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APRESENTAÇÃO

APRESENTAÇÃO

Asociedade brasileira necessita, a cada dia, de jovens brasileiros comprometidos com as questões de nosso tempo, de nossas vidas, de maneira a persistir na construção de uma sociedade mais justa, democrática, igualitária, que combata de forma veemente todas as formas de preconceito e discriminação e assim, caminharmos para uma sociedade mais humana.

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Apesar de todas as contradições de nosso tempo, onde vemos cotidianamente uma “banalização” da violência, e de suas formas de manifestação, onde aquilo que deveria nos indignar passa a ser aceito, como se fosse “natural”, encontramos nesses jovens pesquisadores a vontade intelectual de pensar e atuar sobre uma questão tão enraizada e perversa da sociedade brasileira: o preconceito racial, aliando a ele, a questão de gênero e classe social.

O desafio de estudar a trajetória de mulheres negras e pobres que em sua vida conseguiram romper as mais diversas adversidades e barreiras para garantir sua cidadania, sua vida, foi tratada pelos jovens pesquisadores com esmero, persistência e respeito àquelas mulheres “com quem se encontraram” para estabelecer o diálogo que este livro revela nas próximas páginas, resultado do Trabalho de Conclusão de Curso para graduação em Serviço Social.

Gostaria de lembrar a fala da autora (aluna na época), que é afro-brasileira, “fazendo esta pesquisa eu aprendi a me conhecer melhor... a ter mais respeito pelo que eu represento...”. Num processo como esse, pesquisador e sujeitos de pesquisa, criam uma teia de significados que possibilitará novas formas de se posicionar frente à realidade, através de uma resignificação crítica da realidade.

Nas questões expostas pelas sete mulheres entrevistadas, identificamos questões relacionadas à subjetividade, da vida vivida de cada uma delas, da maneira como buscaram ao seu modo, viver a vida, mas, e principalmente, apontam em seus relatos e é defendido pelos autores, a responsabilidade do Estado para que possamos brevemente romper com tanta barbárie e a reprodução social das desigualdades sociais.

Este estudo é mais um instrumento de denúncia para romper com a invisibilidade da questão racial que afeta de forma drástica as mulheres negras e pobres. É uma exigência para que as diversas Políticas Públicas tenham um “olhar”, uma atitude de proteção e defesa a quem depende do poder público, muitas vezes, até para sobreviver. E ainda o estudo revela, que se não agirmos agora, continuaremos reproduzindo ainda por muito tempo, milhares de mulheres e homens excluídos de uma sociedade que se ergueu e se enriqueceu com seu suor e sangue.

Daí a importância de jovens intelectuais e profissionais comprometidos com a mudança da realidade social. Não basta a formação acadêmica profissional, é fundamental a formação ética, que nos coloca no “olho do furacão”, onde nos diversos espaços profissionais que atuamos temos que defender cotidianamente e arduamente àqueles que mais necessitam, defender valores como cidadania, democracia, justiça social, igualdade, humanidade, e que as próximas páginas revelarão aos leitores que são valores violados cotidianamente principalmente às mulheres negras e pobres.

Este livro demonstra que a esperança resiste e a luta perpassa e contamina aqueles que estão atentos e dispostos a acreditar que uma outra sociedade é possível.

Para finalizar, gostaria que a “bela” e fecunda reflexão feita por esses dois jovens pesquisadores que os leitores encontrarão na leitura do livro, se unisse à reflexão feita por Saramago, que nos revela, reafirma e nos exige o compromisso com a mudança, com o dever da reparação àqueles que conseguem aprender a ver. Penso que a leitura deste livro contribuirá para que possamos aprender a ver...

“Se podes olhar, vê. E se podes ver, repara.” José Saramago

Maria Natália Ornelas Pontes Bueno Guerra

Assistente Social,e Mestre em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), Profª do Curso de Serviço Social do Centro Universitário Monte Serrat (UNIMONTE), Santos-SP. Com especialização em Sociologia (ESP/USP) e Violência Doméstica contra crianças e adolescentes (LACRI/USP).