Revista de divulgação científica da UFMS ANO 5 N. 13 DEZEMBRO 2022 Pág. 17 Pág. 10 Integra UFMS Entrevista Diretor de Marketing analisa o potencial do metaverso na Educação Projetos se destacaram em cada uma das áreas do conhecimento Especial
Quem é que pode parar os caminhos?
E os rios cantando e correndo?
E as folhas ao vento?
E os ninhos?
E a poesia?
A poesia como um seio nascendo...”
Arara Amarela - Ana Clara Mallmann Silva
Mario Quintana
“
O brilho emitido pelo Candil tem o poder de transformar a noite em dia, a escuridão em luz... Luz do saber, do conhecimento, da consciência, da ciência.
No Paraguai, até o início do século XIX, o Candil era feito da garganta do boi, limpa e preenchida com a graxa retirada do animal, bem socada. No centro, um cordão espesso era colocado para servir de pavio.
No Sudoeste de Mato Grosso do Sul (fronteira com o Paraguai) acontece o Toro Candil, prática cultural de ori gem ibérica, realizado por trabalhadores paraguaios que passaram a habitar o Sul do antigo Mato Grosso, após a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870).
No limiar dos 150 anos desse conflito de contexto mun dial, e, rememorando os quarenta anos de criação do estado, a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul lança sua primeira revista de divulgação da pesquisa no intuito de transpor os muros da academia, popularizando, assim, as ideias, o saber e a produção do conhecimento realizado na Instituição.
Reitor
Marcelo Augusto Santos Turine
Vice-Reitora Camila Celeste Brandão Ferreira Ítavo
Pró-Reitor de Administração e Infraestrutura Augusto Cesar Portella Malheiros
Pró-Reitor de Assuntos Estudantis Albert Schiaveto de Souza
Pró-Reitor de Extensão, Cultura e Esporte Marcelo Fernandes Pereira
Pró-Reitora de Gestão de Pessoas Gislene Walter da Silva
Pró-Reitor de Graduação Cristiano Costa Argemon Vieira
Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação Maria Ligia Rodrigues Macedo
Pró-Reitora de Planejamento, Orçamento e Finanças Dulce Maria Tristão
Diretora da Agência de Comunicação Social e Científica Rose Mara Pinheiro
Diretor da Agência de Educação Digital e a Distância Hércules da Costa Sandim
Diretor da Agência de Internacionalização e de Inovação Saulo Gomes Moreira
Diretor da Agência de Tecnologia da Informação e Comunicação Luciano Gonda
Diretora de Avaliação Institucional Caroline Pauletto Spanhol Finocchio
Diretor de Desenvolvimento Sustentável Leonardo Chaves de Carvalho
Diretora de Gabinete da Reitoria Sabina Avelar Koga
Diretora de Governança Institucional Erotilde Ferreira dos Santos
Cidade Universitária: Av. Costa e Silva, s/nº, Bairro Universitário CEP: 79070-900 - Campo Grande/MS (67) 3345-7000 | reitoria@ufms.br | www.ufms.br
Um novo ano sempre motiva reflexão e planejamento de novas metas e novos sonhos. Nesse processo, olhar para o caminho percorrido é fundamental para vislumbrar novas possibilidades e encher o coração de esperança por dias melhores.
Na UFMS não poderia ser diferente. Quando olhamos nossa caminhada, temos a certeza de que hoje somos muito mais fortes em prol da Ciência, da Educação, da Inovação, e estamos prontos para novos desafios com governança, gestão e sustentabilidade.
Ao longo dessas páginas, você vai conhecer um pouco do que é desenvolvido em nossa Universidade. São projetos técnicos, científicos, artísticos e culturais apresentados no Integra UFMS, o maior evento científico de Mato Grosso do Sul. Durante cinco dias, mais de 1.150 trabalhos foram apresentados para milhares de visitantes e estudantes do Ensino Médio, da graduação, de mestrado e doutorado de todo o estado.
Com a esperança alimentada pelo brilhantismo de jovens talentos de destaque que tiveram seus projetos premiados no evento, sonhamos em uma Universidade cada vez mais forte, maior e melhor.
As inúmeras conquistas e reconhecimentos, nacionais e internacionais, nos motivam para sonhos ainda maiores e mais ousados para a nossa Universidade para o ano de 2023.
Queremos cada vez mais ser referência em todas as áreas do conhecimento e; que nossos jovens sonhem em ingressar em nossos cursos; que nossos pesquisadores contribuam para o desenvolvimento da sociedade; que nossas lideranças inspirem e almejem ser profissionais comprometidos com a nossa Instituição.
Candil | Ano 5, N.13, Dezembro de 2022
Tenho certeza que essa leitura vai renovar o vigor e a coragem para uma universidade pública, gratuita, inclusiva e de qualidade. A força da ciência produzida pelas instituições federais de ensino superior nos impulsiona cada vez mais a continuar lutando pelo ensino de excelência oferecido na nossa UFMS.
Agradeço a toda a nossa comunidade universitária que sonha e trabalha conosco.
Desejo um novo ano repleto e pleno de realizações e sonhos para você e sua família. Feliz 2023!
Grande abraço, Marcelo Turine Reitor
Governança, Inovação e Sustentabilidade 2020-2024
Produção: Agência de Comunicação Social e Científica (Agecom)
Contato: agecom@ufms.br | www.agecom.ufms.br | (67) 3345-7024 - Av. Costa e Silva, s/n - Cidade Universitária Campo Grande - MS - CEP 79070-900
Coordenação: Rose Mara Pinheiro (MTb 21.528 - SP)
Reportagem: Crislaine Oliveira, J. C. Costa, Mylena Rocha, Thalia Zortéa e Vanessa Amin
Esperança para a Ciência e para a Educação Superior em 2023 Expediente
Bolsistas do Programa de Rádio e TV voltado para Educação e Conscientização do Trânsito: Letícia Dantas, Lizandra Rocha e Maurício Aguiar
Revisão: Laura Toledo
Diagramação: Marina Arakaki ISSN 2596-2159 | e-ISSN 2764-3603
5 n. 12
Foto: Leandro Benites
Editorial
Cinco cursos de graduação são reconhecidos com nota máxima no MEC
da Faculdade de Artes, Letras e Comunicação, ambas na Cidade Universitária.
Outra forma de atestar a qualidade dos cursos é o Exame Nacional do Desempenho dos Estudantes (Enade). Para incentivar e acolher mais de 1,4 mil estudantes de 26 cursos da Cidade Universitária e dos câmpus que participaram da avaliação, foram realizadas palestras, distribuídos kits aos convocados e pela primeira vez o Esquenta Enade, com atrações artísticas e culturais.
Cinco cursos de graduação foram reconhecidos pelo Ministério da Educação com conceito máximo. A avaliação inclui projeto pedagógico, corpo docente e infraestrutura. Para o pró-reitor de Graduação, Cristiano Argemon Vieira, avaliação com nota cinco reforça a qualidade do curso e a qualificação dos profissionais que estão sendo formados na Universidade.
Alcançaram nota 5, os cursos de Medicina do Câmpus de Três Lagoas; de Engenharia de Produção do Câmpus de Nova Andradina; de Administração do Câmpus de Naviraí; de Educação Física (Bacharelado) da Faculdade de Educação; e de Audiovisual
“É nesse momento que vamos aferir um pouco da nossa responsabilidade social enquanto uma Instituição que forma cidadãos. Nós temos uma expectativa muito boa de obtermos o conceito cinco na prova Enade 2022”, aponta a diretora de Avaliação Institucional, Caroline Spanhol.
Aplicado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, o Enade integra o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior, composto também pela avaliação de cursos de graduação e pela avaliação institucional. Esse tripé avaliativo permite conhecer a qualidade dos cursos e instituições de educação superior brasileiras.
Vestibular e PASSE UFMS têm aumento de 61% nas inscrições em relação a 2022
Mais de 15 mil candidatos realizaram as provas do Vestibular UFMS 2023 e mais de 10,7 mil alunos do Ensino Médio prestaram as três etapas do Programa de Avaliação Seriada Seletiva (PASSE) UFMS 2023. Os processos seletivos bateram recorde de inscrições neste ano, com um aumento de mais de 61% em relação a 2022.
São mais de 10,6 mil vagas para o ingresso de estudantes nos cursos de graduação para o ano de 2023. A quantidade de vagas dobrou em relação a 2022 com a criação de novos cursos oferecidos tanto na modalidade presencial quanto na modalidade a distância. Outra novidade deste ano é que as provas foram realizadas tanto presencialmente quanto on-line.
As provas foram aplicadas em 11 municípios Aquidauana, Chapadão do Sul, Coxim, Naviraí, Nova Andradina,
Campo Grande, Corumbá, Dourados, Paranaíba, Ponta Porã e Três Lagoas.
Para os candidatos da 3ª etapa do PASSE UFMS, o resultado é aguardado para o dia 6 de fevereiro. No caso das 1ª e 2ª etapas, o resultado final deverá ser publicado no dia 10 de março de 2023.
6 n. 12 Notas
Resultado do Vestibular e PASSE UFMS devem ser divulgados em fevereiro de 2023
Esquenta Enade foi realizado pela primeira vez na Cidade Universitária
Foto: Mylena Rocha Foto: Mylena Rocha
Cerimônias de colação de grau tiveram início em dezembro
todas as famílias dos formandos. “Depois de dois anos realizando esse momento tão especial de forma virtual, a cerimônia presencial trará ainda mais todo o brilho e a importância dessa realização profissional. Estamos muito felizes e orgulhosos de nossos alunos e de nossa UFMS por concretizar esse sonho”, diz.
No total, mais de 2,5 mil estudantes conseguiram concluir os cursos de graduação em 2022. No segundo semestre, as cerimônias de colação de grau tiveram início em dezembro, com os Câmpus de Três Lagoas e do Pantanal, e a Cidade Universitária, com transmissão ao vivo pela TV UFMS.
Para o reitor Marcelo Turine, a cerimônia presencial é um marco para a Universidade e para
A vice-reitora Camila Ítavo abriu o calendário de solenidades com felicitações aos formandos do Câmpus de Três Lagoas. “Todo mestre sonha que o aluno seja melhor que a gente. Que vocês nos superem, que sejam cada dia melhores e que façam muito mais do que a gente pôde fazer”, orientou.
Nos meses de janeiro e fevereiro de 2023, será realizada a colação de grau dos estudantes dos Câmpus de Aquidauana, Chapadão do Sul, Coxim, Naviraí, Nova Andradina, Paranaíba e Ponta Porã.
Destaques da Educação e da Cultura recebem títulos Doutor Honoris Causa
Quatro personalidades da Educação e Cultura foram homenageadas com o título Doutor Honoris Causa pela UFMS. O padre e educador José Marinoni; a professora e presidente do Instituto Rondon de Educação, Marilena Dias Barreto dos Reis; a ex-senadora e educadora Marisa Joaquina Monteiro Serrano; e o presidente do Instituto Brasileiro dos Museus, Pedro Mastrobuono estiveram presentes na cerimônia no Teatro Glauce Rocha para receberem a máxima distinção concedida pelo Conselho Universitário.
O reitor Marcelo Turine celebrou a trajetória dos quatro homenageados. “São duas mulheres e dois homens que nos representam muito bem. A nossa galeria Doutor Honoris Causa agradece o aceite de vocês pela
luta pela educação, pela cultura, pelos indígenas e pela ciência”, enfatizou. A galeria de títulos honoríficos reúne os livretos com as trajetórias de todos os homenageados.
Editora UFMS publica mais de 100 livros digitais
AEditora UFMS ultrapassou a marca de 100 livros digitais publicados e disponíveis para acesso gratuito em 2022. Desde 2020, a Universidade tem investido em editais de apoio para publicações para incentivar a divulgação cientifica e o conhecimento produzido por servidores e comunidade sul-mato-grossense.
Todas as obras estão disponíveis no Repositório Institucional e são aprovadas por pareceristas e pelo Conselho Editorial, formado por representantes de todas as áreas do conhecimento.
“É um esforço conjunto para atender tanto a demanda interna quanto externa e fortalecer a presença da Editora UFMS no cenário brasileiro das editoras universitárias”, disse a diretora da Agência de Comunicação Social e Científica, Rose Mara Pinheiro.
“Ficamos muito felizes porque a ciência ocupa um lugar muito importante na sociedade. Os livros são de acesso gratuito e têm sido baixados em diferentes locais do Brasil e, também, do exterior”, comemora a secretária da Editora UFMS, Elizabete Aparecida Marques.
7 n. 12
Depois de 2 anos, UFMS volta a realizar colações de grau presenciais
Foto: Crislaine Oliveira
Foto: Crislaine Oliveira
Solenidade foi realizada no Teatro Glauce Rocha no dia 5 de dezembro
Com foco em governança, sustentabilidade e inovação, a UFMS recebeu premiações nacionais no final de 2022 em reconhecimento a cada uma dessas práticas. Os prêmios foram da Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P) de Melhores Práticas de Sustentabilidade, promovido pelo Ministério do Meio Ambiente; da Capes – Elsevier, que reconhece as 13 instituições brasileiras de Ensino e Pesquisa que se destacam pela excelência na produção científica; e da Rede Brasil de Governança, que
reconhece órgãos públicos, autarquias e fundações públicas referência e destaque no cenário de governança do país; e da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – Seção Mato Grosso do Sul com o Prêmio Frederico Valente de Saneamento, Meio Ambiente e Sustentabilidade. A UFMS foi premiada na categoria Academia, especialmente, pela realização da Semana Lixo Zero.
O reitor Marcelo Turine disse que o prêmio na categoria Crescimento da Produção Científica é o reconhecimento de um trabalho coletivo em prol da Ciência. “Queremos parabenizar os nossos pesquisadores pela produção científica e pela referência para o Brasil e para o mundo. É muito gratificante sermos reconhecidos”.
A vice-reitora Camila Ítavo celebrou a conquista da UFMS na categoria Inovação na Gestão Pública, com o Desafio UFMS Sustentável. A Universidade foi a única Instituição de Ensino premiada nesta edição pela A3P. “A sustentabilidade é um programa transversal que está no nosso DNA. É um compromisso de todos nós, professores, técnicos e estudantes e toda a Universidade, por isso temos tido reconhecimento nacional e internacional”.
Conecta UFMS integra ciência e o setor produtivo
Para o reitor Marcelo Turine, é de extrema importância a articulação entre o mercado e o poder público. “Aumentamos em 200% a quantidade de parcerias e o registro de patentes em 70% nos últimos três anos. Agradeço, especialmente, aos parceiros por acreditarem na UFMS. Não existe desenvolvimento tecnológico sem a participação de todos”, declarou.
Um dos destaques do Conecta UFMS foi a Unidade Embrapii da UFMS, a Agrotec – Bioeconomia no Agronegócio, que celebrou um ano em outubro e tem atuado com o desenvolvimento de produtos e inovação para as áreas de bioinsumos, tecnologia de alimentos e tecnologia para a sustentabilidade do agronegócio.
Aterceira edição do Conecta UFMS foi realizada na Cidade Universitária com o objetivo de proporcionar um ambiente fértil para a cooperação entre a Universidade, empresas e órgãos governamentais. O evento retornou ao formato presencial, com a promoção de palestras, rodas de conversa e paineis.
“O diferencial da nossa proposta para a Embrapii foi o apoio e envolvimento da alta administração da universidade e também de instituições externas, como Fundect e Sebrae, então nosso sonho extrapolou os limites da UFMS e tornou-se um sonho do nosso estado”, afirmou o diretor da Agência de Inovação e Internacionalização, Saulo Moreira.
8 n. 12 Notas
UFMS recebe premiações nacionais sobre sustentabilidade, governança e pesquisa
Gestores da UFMS receberam prêmio durante cerimônia em Brasília
Evento reuniu setor produtivo e pesquisadores na Cidade Universitária
Foto: JC Costa
Comitê Operativo de
da UFMS encerra atividades com quase 30 mil atendimentos
Criado em 2020, no início da pandemia de Covid-19, o Comitê Operativo de Emergência (COE) da UFMS encerrou suas atividades em dezembro, com a publicação do Relatório de Ações de Enfrentamento à Pandemia 2022 .
De acordo com os relatórios anuais de enfrentamento à pandemia, desde 2020, cerca de 28 mil ações com foco no cuidado com as pessoas foram realizadas, sendo 13.725 auxílios estudantis, 10.503 atendimentos psicológicos e sociais e 3.756 testes de Covid-19. O objetivo foi promover a prevenção e atenção em saúde entre a comunidade universitária.
O pró-reitor de Assuntos Estudantis e presidente do Comitê, Albert Schiaveto de Souza, ressalta que algumas iniciativas da Universidade, inclusive, beneficiaram não apenas servidores e estudantes, mas também a comunidade em geral, especialmente entre 2020 e 2021. Entre as atividades realizadas, destaca-se a produção de álcool gel, a participação no programa Alunos Conectados do Governo Federal, o empréstimo de equipamentos de informática aos estudantes, a oferta de internet de alta velocidade a estudantes indígenas, a testagem de Covid-19 para a comunidade universitária, e a implementação de pesquisas em Covid-19, criando melhores condições de laboratórios e expertise na área.
“O COE se tornou um diferencial na definição de estratégias e ações junto à comunidade acadêmica da UFMS, para o enfrentamento da pandemia da Covid-19, que hoje perpassam esta situação difícil pela qual passamos. O Comitê deixa um grande legado para a nossa Universidade, uma vez que evidencia como é importante trabalharmos coletivamente para enfrentarmos as situações adversas que nos são muitas vezes colocadas de forma inesperada. Além disso, mostra que podemos tomar decisões corajosas, mas fundamentadas na ciência e boa governança, para lidarmos com nossos problemas, certos de que colheremos os melhores resultados sempre”, explica o pró-reitor.
A11ª edição da Volta UFMS e a 3ª Caminhada nos Câmpus atraíram mais de 1,7 mil pessoas para a promoção da prática esportiva e o estímulo à solidariedade, por meio da doação de alimentos e brinquedos.
“Em todas as ações que a gente realiza na Universidade, promovemos a arrecadação. Assim, podemos ajudar entidades e promover, além da formação técnica, uma formação cidadã, humana e responsável”, ressaltou a vice-reitora Camila Ítavo.
“A 11ª edição do evento foi um sucesso e as mais de 800 vagas [da Cidade Universitária] foram esgotadas em menos de três horas de inscrições, isso mostra que a gente tem um bom espaço para o esporte”, destacou o pró-reitor de Extensão, Cultura e Esporte, Marcelo Fernandes.
Já tradicional, a Volta UFMS reuniu atletas experientes e iniciantes, de todas as faixas etárias,
distribuídos em cinco provas: Corrida (7 km), Caminhada (3,5 km), Caminhada – Desafio das Atléticas UFMS (3,5 km), Maratoninha (400 m) e Desafio das Autoridades (400 m). A Caminhada nos Câmpus foi constituída por uma prova única de 3,5 quilômetros.
9 n. 12
Emergência
11ª Volta UFMS e 3ª Caminhada nos Câmpus reúnem mais de 1,7 mil pessoas
Além da corrida de 7 km, a edição contou com mais 4 categorias
Foto: Crislaine Oliveira
Graduado em Administração pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Kenneth Corrêa é diretor de estratégia da agência 80 20 Marketing. Há 15 anos, desenvolve e monitora projetos de marketing e tecnologia, atendendo grandes empresas. Além de empresário, Kenneth também é professor de Master in Business Administration (MBA) na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e atua como palestrante pelas empresas Digital House e Por Exemplo. Nesta entrevista, ele avalia o metaverso na Educação.
Texto: Mylena Rocha
Fotos: arquivo pessoal do entrevistado
Atualmente, você tem estudado e feito palestras sobre metaverso. Para quem não conhece, o que é esse universo?
A definição é a seguinte: o metaverso é qual quer ambiente virtual, um espaço digital e tecnológico que cumpra três requisitos. Primeiro, ele tem que ser imersivo, ou seja, a pessoa tem que se sentir lá dentro, tem que sentir que ela está sendo representada dentro daquele espaço. [Segundo], tem que ser um espaço coletivo ou social, tem que interagir com outras pessoas. Não é uma atividade que você faz sozi nho, é preciso viver e estar nesses ambientes. Terceiro, tem que ser persistente, ou seja, esse ambiente existe independente de você ou do seu dispositivo. Significa que você pode acessar o metaverso, mas, na verdade, esse universo existe por si só, mesmo você acessando ou não por diferentes dispositivos.
Dentro do metaverso, as pesso as vivem experiências, elas realizam e executam ações usando e sendo re
10 n. 12 Entrevista
O metaverso surgiu a partir do universo dos games, mas a sua utilização será ampliada para diversos usos: das compras à educação
presentadas por um avatar, que é a representação gráfica imersiva virtual da pessoa lá dentro. [Em suma], é isso que a gente chama de metaverso: ambientes digitais que são imersivos, coletivos e persistentes, onde as pessoas vivem experiências usando avatares.
Como metaverso pode ou poderá ser inserido no dia a dia das pessoas?
Eu defendo que ele já está inserido no dia a dia de algumas pessoas. Tem pessoas que já gastam mais tempo, dão mais atenção e mais valor para a sua vida digital do que para a presencial. Claro que nem todas estão vivendo necessariamente em um ambiente imersivo, mas eu já tenho convivido com pessoas que estudam e dão aulas de inglês no metaverso, pessoas que trabalham como designers de objetos em 3D dentro do espaço do metaverso, que conhecem outras pessoas, utilizam salas de bate-papo para realmente se encontrar e se conectar com outras pessoas. Tem uma parte do público que já está utilizando o metaverso no seu dia a dia. Agora, ao mesmo tempo, sei que a grande maioria das pessoas ainda não adotou. Eu acredito que ele vai ser inserido conforme for se tornando mais interessante, divertido, barato, útil e acessível. Creio que será da mesma forma como antes a gente não usava o WhatsApp, não usava redes sociais. Isso foi ficando importante, interessante e a gente foi adotando. Hoje em dia, não dá nem para imaginar como era viver sem isso. Então, eu acredito que [a adoção do metaverso] vai ser gradual.
Quando falamos em uma realidade paralela e a possibilidade de imersão em um mundo virtual, é comum remetermos ao mundo dos games. Como o metaverso pode ser utilizado por instituições de ensino e empresas?
Com certeza absoluta, o metaverso foi desenvolvido em cima de tecnologias que foram criadas pelo mundo dos games. Essa inspiração e muitas das tecnologias que foram feitas, sem dúvida nenhuma vêm daí e não tem problema, é interessante conhecer.
Sobre o uso do metaverso, acho que para instituições de ensino é mais rápida e prática a resposta. Você vai criar ambientes de aprendizagem e trazer os alunos ali para dentro. Vai fazer objetos em 3D, para que eles possam manipular, para que possam colaborar, trabalhando juntos na construção e na compreensão. É possível fazer simulações de um laboratório, alguma coisa de Geologia, ou criação de objetos na aula de Design Industrial, na Arquitetura e Engenharia, então você pode aproveitar esses ambientes mais imersos e praticamente sem limites, do ponto de vista físico, para fazer essa criação. Do ponto de vista de empresas, é muito amplo porque temos empresas de todos os tipos. Eu tenho acompanhado empresas dos mais diversos segmentos que estão explorando e usando o metaverso.
O que o metaverso representa para a economia, educação e ciência? Pensando no contexto de Mato Grosso do Sul, trata-se de uma estratégia em desenvolvimento ou uma realidade ainda distante?
É uma nova plataforma, um ambiente virtual 3D, onde a gente vai ficar mais imerso, vai encontrar
11 n. 12
Envato elements
Foto:
com avatares as outras pessoas, ou seja, vamos nos reunir com a versão digital das pessoas. Sem dúvida nenhuma, a educação é o primeiro [setor] que pode se aproveitar desse mundo. A ciência, de maneira mais ampla, pode fazer pesquisas também nesse novo ambiente, então usar ele como premissa, como campo de atuação. Sobre a economia, acho que os consumidores vão se acostumando, se adaptando, para que eles possam cada vez mais avançar e ter um novo espaço para as pessoas fazerem compras, contratarem produtos e serviços. Sobre o contexto de Mato Grosso do Sul, acredito que sejam as duas coisas. [O metaverso] ainda é uma realidade distante para a maioria das pessoas e ainda é algo que está em desenvolvimento. Mato Grosso do Sul não tem necessariamente um pólo, nada que o coloque à frente de outros estados, mas pode fazer isso. Se entender que esse novo ambiente vai ser pervasivo, vai estar mais
presente no dia a dia das pessoas, pode aproveitar esse gancho para criar iniciativas. Os profissionais que a gente tem atuando mais diretamente com o metaverso hoje são os artistas digitais. São pessoas que trabalham com a parte de comunicação 3D, que montam e desenvolvem objetos em 3D que podem ser inseridos e usados dentro do metaverso.
Muitas pessoas ainda têm dificuldade de compreender o que é o Metaverso e quais seus possíveis impactos. Na sua opinião, a que se deve essa confusão?
Acredito que é, principalmente, porque não teve uma comunicação alinhada. Quando você conversa com as pessoas sobre o metaverso, ninguém tem uma definição tão clara como a que eu coloquei aqui. Eu estou trabalhando e atuando diretamente com isso, mas muitas pessoas não gostam muito de estudar para entender mais a fundo, então elas ficam sempre
Entrevista
Eu acredito que ele vai ser inserido [no dia a dia] conforme for se tornando mais interessante, divertido, barato, útil e acessível
Com a popularização do metaverso, os usuários vão poder interagir uns com as outros e realizar diversas atividades a partir de avatares
Foto: Envato elements
com aquela primeira impressão que elas tiveram da primeira vez que elas escutaram [o termo]. O segundo ponto é que eu acho que a gente tem também um bloqueio natural em deixar tão claro que a nossa vida está inserida no ambiente tecnológico.
As pessoas gostam de uma visão mais bucólica, da vida mais simples, das épocas do passado, onde tudo era mais tranquilo. Você falar que vamos viver digitalmente significa uma ruptura muito grande na cabeça das pessoas, [em comparação a] como a gente vive hoje. Em geral, quando tem uma ruptura muito grande, um ponto de quebra, acaba tendo uma rejeição - o que é super normal para toda nova tecnologia.
Quais os desafios para a expansão do metaverso?
Sem dúvida nenhuma, o barateamento. Ficar mais baratos os dispositivos, os óculos de realidade virtual, para que seja mais acessível para mais pessoas. Além disso, ficar mais leve, mais fácil de carregar, menor em termos de tamanho, para que seja mais fácil para as pessoas, assim como a gente leva o celular de um lado para o outro. Ao mesmo tempo, tem uma barreira que é natural, a acomodação, a adaptação das pessoas para uma novidade. Não é todo mundo que já vem pronto para adotar uma tecnologia nova, para abraçar e já sair utilizando. E, por último, uma coisa mais fisiológica, médica, que é a questão que muita gente sofre com enjoo ao usar os óculos de realidade virtual. Então, [falta] as empresas que desenvolvem a tecnologia melhorarem essa sensação de enjoo que a tecnologia traz. Eu acho que o último desafio, não acho que seja uma barreira, é questão de investimento. Atrair investidores, que o metaverso já trouxe até agora, mas precisa continuar conquistando para que você possa ter uma evolução e um crescimento.
Você considera que o metaverso oferece riscos relacionados à segurança ou à maneira como as pessoas se relacionam e se comunicam? Se sim, como podemos contorná-los?
Eu acho que os principais riscos relacionados ao metaverso são ligados à anonimidade. A pessoa pode entrar ali sem um avatar e não ser identificada e, de repente, fazer ações ilegais ou até de assédio, de alguma forma, e não ser rastreado, por mais que no metaverso esse rastreio seja um pouco mais fácil.
Outro risco é o de fraude, de se passar por outra pessoa, tentar aplicar golpes ou coisas parecidas. Para contornar, eu acho que a primeira coisa é estarmos cientes, saber que o ambiente digital oferece esse tipo de risco e, ao mesmo tempo, responsabilizar. Atribuir responsabilidade, seja à empresa que desenvolveu o software ou a que desenvolveu o hardware ou a pessoa que é o usuário lá dentro, dependendo de quem foi a culpa. É preciso criar um ambiente de responsabilização para que essas empresas fiquem em alerta, cuidando e se preocupando com isso.
Você foi estudante do curso de Administração na UFMS. O que o levou a ingressar na área e como o curso contribuiu para a sua formação pessoal e profissional?
Eu trabalhei desde jovem. Eu comecei com 13 ou 14 anos, se não me engano, dentro de um escritório. Foi ali dentro que, por alguma razão, eu me senti meio que em casa. Sabe aquele ambiente onde as pessoas têm um objetivo a alcançar? Onde você tem uma busca constante, onde você tem espaço para novas ideias, para inovações? Então, eu acho que foi o que me atraiu lá no começo e acabei escolhendo
13 n. 12
Kenneth acredita que a adoção ao metaverso será gradual nas empresas
Administração, porque entendi que [o curso] personificava muito dessa vida mais corporativa. Eu acho que esse era o ponto de atração para mim.
Na formação pessoal, eu tenho vários aspectos [da Administração] na minha organização financeira, da forma como eu defino meus objetivos para o ano, para o período, para a década. Acho que foi super importante esse framework que a gente aprende na Administração de se planejar, de ter uma lógica, de atingir um objetivo e de ter um indicador para monitorar o resultado.
Na minha vida profissional, isso significou tudo. Eu basicamente sou um administrador. A minha empresa, como agência de marketing, é uma agência que não é de publicitários, é de administradores. A gente ajuda as empresas a atingirem os objetivos de negócio delas, trazendo o know how, informação e conhecimento do que outras empresas case de sucesso e benchmark estão fazen-
do, traduzindo estratégias globais para experiências locais e regionais, para as empresas que a gente atua. Então, para mim, eu trabalho e atuo totalmente, absolutamente, dentro da minha área [de formação].
Da minha época de estudante, tenho um monte de lembrança maneira, de amigos e contatos que eu tenho até hoje. Lembro de ter tido contato com literaturas, com ideias e pensamentos muito importantes naquele primeiro momento. Uma iniciativa que para mim foi incrível, foi ter participado da empresa júnior, pelo fato de eu ter podido construir e desenvolver projetos ainda enquanto estudante, de colocar em prática muitas daquelas teorias que eu estava aprendendo.
Qual a sua trajetória profissional após a graduação? Eu me graduei em 2004. No final de 2005, mais ou menos um ano depois [de formado], eu
Horizon Worlds é o universo de realidade virtual da empresa Meta, onde usuários podem jogar, conversar ou criar ambientes personalizados
Entrevista
[Sobre o uso do metaverso na educação], você vai criar ambientes de aprendizagem e trazer os alunos ali para dentro. Vai fazer objetos em 3D para que eles possam manipular, para que possam colaborar, trabalhando juntos na construção e na compreensão
Foto: Reprodução/Meta
comecei a dar aula de Administração para outros cursos de graduação. Ou seja, eu estava ensinando as pessoas a pensarem como administradores, a pensarem em objetivos, metas e métricas. Para mim, a vida acadêmica não foi tanto de pesquisa, mas de ensino. [Lecionar] sempre foi algo que me liguei muito, já de imediato. Imagine, eu me formei e já estava dando aula.
Eu fiz uma pós-graduação, também entre os anos de 2005 e 2006, na Fundação Getúlio Vargas. Acabou sendo importante para mim no currículo e, depois, eu acabei evoluindo para dar aula na própria FGV. Ter me tornado professor foi uma continuidade natural, que eu gostei bastante.
Profissionalmente, [atuo com] empreendedorismo, principalmente. Eu cheguei a trabalhar em uma imobiliária e na Energisa, que na época se chamava Enersul, mas depois que eu abri meu primeiro negócio de desenvolvimento de sites, esse bichinho [do empreendedorismo] me mordeu. Eu acabei me dedicando para isso, com algumas variações de tipo de serviços que eu prestei: primeiro eu fui para site, depois pulei para o marketing digital, em seguida para soluções de tecnologia e marketing, de maneira mais ampla. O empreendedorismo, como prestador de serviço, foi a minha principal carreira, o meu principal caminho.
O que o levou de administrador para entusiasta da tecnologia? Como e quando o metaverso entrou na sua vida?
Acho que tenho duas respostas. Eu posso dizer que em 1996, na Inglaterra, eu experimentei pela primeira vez o ambiente de realidade virtual, usando um óculos e participando de um jogo com outras pessoas. Eu posso dizer que dez anos depois, em 2006, eu criei o meu perfil no Second Life, que foi um dos metaversos mais populares que surgiram na década retrasada. E, ainda, mais recentemente, em julho de 2021, quando a Meta deixou mais claro quais eram os planos dela. Meta, a empresa que antes chamava-se Facebook, acabou mudando de nome e disse que investiria pesado no metaverso. Ela trouxe esse termo para o mercado pela primeira vez, para a maioria das pessoas.
Ali, para mim foi importante, porque ter um player desse tamanho, uma empresa de quase um trilhão de dólares investindo em um novo segmento, do qual eu tinha conhecimento, sempre pesquisei e usei as interações de realidade virtual. Ao mesmo tempo, entendo que é uma evolução do cenário que eu estou inserido hoje, um cenário de marketing, de tecnologia, das pessoas usarem redes sociais. Pra mim, fez todo sentido entrar de cabeça [no assunto]. Acho que de maneira intensa, de julho de 2021 pra cá, estou bem dedicado a estudar o metaverso.
15 n. 12
Egresso da UFMS, Kenneth retornou como palestrante da abertura do Integra UFMS 2022 para explicar o que é, de fato, o metaverso
Foto:
Crislaine Oliveira
Integra UFMS 2022 reúne milhares de estudantes da graduação, pós e alunos do Ensino Médio
Festa da Ciência foi realizada de forma presencial com mais de mil trabalhos em todas as áreas do conhecimento
Texto: Vanessa Amin Fotos: Crislaine Oliveira e JC Costa
Omaior evento de ciência, tecnologia, inovação e empreendedorismo do Mato Grosso do Sul, o Integra UFMS 2022 reuniu milhares de estudantes de graduação e pós-graduação da Cidade Universitária e dos câmpus que apresentaram 1.155 trabalhos durante a semana de 24 a 28 de outubro, no ginásio Moreninho, em Campo Grande. “O Integra UFMS é uma festa da ciência. Agradeço a todos que vieram apresentar e também os que prestigiaram o evento”, destacou o reitor Marcelo Turine. “Assim como nas edições anteriores, trabalhamos muito. O diferencial do nosso evento é o amor que cada um de nós têm pela Universidade”, enfatizou a vice-reitora Camila Ítavo.
Para receber os milhares de expositores e visitantes, foi montada uma mega estrutura. Foram organizados mais de cem estandes para a apresentação dos trabalhos, divididos em sessões técnicas. Os estandes de apresentação foram ordenados em ruas, que levaram o nome de grandes cientistas, como Hannah Arendt e Albert Einstein.
Na avaliação do pró-reitor de Extensão, Cultura e Esporte (Proece), Marcelo Fernandes, a participação expressiva da comunidade universitária foi a prova do sucesso do Integra UFMS 2022. “São muitos trabalhos. Nossa Universidade é maravilhosa! Durante a semana, presenciamos momentos que comprovam o crescimento da UFMS”. Após dois anos
17 n. 12
de realização em formato remoto, a edição de 2022 marcou o retorno às atividades presenciais. “O Integra UFMS é sempre momento de muita festa. Além das apresentações, organizamos palestras e minicursos. Tudo foi feito com muito carinho. Foram dias intensos, nos quais não deixamos nada passar em branco”, comemorou a coordenadora, Liana Duenha Dessandre Garanhani.
O diretor-presidente da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect-MS), Márcio Araújo Pereira, e o diretor científico, Nalvo Franco de Almeida Junior, destacaram a importância do evento e a parceria da Fundect-MS. “O Integra começou em 2017 e se tornou o evento mais importante do Estado. A Fundação é e continuará sendo uma grande parceira”, disse Nalvo. “Quantas soluções científicas não saíram daqui? Quanta inovação ainda pode ser feita? Para isso, queremos investir ainda mais na inovação e na tecnologia. O nosso papel é esse: fomentar e ajudar”, falou Márcio.
O coordenador de Políticas para o Ensino Médio e Educação Profissional e representante da Secretaria de Estado de Educação, Franklin Garcia Magalhães, exaltou o interesse no conhecimento ge-
Estudantes utilizaram banners para apresentação de trabalho
rado pela Universidade. “A formação não se encerra na Educação Básica. O desenvolvimento promovido pelas Universidades é fundamental para a humanidade. Prestigiamos o evento com muita alegria”. Para a subsecretária de Políticas para a Mulher e representante da Prefeitura de Campo Grande, Carla Stephanini, o momento que a Universidade vive é fundamental para o desenvolvimento da Capital e
18 n. 12
Especial Integra UFMS
Grupo Sampri encerrou as atividades do Integra UFMS 2022 com show de samba no Ginásio Moreninho, transmitido pela TV UFMS
12ª Fetec MS reúne 600 estudantes da Educação Básica
Os finalistas foram definidos por um grupo de 300 avaliadores. “Do total de avaliadores, metade foi formada por professores e estudantes da UFMS. Também tivemos 30 de outros estados”, comenta uma das integrantes da equipe de organização da Feira Larissa Machado. Ela faz parte do Grupo Arandú.
Além da exposição, foram realizadas outras atividades no Complexo Multiuso da Cidade Universitária: palestras sobre o acidente radiológico de Goiânia, educação ambiental na educação infantil, nanotecnologia, telescópio James Webb, mundo maker na ciência e inovação tecnológica, movimento de feiras de ciências e dicas de construção e avaliação de um projeto, e workshop sobre Arduíno.
Como parte da programação do Integra UFMS 2022, a 12ª edição da Feira de Tecnologias, Engenharias e Ciências de Mato Grosso do Sul – Fetec MS, é uma ação de extensão coordenada pelo Grupo Arandú de Tecnologias e Ensino de Ciências e pelo professor do Instituto de Química Ivo Leite Filho. Conta com o apoio financeiro do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, CNPq, Fundect-MS e UFMS. De acordo com o professor Ivo Leite, a Feira visa aproximar diretamente estudantes e professores da educação básica e técnica, dos municípios situados, principalmente no estado de Mato Grosso do Sul, da comunidade acadêmica, por meio de atividades científicas direcionadas à pesquisa.
O evento reuniu quase 600 alunos de escolas públicas e particulares de todo MS. Foram apresentados e avaliados 170 trabalhos subdivididos nas mostras: Fetec MS Júnior, Fetec Maker, Fetec Fundect e Fetec MS. Os temas foram os mais variados e contemplaram projetos desenvolvidos nas áreas de Ciências Agrárias, Ciências Biológicas, Ciências da Saúde, Ciências Exatas e da Terra, Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas, Engenharias, Linguística, Letras e Artes.
“A Fetec MS tem 12 anos de história e durante todo esse tempo tem auxiliado no desenvolvimento científico e tecnológico promovendo atividades de divulgação científica e também de integração do ensino básico com pesquisadores da UFMS”, ressalta a acadêmica do curso de Ciências Biológicas e integrante do grupo Arandú Thailenny Dantas. “O evento tem auxiliado, especialmente, alunos do ensino básico público a terem experiências científicas que não seriam possíveis, já que nem sempre as escolas têm estrutura para isso. Também foi uma oportunidade para os alunos apresentarem seus estudos para pesquisadores renomados e ter reconhecimento, muito difícil de ocorrer fora das feiras científicas”, destacou.
Thailenny contou que conheceu a Fetec MS quando ainda era aluna no ensino básico. Ali começou meu amor pela Fetec MS, pois tive muitas oportunidades e experiências proporcionadas pela minha participação. Sempre estudei em escola pública e fui finalista durante os três anos do Ensino Médio. Em 2020, ingressei na UFMS e então decidi atuar na organização da Feira e mostrar um pouco desse carinho. Em 2021, também participei. E, neste ano, também me envolvi na organização. Fiquei extremamente animada e feliz”, lembrou a estudante.
19 n. 12
Em dois dias, alunos da Fetec-MS apresentaram 170 trabalhos
do Estado. “A UFMS nos apresenta inovação, tecnologia e empreendedorismo. É tudo que precisamos para o nosso desenvolvimento e para as oportunidades que queremos oferecer às pessoas. Temos a UFMS como uma das nossas grandes parceiras”. No encerramento do Integra UFMS 2022, o público prestigiou o show especial do Grupo Sampri, formado pelas irmãs Magally, Luciana e Renata em 2002.
Premiações
Os trabalhos técnicos, científicos, artísticos e culturais foram avaliados e premiados pelas pró-reitorias de Graduação (Prograd), Pesquisa e Pós-graduação (Propp), pela Proece, pela Agência de Inovação e Internacionalização (Aginova) e, também, de acordo com as áreas do conhecimento. Essa edição deste ano teve, ainda, um bônus: o prêmio Melhor Avaliador.
“Na Prograd, tivemos 185 trabalhos aprovados. Sempre digo aos nossos professores e coordenadores que as ações de ensino criam, em nossos estudantes, o sentimento de pertencimento e engajamento, além de proporcionar o crescimento pes -
com pesquisa orientada pela professora Damaris Pereira soal e técnico no curso que escolheram. O Integra UFMS 2022 foi ótimo! Parabéns a todos!”, destacou o pró-reitor Cristiano Costa Argemon Vieira. A Prograd escolheu como melhor trabalho: Monitoria de fundamentos de enfermagem I das estudantes Isabel Venâncio Alves, Mariana Kirckov de Souza e Brunna da Silva Pessoa de Oliveira, com orientação das professoras Ana Patrícia Araújo Torquato Lopes e Soraia Geraldo Rozza.
e
A Propp foi a que mais aprovou trabalhos para apresentação no Integra UFMS 2022: 675. “É uma honra participar de um evento tão grande como esse. Entre nossos programas, destaco o de Iniciação Científica que é estratégico para trazermos jovens talentos, atraí-los para a cultura científica, para o desenvolvimento da metodologia científica. Também tivemos uma excelente participação de estudantes da pós-graduação. Gostaria de agradecer, especialmente, à nossa equipe da Secretaria de Iniciação Científica e Tecnológica que trabalhou incansavelmente, tornando esse evento muito especial pra todos nós”, destacou o diretor de Pesquisa Luiz Eduardo Roland Tavares. A Propp escolheu como melhor trabalho Efeitos da associação entre treinamento intervalado
20 n. 12
Estudante Rogério Dalbem foi premiado na área de Linguística, Letras
Artes
Integra UFMS
Especial
Alunos do Ensino Médio realizam cobertura jornalística do Integra UFMS
Vinte e cinco alunos e sete tutores de escolas públicas e privadas de Campo Grande fizeram a cobertura das atividades do Integra UFMS 2022. Eles participam do projeto de extensão Repórter Júnior, que tem como objetivo despertar o interesse pela notícia e conhecimento e aproximá-los da Universidade, por meio da interação com estudantes do curso de Jornalismo. Os repórteres júniores produziram reportagens para o canal da TV UFMS no Youtube, matérias para a página oficial do Integra UFMS, Rádio Educativa, e postagens em mídias sociais.
O Repórter Júnior é um projeto de extensão do curso de Jornalismo, coordenado pela professora e diretora da Agência de Comunicação Social e Científica, Rose Mara Pinheiro, contando com o apoio da Empresa Júnior Brava, do curso de Jornalismo, da Faculdade de Artes, Letras e Comunicação. Para a professora Rose, a quinta edição consecutiva do Repórter Júnior foi emocionante. “Ter de volta o contato pessoal com os participantes e estar presencialmente na Universidade é indescritível. É uma experiência marcante”, disse.
“A experiência foi incrível. Consegui ter contato com a comunidade externa e passar conhecimentos obtidos durante a graduação e também aprendi muitas coisas pela visão de alunos e professores. Conseguimos reunir estudantes engajados, o que influenciou na minha motivação enquanto monitora”, comentou a aluna e bolsista do projeto do quarto semestre do curso de Jornalismo Geane Beserra Pereira.
Para o aluno do primeiro ano do Ensino Médio na Escola Lourival Martins Fagundes (Funlec) Davi dos Santos Nunes foi uma experiência única. “Até pela questão de adentrar a Universidade pela primeira vez e sentir um pouco da rotina profissional de ser um repórter. Aprendi também como é todo o trabalho de criar uma reportagem, como fazer uma lauda, texto em off, passagem. Geralmente nós achamos que o repórter simplesmente liga a câmera e fala, porém há muitos outros processos para chegar àquela reportagem”, relatou.
“Além disso, vale ressaltar o protagonismo nas reportagens que nós tivemos, a responsa-
bilidade de escolher um trabalho sobre o qual a gente gostaria de falar e como falar, achando uma forma de resumir sem deixar escapar detalhes importantes, para assim trazer a informação às pessoas. Algo bastante frisado no projeto: a educomunicação como pilar principal. Portanto, recomendo a qualquer aluno do Ensino Fundamental ou Médio a participar do Repórter Júnior independente de que faculdade queira cursar, porque é uma experiência única e pode ser que a pessoa crie tanto apreço ao jornalismo que decida fazer esse curso - como eu mesmo criei”, contou Davi.
Toda a produção feita pelos alunos está disponível no canal da TV UFMS, no portal www. integra.ufms.br, na Rádio Educativa UFMS 99.9 e no perfil do Instagram.
21 n. 12
Projeto desperta em alunos interesse pela divulgação científica
Foto: Angela Prado
de alta intensidade (HIIT) e creatina no perfil nutricional e composição corporal de ratos de autoria dos estudantes de pós-graduação da Faculdade de Medicina (Famed) Richard Nicolas Marques, Giu-
liano Moreto Onaka, Marianna Rabelo de Carvalho e Maria Lua Marques de Mendonça; do estudante de Fisioterapia Alex Yuti Ogura; da médica veterinária e servidora do Biotério Central Maria Paula Ferreira
Na área das Engenharias, melhor trabalho trata do uso de microalgas como biofertilizante
Uso de digestato anaeróbio de microalgas como biofertilizante na agricultura é o título do trabalho avaliado como o melhor na área das Engenharias. A apresentação foi feita pelo estudante e bolsista do Pibic, Erlon Marquez Galindo.
“Há uma grande quantidade de espécies de microalgas, com aplicabilidade em diversas áreas. Em nossa pesquisa, realizamos análises preliminares para determinação da atividade metalogênica específica do lodo anaeróbio granular e triturado”, relatou Erlon. “Primeiramente fizemos a ativação do lodo anaeróbio, seguida do cultivo de microalgas, testes de produção de metano em triplicata e, finalmente, dois testes de produção de biogás. Definimos como AME 1, o lodo triturado ou granular, e o AME 2, como lodo anaeróbio em diferentes cenários”, explicou. Segundo Erlon, a partir do AME 1 foi concluído que não há vanta-
gem significativa ao preferir o lodo triturado ou granular e a produção de metano não é primariamente hidrogenotrófica. “Com o AME 2, concluímos que o pré-tratamento dessa comunidade de microalgas não gera melhora na produção de metano com tempo e temperatura testados. Também verificamos que a codigestão é a melhor forma para produção de metano”, finalizou.
As pesquisas contam ainda com a participação do estudante de pós-graduação Gabriel Magalhães Chiquito e orientação da professora Paula Loureiro Paulo. Acesse o QR Code e confira a reportagem divulgada na edição nº 11 da Revista Candil.
Uso de microalgas como biofertilizante é o título do trabalho avaliado como o melhor das Engenharias
22 n. 12
Especial Integra UFMS Foto: Acervo pesquisadores
Apresentado pela estudante do Instituto de Química Maria Vitória de Souza Matos, o trabalho Estudo químico e avaliação dos potenciais antioxidante e antitumoral de uma amostra de própolis foi escolhido como o melhor na área de Ciências Exatas e da Terra. A estudante foi orientada pela professora Fernanda Rodrigues Garcez.
Os estudos foram feitos a partir de amostras de própolis produzidas por abelhas sem ferrão. “Foi feito isolamento, purificação e determinação estrutural dos constituintes majoritários, particularmente com potencial antioxidante e antitumoral”, contou a estudante. Foram obtidos: um alquenilresorcinol e cinco triterpenos, sendo o primeiro relato em própolis de betulina, e primei-
Fialho Frazilio; com orientação dos professores do Instituto Integrado de Saúde Paula Felippe Martinez e Silvio Assis de Oliveira Júnior.
A Proece aprovou 290 trabalhos e elegeu o Projeto Sabores: oficinas de aproveitamento alimentar com
ro relato em própolis brasileira do alquenilresorcinol e ácido 27-hidroximangiferólico. “Estamos avaliando as substâncias obtidas e os resultados, até o momento, são promissores. Devemos dar continuidade ao trabalho, tendo em vista a escassez de estudos”, comentou.
As pesquisas contam ainda com a participação de professores e estudantes de outras unidades da UFMS. Acesse o QR Code e confira a reportagem divulgada na edição nº 11 da Revista Candil.
frutos nativos do cerrado e Pantanal como a melhor apresentação. A autoria é dos estudantes do Instituto de Biociências (Inbio) e da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Alimentos e Nutrição José Elias Rodrigues e Liete Layza Jochins Uemura, respectivamente;
23 n. 12
Estudo sobre potencial antioxidante e antitumoral da própolis é premiado na área de Ciências Exatas e da Terra
O grupo isolou, purificou e determinou os constituintes majoritários nas amostras de própolis e os resultados são promissores
Foto: PRONABio
da mestranda da Famed Haideline Mertens Kuff com orientação das professoras do Inbio Rosani do Carmo de Oliveira Arruda e da Facfan Ieda Maria Bortolotto.
Já a Aginova aprovou 20 trabalhos para apresentação durante o evento e o melhor foi Evento: o fomento da juventude no ecossistema de Mato Grosso do Sul de autoria dos estudantes da Escola de Administração e Negócios Elena Machado, Inálida de Oliveira Viédes, Leticia Silva dos Santos, Luana Beatriz Vieira de Souza, Raul Palisari, Hena Iara Fenner de Castro, Geovanna Leticia Rebello de Carvalho, com orientação do professor Filipe Quevedo. “Nós estávamos planejando esse projeto há um bom tempo, então foi algo desafiador, eu diria, já que além de participar no Integra também realizamos o evento no dia 11 de novembro, no anfiteatro do Complexo Multiuso 1. Não vou mentir que estava um pouco nervosa, mas foi gratificante ver vários projetos sendo apresentados e a premiação também nos surpreendeu”, contou Elena.
“Os trabalhos aprovados contemplaram as ações do Programa UFMS Júnior, das nossas startups da Pantanal Incubadora Mista de Empresa, do Núcleo de Inovação Tecnológica e por estudantes que participaram de programas de mobilidade acadêmica internacional. Foi muito legal ver que o Integra UFMS proporcionou a divulgação desses trabalhos para o público externo e interno. Destaco, especialmente, os projetos desenvolvidos pelas empresas juniores dentro do Desafio UFMS Sustentável, atendendo de-
mandas e desafios da Instituição”, comentou o diretor da Aginova Saulo Gomes Moreira. “O evento é uma excelente forma de ampliar o alcance das produções da nossa comunidade acadêmica”, acrescentou.
Como avaliador destaque foi escolhido o mestrando da Famed Sanderson da Silva Coelho. Ele avaliou 51 trabalhos. “Foi uma colaboração imensa. Tivemos um grande número de avaliadores neste ano. Alguns deles se destacaram. O processo foi intenso”, pontuou a coordenadora do Integra UFMS 2022. “Estou muito feliz por ter participado de um evento tão lindo e maravilhoso. Vários projetos, trabalhos e produções textuais foram produzidas com o objetivo de desenvolver a ciência e integrar estudantes de diversas áreas do conhecimento”, relatou Sanderson. “Sinto-me lisonjeado por ter participado pela primeira vez e, ainda, como avaliador por ter o privilégio de analisar e avaliar cada trabalho desenvolvido. Isso sim é gratificante. Quero agradecer o programa de pós-graduação de Doenças e Infecciosas e Parasitárias e, principalmente, o Integra UFMS 2022 pelo reconhecimento e premiação como avaliador destaque. Fiquei muito feliz e não esperava receber esse reconhecimento”, contou. “Estou aqui representando não só os avaliadores e os estudantes da pós-graduação da UFMS, mas meu estado do Pará, minha querida Belém. Muito obrigado por esse presente e pela experiência. E que possamos estar juntos novamente em 2023 e fazer mais um evento tão lindo”, contou.
24 n. 12
Especial Integra UFMS
Para receber certificado de participação do Integra UFMS 2022, estudantes puderam fazer check-in on-line por meio de um QR code
Patentes são concedidas a cola cirúrgica e gel cicatrizante
Considerado um dos indicadores de inovação, o depósito e registro de patentes é fundamental para proteção de novos produtos. No Brasil, as universidades públicas vêm desempenhando papel de protagonismo junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), órgão vinculado ao Ministério da Economia, responsável pela análise e concessão de patentes.
Entre as cartas patentes, concedidas recentemente aos pesquisadores da UFMS, estão duas invenções: uma cola cirúrgica mais acessível para utilização em atendimentos, especialmente os de emergência, e um gel obtido a partir de óleo ozonizado para auxiliar no processo de cicatrização de feridas. Os produtos inovadores foram obtidos a partir de estudos coordenados por professores do Laboratório de Síntese e Transformações de Moléculas Orgânicas, do Instituto de Química, Denis Pires de Lima e Adilson Beatriz, contando com a participação de outros pesquisadores do Inqui e unidades da UFMS, além de estudantes de graduação e pós-graduação.
“Em 2012, o nosso grupo de pesquisa foi procurado por uma empresa de Campo Grande, para desenvolver um adesivo tópico de baixo custo, à base de cianoacrilato. O intuito era disponibilizar essa cola cirúrgica por meio de kits em atendimentos de emergências. Como por exemplo, em postos de saúde e Corpo de Bombeiros, para pessoas que necessitem de cirurgias reparadoras de urgência. Vale ressaltar que a população menos favorecida não tem acesso a esse adesivo cirúrgico devido ao seu custo elevado”, lembrou Denis.
Sobre o processo, o pesquisador explicou que monômeros de cianoacrilatos são ésteres do ácido α-cianoacrílico utilizados comercialmente tanto para pequenos reparos domésticos, como na área médica para cirurgias reparadoras. “Um exemplo de produto comercial feito à base de monômeros de cianoacrila-
tos é a cola instantânea. Ela é basicamente um acrilato de metila, usado em diversos consertos ou atividades domésticas do tipo ‘faça você mesmo’. De modo similar, as colas cirúrgicas também são feitas a base do éster do ácido α-cianoacrílico, porém suas cadeias carbônicas laterais são maiores que a do acrilato de metila, elas são acrilatos de n-butila e n-octila. Para a área médica a cadeia carbônica maior é a ideal, por não apresentar toxidez”.
O produto foi desenvolvido através de reações enzimáticas, o que trouxe barateamento ao processo como um todo, por conseguinte uma cola cirúrgica mais acessível. “Outro diferencial foi a inserção de odor e cor no adesivo produzido. Esse foi um pedido feito pela empresa”.
De acordo com o pesquisador, havia relatos de que a cola cirúrgica comumente utilizada apresenta um odor ocre desagradável ao paciente, causando muito desconforto, principalmente, em cirurgias na face. “O outro problema era sua transparência. Quando precisava fechar um corte onde havia a presença do sangue, a cola se misturava ao mesmo, tor-
Cola criada pelos pesquisadores pode substituir sutura feita com pontos
Universidade já obteve a concessão de outras nove patentes e 95 pedidos estão sendo analisados pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial
Patente
Texto: Vanessa Amin Foto: acervo pesquisadores
Foto: Imagem ilustrativa
nando difícil acompanhar a aplicação. Nosso produto final possui um odor de cinamaldeído (canela) e apresenta uma coloração azul intensa, o que facilita a aplicação e acompanhamento do local exato que precisa ser fechado, sem desperdício”, contou.
Gel “Em 2011, fui procurado pela farmacêutica Nathália Rodrigues de Almeida para orientá-la no seu mestrado em Química, na UFMS. Seu objeto de estudo eram óleos ozonizados. Desde a graduação, a estudante vinha pesquisando a utilização desse produto para a cicatrização de feridas. Aceitei o desafio e submetemos um projeto para a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul e conseguimos recursos para compra de reagentes, contou o professor Adilson.
Ainda segundo o professor, foram cerca de dois anos de estudos. “Na patente é descrito um processo para a obtenção de um organogel de óleo ozonizado, a partir da reação de ozonólise de óleos vegetais (girassol, linhaça, baru e outros óleos vegetais com cadeias graxas insaturadas) e água. O produto obtido pode ser aplicado diretamente na pele ou nas lesões, não necessitando ser incorporado em um veículo ou base para formulações farmacêuticas”, explicou.
Sobre a vantagem, Adilson destaca o baixo custo, fácil aplicação, além da propriedade antimicrobiana. “Através do procedimento simples e de baixo custo proposto nessa patente, são obtidos produtos de fácil aplicação na pele e em lesões, com excelente propriedade antimicrobiana e de regeneração e reparo do tecido. Devido a sua forma farmacêutica ter característica semi-sólida (oleogel), possuir alta viscosidade, adesividade, termofusão à temperatura da pele e ser translúcida, esse produto leva vantagem em relação aos demais”, comentou.
“Cerca de 3% da população brasileira é portadora de feridas crônicas; entre os pacientes portadores de diabetes essa porcentagem alcança até 10% e cerca de mais de quatro milhões de pessoas têm alguma complicação no processo de cicatrização das feridas.
Pensando nesses fatores, é importante que sejam desenvolvidos produtos com propriedade antimicrobianas, cicatrizantes e analgésicas que podem ser aplicados diretamente na pele, com um preço mais acessível quando comparados aos que estão disponíveis no mercado”, destacou o pesquisador do Inqui.
A pesquisa foi premiada em congressos e figurou entre os finalistas nacionais do Prêmio Santander, na categoria de Empreendedorismo –Biotecnologia e Saúde.
Ele lembra que o apoio da Agencia de Inovacao e Internacionalizacao da UFMS (Aginova) foi fundamental na proposição da patente. “Além da publicação de artigos, o que é legítimo e necessário para todo o grupo de pesquisa e programas de pós-graduação, acredito que a proposição de patente deveria ser levada em consideração sempre que possível, gerando tecnologias e, quem sabe, recursos futuros tanto para os pesquisadores envolvidos como para a instituição. Assim, forma-se uma espécie de círculo virtuoso que pode se completar em empresas inovadoras de base tecnológica, contribuindo para o desenvolvimento do país”, finalizou o pesquisador.
Na UFMS, até outubro de 2022, já foram concedidas 11 cartas patentes e 95 pedidos estão em análise. “Os resultados das pesquisas desenvolvidas por nossos pesquisadores devem ser protegidos para que, no caso de potencial retorno econômico, não haja exploração indevida por terceiros. Os pedidos de proteção são um relevante indicador do potencial de inovação da Universidade, refletindo na nota dos programas de pós-graduação como também expressando a competência de seus pesquisadores nas mais diversas áreas do conhecimento”, disse o diretor da Aginova,
Saulo Gomes Moreira.
Patente
Nathália Rodrigues realizou os experimentos no Laboratório do Instituto de Química da UFMS
Literatura de cordel se torna proposta para ensino
A proposta se baseia no cordel “Reparando melhor, a natureza, de algum modo, respira poesia”, de autoria do professor Paulo Robson de Souza, que retrata diversos princípios da Biologia
Texto: Letícia Dantas (bolsista do Programa de Rádio e TV voltado para Educação e Conscientização do Trânsito)
Fotos: arquivo pessoal dos estudantes
Folhetos de poemas pendurados em cordões. A literatura de cordel pode ser resumida dessa forma, mas é muito mais do que isso. Escritos em forma de rima e ilustrados com xilogravuras, os cordéis carregam muito mais do que textos, sendo uma forma fácil de perpetuação de cultura, arte e conhecimento.
Apesar de não ter a sua origem no Brasil, o cordel foi incorporado de tal forma na cultura brasileira, principalmente nordestina, que em 2018 o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional deu a este estilo literário o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro.
27 n. 12
Ciências Biológicas
Política, religião, amor, ódio, esses são alguns dos temas mais comuns que se encontram nos cordéis. Porém, o estudante do quarto semestre do curso de Licenciatura em Ciência Biológicas Eduardo Cerqueira encontrou neste estilo uma oportunidade para ensinar Ciências de forma descontraída e interativa. O estudante, juntamente com os colegas Lauane Vilhalva, Lívia Coxev e Juan Godoy, desenvolveu o trabalho O Cordel como proposta pedagógica no ensino de Ciências.
Os estudantes foram orientados pelo professor Paulo Robson de Souza, que também é o autor do Cordel em que foi baseado o trabalho, e pela professora Fernanda Zandonadi Ramos. Ambos são professores do Laboratório Interdisciplinar de Ensino de Ciências do Instituto de Biociências, e o trabalho dos estudantes foi desenvolvido no contexto do projeto de extensão “Propostas teórico-metodológicas para o ensino de Ciências com ênfase em material de divulgação científica autoral”.
O professor Paulo Robson, destaca que tem muito apreço pela Literatura de Cordel e que começou a escrever seus poemas quando ainda estava na graduação. De acordo com ele, a iniciativa de elaborar o projeto baseado no cordel foi dos próprios estudantes, o que gerou muita satisfação para o professor. “Tudo que eu quero como autor é ver o meu trabalho sendo usado, principalmente no ensino de Ciências”.
Com a intenção de divulgar um material científico e didático, os estudantes participantes do Laboratório Interdisciplinar de Prática de Ensino tiveram a oportunidade de criar o seu próprio material.
A iniciativa de ensino por meio do cordel foi aplicada primeiramente aos licenciandos de Ciências Biológicas. Depois, ela foi aplicada no ensino básico em quatro turmas de séries finais do Ensino Fun-
damental. De acordo com Eduardo, a participação dos alunos foi surpreendente: “grande intercâmbio de ideias por meio da socialização inerente aos métodos empregados”. Mais do que expor os versos do cordel, essa proposta pedagógica seguiu uma metodologia interativa.
Cada parte da produção interfere para o resultado esperado, desde a impressão das estrofes com uma tipografia sem serifa até o tamanho de 24 pontos para que possa ser lida a distância. Como a intenção do trabalho é o ensino de Ciências por meio da interação, é indicado que após a montagem do varal, a leitura seja feita em grupos que devem ficar com, pelo menos, uma estrofe.
Após a leitura, é indicado que cada grupo aponte dois ou mais princípios de Ciências presentes em cada estrofe, e escolha uma palavra-chave para especificá-los. Essas palavras-chave são escritas em pequenos pedaços de cartolina e pendurados junto
28 n. 12
Ciências Biológicas
Eduardo foi orientado pelos professores Paulo Robson e Fernanda Ramos
Foto: arquivo dos estudantes
a prancheta correspondente. Assim, a partir de tais palavras é possível a montagem de uma nova estrofe. Ao juntar todas as estrofes escritas pelos grupos, surge um novo poema.
“A proposta do cordel é de que o aluno seja o protagonista no processo de aprendizagem e a sua individualidade seja valorizada, ao criar algo novo. Quando é trabalhado um conteúdo científico em sala de aula, é importante que o aluno seja desafiado e busque junto com seus colegas soluções”.
Assim como a literatura de Cordel carrega em seus versos as particularidades acerca de seus temas, muitas vezes mesclando poesia com as vivências do autor, e dessa maneira perpetuando valores culturais, o projeto de ensino busca valorizar as singularidades de cada aluno para que a fixação do conhecimento seja efetiva.
Aqui é valorizado o contexto individual de cada aluno: a história da sua família, os costumes de onde mora e de onde morou, habilidades sociais, habilidades técnicas e princípios morais pois, de certa forma, todo esse contexto contribui na aprendizagem.
Eduardo exemplifica a aplicação prática do método. “Por exemplo, a fotossíntese. O professor pode selecionar um poema que tenha essa temática, ou até mesmo criar um, e os alunos durante o processo vão exteriorizar a sua experiência com as plantas. Alguns já cuidaram de plantas, outros percebem que as plantas da sua casa morreram por algum motivo, há os que costumam semear com a família em sítios, entre outras experiências. Com isso, cada um pode contribuir com sua visão de mundo, além de relacionar os conceitos científicos com o seu cotidiano”.
Essa troca proporciona uma vivência educacional única e as soluções encontradas são imprescin-
díveis para a apropriação do conhecimento, que de acordo com o estudante, pode gerar reflexão crítica e o espírito investigador. Esse trabalho é mediado pela linguagem e além da valorização dos aspectos socioculturais presentes na sala, o professor também media o processo de construção do conhecimento pela articulação entre os conhecimentos cotidianos e os científicos de forma interativa e criativa, por meio do diálogo.
“A proposta é muito versátil e qualquer poema que aborde princípios científicos pode ser utilizado. Podem ser feitas adaptações também. Por exemplo, em uma das realizações na escola os alunos propuseram uma batalha de rimas no estilo hip hop” comenta Eduardo.
Em relação a faixa etária em que é possível desenvolver o projeto, mais uma vez ele se mostra flexível e adaptável. Eduardo explica que no caso específi-
Os estudantes Eduardo Cerqueira, Lauane Vilhalva, Lívia Coxev e Juan Godoy desenvolveram a proposta de ensino em seis meses
Foto: arquivo dos estudantes
Eduardo Cerqueira recebeu o prêmio na área de Ciência Biológicas
co de seu trabalho, é necessário que as crianças já sejam capazes de entender conceitos abstratos para a proposta ser desenvolvida. Portanto, alunos a partir da quinta série do fundamental, na faixa etária de 11 anos ou mais.
“Mas o arcabouço dos procedimentos propostos pode ser adaptado a outras idades, desde que se tenha o cuidado de selecionar, como ponto de partida para a criação da turma, um poema que traga conceitos acessíveis à faixa etária” complementa. A proposta também pode ser aplicada em cursos de formação inicial docente e continuada sem restrições. Especialmente quando se deseja que os professores e futuros professores produzam e saibam como trabalhar o seu próprio material.
Segundo o professor, a premiação do trabalho como o melhor da área de Ciências Biológicas no Integra foi motivo de alegria, orgulho e surpresa, visto que é incomum a integração entre Literatura e Biologia. “Ter essa interface de Ciências Biológicas, com
Confira abaixo o cordel do professor Paulo Robson de Souza. Acesse o cordel completo através do QR code.
Vendo o esterco, ninguém lhe dá valor Se não tem visão clara do amanhã. Bactérias — gigantes sendo anãs — Reelaboram a matéria no calor. Adubada, a raiz põe-se ao labor, Faz crescer a roseira com anemia.
É no esterco que tudo principia Dando à flor a cheirosa sutileza. Reparando melhor, a natureza — De algum modo — respira poesia.
Vendo o esterco, tem gente que vomita Porque nele não vê utilidade. É o esterco promessa de bondade Junto à microbiota que o habita. Ao se ver transbordando uma marmita Dá na gente uma imensa alegria: Os micróbios transformam a “porcaria” Em fartura, enfeitando a nossa mesa. Reparando melhor, a natureza — De algum modo — respira poesia.
Quem já viu caracóis escorregando Pelos troncos arfantes, sonolentos E esperou que marcassem o chão — visguentos —, Nem notou todo o tempo lhe marcando. Esperar sem saber que está esperando, Respirando o forjar da calmaria... Imagino que isso bastaria Pra inspirar, dos moluscos, a nobreza. Reparando melhor, a natureza — De algum modo — respira poesia.
O poeta que tem no nome o barro, Pescador de palavras, caracóis Respirando as ausências dos paióis Sobre o pó dos quintais nos quais me esbarro. Na firmeza do verbo é que me agarro. Não com a força que o mestre agarraria Pois retira o calor da lama fria... Pois que extrai os pulsares da aspereza. Reparando melhor, a natureza — De algum modo — respira poesia.
34 n. 12
“Reparando melhor, a natureza, de algum modo, respira poesia”
Ciências Biológicas
Ginástica laboral beneficia servidores e estudantes do Câmpus de Aquidauana
Iniciativa contemplada pelo Programa Esporte Universitário insere a prática de exercícios físicos na rotina da comunidade universitária
Thalia Zortéa Fotos: arquivo pessoal do estudante
Melhorar a postura e a concentração, ter mais energia e disposição, reduzir o estresse e gerar a sensação de bem-estar. Essas são alguns dos benefícios da ginástica laboral, prática que tem contribuído na rotina de servidores e estudantes do Câmpus de Aquidauana. A atividade é oferecida duas vezes na semana e faz parte do Programa Esporte Universitário, que incentiva a comunidade universitária a praticar exercícios físicos. A primeira etapa do projeto envolveu a realização de uma pes-
quisa inicial dos tipos de exercícios que poderiam ser desenvolvidos durante a rotina de trabalho e estudos; e as principais queixas dos servidores ligadas especialmente a movimentos repetitivos, como a digitação e o uso do mouse. “No período remoto, tivemos reclamações dos nossos servidores por passarem muito tempo sentados durante o expediente. Assim, nesse retorno ao trabalho presencial, pensamos nesse projeto para proporcionarmos exercícios que os ajudassem a melhorar a saúde e evitar lesões por esforço repe-
35 n. 12
Texto:
Ciências da Saúde
titivo e algumas doenças ocupacionais”, esclarece a coordenadora de Gestão Acadêmica do Cpaq, Adriana Wagner, também responsável pela iniciativa. “A ginástica laboral tem o objetivo de não só beneficiar os servidores do Cpaq, mas também a UFMS, pois servidores mais saudáveis tendem a desenvolver suas atividades com maior produtividade”, finaliza.
São duas pausas semanais de 20 minutos com alongamento, técnicas de respiração, correção de postura e outros exercícios que ajudam a prevenir doenças ocupacionais. As atividades são ministradas pelo
instrutor Renahn dos Santos Lopes. “Acredito que todas as pessoas merecem cuidar mais de si, da sua saúde física e mental. Às vezes, falta só um incentivo e o projeto é isso. Esse incentivo!”, pontua. De acordo com a diretora do Câmpus de Aquidauana, Ana Graziele Lourenço Toledo, as atividades desenvolvidas pela ginástica laboral integram um projeto piloto de ações pensadas a partir das necessidades manifestadas pela comunidade universitária. “Estamos falando de empoderamento de servidores através de grupos de trabalho nos quais o líder é só o facilitador. São
Ações de esportes, danças e lutas na UFMS
O Programa Esporte Universitário busca fomentar a execução de projetos de esportes, danças e lutas na Universidade, promover a saúde e a inclusão de estudantes e servidores, além de fortalecer as seleções da UFMS para representação em competições locais, regionais e nacionais.
Segundo a técnica em Assuntos Educacionais, da Secretaria de Projetos Esportivos, Solange Izabel Balbino o Programa atende a necessidade da prática da atividade física de modo geral e possibilita novas experiências por meio das atividades desenvolvidas. “Em 2022, tivemos a aprovação de cerca de 20 projetos de esportes, danças e lutas, distribuídos na Cidade Universitária e em mais cinco câmpus. Além desses projetos, executa ações
próprias que, neste ano, incluíram a Ginástica Laboral na Cidade Universitária e no Câmpus de Aquidauana, a musculação na Academia Escola e eventos como a 11ª Volta UFMS, Caminhada nos Câmpus, e a Semana Mais Esporte”, destaca.
Além do Câmpus de Aquidauana e da Cidade Universitária, foram selecionadas propostas dos Câmpus de Coxim, do Pantanal, de Paranaíba e de Três Lagoas.
Em Campo Grande, servidores também tiveram acesso às práticas de alongamento e respiração, com exercícios ministrados por um estudante do curso de Educação Física da Faculdade de Educação, com orientação da secretária de Projetos e Eventos Edinéia Ribeiro.
Ginástica laboral mobiliza estudantes e servidores para prevenção de doenças ocupacionais
36 n. 12
Foto: Crislaine Oliveira Ciências da Saúde
ações de relacionamento como cafés coletivos, lembranças em datas especiais, aniversariantes do mês, reuniões diárias com líderes dos times de gestão, apresentações culturais e palestras”, destaca.
O professor substituto do curso de Licenciatura em Matemática do Câmpus de Aquidauana, Ludiér Mariano Rosa, participa da ginástica laboral toda semana. “Além de ministrar as aulas em sala, tenho que prepará-las, elaborar provas e trabalhos, então achei interessante participar [do projeto] por conta do tempo que precisaria passar sentado utilizando o computador, escrevendo e fazendo alguns movimentos repetitivos”, explica o docente. Para ele, os exercícios e alongamentos propostos também foram essenciais para fortalecer a interação social no ambiente de trabalho. “Como esse é meu primeiro semestre como professor aqui no curso, durante a realização das atividades físicas, entrei em contato com servidores e professores de outros cursos que eu ainda não conhecia”, complementa. Quem também se sentiu mais próximo dos colegas e ressalta o papel da ginástica laboral como um agente motivador para a prática de atividades físicas é o estudante do curso de Letras - Português e Inglês, Cláuber Albres Silva. “Como trabalho muito tempo sentado, a partir do
momento em que passei a realizar os exercícios, me senti com mais disposição e fiquei mais motivado”, afirma. Juntos, Ludiér e Cláuber integram o grupo de dez estudantes, 20 técnicos-administrativos e 15 professores que adicionaram os alongamentos e exercícios cardiorrespiratórios na rotina.
37 n. 12
Grupo de 45 pessoas, com técnicos-administrativos e docentes, é beneficiado pela Ginástica Laboral semanal no Câmpus de Aquidauana
Alongamento é uma das técnicas aplicadas durante ginástica laboral
Foto: Adriana Wagner
Foto: Adriana Wagner
Faça uma pausa!
Exercícios paravocê realizar em casa ou no local de trabalho
Mantenha a cabeça inclinada por alguns segundos para cada lado
Vire a cabeça para um lado e depois para o outro
12 3 4 5
Com os braços esticados paratrás, entrelace os dedos e alongue as costas por alguns segundos
Entrelace os dedos com os braços esticados à sua frente e mantenha por alguns segundos
Com os braços para baixo, chacoalhe suas mãos
Entrelace os dedos acima do corpo e estique o braço por alguns segundos
8
Entrelace os dedos e gire os punhos no sentido horário e antihorário
6Estenda eflexione os dedos 10 vezes
Em sua cadeira, rotacione o corpo e tronco por alguns segundos para cada lado
Sente-se, coloque as mãos na lombar para apoio e incline-se paratrás por alguns segundos
Premiação
O projeto “Ginástica Laboral no Cpaq”, elaborado pelo estudante Renahn dos Santos Lopes, foi premiado no Integra UFMS 2022 na área de Ciências da Saúde. O histórico de reconhecimentos obtidos pelo estudante iniciou-se ainda no Ensino Médio, quando ele teve contato com pesquisa por meio da Feira de Tecnologias, Engenharias e Ciencias de Mato Grosso do Sul, em 2018.
“Participar do Integra me permitiu reviver essa rica experiência do Ensino Médio. A gente tem uma visão muito mais ampla de pesquisa e da extensão após participar de um evento como esse. Me faz ainda
mais acreditar na educação, bem como, me faz ainda mais querer um dia possibilitar que outros estudantes tenham essa oportunidade e sejam pesquisadores”, pontua o autor.
O estudante do Câmpus de Aquidauana carrega consigo a importância e papel desempenhado pela articulação entre a Universidade e a sociedade por meio de diversas ações. “Ser provedor da Educação Física e acreditar em devolutivas para a sociedade e retribuir caminhos. O projeto permite a Universidade e a mim, estudante, essa devolutiva social. Promover a saúde física e mental é fundamental. Isso é ser pesquisador, e mais ainda, isso é extensão!”, enfatiza.
38 n. 12
Fonte: Associação Brasileira de Ginástica Laboral (ABGL)
7 9
10
Ciências da Saúde
Controle estratégico de verminose em equinos
Estudo avalia período ideal para tratamento de parasitoses de animais infectados na região Centro-Oeste
Texto: Crislaine Oliveira Fotos: arquivo das estudantes
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Mato Grosso do Sul possui cerca de 418 mil cavalos. A maior parte desse efetivo de animais tem duas finalidades: lida no campo e competições como laço comprido, salto, apartação, tambor, dentre outras. Parte dos animais também é destinada à equoterapia e à Segurança Pública. Para o professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (Famez) Fernando de Almeida Borges, existem alguns desafios com o manejo dos equinos. “Para os animais de competições e de maior valor genético e comercial, a reprodução, o
melhoramento genético e a nutrição são os grandes desafios de hoje”.
A vermifugação também é um ponto de atenção, em especial, com relação à periodicidade do tratamento. “Esse é um tema ainda pouco estudado no Brasil, portanto, não há calendários sanitários bem definidos para as diferentes realidades da equideocultura”.
Os equinos têm em seu organismo um elevado número de espécies de vermes, ultrapassando mais de 90, segundo o professor. “Comparado a outros animais domésticos, como o cão, gato e os bovinos, o cavalo é o animal mais parasitado por mais espécies
39 n. 12
Ciências Agrárias
diferentes de helmintos (vermes). Mas isso pode ser influenciado pela faixa etária. Os potros, por exemplo, podem ser infectados logo ao nascimento, quando estão mamando, podem ingerir larvas de Strongyloides westeri no leite, mas em poucas semanas já adquire resistência a esse parasito. Outras duas espécies mais comuns em potros são Parascaris equorum (lombriga) e Oxyuris equi. Já na fase adulta, há várias outras espécies, mas os mais importantes são os pequenos (ciatostomíneos) e grandes estrôngilos, que são os mais patogênicos”.
De acordo com o professor, a contaminação dos animais se dá, na maioria dos casos, pela ingestão das formas infectantes no capim, podendo ocorrer outras formas, como lamber outros animais, pelo leite ou até mesmo pela ingestão de moscas.
O controle estratégico das verminoses deve ser realizado para garantir o bem estar, impedir a contaminação do ambiente − já que um equino adulto pode depositar até 30 milhões de ovos por dia na pastagem − e prevenir casos clínicos. “Muitas recomendações de vermifugação são feitas de forma empírica, baseada na troca de informações entre pessoas sem formação na área. Essa foi uma das principais justificativas para a realização do nosso estudo”.
A estudante do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias Mariana Green de Freitas dedica-se ao tema da parasitologia desde a graduação. Agora, no doutorado, está à frente do projeto de iniciação científica Epidemiologia e controle estratégico da verminose em equinos naturalmente infectados na região Centro-Oeste do Brasil, sob orientação do professor Fernando de Almeida Borges.
Segundo ela, o objetivo do estudo é avaliar a dinâmica populacional de parasitas em equinos, e realizar um tratamento de forma eficaz e reduzir o prejuízo para a saúde dos equinos.
“Temos poucos estudos sobre isso, principalmente na nossa região. Estamos avaliando um protocolo de tratamento estratégico em equinos na região Centro-Oeste, protocolo esse criado por nós com base
40 n. 12
Ciências Agrárias
Tipos de contaminação por parasitoses em equinos
São feitas coletas de fezes a cada 28 dias na propriedade rural
nos dados da epidemiologia que temos em alguns trabalhos e idealizado para controle de verminose de equinos criados a pasto de forma extensiva. O projeto veio de uma demanda do campo, onde várias pessoas vieram questionar sobre o tratamento e ainda não tínhamos isso na literatura”.
Para os estudos que estão sendo realizados em uma propriedade rural no município de Anastácio, são feitas coletas de fezes a cada 28 dias e os cavalos estão divididos em dois grupos com 20 animais, um com controle sem tratamento, e o outro com tratamento estratégico em maio e em setembro. “São avaliados o peso dos animais, escore corporal, contagem de ovos por grama de fezes e o exame laboratorial para ver os gêneros de parasitas. Também coletamos pasto para ver a presença de larvas na pastagem”.
Segundo ela, na região Centro-Oeste há duas grandes diferenças em relação a criação de equinos: os que são criados a campo, de forma extensiva, com poucos ou até nenhum tratamento para verminose e os equinos para esporte e lazer criados em centro de treinamentos e haras que são tratados de forma supressiva. “Isso acaba favorecendo o aparecimento de parasitas mais patogênicos, o que pode diminuir o desempenho desse animal. Já o outro grupo de animais que são utilizados para esportes, como é o caso do laço comprido, percebemos que os animais são tratados a cada dois meses, o que favorece o surgimento de parasitas mais resistentes. Então, de um lado temos animais que não são tratados nunca e do outro, animais que são tratados muito”.
A estudante relata ainda que algumas práticas favorecem a contaminação dos animais, como por exemplo, usar um único piquete e, não fazer o tratamento adequado do capim, onde existe o depósito das fezes desses animais. “Quando você está em um
41 n. 12
Equinos que fazem parte do experimento recebem tratamento via oral
Os estudos estão sendo realizados em uma propriedade rural no município de Anastácio, com protocolo de tratamento estratégico
ambiente em que há vários animais, de vários lugares, como é o caso das provas esportivas, você está permitindo essa troca de parasitas, tendo em vista que a infecção se dá nesse contato com o alimento (capim) contaminado”.
A estudante da Famez Giulia Soares Braga, integrante do Programa Institucional de Iniciação Científica Voluntária, também participa dos estudos do tema, ao lado do professor Fernando Borges e da doutoranda Mariana Green. Ela foi a responsável pela apresentação do projeto no Integra UFMS 2022. “Comecei a estagiar no Laboratório de Doenças Parasitárias, pois durante a pandemia a disciplina de Parasitologia Veterinária foi uma das matérias que mais me interessaram. Em seguida, o professor Fernando Borges me direcionou para acompanhar a doutoranda Mariana Green com o seu projeto voltado para a área de verminose em equinos. Durante um ano pude acompanhá-la e sou muito grata pela oportunidade, uma vez que a minha primeira prática a campo foi com ela”.
Giulia participou do acompanhamento e da coleta de material na propriedade rural em Anastácio. “Durante esse um ano eu acompanhei e pude realizar as coletas na fazenda juntamente com o
desenvolvimento do projeto dentro do laboratório e análises estatísticas”.
Ela relata que desde o início da graduação busca conhecer um pouco de cada área da Medicina Veterinária, para ter vivência em todas as áreas possíveis para que ao final da graduação possa escolher com convicção a minha área de atuação. “Por enquanto, posso afirmar que a Parasitologia Veterinária é uma das áreas da Medicina Veterinária que mais chamaram a minha atenção, foi uma experiência incrível poder ter contato com essa área por meio da prática a campo com equinos”.
O projeto será realizado até março de 2023 e segundo Mariana, alguns resultados já podem ser avaliados. “No primeiro ano o protocolo avaliado controlou a verminose, mostrando diferença estatística em relação ao grupo controle, além de reduzir a contaminação ambiental e não aumentar a frequência de parasitas mais graves para equinos. Em relação ao grupo controle para avaliar a sazonalidade dos parasitas foi possível perceber que em junho e outubro temos um aumento de larvas na pastagem e em fevereiro temos um aumento da contagem de ovos nas fezes. No entanto, precisamos terminar de avaliar os dados do segundo ciclo e terminar as coletas para chegar nas conclusões finais”.
42 n. 12 Ciências
Agrárias
Projeto que será concluído em 2023 já apresentou resultados no controle de verminoses nos animais que passaram pelo tratamento
Planejamento urbano para uma cidade mais verde
Aplicativo desenvolvido por pesquisadores será usado como ferramenta para o inventário das árvores de Campo Grande
estudante
Alívio na sensação térmica, melhora na qualidade do ar e benefícios para o bem-estar físico e mental da população. Estas são apenas algumas das vantagens da arborização em uma cidade, porém a solução não é tão simples como parece. Não basta apenas plantar mais árvores, é preciso projetar e pesquisar quais as espécies adequadas. Em Campo Grande, este papel tem sido desempenhado por um projeto de pesquisa da Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Geografia − e o melhor: com a ajuda da tecnologia.
Em uma das cidades mais arborizadas do país e destaque no mundo, o papel do planejamento é fundamental. O projeto Arbomais: Identificação e registro de características morfométricas da arborização urbana para inventário quali-quantitativo, sob a coordenação da professora Eliane Guaraldo, busca contribuir com diretrizes para a arborização urbana.
A partir do desenvolvimento de um aplicativo, o projeto de pesquisa tem como objetivo identificar características da forma das árvores, o que as torna únicas e as diferencia uma das outras. Cada
Texto: Mylena Rocha Fotos: arquivo do
Ciências Sociais Aplicadas
As árvores se destacam na Cidade Universitária e o projeto aproveitou a área verde para fazer os primeiros testes do aplicativo Arbomais árvore se desenvolve de acordo com as características da sua espécie, mas também considerando a sua adaptação ao meio onde se encontra.
“O crescimento das árvores pode ser influenciado pela riqueza de nutrientes do solo, pela temperatura e umidade, pela presença de outras próximas, pela quantidade e qualidade de insolação. Algumas se adaptam mais facilmente a condições adversas, outras são mais exigentes e não conseguem se desenvolver”.
Com o propósito de entender e registrar as características das espécies que são encontradas no espaço urbano, o projeto analisa a forma das árvores, principalmente a arquitetura da copa. “Conhecer essas variáveis nos permite entender por que algumas espécies não estão cumprindo seu formato ideal de espécie. E também nos serve nos inventários de arborização para diagnosticar o seu estado de saúde”.
A morfometria é o estudo da métrica da forma. Segundo a coordenadora, a intenção é analisar as medidas de partes das árvores, como a grossura, a inclinação do tronco, o tamanho e a altura da copa, além de fornecer informações importantes, como a sua idade,
o estado de desenvolvimento, a adaptação ao local e a sua reação a ações de manejo, como as podas.
Para realizar o trabalho de identificação e registro das características das árvores presentes em Campo Grande, a equipe tem atuado no desenvolvimento do aplicativo Arbomais. A ferramenta será empregada para a realização do inventário da arborização nas ruas da cidade.
“Ele começou a ser desenvolvido em 2019 e os primeiros testes foram feitos na UFMS, por exemplo, no bosque da Faculdade de Computação, no estacionamento ao lado do ginásio Moreninho e no bosque na frente do bloco da Arquitetura. Este aplicativo pretende agilizar a observação das árvores, sua identificação, estado de saúde, interações e conflitos”.
Atualmente, o projeto conta com um estudante bolsista, 18 graduandos e oito estudantes de mestrado, que estão envolvidos na pesquisa sobre a floresta urbana de Campo Grande. Com a ajuda do aplicativo desenvolvido pelo Laboratório da Paisagem da UFMS, a equipe ainda propõe a revisão do Plano Diretor de Arborização Urbana (PDAU) da capital sul-mato-grossense. Além de identificar
45 n. 12
Foto: Vanessa Amin
a forma das árvores, o app ainda tem a proposta de armazenar dados sobre as espécies, a presença de ninhos, cupins e formigas, além dos problemas de adaptação no ambiente urbano, como os conflitos com a calçada, a rede aérea, os postes, as lixeiras, os bancos, entre outros.
A coordenadora explica que o projeto fará a revisão do Plano Diretor para diagnosticar as árvores da cidade e propor prioridades para a sua proteção, além de sugerir novos plantios. Para isso, foi firmado um convênio entre a UFMS e a Prefeitura Municipal de Campo Grande, que existe desde 2020. O objetivo é comparar a situação da cidade em 2010, quando foi feito o primeiro Plano Diretor de Arborização Urbana. Assim, o convênio fornecerá material para a elaboração da revisão do PDAU 2022.
Campo Grande é destaque quando o assunto é arborização. Por três vezes seguidas, o município recebeu o título de “Tree City of de World” , ou Cidade Árvore do Mundo, pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura e a Fundação Arbor Day. As árvores são protagonistas na cidade e se transformam até em pontos turísticos em determinados períodos do ano, como a época de floração dos ipês no Parque das Nações Indígenas ou das paineiras da avenida Ricardo Brandão.
Para Eliane Guaraldo, o projeto se mostra ainda mais importante, considerando o contexto de Campo Grande como uma cidade bem arborizada. “[É importante por] adotar critérios de ponta para a proteção das árvores existentes e para a ampliação da arborização em regiões menos atendidas, priori-
zando acesso da população aos benefícios das áreas arborizadas, a equidade verde”, explica.
Estudante de Arquitetura e Urbanismo, Marcos Vinícius é bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) e atua diretamente com as pesquisas de morfometria das árvores. Ele afirma que, apesar de Campo Grande ser considerada um exemplo em arborização, ainda existem problemas, que podem ser resolvidos com o planejamento urbano.
“Problemas muito comuns em Campo Grande em relação à arborização urbana são as podas irregulares, devido à altura elevada das copas em confronto com o cabeamento aéreo, obstrução da mobilidade urbana devido a raízes que destroem as calçadas e áreas sem arborização adequada, contribuindo para os efeitos das ilhas de calor. Por isso, entender como cada espécie presente na cidade se desenvolve é importante para que seja proposto uma correta arborização, trazendo mais benefícios para a população”.
Foi na literatura que o projeto buscou as classificações mais usuais de morfometria das árvores e fez a classificação pelos tipos de copas. Em seguida, a pesquisadora comparou com a lista de espécies encontradas em Campo Grande.
“Esses tipos de arquitetura de copas estão sendo incluídos no aplicativo Arbomais. Cada vez que se observa e mede uma árvore, se registra qual é a arquitetura da sua copa. Os próximos passos serão o teste do aplicativo nas ruas da cidade. Vamos comparar as morfometrias encontradas com as morfometrias ideais de cada espécie, e com isso verificar o estado de saúde ou adaptação delas no meio urbano”, conclui a professora Eliane.
46 n. 12
Ciências
Sociais Aplicadas
Fonte: Projeto de pesquisa “Arbomais: Identificação e registro de características morfométricas da arborização urbana para inventário quali-quantitativo”
Plano Diretor de Arborização Urbana completa 12 anos e carece de atualização
Um dos objetivos do projeto é contribuir com o Plano Diretor de Arborização Urbana de Campo Grande, que necessita de atualização. Criado em 2010, o documento apresentou o diagnóstico da arborização viária da capital e surgiu como um guia para o problema da falta de planejamento. Mas, afinal, quais as espécies mais adequadas para Campo Grande? Não há uma resposta definitiva para esta pergunta. O PDAU de 12 anos atrás trazia uma lista de espécies e indicações para o plantio, mas estas orientações devem ser remodeladas. Segundo Eliane Guaraldo, não há uma
As árvores e suas classificações
A partir da pesquisa, a equipe listou dez tipos diferentes de copas de árvores. Os tipos foram exemplificados a partir de desenhos simples, que representam e agrupam os formatos. As ilustrações ajudam a treinar o olhar do observador e facilitar a classificação das árvores durante o uso do aplicativo.
A morfometria mais encontrada na cidade de Campo Grande foi a arredondada, que representa 34,07% das espécies listadas no PDAU de 2010. Em segundo lugar, está o formato de copa umbeliforme,
orientação exata sobre qual espécie plantar, como uma receita de bolo. “Árvores são seres vivos, cada local é um local. Dependendo do lugar, algumas espécies são mais indicadas do que outras”, ressalta. No PDAU de 2010, havia a recomendação de evitar espécies frutíferas, por exemplo. Atualmente, as orientações internacionais indicam o contrário: é preciso valorizar a fauna e, portanto, os frutos são bem-vindos. A partir da pesquisa e do convênio, será possível definir novas diretrizes sobre o plantio e a relação de espécies indicadas para Campo Grande.
com 24,44%; seguida pelo tipo em leque, com 8,89%; cônica e irregular, com 6,67%; lentiforme e caliciforme, com 5,19%; colunar, com 3,7%; ovalada, com 2,96%; e a tipologia cônica invertida, com 2,22%. Contudo, a morfometria das árvores não é estática, mas sim influenciada pelo meio. As copas podem sofrer alterações devido a condições do espaço urbano. A partir de estudos, será possível identificar o formato ideal de copa para cada espécie.
Trabalho premiado
O trabalho, apresentado pelo estudante Marcos Vinícius Guerra, foi escolhido como o melhor na área de Ciências Sociais Aplicadas.
O bolsista do Pibic afirma que ficou muito surpreso e feliz com a premiação. “Sei da importância do projeto, pois sou estudante de Arquitetura e Urbanismo e tenho muito contato com a área, mas sei que infelizmente não é um assunto tão discutido na sociedade de modo geral. Por isso, ver que o trabalho e esforço nesse ano de pesquisa foram observados e valorizados me deixa muito feliz, orgulhoso e com esperança de que no futuro Campo Grande tenha um Plano de Arborização muito eficiente, que o torne referência para outras grandes cidades”, celebra.
Para a coordenadora, a premiação foi o reconhecimento de um trabalho que tem desempenhado um papel importante. “Estamos muito motivados! O projeto continua no ano de 2023, agora com a Isabella Petengill, graduanda de Arquitetura e Urbanismo, que está estudando os serviços ecossistêmicos das árvores a partir da sua morfometria. Muito obrigada, UFMS!”.
47 n. 12
Marcos Vinícius e a professora Eliane Guaraldo celebraram o prêmio
Texto: Maurício Aguiar (bolsista do Programa de Rádio e TV voltado para Educação e Conscientização do Trânsito)
Foto: arquivo pessoal do pesquisador
No dia 11 de outubro de 2022, o Mato Grosso do Sul completou 45 anos de criação. Apesar de ser uma das mais jovens unidades federativas do Brasil, atrás apenas de Tocantins e Rondônia, o estado teve sua história construída muito antes da assinatura da Lei Complementar 31, por Ernesto Geisel.
Personagens históricos contribuíram para moldar a identidade sul-mato-grossense, quando a região ainda era apenas o território sul da antiga província que a ligava ao norte. Uma dessas figuras é Dona Maria da Glória, a baronesa de Vila Maria, nascida em 1831, na próspera fazenda Jacobina, a 203 km de Cuiabá.
O nome da fazenda é atribuído a uma lenda, que conta que as terras do antigo engenho foram palco para um grande amor entre dois jovens indígenas, Jacó e Bina. Maria da Glória cresceu ali e foi doutrinada na fé cristã desde cedo. Apesar de letrada, os compromissos sociais da jovem se resumiam a acompanhar a família às missas realizadas na capela da
fazenda em dias de domingo e nas festas do Espírito Santo promovidas por sua mãe.
Aos 14 anos, idade em que sua mãe deu à luz ao primeiro filho, Maria da Glória continuava solteira. Crescendo em um ambiente predominantemente masculino, Maria tinha pouco contato com meninas de sua idade. A fazenda, rota de passagem e hospedagem de importantes viajantes e políticos, recebeu em uma dessas ocasiões Joaquim José Gomes da Silva, na época com 20 anos, primo da família. Jovem mascate e viúvo, Joaquim era filho legitimado do padre Gomes, que realizou o batismo de Maria. Por isso, José era chamado de menino-diabo. O viajante se aproximou da prima e começaram, então, um namoro secreto.
O relacionamento furtivo foi prontamente repreendido quando descoberto pela família de Maria da Glória, que não considerava Joaquim um pretendente à altura da filha de uma das famílias mais ricas e influentes da
48 n. 12
Maria da Glória foi uma das mulheres mais importantes de seu tempo província. Determinados a ficarem juntos, o jovem casal organizou uma fuga. Pela madrugada, Maria da Glória desceu da janela de seu quarto pendurada em uma longa corda feita de lençóis, enquanto seu primo a esperava em um cavalo. Novamente, as terras do engenho Jacobina presenciavam uma história tão vivaz quanto a do casal indígena que deu nome à fazenda.
A fuga foi descoberta apenas na manhã seguinte, quando a família encontrou o quarto de Maria vazio. O irmão da jovem, major João Carlos, ordenou que encontrassem a moça, porém eles já estavam casados. Ao contrário de sua mãe, que se submeteu a um casamento arranjado, Maria casou-se por amor.
Essa foi apenas a primeira das várias transgressões de Maria da Glória, que veio a se tornar, futuramente, a baronesa de Vila Maria. Quem se dedicou a resgatar essa história foi o estudante do oitavo semestre do curso de História do Câmpus do Pantanal (Cpan), Marcos Vinicius Cypriano, no trabalho ‘A baronesa de Vila Maria: trajetória de vida e elites em Corumbá no final do século XIX’.
“O interesse surgiu em conjunto com meu orientador, quando nós percebemos que a histó -
ria ‘oficialesca’ de Corumbá é contada pela visão dos homens e não tínhamos nenhuma narrativa de mulheres que permeavam esse meio social que chamamos de elite”, argumenta.
O casal ascendeu à elite após se mudar para a parte sul do Mato Grosso, na Vila de Corumbá, até então um povoado empobrecido e com pouca infraestrutura. Lá, Joaquim e Maria fundaram a fazenda Firme e posteriormente a fazenda Piraputangas, que se tornou a morada da família e onde permaneceram até a Guerra do Paraguai. Maria e Joaquim tiveram dois filhos, Joaquim José Gomes da Silva (homônimo ao pai) e Joaquim Eugênio Gomes da Silva.
O sucesso do casal na agropecuária da região chamou a atenção do Governo Imperial, que em 1862 outorgou a Joaquim Gomes, na época com apenas 37 anos, o título nobiliárquico de Barão de Vila Maria, o segundo baronato da província do Mato Grosso. O título foi estendido à sua esposa, Maria da Glória, que aos 31 anos se tornou a baronesa de Vila Maria.
A mulher das elites
No centro de uma das famílias mais importantes e ricas da região sul do Mato Grosso, Maria da Glória tinha sua atuação reservada ao meio privado, assim como a maioria das mulheres inseridas no contexto do século XIX, que estavam restritas aos trabalhos no meio doméstico, como coordenar os escravos, a cozinha e a limpeza. Porém, esse não era o único papel exercido pela baronesa. “Esse é o contexto dela, ela deveria ficar nesse ambiente, ela deveria ficar contida nas suas obrigações, na sua função principal que era procriar e gerar herdeiros, mas a baronesa foi além disso”, ressalta Marcos Vinicius.
Antes da morte do marido, a baronesa atuava na articulação da família entre a elite da localidade e na construção de redes de relações, organizando casamentos, batizados e eventos, além de amadrinhar cativos, agregados e indígenas, estes últimos que no passado tinham conflitos com as fazendas do barão de Vila Maria. A prosperidade dos Gomes da Silva continuou até a invasão paraguaia na Vila de Corumbá, o que desencadeou a Guerra do Paraguai. A fazenda Piraputangas foi devastada, o gado apreendido e a plantação destruída, sem esperanças de retaliações por parte dos brasileiros, a família abandonou a fazenda e partiu rumo à corte. Os barões, então, levaram ao imperador D. Pedro II a notícia de que a fronteira estava sendo invadida.
49 n. 12
Ciências
Humanas
Após o fim da Guerra do Paraguai em 1870, a família retorna a Corumbá para tentar reconstruir seu patrimônio, o que culmina na entrada do barão na política, se tornando o primeiro presidente da Câmara Municipal da Vila de Corumbá, elevada à categoria de município em 1872. Quatro anos mais tarde, a baronesa sofreu duras perdas: a morte de seu marido e único amor, o barão de Vila Maria, a bordo do navio Madeira no Uruguai no dia 4 de abril e três meses depois a morte de seu primogênito, brutalmente assassinado por um empregado da fazenda Piraputangas.
Com a perda do marido e do filho primogênito, a baronesa assume, enfim, o papel de protagonista na liderança da família. Sem um herdeiro claro para a fortuna e as terras dos Gomes da Silva, Maria da Glória se torna a inventariante do patrimônio, indo à justiça pessoalmente brigar com ex-sócios e credores de seu falecido esposo, que desejavam se apropriar das posses da família, julgando-a enfraquecida pela falta de um homem na chefia. “Ela vai às instituições públicas brigar judicialmente, ela não vai mandar nenhum procurador, ela vai assinar e vai recorrer das decisões do juiz de paz e do juiz municipal”, conta Marcos.
Além de lutar na justiça para manter sua herança, a baronesa também ampliou os negócios da família ao empreender. A legislação da época permitia que, com a morte do marido, a mulher viúva se tornasse a cabeça da família, podendo ter bens próprios. Nesse contexto, a baronesa se destacou ao conquistar
a licença de exploração no morro do Barro Branco, uma jazida de minérios.
O protagonismo da baronesa de Vila Maria, no entanto, foi além de suas terras. Em 1890, um ano após a proclamação da república, Maria da Glória redigiu uma carta para o até então presidente provisório do Brasil, Marechal Deodoro da Fonseca, em que retratava a situação política, social e econômica da província do Mato Grosso e questionava o potencial do vasto território em constituir-se estado. A baronesa levou ao governo federal dados sobre a região, assim como um panorama da educação entre a população local. “Ela escreve essa carta tentando arrecadar a simpatia do presidente para o desenvolvimento da região, ela não ficou só no latifúndio dela, ela pensou em toda a região, na educação, no saneamento, no desenvolvimento econômico, esse é o repertório dela”, destaca.
Dessa forma, a história da baronesa de Vila Maria se relaciona diretamente com a história de Corumbá e por fim, do Mato Grosso do Sul. Maria da Glória ressaltou a importância da independência do território sul em relação ao norte do estado, chegando a defender uma possível integração com a antiga província de São Paulo, como maneira de civilizá-lo. “Ela está se projetando à frente, ela está negociando com o presidente, está questionando, levando dados, se preocupando. Ela é uma mulher extraordinária nesse sentido, que apesar das barreiras, não se prende à região e não se preocupa só
50 n. 12
Ciências Humanas
com Corumbá, ela está pensando em todo o estado do Mato Grosso”, completa.
Quebra de narrativas
A história da baronesa de Vila Maria, assim como a de outras mulheres contemporâneas a ela, parece ter ficado esquecida, porém, um recente movimento, principalmente dentro de universidades, tem evidenciado a importância do resgate de figuras históricas que foram relegadas aos rodapés dos livros. “A pesquisa acadêmica é muito importante, não só para revelar essas figuras excepcionais, mas para quebrar narrativas construídas, como é o caso de Corumbá. [...] Nossa pesquisa foi evidenciar a baronesa de Vila Maria, pela sua excepcionalidade e sua quebra de paradigmas, mas serve para pensar em todas as mulheres, não só as das elites mas também as subalternizadas”, diz Marcos. O acadêmico reforça o compromisso da historiografia moderna, que deve expor a complexidade do cotidiano e dos agentes sociais, sejam homens, mulheres, crianças, operários ou escravizados, além de trazê-los à tona e divulgá-los ao grande público.
Quem compartilha da mesma visão do estudante é o seu orientador no trabalho, o professor do curso de História do Cpan, Divino Marcos da Sena. Ele enfatiza a relevância das pesquisas na área das Ciências Humanas, como forma de compreender os seres humanos e evocar determinados acontecimentos e personalidades que contribuem para a reflexão do presente e o entendimento da população como sociedade. “A figura da baronesa de Vila Maria acaba se destacando por ser uma mulher das elites, que durante muito tempo ficou aquém da figura do esposo e sempre aparecia como uma figura secundária, e a pesquisa acabou evidenciando como é que uma mulher das elites também tinha espaços de autonomia”, argumenta. “Não é um discurso elogioso, não é um discurso que visa a construção de heróis, mas faz com que a gente aborde a vida dos indivíduos, contextualizando com o momento histórico e ao mesmo tempo perceba os seus espaços de atuação”.
O apagamento de figuras históricas é exemplificado na dificuldade que os pesquisadores encontraram ao tentar recuperar documentos oficiais destas personalidades. Em diversas situações, a documentação disponível não contempla os personagens esquecidos e trazem muito mais informações sobre homens, em sua maioria brancos, que detinham
maior participação política na época. Entre as fontes utilizadas pelos pesquisadores, está o jornal ‘O Iniciador’, primeiro periódico criado na região sul da província do Mato Grosso. “Numa análise minuciosa, prestando atenção nas pistas, nos sinais e indícios, é possível sim identificar determinados sujeitos, como que foi sua trajetória de vida e a partir de um único indivíduo, é possível pensar também na presença de outros indivíduos que tinham características semelhantes”, explica o professor. Nesse cenário, a história da baronesa de Vila Maria contribui para recordar a de tantas outras mulheres sul-mato-grossenses do século XIX, independentemente do papel destas na sociedade da época.
Maria da Glória faleceu em 1903, em Corumbá, com 72 anos, quase 30 anos após a morte de seu marido. Hoje, o distrito de Nhecolândia compreende as terras da antiga fazenda Firme, que pertenciam à família Gomes da Silva, o nome é em homenagem ao Nheco, apelido do segundo filho da baronesa. A documentação de sua história, apesar de escassa, rememora a participação de uma das mulheres mais poderosas da região na formação identitária do estado do Mato Grosso do Sul e reforça a pertinência de manter viva a lembrança de figuras históricas que foram esquecidas, mas que não devem ser apagadas.
51 n. 12
O trabalho de Marcos Vinícius foi premiado no Integra UFMS 2022
Literatura de Roa Bastos é estudada como narrativa histórica e cultural do Paraguai
Trabalho premiado no Integra UFMS 2022 estuda o lugar da história na literatura de Roa Bastos
Ao receber o Prêmio Cervantes, a maior distinção das letras espanholas, o escritor paraguaio Augusto Roa Bastos carregava no bolso um telegrama enviado pelo colombiano Gabriel García Márquez. Era uma mensagem breve: “Tu, o supremo”. A pequena frase não havia sido escrita ao acaso. A literatura de Roa Bastos serviu de base para uma ge-
ração inteira de escritores latino-americanos. Seus romances combateram o silêncio de um regime político que por muitos anos dizimou a cultura paraguaia, exterminando mais de 3 mil vidas.
O mérito e o legado desse projeto literário se tornaram objeto de uma pesquisa que ganhou destaque no Integra UFMS 2022.
52 n. 12
Texto: JC Costa Fotos: internet
Internet
Augusto Roa Bastos é considerado o escritor paraguaio mais importante do século XX
Foto:
Linguística, Letras e Artes
Desenvolvida pelo estudante da Faculdade de Ciências Humanas (Fach), Rogerio Paes Dalbem, sob a orientação da professora Damaris Pereira Santana Lima, a pesquisa O lugar da História na narrativa autobiográfica em Contravida de Augusto Roa Bastos divulga a história e cultura paraguaia, relacionando a narrativa literária como um instrumento capaz de ajudar na construção da narrativa histórica.
A obra que é objeto da pesquisa, Contravida, é um texto ficcional, e autobiográfico. É possível encontrar no texto elementos que apontem para momentos históricos, trazendo um novo olhar sobre esses momentos”, comenta o estudante.
Devido à ditadura militar do general Stroessener, que governou o Paraguai a partir da década de 1950, Roa Bastos foi obrigado a fugir para a Argentina, onde iniciou um longo exílio, que o levou também à Espanha. Na condição de exilado, ele reescreveu a história de seu país.
“Olhando para a literatura, é possível ver não só o sujeito criativo (o autor) mas também o sujeito histórico – aquele que viveu e integrou um grupo social em um determinado momento do passado, sentiu e reagiu à realidade de seu tempo. A história oficial é escrita a partir de registros oficiais. Existe um aforismo bastante repetido entre historiadores que diz que “a história é escrita pelos vencedores”.
Isso é dizer que fontes oficiais podem ser bastante unilaterais (e restritivas). Por isso, levando em conta as experiências e o ponto de vista do sujeito histórico, é possível de fato entender, rever, reinterpretar momentos históricos de uma forma mais multidimensional. E é isso que a pesquisa está fazendo, mostrando como o passado pessoal pode construir o passado coletivo”.
Em Contravida, Roa Bastos escreve um romance dividido em dezesseis partes onde narra a história de um ex-preso político que não revela seu nome por odiá-lo. A narrativa começa logo após uma tentativa frustrada de fuga que termina em um desmoronamento. Assim, o romance inicia-se com um personagem atordoado, sem saber exatamente em qual lugar está e somente com a lembrança da tragédia. Fora da prisão, as notícias divulgadas para a população informavam apenas sobre uma tentativa de fuga e de um massacre que os policiais foram obrigados a realizar para conter os presos. Dado como morto, então, o personagem principal embarca em um trem na esperança de continuar sua fuga. Durante a viagem, ele registra em um caderno as lembranças de sua infância na medida em que elas despontam em sua mente e as situações que está vivenciando no presente. Passado, presente e futuro se misturam na narrativa de Roa Bastos que tenta reconstruir a memória de um país.
53 n. 12
Exilado na Argentina e Espanha, Roa Bastos escreveu Contravida depois de fugir do Paraguai devido a ditadura militar na década de 1950 Foto: Envato elements
A relação entre tempo e memória adquire um peso muito importante na obra. Roa Bastos se esforça em conduzir uma obra atrelada à história política e social do Paraguai. As desventuras do preso em tentar recompor sua vida são as desventuras de um povo situado por um regime político brutal. A memória do Paraguai caminha entre o fio tênue da lembrança e do esquecimento. Segundo o estudante, Roa Bastos é talvez o intelectual paraguaio mais conhecido no exterior, mas pouco conhecido no Brasil.
“No âmbito da América Latina, os trabalhos que abordam escritores de outros países como o Julio Cortázar da Argentina, o Gabriel Garcia Márques da Colômbia e o Mario Vargas Llosa do Peru, por exemplo, são mais abundantes. Mas, Roa Bastos é um autor tão contundente quanto todos estes, e por isso, é importante produzir conhecimento acerca da sua obra – e principalmente na UFMS porque, regionalmente, nós somos vizinhos do Paraguai. É necessário entender nossos vizinhos sem estereótipos ou preconceitos”, pontua.
Resgatar a obra deste grande escritor é abrir espaço para a reescrita da história. O lugar da memória coletiva dentro da literatura é, antes de mais nada, uma construção elaborada por sujeitos que viveram a história, isto é, por aqueles que habitaram e passaram pelos momentos de formação da cultura, e ajudaram
a formular um sentido para esse processo. No caso de Roa Bastos, sua literatura mostra que a ficção pode ser um terreno confessional capaz de impedir o silêncio das fontes oficiais. Se a história, nas tramas do poder, costuma ser escrita pelos vencedores, é na literatura que as vozes dos “vencidos” ganham protagonismo para reescrever a memória de um povo.
Roa Bastos não é o escritor paraguaio mais conhecido no mundo à toa. A importância de seu trabalho, explica a professora da Fach Damaris Pereira Santana Lima, está em sua tentativa articular o legado da língua e cultura guarani com o espanhol, incorporando a historiografia e a memória. Como intelectual, acabou questionando conceitos de Verdade e de Poder, através da paródia, da ironia, da intertextualidade. Em seus textos, a voz narrativa desempenha um papel estético e político.
“Ainda que narre fatos passados, Roa Bastos fala a partir do presente com suas tensões, seus conflitos e carências. Sua narrativa busca revisitar o passado histórico com o objetivo de rememorar o que não se deve esquecer para que esta mesma história não se repita”, comenta.
Damaris aproveita para explicar que a literatura do escritor paraguaio nos ensina uma lição muito valiosa: “Roa Bastos nos leva à reflexão sobre a situação política da América Latina com ditaduras militares, governos
54 n. 12
Foto: Internet
Ditadores conhecidos pela brutalidade de seus regimes, Pinochet (à direita) e Alfredo Stroessner, em 1974, durante desfile público
Linguística, Letras e Artes
autoritários marcados por violência e repressão institucionalizada, com regimes que impõem uma “verdade oficial” que sancione e legitime seu poder e sua ideologia, faz com que as literaturas desses países se constituam em campos de resistência, onde os intelectuais contestam o discurso imposto e suas práticas discursivas”.
O teor historiográfico que emana da obra literária de Roa Bastos, como indica a professora, constitui o locus ficcional da reflexão sobre a história. Desse modo, o discurso ficcional encontrado em seus livros é produzido pelos tensionamentos de um escritor que
vive o tempo presente no contexto do exílio e da crise da redemocratização.
Sua narrativa se vale do discurso produzido sobre o passado como instrumento de discussão do presente a partir de sua visão. Assim, sua obra apresenta sua visão não só de um acontecimento passado, mas também do discurso histórico produzido e sua relação com o presente. O objetivo de Roa Bastos é revisitar o passado esquecido ou mascarado pelos interesses dos detentores do poder e também de reelaborar o discurso histórico, fazendo sua transposição para um discurso ficcional, utilizando-se da metaficção e da intertextualidade”.
A pesquisa O lugar da História na narrativa autobiográfica em Contravida de Augusto Roa Bastos surgiu justamente como veículo para mostrar como literatura, cultura, história, memória, mito e imaginário coletivo nacional se articulam na construção das produções ficcionais e artísticas que são representativas da cultura e identidade paraguaia. Esse objetivo é norteador do projeto de pesquisa Latino-américa interdisciplinar: Literatura e Cultura Paraguaia coordenado pela professora Damaris.
A partir desses estudos, Damaris, junto com seus orientandos, buscam contribuir para um diálogo epistêmico entre os estudos literários e os estudos culturais da América Latina. Nesse contexto, o trabalho sobre Roa Bastos é um exemplo das discussões que são realizadas sobre as obras literárias e manifestações culturais do povo paraguaio. A partir das análises, é possível demonstrar como a ficção articula-se com outras disciplinas. A professora comenta: “Trabalhamos com textos literários de autores paraguaios e de autores de outros países da América Latina, que vivam em condição de transfronteiridade, quando pertinente e necessária a comparação, avaliar a ação do artista/escritor e sua possibilidade de intervenção na sociedade e também revisitar os conceitos de identidade, história, memória, subalternidade, crítica biográfica, hibridismo, crítica biográfica fronteiriça, fronteira, estudos periféricos, etc. Sim, eu acredito que há muito o que desvendar sobre a história da América Latina, e no caso, da história e memória do Paraguai sob a lupa do vencido também, não apenas sob a lupa dos vencedores”.
Estudos como estes acabam por revelar que contra a vida diária, haverá sempre a palavra como possibilidade suprema de novos caminhos, e a ficção é a linha de corte.
55 n. 12
Greve geral de trabalhadores em 1958 foi duramente reprimida
Oposicionistas eram perseguidos durante regimes ditatoriais
A ditadura militar paraguaia durou 35 anos, entre 1954 e 1989 Internet
Foto:
Foto: Internet Foto: Internet
42 anos de dedicação
Mesmo após pedir sua aposentadoria o servidor não conseguiu ficar longe de sua segunda casa
Há mais de 40 anos, em março de 1982, Eduardo Aparecido Botelho, se mudou para Aquidauana. Paulista da cidade de Rancharia, encontrou na pequena cidade de Mato Grosso do Sul uma possibilidade de construir família, se formar e ter estabilidade profissional.
Seu pai foi o primeiro a se mudar para a cidade, após conseguir uma oportunidade de exercer a profissão de professor de Educação Física. Seis meses depois, a mãe e seus quatro irmãos chegaram à Aquidauana. Em sua cidade natal, Eduardo trabalhava
como recepcionista em uma concessionária de carros e ao chegar a Mato Grosso do Sul trabalhou durante quatro meses como cobrador em uma loja de imóveis. No dia 13 de agosto, mais especificamente em uma sexta-feira, foi chamado para trabalhar no Câmpus de Aquidauana. Há época não era necessário o concurso público. “Consegui a vaga através de um pedido do desembargador, que na época também era presidente do Tribunal de Contas do estado, Rudel Trindade, foi ele o responsável por me colocar lá dentro”, comenta.
56 n. 12 Memória
Texto: Lizandra Rocha (bolsista do Programa de Rádio e TV voltado para Educação e Conscientização do Trânsito) Fotos: arquivo do servidor
Eduardo começou a trabalhar na Universidade como técnico-administrativo com 20 anos de idade, e hoje, com 62 anos, não pensa em aposentar
Do tempo em que trabalha na Instituição já foi assistente em administração e já serviu todos os setores, sendo secretário de Departamento, secretário de Direção e como responsável pelos funcionários da Coordenação Administrativa.
Além de Assistente administrativo, também é cerimonialista e já realizou mais de 185 cerimônias de colação de grau, participou em mais de três mil formações de profissionais e sente muito orgulho de todos esses feitos. Para ele, todas essas realizações mostram que é uma pessoa dedicada e não tem medo de enfrentar novos desafios. “Sempre fui capaz de me identificar e me dar bem com as pessoas, fazendo até mesmo um curso de cerimonial. Hoje em dia sou também cerimonialista de vários cursos da instituição dentro e fora do estado, levado pela própria Universidade.”
Novos aprendizados
No tempo em que começou a trabalhar no Cpaq, ainda não tinha formação em um curso superior, e na época só existiam 5 cursos ofertados
pela Instituição, mas nenhum chamava sua atenção. Após participar de uma reunião em Campo Grande como cerimonialista, se interessou pelo curso de Economia ofertado por uma Universidade privada, se inscreveu e foi aprovado. “A área de Economia me interessou e me esforcei para entrar no curso, pois eu precisava ter pelo menos um curso superior para subir meu nível e melhorar meu salário”.
Para cursar a graduação, Eduardo se deslocava para Campo Grande em um ônibus que fazia percurso de uma cidade para outra. Foram dias cansativos, mas de muita vontade de aprender e se aperfeiçoar. Quatro anos depois, concluiu o curso em dezembro de 1993, se tornando oficialmente um economista.
Conquistas
Aos 62 anos de idade, Eduardo é casado, pai de Miriam e Eduardo e avô de duas crianças, e dedica a maior parte de seu tempo como servidor administrativo do Cpaq. Até já pensou em se aposentar, mas voltou atrás da decisão. “Pedi minha aposentadoria em 2019, mas não consegui ficar longe da Instituição, então solicitei minha reversão e retornei para a Universidade em 2021, onde me encontro feliz em poder continuar servindo”, relata.
O servidor diz que nesses 42 anos de empenho, muita coisa em sua vida mudou para melhor, e o que mais se orgulha é saber o quanto contribuiu para a formação de vários estudantes. Ao longo desses anos de trabalho também construiu amizades e ressalta que todas as pessoas são capazes de realizar algo, basta ter cordialidade e respeito. “Me proponho a me dar bem com todos, respeitando, ajudando e tendo um bom convívio, porque eles são considerados membros de minha família”.
Cícero Lamb trabalha no mesmo setor que Eduardo desde 2019, mas explica que conhecia o amigo desde quando cursava Licenciatura em Geografia na Instituição. Para ele, o servidor sempre foi muito prestativo e está sempre disposto a ajudar as pessoas no momento em que for necessário. “Mesmo com mais tempo de
57 n. 12
Eduardo constituiu família em Aquidauana, é casado, tem dois filhos e dois netos
ceptível o prazer que tem em fazer o que ele faz, e como ele mesmo diz: ‘Aqui é a paixão dele’ ‘’, comenta Cícero.
Foi por meio da UFMS que conseguiu ser bem sucedido na vida profissional e pessoal. “Me dedico muito na instituição e acredito que seja por isso que consegui retornar depois de pedir minha aposentadoria. Já participei de muitas coisas e por isso sou considerado um livro aberto da instituição, porque sei contar a história”.
Para o servidor, a Universidade como um todo contribuiu muito para ser a pessoa que é hoje, sua satisfação e amor é tanta que considera a UFMS sua segunda família, declarando que não consegue viver sem ela, e que só sairá pela aposentadoria de idade. “Vocês moram no meu coração, amo vocês”.
58 n. 12
Memória
Nessas quatro décadas, Eduardo também atuou como cerimonialista em colações de grau
O Câmpus de Aquidauana iniciou as atividades no ano de 1971, atualmente, oferece 9 cursos de graduação e 3 cursos de pós-graduação
serviço que eu, percebo que ele sempre está empenhado a fazer muito pelo crescimento da Instituição. É per-
60 n. 12 /ufmsbr @ufmsbr