Revista de divulgação científica da UFMS ANO 5 N. 12 AGOSTO 2022 Pág. 23 Pág. 10 Pág. 35 SABERES INDÍGENAS Como as universidades têm contribuído para um futuro melhor Entrevista Diretora do Detran-MS fala sobre parceria com a UFMS para educação no trânsito Missão Sustentável Ação na escola garante acesso à educação intercultural em aldeias
As coisas do mundo Vão se traduzindo E o tempo é o vento que vai conduzindo E a gente navega nos mares da vida aprendendo a viver Música “Aprendendo a Viver” de Renato Teixeira
Equilibre-se / Joilson Michael Artiaga de Barros
O brilho emitido pelo Candil tem o poder de transformar a noite em dia, a escuridão em luz... Luz do saber, do conhecimento, da consciência, da ciência.
No Paraguai, até o início do século XIX, o Candil era feito da garganta do boi, limpa e preenchida com a graxa retirada do animal, bem socada. No centro, um cordão es pesso era colocado para servir de pavio.
No Sudoeste de Mato Grosso do Sul (fronteira com o Paraguai) acontece o Toro Candil, prática cultural de ori gem ibérica, realizado por trabalhadores paraguaios que passaram a habitar o Sul do antigo Mato Grosso, após a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870).
No limiar dos 150 anos desse conflito de contexto mun dial, e, rememorando os quarenta anos de criação do estado, a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul lança sua primeira revista de divulgação da pesquisa no intuito de transpor os muros da academia, popularizando, assim, as ideias, o saber e a produção do conhecimento realizado na Instituição.
Reitor
Marcelo Augusto Santos Turine
Vice-Reitora Camila Celeste Brandão Ferreira Ítavo
Pró-Reitor de Administração e Infraestrutura Augusto Cesar Portella Malheiros
Pró-Reitor de Assuntos Estudantis Albert Schiaveto de Souza
Pró-Reitor de Extensão, Cultura e Esporte Marcelo Fernandes Pereira
Pró-Reitora de Gestão de Pessoas Gislene Walter da Silva
Pró-Reitor de Graduação Cristiano Costa Argemon Vieira
Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação Maria Ligia Rodrigues Macedo
Pró-Reitora de Planejamento, Orçamento e Finanças Dulce Maria Tristão
Diretora da Agência de Comunicação Social e Científica Rose Mara Pinheiro
Diretor da Agência de Educação Digital e a Distância Hércules da Costa Sandim
Diretor da Agência de Internacionalização e de Inovação Saulo Gomes Moreira
Diretor da Agência de Tecnologia da Informação e Comunicação Luciano Gonda
Diretora de Avaliação Institucional Caroline Pauletto Spanhol Finocchio
Diretor de Desenvolvimento Sustentável Leonardo Chaves de Carvalho
Diretora de Gabinete da Reitoria Sabina Avelar Koga
Diretora de Governança Institucional Erotilde Ferreira dos Santos
23 CAPA
05 Editorial
UFMS desponta em rankings internacionais
10 Entrevista
Ação na escola garante acesso à educação intercultural em aldeias
23
Sustentabilidade
Cidade Universitária: Av. Costa e Silva, s/nº, Bairro Universitário
CEP: 79070-900 - Campo Grande/MS (67) 3345-7000 | reitoria@ufms.br | www.ufms.br
39
Elijane Coelho fala da educação no trânsito 44 Saúde
Projeto traz a história da UEMT e UFMS 48
Educação
Narrativas da prática docente em Matemática
Atenção a acidentes com animais peçonhentos 17 Mulheres
Acessibilidade
Curso Básico de Língua Brasileira de Sinais no CPCS 21 Patente Compostos de ouro como agentes anticancerígenos 52 Economia
27 Extensão
Música e ritmo aproximam estudantes e servidores da Facom
Práticas Sustentáveis em Instituições de Ensino Superior 56 Memória
A dinâmica do mercado externo
Nilda Moreira e seus 50 anos de amor pela UFMS
UFMS avança na pesquisa científica com foco na internacionalização
Oano de 2022 está acabando, vivemos mui tos desafios e alinhamos muitas estratégias após um período de urgência da pandemia, que obrigou as instituições a mudarem prioridades e objetivos para muitas iniciativas digitais. A nossa Universidade pautada no plano estratégico de gestão e governança, junto com a comunidade universitária, enfrenta novos desafios e mudanças de expectativas para sustentar as missões de Educação e de pesquisa científica e tecnológica, enquanto cria oportunidades de vantagem competitiva nacional e internacional.
Temos cumprido nossa missão institucional, so mos uma das melhores do mundo e destaques em Mato Grosso do Sul e no Centro-Oeste, abrindo novas opor tunidades internacionais, ultrapassando as fronteiras culturais, linguísticas e sociais.
Como grande presente por nossa dedicação, já estamos colhendo frutos e despontando em todos os rankings internacionais. A conquista de selo ambien tal s e a certificação de gestão e governança no MS Competitivo, em conjunto com a FNQ - Fundação Nacional da Qualidade, demonstra que nosso alicer ce é sólido porque vem sendo construído com muita gestão, governança e sustentabilidade.
A assinatura do acordo de cooperação com a Uni versidade de Kenitra, universidade pública no Marrocos, marca a história dos dois países, pois é a primeira ini ciativa entre universidades do do Brasil e do Marrocos, e celebra as oportunidades internacionais para nossos jovens vivenciarem culturas distintas e novas experi ências acadêmicas e profissionais. Em paralelo, nossos pesquisadores irão além das demandas nacionais, com partilhando informações e recursos que podem trazer soluções para vários problemas comuns enfrentados pe los países dos continentes Africano e da América do Sul.
Nesta edição da revista, destacamos exemplos de parcerias estratégicas, como o Projeto Saberes Indíge nas na Escola, que reúne 24 instituições de sete redes
Candil | Ano 5, N.12, Agosto de 2022
Expediente
para promover a formação continuada de professores daeducação básica, e o Programa de Rádio e TV para a Conscientização e Educação no Trânsito, por meio de acordo com a Fundação Estadual Jornalista Luiz Chagas de Rádio e TV Educativa de Mato Grosso do Sul, a Fundação de Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura e o Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul.
No âmbito das pesquisas, merece destaque a inves tigação sobre animais peçonhentos do Estado de Mato Grosso do Sul, para redução de acidentes. O avanço no número de patentes e de transferência de tecnologia tam bém é notável, com destaque para o registro do uso de composto contendo ouro para a cura do câncer.
As histórias entrelaçadas, que misturam matemá tica e literatura; música e computação; as memórias das Mulheres na UFMS; as políticas de desenvolvimen to do estado; as aulas gratuitas de Libras; e o amor de mais de 50 anos pela nossa Universidade, da técnica Nilda Moreira, são exemplos vivos da nossa gente e da nossa comunidade. O orgulho de ser UFMS!
A importante missão da UFMS com a sustentabili dade é destaque entre as instituições federais de ensino superior do país, incentivando a aplicação tendo como foco o atendimento dos 17 Objetivos de Desenvolvi mento Sustentável (ODS) da ONU em todos os câm pus da UFMS, para que nossa UFMS esteja cada vez mais presente e ao mesmo tempo cada vez mais pre parada para os desafios do futuro que aguardam as próximas gerações. Ótima leitura!
Grande Abraço, Marcelo Turine Reitor 2020-2024
Produção: Agência de Comunicação Social e Científica (Agecom)
Contato: agecom@ufms.br | www.agecom.ufms.br | (67) 3345-7024 - Av. Costa e Silva, s/n - Cidade Universitária
Campo Grande - MS - CEP 79070-900
Coordenação: Rose Mara Pinheiro (MTb 21.528 - SP)
Reportagem: Ariane Comineti, Crislaine Oliveira, Mylena Rocha, Thalia Zortéa, Thayná Oliveira e Vanessa Amin
Bolsistas do Programa de Rádio e TV voltado para Educação e Conscientização do Trânsito: Letícia Dantas, Lizandra Rocha e Maurício Aguiar
Diagramação: Marina Arakaki ISSN 2596-2159 | e-ISSN 2764-3603
5 n. 12
Foto: Leandro Benites
Editorial
Este ano, o maior evento científico de Mato Gros so do Sul, o Integra UFMS 2022, será realizado no formato híbrido, com apresentações presen ciais, seminários digitais e atividades culturais. O evento ocorre entre os dias 24 e 28 de outubro, na Cidade Universitária.
Estudantes de graduação e de pós-graduação, professores, técnicos e egressos irão apresentar tra balhos ligados a projetos, programas ou ações insti tucionais de extensão, ensino, pesquisa, empreende dorismo e inovação.
“Estamos trabalhando para uma edição de apre sentações presenciais, que não ocorrem desde 2019. Esperamos realizar uma verdadeira festa acadêmica, com massiva participação de estudantes e servido
res na apresentação de trabalhos institucionalmente aprovados na UFMS”, ressalta coordenadora do even to, Liana Duenha.
Outra novidade deste ano é que os estudantes poderão apresentar seus trabalhos para alunos do ensino fundamental e médio, em escolas de Campo Grande e nas nove cidades onde há câmpus da Uni versidade. A iniciativa tem como objetivo promover a popularização da ciência.
UFMS firma acordo com Universidade do Marrocos
Os trabalhos mais bem avaliados em cada ca tegoria serão premiados, seguindo os critérios de adequação ao programa ou ação vinculada, postu ra e desenvoltura dos estudantes na apresentação, domínio do tema, criatividade e qualidade dos materiais produzidos. de Governança, Economia e Finanças. O evento foi realizado nas cidades de Kenitra (Marrocos) e em Campo Grande.
O reitor Marcelo Turine destacou a importância da internacionalização da universidade. “Com essas parcerias, podemos aumentar a mobilidade, para que nossos pesquisadores possam conhecer outras realidades, outros movimentos científicos e também para fortalecer a formação dos nossos estudantes, que possam fazer esse intercâmbio”, destacou.
AUFMS firmou um acordo de cooperação in ternacional com a Universidade IBN Tofail, do Marrocos. A parceria abre possibilidade para a mobilidade de pesquisadores e estudantes, e permitiu a realização da Conferência Internacional
A cooperação entre as universidades ainda vai possibilitar que os estudantes tenham acesso à dupla diplomação, ou seja, que a formação seja válida nos dois países. “Há uma janela de oportunidades, tanto para estudantes como para professores”, comemorou o diretor da Esan.
6 n. 12 Notas
Evento reúne trabalhos técnicos, científicos, artísticos e culturais ligados às áreas da extensão, ensino, pesquisa, empreendedorismo e inovação
Parceria possibilita o intercâmbio e a realização de eventos binacionais
Maior evento científico do estado reúne mais de 1,1 mil trabalhos
Mylena Rocha
Foto:
Abertas inscrições para mais de 1,2 mil vagas de mestrado e doutorado
As vagas estão sendo oferecidas na Cidade Uni versitária e nos Câmpus de Aquidauana, Cha padão do Sul, Três Lagoas e do Pantanal. Po dem participar brasileiros e estrangeiros portadores de diploma devidamente registrado no Brasil.Cada candidato poderá se inscrever em apenas um curso de mestrado e/ou doutorado. A inscrição é gratuita e deve ser feita no Portal da Pós-Graduação.
A seleção será on-line é composta pela prova de línguas, e pela avaliação de mérito. Todas as orienta ções para os candidatos estão no edital de seleção. no portal da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação.
OFestival Universitário da Canção (FUC), o mais tradicional festival de música do esta do, recebeu inscrições para duas categorias: Canção Popular e Canção de Câmara.
Uma comissão avaliadora será responsável pela seleção das canções que serão apresentadas e gravadas ao vivo no Teatro Glauce Rocha para votação popular. Os vídeos serão exibidos no canal da TV UFMS e as canções vencedoras serão aquelas que tiverem maior número de votos. Serão distribuídos R$ 32 mil em prêmios, sendo R$ 8 mil para melhor canção popular; R$ 8 mil para a melhor canção de câmara; R$ 4 mil para melhor intérprete; R$ 8 mil para compositor re
velação e R$ 4 mil para melhor poesia original (letra). Desde a primeira edição em 1987, o objetivo do evento é estimular e revelar jovens talentos compo sitores e intérpretes.
“O FUC tem uma importância muito grande para a Universidade porque mantém a nossa vanguar da, nosso caráter inovador. Desde os anos de 1970, a UFMS tem se constituído em um polo, um espaço de produção e difusão artística. Almir Sater, a família Espíndola, grandes nomes da nossa música passaram pelo movimento cultural da UFMS. E, hoje, o Festival mantém essa chama acesa”, destaca o pró-reitor de Extensão, Cultura e Esporte Marcelo Fernandes.
7 n. 12
Festival Universitário da Canção distribui R$ 32 mil em prêmios
As canções selecionadas no Festival Universitário da Canção em 2021 receberam mais de 50 mil visualizações no canal da TV UFMS do Youtube
Foto:
TV UFMS
O processo seletivo será totalmente on-line e as inscrições são gratuitas
Semana de Desenvolvimento
mais de 3 mil pessoas
em todos os câmpus da Uni versidade.
As atividades foram mi nistradas por professores, pro fissionais indicados por insti tuições parceiras e egressos da UFMS. Os participantes pude ram entrar em contato com as suntos específicos de cada pro fissão e também conteúdos que podem ser aproveitados por em sua formação como dicas para se dar bem no estágio, como preparar um bom currículo, formas de empreendedorismo na Universidade etc.
Asexta edição da Semana de Desenvolvimen to Profissional promoveu cerca de 130 ações presenciais e on-line, como palestras, mi nicursos, workshops, rodas de conversa, oficinas, mesas redondas, webinário, conferências e atrações culturais, entre outras, para mais de 3,3 mil inscritos
Também foi feita uma programação específica volta da às mulheres empreendedo ras e inovadoras, com ações em diversos câmpus, como parte do programa “Sou Mu lher UFMS”. As palestras e mesas-redondas aborda ram sobre inovação e empreendedorismo, trabalho, diversidade e inclusão, violência de gênero e desafios e oportunidades nos negócios.
Medicina do Câmpus de Três Lagoas recebe reconhecimento internacional
AComissão Educacional para Graduados Es trangeiros em Medicina reconheceu o curso de Medicina do Câmpus de Três Lagoas. O reconhecimento permite que os estudantes brasileiros possam pleitear vagas em residências médicas nos Estados Unidos, após a conclusão do curso, e também permite estágios remunerados em pesquisa.
“O benefício se estende aos professores na medi da em que estudantes que forem aos Estados Unidos possam colaborar com pesquisas em cooperação en tre os dois países”, explica o estudante Fabiano Rocha, que sugeriu a busca pelo credenciamento.
Para o diretor do Câmpus de Três Lagoas, Os mar Jesus Macedo, o reconhecimento traz mais uma oportunidade de desenvolvimento da carreira aos es tudantes da UFMS. “Isso significa que o ingresso dos nossos egressos em instituições internacionais poderá facilitar parcerias futuras no sentido de melhorar a qualidade de nossas pesquisas e da qualificação de nossos docentes”, comentou.
O curso de Medicina de Três Lagoas foi im plantado no ano de 2014 e foi classificado com nota cinco no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes.
8 n. 12 Notas
Foto: Arquivo
Reconhecimento facilitará parcerias do Câmpus com outras instituições
Profissional recebeu
Palestra de abertura com Deyvid Michel do Senac abordou os desafios no mercado de trabalho
Foto: Ariane Comineti
Arraiá UFMS arrecada mais de uma tonelada de alimentos para doação
Avolta às aulas do segundo semestre letivo foi marcada pela festança com o Arraiá UFMS na Cidade Universitária e nos câmpus. As cele brações foram abertas a toda a comunidade entre os dias 4 e 13 de agosto, com direito a atrações musicais, danças, comidas típicas e muita diversão.
A animação tomou conta dos Câmpus de Aqui dauana, Coxim, Naviraí, Nova Andradina, Paranaíba,
para instituições filantrópicas de Campo Grande Ponta Porã, Três Lagoas e do Pantanal, em Corumbá. Para o reitor Marcelo Turine, a Universidade também tem a missão de transformar vidas. Ele des tacou que o Arraiá foi bem sucedido e que há intenção de promover novos eventos, que envolvam a cultura e a solidariedade. “Buscaremos fazer assim cada vez mais. Queremos unir mais as pessoas, em prol da vida, de ajudar, esse é o nosso sonho”, enfatizou.
Universidade é a única do Mato Grosso do Sul nos rankings internacionais
AUFMS se destaca, mais uma vez, no Ranking Mundial de Universidades da publicação britâ nica Times Higher Education. Na classificação global, a Universidade ocupa a faixa 1501+. Já entre as instituições brasileiras, a Universidade fica em 29º lu gar. Foram avaliadas 1.799 instituições de 104 países.
A QS Quacquarelli Symonds, analista britânica de Educação Superior e responsável pela publica ção do QS World University Rankings, apontou a UFMS como a única universidade pública do es tado listada no ranking latino, ocupando a posi ção 151-160. Entre as universidades brasileiras, a Instituição ocupa a faixa das 46 melhores do país. Foram avaliadas 428 instituições em 20 países. Publicado em agosto, o Ranking Acadêmico das Universidades do Mundo 2022, desenvolvido pela Shangai Ranking Consultancy, mostra a UFMS entre as mil melhores instituições de Ensino Superior em escala global e entre as 21 universidades brasileiras.
9 n. 12
UFMS desponta como uma das melhores instituições do Brasil e do mundo
Alimentos foram arrecadados durante Arraiá na Cidade Universitária e encaminhados
Foto: Thayná Oliveira
Graduada em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda pela Universidade Católica Dom Bosco e em Educação Física pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Elijane Coelho especializou-se em Aprendizagem Motora pela Universidade de São Paulo. No Detran MS, atuou como assessora na Divisão de Comunicação Social, examinadora de trânsito e assessora na Diretoria de Educação para o Trânsito, antes de assumir a diretoria da unidade, em 2018. É membro da Câmara Temática de Educação para o Trânsito do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) para o biênio 2022/2023. Nesta entrevista, Elijane fala do Programa de Rádio e TV para Educação e Conscientização no Trânsito, uma parceria inédita com a UFMS, Fertel e Fapec.
Texto: Ariane Comineti
Fotos: Andrea Moringo, Nilson Young e Ariane Comineti
10 n. 12 Entrevista
Há quanto tempo trabalha no Detran MS e neste setor com a educação?
Comecei no Detran MS em 2001, em atividades administrativas, mas logo fui convidada para traba lhar na assessoria de comunicação, por ter formação nesta área. Depois concluí o curso de Educação Física e, em seguida, uma especialização em Aprendiza gem Motora. Paralelamente, me juntei a um grupo de ciclistas e comecei a organizar atividades voltadas para a promoção do uso da bicicleta como meio de transporte. Apresentei um projeto neste sentido para a diretora de educação para o trânsito na época, e ela me convidou para sua equipe. Segui colaborando nesta área apaixonante, e as coisas foram acontecen do até que fui convidada, em outubro de 2018, para assumir esta diretoria.
O que seria a Educação para o Trânsito e qual sua importância para a sociedade?
Educação para o Trânsito é competência de todo órgão executivo de trânsito, como os Detrans, isso é definido em lei, o Código de Trânsito Brasileiro. Ela envolve três grandes pilares: a formação de conduto res, a educação no ambiente escolar e a comunicação com a sociedade.
Na formação para condutores temos ações que envolvem desde a primeira habilitação nas autoes colas; à habilitação para conduzir veículos de maior porte, que seriam as mudanças de categoria; à forma ção de condutores especializados, que seriam os de transporte coletivo, movimentação de cargas perigo sas, veículos de emergência, entre outros; à formação direcionada aos profissionais do trânsito, que seriam
Bicicletice - Escola de Bicicleta
Elijane trabalhava como terceirizada na área de Comunicação do Detran MS quando resolveu buscar opções profissionais e cursou Educação Físi ca na UFMS. Ainda no primeiro ano de faculdade, surgiu o concurso do Detran, por meio do qual foi efetivada na área administrativa.
Afeiçoada à nova graduação, seguiu buscan do conhecimento e encontrou a especialização da USP em Aprendizagem Motora. Resolveu utilizar o conteúdo primeiro para si, planejou e colocou em prática um plano de corrida, até sentir dores que a levaram ao diagnóstico de uma lesão que poderia piorar caso continuasse.
Como já tinha irmãos que praticavam o ci clismo buscou orientações para então reiniciar a atividade, que já havia realizado de forma lúdica na infância e adolescência. Com o apoio do irmão e do grupo de pedal do qual ele participava, descobriu que muitos dos desconfortos que sentia antes era porque não tinha conhecimento na área. Partici pando também do grupo, percebeu que muitas pes soas gostariam de se juntar a ele, mas não sabiam andar de bicicleta.
Elijane pensou em como poderia ajudar e lem brou que mesmo sua mãe, que a havia ensinado na infância, também não sabia ainda. Revisitou então seus materiais da pós e a teve como primeira aluna.
Em paralelo às atividades no Detran MS, co meçou as aulas particulares para adultos e logo surgiram pedidos para ensinar também crianças.
Por considerar esse momento familiar, montou uma palestra voltada aos pais com a metodologia para o ensino, mas mesmo assim seguiam sur gindo pedidos, então passou a ensinar também crianças e adolescentes.
Elijane desenvolveu um método de ensino próprio, começou por volta de 2012 e hoje todos os seus finais de semana são tomados pelas au las particulares. Recentemente retomou a ideia de proporcionar aos pais o ensino aos filhos, por isso realiza também oficinas com três famílias por vez, onde atua como facilitadora. A ação foi intitulada “Bicicletice - Escola de Bicicleta”.
Ensinando a aluna Maitê Azambuja Garcia no projeto “Bicicletice - Escola de bicicleta”
11 n. 12
Foto: Nilson Young
instrutores e diretores de autoescola, examinadores de trânsito e agentes de fiscalização, entre outros; e as respectivas atualizações.
No aspecto voltado ao ambiente escolar temos a Base Nacional Comum Curricular que estabelece que a Educação para o Trânsito deve ser um tema contemporâneo transversal, que deve ser trabalhado durante todo o ensino regular, da Educação Infantil ao Ensino Médio. E o que seria isso? Seria, por exemplo, o professor de Educação Física, quando estiver ensinando noção espacial, pode aplicar ali coisas relacionadas ao trânsito, se você per cebe a velocidade que a bola que o colega jo gou está vindo até você, você consegue perceber a velocidade daquele veículo que está vindo, para você saber se dá ou não pra você atravessar a rua. Então tem uma série de temas que a BNCC coloca pros professores trabalharem dessa forma, um deles é o Trânsito. Então desenvolvemos projetos para dar suporte a eles, como, por exemplo, nosso projeto mais antigo que é o “Detranzinho - Cidade Escola de Trânsito”. É uma minicidade aqui na sede do Detran MS que as crianças vêm, visitam, participam de várias atividades, mas o projeto não diz respeito apenas a essa visita, para participar a escola precisa promover atividades anteriores e posteriores relacionadas ao tema e nossa equipe dá todo o suporte para essas ações. E temos ainda diversas outras iniciativas no ambiente escolar.
publica anualmente uma resolução na qual esta belece um tema e um calendário com os aspectos a serem abordados em cada mês. Não é algo que precisamos seguir estritamente, podemos fazer adaptações conforme a localidade, mas é um norte, um direcionamento. Neste ano o tema é “Juntos salvamos vidas”, com essa orientação fazemos nos sas campanhas educativas.
Educação para o Trânsito é competência de todo órgão executivo de trânsito, como os Detrans, isso é definido em lei, o Código de Trânsito Brasileiro. Ela envolve três grandes pilares: a formação de condutores, a educação no ambiente escolar e a comunicação com a sociedade
Há quanto tempo existe essa Diretoria específi ca no Detran MS e quais são suas atribuições?
Quanto à estrutura administrativa, cada ór gão tem autonomia para definir a sua. Aqui no Mato Grosso do Sul, por exemplo, havia uma di retoria única que tratava de educação e de habili tação. Em 2015, houve uma mudança nesta es trutura e foi criada uma diretoria específica para cada um desses assuntos, que são de grande demanda.
A Diretoria de Educação trata hoje de programas de Educação para o Trânsito nas escolas, do Detran zinho, de ações e campanhas para todos os públicos, de campanhas de mídia, do credenciamento, fiscali zação e apoio pedagógico aos Centros de Formação de Condutores e entidades de Ensino a Distância, e de cursos de formação e atualização de condutores e profissionais do trânsito.
E o terceiro aspecto da Educação para o Trân sito, seria a comunicação com a comunidade em geral, as campanhas educativas. O objetivo é falar com o cidadão que está no trânsito todos os dias, que já passou pelo processo de formação e que precisa ter o comportamento seguro para preser var sua vida e a do próximo. A comunicação com esse público é muito importante e aí entram as campanhas de mídia, as datas especiais que são o Maio Amarelo e a Semana Nacional do Trânsi to, que acontece em setembro, entre outras. Nós seguimos o Conselho Nacional de Trânsito, que
É responsável também pelo programa CNH MS Social, que é novo, foi instituído em lei e trata do custeio da habilitação para pessoas em vulnerabili dade social. Por meio dele o Detran MS irá abrir mão das taxas, dos custos do processo de habilitação e também custear os serviços de terceiros necessários ao processo, como psicólogos, médicos, autoescolas, entre outros. Temos muitos desafios, estamos em fase inicial, no momento de contratação desses terceiros. Em 2022 serão cinco mil benefícios, tivemos uma grande procura, com quase 60 mil inscritos. É um programa que abrange todo o estado, o Detran MS tem 11 regionais e a distribuição das oportunidades foi feita proporcionalmente à população dessas re giões. A lei é permanente, então a tendência é que
12 n. 12 Entrevista
a cada ano a quantidade de benefícios aumente, a depender do orçamento, e que consigamos dar cada vez mais dinamismo ao programa.
Quais são os principais aspectos sociais, aspectos técnicos e as problemáticas identificadas no Estado de Mato Grosso do Sul com relação ao trânsito, ao uso das vias públicas?
O trânsito é um sistema complexo, que envol ve a organização urbana, engenharia, fiscalização entre outros aspectos. Sobre o comportamento das pessoas no trânsito, que é o trabalho da educação,
as problemáticas estão no uso de álcool e direção, em manipular o celular enquanto conduz e no ex cesso de velocidade.
Como estão os indicadores estaduais em relação ao país nos últimos anos? E ao que a Sra. atribui esta situação?
O grande desafio atual é alinhar as estatísticas de trânsito de forma correta. Para isso foi desenvol vido um sistema nacional de estatística denominado Registro Nacional de Acidentes e Estatísticas de Trân sito. O objetivo é entender realmente a sinistralida
Distribuição de Mortalidade por Acidente de Transporte Terrestre 2011 a 2021, Mato Grosso do Sul
13 n. 12
Fonte: DataSUS/MS
de viária e criar estratégias de enfrentamento com o objetivo de salvar vidas. Em relação a sinistros de trânsito, tivemos uma redução significativa nos últi mos anos, como mostra o gráfico anexo.
Quais são as ações programadas para esta situação?
A Lei 13614/2018 criou o Plano Nacional de Re dução de Mortes e Lesões no Trânsito (Pnatrans). Esse plano envolve seis pilares e 164 ações voltadas para segurança viária. Os pilares são: Gestão da Segu rança no Trânsito; Vias Seguras; Segurança Veicular; Educação para o Trânsito; Atendimento às Vítimas e Normatização e Fiscalização. O plano é bem deta lhado, cada pilar traz iniciativas, cada iniciativa traz sub-iniciativas e cada sub-iniciativa traz as ações que devem ser realizadas. Em cada ação temos os indi cadores relacionados a ela, o público-alvo, as metas e o órgão responsável, porque o Pnatrans engloba todos os órgãos e entidades envolvidas na segurança no trânsito. A gestão em Mato Grosso do Sul é feita pelo Conselho Estadual de Trânsito, que coordena a execução. Apesar de o plano ser relativamente novo, entrou em vigor em 2021, aqui no MS já temos muito engajamento nas ações.
Um dos projetos mais recentes voltados à Edu cação para o Trânsito é o realizado por meio de uma parceria com a UFMS, a Fundação de Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura (Fapec) e a Fun dação Estadual Jornalista Luiz Chagas de Rádio e
TV Educativa de Mato Grosso do Sul (Fertel MS), intitulado “Programa de Rádio e TV voltado para Educação e Conscientização do Trânsito”. Como se deu essa parceria entre as instituições?
Temos essa demanda de fazer a comunicação com o público em geral, especialmente o público adulto que está no trânsito no dia a dia e que precisa ser cada vez mais consciente, ter um comportamento seguro. Precisamos reduzir o número de sinistros, que são decorrentes de imprudências explícitas como excesso de velocidade, uso de álcool e direção, en tre outras. São coisas que as pessoas já sabem que é perigoso, mas insistem, então precisa haver uma mudança cultural. E para essa mudança cultural pre cisamos dessa comunicação em massa, eficiente. Por conta dessa necessidade, fomos falar com o pessoal da Fertel MS para pensarmos como, em colaboração, utilizarmos os canais que são do estado. As conversas evoluíram e surgiu a possibilidade de a UFMS ser participante do convênio. Foi uma ideia que achamos sensacional, por conta do frescor acadêmico e por conta também da metodologia. Prezamos muito por uma coerência científica no que estamos fazendo e também por ações inovadoras, novas abordagens e linguagens. Estamos habituados ao assunto, então talvez nossa forma de falar possa muitas vezes soar muito técnica. Assim, pensamos em reforçar a comu nicação dessa maneira, para mudar comportamentos precisamos ir emitindo mensagens contínuas e acho que essa parceria será excelente nesse sentido.
Parceria UFMS, Fapec e Fertel
O Programa de Rádio e TV voltado para Educação e Conscientização do Trânsito sur giu em 2021 e após o desenvolvimento conjunto entre as instituições, a assinatura do convênio para execução do projeto foi efetivada em maio de 2022. O objetivo é contribuir para a conscien tização da população em geral do estado, sobre os cuidados com o trânsito, numa linguagem acessível e atual. Com a participação dos estu dantes da UFMS, o intuito é também ampliar a formação dos profissionais em todos os Câmpus. Além de equipes no Detran MS, Fertel e Fapec, na Universidade a ação envolve 15 servidores, 17 profissionais e 30 estudantes bolsistas dos cur
sos de Jornalismo, Audiovisual, Artes Visuais, Música, Letras, Direito, Administração, Histó ria, Geografia, Pedagogia, Turismo, Agronomia e Sistemas de Informação.
A principal atividade é o desenvolvimento de materiais, programas e boletins para rádio, TV e mídias, para intensificar a conscientização sobre o trânsito. Os materiais serão produzidos pelos bol sistas orientados e acompanhados pelos professores. O programa envolve os veículos de comunicação da UFMS, como a Rádio Educativa UFMS 99.9, a TV UFMS, da Fertel, como a Rádio Educativa 104 FM e a TV Educativa, além dos canais do Detran MS, além de canal no Spotify e perfil no Instagram.
14 n. 12 Entrevista
O Detran MS já realizou algum projeto semelhante anteriormente?
Sim, já realizamos um programa de auditório vol tado para estudantes do ensino médio. O nome do programa era “Se Liga”, tinha uma parte de informação e um jogo de perguntas em que uma escola com petia contra a outra. A TVE foi parceira neste programa. Já temos outros convênios em parceria com a UFMS e a Fapec, todos rela cionados com educa ção e funcionando muito bem. O que sempre existiu também foi a necessidade de levar as mensagens de educação para todos os públicos, e a televisão e o rádio ainda são excelentes veículos de massa.
Por que é interessante envolver os estudantes no desenvolvimento dos materiais informativos?
A participação dos estudantes é o principal dife rencial neste projeto. Precisamos desenvolver ideias novas, que atinjam as pessoas e as motivem a terem comportamento seguro no trânsito. O estudante está com a mente aberta para isso e antenado com as no vas tecnologias. Esse frescor, junto com a vontade de aprender e a orientação dos professores da UFMS e
técnicos da Fertel, formam uma massa criativa e com petente que, certamente, chegará a ótimos resultados.
Qual a expectativa para a realização do projeto? De que forma avalia que esta parceria pode promover a conscientização no trânsito?
A A expectativa é cons truirmos uma comunicação leve e eficiente, que faça as pessoas refletirem sem ficar ditando regras. O trânsito está no dia a dia de todos, está na rua, em situações reais. Penso que, com esta equipe, vamos tratar deste tema onde e com quem ele acontece, sem ilusões.
Qual a importância de as áreas se unirem para promover a educação e a conscientização?
Temos consciência do papel da comunicação no sentido de levar informação e orientação à so ciedade. Sabemos que a imprensa é uma grande parceira. Podemos dizer que comunicação e edu cação são indissociáveis, especialmente quando se fala da educação aos que não estão na escola. É a comunicação que levará a mensagem educativa até o grande público. No Detran MS temos essa consciência e procuramos fazer este trabalho de parceria com os órgãos de imprensa.
15 n. 12
Apresentação sobre Educação para o Trânsito feita para a equipe participante do convênio entre UFMS, Fertel, Fapec e Detran MS
Foto: Andrea Moringo
A participação dos estudantes é o principal diferencial neste projeto. Precisamos desenvolver ideias novas, que atinjam as pessoas e as motivem a terem comportamento seguro no trânsito.
Elas na UFMS
Projeto de pesquisa resgata memórias da UEMT e UFMS com foco na carreira das mulheres na Universidade
Texto: Thayná Oliveira Fotos: arquivo UFMS
Com mais de 60 anos desde a sua origem e 43 de federalização, a UFMS carrega histórias que ainda não foram contadas. Na Faculdade de Ciências Humanas, a professora do curso de História Dilza Porto Gonçalves embarcou na missão de recu perar e preservar as memórias e vivências de profes sores, estudantes e técnicos da antiga Universidade Estadual de Mato Grosso (UEMT) e atual UFMS, com destaque para as carreiras das mulheres docentes e gestoras da Instituição.
Antes de se tornar Federal, a UFMS teve sua origem em 1962, com a criação da Faculdade de Far mácia e Odontologia, na cidade de Campo Gran de, quando o então estado de Mato Grosso ainda não havia se dividido. Em 1966, os cursos foram integrados ao recém-criado Instituto de Ciências Biológicas, trazendo também o curso de Medicina. No ano seguinte, pelo Governo de Estado de Mato Grosso, foi inaugurado, em Corumbá, o Instituto Superior de Pedagogia e, em Três Lagoas, o Instituto de Ciências Humanas e Letras. Com a união das três unidades, foi fundada a UEMT em 16 de setembro de 1969, federalizada dez anos depois.
A professora explica que a Universidade foi federalizada e expandida em um momento polí tico turbulento e acredita ser importante analisar
o modo como as relações de poder foram cons truídas dentro e fora da universidade e como tais relações políticas interferiram nas questões admi nistrativas e processos de escolha de docentes e gestores. “Eu comecei a pensar, justamente, porque as mulheres não ocupam cargos na política ou são poucas as mulheres [que ocupam], e aí eu come cei a olhar para a própria carreira acadêmica, que nós temos hoje um grande número de mulheres fazendo a carreira acadêmica e são ainda minoria nos cargos de gestão”.
Por isso, o foco inicial do projeto de pesquisa, idealizado pela professora, está sendo nas mulheres que atuaram ou trabalham em cargos de gestão na Universidade. O aporte teórico envolve a História Cultural com viés na História da Educação, Estudos de Gênero e a História Política de Mato Grosso de Sul.
A pesquisa está sendo feita com base em docu mentos oficiais da Universidade, vídeos produzidos pela Agência de Comunicação Social e Científica, notícias e reportagens de jornais e revistas e fotogra fias que fazem parte do acervo do Arquivo Central da UFMS. Também foram planejadas entrevistas com estudantes e docentes que tenham tido sua his tória entrelaçada com a Instituição. “Como é im possível entrevistar toda a comunidade acadêmica,
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Registros históricos por meio de fotos de servidoras ajudam a mostrar a participação das mulheres na construção da Universidade
optou-se realizar entrevistas com pessoas que, de alguma forma, estiveram envolvidas com o processo de criação da UEMT e/ou com a federalização da UFMS, ou que tenham trabalhado e/ou estudado por vários anos na Universidade”.
Para a conversa com os entrevistados, a pro fessora explica que é uti lizada a metodologia da História Oral, o uso de um gravador e um questioná rio preparado previamente. “O questionário é aberto. A minha análise, eu traba lho dentro da perspectiva da História Cultural com o conceito de representação. Então, não me interessa se aquilo é verdade verdadei ra, porque na História a gente não trabalha com essa concepção, a gente trabalha com versões da história e com o conceito de representação, o que aquilo que aquela pessoa está dizendo representa pra ela. Isso é mais importante de como o fato tenha ocorrido dessa ou daquela forma, mas como aquele fato interferiu na vida e no cotidiano das
mulheres, dessas pessoas que são entrevistadas”, complementa.
Até o momento, foram feitas entrevistas com nove professoras, quatro professores e um técni co-administrativo. Segundo Dilza, a divisão por gênero se deve aos impactos da docência superior serem diferentes para ho mens e mulheres. Entre as entrevistas participaram doutoras, mães, com idades que variam entre 40 e 60 anos, das áreas da Ciências Agrárias, Ciências Biológi cas, Educação, Ciências da Natureza, da Computação, das Engenharias, da Psico logia e da Medicina, sendo quatro delas aposentadas. “Embora não tenha analisado todas as entrevis tas com todas as mulheres docentes e nem concluí do as entrevistas, é possível perceber nessa pequena amostragem como as normas sociais estão intrínse cas, até mesmo com um grupo de professoras com alto grau de formação acadêmica e que são reconhe cidas pelo trabalho intelectual”.
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“A história das mulheres é diferente, mesmo na Universidade, mesmo com o curso superior”
Mulheres
Fonte:
numeros.ufms.br, em 2/9/2022
Sou Mulher UFMS
Em 2021, a Universidade lançou o Programa Sou Mulher UFMS para promoção da igualdade de gênero dentro da Universidade e busca criar melhores condições de estudo, permanência e de senvolvimento do trabalho ou carreira das mu lheres que compõem a comunidade universitária. As propostas são baseadas em três eixos: ingres so, permanência e sucesso feminino; incentivo ao Ensino, Pesquisa, Extensão, Empreendedorismo e Inovação; e ambiente acolhedor, no qual também é trabalhada a política de prevenção e enfrentamento ao assédio moral e sexual.
O programa também já realizou, junto da Campanha Eu Respeito, eventos para valorização das mulheres na gestão da Universidade e lives para combate à violência doméstica e familiar.
A UFMS também tem incentivado a lideran ça de mulheres em projetos de pesquisa por meio do programa Mulheres na Ciência. Os trabalhos devem ainda estar vinculados a pelo menos um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Em 2022, foram liberados até R$ 300 mil, sendo o máximo, por projeto, de R$ 10 mil, para inves timento em suas pesquisas.
Em 2022, as mulheres são maioria na Universi dade. São 16.252, entre acadêmicas, técnicas e pro fessoras. Dos mais de 26 mil estudantes, mais de 50% estão representados por elas. Em relação aos servi dores, o público feminino ainda é minoria, mas com uma pequena diferença. “É importante considerar que a história das mulheres é diferente, mesmo na Universidade, mesmo com o curso superior, as mu lheres têm mais dificuldade de chegar aos cargos de gestão e até mesmo concluir mestrado e doutorado”.
A pesquisadora destaca ainda a questão gera cional nas respostas coletadas. “As mulheres com 50 anos ou mais tiveram mais dificuldades para estudar e/ou trabalhar concomitante com a maternidade. As mulheres com 40 anos têm outra percepção, pois tem maridos/pais mais participativos. Porém, uma delas teve dificuldades para conseguir emprego na inicia tiva privada por ser casada e ser mãe”.
Das mulheres entrevistadas, apenas duas com idades distantes entre si não relataram dificuldades em relação à maternidade e ao trabalho acadêmico. “Embora uma delas tenha desistido de dar aulas na pós-graduação devido às exigências acadêmicas, preferiu ficar mais tempo com os filhos pequenos e acredita que fez essa escolha por conta do ‘instinto materno’. O que mostra que a representação do ‘dom’, do ‘instinto’ da maternidade é muito forte na socieda de patriarcal, que até mesmo mulheres cientistas não se dão conta da maneira como essas representações são construídas”, complementa.
As dificuldades para a presença e a permanência da mulher giram em torno do preconceito, do machis mo e da maternidade. “Todas elas sentiram muito falta,
as que são mães principalmente, de ter quem cuidasse dos filhos, né? Então, a creche na Universidade foi uma luta constante nos anos 80 e 90. Hoje, a gente tem a brinquedoteca, que é um ganho que nós temos”.
Para a professora, embora em avanço, as mudan ças ainda caminham a passos lentos. No entanto, res salta que há políticas e incentivos na UFMS voltados à mulher e à carreira acadêmica feminina. “Hoje, a Universidade está muito aberta para a história das mu lheres, para as mulheres, isso graças à nossa vice-reito ra, mas antes disso, nós não tínhamos. Hoje, tem uma preocupação, tem edital especifico para incentivo de pesquisa para mulheres. Então, é outra realidade, né?”.
A professora acrescenta ainda, que as entrevistas com os homens que estão ou passaram pela UFMS também serão importantes para conhecer o discur so masculino sobre as questões abordadas por elas durante as conversas.
Além do foco na carreira das mulheres, o projeto de pesquisa também irá focar nas questões políticas, em âmbito geral, relacionadas à Instituição. Outras análises acerca da história da UEMT e da UFMS estão sendo feitas por meio de pesquisa de estudantes da graduação, uma sobre as mulheres na Engenharia Civil e outra sobre a questão do lazer na piscina da Universidade, entre os anos 70 e 90.
A ideia é que todo o material coletado seja regis trado em arquivo digital, que posteriormente será dis ponibilizado para os interessados e pesquisadores que pretendam conhecer a história da UFMS. “Pretendo que seja a pesquisa da minha vida, então o tempo que eu vou levar para realizar vai estar sempre em movimento a minha pesquisa”.
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Mulheres
Considerado um dos principais problemas de saúde pública no mundo, câncer é o nome dado ao con junto de doenças que possuem em comum uma característica: o crescimento desordenado de células, que ao se dividirem rapidamente formam tumores. Da dos da Organização Mundial da Saúde revelam que uma em cada cinco pessoas desenvolverá a doença durante a vida. Os tipos mais prevalentes são o câncer de pele não melanoma, o câncer de mama e o de próstata. As informações constam na Estimativa 2020 – Incidência de Câncer no Brasil elaborada pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva, vinculado ao Ministério da Saúde.
Os avanços nas pesquisas para diagnóstico e tratamento da doença têm auxiliado no aumento da sobrevida dos pacientes. Quimioterapia, radioterapia, cirurgia e transplante de medula óssea são as alter nativas tradicionais para os diversos tipos. Os efeitos colaterais, porém, prejudicam muito a qualidade de vida dos que se submetem ao tratamento.
Estudos sobre novas substâncias para o trata mento do câncer mobilizam milhares de cientistas no mundo todo. Entre eles, estão os integrantes do Grupo de Pesquisa em Síntese e Caracterização Molecular de Mato Grosso do Sul, que desde 2010, desenvolvem moléculas bioativas contra células cancerígenas. “São moléculas que apresentam atividade biológica frente a células e ou organismos vivos como bactérias, fun gos, protozoários, entre outros. Para o nosso estudo, a bioatividade é observada pelo efeito citotóxico frente a células cancerígenas como câncer de pele, câncer de próstata, câncer de cólon e reto, câncer de pulmão, câncer de mama, câncer de estômago, câncer de bexi ga, câncer no sistema linfático, câncer de fígado, câncer de pâncreas, leucemia, câncer de testículo e câncer de
A ciência na busca da cura do câncer
Texto e fotos: Vanessa Amin
garganta”, explica o professor do Instituto de Química e coordenador do Laboratório de Síntese e Caracteri zação Molecular , Gleison Casagrande.
“A família de moléculas que trabalhamos envolve uma parte orgânica, que chamamos de ligantes, e uma parte inorgânica, que chamamos de metal de transição. As moléculas orgânicas livres já apresentam atividade contra células cancerígenas e o que nos motiva é justa mente fazer variações estruturais na parte orgânica para potencializar a atividade anticâncer de nossas molécu las através coordenação destes ligantes orgânicos a um centro metálico”, explica Gleison.
Além do laboratório na UFMS, as moléculas são idealizadas e preparadas também no laboratório co ordenado pelo professor da Universidade Federal da Grande Dourados, Lucas Pizzuti. Segundo ele, atu
Complexo bioativo formado entre um ligante orgânico e metal ouro
Patente
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Estudos na UFMS possibilitam patente de composto contendo ouro para tratamento da doença
almente, existem medicamentos que utilizam platina como centro metálico. “Existem alguns medicamen tos de platina para tratamento de alguns tipos de cân cer como a cisplatina e a carboplatina. Porém, com o passar do tempo muitos tipos de câncer desenvolvem certa resistência à ação de metalofármacos, atrapa lhando o tratamento. Além disso, fármacos à base de platina apresentam fortes efeitos colaterais. Por isso se faz necessário o estudo e desenvolvimento de novos metalofármacos mais seletivos e eficazes contra o câncer baseados em outros metais”, acrescenta.
Dentre as opções de metais, o grupo optou pela utilização do ouro no desenvolvimento das molécu las bioativas. A partir dos estudos realizados, os pes quisadores avaliaram a possibilidade de protocolar um pedido de patente junto ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual dos metalofármacos (medi camentos que contém um metal como possível sítio ativo) baseados no metal. “O processo de pedido da patente foi relativamente simples e recebemos toda a consultoria da Agência de Internacionalização e Inovação da UFMS que, após análise rigorosa sobre a potencialidade do estudo, novidade e os requisitos para que o trabalho fosse patenteável, cuidou de todas etapas do pedido e depósito”, destaca.
Nessa patente, em especial, Gleison explica que o Ouro no estado de oxidação +1 é utilizado como centro metálico. “Acreditamos que os com plexos (parte orgânica + parte inorgânica) juntos apresentam um efeito sinérgico na bioatividade e o resultado que observamos é um aumento na potência da atividade anticâncer após a comple xação da parte orgânica com o metal Ouro”, fala. O professor lembra que, após os compostos serem testados, são chamados de novos candidatos a meta lofármacos, devido à comprovada eficiência em testes de citotoxicidade contra células cancerígenas. Sobre
o pedido realizado junto ao Inpi ele detalha que “foi solicitada a proteção intelectual sobre o design, modo de preparação e composição elementar de mais de 90 candidatos a metalofármacos baseados em Ouro (+1) e a classe de ligantes orgânicos pertencentes à família das pirazolinas 1,3,5-trissubstituídas”.
Sobre o funcionamento dos compostos patente ados, o professor do Inqui explica que, a princípio, o modo e os mecanismos de ação dos compostos preparados ainda estão sob investigação. “É a pró xima etapa de estudos que estamos desenvolvendo em nosso laboratório em parcerias com outras ins tituições brasileiras, como a Universidade Federal de Minas Gerais”.
“Existem precedentes na literatura de que nossos compostos interagem com uma enzima que existente nas mitocôndrias das células, inibindo seu funciona mento e causando a morte celular”, detalha Gleison. Ele explica que alguns tipos de câncer apresentam ele vada agressividade pela alta velocidade nas divisões celulares e, por isso, apresentam maior número de mi tocôndrias, tornando-se, deste modo, um excelente alvo para compostos de ouro.
No entanto, o professor explica que mais informa ções são necessárias para compreender os modos de ação possíveis desses metalofármacos. “Vale destacar que vários outros modos de ação como intercalação em DNA celular não estão descartados para nossas moléculas”, reforça.
Nas pesquisas, além do professor Gleison e do professor Lucas, estão envolvidos o professor do Inqui Amilcar Machulek Junior, as egressas de doutorado e mestrado em Química da UFMS Lis Regiane Favarin e Leticia Barbosa de Oliveira, além do pós-doutorando Luís Fernando Barbosa Duarte.
Reconhecimento
e novos investimentos
Os estudos desenvolvidos pelo Grupo de Pesquisa em Síntese e Caracterização Molecular têm alcançado projeção internacional a partir da publicação de traba lhos em periódicos internacionais como o Journal of Inorganic Biochemistry, New Journal of Chemistry e Polyhedron. Recentemente, o professor Gleison também teve aprovada pesquisa no Projeto Universal da Funda ção de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul, pelo qual será destinado investimento de R$ 150 mil a fim de dar continuidade nas investigações para descoberta de novos metalofármacos.
Patente
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Gleison coordena o grupo integrado por estudantes e pesquisadores
Ação Saberes Indígenas na Escola garante acesso à educação intercultural em aldeias
Projeto une UFMS e universidades do estado para promover a formação continuada de professores e levar educação de qualidade às crianças indígenas
Texto: Maurício Aguiar (bolsista do Programa de Rádio e TV voltado para Educação e Conscientização do Trânsito) Fotos: arquivo do pesquisador
Com mais de 80 mil indígenas divididos em di ferentes etnias, o Mato Grosso do Sul abriga a segunda maior população indígena do Brasil, atrás apenas do estado do Amazonas, segundo dados apontados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Esta tística. Essa população é resguardada pela Constituição Federal de 1988 que, entre outros direitos como o acesso aos meios de comunicação e o direito à diferença, desta ca a importância de uma educação escolar básica mul tilíngue e intercultural, que respeite as especificidades e o fluxo das atividades socioeconômicas, linguísticas, culturais e religiosas de cada comunidade.
Foi com a finalidade de fazer valer este último direito que o Ministério da Educação estabeleceu, em 2013, a Ação Saberes Indígenas na Escola, que tem como objetivo promover a formação continuada de professores que atuam na educação indígena bási ca e produzir recursos didáticos e pedagógicos que atendam às especificidades interculturais e multilin guísticas de cada aldeia, além de elaborar currículos,
calendários e métodos de avaliação que se adequem aos processos de letramento, numeramento e conhe cimentos dos povos indígenas.
A iniciativa tem a parceria de 24 Instituições de Ensino Superior, divididas em sete redes, sob a coorde nação da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, da Universidade Federal do Amazonas, da Universidade Federal de Rondônia, da Universidade Federal de Goiás, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, do Instituto Federal de Roraima e da Universidade Estadual da Bahia. Cada uma dessas instituições é responsável por uma rede, composta por outras IES. A rede sul-ma to-grossense reúne os núcleos da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul, Universidade Federal da Grande Dourados e a Universidade Católica do Dom Bosco, sob a liderança da UFMS.
Segundo o coordenador do projeto no Mato Grosso do Sul e professor da Faculdade de Ciências Humanas da UFMS, Antônio Hilário Urquiza, a articulação para colocar em prática a ação no estado começou ainda no
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final de 2013, com a realização dos primeiros encontros de formação entre as universidades participantes da rede. “É uma atuação exigida já na concepção dessa ação, ela está dentro do projeto Territórios Etnoedu cacionais, então no Mato Grosso do Sul nós seguimos essa orientação”, completa. Na rede sul-mato-grossense, a Ação Saberes Indígenas na Escola impacta diferentes etnias distribuídas entre os Territórios Etnoeducacio nais (TEE) Povos do Pantanal e Cone Sul.
A educação básica indígena Garantida pela legislação, a educação básica in dígena observa uma crescente mudança nos últimos anos com o surgimento de cursos de formação de professores em educação indígena, com o apoio de projetos como a Ação Saberes Indígenas na Escola e a formação dos Territórios Etnoeducacionais. Contudo, dificuldades históricas, como a escassez de materiais didáticos, ainda representam um problema. O Censo Escolar de 2020 aponta que, das 3.359 escolas indí genas em atividade no Brasil, quase a metade utiliza material didático em língua nativa ou bilíngue, com a grande maioria ministrando aulas nos dois idio mas. Os números mostram a importância de recursos didáticos que atendam às especificidades dos povos indígenas. “Não basta ter uma escola que se chama escola indígena, que tenha professores indígenas, que até pode montar e propor um calendário específico indígena, mas que os conteúdos e os livros didáticos venham todos de Brasília igual aos demais da educa ção comum”, afirma o coordenador do projeto.
Neste contexto, a Ação Saberes Indígenas na Es cola abre as portas para uma educação alternativa, com foco na formação e valorização de professores inseridos no contexto das aldeias e na alfabetização bilíngue, caracterizada pela produção de recursos pe dagógicos interculturais que dialoguem com a estru tura curricular do ensino básico comum. “O Saberes
também dá ênfase para que as escolas, professores e alunos produzam os seus próprios materiais didáticos e nisso a UFMS vem tendo um papel de ponta na pu blicação desses materiais, nós já temos entre 20 e 30 materiais didáticos prontos ou quase prontos sendo entregues nas escolas indígenas aqui do MS”, desta ca. Ao todo, 22 obras produzidas pela Ação Saberes Indígenas já foram publicadas pela Editora UFMS, com quase 7 mil exemplares distribuídos e previsão de entrega de pelo menos mais seis livros ainda em 2022, totalizando 8.846 materiais didáticos.
O professor ainda argumenta que toda educação deveria ter como característica a interculturalidade, mas que as escolas indígenas são as únicas que levam adiante essa iniciativa, que visa unir os “conhecimen tos ocidentais”, ensinados na educação básica comum, com os conhecimentos indígenas. Segundo dados do último Censo demográfico de 2010, existem 305 etnias e 274 línguas indígenas no Brasil, faladas por mais da metade da população nativa que vive em terras indígenas. Cada etnia possui sua própria cultura, cos mologia, história, geografia e organização social, e tal diversidade requer uma educação igualmente diver sificada. “Por isso que esse projeto se chama Saberes Indígenas na Escola, porque esses conhecimentos
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Os livros didáticos são diagramados e publicados pela Editora UFMS
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Prof. Antônio Hilário entrega material didático na Aldeia Cachoeirinha
tradicionais vêm para dentro da escola para dialogarem com os saberes não-indígenas”, conclui.
Territórios Etnoeducacionais
Estabelecido em maio de 2009, pelo Ministério da Educação, os Territórios Etnoeducacionais são áre as organizacionais de Educação Escolar Indígena, feitas com participação dos povos indígenas, observando suas ca racterísticas territoriais, sociolinguís ticas, políticas, históricas e geográ ficas, independentemente da divisão político-administrativa do país, com a finalidade de efetivar o protagonismo das comunidades na gestão educacional das aldeias e coordenar a aplicação de políticas afirmativas em parceria com os governos federal, estaduais e muni cipais. A criação dos TEEs se dá por meio da consulta aos povos indígenas, à Fundação Nacional do Índio, à Co missão Nacional de Educação Escolar Indígena, à Comissão Nacional de Po lítica Indigenista e aos Conselhos Es taduais de Educação Escolar Indígena.
De acordo com o MEC, após a definição dos Ter ritórios Educacionais é criada uma rede de sistemas de ensino em parceria com instituições de educação superior, organizações da sociedade civil, indigenistas e outros órgãos públicos. A partir dessa rede, é ideali zado um trabalho coordenado que visa colocar em prá tica o desenvolvimento da Educação Escolar Indígena através de ações prioritárias definidas em conjunto.
O TEE Povos do Pantanal abrange as etnias Atikum, Guató, Kadiwéu, Kinikinau, Ofayé e Tere na, com atuação nos municípios de Aquidauana, na Terra Indígena Taunay Ipegue; Anastácio, na Aldeia Aldeinha; Brasilândia, na Terra Indígena Ofayé; Co rumbá, na Aldeia Uberaba; Dois Irmãos do Buriti, na Terra Indígena Buriti; Miranda, na Terra Indígena Cachoeirinha e Aldeias La Lima, Passarinho e Mo reira; Porto Murtinho, na Terra Indígena Kadiwéu; e Sidrolândia, na Aldeia Tereré.
No Território Etnoeducacional Povos do Pantanal são 6.364 alunos matriculados em 26 escolas, sendo 15 municipais e 11 estaduais. Desses estudantes, grande parte está no ensino fundamental, cerca de 4 mil. Na
pré-escola, são 479 alunos e no ensino médio, 938. O número também engloba os estudantes da Educação de Jovens e Adultos, sendo 820. Aproximadamente 250 professores atendem todo o território.
Já as etnias Guarani-Kaiowá e Guarani-Nhande va participam do projeto por meio do Território Et noeducacional Cone Sul, localizado no sul do estado.
Fonte:
Censo Demográfico 2010 Fonte: Censo Escolar 2020 (IBGE)
Segundo o IBGE, a população Guarani-Kaiowá e Guarani-Nhandeva têm aproximadamente 50 mil pessoas distribuídas entre 16 municípios. Desses, 13 compõem a ação: Dourados, nas Aldeias Panambizi nho e Paso Piraju; Amambai, com as Aldeias Amam bai e Limão Verde; Caarapó, Aldeias Tey’ikuê e Guyra Koká; Antônio João, Aldeias Nhanderu Marangatu e Pirakuá; Coronel Sapucaia, Aldeia Taquapery; Lagu na Carapã, Aldeias Guaimbé e Rancho Jacaré; Ponta Porã, Aldeias Lima Campo e Kokuê’i; Aral Moreira, Aldeias Guaiviry e Guasuty; Maracaju, Aldeia Sucu ri’ý; Eldorado, Aldeia Cerrito; Japorã, Aldeia Porto Lindo; Paranhos, Aldeias Pirajuí, Potrero Guasu, Ypo’i, Paraguasú, Arroyo Korá e Sete Cerros; Tacuru, Aldeias Sassoró e Jaguaripé. Nesse território, são 31 escolas que integram as redes estaduais e municipais 25 n. 12
de ensino e que atendem aproximadamente 14 mil alu nos sob a responsabilidade de cerca de 580 professores. No estado, a UFMS ficou responsável por atender todas as etnias do TEE Povos do Pantanal, que estão presentes no norte do Mato Grosso do Sul, enquan to outras IES se dividiram entre as etnias Guarani -Kaiowá e Guarani-Nhandeva no Cone Sul.
O caminho da educação
A Ação Saberes Indígenas na Escola, apesar de impactar estudantes do ensino fundamental, vê sua influência e resultados se estenderem até o ensino médio e, posteriormente, o ensino superior, como salienta o coordenador Antônio Hilário. “As crianças quando chegam no ensino médio, elas já passaram pelos resultados positivos da influência desse projeto, com a formação continuada de professores até o nono ano e a produção dos materiais didáticos”, aponta. A Ação ajuda a pavimentar o caminho de crianças e adolescentes indígenas rumo à educação.
Na UFMS, o número de acadêmicos de ori gem indígena subiu cerca de 31% em apenas quatro anos, totalizando 702 estudantes matriculados em cursos de bacharelado, licenciatura ou tecnolo gia, no primeiro semestre de 2022. Ações como o projeto de extensão Rede de Saberes, que tem como objetivo apoiar a permanência de estudan tes indígenas na educação superior no estado, e o Aldeias Conectadas, projeto pioneiro da Univer sidade que ampliou o acesso à internet nas aldeias da região de Aquidauana, tem contribuído para a permanência do estudante indígena no caminho da educação. Ainda para auxiliar nessa trajetória, no Câmpus de Aquidauana também há a formação em Licenciatura Intercultural Indígena, que faz parte do comprometimento da Instituição com a formação superior de professores de diferentes etnias em Mato Grosso do Sul. Dessa forma, a Uni versidade se destaca no apoio à educação indígena em todas as suas etapas.
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Projeto de extensão da Faculdade de Computação estimula apresentações culturais de estudantes e professores
Texto: Crislaine Oliveira
Fotos: arquivos dos professores
Voltado a estudantes e servidores, com o ob jetivo de revelar talentos por meio de apre sentações culturais, o projeto AlgoRITMO foi implantado em 2016, na Faculdade de Computação. O nome é uma referência à palavra Algoritmo, que é a descrição do passo a passo de como resolver um
problema, antes da transcrição do mesmo em um programa de computador.
A coordenadora Luciana Montera Cheung relata que o projeto surgiu do desejo de integrar mais os estudantes e os professores. “Sabemos que entre pro fessores e alunos da Facom existem muitos talentos
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As apresentações ocorrem no hall da Facom, aos finais de tarde e são uma forma de reunir e aproximar os estudantes e servidores da unidade
que vão além das habilidades com os números e com os computadores. Em conversas mais informais, sem pre descobrimos quem toca algum instrumento ou canta diferentes tipos de músicas. Em 2016, quando houve a primeira apresentação, ainda não estávamos cadastrados no Sigproj e foi tudo informal mesmo, e decidimos fazer uma apresentação no hall com o professor Samuel, só com voz e violão, e com a bate ria da Atlética da Facom. A ideia na época foi fazer um movimento para os estudantes, mostrando que a gente tem vários talentos que estão escondidos”.
Também integram o projeto as professoras Lia na Dessandre Duenha e Graziela Santos de Araújo. “A gente sempre sentiu necessidade de ter um maior entrosamento, momentos de descontração entre os professores e os estudantes. Querendo ou não, um ambiente de exatas é um pouco mais sério e mais tenso, então a gente queria ter momentos mais leves de descontração, de aproximação com os estudantes. Pensamos que poderíamos ter momentos culturais, e com a Semana Mais Cultura, que nós sempre rece bemos no hall da Facom, a gente viu que se colocás semos uma coisa nossa, algo rotineiro, seria muito interessante”, relata a professora Graziela.
Para o professor Samuel Ferraz, que foi o pri meiro a se apresentar pelo AlgoRITMO, em 2016, a iniciativa é uma oportunidade para interagir com os estudantes fora da sala de aula. “Eu me lembro mui
to bem do primeiro AlgoRITMO, porque eu estava muito nervoso. Eu aceitei o convite para a apresen tação, porque eu gosto muito de música e porque eu enxerguei nele uma oportunidade de mostrar o lado artístico que eventualmente a gente tem, mesmo que não seja nada profissional. Eu acho que isso aproxima a gente dos colegas, dos estudantes. É uma oportuni dade ímpar para estabelecermos um elo que vai além da sala de aula, e para enriquecer mais o ambiente com um pouco de cultura extra-computação.
Os encontros são realizados em frente ao prédio da Facom, sempre aos finais de tarde. Um dos talentos a se apresentar pelo projeto foi o estudante do 5º se mestre de Computação, Guilherme Augusto Oliveira Soares. “Me apresentei duas vezes. Toquei e cantei.
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O professor Samuel Ferraz foi o primeiro a se apresentar, em 2016
Foi uma experiência bem legal, pois já tenho contato há um tempo com música e vejo que música é o que une as pessoas. A música fala muito conosco sobre o que é produzir arte. A gente está sempre correndo atrás de ser útil, de fazer coisas que são validadas pelos outros e penso que a música explica o porquê a gente faz tudo isso, porque a gente vive todo dia, porque a gente acorda todo dia”.
Herick Vinicius Ferreira Gustavo, do 10º décimo semestre de Engenharia de Computação, já participou cinco vezes das apresen tações, junto à bateria da Atlética de Computa ção. Ele diz que os mo mentos de descontração e lazer são importantes, em meio aos momentos tensos do dia a dia. “O AlgoRITMO gera uma visibilidade boa pra gen te, porque tem gente que entra na Faculdade e não conhece a bateria, e na apresentação se encanta e entra. Uma questão que nos toca também é tra zer uma opção a mais de cultura, porque o curso é
tão difícil e proporcionar esse momento de lazer, de cultura é muito importante.
Nem mesmo a pandemia afastou o desejo de aproximar estudantes e professores por meio das expressões artísticas. Em 2021, quando as aulas ainda estavam sendo realizadas remotamente, o AlgoRITMO teve uma apresentação via platafor mas digitais. “Fizemos a apresentação on-line pois era a única forma de realizarmos o evento, dado que estávamos passando pelo período de Ensino
Integrantes da Bateria da Atllética da Faculdade de Computação, junto à equipe organizadora das apresentações do AlgoRITMO
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Durante a pandemia, as apresentações foram adaptadas ao formato virtual por meio de videochamadas
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Remoto de Emergência, devido à pandemia da Covid-19. Neste evento on-line, tivemos a apre sentação de três professores e um estudante, e mais de 70 pessoas entraram na sala de apresenta ção”, relata a professora Luciana.
Ainda segundo ela, a correria do dia a dia acaba afastando pro fessores e estudantes das ações de confraternização, de puramente lazer. “Por ser uma atividade que não tem a ver com a nossa for mação é algo que espanta muitas vezes os estudantes e a gente quer isso mesmo, a gente quer mostrar que a gente pode muitas outras coisas. E isso é saudável também para o nosso ambiente e isso gera um momento tão bacana de des contração que isso vai reverberar até nas ações do dia a dia, no ren dimento das atividades acadêmi
cas e no relacionamento que o estudante tem com o professor”.
Em 2022, o AlgoRITMO foi cadastrado no Si gproj como um projeto de extensão e ganhou um novo formato. Atualmente, ele está em fase de de finição de periodicidade e de cadastro de novos ta lentos. Agora abrimos um formulário na página da Facom, onde os interessados podem se cadastrar e então definiremos um cronograma para as próximas apresentações. Quanto mais os estudantes assistem às apresentações, mais entusiasmados eles vão ficando e isso vai despertando o interesse de participação, levando para frente o projeto e vai trazendo mais pessoas”, explica a coordenadora.
Estudantes e professores que querem se apre sentar pelo projeto AlgoRITMO devem preencher o formulário de inscrição no endereço www.facom. ufms.br e aguardar o contato por e-mail. A divulga ção das apresentações ocorre também na página da Facom, nos grupos de comunicação entre os acadê micos e docentes e nas mídias sociais dos envolvidos no projeto. Os participantes ganham um certificado que poderá contar como atividade de extensão.
bateria da Atlética da Faculdade de Computação foi uma das primeiras a se apresentar para a comunidade universitária
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Missão Sustentável
Estudo que analisa e propõe a adoção de práticas sustentáveis em universidades federais contribuiu para a criação de diretoria específica na UFMS
Além de ensinar, como as universidades podem contribuir para um futuro melhor? Foi essa pergunta que norteou pesquisadores na inves tigação sobre as práticas sustentáveis implementadas em Instituições de Ensino Superior de todo o país. O projeto apresenta o panorama sobre como as univer sidades federais lidam com o desenvolvimento - e a UFMS se destaca quando o assunto é sustentabilidade.
O diretor da Escola de Administração e Negó cios, José Carlos de Jesus Lopes, coordenou o projeto intitulado “Compromisso e Implantação de Práticas Sustentáveis em Instituições de Ensino Superior”.
A pesquisa realizou o diagnóstico sobre a imple mentação de hábitos em 65 das 69 universidades federais brasileiras.
O pesquisador destaca que a sustentabilidade é um assunto que ganhou evidência principalmente a partir do início do século 21, com os 17 Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS), defendidos pela Organização das Nações Unidas.
A pesquisa ainda buscou identificar os atores en volvidos no fomento das práticas de sustentabilidade, como o papel do Ministério da Saúde, além das inicia tivas das reitorias e das pró-reitorias. “Investigamos as universidades federais e levantamos as práticas que elas têm. Tivemos como recorte da pesquisa o Plano de Gestão de Logística Sustentável (PLS)”, afirma.
O que é o PLS?
O Plano de Gestão de Logística Sustentável é uma normativa criada pelo Governo Federal para auxiliar todos os órgãos públicos, bem como as Ifes, na gestão sustentável. Instituído por decreto em 2012, o PLS contém iniciativas e metas de curto e médio prazos, para reduzir impactos socioam bientais negativos.
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Texto: Mylena Rocha Fotos: arquivo dos pesquisadores
O documento deve ser planejado com o objetivo de promover a eficiência, racionalizar os gastos públi cos, reduzir os impactos socioambientais negativos e promover a sensibilidade dos servidores pela edu cação ambiental. “Inicialmente, o Governo instituiu a Agenda Ambiental na Administração Pública, ou A3P, como um plano voluntário, para que os órgãos públicos desenvolvessem práticas sustentáveis. De pois, trouxe a Instrução Normativa nº 10/2012, que, de forma obrigatória, apontou sete temas mínimos que devem ser atendidos”, detalha o professor.
Os temas são: material de consumo (papel para impressão, copos descartáveis e cartuchos para im pressão), energia elétrica, água e esgoto, coleta seletiva,
qualidade de vida no ambiente de trabalho, compras e contratações sustentáveis e deslocamento de pessoal.
O diretor da Esan ainda explica que o PLS deve ter objetivos bem definidos, com ações, metas, pra zo, execução, monitoramento e avaliação. “O órgão público deve elaborar esse plano e depois a relação de ações. Ao final do período estabelecido, colocar as metas em um relatório de acompanhamento. É, por tanto, uma ação legal, tem uma força de lei, fazendo com que os órgãos públicos cumpram”.
Na UFMS, o Plano foi desenvolvido a partir de uma consulta pública com a avaliação da comunidade universitária e da sociedade em geral, realizada me diante a coleta de opiniões e sugestões dos participan tes sobre os temas: Câmpus Sustentável, Governança e Transparência, Envolvimento e Desenvolvimento na Sociedade e Práticas de Trabalho. As metas do PLS abrangem a Cidade Universitária e os Câmpus.
A sustentabilidade nas universidades
Analisar a aplicação do Plano de Logística Sus tentável em quase todas as universidades federais brasileiras não foi uma tarefa fácil. Além dos estu dantes de graduação e pós-graduação, o projeto teve a participação das professoras da Esan Denise Barros de Azevedo e Rosamaria Cox Moura Leite Padgett, além da pesquisadora Vera Luci de Almeida, da Uni versidade Federal da Grande Dourados.
Instituições devem emitir um relatório de desempenho anual
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As Universidades devem se preocupar com a geração, armazenamento e destinação correta dos resíduos para reciclagem futura
“Nós formamos um grande grupo, com estudan tes e professores orientadores, para que cada um, em sua área do conhecimento, pudesse ajudar no levan tamento”, relata o coordenador.
Para a professora Rosamaria Padgett, a participa ção na pesquisa contribuiu para a formação de diversos estudantes. A partir do projeto, foram desenvolvidos trabalhos de conclusão de curso e dissertações, en volvendo os temas do PLS. “Ao pesquisar esses temas mínimos nas universidades federais, nós abordamos e identificamos como as universidades estão tratando a sustentabilidade. Tivemos um panorama do que está acontecendo”, reforça.
O administrador Pedro Henrique Rissato, egres so do Mestrado Profissional em Administração Pú blica em Rede Nacional executado na UFMS, foi um dos envolvidos no projeto e conta que, a partir da pesquisa, pôde entender como funcionam as práti cas nas instituições. Atualmente, ele trabalha como servidor em um órgão público. “O projeto abriu os meus olhos para ver o quanto o tema da sustentabi lidade ainda é incipiente. Se em 2018, época em que participei, já era, hoje ainda vemos pouca evolução nas organizações públicas”, opina.
De acordo com o professor, algumas universidades federais disponibilizaram seus planos em suas páginas na internet, medida que é obrigatória. Porém, nem to das as universidades federais pesquisadas, na época, cumpriam com as normas. “Não são todas que têm o PLS. Algumas têm, mas não possuem o relatório [de acompanhamento]. Outras, dizem que têm o PLS, mas não foram encontrados em suas páginas eletrônicas, como disciplina a instrução normativa”.
Com um conjunto de informações sobre as inicia tivas gerenciadas por iniciativa das próprias universida
des federais, os pesquisadores buscaram apresentar uma “vitrine” de boas práticas. Entre as diversas atividades adotadas, um exemplo é o uso de placas fotovoltaicas, não apenas para reduzir os custos da energia elétrica, mas também por optar por produzir energia renovável e limpa. Além disso, as universidades também adotam o uso de canecas permanentes, para redução do uso de co pos descartáveis, ou a modernização da frota de veículos.
Durante o processo, os pesquisadores se apro fundaram na investigação sobre as ações desenvolvi das dentro da própria UFMS. O resultado foi promis sor e apontou que a Universidade se sobressai frente às outras Ifes pesquisadas.
O diretor ressalta que foram identificadas fra gilidades, mas as práticas aplicadas pela UFMS de monstram a preocupação com o futuro. “Entre as universidades federais, a UFMS se mostrou à frente, com várias iniciativas, algumas inovadoras e diferen ciadas e outras semelhantes a outras universidades federais. A gente pôde, através deste conjunto de in formações e conhecimento, indicar a UFMS como uma das instituições com as melhores práticas, que nós chamamos de benchmarking”.
Propostas
para uma universidade melhor
O projeto, que iniciou em 2016 e foi finalizado em 2021, rende frutos até hoje. A pesquisa recebeu fomento da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul. Ao longo destes cinco anos, os pesquisadores acompa nharam o desenvolvimento de práticas sustentáveis nas Ifes de todo o país. As informações colhidas foram va liosas, e culminaram em mudanças na UFMS.
Os pesquisadores propuseram novas medidas a serem adotadas e uma delas resultou na criação
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A educação socioambiental é importante para as Universidades e pode ser levada para além da discussão em sala de aula, com atividades práticas
da Diretoria de Desenvolvimento Sustentável, em 2021, uma materialização das propostas feitas pela equipe do projeto.
O diretor de Desenvolvimento Sustentável, Leonar do Chaves de Carvalho, explica que até então a susten tabilidade era assunto da Pró-reitoria de Administração e Estrutura. Para ele, a criação da diretoria, vinculada à reitoria, reforça o compromisso da instituição. “Nossa Universidade ganhou ainda mais visibilidade, tornan do-se uma das mais sustentáveis do Brasil (5º lugar) e do mundo (163º lugar), segundo o ranking Green Metric de 2021, da Universidade da Indonésia”, cita.
A atuação da diretoria evidencia o comprometi mento com a Agenda 2030 e os Objetivos de Desen volvimento Sustentável. Todos os projetos da Univer sidade têm, obrigatoriamente, ligação com os ODS. Dados do Sistema de Informação e Gestão de Projetos indicam que o Objetivo mais atribuído a projetos de pesquisa é de Boa Saúde e Bem Estar. Já entre os pro jetos de extensão e de ensino, o ODS mais presente é o de Educação de Qualidade.
Em pouco tempo, a Dides contribuiu para transformar o tema da sustentabilidade, que está
na missão e entre os valores da Universidade. O diretor destaca, entre as atividades, iniciativas que visam, por exemplo, reduzir o descarte de resíduos. “A Semana Lixo Zero, os projetos de compostagem e horta comunitária no Câmpus de Paranaíba, o projeto experimental de compostagem na Cidade Universitária”, elenca.
O professor e coordenador do projeto comple menta que a Universidade ainda aderiu de forma an tecipada à Licitação Verde, também denominada de Licitação Sustentável. A ação é uma forma de inserir critérios ambientais nas compras e contratações rea lizadas por órgãos públicos.
Além de contribuir para o desenvolvimento sus tentável na Universidade, a pesquisa ainda resultou em publicações de artigos em eventos e revistas, bem avaliados pela comunidade científica.
Quanto ao futuro, a expectativa é que a pes quisa possa continuar, em um novo projeto. “Que possamos seguir investigando, desta vez, a evolu ção dessas práticas sustentáveis. Não só nas uni versidades federais, mas também em outros órgãos públicos”, finaliza.
Sustentabilidade
Matemática & vida
Narrativas
de professores provocam reflexões sobre sentido da prática docente
Texto: Ariane Comineti
Uma interface interessante entre História e Ma temática e uma pitada de Literatura adiciona da ao título, chamam a atenção para a inter disciplinaridade da tese de doutorado “Morte e Vida Severina: auto de natal em Educação Matemática”. Defendido em 2020, o estudo traz narrativas sobre a
vida de cinco professores da Rede Municipal de En sino de Campo Grande e reflexões sobre o exercício da profissão. A autora Ana Carolina dos Reis, que agora é doutora, foi orientada pela professora Luzia Aparecida de Souza no Programa de Pós-graduação em Educação Matemática da UFMS.
Ana Carolina conta que começou a trabalhar com pesquisa ainda na graduação, em 2011, ano de criação do grupo História da Educação Matemática em Pesquisa, do qual ela e a docente participam até hoje. Desde então, seguiu trabalhando com histó rias de formação e atuação de professores que ensi nam ou ensinavam Matemática no Mato Grosso do Sul em sua monografia e dissertação de mestrado.
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Além do interesse no tema, a pesquisa de dou torado surgiu também da experiência pessoal da autora. “Meu ingresso, naquele momento, como professora da Reme, desestabilizou algumas ideias naturalizadas que eu tinha sobre aquele espaço e seus atravessamentos e nos levou a querer olhar para fatores que poderiam afetar os modos de vida do professor de Matemática na escola, em um exercício de trazer à cena questões que costumam ficar em segundo plano em discussões sobre o exercício da profissão. O título Morte e Vida Severina, foi uma sugestão de um dos membros da banca para chamar a atenção para o fato de que, em meio a tantas ques tões relacionadas ao exercício da profissão, modos de vida se afirmavam ali”, explicou.
A obra clássica da literatura brasileira de autoria de João Cabral de Melo Neto retrata a trajetória de Severino, um retirante nordestino que deixa o sertão rumo ao litoral pernambucano em busca de melho res condições de vida. Na tese, a autora afirma que talvez Severino e ela tenham muito em comum, uma vez que, assim como o personagem percorre o sertão rumo ao Recife na expectativa de melhores condições
de vida, a então doutoranda e professora de Mate mática, à época começando o exercício da profissão, percorreu o caminho da educação com o mesmo propósito. “Morte e Vida Severina: auto de natal em Educação Matemática é uma obra que aborda esse meu caminhar pelo sertão-educação. Um caminhar que me possibilitou encontros diversos: escolas, pro fessores de Matemática, currículos, autores, notícias, e que me levaram a refletir sobre vidas de professores de Matemática, sobre a minha vida de professora de Matemática”, escreveu.
Para a orientadora Luzia Aparecida de Souza, “o diferencial do trabalho foi a sensibilidade da pesquisadora em percorrer linhas políticas deli neadas narrativamente por docentes em atuação, tirando o foco da tentativa de mapeamentos gerais que forçam propostas de como formar, atuar, ser, pensar, e voltando-o para uma análise de modos de vida e suas potências”.
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Estudo
A pesquisa iniciada em 2014 e foi desenvolvida a partir de discussões com a orientadora, conversas em reuniões do grupo de pesquisa, com colegas em disciplinas do curso de doutorado e em eventos. “Por isso, nesse sentido eu diria que ela é uma pesquisa construída em conjunto”, apontou Ana Carolina.
O assunto pretendido pela doutoranda já era de familiaridade de sua orientadora, que trabalha com narrativas de professores há mais de 20 anos, pesquisando, orientando e avaliando trabalhos dessa natureza. “Como orientadora, o principal movimen to é o de interrogar e construir uma perspectiva de não se apressar a encontrar uma resposta. Nos movemos mais e melhor quando acompanhados de questões. No caso da Carol, especificamente, os mo vimentos foram diversos e alguns deles abandona dos até que se encontrasse um caminho. A pesquisa e os registros escritos desse processo fluem melhor quando quem pesquisa localiza seu lugar de fala e um ‘como escrever’, uma estética que não dá forma ao conteúdo, mas que também opera como conteú do”, observou Luzia.
A metodologia utilizada na tese de doutorado foi a história oral, que permite produzir documentos a partir de entrevis tas, e cujas preocupações teóricas se ali nham ao modo de fazer pesquisa de Ana Carolina que buscou, por meio dela, fazer ressoar diferentes vozes. Para o trabalho foram entrevistados cinco professores, en tre eles efetivos, temporários e professores que “abandonaram” a profissão.
Segundo a doutora em Educação Ma temática, uma das dificuldades encontradas ao realizar o estudo foi exercitar um olhar atento e sensível para as questões que apa reciam nas narrativas. “Foi colocar nossas questões em suspenso para efetivamente ouvir as narrativas e não recortá-las para dar conta das questões iniciais da pesquisa. Entre as surpresas positivas, está a oportu nidade de criar diálogos entre pares, pois de algum modo faz essas pessoas exercitarem o poder de fala que elas têm”, revelou.
Várias questões interessantes apare ceram, mas a pesquisadora e a orientadora optaram por discutir na tese duas que mais chamaram a atenção à época. A primeira está relacionada às metas do Índice de De senvolvimento da Educação Básica “ou, mais especificamente, ao modo como esse instrumento de avaliação tem operado em algumas escolas, fazendo com que a prática
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docente ‘perca o sentido’ para professores de matemáti ca”, apontou Ana Carolina. A segunda está relacionada à idealização da profissão e da escola e como ela pode influenciar o modo de vida do professor nesse espaço (de afirmação ou de negação). “É válido ressaltar que essa idealização é algo construído ao longo da vida e reforçado por veículos de comunicação, por exemplo. A partir desse exercício de análise é interessante cui darmos para que essa idealização possa ser descons truída e não reforçada”, disse a autora.
Para a orientadora Luzia, é fundamental que essas pesquisas estejam atentas e procurem evitar o que tem sido chamado por Miranda Fricker de “injustiça epis têmica”. “É importante conhecermos e operarmos com os conceitos que são produzidos por estes profissionais na direção de que, ao compreender quais questões são próprias daquelas pessoas, possamos pensar sobre as nossas e as de nossas teses”.
Ainda conforme a professora Luzia, as pessoas passam a vida toda na escola como alunos e, então, o retorno como professores e/ou pesquisadores exige um exercício de estranhamento para que os profissionais se coloquem na direção de conhecer e não de reco nhecer aquele espaço e as relações que o coproduzem. “Também vem de estudos acerca do Pós-Humanismo, especialmente com Karen Barad e Karin Murris, e de autores da própria História, como Durval Muniz Albuquerque Junior, perspectivas de que o saber é feito para cortar. Em palestra sobre sua leitura de Foucault, este historiador sinaliza que ao operar somente no nível da explicação estamos a justificar as coisas e relações e nos lembra de algo fundamental nos dias atuais: há coisas no mundo que devem permanecer como injustificáveis. Carol opta por compreender os movimentos que afetam esse grupo de colaboradores e suas formas de vida”, afirmou.
Reflexões
Ambas destacam a importância de estudos vol tados à prática em sala de aula e à situação atual nas escolas. Para Ana Carolina, as escolas são ambientes cheios de vida, com diversos acontecimentos a todo o tempo, que, muitas vezes passam despercebidos por
os professores acharem que não são relevantes para o exercício da docência, mas que afetam sim os profissio nais, o modo como se vêem na escola e como a viven ciam. “Quando falamos de escola, da prática docente, vemos que muitas questões estão tão naturalizadas que acabam se tornando invisíveis”, apontou.
Para a orientadora Luzia, o movimento em prol dos estudos sobre o ambiente escolar e a prática do cente é fundamental para que os professores sigam estranhando o espaço e, portanto, colocando-se mais atentos a ele. “Ao compreender e problematizar os emaranhamentos que produzem este lugar, estamos também a compreender nosso papel nesta organiza ção, o que é fundamental para qualquer realinhamen to necessário. Uma escola ou aula de Matemática não sustenta discursos de universalidade, neutralidade, objetividade, é importante compreender quais vidas são afirmadas neste espaço e quais políticas de ex clusão acabam sendo engendradas em performances docente, coordenador(a), diretor(a), em um livro di dático e/ou no silenciamento de vozes outras dentro da sala de aula”, finalizou.
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Pesquisadores apontam que escorpiões são os maiores causadores de acidentes com animais peçonhentos no estado
Resultados fazem parte de análise epidemiológica realizada no Câmpus de Três Lagoas
Texto: Lizandra Rocha (bolsista do Programa de Rádio e TV voltado para Educação e Conscientização do Trânsito)
Fotos: arquivos do pesquisador
Animais como cobras, escorpiões e aranhas possuem uma substância chamada peço nha, que pode ser introduzida em seus alvos através de ferrões, dentes, quelíceras, cerdas urti cantes, entre outros. Os acidentes envolvendo essas espécies podem até levar à morte, e é considerado um problema de saúde pública no Brasil.
No Câmpus de Três Lagoas, o professor do curso de Ciências Biológicas Helder Silva Luna iniciou em 2022 uma análise relacionada aos aci
dentes causados por esses animais em Mato Grosso do Sul. Segundo ele, a pesquisa está sendo desen volvida para obter mais informações, devido ao crescente aumento de acidentes em todo o país, as frequentes notícias de casos de óbitos, principal mente com crianças, e a necessidade de repassar esses conhecimentos para profissionais da área da saúde, professores e pesquisadores. “Todos esses fatos levaram ao desenvolvimento de uma pesquisa que começasse com o levantamento epidemiológico
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Saúde
dos acidentes no estado de Mato Grosso do Sul, buscando analisar a situação geral assim como si tuações pontuais nos estudos de regiões, até mesmo em cidades, de forma mais específica”.
A pesquisa é realizada por um grupo de de zenove pessoas, com o auxílio de técnicos e aca dêmicos do curso de Ciências Biológicas do Câm pus. Cada integrante ajuda nos estudos de alguma espécie de animal peçonhento, incluindo os mais comuns como escorpiões, aranhas, serpentes e la gartas. Porém, estudam similarmente outras espé cies consideradas não peçonhentas, mas venenosas como raias, anfíbios e peixes.
Os dados analisados pelos pesquisadores fo ram disponibilizados pelo Sistema de Informação de Agravos e Notificação (Sinan), por meio do Mi nistério da Saúde, permitindo a organização de informações relacionadas às vítimas como: quais foram os principais animais causadores de aciden tes, faixa etária, sexo, raça, tempo de atendimento, sazonalidade, evolução do caso e óbitos. “Todas essas informações organizadas e publicadas aju dam órgãos, instituições e poder público ligados em tomadas de decisões a traçarem estratégias para melhoria dos sistemas de atendimentos, pro gramas de conscientização da população e ações para redução de acidentes, sendo assim de funda
mental importância estudos contínuos e atualizados sobre esta área temática”, explica.
O professor detalha ainda que, muitas vezes, a principal dificuldade no desenvolvimento da pesquisa são os casos de subnotificações, no qual o acidentado não procura uma unidade de aten dimento médico ou hospitalar, o que prejudica a coleta de dados.
Para o professor, a pesquisa traz grandes be nefícios tanto para a população quanto à comu nidade acadêmica, proporcionando aprendizados nessa área, ressaltando a importância de medidas de prevenção, respeito aos animais e a preservação do meio ambiente. “Hoje sabemos da seriedade que as empresas ligadas ao setor rural se preocupam na segurança de seus funcionários, destacando a prevenção de acidentes com estes animais. Esta oportunidade de conhecimento dos alunos também poderá contribuir na atuação profissional destes acadêmicos futuramente”.
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Professor Hélder Luna realiza experimento com escorpião amarelo
Animais peçonhentos foram coletados na região de Três Lagoas
“Preservar, respeitar e conhecer a nossa biodiversidade sul-matogrossense, tão rica e bela, é uma das formas de contribuir na redução de acidentes com animais peçonhentos”
Estudante Paulo Acácio Athayde, integrante do grupo de estudo com Animais Peçonhentos, analisando uma serpente do gênero Bothrops
O pesquisador ressalta que a degradação do meio ambiente é um fator que ajuda no apareci mento dos animais em áreas urbanas, pela falta de predadores. “Alguns animais como o escorpião amarelo (Tityus serrulatus) apresentam grande plasticidade e adaptação nas cidades, onde encon tram ambientes extremamente adequados para sua reprodução e desenvolvimento. Preservar, respei tar e conhecer a nossa biodiversidade sul-mato -grossense, tão rica e bela, é uma das formas de contribuir na redução de acidentes com animais peçonhentos.”
As perspectivas ainda são muito desafiadoras e a análise busca intensificar os estudos no estado e as características específicas de cada região para, então, poder relacionar com os acidentes provoca dos por animais peçonhentos, expondo conteúdos de qualidade para ajudar instituições responsáveis para tomadas estratégicas de decisão.
Resultados preliminares
A realização das primeiras compilações e pu blicações referentes à pesquisa são relativas ao ano de 2021. Dados preliminares foram apresentados
Fonte: Sinan
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no 2º Congresso Brasileiro de Ciências Biológicas. “Muito estudo sobre epidemiologia tem sido de senvolvido em todo Brasil praticamente em todos Saúde
os Estados da Federação e em sua maioria indi cam um aumento crescente ano a ano dos casos de acidentes, chamando bastante atenção aos casos envolvendo escorpiões que se adaptam muito bem as condições urbanas trazendo bastante preocu pação”, ressalta o professor.
No Brasil, foram totalizados 240.294 casos de acidentes, sendo 62% com escorpiões. No estado de Mato Grosso do sul, 3.486 notificações, dessas 72,1% foram ocasionadas por escorpiões; seguidas de ser pentes, com 10,2%; abelhas 7,8%; aranhas, 4,3%, e lagartas, 1,2%. Como apresentado na pesquisa, Mato Grosso do Sul tem uma porcentagem superior de acidentes com escorpiões, induzindo o aumento de esforços na educação preventiva para a redução dos casos. “O estudo direcionado a diferentes regiões e cidades devem ser trabalhados, pois cada região e
cidade apresenta sua realidade específica. Em Três Lagoas, assim como nas demais, o escorpião é o prin cipal animal causador de acidentes”.
Formas de prevenção e cuidados médicos
De acordo com o pesquisador, existem várias formas de se prevenir o ataque desses animais. Dentre elas, a limpeza dos ambien tes; evitar acúmulos de folhagens e entulhos em casa; manter o ambiente sem a presença de resíduos alimentares; manter a caixa de esgoto bem vedada; não manusear animais peçonhentos; vedar janelas com telas prote toras; e sempre chamar um especialista para realizar a retirada de forma correta e sem ris cos. Se caso praticar excursões na natureza, usar acessórios de proteção nas mãos, nos pés e na cabeça, evitar perfumes, olhar com mais
De acordo com dados do Sinan, o segundo animal que mais causa acidentes no município de Três Lagoas é a abelha, o que mostra uma mudança em relação a sua ocupação de habitats e a migração para proximidades próximas até mesmo para áreas arborizadas da cidade. Situação que tem levado ao apoio de instituições de api cultores e do corpo de bombeiros que ajudam a salvá-las, por serem importantes para o meio ambiente e servi rem como fonte de renda aos apicultores que extraem o mel. “Os estudos ajudam muito a interlocução entre esses agentes e desenvolvimento de ações coordenadas e parceria. Caso este, por exemplo, já ocorrido aqui em nosso câmpus, de resgate a abelhas por apicultores com apoio dos bombeiros”. atenção onde pisa, seja em rios ou terras, uti lizar roupas claras e evitar conversas em tom de voz alta, impedindo a atração de abelhas, por exemplo. “Qualquer tipo de acidente com animal peçonhento deve-se procurar de for ma imediata o atendimento médico o mais rápido possível, evitando ações errôneas como fazer torniquetes, cortar, furar, chupar, e não utilizar nenhum produto sobre o local da pi cada. A única medida correta, antes de che gar ao médico, é lavar com água e sabão. Se possível, levar uma foto do animal causador do acidente, mas com segurança”.
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Moradores de Chapadão do Sul aprendem gratuitamente Língua
Brasileira de Sinais em projeto
de extensão
Desde o final de junho de 2022, o Câmpus de Chapadão do Sul sedia aulas gratuitas de Língua Brasileira de Sinais (Libras) aber tas a toda a comunidade. A ação faz parte de um projeto de extensão idealizado e proposto pela es tudante Gabriella Silva de Gregori e coordenado pela professora e tutora do grupo do Programa de Educação Tutorial Agronomia e Engenharia Florestal, Meire Aparecida Silvestrini Cordeiro.
Texto: Ariane Comineti
Fotos: arquivo dos professores
Segundo a docente, os estudantes são incentivados a proporem projetos que envolvam a indissociabilidade entre Ensino, Pesquisa e Extensão para melhoria da sua formação e para uma atuação profissional pautada pela cidadania e pela responsabilidade social. Gabriella, que atualmente está no 9º semestre de Engenharia Florestal propôs e integra o PET Agroflorestal desde 2019, após aprender o básico de Libras em uma outra formação da qual participou on-line, durante a pandemia.
Acessibilidade
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A professora Meire explica que o projeto busca criar laços com a comunidade. “Percebemos o valor social que o mesmo teria, através do levantamento da demanda que fizemos junto à comunidade exter na. Como não tenho capacitação para tal, buscamos parceiros que tornaram possível a sua concretização”, explica a professora.
Jakeline Gomes de Oliveira Nascimento é intér prete e tradutora na UFMS há cerca de quatro anos e já trabalha com Libras há cerca de 15. Aprendeu a Língua na igreja que frequenta e mantém amizade com diversos surdos da comunidade, que a auxiliam em sua formação contínua. “Meus amigos que são sur dos estão sempre na minha casa, é rara a semana que não estão comigo e com minha família. Acho que eles encontram aqui um lugar para conversar e se abrir. E eu gosto muito de ver eles sinalizarem, cada um tem uma peculiaridade, seu jeito de se expressar e de usar as palavras, então quanto mais eu conheço cada um, mais eu aprendo os seus sinais e outros também”, comenta.
Capacitação
Sabendo da demanda, especialmente de profes sores da rede estadual de ensino, a equipe do projeto realizou o levantamento sobre os melhores dias e horários para a realização do curso por meio de um formulário on-line. “Tivemos muitos interessados e as escolhas foram por aulas às segundas-feiras, às 19h, e aos sábados, às 13h”, informa a docente.
O objetivo do curso é ensinar o básico das Libras para uma boa comunicação com surdos. As aulas são todas práticas, com conteúdos relacionados ao dia a dia. “Com essa ação, procuramos realizar a inclu são da comunidade ouvinte, que mostrou interesse em aprender com os surdos, pois muitas vezes têm a comunicação limitada em nossa cidade, devido à falta de capacitação. Os surdos que participam do curso nos ensinam muito junto aos intérpretes”, diz a estudante Gabriella.
A capacitação teve início nos dias 20 e 25 de junho, com turmas que têm em torno de 20 parti
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O curso de Língua Brasileira de Sinais no Câmpus é ministrado pela tradutora e intérprete Jakeline Gomes de Oliveira Nascimento
cipantes, entre eles estudantes de diversos cursos da UFMS, professores do ensino básico e profissio nais que atuam com atendimento ao público, como servidores da prefeitura, da Receita Federal, de um escritório de contabilidade, entre outros. As aulas são ministradas presencialmente no Câmpus de Chapadão do Sul.
O primeiro módulo é composto por oito encon tros semanais, sendo uma vez na semana cada turma. As aulas duram em torno de duas horas, com a reali zação de atividades práticas. As estudantes Gabriella e Rubia Beatriz Silveira dos Santos acompanham as turmas com a organização dos materiais, listas, reca dos, entre outras atividades e as aulas são ministradas por Jakeline e por Cristiano Nunes, que é surdo.
Para a intérprete Jakeline, o curso tem sido enri quecedor para a sua profissão. “Os surdos vem, con tam suas histórias e assim vamos conhecendo seus sinais, isso é muito importante. Traduzir as palavras e interpretar é fácil, o mais difícil é interpretar suas peculiaridades, como fazê-los serem ouvidos. E essa formação é também um toque de realidade para as pessoas ouvintes, para que se atentem que os surdos também têm suas particularidades e problemas, como todos”, declara Jakeline.
“Temos tido uma participação ativa do público, com ótimas interações. Alguns surdos que foram con vidados pela intérprete para colaborar com as aulas têm interagido de forma descontraída com todos. Eu sou uma entusiasta da Educação e todo conhecimento para mim é bem-vindo. Nunca tivemos alunos sur dos, mas acredito que saber o básico de Libras pode ser importante para a comunicação em qualquer outro ambiente que possa acontecer esse contato”, aponta a professora Meire.
Acessibilidade
As aulas são práticas com conteúdos que fazem parte do dia a dia
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Cada turma tem aula uma vez na semana. Ao todo, o primeiro módulo é composto por oito encontros semanais, com duração de 2h
A docente também destaca que muitos par ticipantes, estudantes de graduação e monitores de escolas relataram que buscaram o curso pelo interesse pela Libras e a participação gratuita. Outros, porque lecionam ou acompanham alunos surdos e não sabem como conduzir o ensino com os mesmos, pois não obtêm o preparo da rede de ensino, e ainda há aqueles que já precisaram se comuni car com surdos no trabalho e se sentiram mal por não conse guirem fazê-lo com excelência.
“Estou como coordenadora e participante do projeto e posso dizer que tem sido muito praze roso, especialmente pelo fato da gente conseguir pro porcionar isso à comunidade externa à Universidade, sabendo do papel social que essa ação trará para as pessoas que realmente precisam de acolhimento e inserção social”, complementa Meire.
Para a estudante Gabriella, a participação além de ajudar na comunicação com o público
surdo, contribui de maneira geral, em sua vida pessoal, a ter mais paciência, uma vez que é pre ciso treinar cada sinal com precisão. “Não conse guiria sem a ajuda de todos que têm participado da ação, em especial a professo ra Meire que apoiou a iniciati va desde o começo; a intérprete Jakeline, que convidou os surdos a participarem e tem nos ensi nado juntamente ao Cristiano; e a minha amiga também petiana Rúbia, que tem me ajudado na organização do projeto desde o início”.
“A importância desse curso é justamente abrir as portas para o conhecimento. Por meio dele des cobrimos, por exemplo, que temos um estudante que veio de outro estado e é intérprete, então ele trouxe uma troca muito rica, aprendemos alguns sinais de lá. O curso é essa troca, não sou detentora de todo o conhecimento, então todos nos ensinam, os surdos, os intérpretes de outras instituições, entre outros”, destaca a tradutora e intérprete da UFMS.
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“Traduzir as palavras e interpretar é fácil, o mais difícil é interpretar suas peculiaridades, como fazê-los serem ouvidos”.
Coordenadora Meire Aparecida Silvestrini Cordeiro aponta participação ativa dos estudantes, com interações enriquecedoras para todos
Câmpus de Aquidauana implanta observatório de geoeconomia
Estudos das importações e exportações podem contribuir para a melhor eficácia das políticas de desenvolvimento socioeconômico no estado
Texto: Thalia Zortéa Fotos: arquivos do pesquisador
Nas últimas décadas, a industrialização de Mato Grosso do Sul tem criado oportunidades de qualificação de mão de obra e contribuído para a geração de empregos formais. O crescimento do setor e a atração de novos investimentos é possi bilitada por políticas estratégicas, que compreendem as lógicas de produção no estado, a distribuição de atividades econômicas, o estudo das dinâmicas de importação e exportação, além da análise da relação da economia em nível local e global para a aplicação de recursos em setores específicos. Esse é o campo de estudo investigado pelo projeto de pesquisa: “A dinâ mica do mercado externo dos principais municípios
de Mato Grosso do Sul”, coordenado pelo professor do Câmpus de Aquidauana Fernando Rodrigo Farias, desde de 2020.
A pesquisa visa a produção de um diagnóstico geo econômico detalhado das importações e exportações de cada município do estado, nos últimos 20 anos, a partir de dados levantados e organizados pelo Ministério da Economia. “Criamos recentemente o Observatório de Geoeconomia e Análise Sócio-espacial Regional, onde serão desenvolvidas pesquisas com recorte geográfico de abrangência voltado para Mato Grosso do Sul e a região Centro-Oeste que darão continuidade a estudos deste perfil”, explica o coordenador.
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Um dos objetivos é disponibilizar um portal com mapas dos grandes temas geoeconômicos locais, esta duais e da grande região, que podem ser utilizados em pesquisas e ações do ensino básico e superior. “A cria ção de um ambiente com informações socioeconômi cas e ambientais pode servir como coadjuvante para as políticas de planejamento territorial e desenvolvimen to social e econômico, além de criar um espaço que reu nirá análises de importantes informações geoeconômicas e que, muitas vezes, estão di luídas nos grandes bancos de dados, mas, sem muita aces sibilidade da população em geral”, destaca.
“A criação de um ambiente com informações socioeconômicas e ambientais pode servir como coadjuvante para as políticas de planejamento territorial e desenvolvimento social e econômico”
No Observatório, serão produzidas informações acerca das dinâmicas produtivas, do turismo regional e das relações externas; economia local nos setores primário, secundário e terciário; desenvolvimento in dustrial, comercial, de serviços e do agronegócio em diferentes escalas; cooperativismo; configuração econô mica e a geração de emprego e renda em assentamentos e aldeias regionais; sustentabilidade e meio ambiente; recursos minerais; uso e conservação do solo; compor tamento de preços de frutas, verduras e legumes, além dos índices de preços da cesta básica em Aquidauana.
Entre os bancos de dados geoeconômicos e só cio-espaciais existentes, estão previstos levantamen tos nos bancos de dados públicos do Instituto Bra sileiro de Geografia e Estatística (IBGE); Ministério da Economia; Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); IpeaData; Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul; da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária; Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Eco nômico, Produção e Agricultura Familiar; Federa ção das Indústrias de Mato Grosso do Sul; além das secretarias municipais, cooperativas e associações.
A iniciativa ainda pretende beneficiar e incluir pes quisas dos cursos de graduação e pós-graduação em Ge ografia do Câmpus, constituindo-se como um espaço de referência analítica da região do município para produ ção de conhecimento científico e convivência acadêmica. “Muitas vezes, os grandes bancos de dados a exemplo do IBGE tem milhares de informações, mas quem tem
acesso a essas informações? Quem as interpreta? É papel da Universidade, de nós pesquisadores”. O professor ressalta que o estado e as empresas pri vadas precisam conhecer o perfil de consumo sul-mato -grossense para traçar estraté gias. “Desenvolver pesquisas e levantamentos detalhados deste dinamismo pode apontar ca minhos, inclusive oportunida des de mercado. Esses estudos, por exemplo, podem apontar um diagnóstico da importação de produtos agroalimentares, mas que a produção interna tem condições de produzir. É importante também para apon tar os gargalos de exportarmos produtos, na maioria dos casos, de baixa e média tecnologia e importamos praticamente todos os produtos de alta tecnologia, com elevado teor tecnológico acumulado”.
Publicações
As análises desenvolvidas até então pelo projeto de pesquisa foram realizadas pelo coordenador, em parceria com os professores Camilo Alejandro Bustos Avila, Antonio Firmino de Oliveira Neto e Ricardo Lopes Batista e estudantes do curso de Geografia do Cpaq, além de pesquisadores como Carlos José Espín dola e Roberto Cesar Cunha da Universidade Federal de Santa Catarina e Rafael Oliveira Fonseca da Uni versidade Estadual de Mato Grosso do Sul. Alguns dos resultados alcançados já estão disponíveis em três artigos científicos publicados nas revistas Geosul e Caminhos de Geografia.
Uma dessas publicações é o artigo “Dinâmica produtiva e ordenamento territorial dos agronegó cios do Mato Grosso do Sul pós-2003”, que aponta que os diferentes agronegócios sul-mato-grossenses constituíram-se como um dos principais setores econômicos geradores de renda no estado, devido a fatores internos e externos, como os investimentos em infraestrutura e a elevada demanda por produtos agroalimentares e minerais.
Desde os anos 90, os investimentos para criação de uma nova fronteira agrícola e produtiva foram intensificados, especialmente pela localização geográfica privilegiada e pelo potencial geoeconômico do estado, com divisa internacional com o Paraguai e a Bolívia
Economia
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Mapa, produzido pelo projeto de pesquisa, apresenta a distribuição do Produto
e estadual com o Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. “Embora, hoje, Mato Grosso do Sul seja parte do centro dinâmico nacional, não é um centro dinâmico da indústria e do consumo. Nós temos um agronegócio muito forte, mais desenvolvido do Brasil”, complementa o professor do curso de Geografia. “Temos um certo padrão produtivo que se desenvolveu principalmente a partir da década de 1990 e que vem mudando. Algumas regiões passaram a ter algumas ilhas de desenvolvimento, como no caso de Três Lagoas que tem uma indústria bem interessante e muito forte”, destaca.
Segundo dados levantados pelo professor do Cpaq e pelos pesquisadores da UFSC, as transforma ções produtivas de Mato Grosso do Sul são resultado principalmente de investimentos estatais em setores cruciais, como a indústria, a infraestrutura e a logís tica. “Pesquisas mostram que, ao mesmo tempo que nós temos, na região leste do estado, aquela explo são muito grande das indústrias de papel e celulose, você passa a ter grandes investimentos do BNDES em logística, a exemplo dos investimentos na BR-163, reforçado pela pavimentação da BR-158, ligando os
municípios de Três Lagoas, Selvíria e Aparecida do Taboado, conformando um importante elo logístico regional, e também investimentos no setor ferroviário com ligação com São Paulo”.
Com a execução do Programa de Aceleração do Crescimento no estado de Mato Grosso do Sul, entre 2003 e 2014, setores como o papel e celulose, sucroalco oleiros, abatedouros de aves, bebidas, mineração, frigorí ficos, laticínios e curtumes foram ampliados. “O próprio desenvolvimento de logística que nós tivemos fornece uma capacidade de fluidez muito maior e faz com que as empresas e grande parte das indústrias que são de fora, tenham se instalado aqui”, esclarece o coordenador.
“Um exemplo são as grandes cooperativas de produção do interior do Paraná que estão no estado. Em um passado recente, elas vinham para cá bus cando criar um entreposto para coletar soja e milho e levar para o Paraná para industrializar. Agora elas têm interesse de se instalar aqui por uma questão do centro de produção das matérias-primas que elas utilizam, e passaram a implantar indústrias”, finaliza.
Outro tema discutido pelo projeto de pesquisa foi a formação de ilhas de desenvolvimento e seus im
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Interno Bruto por mesorregião de Mato Grosso do Sul
pactos no Produto Interno Bruto de alguns municípios no artigo “O dinamismo econômico e produtivo do es tado de Mato Grosso do Sul pós-2003: as transformações produtivas das mesorregiões”. A publicação aponta que a reorganização produtiva gerada após os inúmeros in vestimentos em logística e infraestrutura pelo BNDES faz com que um número reduzido de cidades concentre a maior parcela da riqueza produzida, como é o caso de Campo Grande, pertencente à mesorregião Centro-Nor te, e de Dourados, integrante da região Sudeste.
“Embora tenha ocorrido desenvolvimento indus trial significativo a partir de 2003, o setor é o mais importante apenas para seis municípios do estado e a mesorregião Leste apresenta amplo destaque em rela ção às outras”, esclarece o coordenador do projeto de pesquisa. Em 2019, Três Lagoas, Selvíria, Paranaíba, Nova Andradina, Costa Rica, Chapadão do Sul e Água Clara concentravam 73,14% do total do PIB dessa me sorregião composta por 18 municípios.
“A região leste do estado teve uma explosão urbana e passamos a importar toneladas e toneladas de alho da China, por exemplo. Alho, como se diz na roça, pro duz até no pé da escada. Vamos por meio da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural é possível incentivar o cultivo de alho na nossa agricultura familiar, área que o grande produtor do estado não tem interesse”, esclarece o professor acerca das possibilidades para cria ção de políticas de incentivo ao mercado interno.
Além disso, o desempenho econômico sul-ma to-grossense deve levar em conta as combinações
geográficas. “A maior parte do mercado externo de Mato Grosso do Sul (74,96%) tem como comprado res países emergentes e 25,08% países desenvolvi dos” informa o coordenador.
Um dos emergentes com relações econômicas com o estado é a China, principal compradora da produção agroindustrial e a segunda maior parceira comercial nas importações, como evidencia o terceiro artigo “Considerações sobre a dinâmica das relações econômicas de Mato Grosso do Sul com a China: 1997 a 2019”, escrito pelos professores da UFMS.
“Os dados mostram que até 1998 houve uma grande participação do leste europeu nas nossas exportações. A partir de 2004 e 2005, justamente por essas demandas de países emergentes, como a Índia e a China, os países do oriente passam a demandar muitos produtos”, conclui. A partir de 2004, saímos de uma economia pulverizada com cerca de 22 países europeus para a concentração das relações comerciais com o mercado asiático e países da América do Sul.
Até o início do século atual, os brinquedos e ob jetos de plástico e de uso pessoal estavam no topo do ranking de importações da China. “A partir da segunda década de 2000, começam a ser importados produtos com maior grau tecnológico, como contê ineres, fibra óptica, sistemas integrados de computa dores, máquinas e motores industriais”, que influen ciam diretamente no desenvolvimento industrial dos municípios da porção leste do estado.
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Viagem de campo das disciplinas “Geografia Econômica” e “Geografia de Mato Grosso do Sul”, vinculadas ao projeto de pesquisa
Fraternidade, dedicação e serviço público: 50 anos de amor pela UFMS
Técnica em Assuntos Educacionais chegou à Universidade antes da federalização da Instituição
Texto: Letícia Dantas (Bolsista do Programa de Rádio e TV voltado para Educação e Conscientização do Trânsito)
Fotos: arquivo pessoal
Em seus 71 anos, Nilda Rodrigues da Silva Mo reira só teve dois empregos na vida: o pri meiro como telefonista, e o segundo, como servidora pública.
Natural de Cuiabá, aos 18 anos foi para Três La goas e três anos depois, aos 21, começou a trabalhar na UFMS, no Câmpus de Três Lagoas, em 1971. “Eu não imaginava trabalhar na UFMS. Tinha um amigo que convidou minha amiga Marilene para trabalhar na Universidade. Naquela época não havia concurso, mas ela teve que ir embora, e então ele me convidou e assim eu entrei”.
Sua dedicação é notada facilmente ao ouvi-la contar sobre sua história. Diz que sempre fez o pre ciso para aumentar sua capacitação, como a faculdade de Pedagogia. Ela ingressou no curso superior em
Memória
uma instituição privada em Nova Andradina, cidade vizinha de Três Lagoas, quando ainda era assistente no Câmpus. Dessa maneira, seu cargo mudou para Técnica em Assuntos Educacionais.
Em 2004, sua filha Jaqueline Moreira ingres sou no curso de Ciências Biológicas da Cidade Universitária, em Campo Grande. Nilda conta que ficou extremamente feliz pela conquista, mas ao mesmo tempo triste, pois ficaria longe da filha. Por isso, pediu transferência para a capital. Após 33 anos como servidora e no cargo de chefe da Secretaria Acadêmica em Três Lagoas, chegou a Campo Grande em 2005, e desde então trabalha na Pró-reitoria de Graduação, como chefe da Se cretaria de Controle Escolar.
Mudança que a deixou mais perto de Jaqueline sem mesmo imaginar o quanto ficariam próximas. Na colação de grau de sua filha, Nilda teve a opor tunidade de entregar o canudo para ela. E, na época, por estar substituindo o Chefe da Coordenadoria de Administração Acadêmica, pode assinar o próprio diploma da filha.
A UFMS acabou se tornando muito mais do que um ambiente de trabalho. Aos poucos, com cada passo, conquista e história, foi se tornando um ambiente familiar.
Novos desafios
Resiliente e adaptável, as diversas mudanças e inovações tecnológicas que a servidora presenciou nunca foram um problema ou obstáculo. No início de sua carreira, o histórico dos estudantes era dati lografado, técnica que hoje é considerada por muitos uma arte que caiu em desuso.
Datilografar era ter o domínio da máquina de escrever, o que exigia muito treino na técnica, afinal, as teclas eram duras, as folhas precisavam ser troca das manualmente e não havia margem para erros de digitação. “Não era igual é o computador que se você erra, é só apagar”, comenta entre risadas. A máquina de escrever foi então substituída pelos computado res, e Nilda relembra com clareza como foi quando a novidade chegou ao seu setor. “Eu me lembro muito bem de quando os computadores foram integrados ao nosso trabalho. Um diretor substituto passou na secretaria e disse que haveria redução de três pessoas para apenas uma, porque a partir daquele momento tudo ficaria no computador”. Situação que a deixou apreensiva e também curiosa. Conta que ficava ima ginando: “O que será que é esse computador? Será que abre ele e joga a pasta do aluno lá?”, mas quando o computador veio, conseguiu se adaptar progressi vamente até alcançar seu domínio.
Essa experiência de adaptação a novidades prepa rou a servidora para mudanças futuras, como aconte ceu em 2017, quando foi implementado o Sistema Ele trônico de Informações,sistema de produção e gestão de documentos, que facilita e promove a transparência dos processos e substitui tudo aquilo que seria impres so pelo armazenamento eletrônico.
O contato cada vez mais recorrente com as no vas tecnologias fizeram Nilda ver nesses meios mui tos benefícios, principalmente durante a pandemia de Covid-19. “Vi que agora nesse tempo de pandemia, elas foram muito boas. Pensa se fosse aquele monte de processo de papel para você levar para casa?”
Ainda sobre a pandemia, a servidora conta que o momento foi muito triste e assustador para ela, por nunca ter vivenciado nada assim. Como a mulher ativa que é, o que não gosta é de ficar sem ter o que fazer, por isso o que a ajudou a passar por esse perío do foi continuar seu serviço, mesmo que a distância. “A Universidade não parou, teve colações de grau e tudo mais”. Ela retornou às atividades presenciais em 16 de junho deste ano e, apesar de ter aproveita do seu tempo em casa, ficou muito feliz por poder reencontrar os colegas.
Amigos de caminhada
Os amigos são parte fundamental da história da servidora, afinal, por meio de um deles ela começou sua carreira. Durante a trajetória, ela continuou a fazer
bons amigos e guardar momentos memoráveis com essas pessoas. Quando questionada sobre o que mais a marcou nesses 50 anos de UFMS, ela afirma que foram as pessoas da Prograd, sempre muito animadas. “Anti gamente a gente fazia amigo secreto, alugávamos um lugar fora e fazíamos uma festa de confraternização, era muito bom”, relembra saudosa.
Nilda também é muito querida e estimada por aqueles que convivem com ela em seu dia a dia de trabalho. Thalita Rios, Técnica em Assuntos Educa cionais, trabalha há nove anos na UFMS também na Prograd, e afirma que conviver com Nilda é muito inspirador. “Ela é uma servidora exemplar, uma ver dadeira líder, que sempre desperta o melhor das pes soas, procurando sempre exaltar seus pontos fortes, querida por todos, sem exceção”.
Thalita conta ainda que quando vê a amiga nos corredores, é uma alegria, pois sempre encontra um abraço fraterno e amigo. Ela complementa dizendo que a amiga sempre está disposta a orientar e ajudar no que for necessário, além de ser dona de uma risada vibrante que contagia todos ao seu redor.
E quem passa um tempo com Nilda, mesmo que curto, percebe que ela transmite algo que é um valor e característica da Universidade: acolhimento. Foi esse o sentimento que esteve presente durante toda a nossa conversa, percebido em sua receptividade, no modo como fala com seus colegas de setor e em como relem bra com carinho daqueles que cruzaram seu caminho.
Para ela, o trabalho vai muito além da jornada de oito horas diárias. O acolhimento e cuidado por seus companheiros de profissão se expressa de diversas for mas, até mesmo na culinária. Um hábito que a servidora desenvolveu na Cidade Universitária foi o de cozinhar para todos os colegas no horário de almoço. Ela conta que após o falecimento de seu esposo e do casamento dos filhos começou a participar dos almoços na Instituição. Esse costume, que só parou durante o período da pan demia devido ao afastamento, já aconteceu tantas vezes que seu bife acebolado de coxão duro se tornou famoso. Quem provou afirma ser delicioso!
Sobre a hora de parar, Nilda conta que muitos de seus amigos já se aposentaram e agora ela já se progra ma para dar início a essa nova fase também, no final deste ano. Motivada pela gestação de sua filha, ela quer ajudá-la e aproveitar o neto que está chegando. “Mas se não fosse isso, eu sairia só pela expulsória, com 75 anos. Eu gosto muito de trabalhar, de estar aqui. Agora estou aproveitando meus últimos momentos”.
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Memória
Nilda Rodrigues está há mais de 15 anos na Cidade Universitária
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