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Ciências Agrárias
from Revista Candil n.13
by Agecom UFMS
Controle estratégico de verminose em equinos
Estudo avalia período ideal para tratamento de parasitoses de animais infectados na região Centro-Oeste
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Texto: Crislaine Oliveira Fotos: arquivo das estudantes
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Mato Grosso do Sul possui cerca de 418 mil cavalos. A maior parte desse efetivo de animais tem duas finalidades: lida no campo e competições como laço comprido, salto, apartação, tambor, dentre outras. Parte dos animais também é destinada à equoterapia e à Segurança Pública. Para o professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (Famez) Fernando de Almeida Borges, existem alguns desafios com o manejo dos equinos. “Para os animais de competições e de maior valor genético e comercial, a reprodução, o melhoramento genético e a nutrição são os grandes desafios de hoje”.
A vermifugação também é um ponto de atenção, em especial, com relação à periodicidade do tratamento. “Esse é um tema ainda pouco estudado no Brasil, portanto, não há calendários sanitários bem definidos para as diferentes realidades da equideocultura”.
Os equinos têm em seu organismo um elevado número de espécies de vermes, ultrapassando mais de 90, segundo o professor. “Comparado a outros animais domésticos, como o cão, gato e os bovinos, o cavalo é o animal mais parasitado por mais espécies
diferentes de helmintos (vermes). Mas isso pode ser influenciado pela faixa etária. Os potros, por exemplo, podem ser infectados logo ao nascimento, quando estão mamando, podem ingerir larvas de Strongyloides westeri no leite, mas em poucas semanas já adquire resistência a esse parasito. Outras duas espécies mais comuns em potros são Parascaris equorum (lombriga) e Oxyuris equi. Já na fase adulta, há várias outras espécies, mas os mais importantes são os pequenos (ciatostomíneos) e grandes estrôngilos, que são os mais patogênicos”.
De acordo com o professor, a contaminação dos animais se dá, na maioria dos casos, pela ingestão das formas infectantes no capim, podendo ocorrer outras formas, como lamber outros animais, pelo leite ou até mesmo pela ingestão de moscas.

Tipos de contaminação por parasitoses em equinos São feitas coletas de fezes a cada 28 dias na propriedade rural

O controle estratégico das verminoses deve ser realizado para garantir o bem estar, impedir a contaminação do ambiente − já que um equino adulto pode depositar até 30 milhões de ovos por dia na pastagem − e prevenir casos clínicos. “Muitas recomendações de vermifugação são feitas de forma empírica, baseada na troca de informações entre pessoas sem formação na área. Essa foi uma das principais justificativas para a realização do nosso estudo”.
A estudante do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias Mariana Green de Freitas dedica-se ao tema da parasitologia desde a graduação. Agora, no doutorado, está à frente do projeto de iniciação científica Epidemiologia e controle estratégico da verminose em equinos naturalmente infectados na região Centro-Oeste do Brasil, sob orientação do professor Fernando de Almeida Borges.
Segundo ela, o objetivo do estudo é avaliar a dinâmica populacional de parasitas em equinos, e realizar um tratamento de forma eficaz e reduzir o prejuízo para a saúde dos equinos.
“Temos poucos estudos sobre isso, principalmente na nossa região. Estamos avaliando um protocolo de tratamento estratégico em equinos na região Centro-Oeste, protocolo esse criado por nós com base

Equinos que fazem parte do experimento recebem tratamento via oral
Os estudos estão sendo realizados em uma propriedade rural no município de Anastácio, com protocolo de tratamento estratégico
nos dados da epidemiologia que temos em alguns trabalhos e idealizado para controle de verminose de equinos criados a pasto de forma extensiva. O projeto veio de uma demanda do campo, onde várias pessoas vieram questionar sobre o tratamento e ainda não tínhamos isso na literatura”.
Para os estudos que estão sendo realizados em uma propriedade rural no município de Anastácio, são feitas coletas de fezes a cada 28 dias e os cavalos estão divididos em dois grupos com 20 animais, um com controle sem tratamento, e o outro com tratamento estratégico em maio e em setembro. “São avaliados o peso dos animais, escore corporal, contagem de ovos por grama de fezes e o exame laboratorial para ver os gêneros de parasitas. Também coletamos pasto para ver a presença de larvas na pastagem”.
Segundo ela, na região Centro-Oeste há duas grandes diferenças em relação a criação de equinos: os que são criados a campo, de forma extensiva, com poucos ou até nenhum tratamento para verminose e os equinos para esporte e lazer criados em centro de treinamentos e haras que são tratados de forma supressiva. “Isso acaba favorecendo o aparecimento de parasitas mais patogênicos, o que pode diminuir o desempenho desse animal. Já o outro grupo de animais que são utilizados para esportes, como é o caso do laço comprido, percebemos que os animais são tratados a cada dois meses, o que favorece o surgimento de parasitas mais resistentes. Então, de um lado temos animais que não são tratados nunca e do outro, animais que são tratados muito”.
A estudante relata ainda que algumas práticas favorecem a contaminação dos animais, como por exemplo, usar um único piquete e, não fazer o tratamento adequado do capim, onde existe o depósito das fezes desses animais. “Quando você está em um

ambiente em que há vários animais, de vários lugares, como é o caso das provas esportivas, você está permitindo essa troca de parasitas, tendo em vista que a infecção se dá nesse contato com o alimento (capim) contaminado”.
A estudante da Famez Giulia Ornellas Fuzaro Scaléa, integrante do Programa Institucional de Iniciação Científica Voluntária, também participa dos estudos do tema, ao lado do professor Fernando Borges e da doutoranda Mariana Green. Ela foi a responsável pela apresentação do projeto no Integra UFMS 2022. “Comecei a estagiar no Laboratório de Doenças Parasitárias, pois durante a pandemia a disciplina de Parasitologia Veterinária foi uma das matérias que mais me interessaram. Em seguida, o professor Fernando Borges me direcionou para acompanhar a doutoranda Mariana Green com o seu projeto voltado para a área de verminose em equinos. Durante um ano pude acompanhá-la e sou muito grata pela oportunidade, uma vez que a minha primeira prática a campo foi com ela”.
Giulia participou do acompanhamento e da coleta de material na propriedade rural em Anastácio. “Durante esse um ano eu acompanhei e pude realizar as coletas na fazenda juntamente com o desenvolvimento do projeto dentro do laboratório e análises estatísticas”.
Ela relata que desde o início da graduação busca conhecer um pouco de cada área da Medicina Veterinária, para ter vivência em todas as áreas possíveis para que ao final da graduação possa escolher com convicção a minha área de atuação. “Por enquanto, posso afirmar que a Parasitologia Veterinária é uma das áreas da Medicina Veterinária que mais chamaram a minha atenção, foi uma experiência incrível poder ter contato com essa área por meio da prática a campo com equinos”.
O projeto será realizado até março de 2023 e segundo Mariana, alguns resultados já podem ser avaliados. “No primeiro ano o protocolo avaliado controlou a verminose, mostrando diferença estatística em relação ao grupo controle, além de reduzir a contaminação ambiental e não aumentar a frequência de parasitas mais graves para equinos. Em relação ao grupo controle para avaliar a sazonalidade dos parasitas foi possível perceber que em junho e outubro temos um aumento de larvas na pastagem e em fevereiro temos um aumento da contagem de ovos nas fezes. No entanto, precisamos terminar de avaliar os dados do segundo ciclo e terminar as coletas para chegar nas conclusões finais”.
Projeto que será concluído em 2023 já apresentou resultados no controle de verminoses nos animais que passaram pelo tratamento

