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3.8 – Racismo, discriminação e preconceito racial

Além disso, as entrevistadas relataram a importância, não só dos próprios familiares, mas também dos familiares dos amigos, configurando-se assim numa rede social de solidariedade entre esta e aquela família. Todos com o único objetivo: propiciar condições favoráveis para que seus filhos e amigos pudessem concluir seus estudos e posteriormente se inserir no mercado de trabalho nas áreas em que se formaram. Embora, algumas delas, por circunstâncias da dinâmica da própria vida, acabaram exercendo atividades que não estavam diretamente relacionadas com a sua formação. Contudo, percebe-se que, apesar de não estar exercendo funções relacionadas à sua formação, esta (a formação) contribuiu sensivelmente para que elas galgassem postos de trabalho em níveis de chefia, assessoramento, gestão, planejamento, entre outros.

stes três “fenômenos” presentes na nossa sociedade estão intimamente relacionados. Um leva aos outros. E Outra constante nas falas das nossas entrevistadas foi em relação à questão da associação entre os fatores gênero e raça, de como essa combinação é nociva para que qualquer mulher negra possa galgar outras posições sociais, outros conhecimentos, outras vivências. Segundo Maria José:

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Às vezes você tem capacidade, mas por você ser negra e mulher, infelizmente isso exclui e as pessoas deixam de te dar um cargo por conta disso.

Já a entrevistada Maria de Fátima diz que:

Eu tenho certeza que, na hora de escolher entre uma ou outra, provavelmente a mulher branca vai ter uma oportunidade a mais do que a mulher negra. Existe ainda a questão do racismo institucional16 que ele é, em algumas situações, velado e em outras não, e isso atrapalha.

Estas falas nos revelam o quanto o preconceito e a discriminação racial estão disseminados entre as pessoas e o quanto isso é nefasto para estas mulheres, principalmente quando estas pessoas são profissionais de recursos humanos e ocupam cargos que realizam a seleção de pessoal para as empresas.

A presença da discriminação racial se acumula à ausência de equidade entre os sexos, aprofundando desigualdades e colocando as afro-descendentes na pior situação quando comparada aos demais grupos populacionais – homens negros e não-negros e mulheres não negras (DIEESE, 2005).

16 Também chamado de racismo sistêmico ou estrutural, é um conceito criado por ativistas negros para assinalar a forma como o racismo penetra as instituições, resultando na adoção dos interesses, ações e mecanismos de exclusão perpetrados pelos grupos dominantes através de seus modos de funcionamento e da definição de prioridades e metas de realização. (WERNECK, 2005, p. 16).

Estes sentimentos de discriminação e de preconceito não são colocados de maneira clara, não são expostos de maneira que possamos identificá-los e combatê-los, muito pelo contrário, eles são exercidos de forma velada, camuflada e materializados através da negação do acesso do indivíduo àquela vaga no mercado de trabalho, entre outros casos em que os acessos são deliberadamente negados aos negros em geral e especificamente à mulher negra, em que o padrão branco predomina.

Os relatos apurados durante a nossa pesquisa reafirmam essa contradição e se concretizam nas falas e nas experiências vividas pelas nossas entrevistadas. Em cada fala, em cada olhar, em cada silêncio, em cada negativa, percebe-se o quanto, em alguns momentos, é difícil falar sobre essas experiências.

Em cada fala, um desejo de se calar. Em cada silêncio a vontade de gritar. Houve momentos em que algumas das entrevistadas se emocionaram ao relatar experiências de discriminação e preconceito. Em outros momentos, as entrevistadas se diziam cansadas de viver numa sociedade que, a todo tempo, lhes cobram uma postura, lhes cobram um tipo de roupa, um tipo de cabelo, um tipo de posicionamento.

Exaustas pela necessidade de provar, em todo momento, insistentemente, a sua capacidade para realização de determinadas tarefas e atividades. A constante exigência de se superar nas adversidades, as rejeições, as discriminações desencadearam, em alguns casos, problemas de saúde como depressão, stress, e deixaram traumas e sequelas que atingem até hoje estas mulheres. Tendo que buscar ajuda profissional para fazer terapias, além de buscar o apoio dos amigos e da família. Houve casos em que a inserção nos movimentos sociais negros e buscar formas e estratégias de poder ajudar outras pessoas que passaram pelos mesmos constrangimentos e experiências de discriminação, foi decisivo para sua recuperação.