Jornal da Barão 2023

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Trabalho infantil aumenta 58% em Ribeirão Preto, aponta Ministério Público do Trabalho

Venda de balas e pedido de dinheiro em semáforos são denúncias comuns

Sábado, 16h, em uma avenida da

sul de Ribeirão Preto. Sol de 40°. Crianças de 12 anos pedem dinheiro nos semáforos. A cena de trabalho infantil tem se tornado cada vez mais comum na cidade, com base nos dados do Ministério Público do Trabalho (MPT). De acordo com o MPT, onúmero de denúncias aumentou 58% no primeiro semestre de 2023, em comparação com o mesmo período do ano passado.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) define trabalho infantil como toda e qualquer atividade realizada por menores de 16 anos, que não seja enquadrada como aprendizagem.

A juíza da Vara da Infância e Juventude de Ribeirão Preto Márcia Mendes, afirma que os casos mais comuns de denúncias de crianças em situação de trabalho infantil são de venda de doces ou pedidos de dinheiro nos semáforos.(Pág. 05)

Transexuais denunciam preconceito no mercado de trabalho de Ribeirão Preto

O mercado de trabalho é competitivo em essência. Mas para transexuais, a busca por vaga em empresa pode provocar traumas e exclusão social.

Em Ribeirão Preto, profissionais que fizeram a transição de gênero relatam ter sofrido agressões verbais, psicológicas e sido obrigados a manter anonimato nas atividades laborais.

É o caso de Ana (nome fictício). Ela largou o emprego como professora por sofrer preconceito de colegas. Sem dinheiro no fim do mês, ela diz que foi para as ruas fazer programas sexuais. De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais, 90% das travestis dependem da prostituição como fonte primária de renda. (Pág. 07)

Mesmo com novos ônibus, passageiros reclamam de condições do transporte público em Ribeirão Preto

A chegada de novos ônibus na frota do transporte coletivo em Ribeirão ainda não surtiu efeito na melhora de problemas antigos da cidade, de acordo com passageiros. Quem depende do serviço todos os dias a caminho do trabalho relata dificuldade com o calor, lotação e atrasos. (Pág. 04)

Projeto de música reduz evasão escolar em RP

O som de flautas e cantoria que ecoa nos corredores da escola estadual Dom Alberto Gonçalves, nos Campos Eliseos, é sinal de sala de aula cheia. Um projeto criado pela Associação Maori ajudou a reduzir os índices de evasão.

De acordo com os pais, os estudantes estão mais animados para frequentar as aulas. O objetivo da entidade é ampliar o projeto para outras escolas. (Pág. 10)

Mulheres assumem liderança em startups

Estudo que mapeia as startups da região metropolitana de Ribeirão Preto, realizado pelo SUPERA Parque, aponta que 14% das empresas no município foram fundadas exclusivamente por mulheres.

Em contrapartida, o número de empreendedoras de inovação e tecnologia que representa o cenário nacional é 4,7%.

Segundo o gerente da incubadora de empresas do SUPERA, Saulo Rodrigues, a cidade se destaca por ser polo de ensino e pesquisa. No entanto, faltam oportunidades para mulheres no setor. (Pág. 08)

Espera de pacientes por vaga em hospitais chega a um dia

O volume de acidentes de trânsito em Ribeirão Preto tem afetado o tempo de espera de pacientes que precisam de cirurgia. Em alguns casos a demora chega a 24 horas, de acordo com médicos da UPA.

Dados do Infosiga, painel que mostra o índice de acidentes em São Paulo, mostram que o número de batidas de janeiro a junho deste ano é 78% maior em relação ao ano passado. (Pág 03)

Insegurança alimentar afeta 15% da população

Ribeirão Preto tem 107 mil pessoas em situação de insegurança alimentar, o que representa 15,3% da população. O dado é do Conselho Municipal de Insegurança Alimentar e Nutricional da cidade.

A ação de ONGs na distribuição de cestas básicas e comida pronta é fundamental para diminuição do problema. Levantamento feito pelo Jornal da Barão aponta que 20 entidades são responsáveis pela entrega semanal de 4.800 refeições. Ações da Secretaria da Assistência Social foram ampliadas na pandemia, mas não atendem demanda. (Pág 06)

Cursinho popular traz esperança para alunos de baixa renda

Localizado em Bebedouro, o cursinho popular Uneafro Núcleo Conceição Evaristo oferece aulas de graça para estudantes de baixa renda da cidade.

O grupo se tornou nos últimos anos uma das principais vias de acesso ao ensino superior para essa parcela da população na cidade. A taxa de aprovação dos alunos em faculdades públicas e privadas é de 33%.

O núcleo atende alunos negros de escolas públicas, negros e de baixa renda, que não têm condições de pagar um cursinho particular, para concorrer a vagas nos vestibulares. (Pág. 09)

Produzido pelos alunos do curso de Jornalismo do Centro Universitário Barão de Mauá de Ribeirão Preto (SP) - 4º semestre/2023
Fãs de música sertaneja e festas de peão da região de Ribeirão Preto gastam até R$ 35 mil e percorrem centenas de quilômetros a cavalo,
busca de experiências únicas. A comitiva Rédea
anos
em
Curta vai todos os
para Barretos. Na foto, oprêmio: a chegada ao Parque do Peão, após três dias de viagem. (Pág.12)
Criança de 12 anos vende balas em semáfoto para motorista de Ribeirão Preto, na zona sul; caso é enquadrado como trabalho infantil Mulher transexual, professora, diz que abandonou emprego por preconceito de colegas zona Foto: Arquivo Pessoal Foto: Carol Castro Foto: Julia Valeri

EXPEDIENTE

O Jornal da Barão é uma publicação produzida pelo curso de Jornalismo do Centro Universitário Barão de Mauá.

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A Califórnia Brasileira e a fome

Em 1987, o jornalista Ricardo Kotscho publicou reportagem no Jornal do Brasil em que intitulava a cidade de Ribeirão Preto (na época com pouco mais de 300 mil habitantes), como a Califórnia Paulista.

O apelido, em referência à Califórnia americana, se justificava, de acordo com Kotscho, pelo desenvolvimento da agroindústria na região, o turismo e a fama pela venda de chopp.

Tudo conspirava para que a cidade se tornasse uma das mais ricas do país. Naquele ano, a renda per capita da população de Ribeirão, de acordo com a publicação do jornalista, era de $ 5,6 mil ao ano, enquanto o orçamento do município era de C$ 700 milhões.

Em meados da década de 1990, o apelido ganhou nova proporção. A cidade se tornava a Califórnia Brasileira, denominação dada pelo Globo Repórter feito pelo repórter Antônio Carlos Ferreira. O especial mostrava odesenvolvimento econômico da cidade com o agronegócio.

Mas o contraste estava claro: de um lado os boias-frias, que ganhavam por metro de cana cortado e, de outro, os filhos de usineiros curtindo em represas com suas motos aquáticas.

A desigualdade causava indignação em determinados grupos de moradores. Em 1998, a banda Distúrbio Mental, liderada pelo vocalista e compositor Kelsen Bianco, lançou a faixa “Não Existe Califórnia Brasileira”, que afirmava nos versos: “Onde está? Me ajude a procurar!”.

Curioso notar que apesar de a Califórnia concentrar o maior número de milionários nos EUA, também é o estado que tem a maior taxa de pobreza do país.

Ribeirão Preto apresenta características similares deste contraste social ainda hoje. A cidade tem o 27° maior PIB do país. Ao mesmo tempo possui cerca de 107 mil pessoas em situação de insegurança alimentar, segundo o Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (Consean). Ou seja, 15,30% dos 698 mil habitantes não sabem

se vão ter as três principais refeições no dia. O dado é apresentado na reportagem da página 06 desta edição.

Muitas dessas pessoas estão distribuídas nas 120 comunidades espalhadas na cidade, de acordo com a Central Única das Favelas (CUFA).

Além do apelido Califórnia Brasileira, desde 2004 Ribeirão Preto tem o título de Capital Brasileira do Agronegócio. O conjunto de atividades e seu modelo de negócio no Brasil, alimenta 10% da população mundial. Ironicamente, a cidade deixa mais de 100 mil pessoas sem saber o que vão comer amanhã.

A Secretaria de Assistência Social estuda a elaboração de um Programa de Aquisição de Alimentos, uma secretaria voltada à política pública de segurança alimentar e nutricional e outras medidas.

Mas o tempo urge para quem tem fome. As ações precisam ser efetivas, já que a pandemia da Covid-19 agravou ainda mais a desigualdade no país. Nenhum título irá sustentar quem precisa.

Checagem: arma contra a desinformação

A desinformação é uma realidade na vida das pessoas. Para o jornalista, que tem como prerrogativa apurar, checar e buscar a verdade dos fatos, lidar com notícias falsas tem sido um desafio.

ele afirmava, em inscrições, que omilitar era mulherengo, que vivia bêbado.

Com o tempo, a desinformação ganhou novos formatos. A rapidez de escrever e publicar as informações ficou ainda mais fácil com os recursos da tecnologia.

informação e o impacto que ela causa no público.

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A revista TIC Domicílios, do Comitê Gestor da Internet no Brasil constatou, em edição publicada em 2022, que 74,5 milhões de brasileiros não checam se a informação é verídica ou não ao navegar na internet.

De acordo com o Dicionário Online de Português, desinformar é “a ação ou efeito de informação inverídica ou errada, que é divulgada com o objetivo de induzir em erro ou falta de conhecimento”.

O historiador norte americano Robert Darnton, afirma em seu artigo científico intutilado “The true story of fake news” (A verdadeira história das notícias falsas), publicado pela revista The New York Review of Books, que a desinformação acontece no mundo desde antes de Cristo.

De acordo com a pesquisa de Darnton, no século I, Otávio Augusto, que seria o futuro imperador romano, promoveu difamação contra Marco Antônio, amante da rainha do Egito Cleópatra. Na campanha

Segundo o professor de segurança internacional na Fundação Escola de Sociologia, Bernardo Wahl, a desinformação tomou corpo na primeira guerra mundial, com o surgimento de agências de notícias a favor de grupos políticos.

Em 1933 o partido nazista assumiu o poder na Alemanha e passou a controlar jornais. Com a eliminação do sistema político multipartidário, o número de publicações produzidos a comando de Hitler dobrou.

Mais tarde, em 1943, em plena segunda guerra mundial, Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista, descredibilizava o trabalho da imprensa. “Qualquer homem que ainda tenha um resíduo de honra tomará todo cuidado para não se tornar jornalista”. As notícias falsas colocam em xeque o trabalho da imprensa, ao misturar quem trabalha com ética e profissionalismo com alguns comunicadores sem responsabilidade com a

Bom exemplo disso foi a enxurrada de desinformação que tomou conta do país durante pandemia da COVID-19. O uso de medicamentos sem comprovação científica chegou a ser apoiado e tomado como política pública pelo governo da época.

Notícias falsas sobre vacinas diziam que as pessoas receberiam um microchip se tomassem o imunizante. Tudo se revelou mentira mais tarde, mas a confusão se instalou em grupos da sociedade.

Por isso a checagem da informação é fundamental para a imprensa e para quem consome notícia.

Hoje, com os recursos que existem na internet, o leitor é capaz de buscar as fontes fidedignas, pesquisar a mesma notícia em diferentes portais para comparar o que está sendo dito sobre um fato.

O impacto da desinformação é tão profundo que agências de checagem de informação foram criadas, como é o caso do Projeto Comprova, que demonstra sempre o passo a passo da apuração.

O importante, além da checagem, é romper o ciclo da desinformação. Se não houver confiança na notícia, não compartilhe.

2 4º semestre/2023 OPINIÃO
EDITORIAL Fonte: twosides.org.br O papel é o meio de comunicação preferido há 2000 anos.
KAELAINE OLIVE GUILHERME MORO FAÇA COMUNICAÇÃO NA BARÃO! O FUTURO SE CONSTRÓI COM ENSINO EXCELENTE. JORNALISMO 4 NA AVALIAÇAO DO MEC PRODUÇÃO AUDIOVISUAL 5 NOTA MÁXIMA NO MEC PUBLICIDADE E PROPAGANDA 5 NOTA MÁXIMA NO ENADE

Alta no número de acidentes faz aumentar tempo de espera por cirurgias em Ribeirão Preto

Números de vítimas que precisam de procedimento cirúrgico é 78% maior, em relação ao ano passado

A alta no número de acidentes em Ribeirão tem provocado impactos no tempo de espera de pacientes por vagas em centros cirúrgicos. A demora pode chegar a um dia para transferência.

De acordo com dados do Infosiga, o painel que mostra resultados do governo do Estado de São Paulo, o número de batidas de trânsito em ruas e avenidas registrado de janeiro a junho de 2023 é 78% maior em relação ao mesmo período do ano passado.

O médico Hélio Kazuo Kanda, da UPA norte, afirma que 80% dos pacientes que precisam ser transferidos do pronto atendimento para hospitais de alta complexidade são vítimas de acidentes.

Após serem atendidas nas unidades de emergência, as vítimas aguardam enca-

minhamento da central de regulação, gerenciada pelo governo estadual.

O tempo é referente a gravidade dos ferimentos e liberação de vagas e leitos em hospitais. “Em casos cirúrgicos, o tempo de espera das transferências é, em média, de uma a duas horas”, afirma Kanda.

O vendedor Nathan Santiago, 22, quebrou a perna em um acidente de motocicleta. Ele esperou um dia para ser tranferido da UPA para o hospital que fez sua cirurgia. “Cheguei no hospital domingo de manhã e fiz a cirurgia na segunda. Realizei três cirurgias e ainda estou me recuperando”.

Um policial militar ouvido pela reportagem, que preferiu manter a identidade em anonimato, afirmou que o descumprimento de regras de trânsito e a distração dos

motoristas são as principais causas de acidentes em Ribeirão. “Essa falta de atenção pode ser uso de telefone celular, tanto para ligações, quanto para responder mensagens de WhatsApp”.

Para o engenheiro de trânsito Fernando Velazquéz, culpar apenas os motoristas é limitar a dimensão do problema. “Temos que entender que a responsabilidade desses acidentes também é compartilhada pelos projetistas do sistema viário. Se o usuário não cumpre as regras, o sistema ali não está adequado”, afirma.

Em Ribeirão Preto, a frota é maior do que a população, com 2.8 veículos por habitante. A estimativa é baseada nos emplacamentos feitos no Detran-SP. “A partir do momento que é criado uma nova via, um viaduto, ou uma nova faixa, o tráfego é

induzido para aquela região. Devido a demanda, ela volta a entrar em colapso. Então é um sistema em círculo vicioso”, explica Velazquéz.

Jean Garcia, 46, construtor, afirma que sofreu quatro acidentes de moto. No caso mais grave, ele fraturou a perna e a clavícula, o que o impossibilitou de andar por seis meses . “Andei de moto,

pela última vez, em 2017. Hoje tenho trauma em andar de moto novamente”, diz Garcia.

A reportagem entrou em contato por e-mail com a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Saúde, questionando a demora na transferência de pacientes para hospitais, mas não teve retorno até o fechamento desta edição.

Trânsito e espera por clientes são desafios enfrentados por

entregadores de aplicativos

A reportagem acompanhou a rotina dos motociclistas na garupa por duas horas em Ribeirão Preto

Calor excessivo, risco de acidente e longos minutos de espera por clientes durante a entrega de pedidos. Essas são as principais dificuldades relatadas por motociclistas de aplicativos em Ribeirão Preto.

A reportagem do Jornal da Barão acompanhou a rotina de um entregador de comida durante duas horas, na garupa de uma moto, pelas ruas da cidade.

Douglas Henrique Moraes, 28, presta serviço para um aplicativo de entregas há um ano. Ele trabalha ao mesmo tempo aceitando pedidos em restaurantes conveniados, de várias regiões da cidade.

De acordo com Moraes, os motociclistas precisam de um grande volume de entregas para ter rendimento

favorável no dia. Isso faz com que eles aumentem a velocidade sobre duas rodas para diminuir o tempo de entrega e atingir boa pontuação no sistema. “A gente acaba correndo mais riscos de acidentes”, afirma.

Andar entre os carros e sair ileso no fim do dia é um desafio para Moraes. Após ter feito sua última entrega, já cansado no fim do dia, ele foi fechado por outra motocicleta na avenida Luzitana e se desequilibrou. O piloto teve que pensar rápido para desviar do carro que estava ao lado. “Em horário de pico é muito ruim. Temos que tomar muito cuidado no trânsito”, diz.

Segundo a plataforma Infosiga, painel de registros de acidentes no estado de São Paulo, 75 pessoas morreram em decorrência de aciden-

tes em Ribeirão Preto, entre janeiro e outubro de 2023. Deste total, 28 estavam em motocicletas, o que corresponde a 37% das mortes no trânsito. A maioria das vítimas é homem e estava con-

duzindo a moto no momento da batida. Outra dificuldade relatada por Moraes é o tempo entre a chegada no destino e a retirada do pedido pelos clientes. Em condomínios, o entregador relata que o tempo de espera chega até 40 minutos. “Os clientes, muitas vezes, agem como se fossem nossos patrões. Nesse tempo poderíamos fazer outras corridas para ganhar dinheiro.”

O calor dificulta a rotina dos motociclistas. Em setembro de 2023, Ribeirão registrou 41º, um recorde de temperatura.

Para o entregador Rogério Bianchini de Mendonça, 49, a alta temperatura dificulta o serviço. “É muito desgaste, principalmente com esse calor que está fazendo em nossa cidade. É

bem estressante”, diz. Outro problema enfrentado pelos motoristas é o fluxo intenso em horários de pico. As avenidas João Fiúsa, Francisco Junqueira, Maurílio Biagi e Leão XIII são as mais movimentadas, segundo eles. Outras avenidas, como 13 de maio, Presidente Kennedy, Coronel Fernando Ferreira Leite, Presidente Vargas e Dom Pedro I também são apontadas como vias difíceis para pilotar.

Para Mendonça, apesar da rotina estafante, o trabalho compensa. “Para mim, é um desafio em relação à segurança, mas economicamente é uma conquista.”

Moraes acredita que o serviço tem mais aspectos positivos do que negativos. “Conhecer muita gente é o mais incrível. Você cria amizades”, afirma.

O papel quando produzido, usado e descartado de forma correta é essencialmente sustentável.

3 4º semestre/2023 CIDADES Fonte: twosides.org.br
AMANDA MAESTRE
MATHEUS PISCHIOTTIN Unidade de Pronto Atendimento (UPA-Norte), recebe pacientes vítimas de acidentes. O estudante de jornalismo Matheus Pischiotin sentiu na pele como é a rotina dos entregadores pelas ruas e avenidas de RP Foto: Matheus Pischiotin Foto: Amanda Maestre

Lotação, atraso e calor são alguns transtornos enfrentados por passageiros de ônibus de RP

Alterações de rotas e circulação de poucos ônibus nas linhas afastam novos usuários dos coletivos

As altas temperaturas registradas no mês de setembro em Ribeirão Preto só pioraram algo que o passageiro do transporte público reclama há anos: o calor dentro dos ônibus. Isso, mesmo depois da renovação da frota. Mas esse não é o único problema para quem depende do serviço na cidade. Lotação e atrasos constantes também fazem parte da rotina.

Luana Padilha, 21, vendedora, afirma que o preço da passagem a R$ 5,00 não condiz com o serviço oferecido. “Os ônibus estão em péssimas condições. Tem dias que as janelas emperram e você não consegue abrir. Há um mau cheiro e uma limpeza ruim nos ônibus. Os vidros são sujos, embaçados, sem contar quando a sinalização de parada não funciona e temos que gritar ao motorista para não perder o ponto”, disse.

As mudanças recentes

nos trajetos das linhas acentuaram problemas já constantes na vida dos usuários do transporte. Uma delas é a lotação, principalmente nos horários de pico (começo e fim do dia). Padilha explica sua rotina ao sair do serviço, até embarcar no ônibus para voltar para casa. “Preciso sair mais cedo do meu trabalho, pois este horário é mais limitado e os

funcionários do shopping precisam pegar o mesmo ônibus”.

O trânsito carregado na cidade é outro fator que dificulta a vida dos passageiros, pela demora, e dos motoristas.

Luiz Sampaio, 49, é motorista de ônibus em Ribeirão e faz a Linha D-302, Jardim Aeroporto, na zona norte. Segundo ele, as alterações no trânsito por conta das obras

dos corredores de ônibus na cidade provocam atrasos nos horários previstos de chegada e saída. “Nesse lado aqui [avenidas Brasil e Mogiana] também teve obra. Leva mais tempo com o desvio do que se fosse no trajeto normal”, afirma.

Segundo o motorista, todos esses problemas reunidos afastam os passageiros dos ônibus. “Isto [obras] causa um atraso de uns 20 minutos na linha, fazendo com que as pessoas deixem de usar o ônibus por medo de atraso”, afirma Sampaio. Em fevereiro de 2022, foi reajustado o preço das passagens de R$ 4,20 para R$ 5. Desde junho, a prefeitura passou a subsidiar R$ 2,09 da tarifa para o Consórcio Pró-Urbano, empresa que gerencia o transporte público na cidade.

Segundo o IBGE, Ribeirão tem hoje 698 mil habitantes. O valor da tarifa é superior ao de cidades com população proporcionalmente semelhan-

tes, como Sorocaba, que tem 723 mil habitantes. Lá, o bilhete de ônibus custa R$ 4,40 ao passageiro.

Diante do novo contrato repactuado em junho deste ano, o Pró-Urbano assumiu o compromisso de entregar até fevereiro de 2024, o restante da nova frota de ônibus, com ar-condicionado, wi-fi e carregadores de celular. Parte dela já está em circulação em novas linhas criadas, como a 902 –Norte-Sul.

Além da nova frota, a prefeitura promete entregar entregar outros 56 quilômetros de corredores de ônibus na cidade.

A reportagem do Jornal da Barão entrou em contato com a prefeitura e o Pró-Urbano por e-mail, via assessoria de imprensa, pedindo posicionamento sobre as reclamações dos usuários, apesar das melhorias já implantadas, mas não houve resposta até o fechamento desta edição.

Reajuste no bilhete de ônibus de Pradópolis para Ribeirão Preto impacta orçamento de passageiros

Passagens tiveram aumento de 35% nos últimos dois anos e comprometem até 33% da renda mensal

Os recentes reajustes da passagem de ônibus intermunicipal, entre Pradópolis e Ribeirão Preto, têm impactado o orçamento familiar dos passageiros.

Nos últimos dois anos, a empresa Petitto, que presta o serviço em Pradópolis, aumentou em 35% o valor do bilhete. Em 2021 a tarifa custava R$ 7,35. E hoje custa R$ 9,95.

Grande parte da população trabalha em Ribeirão Preto. O salário mínimo no ano de 2023 é R$ 1.320. O preço da passagem, por mês, corresponde a 33% da renda.

O assistente jurídico Maurílio Belarmino, 20, mora em Pradópolis e pega ônibus todos os dias para Ribeirão. Ele recebe vale-transporte da empresa em que trabalha, o que ajuda a diminuir o impacto dos gastos com transporte. Mas os últimos aumentos no bilhete tiveram influência nos ganhos reais

do salário no fim do mês. “O desconto é de 6% dos meus rendimentos, mesmo com o benefício da empresa”, disse. A artista circense, Carmem de Oliveira Pott, 60, também mora em Pradópolis e utiliza o transporte público. Ela afirma que o custo da passagem tem tornado o des- locamento inviável. “É um gasto diário de R$ 50 a cada dia indo para Ribeirão”.

Pott diz ainda que o preço das passagens de ônibus interfere consideravelmente em sua renda mensal. “Gira em torno de R$ 500.”

Além do custo, os passageiros também reclamam de atrasos constantes na linha, o que, segundo eles, é incompatível com o valor pago. “O ônibus deve sair da rodoviária 8h, mas sai com meia hora de atraso, as 8h30. Mas nós, que temos horário para chegar no serviço, sempre estamos atrasados”, afirma Pott.

A artista diz que todos

os passageiros reclamam do serviço, mas sem solução. “Quando os passageiros reclamam, o condutor fala para eles irem com carros de aplicativo” afirma Pott.

Ogerente administrativo da Petitto, empresa responsável pelo transporte intermunicipal de Pradópolis, Domingos Carlos Moleiro, afirma que o preço da passagem é fixado pela Agência Reguladora de Transportes do Estado de São Paulo (Artesp).

O cálculo, segundo Moleiro, leva em consideração a distância percorrida e custo de insumos. “Os aumentos da manutenção, dos preços dos veículos e dos custos de funcionários contribuem para os aumentos das passagens”, diz Moleiro.

O gerente afirma que o combustível do veículo é um grande fator na precificação. “Os ônibus normalmente conseguem fazer três quilômetros por litro. O com-

bustível conta como 33% do custo para a equação do valor final da passagem. Segundo o Decreto Estadual, a frota de ônibus precisa ser renovada a cada dez anos, o que também entra na conta”, afirma Moleiro. Segundo Moleiro, a prefeitura de Pradópolis ajuda com parte do subsídio do custo. “A prefeitura ajuda com 50% dos custos, para quem ganha até dois

salários mínimos. Mais de 300 trabalhadores têm esse cadastro. E a prefeitura compra cerca de oito mil passes por mês.”

Segundo ele, a condição financeira do país impossibilita a redução nos preços das passagens. “O que a Artesp pode fazer é segurar o reajuste. Tivemos períodos que o órgão segurou quase um ano e meio com o mesmo valor.”, afirma Moleiro.

4 4º semestre/2023 CIDADES A produção de papel no Brasil não causa desmatamento. Fonte: twosides.org.br
WALTER COSTA Foto: Walter Costa Passageiros embarcando no ônibus Norte-Sul 901 no ponto de ônibu da avenida Independência YAGO PERDIGÃO Ônibus em lotação máxima levando trabalhadores de Pradópolis para Ribeirão Preto Foto: Yago Perdigão

Denúncias de trabalho infantil aumentam 58% em Ribeirão Preto, de acordo com MPT

Vendas de doces e pedidos de dinheiro em semáforos são os casos mais comuns registrados

Apesar das altas temperaturas, malabarismo, venda de balas e, principalmente, pedido de dinheiro nos semáforos são cenas comuns de serem vistas em Ribeirão Preto. Mas, de acordo com o Ministério Público do Trabalho (MPT), as crianças têm sido cada vez mais exploradas nesse tipo de atividade.

O número de denúncias de trabalho infantil registrado em Ribeirão Preto pelo MPT aumentou 58% no primeiro semestre de 2023, em comparação com o mesmo período do ano passado.

Entre janeiro e junho de 2022, os procuradores receberam 12 denúncias de menores em situação de trabalho infantil. Em contrapartida, nos primeiros seis meses deste ano, o número subiu para 19.

De acordo com Márcia Mendes, juíza da infância e adolescência, a maioria das denúncias é de crianças vendendo produtos em esquinas ou pedindo dinheiro nos semáforos.

Segundo Mendes, um dos motivos do aumento deste tipo de ocorrência é a crise econômica e social agravada pela pandemia. “Houve uma quebra do ciclo protetivo que o Brasil vinha construindo, para a erradicação do trabalho infantil”, afirma.

A reportagem do Jornal da Barão percorreu as

principais avenidas da cidade e flagrou menores em situação de trabalho infantil.

Na avenida Maurílio Biagi, em um sábado de sol forte, às 16h, dois garotos de 12 anos vendiam balas aos motoristas no sinal. Nem a mãe ou o pai deles estavam no local.

José e Gabriel (nomes fictícios) estão no sexto ano do ensino fundamental e trabalham durante os finais de semana para ajudar na renda de casa. Eles diseram que seus responsáveis, apesar de não os acompanharem, sabem o que os garotos fazem.

A reportagem constatou que a situação de José e Gabriel não é única. Na cidade, quem passa pela

avenida João Fiúsa, na zona sul, ou pela avenida Dom Pedro I, na zona norte, também encontra outras crianças em situação parecida.

O que diz a lei

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) descreve trabalho infantil como todo trabalho realizado por pessoas com idade inferior à 16 anos ou com menos de 14 anos, que não seja incluída na modalidade de jovem aprendiz.

Para os adultos responsáveis pelas crianças em situação de trabalho infantil, a juíza Márcia Mendes diz que não há ação punitiva, mas a inserção dessas pessoas em políticas públicas. Segundo

ela, as crianças que estão em situação de trabalho infantil devem ser retiradas das ruas para que possam frequentar as escolas. “Quando o Estado fala que é proibido o ingresso precoce no mundo do trabalho, ele precisa dar as condições. Então a Semas (Secretaria Municipal de Assistência Social) e o Fórum [de Erradicação do Trabalho Infantil] vão fazer o acolhimento dessa família e a inserção dessa família nos programas de política pública municipal, estadual e federal.” De acordo com Mendes, um dos métodos para combater o problema é a criação de medidas que possam integrar a rede de proteção de menores em situação de vulnerabilidade. “Existe a dicotomia clássica de que é ‘melhor a criança trabalhar do que roubar, do que furtar’. Mas é preciso esclarecer que isso é uma grande mentira Melhor do que isso tudo é que a criança estude. Só assim ela tem acesso ao mercado de trabalho no momento oportuno, com melhores salários, a partir de melhor qualificação”, afirma Mendes.

Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

Cidinha Belchior é coordenadora do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), ligado à Secretaria de Assistência Social.

Segundo ela, toda semana, duas a três denúncias de trabalho infantil chegam às equipes, que fazem busca ativa de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade 24 horas por dia.

Quando acionadas para checar casos de trabalho infantil, os agentes vão até o local da denúncia e orientam os responsáveis pelos menores. “As equipes vão até o local onde as crianças estão trabalhando e entram em contato com os pais delas, para orientar sobre a problemática do trabalho infantil e oferecer os recursos que a gente têm disponíveis”, explica Belchior.

O programa, promovido pelo governo federal, atua junto ao Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e seus núcleos de atendimento. “O PETI trabalha de forma estreitamente articulada com Conselho Tutelar, Ministério Público, Ministério Público do Trabalho e Ministério do Trabalho e Emprego. Participa ativamente do Fórum Municipal pela Erradicação do Trabalho Infantil. E trabalha também de forma articulada com a saúde, educação, cultura e o serviços da assistência social”, afirma Belchior.

Como uma maneira de garantir que esses jovens estudem, um dos papéis do PETI é o de acompanhar o que é feito com as famílias e com as crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil. Dessa forma, o núcleo familiar é informado dos programas de assistência social e é monitorado para que as crianças tenham seus direitos garantidos conforme prevê o ECA.

Os canais de denúncia disponíveis são: os telefones 161 do Fale Assistência Social, o 180 ou os números 0800 7730161 e 36100687, do Serviço Especializado em Abordagem Social.

Também é possível denunciar pelas redes sociais do Fórum de Erradicação do Trabalho e da Secretaria de Assistência Social. Os serviços são gratuitos e as denúncias podem ser feitas de forma anônima.

5 4º semestre/2023 CIDADES O papel é altamente reciclado, biodegradável e muito sustentável. Fonte: twosides.org.br
CAROLINA CASTRO Crianças de 12 anos são flagradas em situação de trabalho infantil, durante fim de semana, em avenida da zona sul de Ribeirão Preto Crianças vendem balas para motoristas parados no sinal vermelho, na avenida Maurílio Biagi em Ribeirão Preto dutrante fim de semana Foto: Carolina Castro Foto: Carolina Castro
Conselho estima que 15% dos moradores de Ribeirão vivem em insegurança alimentar

Entregas de cestas básicas feitas por ONGs têm sido alternativa para amenizar a fome de famílias

ARTHUR MICA

Ribeirão Preto tem hoje 107 mil pessoas em situação de insegurança alimentar. O número é uma projeção feita pelo Consean (Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional). Isso representa 15,30% da população da cidade, que tem 698 mil habitantes, de acordo com o IBGE.

O envolvimento de Organizações Não Governamentais (ONGs) que entregam cestas básicas para o combate à fome tem sido fundamental para diminuir o problema. A insegurança alimentar, de acordo com o Consean, é caracterizada pela insuficiencia de acesso regular a alimentos, que permitam a nutrição do corpo.

Em virtude da pandemia da COVID – 19, que afetou diretamente as populações mais pobres diante da instabilidade econômica, a prefeitura de Ribeirão Preto implementou medidas para ampliar a distribuição de cestas básicas.

No entanto, as ações não foram suficientes para atender as necessidades da população, de acordo com o presidente do conselho, Joaquim Lauro. Segundo ele, o modelo de distribuição de alimentos não atingiu de maneira ampla a população.

“As pessoas tinham que se registrar em um aplicativo para conseguir o auxílio e, a partir daí, entrar em uma lista no Centro de Referência de Assistência Social [CRAS], para ter direito a retirar a cesta. No entanto, se muitas pessoas estivessem em situação de insegurança alimentar e o motivo fosse relacionado à renda, a pessoa não tinha celular para fazer o cadastro”, afirma Lauro.

As ONGs passaram a desempenhar papel importante na luta contra a fome e a desnutrição. Levantamento feito pela reportagem do Jornal da Barão mostra que 20 ONGs são responsáveis pela entrega de 4.800 marmitas e alimentos não perecíveis por semana, na cidade.

Silvio Henrique Mica é presidente do instituto Simplesmente Amor, que faz a distribuição de alimentos para pessoas em vulnerabilidade social há mais de sete anos. “As ONGs fazem o máximo possível dentro da quantidade de alimentos e verba arrecadados. A atuação das organização é importante porque o governo não consegue chegar onde as instituições chegam.” Mica afirma que as ONGs entregam alimentos que possuem valor nutritivo, como marmitas prontas e balanceadas. Mas o volume maior de doações é de cachorro quente. “Com relação à proteína, à fibra, nós sempre fa-

zemos um cardápio adequado para essas pessoas que estão lá na ponta para receber esse alimento”, diz Mica.

As entregas são feitas em comunidades da zona oeste e norte, além da região da baixada no centro, sempre no período das 18h às 21h.

De acordo com nutricionista Maria Laura Precinotto, a insegurança alimentar deve ser tratada em dois aspectos: quantidade e qualidade dos alimentos. “Em termos de nutrientes estaríamos, portanto, falando da qualidade dos alimentos, que se agrupam em dois grandes níveis: macronutrientes (carboidratos, proteínas e lipídios) e micronutrientes (vitaminas e minerais). E por fim, as fibras alimentares” afirma Maria.

O Jornal da Barão entrou em contato com a Secretaria de Assistência Social por e-mail, sobre a insegurança alimentar na cidade, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.

Saber identificar sinais é primeiro passo para romper ciclo de violência psicológica

Segundo especialista, ciúmes excessivo e controle sobre decisões da mulher são indícios de relacionamento abusivo

dois anos.

A identificação dos sinais é o primeiro passo para combater a violência psicológica vivida por mulheres, de acordo com especialistas.

De acordo com a professora e advogada especializada em direito das mulheres, Cibele Randi Barbosa, a violência psicológica se caracteriza por ser silenciosa e controladora.

“A violência psicológica é diferente de outras violências descritas na lei, porque ela geralmente não deixa marcas visíveis ou percepítiveis a olho nu. É mais difícil de ser provada”, afirma Barbosa.

Legalmente, a pena mínima para este tipo de crime é de seis meses e a máxima de

De acordo com Barbosa, apesar da dificuldade na materialidade das provas, é possível que as vítimas tenham amparo legal de proteção.

“A produção de provas no caso de ocorrência da violência psicológica pode ser feita por meio do depoimento da mulher em situação de violência, de depoimento de testemunhas, prova documental e em outros formatos, como mensagens de WhatsApp e avaliações médicas.”

O Jornal da Barão entrevistou uma mulher, vítima de violência psicológica, que preferiu manter a identidade em anonimato.

Segundo ela, os abusos aconteceram em dois relacionamentos com homens dife-

rentes. E só no segundo casamento, ela conseguiu perceber as agressões.

Foto: Arquivo pessoal

“Eu o conheci em um momento delicado da minha vida. Eu estava vulnerável depois de outro relacionamento abusivo com o pai do meu primeiro filho. Foi então que eu entendi que um ciclo estava se repetindo na minha vida, só que um pouco pior. Eu não tinha o direito de ter opinião própria. Ele me manipulava até eu fazer o que ele queria. Eu vivia me questionando quem realmente eu era. Perdi meu brilho e alegria”, disse. Cibele Randi, professora universitária e advogada especialista em direito das mulheres

DENUNCIE!

Denúncias de violência contra a mulher podem ser feitas pelos canais nacionais - 180 e Disque 100. E municipais, pelo FAS - Fale Assistência Social, de Ribeirão Preto, no número 161 e pelo site www.fasdenuncia.ribeirao.br.

6 4º semestre/2023 SAÚDE A mídia impressa sempre será indispensável no ensino de boa qualidade. Fonte: twosides.org.br
Foto: Arthur Mica Joaquim Lauro, presidente do Conselho Municipal de Segurança Alimentar, de Ribeirão LUDMILA FARIA

Transexuais relatam preconceito e falta de oportunidades no mercado de trabalho em RP

Pessoas trans afirmam que prostituição é saída para garantir renda, por dificuldade em empregos

Agressões verbais, psicológicas e obrigação de anonimato. Estas são algumas das dificuldades relatadas por pessoas transexuais no mercado de trabalho em Ribeirão Preto. Em alguns casos, diante do preconceito vivido dentro de empresas, a prostituição é meio para sobrevivência.

A reportagem do Jornal da Barão entrevistou quatro pessoas transexuais. As identidades foram preservadas diante do risco da exposição. Os nomes são fictícios.

Ana, 26, professora, iniciou a transição de gênero em 2020. Desde então não encontrou oportunidades de trabalho em sua área de formação, a educação. Ela fez estágio em uma escola particular. Mas afirma ter vivido reações preconceituosas dos colegas e até mesmo dos alunos. Segundo ela, isso foi um gatilho para transtornos mentais.

“Foi nesse momento que optei por deixar meu emprego, temendo que minha saúde mental estivesse em risco. Eu ia me matar”, revela.

Diante da falta de emprego, Ana afirma que precisou fazer programas sexuais para pagar as contas.

“Acabei indo para prostituição, e nas ruas, eu fazia uso frequente de substâncias estimulantes, como ritalina e até mesmo cocaína, para lidar com as condições do trabalho sexual”.

A professora diz ainda que teve que buscar meios alternativos para sobreviver, mesmo que prejudiciais à sua saúde e bem-estar físico e mental.

“Estou procurando emprego, mas é complicado e às vezes a promessa de ganhos rápidos, para poder me alimentar ou passar algumas noites no conforto me fazem voltar para a prostituição”, afirma Ana.

Dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), apontam que 4% da população trans

feminina têm empregos formais, com possibilidade de promoção e progressão de carreira. Outras 6% estão envolvidas em atividades informais e empregos precários. No entanto, 90% das travestis e mulheres transexuais dependem da prostituição como fonte primária de renda.

Maria, 24, professora de uma escola particular, passou por uma transição de gênero há sete anos. Ela afirma que foi contratada com a condição de manter a identidade trans em anonimato.

“Minha amiga, que trabalha na escola onde fui contratada, me informou sobre a vaga, mas também deixou claro que eu não poderia me assumir para diretores, professores e, principalmente, alunos”.

Maria afirma ainda que a todo momento tinha que medir as palavras, opiniões e mudar seu comportamento para evitar que funcionários e alunos descobrissem que ela era transsexual.

“As conversas nos corredores e na sala dos professores muitas vezes incluíam tópicos sobre relacionamentos, família e vida pessoal, e eu me via incapaz de compartilhar minhas experiências e meu relacionamento”, relata.

Carol, 35, gerente de

marketing digital passou por transição de gênero aos 18 anos. Ela conseguiu emprego em uma empresa na área, mas diz que não escapou de julgamentos.

“Meu colega afirmou, em tom de deboche, que nunca entenderia ‘por que alguém faria uma mudança de gênero’. Uma agressão verbal que me deixou visivelmente constrangida”.

Bruno, 21, estudante de pedagogia, é homem transexual. Ele já passou por várias entrevistas de emprego. Mas sempre que chega na fase da contração, afirma que as reações dos recrutadores são de espanto quando percebem sua identidade trans.

“Um momento constrangedor se desenrola nos primeiros cinco segundos da conversa, quando o entrevistador para, olha atentamente para mim e, embora não diga, sua expressão sugere uma reação de surpresa ou desconcerto. E a pior parte é que eu sei, que a partir dali, eu não vou ser contratado”.

O papel da legislação

O número de pessoas transexuais absorvidas pelo

mercado de trabalho formal cresceu 40% em 2022 em comparação com o ano anterior, segundo dados da Transempregos. Apesar disso, apenas 16,7% das pessoas transgênero estão atualmente inseridas no mercado de trabalho, de acordo com estudo da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) divulgado em julho de 2023.

Para o advogado Everton Luiz dos Reis, presidente da Comissão da Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Ribeirão Preto, a constituição garante o princípio da dignidade da pessoa humana, que assegura a qualquer pessoa o direito à condição de trabalho digno.

“No âmbito infraconstitucional, os direitos e garantias para os trabalhadores são os mesmos, protegidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Isso significa que qualquer cidadão está resguardado contra a arbitrariedade de um empregador”, afirma Reis.

Políticas afirmativas na busca por equidade

De acordo com a psicóloga, especialista em gênero

e sexualidade, Letícia Boffi, a criação de políticas de qualificação profissional e mais vagas afirmativas nas empresas para transexuais aumentam a inclusão deste público no mercado de trabalho.

A psicóloga acredita que as empresas devem implementar políticas de apoio aos funcionários trans. “Por isso é importante a criação de grupos de afinidade, discussão e diversidade, que podem tornar o ambiente de trabalho menos hostil. Isso permite que essas pessoas permaneçam em seus empregos formais, sendo respeitadas em relação ao uso de seu nome social, suas funções, cargos e capacidades”, afirma Boffi.

Bianca Emanuela da Cunha, 30, gestora de recursos humanos de uma empresa de recicláveis diz que na instituição onde trabalha, apesar de não possuir vagas afirmativas, as contratações buscam diversidade.

“Adquirimos medidas para tornar nosso ambiente seguro, focando principalmente em um diálogo. Estamos sempre abertos para conversar e para resolver problemas, não admitindo nenhuma falta de respeito com quem quer que seja”, afirma Emanuela.

No Brasil, o papel é feito de celulose extraída de árvores cultivadas e de materiais reciclados.

7 4º semestre/2023 EDUCAÇÃO
Fonte: twosides.org.br
JULIA VALERI Ana, nome fictício, afirma ter ido para a prostituição para sobreviver Ana, nome fictício, teve que deixar o emprego como professora para garantir saúde mental Foto: Julia Valeri Foto: Julia Valeri

Número de startups fundadas por mulheres em Ribeirão Preto ultrapassa média nacional

Levantamento do SUPERA Parque Tecnológico, aponta que 14% das empresas inovadoras com base em tecnologia foram fundadas somente por mulheres na cidade, enquanto no Brasil índice é de 4,7%

ecossistema de inovação da cidade”, afirma Rodrigues.

O número de empresas nascentes de base tecnológica fundadas exclusivamente por mulheres em Ribeirão Preto é maior do que a média nacional, de acordo com levantamento feito pelo SUPERA Parque de Inovação e Tecnologia.

O incentivo à qualificação proporcionado pelas universidades e o empreendedorismo igualitário entre gêneros estimulado pelo Parque Tecnológico são fatores que destacam o protagonismo feminino.

O SUPERA Parque é uma fundação pública vinculada à Prefeitura de Ribeirão Preto e a Universidade de São Paulo (USP), que abriga laboratórios de tecnologia, oferece capacitações e assessoria para a criação de novos negócios, além de espaço físico para empresas em diferentes estágios de desenvolvimento.

Segundo o Mapeamento do Ecossistema de Inovação da Região Metropolitana de Ribeirão Preto feito pelo SUPERA, 14% das startups (modelos de negócios, produto ou serviços inovadores, em estágio inicial e com alto grau de risco) foram fundadas exclusivamente por mulheres em 2022.

O número ultrapassa a estatística nacional. De acordo com estudo Female Founders Report de 2021, apenas 4,7% das startups do Brasil são fundadas somente por mulheres.

Para Saulo Rodrigues, mestre em administração e gerente da SUPERA Incubadora, programa de incubação de empresas oferecido pela fundação, a participação das mulheres no empreendedorismo inovador e tecnológico é superior em Ribeirão Preto porque é resultado do incentivo à pesquisa por parte das universidades.

“Há um grande percentual de mulheres na graduação e também na pós-graduação, no campus da USP de Ribeirão Preto. E isso acaba se refletindo no

Para ele, a disparidade nacional entre homens e mulheres que empreendem em negócios de base tecnológica acontece, em parte, pela diferença da trajetória entre os gêneros, que desde a infância têm diferentes tarefas designadas e oportunidades oferecidas. “Os meninos podem, em determinados momentos, se dedicarem a estudar, brincar, a uma série de coisas, enquanto as meninas têm que se dedicar a auxiliarem suas mães ou em casa”.

Para minimizar as consequências do estigma, Rodrigues defende a importância de ambientes capazes de estimular o empreendedorismo igualitário e que gerem protagonismo às mulheres. “As startups fundadas por mulheres e apoiadas pelo SUPERA Parque são inspirações, especialmente por serem destaques nacional e internacional.”, afirma.

Protagonismo Feminino

A In Situ - Terapia Celular, fundada em 2015, utiliza células-tronco para o tratamento de feridas crônicas ou queimaduras graves. Foi o Programa de Pesquisa Inovativa em Pequena Empresa, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), que possibilitou o empreendimento.

Em 2023, a empresa foi vencedora do eAwards Brasil 2023, prêmio que elege o melhor projeto empreendedor na área da saúde, para representar o país na final internacional do Global eAwards. “Esses editais internacionais são muito motivadores, porque conseguimos mostrar que o Brasil está fazendo ciência de qualidade. E também inspiramos outras mulheres a conquistarem seu espaço”, diz Carolina Caliari, bióloga e fundadora da empresa.

A linha de pesquisa de Caliari é responsável por todos os produtos e serviços desenvolvidos na In Situ. A pesquisadora também exer-

ce atividades administrativas. Somado a isso, por ser mulher, ela enfrenta a dupla jornada de trabalho, sendo necessário conciliar a vida profissional com as tarefas domésticas. “Eu costumo dizer que empreender em um negócio de base tecnológica já é um ato de resistência. E empreender em biotecnologia sendo mulher é muito mais difícil”.

Ela também afirma que as mulheres acabam sobrecarregadas ao precisarem se impor, já que, algumas vezes, investidores e outros pesquisadores subestimam e desvalorizam o negócio ao descobrirem que a liderança é feminina, o que costuma ser associado à fragilidade e dependência.

Atualmente, a equipe da In Situ é formada integralmente por mulheres, profissionais da biologia, farmácia e gestão de empresas, o que é motivo de orgulho para Caliari e sua sócia, Adriana Manfiolli. Porém, já houve momento em que a pesquisadora dividia a propriedade da empresa com um homem.

Naquele período, em negociações, alguns investidores se dirigiam somente ao sócio da fundadora, inferindo que o papel de decisão era do homem, embora a maior parte da empresa fosse dela.

“A gente quer cada vez mais que as mulheres estejam em posições de liderança, em posições de decisão e em evidência. Eu acho que só quando a gente estiver nesses três pilares a gente

vai conseguir ter equidade também no empreendedorismo e na tecnologia”, afirma Caliari.

Outra empresa referência para mulheres empreendedoras em tecnologia é a Lychnoflora, que transforma a ciência em produtos e serviços para a indústria farmacêutica.

Por meio da Lychnoflora, Thaís Guaratini, doutora em farmácia, fundadora e diretora de negócios da empresa, recebeu o prêmio Mulheres Brasileiras na Química 2022, na categoria Líder Industrial.

O prêmio reconhece a profissional que trabalha na indústria química cujas pesquisas e inovações criativas levaram a descobertas que contribuíram para o sucesso comercial e para o desenvolvimento da comunidade.

A Lychnoflora é uma sociedade composta só por mulheres. Guaratini é sócia da farmacêutica Elaine Cunha e da química Fernanda Ferreira. Além delas, a empresa conta com uma equipe de 39 pessoas, sendo 28 mulheres, que assumem a maioria dos cargos de liderança nos diversos setores.

Para a fundadora, o conglomerado de universidades em Ribeirão Preto promove a intensificação de pesquisas, e consecutivamente, cria um ambiente de muita interação e colaboração que é favorável para a geração de negócios.

Guaratini foi cativada pelo empreendedorismo durante o doutorado, enquanto atuava em um projeto colaborativo com a indústria. Assistindo o nascimento do SUPERA, a doutora em farmácia percebeu que Ribeirão Preto caminhava para disponibilizar uma estrutura de apoio e incentivo ao empreendedor. Para ela, esse foi o impulso para criar o negócio em 2008.

“O contexto sinérgico promovido pelo SUPERA faz de Ribeirão, além de um importante centro científico no país, uma referência por sua capacidade em gerar negócios e com eles construir conhecimento, oferecendo oportunidades também para as mulheres”, afirma a farmacêutica Guaratini.

8 4º semestre/2023 VOLUNTARIADO
reciclados do mundo. Fonte: twosides.org.br
O papel é um dos produtos mais
AMANDA HAIKAL Thaís Guaratini, fundadora da Lychnoflora, discursando na inauguração da nova sede da empresa Carolina Caliari e Adriana Manfiolli, fundadora e CTO da In Situ, exibem os prêmios Foto: Amanda Haikal Foto: Amanda Haikal

24% dos imóveis comerciais do quadrilátero central de Ribeirão Preto estão desocupados

Levantamento feito pela ACI-RP, no primeiro semestre de 2023, fez raio-x do comércio no Centro

Pesquisa da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (ACI-RP) revela que 24% dos imóveis comerciais do quadrilátero central da cidade estão desocupados. O levantamento teve como base a área entre as ruas Lafaiete, Florêncio de Abreu, Barão do Amazonas e Visconde de Inhaúma.

A pesquisa, feita no primeiro semestre de 2023, analisou 487 estabelecimentos comerciais e constatou que, destes, 117 estavam disponíveis para locação.

A rua Barão do Amazonas concentrava a maior quantidade de imóveis desocupados, com 50 no total. Na rua Florêncio de Abreu foram registrados 28 imóveis vazios. Outros 21 imóveis na rua Lafaiete estavam

sem atividade. Por fim, na Visconde de Inhaúma, 18 imóveis estavam disponíveis para aluguel.

Comerciantes e moradores da região atribuem a desocupação dos imóveis, entre outras justificativas, às obras de mobilidade da Prefeitura. Para o microempresário Mateus de Castro, que possui uma loja de informática na rua Lafaiete, as obras espantam os comerciantes e os consumidores da região.

“A Nove de Julho está um caos e muitos já saíram do local. Eles também estão mexendo na Florêncio de Abreu e se chegarem até a Lafaeite, vão atrapalhar bastante o nosso comércio”, comenta.

No entanto, Carlos Henrique Ferreira, gestor de

Marketing e Relações Institucionais da ACI-RP, afirma que no início das obras do quadrilátero central já havia um movimento de desocupação dos imóveis.

“Identificamos que esses imóveis, bem antes do início das obras, já estavam desocupados. Boa parte deles, em função da própria pandemia em 2021. A obra de fato gera uma preocupação, mas não impacta diretamente nesse êxodo do centro”, diz.

Ferreira ainda afirma que o cenário se mostrou muito favorável em outros pontos da cidade. “A avenida do Café, por exemplo, após o término das obras, passou a ter uma grande ocupação da vida noturna. A intenção é transformar aquela avenida em corredor gastronômico”.

José Bueno, publicitário e morador da região central, afirma que, apesar dos problemas no comércio devido às obras, está otimista com o resultado.

“A área ficou bastante abandonada e está bagunçada. Conheço alguns comerciantes dali e muitos sofreram

com fechamentos de seus negócios. No entanto, passei no cruzamento há pouco tempo e gostei do que está sendo realizado”.

A Prefeitura informou que algumas obras tiveram atraso por conta de rompimento de contratos com as construtoras.

Cursinho popular de Bebedouro tem taxa de 33% de aprovação de alunos em vestibulares

Núcleo Conceição Evaristo, da Uneafro, oferece aulas de graça para estudantes de baixa renda

O cursinho popular Uneafro Núcleo Conceição Evaristo de Bebedouro, há 81 km de Ribeirão Preto, se transformou em uma das principais vias de acesso ao ensino superior para estudantes de baixa renda da cidade.

Nos últimos seis anos, 300 jovens passaram pelas cadeiras do projeto. O índice de aprovação em faculdades públicas e bolsas de estudo conquistadas em instituições privadas é de 33%, de acordo com o núcleo.

Micael Firme, coordenador e professor do cursinho, afirma que o objetivo do núcleo é atender apenas alunos de escolas públicas, negros e de baixa renda, que não têm dinheiro para pagar um cursinho particular.

As aulas ocorrem em uma casa alugada, com material próprio fornecido pela Uneafro Brasil, movimento estudantil popular com 15 anos de existência e 31 núcleos espalhados pelo país. O projeto está há seis anos na cidade e conta com 15 professores, responsáveis por 15 disciplinas focadas na preparação dos alunos para o vestibular.

Os gastos com aluguel e outras despesas são divididos entre os próprios professores, que também fazem campanhas de apadrinhamento de estudantes. Qualquer pessoa pode patrocinar um aluno por R$34 mensais. “É um movimento totalmente voluntário. Isso faz com que o aluno se sinta à vontade para participar das campanhas como modo de retribuição, divulgando o cursinho, divulgando as campanhas de apadrinhamento e as rifas”, diz Firme.

Segundo o coordenador, dos 300 alunos que já foram atendidos pelo núcleo, mais de 100 ingressaram em universidades públicas ou particulares com bolsas integrais.

Fernanda Keyko Matsuda, 17, está no núcleo desde o começo do ano e busca vaga para medicina veterinária. “Todos os dias temos aulas com professores muito bons. Eles sempre estão dispostos

a tirar dúvidas e sempre trazem algo a mais também. Por exemplo, em maio tivemos a oportunidade de conhecer o cursos de História e Filosofia da USP. Eles trazem debates sobre possíveis profissões e atualidades, para ficarmos mais atualizados e sabermos mais”, disse.

A vestibulanda também relata que além da base educacional, o pré-vestibular oferece conhecimento sobre a rotina universitária e seus desafios, trazendo ex-alunos do cursinho para compartilhar experiências.

“Nós tivemos muitas palestras com ex-alunos, contando sobre a vida pós Uneafro, dentro das faculdades, sobre o que eles fizeram e como eles se sustentavam. Eles também falavam sobre as bolsas escolares e as repúblicas”, disse Matsuda.

9 4º semestre/2023 VOLUNTARIADO
2020. Fonte: twosides.org.br
O Brasil é um dos maiores recicladores de papel do mundo, com 70,3% do papel reciclado em
Foto: Pedro Narente Alunos em sala da Uneafro Núcleo Conceição Evaristo durante aula de matemática
PEDRO NARENTE GUILHERME MORO Foto: Guilherme Moro Imóvel comercial com placa de aluga-se, no centro da cidade, que registra desocupação

Projeto de música contribui para redução de evasão escolar em escola pública de Ribeirão

Aulas de musicalização, violão, coral e flauta contribuem para aumento da frequência de alunos na escola

O desenvolvimento de atividades musicais foi fundamental para a redução dos índices de evasão escolar na Escola Estadual Dom Alberto José Gonçalves, nos Campos Elíseos, em Ribeirão Preto. É o que demonstram os resultados do projeto Música é Vida, desenvolvido pela Associação Maori e aplicado entre os anos de 2021 e 2022.

Estudantes do primeiro ciclo do ensino fundamental tiveram aulas de musicalização com flauta, coral e violão, em horários alternativos às aulas regulares. De acordo com a coordenadora Gabriela Cardoso, o projeto incentivou a frequência dos alunos na escola. “Eles se inscrevem sabendo que precisam frequentar a escola por conta do projeto, se não, perdem a vaga e entram na lista de espera novamente”.

Uma pesquisa feita com os professores da escola ao fim do projeto avaliou o aproveitamento dos alunos em relação às aulas, a vulnerabilidade, a redução de evasão escolar e a capaci-

dade de associar técnicas musicais e coordenação motora. Os melhores resultados se mostraram na redução da evasão escolar. Dos 96 docentes que participaram da pesquisa, 76 classificaram como ótima a frequência dos estu-

dantes. “A gente precisa ter mais projetos como esse nas escolas. Também precisamos dar mais oportunidades para essa criançada aproveitar a arte. Vejo que ajuda muito na atenção, concentração e percepção. O resultado aparece na vida delas”, explica a professora de musicalização Fernanda Nogueira. A responsável pela Associação Maori, Elaine Souza, já planeja a expansão do projeto não só para outras turmas, mas também para outras escolas. Ela afirma que o projeto foi motivado pela vontade de levar a cultura para a periferia e que vê ainda mais a necessidade da educação musical nas comunidades.

“Esperamos conseguir verba para mais edições, porque tem cerca de 15 escolas pedindo para receber o projeto. A gente sabe da carência que temos na área da educa-

ção, sabemos dos buracos que ela apresenta e é por isso que levamos a música para dentro das escolas”, diz Souza.

Todo o trabalho tem um objetivo final. Para os inscritos, o produto desenvolvido durante o projeto é uma apresentação no fim do ano para pais e colegas. De acordo com a responsável, é importante que os pais vejam os filhos engajados pelas atividades. “Vemos a família voltando para a escola e vemos esse resgate da comunidade para dentro da sala de aula”, disse Souza.

A motorista de aplicativo, Poliana Cypriano, 40, é mãe da Lara, aluna do projeto. Ela afirma que a filha fica mais animada para ir a escola nos dias das aulas de música.

“As aulas poderiam ser a semana inteira, né? Se a Lara pudesse, iria de segunda a sexta”, completa Cypriano.

Feiras de profissões ajudam estudantes na escolha da carreira,

apontam especialistas

Contato com profissionais do mercado e apoio familiar são pontos importantes para decisão de curso

A interação entre profissionais do mercado e vestibulandos é um dos fatores decisivos na escolha da profissão, de acordo com especialistas. As feiras de profissões e orientações pedagógicas ajudam na decisão.

A orientadora pedagógica Ana Carla Ramos afirma que é perceptível a indecisão dos estudantes do ensino médio, no momento da escolha de uma carreira profis-

sional. Segundo ela, a orientação psicológica individual é fundamental. “Nós oferecemos diferentes recursos, como a orientação profissional, realizada com alunos da 2ª série, dentro dos Itinerários Formativos na proposta do novo ensino médio e na 3ª série individualmente”, afirma Ramos.

A orientadora explica ainda que a instituição em que trabalha convida profissionais de diferentes áreas para conversar com os estu-

dantes e tirar dúvidas. “Também promovemos o Projeto Futuro, em que facilitamos uma aproximação do aluno com profissionais de diferentes campos de trabalho, como médico, advogado, psicólogo, engenheiro”, aponta Ramos.

Ainda de acordo com a orientadora, essa estratégia de orientação profissional é benéfica para o estudante. “Ela ajuda a entender melhor seus interesses, habilidades e valores, além de fornecer informações sobre várias opções de carreira disponíveis”, afirma.

Ramos diz ainda que que os objetivos da instuição com aqueles alunos indecisos profissionalmente é contribuir para que eles possam tomar decisões alinhadas com suas motivações e interesses, de modo que possam ter satisfação profissional com a carreira escolhida.

Tauany Ferreira, 18, estudante de jornalismo,

afirma que ter participado de uma feira de profissões quando ainda era estudante do ensino médio foi fundamental para decidir qual curso superior faria.

“Escolhi o curso e a faculdade por ter professores que estão atuando na área todos os dias e levando suas experiências para a sala de aula. É incrível”, disse.

A psicóloga escolar

Natália Carolina Primo afirma que quando o adolescente se depara com a vida adulta, ele tende a ficar mais inseguro no momento de decidir a profissão que irá trilhar.

Segundo Primo, os pais têm tendência a superproteção e, por isso, interferem na decisão dos filhos sobre a escolha da carreira.

“Não é fácil conversar e expôr uma decisão que em partes pode afetar um núcleo famíliar, por uma geração. Mas é sempre válida a exploração no campo profissional, a ideia de que a profissão es-

colhida não é uma lei a ser seguida, que a troca profissional é uma realidade presente no nosso cotidiano e que nada está perdido”, explica Primo.

A psicóloga reforça que os pais devem agir com cautela com os filhos neste momento para não pressioná-los na decisão.

“Eles precisam entender e respeitar o momento de escolha dos filhos. É uma escolha delicada, que, quando pressionada, tem mais chances de dar errado do que de obter sucesso”.

Isabela Barbieri, 17, estudante do ensino médio, conta que a feira de profissões ajudou a acabar com sua indecisão.

“Quando tive a oportunidade de conhecer os cursos com profissionais que me deram dicas importantes, isso me ajudou a construir um pensamento sobre cada profissão e tirar um pouco desse peso da indecisão”.

10 4º semestre/2023 VOLUNTARIADO
Fonte: twosides.org.br
A indústria de impressão e papel é uma das menores emissoras de gases do efeito estufa.
BEATRIZ EGYDIO Professora marca mão de aluno com um coração, durante atividade com flauta Foto: Beatriz Egydio
OLIVE Foto: Kaelaine
Estudante do ensino médio faz aula prática, durante feira de profissões em faculdade
KAELAINE
Olive

Nutricionistas e instrutores físicos dobram

número de atendimentos em Ribeirão Preto

Alta demanda é resultado da pandemia da Covid-19, segundo profissionais

O número de atendimentos de nutricionistas e personal trainers mais que dobrou em Ribeirão Preto, de acordo com profissionais.

Os desequilíbrios emocionais e físicos decorrentes da pandemia da Covid-19 são os principais motivos apontados.

De acordo com a nutricionista Ana Paula Rossi, muitas pessoas tiveram descontrole na dieta com a perda de atividades sociais na pandemia. Segundo ela, depois da volta do convívio e da liberação das atividades, a procura por atendimento nutricional aumentou 120%.

“Além do ganho de peso excessivo durante a pandemia, a qualidade alimentar também piorou”,

educação alimentar e exercícios físicos, deixou de tomar remédios controlados para colesterol e arritmia cardíaca. Além disso, ela afirma que conseguiu sair do grau um de obesidade e deixou de ser pré-diabética.

Já a personal trainer

Heloisa Riul notou um aumento de 20% na busca pelo serviço. “Cada vez mais as pessoas têm notado que o modo de sobrevivência precisa incluir a prática de atividade física, para o sucesso de uma longevidade saudável”, afirma Riul.

Gabrielly Masson, 19, estudante, diz que adotou em 2017 um programa nutricional mais restritivo em carboidratos. Depois de perder 78 quilos, hoje mantém uma dieta para manutenção do peso após o processo de

“Decidi fazer dieta porque pretendia mudar meus hábitos. Além da estética, quis seguir uma dieta que me desse resultados para vida toda”.

A obesidade pode desenvolver diversas doenças, entre elas câncer, diabetes e hipertensão. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade também está ligada a outros tipos de doenças crônicas, que podem surgir silenciosamente. O acúmulo de gordura no corpo também pode aumentar o nível de colesterol ruim no organismo, problemas cardiovasculares, respiratórios e dores musculares.

De acordo com a nutricionista Ana Paula Rossi, a obesidade é uma doença de nível epidêmico. “O excesso

câncer. É muito importante que haja prevenção, adotando desde cedo um estilo de vida saudável”. Rossi, explica ainda

ção com o alimento. “Após a obesidade ser considerada fator de risco na pandemia, vejo as pessoas mais preocupadas com a saúde em geral. Atribuo a esse motivo, o aumento na procura por

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11 4º semestre/2023 ECONOMIA
papel é facilmente coletado e reciclado, garantindo que essas fibras valiosas sejam usadas várias vezes. Fonte: twosides.org.br
O
JOÃO PEDRO TURATI Juliana Riul durante consulta com a nutricionista Ana Paula Rossi, em Ribeirão Preto
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Fãs de rodeio gastam até R$ 35 mil por ano em festas do peão na região de Ribeirão Preto

Comitiva com 60 pessoas percorre 100km a cavalo, de Ibitiúva até Barretos, para eventos

Arquivo Pessoal

LÍVIA LOUZADA

A busca por novas experiências tem levado fãs do universo dos rodeios e da música sertaneja na região de Ribeirão Preto a percorrer centenas de quilômetros a cavalo e a gastar milhares de reais em festas de peão.

A comitiva Rédea Curta, fundada em 2013, participa e realiza cavalgadas todos os anos até a cidade de Barretos. Com grupo formado por 60 pessoas, o trajeto feito pelos peões chega a 100km e dura três dias percorridos. A saída da comitiva é de Ibitiúva, distrito de Pitangueiras. O primeiro trecho é até a cidade de Bebedouro. Depois, o grupo parte para a Fazenda Boa Esperança, ao lado de Barretos. A terceira e última etapa tem como destino o Parque do Peão de Barretos, local da maior festa de peão da América Latina.

A ideia de fazer uma viagem a cavalo em comitiva foi de Kleber Nascimento, 45, autônomo e idealizador grupo. “Conversávamos com donos de fazendas, se podíamos entrar e dormir nos currais e barracões. Era tudo muito simples, as paradas para comer eram em bares”, diz Nascimento.

Outro integrante é João Eduardo Lucente,

18, estudante. No ano de 2017, os integrantes tiveram a ideia de comprar e adaptar um ônibus para a comitiva, com churrasqueira, caixas d’água e banheiros. “Sempre que chegamos em cada pouso, a comida está pronta, feita pelo cozinheiro que todo ano vai conosco”, conta Lucente.

Para a personalização do ônibus, os integrantes arrecadaram verba. Os vidros foram retirados, uma imagem de nossa Senhora Aparecida e uma cabeça de boi colocadas como decoração e a estilização feita em madeira. O gasto anual com despesas do transporte e comida do grupo é de R$ 35 mil, para os três dias de festa.

Em 2022 e 2023 houve aumento significativo de integrantes. De 24, o número passou para mais de 60 pessoas. Entre homens, mulheres e crianças, uma parte vai a cavalo e outra dentro do ônibus. Muitos integrantes contribuem com o transporte de malas, bebidas, ração para os animais, feno, colchões, feito por caminhões.

Neste último ano, além do churrasqueiro, a comitiva também contratou cantores no segundo dia para animar os integrantes.

Gabriela Lima, 20, estudante e integrante da comitiva, diz que a tradi-

rosa pra todo mundo. E todo ano estamos juntos, para curtir essa festa que conquista muitos corações”.

Trabalho e diversão

A Comitiva Rédea Curta não está sozinha pela paixão sertaneja. A jornalista Fernanda Brandão, 37, também faz parte dos fãs de festa do peão. Especializada em rodeios e cultura sertaneja, Brandão participa dos eventos ativamente. Ela vai em média a cinco rodeios por ano para fazer a cobertura de imprensa. E hoje colhe os frutos da escolha. Ela trabalha nos

Arquivo Pessoal

ção precisa continuar ainda por muitos anos. “Apesar de ser uma reunião e tradição de amigos, nos divertimos muito. É uma distração, uma fuga da realidade, quando estamos juntos esquecemos dos problemas. É sempre muito bom a galera toda reu- nida. É uma parceria muito boa. Desejo que essa tradição siga por muitos anos ainda”, disse.

Devair de Lima, 49, encarregado e idealizador da Comitiva, conta o motivo que a festa conquista os integrantes: “A parceria que fomos construindo com o tempo, entre colegas, locutores e amantes de rodeio é muito praze-

bastidores e diretamente com artistas das festas. “Fui convidada pela equipe da cantora Lauana Prado para participar do show dela. Só soube como seria na hora. Esse ano em Barretos teve uma estrutura, um mini palco, no meio da arena. E ali eu participei de uns vinte minutos do show, assistindo sentada junto com outros influencers e a namorada da Lauana”, relembra.

Brandão afirma que já passou dificuldades em várias coberturas. “Desde 2005 faço coberturas para a Festa do Peão de Barretos. Já fiquei hospedada no camping dos competidores. E é zero conforto, muito barulho o dia inteiro. Já caí do brete e quase vi o boi de frente. Mas mesmo com as dificuldades isso facilitou muito meu trabalho.”

Paixão por rodeio

Maria Fernanda Camolesi, 22, estudante, é outra apaixonada por Barretos. Desde criança via a festa pela televisão e ficava encantada com a tradição.

Mas apenas em 2019 ela passou a frequentar o evento. “Todo ano eu bato meu cartão lá em Barretos. Já gastei R$ 500 durante o evento e não me arrependo. Esse ano a gente ganhou dois camarotes e foi surreal a experiência.”

Foto: Arquivo Pessoal

A árvore plantada é o futuro das matérias-primas renováveis, recicláveis e amigáveis ao meio ambiente.

12 5º semestre/2023 ESPORTE
Fonte: twosides.org.br
Integrantes da Comitiva Rédea Curta se preparam para sair em viagem rumo à Barretos, em ônibus adaptado e estlizado A jornalista Fernanda Brandão, 37, na Festa do Peão de Barretos, após cobertura do evento Maria Fernanda Camolesi, 22, durante uma das noites na Festa do Peão de Barretos. Foto: Foto:

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