SEM LIMITES:
CONHEÇA A HISTÓRIA DE WALDIR VICENTE
CÉU DAS ARTES
MOVIMENTA CENÁRIO ARTÍSTICO DA REGIÃO A ARTE
ESPETÁCULO CANDLELIGHT TRAZ LUZ E CALOR PARA RIBEIRÃO PRETO
KILOTONES: DE RIBEIRÃO PARA O BRASIL E O MUNDO
LEI PAULO GUSTAVO
INCENTIVA PRODUÇÕES CULTURAIS NA CIDADE
O TEATRO DE ARENA
VOLTOU PARA FICAR
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EXPEDIENTE
A Revista Vozes é uma publicação produzida pelo curso de Jornalismo do Centro Universitário Barão de Mauá.
REITORA
Profa. Ma. Valéria Tomás de Aquino Paracchini
VICE-REITOR
Prof. João Alberto de Andrade Velloso
PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO
Antonio Augusto Abbari Dinamarco
PRÓ-REITORA DE ENSINO E INOVAÇÃO
Profa. Ma. Patrícia Rodrigues Miziara Papa
PRÓ-REITOR DE GRADUAÇÃO
Prof. Me. Thiago Henrique de Moraes
PRÓ-REITOR DE PÓS-GRADUAÇÃO E INICIAÇÃO CIENTÍFICA
Prof. Dr. Felipe Ziotti Narita
COORDENADORA DO CURSO DE JORNALISMO
Profa. Dra. Carmen Silvia Porto Brunialti Justo
PROFESSORES RESPONSÁVEIS
EDIÇÃO, COORDENAÇÃO E REVISÃO DE TEXTOS
Prof. Dra. Jéssica de Amorim Barbosa
EDIÇÃO DE ARTE
Prof. Me. Márcio Huertas
EDIÇÃO DE FOTOGRAFIA
Prof. Dr. Jefferson Barcellos
REPORTAGEM, FOTOJORNALISMO E DIAGRAMAÇÃO
Alunos do curso de Jornalismo do 6º semestre/2023
DIAGRAMAÇÃO FINAL
Prof. Me. Márcio Huertas
Unidade de Comunicação, Negócios e Tecnologia
R. José Curvelo da Silveira Jr., 110, Jd. Califórnia, Ribeirão Preto (SP) Tel.: (16) 3602-8200
Centro Universitário Barão de Mauá Unidade Independência
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Revista Barão de Mauá na internet: jornalismo.baraodemaua.br
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Sumário
O legado de Paulo Gustavo 4 Apresentação de rap na 22ª Feira do Livro 6 Folclore vira jogo de RPG 8 Artes sem limites 10 Eles são só “bonequinhos” 13 Arte em Sertãozinho acontece no céu 14 Arte em nome do meio ambiente 16 Saraus literários 19 Dança e Solidariedade 21 A atleta da graciosidade 23 Entre literatura, muros e música 25 Entrevista com a banda Kilotones 27 Educação é Cultura 30 Ribeirão à luz de velas 32 Resgate à literatura 34 Elementos: água e fogo se misturam sim! 36 Árvores em culturas e reflexões 38 Era uma vez sonhos e letras 40 Uma arena e diversas batalhas 42 Consumo consciente 43 A cultura conecta pessoas com o mundo 46 Ribeirão brinda a cultura cervejeira 48
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Culture-se
Vitória Andrade
Segundo a UNESCO, a cultura é um direito fundamental e desempenha um papel crucial na promoção da diversidade, do diálogo intercultural e interfere diretamente no desenvolvimento social e econômico de um local. Ela atua como um catalisador para a inovação e criatividade, promovendo a inclusão e a diversidade. No entanto, apesar de sua importância, muitas vezes subestimamos o seu valor.
Sendo um dos pilares da sociedade que molda nossas ações, pensamentos e comportamentos, a cultura é alimentada por diversas fontes, como tradições, crenças, artes e línguas. São aspectos como esse que dão forma e singularidade à sociedade. Através dela expressamos nossa humanidade, proporcionando um sentido de pertencimento e identidade, e compreendê-la é uma maneira de entender melhor a nós mesmos e a sociedade em que vivemos.
É necessário o entendimento de que a cultura não é apenas um elemento estético elitizado ou decorativo, mas, sim, uma parte intrínseca da sociedade. Ao valorizarmos nossa cultura, fortalecemos e promovemos a coesão social, aumentando a representatividade.
A importância da cultura se dá pela influência na formação da identidade individual e coletiva, pela promoção da diversidade e da capacidade de entender e apreciar as diferenças. A cultura também orienta nossas decisões diárias, influenciando as normas sociais aceitáveis e até mesmo as leis que regem a sociedade. Preservar e fomentar manifestações culturais na sociedade atual é uma tarefa essencial e, muitas vezes, desafiadora. A cultura molda nossa identidade, expressa nossa história e estabelece um senso de pertencimento. Promovê-la e protegê-la significa valorizar a diversidade, o patrimônio e fortalecer os laços que nos unem como sociedade.
Sua relevância ultrapassa as fronteiras do conhecimento e entretenimento. Através da promoção de eventos culturais, festivais, exposições, podemos, por exemplo, contribuir para o estímulo da economia local, a criação de empregos e o incentivo ao turismo. Além disso, atividades culturais são fontes ricas de aprendizado e inspiração, capazes de despertar a criatividade e fomentar a inovação. A valorização da cultura requer políticas públicas eficazes, investimento em educação e consciência
da população sobre sua notoriedade e sobre o quão intrínseco esse conceito está em nós. É crucial garantir que nossas tradições, arte, música e literatura sejam preservadas e transmitidas para as próximas gerações. Dessa forma, conseguimos manter viva a essência da nossa sociedade, celebrando a diversidade cultural como um elemento de união.
Vozes do interior
Ana Clara Rocha
“Eu moro, eu cultivo”. A palavra cultura, que vem do latim ‘colo’, remetia, em um primeiro momento, às culturas agrícolas. Além da alimentação, a cultura está ligada à informação e aos costumes de um povo.
A construção das raízes da cultura passou a ser, de acordo com a sociologia, aquilo que é feito pelo ser humano, podendo ir de ideias, tradições e crenças até vestimentas, leis e modos de viver. Isso é, ela está expressa e inclusa também na informação. Em Ribeirão Preto, uma cidade que predomina a música sertaneja e a cerveja artesanal, as diferentes formas de cultura que se propagam pelo município em espaços de grande público contribuem para um importante papel da arte: a representatividade. E não apenas isso. A diversidade pulverizada pelos eventos culturais atesta que a arte é feita por todos e para todos.
Seja com moda sustentável em brechós, esculturas com resíduos plásticos, saraus em eventos literários, clubes de leitura para idosos, manifestações culturais brasileiras, solidariedade, a dança, e outras maneiras de expandir cultura, notamos que Ribeirão Preto e suas cidades da região produzem cultura e entretenimento genuínos, que representam a heterogeneidade de uma comunidade.
Dos extremos da zona Sul até a zona Norte, passando pela zona Leste e Oeste, as manifestações artísticas não ficam enclausuradas em definições. Elas, na verdade, se propagam pelo município em espaços públicos — e de grandes públicos — com festivais de música, reunindo diferentes estilos musicais, arte nas ruas e nos muros, contribuindo para uma cultura acessível.
A cultura, ao ser cultivada por um povo, caracteriza a identidade de uma sociedade formando, assim, vozes. As vozes do interior.
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O legado de Paulo Gustavo
Marília Campos
Nem só de chopp e agronegócio vive Ribeirão Preto. A cidade se destaca, entre outras coisas, por ser um polo artístico e cultural, com atividades e eventos voltados para o setor. A atenção que a cultura recebe, inclusive, favorece o turismo da cidade e, consequentemente, movimenta a economia local.
Além dos investimentos municipais que já são feitos na área, Ribeirão Preto ainda tem o benefício dos recursos da Lei Paulo Gustavo (LPG). Aprovada em 2022, a LPG prevê o repasse de R$ 3,8 bilhões aos estados, municípios e Distrito Federal com o objetivo de diminuir os efeitos da pandemia da covid-19 sobre o setor cultural.
Ribeirão foi uma das primeiras cidades a aprovar o Plano de Ação junto ao Ministério da Cultura (MinC). O processo foi feito pela Secretaria da Cultura e Turismo em colaboração com os conselhos, artistas, empreendedores e demais profissionais da área.
A adesão à lei beneficiou a cidade com R$ 5,2 milhões, sendo 70% destinado ao setor audiovisual e 30% para as demais áreas da cultura. Por meio de editais, os projetos são inscritos, selecionados e realizados com o repasse do recurso. Pela primeira vez, haverá um edital de âmbito municipal focado em produção audiovisual na cidade.
Ator e humorista Paulo Gustavo. (Foto: João Miguel Júnior / TV Globo)
Na região, o município de Paulínia é referência nisso e Ribeirão Preto caminha a passos largos para se equiparar. O Polo Cinematográfico de Paulínia foi idealizado pela Secretaria da Cultura e é um dos maiores investimentos na produção audiovisual brasileira. Ao todo são quatro estúdios, motorhome (casa motorizada), trailer (camarim móvel) e uma escola completa e bem equipada de formação técnica na área, a Escola Magia do Cinema. Por lá, já foram produzidos 44 filmes nacionais, sendo 42 deles com aporte público por meio de editais lançados pela prefeitura.
Para a elaboração do Plano de Ação, foi realizado um Ciclo de Escutas com o objetivo de ouvir e acolher as propostas da sociedade civil. Maria Eugênia Piffi, presidente do Conselho Municipal de Cultura de Ribeirão Preto, participou dos encontros presenciais e considera que o maior atrativo da Lei Paulo Gustavo é proporcionar o incentivo financeiro. “Essa verba é devolvida à sociedade através de um produto cultural, seja ele uma apresentação artística, uma peça de teatro, uma música, uma feira de economia criativa. Essas iniciativas que tentam
reforçar, apoiar e valorizar o setor é justamente para auxiliar a diminuir os impactos desastrosos que a pandemia gerou. Muita gente passou dificuldade”, diz.
Os produtores audiovisuais estavam entre as pessoas prejudicadas. Sócio da produtora audiovisual Kauzare Filmes, fundada em 2009 em Ribeirão Preto, Tato Siansi lembra que o setor cultural foi um dos últimos a voltar à normalidade da rotina e que isso rendeu prejuízos. “Na época estávamos rodando um documentário, com uma equipe de doze pessoas, e infelizmente as doze tiveram que ser dispensadas neste período porque não conseguimos mantê-las. A gente foi retomar esse projeto somente anos depois. Atrapalhou muito”, enfatiza o produtor.
A produtora é responsável pelo primeiro filme independente e o único de Ribeirão Preto a ir para o cinema e alcançar o streaming, na Netflix. O longa-metragem intitulado Mal Nosso (Our Evil) foi produzido em 2016, venceu o festival Macabro do México como Melhor Filme de Terror da América
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Latina em 2017, além de ter sido selecionado em mais de 25 importantes festivais internacionais do gênero. “Tivemos uma equipe bem pequena, a gravação foi toda em Ribeirão Preto com uma equipe local. Desde a concepção até o lançamento foram cinco anos. Foi um filme que fez muito sucesso internacionalmente. No Brasil, ele foi exibido em 17 salas de cinema e depois fechamos com a Netflix. Ficamos três anos no catálogo e saímos no final do ano passado”, conta Siansi.
Audiovisual em Ribeirão
Para o setor audiovisual, Ribeirão Preto destina o valor de R$ 3,7 milhões, que deve contemplar desde produções audiovisuais até apoio a reformas, manutenção de salas de cinema e capacitação de profissionais. Piffi ressalta que os editais podem, por vezes, não cobrir todos os custos que uma produção audiovisual demanda. “Apesar do valor do recurso repassado ser alto, para uma produção de audiovisual ele não necessariamente é suficiente. Como na lei nem tudo é para produção porque existem outras categorias, é possível que grande parte não seja finalizada, porque o custeio é grande”, comenta.
Siansi já teve projetos produzidos a partir de incentivos financeiros e reconhece a importância desses recursos para apoiar o setor. De acordo com ele, até mesmo empresas já consolidadas no mercado devem ter o direito de se beneficiar da verba, apesar de haver críticas nesse sentido.
“Estamos há anos na estrada, nunca existiu um edital de financiamento para produções audiovisuais dessa forma na cidade. Na primeira vez, temos que ter acesso a esse recurso. Algumas pessoas se surpreendem com os valores que são distribuídos, mas não sabem quanto custa produzir. As pessoas devem saber a origem desse recurso. A maior parte vem da própria cadeia do audiovisual”, pontua.
Samuel Prico é dono da Grattitude Films, uma produtora audiovisual de Ribeirão Preto com cinco anos de mercado. Ele vê com bons olhos o acesso de Ribeirão Preto aos recursos da Lei Paulo Gustavo para movimentar a economia. “Hoje, para se fazer captação é muito difícil e a lei se tornou uma via de acesso muito boa e uma maneira rápida de obter os recursos. Tenho certeza que vai incentivar a cultura como um todo”, diz.
Grandes produções audiovisuais levam anos para serem concluídas, envolvem uma equipe grande de profissionais e movimentam muito dinheiro. Siansi comenta que a economia da cidade se beneficia muito com os editais municipais que são lançados. “A gente traz um investimento muito grande. Contratamos profissionais de Ribeirão Preto para compor a equipe, alugamos hotéis na cidade. O dinheiro acaba sendo movimentado aqui. Trazemos essa fonte de renda”, ressaltou o produtor.
Prico entende que a Lei Paulo Gustavo tende a beneficiar muito o município. “É um recurso que foi muito esperado porque vai fomentar demais o mercado. É algo que faz todos ficarem antenados e ansiosos para participar”, reforça.
Tato Siansi, produtor audiovisual e sócio da Kauzare Films desde 2009. (Foto: Bruno Leal)
A Lei Paulo
Gustavo
Assinada em 11 de maio de 2023, a Lei Paulo Gustavo é uma conquista para o setor cultural. Ela prevê o repasse de R$ 3,8 bilhões aos estados, municípios e Distrito Federal visando diminuir os efeitos que a pandemia da Covid-19 provocou no setor cultural. Por meio de chamamentos públicos, os fazedores de cultura podem financiar seus projetos.
O nome é uma homenagem ao ator e humorista Paulo Gustavo, vítima do vírus em maio de 2021. Ele ficou conhecido pelo filme “Minha Mãe é uma Peça”, lançado em 2013, e sua morte gerou comoção nacional.
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Apresentação de rap dá um verdadeiro show de alegria e conscientização na 22ª
Feira Internacional do Livro, em Ribeirão Preto
Ribeirão Preto é uma cidade muito democrática quando falamos de cultura. Principalmente quando vem à mente o cenário musical. Podemos considerar nossa cidade como um ecletismo que só existe nos grandes centros.
O maior evento cultural da cidade, a Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto, costuma ceder seu espaço para que diversos artistas do cenário musical exibam seus grandes sucessos e lançamentos. Na última edição não foi diferente.
Dentre todas as apresentações do evento, o rap foi um ritmo que conseguiu reunir seguidores, amadores e conquistou novos adeptos.
Na segunda-feira, dia 14/08, o público acompanhou a apresentação de dois artistas: Onan e Dj Spin, e contou também com a participação especial do rapper Vinícius Preto.
Os cantores e o DJ são grandes nomes da representatividade preta e foram responsáveis por alegrar a primeira noite da semana do público. Teve direito até a dança! Em conjunto com a Feira do Livro, a Biblioteca Sinhá Junqueira foi uma das responsáveis pela coordenação do show. Vinícius, além de rapper, é também o responsável pela programação mensal da biblioteca, e foi ele quem idealizou a apresentação dessa noite.
“O Onan eu já conheço há muito tempo, desde 2011, ele lançou um álbum bem legal recentemente. Eu tive o prazer de participar do show. Temos três músicas juntos também, foi bem bacana.”, diz Vinícius. Se tem algo que o rap faz como ninguém é transformar a vida em poesia e a rua em palco.
Esse estilo musical vai muito além de rimas e batidas; é um verdadeiro estilo de vida que
transcende as caixas de som e ganha vida nas esquinas da cidade.
No rap, a vida é a matéria-prima. Desde os primórdios em Nova York até as periferias do Brasil, as rimas são o eco das histórias reais, dos sonhos e das lutas diárias. É a trilha sonora daqueles que muitas vezes são invisíveis aos olhos da sociedade, mas que se fazem ouvir nas letras cantadas. É um discurso direto sobre a desigualdade,o preconceito e a busca por justiça.
O cenário do rap vai ganhando mais força a cada evento cultural da cidade, evidenciando a importância de evidenciar um cenário nem sempre tão visto por toda a população. Eventos como a Feira do Livro, por exemplo, são uma verdadeira porta de entrada para a cultura preta em uma cidade majoritariamente elitizada.
É através de momentos como esse que novos artistas ganham espaço na cultura e passam a ocupar mais espaço na sociedade.
Segundo Vinícius Preto, muita gente que não conhecia os artistas gostou do show, e o
Júlia Tornai
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Foto: Felipe Gondo
interessante é isso: fazer com que os artistas tenham novos públicos e que o público conheça novos artistas.
“Essa troca de informações promove um intercâmbio cultural, de extremos que se encontram”, diz o rapper.
Realizada pela Fundação Feira do Livro em conjunto com a prefeitura municipal, a Feira Internacional do Livro de 2023, sediada na cidade de Ribeirão Preto, é a maior feira do livro à céu aberto do país. A edição desse ano contou com uma programação para lá de especial, com diversos artistas incríveis e uma programação que durou aproximadamente uma semana, do dia 12 ao dia 20 de agosto.
Foto: Felipe Gondo
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Foto: Felipe Gondo
Dos livros para os jogos: Folclore vira jogo de RPG
Marcela Breve
O folclore, um gênero de manifestação cultural brasileiro, traz elementos que caracterizam a identidade social de um povo por meio de mitos, lendas, danças e costumes. De grande importância para nossa história, o folclore não apenas une valores culturais locais como também, manifesta crenças de determinadas regiões.
Apesar de fazer parte exclusivamente da nossa cultura e aprendermos sobre figuras folclóricas na escola, ainda assim não aprofundamos esse conhecimento para além da sala de aula. E, por fim, conforme os anos passam, o folclore acaba ficando esquecido, como se fosse um brinquedo velho no fundo do baú.
Recentemente, o folclore ganhou evidência nacional e internacional após o lançamento de uma série de produção brasileira para a Netflix chamada Cidade Invisível, estrelado por Alessandra Negrini e Marco Pigossi. Na série, figuras mitológicas do folclore vêm à tona em uma narrativa contemporânea. Na nossa região, uma iniciativa para a divulgação do folclore tem chamado a atenção de crianças e jovens. Vamos saber mais!
Folclore em Sertãozinho
Os ‘Folcloristas’ é um projeto que incentiva o folclore brasileiro e é financiado pela Secretaria de Cultura de Sertãozinho, por meio do Edital Provar: Programa de Valorização ao Artista. O projeto, que começou em 2023, tem enfoque no público infanto-juvenil para práticas de jogos relacionados ao conhecimento folclórico. Rafael Rocha, educador e idealizador do projeto Folcloristas, já tem muitos anos de experiência em RPG voltados para aspectos culturais. Por isso, inscreveu sua proposta no projeto Provar este ano. A ideia do Projeto Folcloristas é incentivar e ensinar o folclore com elementos mais envolventes.
Foto: Divulgação
No caso, ilustrar figuras folclóricas por meio de inteligência artificial e criar um acervo de figuras folclóricas para servir como referência. “Em vez de contar histórias sobre o folclore, o jogo de RPG permite que os personagens dos jogadores interajam com figuras folclóricas, e o conhecimento folclórico se torna a chave para desvendar os mistérios do jogo”, explica Rafael.
Rafael observou que os jovens e adolescentes estão se distanciando da história do Brasil e desejava tornar os elementos mais interessantes, por isso optou por essa abordagem. Para isso, também aproveitou sua conexão com a Netflix como meio de conectar a essência do folclore. Ele relata ainda: “Busquei trabalhar no formato das séries ‘Cidade Invisível’ e ‘Stranger Things’ e usei essa atmosfera para explorar os aspectos folclóricos, os seres e entendê-los a partir de suas perspectivas”.
Como funciona o jogo RPG
O RPG de mesa é similar a uma contação de história, só que de forma participativa. Então, o desenvolvimento da história depende dos participantes. Existem elementos narrativos, e esses elementos vão sendo construídos coletivamente e mediados por um narrador central.
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Rafael explica que “É diferente da contação de história e da leitura, que você vai ter uma conexão passiva, ou seja, nada que você fizer vai alterar o rumo, porque você não é sujeito ativo e protagonista daquele saber, você está absorvendo, contemplando aquilo. No RPG você é protagonista da história, então você lida com isso em primeira pessoa e, dessa forma, você consegue experienciar o folclore”.
No RPG, é possível aperfeiçoar de forma divertida e interativa aspectos relacionados ao folclore. De acordo com ele, existem figuras folclóricas com características próprias, pontos fracos e pontos fortes. “Para vencer no jogo, é necessário ter esse conhecimento. Portanto, a ideia do projeto não é apenas ensinar, mas tornar o conhecimento folclórico algo extremamente útil em uma perspectiva de jogo”, complementa Rafael. O projeto iniciou sua parte prática em julho e se desenvolveu ativamente em agosto. Até o momento, cerca de 50 pessoas participaram diretamente, e 150 pessoas interagiram no projeto, o que ocorreu em cerca de 16 oficinas.
Foto: Divulgação 9
A vida é muito imprevisível e, às vezes, ela pode mudar em questão de minutos. Waldir Vicente é um exemplo de como os ciclos se transformam constantemente. Ele se tornou um artista plástico pelo destino da vida, e não por escolha. Até os 57 anos era cortador de cana, mas um acidente de trabalho o fez perder os braços parcialmente. Por isso, foi preciso que ele recalculasse a rota, ao buscar uma forma de superação, ele mostra que a esperança é um sentimento revigorante.
“Minha paixão pela pintura foi descoberta após o acidente, nunca tinha pintado nada ou ao menos desenhado. Comecei escrevendo diários e, ao final de cada página, desenhava alguns homenzinhos, barcos e flores”, disse o artista.
A partir daquele momento, Waldir começou a fazer desenhos semelhantes a mandalas, que são desenhos com formas geométricas. Depois, foi explorar quadros e cartões, os quais ele ainda faz atualmente. Foi por meio da arte e do apoio da família que conseguiu superar os desafios.
Suas obras buscam retratar o mais belo da simplicidade e a época que viveu na roça. Paisagens naturais, barcos e trabalhadores são alguns dos elementos que compõem a beleza e representação da vida pelo olhar do senhor Waldir.
“Os temas são livres, desenho mais paisagens, mas trabalho também por encomendas. Desenho todos os dias, principalmente no período da manhã”, conta ele.
A arte também tem desafios
Nem tudo são flores, e o começo da sua carreira artística não foi diferente. “Os desafios são a forma de expor e vender meus trabalhos, pois é difícil quem valoriza a arte. Os materiais têm um alto custo também”. Às vezes, as dificuldades persistem, e para um artista independente, cada dia é uma vitória.
Mas no fundo, cada elogio o faz recomeçar e seguir em frente, ser grato por cada apoio e saber que venceu. Poderia até dizer que a arte o salvou, foi uma luz no fim do túnel. “A arte é fundamental para mim, foi ela que me tirou de uma depressão após o acidente, acredito que ela tem um papel terapêutico para mim”, relata o artista plástico.
A neta, Daiane Vicente, confirma a importância que a arte tem na vida dele e que foi uma luz em meio a escuridão. “A relação do meu avô com a arte é algo fundamental para ele, pois através dela ele se distrai. E, a forma dele trabalhar, as limitações físicas faz com que ele se adapte às diversidades, tornando-se uma luta todos os dias”, conta ela.
Para ela, ver o avô desenhando serve como inspiração para o seu dia. Declarada como a maior fã de Waldir, a neta diz que tem quadros dele pela casa. Ela ainda conta que mesmo com todas as dificuldades, ele está sempre sorrindo, fazendo piadas, mas também passa por momentos de choro e tristeza. Daiane leva como aprendizado a nunca desistir de nada.
Arte sem limites
João Victor Betioli
Foto: Daiane Vicente
Foto: Daiane Vicente
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A arte faz renascer
O que para muitos um acidente pudesse significar o fim da vida, para ele foi um renascimento. Vicente se reencontrou na arte e diz que para começar as primeiras pinturas foi muito difícil devido às suas limitações, mas sempre estava ligado ao seu amor com a vida no campo, família, animais e desistir nunca foi uma opção.
“Depois que meu avô sofreu o acidente, nasceu um artista. Ele sempre trabalhou na roça e arte o ajudou muito”, pontua a neta.
Para seguir em frente e se dedicar inteiramente, foi preciso desenvolver uma técnica para que pudesse pôr em prática esse recomeço por meio da arte. No início, ele usava uma prótese de braço, mas ao longo do tempo não era mais eficaz. Ele, então, trocou por uma prótese manual, que é encaixada em uma parte do braço esquerdo com suporte para colocar lápis, entre outros.
Daiane diz que a arte foi uma forma de superação e mudou o olhar da família sobre isso.
Ela diz que é uma felicidade ver seu avô acordando cedo, se preparando para pintar e acompanhar os passos até seu modesto escritório. Como leitor assíduo de revistas e livros, ama desenhar navios, natureza e tudo se torna uma inspiração para ele.
Em contradição a toda essa dedicação e amor, vem a dificuldade e falta de apoio no mercado para esses profissionais.
Daiane ainda diz que as oportunidades para pessoas com deficiência se tornam ainda mais complicadas, principalmente no meio artístico.
“Acredito que a falta de recursos e preconceito de algumas pessoas são muito presentes ainda. O deficiente físico no nosso país ainda não tem muito espaço e sofre com essa falta de diversidade.”
Mesmo com toda essa problemática, Waldir não desiste e acredita sim que a vida pode ser bela, assim como nos desenhos que realiza. Ele sente que pode ser exemplo para as pessoas não desistirem diante das dificuldades.
“Acredito que Deus é muito bom para nós e que não podemos desistir mediante as dificuldades e sempre agradecer. Mesmo na situação que me encontro nunca desisti, hoje estou com muita dificuldade
em enxergar de perto. Estou tratando em Ribeirão Preto, para retomar meus trabalhos, o importante é continuar seguindo com fé”, conta.
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Foto: Daiane Vicente
O olhar de quem compra
Há também quem goste de uma boa prosa, tomar um cafézinho e apreciar a arte e a natureza em um fim de tarde.
Waldir sempre que é convidado ou tem a oportunidade, ele expõe suas artes em feiras e eventos. Foi em um desses passeios que Val Barbieri, além de amiga se tornou uma cliente, admirada com as obras não se conteve em apenas olhar.
“Eu adquiri duas das suas obras, tenho muito orgulho de tê-las, porque realmente quando eu olho ali eu vejo um trabalho de muita superação, de resiliência. O mundo precisa conhecer a história dele”, disse ela com entusiasmo.
A arte dele chamou a sua atenção, fazendo os olhos encherem de lágrimas com tanta profundidade e história por trás desse homem. Ela também destaca que as pinturas dele têm um diferencial muito grande, com toques bem sutis e delicados.
“Parece que a gente está ali dentro daquela pintura mesmo. Com os traços dele, ele consegue colocar tanta realidade nas suas pinturas. Seu Waldir, do limão fez uma deliciosa limonada, porque foi através desse acidente que Jaboticabal e o mundo pôde conhecer um grande artista”, comenta a cliente.
Feito aquelas canções clássicas da MPB, o desenho dele leva Val para um mundo de imaginações e afetos, na qual se sente totalmente envolvida com as obras, como se elas acariciassem o seu rosto. Barbieri diz que tem uma conexão com o artista, principalmente pelo amor a natureza e por ambos terem sido criados no sítio.
“Me conecto muito com a arte do seu Waldir porque ele coloca ali as paisagens lindíssimas do meio ambiente, da natureza, de animais. A gente pode ver um cavalo tomando água no riacho, um passarinho pousando no galho de uma árvore”, descreve.
A trajetória de Waldir, entrelaçada com a arte, personifica o verdadeiro significado de resiliência. Como um pincel nas mãos de um mestre, ele transformou desafios em obras-primas. Assim como a Renascença revitalizou a cultura europeia, Waldir renova
nossas perspectivas e inspira mudanças profundas por meio de sua expressão artística única. Ele nos lembra que a arte tem o poder de moldar o mundo e nossa própria jornada.
Foto: Daiane Vicente
Foto: Daiane Vicente
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Foto: Daiane Vicente
Eles não são só “bonequinhos”!
Os Funkos chegaram para conquistar cada vez mais espaço na vida de amantes da cultura geekie.
Fábio Fuentes
Os colecionadores estão entre nós desde muito tempo. Existem aqueles que colecionam os famosos discos de vinil, recheados de sucesso e relíquias, aqueles que colecionam camisetas de times de futebol e, até mesmo, aqueles que colecionam latinhas de refrigerante e cerveja.
Dentro dos vários tipos de colecionadores, estão aqueles apaixonados pelo universo geekie, que se caracteriza como um estilo de vida, onde os indivíduos se interessam por tudo relacionado à tecnologia e eletrônica.
Os fãs desse universo podem colecionar filmes, revistas, pôsteres, peças de roupa e, um dos principais objetos colecionáveis, os action figures. Elas são pequenas estátuas, funcionando como réplicas ou representações de grandes personagens de séries e filmes.
O termo surgiu em 1964, quando a Hasbro lançou os bonecos G.I. Joe. Em 1982, a Estrela criou uma versão menor e com o tema militar.
Em 2021, os brasileiros consumiram mais de R$ 280 milhões em peças colecionáveis e licenciadas de super-heróis. O mercado de action figures cresceu 21% nas vendas no mesmo ano, em comparação com 2019.
Fotos:
No meio destes colecionadores, o jornalista Werlon César, de 30 anos, faz questão de demonstrar o seu amor pelas séries e filmes que assiste através dos funkos — bonecos pequenos e “cabeçudos”, com um visual mais caricato de personagens de filmes, séries, jogos e até livros.
Ele comenta que sempre gostou do universo, e que a coleção veio como uma forma de demonstrar esse amor. “Eu sempre acompanhava os Funkos e via em redes sociais. Eu achava muito legal, esteticamente muito bonito e bem feito. Comecei a pesquisar e entender esse mundo e foi aí que decidi colecionar. Comecei a investir um pouco mais na coleção em 2019, antes disso eu tinha alguns, mas eles ficavam em um cantinho misturados. Mas a ideia começou depois de ir vendo e acompanhando os bonequinhos, os segmentos diferentes e achando isso muito massa”, comenta César.
Ele ainda diz que, para colecionar, é importante que a pessoa esteja disposta a reservar um espaço dedicado aos bonecos, já que a ideia principal é que eles estejam sempre à mostra e em um bom estado de conservação. Não basta apenas comprar e deixar em um canto qualquer ou escondidos das visitas.
“No meu quarto tem alguns degraus onde eu organizo a coleção de acordo com o segmento que ele representa. Tenho Vingadores, Harry Potter, Disney... são 105 ao todo. Eu vou fazer um expositor para eles, porque é uma vitrine. Eu coleciono eles fora da caixa, e isso acaba juntando poeira, então a ideia é protegê-los de sujeira, poeira e vento e deixar tudo mais organizado. Ter um lugar para guardar sua coleção é importante para que eles possam durar muito mais tempo”, diz César.
FUN KOs
Os colecionadores ainda precisam enfrentar um certo preconceito por parte de algumas pessoas que criticam a opção de colecionar, segundo essas pessoas, “brinquedos”. Ouvir esse tipo de coisa nem sempre é bom, mas a paixão pela coleção sempre fala mais alto.
“Essa questão do preconceito é um pouco polêmica. Eu levo na boa, acho engraçado. Quando eu comecei a comprar, a minha família achou engraçado e disse que eu estava comprando bonequinhos, mas depois eles perceberam que tem todo um contexto para o colecionador, porque eles são muito bem trabalhados e feitos. O objetivo dos Funkos é encher os olhos, não é brincar. A verdade é que todo mundo coleciona alguma coisa.”, diz César.
Werlon César
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Arte em Sertãozinho acontece no
CÉU
Por Josielle Gregório
Uma imensidão azul, de vez em quando coberto por algumas camadas que parecem algodões, as famosas nuvens. Observar provoca um certo mistério, o que vem depois? A cidade recebeu um céu, o céu dos artistas, das crianças, dos idosos.
O CEU das Artes (Centro de Artes e Esportes Unificados), localizado no município de Sertãozinho, é um espaço destinado a atividades culturais, como aulas de balé, música, teatro, violão, jogos, entre outros, todas gratuitas, e disponíveis para o público de todas as idades. O CEU é composto por uma ampla infraestrutura, com biblioteca, telecentro, cineteatro, salas multiuso, quadra de esporte e lazer, academia ao ar livre, pista de caminhada, pista de skate e áreas de jogo.
Cada vez mais, a cidade se destaca nos âmbitos culturais e turísticos e mostra através de projetos, como o Provar e o Banco de Projetos, contemplados pela lei 5.917/2015 que incentivam a participação das pessoas nas atividades culturais da cidade. Eles oferecem um orçamento específico para cada projeto apresentado, este que, deve ser votado pela organização da Secretaria de Cultura e Turismo.
O Provar e o Banco de Projeto são editais anuais e exclusivos para residentes de Sertãozinho por, no mínimo, dois anos. Ambos servem para promover a cultura do município. PROVAR é para as pessoas físicas, trata-se do programa para valorização do artista. O Banco de Projetos é para pessoa jurídica.
BANCO DE PROJETOS
Trata-se de um Programa em que serão selecionados projetos para oficinas culturais e atividades de ensino de linguagens artísticas. Poderão participar da seleção somente pessoas jurídicas.
PROVAR
Trata-se de um Programa em que artistas residentes em Sertãozinho poderão concorrer anualmente para o desenvolvimento de projetos nos segmentos de artes visuais, canto coral, dança, literatura, música, teatro, vídeo e outras linguagens artísticas, mediante o recebimento de prêmios em pecúnia. Tem por objetivo o incentivo das manifestações artísticas, visando estimular a criação, o acesso, a formação e a participação do produtor e do criador no desenvolvimento cultural da cidade, promovendo, ainda, a inclusão cultural e estimulando dinâmicas culturais locais. Poderão participar da seleção somente pessoas físicas.
O Secretário de Cultura e Turismo, Josias Nascimento, comenta sobre as mudanças na sociedade após a implantação das atividades.
“Investir na cultura é investir nas pessoas e, assim há uma conscientização, faz as pessoas enxergarem o mundo de uma forma diferente. Eu costumo dizer sempre, que quem chega primeiro na cabeça de uma criança, tem privilégios. E então, quando a cultura chega primeiro, proporciona mudanças no comportamento. Vemos que o crime diminui, as drogas começam a ter pouca influência. Inclusive, os índices criminais da cidade diminuíram significativamente.”
Contato: (16) 3942-42827
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Segundo os dados oficiais levantados pela Secretaria Estadual de Segurança Pública de São Paulo, as quedas na criminalidade são consideráveis se compararmos os seis primeiros meses de 2023 com o mesmo período do ano passado:
Homicídio teve uma queda de 75% e roubos uma queda de 2,5%.
O significado da cultura na vida da Rosinéia
Além da melhora em termos de criminalidade da cidade, a cultura desenvolve um papel importante da vida de Rosinéia Freitas, 49, que há sete meses participa de atividades culturais oferecidas pela cidade, fazendo dança do passinho e, também, aulas de Muay Thai. A dança do passinho que Rosinéia participa é diferente da desenvolvida pelos jovens da favela, que impulsionaram o movimento de expressão corporal. A sua atividade é a dança do passinho dos anos 80 e 90, e consiste em movimentos sincronizados, no estilo dance, que vem conquistando o espaço novamente nos bailes e festas.
“A cultura resgata um pouco o passado, é uma forma de não ficar no esquecimento. É importante, também, para a nossa saúde física e mental. Eu gosto da dança de passinhos dos anos 80, 90, é algo que os adolescentes não conhecem, e estamos tentando resgatá-lo”, ressalta Rosinéia.
A dança auxilia em diversos aspectos na vida das pessoas, principalmente na saúde, como citou Rosinéia. “A importância da dança é gigante, pois ajuda na coordenação motora, na perda de calorias, flexibilidade, mobilidade e, também, algo que pouco se comenta, ajuda na socialização. Geralmente dançamos em conjunto, em pares, e isso ajuda na comunicação entre as pessoas, além de ser uma ótima opção de lazer”, explica o Educador Físico, Gabriel Pinotti.
Horário de funcionamento: Terça à Sábado, das 7h às 21h Contato: (16) 3942-4282
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Foto: Divulgação
Arte em nome do meio ambiente
Morador de Ribeirão Preto faz artes plásticas de resíduos tecnológicos em prol da restauração na saúde da natureza.
Maristela Bárbara
Setembro de 2023 na cidade de Ribeirão Preto, o artista plástico Giovanni Malta colocou em exposição seu trabalho artístico manual. Ricas em detalhes, as obras apresentavam em sua composição, objetos que estão presentes em nosso dia a dia, materiais tecnológicos que inclusive, são nocivos para a natureza, se descartados de maneira inadequada. Essa é a mensagem que o mineiro de 56 anos pretende passar e foi em uma de suas exposições que conheci o seu trabalho.
Por volta das 11 horas de uma sexta-feira, simpático e falante, o artista se mostrou como quando nos conhecemos, bem-disposto a falar de seus projetos. Antes, pediu licença para observar a biblioteca Sinhá Junqueira e logo parou para contemplar uma maquete, admirando um estilo de arte que também confecciona, mas com materiais reutilizáveis.
Filho de músicos e membro de uma família de artistas, Malta apresentava o gosto pela arte desde a infância. Aos nove anos escreveu poesias que, de tão bonitas, eram colocadas nos jornais do colégio. Com 12 anos se interessou em escrever um livro, o que realizou aos 17. Antes disso aos 15 anos, já tinha confeccionado uma peça em madeira, talhando um caipira com um saco nas costas. O objeto decora sua casa até hoje. Criativo dessa forma, ele vivenciou diversas profissões e, com elas, foi morando em várias cidades do país. O descendente de italianos também se entregou à música e, ainda hoje, canta e toca na igreja que frequenta. Ele aprendeu a tocar violão com o pai, mas foi com a mãe, “a melhor da alta costura”, como ele descreveu, que herdou a paixão pela moda. Assim, foi com o universo do vestuário que chegou em Ribeirão Preto, trabalhando paralelamente em uma agência bancária.
No interior de São Paulo, ele criou uma coleção de 100 camisas masculinas, dando sequência em seu trabalho como estilista. Entre idas e vindas de lugares e profissões, o artista completo, como é carinhosamente chamado pelos amigos, foi despertando cada vez mais para a saú-
Foto: Felipe Gondo
de do meio ambiente e diz que insiste na causa por detectar que a natureza está em falência.
Arte sustentável
Malta conta que sempre se preocupou com o meio ambiente e que a sensação de que não podia fazer algo mudou no ano de 2013, quando recebeu de um amigo dos Estados Unidos, a imagem de uma réplica de moto feita de resíduo tecnológico. O artista reproduziu o objeto e amou. Inquieto, notou precisar fundamentar sua mais nova técnica. “Tudo na minha arte tem que ter uma história, o porquê estou fazendo isso e o que significa, por isso eu preciso começar a estudar”.
Foi estudando que se preocupou ainda mais, ao descobrir que o Brasil reciclava apenas 3% de resíduo tecnológico e perigoso. “Só a placa do computador tem 17 materiais pesados. Tem lítio, chumbo, ferro, cátion e vários produtos nocivos à saúde. Comecei a estudar e vi ser um problema mundial. E aí fiquei preocupado”, conta.
De 2013 aos dias atuais, para se especializar na arte sustentável, estudou geografia a fim de entender o espaço em que habita, além de fazer um curso técnico em meio ambiente. Com seu talento e suas obras,
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hoje ele explica a importância da sustentabilidade. Malta conta que de acordo com seus estudos, o planeta não tem solução e explica que só no Brasil são gerados 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico por ano. Nessa mesma média de tempo, uma pessoa individualmente é capaz de gerar sete quilos desse material. Apesar do cenário, ao trabalhar com lixo eletrônico, ele reconhece que está recuperando, resgatando, reaproveitando e reusando. Cumprindo os “rs” da sustentabilidade, de um produto que vai ser jogado fora.
Malta ressalta o desejo da humanidade em levar uma vida mais sustentável e reforça a preocupação com o futuro. “Nossa água e solo, contaminados e puro agrotóxico, são muitos problemas no meio ambiente. Não tem mais tempo de preservar, tem que restaurar algo que já está acabado.”
Políticas públicas
O trabalho de Malta ultrapassa o artístico manual, devido à preocupação com a natureza. Mesmo contra a própria vontade, ele conta que se filiou a um partido, com o propósito de levar à frente a discussão. O artista explicou que atualmente não tira renda das exposições, já que realiza o trabalho de forma voluntária para levar o conhecimento.
Malta também realiza oficinas para crianças em instituições de ensino e destaca que os jovens são o futuro. Ele diz ficar sem palavras ao observar a forma como os menores agem com as atividades. Para ele, uma das soluções para a questão sustentável, é a educação nas escolas, não de forma interdisciplinar como atualmente é, mas tendo a educação ambiental como matéria em salas de aula.
Obra
Dos materiais tecnológicos, Malta cria quadros, réplicas de moto, maquetes e até robôs, além dos objetos decorativos, cria também peças funcionais, como porta-caneta, porta-cartão, luminárias e arandelas. “A gente pode buscar algo jogado fora e fazer ficar lindo. Às vezes eu pegava uma peça de alumínio e nem pintava, porque ela já estava linda. Você não gasta tanto, além de estar reaproveitando o material, pode estar economizando muito, porque aquele material você não vai comprar, pode ganhar, é só procurar”.
O tempo de confecção de cada obra pode depender da disponibilidade dos materiais necessários, o que contrasta com o desejo de Malta em ver a arte finalizada e colocada em exposição. Ele conta
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Foto: Felipe Gondo
que às vezes as peças são renovadas e destaca que todo artista está em busca da perfeição. Os materiais utilizados, na maioria das vezes, são doados. Aos risos, ele comenta que fica fascinado com os elementos que usa. Sobre a confecção das obras, Malta cita Michelangelo, ao dizer que o pintor que tanto admira, conseguia visualizar a obra pronta por meio dos materiais. Malta tem o mesmo pensamento. Toda vez que ele recebe novas peças, visualiza a obra finalizada só de olhar para os itens.
Resíduo e rejeito
Sobre os materiais trabalhados Malta explica a diferença entre resíduo e rejeito: o resíduo é o que ele usa e rejeito é o que é descartado. Porém, ele usa o termo lixo tecnológico, por ser a forma que as pessoas entendem, mas destaca que os materiais usados nas obras não são lixo e, sim, resíduos.
O artista também explica que as peças que não podem ser trabalhadas por conta do produto químico são pilhas e baterias, e que estes não devem ser armazenados em casa, pois vão se deteriorando com o tempo.
Ele cita os cuidados ao lidar com outros materiais, ao retirar o que for necessário e não provocar a substância. “Se eu não provocar a placa mãe, que tem 17 metais pesados, eu não tenho nada, porque ela está quietinha ali. Mas eu uso máscara porque sai um cheiro forte do produto químico. Eu também uso óculos e faço tudo com segurança.”
O grande perigo dos materiais nocivos é o descarte em lixo comum, por atingir o aterro sanitário ou os chamados lixões, existentes em alguns lugares.
Um dom
Com tantos trabalhos realizados e um número desconhecido de quantas peças já criou, o artista acredita que sua inspiração vem do Espírito Santo, para quem recorre quando uma confecção está muito difícil. “Eu acredito que quem me ajuda em todas as obras, quem faz tudo e me inspira é Deus”, diz o artista, mostrando a imagem de Cristo, na tela do celular.
Malta explica a necessidade de colocar para fora aquilo que está dentro dele, e cita que todo artista quer que as pessoas conheçam suas ideias, sem entender exatamente o porquê. “Não sei por qual motivo, mas quando alguém te elogia, você não se sente bem? Então, o artista se motiva cada vez mais quando falam bem de suas obras.”
Ao final da entrevista, Malta comenta que foi um professor, quem o ajudou a valorizar as suas próprias obras, explicando para ele, que nem sempre todos podem fazer o que o outro faz. Trata-se, portanto, de um dom.
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Fotos: Felipe Gondo
Saraus literários e seus benefícios para a juventude
Felipe Gondo
Durante eventos culturais como a Feira Internacional do Livro que ocorre em cidades como Ribeirão Preto, muitos artistas são convidados a se apresentarem dentro de espaços diversos que compõem o evento, foi o caso de Pedro Dugaich, Matheus Amaral, Bruna Liz e Kai Almeida, que fazem parte de um grupo responsável por saraus que foram convidados para se apresentarem na Biblioteca Sinhá Junqueira durante o evento da FIL que ocorreu neste ano de 2023.
Estes eventos que promovem a fala de pessoas marginalizadas e excluídas da sociedade são importantes para empoderar pessoas que procuram, através da sua própria arte, levar não só uma comunicação e palavra para frente como, também, disseminar a literatura.
Para a artista plástica, estudante de filosofia e componente do coletivo, Bruna Liz, 18, os saraus ganharam maior relevância recentemente. “Na minha perspectiva esses eventos são extremamente importantes e não é de hoje, o sarau já está presente a muito tempo e começou a ser valorizado só agora…” disse.
Bruna também destacou que a realização desses eventos podem auxiliar na descoberta de novos artistas, além de dar voz aos jovens. “Com a realização deles no meio de jovens, se descobre a liberdade e a revelação de muitos artistas, trazendo também
a oportunidade a estudantes que estão extremamente desfavorecidos dentro da sociedade”.
Um outro lado que é destacado por Matheus Amaral, que também compõe o coletivo são as raízes dessas manifestações e suas descendências e como isso pode auxiliar nos discursos e maneiras de se manifestar. “No Brasil, estas manifestações culturais bebem diretamente da cultura africana e afrodescendente, principalmente no tocante ao fato de que estes foram importantes para o agrupamento e resistência destas pessoas durante a história do Brasil” disse.
Amaral se coloca como um exemplo da enorme diferença de como a realidade sócio-econômica pode afetar a maneira de se expressar e dessa forma mais pessoas escutarem o que ele tem a dizer. E destaca como a conquistas de espaços como a FIL podem auxiliar na disseminação da sua realidade, além de visibilizar novos prodígios. “Podemos olhar na cidade e veremos vários exemplos de diversos
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jovens e adolescentes que organizam batalhas, saraus, slams, isso é até um paralelo em relação aqueles jovens prodígios de classe média que, com 16 anos publicam um livro, jovens negros com 16 anos já estão organizando todo um movimento cultural. Por exemplo, eu mesmo, com a ajuda de amigos já organizei uma batalha por três anos em meu bairro, a Batalha do Ponto 157. E a presença em eventos como a FIL podem potencializar toda a nossa voz, permitindo que a gente alcance novos públicos e pessoas que não costumam frequentar batalhas de rimas.”
raus para a juventude e destaca que é a movimentação de uma cultura que possui raízes e afinidade política muito importante e que a sua realização transmite no presente e no futuro essa descendência. “Principalmente para pessoas de periferia, que nem sempre se sentem representados através do conteúdo que é disseminado na grande massa.” Dugaich ainda reforça que não há um investimento muito grande para esses tipos de eventos e questiona “Imagina se realmente fosse investido um dinheiro para esses eventos, se espaços fossem cedidos com maior frequência… poderíamos alcançar muito mais gente e dessa forma impactar diversas
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Dança e Solidariedade
Cristiane Hikiji, médica anestesiologista arrecada há nove anos brinquedos através da arte, para presentear crianças de comunidades carentes em Ribeirão Preto.
Cristiane Hikiji é descendente de três povos: japonês, italiano e árabe. Ela sempre esteve envolvida com a dança desde pequena, inicialmente com balé, depois na fase adulta iniciou com a dança do ventre e hoje também dança tango. Além de toda essa alegria, Cristiane também desfila para escolas de samba, com toda emoção e energia. Cristiane já se apresentou em muitos lugares do mundo, como Estados Unidos e Egito. Em 2014 ela tomou a iniciativa:
“Sempre dancei voluntariamente, pensei em fazer um projeto que fosse meu e que beneficiasse um segmento. Como sempre anestesiei crianças e idosos, então escolhi as crianças para o meu projeto”
Cristiane menciona os desafios que já enfrentou ao construir os nove anos de projeto, entre idas e vindas da construção e idealizações para o projeto, já se apresentou em dias de chuva em um show que foi no drive in, onde mais de 100 carros acompanharam o espetáculo a céu aberto.
Outra experiência que Cristiane menciona, foi um acidente em uma das suas apresentações que a levou a desistir. O telão caiu no palco, e por apenas um espaço de 10 centímetros, hoje ela não estaria aqui. Ela conta com muita emoção, que sua filha foi enviada por Deus para motivá-la ao pensar em desistir após esse acidente:
“Mãe, você vai desistir? Fecha os seus olhos e imagina aquelas criancinhas pegando os brinquedos. Naquela hora eu pensei, meu Deus como eu sou egoísta! Se não fosse Deus, eu não estaria aqui para te contar essa história”.
Inicialmente, a médica começou distribuindo os brinquedos em datas natalinas, mas percebeu que o dia das crianças que, normalmente é uma das datas mais esperada pela criançada, quase não havia projetos voltadas para elas. Por isso, decidiu definir a entrega dos brinquedos para todos os dias 12 de outubro. Em todos esses anos de trabalho voluntário, Cristiane Hikiji já arrecadou mais de sete mil brinquedos.
No momento em que é feita a entrega, é realizada uma festa com as crianças, com direito a guaraná e cachorro-quente para festejar a data. Todo o movimento, desde a entrega, o caminhão que carrega os presentes, até as pessoas que auxiliam Cristiane na distribuição, trabalham voluntariamente.
“Eu nunca só pedi brinquedos, sempre penso em oferecer algo, então eu ofereço a arte. Levamos arte para as pessoas e ganhamos sorrisos” esta é a razão pela qual ela se inspira todos os anos.
A história com os voluntários
Nesta caminhada Cristiane encontrou com vários artistas que se disponibilizaram pela causa com ela. Wellington Virginio é artista de rua da cidade de Ribeirão Preto. Cristiane conta com a sua participação voluntária desde 2022, sendo o único artista de rua que se apresenta nos espetáculos beneficentes.
Wellington é cover do artista Michael Jackson, e menciona que o espetáculo dela traz a alma, e isso para ele é algo importante para o evento que reúne muitos artistas de diferentes estilos. Ele se entrega pela causa e disse que já passou por diversos desafios e reflete sobre participar do trabalho beneficente com a Cristiane:
“Já passei muitas dificuldades e proporcionar alegria para crianças inocentes não tem preço! Esta é a segunda vez que participo e participarei muitas vezes mais!”
Miriam Peto, também voluntária do trabalho desde o início, é bailarina desde os dez anos de idade. Miriam diz que tudo o que tem e o que é ela deve a dança, sempre foi envolvida com diversos trabalhos voluntários, deixa bem claro que as recompensas são bem melhores do que qualquer salário, “ter o poder de realizar o sonho de uma criança não tem preço”.
Miriam ainda diz que as suas maiores inspirações na dança são o amor, paixão, força e persistência. Ela foi bolsista quando começou a dançar e conta que o seu corpo não foi classificado como o corpo ideal de uma bailarina profissional, mas isso nunca a fez desistir. Logo após as suas formações iniciou sua carreira com aulas de dança.
“Eu continuo caminhando e buscando permanecer na dança”.
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Evelyn Brena Rodrigues
Miriam diz que a dança é sua única profissão e que está sempre em busca de atualizações na arte. Ela começou com ballet clássico, fez jazz contemporâneo, dança do ventre, dança de salão, salsa, tango e zouk.
Sobre o Cristiane Hikiji convida ela menciona o amor de Cristiane sobre o festival: “quando a Cris me chamou e eu aceitei de primeira, pretendo continuar participando. O festival da Cris é muito esperado pelos bailarinos, também pela sua dedicação, ela é detalhista, faz tudo com muito amor, muito bem-feito, tudo muito bem pensado. Ela sonha e realiza neste festival”.
Apresentação e ação solidária no Teatro Municipal
Neste ano, em sua nona edição do “Cristiane Hikiji convida”, aconteceu no dia 7 de setembro, com a abertura dos portões às cinco horas da tarde. Toda a produção deste grande espetáculo foi realizado em 45 dias de prear, envolvendo ensaios, patrocinadores e divulgação, com o total de 144 bailarinos alegrando o palco.
Quem fez a abertura para receber os convidados do espetáculo foi a banda School Of Rock. No total, foram 24 apresentações de danças de diversos tipos de músicas, como dança do ventre, balé clássico, stiletto, estilo livre, sapateado e até fusão de dança do ventre com Tango.
O teatro Municipal de Ribeirão Preto ficou lotado na nona edição de “Cristiane Hikiji convida”, mais de 160 pessoas não puderam acompanhar as apresentações. O ingresso para a entrada do evento era
um brinquedo, tornando assim os convidados de Cristiane também voluntários do seu trabalho beneficiente. No total, foram mais de 515 espectadores e mais de 600 brinquedos arrecadados.
“Este ano tecnicamente o show foi perfeito!”
Sobre a lotação, Cristiane comentou:
“Ano que vem já é algo para se pensar, sempre acomodei bastante gente para um espetáculo, mas nunca lotei”.
Preparação de entrega para os brinquedos
Cristiane ainda pontua os cuidados para as entregas dos brinquedos, que são separados por idade e sexo, para que nenhuma criança fique decepcionada nas entregas. Ela se comunica com os responsáveis de comunidades e pede detalhadamente a quantidade de meninos e meninas e as faixas etárias, para que todas as crianças saiam alegres.
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Aatleta da graciosidade
Como o esporte entrelaçado à arte muda o curso da vida de quem o vive.
Por Ana Luísa Rosário
Crescemos em uma sociedade que, desde pequenos, somos separados na hora de fazer as atividades extracurriculares. Meninos vão para o judô. Meninas vão para o balé. E, assim, você passa a amar ou odiar essa tal atividade. Você aprende que essa não é uma matéria extracurricular tão inútil assim, vendo que tanta gente descobre que quer seguir esse caminho na vida. Quantos amigos não continuaram treinando alguma luta? Quantas amigas não persistiram na carreira do balé, ou até mesmo no jazz ou no sapateado?
Da tenra idade — depois da mãe ter feito o coque de bailarina e mandar a criança para a escolinha — até a sapatilha de ponta que causa calos e bolhas no pé, a vida de uma bailarina começa e termina muito cedo. Assim como a carreira nos esportes, quem decide por seguir esse estilo de vida, muitas vezes vai ter um tempo de atividades bem mais curto do que gostaria dentro das artes.
Nem todo mundo vai se tornar uma Anna Pavlova. Ainda assim, não faltam sonhos para as bailarinas que conhecemos e que, talvez, até sejam amigas próximas. Quem não conhece alguém que sempre sonhou em seguir essa carreira e viajar o mundo apresentando-se nos maiores teatros conhecidos?
Paixão: balé
A realidade das bailarinas do interior de São Paulo parece distante desse mundo fantástico do balé internacional, mas não deixa de ser tão gracioso, desafiador e complicado quanto. Isabela Souza tem 23 anos e é bailarina desde os seis. A paixão começou depois de assistir vídeos na internet. Como os pais não tinham condições para matriculá-la numa escola de balé específica, eles encontraram no Centro Cultural de Ribeirão Preto, uma oportunidade de inserir a filha nesse meio. De lá, Souza teve a chance de ingressar no mundo do balé através da professora. “Minha professora tinha uma escola de dança também, e ela me convidou para fazer aula na escola dela. Ganhei uma bolsa e fui para a escola dela, onde fiquei por um bom tempo”, compartilha. Para Souza, a memória mais querida nos palcos é uma das mais antigas, que aconteceu logo no início da sua jornada na dança: “Eu tinha seis anos e eu não lembro ao certo os passos, mas eu lembro de estar no palco vestida de bonequinha. Isso me marcou muito”.
Vitória Mota Jorge tem 16 anos e dança desde mais novinha. Com três anos, os pais já a matricularam numa escola de balé, sabendo dos benefícios que isso traria à garota, que nutria uma curiosidade pela arte. A jovem conta que o clima do festival de dança é incomparável. “Tem todo um clima e é um sentimento muito bom de estar ali, no palco com todo mundo reunido” conta ela.
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Em Ribeirão Preto, o final do ano é repleto de festivais de dança, seja das escolas ou dos estúdios. Nessa época, é certeiro que milhares de pais, familiares e amigos se reunirão para prestigiar as bailarinas mirins e aquelas que já se consagraram na arte.
Souza explica que existem dois caminhos para quem está nesse ramo, e que esse é um dos momentos decisivos para qualquer bailarino. “Existe a parte recreativa e a profissional. A parte recreativa você faz porque você gosta de dançar e você quer estar ali, é tipo um passatempo. A parte profissional é quando você leva aquilo como sua profissão, você recebe para aquilo” explica. Enquanto Souza ficou decidida sobre seguir a carreira sendo professora de balé, Jorge sabe que o esporte é um passatempo, mas reconhece a importância da arte na sua vida: “Eu sempre tive a dança como um hobbie, então sempre foi algo que eu estive ciente que não queria seguir uma carreira profissional nela, mas é um passatempo no qual me interesso muito e me divirto realizando essa atividade, além de ser um meio de expressão”, compartilha.
Para quem também pensa que a vida no balé é só beleza e graciosidade, Souza relembra dos desafios que enfrenta, tanto como professora quanto bailarina. Para ela, ser bailarina é algo desgastante para o corpo e para a
mente, mas que isso não muda seu amor pela arte. Assim como qualquer outro atleta, a carreira no esporte dura pouco, ou quase menos do que o esperado.
Além das bolhas e calos que carregam, bailarinas não estão isentas de lesões. Ela relembra uma torção que sofreu no pé, em 2021, mas que a incomoda até hoje. Mesmo com todos os cuidados e exercícios, Souza considera a lesão uma limitação. “Ao mesmo tempo que eu amo muito, eu odeio muito. Em qualquer situação, nós não podemos demonstrar a dor que estamos sentindo. Não existe o ‘não estar em um dia legal’. Nós temos que estar ali, nos fazendo presente e demonstrando nosso trabalho”.
A questão financeira também influencia na arte, “o balé hoje não é para qualquer um. Teve uma época que o balé já foi para todo mundo, mas hoje ele é muito elitizado. A mensalidade é muito cara, as roupas para fazer a aula são caras, os figurinos são absurdamente caros, então não é todo mundo que consegue fazer”. A bailarina explica que muitas escolas de balé não pagam os profissionais devidamente, e o trabalho acaba não sendo valorizado: “Hoje, eu trabalho numa escola que todos somos bem pagos, mas existem profissionais que ganham R$10 a hora aula. Isso não é permitido, mas fazem mesmo assim”, finaliza Souza.
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Entre literatura, muros e música em Ribeirão Preto
Arte é formada por diferentes manifestações culturais tornando a cultura acessível
As diferentes formas de intervenção e manifestação artística podem ser realizadas de várias maneiras. Desde a literatura, pintura até apresentações musicais, todas elas se encontram em um só lugar: as ruas de Ribeirão Preto. Contações de histórias, arte nos muros e cortejos de Maracatu contribuem para a representatividade cultural na cidade e, principalmente, em levar cultura para espaços públicos e para o público. É assim que a muralista Joy, a Companhia de contação de histórias Renda de Lenda e as apresentações do grupo de Maracatu Chapéu do Sol, utilizam das ruas para levar arte, história, cultura e representatividade de forma gratuita.
DAS SALAS DE AULAS ATÉ MUROS E PRAÇAS
Se antes a literatura fazia parte de ambientes escolares e bibliotecas, agora ocupam locais públicos. É com a contação de histórias que Carol Capacle e Allê Trajan esperam levar para crianças aprendizados e possibilidades por meio do Renda de Lenda. “Nosso público-alvo principal é o infantil e nós consideramos que levar histórias para as crianças traz grandes possibilidades. Além de conhecer tantos enredos, a gente consegue aproximar as crianças das narrativas trazendo um linguajar que elas vão conseguir compreender e aprender”, diz Carol. Fundada em 2018, a Renda de Lenda é uma companhia que mistura literatura, teatro e contação de histórias, trazendo em seu nome identidade. “Como nós somos uma companhia que traz várias histórias, nós formamos essa renda que é composta de várias lendas, histórias, universos. É como se nós fôssemos os artesãos formando essa renda diversa, colorida, que é a nossa companhia”, explicou a contadora de histórias. Antes professora de artes, a muralista Joy ocupava as salas de aula e agora ocupa as ruas de Ribeirão e região. “Eu rabiscava desde os 12 anos, só que a rua foi a extensão do meu trabalho. Como eu me formei em artes plásticas, segui a carreira como professora e lecionei mais ou menos até 2016 e, então, durante esse período eu trabalhava em escolas, projetos de arte e
educação e oficinas de desenho”, disse Joy. Para a muralista, a arte busca, além de mostrar a personalidade dela, trazer representatividade para mulheres artistas. “A minha trajetória envolve muito o meu interesse em focar no retrato feminino. Durante todo o meu processo eu via muitos homens pintando nas ruas. O meu trabalho começou a ter essa vertente quando eu decidi ter como identidade visual o retrato feminino”, comenta a artista.
REPRESENTATIVIDADE É A PALAVRA
O Chapéu do Sol, grupo mais antigo de Maracatu em Ribeirão Preto, que recebeu nome da árvore chapéu do sol, entende e faz jus à palavra representatividade durante 15 anos de existência como uma manifestação artística, religiosa e cultural.
Segundo Maurício Puntel Fiori, professor de arte e dirigente do grupo, o Maracatu não possui uma data específica de criação, mas é proveniente dos povos africanos e afro-brasileiros escravizados. “Trata de uma manifestação secular dos tempos da escravidão que aconteceu aqui no Brasil. Portanto, não há uma data específica, os registros mais antigos que os historiadores têm datam de 1800”, diz Fiori.
O estado de Pernambuco concentra as raízes da arte de matriz africana com nações de Maracatu mais antigas. O grupo formado por oito mulheres em 2008, que fazia parte do bloco carnavalesco “Os Alegrões”, foi até o Nordeste para aprender, pesquisar e vivenciar o Maracatu. Por meio dessa vivência que elas trouxeram a relação da intervenção nas ruas. “A intervenção artística faz parte da própria composição do Maracatu e nada mais justo que ocupar um espaço público para fazer uma manifestação popular, ou seja, uma reafirmação de que aquele espaço também é nosso”, explicou o professor de arte. As apresentações do Maracatu começaram com as coroações do Rei e da Rainha do Congo feitas na frente da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos permitidas pela coroa europeia. “Originalmente, as apresentações acon-
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Ana Clara Rocha
Foto:Arquivo Pessoal/Joy de Souza
tecem ocupando as ruas através de um cortejo seguindo o rei e a rainha no passeio, saudando o rei e a rainha, os orixás, todos os deuses”, explica Fiori.
O grupo ocupou os espaços públicos da cidade com os ensaios e apresentações, principalmente na Vila Tibério, zona Leste. “Já chegou ocupando, realizando essas intervenções e aí é interessante porque o Chapéu, até em parceira com Os Alegrões, tocou durante sete/oito anos logo após a saída do bloco e fazia o cortejo na rua”, diz o dirigente do grupo.
Para Capacle, é possível trazer as crianças para dentro da história e passar lições.“Nós tentamos trazer sempre algum ensinamento que ajude a criança entender, de alguma forma lúdica, os seus próprios sentimentos”, disse Carol.
A representatividade para Joy pode ser vista nos muros de Ribeirão com as pinturas que trazem mulheres e a natureza feminina. “Eu percebi que, no meu trabalho artístico, as mulheres nunca estão sorrindo. [Busco] na representatividade, mostrar que através do meu trabalho posso convidar outras mulheres a ocupar esses espaços”, explica a muralista.
IMPORTÂNCIA DESSAS INTERVENÇÕES
A muralista diz que a importância das intervenções para a cultura ribeirão-pretana é em revitalizar os espaços públicos. “Trazer no ambiente uma revitalização, mais leveza, humanizar mais. A gente tenta, através dos trabalhos na rua, levar as pessoas o maior contato possível de um ambiente mais acolhedor e que elas possam dialogar também com que acontece no mundo delas e no mundo externo”, finaliza Joy.
Ao trabalhar, em sua maioria com crianças em formação escolar, Carol considera a contação de história como uma intervenção da cultura como direito. “A cultura é um direito do cidadão, então tem que fazer esse direito chegar até as pessoas, não adianta isso ficar só na lei e no papel, nós temos que praticar”, comenta.
Para o dirigente do Chapéu do Sol, a arte do Maracatu significa ocupar as ruas e daí tem-se sua importância como intervenção artística e musical. “A intervenção artística faz parte da própria composição do Maracatu e nada mais justo que ocupar um espaço público pra fazer uma manifestação popular, ou seja, uma reafirmação de que aquele espaço também é nosso”, finaliza.
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Foto:Vinícius Barros
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ENTREVISTA COM A BANDA KILOTONES
A 23ª Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto contou com diversos shows celebrando a cultura brasileira. Um dos espetáculos aconteceu no dia 15 de agosto, no palco em frente ao Theatro Pedro II, e o destaque da noite foi a banda Kilotones. Os três irmãos - JP, AJ e Pedro - naturais de Ribeirão Preto, toparam conversar com a Revista Vozes antes do show, e falaram um pouco sobre o novo álbum, ‘Terra Brasilis Brasileirô’, e das raízes na cidade. Nós assistimos à apresentação, e podemos confirmar que a banda fala com propriedade sobre a voz brasileira, dando um show de identidade. Confira a entrevista na íntegra!
Por Ana Luísa Rosário
O QUE É A KILOTONES PARA VOCÊS?
JP: Essa foi uma boa pergunta, e eu vou te falar o porquê. Antes de tudo, a gente é uma família. Nós somos três irmãos, que brigam, que conversam, que se distanciam. Agora, na pandemia, teve essa questão [do distanciamento], mas que quando se une na música e pelo sangue, a gente se ama, se encontra e se abraça. Então, a KILOTONES é, antes de tudo, uma família, e juntos, fazemos músicas sobre amor, superação e empatia.
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Foto: Ana Luísa Rosário
POR SEREM NATURAIS DE RIBEIRÃO PRETO, O QUE SIGNIFICA PARA VOCÊS SE APRESENTAREM NA FEIRA INTERNACIONAL DO LIVRO DE RIBEIRÃO PRETO?
JP: É a terceira vez que a gente toca aqui na Feira. Tocamos pela primeira vez quando estávamos bem no começo [de carreira], quando a gente ainda tocava na noite. Agora saímos da noite para se dedicar só ao nosso som.
A Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto pode ser considerada um dos maiores eventos do país, e é um privilégio estar na nossa casa, em frente a um teatro super representativo nacionalmente, e sermos convidados para participar da programação de algo tão importante. A gente se sente realmente orgulhoso, privilegiado.
AJ: A gente nasceu e cresceu em Ribeirão Preto, e já viajamos o Brasil inteiro também. É gostoso quando estamos em outros lugares e vemos a galera daqui torcendo por nós, vibrando, mesmo que são pessoas de fora [de outras cidades] torcendo pelo nosso show e querendo estar aqui.
Todas as vezes que tocamos em Ribeirão, somos muito bem recebidos. Então, para nós, aquele ‘lance’ de que o santo de casa não faz milagre, não temos o que falar sobre isso. A gente só agradece a Ribeirão Preto, porque a gente nasceu, cresceu e estamos aqui compartilhando as energias.
JP: É a segunda vez que a Feira do Livro abre um espaço para lançarmos um álbum no evento e, hoje, também vai ser o lançamento de um álbum.
PODEM FALAR UM POUCO SOBRE O ÁLBUM?
JP: Esse álbum chama- se ‘A Terra Brasilis Brasileirô’. Rodamos o Brasil em vários festivais importantes como o Rock in Rio, Lollapalooza e João Rock como uma banda de rock essencialmente. Só que sempre tivemos as nossas raízes brasileiras, e esse disco veio celebrar isso, essa ‘revisitada’ à nossa cultura brasileira. Então, é possível ver durante o show que tem muita coisa brasileira, os ritmos, as falas, as letras, que celebram tudo isso.
“Durante todo o álbum falamos sobre luz e esperança. Assim, para cada um pode significar de uma forma. Há músicas em que a esperança é o amor, enquanto em outras a esperança é a resistência, ou ter coragem e se levantar”
Pedro: Esse disco fala da busca das nossas raízes. É algo que a nossa sociedade tem discutido muito nos últimos anos. Quando a gente decidiu gravar um disco novo, (a gente é da década de 1980, então, desculpa se estou falando disco [risadas]), a gente se perguntou “por que gravar?”, “para que?”, “para quem?”, “a gente é relevante para alguém?” Se não for para ter um impacto social, se não for para ter uma fala que vai atingir as pessoas de alguma forma positiva, então, a gente faz música no nosso quarto. Muitas pessoas falam: “neutro é só sabonete para bebê”, então, quando subimos no palco, temos um posicionamento, estamos falando com as pessoas sobre algo que está acontecendo na sociedade. Ali estamos usando ritmos brasileiros que não surgiram do nada, que vieram da África, dos povos indígenas. Misturamos com a nossa brasilidade, com os povos latinos e temos uma identidade. Esse álbum fala sobre ter esperança.
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“Esse álbum fala de esperança no contexto Brasil, no contexto latinoamericano” - Pedro
VOCÊS TÊM ALGUMA COISA QUE
SEMPRE FAZEM ANTES DE SUBIR NO PALCO?
AJ: Antes de subir, a gente se reúne ao lado do palco. Toda vez que estamos muito felizes ou conquistamos algo, aqui no interior a gente tem o costume de fazer um som de comemoração, e incorporamos isso para a banda.
A gente vem crescendo de degrau em degrau, e cada um é muito importante para nós. Estar aqui na Feira hoje, como estar em Campinas nos próximos dias, tudo isso é muito importante. Para dar o pontapé e energizar nossa equipe, temos um grito que fazemos: “1,2,3,4 AOOOOO KILOTONEEES”, e a gente entra.
QUANTO
ESCOLHER OS DESTINOS, A SETLIST DOS SHOWS?
JP: Já temos todos os shows programados e, a princípio, os lugares em que vamos tocar tem mais ou menos o mesmo formato quanto ao tempo de duração do show. Tem alguns que estamos discutindo se colocamos as músicas do novo álbum, porque a gente queria tocar todas as músicas dele. Como são dez músicas do álbum, nós colocamos mais três que já tínhamos lançado em outros [álbuns], então se precisarmos estender um pouco mais, nós vamos.
AJ: É difícil fazer o repertório, ainda mais quando as pessoas já conhecem e ficam perguntando se vamos tocar tal música. Há aquela pressão, e não dá para colocar tudo, é difícil. Porém, já demos ênfase em tocar todas do álbum novo.
Pedro: Tudo tem um significado nesse álbum e nesse show. Ele é acessível para libras, por exemplo. Fazemos uma autodescrição e uma audiodescrição em um momento do show. Dessa forma, mostramos que trabalhamos com empatia ao nos colocarmos no lugar do nosso público, esse é nosso posicionamento. A setlist foi pensada também para contar essa história.
À TURNÊ, COMO ESTÁ SENDO
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Foto: Ana Luísa Rosário
EDUCAÇÃO CULTURA
Vitória Andrade
No dicionário, cultura é conceituada como um “complexo de atividades, instituições, padrões sociais ligados à criação e difusão das belas-artes, ciências humanas e afins”, enquanto a educação é definida como a “aplicação dos métodos próprios para assegurar a formação e o desenvolvimento físico, intelectual e moral de um ser humano”. O método colocado em prática no Brasil para educar a população é responsável por distanciar os conceitos de educação e cultura, ainda que eles andem lado a lado na formação, não só acadêmica, de um indivíduo.
Paulo Freire é um dos grandes nomes da educação no Brasil e em seus trabalhos faz críticas ao regime engessado aplicado no país. A chamada educação bancária caracteriza um modelo no qual o educador é o único que ensina, ou “deposita” conhecimentos no aluno, que chega até ele como um recipiente vazio a ser cheio. Esse modelo de ensino entende que nenhuma troca de conhecimentos é feita e que o educando serve apenas para receber tudo aquilo que lhe é passado.
A cultura é um pilar importantíssimo para as atividades educativas, já que a partir dela é possível conhecer a realidade daqueles que estão sendo ensinados, suas influências, seu contexto social e suas formas de ver o mundo. Para isso, há pessoas engajadas em aliar propostas educacionais e culturais, de forma gratuita, oportunizando pessoas que não tiveram acesso a uma formação. Foi com esse propósito que nasceu o projeto Emancipa.
Por dentro do projeto
A Rede Emancipa é um movimento social de educação popular que surgiu em 2007, quando um grupo de professores de um cursinho repensou sobre o formato da educação atual. O projeto tem como metodologia a educação não formal, seguindo os ensinamentos de Paulo Freire no que diz respeito à educação de jovens e adultos.
Bruna Silva, coordenadora do projeto em Ribeirão Preto, define a criação do movimento social como uma alternativa para a educação tradicional. “A ideia do projeto é levar em consideração todas as questões sociais e ir contra a educação hegemônica”, comenta.
Silva aborda também sobre a atuação local do projeto, que teve início em Ribeirão Preto em 2020. O projeto pode ser entendido como uma rede presente em diferentes cidades.
Com mais de 15 anos de atuação, o Emancipa beneficia cerca de 5 mil pessoas por ano, distribuídas em quase 20 cidades nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Minas Gerais, Pará e Rio Grande do Sul. As unidades do projeto são em sua maioria sediadas em cursinhos populares das cidades assistidas.
O projeto social conta com o trabalho voluntário de educadores de diferentes áreas, a fim de levar diferentes bagagens aos educandos. Gabriella Zauith é professora universitária em cursos da área de comunicação, e atua como voluntária no
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Emancipa, com o foco de fazer os participantes do projeto de terem mais contato com a área. “O objetivo é fornecer ferramentas para que os educandos possam se apropriar da comunicação, e refletir sobre sua realidade, questionar seus direitos, pensar em mudanças. Dar voz às pessoas, uma maneira de se manifestarem. Isso pode ser feito com oficinas de textos até criação de jornais, murais, podcast.”
Oficinas culturais
Integrando educação à cultura, são realizadas oficinas de diferentes temas como formas alternativas de aprendizagem para os educandos. “Na oficina de leitura crítica da mídia, apresentamos os vieses que existem nas empresas de comunicação com relação às ideologias, interesses, financiamentos e favorecimentos. Nas oficinas de fake news e desinformação trabalhamos com a importância do jornalista, o interesse público, a busca da verdade. Entender que a comunicação é um poder, e pode ser objeto de manipulação”, diz Zauith.
Segundo Zauith, a cultura e a arte permeiam o projeto como forma de expressão, tendo como exemplo as oficinas de fanzine, que tem o objetivo de elaborar um veículo de comunicação artesanal, criado a partir de recortes, desenhos, colagens, textos e poesias. “Trabalhamos com temas de escolha dos educandos, como uma forma de expressão ao trabalhar com a sensibilidade e a criatividade”, explica a educadora.
Quando questionada sobre a importância do projeto para si, Zauith reflete sobre sua prática pedagógica, sobre ter criado em si uma perspectiva de educação popular, dialógica e afetiva. “Aprendi que a sala de aula pode ser estendida a qualquer lugar, numa roda de conversa ou com a leitura de textos e notícias. Nosso objetivo é aproximar os conteúdos aos problemas do dia a dia de nossos educandos”, afirma ela.
Sobre sua formação acadêmica e sua atuação como educadora, Zauith acredita que a profissão de comunicadora contribui para transmitir conhecimento de maneira mais didática e simplificada, uma necessidade tendo em vista qual é o públi-
co-alvo do Emancipa, que compreende alunos do EJA (Educação de Jovens e Adultos). “Como jornalista, busco entender as minhas contradições. Pensar uma forma de levar o conhecimento que faça sentido à sua realidade. Que atenda às necessidades e a demandas da população periféricas, incluindo sua linguagem e os desafios impostos”. Por tratar-se de um movimento social, o Emancipa é mantido por doações populares. “Precisamos de doações para custos de manutenção da casa da sede, com aluguel, água, luz e outros gastos para a realização de atividades, como café da manhã, material escolar e transporte dos educadores e educandos”, completa Zauith.
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Foto: Grabriella Zauith
Grabriella Zauith
Ribeirão à luz de velas
Você já deve ter visto passando pela timeline das suas redes sociais um espetáculo à luz de velas, não é? Música erudita, música clássica e clássicos do rock embalam esse show visual chamado Candlelight. O evento tem aguçado a curiosidade de todos os que têm contato com seus vídeos promocionais. E, por sorte, Ribeirão Preto entrou no roteiro de shows do grupo.
As apresentações Candlelight em Ribeirão Preto começaram em novembro. Os concertos trouxeram música clássica, pop e rock para o palco do teatro Minaz. O público lotou o teatro para ver um tipo de apresentação diferente do que os moradores estão acostumados.
O que é o Candlelight
O Candlelight é um tipo de apresentação feita à luz de velas e com instrumentos clássicos, criado pela Fever em 2019 na Espanha, tendo sua primeira apresentação em Madrid. Os eventos se espalharam pela Europa e Estados Unidos, chegando ao Brasil em 2020 nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.
Dennys Araújo é Project Manager da Candlelight Brazil e respondeu às perguntas da Revista Vozes sobre os eventos. “Com os concertos Candlelight, buscamos democratizar o acesso à música clássica e, ao mesmo tempo, descobrir espaços únicos que fazem parte do patrimônio cultural das cidades, dando visibilidade a artistas locais talentosos e tudo isso em uma atmosfera única.”
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Foto: Erik Schutz Bieniek
Araújo também explicou que o Candlelight se concentrava nos compositores clássicos como Vivaldi e Beethoven. Porém, sentiu a necessidade de expandir para incluir uma grande variedade de temas e gêneros além do clássico, como jazz, pop, trilhas sonoras de filmes, balé, e tributos para bandas como Queen, Beatles e Coldplay.
A escolha das músicas é feita através da combinação do time interno de curadoria e dados de métricas globais, assim como o feedback do público. Além disso, tem parceria com orquestras e filarmônicas de cada cidade, como a orquestra e coral Monte Cristo que auxilia a Fever nessa curadoria.
Além da música da melhor qualidade, proferida por músicos das melhores orquestras, o evento é visualmente muito bonito. O mar de velas forma um cenário de tirar o fôlego, o que deixa a experiência inesquecível. Vale muito a pena participar de um concerto como esse.
Mas, e o fogo?
No passado, um concerto como candlelight seria muito arriscado, porém a tecnologia nos permite experienciar esse espetáculo. As velas utilizadas nos concertos são de LED, que possuem todo charme de uma vela comum e nada de risco.
Fique atento(a) à programação cultural da cidade para saber quando haverá mais concertos Candlelight. Os eventos serão recorrentes.
De Coldplay a Vivaldi, de clássicos do rock à quebra nozes!
Confira a agenda de concertos no site Fever:
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Foto: Erik Schutz Bieniek
Resgate à literatura
Marília
A verdade é que nos últimos anos a prática da leitura se tornou menos frequente. Na era das livrarias fechando as portas por falência e as tecnologias roubando a atenção, os livros parecem ter sido preteridos pelas pessoas. Apesar disso, existem maneiras de resgatar o verdadeiro valor da leitura e incentivar o hábito. Em Ribeirão Preto nos últimos tempos, os clubes de livros ganharam força e se tornaram um atrativo para o público de leitores e não leitores.
A livraria de Melissa Velludo, localizada no centro da cidade, se popularizou pela diversidade de clubes de livros promovidos no espaço. Em 2020, antes mesmo de A Degustadora de Histórias ter sua loja física, a empreendedora organizava encontros para debate de contos de forma online. “O clube de leitura já existia antes de abrir a livraria. Em 2020 eu cursava Letras e fiz uma caixinha de literatura brasileira contemporânea. Vinham três livros e eu vendia no site online. Devido à pandemia, as reuniões eram virtuais”, relembra.
Alunos de Letras da Barão de Mauá mediam discussão sobre ‘O Quarto de Despejo’ em A Degustadora de Histórias.
a melhorar o hábito.
A roda de conversa já contava com o interesse do público neste formato e, após a pandemia, quando passou a acontecer no modelo presencial, aumentou ainda mais a adesão. Melissa conta que a expansão dos clubes se deu por um pedido dos leitores e explica como fazer parte. Atualmente, a livraria promove 11 deles com temas diversos.
“As pessoas perguntavam porque não tinha clube de livro de temas específico, e então fui criando outros. Hoje nós temos clube de clássicos estrangeiros, clássicos brasileiros, literatura brasileira contemporânea, clube só de minorias, clube do crime com livros de suspense, clube de quadrinhos, outro só para ler os ganhadores do Nobel de literatura, entre outros. A gente pede para colaborar adquirindo o livro conosco para poder ajudar a livraria, afinal sobrevivemos da venda dos livros”, explica Velludo.
Os clubes de A Degustadora de Histórias recebem em média 25 pessoas para os debates e normalmente o público é variado. De acordo com Velludo, não é limitada a participação a apenas um dos clubes. Marilia Trevisani é cliente e participante de seis dos 11 clubes atualmente mediados na livraria de Velludo. Aos 46 anos, ela conta que na adolescência lia pouco, mas o pai leitor a incentivou
“Ao entrar em contato com a Literatura Fantástica, de autores como Garcia Márquez e Saramago já na fase adulta, fiquei fascinada e daí em diante não deixei mais de ter um livro de cabeceira. Isso tem uns 20 anos”, relata.
Trevisani ressalta que participar de clubes de livro contribui muito para garantir a experiência positiva da leitura de uma obra literária. “Os clubes são ricos em opiniões e conhecimentos, sempre há um olhar diferente nesses bate-papos e os livros ‘ganham tamanho’ quando discutidos de maneira saudável. Também há na mediação da A Degustadora de Histórias a característica literária, a escrita e a interpretação dos livros feita por mediadoras gabaritadas em literatura, que nos auxiliam a avaliar
Público diverso
Apesar da importância de garantir a diversidade de públicos nos clubes de livro, a segmentação por idade é benéfica também. O Observatório do Livro e da Leitura de Ribeirão Preto promove, entre outros, o Clube de Leitura 6.0, um projeto voltado a reunir idosos com mais de 60 anos para debater livros. Tatiana Brechani é diretora de operações da fundação e aponta as vantagens de reunir pessoas de uma mesma faixa etária para essa atividade.
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“O clube proporciona encontrar pessoas que estão passando pelo envelhecimento e juntos trocar muitas experiências sobre como é viver essa fase de forma ativa e saudável. É muito inspirador porque você conhece muitas histórias diferentes. A leitura contribui muito com isso”, ressalta Brechani.
A diretora ainda explica que o Observatório atende a faixa etária da população que, de acordo com pesquisas, é a que menos lê. “Trabalhamos com o que a gente chama de leitores improváveis, o público que tem o menor índice de leitura, segundo a pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, do Instituto Pró-Livro, a maior pesquisa sobre o tema no país. Por isso, temos projetos voltados para idosos, adolescentes de 12 a 17 anos e a população carcerária”, afirma.
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Encontro do Clube 6.0 na Bilbioteca Sinhá Junqueira para discussão sobre o livro ‘Os cem anos de Lenni e Margot’.
Ao todo o Observatório do Livro e da Leitura de Ribeirão Preto possui 17 clubes de leitura apenas focados no público 60+. As reuniões acontecem de forma online mas também presencial na Biblioteca Sinhá Junqueira, na Livraria Nobel e nas ILPIs (Instituições de Longa Permanência para Idosos). A participação é gratuita mas limitada.
“Quem faz parte recebe uma assinatura gratuita de uma biblioteca digital com 30 mil títulos. Nada impede que os participantes leiam livros físicos, mas o que a gente faz é dar oportunidade de que ninguém precise gastar com isso. Todos leem o mesmo título e se encontram para conversar sobre essa história. Os nossos clubes têm, no máximo, 20 pessoas, então a gente passa a ter 20 formas de olhar aquela mesma história, a gente sai com nossa visão de mundo 20 vezes ampliada, essa é a potência”, diz Brechani.
Faça parte e receba os benefícios
Na livraria A Degustadora de Histórias, os participantes recebem a mediação de especialistas em literatura para o debate sobre o título escolhido. Essa é uma vantagem que aponta Velludo. “A gente vai guiando essa leitura, não fica uma coisa jogada. Além disso, o clube promove a socialização. Muitas pessoas que vêm ficam muito sozinhas, querem fazer amizade. Aqui você encontra pessoas bacanas. Também é legal ouvir outras opiniões. O livro é o encontro do autor com o leitor, então as vivências são diferentes.”
Há uma outra forma de ler livros em grupo e, de quebra, ainda ajudar a manter a saúde mental. A biblioterapia é uma técnica terapêutica que utiliza a leitura como forma de melhorar a saúde mental. A estratégia é um diferencial praticado pelo Observatório do Livro e da Leitura na mediação dos clubes de livro como forma de acolhimento. “Com essa técnica não importa a análise técnica da obra, o gênero literário, ou outras métricas do texto. Vai importar como a história do livro se relaciona com a história de vida das pessoas e como ela pode transformar a forma de olhar e agir no mundo”, explica Brechani.
Dessa forma, a diretora indica alguns benefícios que podem ser obtidos pelo hábito de ler e participar de debates sobre literatura. “Há vantagens para a cognição. Pesquisas demonstram que ler é importante para manter a mente ativa, retardar o início da demência ou do Alzheimer. O clube de leitura é uma forma de estabelecer laços afetivos, é um espaço de convivência, de fortalecimento de vínculos, mas também é um espaço de formação cidadã e acesso à direitos. As pessoas são capazes de se empoderar, de entender quais violências podem sofrer nessa fase da vida e como se precaver delas”.
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Elementos: fogo e água se misturam sim!
Por Marcela Breve
pós brincar e dar vida aos brinquedos com Toy Story, é o momento de dar vida à água e ao fogo. E com essa temática, a Disney trouxe seu novo filme “Elementos” para os cinemas.
A história fala sobre relacionamentos entre pais e filhos, amigos, vizinhos e, claro, fogo e água.
O filme traz dois lados interessantes: Um: a comédia por si própria na história, com os riscos, comentários e ações dos personagens que trazem o humor para a trama.
Dois: conflitos entre relações, tanto familiares quanto outras fora do ambiente de casa.
O filme faz um jogo interessante mesclando parte visual com a personalidade e características dos personagens principais e seus elementos. Como exemplo, a protagonista Faísca, do fogo, está sempre estressada, com ira e sem nenhuma paciência.
Ao contrário de Gota, protagonista do elemento água, que é chorão, e não liga nem um pouco para demonstrar seus sentimentos. Na verdade, ele demonstra até demais.
Faísca é uma jovem do elemento fogo que está prestes a assumir a loja de seu pai, que é passada de geração a geração.
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Seu pai, doente e já de idade, começa a ter dificuldades no trabalho, por isso, sua filha, aos poucos, passa a assumir o controle da loja.
Uma expectativa cresce em seus pais, que logo planejam até uma festa para Faísca assumir a loja. Mas só há um problema: aquele não é o sonho dela.
Faísca e seus familiares são imigrantes no local. Trabalhar na loja de seus pais nunca foi o que ela planejou para o futuro, seu interesse por arte sempre a manteve longe dos sonhos de seus pais.
Ela queria, na verdade, ser uma designer de vidro! Mas, como chegar a isso com seu pai doente, sem ferir ou magoar a expectativa que colocaram nela?
Nesse meio tempo, ela conhece Gota após um acidente na loja. Gota trabalha na cidade, e recebeu ordens de fechar o comércio pois estava colocando todos em risco.
Mas juntos, Gota e Faísca tentam encontrar maneiras de contornar a situação e resolver todos os problemas. Faísca e Gota, o casal mais improvável, se apaixona, e um ajuda o outro a se encontrar em meio a essas turbulências.
Um filme que mostra que toda forma de amor é possível. Uma história cheia de reviravoltas, risos e reflexão.
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Árvores em culturas e reflexões
Imagine um projeto cultural com atividades para crianças e adultos e que seu principal tema seja árvores. Pois bem. Não precisa mais imaginar porque esse projeto existe, e acontece em Ribeirão Preto. Como árvores nasceu no coração e ideias da psicóloga Luciana Consentino, formada pela Universidade Federal de Uberlândia. Luciana sempre foi apaixonada por árvores e obras de arte, sempre admirou a natureza em todos os sentidos.
Depois de formada, Luciana decidiu que precisava fazer algo com a temática árvores, pois é um assunto que ela adora e sabe muito a respeito. Desde então, a ideia nunca mais saiu da sua mente. Em 2022, juntou toda a sua criatividade e pensou em inúmeras atividades para atender crianças da cidade de Ribeirão, que incentivasse a cultura, educação, interação, conscientização ambiental e comportamental.
O evento
Para o primeiro evento cultural “Como árvores”, Luciana agendou o espaço no Centro Cultural Palace, no centro de Ribeirão Preto. A primeira pessoa que ela abriu o convite para participar desse projeto foi o artista plástico Jonathas Miguel, da cidade de Brodowski. A psicóloga arrecadou R$ 5.000 de patrocínio para arcar com alguns custos do projeto, mas todos os colaboradores são voluntários.
O projeto contou com exposições de diversos artistas. Valério Dias, artista plástico da cidade, apresentou duas obras autorais e realizou atividades com as crianças. Foram quatro oficinas para toda a família, palestras de diversos especialistas, tudo sobre o tema de árvores. O evento contou, tam-
bém, com a participação da orquestra Sublime.
Luciana teve apoio de 22 voluntários no primeiro ano. Gisela Facincani, advogada e amiga de Luciana, se tornou o seu braço direito em todo os passos desse projeto. Gisela menciona o seu amor pelo projeto. Ela conta que, por amar pessoas, ela gosta de trabalhar nos bastidores, fazendo com que a sua mão de obra lhe aproxime de seres humanos que o projeto a possibilita conhecer. Ela fala com muito orgulho sobre o crescimento do projeto: “Tudo é muito simples e, aparentemente pequeno, mas se tornou enorme”.
Atividades para a terceira idade
Todo o evento de 2022 foi tão especial que Luciana criou mais ideias para o ano seguinte. Começou idealizando projetos para o público da terceira idade. Ela notou que o público idoso quase não tem lugar para frequentar e ter momentos de lazer. Isso foi o que a motivou mais ainda a pensar em programações para as pessoas mais velhas.
Por isso, esse público marcou o evento de 2023. E participaram de diversas atividades como: contação de história, visita mediada, atividade transgeracional e leitura de poemas.
Claro que as ideias de Luciana não pararam. Ela teve inspiração para realizar a “Arte dentro do livro”, onde propôs aos artistas desenharem e construíssem qualquer obra de arte com árvores, que fossem inspiradas em livros infantis. Cada obra realizada seria doada a uma escola, juntamente presenteada com o livro de inspiração da arte. No total, foram 8 obras dentro desse novo projeto.
Evelyn Brena Rodrigues
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Fotos: Luciana Consentino
Novos eventos
O secretário de cultura e turismo Pedro Leão, ficou tocado com o projeto e pediu detalhes para Luciana. Ele comentou que ela precisava expandir e realizá-lo em outros pontos da cidade. Depois disso, a pedido do secretário, o “Como árvores Pocket 2023” foi realizado no centro cultural do Campos Elíseos.
Foram disponibilizadas e expostas 10 obras de arte. Os artistas realizaram oficinas para adultos com o tema “Lições da Araucária”, onde mostraram especificações da biolo gia da planta e trouxeram lições para a vida.
Os voluntários ajudaram como puderem e de senvolveram atividades muito especiais para as crianças. Inaye Ferreira, por exemplo, é psico pedagoga, trouxe atividades com folhas e par tes das árvores para as crianças, para que elas fizessem seu autorretrato. Haline Nobre, enge nheira ambiental, também falou da importân cia da árvore. Luciana também fez uma ofici na com o livro do autor Max Luccado, “A árvore dentro da semente”. O Pocket foi um sucesso!
O evento trouxe uma competição de fotogra fias, que Luciana menciona com brilho no olhar: “Eu fiquei tão marcada com as fotos, que até hoje eu olho para alguma árvore me lembra o nome de uma obra, por que me marcaram muito”. Para escolher a melhor, foram convidados cinco jurados: Marcela Neves, Max Gallão, Ubirajara Junior, Lu Cazon e Pedro San. Os jurados selecionaram os três primeiros colocados.
O que torna o projeto mais especial é que ele é para quem está disposto a somar, com a educação, meio ambiente, sociedade e futuro, viver experiências, conhecer novas pessoas, novos ares. Por isso, Luciana deixa bem claro que “é aberto para qualquer pessoa que quiser expor a suas obras- desde crianças até idosos, mas que seja com a temática árvores”.
Como todo grande evento, sempre existem desafios, mas o importante foi que todos juntos trabalham com muito carinho para entregar um evento cultural para a cidade. Inclusive, levaram a arte para cerca de 600 crianças em uma escola. Luciana conta que Cris Bezerra, coordenadora do instituto de livro de Ribeirão, mandou contadores de histórias para o local, e foi incrível e indispensável a presença deles.
Plantação de árvores
Como não poderia ser diferente, o evento contou com a plantação de árvores com as crianças. “Esse ano foi tão especial!” enfatiza a coordenadora e fundadora do projeto. Ela sempre teve o foco maior em desenvolver atividades para as crianças, porque ela acredita que é preciso pensar em uma sociedade no futuro e as crianças precisam estar preparadas. “A primeira ideia me veio com o objetivo de chegar na educação”, diz Luciana.
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ERA UMA VEZ SONHOS E LETRAS
O interior de São Paulo realiza feiras do livro como nenhuma outra. Além do consagrado evento em Ribeirão Preto, há uma outra feira do livro que completou 20 edições esse ano. A 20ª Feira do Livro de Sertãozinho. Com o tema “Era uma vez... sonhos e letras”, o evento oferece uma variedade de atividades, como lançamentos de livros, palestras, apresentações de escola e exposições. A feira teve o início no dia 17 de outubro, e permaneceu até o dia 21 da mesma semana, e foi dividida por tendas em estandes, utilizando grande parte da praça 21, a matriz, localizada no Centro da cidade.
O evento foi realizado pela Secretaria de Cultura e Turismo, com parceria da Secretaria de Educação, o que foi de grande importância para a participação e envolvimento das crianças.Várias escolas se apresentaram e exibiram seus trabalhos para o público.
ESPETÁCULOS E SHOWS
A cerimônia para lançamento ocorreu no Teatro Municipal, que agregou as autoridades da cidade. Houve apresentação do Núcleo de Dança com balé, monólogo com o artista Zéluiz de Oliveira, e coral com a Banda Marcial da Juventude, o que foi importante para mostrar a população sobre o que estava por vir.
O grande momento da feira foi na abertura do músico Toquinho. O cantor é muito conhecido por compor acompanhado da cantora Camila Faustina. Além disto, a Prefeitura proporcionou uma transmissão ao vivo, agregando mais pessoas para assistir o show.
“O show foi bom, o público acompanhou as músicas, os clássicos, que foram temas de novela, gerando conexão do público com o cantor.” comentou Maria Paula Michelon, Estágiaria.
A semana não agregou somente a praça com apresentações, mas vários pontos da cidade se tornaram palco para a cultura. As escolas SESI, FATEC, IFSP, SENAI e escolas municipais e estaduais também estiveram presentes. Como fechamento da feira, contamos com show conhecidos como Exalta e Sandra de Sá.
“A cidade inteira aproveitando muitas festas culturais, a feira foi um verdadeiro sucesso”. elogia, Michelon.
Josielle Gregório
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LIVROS
O cenário da feira estava todo decorado até mesmo com as próprias artes escolares das crianças, o que chamou atenção do ambiente. Os estandes focaram em livros infantis. Amanda Gil, por exemplo, comprou alguns livros para sua filha Maria Cecília.
“O que mais gostei na feira foi a apresentação das escolas municipais, as atividades estavam maravilhosas. E também o espaço de realidade virtual e o de jogos para as crianças.” Amanda ainda conheceu a autora Alma Ayn Dun, em lançamento do livro “Línguas estranhas”. “A feira é um lugar onde temos oportunidade de conhecer novos livros, despertar interesse por novas obras” Amanda afirma.
Outros artistas locais como Aidê, Julinho Sertão, Vicente Cornetta, também apresentaram seus trabalhos. Bate-papo com os autores também fizeram parte da programação e atraíram o público.
Para participar da feira, artistas que já se gratificaram com projetos PROVAR e BANCO DE PROJETOS já obtiveram preferências nas escolhas para apresentar no evento deste ano.
Foto: Amanda Gil
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UMA ARENA E DIVERSAS BATALHAS
Teatro de Arena de Ribeirão Preto perde o protagonismo cultural depois de diversas dificuldades durante os mais de 50 anos de história na cidade.
Ribeirão Preto possui uma vasta diversidade quando o assunto é cultura e entretenimento. Com espaços destinados para os mais diferentes gostos, a cidade acaba se transformando em ponto focal para grupos que gostam de apreciar peças teatrais, shows e eventos diversos.
Uma das opções é o Teatro de Arena, localizado no Morro do São Bento. Inaugurado em 1969 e idealizado pelo engenheiro Jaime Zeiger e o artista plástico Bassano Vaccarini, o local passou por diversos altos e baixos durante esses mais de 50 anos de existência.
A escolha do local
Construído em um espaço de aproximadamente 6 mil metros quadrados, o teatro foi pensado e estudado pelo seu idealizador.
Jaime Zeiger realizou pesquisas em vários países da Europa e Oriente Médio para a escolha do local ideal: topografia que favoreceria a qualidade acústica do teatro.
Este teatro foi o primeiro no modelo de arena construído no interior do Estado de São Paulo. O espetáculo teatral que deu início as apresentações no local foi a peça “Antígona” (de Sófocles).
Fábio Fuentes
Fotos: Divulgação
Festivais agitados
Durante muitos anos, o local serviu como palco para diversos festivais que reuniam pessoas do Brasil todo. No meio das opções de lazer, estavam os festivais de blues, que recebiam artistas de todos os cantos do País.
Eduardo Silva Coelho, de 49 anos, mantém as lembranças da época em que frequentou a arena e, principalmente, os festivais.
“Era uma experiência incrível para nós. O festival era movimentado e você conhecia pessoas do país todo. Com certeza foi uma das melhores épocas da minha vida. Eu queria poder voltar no tempo”, comenta Coelho.
As reformas
Depois de alguns anos e diversos espetáculos apresentados para o público da cidade de Ribeirão Preto e do Brasil, o teatro passou pela sua primeira reforma em 1987, com a reabertura do local ainda no mesmo ano.
Em 2011, o local foi mais uma vez fechado para reforma, dessa vez em 2012, ficando fechado até meados de 2014, quando foi reaberto ao público.
Dois anos depois, em 2016, o local foi fechado novamente devido a um furto de fios. Em 2018, a prefeitura de Ribeirão Preto conseguiu uma licitação para realizar uma nova reforma.
Em 2022, a prefeitura de Ribeirão conseguiu uma nova licitação para reforma do local, que foi novamente aberto ao público. Neste ano, o local também passou por reformas de estrutura.
O teatro atualmente
Oficialmente aberto ao público, o teatro de arena continua sendo uma opção de lazer para aquelas que apreciam a cultura local.
“Eu acho que é preciso ter novamente aquela divulgação e o cuidado que as pessoas tinham com o teatro, afinal, ele é um ponto turístico e histórico da cidade”, diz Coelho.
O grande desafio é reconquistar o público que, um dia, já lotou o espaço do Morro do São Bento.
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Consumo consciente, uma tendência para seguir
A moda consciente abre espaço para a feira de troca na cidade de Ribeirão Preto.
A história do vestuário reflete a transformação e o comportamento na sociedade. A roupa, no tempo da caça, era usada como adorno para proteção. A partir do renascimento, o vestuário indicava hierarquias das classes sociais, entre a burguesia e a plebe.
Com o passar do tempo, a moda continuou se transformando de acordo com as necessidades sociais. A forma de consumir também passou por mudanças. Após a pandemia da COVID-19, muitas pessoas passaram a comprar mais pela internet, aponta a produtora de moda Bruna Araújo, minha entrevistada sobre o consumo consciente.
Com duas cores diferentes no cabelo, visual fashion com sobreposição e acessórios, Araújo abre as portas do seu espaço com muito estilo e simpatia. O lugar colorido, tão extravagante quanto ela, é embalado por uma música animada, e ainda são 9 horas da manhã. Ao adentrar o local, observei roupas etiquetadas e outras remetendo a diferentes estilos e épocas.
Araújo veio de uma família envolvida com o vestuário. Seus pais são donos de uma empresa de jeans, na cidade de Ribeirão Preto há mais de 40 anos. Ela cresceu neste universo e ainda muito nova, iniciou cursos em busca de mais conhecimento na área.
A menina do interior de São Paulo entrou na faculdade aos 17 anos, já com muitas experiências no ramo. Em sua profissão, lecionou por 16 anos e nunca abandonou os bastidores de moda, seja produzindo ou fotografando.
Há um ano, abriu o Studio Bhru Colorida, trabalhando com brechó, jeans para customização, pequenos ajustes, consertos, cursos de moda e o MOVA, uma feira de troca de roupas, assessórios e calçados.
O MOVA
O MOVA, como já mencionado anteriormente, é uma grande feira de troca de roupas, acessórios, calçados, que foi pensada para ajudar no processo de mudança de comportamento que envolve a adoção de um consumo consciente. O nome MOVA representa movimento, palavra com grande significado para a estilista. “Eu acredito que energia parada trava a vida. Aprendi com a minha avó a mudar as coisas e decoração de lugar”, explica.
O MOVA surgiu de um projeto integrador de alunos do Senac, na época em que ela ministrava aulas na instituição. “A gente acaba inserindo um consumo consciente na sala de aula. Eu tentei com outras turmas, também com a moda consciente, mas eles foram para outros caminhos. Guardei a ideia e voltei com o projeto agora em 2023”.
Pagando com botões
Sobre o MOVA, a ideia é que as pessoas possam trocar peças de forma ilimitada. Ao estudar o assunto, descobriu que esse tipo de feira acontece no Canadá, envolvendo o dinheiro social. Araújo
Foto: Arquivo pessoal
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Maristela Bárbara
Foto: Arquivo pessoal
se inspirou no método e decidiu estipular o pagamento, em botões. “Se a ideia é o consumo consciente, não posso ficar usando dinheiro em tudo”.
Os botões usados no projeto são as sobras da empresa dos pais da produtora. Além do dinheiro social, outro critério consciente é o uso de sacolinhas pessoais. Ela explica que não faz sacolinhas para a feira e solicita que participantes levem as suas para carregar as compras, trabalhando com a reciclagem dos materiais.
Como funciona
Antes do dia do evento, os participantes levam as peças de roupa até a produtora, para uma curadoria. Araújo seleciona as roupas que estão em bom estado e entrega aos seus respectivos donos, uma quantidade de botões. A quantidade é entregue de acordo com o valor atribuído pelas peças do vestuário. “Por exemplo, tudo que for de R$ 10,00 a R$ 20,00 é um botão, de R$ 20,00 a R$ 30,00 são dois, de R$ 30,00 a R$ 40,00 valem três botões.
Ela explica que essa atribuição ajuda caso as roupas sejam expostas no brechó de sua loja. De acordo com a criadora do MOVA, após o evento, as pessoas podem optar por levar a peça embora, doar em uma ação solidária ou expor a venda de rou-
pas usadas, recebendo uma porcentagem depois.
Em caso de sobras do dinheiro social, o participante pode levar os botões para casa e usá-los na edição seguinte da feira. O tempo para cada edição é de, pelo menos 40 dias, contabilizando para que ocorra aos sábados. O intuito, também, é não marcar na mesma data de outras feiras e eventos na cidade.
Um alerta Araújo relata que durante o MOVA ela tira um momento para alertar sobre o consumo consciente. Ela ressalta os malefícios do que nomeia como “efeito zumbi”, pois, muitas pessoas ainda são induzidas pela mídia a comprar de forma desenfreada. “Se o nosso guarda-roupa for lotado de coisas que não nos representa, isso frustra a gente. É sinal que a pessoa está precisando de ajuda em algum ponto da vida, não só na questão do vestuário”, comenta.
Para a produtora, atualmente há dois grupos de consumidores ativos: os que gostam de comprar e os que estão mais despertos a consumir conscientemente. A profissional comenta respeitar ambos, principalmente por trabalhar com vendas, mas relata conscientizar seus clientes para comprar de acordo com a necessidade e rotina.
Foto: Arquivo pessoal
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A produtora explica que o consumo consciente, ocorre desde antes da compra, até o momento do uso e cuidado com a peça. Refletindo sobre a durabilidade do produto, ela ressalta a importância ao examinar para lavar corretamente a roupa e cita que a internet está presente para ajudar na compreensão de símbolos.
Sobre a lenda urbana que as pessoas que evitam brechós, por acreditarem que roupas carregam energias dos donos anteriores, Araújo sorri e afirma ainda existir quem tem esse pensamento. Quando encontra alguém com essa crença, ela faz a reflexão de que muitos objetos usados em sociedade, passam por uma rotatividade, como louças de um restaurante e o dinheiro, por exemplo.
Uma cultura
Bruna reforça que desde criança, usava roupas da família, do pai e da mãe. “Como eu sou muito baixinha, eu pegava coisa dele e fazia de vestido, até hoje eu sou assim. Às vezes, minha mãe vai doar roupa do meu pai eu falo que preciso ver antes. Para mim não tem restrição se é masculino ou feminino. Eu calço 33, por isso, às vezes pego coisa infantil também”.
Em casa, o filho segue o mesmo costume da produtora. Ela conta, aos risos, que deve estar no
sangue. Certa vez, comentou com o filho, que iriam comprar três tênis, já que ele estava perdendo rápido os calçados. O menino de 16 anos repreendeu a mãe, dizendo que deveriam comprar um par. Ele completou dizendo que quando este desgastar, comprariam outro. “Eu nunca cheguei e ensinei, mas acho que ele viu”.
Por fim, ela reflete, que diferente do filho, seus pais dão risada quando ela fala sobre a feira de troca, acham um absurdo. De acordo com a estilista, isso é questão de pensamento, não de idade. Para ela, pessoas com pensamento mais atual carregam essa cultura, de um comportamento da moda consciente.
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A cultura conecta pessoas com o mundo
movidos
Crianças e jovens são movidas a sonhos. E o que você gostaria de fazer se tivesse uma oportunidade? Talentos ou habilidades muitas vezes ficam escondidos simplesmente porque não há incentivo para que possa florescer. Na ONG Fênix, a proposta é exatamente essa, acolher pessoas que tenham vontade de aprender e despertar o que há de melhor nelas.
Todos os dias novos passos são dados em busca de um objetivo. Em um espaço agradável, cerca de 120 alunos participam ativamente dos cursos propostos pela ONG, como capoeira, artesanato, balé, flauta e sopro. São nesses momentos que novas amizades são criadas e as habilidades desenvolvidas. Nesse canto tem de tudo, desde a menina que sonha com grandes palcos, e por que não menino? Até o garoto que vive tocando alegria e cultura por onde passa.
to e resolução de problemas futuros”, conta Luciano Scarpim, fundador da organização.
Ter um lugar de apoio é fundamental para o desenvolvimento do indivíduo. Imagine passar uma tarde conversando e tomando um café com amigos, boas risadas e ainda aprendendo coisas novas. Estar em um lugar onde você se sente bem-vindo torna tudo ainda mais espetacular, é como se estivesse aproveitando um dia no sítio do Pica-Pau Amarelo. A atividade em grupo, muito praticada na ONG, pode ajudar na socialização e no trabalho em equipe.
“Isso também contribui para que elas vejam como cada um é diferente e tem habilidades distintas. Procuramos descobrir potencialidades e trabalhar suas habilidades, podendo surgir da arte, também um meio de vida”, explica Scarpim.
“Quando comecei a aula de flauta, eu pensava que não ia conseguir aprender e isso me deixava muito triste. Mas depois aprendi e fiquei muito feliz. Meu professor disse que tudo o que eu quiser ser eu posso ser, é só ter paciência”, conta. Por meio dessas atividades de âmbito cultural, educacional, esportiva e social, é que as pessoas se encontram nelas mesmas. A arte e a cultura têm o poder de filtrar emoções, melhorar a autoestima, ampliar horizontes e, inclusive, tirar crianças da rua.
“Quem tem acesso à arte, realiza o processo de criação, levando-o a desenvolver sua criatividade e raciocínio. Isso ajuda na melhoria em relação ao seu potencial de pensamen-
Para Samuel Moreira, de 16 anos, a música trouxe uma calmaria na vida dele, e foi onde conseguiu reconhecer seu talento, encontrando o seu lugar no mundo.
Foto: ONG Fênix
João Victor Betioli
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A flauta é como música para os ouvidos desse jovem aluno, que se transformou após conhecer a ONG. “Eu ia na escola e depois eu ficava o dia todo na rua, era gostoso, porque eu jogava bola com os amigos da minha rua, mas eu não aprendia as coisas que aprendo agora”.
O balé como arte e luta contra o preconceito
Diz o ditado popular que “quem canta seus males espanta”, mas e se trocássemos por “quem dança seus males espanta?” O sentido continuaria sendo o mesmo, afinal, se movimentar e fazer aquilo que gosta pode despertar os melhores sentidos no seu corpo. O professor de balé, Murilo Borges, fala da importância e comprometimento com esse estilo.
“Como o instrumento da dança é o corpo, o ballet também incentiva a superação, ensinando que para chegar a um objetivo, é necessário dedicação e compromisso na prática”. Nessas aulas, as músicas utilizadas como o clássico e instrumental têm um papel impor
tante, pois ajudam a desenvolver a concentração, sensibilidade e percepção de ritmo. Para ele, a arte tem o poder de transformar, assim como o balé. “Por ser algo completamente diferente da realidade deles, vejo como uma oportunidade de conhecerem e experimentarem uma linguagem de dança rica em tantos aspectos”.
Borges conta que sua turma também tem vários meninos, mas nem sempre foi assim, devido a alguns estereótipos impostos pela sociedade e aceitação da própria pessoa. No entanto, acima de tudo, dança é arte.
“O balé é uma forma poderosa de expressão corporal e artística, o que contribuiu para a autoestima e desenvoltura das crianças e adolescentes”.
Ainda assim, para aceitar que não há nada de errado na prática, o processo é mais lento. “O primeiro desafio é o preconceito enraizado, que vem sendo quebrado à medida que vai conhecendo e percebendo como funciona”, conta ele. Depois de conseguir quebrar o preconceito da criança, continua o da família, que muitas vezes impede a participação e o desenvolvimento nessa atividade.
Foto: ONG Fênix
Foto: ONG Fênix
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Ribeirão brinda a Cultura Cervejeira
Ribeirão Preto, uma das joias do interior de São Paulo, vem sendo palco de uma verdadeira revolução na cultura cervejeira. Nos últimos anos, a cidade tem sido sede de um aumento no número de eventos relacionados à cerveja. De festivais de degustação a encontros de cervejeiros caseiros, a cena cervejeira está crescendo novamente na cidade.
Os eventos cervejeiros não são apenas uma oportunidade para degustar novos sabores e descobrir novas cervejarias artesanais, mas também uma manifestação da rica cultura local. Em uma cidade que já é conhecida por sua tradição na produção de cerveja, a comunidade cervejeira local está celebrando e compartilhando sua paixão pela bebida de maneiras inovadoras.
Um dos eventos que tem atraído grande atenção é o “Ribeirão Beer Fest”. Realizado anualmente, o festival oferece uma seleção diversificada de cervejas artesanais, desde as tradicionais até as mais ousadas e criativas. Além disso, o evento apresenta música ao vivo, gastronomia de rua e palestras com cervejeiros renomados, tornando-se uma experiência completa para os visitantes e já produtores de cervejas que desejam se encontrar com pessoas que também possuem o conhecimento da produção.
Outro destaque na cena cervejeira local é o “Encontro de Cervejeiros Caseiros de Ribeirão Preto”. Este evento reúne os entusiastas da fabricação de cerveja em casa para compartilhar suas criações, trocar experiências e promover a cultura
cervejeira. É uma ótima oportunidade para os aspirantes a cervejeiros aprenderem com os mestres e se inspirarem para criar suas próprias cervejas.
Caio Baleiro, produtor e entusiasta do assunto diz: “Deveria ter com mais frequência na verdade, teve no meio do ano alguns, mas tem que ser mais espalhado para que no ano inteiro a gente consiga expor esse mercado.” Ele também pontua que Ribeirão Preto é uma cidade com uma rica história na produção de cerveja, com a presença de cervejarias tradicionais que continuam produzindo cervejas de alta qualidade.
Com o sucesso crescente desses eventos, a cidade de Ribeirão Preto parece estar no caminho certo para se tornar um destino quando o assunto for uma das bebidas mais antigas da humanidade.
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Felipe Gondo
Divulgação: Felipe Gondo
Divulgação: Felipe Gondo
Para o Paulo, sócio da Cervejaria Kaya, esses eventos podem concretizar a cena da cerveja cada vez mais e ressalta que “Ribeirão pode e tem a capacidade de trazer a experiência de degustação até para quem não tem o costume de consumir a bebida”.
À medida que a cena cervejeira continua a crescer e evoluir, os eventos em Ribeirão Preto continuarão a desempenhar um papel fundamental na promoção da cerveja artesanal e na preservação da rica história da região. Não importa se você é um apreciador experiente ou um iniciante curioso, a cidade tem algo a oferecer a todos que desejam explorar esse assunto.
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