiros nas levadas da ilha e o apelo constante à ação dos bombeiros para o serviço de resgate e transporte dos feridos. A melhor forma de documentar e evidenciar o protagonismo dos soldados da paz é transformá-los em herói dos principais elementos que regem o universo. Assim teremos, o fogo, a terra, a água, o sopro ou vento3. Esta quádrupla realidade aparece-nos testemunhada na nossa tradicção cultural de diversas formas. Alvaro Rodrigues de Azevedo, em 1804, apresenta nas suas recolhas que: Era Deus no principio, E tudo crear pensou; Céo, terra, agua e fogo. Tudo do nada creou; E, assim que fez lo mundo, Tambem lo homem formou: Fel-lo do barro da terra, Que sua mão amassou. 3

Sabia que, na Grécia Antiga, os elementos essenciais da natureza correspondiam naturalmente às faculdades do Homem: física (Terra), intelectual (Ar), estética ou emocional (Água) e moral ou espiritual (fogo), mas nunca aprofundara essa área do conhecimento. Para ela, a natureza era amor, emoção, empatia, respeito, devoção. Caires, Vanda, «Fúria dos elementos», in AAVV, Com Palavras nascem Histórias, nº 9, 2012, p. 35.

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AZEVEDO, Álvaro Rodrigues, 1880, Romanceiro do Archipelago da Madeira, Funchal, p. 1.

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O Machado e a Fénix Vanda Caires, em 2015, reforça esta explicitação Sou a Terra que o sustenta Meu Sopro é o Ar que você respira. Sou o Fogo que arde dentro do seu coração. Sou a Água que gera e fertiliza. Estou em tudo, nos céus, nas estrelas e no mar. Estou dentro e fora de você. O nosso caminho na descoberta e afirmação do protagonismo dos soldados da paz está traçado sob este princípio orientador que tem uma matriz espiritual, mitológica e esotérica e que pretendemos seja coroado sob a forma de preito e homenagem, com a imagem simbólica da fénix e do machado.

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Caires, Vanda, «Fúria dos elementos», in AAVV, Com Palavras nascem Histórias, nº 9, 2012, p.38.

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Foto de Duarte Sá | Reuters

1.-O FOGO, que tudo transforma em cinzas, mas que faz renascer a vida. (…) A um sentido teológico se unia outro. Histórico e poético: evocavam-se numa saudade religiosa a nossa origem paradisíaca, limpa da mancha do mal, a beleza da terra edénica, a Queda e o Resgate; louvava-se numa efusão lírica a ilha nova, esculpida pelo fogo, pujante de energia genesíaca; pedia-se a bênção celeste para o mistério da transplantação do ramo dum povo que demorava longe, na Madre Lusitânia, e, sem se trair, prolongava a sua vida numa terra virgem em que o destino humano parecia, alegoricamente, recomeçar, mas puro e redimido; e fazia-se perante os tempos por vir um acto de esperança - o de que a raça continuaria por foro natural no senhorio de montanhas que eram natureza atormentada e maravilhosa. A Ilha, com seu passado remoto de tempestades de fogo e de ventos prodigiosos como torrentes aéreas, era uma terra desabitada que esperava por nós desde o começo do mundo, assim o poderia dizer um madeirense do século XV; e nela só então principiava o drama dos homens que a História guiava, não como aventureiros, mas como sucessores dum destino colectivo inspirado por altos mandatos do Espírito. Ainda hoje os vales e as rochas da ilha falam do tempo em que viviam à parte do mundo humano. As fontes ainda se lembram da primeira sede de homem que mitigaram. E sobre as montanhas pousam como aparições os espectros de aves míticas que morreram numa crucificação de asas, tragadas pelo cataclismo em que a Atlântida desapareceu num fragar de ondas espantosas. Mas a terra, que tinha tremendas origens cósmicas, oferecia aos homens dos concelhos, aos cavaleiros e escudeiros da Casa do Infante, seus povoadores, uma ternura primitiva de pastoral bíblica e de oficina cristã. (GONÇALVES, Ernesto, Adão e Eva, in Das Artes e da História da Madeira, vol. IV, nº.24 (1956), p. 2-3) CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA

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O incêndio de Roma, 18 de julho de 64, óleo de Robert Hubert, no Museu de Arte Moderna André Malraux, em Le Havre

O Fogo é considerado o elemento mais importante, porque é gerador da vida. Mas é ambivalente o seu protagonismo, no sentido de que, ao mesmo tempo que dá vida, pode causar a morte. A par disso, é o único entre todos os elementos que pode ser criado pela ação direta do Homem. O Fogo assume um papel importante em termos da cultura e conhecimentos filosóficos, religiosos, mitológicos e esotéricos. É um dos símbolos sagrados para as religiões, como Cristianismo, Hinduísmo, Islamismo, Judaismo, Wicca e Xintoísmo. Desta forma, temos que o culto do fogo foi um dos mais importantes da História da Humanidade e que a a sua ação purificadora está presente nas fogueiras do ano novo chinês, ou nas do S. João, a 21 de junho, do mundo ocidental. A História regista, em diversos momentos, incêndios devastadores e em alguns deles está presente esta duplicidade de ação. Dos mais importantes incêndios podemos referir os da cidade de Troia em 220 a.C.6, do templo de Jerusalém em 586 a.C., da Biblioteca de Alexandria em 48 a.C., da cidade de Roma em 64 d.C., da cidade de Londres em 1666 ou da cidade de Chicago em 1871. A ideia do fogo como purificador, exorcizador do demónio e do mal e como fonte de vida está presente nos primórdios da ocupação da Madeira no século XV. Através do fogo, se exorciza o mal e se dá vida ao es6

Este facto foi imortalizado na obra de Homero e foi reavivada no romance de Marion Zimmer Bradley, publicado em 1987.

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O Machado e a Fénix

Incêndio da cidade de Tróia em 220 a.C., aquando da queda da cidade. Johann Georg Trautmann (1713–1769)

paço que se apropria para o mundo cristão ocidental, dando-lhe vida e energia nova e diferente, com a mão do homem europeu. É a forma mais direta de apropriação do espaço e de exorcização dos males, comum na Europa Ocidental. Assim, não foi por acaso que João Gonçalves Zarco mandou atear fogo à floresta da ilha da Madeira, no século XV. Em termos de apropriação humana, tudo começou, na Madeira, pelo fogo. O fogo abriu caminho na densa floresta e trouxe aos primeiros agricultores as condições para a riqueza e prosperidade das primeiras produções agrícolas. Foi através dele que os primeiros colonos/povoadores da ilha purificaram a terra e afugentaram o mal da ilha7, abriram clareiras para nelas assentar morada e construir os poios para lançar as primeiras sementes à terra. Daí Eduardo Pereira afirmar que “O homem subiu de picareta na mão, quase de joelhos as vertentes a lutar a ferro e fogo com as rochas, debastando acidentes e armando pedras soltas em socalcos ou taboleiros para deles fazer searas e jardins; subiu até onde pode abrir caminho de pé-posto ou conduzir um fio de água de irrigação.”8 A História regista estas queimadas como o momento mais relevante da presença inicial dos portugueses na Madeira. Assim, são inúmeros os testemunhos que, de forma diversa, apontam este acontecimento. O incêndio à mata da Madeira acompanha a História da presença dos portugueses na Madeira. A memória presencial dos navegadores, passada à escrita ou propalada de boca em boca, tornou-se o grande acontecimento 7

Atente-se à Mitologia, onde a Fénix, celebrada por Heródoto e Plutarco e que terá o poder de renascer das suas cinzas. Cf. Chevalier, J., & GHEERBRANT, A. (1994). Dicionário dos Símbolos, tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. Lisboa, Teorema, 186, 319.

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vol. I, p. 438

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O Machado e a Fénix de princípios do século XV e será repetida em registos e crónicas do século XVI. Francisco Alcoforado, aquele que parece ser o cronista oficial9 do reconhecimento e ocupação da ilha pelos portugueses, que acompanhou o processo diz-nos que «Acordou o Capitão que não se podia com trabalho de homens desfazer tanto arvoredo, que estava desde o começo do mundo, e para o consumir que era forçado pôr-lhe o fogo e pô-lo, e como o muito arvoredo com a muita antiguidade estava derrubado pelo chão e outro seco em pé, apegou o fogo de tal maneira por todo, e era tão bravo que quando ventava de sobre a terra não se podia sofrer a chama, e quentura e muitas vezes nos acolhíamos aos ilhéus e aos navios até o tempo mudar, durou o fogo por a terra sete anos em que destruiu muita madeira.»10. Depois disso, tivemos o testemunho de Alvise Cadamosto11 (Veneza, 1432 — Veneza, 18 de julho de 1488), navegador veneziano, que, em 1455, partiu em viagem ao serviço do infante D. Henrique, com escala na Madeira, donde terá colhido as informações que se seguem: “Chama-se esta ilha da Madeira, escreveu, que quer dizer “de legnami” porque quando primeiro foi achada esta ilha por os do dito Senhor, não havia um palmo de terra nela que toda não estivesse cheia de enormes árvores e de tal maneira que foi necessário aos primeiros que a quizeram habitar deitar-lhes fogo, o qual andou ardendo pela ilha um bom tempo. E foi tão grande o primeiro fogo que ao sobredito João Gonçalves, que ali se achava foi necessário, ele e todos os outros e sua mulher e filhos fugir da fúria e acolher à água, até o pescoço, cerca de dois dias e duas noites, sem comer nem beber, pois de outra maneira teriam morrido todos. Assim limparam grande parte da dita madeira, fazendo terra de lavoura.”12 Também não podemos esquecer que a energia do fogo foi fundamental para o quotidiano das populações madeirenses. E, para a alimentá-lo, tivemos a necessidade das lenhas e do carvão que só no século XX foram substituídos pelo gás doméstico. Isto implicará obrigatoriamente um uso desmedido da floresta como recurso económico fundamental das populações e poderá ser, muitas vezes, o princípio para muitos incêndios que acontecem nas serras, unidades industriais e habitações. A importância desmesurada do fogo no quotidiano dos madeirenses está sinalizada na toponímia. A designação “queimada(o)” aparece por toda a ilha, de forma especial nas zonas montanhosas. Assim, temos casa da Queimada (Paul da Serra), Planalto da Queimada em Machico, Ponta da Queimada, entre a Água de Pena e Machico, Rua da Queimada de Baixo e de Cima no Funchal, e o sítio da Queimada (s) na Água de Pena, em Santana. A indicação de Pico Queimado acontece apenas no Paúl da Serra entre o Lombo do Mouro e o Monte Medonho. A documentação oficial, através dos registos de situações e de recomendações limitativas do uso do fogo, expressam de forma evidente a importância deste elemento na História da ilha e necessidade do controlo do seu uso no quotidiano. A primeira referência documental surge, em 1469, numa pública-forma, dum Breve Apostólico do Papa Paulo II dirigido ao Nobre Cavaleiro João Gonçalves que certifica a dimensão deste incêndio, “Considerando que por teu trabalho e inteligência a dita Ilha é habitada e o culto cristão aí se presta e, porque, no princípio, quando desejavas tornar habitável a dita ilha, com dificuldade saíste salvo da grande

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FERREIRA, Manuel Juvenal Pita, Notas para a História da Ilha da Madeira, Funchal, s.n., 1957; Id., O Arquipélago da Madeira: Terra do Senhor Infante, Funchal, JGDAF, 1959; Id., “A Relação de Francisco Alcoforado”, Das Artes e da História da Madeira, n.º 31, 1961, pp. 17-40; FONTVIEILLE, Jean, “A Lenda de Machim: Une Découverte Bibliographique à la Bibliothèque-Musée du Palais de Bragance à Vila Viçosa (Portugal) ”, in Actas do Congresso Internacional de História dos Descobrimentos, vol. 3, Lisboa, Comissão Executiva das Comemorações do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, 1961, pp. 197-238; GONÇALVES, Ernesto, “Estudo da ‘Relação de Francisco Alcoforado’”, Das Artes e da História da Madeira, n.º 30, 1960, pp. 1-8 e 60-68; Id., “Algo mais acerca da ‘Relação de Francisco Alcoforado’”, Ibid., n.º 31, 1961, pp. 10-16 e 57-59; MACHADO, João Franco, A Relação de Francisco Alcoforado, Lisboa, 1936; NASCIMENTO, João Cabral do, “O Manuscrito de Gonçalaires”, in Apontamentos de História Insular, Funchal, Tipografia Madeirense Editora, Lda., 1927.

10 Ferreira, 1959: 141. 11 MAURO, Alessandra, “Cadamosto, Alvise da”, in Luís de Albuquerque [dir.], Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, vol I, Lisboa, Círculo de Leitores, 1994, pp. 156‑157. PERES, Damião, “Prefácio”, Viagens de Luís de Cadamosto e Pedro de Sintra, Lisboa, Academia Portuguesa de História, 1988, pp. XIII‑XVII. Voyages en Afrique Noire d’Alvise Ca’da Mosto (1455 & 1456). Relations traduites, presentées & annotées par Frédérique Verrier, Paris, Editions Chandeigne e Editions Unesco, 1994 12 Ferreira, 1959: 166.

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O Machado e a Fénix voragem do fogo, com os teus utensílios de casa...” 13 Diogo Gomes (c. 1402-1420? – c. 1502)14, navegador ligado à Casa do Infante D. Henrique e autor de uma relação15, testemunha também este incêndio. “E dizem que durante nove anos a ilha ardeu sempre, porque o fogo era impossível de apagar por causa da grande massa de folhas, que por tanto tempo se tinha acumulado. E quando eu ali fui pela primeira vez, que há já mais de trinta anos, me disseram que ainda em alguns lugares havia fogo sob o chão.”16 Valentim Fernandes (Morávia, 14?? - Lisboa, 1518 ou 1519), que se fixou em Lisboa em 1495, disse, em 1506, nas memórias das navegações17, conhecidas com o seu nome, que “João Gonçalves em pondo fogo a uma roçada que haviam de semear apegou-se o fogo ao arvoredo, que durou depois o fogo sete anos. E a gente em tamanha pressa que se metia no mar até o pescoço e às vezes a cabeça debaixo do mar, por respeito da lavareda, que vinha sobre eles de quando em quando.”18 O cronista João de Barros (Viseu, c. 1496 — Pombal, Ribeira de Alitém, 20 de outubro de 1570), autor das Décadas da Ásia, publicadas entre 1552 e 161519. Na Primeira Década, onde dá conta do descobrimento e ocupação da Madeira pelos portugueses dá conta do incêndio da seguinte forma: “(...) assim tomou o fogo posse da roça e do mais arvoredo, que sete anos andou vivo no bravio daquelas grandes matas que a natureza tinha criado havia tantas centenas de anos. A qual destruição de madeira posto que foi proveitosa para os primeiros povoadores logo em breve começarem lograr as novidades da terra: os presentes sentem bem este dano, por a falta que têm de madeira e lenha: porque mais queimou aquele primeiro fogo do que lentamente ora poderá delepar força de braço e machado. Coisa que o infante muito sentiu e parece que como profecia viu esta necessidade presente que a ilha tem de lenha: porque dizem que mandava que todos plantassem matas (...).”20. O conde Giulio Landi (Piacenza, 30 de maio de 1498/????), filho de Federico, conde de Bardi, e de Caterina Pallavicini, por volta de 1526, esteve na Ilha da Madeira e, no regresso a Itália, escreveu uma memória em latim21, que entregou ao Cardeal Ippolito de Medici22. Aí faz referência ao incêndio que os fogos provocaram na ilha do seguinte modo: “(…) Todavia por haver uma espessura de árvores tal que impedia habitá-la, a vinte milhas dali, se lançou fogo à selva a qual, ardendo durante seis meses contínuos, forçou os primeiros habitantes a abandonar a Ilha e a subir para os navios. Tornou-se a terra com este incêndio não só mais fácil de ser cultivada mas também mais gorda e fértil.”23 13 Ferreira, 1959: 169-170. 14 MOTA, Avelino Teixeira da. “Diogo Gomes, Primeiro Grande Explorador do Gâmbia (1456)”. in: Actas da 2ª Conferência Internacional dos Africanistas Ocidentais, Lisboa, 1950, pp. 309–317; SINTRA, Diogo Gomes de. Descobrimento Primeiro da Guiné (estudo preliminar, edição crítica, tradução, notas e comentário de Aires A. Nascimento. Introdução histórica de Henrique Pinto Rema). Lisboa: Edições Colibri, 2002. 15 SINTRA, Diogo Gomes de. Descobrimento Primeiro da Guiné (estudo preliminar, edição crítica, tradução, notas e comentário de Aires A. Nascimento. Introdução histórica de Henrique Pinto Rema). Lisboa: Edições Colibri, 2002. 16 Ferreira, 1959: 166. 17 O Manuscrito Valentim Fernandes. Lisboa: Academia Portuguesa de História, 1940; Códice Valentim Fernandes, leitura paleográfca, notas e índice de José Pereira da Costa, Lisboa, 1997. 18 Ferreira, 1959: 166. 19

Barros, J., Couto, D. (1777-1788). Da Ásia de João de Barros e de Diogo do Couto: dos feitos que os portugueses fizeram no descobrimento dos mares e terras do Oriente. Lisboa: Na Régia Officina Typografica.

20 João de Barros Décadas, Primeira década, Coimbra, 1932, p.19. 21 La descrittione de l’isola de la Madera, gia scritta ne la lingua latina, dal molto ill. signor conte Giulio Landi, et hora tradotta dal latino ne la nostra materna lingua, dal reverendo m. Alemanio Fini, ne la quale si contengono molto belle, e delettevoli narrationi; e massimamente l’agricoltura del zucchero, e li costumi de gli huomini di quel paese ... v’è posta anco la Descrittione latina del primo autore di tutte le sovradette cose, acciò possa il lettore leggere in quella lingua che sia più di gusto suo. In Piacenza: appresso Francesco Conti, 1574. 22 Silvano Peloso,“Al di là delle Colonne d’Ercole. Madera e gli arcipelaghi atlantici nelle cronache italiane di viaggio dell’Età delle Scoperte. Con la prima edizione integrale della Insulae Materiae Descriptio (c. 1534) di Giulio Landi, piacentino, 2004, Sette Città, Viterbo; id., Tradição litéraria e experiéncia de viagem na “Insulae Materiae Descriptio” de G. L., in Actas do I Colóquio international de história de Madeira… 1986, Funchal 1989, pp. 184-193; Id., G. L. e a «Insula Materiae Descriptio»: novos documentos, in Actas do II Colóquio international de história de Madeira… 1989, Funchal 1990, pp. 993-999; Id., Da Piacenza alle isole Fortunate: la “Insula Materiae Descriptio” del conte G. L., in Scritti in ricordo di Silvano Gerevini, a cura di T. Kemeny- L. Guerra, Firenze 1994, pp. 185-203; R. De Rosa, Per la storia dello Stato Landi tra Cinque e Seicento: la controversia fra Ippolito e Federico Landi per Borgotaro, in Boll. stor. piacentino, XCVI (2001), p. 103. 23 ARAGÃO António de, A Madeira Vista por Estrangeiros, Funchal, DRAC, 1981, p.81.

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O Machado e a Fénix Por fim, Gaspar Frutuoso24 (Ponta Delgada, c. 1522 — Ribeira Grande, c. 24 de agosto de 1591), conhecido como o primeiro historiador das ilhas que, em finais do século XVI, compilou toda a informação disponível sobre a História do arquipélago madeirense no “Livro Segundo das Saudades da Terra”, dando naturalmente destaque ao incêndio ateado à ilha, da seguinte forma: “…Daqui acordou o capitão, vendo que não se podia com trabalho dos homens desfazer tanto arvoredo que estava, nesta ilha des (sic) o começo do mundo, ou da feitura dela, e para o consumir para se lavrarem as terras e aproveitar-se delas era necessário pôr-lhe o fogo. E, como quer que com o muito arvoredo, pela muita antiguidade, estava dele derribado pelo chão e outro seco em pé, apegou o fogo de maneira neste vale do Funchal, que era tão bravo, que, quando ventava de sobre a terra, não se podia sofrer a chama e quentura dele, e muitas vezes se acolhia a gente aos ilhéus e aos navios até o tempo se mudar; e por ser o vale mui espesso, assim de muito funcho como de arvoredo, ateou-se de maneira o fogo que andou sete anos apegado pelas árvores e troncos e raízes debaixo do chão, que se não podia apagar e fez grande destruição na madeira, assim no Funchal como em o mais da ilha’, ao longo do mar, na costa da banda do Sul, onde se determinou roçar e aproveitar.”25 A tradição e a História madeirense imortalizaram este episódio do fogo, que continuará a atrair a atenção dos forasteiros de passagem pelo Funchal. Assim, ainda em 1689, John Ovington releva este acontecimento ao afirmar que: “Alguns dizem que a Madeira foi descoberta pelos portugueses em 1420, resultando o seu nome da abundância de madeira que aí existia. Estava coberta de árvores (que lhe deram o nome), constituindo uma floresta única. O pensamento da penosa tarefa de abatê-la persuadiu-os a adoptarem método mais rápido: o da destruição pelo fogo. Depois de ter sido incendiada, as chamas atingiram tal altura, enfureceram-se tão violentamente e tornaram-se gradualmente tão ameaçadoras, que a população foi forçada, para seu descanso e salvação, a manter-se na água, onde evitava a violência do calor. As cinzas contribuíram tanto para a fertilidade do solo que este, ao princípio, produziu sessenta por um e as vinhas férteis deram mais uvas que folhas, com cachos de dois a três palmos de comprimento. Todos os seus produtos, pela notável beleza e abundância, fizeram-na ganhar o título de «Rainha das Ilhas». (…) Depois que o fogo desapegou do arvoredo e da costa do mar, determinou o capitão fazer sua morada (como fez) em um alto, que está sobre o Funchal, e, logo defronte de suas pousadas, fundou uma igreja da invocação de Nossa Senhora da Concepção para seu jazigo (…).“26 A tradição do fogo manteve-se como uma marca identitária dos primórdios da ocupação da ilha, chegando até ao presente. Ao longo dos tempos, nota-se uma exaltação do evento, de modo que, em 1722, Henrique Henriques de Noronha não se esquece de anotar o seguinte: “Deram os donatarios principio as suas povoações, em o seguinte anno do seu descubrimento 1420, sendolhes necessario, para cultivarem as terras, entregar os arvoredos ao fogo; cuja voracidade se ateou por modo na sua materia, que gastou sete annos no incendio; de que ainda hoje testemunhão os grandes cedroz, que alguas vezes se descobrem sepultados; mas incorruptos, posto que em algua parte queimados. Dividiramse as terras por ordem do Infante; cuja comissão permetia aos Donatarios, para que as dessem com cominação de que se aproveitasem dentro de sinco annos, alias ficassem divalutas ao Senhorio.”27 O episódio do incêndio perpetuou-se na tradição oral e escrita, sendo recuperado em diversos momentos, de forma que, em 1866, Arnaldo da Gama volta a lembrar o episódio de julho de 1419: “...Principiaram logo a estalar as árvores seculares, o fogo começou a enredar-se na enorme floresta, a lavareda ergueu-se por fim ao de cimo d’ella, e o oceano reflectiu, a muitas leguas de distância, o afogueado clarão das titanicas línguas de fogo, que açoutavam, bramando, o espaço, e ameaçavam incendiar o infinito. Durou, segundo dizem, sete annos o incendio. Ao cabo d’elles, d’aquelle salão, requeimado pela enorme lavareda, começaram 24 Rodrigues, R. (1991). Notícia Biográfica do Dr. Gaspar Frutuoso (notas de João Bernardo de Oliveira Rodrigues) Instituto Cultural de Ponta Delgada, Ponta Delgada [S.l.]. 25 Livro Segundo das Saudades da Terra, Ponta Delgada,1979, pp. 83-85. 26 Aragão, 1981: 186. 27 Noronha, Henrique Henriques, 1996, Memorias Seculares e Eclesiásticas para a História da Diocese do Funchal, Funchal, CEHA, p. 40.

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O Machado e a Fénix

Casas de palha. Arco de São Jorge

a brotar milhares e milhares de flores, que formaram em torno da ilha uma atmosphera embalsamada; a canoa do assucar principiou a fructificar com feracidade igual á da America; os vinhedos côr de esmeralda rivalisavam com os vinhedos mais productivos da Europa, e a antiga chaminé do inferno transformou-se n’um verdadeiro paraizo, que dava saude e riquezas áquelles que o iam habitar.”28 A primeira imagem aterrorizadora e destrutiva do fogo obrigou as autoridades a definir medidas, no sentido de controlar as fogueiras, bem como os materiais de construção das casas dos diversos aglomerados populacionais. Esta preocupação incidia mais nos núcleos de povoamento, cujas construções eram feitas de materiais inflamáveis que, desse modo, eram focos fáceis de incêndios. O combate aos incêndios foi, durante muito tempo, uma tarefa comum a que estavam obrigados todos os cidadãos, que acudiam ao repicar dos sinos do campanário da igreja. Assim o determina um regimento de 1480 onde se dizia que, em caso de fogo, deveriam acudir o juiz, o alcaide e os homens do lugar. Uns combatiam o fogo e outros investigavam as suas causas. Os fogos foram, desde sempre, uma preocupação do município, que, por todos os meios, ditava regras do controlo das queimadas e ação dos carvoeiros e condenava os prevaricadores. No Funchal, havia-se estabelecido um sistema de sinais para avisar a deflagração de um incêndio, através dos sinos da catedral. Para as freguesias da cidade, havia um conjunto de badaladas que avisava da existência de fogo, uso que desapareceu em finais do séc. XIX. Note-se que a definição de medidas para o combate aos incêndios em Portugal está documentada a partir de 1395, altura em que D. João I atribui esta função aos municípios, compromisso que se manteve até à revolução liberal sob o arbítrio destes. Pelo decreto de 16 de maio de 1832, determinou-se que esta passaria 28 Arnaldo da Gama, A Caldeira de Pero Botelho, Porto, Em Casa de Cruz Coutinho editor, 1866, 200-201.

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O Machado e a Fénix a ser uma função a cargo do Provedor do Concelho, ficando, mais tarde, de acordo com o código administrativo de 1842, o serviço de prevenção de incêndios, inundações e naufrágios dependente do Administrador do Concelho. Na Madeira, em 1466, 46 anos depois do início da ocupação, o fogo continuava uma grande preocupação: ainda se faziam queimadas para abrir novas áreas de cultivo, as casas eram de palha, e era preciso separar o espaço da cozinha do resto da casa, os carvoeiros acendiam fogueiras que depois escapavam ao seu controlo. E esta preocupação com os efeitos devastadores do fogo continuou ao longo dos tempos. Daí a preocupação dos oficiais do município em intervir, no sentido de criar mecanismos que evitassem a imagem e o efeito do primeiro incêndio devastador da ilha. Assim, a vereação delibera “(…) por pustura por boa gouernança da terra que nenhiia pessoa nom sseja tam oussada que ponha ffogo em rrestolho nem em ffeyteira somente do deradeyro dia do mes de oytubro em diante sso pena de que o contrajro ffezer pague de pena por cada vez mjl rrs a metade pera a ejgreja e a metade pera o concelho.” (Costa, 1995: 549). E mais insiste em vereação “ (…) sobre o foguo per que mânejra se poem na serra e vem em tanto periguo como se diso segue e que ha poucos dias que se pos fogo na ribeira dos Acorridos o qual se ateou de maneira que fez grande dano e nom se lhe pode atalhar nem hera posyuell com poder de homens apagar se se o senhor Deus por sua mujta mjsericordia lhe nom atalhara e porque se certificaua que se azara de querer híi homem com foguo tirar hua abilhejra de um toco de aruore e asy outras vezes se ateou de poerem foguo em geestaes e feiteiras em terras que se querem semear acordaram que por atalhar a taes enconveniemtes a pena dos vimte cruzados do regimento das madeiras omde fala nos que poem foguo na serra se entenda em toda pesoa que asy tirar abilheira ou o poser de qualquer maneira porque se posa seguir o dito dano e que seja apregoado logo pera que nenhu o faça sob a dita pena sem primeiro aver licença e delle se fazer exame em camara.” (COSTA, 1998: 367). O desenvolvimento económico da ilha não prescindiu do fogo. Desta forma, à produção de açúcar nos séculos XV e XVII e, depois, nos séculos XIX e XX, como em múltiplas atividades, associam-se as fornalhas ardentes, que consomem lenha e carvão. A invenção do sistema de envelhecimento dos vinhos por meio do calor, a partir de finais do século XVII, fez surgir as estufas no recinto urbano. Desta forma, o fogo continuará omnipresente no quotidiano dos madeirenses. Os arquipélagos da Madeira e Canárias foram os primeiros a sentir os efeitos devastadores da presença da cultura da cana-de-açúcar. O espaço limitado das ilhas não permitiu a continuidade da cultura açucareira que rapidamente devastou a sua reserva florestal. Cem anos mais tarde, a situação da vertente sul era distinta. O processo agrícola em torno da cana sacarina fez abater as árvores de grande porte para abrir caminho aos canaviais. A laboração dos engenhos obrigou ao desbaste de madeiras e lenhas para alimentar os engenhos. Em pouco tempo, as encostas sobranceiras ao Funchal ficaram escalvadas. Para o Brasil, no século XVIII, cada quilo de açúcar equivale a 15 kg de lenha queimada, resultando numa média anual de 210.000 toneladas. A cada hectare deverá corresponder 200 toneladas. A evolução recente da mata atlântica no Brasil, passados mais de cem anos sobre o incremento da máquina a vapor nos engenhos, continua a ser tragada por outros agentes. Assim, entre 1985 e 1990, ela perdeu 5.330 km2, ficando em 83.500 km2, isto é cerca de 8% da floresta encontrada pelos portugueses em 22 de abril de 1500. O processo é similar nas regiões que antecederam o boom do açúcar americano. Em Motril, a primeira metade do século XVI é definida por uma situação de quebra da produção açucareira, atribuída à falta de lenhas, o que levou a uma tomada de medidas desde 1540. A situação repete-se na Madeira e nas Canárias, o que provoca uma reação dos proprietários de engenho, materializada em medidas exaradas em ordens régias e posturas municipais. As ilhas, pela limitação do seu espaço, são as primeiras a ressentir-se desta realidade. Sucede assim em ambos os lados do Atlântico, apontando-se como única exceção as ilhas de S. Tomé e Príncipe. Nas Caraíbas, a situação é igual. Na ilha de Santo Domingo, hoje, Haiti e Rep. Dominicana, a cultura da cana teve um apogeu curto de pouco mais de cinquenta anos, pois que, em 1550, a notória escassez de lenha conduziu ao aban-

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O Machado e a Fénix

Estufa da firma Cossart Gordon na rua dos Netos. Ernest A. Vizetelly, 1880

dono de muitos engenhos desde 1570. Já na Jamaica, a promoção pelos ingleses da cultura levou à busca de soluções, nomeadamente o trem jamaicano. Com este sistema de fornalha, o aproveitamento de lenha era evidente, pois apenas com uma só fogueira se conseguia manter as três fornalhas. Concomitantemente, recorreu-se ao bagaço como combustível. Note-se que ambas as situações se difundem primeiro nas Antilhas inglesas, a partir da década de oitenta do século XVII e só depois atingem as demais áreas açucareiras. A generalização do sistema aconteceu primeiro nas ilhas, carentes de lenha, e só depois chegou ao Brasil. A sua entrada definitiva na indústria açucareira do Brasil é de 1806, altura em que Manuel Ferreira da Câmara, na Baía, adaptou o seu engenho a esta nova situação. Todavia, nesta época, a grande inovação era já a máquina a vapor, que começou a ser usada no Brasil a partir de 1815. Entretanto, a caldeira de vacum, inventada, em 1830, por Norbert Rillius de New Orleans, foi a técnica que revolucionou o fabrico do açúcar e que mais contribuiu para a economia de combustível. Os reflexos da situação cedo se fizeram sentir, obrigando as autoridades a intervir, no sentido de limitar o avanço das áreas de cultivo e de controlar o abate de madeiras e lenhas. Em 1466, os moradores do Funchal contestavam o regime de concessão de terras de arvoredos e do modo de as esmoutar, pelos efeitos nefastos que causava à safra açucareira29. Perante tal reclamação, o senhorio ordenou aos capitães e almoxarifes que cumprissem os prazos estabelecidos e que fosse interdito o uso do fogo. No entanto, em 1483, o capitão de Machico continuava a distribuir de sesmarias os montes próximos do Funchal, com excessivo prejuízo para os lavradores do açúcar30 e, por isso, D. Manuel repreende-o, solicitando que tais concessões deveriam ser feitas 29 Ibidem, T. 1, fls. 135-138vº. 30 Ibidem, T. 1, fls. 249-251.

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O Machado e a Fénix na presença do provedor. E, finalmente, em 148531, o mesmo proibiu a distribuição de terras de sesmaria nos montes e arvoredos do norte da Ilha para, em princípios do século XVI (1501 e 1508), acabar definitivamente com a concessão de terras em regime de sesmaria32, a única ressalva eram as terras que pudessem ser aproveitadas em canaviais e vinhedos. A par do usufruto da floresta como fonte de combustível, é preciso assinalar o aproveitamento das madeiras, consideradas a primeira riqueza dos povoadores, a fazer fé naquilo que referem Zurara, Valentim Fernandes e Gaspar Frutuoso. As madeiras de til, vinhático, aderno, barbuzano, cativaram a atenção de colonos e forasteiros. As serras de água que proliferaram por toda a ilha, com maior incidência da encosta norte, podem ser consideradas o símbolo da busca desenfreada de árvores para abate. É certo que a necessidade de lenhas como combustível para o dia а dia caseiro, para a indústria de panificação, forjas e engenhos de açúcar levaram, paulatinamente, à diminuição das reservas florestais. O processo de desflorestação é evidente a todos os observadores, sejam locais ou visitantes, e mereceu alguns reparos. Em 1817, Paulo Dias de Almeida acusa os carvoeiros da situação em que encontra a ilha: “A destruição dos arvoredos é geral e nenhumas providências se têm dado a este respeito; os cortes das lenhas continuam sem ordem; os carvoeiros reduzem a carvão esses restos das árvores, que se conservam ainda nesses lugares mais escabrosos (sic), em haver quem atalhe este mal remediável. (...) as montanhas que não há muitos anos vi cobertos de arvoredos, hoje os vejo reduzidas a um esqueleto. O Centro da ilha se acha, todo descoberto de arvoredo, com apenas algumas árvores dispersas, e isto em lugares onde os carvoeiros não têm chegado”33. Muitos dos incêndios que aconteceram na floresta madeirense foram resultado da incúria ou malévola iniciativa dos carvoeiros. Estes são considerados, em finais do século passado, como os principais inimigos da floresta34. Sobre eles recaiam todas as culpas dos diversos incêndios que se ateavam com insistência nas serras da ilha. Paulo Perestrelo da Câmara é incisivo nas acusações: “os bárbaros carvoeiros cortam e queimão desapiedadamente, as árvores mais robustas e úteis e quazi todos os anos deixam atear fogos, que por dias e mezes consomem аs vezes legoas de mato.”35 A luta contra os incendiários não permitia tréguas, mas faltava meios adequados de controlo. Sucediam-se, então, as medidas que procuravam assegurar a preservação da floresta e a reposição do coberto vegetal. Mas a política de reflorestamento da ilha só assumiu uma dimensão adequada na segunda metade do século XIX. Em Machico (1840) e no Funchal (1849), reclamava-se que aqueles que viviam da serra com a lenha e carvão deveriam plantar, em janeiro, seis árvores na terra. Desde o século XV até ao presente, é interminável o conjunto de regulamentos, ordenações e posturas sobre o assunto. A legislação florestal madeirense é prolixa, sendo de destacar o regimento das madeiras de 1562, o mais antigo que se conhece, pois faltam notícias sobre o de 1515, o regimento das matas e arvoredos de 1839, o plano de organização dos Serviços Florestais de 1886 e o Regimento do Serviço de Polícia Rural e Florestal de 1913. Estas regulamentações genéricas tiveram réplica nas posturas municipais, como sucedeu nas de Santana de 1780, Funchal de 1841, 1849, 1869, 1885, 1895, Porto Moniz de 1890; e nas recomendações dos corregedores lavradas nas correições em Machico (1768-1885), Funchal (1768), Santa Cruz (1808-1832) e Porto Santo (1780-1829), completam o quadro das medidas protetoras do nosso manto florestal. Estas poderão resumir-se a duas situações: preservação daquilo que existe, com medidas limitativas do abate de árvores e recuperação do coberto florestal, através de uma política de reflorestação das zonas ermas ou em abate. A salvaguarda da floresta passava não só pelo estabelecimento de medidas rigorosas que 31 Ibidem, T. 1, fl. 51 32 Ibidem, T. 1, fls. 287-288, 289vº-291. 33 Carita, 1982: 53. 34 J. Freitas Branco, Camponeses da Madeira, Lisboa, 1987, pp.133-137; A. Marques da Silva, “Preocupações Ecológicas do Estrela do Norte”, in Atlântico, 19 (1989), 203-206. 35 Breve Noticia sobre a Ilha da Madeira, Lisboa, 1841, 34-35.

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O Machado e a Fénix controlassem o seu abate, que deveria estar sujeito a licenças camarárias, mas também ao ataque em todas as frentes aos agentes devastadores, onde se incluíam o fogo e o gado solto. Daqui se conclui que não houve esquecimento e falta de regulamentação. As contingências de cada época ditaram, sem dúvida, a ineficácia destas medidas. As queimadas, tão comuns desde o povoamento, são um dos principais agentes devastadores e por isso foram insistentemente proibidas. O gado é obrigatoriamente acantonado em espaços circundados por um bardo. Todavia, a floresta não era para os nossos avoengos um espaço de diversão pois que adquiria um papel fundamental na economia da ilha. Vedar-lhe o seu acesso era impossível. Daí as medidas disciplinadoras do seu uso de acordo com um processo económico harmonioso. Já vimos que foi com um violento incêndio que os povoadores, segundo Cadamosto, “varreram grande parte da dita madeira, fazendo terra de lavoura”. As queimadas sucederam-se infinitamente e levaram a coroa a obstar esta situação. Outros violentos incêndios se sucederam. Os que ficaram para a História, fruto da ação humana, são de 1807 e, depois, em 1910 e 1919. Em 1593, documenta-se o fogo do céu que causa elevados danos na cidade e manto florestal. A luta não permitia tréguas. Dum lado, as medidas que procuravam assegurar a preservação da floresta, do outro, a reposição do coberto vegetal. A política de reflorestamento da ilha só assumiu uma dimensão adequada na segunda metade do século XIX. A primeira indicação é de 1677, altura em que se recomendava o plantio de amoreiras em Machico, Santa Cruz e Porto Santo. Mas o grande promotor desta política deverá ter sido o corregedor Francisco Moreira de Matos. Em 1769, o corregedor dava conta dos infratores de Santa Cruz, a propósito da fiscalização das medidas que determinavam a obrigatoriedade de plantar árvores nas terras baldias, o que prova estar já em execução. Na Ponta de Sol, em 1789, explicita-se que esse plantio deveria ser de árvores silvestres e de fruto. Esta solução tornou-se extensiva a toda a ilha, através da carta circular de 25 de dezembro de 1770. Sabemos que esta medida era fiscalizada pelos próprios moradores de Santa Cruz, nomeando a vereação dois homens por cada localidade. Aos baldios, juntam-se as escarpas montanhosas e as áreas de cultivo. Assim, em 1791, recomendava-se aos lavradores das meias terras acima a obrigação de plantar meio alqueire ou uma quarta, dependendo da extensão das terras, de castanheiros, enquanto os outros deveriam plantar pelo menos duas laranjeiras e um limoeiro. Por outro lado, as terras escalvadas e do interior seriam semeadas de pinheiros, no decurso do mês de setembro. Outra das propostas, em 1791, era a amoreira, pois que “alimenta bicho-da-seda e distraem lagartixas não comam uvas”. Note-se que só nos dois anos que antecederam a visita do corregedor em 1795 a Ponta de Sol plantaram-se 35000 árvores. Esta salutar medida teve diversas formas de concretização. Assim, em 1800, aquele que cortava uma árvore era obrigado a plantar outra no seu lugar, como testemunha por W. Combe em 1821. Tais medidas passaram no imediato para o articulado das posturas. José Silvestre Ribeiro, como governador (1846-1851) teve uma atuação exemplar na defesa das florestas e de reposição do seu coberto. Em 1849, apostou na distribuição de sementes de pinhão e no ano imediato propor à Junta Geral a criação de um viveiro geral para toda a ilha. Nesta sua proposta, recomendava-se o plantio de árvores indígenas: vinhático, loureiro, aderno e perado. Uma das formas de incentivo desta política de reflorestamento estava na atribuição de prémios aos que mais se distinguiam nesta tarefa. A esta luta aderiu a Sociedade Agrícola Madeirense, mas as queimadas sucederam-se infinitamente e levaram a coroa a estabelecer um travão. Outros violentos incêndios se sucederam. Os que ficaram para a História, fruto da ação humana, são de 1807, de 1910 e de 1919. No século XXI, estes continuaram a devastar a floresta, com particular incidência nas proximidades do Funchal. Foi necessário travar as queimadas, de forma que, em 1466, já o senhorio proíbe as queimadas e exige que as terras sejam limpas a machado para que não falte lenha. Esta medida repete-se, de forma insistente no tempo, em 1466, 1485, 1490, 1491, 1495. Todas estas recomendações fazem referência a um documento

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O Machado e a Fénix fundamental a 9 de março de 1490, com o chamado regimento dos fogos. Com ele, surge o cargo de juiz dos danos dos fogos, que terá uma missão importante para fazer cumprir todas as determinações sobre o uso da floresta. Tal como verificamos, há, desde o início do povoamento, uma preocupação com a salvaguarda dos recursos florestais. Em 1461, face a uma reclamação dos moradores acerca do corte de madeiras, o Duque D. Fernando esclarece que “saluo se pera ellas cortardes çedro ou teyxo... das quaees mamdo que requeira a dizima por que lhe nõ praz que pera has ditas cousas se corte adita madejira pois doutra muyta e de mujtas manejras… tem em gramde abastamça e aymda que agora pareca que adita madeyra de çedro e teyxo norn pode fazer mimgoa deue se creer que o fara ao longe e em especial naquelles lugares de que mais sem trabalho pode seer tirada e carregada.” A luta não permitia tréguas. Assim, sucediam-se as medidas que procuravam assegurar a preservação da floresta e a reposição do coberto vegetal. Desde 1627 que se registam medidas no município de Machico para reflorestar as serras, que se somam a outras existentes sobre as testadas das ribeiras. Estas medidas do município juntam-se a outras de proibição de saída de madeiras (1652), de proibição de corte de madeiras, sem autorização do meirinho da serra, ou de esmoutar (1673-74). Temos, ainda, indicações de devassas para apurar o cumprimento das medidas sobre o corte de madeiras em 1606, 1638, 1641, 1645, 1649 e 1704. A mesma preocupação acontecia com as serras de água em funcionamento. A partir de 1708, por ordem do governador, deixaram de de ser autorizadas novas licenças mas, na década de trinta, retornam novas licenças e só em 1780 as posturas de Machico determinam a existência de apenas uma única serra de água a funcionar em toda a vasta área co concelho. A política de reflorestamento da ilha só assumiu uma dimensão clara a partir da segunda metade do século XVIII, sendo uma preocupação evidente dos Governadores, como José António de Sá Pereira. Aqui a aposta estava nos castanheiros O século XIX anuncia-se com diversas aluviões que devastam a cidade e levantam de imediato a necessidade de apostar numa política de reflorestamento. Em 1813, o governador Luiz Beltrão de Gouveia referia em carta ao Conde de Galveas as diversas iniciativas nesse sentido em que esteve empenhado o batalhão de artilharia no plantio de 14.000 na serra. Depois, em 1823, José Maria da Fonseca, inspector-geral de Agricultura da Madeira, apresenta um “projecto sobre o restabelecimento dos arvoredos e sua competente economia na Madeira” em que são sugeridas várias medidas, sendo uma delas a criação de condições para a importação e generalização do consumo do carvão vegetal na cidade. O Porto Santo é um caso extremo da necessidade de rearborização, dependendo disso a reanimação agrícola da ilha. Pelo menos assim se entendeu em 1771, com o Regimento de Agricultura, onde se insistia no plantio, nas montanhas, de pinheiros, zimbreiros, castanheiros e junto das áreas de cultura, de amoreiras e espinheiros. A razão disso, estava em que elas faziam “sombra а terra e attrahião a umidade da giгo de que a mesma terra hé sumamente estéril”. O convívio permanente com o fogo, de algumas destas unidades industriais, obrigava a uma redobrada atenção e ao estabelecimento de normas de segurança. Assim, no caso do engenho do Hinton, a funcionar de 1845 a 1976, tivemos alguns incêndios, mas a própria fábrica montou o seu serviço de apagar incêndios, sendo deles a primeira bomba, adquirida em Londres, para esse serviço, que acudiu inúmeras vezes a outros incêndios na cidade. Todas estas estruturas industriais, com recurso à energia do fogo tinham muitas vezes incidência no meio urbano, provocando incêndios e destruição. A cidade estava assim cercada pelo fogo, riqueza e perigo para pessoas e haveres. O vinho não necessitará da energia do fogo no seu processo de vinificação até chegar à mesa. Mas na Madeira, desde finais do século XVIII, considerou-se fundamental para o seu envelhecimento prematuro com as chamadas estufas de vinho. Tendo em conta que estas estufas podiam laborar até seis meses, o gasto em lenhas era elevado, criando certamente dificuldades no seu abastecimento na cidade. Desta forma, temos notícia, em 27 de abril de

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O Machado e a Fénix 1835, de uma reclamação ao perfeito reivindicando a substituição das lenhas pelo carvão. Esta medida não se concretizou, uma vez que, em 1919, vemos anúncios nos jornais para venda de lenhas para queimar nas fornalhas das estufas. Desta forma, em 1919, são anunciados serviços de venda de lenhas para cozinhas, estufas e engenhos em armazéns no Campo da Barca e no Calhau. Se as estufas não eram um perigo para a saúde e segurança públicas, tornavam-se, no entanto, prejudiciais à pouca salubridade do burgo oitocentista, atingindo o centro do burgo e ruas de maior movimento em redor do porto do Funchal. Era o caso da área da Sé do Funchal, próxima da Alfân­dega e do cabrestante, onde, entre 1809/1834, laboraram as estufas de Gordon Duff, & Ca., res­petivamente no Beco do Assucar e Rua do Esmeraldo. Aliás, se tivermos em conta que a fregue­sia da Sé se situa na área central da cidade, ficaremos com uma ideia clara da implantação, pois que, entre 1839/1840, existiam 15 estufas, a que se seguiam 9 na freguesia de S. Pedro, denotando uma forte concentração na área circunvizinha da Alfândega e Porto do Funchal o que, em parte, se justifica para um fácil transporte do vinho de embarque. De notar entre 1839/1840 a elevada concentração de estufas no Beco dos Aranhas (4 e 5) e em S. Paulo (3 e 1), área ribeirinha ao mar pelo lado da Pontinha e sobranceira à ribeira de S. João. No termo da cidade, as estufas localizavam-se em Santa Luzia, Caminho da Torrinha, Torreão e, em Santa Maria Maior na Rua dos Balcões, Rua Bela de Santiago, Rochinha. Fora da área do Funchal, encontramos apenas duas em Santa Cruz em 1840, uma em S. Fernando, de Joaquim Telles de Menezes e outra na Rua Direita, de Augusto César de Oliveira. Entre 1805 e 1816, nota-se uma estabilização no número de estufas. Estamos num momento de medidas proibitivas e da discussão contrária à sua implantação e utilidade. Passado este período, ganham uma certa estabilidade, a que se seguiu, depois de solucionada a crise, um forte impulso entre 1817/1829. A década de trinta foi marcada por uma queda que se acentua a partir de 1832. O período que decorre de 1834/1844 foi de certa estabilidade no número de estufas em laboração, apenas se notando um salto isolado em 1839. A partir de 1845, a tendência era para subir, atingindo-se, em 1851, o número máximo de estufas, com 42, mas a situação vivida a partir de 1851 inverteu o processo, que se acentuou a partir de 1860. No Funchal, principal centro vinícola da ilha, procedia-se ao tratamento do vinho por meio das estufas. O sistema generalizou-se a partir de finais do século XIX. As estufas distribuíam-se indiscriminadamente por toda a cidade situando-se nos terrenos anexos às adegas na área circunvizinha do cabrestante. O processo de estufagem tinha lugar em edifícios construídos para tal, em cima dos fornos de cal ou de cozer pão. Em 1861, a estufa existente na rua dos Moinhos foi demolida por não ter conseguido o resultado de melhorar o vinho36. Para o período de 1739 a 1872, assinala-se o uso de um forno de cal à Rua do Hospital Velho e de 12 fornos de cozer pão, com idênticas funções, nas ruas do Aljube, Ponte Nova, da Sé, Queimadas, Ingleses, Capitão, Bela Vista, Castanheiro, Pintos, Nova de Santa Maria, Esmeraldo e Largo da Sé. Por editais de 23 de agosto de 1802 e 6 de novembro de 1803, proibiu-se a construção de estufas no recinto da cidade, argumentando o juiz do povo os inconvenientes para a saúde pública, pelo fumo e constante perigo de incêndio no período de laboração. Os comerciantes da praça do Funchal manifestaram-se contra, alegando os prejuízos e contrariando os argumentos infundados do referido juiz do povo37. Na realidade, como referem, só houve até 1803 três ameaças e apenas um incêndio na estufa de Phelps Page & Ca., a 29 de outubro de 180638. Depois disso, só temos referência a três incêndios na última década da centúria. A 20 de janeiro de 1894, o fogo devorou a estufa da firma de vinhos Araújo & Henriques, seguindo-se, a 15 de dezembro de 1898, um outro na estufa do Conde de Canavial na rua 5 de Julho onde estavam mais de cem pipas de diversos proprietários. O último de que temos notícia sucedeu a 11 de julho de 1900, num prédio da Rua do Esmeraldo, pro36 ARM, CMF, Vinho, Manifestos, 1839/1872, 6 volumes, nº1069/1074. 37 AHU, Madeira e Porto Santo, nº 1428, 1431. 38 ANTT, PJRFF, nº 461, p. 12.

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S. Marçal de Limoges, da Gália, onde nasceu no século III, patrono e protetor dos bombeiros, cuja festa se celebra a 30 de junho

priedade dos herdeiros de Júlio Henriques de Freitas, que tinha no primeiro andar uma estufa com 49 pipas que, felizmente, se salvaram.39 As estufas não morreram, apenas foram sendo aperfeiçoadas com o tempo. Os mecanismos a vapor e a moderna tecnologia elétrica substituíram as fornalhas de lenha, propiciando uma temperatura constante de 45 a 50 graus centígrados, por um período de três meses. No presente, o sistema de canteiro convive, de forma cordial, com o das estufas. Ambos persistem e são usados pelas empresas de acordo com o tipo de vinhos que se pretende fazer. A cidade do Funchal, por força da existência de diversas unidades industriais no espaço urbano, convivia a diario com o fogo, que poderia ter efeitos devastadores. A atividade industrial da cidade abrigava ao uso da energia do fogo em diversas unidades industriais, como as forjas, as oficinas de tanoaria, os engenhos de açúcar, as estufas de vinho, eram os principais focos de aproveitamento da energia desse fogo que ardia, por vezes, de forma incessante. Deveremos, ainda, registar nas igrejas, o uso de velas acesas para o pagamento de promessas, que es39 Vasco F. Campos e Alberto Malho, O Bombeiro Madeirense e a sua História, Funchal, 1963, pp.35, 40-41, 47.

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O Machado e a Fénix tiveram na origem de diversos incêndios, como foi o caso da igreja paroquial da Ponta Delgada em 1908. O perigo era grande, mas parece que S. Marçal, o patrono dos bombeiros, estava sempre presente com a sua atenção protetora sobre o burgo. Assim, apenas temos registo de quatro incêndios em estufas (1889, 1893, 1898, 1909).40 No meio urbano, são mais insistentes os incêndios em habitações e armazéns, do que nas unidades industriais, onde se convivia diariamente com o fogo, como as estufas, forjas, padarias e serralharias. A principal ameaça estava nas lareiras das casas e na ação dos carvoeiros. Sem dúvida que até ao advento e generalização do gás butano, já em pleno século XX, o perigo de incêndio era uma constante. A História da Madeira apresenta um historial diversificado de incêndios, que fustigam, de forma diversa, o quadro natural como as populações, arrastando, muitas vezes, uma onda de destruição e dor. E é nestes momentos que todos nós sentimos, de forma clara a presença e importância dos soldados da paz, que combatem, por vezes até ao sacrifício das suas próprias vidas, para apaziguar e apagar a força destrutiva das chamas. O mundo mudou nestes quase seicentos anos de ocupação do espaço madeirense, mas os efeitos nefastos do fogo nunca foram apaziguados. O Fogo continua a marcar o quotidiano da ilha, nomeadamente na época estival, colocando em perigo a floresta, o mundo rural e urbano. Hoje pontua o desleixo e a mão criminosa. O século XXI tem sido marcado pela sua quase constante presença na época de verão. Os soldados da Paz são primeiro chamados a apagar o fogo, tendo, só depois, sido alargada a sua luta aos demais elementos.

40 O Diário do Comércio, n.º 3535, 17 de Julho de 1909, apresenta a notícia de um fogo nos armazéns de F. F. Ferraz consumiu dois tonéis e madeira. O Comércio da Madeira, n.º 667, 16 de Dezembro de 1898, refere que deflagrou um incêndio de origem desconhecida na estufa do Conde de Canavial, pelas 3 horas da madrugada, provocando danos materiais e a destruição de 100 pipas de vinho.

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Inauguração do material para combate a incêndios, adquirido pela Câmara Municipal do Funchal. 7 de fevereiro de 1926

CRONOLOGIA: INCÊNDIOS URBANOS E RURAIS.

1419.julho.??: João Gonçalves Zarco mandar atear fogo à densa floresta da ilha como forma de iniciar o processo de ocupação e humanização da mesma. 1546.??.??: Fogo florestal na Ribeira dos Socorridos. 1566.outubro.3-16: Assalto de corsários franceses ao Funchal, sob o comando de Bertrand de Montluc, com incêndios e mortes. 1593.julho-26: Fogo do céu provoca incêndio urbano que destrói alguns quarteirões da cidade, dando origem às ruas da Queimada de Baixo e Queimada de Cima.Perderam-se 5000 pães de açúcar de alfenim. CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA

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O Machado e a Fénix 1667: Incêndio na igreja matriz do Porto Santo 1699: Fogo urbano destruiu as instalações do Governador no Palácio de S. Lourenço. 1760.agosto.2: O Cónego Pedro Pereira da Silva queimou a Gramática Latina do Padre Manuel Álvares. 1857: Fogo urbano nas instalações do Lazareto. 1872: Fogo Florestal em S. Vicente. 1878.agosto.20: Fogo urbano no prédio da firma de J. Payne & Sons na Rua da Alfândega. 1883.junho.16: Fogo urbano em casa particular à Rua de Santa Maria. 1883.agosto.4: Fogo urbano em Bazar de fazendas à Rua dos Capelistas. 1883.agosto.28: Fogo urbano em armazéns da alfândega. 1884.abril.19: Fogo urbano em prédio velho no Largo dos Pelourinho. 1885.agosto.10: Fogo urbano na “Casa dos Loucos” do Hospital de Santa Isabel. 1886.novembro.12: Fogo urbano em loja de fazendas na esquina do Largo de S. Sebastião com a Rua dos Ferreiros, em casa aos Moinhos. 1889.março.27: Fogo urbano no Hotel Ride Carmo à rua do Carmo. 1889.abril.01: Fogo urbano em armazém de produtos químicos à Rua de S. Francisco. 1889.junho.08: Fogo urbano em casa desabitada à Cruz de Carvalho. 1889.novembro.28: Fogo urbano na estufa de vinhos na Rua Nova de Santa Maria. 1891.outubro.09: Fogo urbano na fábrica de destilação de aguardente de Francisco Pires ao Salto do Cavalo. 1892.fevereiro.08: Fogo urbano em prédio na Travessa das Torneiras, na freguesia de Santa Maria Maior. 1892.julho.03: Fogo urbano em prédio na Rua da Ponte Nova no dormitório dos músicos dos caçadores n.º12. 1893.agosto.26: Fogo urbano em estufa de milho, da viúva de Vicente Cândido Machado& Filhos, à Rua dos Netos. 1893.outubro.27: Fogo urbano em loja de Frutas à Ponte Nova. 1894.janeiro.20: Fogo urbano em estufa de vinho de Araújo & Henriques, Padaria de José Marques na Rua do Conde Carvalhal 1894.abril.10: Fogo urbano em casa de Francisca Marques à rua Phelps 1894.junho.23: Fogo urbano em prédio abandonado de Augusto Vieira de Andrade, com mato seco à ponte de S. João. 1898.dezembro.15: Fogo urbano em estufa do Conte de Canavial à rua 5 de Junho 1899.janeiro.21: Fogo urbano em prédio ao Beco da Tintureira, Recolhimento do Bom Jesus 1899.maio.30: Fogo urbano na torre da Sé Catedral. 1899.junho.2: Fogo urbano em loja de Fazendas de Alexandre Augusto da Silva à rua Betencourt. 1899.setembro.07: incêndio a bordo do pontão da ASA Cory & C.º 1899.outubro.27: Fogo urbano na Tipografia do Diário do Comércio.

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O Machado e a Fénix 1900.junho.10: Fogo urbano em prédio dos herdeiros de Julio Henriques de Freitas à Rua do Esmeraldo. 1900.novembro.07: Fogo urbano no prédio de João Rodrigues Silva à Rua do Esmeraldo. 1902.novembro.26: Fogo urbano no prédio do Visconde de Monte Bello, arrendado à Fabrica Madeirense de Tabacos à Rua do Ribeirinho de Baixo 1903.março.29: Mercearia Flor da Madrugada de Manuel Fernandes à Rua de Santa Luzia. 1903.junho.03: Fogo urbano no prédio de Francisco de Araújo Figueira, onde funcionava uma mercearia na Rua do Bettencourt. 1903.janeiro.01: Fogo urbano nas arrecadações da câmara à Rua dos Ferreiros. 1904.abril.24: Fogo urbano em prédios de residência à Cruz de Carvalho. 1904.julho.19: Fogo urbano nos armazéns à entrada da cidade no edifício dos Correios. 1905.maio.14: Explosão e Incêndio em armazém e estufa de milho à Rua do Esmeraldo. 1906.outubro.09: Incêndio a bordo do vapor Francês Vasconia, da companhia Francesa de Navegação e Vapor. 1906.novembro.15: Fogo urbano, a partir de candeeiro a petróleo, na Quinta Bianchi. 1906.dezembro.18: Fogo urbano no Quartel do Regimento da Infantaria nº27. 1907.novembro.10: Fogo urbano em prédio de Pedro Gomes Pestana à rua do Surdo. 1908.fevereiro.05: Fogo urbano em armazém n de géneros alimentícios, pertencente a João Barros, na Rua das Murças. 1908.fevereiro.27: Fogo na mercearia de João Ferreira de Nóbrega, junto à igreja de S. Gonçalo. 1908.março.15: Fogo urbano em barracão do animatografo “A Águia de Ouro” na Praça da Rainha. 1908.julho.12: Violento incêndio na Igreja paroquial de Ponta Delgada. 1908.agosto.03: Fogo urbano em relojoaria de Daniel Sebastião Spínola na Rua da Carreira. 1908.agosto.07: Fogo urbano em prédio de José Pinto ao Largo do Torreão. 1908.setembro.14: Fogo urbano em arsenal de M. Gonçalves & C. Lda ao Campo D. Carlos I. 1908.setembro.15: Fogo urbano em armazém dos herdeiros de Francisco Gabriel Correia à Rua dos Tanoeiros. 1908.outubro.20: Fogo urbano em loja de marceneiro à Rua das Pretas. 1909.abril.28: Fogo urbano em armazém de José Maria dos Passos e Almeida à Rua da Alfândega. 1909.maio.15: Fogo urbano em mercearia de José Maria Martins na Avenida do Arcebispo D. Ayres. 1909.dezembro.01: Fogo urbano à rua da Ponte Nova. 1910.janeiro.09: Fogo urbano no telheiro de João Welsh, que serve de tanoaria, à rua da Carreira 1910.março.28: Fogo urbano em casa de pasto à Rua das Pretas. 1911.janeiro.12 Fogo urbano no jornal O Direito à Rua de S. Francisco. 1911.fevereiro.12: Fogo urbano em armazém de João Torres Afonso na Rua dos Ferreiros. 1911.outubro.29: Fogo urbano em fábrica de pão e massas de Francisco Gomes Marques na Travessa do Cabido.

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O Machado e a Fénix 1915.novembro. 25: Fogo urbano na casa de destilação do engenho do Hinton. 1916.janeiro.12: Fogo urbano em casa de bordados Bordneil Brothers à Rua dos Ferreiros. 1917.agosto.16: Fogo urbano em mercearia de José da Silva Frieza na Nazaré. 1917.outubro.20: Fogo urbano em armazém de Francisco Dias Tavares à Rua das Hortas. 1919.maio.09: Fogo urbano no depósito da fábrica Leão à Rua das Hortas. 1919.junho.21: Fogo urbano em prédio de Manuel da Silva à Rua do Sabão. 1919.agosto.21 a 27: Fogo florestal, considerado o mais importante depois do sucedido no século XV, nos Pinhais do Monte e S. Roque, que alastrou às freguesias da Ribeira da Janela, S. Vicente, Ponta Delgada, Faial, Arco de S. Jorge, Machico, Ribeira Brava, Serra de Água. 1919.agosto.23: Fogo urbano em depósito de loja de ferragens de António Faustino de Abreu à rua do Castanheiro. 1919.agosto.28: Fogo urbano na loja de vinhos de Manuel Perestrelo Favila Vieira à no Quebra-costas. 1922.junho.30: Fogo urbano em mercearia da firma Caldeira & Freitas na rua Direita. 1924.janeiro.04: Fogo urbano no Hospital de Santa Isabel que funcionava no atual edifício do Governo Regional. 1924. agosto. 05: Fogo urbano em prédio na Travessa do Forno, nas oficias da Cooperativa de Construção. 1924.agosto.23: Fogo urbano em armazém à Rua do Castanheiro. 1926.janeiro.07: Fogo urbano em prédio da casa Blandy no Campo de Almirante Reis. 1927.fevereiro.23: Fogo urbano no Casino Vitória, na Rua Imperatriz D. Amélia. 1928.março.08: Fogo urbano em mercearia de José Paulo Fernandes no Largo do Torreão. 1928.junho.19: Fogo urbano no depósito da Loja Torres na Rua do Esmeraldo. 1928.março.25: Fogo em Santa Cruz nas Instalações do Tribunal e Repartições Públicas. 1929.fevereiro.17: Fogo urbano em prédio da Rua da Queimada de Cima. 1930.janeiro.29: Fogo na torre da casa da Quinta da Achada. 1931.maio.21: Fogo urbano em armazém da firma F. M. Sardinha à Rua do Dr. Costa Ferreira. 1931.julho.05: Fogo urbano em armazém à Rua do Hospital Velho. 1931.julho.27: Fogo urbano loja de quinquilharias a Preciosa da firma Teixeira & Castro Lda à Rua de João Tavira. 1931.novembro.15 Fogo urbano na farmácia Almeida à Rua João Tavira. 1932.setembro.05: Fogo urbano na fábrica de Bolacha à Rua dos Ferreiros. 1932.dezembro.11: Fogo urbano na fábrica de massa e padaria de Manuel Rodrigues à Rua do Esmeraldo. 1933.maio.06: Fogo em prédio de Luís de Camões em C. Lobos. 1933.junho.24: Fogo na fábrica de tapeçaria da Madeira Carpets Lda no Lombo da Boa Vista. 1933.junho.30: Fogo urbano em mercearia à Rua Direita. 1933.julho.17: Fogo urbano em depósito da mercearia de Carlos Gonçalves em S. Roque e outro em

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O Machado e a Fénix uma loja na rua da Alfândega. 1933.dezembro.13: Fogo urbano em diversos prédios da cidade: na garagem da firma Paixão & cª na rua 31 de Janeiro, no sítio Avista Navios, numa sucursal da Farmácia Portuguesa e no Caminho dos Saltos. 1934.agosto.18: Fogo urbano no café Ritz à rua Hermenegildo Capelo. 1935.maio.26: Fogo urbano em prédio Chapelaria Londrina, à Rua da Carreira. 1935.agosto.17: Fogo urbano em armazém de atacados de Manuel de Jesus Júnior na Rua do Sabão. 1935.agosto.20: Fogo urbano na Loja do Povo dos herdeiros de João Maria Monteiro à Rua dos Ferreiros. 1935: Fogo Florestal em S. Vicente. 1936.julho.30: Fogo em prédio de Maria Virgínia, viúva, na Calçada do Pico. 1936.agosto.12: Fogo urbano na casa da luz elétrica. 1936.agosto.27: Fogo urbano nas instalações da Escola de Artes e Ofícios na rua da Boa Viagem. 1936.setembro.12: Fogo urbano em prédio à Rua da Boa Viagem. 1937.fevereiro.24: Explosão e incêndio em prédio da loja “A Decoradora” na Rua dos Ferreiros. 1937.março.24: Fogo urbano na Loja Rebelo à Rua dos Ferreiros. 1937.maio.26: Fogo urbano em prédios, atingindo os números de porta 12, 14, 16, 18 e 24, na Rua do Carmo. 1937.junho.08: Fogo urbano na antiga Casa Americana à Rua de S. Pedro. 1938.fevereiro.24: Fogo urbano numa garagem e armazém de vinhos, de Leandro Nunes Vieira à Rua Latino Coelho. 1938.abril.15: Fogo urbano na Fábrica da Casa Leacock. 1938.junho.03: Fogo urbano em prédio da firma de Alfredo Camacho Sucrs à Rua da Carreira. 1938.junho.27: Fogo na Fábrica Pirotécnica da Madeirense, na Ribeira de João Gomes. 1938.novembro.10: Fogo na Fábrica de Aguardente de Francisco Alexandrino Rebelo nas Quebradas em S. Martinho. 1938.dezembro.18: Fogo urbano em armazém de atacados de Manuel de Jesus Júnior à Rua do Sabão. 1940.agosto.01: Fogo em prédio de João de Abreu Campanário na Ponta de Sol. 1941.março.07: Fogo urbano em armazéns da firma Teixeira & C.ª na Rua das Murças. 1941.junho.13: Fogo em casa de Manuel Fernandes na Cancela. 1942.outubro.21: Fogo urbano em depósito de carvão à Rua do Hospital Velho. 1942.novembro. 19: Fogo no depósito da Empresa Madeirense de Tabacos à rua 5 de Outubro. 1942.novembro.25: Fogo em armazém de materiais de construção em Santo António. 1943.maio.12: Fogo urbano na Fortaleza de Santiago. 1943.outubro.06: Fogo urbano em armazém da empresa exportadora de fruta SEPL à Rua Direita. 1943.novembro.06: Fogo urbano no depósito da Fotografia Vicente à Rua da Carreira. 1943.novembro.09: Fogo urbano em prédio das dependências do Club Tivoli à Rua da Cadeia Velha. CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA

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O Machado e a Fénix 1944.janeiro.06: Fogo em depósito de queima da padaria de Alfredo Ferreira de Nóbrega na Camacha. 1944.outubro.27: Fogo urbano na oficina de caldeireiro de Francisco Gomes Correia à Rua do Seminário. 1945.setembro.02: Fogo urbano na mercearia Arcada de Carlos Sabino de Freitas à Rua das Pretas. 1946.janeiro.20: Fogo em casa de Manuel Pereira da Luz na Levada do Cavalo em Santo António. 1946.agosto.09: Fogo florestal no Montado do Barreiro no Monte. 1946.dezembro.28: Fogo na casa da Quinta do Loural no Santo da Serra, com um morto. 1947.maio.06: Fogo urbano em alfaiataria Americana de Manuel de Oliveira Câmara à Rua dos Netos. 1947.janeiro.09: Fogo urbano no Palácio de S. Pedro. 1948.abril.05: Fogo urbano na Autogare Funchalense da SAM à Rua do Conselheiro. 1948.agosto.11: Fogo no edifício da Câmara municipal de Santana. 1948.outubro.30: Fogo urbano em serragem da viúva de Ramano Gomes & Fºs à Rua do Ribeirinho. 1948.dezembro.18: Fogo urbano em oficinas da firma Faria e Castro & Silva Lda, ao Largo da Saúde. 1949.janeiro.16: Fogo urbano na arrecadação da firma Henriques & Gouveia da Rua do Aljube. 1949.abril.19: Fogo urbano em casa de bordados da firma A. Ascensão & cº Lda na Rua do Surdo. 1949.junho.26: Fogo urbano na oficina da tanoaria da firma Wine Association Lda à Rua de S. Francisco. 1949.agosto. 15: Fogo florestal nas Serras dos Prazeres. 1949.setembro. 08: Incêndio a bordo do navio Madeirense ancorado no porto. 1950.março.29: Fogo urbano na Farmácia Portuguesa à Rua da Queimada de Baixo. 1950.junho.01: Fogo urbano em gasolina no Largo do Pelourinho. 1950.junho.09: Fogo urbano em casa de bordados da firma Nóbrega Brothers à Rua da Carreira. 1950.agosto.14: Fogo urbano em armazém de David Vieira à Rua da Carreira. 1950.outubro.26: Fogo urbano no bar Luz à Rua Direita. 1951.janeiro.1: Fogo urbano numa “casa de prazeres”, numa quinta da Rua do Til. 1951.janeiro.17: Fogo urbano em farmácia Portuguesa à Rua da Queimada de Baixo. 1951.março.11: Fogo em escritório na rua de Conselheiro e em armazém de banana na rua do Dr. Barreto. 1951.julho.11: Fogo em serragem na Ponta de Sol, no sítio das Rabaças. 1951. agosto.23: Fogo florestal nas Serras da Ponta de Sol. 1951.novembro.05: Fogo urbano no Hotel Voga. 1951.dezembro.21: Fogo em oficinas e carpintaria de António Pereira Camacho & Cª Ldª à Rua 31 de Janeiro. 1952.??.??: Fogo na padaria S. Bento na ribeira Brava. 1952.agosto.02: Fogo florestal no Montado do Barreiro. 1952.agosto.23: Fogo urbano nos jardins do Hospício da Princesa D. Amélia. 1952.outubro.09: Fogo florestal no Ribeiro Frio. CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA

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O Machado e a Fénix 1952.novembro.03: Fogo urbano em prédio da Rua da Cadeia Velha. 1952.novembro.09: Fogo urbano nas lojas da Casa Coimbra às ruas 31 de Janeiro e do Sabão. 1953.março.06: Fogo em armazém na Torre de Francisco de Barros e Sousa em C. de Lobos. 1953.agosto.03: Fogo florestal na Ribeira das Cales. 1953.setembro.16: Fogo em mercearia de Manuel Gomes Perneta nos Álamos em S. Roque. 1954.novembro.21: fogo urbano nas instalações da firma Tapeçarias da Madeira Lda, à rua da Carreira. 1955.junho.10: Explosão na fábrica de fogos Vitória em S. Roque. 1956.março.24: Fogo urbano em prédio à Rua do Esmeraldo. 1956.julho.04: Fogo urbano em prédio de Manuel Fernandes à Rua Fernão Ornelas com dois mortos carbonizados. 1956.agosto.03: Fogo urbano em mercearia de João Fernandes na Vila de C. de Lobos. 1956.agosto.04: Fogo em telheiro no Trapiche. 1956.agosto.31: Fogo urbano nos armazéns da firma Unifrutas Lda à rua do Carmo. 1956.????: Fogo na residência do pároco da Serra de Água. 1957.fevereiro: Fogo urbano em armazém à Rua do Bispo. 1957: Fogo urbano no Solar de D. Mécia. 1957.fevereiro.??: Fogo urbano na loja de atacados A Retalhista na Rua do Bispo. 1957.abril.17: Fogo em padaria de Maria Fernandes de Nóbrega na Banda de Além em Machico. 1957.abril.28: Fogo em armazém na Ribeira Brava. 1957.julho.06: Fogo em padaria à Rua do Castanheiro. 1957.julho.11: Fogo florestal nas Queimadas em Santana. 1957.outubro.13: Fogo urbano em armazém de mobílias de José Rodrigues Martins ao Largo do Phelps. 1958.agosto.17: Fogo na igreja velha do Porto da Cruz. 1959.abril.24: Fogo no mosteiro de Nossa Senhora da Piedade na Caldeira de C. de Lobos. 1960.julho.14: Fogo urbano na Casa das Balanças à Rua do Esmeraldo. 1960.agosto.30: Fogo urbano na Sociedade de Serragens da Madeira à Rua dos Ferreiros. 1960.setembro.12: Fogo na igreja paroquial de S. Roque do Faial. 1961.janeiro.09: Fogo urbano na loja de Recolha de Carros de Bois à Rua dos Arrependidos. 1961.janeiro.26: Fogo urbano nas instalações de Recauchutagem Triunfo ao Campo da Barca. 1961.fevereiro.26: Fogo em casebre de colmo em C. de Lobos no sítio do Pé do Pico. 1961.agosto. 07: Fogo urbano na padaria de Joaquim Pinto Figueira em Estrito de C. de Lobos. 1961.agosto.30: Fogo florestal nas serras do Estreito da Calheta. 1961.agosto.01: Fogo florestal nas serras da Ponta de Sol. 1961.agosto.07: Fogo na padaria no Pico dos Salões no E. de C. de Lobos. 1961.setembro.06: Fogo urbano em armazém da firma M. B. Camara Lda à Rua de Santa Maria.

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O Machado e a Fénix

1970.julho.23: incêndio na rua do Esmeraldo

1961.setembro.12: Fogo urbano no edifício Lojas na Travessa dos Reis. 1962.maio: Fogo urbano em armazém do Cabrestante e mercearia Ornelas de Manuel Faustino dos Santos, à Rua da Praia. 1962.agosto.28: Fogo urbano no convento de Santa Clara. 1962.setembro.26: Fogo urbano em “A Estofadora” à Rua Fernão Ornelas. 1962.setembro.27: Fogo urbano no Convento de Santa Clara. 1963.maio.03: Fogo em quintal de Casa no Caniço. 1963.abril.22: Fogo em oficina de Carpintaria em Santo António. 1963.maio.09: Fogo urbano em prédio da Companhia de Seguros Ultramarina na Rua Fernão Ornelas. 1963.junho.27: Fogo urbano em Restaurante à Rua do Hospital Velho. 1963.julho.04: Fogo em madeira junto à igreja de S. Gonçalo. 1964.janeiro.13: Fogo urbano na Travessa dos Varadouros. 1964.março.29: Fogo urbano na serragem Morna à Rua da Conceição. 1964.outubro.15: Fogo urbano na Sociedade de Serragens da Madeira. 1965.julho.08: Fogo urbano na Fábrica de Cartonagem da R. Mouraria. 1965.julho.29: Fogo urbano na Rua do Esmeraldo . 1966.março.04: Fogo urbano na Unibasket. 1966.abril.02: Fogo no Sitio do Salão em S. Gonçalo. CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA

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O Machado e a Fénix

1970.julho.23: incêndio Unibasket à rua do Carmo.

1971.junho.27. Incêndio na rua do Sabão.

1966.abril.12: Fogo em taberna no Caminho do Terço. 1969.agosto.01: Explosão seguida de incêndio num Paiol do BAG.4 no Pico da Cruz em S. Martinho. 1970.julho.23: incêndio da Casa Santo António. 1971.junho.27: Fogo urbano no quarteirão da Casa das Balanças à Rua Esmeraldo. 1974.outubro.31: Fogo no Hotel do Porto Santo. 1975.março.12: Fogo urbano em prédio na Rua das Rosas. 1975.maio.21: Fogo urbano na rua das Maravilhas. 1975.junho.10: Fogo em Matagal junto à quinta Calaça e ao Hotel Duas Torres. 1975.julho.15: Fogo florestal nas Carreiras. 1975.julho: Fogo em casas no Rochão (Camacha) e fogo florestal na Estrada dos Pretos. 1975.agosto.10: Fogo florestal nos Canhas. 1975.agosto.25: Fogo em matagal e pneus, respetivamente, na Rua da Levada e Ribeira de João Gomes. 1975.setembro.17: Fogo na Ribeira de João Gomes. 1976.agosto.13: Fogo florestal no caminho dos Pretos. CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA

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O Machado e a Fénix

1970.julho.23: incêndio da Casa Santo António.

1970.julho.23: incêndio na rua do Esmeraldo.

1986. Incêndio na Rua do Esmeraldo. 1993.junho.13: Fogo urbano em prédio na Rua da Conceição. 1994.setembro.03: Fogo florestal nas Serras da Camacha, Caniço, Estreito de Câmara de Lobos. 1994.novembro.02: Fogo na carpintaria à Estrada de Dr. João Abel de Freitas. 1994.novembro.21: Fogo Florestal nas Serras da Madeira Provocados pelo vento de Leste. 1995.janeiro.23: Fogo em casa no Chão da Loba. 1995.fevereiro.01: Fogo urbano em casa Rua do Matadouro. 1995.fevereiro.10: Fogo em anexo de residência no Caminho Dom João. 1995.fevereiro.26: Fogo florestal no Eucaliptal do Curral Velho. 1995.fevereiro.28: Fogo no Bairro da Nazaré. 1995.março.05: Fogo em mato. 1995.março.22: Fogo em Mato no Caminho do Pilar, Estrada Comandante Camacho Freitas. 1995.março.27: Fogo no Pico dos Barcelos e na Zona Oeste da Ilha. 1995.março.29: Fogo florestal no Santo da Serra, Babosas, Lazareto, Palheiro Ferreiro, Sitio do Galeão. 1995.abril.10: Fogo florestal nas serras da Quinta Grande. 1995.abril.16: Fogo florestal nas Carreiras e no Loreto. 1995.abril.17: Fogo posto em três viaturas no Estreito de Câmara de Lobos. 1995.abril.18: Fogo florestal no Caramanchão e Garajau. 1995.maio.03: Fogo florestal nas Carreiras, Boaventura e Funduras em Machico. 1995.maio.13: Fogo florestal nas Serras da Calheta e Estreito da Calheta. 1995.maio.31: Fogo florestal nas serras da Ribeira Brava. 1995.junho.23: Fogo urbano na Rua 5 de Outubro e do Lazareto. CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA

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O Machado e a Fénix

1986: incêndio na rua do Esmeraldo.

1995.outubro.29: Fogo em casa no Sítio do Jamboto. 1995.agosto.13: Fogo na Serra da Calheta. 1995.agosto.17: Fogo em mato em S. Martinho. 1995.agosto.24: Fogo no Sítio dos Landeiros e em casa à Rua do Favila. 1995.agosto.31: Explosão de botija e incêndio no Caniço. 1995.setembro.17: Fogo em prédio na Travessa das Torres. 1995.setembro.29: Fogo em mato no Caniço, Machico e Cabo Girão. 1995.outubro.21: Fogo em mato na Calheta e Ribeira de João Gomes. 1995.outubro.31: Fogo em armazém à Rua do Matadouro. 1995.novembro.20: Fogo na cave do Hotel Savoy. CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA

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O Machado e a Fénix 1995.dezembro.17: Fogo em Garagem no Estreito de Camara de Lobos. 1996.abril.06: Fogo florestal na Camacha. 1996.maio.13: Fogo em armazém na Vila da Ponta de Sol. 1996.junho.01: Fogo florestal no Caniço e em residência no Santo da Serra. 1996.junho.24: Fogo em casebre na Rua do Til. 1996.julho.23: Fogo florestal na Portela (Machico) e em residência na Ribeira Brava. 1996.julho.24: Fogo florestal na Camacha. 1996.setembro.14: Fogo em mato no Palheiro Ferreiro. 1996.outubro.06: Fogo urbano em residência à Estrada Visconde Cacongo. 1996.outubro.22: Fogo florestal na Santa e casa na Nogueira (Camacha). 1996.outubro.23: Fogo florestal na Portela. 1996.outubro.26: Fogo florestal no Estreito de C. Lobos, Estrela e Corticeiras, Santo Serra, Caniço. 1996.novembro.09: Fogo urbano em armazém no Caniço e fogo florestal em S. Roque e Curral das Freiras. 1996.novembro.10: Fogo florestal no Caminho dos Pretos. 1996.novembro.21: Fogo urbano em armazém na Ribeira Brava. 1996.dezembro.20: Fogo urbano em casa à Rua de Santa Maria. 1997.janeiro.19: Fogo em armazém na Avenida Luís de Camões. 1997.fevereiro.16: Fogo em casa em Santa Cruz. 1997.março.01: Fogo florestal nos Canhas. 1997.março.02: Fogo florestal na Portela e Calheta. 1997.março.05: Fogo florestal em S. Vicente. 1997.março.16: Fogo florestal Santa Cruz, Machico, Ribeira Brava e C. Lobos. 1997.abril.03: Fogo em residência ao Sítio da Torre (Machico). 1997.maio.16: Fogo em estaleiro na Cancela. 1997.junho.16: Fogo nas Instalações da câmara do Funchal. 1997.junho.19: Fogo urbano em casas Rua Dr. Sidónio Pais e Rua do Carmo. 1997.julho.07: Fogo urbano no Edifício do Tribunal Judicial do Funchal. 1997.agosto.07: Fogo florestal na Rua das Murteiras. 1997.agosto.20: Fogo urbano nos armazéns Unibasket à Rua do Carmo. 1997.setembro.07: Fogo urbano em cave de residência em Santa Luzia. 1997.setembro.26: Fogo urbano na Fábrica Saborável à Rua dos Ferreiros. 1997.outubro.31: Fogo urbano no armazém da Corama na Rua do Matadouro. 1998.fevereiro.16: Fogo em armazém de banana em Câmara de Lobos. 1998.fevereiro.18: Fogos florestais em P. de Sol, Calheta, S. Vicente, C. Lobos.

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O Machado e a Fénix 1998.março.07: Fogo florestal na Ribeira Brava e Porto da Cruz. 1998.março.08: Fogo em casa no E. de C. de Lobos. 1998.março.11: Fogo florestal no Terreiro da Luta. 1998.abril.25: Fogo florestal na Calheta. 1998.abril.28: Fogo em mato no Bairro dos Viveiros. 1998.abril.28: Fogo em anexo no Caniço e fogo florestal em C. de Lobos. 1998.março.08: Fogo Florestal em Ponta de Sol, Calheta, S. Vicente e Câmara de Lobos. 1998.junho.11: Fogo florestal na Estrela (Calheta). 1998.junho.13: Fogo urbano em casa de madeira em Santo Amaro. 1998. junho.16: Fogo urbano em casa à Av. Luís de Camões . 1999.junho.18: Fogo urbano em prédio na Rua da Queimada de Cima. 1999.agosto.02: Fogo em embarcação na Marina do Funchal. 1999.setembro.20: Fogo urbano nas antigas instalações da antiga empresa de Cervejas da Madeira. 2000.janeiro.01: Fogo nos apartamentos do Mar à Quinta Calaça . 2000.março.10: Fogo em iate na Marina do Funchal. 2000.março.20: Fogo na Central de Produção de Asfalto da Tecnovia no Monte. 2000.julho.29: Armazém da PT Comunicações na Cancela. 2000.julho.31: Fogo florestal na Boa Morte (Ribeira Brava). 2000.agosto.14: Explosão de gás numa habitação em São Gonçalo. 2000.setembro.15: Fogo florestal na Achadinha na Camacha. 2000.outubro.01: Fogo em matagal no Pico da Cruz. 2001.junho.18: Fogo florestal na Camacha. 2001.agosto.06: Fogo no Caniço. 2002.junho.06: Fogo urbano em serragem na Zona Velha no Funchal. 2003.março.08: Explosão no túnel no Curral das Freiras. 2003.abril.13: Fogo em fábrica de móveis no Porto da Cruz. 2003.abril.21: Tipografia em São Pedro. 2003.julho.21: Fogo florestal nas Serras de St.º António (entre Curral Velho e Barreira) . 2003.agosto.01: Fogo florestal na Zona do Lombo do Salão na Calheta. 2003.setembro.26: Fogo urbano em prédio antigo na rua do Carmo. 2003.dezembro.12: Fogo e explosão de gás em casa no Imaculado Coração de Maria. 2004.março.03: Fogo em casa na Cancela. 2004.março.13: Fogo urbano no Centro Comercial Anadia. 2004.março.15: Fogo urbano em garagem num prédio no Funchal. 2004.abril.27: Fogo em serragem no Parque Industrial em Câmara de Lobos.

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O Machado e a Fénix 2004.maio.28: Fogo em serralharia em Câmara de Lobos. 2004.novembro.02: Fogo florestal no Monte. 2004.novembro.03: Fogo urbano na Farmácia Morna na rua Dr. Fernão Ornelas. 2005.janeiro.22: Fogo urbano em loja de Electrodomésticos no Funchal. 2005.maio.17: Fogo em matagal no Funchal. 2005.junho.30: Fogo urbano em duas casas no Funchal. 2005.julho.02: Fogo florestal no Curral das Freiras. 2005.julho.04: Fogo florestal nas serras de Santo António. 2005.julho.05: Fogo florestal na Zona do Vasco Gil e na Estrela. 2005.setembro.05: Fogo florestal em Santa Cruz. 2006.fevereiro.05: Fogo urbano em casa no Funchal . 2006.março.13: Fogo em matagal no Funchal. 2006.abril.16: Fogo urbano em edifício no Funchal (escritórios do SEF). 2006.abril.23: Fogo em matagal no Funchal. 2006.abril.25: Fogo em matagal no Funchal. 2006.abril.27: Fogo urbano em moradia no Funchal. 2006.agosto.07: Fogo em matagal no Funchal. 2006.agosto. 10: Fogo urbano em bar no Funchal. 2006.outubro. 09: Fogo urbano em prédio antigo na baixa do Funchal. 2006.dezembro. 11: Fogo urbano em bloco de apartamentos no Funchal. 2006.dezembro. 30: Fogo urbano em casa no Funchal. 2007.janeiro. 21: Fogo florestal na Cancela. 2007.abril. 17: Fogo em quinta no Funchal. 2007.maio. 09: Fogo florestal em Santo António. 2007.maio.10: Fogo florestal na Eira do Serrado. 2007.junho.03: Fogo urbano em edifício da ACIF e do Club Sports Madeira na Avenida Arriaga . 2007.julho. 31: Fogo florestal na Camacha. 2007.novembro. 11: Fogo florestal em Ponta do Sol. 2007.novembro. 12: Fogo florestal em Ponta do Sol. 2007.novembro. 14: Fogo florestal e São João Latrão e Incêndio em Residência. 2007.novembro. 15: Fogo florestal no Jardim da Serra. 2007.novembro. 17: Fogo urbano em armazém no Funchal. 2007.dezembro.27: Fogo em armazém em São Gonçalo. 2008.fevereiro. 06: Fogo em bloco de Apartamentos no Serrado do Mar. 2008.fevereiro.09: Fogo florestal em São Vicente.

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O Machado e a Fénix 2008.fevereiro.15: Explosão de gás em Residência na quinta Grande. 2008.março.05: Fogo urbano em casa desabitada no Funchal. 2008.abril.05: Fogo urbano em casa no Funchal. 2008.maio.16: Fogo urbano em oficina no Funchal. 2008.maio.25: Fogo em matagal em Santa Maria Maior. 2008.julho.28: Fogo florestal no Chão da Lagoa . 2008.agosto.02: Fogo em matagal no Lazareto. 2008.agosto.05: Fogo florestal no Monte. 2008.agosto.25: Fogo florestal em Santa Cruz. 2008.novembro. 27: Fogo em prédio abandonado em São Roque. 2009.fevereiro.22: Fogo urbano e restaurante no Funchal. 2009.fevereiro.25: Explosão de gás num prédio na Rua do Til. 2009.março.02: Fogo em casa de habitação na Zona da Rochinha. 2009.março.04: Fogo urbano em loja de bordados na Rua da Alfândega. 2009.março.13: Fogo urbano nas tendas do Mercado de Oportunidades no Funchal. 2009.abril.08: Fogo em matagal em São Roque. 2009.maio.08: Fogo em cave de um edifício em Santo António. 2009.julho.22: Fogo em residência após explosão de gás no Funchal. 2009.agosto.01: Fogo florestal em Santa Cruz. 2009.agosto.26: Fogo em matagal no Lazareto. 2009.setembro.06: Fogo Florestal em São Gonçalo. 2009.outubro.26: Fogo em oficina no Funchal. 2009.novembro.12: Fogo em residência no Funchal, após explosão de gás, fogo em gabinete de contabilidade na Rua dos Aranhas. 2010.maio.06: Fogo urbano em papelaria na Avenida Arriaga . 2010.agosto.13: Fogo em matagal no Caniço. 2010.agosto.14: Fogo florestal em Santa Cruz e na Eira do Serrado / Curral das Freiras. 2010.agosto.18: Fogo em matagal em São Roque. 2010.agosto.25: Fogo em matagal na Camacha. 2010.agosto.27: Fogo em matagal na Estrela / Curral das Freiras. 2010.agosto.28: Fogo em matagal em Santo António / Curral Velho. 2010.agosto.30: Fogo florestal na Choupana e Paul da Serra . 2010.agosto.31: Fogo em matagal no Caminho dos Pretos. 2010.setembro.01: Fogo em matagal na Camacha / Meia Serra. 2010.setembro.15: Fogo em sucata no Monte.

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O Machado e a Fénix 2010.setembro.17: Fogo em matagal em Câmara de Lobos . 2016.agosto.8-13: Fogo florestal em Santo António, que se estendeu ao espaço urbano, atingindo a freguesia de S. Pedro. FONTE: ABVM, Incêndios na História, Disponível na internet em: http: //www.ahbvm.pt/incendios_na_historia.htm. Consulta em 22.02.2017; CAMPOS, Vasco F. Campos e Malho, Alberto, O Bombeiro Madeirense e a sua História, Funchal, s.e., 1963; SILVA, Fernando Augusto da e MENESES, Carlos Azevedo, 1978, Elucidário Madeirense, 3.ª ed., Funchal, Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, 3 vols; VIEIRA, Alberto, Do Éden à Arca de Noé, Funchal, CEHA, 1998; VIEIRA, Alberto, Os Bombeiros Voluntários Madeirenses: breves apontamentos históricos, Funchal, Associação dos Bombeiros Voluntários Madeirenses, 2001.

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O Machado e a Fénix

Queda de água. Gravura antiga da Madeira.

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A ÁGUA… que dá vida e energia, batiza, regenera, mas também destrói. Havia uma ponte e debaixo corriam as águas com a sua música de flautas perdidas. (…) A criança contemplava os desastres, uma quebrada, archotes que assombravam a noite. Era uma criança que vinha do sul pelos caminhos que subiam. (…) A ribeira do inverno trazia na sua lama outra criança morta, um berço e um crucifixo. Eu já não sei que perfil decidia aquela face de tremenda solidão. À esquerda, o mar rugia as suas imprecações. E depois do mar nem uma voz se ouvia, nem um grito, nem a agitação dos canaviais. Este silêncio mata. (…) Um homem voltou às escarpas. Viu os casebres, as ruínas, e essas ruínas eram as suas ruínas. (…)” J. A. Baptista, “Canções da Terra Distante”, in Biografia (2000: 512-514) A riqueza do madeirense reveste-se de água. Fonte de vida, a água corre nas veias da ilha, através das ribeiras e levadas. Enquanto a chuva renova os mananciais, vivifica as plantações e reveste as montanhas de verde, as ribeiras e as levadas são as veias e artérias da linfa madeirense, que trazem o sangue da terra e alimentam os solos. A água, porém, faz, por vezes, tremer a ilha, sobretudo quando rebentam as águas à montanha e ela vai parindo paus, pedras, restos de casas, restos de colheitas, empurrando quase tudo o que é vida para os leitos das ribeiras e o mar. Isto acontece com as chamadas aluviões, considerados o principal castigo telúrico da ilha à ação descontrolada do ilhéu sobre a natureza. A premência das aluviões é evidente a partir de meados do século XVII, quando se torna mais evidente a ação prededora do Homem sobre a floresta, transformando as encostas arborizadas em declives escalvados. E, de novo, a presença do Homem, vai no sentido de salvar vidas, reparar os danos e restabelecer a harmonia perdida, trazendo para o quotidiano a imagem de paraíso encantado. Neste processo, ontem como hoje, é fundamental, o papel dos soldados da paz.

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Aluvião de 1803 no Funchal

2. 1. AS ALUVIÕES: o pecado original dos madeirenses Nisto as Cheas Crueis assoberbadas, Que parecem trazer comsigo os montes, Sahindo dos seus leitos assanhadas” Saltão muralhas, desmantelão pontes, E não fartas ainda de ruínas Engolem Cazas, Templos, e Campinas. (VASCONCELOS, Francisco Paula de Medina, 1805, Sextinas elegíacas ao sempre memoravel estrago da cidade do Funchal da ilha da Madeira na calamitosa aluvião do dia 9 de Outubro de 1803, Lisboa, Impressão Regia: 10) As aluviões são a vingança da natureza, no entender do homem do século XIX. A configuração quase piramidal da ilha, sulcada de inúmeras ribeiras e o facto das melhores áreas agrícolas e dos núcleos de povoamento se situarem junto a estas, evidenciaram os efeitos catastróficos das enxurradas, das aluviões. Estas situações acontecem porque as encostas se encontram escarpas, desprovidas de arvoredo, levando a CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA

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Muralhas das ribeiras da cidade do Funchal, construída após a aluvião de 1803. Desenho a lápis de Edward Moor, 1843.

que a água das chuvas corra torrencialmente para as ribeiras. E, na primeira metade do século XIX, atinge-se a situação limite de total abandono e falta de cautela perante este perigo, surgindo também as aluviões de maior efeito em toda a ilha. As aluviões41 que fustiga(va)m a ilha na época invernal foram um dos principais motivos e preocupações, bem como uma evidência do prestimoso serviço prestado pelos soldados da paz. Os séculos XIX e XX foram marcados pelas aluviões. A primeira metade do século dezanove foi o momento de maior calamidade, com três aluviões de efeitos catastróficos em toda a ilha: 1803, 1815 e 1842. O primeiro assume uma posição cimeira neste conjunto de calamidades que fustigaram a ilha, tendo em conta o número de mortos, as perdas de bens materiais e a destruição de casas. Os efeitos nas lojas comerciais foram iguais, sendo de destacar a perda de seis mil pipas de vinho. São danos incalculáveis de bens materiais e de vidas, que levam a que muitos encontrem morada segura nos declives à beira do abismo. No século XX, são notórios os efeitos das aluviões de que se destacam em 1956, em Santa Cruz e Machico, em 1970, na Ribeira Brava e Serra de Água e em 1981 no Funchal. O de mais recente e triste memória ocorreu em 1993 no Fun41 «Aluviões. [...] 9 de Outubro de 1803. Foi neste dia tristemente memorável que uma grande inundação assolou os campos da Madeira e destruiu uma parte considerável da cidade, causando não sómente enormes prejuízos materiais mas também a perda da vida de algumas centenas de pessoas.». (SILVA, MENEZES, 1978, Elucidário Madeirense, vol. I, pp. 51-52). «Aluviões. [...] 26 de Outubro de 1815. Depois da grande aluvião de 9 de Outubro de 1803 foi talvez a maior que tem assolado esta ilha. [...] mas, nem pelo número de vítimas, nem pelos prejuízos que causou, atingiu as proporções da outra apesar das enormes perdas que acarretou aos habitantes do Funchal.» (SILVA, MENEZES, 1978, Elucidário Madeirense, vol. I, pp. 51-52).

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O Machado e a Fénix chal. A intervenção no sentido de amansar e controlar o curso das ribeiras só teve um plano definido no século XIX. No século XIX, os efeitos devastadores das aluviões, obrigaram a uma nova intervenção da Engenharia Militar na regularização das ribeiras, de forma a estabelecer barreiras à violência desmedida da Natureza. Assim, após a aluvião de 1803, foi enviado à ilha o engenheiro Reynaldo Oudinot, coadjuvado e substituído pelo Tenente de Artilharia Paulo Dias de Almeida, com o objetivo de intervir nesse sentido. As primeiras referências a aluviões na Madeira datam do século XVII (1601, 1611), com foco no Funchal. Nos séculos XVIII (1707, 1724, 1764), XIX (1803, 1815, 1842, 1845, 1856, 1865, 1876, 1877, 1895, 1896), XX (1901, 1920, 1921, 1929, 1931, 1933, 1936, 1939, 1956, 1958, 1970, 1972, 1979, 1985, 1990, 1991, 1992, 1993, 1994, 1995, 1996, 1997, 1998, 1999, 2000), e XXI (2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2010) estas alargam-se a toda a ilha, com forte incidência nas localidades adossadas nos leitos das ribeiras, como o Funchal, Santa Cruz, Machico, São Vicente e Ribeira Brava. É notória uma maior ocorrência destas aluviões no século XX, o que decorre, não só da situação de desarborização das montanhas da ilha, mas também das alterações climáticas que vêm acontecendo, nomeadamente a partir das últimas décadas do século. De memória recente, temos o 20 de fevereiro de 2010, em que as fortes e contínuas chuvadas fizeram com que as águas transpusessem as margens, destruindo tudo o que encontraram pela frente, provocando derrocadas, arrastando casas, carros e pessoas, semeando o pânico, a morte e o desespero. O resultado foi dramático, com 42 mortos, 6 desaparecidos, 120 feridos e cerca de 900 desalojados, além de avultados danos materiais nos concelhos do Funchal, Ribeira Brava, Câmara de Lobos e Santa Cruz. É, por isso, que podemos afirmar que as aluviões são o castigo da natureza face à ação humana predadora da mesma e que na História da Madeira ainda não aconteceu a plena reconciliação do ilhéu, visto as aluviões continuarem a perdurar e a se manterem como uma constante da História.

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Igreja do orago de Santa Maria do Calhau, destruida pela aluvião de 9 de outubro 1803

ACONTECIMENTOS/CRONOLOGIA: ALUVIÕES/CHEIAS/DERROCADAS:

1444.??.??: Quebrada no Cabo Girão provocou a morte de Henrique Alemão, considerado o imperador Ladislau II da Polónia, um estrangeiro residente na Madalena do Mar. 1601: Chuva forte em toda a ilha com aluvião. 1611: Chuva forte em toda a ilha com aluvião no Funchal. 1660.dezembro.25: Aluvião destruiu parcialmente a primitiva ermida de S. Jorge. 1707: Chuva forte em toda a ilha com aluvião. 1724.novembro.18: Chuva forte em toda a ilha com aluvião em Funchal, Santa Cruz e Machico. Na freguesia de Machico tivemos com 26 mortos e a destruição de 80 casas. 1756.novembro.18: Aluvião no Funchal. 1764.novembro.18: Chuva forte com aluvião no Funchal. 1765.novembro.18: Aluvião no Funchal com destruição de pontes. 1803.outubro.09: Chuva forte em toda a ilha com aluvião no Funchal, Machico, Santa Cruz, Calheta e Ribeira Brava e entre 800 a 1000 mortos. Com a destruição da igreja de Santa Maria Maior. 1804. Quebrada no Lugar de Baixo. 1815.outubro.26: Chuva forte em toda a ilha com aluvião no Funchal. 1821.novembro.19: Chuva forte no norte da ilha, com danos elevados em S. Vicente, Ponta Delgada e Arco de S. Jorge, onde ocorreram muitas quebradas. 1842.outubro.24: Chuva forte em toda a ilha com aluvião no Funchal. Tivemos dois mortos no Estreito CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA

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O Machado e a Fénix de Câmara de Lobos. 1842.outubro.24 e 26: Chuva forte em toda a ilha com aluvião no Funchal. 1848.novembro.17/18: Chuva forte em toda a ilha com aluvião no Funchal, com grande destruição em Santana e mortos. 1856.janeiro.5/6: Chuva forte em toda a ilha com aluvião no Funchal, Ribeira Brava, Tabua, Serra de Água, Ponta do Sol, Paul do Mar, S. Vicente. 1856.março.14/15: Chuva forte em toda a ilha com aluvião no Funchal, Ribeira Brava, Serra de Água. Quebrada no Arco da Calheta com a destruição de 14 casas, sem mortos. 1865: Chuva forte em toda a ilha com aluvião na Madalena do Mar com danos materiais e vítimas. 1876.janeiro.01: Chuva forte em toda a ilha com aluvião na Madalena do Mar, com danos e mortos. 1876.outubro.29/30/31: Chuva forte em toda a ilha com aluvião no Funchal, Faial e São Vicente. 1876.novembro.03: Chuva forte em toda a ilha, com elevados danos materiais em pontes. 1876.novembro.10 a 13: Chuva forte em toda a ilha, com elevados danos materiais em pontes. e caminhos 1876.novembro.18: Quebrada na Penha França com um morto. 1876.dezembro.29/30/31: Chuva forte em toda a ilha com danos no Funchal. 1877.janeiro.06: Chuva forte em toda a ilha com aluvião na Ribeira Brava e Madalena com um morto. 1895.outubro.2/3: Chuva forte em toda a ilha com aluvião em São Vicente, Faial, Ponta Delgada, Boa Ventura e Seixal, com um morto. 1896: Chuva forte em toda a ilha com naufrágios no mar, com 32 mortos no mar e 5 em terra. 1901.novembro.8/9: Chuva forte em toda a ilha com aluvião no Funchal e Machico, com 9 mortos em Machico. 1904.setembro.01: Quebrada no Pesqueiro em C. de Lobos. 1912.janeiro.24: Quebrada na freguesia de à Boa Nova na S. Gonçalo. 1912.março.02: Quebrada no caminho entre S. Vicente e o Seixal. 1912.março.25: Quebrada no Vasco Gil em Santo António. 1912.maio.11: Quebrada no Porto Novo. 1920.fevereiro.24/25/26: Chuva forte em toda a ilha, com danos na Ribeira Brava, Machico, Santa Cruz, S. Vicente e Camacha e com dois mortos. 1921.março.5/6: Chuva forte em toda a ilha com danos em Machico, Ribeira Brava e com dois mortos. 1926.março.6: Chuva forte em toda a ilha com 6 mortos no mar. 1926.12.16: Aluvião em Santa Cruz. 1929.março.06: Chuva forte com aluvião e derrocada em São Vicente, com 32 mortos, a destruição de 11 casas e 100 palheiros e a perda de 100 cabeças de gado. 1931.outubro.02: Registaram-se várias inundações no Funchal, resultado de chuvas intensas. 1931.outubro. 04: Chuva forte em toda a ilha, especialmente no Funchal. 1932.março. ??: Deslizamento de terrenos nos Canhas, na Ribeira da Madalena.

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O Machado e a Fénix

1926.12.16: Aluvião na rua da Alfândega, Funchal

1933.janeiro.31: Chuva forte em toda a ilha com um morto. 1936.dezembro.04: Chuva forte em toda a ilha com aluvião no Funchal. 1939.dezembro.30: Chuva forte em toda a ilha com derrocada na Madalena do Mar com a perda de 40 casas e 4 mortos. 1941: fevereiro.14-15: Chuvas e tufão no Funchal. 1945.outubro.14/15: Chuva forte em toda a ilha com derrocadas em Machico e na Madalena do Mar, com danos e perdas de casas. 1956.novembro.03/06: Chuva forte em toda a ilha com maior incidência e danos em Porto da Cruz, Ribeira de Machico e Santa Cruz com cinco pessoas mortas. 1956.dezembro.15: Temporal na cidade do Funchal. CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA

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O Machado e a Fénix

Efeitos do temporal ocorrido no Funchal a 16 de dezembro de 1926.

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O Machado e a Fénix

Aluvião em Santa Cruz. 1956.

1958.dezembro.21: Uma violenta tempestade levou a que as ribeiras aumentassem consideravelmente o seu caudal, provocando desabamentos e grandes estragos por toda a ilha. 1970.janeiro.09/10: Chuva forte em toda a ilha com aluvião na Ribeira Brava, com 4 mortos e 4 feridos. 1970.março.08: Chuva forte no Porto Santo, com danos materiais e 2 mortos. 1972.setembro.21: Chuva forte em toda a ilha com aluvião no Funchal, com dois mortos. 1977.dezembro.20: Chuva forte em toda a ilha com quebrada no Jardim da Serra, com 3 mortos e a perda de 45 casas. 1979.janeiro.07-23: Forte temporal, com 9 mortos na Fajã do Penedo. 1979.outubro.20 a 24: Chuva forte em toda a ilha com aluvião em Machico, Porto da Cruz, Camacha, Canhas, Calheta, e Fajã do Penedo, vitimando 14 pessoas. 1984.março.1/2: Chuva forte em toda a ilha com danos em toda a ilha, o desmoronamento da Ponte do Faial e um morto. 1985.outubro.2/3: Chuva forte em toda a ilha com danos elevados e mortos. 1990.janeiro.18: Chuva forte em toda a ilha com aluvião e derrocadas no Funchal, com 2 mortos. 1990.setembro.18: Chuva forte em toda a ilha com derrocadas no Curral das Freiras e inundações no Funchal. 1990.novembro.31/dezembro.1/2: Fortes chuvas ao longo do dia provocaram um desabamento na Ponte de Vasco Gil (Santo António) e inundações devido ao transbordo da Ribeira de Santa Luzia e na Ribeira Brava. 1991.outubro.24: Chuva forte em toda a ilha com derrocadas e inundações em Santana, Funchal, CaCADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA

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O Machado e a Fénix niço e Machico. 1992.setembro.28/29: Chuva forte em toda a ilha com inundações no Funchal. 1992.outubro.14: Chuva forte em toda a ilha com derrocada na Encumeada. 1992.outubro.18: Chuva forte em toda a ilha com derrocada na Fundoa. 1993.outubro.10: Chuva forte em toda a ilha com derrocada no Caminho do Curral dos Romeiros e inundações no Funchal. 1993.outubro.16/17: Chuva forte em toda a ilha com derrocadas no Funchal. 1993.outubro.29: Chuva forte em toda a ilha com aluvião no Funchal, com danos também em Machico, Santa Cruz e Câmara de Lobos. 1994.outubro.07: Chuva forte, com inundações e desabamentos de terras em toda a ilha. 1995.outubro.25: Chuva forte em toda a ilha com inundações no Funchal. 1995.novembro.17: Chuva forte em toda a ilha com inundações e desabamentos no Funchal e Ribeira Brava. 1995.dezembro.17: Chuva forte em Camacha, Santa Cruz, Machico, Ribeira Brava e São Vicente. 1995.dezembro.26/27/28: Chuva forte em toda a ilha com inundações, quedas de pedras, desabamentos de terras, esgotos entupidos e quedas de árvores. 1996.janeiro.7/8: Chuva forte em toda a ilha com desabamentos e quedas de árvores. 1996.janeiro.28/29/31: Chuva forte em toda a ilha com derrocadas no sítio da Alegria (São Roque), Curral das Freiras e inundações em Santa Cruz. 1996.março.222/23/24: Chuva forte em toda a ilha com desabamentos, quedas de árvores e obstrução de estradas. 1996.dezembro.12: Chuva forte em toda a ilha com inundações em toda a ilha. 1996.dezembro.15/16: Chuva forte em toda a ilha com desabamento de terras que entupiram a Levada do Pico do Cardo, com a destruição de duas casas e duas viaturas. 1997.setembro.30: Chuva forte em toda a ilha com inundações no Funchal. 1997.outubro.17/18/19/20: Chuva forte em toda a ilha com deslizamento de terras no sítio do Ribeiro Serrão. 1997.outubro.23: Chuva forte em toda a ilha com inundações, desabamentos e obstrução de estradas. 1997.outubro.25: Chuva forte em toda a ilha com desabamentos de terras. 1997.novembro.02: Chuva forte em toda a ilha com desabamentos de terras e queda de árvores. 1997.dezembro.5/6/7/8: Chuva forte em toda a ilha com desabamentos de terras. 1997.dezembro.17: Chuva forte em toda a ilha com inundações, quedas de árvores e desabamentos. 1997.dezembro.21: Chuva forte em toda a ilha com desabamentos na Serra de Água. 1998.janeiro.11/12: Chuva forte com inundações e desabamentos em toda a ilha e de forma especial o Funchal e Machico. 1998.janeiro.31: Chuva forte em toda a ilha com enxurrada no Garachico (Estreito de Câmara de Lobos), com um morto. 1998.fevereiro.07: Chuva forte em toda a ilha.

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O Machado e a Fénix 1998.maio.09: Chuva forte em toda a ilha. 1998.outubro.17/18: Chuva forte em toda a ilha com inundações e lama no Funchal, Santo António, Encumeada e Ribeira Brava. 1999.janeiro.12/13: Chuva forte em toda a ilha. 1999.outubro.10: Chuva forte em toda a ilha com desmoronamentos no Funchal. 1999.outubro.27: Chuva forte em toda a ilha com desabamentos de terras, inundações, desmoronamentos de muros, terrenos. 1999.outubro.29/30: Chuva forte em toda a ilha com inundações no Funchal e na Vertente Norte. 1999.dezembro.04: Chuva forte em toda a ilha. 1999.dezembro.07: enxurrada no sítio do Ribeiro Serrão (Camacha), com um morto. 2000.janeiro.18: Chuva forte em toda a ilha com desabamentos no Santo da Serra. 2000.março.31: Chuva forte em toda a ilha. 2000.abril.06: Chuva intensa um pouco por toda a ilha: na Terra Chã, Curral das Freiras (fez transbordar a ribeira, causando inundações e derrocadas); no Carvalhal (Canhas) e no Pomar D. João, concelho da Ponta do Sol; na Estrada Regional 101 entre a Bica da Cana e a Encumeada (provocando a queda de várias pedras na estrada). 2000.abril.12: Queda de pedras de consideráveis dimensões na estrada marginal entre Ribeira Brava e Tabua, como consequência de precipitações intensas. 2000.abril.15: Chuva forte em toda a ilha com desabamento no Curral das Freiras. 2000.maio.15: Chuva forte em toda a ilha, com desabamentos na Boaventura. 2000.agosto.13: Chuva intensa na vertente Norte, com inundações em S. Vicente. 2000.setembro.08: Chuva forte em toda a ilha, com Inundações e derrocadas. 2000.setembro.21: Chuva forte em toda a ilha, com inundações, derrocadas e queda de árvores. 2000.dezembro.24: Chuva forte em toda a ilha. 2001. março. 02: Chuva forte em toda a ilha. 2001.março.5/6/7: Chuva forte em toda a ilha, tendo maior incidência em S. Vicente e no Curral das Freiras. 2001.setembro.21: Chuva forte em toda a ilha com inundações no Funchal. 2001.novembro.18/19: Chuva forte em toda a ilha com inundações, desabamentos de terras e queda de árvores. 2001.dezembro.09: Chuva forte em toda a ilha. 2002.janeiro.1/2: Chuva forte em toda a ilha. 2002.setembro.14/18/24/27: Chuva forte em toda a ilha. 2002.setembro.26: Chuva forte em toda a ilha com inundações no Funchal. 2002.outubro.26: Chuva forte em toda a ilha, com desabamentos de terras e inundações. 2002.novembro.12: Chuva forte, especialmente nas zonas altas. 2002.novembro.24: Chuva forte em toda a ilha com aluimentos de terras, inundações e obstruções de estradas. CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA

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O Machado e a Fénix 2002.dezembro.12: Chuva forte em toda a ilha. 2002.dezembro.15/16/17: Chuva forte em toda a ilha. 2002.dezembro.22: Chuva forte em toda a ilha. 2003.fevereiro.18/20/23: Chuva forte em toda a ilha. 2003.março.12/13/26/27: Chuva forte em toda a ilha. 2003.abril.12/21: Chuva forte em toda a ilha. 2003.outubro,2/3/10: Chuva forte em toda a ilha. 2003.novembro.6/7: Chuva forte em toda a ilha. 2004.março.25: Chuva forte em toda a ilha. 2004.outubro.17/18/19: Chuva forte em toda a ilha. 2004.dezembro.12/13/14: Chuva forte em toda a ilha. 2005.janeiro.16: Chuva forte em toda a ilha. 2005.janeiro.27/31: Chuva forte em toda a ilha. 2005.fevereiro.5/6/7/8/14/23/26/27/28: Chuva forte em toda a ilha. 2005.março.2/3/4: Chuva forte em toda a ilha. 2005.outubro.7/8/26/27/29: Chuva forte em toda a ilha. 2005.novembro.18: Chuva forte, com derrocada na estrada entre Bica de Cana e Encumeada. 2005.novembro.27/29: Chuva forte, com inundações Câmara de Lobos. 2005.dezembro.17: Chuva forte em toda a ilha. 2005.dezembro.20/21/22: Chuva forte, com inundações em Machico. 2005.dezembro.24/25/27/28: Chuva forte em toda a ilha. 2006.janeiro.9/16/17/24/25/27: Chuva forte em toda a ilha. 2006.fevereiro.7/8/9/14/27/28: Chuva forte em toda a ilha. 2006.março.1/16/17: Chuva forte em toda a ilha. 2006.abril.8/9: Chuva forte em toda a ilha. 2006.junho.13: Chuva forte em toda a ilha. 2006.setembro.23: Chuva forte em toda a ilha. 2006.outubro.15: Chuva forte em toda a ilha. 2006.outubro.22/23/24/25/28/29: Chuva forte em toda a ilha. 2006.novembro.1/2/3: Chuva forte em toda a ilha, com estragos no Funchal. 2006.novembro.17/24/28: Chuva forte em toda a ilha. 2006.dezembro.8/12/28: Chuva forte em toda a ilha. 2007.janeiro.01: Chuva forte em toda a ilha. 2007.janeiro.25: Chuva forte em toda a ilha. 2007.fevereiro.5/15: Chuva forte em toda a ilha.

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O Machado e a Fénix 2007.março.13/17/20/21: Chuva forte em toda a ilha. 2007.abril.7/8: Chuva forte em toda a ilha. 2007.abril.10/11: Chuva forte em toda a ilha, com derrocadas e inundações. 2007.maio.20/21/22/25/26: Chuva forte em toda a ilha. 2007.outubro.23: Chuva forte em toda a ilha. 2007.novembro.07: Chuva forte em toda a ilha. 2007.novembro.17/18/19/20/21/22/23: Chuva forte em toda a ilha, com inundações e desabamentos de terras. 2008.fevereiro.16-17: Chuva forte em toda a ilha. 2008.abril.7/8/9: Chuva forte nos concelhos da Ribeira Brava, São Vicente, Câmara de Lobos, Funchal e Santa Cruz. 2008.maio.5/6/7/8/9: Chuva forte em toda a ilha. 2008.setembro.11/19/20/24/26: Chuva forte em toda a ilha. 2008.outubro.22/28/29: Chuva forte em toda a ilha. 2008.novembro.1/2/3/26: Chuva forte em toda a ilha. 2008.dezembro.12/14/15: Chuva forte em toda a ilha. 2008.dezembro.24 a 30: Chuva forte em toda a ilha. 2009.dezembro.18: Chuva forte em toda a ilha, com inundações. 2009.dezembro.22/23: Chuva forte em toda a ilha com inundações e danos elevados. 2010.fevereiro.1/2: Chuva forte em toda a ilha com inundações, afetando os concelhos de Santana, de Santa Cruz e do Funchal. 2010.fevereiro.18/19/20: Chuva forte em toda a ilha com inundações e danos elevados nos concelhos do Funchal (a baixa da cidade e as zonas altas das freguesias do Monte e de Santo António), da Ribeira Brava (Tabua e Serra de Água), de Câmara de Lobos (Curral das Freiras e Jardim da Serra), com 43 mortos. 2010.outubro.21: Chuva forte em toda a ilha com inundações e derrocadas. FONTE: Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários Madeirenses, Aluviões na História, Disponível na Internet em: http: //www.ahbvm. pt/aluvioes_na_historia.htm. Consulta em 14.02.2017; CAETANO, Ana Cristina Tomás, 2014, Avaliação do risco de aluviões das ribeiras da ilha da Madeira, Lisboa, U. S.T, (Dissertação de mestrado em Engenharia do Ambiente). Disponível na Internet em: https: //fenix.tecnico.ulisboa.pt/ downloadFile/844820067123674/Dissertacao%20de%20Mestrado_Claudia%20Caetano.pdf. Consulta em 14.02.2017.78-84; CAMPOS, Vasco F. Campos e Malho, Alberto, O Bombeiro Madeirense e a sua História, Funchal, s.e., 1963; PRADA, Susana, Figueira, Celso, 2016, Aluviões, in Aprender Madeira, Disponível na Internet em: http: //aprenderamadeira.net/aluvioes/. Consulta em 14.02.2017; QUINTAL, R. (1999). Aluviões da Madeira - desde o Século XIX. Territorium, 6, 32-44; SEPÚLVEDA, S. (2011). Avaliação da Precipitação Extrema na Ilha da Madeira Engenharia do Ambiente. Instituto Superior Técnico - Universidade de Lisboa; SILVA, Fernando Augusto da e MENESES, Carlos Azevedo, 1978, Aluviões, in Elucidário Madeirense, 3.ª ed., Funchal, Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, vol. I, pp.51-55.

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Aluvião de 20 de fevereiro de 2010. Fotos de Carlos Cabral

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Baia do Funchal, com a Fortaleza do Ilhéu

O MAR que nos liga ao mundo, mas que também nos fustiga. E depois, há o MAR, que também é líquido, mas salgado. É fonte de riqueza, mas também a via que durante muito tempo, ligou a ilha ao mundo. O mar é hoje incontestavelmente um recurso importante. A sua presença é cada vez mais evidente no nosso quotidiano, como via de comunicação, espaço de lazer e recurso económico. Se nos reportarmos ao passado, mais evidente se torna a sua premencia para espaços como as ilhas. Até ao advento dos meios aéreos, o mar foi para os ilhéus aquilo que os aproximava ou afastava de outras ilhas e espaços continentais. O mar foi e continua a ser a via fundamental de comunicaçao. O mar está preso à vista do ilhéu e é uma presença permanente no seu quotidiano. A sua ausência gera saudade. O ilhéu, por muito tempo, teve no mar o seu cordão umbilical. Perante tudo isto, o ilhéu olha o mar com um misto de devoção e medo. Mas esta atração pelo mar condicionou desde o início a vocação do madeirense. Deste modo, a Madeira foi terra descoberta, mas também de descobridores. Na verdade, a Madeira, arquipélago e Ilha, afirma-se no processo da expansão europeia pela singularidade da sua intervenção. Vários são os factores que o propiciaram, no momento de abertura do mundo atlântico, e que fizeram com que ela fosse, no século XV, uma das peças chave para a afirmação da hegemonia portuguesa no Novo Mundo. O mar é, acima de tudo, a via que leva o ilhéu à aventura da descoberta, pois está sempre presente no dia-a-dia da ilha. Também as condições orográficas da ilha favoreceram esta ligação ao mar, como via fundamental do desenvolvimento interno do território. Daí podermos afirmar que toda a vida e a economia madeirense era dominada pelo mar, obrigando a uma litoralidade da sua implantação sócio-geográfica. A insuficiência das comunicações terrestres, que perdura até ao nosso século, evidencia a importância de atuação das vias marítimas materializadas numa teia complicada de rotas de cabotagem. A sua preferência é, muitas vezes, relativizada em face dos acidentes e adversidades da costa e do mar, pois os ventos e as correntes maCADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA

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O Machado e a Fénix rítimas dificultavam a sua utilização. Sabemos que a Madeira, devido aos condicionalismos de ordem geográfica e climática, apresentava reduzidas possibilidades para o desenvolvimento das vias e meios de comunicação terrestres e marítimas. Esta condição limitou as possibilidades de desenvolvimento económico, fazendo restringir essa atuação à faixa litoral sul entre Machico e a Calheta, espaço recheado de enseadas e calhetas para o necessário movimento de cabotagem. Assim surgem portos em Machico, Santa Cruz, Funchal, Ribeira Brava, Ponta de Sol e Calheta. Até 1508, todo o movimento com o exterior era feito a partir do Funchal, daí que existisse um contínuo movimento de cabotagem, entre este porto e os restantes da ilha, para o escoamento do acúcar. A partir de então, ao ser permitida a carga e descarga para a exportação do açúcar, contribuiu-se para a valorização dos portos das partes do fundo em detrimento do Funchal. Esta situação manteve-se por pouco tempo, pois no ano imediato a medida foi revogada. Por força disto e das condições adversas do meio desenvolveu-se a navegação de cabotagem, em todo o contorno da ilha da Madeira e desta com o Porto Santo. As autoridades municipais intervêm, através das posturas, determinando medidas de controlo desta atividade de cabotagem. Em 1740, temos 3 barcos carreiros e uma barca que assegurava o serviço regular desde Machico. Mas atente-se que, só em finais do século XIX, tivemos o aparecimento dos serviços regulares de cabotagem da Casa Blandy Bros & Cº. e Empreza Funchalense de Cabotagem. Até lá, os serviços, que sempre existiram, eram ocasionais, não mereciam a atenção e regulamentação das autoridades. Mas a terra firme era mais segura e muitos preferem a segurança de subir e descer montanhas, ao perigo da costa madeirense, à força da ondulação e à eminência de um naufrágio, que era o principal inimigo desta navegação de cabotagem e da ligação da Madeira, com o Porto Santo e o Mundo. A partir de meados do século XIX, temos regulamentos para a navegação costeira e com o Porto Santo. Deste modo, a navegação com o Porto Santo passa a ser feita só com barcos de coberta. Além do mais, estabeleceram-se ligações regulares com os diversos ancoradouros, recebendo apoio do governo para tal serviço. A partir de 1885, o vapor Falcão passa a realizar viagens regulares com o Porto Santo, estando, desde 1881, ao serviço regular com a costa sul. Por lei de 27 de julho de 1893, o serviço de cabotagem passa a ser subsidiado. A 30 de novembro, foi estabelecido contrato com Bensaúde & Cº, para serviços regulares de embarcações com o Porto Santo, juntando-se, em 1897, a empresa Blandy. A partir de finais do século XIX, são diversos os barcos a vapor que asseguram o serviço de cabotagem na Madeira e Porto Santo: o Falcão, Açores e Gavião, nas ligações com o norte da ilha e o Porto Santo, enquanto o S. Filipe, Bútio e Victória com a costa este. O serviço de transporte marítimo com o Porto Santo era e é considerado vital para a ilha, quer em termos do seu abastecimento, quer para o turismo. Deste modo, a partir de 1976, o Governo Regional da Madeira apostou num serviço regular de transporte marítimo, fundamentalmente de passageiros. Hoje, o serviço está concessionado a uma empresa privada, Porto Santo Line, que assegura o transporte de pessoas, automóveis e mercadorias Esta plena afirmação com estrada facilitou a circulação de pessoas e haveres e foi um fator determinante no desenvolvimento de uma rede costeira de navegação com a construção pela Junta Geral de cais acostável na Ponta de Sol (1850), Santa Cruz (1845, 1875, 1909), ilhéu de Fora (1870), Lazareto (1874), Machico (1874, 1905), Faial (1903, 1905), Porto Santo (1902), Câmara de Lobos (1876, 1903), ilhéu de Cima (1902), Porto da Cruz (1903), Ponta Gorda - S. Jorge (1904, 1910), Porto Novo (1905, 1908), Baía de Abra (1905), Ribeira Brava (1904-1908), Campanário (1908), Ponta da Oliveira e Caniço (1909), Ponta da Cruz e S. Jorge (1910), Porto Moniz e Seixal (1916).Ganhou cada vez mais força a valorização do litoral oeste da baía do Funchal, pela maior facilidade de fechar o espaço, ligando os dois ilhéus à terra. Mas, a partir da década de vinte do século XX, o transporte automóvel começou a ganhar importância e começa-se a rasgar novas estradas, de modo que o relatório de uma missão enviada à ilha para o estudo da rede de transportes anuncia o fim da navegação costeira. Todavia, tardará muito até que, na Madeira, se implante definitivamente o transporte terrestre, que só assumiu a sua plenitude no século XXI, com a definição

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Os faróis surgem como guias para evitar os naufrágios. Farol da Ponta do Pargo

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O Machado e a Fénix de um conjunto de acessibilidade que tornou o transporte automóvel eficaz, rápido e cómodo. Quebrou-se, definitivamente, o pesadelo do mar e abriu-se a todos os madeirenses a possibilidade de uma fácil circulação. Apagou-se o isolamento, melhoram-se as condições de vida em toda a ilha e facilitaram-se os meios de circulação dos produtos agrícolas. Não mais o pesadelo dos naufrágios e da dificuldade de subir e descer as encostas íngremes. A par disso, deveremos ter em conta que o porto do Funchal surge, no dealbar do século XVI como o principal entreposto madeirense do comércio atlântico. A zona ribeirinha do burgo funchalense, em redor da alfândega nova, era o polo principal de animação. Aí convergiam mercadores, carreteiros, barqueiros, mareantes e curiosos. No calhau, havia-se instalado, em 1488, o cabrestante, cuja exploração foi concedida em regime de monopólio a João Fernandes Mouzinho, com o foro anual de cem reais. Desde 1568, a sua exploração seria entregue a uma sociedade, passando, em finais do século, a ser explorado por diversos mareantes que aí construiram um número variado de cabrestantes. O município aforava não só a instalação do cabrestante, mas também as casas e os chãos necessários para a atividade desses mareantes e barqueiros. O foro de um cabrestante variava entre duzentos a trezentos reais, enquanto o de um chio ou casa se cifrava em trezentos reais. A acostagern de navios e o serviço de carga e descarga foi, por muito tempo, um problema insolúvel para o porto do Funchal. No século dezoito, insiste-se na necessidade de um molhe. Os estudos começaram em 1755, mas este só foi concluído no reinado de D. José. O advento do século XIX acarreta novas exigências, mas a reivindicaçáo de um porto capaz foi-se arrastando até à presente centúria. Nos séculos seguintes, continuou a apostar-se no mar como a via mais fácil e rápida de comunicação, quer na vertente sul, quer na norte. A atestar esta valorização das comunicações marítimas, está a construção de cais nos principais centros desse tráfico. Assim, temos, na vertente sul, Ponta de Sol (1850), Santa Cruz (1870), Lazareto e Machico (1874), Faial (l901), Câmara de Lobos e Porto da Cruz (l903), Ribeira Brava (1904-19081, Ponta da Oliveira e Caniço (1909), Ponta da Cruz (l910). Para a vertente norte, surgem os de S. Jorge (l910), Porto Moniz e Seixal (1916). Perante esta premência do mar no quotidiano dos madeirenses e as acrescidas dificuldades resultantes da falta de condições de apoio, não propiciadas, por muito tempo, pelos homens, os naufrágios ocorrem com alguma periodicidade e o mar é, para muitos, a sua última morada. Nos séculos XVII e XVIII, inúmeras embarcações da carreira do Brasil, de regresso ao reino com açúcar ou tabaco, tendo sido vítimas de tempestade, aportam ao Funchal para reparação do velame e mastros e cura dos doentes. A Madeira, quanto a isso, não foge à regra. A costa da ilha não oferece grandes enseadas de abrigo e desembarque e o Funchal, que se afirmara como porto principal, encontra-se situado numa zona da costa que não oferece as melhores condições de abrigo na estação invernosa, devido aos ventos que sopravam do quadrante sul. Para o período de 1727 a 1802, estão registados 52 naufrágios42. A Madeira não esteve alheada da navegação atlântica, pois aqui escalavam as naus portuguesas da rota da Mina, Brasil e Índia, que aí se abasteciam de vinho e lenha; por vezes, muitas embarcações espanholas também aportavam na ilha, antes do refresco habitual das Canárias. Assim sucedeu em 1498, com a expedição de Colombo. Esse serviço de apoio às embarcações portuguesas era assegurado e pago pelo provedor da Fazenda Real na Ilha. Dele apenas se referencia, em 1517, a entrega de oitenta arrobas de lenha a uma nau que se dirigia à Índia, e o envio ao reino, em 1531, de duzentas pipas de vinho para a frota da Índia. Por vezes, as embarcações escalavam a ilha para tomar o vinho necessário para a viagem. Aliás, não foram só os portugueses que utilizaram o vinho madeirense na ementa das naus que sulcavam o Atlântico, pois também os ingleses o fizeram, por diversas vezes; é o caso, em 1533, da escala de Richard Eraen na sua 42 João José Abreu de Sousa, O Movimento do Porto do Funchal, Funchal, 1989, p.16.

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O Machado e a Fénix viagem à Guiné, que tomou algumas pipas de vinho no Funchal. A Madeira também provia as embarcações de retorno que passavam; assim sucedeu em 1528, com uma nau régia capitaneada por André Soares, procedente de Mina, que recebeu do provedor da fazenda biscoito, pescado, azeite e vinho para sustento dos dezoito tripulantes, no período de vinte dias de viagem até Lisboa. O porto do Funchal foi conquistando uma posição destacada na navegação atlântica, graças à importância das suas produções ou da política colonial definida pelo império britânico que fez da ilha uma peça estratégica chave para o domínio do Atlântico. A obrigatoriedade da escala das embarcações do Cabo, Índia e Antilhas, aliada à disponibilidade do vinho para abastecimento e comércio nas praças de destino, tornaram o Funchal numa escala assídua. A isto acresceu a presença de visitantes na condição de doentes ou turistas. Na verdade, a História regista inúmeros naufrágios nas proximidades da Madeira, por força dos baixios existentes43, mas na baía do Funchal te mos notícia apenas de situações isoladas. A primeira ocorrência documentada teve lugar em 1581, com o naufrágio da nau Santiago, proveniente da América Central. Uma tempestade fê-la perder o rumo para Cádis, acabando por naufragar na baía do Funchal, depois de o capitão ter retirado a mercadoria valiosa de ouro e prata. De acordo com a descrição do comandante André Filipe, “como era Inverno e o dito porto ser costa brava, a força do vendaval rompeu as amarras que prendiam a dita nau e deu com ela sobre duas penhas, onde se fez em muitos pedaços…”44. Hans Sloane (1687) explica que , A partir de finais de Novembro até aos começos de Março, o vento está entre sul e o oeste e então o tempo é borrascoso, causando grandes naufrágios no porto da principal cidade, Funchal, que está exposta a esses ventos. O porto apenas oferece segurança num local onde um ilhéu alto que cai a prumo sobre o mar, sustem a força do vento, protegendo os barcos que navegam entre estes rochedos e a praia. Há alguns anos estive aqui e naufragou a maioria dos barcos no porto; os ventos eram violentos e a profundidade da água tão grande que os cabos não se prendiam firmemente ao fundo, com em outros ancoradouros, fazendo com que os barcos fossem obrigados a partir para o mar largo numa dessas extraordinárias rafadas de sudoeste. Estes perigos, assustam os marinheiros e não deixam de ser um prejuízo para o comércio da ilha. Para além disso, aponta uma outra dificuldade da baía do Funchal: Este mar tem uma ressaca tão forte que não pode haver desembarque na cidade do Funchal, a não ser que se aproveite o movimento da vaga até se atingir o calhau; utiliza-se processo inverso para se poder chegar a bordo. Para obviar a esta dificuldade do porto, estabeleceram-se pontões junto ao Ilhéu da Pontinha para amarrar os barcos em momentos de tempestade. O referido ilhéu ficou conhecido entre os ingleses como Low Rock ou Loo Rock45, por ser o único sítio protegido da baía, face aos ventos do Sul e aos fortes temporais. Em 165146, quando se ordenou a construção de uma fortaleza no referido ilhéu, com um donativo dos madeirenses, refere-se que o mesmo era fundamental para a segurança das embarcações que estavam no porto. Mesmo assim, a segurança não era grande pois, em 1774, duas embarcações que aí estavam amarradas, com a força dos ventos, soltaram as amarras e vieram a encalhar debaixo da rocha, abaixo do atual Parque de Santa Catarina.47 Uma das ocorrências mais relevantes teve lugar em janeiro de 1774,48 com o naufrágio de sete embar43 Cf. Fernando Augusto da Silva, Naufrágios, Elucidário Madeirense, II (1984), 426, 430. 44 João Adriano Ribeiro, Ilha da Madeira. Roteiro Histórico-Marítimo, Funchal, sd., 14-15. Situação já referida por Joel Serrão, Temas Históricos Madeirenses, Funchal, 1992, 131. 45 Low é o mesmo que Lew, que significa lugar protegido. Cf. George Stauton, An Authentic Account of na Embassy from the King of Great Britain to the Emperor of China, Londres, 1797, 62-63. Aí se refere: The landing near the Loo rock, being defended from the surge, is very safe and easy; and there are cottages near to it, the boat’s people may easily be kept from them.(…) During the stormy season, those vessels moor within the Loo rock, and are secured by additional cables to the shore; and thus, when tempests threaten, they are entirely left to take their chance, being quitted by the crew, who seek refuge upon land. 46 Cf. A Madeira nos Arquivos Nacionais. Torre do Tombo, in Arquivo Histórico da Madeira, V (1938), p.77. 47 Cf. Cabral do Nascimento, Sete Navios deram à Costa e o mais que Sucedeu, in Arquivo Histórico da Madeira, VI (1939), p.128. 48 Assinala-se o naufrágio de bergantim de Thomas Amute, escuna de Norberto Fernandez França, corveta de Gulherme Quesse, Galera da Companhia Nova, chalupa de João Searçe, sumaca de José Pereira Passos, chalupa do Cap. João Francisco de Freitas; cf. Cabral do Nascimento, Sete Navios deram à Costa e o mais que Sucedeu, in Arquivo Histórico da Madeira, VI (1939), p.172.

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Naufrágio das embarcações “Dart” e “Beijinho” na praia do Funchal. SMITH, Emily Geneviève, 1842

cações que aguardavam descarregar no porto do Funchal. Para o período de 1727 a 1802, assinalam-se 52 naufrágios para um total de 219 embarcações que o Funchal movimentou49 . De acordo com informação do Governador e Capitão General D. Diogo Pereira Forjas Coutinho, em 178950, esta situação era muito desfavorável para a Madeira, fazendo afugentar os navios e criando dificuldades ao abastecimento da cidade, na época invernal. O Funchal nunca se livrou deste estigma, que atuou de forma desfavorável na concorrência com outros portos atlânticos, como os de Canárias que, entretanto, se apetrecharam com docas artificiais, no decurso do século XIX. Esta situação adversa do porto funchalense esteve sempre presente nas insistentes reclamações para a construção de um molhe. Até à construção do porto do Funchal, muitos foram os naufrágios de embarcações que, a partir de finais do séc. XIX, passaram a contar com o serviço de socorros a náufragos dos bombeiros. São, então, conhecidos diversos naufrágios, sendo de assinalar o ano de 1876 com a perda de 10 navios51. A 12 de maio de 1876, uma forte tempestade fez naufragar a escuna inglesa Asprey, sendo complicado o socorro prestado por falta de um serviço de socorro eficaz. A imagem do Funchal como um porto de naufrágios deverá ter contado na decisão de Eduardo Berenguer e Jaime Cristino de Sequeira Brito para, em 1905, solicitarem ao Estado autorização para procederem a buscas no fundo do mar, entre a Ponta do Garajau e a Ponta da Cruz, para ver se encontravam algum salvado com utilidade. Não sabemos se disso resultou algo de útil e valioso, mas certamente a operação não se torna49 João José Abreu de Sousa, O Movimento do Porto do Funchal e a Conjuntura da Madeira de 1727 a 1810, Funchal, 1989, p.16. 50 Eduardo Castro e Almeida, Archivo da Marinha e Ultramar. Madeira e Porto Santo, I (1907), doc. Nº.857, p.83 51 São reportados 5 naufrágios no porto: em 1804 de 2 galeras inglesas, em 1828 do bergantim americano, Calixto, 1834 da galera inglesa Greenville, 1842 do Brigue Dart e do barco Novo Beijinho, em 1846 do patacho toscano Duque de Sussex, em 1858, do bergantim inglês Reliance. Cf. Fernando Augusto da Silva, Naufrágios, Elucidário Madeirense, II (1984), 426.430.

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Afundamento do navio kanguru em 3 dezembro 1916

ria fácil dentro da baía do Funchal, tendo em conta o assoreamento provocado pelas ribeiras. Por fim, temos de assinalar os acontecimentos ocorridos, no decurso da I Guerra Mundial, com o bombardeamento dos alemães ao Funchal como resposta ao aprisionamento de barcos mercantes alemães. Os alemães atacaram o porto a 3 de dezembro de 1916, afundando dois barcos franceses e um inglês. Seguiu-se novo bombardeamento a 16 de dezembro, mas as embarcações estavam precavidas, não tendo havido nenhum afundamento. Apenas o pânico entre a população citadina. O mar está presente, desde sempre, no quotidiano madeirense, mas tardou a definição de meios de protecção face a múltiplas situações de perigo e de salvamento dos náufragos. Sabemos da existência, em 1894, de uma comissão departamental do Instituto de Socorros a Náufragos. O Instituto, que existia ao nível nacional desde 1892, foi reformado por decreto de 7 de maio de 1903. O projeto surgiu como iniciativa da Rainha D. Maria Amélia, como resultado da situação ocorrida no Funchal em 1892 que ceifara a vida a inúmeros pescadores. Durante o período em que funcionou no Funchal, isto é entre 1894 e 1958, acorreu a 2000 pessoas e 275 embarcações.52 A partir de 1926, esta missão foi atribuída à Associação de Bombeiros Voluntários Madeirenses.Entretanto, em 1985, os Escuteiros Marítimos criaram o SANAS Madeira, seguindo a forma e estrutura dodo Corpo Voluntário de Salvadores Náuticos, que existia em Portugal continental e em vários países europeus, com a finalidade de salvar e salvaguardar a vida humana no mar. O Sanas teve ao seu dispor desde 1989, para cumprir a sua missão de salvamento no mar, uma embarcação pneumática e um barco em fibra de vidro. Em julho de 1991 encontrava-se, em instalações cedidas pelo Governo Regional, no Varadouro de São Lázaro, no Funchal, local onde ficou até 2009, dispondo então de 5 embarcações para o desenvolvimento das suas atividades, fundamentalmente de apoio às atividades náuticas que se realizavam na Região, contando para tal com 32 52 João Adriano Ribeiro, ibidem, p.22

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Serviço de Socorros a Náufragos dos Bombeiros Voluntários do Funchal.

elementos operacionais (nadadores-salvadores), masculinos e femininos, e 10 mergulhadores, para além da Direção composta por 5 elementos. A partir de 22 de fevereiro de 1996, foi criado o SANAS Madeira - Associação Madeirense para Socorro no Mar, vocacionado para o salvamento e evacuação marítima até 30 milhas da costa. As suas primeiras instalações surgiram em julho de 1991, no Varadouro de São Lázaro, no Funchal, passando depois, em 2009, para Santa Cruz. Esta mudança resulta de um protocolo com a ANAM para a criação do Centro de Salvamento Costeiro, de apoio ao serviço de socorro marítimo do Aeroporto Internacional da Madeira.

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1926.dezembro.16: naufrágio do navio Physalia.

NAUFRÁGIOS na costa e nos mares da Madeira. 1581.??.??: Nau Santiago na baía do Funchal. 1730: Navio sueco, no sítio do Pedregal, onde chamam a rocha do Guilherme. 1768: Nau de guerra francesa Balance, no Porto Santo. 1748: Navio do corsário inglês DART. 1790: No boqueirão do ilhéu de Baixo, no Porto Santo, um barco de carreira. 1804: Duas galeras inglesas nas Desertas. 1804: janeiro.8 e 11: Duas galeras inglesas. 1828.janeiro.22: Bergantim americano Calixto. 1828: março.01: Galera inglesa Britânia na Ponta da Cruz. 1828.março.01: Galera inglesa Britannia, na Praia Fomosa. 1834: Galera inglesa Greenwelle. 1836.outubro.18: Barca portuguesa Maria Adelaide e o iate Conceição e Almas. 1838.fevereiro.23: Naufrágio de barco de pesca de Machico, com seis mortos. 1842. outubro. 26: Encalharam seis navios. CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA

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O Machado e a Fénix 1842.outubro. 26: Escuna inglesa Wave, em S. Lázaro. 1846.janeiro.10: Patacho toscano Duque de Sussex na Badajeira Baixio, a sudeste do Ilhéu de Fora. 1848.dezembro.10: Iate Senhor dos Passos e a escuna Eugenia. 1848.dezembro.31: Dois iates portugueses, os patachos Delfim (português) e Levant (americano). 1850.março.31: Na Ponta do Pargo, barco de pesca do Paúl do Mar com mortos. 1850.dezembro.05: Naufrágio na praia do Porto Santo com 15 mortos. 1854.outubro: Vapor Forrunner na Badajeira. Baixio, a sudeste do Ilhéu de Fora. 1855.abril.7: A escuna portuguesa Maravilha, no Porto Santo. 1857.janeiro.31: Na Madalena do Mar, brigue português Triunfo. 1858.março.05: Bergantim inglês Reliance. 1858.março.15: Patacho brasileiro Liberato Terceiro. 1858.setembro.20: Po Porto da Cruz, o bergantim francês Homs. 1858.novembro.14: A galera portuguesa Defensor. 1859.dezembro.18: No Porto do Moniz, galera inglesa Fying Foame, com quinze mortos. 1860.dezembro.24: Na Rocha do Navio (Santana), galeota holandesa Alfa. 1861.agosto.18: Porto Novo, barco costeiro, com sete mortos. 1861.agosto.18: No Porto Novo, freguesia de Gaula, um barco costeiro. 1872.setembro.03: Na Calheta, barco costeiro com três mortos. 1872.dezembro.22: Patacho inglês Champion. 1875.fevereiro.2: Vapor inglês Soudan. 1875.outubro.18: Nos Canhas um barco costeiro. 1876.maio.12: Naufrágio da escuna inglesa Aspreyno Porto do Funchal. 1876.maio.13: Naufrágio da escuna inglêsa Orphey e do patacho português Barbosa. 1876.novembro.11: Naufrágio da chalupa portuguesa Moura, dos patachos americanos Maurice e Nellieclifford, o barco alemão Fear-Not, o iate português Fontes Pereira de Melo e a escuna inglesa Theodosia. 1877.janeiro.03: Naufrágio da barca inglêsa Patagonia, junto a Santa Catarina. 1877.dezembro.9: Galera norueguesa na Ponta Delgada, iate Varuna, na freguesia das Achadas da Cruz. 1880.maio.29: O navio inglês Paregon encalhou no Porto do Moniz. 1881.janeiro.06: Iate português Aliança. 1881.abril.12: Vapor Newton na Badajeira. Baixio, a sudeste do Ilhéu de Fora. 1882.março.8: Vapor brasileiro no Porto Santo. 1884.novembro.26: Escuna Eulalia e o brigue italiano Torquato. 1884: Vapor inglês Forerunner, na Ponta de São Lourenço. 1896.outubro-26-27: Brigue frances René Adrienne e brigue português Comercio. CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA

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O Machado e a Fénix 1901.março.12: Barco costeiro «Brilhante Pargueiro», na Ponta da Cruz, com sete mortos. 1902.janeiro.17: Vapor inglês Lagos, nas Desertas. 1909.novembro.16: Naufrágio do iate americano Varuna nas Achadas da Cruz. 1926.dezembro.16: Naufrágio do navio Physalia. 1950.abril,7: Naufrágio de embarcação de pesca de câmara de Lobos com 7 mortos, evocada por José Vieira Coelho em folheto de cordel. FONTE: CAMPOS, Vasco F. Campos e Malho, Alberto, O Bombeiro Madeirense e a sua História, Funchal, s.e., 1963;

Ribeiro, João Adriano, Ilha da Madeira. Roteiro Histórico-Marítimo, Funchal, sd., SILVA, Fernando Augusto da e MENESES, Carlos Azevedo, 1978, Aluviões, in Elucidário Madeirense, 3.ª ed., Funchal, Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, vol.I, pp.51-55; Sousa, João José Abreu de, O Movimento do Porto do Funchal e a Conjuntura da Madeira de 1727 a 1810, Funchal, 1989.

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Caminhos da ilha. Gravura de Isabella de França. 1854

A TERRA…que pisamos, nos sustem, segura, alimenta, mas que também se desmorona e destrói. Porque, às vezes, a montanha se despenha e as pedras tomam um lugar que não é seu… As quebradas são parte da História do madeirense desde o século XV, pois a orografia abrupta da maior parte das encostas, assim como o seu processo de desflorestação fazem desencadear escorregamentos de terras que condicionam e fazem perigar a vida das populações. Porque, às vezes, os homens desafiam a força da terra e saem derrotados… É, não há dúvida uma falta de que se ressente, sempre se há-de ressentir na Madeira. (…) Então, estradas centraes, rami!cando-se em diferentes direcções, facilitarão a communicação com as mais afastadas povoações. Por esse meio, conseguiremos vencer as di!culdades que ora se nos opõe; porque a transposição dessas quebradas enormes, desses despenhadeiros (…) não se consegue sem sommas fabulosas. CABRAL, Guilherme Read,1895, Angela Santa Clara, Funchal, Typ. Esperança, p.182. A terra é a fonte geradora da riqueza, o chão que pisamos diariamente e onde assentamos o nosso quotidiano, daí a importância que assume para os humanos. Mas, na ilha, costumamos dizer que a terra é madrasta, no sentido que o território que nos oferece não propicia a segurança e estabilidade que se pretende. Daí a criação do poio como marca identitária deste processo de humanização, de busca da estabilidade, CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA

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Circulação pedestre no interior da ilha. Gravura de Isabella de França. 1854

segurança e riqueza. O poio é uma criação dos madeirenses e moldou de forma clara a sua vivência sócioeconómica ao longo de quase de seis séculos. O poio começou por ser uma necessidade de organização do território, neste processo de humanização, mas depressa passou a categoria mental transformando-se em espaço, que configura uma forma de ser e estar no mundo, que ainda hoje esta presente no modus vivendi de todos os da ilha. Na Madeira, os declives acentuados são um fator de risco na retenção das terras. Daí a humanização gerada pelos poios, no sentido de consolidar os terrenos para a agricultura. Mas os efeitos das chuvas assim como da desflorestação são, por vezes, catastróficos, com quebradas. São escorregamentos ou deslizamentos de terras e/ou massas rochosas que acontecem em bloco, em camadas ou de forma separada e que aconteceram nos últimos quinhentos anos, na ilha, com maior incidência a partir do século XIX, por força da desarborização que deixou nuas as encostas e expostas a estas situações de derrocadas (escorregamentos de vertente, avalanches rochosas, desabamento ou queda de rochas). A par disso, temos que contar com um declive acentuado que chega a 30 a 40%, a montante, e 04 a 10%, a jusante, criando condições para que, em momentos de sismos ou aluviões, estas aconteçam. Na atualidade, atua-se no sentido de as controlar ou de minimizar os seus efeitos com túneis, paredões e a estabilização dos taludes. Dentro deste quadro, deveremos ainda ter em linha de conta a política de reflorestação das serras e a retirada do gado da serra. A toponímia madeirense é rica na expressão destas quebradas. Assim, a designação de quebradas acontece em Achadas da Cruz, Arco de S. Jorge, Campanário, Canhas, Deserta Grande, Faial, Paul da Serra, Paul do Mar, Ponta Delgada, Porto Moniz, S. Martinho. Há ainda a considerar as Fajãs, que são resultado destas quebradas ou outros fenómenos semelhantes de deslizamento de pedras e terras. Poderá entender-se que esta designação de Fajã tem origem nesta situação, tornando-se num aspeto particular da orografia do arquipélago. São diversos os sítios das Achadas da Cruz, Arco da Calheta, Câmara de Lobos, Canhas, Curral das Freiras, Desertas, Estreito de Câmara de Lobos, Faial, Madalena do Mar, Santo António, Prazeres, Porto da Cruz, Porto Moniz, Ribeira Brava, Tabua, Serra de Água, S. Vicente. Assim, na ilha, temos sítios apenas com a designação de Fajã, em Arco da Calheta, C. de Lobos, Canhas, Faial, Madalena do Mar, Santo António, Prazeres, Tabua. A estas juntam-se outras com diversos epítetos: Alta, de Alma, do Amo, da Areia, Asnos, Asno, dos bichos, das Cagarras, dos Cardos, do Cedro Gordo, do Cerejo, de Cinza, das Corças, das Covas, das Éguas, Fajã e Eiras, das Galinhas Grande, do Limão, da Madeira, das Malvas, do Manuel, dos Chiqueiros, do Mar, das Michas, do Mú, das Nogueiras, Nova, Ovelha, dos Padres, da Palmeira, da Ribeira, do Penedo, Redonda, dos Rolos, da Estufa, das Vacas, Velha, dos Vinháticos, Fajanzinha do Bento. Já a reposição das quebradas na toponímia da ilha é menor, pois só temos referenciado Quebrada do Negro e Nova (Achadas da Cruz), sítios das Quebradas no Seixal, S. Martinho, Arco de S. Jorge, Boaventura, Campanário, Faial, Paul do Mar, Ponta do Sol. CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA

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Caminhos para circulação interna.

De todas, assinalamos as que se seguem, pelo impacto que têm, na ilha: Fajãs do Cabo Girão (Câmara de Lobos), Fajã dos Padres (Campanário), Fajã Escura e Fajã dos Cardos (Curral das Freiras), Fajã das Galinhas (Estreito de Câmara de Lobos), Fajã do Mar (Faial), Fajã do Cedro Gordo (S. Roque do Faial), Fajã da Areia (S. Vicente), Fajã do Penedo (Boaventura), Fajã da Ovelha, Jardim do Mar, e Paúl do Mar (Calheta), Quebrada Nova (Achadas da Cruz) e o Lugar de Baixo (Ponta do Sol). A Madeira é uma ilha marcada por declives acentuados e ravinas profundas que tornam difícil a circulação. O primeiro obstáculo que daqui resultou foi a dificuldade de circulação interna. Depois vieram os aciCADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA

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O Machado e a Fénix dentes, com as quedas mortais, as quebradas, que ainda hoje obrigam a um esforço desusado dos soldados da paz. Por provocar o isolamento e afastamento dos núcleos de povoamento, a orografia era ainda uma dificuldade acrescida para as populações acederem à justiça e da presença do poder municipal. Só assim se compreende que um arquipélago como a Madeira tivesse a forte descentralização municipal, com 11 municípios. Neste último caso, temos, desde 1714, as reclamações das populações do norte da ilha, dependentes do município de Machico, da necessidade de criação de um outro em S. Vicente, pois eram extremas as dificuldades de chegar ao município ‘’por haverem muitas ribeiras caudalosas e rotas e muito perigosas”. Não obstante todos os entraves de Machico, a 25 de agosto de 1744, D. João V acede à pretensão dos moradores do norte e cria a vila, dizendo “assim por ser esta muito distante daquele lugar, como pelos perigosos e arriscados caminhos que havião de passar, como pela contínua braveza dos mares se não podião estes navegar”. Além do mais no percurso por terra “se lhes seguia o perderem muitas vezes as suas casas, a seu remédio, e até a própria vida, pois o serem as estradas de toda aquela Ilha inexplicavelmente agrestes e perigosas, não só pelas grandes ladeiras e iminentes rochas, que continuamente estavam caindo sobre as mesmas estradas, desamparadas, despovoadas e destituídas de todo o abrigo, mas também pelas caudalosas ribeiras, que por toda a Ilha corriam furiosas e despenhadas ao mar.“ A História regista, na sua cronologia, inúmeras situações de desastres e mortes, mas foi o testemunho literário que melhor espelhou esta realidade. Em 1817, Paulo Dias de Almeida, ao referir-se ao curato do Jardim do Mar, testemunha que “todos os povos estão expostos a repetidas quebradas, que todos os invernos ha de cima das altas montanhas que a cercão, e que pouco a pouco se vao desfazendo por serem compostas de diferentes massas, em camadas, a 1.ª de area de minas, 2.ª de pedra pomo, 3.ª barro vermelho, a 4.ª de barro vermelho forte, 5.ª pedras soltas; em outras partes por cima de tudo isto grande altura de rocha muito rija em forma de columas quadradas sobrepostas humas em cima das outras, e na base huma especie de jorra bem similhante daquella das forjas dos ferreiros.” Mais adiante, a propósito de Ponta Delgada, refere que a costa “está ameaçando repectidas quebradas. A povoação desta villa hoje reside na varge junto á Capella do Rozario, onde deve ser a parochia, por estar no centro da freguezia. Os cortes das madeiras pelas rochas por onde esta levada passa, he que tem sido a causa das quebradas, e estas tem arruinado em partes o traste da levada. Se tentassem reedificar a levada, e tornar a unir as aguas perdidas seria dispendioso, porém merece tudo pelo augmento que vai dar á cultura das freguezias por onde passa; ella corre pelos altos das freguezias seguintes: do Fayal, do Porto da Cruz, alto de Santo Antonio da Serra, e daqui póde hir a Santa Cruz, altos do Machico té o Caniqal, onde já correu antigamente; e todas estas freguezias por onde a levada passa tem muita necessidade de agua; e por isso tem afrouxado a cultura em grande parte; eis aqui d’onde procedem as quebradas, porque a Ilha he toda cortada de ribeiras e ribeiros muito prosimos huns e outros, formando altos lombos e nas encostas d’elles he onde fazein as roqadas, que depois desprezam tirada a primeira colheita. As lombadas quasi todas são formadas de huma mistura de pedra solta, e saláo, e na superficie huma tona que apenas tem 1/2 palmos de terra; esta as chuvas levam ií Ribeira, ficando a pedra solta, e algumas agarradas ao salão que o sol resseca; e por conseqiiencia cahe. Esta freguezia he a que menos soffre o damno dos carvoeiros, por ter poucos arvoredos.” Em 1895 (p.39), Miguel Read Cabral, no Romance Santa Clara escreve: A falta de estrada, ponderou um passageiro, Ilho da Madeira, e consequentemente os meios de transporte dos productos da ilha, é outro grande obstáculo ao seu desenvolvimento, e francamente não sei qual destes melhoramentos é mais reclamado.- É, não há dúvida uma falta de que se ressente, sempre se há-de ressentir na Madeira.(…) Então, estradas centraes, rami!cando-se em diferentes direcções, facilitarão a communicação com as mais afastadas povoações. Por esse meio, conseguiremos vencer as di!culdades que ora se nos opõe; porque a transposição dessas quebradas enormes, desses despenhadeiros (…) não se consegue sem sommas fabulosas.

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O Machado e a Fénix O risco e a insegurança são uma constante no quotidiano dos madeirenses, de tal forma que alguns autores referem que o insular construiu a sua casa e poio em cima do abismo, convivendo a diário com o medo e insegurança, que acabam por fazer parte do seu dia a dia. Daí resulta a sua adoração xamânica pela terra, donde emana a força telúrica que o alenta e lhe dá a força para se afirmar dentro e fora do seu poio. As quebradas fazem parte da tradição e cultura madeirense. De acordo com Manuel Pestana Reis (Correio da Madeira, 23.03.1922), o madeirense é “pequeno deus ciclópico” que atua “travando a marcha vertiginosa das vertentes, afogando à boca dos abismos o pendor das quebradas, emparedando o mar para lhe roubar para o cultivo uns escassos metros de terra,...” Todos os escritores se lhe referem, em tom poético e triste. Alberto Artur Sarmento (1953, 89), na exaltação da pedra, afirma O deus dos Mares bramiu enfurecido, arreliou-se, e provocando quebradas monstruosas, desabou o promontório Girão, numa talhada a pique; formou patamares escoantes em fajãs dispersas, limou o focinho dos cabos, aguçou pontas pelo mar roídas, mas neste trabalho insano, só modificara o contorno da periferia molhada, não podendo galgar às serranias altaneiras. Na verdade, as quebradas são parte da História do madeirense desde o século XV, pois a orografia abrupta da maior parte das encostas, a par com o seu processo de desflorestação deram a conhecer aos humanos este problema que marcou o seu quotidiano desde o início, com registos, na História, de algumas situações. Sobre o Cabo Girão, por exemplo, sabemos que uma das primeiras quebradas aconteceu em 1444 e provocou a morte de Henrique Alemão, o cavaleiro de Santa Catarina, considerado o imperador Ladislau III, que vivia na Madalena do Mar. Em 1689, outra grande quebrada no Arco de S. Jorge deu lugar ao sítio da Quebrada do Arco Pequeno. E, em 1817, Paulo Dias Almeida diz-nos que a costa até Ponta Delgada “está ameaçando repetidas quebradas”. Em 1894, deu-se grande derrocada na Deserta Grande. No dia 4 de março de 1930, deu-se outro desmoronamento de rochas da costa no sítio do Rancho, junto ao Cabo Girão, provocando a morte a cerca de duas dezenas de pessoas. Depois, a 6 de março de 1930, tivemos a quebrada no sítio do Estreito da Vargem, que destruiu 11 casas e matou 32 pessoas. A última quebrada aconteceu a 17 e 27 de outubro de 2008, pelas 16 horas, na escarpa junto à queda de água, conhecida por “Véu da Noiva”, na Freguesia do Seixal, concelho do Porto do Moniz. Os madeirenses têm de conviver com esta situação, de modo que os municípios sempre atuaram, com todo o cuidado, na proteção das terras, para evitar maior perigosidade das quebradas e inundações, nomeadamente junto das ribeiras e caminhos. Competia à vereação vistoriar os caminhos e zelar pela boa circulação e desimpedimento das serventias. As diversas autoridades estão atentas a estas realidades e manifestam sempre preocupação e cuidado, no sentido de evitar as quebradas e os seus prejuízos. Já em 1792, nas instruções de agricultura do corregedor António Roiz Veloso, se afirma que “arvores concervão as plantas e as searas, defendendo-as dos ventos e das tempestades; seguirão as terras empinadas, e com as suas raizes as concervão e sustentão de forma que estas jamais se precipitão e fazem quebradas, o que se deve nesta ilha evitar por todas as formas para a concervação do paiz. “ Em 1817, Paulo Dias de Almeida refere a sua origem, nesta passagem: ”Enfraquecem a terra com o fogo e depois a abandonam. Eis aqui de onde procedem as quebradas, porque a ilha é toda cortada de ribeiras e ribeiros, muito próximos uns dos outros, formando altos lombos, e nas encostas deles é onde fazem as roçadas, que depois despresam tirada a primeira colheita. As lombadas quase todas são formadas de uma mistura de pedra solta e salão, e na superfície uma tona que apenas tem 1 e 1/2 palmos de terra, que estas chuvas levam à ribeira, ficando a pedra solta e alguma agarrada ao salão, que o sol resseca e por consequência cai.” Diz, ainda, que “A costa até Ponta Delgada, está ameaçando repetidas quebradas” e reafirma “a comunicação para o Ponta Delgada é toda perigosa e por baixo montanhas, que estão ameaçando quebradas a todo o momento. Evita-se todos estes perigos perigos passando o caminho pela lombada das Vacas.” A orografia da ilha condiciona, de modo evidente, a vida das populações, sendo agravada esta situação

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O Machado e a Fénix com as condições climáticas. A ilha foi assolada, ao longo da História, por inúmeras aluviões. Vários testemunhos e medidas institucionais documentam os problemas que a orografia e os acidentes que ela provoca e que atingem as populações. As áreas do norte da ilha, mais desfavorecidas por esta situação, são um exemplo. E vejamos o que acontecia no concelho de S. Vicente. A 1 de dezembro de 1821,53 o Patriota Funchalense, em carta do juiz ordinário da vila de S. Vicente, Filipe Joaquim de Freitas e Abreu, dava conta do estado em que havia ficado a vila e toda a costa norte, após a aluvião de 19 de novembro de 1821: “a chuva mais violenta, e aturada que se tem visto, carregou sobre as Povoaçoens do Arco de S. Jorge até às Fajãs de S. Vicente, causando grande estrago em fazendas cultivadas, que a maior parte desapparecerão, pelo empulso das águas, e quebradas, levando gado, e palhoças ao mar. A estrada geral da Ponta De!gada para S. Vicente esta intransitavel, como outras muitas, que perderão pontes, e ficarão aterradas; e de modo algum podem os moradores das freguezias de S. Jorge, Arco; Boaventura, e Ponta Delgada communicar com a Villa, tanto para o comércio interno, como pelos recursos, ou dependencia de justiça.” As autoridades anunciam que a rearborização das serras era também uma forma de consolidação das escarpas e de combater as quebradas. Mas, a partir do século XIX, as frequentes aluviões criam as condições para estas quebradas, deixando muitas vezes irreconhecíveis os poios e intransitáveis as estradas. A aluvião de 23 de outubro de 1843 provocou inúmeras quebradas por toda a ilha, tornando intransitáveis os caminhos, os terrenos agrícolas e a vida dos madeirenses. A realidade repete-se ao longo do tempo e, quase todos os anos, é necessário, após o inverno, reparar os caminhos, refazer as pontes e levantar as quebradas. No caso particular de S. Vicente, temos informação, pelos livros de atas desta câmara, desta situação. A norte, mercê das encostas íngremes, da grande quantidade de água disponível na época das chuvas, a época invernosa era sempre um quebra-cabeças para os moradores. O vale de São Vicente foi um exemplo disso, sendo servido, por todo o lado, por encostas abruptas que facilitam as quebradas. Após as primeiras chuvas, caiam os protestos dos moradores em mesa da vereação. Em 1876, Joaquim Fernandes, morador no Lanço, reclama, perante a vereação, os prejuízos causados no seu sítio pelas chuvadas de 31 de outubro. Os danos não se ficaram apenas pelos caminhos do Lanço pois atingiram todo o concelho, deixando-os quase intransitáveis, pelo que a vereação camarária foi forçada a apelar ao Governador Civil, no sentido de serem dados meios financeiros para a imediata reparação. Tenha-se em conta que este mês e o seguinte foram de muita chuva em toda a ilha, provocando elevados estragos em caminhos, com as quebradas que aconteceram. O Governador Civil, Francisco de Albuquerque Mesquita e Castro, em carta de 18 de novembro de 1876, refere que as chuvas que se abateram sobre a ilha entre 10 e 13 de novembro de 1876 provocaram elevados danos, nomeadamente na viação pública. Assim “na estrada do litoral entre as freguesias da Ponta de Sol e da Ponta do Pargo, numa extensão de 40 quilómetros, pouco mais ou menos, o número de quebradas que durante aquelles dias cahiram, atingiu a cifra em extremo elevada de 250: e que a estrada geral que d’esta cidade conduz à freguesia de São Vicente, no norte da ilha, pela Serra de Camara de Lobos…”54 Em 1888, como em 1896, volta a acontecer o mesmo problema e o presidente do município refere que o “alluvião de desgraça que ha um anno a esta parte se teem succedido em todo o concelho... onde a ribeira na sua impetuosa corrente levou para o mar, pontes, caminhos...”. Todavia, graças à pronta colaboração de todos foi rápido o restabelecimento da circulação dos caminhos, ficando apenas a aguardar solução aquele que sobe na margem da ribeira junto à vila. Novas inundações, que ocorreram a 2 e 3 de outubro de 1895, provocaram grandes estragos nas freguesias de S. Vicente, Boaventura e Ponta Delgada, que ficaram incomunicáveis. Na Ribeira Grande, em S. Vicente, ficaram 25 famílias sem casa, enquanto nos Enxurros, em Ponta Delgada, uma quebrada provocou elevados estragos. A ponte da vila entupiu e fez transbordar a água que alagou a vila. A sorte foi que a armação de pedra não resistiu à força da água, fazendo-a desabar. O Feiticeiro 53 Patriota Funchalense,vol.I, n.º 44: 1 de dezembro de 1821, p.1. 54 Castro, Francisco de Albuquerque Mesquita e, Relatorio da Junta Geral para o ano económico de 1876-1877, S.L. s.e., p.90 (documento impresso).

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O Machado e a Fénix do Norte retratou esta situação em “as inundações de 1895”: Vejo os caminhos do norte que estão todos arrombados não se pode transitar nada, de lado p’ra lado Passa-se em rochas medonhas quais veredinhas de gado, até parece vergonha do nosso excelente estado. Já em pleno século XX, as chuvas continuaram a atormentar as gentes do norte. Logo em 1902, as chuvas fizeram elevados estragos, tornando intransitável a estrada real ao Saramago. A 16 de novembro de 1909, os estragos causados nos caminhos e casas, nomeadamente no Laranjal e no Lanço, são elevados, o que levou a Vereação a um orçamento suplementar para cobrir a nova despesa. Na década de vinte, esta situação ganha maior intensidade. Em fevereiro de 1921, os estragos foram tantos em todo o conselho vicentino que, um ano depois, ainda se aguardava a respetiva reparação. Em 1927, o mês de dezembro voltou a ser invernoso, causando elevados danos, de modo especial na principal estrada que liga pela Encumeada ao Funchal. Dois anos depois, abateu-se uma grande calamidade sobre a freguesia. A 6 de março, pelas 10 h da manhã, uma quebrada no alto da Vargem vitimou 29 famílias e causou danos, avaliados em mais de dois mil contos. Os dados assim o provam: 40 mortos, perda de 100 palheiros e igual número de cabeças de gado. O tema correu em toda a ilha e foi manchete, por algum tempo, nos jornais locais, obrigando o Governador Civil a deslocar-se ao concelho, a 8 de março. Não parou aqui a fúria do tempo, pois que, em 28 de outubro de 1934 e janeiro de 1952, novas trombas de água se abateram sobre o concelho e provocaram, de novo, elevados prejuízos materiais e a destruição de inúmeras estradas e pontes, que só foi possível recuperar com apoio de subsídios da Junta Geral e do Governo Central. A 4 de dezembro de 1944, a Direção Geral dos Serviços Florestais, aposta na “criação de um serviço de socorros contra quebradas e desmoronamentos”(VIEIRA,1999, 216). Pelas situações descritas, a terra pode ser considerada madrasta, mas o madeirense não a abandonou. Atuou de forma permanente como soldado da paz, para apaziguar os efeitos destruidores e defender a sua própria vida. Tenha-se em que conta que as condições orograficas da ilha, em consonância com os fenómenos sísmicos (1748, 1755, 1762, 1768, 1804,1813, 1814, 1914, 1958, 1972, 1975, 2003 e 2008) e as aluviões (1611, 1707, 1724, 1803, 1815, 1836, 1848, 1850, 1856, 1858, 1883-84, 1886-87, 1889, 1895, 1910, 1915, 1920, 1921, 1923, 1926, 1931-32, 1939, 1945, 1956, 1958, 1962,1970, 1973, 1977, 1979, 1982, 1984-85, 1989, 1990-91, 1992-93, 1997-98, 2001, 2006-07, 2008-09, 2010) criaram as condições propícias às quebradas que foram e continuam a ser um dado do quotidiano madeirense, que documentam a incerteza do viver e uma necessidade de luta e precaução constante perante estas condições adversas, que só os soldados da paz conseguiram bater-se de forma vitoriosa. Mas o solo continua firme e o madeirense não perde a sua vinculação à terra e ao poio, persistindo no seu esforço titânico de se manter em segurança, mesmo à beira ou em cima do abismo.

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Desastre de aviação.

O AR…que liga o céu e a terra e é brisa … mas que, às vezes, é vento e arranca árvores e derruba o que o Homem constroi. O ar é fonte de vida mas também meio de circulação. O vento traz-nos as poeiras do deserto do Saara, diversos animais e organismos que, por vezes, se transformam em pragas como aconteceu com os gafanhotos do Norte de África. Foi também pelo ar que se evolui na comunicação da ilha com o exterior, com os transportes áreos, a partir da década de vinte do Século XX, abrindo-se definitivamente as portas dos poios ao mundo. Desde a década de vinte do século passado,que a Madeira acalentou o sonho de uma ligação por via aérea, capaz de facilitar as ligações com Portugal continental e a Europa que via na ilha uma estância de repouso. A primeira tentativa do capitão António Sarmento de Brito Pais e do Tenente João Manuel Sarmento de Beires falhou, a 9 de outubro de 1920. Mas, à segunda, vimos chegar o primeiro avião à baía do Funchal, a 23 de março de 1921, numa expedição do capitão-de-mar-e-guerra, Gago Coutinho, o capitão Tenente Sacadura Cabral e o primeiro-tenente Bettencourt. Todavia, tardou algum tempo até que a Madeira estivesse preparada para receber os primeiros aviões de transporte regular. Note-se que só em 1957 aterrou o primeiro avião numa pista experimental e, só em 1964, a ilha dispõe de uma pista apta à aterragem de aviões. Após a primeira travessia aérea, começou a saga do transporte aéreo na Madeira que começou no mar, depois transferiu-se para o Porto Santo e, finalmente, para Santa Cruz na Madeira. A década de vinte do século XX foi a era do Hidroavião mas este só chegou à Madeira, tendo em conta os interesses dos ingleses e da sua necessidade de se deslocar para a Madeira, com escala em Lisboa. Um pouco depois das 13 horas do dia 25 de março de 1949, a baía do Funchal apinhava-se de povo para ver a chegada do primeiro hidroavião. As carreiras regulares foram inauguradas a 28 de maio, mas só assumiram essa regularidade a 11 de junho

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19 de novembro de 1977, desastre com um Boeing 727 da TAP. Fotos de Ricardo Perestrello

com dois voos semanais para Southampton. Neste voo regular, viajou Winston Churchill quando, em 1950, fez férias na Madeira. Mas a 27 e 28 de setembro de 1958, realiza-se o último voo. O vazio foi colmatado pela ARTOP (Aero Topográfica Lda), que obtivera a concessão da exploração da rota com o Funchal, com a chegada do novo avião, de nome Porto Santo, a 9 de novembro. O primeiro voo, contudo, despenhou-se no mar, à partida em Lisboa, interrompendo as carreiras regulares aéreas até que surgisse o primeiro aeroporto no arquipélago em 1960, no Porto Santo. Desde 1944 que se fizeram estudos sobre a possível localização do aeroporto da Madeira que iam do Paul da Serra, Ponta do Pargo, Prazeres, Chão das Feiteiras, S. Jorge, Santana, Camacha, Caniçal, S. Martinho e Areeiro. Decidindo-se, em 1956, por uma das três possibilidades definidas, o sítio de Santa Catarina em Santa Cruz, em detrimento do Santo da Serra e S. Lourenço. Apesar das missões técnicas desde 1949 e dos estudos laboratórios sobre a questão do problema dos ventos do local de Santa Catarina, o governo decidiu, mesmo assim, em 1960, avançar com o projeto. A figura do engenheiro Teixeira de Sousa, presidente da Junta Geral, foi fundamental para o andamento da obra. Tudo isto porque a conclusão da Direção-Geral de Aeronáutica Civil, que espelha as decisões das missões técnicas de 1944, 1948 e 1956, apontava para dois aeroportos, o do Porto Santo, com dimensões consideradas convenientes e o da Madeira limitado a 1600 metros de pista. Os dois projetos foram integrados no II Plano de Fomento e como o do Porto Santo estavam mais adiantado, em termos de estudos, as obras

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O Machado e a Fénix começaram em 1959, ficando as obras prontas ao fim de dez meses, de modo que, a 20 de julho de 1960, se iniciaram os primeiros voos de ensaio, sendo a pista inaugurada a 28 de agosto de 1960. Mas a opção fundamental dos madeirenses era o aeroporto da Madeira e a solução apresentada com o do Porto Santo não estava isenta de dificuldade com a questão do transbordo dos passageiros para o Funchal. Desta forma, a ligação externa do arquipélago era um misto de viagem aérea e marítima que não funcionava como um bom cartaz. Iniciam-se os voos com as Canárias e Santa Maria em 1962 e, só a partir de finais de 1969, a TAP começa a operar regularmente. Desta forma, o Natal e fim de ano de 1962 foram muito concorridos de forasteiros nacionais e estrangeiros. A inauguração do aeroporto do Porto Santo trouxe a boa-notícia do avanço do projeto do aeroporto da Madeira, a 8 de julho de 1964, pelo Almirante Américo Thomaz, presidente da República. Até 1973, prolongaram-se as obras de conclusão da aerogare e da pista, entrando em funcionamento o terminal de passageiros a 1 de julho de 1973. A partir de 1964, com a inauguração do aeroporto da Madeira, o de Porto Santo passa para segundo plano e só veio a ganhar importância em 1979, pelo interesse demonstrado pela NATO, que levou a obras de ampliação e diversos melhoramentos entre 1986 e 1988. Entretanto, entre 1971 e 1973, algumas obras aumentaram o tamanho da pista para 2440 metros, assim como capacidade da plataforma de estacionamento dos aviões. Depois, em 1995, melhorou-se as instalações com o novo terminal de passageiros. Desde 1975, a grande batalha dos madeirenses será no sentido de dotar este aeroporto de melhores condições, de modo que fosse um dos principais motores do turismo da Região. Um parecer pedido pelo DGAC apontava nesse sentido, mas não havia vontade política para despender três milhões de contos num novo aeroporto. A mudança de regime político em 1974 fez adiar o projeto, que se tornou inevitável em 19 de novembro de 1977, com o desastre com um Boeing 727 da TAP, que deu a força necessária para os combates políticos que se avizinhavam em favor do aeroporto. A partir de 1977, é criado o Gabinete das Obras do Aeroporto para estudo e coordenação das obras desta importante infraestrutura para a Madeira. Começam então as obras de segurança pelo consórcio Edgar Cardoso/hidroservice, com ampliação de 200 m, no comprimento da pista e da plataforma de estacionamento, que decorreu entre 1982 e 1986, sendo as obras inauguradas a 1 de fevereiro. Na segunda fase, pretendia-se que o aeroporto se transformasse numa plataforma intercontinental com o alargamento da pista até 2781m. As obras sucederam-se em diversas empreitadas de 1994, 1997 e 1999 e apenas em 15 de setembro de 2000 foram concluídas. Os custos da obra foram de 100 milhões de contos, sendo 45 milhões financiados pela União Europeia e 30 milhões de contos de empréstimo da ANAM junto do BEI e o restante de capitais da própria empresa que se socorreu da Banca portuguesa. Pelo ar, contudo, temos os ventos que sopram de diversas formas e fazem com que o aeroporto seja obrigado a fechar portas em diversos momentos do ano, criando dificuldades e transtornos neste transporte. O ar trouxe-nos a nossa total abertura ao mundo, transformou a ilha numa das salas de lazer que o turismo obriga, mas também trouxe consigo um dos reversos da medalha, que sinalam a morte e a dor com os desastres aéreos, onde, de novo, a presença dos soldados da paz se torna fundamental. A força do vento, sob a forma de rajada ou tufão, torna-se num elemento destabilizador da segurança das populações, gera perigos na segurança do transporte aéreo, como na vida em terra. São múltiplas as diversas consequências desta ação nefasta do vento no quotidiano daos madeirenses, arrancando árvores e telhados, o que obriga a um reforço da acção dos soldados da paz.

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Acontecimentos/Cronologia

1. VENDAVAIS E TUFÕES. 1418.??.??: Vendaval conduz à praia do Porto Santo os navegadores portugueses. 1593.julho24-25: Vento leste e fogo no Funchal. 1757.novembro.04: Vendaval no porto do Funchal, com destruição do porto. 1759.julho.19: Vendaval na Ponta de S. Lourenço. 1786.??.??: Vendaval com chuvas, com prejuízos elevados. 1842.fevereiro.???: Tufão no Funchal. 1842. outubro.26: Tufão de sul descolmou 36 casas e abateu três outras em Machico. 1843.fevereiro.16: Tufão de sudoeste derrubou dragoeiro milenar em Machico. 1843.fevereiro.16: Tufão em Machico com muitos danos nas casas. 1844.novembro.??: Um vento forte troçou os gafanhotos do Norte de Afica à Madeira e Porto Santo, com grande destruição das culturas. 1858.março.05: Vendaval no porto com naufrágio do bergantim inglês Reliance. CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA

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1889. Tufão derruba o cruzeiro de mármore em Santa Cruz. 1896.outubro.27: Vendaval com naufrágios no porto do Funchal. 1899.março.08: Vento forte destrói torres da igreja de Santo António. 1918.??.??: Vendaval em Santa Cruz destruiu quase por completo a capela de Santo Amaro. 1920.fevereiro.25-26: Chuva e temporal de vento com danos em toda a ilha, ficando 500 pessoas sem abrigo. 1940.fevereiro.15: Vendaval em toda a ilha. 1941.fevereiro.14-15: Tufão no Funchal, destruindo telhados e derrubando árvores no Funchal. 1958.janeiro.??: Vendaval em Santana., com destruição de casas. 1966.??.??: Vendaval com destruição no Ribeiro Frio. FONTE: CAMPOS, Vasco F. Campos e Malho, Alberto, O Bombeiro Madeirense e a sua História, Funchal, s.e., 1963; Fernando Augusto da e MENESES, Carlos Azevedo, 1978, Aluviões, in Elucidário Madeirense, 3.ª ed., Funchal, Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, vol.I, pp.51-55.

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2. DESASTRES DE AVIAÇÃO.

1958.novembro.05: Acidente com o hidroavião Aquila, que fazia a carreira entre Lisboa e Funchal, com 36 mortos. 1973.fevereiro.???: Acidente no aeroporto de Santa Catarina com um avião Caravelle 10R da companhia charter espanhola Aviaco com a morte de três tripulantes. 1977. novembro. 19: Acidente de um Boeing 727-200 da TAP “Sacadura Cabral”, com 131. Era o voo 425, proveniente de Bruxelas. 1991.julho.25: Queda de um avião “Cessna NA 316”, com 6 mortos. 1997.dezembro.18: Queda de avião da companhia Suíça SATA nos mares da Madeira, com 36 mortos. 2003.setembro.11: Queda de avioneta nos mares da Madeira, com 10 mortos. 2009.maio.29: Acidente com bimotor no aeroporto do Funchal. Bibliografia: Força Aérea Portuguesa, A Aviação na Madeira, Lisboa, By the Book, 2010; PAULINO, F.F., aeroporto do Funchal.

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Carros de Pronto Socorro dos Bombeiros Municipais do Funchal

DADOS PARA A HISTÓRIA E QUOTIDIANO DOS “SOLDADOS DA PAZ” NA MADEIRA. A presença e atuação dos soldados da paz prende-se em primeiro lugar com o combate aos incêndios. O risco e o perigo dos incêndios rurais e urbanos redobram a atenção de todos e a necessidade de estabelecer medidas. A 20 de agosto de 1878, um pavoroso incêndio deflagrou na firma J. Payne & Son. Acudiram as cinco bombas existentes – as do município, as de Severiano Ferraz, as de Henrique Camacho e as do Hinton – e muitos voluntários, mais tarde louvados pelo Governador. Mais uma vez, foi notícia a falta de equipamento e de pessoal instruído para este serviço. O Governador Civil, que havia presenciado o facto, decidiu assim, a 23 de agosto, nomear uma comissão para proceder à instalação de uma companhia de bombeiros voluntários. Demorou muito tempo até que se procedeu à sua instalação. Em 1881, referia a imprensa o empenho na criação de duas companhias, sendo uma de municipais e a outra de voluntários. Entretanto, os incêndios sucediam-se com uma frequência assustadora. Contudo, é só em 1883 que a Câmara estabelece um salário mensal de 6$000 réis para Manuel de Gouveia Caramujo, capataz da bomba de incêndio. De acordo com o código administrativo, competia aos municípios organizar os serviços de extinção dos incêndios. Foi no seguimento desta medida que o município do Funchal pôde dispor, em 1887, de um vereaCADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA

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O Machado e a Fénix dor com o pelouro dos incêndios. O Dr. José Joaquim de Freitas, o primeiro a assumir tais funções, apresentou à vereação do dia 10 de março de 1887 um projeto de regulamento para este serviço. Nesse e no ano seguinte, a câmara municipal adquire uma pequena bomba de incêndio para ser adstrita à segurança do recém-inaugurado Teatro D. Maria Pia, bem como diverso material de combate a incêndios cuja estiva é paga à Administração dos Incêndios cuja estiva é paga à Administração do Cabrestante em 28 de fevereiro de 1888. Todavia, só no ano seguinte, se avançou com a desejada companhia de bombeiros. A 26 de julho, a vereação convidou todos os funchalenses a alistarem-se como candidatos a bombeiros voluntários. Finalmente, a 24 de setembro, a Câmara presidida pelo Visconde de Ribeiro Real aprovou o regulamento e procedeu à instalação da Companhia de Bombeiros Voluntários do Funchal. A nova corporação teve o seu primeiro uniforme, a partir de 17 de fevereiro de 1889, sendo 1.º e 2.º comandantes, respetivamente, António Augusto Nunes de Paiva e Alfredo César de Oliveira e Coito. A instalação da corporação e treino dos bombeiros aconteceu nos primeiros meses de 1889, sendo a primeira prova de fogo o incêndio de 27 de março no Hotel Reed Carmo. As três bombas da corporação estavam distribuídas pela cidade. A primeira ordem de serviço registada em livro data de 18 de março de 1889 e refere-se ao estabelecimento da preferência de comando dos primeiros e segundos patrões, bem como à constituição das guarnições das diversas máquinas: carro de material n.º 1 e bombas n.ºs 1, 2 e 3. Para instruir os primeiros bombeiros, deslocou-se à Madeira, Luís da Terra Pereira Viana, bombeiro voluntário da cidade do Porto, que, juntamente com o Governador Civil, D. João de Alarcão Velasques Osório, e o Major do Exército em comissão nas Obras Públicas, Randolfo R. Correia Mendes, foi nomeado comandante honorário a 4 de abril de 1889. O serviço de incêndios era ainda incipiente, contudo estavam disponíveis várias bombas de particulares e de instituições que acudiam em caso de incêndio, sendo de destacar as da Casa Blandy, do engenho do Hinton e da alfândega. O município era também detentor de uma bomba de incêndio, mas o serviço era considerado ineficaz perante a constância e proporções dos incêndios que se atearam na cidade. Em 1925, são referenciadas quatro estações de bombeiros: a central, na Rua 5 de Outubro; a de S. Paulo, no Largo Ribeiro Real; a do Teatro; e a das Torneiras, na Rua Bela de São Tiago. Os incêndios de 1926, num prédio da Casa Blandy e no estabelecimento de géneros alimentares por atacado de José Paulo Fernandes, levaram a que o Diário de Noticias (DN) reclamasse, a 10 de setembro desse ano, um melhor serviço: “Não temos uma corporação de bombeiros que pela sua organização constitua uma garantia séria contra os riscos do fogo […]. Precisamos ter um corpo de bombeiros que represente para toda a população do Funchal um penhor de garantia contra os riscos de incêndios” (VIEIRA, 2001, 40). O combate aos incêndios era considerado algo desastroso, pelo que tudo poderia acontecer. Na verdade, tudo aconteceu com o incêndio num prédio à Rua do Phelps, em meados de outubro de 1926. O grito de reclamação do DN ecoou junto das autoridades, conduzindo à necessária informação do serviço de incêndios. Deste modo, um grupo chefiado pelo Major João Carlos de Vasconcelos, o primeiro comandante, criou os Bombeiros Voluntários Madeirenses. O alvará de 25 de novembro de 1926 aprova os estatutos desta corporação. Os Bombeiros Voluntários tinham como finalidade “prestar socorros aos habitantes do Funchal e arredores, por ocasião de incêndios ou de outras calamidades, tais como: inundações, desabamentos, terramotos, e outras a que possam ser aplicados os elementos de que a Associação dispuser” (VIEIRA, 2001, 109). A Associação era composta por quatro classes de sócios: ativos, auxiliares, honorários e protetores. O Decreto-Lei de 6 de novembro de 1928 considera-a instituição de utilidade pública, atendendo aos relevantes serviços prestados à sociedade. A preparação dos bombeiros foi também tida em conta pelos dirigentes dos “Voluntários” e pelo município. Deste modo, em novembro de 1930, deslocou-se ao Funchal António Rodrigues, chefe instrutor dos Bombeiros Municipais de Lisboa. O exercício final, que decorreu a 21 de dezembro, contou com a presença das autoridades.

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Pronto Socorro n.º 1 dos Bombeiros Voluntários Madeirenses.

A 3 de julho de 1931, os “Voluntários” receberam a primeira moto bomba, que trabalhava com duas ampulhetas com um jato de 30 a 35 cm, chegando este aos 45 m de altura apenas com uma ampulheta. O reconhecimento dos serviços prestados pelos voluntários não merecia a necessária retribuição financeira para atender às inadiáveis despesas da corporação. Deste modo, em junho de 1934, chegou-se ao cúmulo de a corporação não dispor de dinheiro para pagar o telefone. Veja-se, a este respeito, o protesto de Alfredo Camacho no DN: “Há que respeitar aqueles que num alevantado gesto de abnegação sacrificam a vida pela vida do próximo e, dia e noite, velam pelos nossos interesses” (Id., Ibid., 45). Este clamor levou a uma onda de solidariedade que permitiu a aquisição de um novo pronto-socorro, benzido em cerimónia pública que decorreu no Palácio de S. Lourenço, no dia 28 de maio de 1935. No entanto, alargamento do serviço de bombeiros aos demais municípios não se cumpriu de acordo com as determinações oficiais. Esta era uma competência das câmaras municipais. Mas a forma da sua estruturação e afirmação de uma instituição adequada para fazer cumprir esta exigência só atinge a sua plenitude em todos os municípios da ilha em finais do século XX. Foi a câmara do Funchal quem em 1888, primeiro pensou na necessidade de criara uma corporação para este serviço especializado. Depois, tivemos no meio rural as diversas corporações de Bombeiros, que surgiram de forma diferenciada entre 1926 a 1996, de forma que hoje a ilha esta servida de serviços de bombeiros, que atuam em diversas frentes.

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Auto bomba, n.º 1 dos Bombeiros Voluntarios Madeirenses.

A PROTEÇÃO CIVIL. A proteção civil começa na década de 30 do séc. xx, altura em que surgiu, em Paris, a Organização Internacional de Proteção Civil. A sua consolidação dá-se em 1935, com um conjunto de medidas implementadas pela Sociedade das Nações, e depois, em 1950, com o aparecimento da Associação de Proteção Civil, que, em 1958, ganha dimensão internacional. Em Portugal, a sua organização torna-se uma realidade após a Segunda Guerra Mundial, pelo que, desde 1958, existe a Organização Nacional da Defesa Civil do Território. A partir de 1970, a chamada Defesa Civil dá lugar à Proteção Civil, o que acontece na Madeira a 30 de junho de 2009, passando a organismo de cúpula que superintende todos os serviços de proteção e socorro aos cidadãos nas diversas vertentes. Esta situação atual resulta da evolução correspondente do serviço criado a 17 de fevereiro de 1982, conhecido como Serviço Regional de Proteção Civil da Madeira, que funcionava na dependência direta da Presidência do Governo Regional, tendo passado, desde 9 novembro de 1988, para a Secretaria Regional da Administração Pública. Em 1992, transita para a Secretaria Regional dos Assuntos Sociais. A partir de 30 de março de 2006, com a criação do Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros da Madeira, todos os sectores que pertenciam ao Serviço Regional de Proteção Civil da Madeira passam a integrar este serviço de coordenação de proteção civil e de socorro. Finalmente, a 30 de junho de 2009, foi criado o Serviço Regional de Proteção Civil, IP-RAM, com o consequente Regime Jurídico do Sistema de Proteção Civil da RAM.

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EM TORNO DAS CORPORAÇÕES DE BOMBEIROS Hoje, todos os municípios dispõem de uma corporação de bombeiros. Apenas o Funchal dispõe de uma segunda corporação de bombeiros municipais. Assim, temos as seguintes corporações: Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários da Calheta, fundada a 21 de maio de 1992; Associação Humanitária Bombeiros Voluntários de Câmara de Lobos, fundada a 13 de agosto de 1949 e desativada após o 25 de abril de 1974, só voltando a funcionar a partir de 12 de julho de 1991, com a inauguração das novas instalações; Associação de Bombeiros Municipais de Machico, fundada em 1960 mas só devidamente dinamizada pelo município a partir de 1968; Associação de Bombeiros Voluntários do Porto Santo; Associação de Bombeiros Voluntários da Ribeira Brava, fundada a 21 de dezembro de 1986; Associação de Bombeiros Municipais de Santa Cruz, que serve o aeroporto desde a sua inauguração a 8 de julho de 1964; Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Santana, fundada a 8 de dezembro de 1974; e Associação de Bombeiros Voluntários de São Vicente e Porto Moniz, fundada a 3 de junho de 1994. Na heráldica dos brasões dos bombeiros madeirenses, regista-se a presença de dois elementos identificadores da sua atividade, por um lado os machados, que os identificam pela sua atividade de salvamento e a fénix, numa associação esotérico-mitológica, em relação ao fogo. Atente-se a que no brasão dos bombeiros do Porto Santo, Funchal, Santana, S. Vicente/Porto Moniz, Ribeira Brava, Calheta a fénix domina, enquanto nos de Câmara de Lobos e Santa Cruz, a identificação é feita através de dois machados. O primeiro município fora do Funchal a dispor de um serviço de bombeiros foi o de Santa Cruz, em 1932, por iniciativa de Joaquim Vasconcelos de Gouveia. Machico só teve igual serviço em 1948, com a primeira bomba portátil, uma oferta do Conselho Nacional de Incêndios. Depois disso, só o município da Ponta de Sol montou, em 1960, o serviço de bombeiros voluntários. Em 1968, o município de S. Vicente aponta a necessidade de criação de uma companhia de bombeiros, mas a falta de meios financeiros impede-o de concretizar o desejo, de forma que o concelho só terá uma companhia de bombeiros em 1994. A cobertura integral dos municípios da ilha apenas ficaria completa nos finais do séc. XX. Todos os municípios dispõem atualmente de uma corporação de bombeiros municipais e todos os concelhos da RAM dispõem de corporações de bombeiros voluntários, fazendo com que o serviço esteja presente em toda a ilha.

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Bombeiros Voluntários Madeirenses Em meados de outubro de 1926, um grupo de condutores profissionais de automóveis resolveu lançar as bases para uma Corporação de Bombeiros Voluntários com sede na cidade do Funchal. Reuniram em Assembleia Geral, no dia 4 de novembro desse ano e viram os seus estatutos aprovados, por alvará de 24 de novembro do Governador Civil. O capitão do porto autorizou que a nova Associação constituísse o núcleo para o manejo e montagem do material de Socorros a Náufragos existente na cidade. O primeiro exercício realizou-se no dia 8 de dezembro de 1926. A Associação e o Corpo de Bombeiros foram instalados no rés-do-chão do palácio do Governador Civil, em S. Lourenço. Em 1946, a Associação e o Corpo de Bombeiros foram transferidos para uma das dependências da Fábrica de S. Filipe na Avenida do Mar, mantendo-se aí por mais de quarenta anos até que o imóvel foi destruído para dar lugar à praça da Autonomia. Em 1989, foram transferidos para uma antiga fábrica, propriedade da Câmara Municipal, até à construção do novo Quartel, situado no Campo da Barca, inaugurado a 5 de outubro de 1992. Em 1997, a Associação torna-se proprietária das instalações. ZONA PRIORITÁRIA DE ATUAÇÃO: Até aos anos 80 do século XX, atuavam em todos os concelhos da ilha que não possuíam corpo de bombeiros. Com a criação ou reativação dessas instituições e com o aparecimento do Serviço Regional de Proteção Civil, dá-se uma reformulação da zona de atuação. Passa a ser o concelho do Funchal, sem prejuízo das competências legais atribuídas aos Bombeiros Municipais; são, ainda, a corporação de reforço de todo o território insular.

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Corpo de Bombeiros Sapadores do Funchal A 10 de março de 1887, sob a presidência do Visconde do Ribeiro Real, numa sessão do executivo camarário, o vereador do pelouro dos incêndios, Dr. José Joaquim de Freitas, apresenta um projeto de regulamentação do serviço de incêndios, propondo e sendo aceite a nomeação interina de Henrique José Maria Camacho para a fiscalização desse serviço. A câmara municipal adquire, então, uma pequena bomba de incêndio para ser adstrita à segurança do recém-inaugurado Teatro D. Maria Pia, bem como diverso material de combate a incêndios cuja estiva é paga à Administração do Cabrestante, a 28 de fevereiro de 1888. O recrutamento para prestação de serviço nos Bombeiros Voluntários é iniciado com um edital datado de 26 de julho de 1888. A 24 de setembro desse ano, a Câmara Municipal aprova o regulamento que regerá a Companhia de Bombeiros Voluntários do Funchal. O final da monarquia e o início da república trouxeram consequências para os então Bombeiros Voluntários do Funchal que, após sérias divergências internas, são extintos, dando lugar a um corpo de bombeiros totalmente tutelado pela câmara municipal e com a denominação de Bombeiros Municipais do Funchal. Nos anos seguintes, os bombeiros municipais passam por alguma instabilidade, perdendo, progressivamente, importância no socorro concelhio, consequência de uma melhor organização do corpo de bombeiros voluntários e vicissitudes financeiras conexas com os orçamentos camarários. Em 1991, é nomeado um oficial do exército para o cargo de comandante que irá proceder à modernização do corpo de bombeiros, contando, para tal, com o apoio da autarquia. A 21 de agosto de 1994, é inaugurado o novo quartel, situado na margem direita da Ribeira de São João, incrementando, deste modo, a importância desta corporação. ZONA PRIORITÁRIA DE ATUAÇÃO: Concelho do Funchal, podendo atuar em apoio das corporações dos concelhos adjacentes: Santa Cruz, Machico, Santana e Câmara de Lobos, sem prejuízo de intervenções noutras zonas, sob sancionamento da Câmara Municipal e decisão prévia da tutela.

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Bombeiros Voluntários de Câmara de Lobos Foi fundada a 13 de agosto de 1949, com a denominação de Associação do Corpo de Bombeiros Voluntários de Salvação Pública de Câmara de Lobos. Foram disponibilizadas umas lojas existentes no rés-do-chão dos paços do concelho, à rua de Nossa Senhora da Conceição, para aí ser instalado o quartel dos bombeiros. Estas instalações haviam de ser aumentadas, em 1961, através da cedência da loja contígua ao quartel, na rua Serpa Pinto nº1, onde instalou o dormitório do piquete noturno dos seus soldados. Em 1989, são dados os primeiros passos para reativar o corpo de bombeiros de Câmara de Lobos, mas só a 12 de julho de 1991, com a inauguração da sua sede, é que a Associação de Bombeiros Voluntários de Câmara de Lobos, inicia, efetivamente, a sua atividade. No dia 3 de fevereiro de 1994, o Governo Regional da Madeira, através da resolução 70/94, declara-a instituição de utilidade pública. O atual quartel, situado na Rua Frei Pedro da Guarda, foi inaugurado no dia 21 de julho de 2008. ZONA PRIORITÁRIA DE ATUAÇÃO: a área do Concelho e de intervenção, em apoio ou secundária, os concelhos adjacentes - Funchal, Santana e Ribeira Brava. Possuem uma secção destacada na Freguesia do Curral das Freiras.

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Bombeiros Municipais de Santa Cruz A corporação é instituída oficialmente a 22 de janeiro de 1932 e o Presidente da Câmara assumia o seu comando, por inerência de cargo. Esta situação só foi alterada recentemente, com o chefe mais antigo a assumir o comando. Durante a maior parte da sua existência, os bombeiros ocuparam instalações precárias na margem direita da Ribeira de Santa Cruz. As instalações do novo quartel foram inauguradas no dia 11 de novembro de 2001. Os seus quadros são totalmente compostos por bombeiros profissionais. ZONA PRIORITÁRIA DE ATUAÇÃO: Concelho de Santa Cruz e concelhos limítrofes: Machico, Santana e Funchal, em apoio dos bombeiros locais após sancionamento da autarquia.

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Bombeiros Municipais de Machico A 9 de outubro de 1960, é fundado o Corpo de Bombeiros de Machico, mas a primeira escola de bombeiros só arrancou em 1968, tendo os novos bombeiros recebido as divisas, os machados e os capacetes, a 9 de outubro de 1970. O quartel funcionava na vila de Machico, onde, hoje, se encontra a Sala de Atividades Culturais da Junta de Freguesia e a única viatura era deixada à frente da Câmara Municipal, a 60 metros do quartel. No dia 13 de março de 1999 é inaugurado o novo quartel, permitindo o crescimento da Corporação. ZONA PRIORITÁRIA DE ATUAÇÃO: o concelho de Santa Cruz e, como zonas de intervenção, em segundo alerta, os concelhos do Funchal e de Santana.

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Bombeiros Voluntários da Calheta A constituição da Associação de Bombeiros é autorizada no dia 13 de janeiro de 1995 e, no dia 2 de abril desse ano, a Corporação dos Bombeiros abre, oficialmente, as suas portas ao socorro da população. Ficaram aquartelados no Arco da Calheta, no rés-do-chão de uma moradia. O novo quartel foi inaugurado a 18 de maio de 2011 e é um dos mais modernos quartéis da Madeira. ZONA PRIORITÁRIA DE ATUAÇÃO: o concelho da Calheta, servindo como apoio os Concelhos da Ponta do Sol, de Porto Moniz e de São Vicente.

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Bombeiros Voluntários da Ribeira Brava Formada a Associação Humanitária, foi fundada a corporação de Bombeiros da Ribeira Brava, em 1986, se bem que o Corpo de Bombeiros só começasse a funcionar em 1988, em instalações cedidas pela Câmara Municipal. A 9 de julho de 2001, foi inaugurado o novo quartel que tem a particularidade de parecer um navio, cuja proa aponta para a nascente da ribeira. ZONA PRIORITÁRIA DE ATUAÇÃO: em primeira intervenção, nos concelhos da Ribeira Brava e Ponta do Sol, prestando, também, apoio aos Concelhos da Calheta, Câmara de Lobos e São Vicente.

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Bombeiros Voluntários de São Vicente e Porto Moniz A Associação foi criada em 1994, como Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de São Vicente, tendo “Porto Moniz” sido incluído em janeiro de 1995. O 1º curso de bombeiros teve lugar em agosto desse ano. Estiveram sedeados, numa primeira fase, junto à Escola Agrícola e, em 2000, no novo quartel. Possui uma secção na Santa do Porto Moniz que tem um piquete permanente durante 24 horas. ZONA PRIORITÁRIA DE ATUAÇÃO: em primeira intervenção, São Vicente e Porto Moniz, e, em segunda intervenção, Santana, Calheta e Ribeira Brava.

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Bombeiros Voluntários de Santana A 8 de dezembro de 1985, juntou-se um primeiro grupo para criar uma Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Santana, mas só em março de 1989, se abriu a 1ª escola de bombeiros que prestaram juramento, no dia 8 de dezembro desse ano. Ficaram sedeados numa garagem, cedida pela Câmara, junto à Polícia. A falta de condições obrigou a Associação a construir mais um andar, com o apoio da Câmara Municipal e da Proteção Civil. O novo quartel foi inaugurado em 2007, sendo considerado um dos melhores da Região. ZONA PRIORITÁRIA DE ATUAÇÃO: concelho de Santana, atuando nos concelhos de Machico, Funchal e São Vicente, em segunda intervenção

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Bombeiros Voluntários do Porto Santo Até à data da fundação da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Porto Santo, em 1996, o socorro na ilha era assegurado pelos bombeiros privativos adstritos ao aeroporto. O corpo de bombeiros foi criado, tendo os primeiros 50 bombeiros jurado fidelidade, no dia 19 de julho de 1996. Ficaram, primeiro, aquartelados na antiga aerogare do Porto Santo, tendo sido deslocados, já no século XXI, para um armazém situado à entrada da vila. Hoje, são detentores de um quartel completamente modernizado. ZONA DE ATUAÇÃO: ilha do Porto Santo

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CONCLUSÃO. Preito e Homenagem aos Soldados da Paz. Quem és tu? ... “A abnegação é o mais nobre dos sentimentos.” João de Deus Dedicado à briosa Corporação dos Bombeiros Municipais, na noite da festa artística de José Dubini, no Teatro Circo e recitada pela distinta actriz. Dora Vieira. Quem és tu que tanto te sacrificas!? Que expões a tua vida, sem vaidade!... Quem és tu que corres pressuroso A cumprir o teu dever com lealdade?! Quem és tu… que ao vento, à chuva, ao frio Com coragem alva, destemida, Segues sempre a cumprir o teu dever Que tens por lema, Vida por Vida!? É grande, grande teu puro nome! É como raio de luz que o sol tece! Trazem sempre na fronte sorridente A fama dos heróis que não fenece.

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É bem nobre, alva a tua missão! Para ti, não há pátria, nem fronteira! Tens apenas por lema o sumo bem! Por guia, verde e rubra bandeira. Bendito sejas tu, mas quem és? Que de fronte erguida… altaneiro! Não vacilas ante o perigo! Qual o teu nome Quereis saber! Senhores… é o bombeiro Funchal 19 de dezembro de 1933 Tito Lívio (Vasco F. Campos e Alberto Malho, O Bombeiro Madeirense e a sua História, Funchal, 1963,p.108)

Se tivermos em conta que o lema dos soldados da paz é “vida por vida”, o que significa um total desprendimento vital em favor da salvação e preservação da vida, teremos de reconhecer a nossa admiração por esta atitude e serviço comunitário que a justifica. Desta forma, queremos retribuir este serviço e abnegação total, com o nosso reconhecimento através deste preito e homenagem, trazendo para a memória do presente os feitos do passado, em que a sua ação foi fundamental e justificadora do epiteto que ainda ostentam de soldados da paz. O poema de Tito Lívio, escrito em 1933, continua ainda a ser uma memória viva desta homenagem à abnegação dos soldados da paz, os bombeiros.

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O Machado e a Fénix RIBEIRO, João Adriano, (1999) As Ilhas Desertas, Lugares Pitorescos 4, Calcamar RIBEIRO, João Adriano, (2001), Machico: subsídios para a história do seu concelho, Machico, Câmara Municipal de Machico. RIBEIRO, João Adriano, (2005), S. Vicente: subsídios para a história do concelho, S. Vicente – Madeira, Câmara Municipal de S. Vicente, D. L. RIBEIRO, João Adriano, (2006) Calheta: subsídios para a história da freguesia, [s. l.], Calcamar, D. L.. RIBEIRO, Orlando, (1985), A Ilha da Madeira até meados do século XX, Lisboa (1ª edição em 1949) SANTOS CRUZ (Francisco Ignacio dos), Memoria sobre os differentes meios de atalhar os incendios, de salvar as pessoas, e os objectos delles ameaçados, e de os prevenir quanto possivel, etc, 1850, Academia de Sciencias de Lisboa. SEQUEIRA, Manuel Braz, (1913), Opusculo de Propaganda. Argumento a favor da Arborização obrigatória das serras da ilha da Madeira, Funchal. SILVA, A. Marques da, (1989) “ Preocupações Ecológicas do Estrela do Norte”, in Atlântico, 19 (1989), 203-206. SILVA, Cecílio Gomes da, (1995) «A destruição dos ecossistemas e os fogos florestais», in Jornal da Madeira, Magazine, n. ºs 62-65, 4, 11, 18 e 25-XI-1995. SILVA, Cecílio Gomes da, (1990), Uma enxurrada começa com uma gota, Islenha, 07, 118-126. SILVA, Cecílio Gomes da, (2000), Floresta Madeirense Património natural. Narrativa de Mistério, ficção e Realidade, Islenha, 27, pp.27-39. SILVA, Fernando Augusto da (1934), Dicionário Corográfico do Arquipélago da Madeira, Funchal, pp.227-237. SILVA, Fernando Augusto da, (1990), O Revestimento Florestal do Arquipélago da Madeira, Funchal, 1946, parcialmente publicado in Eduardo de Campos Andrada, Repovoamento florestal no arquipélago da Madeira (1952-1975), Lisboa, pp.133-152. SOUSA, Abílio Barros e, Plano de Arborização do Montado do Barreiro, Funchal, 1946. TEDIM, Fantina (2008) - The management of forest fires in protected areas in Portugal, in R.Efe, G. Cravins, M. Öztürk, I. Atalay (eds.), Natural Environment and Culture in the Mediterranean Region, Cambridge Scholars Press, pp.473-488. TEDIM, Fantina; Herrmann Lúcia (2007) - A Comparative Analysis of Forest Fire Policies in Protected Areas in Portugal and in the State of Santa Catarina (Brazil): A General Approach, Territorium, 14, pp.75-83. VELOSA, José Ezequiel, (1949) Plano de Melhoramento para a ilha da Madeira, DAHM, pp.190-191. VELOSA, José Ezequiel, (1949), O Fogo nas serras foi de todos os tempos, DAHM, 333-334. VIEIRA, Alberto, (1991), As Posturas Municipais da Madeira e Açores dos séculos XV a XVII. Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, Angra do Heroísmo, IHIT, vol. XLIX, pp.11-52., VIEIRA, Alberto, (1998), Do Éden à Arca de Noé, Funchal, CEHA. VIEIRA, Alberto, (2001), Os Bombeiros Voluntários Madeirenses: breves apontamentos históricos, Funchal, Associação dos Bombeiros Voluntários Madeirenses. VIEIRA, Pedro Almeida (2006) – “Portugal: O Vermelho e o Negro. A Verdade Amarga e a Dolosa Realidade dos Incêndios Florestais”. Dom Quixote, Lisboa. WATTS, D, (1985), Environmental Change. Slavery and Agricultural Development in the Caribbean since 1492, Cambridge (com edição em castelhano em 1992). WHITE, Richard, (1980), Land use, environment and social change, Seattle. CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA

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O Machado e a Fénix WORSTER, D., (1985), Nature’s Economy: A history of western cological ideas, Cambridge.

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3.4. Transportes e Desastres aéreos. «O Raid aéreo Lisboa-Funchal. 22 de Março de 1921. (Relato feito por Sacadura Cabral na Sociedade de Geografia)», in Revista do Ar, n.º 254, XII-1959, pp. 151-161. Aquila Airways Guide to Madeira. Middlesex: Maurice Linton Publications, 19--]. 60. CAIRES, Duarte, «Memórias de um aeroporto», in Jornal da Madeira, Magazine, n.º 26, 11-II-1995, pp. 8-13. CANAVIAL, Conde, Uma Crise Agrícola, um Caminho aéreo e uma sociedade anónima, Funchal, 1876. Corrêa, José Pedro Pinheiro, Gago Coutinho. Percursor da Navegação Aérea, Lisboa, 1965.

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O Machado e a Fénix FERNANDES, Maurício de Barros, «A Madeira e os Barcos Voadores», in Islenha, n.º 21, 1997, pp. 35-44. HULL, Norman, Eagles Over Water: From Solent to the Sun - Story of Aquila Airways (Transport), Londres, 1994. LAPA, Albino, Aviação Portuguesa, Imprensa Libanio da Silva. Lisboa. 1928. NUNES DA MATA, José. Navegação aérea entre Portugal e a Ilha da Madeira. Folheto. Lisboa, 1921. PAULINO, Francisco Faria e Susana Silva, 2000, Aeroporto da Madeira. A História de um Sonho, Funchal. TADEU, Viriato, Quando a marinha tinha asas...: anotações para a história da aviação naval portuguesa (1916-1952). Lisboa: Ed. Culturais da Marinha, 1984. WILHELM, Eberhard Axel, 1948- O desaparecimento, em 1958, de um hidroavião com destino à Madeira e a homenagem a um passageiro alemão. Girão: revista de temas culturais do concelho de Câmara de Lobos. Câmara de Lobos: Câmara Municipal. II: 1 (2005) 43-50.

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ANEXO: DOCUMENTOS E TEXTOS COMO TESTEMUNHOS PROBATÓRIOS.

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O Machado e a Fénix 1593. Incêndio

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O Machado e a Fénix 1803. ALUVIÃO DE 1803 VISTA POR D. JUAN ESTEVAN FERNANDES.

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FERNANDES, D. Juan Estevan, 9 d’Outubro- A Aluvião de 1803, in Diário de Noticias, n.º 13090, de 9 de outubro de 1917, p.3.

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O Machado e a Fénix 1805: UM POEMA À TRAGÉDIA DE 1803. “Lançando as vistas sobre o quadro horrendo, Em que o triste Funchal se me figura, Dentro no peito o coração, tremendo Sinto estalar de susto e de amargura! ... E haverá tão ligeira e sábia pena, Que pintar possa do Funchal a scena? (…) Entre tanto aparecem demolidos Milhares de edifícios diferentes; Aparecem com eles confundidos Gelados corpos de insepultas gentes; Aparecem as ruas atulhadas De animais e de gentes laceradas. Nodosos troncos, fortes arvoredos, Que as águas arrastaram, aparecem De mistura com rígidos penedos Nas ruas, que já ruas não parecem: Immensos lagos d’ágoas paludosas Cercao tantas ruínas lamentosas (…) Funchal, triste Funchal, teus torpes crimes Desafiam a Cólera Celeste; D’hum castigo maior tu não te eximes, Em quanto não lançares fora a Peste, Essa Peste Infernal, que contagia Dos teus filhos a plácida harmonia. Lança longe de ti a Peste horrenda Dos Vicios Avernaes que te tem feito Réo de enorme delito ante a tremenda ‘Vista dum Deus eterno, a quem respeito; Teme o rigor dum Deus, que sem esp’rança De emenda, move a espada da Vingança. (…) Ah! se tu, ó Funchal, tanto fizeres, Serás mais que feliz para o futuro; Abundâncias, delícias e prazeres Tudo em grossos montões, tudo te auguro; Toma tu novo ser e nova face , He da Virtude que a Ventura nasce.” Vasconcelos Francisco de Paula Medina e, Sextinas elegíacas ao sempre memorável estrago da cidade do Funchal da ilha da Madeira na calamitosa aluvião do dia 9 de Outubro de 1803, Lisboa, na Impressão Régia, Ano 1805.

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O Machado e a Fénix 1815. A ALUVIÃO DE 1815 PELA VOZ DO PRESIDENTE DA CMARA DO FUNCHAL. Senhor. Afflicta, e consternada vai aos Pés do Throno de V.A.R. a Camara da Cidade do Funchal da ilha da Madeira, como Magnanimo Pai dos seus Vassalos, a supplicar ancioza hum prompto, e efficaz reemedio aos malles, q’ tanto oprimem os disgraçados habitantes desta Colonia: persuadida de que V.A.R. applicará benigna hum indulgente Ouvido á triste narração dos mais disgraçados sucessos, ella se esforça em os relatar a V.A.R. com aquella verdade, zelo dos interesses da sua Real Coroa, e dezejos de felicidade publica, que em todo o tempo tem caracterizado esta corporação Municipal, Ninguem, Senhor, se pode recordar de huma epoca mais disgraçada para este Paiz do que a do prezente tempo. Parece que a natureza cançada de ser liberal para com os seus habitantes naquelle tempo em que os nossos ascendentes gozavão deste dom preciozo com que ella os felicitava, prodigalizando-lhes abundantes, e preciozas colheitas, quer agora reparar os excessos que fez em benefício delles à custa das lagrimas que teim feito verter aos dezamparados Lavradores, e a todos em geral, pelas escaças novidades que constantemente tem alcançado em paga de seus peniveis trabalhos. A memoravel catastrofe de 9 de Outubro de mil oito centos e tres foi hum infausto presagio de tudo quanto estava para nos acontecer. Foi então que a Liberal Mão de V.A.R. acodio promptamente ás ruinias desta Cidade, fazendo que dos seus Reaes Cofres sahisse todo aquelle cabedal que fosse precizo para as reparar; e por outro qualquer motivo, q’ V.A.R. julgasse acertado exhaurir os mesmos Reaes Cofres, seria o seu maior prazer socorrer a disgraça, e a mizeria daquelles Vassallos, que V.A.R. visse marcados com o Sêlo da mais cruel infelicidade. Desde aquelle terrivel anno tem sempre corrido assás calamitozo para hum Povo que a maior parte delle he por extremo pobre, e que só o excessivo trabalho a que se sujeita, lhe que o faz ainda poder subsistir em huma Terra onde elle não pode cultivar se não pequenas porções della, por ser incompativcl com a aspereza do local cultivar grandes terrenos. Cada lavrador apenas pode aqui cultivar n’um anno aquele espaço de terra, que noutro qualquer lavrador em differente paiz cultivaria em menos de hu anno; e ainda assim mesmo arrisca demaziadamente a sua vida luctando em huma parte com enormes rochedos, para deles sacar aquella pedra q’ em outras partes vai suster as pequenas porções de terra que ainda nelle existem. Desde aquelle mesmo tempo até o prezente as immensas agoas o tem sempre delapidado, reduzindo-o a tão exteril situação, que só os braços de homens costumados a hu penozo digo a hum tão penozo fabrico tem sido capazes de lhe dar algum remedio. Por outra parte as immoderadas estações, que irregularmente tem agitado huma atmosphera costumada ate então a influir suavemente sobre as melindrozas produções deste mesmo Paiz, tem tirado ao pobre, e ao rico todas as esperanças de poderem viver sem aquellas afflições que nascem da indigência, tolhendo a todos o meio de poderem reparar com novas plantações o estrago que tem havido em todas as vinhas, já occazionado pelas mesmas agoas, e já expessas, e estragadoras nevoas, e arrebatados ventos, que em tempo não esperado sempre tem queimado, e destruído as suas tenras varas quando todos geralmente se congratulavão de tirar dellas com abunancia aquelle preciozo vinho que faz a baze fundamental de todo o Commercio desta ilha, e da subsistência dos seus infelices habitantes. A carestia dos viveres ocazionada pelas tristes revoluções do Mundo, e muito principalmente pela guerra da America, tem sido nesta ilha tão excessivas que muitas pessoas da ultima classe perecerao victimas de huma pura necessidade, e as outras de todas as classes tem arrostado hum montão de incommodos para se salvarem do naufragio que lhes preparava tão horroroza teinpcstade, e da insaciavel cubiça da corporação do Commercio desta ilha que a cada passo se está valendo dos meios que lhe offerece a Falta de generos nacionaes para as imimolar a os seus sordidos interesses. As doenças epidemicas desde que as Tropas Bretanicas dezembarcarão neste terreno tem mortiferamente graçado por toda a ilha acumulando a os seus habitantes malles sobre malles que talvez se não possão extinguir se não para as gerações futuras. Tudo isto, e a inda muito mais que deixaimos em silencio para não parecer-nos importunos tem appresentado aos olhos do Publico hum lastimozo quadro de que V.A.R. talvez não tenha a menor idea, por termos sempre querido afastar das prespicazes vistas de tão clemente Soberano aquellas mizerias de hum Povo inteiro, que necessariamente havião de Consternara V.A.R.; mas coino o mal se tem aggravado a ponto de já não lhe podermos dar remedio se não debaixo das sabias Determinações, e

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O Machado e a Fénix Benevolo influxo de V.A.R. O maior perigo he da Ponte do Torrião para sima onde, para a parte de Leste, apenas este anno se tinha começado huma pequena porção de muralha que inteiramente dezapareceu, e por isso se perderão varias porções de terra cultivada, huma caza que de novo se tinha construido, e felizmenle escapou a Ponte que pela sua incrivel fortaleza rezistio a hum impulso d’agoa, que todos julgavam capaz d’arrazar toda a Cidade: e por não se terem concluido as murallias que se principiarão pela parte opposta, ficarão quaze todas arrazadas, sendo precizo para as dezaterrar outro tanto cabedal quanto se gastou na sua construção. Duas Pontes de páo, que estavão nesta Ribeira, huma chamada a Ponte de Páo do Torrião, e outra chamada a Ponte da Rua dos Ferreiros igualmente dezaparecerão no mesmo momento em que as agoas correrão com mais abundancia: ficou porem hum pouco arruinada, mas em soffrivel estado de se tranzitar por ella, outra Ponte de páo, que nesta mesma Ribeira existe chamada a Ponte da Praça; e devemos atribuir este sucesso a humespecial indulto da Providencia que não quiz flagellar mais hum Commercio tão atropelado, qual he o desta Cidade, difficultando-lhe os meios de se conduzir todos os generos, que se importão e, exportarão nella, por serem esta Ponte, e a da Rua dos Ferreiros justamente construidas no meio desta mesma Cidade, e em pouca distancia da Marinha. A ultima Ribeira, que lhe a de Nossa Senhora do Calháo, por estarem inteiramente concluidas as suas muralhas não padeceu ruina alguma. Resta-nos, Senhor, os dois pequenos Ribeiros de que já fizemos menção, hum dos quaes corta pelo centro da Cidade, e o outro quaze nos confins della pelo sitio da Nora, na Feguezia de Nossa Senhora do Calhao: tanto hum como outro, por falta de muralhas que contivessemsuas agoas, fizerão inexplicaveis estragos. O primeiro rompeo na Rua da Larangeira alem da Igreja do Carmo para a parte de Leste, innundou toda aquella Rua, e levou após de sí immenso rochedo com que foi aterrada toda a Rua do Ribeirinho ate ao Beco da malta, e d’alli, por aquelle messmo Beco se comonicou ao largo do Pelourinho, e por isso apezar de hum grande cano por onde dezembocarão as agoas para o calhao chegarao neste lugar, que he hum largo consideravel a sete pés de altura, tendo estas ruinas de extenção desde a referida Rua da laranjeira até aquelle lugar para sima de cento e oitenta braças. Esta inesperada corrente por meio de huma Cidade q’ em todas as lages de suas Cazas tem generos de muito valor, pode por si mesma suscitar huma idéa do prejuizo que soffrerão os seus habitantes. Não foi menos consideravel a perda occazionada pelas agoas do pequeno Ribeiro chamado da Nora, pois ainda que a Cidade neste pontto he por extremo estreita, por comprehender só trez ruas, e quatro ordens de cazas, elle as innundou de tal forma, que arrombando as portas das loges, e entrando pelas que estavão abertas, nada deixou em bom estado do que ellas continhão. A grande Rua de Santa Maria, que lhe limitada a Leste por huma elevada mas pequena Ponte de Pedra, por onde costumão passar as agoas deste l-mesmo Ribeiro, perdendo estas a direcção da dita Ponte, e entranhando-se pela parte da mesma rua ficou inundada de tal forma, que tão bem subio odepósito das agoas a mais de cinco pés de altura, fazendo a todos hum prejuizo incalculavel e muito principalmente aos Tendeiros que disgraçadamente perderão todos os generos, que tinhão nas suas Tendas. Tal foi o rezultado da Alluvião de vinte e seis de Outubro proximo, relativamente a esta Cidade. Os Lavradores, Senhor, ainda se lamentam mais da sua sorte do que os próprios Cidadãos: elles virão copiozas, e disconhecidas agoas arrancar-llies pelas raizes os idozos troncos, e precipitar das altas montanhas as eximias penedias, que envolvidas com as mesmas agoas arrazavão os valles, e fazião perder a maior parte da sua cultura: os gados que se achavão dispersos em lugares mais eminentes, forão arrojados debaixo destas ruinas, e apezar da cautella q’ todos tomárão na salvação de suas vidas, ficarão algumas pessoas perigozamente feridas, alem de dois rapazes que perecerão em hum cazal da Freguezia do Estreito de Câmara de Lobos, por ser incompativel com a violencia das quebradas poder-se-lhes dar o menor socorro. Cada hum destes Lavradores julgando-se absolutamente disgraçado parece querer proferir iimprecações contra a sua propria existencia, e abandonar hum Paiz que tão ingrato se tem mostrado ao industriozo, e penivel meio com que elles tem procurado beneficiallo, consagrando-lhe tantas fadigas, e exgotando com elle os ultimos restos das suas forças. E será possível, Senhor, que a malles tão estrodozos que este Povo tem soffrido, se lhe ajunte tantos impostos, quaes são a Deciina Urbana, a Deciina Fuileraria e Ciza, o Finto, e outros mais impostos desta natureza, quando os Augustos Predecessores de V.A.R.

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O Machado e a Fénix em ocaziões de menor estrago por calamidades publicas, e circunstancias menos urgentes, perdoarão aqueles mesmos impostos que então havião como se mostra dos Documentos numero primeiro e segundo? Ah! que se V.A.R. prezeinciasse a mizeria em que todos gemem neste Paiz; se visse o dezamparo em que se acha um Povo, q’ tanto tem concorrido para prosperar as suas Finanças; se V.A.R. tivesse prezente os clamores do Publico que não cessa de lastimar a sua disgraça; então comovendo-se dlle V.A.R. pela sua Inacta e Paternal Beneficencia, não só o alliviaria deste pezado jugo, mas inda mesmo mandaria repartir avultadas somas dos seus Reaes Cofres em favor e soccorro de tantos infelices. Senhor: se V.A.R. não quer ver inteiramente perdida, e abandonada huma cultura, que tanto interessa os seus Reaes Cofies, e que perdida ella está, perdida a rameficação do Bem Publico, decahido inteiramente hum Commercio, que ainda a muito custo se conserva, e por consequência quaze exticntas as Rendas da Admenistração, e Arrecadação da Real Fazenda deste Estado; se V.A.R. Quer ter toda a gloria de conservar huma Colonia, que tem fama em toda a parte do Mundo pela singularidade das suas produções; se não Quer ver finalmente esta tão importante porção dos seus fieis Vassalos luctar entre os horrores de uma horroza fome pela falta de meios de comprar os viveres, sirva-se V.A.R. derrogar aquellas Leis que lhe impoem tão pezadas contribuições, para ao menos nesta parte suavizar tão enormes desgraças, e os grandes Trabalhos que tem em dezentullhar taes ruinas, para reparo das quaes não tem feito prezentemente o menor dezembolço os abundantes Cofres de V.A.R., pois tendo disso chamado todas as Ordenanças a este diario trabalho, os mais pobres ajudão com seus braços a salvar a Cidade de tão grande perigo, e os outros pagão o donativo de quuinhentos reis todas as vezes que por seu turno são obrigados a esta defeza, digo obrigados à defeza della. Este Povo, Senhor, que a pezar de todos os sacrificios sempre tem feito exforços para prosperar o Estado, promovendo com incansável trabalho huma tão dificil, e pezada Agricultura, auxiliando por meio della o Commercio nacional, e que só para conservar sein mancha a gloria do Nome Portuguez he que tem succumbido inteiramente aos penetrantes golpes da Disgraça, este Povo atenuado por molestias, e exterilidades; opprimido por fomes, mizerias, e alluviões; este Povo, Senhor, que se apprezenta a V.A.R. em triste, e lastimozo quadro despenhado da elevada carreira de sua brilhante Fortuna em hum cahos de infelicidades; acolhe-se todo elle á incomparavel sombra de seu Augusto Soberano, e cheio da mais consoladora esperança humildemente implora hum prompto, e efficaz remedio, que atalhando o progresso de sua grande disgraça o anime a prosseguir em novos, e tão indispensaveis trabalhos; devendo igualmente ser da Alta Concideração, e Indefectivel Justiça de V.A.R. que os Officios, e Empregos Publicos desta ilha, tanto seculares como Eccleziasticos sejão todos conferidos a os filhos della, e não áquelles que nunca a beneficiárão, nem tem concorrido para a salvar de suas ruinas. Deos Goarde a V.A.R. muitos anos. Funchal em Camara seis de Dezembro de mil oitocentos e quinze. = Joaquim Jozé Nabucho d’Araujo = Joze Joaquim Esmeraldo =Antonio Joze Spinola de Carvalho = Pedro Agostinho Teixeira de Vasconcellos = Gregorio Francisco Perestrello e Camara = Antonio João da Silva Costa = Francisco Xavier Amorim = Francisco da Conceição. He quanto se contém na referida reprezentação que aqui fiz registar, e á propria iiic reporto. Funchal 5 de Julho de 1816. Bernardino Joze Pero da Camara, Escrivão da Camara, o fiz registar. Bernardino Joze Pero da Cainara CAMARA, José Bernardino Pereira da, 1816, Relatório do Presidente da câmara do Funchal de 5 de julho, publicado em “A aluvião de 1815: antologia”. Revista Atlântico. N.º 3 (1985), p. 234-238.

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O Machado e a Fénix 1817: A MADEIRA VISTA POR PAULO DIAS DE ALMEIDA

Toda a ilha da Madeira é cortada de imensas ribeiras e ribeiros, a maior parte delas só muito caudalosas no Inverno, formada de altas montanhas precipitadas e enormes rochedos descobertos, Todas as praias são de calhau miúdo, algumas de calhau muito grosso e só quando se acabam as grandes levadias, aparecem pequenas praias de areia preta, que com as enchenets e vazantes das marés, se desfazem, tomando a primeira forma de calhau. ( ...) A quantidade de água que achei no ano de 1815, reunindo todas as fontes do Rabaçal, enche uma levada de dois palmos quadrados. Talvez hoje tenham diminuído por lhe terem queimado a maior parte das árvores e inatas por cima do Paúl. A destruição dos arvoredos é geral e nenhumas providências se têm dado a este respeito; os cortes das lenhas continuam sem ordem; os carvoeiros reduzem a carvão esses restos das árvores, que se conservam ainda nesses lugares mais escabrosos (sic), sem haver quem atalhe este mal remediável. As grandes cheias que sucessivamente tem havido, têm a sua origem na destruição dos arvoredos e as montanhas que não há muitos anos vi cobertas de arvoredos, hoje as vejo reduzidas a uni esqueleto. O Paul da Serra, único terreno reservado para os prados do público, se acha hoje sem matas. Tem chegado a tal ponto a negligência das Câmaras que, consentem não só que se cortem as giestas em flor, mas até que se lhes larguem fogo. O Paúl é o receptáculo da maior parte das fontes, e das mais abundantes, bastante motivo para merecer a atenção das camaras Nos meses de Maio a Julho todos os anos os nevoeiros consomem uma grande parte das novidades, principalmente as uvas quando estão em flor, formando um cordão em torno da ilha e ficando o centro descoberto. O centro da ilha se acha todo descoberto de arvoredo, com apenas algumas árvores dispersas, e isto em lugares onde os carvoeiros não tem chegado. Se tivessem posto em execução as Ordens e Cartas Régias relativas à conservação dos arvoredos, não teriam a cidade e as vilas sofrido os estragos do memorável aluvião de 1803. A experiência tem mostrado que a falta de arvoredos pelas margens das ribeiras e declives dos montes que sobre elas desaguam, é a causa da imensidade de rocha e terra que com as chuvas vem atulhando as mesmas ribeiras, cujo alveo, hoje está superior às ruas da cidade. A praia do Funchal, se tem alongado ao mar, desde 1803 até 1817, 150 palmos e em partes 250 e mais , com os entulhos que as ribeiras depositam. Em 30 de Outubro de 1815, pelas 5 horas da tarde, houve um aluvião que levou quarenta casas e arruinou outras, inundando ruas, e se fosse à noite muita gente morreria afogada. A ribeira de S. Paulo chegou a trazer uma coluna de agua e rochedos, que ocuparam a largura de 60 palmos e 30 de alto. Entre as pedras que ficaram no leito da ribeira, junto ao mar, havia uma de 20 palmos quadrados, e de 10 palmos muitas. Esta enchente durou uma hora. A maior parte dos caminhos são pelos altos dos lombos, atravessando ribeiras e ribeiros, muito mal delineados, e muitos em rochas precipitadas, outros em salões, onde as chuvas têm feito escavações de mais de 30 palmos de alto. (...) No Inverno com a ribeira cheia ficam sem comunicação com o Porto do Moniz, por não terem ponte. A serra desta povoação é linda e ainda conserva muito arvore- do antigo, apesar da destruição que lodos os dias fazem os habitantes . E nesta serra onde há muitas e abundantes Fontes, que se perdem podendo ser aproveitadas em beneficio da cultura.

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O Machado e a Fénix Na origem desta ribeira é onde estão as copiosas fontes do Rabaçal, que igualmente se podem aproveitar, Da paróquia do Porto do Moniz à igreja da Ribeira da Janela, são três quartos de légua e gasta-se uma hora. (…) É fundada em um pequeno plano, cortado ao centro pela grande ribeira de Machico e dominada por altos montes. Pelo aluvião de 1803 foi a maior parte da vila alagada, a paróquia inundada por maneira que os altares ficaram cobertos de água, algumas casas se abateram, a grande ponte de três arcos demolida e arrebentou, e deitou por terra a muralha que guardava a vila, As casas que se não abateram ficaram arruinadas, e aquelas que estão ao Poente da ribeira, são muito húmidas por causa dos inhames que conservam nos quintais, planta esta que só se produz com muita água. Tem uma boa baía, onde por vezes têm fundeado alguns corsários. O Forte do Desembarcadouro ou de São João Baptista, a artilharia que tem está toda no chão, e a do Forte do Amparo, que está no centro da praia, acha-se no mesmo estado. As peças são reprovadas, as balas que têm são de calibre de outras peças, e as palamentas em muito má arrecadação. As serras desta vila estão descobertas, só se conservando os arvoredos das Funduras. Porém isto deve-se a Manuel Telo Cabral, cujo grande entusiasmo pela cultura o obrigou a comprar aquele sítio, para assim escapar aos carvoeiros que destroiem as matas com os fogos. E nesta freguesia que o Corregedor Veloso fez introduzir a batata inglesa e que hoje se tem propagado muito em toda a ilha, assim como introduziu a plantação dos pinheiros, que se não tem continuado por falta de energia da Câmara da mesma vila, o que deu causa a perderem-se, em bem pouco tempo, até as próprias sementes. 0s terrenos que naquele tempo foram cobertos de pinheiros, hoje estão reduzidos a barreiras, a escavações profundas, indo a terra sucessivamente para o mar e em poucos anos nem pinheiros produzirá. (…) Quarto distrito da Ribeira Brava As comunicações destas freguesias entre si são muito perigosas e por entre a ribeira. A comunicação com a Serra de Agua é péssima e só se passa bem no Verão quando a ribeira trás pouca água. Os caminhos em geral são muito mal delineados, estreitos e com precipícios. Em muitas partes os cavaleiros só passam a pé e a povoação da Serra de Agua fica no Inverno incomunicável por muitos dias por causa da grande ribeira. É aqui onde se conservam algumas matas de soberbos arvoredos e estas se tem destruído muito pela nova estrada, que se anda fazendo do alto da serra do Estreito de Câmara de Lobos para São Vicente. Se não derem boas previdências a respeito dos cortes de madeira e carvoeiros, em pouco tempo consumirão estes restos de arvoredos e secar-se-ão as muitas fontes que nascem naqueles rochedos e estas se podem aproveitar a benefício da cultura das freguesias vizinhas. (...) A cultura das vinhas na Calheta é toda em precipícios formando sucalcos de pedra pelas encostas das lombadas e têm muitas partes abandonadas, por que a terra tem ido com as cheias para o mar. O alto da serra se acha inculto, com os caminhos pessimos e perigosos. Os terrenos dos Prazeres, Maloeira e Raposeira são lindos, com muito pouco vinho., pois a grande parte da cultura ali é de verduras, legumes e batatas.

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O Machado e a Fénix E nestas freguesias que as mulheres trabalham mais que os homens. São elas que levam os gados ao pasto, que conduzem o gado a serra. que fazem o corte das lenhas, e por isso são mais robustas e os homens muito acanhados (.-.I A freguesia da Ponta do Pargo tem magnificos terrenos incultos pela falta de água que nem para os moinhos têm e são obrigados a levar o grão a moer ao Porto do Moniz. Têm planos extensos entre as povoações sem cultura. Abaixo da igreja paroquial de S. Pedro há Lima grande porção de terra que podiam semear de pinheiros, para sustentar as terras que continuadamente vão para O mar, pois há partes em que já não. (...I As Câmaras nesta parte têm sido muito descuidadas e não obrigam a cultivar as pessoas que o podem fazer, concedem licenças a troco de 400 reis que esta custa, para cortarem o arvoredo que quizerem, com a condição a que seja distante da água, e isto não se observa porque os meirinhos da serra são sempre campónios pobres e dependentes dos cortadores. O mais que sucede é proceder-se à devassa, e nela geralmente ninguém é compreendido. Assim também fecham os olhos a proibição dos carvoeiros que continuadamente deitam fogo debandado na serra. Isto tem sucedido muitas vezes e são estes que tem destruido a maior parte dos arvoredos das serras. Fazem o carvão em covas feitas na terra, e como não há água nos sítios onde o fabricam, com muita facilidade se comunica o fogo pelas raizes das árvores, e com muita dificuldade se apaga, por serem enormes os rochedos, onde se não podem fazer as alertas. Tem sucedido arderem lombadas inteiras e chegado o fogo AS casas, como sucedeu no Curral das Freiras no ano 1807, fogo que durou quinze dias. E a não ser os altos rochedos que dividiam as outras freguesias seria um continuado fogo e sem remédio. Também tal tem sucedido em consequência das roçadas que fazem na giesta para queimar e depois semear o trigo. É uma mania introduzida na ilha, que semeada a giesta e ocupada a terra por 5 ou 6 anos, largando-lhe fogo produz melhor pão. Em primeiro lugar não posso conceber que se ocupe certa porção de terra 6 anos, tirando a pouca substancia dela; em segundo lugar largando-lhe fogo e ressecando-a para semearem, de cuja sementeira apenas recolhem a semente. Enfraquecem a terra com o fogo e depois a abandonam. Eis aqui de onde procedem as quebradas, porque a ilha é toda cortada de ribeiras e ribeiros, muito próximos uns dos outros, formando altos lombos, e nas encostas deles é onde fazem as roçadas, que depois despresam tirada a primeira colheita. As lombadas quase todas são formadas de uma mistura de pedra solta e salão, e na superfície uma tona que apenas tem 1 e 112 palmos de terra, que estas chuvas levam à ribeira, ficando a pedra solta e alguma agarrada ao salão, que o sol resseca e por consequência cai. Esta freguesia e a que menos sofre o dano dos carvoeiros, por ter já poucos arvoredos. [Paulo Dias de Almeida, “Descrição da Ilha da Madeira”, in Rui Carita, Paulo Dias de Almeida e a Descrição da Ilha da Madeira, Funchal, 1982, pp.51, 53-54, 68, 75, 80, 82-83]

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O Machado e a Fénix 1821.- A ALUVIÃO DE 1821.

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ABREU, Filipe Joaquim de Freitas e, 1821, [Carta sobre a aluvião de 19 novembro de 1821], in Patriota Funchal, vol. I, n.º 44, 1 de dezembro de 1821, pp.1-2.

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O Machado e a Fénix 1841: A ILHA DE PAULO PERESTRELO DA CÂMARA.

Em torno de toda a ilha acima das vinhas e abaixo do arvoredo silvestres, se dão excelentemente os castanheiros, e quase da esta extensa região, ou está baldia, ou tomada com inúteis giestas, tendo apenas em alguns sítios poucos inhames e batatas. E esta a mais benéfica árvore da Madeira, pois fornece para o alimento do homem a castanha, que ainda deixa retraços para a nutrição dos porcos. Com sua folhagem, se engordam os gados e estrumam as terras; das suas ramas, se tiram lenhas para o uso doméstico, e estacas e garranchos para a vinha as suas duradouras madeiras travejam as casas, fornecem a maior parte dos trastes nas habitações pobres, e servem nas construções marítimas; as suas fortes raízes prendem as terras; na sua coma embaçam as nuvens, e se condensam as águas bem feitoras; a sua sombra grata, deixa crescer ervagens, e plantas, sem o menor cultivo, que apascentam ricas manadas. Deve pois a propagação desta árvore, merecer toda a atenção das câmaras, obstando a que alguns proprietários atrasados as façam cortar antes de seu perfeito crescimento, ou obrigando-os a substituir-lhes logo outras, vedando igualmente que as toque o dente de animais daninhos, enquanto forem de tenra condição. Igualmente nos montes áridos e infrutíferos se devem semear pinheiros, e estabelecer a sua importante cultura, que é da maior utilidade neste país, pois prosperam ricamente nos terrenos não susceptíveis de outra vegetação, as suas raízes sustentam as terras declives, e além de não requererem a mínima cultura, no decurso de poucos anos fornecem boas madeiras e lenhas. E toda a ilha se mostra ainda restos da larga cultura que houve já deles. Criados os pinhais, e multiplicados os soutos de castanheiros cessarão a razão da plausível da falta de lenhas para serem atacados estes arvoredos, mui principalmente com a factura do carvão, que lhe faz o mais cruel destroço, pois os bárbaros carvoeiros cortam e queimam desapiedadamente, as árvores mais robustas e úteis e quase todos os anos deixam atear fogos, que por dias e meses consomem as vezes léguas de mato. CÂMARA, Paulo Perestrelo, Breve Noticia sobre a Ilha da Madeira, Lisboa, 1841, 34-35.

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O Machado e a Fénix 1913. – UMA VISÃO DA FLORESTA MADEIRENSE

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SEQUEIRA, Manuel Braz, Opusculo de Propaganda. Argumento em favor da Arborização obrigatória das serras da ilha da Madeira, Funchal, 1913 CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA

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O Machado e a Fénix 1921/1946. Aluviões

Aluviões. Na relação que abaixo publicamos vão indicadas todas as aluviões que tem havido na Madeira e sobre as quais conseguimos obter alguns esclarecimentos. É de advertir, porém, que a aluvião de 1724 não foi a primeira que causou prejuízos, pois que Mouquet que esteve aqui em 1601, diz, embora não precise datas, «que as águas que descem das montanhas algumas vezes destroem pontes e casas em toda a ilha». 18 de Novembro de 1724. Os estragos desta aluvião fizeram-se principalmente sentir na freguesia de Machico, morrendo ali 26 pessoas e abatendo-se mais de 80 habitações. No Anno Histórico, referindo-se o Padre Francisco de Santa Maria á aluvião de 1724, diz que «padeceu a ilha da Madeira uma tormenta e dilúvio tão grande, que destruiu a vila de Machico, parte da de Santa Cruz e muitos outros logares e sítios da mesma ilha, e também a cidade do Funchal experimentou grande dano e muitas ruínas, assim nas suas muralhas como na povoação, com a enchente da Ribeira do Pinheiro (Santa Luzia) que a divide» 18 de Novembro de 1765. Em virtude das grandes chuvas, cresceram muito neste dia as ribeiras que atravessam o Funchal, sendo destruída a Ponte da Praça e sofrendo bastante outras pontes da cidade. As águas da Ribeira da Praça ou de João Gomes arrastaram para o mar o inglês Moita (?), o qual nunca mais apareceu . 9 de Outubro de 1803. Foi neste dia tristemente memorável que uma grande inundação assolou os campos da Madeira e destruiu uma parte considerável da cidade, causando não somente enormes prejuízos materiais mas também a perda da vida de alguns centenares de pessoas. Pode sem duvida considerar-se a maior calamidade que tem ferido esta ilha no largo período de cinco séculos. Longe iríamos se quiséssemos fazer uma descrição pormenorizada desta tremenda catástrofe e por isso nos limitamos a traçar umas breves notas, rapidamente colhidas nas crónicas do tempo. Tinham caído algumas chuvas, com várias intermitências, nos dez ou doze dias que precederam o 9 de Outubro de 1803. Neste dia, pelas 8 horas da manhã, começou a cair no Funchal uma chuva não muito copiosa, que se manteve inalteravelmente até ás 8 horas da noite, mas nada fazia recear que estivesse iminente uma tão terrível inundação. Principiou então a ouvir-se o ribombar do trovão e a chuva, acompanhada de algum vento, caía já em verdadeiras catadupas. Ás 8 horas e meia as águas das ribeiras galgavam as suas margens e espalhavam-se com grande ruído pelas ruas laterais, começando a sua obra de destruição e de morte. Estava-se em pleno dilúvio. É indescritível o pavor que se apossou dos habitantes, que maior se tornou ainda pelo inopinado do acontecimento, que a um grande numero apanhou de surpresa e sem possibilidade de pôr-se ao abrigo do perigo que a todos ameaçava. A morte surpreendeu a muitos na fuga, arrastados pela violência das correntes ou atingidos pelas derrocadas das casas e paredes que se desmoronavam. Foi o bairro de Santa Maria Maior o mais sacrificado pela tempestade. A ribeira de João Gomes, com a abundância e violência das águas, rebentou em três diversos pontos, formando outras tantas impetuosas correntes que causaram os maiores estragos e vitimaram algumas dezenas de pessoas. Ruas inteiras e inúmeras casas de habitação e outros prédios foram arrastados para o mar, incluindo a igreja paroquial, conhecida pelo nome de Nossa Senhora do Calhau e que ficava na margem esquerda da ribeira, entre as actuais rua de Santa Maria e rua Nova de Santa Maria. Numa casa desta rua ficaram soterrados 21 indivíduos e num prédio do Pelourinho morreram um súbdito inglês e 15 pessoas de família. Calcula-se que só no bairro de Santa Maria Maior tivessem perecido cerca de 200 pessoas por ocasião da aluvião. Os prédios marginais da ribeira de Santa Luzia também sofreram bastante. Acima da ponte do Bom Jesus as águas tomaram novo curso por uma e outra margem daquela corrente e, sobretudo na rua dos Ferreiros,

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O Machado e a Fénix causaram estragos consideráveis, tendo-se abatido diversas casas de habitação e lojas de comercio. O mesmo aconteceu na rua dos Tanoeiros e a vários prédios que ficavam na margem esquerda daquela ribeira e que formavam a rua Direita, prédios que foram arrastados pela violência da corrente. Diz uma relação coeva do acontecimento: “Ruas inteiras desapareceram com seus habitantes e outras inundadas de água e lama deixaram os proprietários e inquilinos reduzidos á extrema indigência. Uma grande parte da freguesia de Santa Maria Maior, assim como a sua igreja, a mais antiga da cidade, não existem com uma boa porção dos seus infelizes moradores: o resto disperso cá e lá, inundado e abandonado, oferece aos olhos do homem sensível um objecto de dor, de ruína e consternação. As ruas chamadas Direita, Tanoeiros, Valverde, Santa Maria, Hospital Velho e outras foram ao mar com uma incrível multidão de habitantes». Fora do Funchal, as povoações que mais sofreram com a horrível inundação foram Machico, Santa Cruz, Campanário, Ribeira Brava e Calheta, tendo sido relativamente pequenos os prejuízos causados nas freguesias do norte da ilha. Com respeito á vila de Machico, lê-se o seguinte no arquivo da respectiva igreja paroquial: « . . .demoliu a muralha da ribeira, abateu a ponte e invadiu a vila de tal sorte que chegaram as águas á altura de três côvados na igreja e em todas as ruas. Esta inundacão prometeu a todos a morte; mas um prodígio evidente fez que se salvassem todos, excepto catorze pessoas que pereceram arrastadas pelas águas e aterrados nas casas». Também demoliu a antiga e histórica capela do Senhor dos Milagres, tendo a respectiva imagem sido encontrada dias depois, no alto mar, por uma galera americana, que a fez depositar na Sé do Funchal. Foram igualmente consideráveis os estragos que a aluvião produziu nas outras freguesias citadas, onde também houve a perda de muitas vidas. São bastantes discordes as informações contemporâneas dos acontecimentos, com relação ao numero de pessoas que sucumbiram, vitimas daquelas inundações, chegando uma narrativa do terrível caso a computar em cerca de mil os indivíduos mortos e desaparecidos. Parece não estar muito distanciado da verdade quem fixar em seiscentos o numero aproximado dos que morreram, sendo a maior parte no concelho do Funchal. Era então governador e capitão general D. José Manuel da Câmara, que fez publicar sem demora um edital adoptando as imediatas e prontas providencias que as circunstancias de momento aconselhavam. O primeiro cuidado das autoridades foi procurar abrigo para os que tinham ficado sem casa de habitação e que eram em numero muito avultado. Os edifícios públicos, varias repartições de serviço do estado, muitas dependências das igrejas, dos quartéis e das fortalezas e ainda bastantes casas particulares foram destinadas a dar alojamento provisório àqueles indivíduos. Entre as medidas tomadas pelo governador, destaca-se a da absoluta proibição de serem elevados os preços dos géneros de consumo, sob pena de severos castigos infligidos aos transgressores. A principal causa dos males produzidos pela aluvião foi a falta do encanamento das ribeiras. Embora tardiamente, resolveu o governo da metrópole realizar esse tão desejado melhoramento, enviando á Madeira o brigadeiro Reinaldo Oudinot encarregado de dirigir os respectivos trabalhos e que aqui chegou a 19 de Fevereiro de 1804. Revelou a maior competência no desempenho do cargo em que fora investido e nele desenvolveu uma pasmosa actividade, conseguindo num período relativamente curto de tempo fazer o encanamento das três ribeiras que atravessam o Funchal. Em Dezembro de 1800, comunicava ele ao governo central que, a pesar dos grandes temporais e fortes invernias que pouco antes houvera, as muralhas tinham resistido ao embate violento das águas e oferecido uma prova evidente da solidez da sua construção. Oudinot morreu nesta cidade a 11 de Fevereiro de 1807 e em memória dos seus serviços foi dado o seu nome á rua que fica na margem esquerda da ribeira de João Gomes, entre o Campo da Barca e a praça dos Lavradores. Um pormenor interessante: tendo ficado de pé a capela-mor da igreja de Nossa Senhora do Calhau, mandou a provisão régia de 12 de Março de 1805 que ela se conservasse no mesmo estado em que a deixara a aluvião, como lembrança, para os vindouros, do acontecimento que mais funesto fora para os habitantes desta ilha. Em Dezembro de 1835 foi demolida parte da igreja que a aluvião respeitara e ali se construiu o mercado União, que há pouco se destruiu para o alargamento da rua que ali passa.

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O Machado e a Fénix 26 de Outubro de 1815. Depois da grande aluvião de 9 de Outubro de 1803 foi talvez a maior que tem assolado esta ilha. Numa representação que, sôbre os estragos causados por esta inundação de 26 de Outubro de 1815, dirigiu a câmara municipal do Funchal ao Príncipe Regente D. João, se afirma que esta foi «incomparavelmente maior do que a aluvião de 1803», mas, nem pelo numero de vitimas nem pelos prejuízos que causou, atingiu as proporções da outra, a pesar das enormes perdas que acarretou aos habitantes do Funchal. Como em outras ocasiões aconteceu, foram as correntes impetuosas das ribeiras que ocasionaram os maiores prejuízos. Especialmente nalguns pontos das margens das ribeiras que não tinham muralhas a ampararem e a dirigirem o curso das águas, saíram estas fora do seu leito, galgaram os terrenos marginais e abriram novo caminho, através das ruas e casas, causando não só incalculaveis estragos, como produzindo o maior pânico entre os habitantes, alguns dos quais foram vitimas do ímpeto indomável da corrente. Foi o que aconteceu com as águas da ribeira de S. João que, procurando novo percurso, arrastaram na sua violência cerca de vinte casas desde a ponte de S. Paulo, ao fim da rua da Carreira, até á foz da mesma ribeira. Nas ruas marginais da ribeira de Santa Luzia, também foram grandes os estragos, ficando danificadas algumas casas e em alguns pontos as muralhas da mesma ribeira. Por toda a ilha houve prejuízos consideráveis e morreram várias pessoas, arrastadas pela violência das correntes. Os horrores da grande aluvião de 1803, ainda bem presentes na memória de todos, fizeram aumentar o pânico nos habitantes, que, na sua grande maioria, julgaram que não havia possibilidade de escapar á morte, que para eles parecia inevitável. 28 de Outubro de 1842. Havia quinze dias que quasi interruptamente caia um pequeno orvalho. As 9 horas da manhã do dia 24 de Outubro as chuvas eram já abundantes, e ás 3 horas da tarde as águas pluviais caiam a torrentes. As águas das ribeiras saíram dos seus leitos e espalharam-se impetuosamente pelos terrenos marginais, causando grandes estragos. Ficaram completamente inundadas as ruas do bairro de Santa Maria Maior, o Pelourinho, a rua dos Medinas e ainda outras, chegando a água a invadir os segundos e terceiros andares das casas. Em muitas ruas da cidade os barcos navegavam para a custo salvarem muitas famílias que imploravam misericórdia dos últimos andares e telhados. Por toda a parte se ouviam gritos de terror. Um dos homens a quem mais se deveu a salvação de muitos infelizes inundados foi o cidadão Joaquim Dias de Almeida, mas houve muitos outros que se distinguiram, como nessa época fizeram menção o Imparcial e o Defensor, jornais do Funchal. As calçadas de Santa Clara, do Pico, Bela Vista e Incarnação foram convertidas em caudalosas ribeiras. O bairro do Cemitério dos Inglêses ficou despovoado, sendo todos os seus moradores acolhidos e agasalhados, com todos os confortos, por uma proprietária abastada, que residia no fim da rua da Bela Vista. Uma grande parte da cidade ficou destruída e as casas arruinadas até aos alicerces. Muitas famílias remediadas ficaram pobres. Foi um prejuízo de centenares de contos de reis. No dia 26, dois dias depois, o vento sul fez desencadear no porto do Funchal, uma medonha tempestade. As ondas embravecidas saltavam as muralhas da Pontinha e por vezes lamberam a esplanada do Ilhéu, vindo durante a tarde despedaçar-se nos rochedos da praia do Funchal, dez ou onze embarcações, sendo os tripulantes e guardas, que se achavam a bordo, salvos milagrosamente pelo guarda da alfândega Carvalho e por uns marítimos arrojadissimos, distinguindo-se sempre nestas catástrofes Joaquim Dias de Almeida. 17,18,19 e 20 de Novembro de 1848. Houve nestes dias grandes inundações, principalmente no concelho de Sant’Ana, sendo arrastadas pelas águas muitas bemfeitorias produtivas e importantes. No Funchal as águas das ribeiras correram com violência, mas, a pesar de copiosissimas, não produziram estragos sensíveis. 5 e 6 de Janeiro de 1859. Em virtude de chuvas abundantissimas, trouxe a corrente da Ribeira de João Gomes muito entulho que sobrepujou os mainéis entre a foz e o Campo da Barca. Não podendo as águas correr livremente, foram inundar a R. de Santa Maria, as travessas que a cortam, a R. do Ribeirinho de Baixo e CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA

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O Machado e a Fénix o largo do Pelourinho, fazendo em todos estes pontos grandes destroços. A Ribeira de Santa Luzia não causou prejuízos, embora ficasse também entulhada, mas a de S. João fez não pequenos estragos, principalmente nas proximidades da capela. Na Ribeira Brava, na Tabua, na Serra de Água, na Ponta do Sol, no Paul do Mar e noutras localidades houve também grandes devastações produzida pelas águas. 1 de Janeiro de 1876. As inundações deste dia só causaram prejuízos notáveis na freguesia da Madalena. 2 e 3 de Outubro de I895. A aluvião que se deu nestes dois dias produziu grandes estragos nas freguesias de S. Vicente, Faial, Ponta Delgada, Boa Ventura e Seixal. Nesta ultima freguesia morreu o proprietário Manoel Inisio da Costa Lira. As ribeiras do Funchal trouxeram muita água. 8 e 9 de Novembro de 1901. As chuvas abundantissimas que nestes dois dias caíram no Funchal, inundaram as ruas e caminhos, danificaram muitos destes e provocaram alguns desmoronamentos, principalmente na Levada de Santa Luzia. 25 e 26 de Fevereiro de 1920. Nestes dois dias fez sentir um violento temporal de vento e chuva que causou inúmeros prejuízos em toda a ilha. As ribeiras que atravessam a cidade, embora trouxessem muita água, não chegaram a trasbordar, mas houve inundações em vários sítios, devido á abundância das chuvas e aos ribeiros da Nora, do Til e dos Louros terem ficado obstruidos. No bairro de Santa Maria chegaram a andar barcos nas ruas para conduzir pessoas de uns para outros pontos, e diz-se que um toda a ilha ficaram mais de 500 pessoas sem abrigo, sendo incalculaveis os destroços causados pelo vento N. W. no arvoredo, nos canaviais e em muitas outras culturas. No caminho do Lazareto morreu um indivíduo que se dirigia de noite para sua casa e no molhe da Pontinha morreu um outro que trabalhava no Cabrestante, sendo tal a impetuosidade do vento no dia 25 e parte do dia 26, que era perigoso transitar mesmo nas ruas da cidade. No dia 25, de tarde, foi suspenso, por causa do vento, o serviço de automóveis no Funchal. A vila da Ribeira Brava correu grande risco de ser destruída pelas águas, tendo saído a imagem de S. Bento em procissão e havendo depois preces na igreja paroquial. Em Machico, Santa Cruz, S. Vicente e Camacha registaram-se importantíssimos prejuízos, morrendo uma mulher e uma criança nesta ultima freguesia. Desapareceram, com os respectivos tripulantes, alguns barcos de pesca de Câmara de Lobos, e o barco Arriaga, do Porto Santo, que conduzia 16 passageiros, foi impelido para o sul pelo temporal, sendo encontrado pelo vapor inglês Andorinha, que tomou os passageiros, arribando o barco ás Selvagens. No dia 28 voltou a chover torrencialmente e no dia 2 de Março soprou de novo com grande violência o vento N. W., havendo também fortes aguaceiros, que duraram até á madrugada do dia 3. 5 e 6 de Março de 1921. Caíram nestes dias abundantes chuvas, acompanhadas de trovoada, em toda a ilha, havendo inundações e estragos em Machico, Ribeira Brava, etc., etc.. Em Machico as águas subiram nalguns pontos quasi ao primeiro andar das casas, e na Ribeira Brava morreram quatro crianças, sendo três em virtude do desmoronamento dum prédio e uma arrastada pelas águas. Além das doze aluviões que ficam mencionadas, colhemos noticia, num antigo manuscrito, que no ano de 1611 houve uma grande enchente no Funchal, que, entre os notáveis estragos que causou, se conta o de ter destruía em grande parte a igreja paroquial da freguesia de Santa Maria Maior que então ficava na rua que hoje tem o nome de Hospital Velho. Procedeu-se depois á construção duma nova igreja nas imediações do actual fontanário chamado do Calhau, e que foi arrastada para o mar pela aluvião de 1803. Também temos noticia doutra aluvião que se deu no ano de 17U7 e que causou consideráveis prejuízos em toda a ilha.

1921/1946. Incêndios

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O Machado e a Fénix Incêndios (Extinção de) O serviço municipal da extinção de incêndios na cidade foi iniciado em 1837, tendo a Câmara dispendido com a aquisição de uma bomba mandada vir de Londres por intermédio da casa de João de Oliveira & C.ª, a quantia de 460$000 réis. Antes de 1837, eram as bombas pertencentes a alguns particulares, que se empregavam na extinção dos incêndios, tendo os condutores das mesmas sido isentos de servir na guarda nacional, a fim de se poder contar com o seu auxilio nas ocasiões precisas. O serviço da extinção de incêndios só em 1889 é gue principiou a ser bem desempenhado, devido á criação da Companhia de Bombeiros Voluntários do Funchal. Antes disso, cometiam-se os maiores desatinos em ocasiões de incendios, chegando-se a lançar espelhos e loiças das janelas dos prédios atingidos pelo fogo, para obstar a que este os destruísse! Em Agosto de 1878, por ocasião dum incêndio que se manifestou num prédio á rua da Alfândega, onde estavam instaladas a padaria e a confeitaria do inglês Payne, foram tantos os vidros e loiças atirados á rua, que houve quem supusesse terem os prejuízos causados pelo homem, no mesmo prédio, sido mais avultados do que os causados pelo fogo. No fim do volume ou em suplemento a esta obra, daremos uma noticia mais circunstanciada acerca dos melhoramentos introduzidos no serviço dos incêndios e em especial nos havemos de referir às corporações de Bombeiros Voluntários e Municipais, que nesta cidade se têm organizado para esse fim. Incêndios nas Matas. Os muitos incêndios que tem havido nas matas da ilha da Madeira, os mais importantes são incontestavelmente os dois de que fazemos aqui menção: Incêndio no tempo de Zargo. O incêndio das matas da Madeira no tempo de Zargo, o primeiro donatario do Funchal, é um acontecimento a que se referem João de Barros, Frutuoso, Antonio Cordeiro, Manuel Tomás e outros autores, e que também foi perpetuado pela tradição. Refere Ferdinand Denis que um antigo viajante francês conheceu um velho marinheiro a quem uma testemunha ocular contara o incêndio da ilha da Madeira, e segundo o erudito anotador das Saudades da Terra, no Arquivo da Torre do Tombo, Livro das Ilhas, folhas 84, está a pública-forma de um breve apostolico do Pontífice Paulo II, com data de 1469, em que manifestamente se alude ao mesmo incêndio. Gaspar Frutuoso, o historiador das ilhas, dá conta nos termos seguintes, do incendio no sertão da Madeira: «Daqui acordou o capitam (João Gonçalves Zargo), vendo que se não podia com o trabalho dos homens desfazer tanto arvoredo que estava nesta ilha desde o princípio do mundo ou da feitura della, e para o consumir, e se lavrarem as terras e aproveitar-se dellas era necessário por-lhe o fogo; e como quer que, com o muito arvoredo e pela muita antiguidade, estava delle derribado pelo chão, e delle seco em pee, apegou o fogo de maneira neste valle do Funchal, que era tão bravo que, quando ventava de sobre a terra, não se podia soffrer a chama e quentura delle, e muitas vezes se acolhia a gente aos ilhéus e aos navios até o tempo se mudar; e, por ser o valle muito espesso assi de muito funcho, como de arvoredo, atiou-se de maneira o fogo, que andou sete anos apegado pelas árvores, e troncos e raizes debaixo o chão, que se não podia apagar, e fez grande destruição na madeira assi no Funchal, como em o mais da ilha ao longo do mar na costa da banda do sul, onde se determinou roçar e aproveitar». D. Francisco Manuel de Melo, referindo-se ao incendio da Madeira, diz na Epanaphora III o seguinte: «He força que duvide do incêndio que (Barros) affirma durou sete anos por toda a ilha. Ao que, parece, implicão os bosques que sempre nella permanecerão, dos quaes ha tantos anos, se cortão madeiras, para fabrica de assucares: de que dizem chegou a haver na Ilha, cento & cincoenta ingenhos; que mal poderião continuamente sustentarse, depois de hum incêndio tão universal, & menos produzir-se depois delle: mas

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O Machado e a Fénix fique sempre salvo o credito de tal Autor». Os argumentos de Melo têm um certo valor para mostrar que o incêndio da Madeira nem durou sete anos, nem se estendeu a todos os pontos da ilha, havendo ainda a acrescentar que e ele tivesse sido geral, como pretendem alguns escritores, não poderia Cadamosto, que tambem se refere ao sinistro, dizer em 1455 (?) que o nosso país produzia madeiras muito apreciadas, entre as quais sobressaíam o cedro e o teixo. É ainda de advertir que para o fogo durar sete anos consecutivos em matas constituídas especialmente por essências folhosas seria preciso que durante esse longo espaço de tempo não caíssem na ilha nenhum desses violentos aguaceiros que, ainda hoje, a pesar das chuvas serem muito menos abundantes do que outrora, inundam os vales do interior e dão origem a torrentes que se despenham em catadupas do alto das serranias. Não padece duvida que muitas matas do vale do Funchal e de outros pontos da costa sul da ilha foram destruídas pelo fogo, mandado lançar imprudentemente por João Gonçalves Zargo para o fim de arrotear as terras, mas admitir que esse fogo, ateando-se rapidamente e saltando de arvore em arvore, chegou a atingir toda a ilha, parece-nos fantasia propria da imaginação opulenta de Manuel Tomás e de outros antigos escritores. Do trecho das Saudades da Terra que deixámos transcrito, não se depreende que o incendio fosse geral, e João de Barros, o primeiro historiador que noticiou o sinistro, circunscreve-o á parte da ilha da Madeira «onde se ora chama Funchal», acrescentando, porém, «que o fogo tomou posse da roça & do mais aruoredo, que sete anos andou viuo no brauio daquellas grandes matas que a natureza tinha criado auia tantas centenas de anos». Diz o Dr. Alvaro Rodrigues de Azevedo que tendo sido a parte sul da ilha «precisamente a cultivada e habitada logo depois do descobrimento, é possivel, não só que ahi fossem pouco a pouco roteados os terrenos por meio de incendio das matas virgens, systema que ainda hoje, por falta de braços, por outras rasões agricolas e economicas, e por necessidade de momento, se emprega nos sertões americanos, mas tambem que a estes roteamentos pelo fogo se fosse recorrendo nos septe primeiros annos, sem que disso poucos tempos depois se achassem resquicios. O sul da ilha da Madeira foi o primeiro explorado e habitado, e é a zona mais productiva. Curto periodo fôra preciso para que o trabalho do homem ahi extinguisse os signais de devastação. E limitado o incendio a uma parte da ilha somente, os argumentos em contrario perdem a força. Mello mesmo duvida não tanto do incendio, quanto de que este fosse tão universal». Reduzido o sinistro ás proporções que lhe atribue o dr. Azevedo, não há motivo para que deixemos de aceitá-lo como verdade historica, tanto mais que, como diz o mesmo escritor, ele se acha autenticado pela clara alusão do Breve Apostolico, que é quasi contemporaneo. Foi um êrro, não resta duvida, mandar lançar fogo aos arvoredos, em vez de os decepar a machado, mas desse erro não resultou felizmente o completo aniquilamento das mesmas matas, como já atrás se viu. O incendio fêz crescer a fertilidade do solo madeirense, que era ainda maravilhosa ao tempo em que Cadamosto visitou esta ilha, mas não mereceu a aprovação do infante D. Henrique, que nos primeiros tempos da povoação tirava, segundo parece, das madeiras que eram levadas para Portugal, um rendimento consideravel. Refere Frutuoso que na ilha havia tanta quantidade de madeira tão fermosa e rija, que levavam para muitas partes copia de taboas, traves, mastros, que tudo se serrava com engenhos ou serras d’agua, dos quaes ainda hoje ha muitos da banda do norte da mesma ilha: e neste tempo, pela muita madeira que dahi levavam para o Reyno, se começara com ella a fazer navios de gavea e castello d’avante, porque dantes não os havia no Reyno, nem tinham para onde navegar, nem havia mais navios que caravellas do Algarve, e barineis em Lisboa e no Porto». Azurara, tratando das vantagens que resultaram dos descobrimentos devidos á iniciativa do infante D. Henrique, menciona «as grandes alturas das casas que se vão ao ceo, que se fizeram e fazem com a madeira daquellas partes». Ao que o visconde de Santarém acrescenta a seguinte nota, que é transcrita por Pinheiro Chagas na sua Historia de Portugal: «Esta interessante particularidade indica que a Madeira transportada a

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O Machado e a Fénix Portugal das ilhas novamente descobertas pelo infante D. Henrique, principalmente da ilha da Madeira, fôra em tanta quantidade, que a sua abundancia fizera mudar o systema de construcção dos predios urbanos, augmentando os andares, elevando assim as casas, substituindo-o por esta sorte ao romano e arabe, que até então provavelmente se usara. Esta probabilidade adquire maior pêso á vista do systema de illuminação de Lisboa, ordenado por el-rei D. Fernando, como consta duns documentos do cartorio da camara de Lisboa». Azurara, extremamente laconico em tudo quanto diz respeito ás ilhas, nada diz na Chronica do Descobrimento da Guiné acêrca do incendio da Madeira, mas do que ele aponta sôbre a altura das casas, pode deduzir-se que por mais duradouro e extenso que fosse o mesmo incêndio, ficou ainda o arvoredo suficiente para a ilha poder exportar grande copia de madeiras para Portugal. Incêndio em 1919. Depois do incêndio das matas da Madeira, ocorrido durante a vida de Gonçalves Zargo, o que maiores proporções atingiu e mais danos causou é incontestavelmente o do mês de Agosto de 1919, ateado por mãos criminosas. Durante oito dias se trabalhou vigorosamente na extinção do referido incêndio, que tendo principiado no dia 21, na arte ocidental da Madeira, se alastrou depois rapidamente a outras localidades da ilha mas o vento extraordinariamente seco e quente, a que os naturais chamam leste e que soprou com desusada violência desde o referido dia até 27 de Agosto, veio inutilizar muitas vezes os esforços daqueles que, com a maior coragem e dedicação, procuravam, sob uma atmosfera de fogo, obstar ao avanço do terrível elemento destruidor. Por varias vezes se receou que os incêndios atingissem os povoados, alguns dos quais, como é sabido, ficam situados perto da região média da ilha, mas felizmente pôde isso ser evitado, a pesar do vento ter contrariado bastante os trabalhos tendentes a localizar as devastações do fogo. Na região alta, alguns pequenos prédios foram devorados pelas chamas, e desapareceram muitos gados e ficaram inutilizadas muitas culturas, mas não se registaram desastres pessoais importantes, embora alguns indivíduos se ferissem ligeiramente nos trabalhos da extinção dos incêndios. Nos dias 28 e 29 de Agosto caíram algumas chuvas nas serras, que bastante concorreram para extinguir totalmente os incêndios que nos dias anteriores haviam aniquilado muitas das nossas mais belas matas, causando em toda a ilha prejuízos superiores a 2:000 contos. No concelho do Porto do Moniz sofreram bastante as matas da parte da Ribeira da Janela e do Fanal; no de S. Vicente, as da beira do Paul, da Lombada das Vacas, do Lombo da Palha e da serra da Ponta Delgada; no de Sant’Ana, as do Arco de S. Jorge e do Faial; no de Machico, as do Pico da Suna e dos Lamaceiros; no do Funchal, as de S. Roque e do Monte; no de Câmara de Lobos, as do Ribeiro Garcia e Fontainhas; no da Ribeira Brava, as da Serra de Água; e no da Calheta, as da Lombada Gorda, da Ribeira dos Moinhos, do Rabaçal e da beira do Paul da Serra. No Rabaçal, nesse sítio que os viajantes percorrem com entusiasmo, pelas soberbas paisagens que dele se disfrutam, os prejuízos não foram gerais, e as casas nada sofreram, devido o esforço e dedicação empregados para salvá-las. No Monte e em S. Roque o incêndio tomou proporções verdadeiramente assustadoras, abrangendo uma área de alguns quilómetros e ameaçando destruir um grande numero de habitações, e na Bica da Cana, no Paul da Serra, ficaram muito danificadas as plantações mandadas fazer aí pela Junta Agrícola. Na grave conjuntura que a ilha atravessou, prestaram bons serviços o Governador Civil, general Simões Soares, o Comandante Militar, coronel Veiga, o Regente Silvícola Schiappa de Azevedo, o pessoal florestal e varias forças de infantaria 27, tendo todos dentro dos limites das suas atribuições, trabalhado com perseverança e empregado os meios possíveis para a localização e extinção dos incêndios. No que houve pouco zelo e energia foi em procurar os incendiários e entrega-los ao poder judicial, a fim de serem castigados sem contemplação, sendo a benevolência com que sempre têm sido tratados os inimigos das nossas matas, a principal causa do desnudamento das montanhas e da ilha ter sofrido por diferentes vezes os estragos causados pelas torrentes e aluviões.

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O Machado e a Fénix Naufrágios. A baía do Funchal é abrigada de todos os ventos que não sejam os dos quadrantes desde o sudoeste até o sudeste pelo sul. Os grandes temporais só se fazem sentir ali quando o vento sopra com violência do lado meridional, vendo-se o mar formar então algumas vezes ondas alterosas que vêm projectar-se com violência de encontro ás praias. Nessas ocasiões, deixa de haver segurança para os barcos de vela dentro da baía, e se eles não conseguem fazer-se ao largo aos primeiros sinais da tormenta, correm o risco de vir parar á costa e de serem aí despedaçados pelo mar. Entre as muitas tempestades que tem havido no nosso porto, merecem ser mencionadas as seguintes, por causa dos seus efeitos desastrosos. 1757. Em fins de Outubro ou princípios de Novembro deste ano, houve um grande temporal que pôs em risco alguns navios e causou estragos nas obras do porto do Funchal (ligação da Pontinha com a terra). 1802. Na noite de 30 de Agosto de 1802, pela 1 hora da manhã, houve uma medonha explosão a bordo dum navio português ancorado no porto do Funchal e que se destinava ao Brasil. Morreram 32 pessoas, 4 das quais eram madeirenses, tendo-se dito que a explosão fôra provocada casualmente por um marinheiro, na ocasião em que se achava no paiol do navio, afim de furtar pólvora para vender na cidade. 1804. Em 8 e 11 de Janeiro dêste ano, houve fortes temporais, naufragando duas galeras inglêsas. 1828. No dia 22 de Janeiro, deu à costa, em frente da Alfandega, o bergantim americano Calixto, que em poucas horas foi inteiramente destruído pelo mar, e no dia 1 de Março naufragou na Praia Formosa a galera inglêsa Britannia, morrendo um tripulante. 1834. Deu-se neste ano o naufragio da galera inglêsa Greenwelle, em que morreram cinco tripulantes. 1836. Os grandes temporais do dia 18 de Outubro fizeram dar á costa proximo de Santa Catarina, a barca portuguesa Maria Adelaide e o iate Conceição e Almas, morrendo um tripulante dêste ultimo navio. Na mesma ocasião, naufragou também ali um barco carregado de vinho, vindo do norte. 1842. Em 26 de Outubro dêste, ano o mar arrojou á praia cinco navios, desaparecendo um outro, que não tornou a ser visto. 1846. De 8 a 11 de Janeiro, houve grandes vendavais no pôrto do Funchal, que arruinaram as obras do cais, e no dia 10 do mesmo mês deu á costa em S. Lazaro o patacho toscano Duque de Sussex. 1848. Em 10 de Dezembro, perderam-se o iate Senhor dos Passos e a escuna Eugenia, e no dia 31 os iates Fevereiro I.° e Boa Fé, ambos portugueses, e os patachos Delfim e Levant, êste americano e aquêle português. Por ocasião desta ultima tempestade, esteve quasi a dar á costa a corveta de guerra inglesa Daphne. 1858. No dia 5 de Março dêste ano, naufragou no pôrto do Funchal o bergantim inglês Reliance, em consequencia de um forte vendaval, e no dia 15 do mesmo mês teve a mesma sorte o patacho brasileiro Liberato Terceiro, de que era mestre Thomás Whister. 1858. No dia 14 de Novembro, entrou no porto do Funchal, quasi a submergir-se, a galera portuguesa Defensor, em viagem do Rio de Janeiro para um dos portos de Portugal, conduzindo a tripulação e alguns passageiros, na totalidade de 23 indivíduos. A embarcação vinha de porto infeccionado e o mar estava bastante revolto, sendo a muito custo que puderam desembarcar 16 pessoas, as quais foram isoladas no antigo forte da Pontinha. As outras ficaram a bordo, recusando fazer o desembarque naquela ocasião, mas durante a noite lançaram um escaler ao mar e pretenderam alcançar a terra, tendo morrido seis delas e apenas uma pôde ser salva para além do forte de S. Tiago. A galera encalhou na foz da ribeira de Gonçalo Aires, no dia 16 de Novembro. 1872. Um violento temporal que houve a 22 de Dezembro fêz dar á costa para os lados do Lazareto o patacho inglês Champion, morrendo o capitão e mais quatro tripulantes.

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O Machado e a Fénix 1875. Na praia em frente da antiga Praça da Rainha, hoje Praça do Marquês de Pombal, encalhou no dia 2 de Fevereiro de 1875 o vapor inglês Soudan. O mar estava calmo, atribuindo-se o desastre á imperícia ou descuido dos que dirigiram a manobra do ancoramento. 1876. Neste ano, houve dois grandes temporais na baía do Funchal, o primeiro a 13 de Maio e o segundo a 11 de Novembro. O primeiro fêz dar á costa a escuna inglêsa Orphey, o patacho português Barbosa 2.°, a chalupa portuguesa Moura 7.° e os patachos americanos Maurice e Nellieclifford; o segundo fêz com que tivessem o mesmo fim o barco alemão Fear-Not, o iate português Fontes Pereira de Melo e a escuna inglêsa Theodosia. O Valente, pequeno vapor madeirense, foi arremessado sôbre as rochas, por baixo da Quinta Lambert, a mais de 15 de metros sobre o nível ordinário do mar, por ocasião das tempestades de Novembro, e já no dia 3 de Janeiro uma tempestade menos violenta que as duas a que nos referimos tinha feito naufragar a barca inglêsa Patagonia, junto a Santa Catarina. 1881. A 6 de Janeiro deste ano, veio ter á praia, impelido pelo vento sul, o iate português Aliança. 1884. A 26 de Novembro, o mar arrojou á praia a escuna Eulalia e o brigue italiano Torquato. 1892. Os temporais de 28 de Fevereiro causaram avarias no molhe da Pontinha. 1896. De 26 para 27 de Outubro dêste ano, vieram a terra o brigue frances René Adrienne e o brigue português Comercio, êste na Ribeira de S. Lazaro e aquêle na muralha da Pontinha. Embora a baía do Funchal seja limitada pelo Cabo Garajau e pela Ponta da Cruz, que distam entre si um pouco mais de 8 quilometros, é para leste do Ilhéu, e em frente da cidade, que os navios costumam lançar ferro, sendo o fundo constituído aí por areias basalticas e algum lôdo. A quantidade de pedras, areia e lôdo que as aguas das ribeiras arrastam todos os anos é consideravel, do que tem resultado o mar da baía se tornar menos profundo e as praias crescerem gradualmente. O pilar de Banger, que, na época em que foi construido (1798) tinha a sua base banhada pelo mar, está hoje afastado dele, e a rua da Praia, os mercados do peixe e da fruta e a Praça do Marquês de Pombal, estão edificados em lugares onde em épocas antigas chegavam as aguas (1921). Vamos agora dar uma noticia sucinta de outros naufrágios ocorridos em vários pontos dêste arquipélago: Em Março de 1720, dirigia-se um barco de Machico para o Porto Santo, conduzindo oito indivíduos, o qual, sendo surpreendido por um forte temporal, foi arrojado às costas das ilhas Canarias e ali puderam desembarcar. Regressaram dois meses depois ao Porto Santo, quando ali todos os julgavam vitimas do temporal. Por 1730, naufragou naquela ilha, no sitio do Pedregal, onde chamam a rocha do Guilherme, um navio sueco, que vinha da India e conduzia um importante carregamento, tendo perecido alguns tripulantes. Alguns meses depois, veio ao local do sinistro um navio da mesma nacionalidade, que conseguiu salvar uma parte considerável da carga, e entre esta vários objectos de alto valor e parece que também alguns caixotes com dinheiro. No principio do ano de 1768, afundou-se nas proximidades da ilha do Porto Santo a nau de guerra francesa Balance, de que era comandante o barão de Arras, sendo os seus tripulantes, em numero de 239, tomados por um navio francês que os conduziu ao porto do Funchal. No ano de 1790, submergiu-se no boqueirão do ilhéu de Baixo, no Porto Santo, um barco de carreira, carregado de vinho, que do norte da Madeira se dirigia ao Funchal e que impelido por uma grande tempestade foi arrojado àquele local, morrendo tôda a companha, com excepção dum homem que agarrado a uma prancha de madeira pôde alcançar o ilhéu de Ferro. Um grande sinistro que se deu na travessa do Porto Santo foi o ocorrido na noite de 11 de Janeiro de 1823, em que nove pessoas perderam a vida, não se tendo nunca encontrado vestigio algum do barco ou das vitimas dêste naufragio. No dia 5 de Dezembro de 1850, saíra do Funchal com destino ao Pôrto Santo um barco pertencente a

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O Machado e a Fénix João Rodrigues Rei e José Alexandre de Viveiros, que tinha como arrais o maritimo Justiniano Joaquim de Sousa e que conduzia a seu bordo além dos seus proprietarios, mais 13 passageiros e 12 homens de tripulação. Na chamada Travessa, foi esta embarcação surpreendida por um rijo temporal, tendo então os donos dela e os passageiros aconselhado e insistido para que os tripulantes demandassem o ilhéu de Cima ou o pôrto dos Frades e não o pôrto da vila, pelo grave perigo a que estavam expostos por ocasião do desembarque. Não foram infelizmente atendidos êsses rogos e conselhos, e, ao tentarem desembarcar, tornou-se o mar mais agitado com a violencia do vento que soprava, e das 27 pessoas que o barco conduzia só se salvaram 12, tendo 15 encontrado morte horrorosa no meio das alterosas vagas que violentamente se quebravam contra a praia. Entre as vitimas, encontravam-se os donos do barco e algumas mulheres e crianças. A noticia dêste sinistro maritimo causou na ilha do Pôrto Santo e ainda na Madeira a mais profunda emoção. Nesse tempo e em epocas anteriores, eram frequentes os naufragios na travessia feita entre a Madeira e Pôrto Santo, por nela serem empregados barcos chamados de boca aberta ou sem coberta, tendo o sinistro de 6 de Dezembro de 1850 determinado a regulamentação daquele serviço maritimo, proibindo-se então expressamente navegarem entre as duas ilhas embarcações que não estivessem nas condições indispensaveis para isso. A partir dessa epoca, tornaram-se raros os sinistros ocorridos na navegação entre a Madeira e Pôrto Santo. A escuna portuguesa Maravilha encalhou na praia daquela ilha a 7 de Abril de 1855, não havendo desastres pessoais. Ao noroeste daquela ilha, perdeu-se a 8 de Março de 1882 um vapor brasileiro, tendo morrido quatro tipulantes. Ás costas do Pôrto Santo, têm sido arrojadas em diversas épocas varias embarcações, umas abandonadas e outras com as respectivas tripulações, como se pode ver nos Anais daquela ilha. Na altura da Ponta de São Lourenço, submergiu-se em 1884 o vapor inglês Forerunner, morrendo 14 pessoas, como já dissemos a pag. 44 deste volume. A duas leguas ao norte da mesma Ponta, naufragou no dia 23 de Fevereiro de 1838 um barco de pesca do pôrto de Machico, tripulado por seis individuos, que todos perderam a vida. A praia Formosa tem sido teatro de alguns naufragios, dos quais podemos fazer menção dum, ocorrido no dia 1 de Março de 1828, com a galera inglêsa Britannia, morrendo um tripulante e ficando o navio inteiramente destruído, e doutro que se deu a 18 de Outubro de 1875 com um barco costeiro, tendo perecido cinco pessoas. Maior numero de sinistros maritimos tem ocorrido nas imediações da chamada Ponta da Cruz, a pequena distancia da Praia Formosa. No alto da rocha vê-se uma pequena cruz de ferro que tem sido varias vezes substituída, como sinal e lembrança dos desastres e perdas de vidas que ali se têm dado. É costume piedoso dos passageiros dos barcos costeiros que passam neste local descobrirem-se respeitosamente, e muitos murmuram recolhidos uma fervorosa prece. Ali se submergiu a 12 de Março de 1901 um barco costeiro da Ponta do Pargo, morrendo sete pessoas. Nas alturas da Ponta do Pargo, naufragou no dia 31 de Março de 1850 um barco de pesca do pôrto do Paul do Mar, morrendo alguns tripulantes. Procedente do Pará e conduzindo carga para Lisboa, naufragou na praia da freguesia da Madalena do Mar, no dia 31 de Janeiro de 1857, o brigue português Triunfo, de que era capitão Francisco Antonio da Silva, salvando-se todos os tripulantes. Em frente do pôrto da freguesia do Pôrto da Cruz, a legua e meia da costa, sossobrou no dia 20 de Setembro de 1858, em consequencia de violento temporal, o bergantim francês Homs, de que era capitão F. Azemas, e que se dirigia de Cette para a Martinica. Salvaram-se todos os tripulantes, que naquela freguesia foram largamente socorridos pelo comendador Valentim de Freitas Leal, que era ali abastado proprietario. CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA

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O Machado e a Fénix Nos primeiros dias do mês de Dezembro de 1859, saíra de Cardiff a galera inglêsa Flying Foame, que se destinava á colonia britanica de Hong-Kong, na China. Um grande temporal arrastou-a até as alturas da Madeira e arremessou-a violentamente contra os cachopos da costa, no sitio chamado Fajã do Manuel, na freguesia do Pôrto Moniz. Das 21 pessoas que havia a bordo, morreram 15, e entre estas o capitão do navio William Lidle e outros oficiais. Este navio, que conduzia um carregamento completo de carvão de pedra, naufragou no dia 19 de Dezembro de 1859. Na rocha do Ilhéu do Navio, nas costas da freguesia de Santana, naufragou, devido a um grande temporal, no dia 24 de Dezembro de 1860, a galeota holandesa Alfa, que se dirigia de Inglaterra para a ilha de Haiti. A tripulação, que se compunha de 7 individuos, foi salva. A 18 de Agôsto de 1861, naufragou no Pôrto Novo, freguesia de Gaula, um barco costeiro com a perda de sete vidas, entre passageiros e tripulantes. O barco costeiro Bailão, do pôrto da Calheta, que no dia 3 de Setembro de 1872 se dirigia daquela vila para o Funchal, afundou-se, tendo sucumbido três tripulantes. Do pôrto dos Anjos, freguesia dos Canhas, saíu para o Funchal no dia 18 de Outubro de 1875 um barco costeiro conduzindo carga e passageiros. Naufragou, não sabemos bem em que altura da viagem, tendo perecido quatro homens e duas mulheres. Na freguesia da Ponta Delgada, deu á costa a 9 de Dezembro de 1877 uma galera norueguesa, tendo morrido dois tripulantes. Do naufragio do iate Varuna, na freguesia das Achadas da Cruz, demos já uma sucinta noticia a pag. 13 do vol. I desta obra. A 12 de Março de 1901, naufragou em frente da Ponta da Cruz o barco costeiro «Brilhante Pargueiro» tendo morrido oito passageiros. Há muito que está projectada a iluminação das ilhas Desertas, dando ocasião a falta de faróis a que naquelas paragens tenham ocorrido alguns naufragios de embarcações de alto bordo, sobretudo quando é mais intensa a cerração. Também ali se têm dado varios sinistros maritimos com barcos de pesca, que, acossados pelo temporal, vão por vezes encontrar naquelas abruptas e desabrigadas costas a sua destruição e a perda das vidas dos seus tripulantes. Alguns navios abandonados têm sido arrojados ás costas daquelas ilhas. O vapor ingles Lagos, que procedia de Liverpool com destino à Madeira, para onde conduzia alguns passageiros, encalhou na Deserta Grande, no dia 17 de Janeiro de 1902, devido principalmente á grande cerração que fazia. Em 1788, naufragou nas costas da mesma ilha, em local que ignoramos, o corsário inglês Dart, e em 1804, duas galeras da mesma nacionalidade foram arremessadas contra a costa, também em lugar de que não alcançámos noticia. Em muitos portos do estrangeiro, encontram-se pequenos padrões ou singelas inscrições lapidares, em que se destacam os nomes das pessoas, que, por ocasião de naufrágios e tempestades marítimas, prestaram relevantes serviços no salvamento dos seus semelhantes, em luta com os elementos em fúria. O exemplo deveria ser imitado e já um jornal do Funchal (D. da Mad. de II-Dez.- 1926), pela pena de um dos autores desta obra, lembrou a realização dessa ideia, deixando escrito as seguintes linhas. Uma modesta lápide colocada em local próximo do mar e contendo os nomes de todos quantos se tornaram merecedores do reconhecimento de nacionais e estrangeiros por serviços prestados em ocasião de tempestades no porto do Funchal, seria um meio simples de mostrar que os madeirenses também sabem fazer justiça àqueles que por actos que nobilitam conseguiram provar que conservavam integras as virtudes da raça, mas enquanto isso não se faz, vamos nós procurar salvar dum completo olvido alguns daqueles nomes, registando-os nas CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA

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O Machado e a Fénix colunas deste jornal. Há 40 para 50 anos, eram os indivíduos que a seguir mencionamos pelos seus nomes ou alcunhas, os mais conhecidos pelo denodo e valentia com que se prestavam a arrostar com a fúria das ondas, sempre que havia vidas a salvar em ocasião de naufrágios no porto do Funchal: António Maria de Gouveia, António da Silva Cambé, Silvano Cardoso, Manuel Teixeira, Manuel Caramujo, João dos Passos (mudo), João Pereira (o Marau),José de Sousa (o Patacho), Manuel Capitão, José (o Gato Fardão), Guilherme e Vitorino Pófia, os dois Russos, o Tigela e Guilberme Albuquerque de França. Este ultimo madeirense, que foi cônsul do Uruguai no Funchal e não pertencia, como se sabe, á classe marítima, não hesitava nunca em entrar em luta com as vagas enfurecidas logo que os seus serviços eram reclamados em ocasião de temporais. Em tempos mais antigos, tiveram grande nomeada no Funchal, por idêntico motivo, os seguintes madeirenses: Henrique Crawford, a quem ficaram devendo a vida os náufragos da escuna inglesa Wave, que deu á costa perto de S. Lazaro a 26 de Outubro de 1842; José Ferreira Ourela, Arsenio Pombo, João de Freitas, João Vieira, António Silveira e Pedro Antonio. Todos estes indivíduos, á excepção do primeiro, pertenciam á classe marítima e tiveram uma menção honrosa na acta da sessão da Real Sociedade Humanitária do Porto, de 14 de Abril de 1858, onde também apareceram mencionados os nomes de Domingos Teles de Meneses, Augusto César Bianchi, Alexandre Sheffield, Roberto Taylor, Gregorio Antunes dos Santos, José Francisco da Silva e Cândido Augusto de Mesquita Spranger, pelos bons serviços prestados por ocasião do naufrágio do bergantim Reliance. Neste naufrágio prestou serviços relevantissimos o musico Amaro José, natural de Portugal, sendo por tal motivo agraciado com a medalha de ouro de primeira classe, da referida Sociedade Humanitaria. (SILVA, Fernando Augusto da, Elucidário Madeirense, t. I, II, Funchal, JGDAF, 1967, pp. 51-55, 134-136, 407-411 )

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O Machado e a Fénix 1998. PREITO E HOMENAGEM AO EDEN MADEIRENSE

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e tivermos em conta que o lema dos soldados da paz é “vida por vida”, o que significa um total desprendimento vital em favor da salvação e preservação da vida, teremos de reconhecer a nossa admiração por esta atitude e serviço comunitário que a justifica. Desta forma, queremos retribuir este serviço e abnegação total, com o nosso reconhecimento através deste preito e homenagem, trazendo para a memória do presente os feitos do passado, em que a sua ação foi fundamental e justificadora do epiteto que ainda ostentam de soldados da paz. .

Projeto

"Memória das Gentes que fazem a História"

Centro Estudos de História do Atlântico (CEHA) Rua das Mercês, nº 8, Funchal Tel: 291 214 970 • Fax: 291 223 002 email: geral.ceha@gov-madeira.pt página web: http://ceha.gov-madeira.pt/ blogues: http://memoriadasgentes.ml/


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