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A resiliência de uma mineira

grupo de mulheres, sujeitos da nossa pesquisa, pertence a famílias numerosas, predominantemente com mais de cinco filhos.

De origem social pobre, todas estudaram em escolas públicas do primário, atual Ensino Fundamental, até o colegial, hoje Ensino Médio. O ensino superior foi cursado em universidades particulares, contudo a maioria teve que lançar mão de bolsas de estudo, algumas destas, reembolsáveis.

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Algumas das entrevistadas têm duas graduações, títulos de especializações, mestrados, doutorados e pós-doutorado. O perfil profissional constatado pelos dados coletados nos revela que a maioria das entrevistadas exerce mais de uma atividade profissional: quatro professoras, três assistentes sociais, três advogadas, uma psicóloga, uma médica ginecologista e uma pedagoga. Algumas são aposentadas, outras exercem a profissão para as quais estudaram, inclusive exercendo funções de gestão, assessoria, diretoria e/ou presidência de órgãos públicos.

A mulher negra, ela não pode desistir, ela tem que continuar lutando pelos seus direitos, fazendo valer a sua competência, seu potencial, mostrando o que ela tem de melhor, não só como profissional, mas como mãe, como cidadã. Maria Aparecida11

Sempre valorizou muito os estudos. Estudou até o ensino médio em escolas públicas no interior de Minas Gerais, onde nasceu. Em 1971, Aos 18 anos, veio para São Paulo para morar com os irmãos mais velhos e com o objetivo de continuar seus estudos e ter uma profissão. Sempre foi uma aluna bastante dedicada, tanto aos estudos quanto aos irmãos. Quando chegou na cidade de São Paulo teve que ficar cuidando da casa para que os irmãos pudessem trabalhar.

Durante um ano, ao mesmo tempo em que cuidava da casa, estudava sozinha, se preparando para o vestibular. Fez vestibular para Filosofia. No segundo ano do curso de Filosofia, chegou à conclusão de que tinha que fazer um curso que lhe inserisse no mercado de trabalho. Naquela época, em 1973, o curso de Serviço Social estava em ascensão no Brasil. Havia muitas oportunidades nessa área.

Em 1977 se formou em Serviço Social achando que, com o diploma na mão, as coisas seriam mais fáceis. Começou a mandar currículos, fazer várias entrevistas e não conseguia se inserir no mercado de trabalho na área do Serviço Social. Para poder sobreviver, teve que trabalhar como vendedora de porta em porta, fazendo demonstração e vendendo produtos. Teve que conseguir uma bolsa reembolsável para pagar a faculdade, pois o dinheiro do salário não era suficiente.

No ano de 1978, fez o concurso do Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo e passou, sendo chamada somente em 1983. De 1978 a 1983 ficou fazendo “bicos” e dando aula também. O TJ/SP foi o primeiro e único trabalho como assistente social.

Com recursos próprios foi para a Itália fazer uma pesquisa sobre crianças brasileiras adotadas por estrangeiros. Depois de um ano e meio, voltou para o Brasil e resolveu voltar para a Universidade. Começou a frequentar o Núcleo da Criança e do

11 Na exposição dos sujeitos, por uma questão ética e de acordo com o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), os nomes são fictícios.