História da Família Beckhäuser no Brasil

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Toni Jochem Organizador

Co-autores:

Adauto Beckhäuser Clay Juliano Schulze Frei Alberto Beckhäuser Inês Back Fiorio Juliana Beckhausen Keler Luciane Beckhäuser Laércio Beckhäuser Rudi Beckhauser

Edição da AFABE Florianópolis – SC 2006


Copyright © 2006, by AFABE Capa: Clay Juliano Schulze Editoração Eletrônica: Marcelo Pescador dos Santos Revisão Gramatical: Marcio da Conceição Garcia Orientação Histórica: Toni Jochem Revisão de Conteúdo: Respectivos Autores Coordenação Editorial: Toni Jochem (48) 3242-0826 – E-mail: toni@tonijochem.com.br www.tonijochem.com.br

FICHA CATALOGRÁFICA Bibliotecária responsável: Cleuza Regina Costa Martins – CRB 14/500 H673

História da Família Beckhäuser no Brasil / Toni Jochem... [et al.]. — Florianópolis : Ed. do Autor, 2006. 320 p. : il.; color. Organização de: Toni Jochem ISBN 85-903946-8-9 1. Genealogia – família – Beckhäuser. 2. História – família – Beckhäuser. 3. Imigração – alemã – Brasil. I. Beckhäuser, Adauto. II. Schulze, Clay Juliano. III. Beckhäuser, Alberto (frei). IV. Fiorio, Inês Back. V. Beckhäuser, Juliana. VI. Beckhäuser, Keler Luciane. VII. Beckhäuser, Laércio. VIII. Beckhäuser, Rudi.

CDU 929.2:325.14(430)(81)(816.4) Reservados à AFABE todos os direitos de reprodução, total ou parcial. Impresso no Brasil / Printed in Brazil

Associação da Família Beckhäuser no Brasil – AFABE E-mail: familia@familiabeckhauser.com.br Website: www.familiabeckhauser.com.br Presidente: Adauto Beckhäuser OAB/SC 2231 Rua Tenente Silveira, 200, Sala 405 – Ed. Atlas – Centro Cep: 88010-300 – Florianópolis – SC Fone: (48) 3224-5505 / 3222-7781 Fax: (48) 3222-8436 E-mail: adauto@redefloripa.com.br


Abreviações AAB = Acervo Arlindo Beckhäuser. ADAB = Acervo Dr. Adauto Beckhäuser. AAFABE = Acervo da Associação da Família Beckhäuser. ACJS = Acervo Clay Juliano Schulze. AFAB = Acervo Frei Alberto Beckhäuser. AFABE = Associação da Família Beckhäuser. AIBF = Acervo Inês Back Fiorio. AJB = Juliana Beckhausen. AJMB = Acervo Juliana Marques Beckhausen. AKLB = Acervo Keler Luciane Beckhäuser. ALB = Acervo Laércio Beckhäuser. APB = Arquivo da Paróquia de Birkenfeld, Alemanha. APEM = Acervo Pe. Evair Michels. APESC = Arquivo Público do Estado de Santa Catarina. APLSI = Arquivo da Paróquia Luterana de Santa Isabel. ARB = Acervo Rudi Beckhauser. ASLI = Associação dos Liturgistas do Brasil. ATJ = Acervo Toni Jochem. BPESC = Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina. CBLB = Confederação Brasileira de Luta de Braço. CEFEPAL = Centro de Estudos da Família Franciscana do Brasil. CNBB = Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

DCE = Diretório Central dos Estudantes. DEINFRA = Departamento Estadual de Infra-estrutura, Órgão do Governo do Estado de Santa Catarina. DF = Distrito Federal. GE = Google Earth. GNU = Grêmio Náutico União, de Porto Alegre. OAB/SC = Ordem dos Advogados do Brasil. Secção Santa Catarina. OFM = Ordem dos Frades Menores. OFS = Ordem Franciscana Secular. PDC = Partido Democrata Cristão. Pe. = Padre. PL = Partido Libertador. PPB = Partido Progressista Brasileiro. PPR = Partido Progressista Reformador. PR = Paraná. PRN = Partido da Reconstrução Nacional. PUC = Pontifícia Universidade Católica. REB = Revista Eclesiástica Brasileira. RJ = Rio de Janeiro. SC = Santa Catarina. SITRUPEGE = Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Presidente Getúlio. UDN = União Democrática Nacional. UFSC = Universidade Federal de Santa Catarina. ULBRA = Universidade Luterana do Brasil. UNISUL = Universidade do Sul do Estado de Santa Catarina. UNIVALI = Universidade do Vale do Itajaí.


Nossos Colaboradores Agradecemos às pessoas aqui mencionadas pela colaboração no processo de elaboração desse livro. Consignamos nosso especial agradecimento a: Adauto Beckhäuser; Alexandre Back; Aparecida Beckhauser Dias; Arlete Diomário da Rosa Cherubin; Carlota Wandressen da Rocha; Carol Beckhauser; César Derner Beckhäuser; Clarkson Sell; Clay Juliano Schulze; Clenio Jair Schulze; Daniele Beckhäuser de Andrade; Dilma Waltrich; Dulcianne Beckhauer; Dulcineia Francisca Beckhauser; Edson Beckhäuser; Evandro Thiesen; Gabrielle Beckhauser Gonçalves; Hazael Batista; Inês Back Fiorio; José Beckhäuser; José Franscico Hoepers; Josef Herholz - in memoriam; Juliana Beckhausen; Keler Luciane Beckhäuser;

Laércio Fagundes Fogaça Beckhäuser; Leonardo Beckhäuser; Luiz Beckhauser; Luiz Flávio Fiorio; Manoel Scheimann da Silva; Marcelo Beckhäuser; Maria Liliam Beckhauser; Maria Madalena Back Vandresen; Maria Telma Beckhauser; Melânia Back da Rosa; Miriam Beckhauser; Osni Antônio Machado; Pastor Walter Weber; Pe. Evair Michels; Pe. Frei Alberto Beckhäuser; Rafaela Silvestre; Rosângela Beckhauser; Rudi Backes; Rudi Oscar Beckhäuser; Sônia Cibeli da Silva; Sueli Maria Beckhäuser; Valney Beckhauser; Vanilde Beckhauser;

Diretoria da Associação da Família Beckhäuser no Brasil – AFABE Presidente ADAUTO BECKHÄUSER Vice-Presidente LAÉRCIO FAGUNDES FOGAÇA BECKHÄUSER

Conselho Fiscal Titular Pe. FREI ALBERTO BECKHÄUSER

Primeira Secretária SUELI MARIA BECKHÄUSER

Conselho Fiscal Titular GABRIELLE BECKHÄUSER GONÇALVES

Segunda Secretária ARLETE DA ROSA CHEROBIN

Conselho Fiscal Suplente DANIELE BECKHÄUSER DE ANDRADE

Primeiro Tesoureiro VALNEI JOSÉ BECKHÄUSER

Conselho Fiscal Suplente LEONARDO BECKHÄUSER

Segundo Tesoureiro JOSÉ BECKHÄUSER

Conselho Fiscal Suplente CESAR DERNER BECKHÄUSER

Conselho Fiscal Titular RUDI OSCAR BECKHÄUSER

Conselho Fiscal Suplente EDSON BECKHÄUSER


Dedicamos este livro à memória do casal Johann Karl Bechkäuser e Maria Elisabeth Kropp e de Johann Karl Bechkäuser e Margaretha Schug, a esposa do segundo casamento e a todos os seus descendentes.



Sumário Apresentação..........................................................................11

Toni Jochem

Introdução..............................................................................15

Frei Alberto Beckhäuser

Primeira Parte

Aspectos da História da Família Beckhäuser Capítulo I - Em Busca das Origens.........................................19

Frei Alberto Beckhäuser

Capítulo II - A Saga do Imigrante Johann Karl Beckhäuser..41

Adauto Beckhäuser

Capítulo III - Maria Elisabeth Kropp Beckhäuser .................61

Adauto Beckhäuser

Capítulo IV - Margaretha Schug Beckhäuser.........................67

Frei Alberto Beckhäuser

Capítulo V - A Família Beckhausen no Rio Grande do Sul....75

Juliana Beckhausen e Adauto Beckhäuser

Capítulo VI - Johann Beckhäuser e Auguste Grünfeld e Descendentes......................................................................................79 Frei Alberto Beckhäuser

Capítulo VII - A Família Beckhäuser em Urubici-SC ............93 Keler Luciane Beckhäuser

Capítulo VIII - Histórico de Irma e Antônio Beckhauser.....105 Clay Juliano Schulze

Capítulo IX - Gabriel Carlos Beckhäuser e Corina Mendonça.117 Adauto Beckhäuser

Capítulo X - Bernardo Carlos Beckhäuser: A Vida de um Teutobrasileiro................................................................................139 Laércio Beckhäuser


Capítulo XI - Biografia de Maria Beckhäuser.......................145

Inês Back Fiorio

Notas de Fim da Primeira Parte...........................................150

Segunda Parte

Visibilidade da Família Beckhäuser Capítulo XII - Crônicas de Viagens............................................157 Frei Alberto Beckhäuser e Adauto Beckhäuser

Capítulo XIII - Trajetória de Uma Vida.....................................167 Frei Alberto Beckhäuser

Capítulo XIV - Academia de Acordeon Rudi Beckhauser........175 Rudi Beckhauser

Capítulo XV - Fatos Pitorescos da Família Beckhäuser.............181

Laércio Beckhäuser e Adauto Beckhäuser

Capítulo XVI - Entrevista com Marion Beckhäuser..................187 Adauto Beckhäuser

Capítulo XVII - Associação da Família Beckhäuser no Brasil AFABE.........................................................................................191 Toni Jochem

Capítulo XVIII - Brasão de Armas da Família Beckhäuser.......199

Laércio Beckhäuser

Capítulo XIX - Memorial da Família Beckhäuser......................207 Frei Alberto Beckhäuser e Adauto Beckhäuser

Capítulo XX - Genealogia da Família Beckhäuser.....................213

Frei Alberto Beckhäuser e Adauto Beckhäuser

Notas de Fim da Segunda Parte.................................................269 Anexos.........................................................................................272 Fontes e Bibliografia....................................................................316


Apresentação “Felizes, (...), as famílias que têm história, porque lhes é dado o júbilo de a recordar, porque ela constitui a fonte fecunda, inesgotável e profunda de suas energias morais; porque, a cada passo que dão, sentem atrás de si o rastro de sua própria imortalidade. Que é a vida, senão a história que começa? Que é a história, senão a vida que continua? A história de nossa família, de nossa gente, de nossa casa está conosco. Respira perto de nós. A sua presença todos adivinham. Ora bela, ora triste, é uma grande história”. Júlio Dantas da Academia de Ciências de Lisboa, in “Outros Tempos”

Diante das incertezas do futuro, o passado se apresenta como uma âncora. E a busca deste aporte dá sustentabilidade nas inconstâncias da existência. Ela justifica, legitima, dá sentido, ordena e, de certa forma, nos revigora para enfrentarmos os desafios do cotidiano. Na tentativa de elucidar esses desafios, viabilizada pela âncora da história, tomamos conhecimento do interesse de alguns membros da Família Beckhäuser pela história da imigração alemã em Santa Catarina e especialmente da do IMIGRANTE JOHANN KARL BECKHÄUSER e seus descendentes. Este tema despertou-lhes grande interesse pelo estudo e difusão da história regional, em cujo contexto estavam inseridos seus ascendentes, originários de Hambach, que se instalaram, em 1862, na Colônia Alemã Santa Isabel1 , em Santa Cata1

As notas correspondentes a apresentação constam a partir da página 150.

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rina. Desta forma, Adauto Beckhäuser, Laércio Fagundes Fogaça Beckhäuser e Pe. Frei Alberto Beckhäuser residentes, respectivamente, em FlorianópolisSC, Joinville-SC e Petrópolis-RJ, iniciaram ou retomaram esse árduo trabalho de reconstituição histórica. Tomaram para si, durante anos, a responsabilidade de Mapa da América do Sul, com destaque para o Estado de Santa reunir e sisteCatarina e nele a Colônia Santa Isabel. matizar as fontes de dados e a bibliografia pertinentes a seu objeto de pesquisa: Família Beckhäuser – Genealogia e História. Durante esse tempo, não raras vezes os encontramos em meio a inúmeras anotações, entusiasmados e com farto sorriso, motivados pelo resultado das buscas. Vibravam intensamente com a descoberta de novas informações. Para dar maior consistência ao conteúdo do trabalho, Pe. Frei Alberto viajou para a Alemanha em busca de fontes históricas enquanto Adauto e Laércio auxiliados por dezenas de colaboradores se dedicaram avidamente na composição da árvore genealógica e na reconstituição dos passos da família no Brasil. A constante motivação por seu objeto de pesquisa foi mantida e renovada até que durante a realização do IV Encontro Nacional da Família Beckhäuser, em 10 de julho de 2004, em 12


Vargem do Cedro, município de São Martinho-SC, em assembléia geral, foi fundada a AFABE – ASSOCIAÇÃO DA FAMÍLIA BECKHÄUSER NO BRASIL. Entre as finalidades da AFABE, contida em seus Estatutos2 se faz constar: dar seqüência na elaboração da GENEALOGIA E HISTÓRIA DA FAMÍLIA BECKHÄUSER NO BRASIL – AFABE, com o objetivo de publicála, em forma de livro. Com a intenção de cumprir esse objetivo, no segundo semestre de 2006, fui contatado pelo presidente da AFABE, Adauto Beckhäuser, para estabelecer critérios e coordenar o processo de elaboração de diversos artigos históricos, reunidos nesta publicação. Ao assumir a responsabilidade da coordenação dos trabalhos, procuramos organizar o assunto em blocos temáticos. O próximo passo seria encorajar algumas pessoas a se lançarem no desafio de elucidar o tema proposto. Os resultados alcançados foram fascinantes, de uma pesquisa ao mesmo tempo difícil, mas também muito prazerosa. A partir de então, percorremos os caminhos já trilhados por cada um dos autores cujos artigos aqui estão sendo publicados; tentamos buscar as necessárias fontes bibliográficas dos textos selecionados, constantes nos originais que nos foi entregue. Uma meticulosa revisão teve de ser feita, documento por documento. Para isso, a comunicação entre os autores e o coordenador da publicação foi fundamental. O fluxo de informações era intenso e incansáveis os envolvidos no trabalho, para que se alcançasse o máximo de objetividade possível e se evitasse a dispersão dos temas e a repetição de determinados assuntos. Nosso trabalho baseou-se, também, em fontes oficiais, encontradas, em grande parte, no Arquivo Público do Estado de Santa Catarina, na Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina e no Centro da Memória da Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina, em Florianópolis. Relatórios dos Presidentes da Província, Relatórios do Ministério do Império, Ofícios de Engenheiros para Presidentes da Província, Requerimentos, Leis, Decretos e Jornais da época foram as principais fontes primárias por nós revisadas. Para solidificar sobremaneira essa publicação, que repu13


tamos como grande documentário, tal como foi concebida e executada, incluímos os anexos. Esta publicação tem mais um caráter de demonstração da presença histórica da FAMÍLIA BECKHÄUSER NO BRASIL do que de análise. Como grande documentário, não tem a pretensão de um texto acadêmico. Com sua leitura, evidenciar-se-á, de uma forma direta e objetiva, aspectos da imigração alemã em Santa Catarina, com destaque para a atuação do imigrante Johann Karl Beckhäuser e seus descendentes. E aqui está parte substancial da GENEALOGIA e da HISTÓRIA da FAMÍLIA BECKHÄUSER que poderá servir de âncora diante dos desafios que o futuro nos reserva. Boa leitura! Toni JOCHEM Organizador do Livro, Mestre em História pela Universidade Federal de Santa Catarina, Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina e Diretor Cultural do Instituto de Genealogia do Estado de Santa Catarina.

Palhoça-SC, Novembro de 2006

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Introdução Frei Tomás de Celano, o primeiro biógrafo de São Francisco de Assis, escreve: “Conservar os insignes feitos dos pais que nos precederam para a memória dos filhos é sinal de honra para com aqueles e de amor para com estes”.

Inspirados nesta célebre máxima de Frei Tomás, os colaboradores do livro “História da Família Beckhäuser no Brasil”, que tenho a honra e o grande prazer de apresentar, percorrem um caminho de reconstrução e resgate da saga do casal Johann Karl Beckhäuser e Maria Elisabeth Kropp, que emigrou da Alemanha para o Brasil no ano de 1862, junto com as levas de famílias alemãs, acolhidas nas Colônias São Pedro de Alcântara3 , Vargem Grande4 , Santa Isabel e Teresópolis5 , no entorno da cidade de Desterro, hoje, Florianópolis, em Santa Catarina. Este trabalho nasce de um esforço conjunto – liderado por Laércio Beckhäuser, pioneiro em pesquisa histórica, Adauto Beckhäuser e Frei Alberto Beckhäuser, que foi em busca Localização de Colônias Alemãs em Santa Catarina. das raízes da famí3

As notas correspondentes a introdução constam a partir da página 150.

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lia Beckhäuser na Alemanha –, que pretende, ainda, remontar às raízes da Família Beckhäuser no Brasil. A pesquisa desenvolvida para se chegar a esse produto teve seu início desde 1964, desenrolou-se no decurso dos Encontros Nacionais da Família Beckhäuser e tem sua primeira etapa completada agora. A composição do livro, idealizada por Adauto Beckhäuser, teve ainda a colaboração de muitas outras pessoas, entre as quais destaca-se o conhecido historiador catarinense Toni Jochem. Com a presente obra, o leitor certamente poderá reviver a história de Johann e Maria Elisabeth Beckhäuser, suas vicissitudes, sofrimentos, lutas e vitórias; como, em meio a tantas dificuldades, superaram as adversidades da vida, em suas buscas por melhor qualidade de vida para seus filhos e descendentes. Acompanhará, também, o desenvolvimento e a expansão da família pelo Estado de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro e talvez por outros Estados. Finalmente, eis um livro que trata da história da grande família Beckhäuser no Brasil. A todos os descendentes e afins do casal Johann Karl e Maria Elisabeth Kropp e de Johann Karl e Margaretha Schug, a esposa do segundo casamento, inclusive aos Beckhäuser da Alemanha, são dedicados todo o labor e a afeição aqui empenhados. Uma oferta que se estende a todas as famílias imigrantes do Brasil, não só às de origem alemã, mas a todas as famílias que passaram pelas dificuldades de deixarem suas pátrias para serem acolhidas no Brasil, onde encontraram uma nova pátria, por um novo povo, ao qual se integraram, dando sua contribuição para construir uma pátria humanamente sempre mais habitável, mais justa e fraterna. Manifesta-se aqui, ainda, o reconhecimento, por parte dos autores, àqueles que dispuseram de seu tempo e saber para que se tivesse essa obra em mãos. Em tudo Deus seja louvado! Frei Alberto Beckhäuser, OFM Petrópolis, 26 de julho de 2006. Dia dos avós


Aspectos da História da Família Beckhäuser


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Capítulo I

Em Busca das Origens Por Frei Alberto Beckhäuser, OFM

Apresento nesta crônica os dados de minha nova pesquisa sobre os Beckhäuser na Alemanha, realizada no mês de junho de 2006 depois de retomar os dados colhidos em 1964. 1. Primeiros dados sobre os Beckhäuser na Alemanha No livro “Ernesto Beckhäuser: A Vida de um Homem Honrado” 6 , contei como tomei contato com as origens de Johann Karl Beckhäuser e sua esposa Maria Elisabeth Kropp, na cidade de Birkenfeld na Alemanha. De fato, eles são de Hambach, uma vila a cerca de 9 km de Birkenfeld. Quando estudava Liturgia em Roma, de 1963 a 1967, costumava passar as férias de verão na Alemanha como capelão do Hospital São Vicente, na cidade de Coesfeld, na Westfália. Foi aí que comecei a me interessar por meus antepassados: os Hoepers, de minha parte materna, e os Beckhäuser, da parCasal Roberto Beckhäuser e Hilde, na Alemanha. Fotogra- te de meu pai. fia de 1964. AFAB.

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As notas correspondentes a este capítulo constam a partir da página 150.

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Quanto aos Beckhäuser, iniciei a busca usando como instrumento algumas listas telefônicas existentes na Alemanha. A partir de um primeiro Beckhäuser, Leonardo, em Handorf, perto de Münster, fui informado de que a família era natural de Saarbrücken, no Saarland, Sul da Alemanha. No fim das férias de 1964, mês de agosto, fui para Saarbrücken e realmente enFamília de Carlos Beckhäuser, na Alemanha, com Berta, Irma, Ursel, Wargit, em 1964. contrei um casal Beckhäuser; AFAB. trata-se da família Karl Beckhäuser e Berta, moradores na Sittersweg, 32. Irma, filha desse casal, era casada com um Jung, já falecido, e tinha duas filhas: Ursel e Margit. Moravam na Rua Wolfshumes, 18. Depois da visita, por alguns anos mantive correspondência com eles e, depois, perdemos contato. Ainda para essa pesquisa, não mais consegui localizá-los. As duas filhas de Irma devem ter casado com homens com outro sobrenome; assim, não consegui localizá-las pela lista telefônica. Não obstante, consegui valiosas informações do contato que mantive como a família, como a procedência da família Beckhäuser de Birkenfeld. Em Birkenfeld, dirigi-me à Casa Paroquial, onde me acolheram muito bem. Pesquisei nos Livros de Registros de Batizados e de Casamentos. Foi ali encontrei informações preciosas sobre os Beckhäuser. À página 100, do I Volu- Família de Carlos Beckhäuser, na AlemaIrma, Ursel, Frei Alberto, me dos Livros das Famílias (Fa- nha, com Berta, em 1964. AFAB. milienbuch) da Paróquia que traz anotações sobre nascimentos, batizados, casamentos e morte das famílias católicas de Birkenfeld que coincide com o Kreis Birkenfeld. Nele encontrei: Heinrich Peter Beckhäuser. Aliás, 20


escrito em francês: Henri Pierre. Ele casou aos 20 de janeiro de 1813 em Schwollen e faleceu a 29 de julho de 1866, em Hambach, com 82 anos. Durante sua vida, trabalhou como pedreiro; era filho de Franz Nikolaus Beckhäuser, Feldhüter (guarda florestal), e de Elisabeth Werres, de Hambach. Sua esposa era Dorothea Elisabeth Marx, evangélica, filha de Joh. Ni. (tudo indica tratar-se de Johann Kokolaus) Marx e de C. (tudo indica tratar-se de Catherina) Brauer, de Schwollen. Heinrich Peter Beckhäuser e Dorothea Elisabeth Marx tiveram os seguintes filhos: – Johann Carl – nascido aos 12 de maio de 1813; – Peter – nascido aos 23 de dezembro de 1819; – Franz Nicolaus – nascido aos 25 de dezembro de 1822; – Johann Karl – nascido aos 09 de setembro de 1826; – Johann Jakob – nascido aos 07 de maio de 1830; – Maria Carolina – nascida aos 07 de agosto de 1833; – Philippina – nascida aos 11 de junho de 1835. Ao que tudo indica, o segundo Johann Karl foi o que emigrara para o Brasil, pois o primeiro deve ter falecido quando ainda criança. Hipótese corroborada pelo próprio Livro das Famílias 7 : Johann Karl, nascido aos 09 de setembro de 1826, casado aos 31 de maio de 1855, em Birkenfeld, com Maria Elisabeth Kropp, nascida aos 22 de setembro de 1934, filha de Johann Karl Kropp e de Catherina Schwickert, de Gollenberg. O casal Johann Karl e Maria Elisabeth Kropp teve, em solo alemão, os seguintes filhos: – Karl – nascido aos 16 de abril de 1856 e falecido aos 16 de abril de 1856; – Philippine – nascida aos 09 de maio de 1857, em Hambach; – Elisabeth – nascida aos 27 de setembro de 1859, em Hambach. Segundo meu pai, a família imigrante chegou ao Brasil em 1862 e um filho de Johann Karl havia nascido no navio em que fizeram a travessia do Atlântico. Gabriel Beckhäuser, des21


cendente da família residente na cidade de Armazém-SC, possuía uma cópia da respectiva Certidão de Nascimento. Ao voltar ao Brasil em 1967, fui em busca dessa Certidão de Nascimento. Felizmente, todas as informações foram confirmadas pelo Registro de Nascimento de Johann Eduard César. Dessa forma, teve início a história dos Beckhäuser no Brasil. Tradução portuguesa do original francês: CONSULADO GERAL DA BÉLGICA NO RIO DE JANEIRO Registro de Nascimento de Karl Eduard Caesar Beckhäuser No ano mil oitocentos e sessenta e dois, aos oito dias do mês de julho, ao meio dia, diante do Sr. Edouard Pecher, Oficial da Ordem de Leopal, Cônsul Geral da Bélgica no Rio de Janeiro, agindo na qualidade de oficial do estado civil, compareceu o indivíduo chamado Johann Karl Beckhäuser, o qual em presença do senhor Jos. Condéré, Capitão do 3 mastros navio belga “Cesar” e de Gérard Seykens, Vice-comandante a bordo da mesma embarcação, nos apresentou uma criança, do sexo masculiFac-símile da Certidão de nascimento de Karl Eduard no, filho dele Johann Caesar Beckhäuser. AAFABE.

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Karl Beckhäuser, de 36 anos, nascido em Hambach (grão-ducado de Oldenburg) e de Maria Elisabeth Krepp 8 , de 28 anos, igualmente nascida em Hambach. O Capitão Condéré atestou que a criança nasceu naquele dia a bordo do navio belga “César”, três mastros, atualmente neste porto e recebeu os prenomes de Karl Eduard Caesar. Disto dando fé, redigimos a presente Ata, assinada por nós, o declarante e as testemunhas, depois que dela se lhes fez a leitura. O Cônsul Geral da Bélgica (Assinado) Edouard Pecher (Assinado) Joh. Karl Beckhäuser (Assinado) Maria Elisabeth Krepp Testemunhas: (Assinado) J. Condéré (Assinado) G. Seykens Certificado por Cópia Conforme do registro nas Atas do Estado-Civil n. 10. Rio de Janeiro, 11 de julho de 1862. O Cônsul Geral da Bélgica Edouard Pecher

Carimbo do Consulado Geral da Bélgica no Rio de Janeiro.

O filho de Johann Karl Beckhäuser e de Maria Elisabeth Kropp (o registro de nascimento traz Krepp, erro evidente de grafia) recebeu o tríplice nome em homenagem ao pai Johann 23


Karl, ao Cônsul Geral da Bélgica no Rio de Janeiro, Edouard, e ao navio onde nasceu, Cesar: Karl Eduard Caesar. Isso posto, pode-se reconstituir a genealogia dos Beckhäuser no Brasil com os seguintes ascendentes: – Franz Nikolaus Beckhäuser e Maria Elisabeth Werres; – Heinrich Peter Beckhäuser e Dorothea Elisabeth Marx; – Johann Karl Beckhäuser e Maria Elisabeth Kropp e, em segundas núpcias, já no Brasil, com Margaretha Schug. O casal Johann Karl Beckhäuser e Maria Elisabeth Kropp veio ao Brasil com as filhas Philippine e Elisabeth, sendo que o primeiro filho Karl, nascido aos 16 de abril de 1856, morrera no mesmo dia do nascimento. Filhos de Johann Karl: Philippine (do primeiro casamento) e Johann (do segundo casamento) 2. Roteiro da segunda pesquisa na Alemanha em junho de 2006 Com a evolução da pesquisa sobre a família Beckhäuser no Brasil, tornou-se cada vez maior a necessidade de se aprofundarem as pesquisas sobre a Karl Eduard Caeser origem e a história Beckhäuser. Fotografia de 1949. dos Beckhäuser tamAFAB.

Bernardo Kühlkamp e Maria Beckhäuser. Fotografia de 1910. APEM.

Philippine Beckäuser May, esposa de João Evangelista May. Fotografia de 1900. AFAB.

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bém na Alemanha. A ocasião mais propícia para esse empreendimento ocorreu durante meu semestre sabático no ano de 2006. Para tanto, tracei o seguinte itinerário: quatro meses em Assis na Itália, um mês na Alemanha e um mês na Suécia, na Letônia, de onde vem minha avó Auguste Grünfeld Sakalovki, e na Lituânia, terra de origem de Frei Ludovico Garmus – Guardião do Convento onde moro. Depois de quatro meses na Itália, no Eremitério dos Cárceres (Eremo delle Carceri) de Assis, lugar consagrado por São Francisco, no dia 02 de junho, parti para Frankfurt, na Alemanha, e, em seguida, até Bad-Godesberg, município de Bonn, às margens do Rio Reno. Ao chegar fui acolhido pelo Ex-Ministro Provincial 9 Frei Estêvão Ottenbreit na Missionszentrale der Franziskaner. Este convento seria para mim o ponto de apoio para a pesquisa sobre os Beckhäuser na Região do Hunsrück, que fica na Rheinland-Pfalz, diocese de Trier ou Tréveris. Sem a companhia de Adauto Beckhäuser, Presidente da AFABE, que planejou ir comigo, senti-me um pouco desestimulado a viajar, a visitar as pessoas. Os dias em Bad-Godesberg,

Vista aéra de Birkenfeld. GE.

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passei-os consultando listas telefônicas na Internet e inteirando-me da história de Birkenfeld. Muitos dados relevantes foram encontrados. Birkenfeld significa campo ou terra de bétulas, árvore típica do Norte da Europa. A árvore também se chama vido ou Frei Alberto na Alemanha. Fotografia de vidoeiro. Possui casca branca e junho de 2006. AFAB. folhagem delicada, semelhante ao salgueiro brasileiro. Birkenfeld é hoje a cidade principal de uma pequena região no Rheinland-Pfalz, entre o Hunsrück do Norte e a parte central da região montanhosa do Saar-Nahe. Está a 397 metros do nível do mar e possuía 6.400 habitantes em 1969. É terra rica em minérios de ferro e pedras preciosas. Caracteriza-se como a cidade do funcionalismo público. Birkenfeld fica no vale do Rio Nahe, onde nascem diversos de seus afluentes. Por isso, os muitos nomes de vilas com o radical Bach, que significa: riacho, ribeirão, sanga. No dia 14 de junho, parti com Frei Estêvão Ottenbreit para a cidade de Johannisberg, que fica do lado oriental do Rio Reno, defronte à cidade de Bingen, onde desemboca o Rio Nahe. Ali, celebramos a Solenidade de Corpus Christi com um confrade. Dia 16 de junho, tendo atravessado o Rio Reno de balsa, tomei o trem em Bingen rumo a Birkenfeld às 09h56min, seguindo sempre o curso do Rio Nahe. Cheguei a Birkenfeld às 11h45min. Na Casa Paroquial, encontrei o Pastor (Pároco) Walter Weber, que me acolheu com grande cordialidade. Dias antes, em um telefonema, manifestei-lhe o desejo de fotocopiar os documentos das famílias Beckhäuser e Kropp, no que ele foi muito gentil em consentir. Depois de tudo fotocopiado, ofereceu-me um livro sobre Birkenfeld10 . Em seguida, levou-me de carro para visitar os arredores de Birkenfeld, ou seja, as vilas dos nossos antepassados: Brombach, Hambach, Schwollen e Gollenberg. Na Internet, eu tinha recolhido diversos telefones de pes26


soas com o sobrenome Beckhäuser. No entanto, consegui apenas um apenas perto de Birkenfeld, em Niederbrombach, a uns 12 km de Birkenfeld. Lá, encontramos Rolf Beckhäuser, proprietário de uma Concessionária de Automóveis, conhecida na Região. O encontro foi rápido, no pátio da Concessionária. Rolf se interessou, mas andava muito ocupado, atendendo seus clientes. Tiramos uma fotografia dele diante da Concessionária. Daí, rumamos para Niederhambach, passando, em seguida, por Oberhambach, duas vilas praticamente ligadas entre si. Hoje, há a Oberhambach e a Niederhambach, a Hambach de cima e a Hambach de baixo, duas vilas praticamente ligadas. No tempo da imigração da família Beckhäuser para o Brasil, ambas as vilas se chamavam Hambach, ou seja, eram uma só. Tiramos várias fotografias das paisagens, visitamos o cemitério, onde nada encontramos sobre os Beckhäuser. Em seguida, fomos a Schwollen, terra de Dorothea Elisabeth Marx, esposa de Heinrich Peter Beckhäuser. De lá fomos a Gollenberg, a aproximados 02 km de distância de Birkenfeld, donde provêm os Kropp. Os arredores de Birkenfeld são uma terra com belas colinas, bosques, plantações e criação de gado. Zona rural, portanto. A região não é propriamente montanhosa. Ao voltar a Birkenfeld, visitamos ainda o Burgbirkenfeld, um pequeno castelo no alto de uma colina junto à cidade, fortifi-

Bosque de Birken: bosque de bétulas ou de vidoeiros. Fotografia de junho de 2006. AFAB.

Bétulas ou vidoeiros. Fotografia de junho de 2006. AFAB.

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cação sede dos senhores feudais, primeiro do Arcebispo de Trier, depois de outros senhores feudais da região. Foi sede da ocupação de Napoleão Bonaparte e, depois, do Grão-duque de Oldenburg. Ainda no dia 16 de junho, às 18h30min, concelebrei com o Pároco Walter Weber que me apresentou à comunidade de Birkenfeld. Nesse dia, fui declarado integrante do grupo dos padres e religiosos originários da paRio Nahe. Fotografia de junho de 2006. AFAB.

Igreja católica de Birkenfeld. Fotografia de junho de 2006. AFAB.

róquia de Birkenfeld. Após a missa, num longo dia de verão da Alemanha, o Pastor Walter Weber levou-me de carro à cidade de Hermeskeil, a meio caminho entre Birkenfeld e Trier, onde 28


pernoitei num convento dos franciscanos. Dia 17 de junho, sábado, passei-o em Hermeskeil. O confrade Frei Johannes Küpper conseguiu para mim o levantamento mais completo dos Beckhäuser pela lista telefônica disponível na Internet. Constatei que a maioria dos Beckhäuser se encontra na Região de Trier, desde o vale do Rio Mosela até Saarbrücken. Existem alguns no Norte da Alemanha, em Munique e Dresden. Pelo telefone, contatei com Claus-Peter Beckhäuser, de Trier, com o qual me encontraria no dia seguinte. Dia 18, domingo, na companhia de Frei João Küpper, fui até Trier. Encontrei-me com Claus-Peter. Um arquiteto de renome, com obras na França e na Bélgica. Mostrou bastante interesse pela causa da Família Beckhäuser. Claus-Peter disse-me que possui um carro de corrida e promove festas em prol de crianças com doenças graves. É um homem de posses. Não conversamos sobre religião, mas ele demonstrou interesse por questões da Igreja católica. Assim como se interessou grandemente pela página da Família Beckhäuser no Brasil disponível na Internet. Já esteve como turista no Rio de Janeiro. Assistimos juntos, no mesEm Niederhambach (Hambach). Fotogra- mo dia, ao jogo do Brasil contra fia de junho de 2006. AFAB. a Austrália pela copa do mundo. Falei sobre o Encontro In-

Niederhambach (Hambach). Fotografia de junho de 2006. AFAB.

Panorama de Hambach. Fotografia de junho de 2006. AFAB.

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Vista de Hambach (Oberhambach). Fotografia de junho de 2006. AFAB.

CemitĂŠrio de Hambach. Fotografia de junho de 2006. AFAB.

Panorama de Hambach. Fotografia de junho de 2006. AFAB.

Vista de Hambach. Fotografia de junho de 2006. AFAB.

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ternacional da Família Beckhäuser a ser realizado em novembro de 2006. Tirei fotografia do seu escritório e ele me deu cópia de uma fotografia de seu pai, Gotthard Beckhäuser, nascido aos 11 de setembro de 1909. Voltei a Hermeskeil, onde à Vista de Schwollen. Fotografia de junho de 2006. AFAB.

Vista de Schwollen. Fotografia de junho de 2006. AFAB. Vista de Schwollen. Fotografia de junho de

noite tentei contato com outro 2006. AFAB. Beckhäuser, agora em Neunkirchen, entre Birkenfeld e Saarbrücken. Seu nome era Ralf. Nosso encontro, no entanto, só foi marcado no outro dia, para 20 de junho, durante a pausa em seu trabalho. Assim, no dia 20 de junho parti às 10h54min de Hermeskeil para Sanct Wendel. Esperei por Ralf Beckhäuser diante da estação como combinado. Eram 12h20min quando ele apareceu. Disse que havia rodeado várias vezes a estação sem me reconhecer. Sentamo-nos num bar junto à estação. Infelizmente ele dispunha de pouco tempo. É funcionário do Bank I-Saar. Entabulamos uma boa conversa. Dei informações sobre a Família Beckhäuser no Brasil e na Alemanha. Ralf mostrou-se muito interessado e admirado diante do nosso trabalho de resgate das raízes dos Beckhäuser. Muitos Beckhäuser da Alemanha não têm noção da origem da família. Como Ralf estava com novo compromisso agendado, às 13h, já havíamos terminado a con31


versa. Ao final, ele já estava deslumbrado com tudo o que conversamos. Tirei uma fotografia dele e Ralf me retribuiu com seu cartão de visita. Às 13h21min, tomei o trem de volta para Bonn e Bad-Godesberg, percorrendo novamente do Burgbirkenfeld. Fotografia de quase todo o vale Panorama de Birkenfeld, junho de 2006. AFAB. do Rio Nahe, passando por Ingelheim e Mainz, assim, rumava ao Norte da Alemanha, pelo vale do Rio Reno até Bonn. 3. Birkenfeld e Arredores Para compreendermos os motivos da emigração de nossos antepassados da Alemanha para o Brasil, convém apreciar a história da terra de suas origens. No nosso caso, a região de Birkenfeld no Hunsrück, na Alemanha. Birkenfeld é uma cidade situada à margem sul do Hunsrück, no vale do Rio Nahe, rio que desemboca no Reno, em Bingen, ao sul de Koblenz. Hoje, faz parte da Região Rheinland-Pfalz, tendo como capital a cidade de Mainz (Mogúncia). Kreisbirkenfeld (Município de Birkenfeld) possuía, em 1975, 90.200 ha- Ralf Beckhäuser, de Neunkirchen, em St. bitantes, em sua grande maio- Wendel. Fotografia de junho de 2006. AFAB. 32


Claus-Peter Beckhäuser, de Trier. Fotografia de junho de 2006. AFAB.

er.

ria protestantes. A história civil e religiosa de Birkenfeld foi profundamente tumultuada, sofrendo influências em ambas as dimensões de diversos fatores. Das origens até os fins da Idade Média – Birkenfeld aparece como uma das primeiras paróquias da região, pertencente à Diocese de Tri-

No ano 700, havia uma igreja em Birkenfeld. Era posse de um nobre chamado Liudwin. Este, antes de se tornar Arcebispo de Trier, teria doado a igreja e a terra à Diocese de Trier. As primeiras notícias de sua história civil datam de 981. Birkenfeld alcançou a categoria de cidade em 1332. Até 1560, o território de Birkenfeld com a igreja era negociado com príncipes da região, que também possuíam o direito sobre o dízimo, ou seja, sobre os impostos. Em 1486, o então arcebispo de Trier readquire o direito sobre os impostos. Havia imposto para tudo, inclusive para a manutenção do pároco. A Paróquia de Birkenfeld nos anos da Reforma Protestante – A paróquia de Birkenfeld possuía apenas um sacerdote, apesar das muitas pequenas comunidades que lhe pertenciam. O Duque (Graf) Johann IV, de Sponheim, pouco antes do ano de 1400, deu ordem de construção de uma capela no Castelo Burgbirkenfeld em honra a todos os santos. Os duques arranjavam capelães para o castelo, mas o povo continuava com um único sacerdote e uma única igreja. No século XVI, a comunidade paroquial fundou uma escola. O professor era ao mesmo tempo o responsável pelo toque do sino. Para tanto, ele recebia de cada família um tributo em produtos. Em 1554, a igreja de Birkenfeld pegou fogo. Contudo, logo foi reconstruída por ordem do arcebispo de Trier (Trier 33


é a mais antiga diocese da Alemanha). A Reforma Protestante partia dos príncipes. No início, o príncipe que dominava sobre Birkenfeld ainda foi católico 11 . Dias antes do Natal de 1557, o último pároco católico deixou a cidade de Birkenfeld. Em 1559, Frederico III tornou-se o Kurfürst (isto é, o príncipe, bispo ou não) que devia providenciar o culto no seu Principado. Na visita à região feita pela Arquidiocese de Trier, apenas se constataram os fatos da implantação da Reforma Luterana; da Igreja católica, os tabernáculos foram murados e retirados os móveis como quadros e imagens. Assim, toda a região foi dominada por uma única confissão religiosa, a luterana. Aos poucos, os católicos procuraram o culto em lugares vizinhos, como Nonnweiler. As pessoas que trabalhavam nas minas de carvão e de ferro podiam permanecer católicas. A Resistência da Paróquia Católica de Birkenfeld – Com a protesRio Nahe. Fotografia de junho de 2006. AFAB. tantização, muitos católicos saíram de Birkenfeld. De 1620 a 1632, a Região foi dominada pelos espanhóis. Ao que tudo indica, a reação tardia do arcebispo de Trier de recatolicizar a região do seu domínio não atingiu a região de Birkenfeld, onde residia um forte príncipe protestante. Aconteceu que após 1652 a região, dizimada pela fuga dos católicos, precisava de gente nova. Para repovoar a região, foram esquecidas as diferenças confessionais. Tanto protestantes como católicos podiam, agora, conviver no mesmo território. Em 1688, entre as 321 famílias da região da futura Paróquia de Birkenfeld, já constavam 27 famílias católicas. Os católicos procuravam participar do Culto em Oberstein, onde havia sacerdotes; depois de 1680, procuravam orientação religiosa com os jesuítas de Trier ou os franciscanos de Merl ou em outras cidades vizinhas onde continuava a haver comunidades 34


da Igreja católica. Sob o reinado do Pfalzgraf Christian II de BirkenfeldBischweiler (1669-1717), a situação para os católicos fica mais favorável. No início do seu reinado, adotou a linha de Baden e, com o apoio de Luís XIV da França, garantiu a liberdade de religião aos católicos de Birkenfeld. Portanto, também, neste tempo, Birkenfeld esteve sob o domínio da França. Quando foi baixado um decreto pelo qual se determinava que nas cidades com duas igrejas, uma fosse entregue aos católicos para o culto. E onde houvesse uma só igreja, o coro fosse adaptado para o culto católico. A ocupação de Birkenfeld e da região por Luís XIV, da França, levou ao estabelecimento no Burgbirkenfeld de uma forte guarnição militar. Isso fez com que houvesse um sacerdote que atendesse, além do pessoal da fortificação, também aos de confissão católica. Sucederam-se assim em Birkenfeld vários capelães, inclusive, franceses. Por volta de 1700, termina a ocupação francesa, mas esse regime deixou a garantia da liberdade religiosa e do culto. O pastor (pároco), porém, não tinha subvenção. Foi assim sustentado pelo bispo de Metz, na França. Contribuía também o príncipe de Baden que exercia domínio sobre Birkenfeld. A comunidade católica de Birkenfeld crescia graças à chegada de católicos de fora. Se em 1725, contava com apenas 150 fiéis, 30 anos depois já eram 550. Não obstante, não havia nenhum funcionário público entre os católicos. Entre as famílias católicas estava, já em 1678, Hans Jacob Kropp. Ela era natural de Gollenberg, mas habitava em Birkenfeld, inclusive fazendo parte do Conselho paroquial. A presença dos franceses na cidade até 1714 garantiu o “uso simultâneo” da igreja e a paz religiosa na região. Mas, por causa de uma travessura de um garoto católico contra os protestantes, seguiram-se sérias restrições ao culto católico. Não era tolerada qualquer discussão sobre religião; o padre católico foi confinado a sua comunidade em Birkenfeld. Não podia atender às comunidades vizinhas. Teve que fazer batizados e casamentos em casas particulares. Foram proibidas as procissões. A 35


solução encontrada em 1699 quanto ao uso simultâneo da igreja perdurou praticamente 200 anos. Foi, no entanto, motivo de muito desentendimento e de brigas entre católicos e protestantes. Só em 1892 os católicos conseguiram terminar sua própria igreja, bem ao lado da protestante. Durante vinte anos, de 1771 a 1791, com a extinção da família dos príncipes católicos de Baden-Baden, o feudo de Birkenfeld foi herdado pelo príncipe de linha protestante de Baden-Durlach. Em 1776, havia no território de Birkenfeld 5.061 protestantes e 548 católicos (9,7% da população). Na cidade, eram 744 protestantes e 157 católicos (17,4%). Esses últimos estavam entre a população considerada pobre. Os desentendimentos entre os fiéis das duas igrejas continuavam, inclusive por causa do uso do sino da igreja comum. O tempo da dominação francesa sob Napoleão – Esse período de dominação estende-se de 1790 a 1815. Com a Revolução Francesa, o pároco de Birkenfeld perdeu a subvenção que vinha da França (Diocese de Metz). A situação tornou-se tão precária que em 1794 o Pastor Mathias Schmidt abandonou Birkenfeld, passando para o outro lado do Rio Reno. Em 1802, os bens da Igreja foram confiscados pelo governo francês, mas devolvidos em 1806. Na Concordata entre o Regime de Napoleão e o papa em 1801, houve completa reorganização da vida da Igreja: novo sistema de escolas, de governo e de circunscrição eclesiástica. Birkenfeld, agora nova e diretamente sujeita à Diocese de Trier, torna-se uma Prefeitura de Governo, em que, aos poucos, os católicos se tornam a maioria dos funcionários. Isso dura até a queda de Napoleão em 1814. Segundo levantamento realizado em 2001 por Reiner Schmitt, em 1812, havia na paróquia de Birkenfeld 188 famílias católicas 12 . Birkenfeld sob o Grão Ducado de Oldenburgo (18151937) – A queda de Napoleão Bonaparte e a reconquista do território à margem esquerda do Rio Reno pelos alemães, colocou Birkenfeld sob várias administrações. Primeiro, sob a administração do Reino da Prússia. Em 1816, a Prússia concedeu a Região de Birkenfeld ao grão-duque Peter Friedrich Ludwig, de Oldenburg. Este, por sua vez, tomou posse de Birkenfeld em 36


1817. Apesar da orientação protestante do regime de Oldenburg e da Prússia, o relacionamento entre a Igreja e o Estado garantiu os direitos adquiridos pela primeira na Concordata de Napoleão. Problemas continuaram a existir, sobretudo entre a circunscrição eclesiástica de Birkenfeld e o bispo de Trier. O mesmo ocorria entre o governo da Circunscrição de Birkenfeld e o bispado de Trier, por conta das nomeações de párocos, que precisavam do aval do grão-duque de Oldenburg. A paróquia de Birkenfeld, em 1825, contava com 35 comunidades e 757 fiéis. A revolução de 1848-1849 trouxe garantias de liberdade de culto para os católicos. Entre elas: – Todo cidadão tem liberdade de religião e de consciência; – Os pais determinam a “confissão religiosa” dos filhos; – Cada comunidade religiosa organiza e administra seus bens com autonomia; – Proíbe-se a ação do Estado na eleição, nomeação e instalação de ministros da Igreja; – Não existe uma religião do Estado. A relação entre a Igreja e o Estado permaneceu relativamente estável até o final do Ducado de Oldenburg em 1937, apesar de terem permanecido resquícios da dominação protestante, como a proibição de qualquer procissão por parte dos católicos. A estatística de 1958 apresenta 21 comunidades com 660 membros. Houve, portanto, uma grande estagnação tanto em relação ao número de habitantes quanto em relação ao número de católicos. Em 1992, por ocasião do centenário da igreja paroquial de Sanct Jakobus (São Tiago) havia na paróquia de Birkenfeld 3.490 católicos. Hoje a comunidade católica é bem atuante, dinâmica e profundamente engajada. Ainda continua o problema de se ter aí uma única igreja paroquial para todas as comunidades. Como vimos, Birkenfeld teve uma história muito conturbada 13 . 4. Algumas observações Entre 1850 e 1900, todos os Beckhäuser sumiram de Bi37


rkenfeld, de Hambach e arredores. A causa principal deve ter sido a situação de pobreza dos católicos, com dificuldades de sobrevivência; eles eram relegados a trabalhos subalternos como guardas, pastores, pedreiros e diaristas. As terras agricultáveis continuavam nas mãos dos protestantes. Há notícias de que algum Beckhäuser migrou para os Estados Unidos da América do Norte. Como vimos, a situação da Igreja foi sempre muito complicada em Birkenfeld. Pertencia inicialmente ao Principado do Arcebispo de Trier. Com a Reforma de Lutero, toda a comunidade teve que se tornar protestante, pois Birkenfeld passou a um condado de príncipe protestante. Os católicos eram absoluta minoria. Não tinham mais igreja, lugar de culto. Usavam por vários séculos o espaço físico da igreja, que passou para os luteranos. Em 1812, havia na Paróquia de Sanct Jakobus, em Birkenfeld, 188 famílias de confissão católica. Só no fim do século XIX a comunidade católica construiu uma igreja própria bem ao lado da protestante, pois não se entendia com os protestantes. A Birkenfeld pertencem aproximadamente 30 comunidades. Até hoje nenhuma delas possui igreja própria ou capela. Todos tinham, e ainda têm, que se dirigir a Birkenfeld para participar dos atos litúrgicos. A família Beckhäuser apareceu em Birkenfeld (em Brombach e Hambach) no último quarto do século XVIII. Prova disso é o fato de, em 1800, já haver registros de casamento e óbito na cidade. Antes, em 09 de agosto de 1778, nasce na ali Johann Laurentius Jakob, em Hambach. Há várias hipóteses sobre sua procedência. Primeira hipótese: que os Beckhäuser tenham estado entre os trabalhadores chamados de fora após a dominação espanhola para suprir a mão de obra em falta. Poderiam ter vindo da própria região, da França ou mesmo do Norte da Alemanha à procura de trabalho. Isso bem antes de Birkenfeld tornar-se parte do grão-ducado de Oldenburg. É pouco provável que tenham chegado na ocupação de Birkenfeld pela Revolução Francesa e o domínio de Napoleão, pois em 1778 já há Beckhäuser nascendo em Hambach. Segunda hipótese: que a chegada se tenha dado no tempo 38


do domínio francês sob Luís XIV da França entre 1669 e 1770. A hipótese da procedência francesa dos Beckhäuser não pode ser excluída. Mas os católicos pobres também poderiam ter vindo do Norte da Alemanha ou da própria região próxima de Birkenfeld. Por outro lado, a história dos barões que teriam ido da Itália e da França para Munique data de período posterior. Muito bem poderiam ter migrado de Birkenfeld durante o êxodo desencadeado a partir de 1860 para a França e a Itália e, mais tarde, em meados do século XIX, para a Baviera no Sul da Alemanha. Beckhäuser é um nome típico do Norte da Alemanha, por isso também não se exclui a possibilidade de terem vindo de Niederrheinland, da região de Oldenburg. Um sintoma disso é que até hoje há vários Beckhäuser naquela região. Já antes de Napoleão (1800-1815) e do domínio sobre a região por parte de Luís XIV, por falta de mão de obra para o trabalho simples, visto que os donos das terras eram todos protestantes, chegaram trabalhadores de fora, inclusive da França. Para descobrir a procedência dos Beckhäuser de Birkenfeld, seria necessário empreender uma pesquisa sobre os antepassados dos Beckhäuser no Norte da Alemanha, na região de Oldenburg, Hamburgo e Bremen. A pesquisa realizada em torno dos Beckhäuser da Alemanha está longe de se concluir. Com os dados de endereços e telefones levantados neste país, talvez alguns historiadores e outros interessados na questão, como Adauto Beckhäuser – Presidente da Associação da Família Beckhäuser no Brasil – se motivem a prosseguir no desenvolvimento dessa investigação. Estes dados estão disponíveis a todos estes na sede da Associação da Família Beckhäuser no Brasil, em Florianópolis. Sou muito grato a Adauto Beckhäuser pelo incentivo e o apoio sempre demonstrado ao nosso trabalho de pesquisa e a Laércio Beckhäuser por seu entusiasmo no levantamento da genealogia dos Beckhäuser.

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Capítulo II

Saga do Imigrante Johann Karl Beckhäuser Por Adauto Beckhäuser

Planta topográgica da cidade do Desterro, datada de 1876. AAB.

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Em 1862, Johann Karl Beckhäuser, com 36 anos de idade nascido em 09 de setembro de 1826, juntamente com sua esposa Maria Elisabeth Kropp nascida em 20 de setembro de 1834, com 28 anos de idade e grávida de oito meses, emigraram para o Brasil, na esperança de dias melhores


para sua família, que já era composta por duas filhas: Philippine, com quatro anos de idade, e Elizabeth, com nove meses. No entanto, já haviam perdido o primeiro filho de nome Johann Karl, ainda, na Alemanha, em 16 de abril 1856, mesmo dia de seu nascimento. O casal Johann Karl Beckhäuser e Maria Elisabeth Kropp saiu de Bierkenfed na Alemanha e seguiu para a Antuérpia na Bélgica. Lá, no dia 20 de junho de 1862, a bordo do Navio César, de bandeira belga, os dois iniciaram a viagem rumo ao Brasil, onde desembarcaram no porto do Rio de Janeiro, em 08 de julho de 1862 14 . Posteriormente, em 19 de julho de 1862 15 , a bordo de uma embarcação de nome desconhecido, seguiram viagem rumo ao Sul do país, com destino a Desterro (hoje Florianópolis), no Estado de Santa Catarina, junto a mais 128 colonos. Ao chegar em Desterro, o casal foi destinado à Colônia Santa Isabel, onde, assim que chegou, Johann Karl Beckhäuser comprou terras ao lado das de Miguel Kropp. Miguel Kropp era irmão de Maria Elisabeth Kropp. Mas, por que os dois irmãos compraram terras contíguas? Há algumas hipóteses: Uma delas aponta para a possibilidade de Miguel Kropp ter vindo anteriormente para o Brasil e escrito para sua irmã, Maria Elisabeth Kropp, falando das vantagens da emigração. Outra hipótese é a de que vieram juntos para o Brasil devido à propaganda feita pelo governo brasileiro, de que aqui encontrariam terras férteis. A primeira hipótese é a mais plausível porque na lista dos imigrantes 16 , em que consta Johann Karl Beckhäuser, não está inserido o nome de Miguel Kropp, dos Schuchs. Mas é preciso empreender novas pesquisas. Sobre a família Kropp, sabe-se que o pai de Maria Elisabeth, João Karl Kropp, casado com Anna Katharina Schwickert, em 05 de fevereiro de 1829 17 , teve cinco filhos: 1 – Anna Maria Dorothea Kropp – nascida a 15 de novembro de 1829, faleceu em 10 de janeiro de 184618 ; 2 – Maria Elisabeth Kropp – nascida a 20 de setembro de 1834, casou-se em 31 de maio de 1855 com Johann Karl Be14

As notas correspondentes a este capítulo constam a partir da página 151.

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ckhäuser – nascido a 09 de setembro de 1826 19 ; 3 – Johann Michael Kropp – nascido a 24 de fevereiro de 1838 e migrou para o Brasil 20 ; 4 – Maria Philippina Kropp – nascida a 15 de agosto de 1841 21 ; 5 – Katharina Kropp – nascida a 05 de maio de 1846, casada com Joseph Franz, nascido em 05 de maio de 184622 . Tudo indica que as vantagens alegadas para emigrar foram de tamanha força que superaram as vantagens de permanecer em solo alemão. O casal de imigrantes Johann Karl e Maria Elisabeth teve um filho durante a viagem para o Brasil, a bordo do navio Cesar. Trata-se de Karl Eduard Caesar Beckhäuser, nascido no dia 08 de julho de 1862; seu nascimento foi registrado no Consulado Belga, Rio de Janeiro, no dia 11 de julho de 1862 23 . Tudo indica que ele foi ali registrado, por ter nascido a bordo de um navio de bandeira daquele país. Chegados ao Rio de Janeiro, foram encaminhados pela Diretoria das Terras Públicas e Colonização, do Ministério das Navegações, da Agricultura, Comércio e Obras públicas para cidade de Desterro 24 . Quando do envio dos imigrantes, foi encaminhado um comunicado ao Presidente da Província de Santa Catarina; no qual se fez constar: “Nesta data seguem para essa Província cento e vinte e oito colonos, constantes da relação inclusa, os quais Vossa Excelência fará estabelecer nas Colônias do Governo, a que derem preferência, e concedendo-lhes os mesmos favores a que outros se têm feito em casos semelhantes. Deus Guarde a Vossa Excelência, João Luiz Vieira, 19 de julho de 1862” 25 . A Colônia Santa Isabel foi fundada em 1847 por imigrantes oriundos, em sua maioria, da região do Hunsrück e estava localizada a aproximadamente 50 quilômetros de Desterro, às margens do Caminho das Tropas, que ligava o Litoral ao Planalto Serrano catarinense. Na época, a produção agrícola da colônia era bastante diversificada: mandioca, milho, feijão, ba43


tata, algodão, café e cana. Após 1850, com a Lei das Terras, não mais eram concedidos gratuitamente os lotes de terras aos imigrantes. Eles tinham que adquiri-los por compra, com seus próprios recursos. Johann Karl Beckhäuser adquiriu suas terras na região de Taquaras, uma das linhas da Colônia Santa Isabel. Ali, teve que abrir clareira na mata virgem para construir sua casa, onde passou a abrigar a sua esposa, suas duas filhas e o filho nascido a bordo do navio. Por sorte, as terras da colônia não apresentavam baixa fertilidade. Todavia, nem por isso as coisas foram fáceis para a família Beckhäuser. Tudo dependia do trabalho, da fé e da esperança de Johan e Maria Elisabeth, qualidades que não os deixavam esmorecer diante das dificuldades. Não se sabe a razão, mas provavelmente no final da década de 1860, Johann Karl migrou de Taquaras para o Vale do Capivari, exatamente, para o Rio Sete. Aos poucos, a família foi crescendo. Em 08 de julho de 1865, nasce Anna Maria e, em 1867, Guilhermina 26 . Ao todo, agora eram cinco os filhos da família Beckhäuser, que, a considerar o natimorto, compôs-se da seguinte maneira: 1 – Karl Beckhäuser (este já havia falecido); 2 – Philippine Beckhäuser; 3 – Elizabeth Beckhäuser; 4 – Eduard Caesar Beckhäuser; 5 – Anna Maria Beckhäuser; Aspectos da Planta da Colônia Santa Isabel, em 1863.

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6 – Guilhermina Beckhäuser. Após o nascimento de Guilhermina, morre a mãe Maria Elisabeth, aos 34 anos de vida, vítima de complicações no parto. Ela faleceu em data ignorada e o mesmo se verifica com relação ao cemitério onde foi sepultada. Tudo indica que Maria Elisabeth era uma mulher de muita coragem, espírito de luta e abnegação. Somente seis anos foram suficientes para comunicar o seu projeto de vida nova aos seus diletos filhos, o qual foi legado posteriormente aos netos, bisnetos, trinetos e tataranetos. Viúvo, novamente a fé de Johann Karl levou-o a não esmorecer com a perda da mão amiga de sua esposa Maria Elisabeth, sua grande incentivadora e companheira. Ele agora se via sozinho nos cuidados com sua família. Nem com os filhos poderia dividir essa responsabilidade, visto que a filha mais velha tinha apenas 11 anos de idade 27 . Johann Karl morava a doze lotes das terras da família Schug, cujo patriarca era Peter Schug. Este também havia emigrado da Alemanha, juntamente com sua filha Margareth Schug e mais outros familiares. Com a morte de Maria Elisabeth, Johann Karl veio a se casar com Margareth Schug, com quem teve outros cinco filhos: 1 – Bernard Peter Beckhäuser; 2 – Johann Peter Beckhäuser; 3 – Peter Beckhäuser; 4 – Johann Beckhäuser; 5 – Heirinch Beckhäuser. O casamento foi oficiado em local ignorado, assim como a data de sua realização. Nada fácil para a jovem Margareth Schug, na época com 20 anos de idade; ela, de imediato passou a cuidar das cinco crianças deixadas por Maria Elisabeth. Esse número aumentava ao longo dos anos, à medida que nasciam os seus filhos com Johann Karl Beckhäuser. O primeiro filho desse novo casamento, Bernard Peter, nasceu em 08 de abril de 1870, o que reforça a suspeita de o casamento de Johann Karl e Margareth ter acon45


tecido entre 1868 e 1869. Uma década e meia depois, em 1885, falece o imigrante Johann Karl, aos 59 anos de idade 28 , deixando todas as tarefas para Margareth. Desconhece-se o local de seu sepultamento, mas, provavelmente, tenha sido em Rio Sete, em São BonifácioSC, onde residiam. Com muita fé e amor a sua família, Margareth teve força para enfrentar as duras penas da época e a tarefa de dar seguimento ao caminho traçado por Johann Karl para seus filhos. Pouco tempo depois do falecimento de Johann Karl, Margareth veio a se casar com João Heikes, casamento que gerou a filha de nome Antônia Heikes, nascida no ano de 188629 , que, por sua vez, casou-se com Pedro Scheidt. Margareth, a segunda esposa de Johann, nasceu na Alemanha em 1848 e veio a falecer no dia 02 de julho de 1913, aos 65 anos de idade 30 . Está sepultada no cemitério luterano da comunidade do Alto Rio Sete, Município de São Bonifácio-SC. Os filhos da primeira esposa de Johann, agora também sem o pai, contavam apenas com a dedicação de Margareth, a madrasta, que procurava suprir a ausência de Maria Elizabeth. Verifica-se, no entanto, que houve um grande afastamento dos filhos da primeira esposa dos da segunda, bem como o afastamento de todos os filhos do primeiro e do segundo casamento de Johann Karl, por discordarem do casamento de Margareth com João Heikes. Em conseqüência do afastamento físico, passaram não mais a manter contatos e a família literalmente se dispersou. Em certa ocasião, numa festa em São Martinho, Karl Eduard Caesar Beckhäuser, um dos filhos do imigrante Johann Karl, encontra uma pessoa de idade respeitável que teria vindo de Urubici, na serra catarinense. Após conversarem, indagou aquele senhor: “sabes que tu és meu irmão?” Fato este relatado por muitos da família. Com o passar do tempo, os filhos de Johann constituíram suas próprias famílias: Filhos da primeira esposa:

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1 – Philippine Beckhäuser – nascida a 09 de maio de 1957, em Hambach, casada com João Batista May; 2 – Elizabeth Beckhäuser – nascida a 27 de setembro de 1859, casada com Christoph Schmoeller, seu segundo casamento foi com Bernard Schmoeller, o terceiro, em 25 de fevereiro de 1908, com Pedro Meurer na Igreja Matriz de São Ludgero-SC; 3 – Karl Eduard Caesar Beckhäuser – nascido a 08 de julho de 1862, em navio de bandeira Belga, casado com Anna Aurora Arns; 4 – Anna Maria – nascida em 08 de julho de 1865, casada com Bernardo Kühlkamp, foi para a região de São Martinho, Armazém e São Ludgero 31 ; 5- Guilhermina Beckhäuser 32 ; Filhos da segunda esposa: 1 – Bernard Peter Beckhäuser; (nascido em 08 de abril de 1870) casado com Bernardina Eyng permaneceu em São Martinho 33 ; 2 – Johann Peter Beckhäuser; (nasceu em 16 de agosto de 1871) residiu em Águas Mormas e não temos mais informações 34 . 3 – Peter Beckhäuser; (nascido em 16 de agosto de 1871) casado com Joanna Schmoeller subiu a serra e foi residir em Urubici-SC 35 ; 4 – Johann Beckhäuser; (nascido em 18 de março de1873) casado com Auguste Grunfeld seguiram o Rio HipólitoOrleans e depois para Forquilhinha-SC 36 ; 5 – Heinrich Beckhäusen – (nascido 09 de abril de 1875) seguiu para Porto Alegre, passando a se assinar Beckhausen 37 . A FAMÍLIA BECKHÄUSER ainda hoje está muito dispersa. Com a fé e a esperança de Johann Karl, levar-se-á a bom termo a união de todos. Johann Karl não teria suportado a perda de sua amada Maria Elisabeth, se não tivesse o apoio de seu cunhado Miguel Kropp e da família Schug, que, num gesto de amor e carinho, 47


abençoou o casamento de Margareth. Quando Margareth faleceu, em 05 de junho de 191338 , já casada com João Heikes, deixou uma filha, de nome Antônia Heikes, nascida no ano de 1886, com 27 anos de idade. Há, no entanto, um fato a questionar: teria mesmo alguém testemunhado a morte de Johann Karl Beckhäuser? Há informações de que o mesmo havia desaparecido por muitos anos juntamente com uns escravos. Ele carregaria consigo muitas moedas de ouro. Após muito tempo do seu desaparecimento, foi considerado morto e Margareth Schug resolveu se casar novamente em 1885. São questões nunca antes cogitadas. Será que Johann Karl Beckhäuser separou-se de Margareth Schug ou ele veio a falecer antes do segundo casamento de Margareth Schug? A busca de informações continua. Embora, Mas acreditamos que os dados da certidão de óbito de Margareth sejam verdadeiros. Por ironia do destino, com a morte de Margareth Schug, o ponto de apoio da família Beckhäuser passou a ser João Heikes, o segundo esposo de Margareth, motivando a dispersão dos filhos Beckhäuser. Foi ele mesmo quem efetuou o registro de óbito, em cujo documento fez constar que a residência do casal era em Rio Sete, em São Bonifácio, alegando também que Margareth deixou bens a partilhar.

Em Taquaras, na Colônia Santa Isabel Não é fácil explicar por que algumas pessoas abandonaram o seu lar, a sua pátria, para emigrar. Uma razão comum e, talvez até simples demais, é a busca por uma vida melhor. Já no Brasil, cada imigrante de posse de sua terra, tratava de fazê-la produzir para não ter que sofrer mais tarde com as privações deste novo mundo. E o árduo início na mata virgem pode ser descrito assim: “Enquanto as mulheres e as crianças ficavam no acampamento, os homens com os filhos e as filhas mais crescidos iam para as suas propriedades a fim de torná-las habitáveis. Providos de machado, foice e facão, cada qual com sua carga de mantimentos às costas, marchavam mato adentro 48


Planta da Colônia Santa Isabel em 1863, com destaque para linha colonial Taquaras e imediações.

até os seus terrenos. Lá, construíam, primeiramente, um pequeno rancho para o qual o mato fornecia tudo. Depois, ocupavam-se de preparar um pequeno pedaço de terra para a plantação. Enquanto os filhos menores derrubavam os arbustos e pequenas árvores, os pais punham a baixo, a machadadas, os gigantes da floresta e as filhas cuidavam da cozinha. Nesse trabalho, gastavam semanas até que um bom pedaço de mato estivesse derrubado. A espingarda nunca ficava longe da mão. Tão logo o mato derrubado estivesse seco e o tempo fosse favorável, queimava-se a roça. Era uma beleza ver como o fogo levantava labaredas até a copa das mais altas árvores que haviam ficado de pé. Depois, escolhia-se um lugar próximo a uma fonte d’água, o qual era limpo e preparado para se construir ali uma casinha, para toda a família. Buscavam-se moirões que eram enterrados e, depois, folhas apropriadas de uma espécie de palmeira, para cobertura. Logo após, faziam-se paredes com ripas amarradas com cipó, 49


as quais eram, então, cobertas com barro amassado. Em pouco tempo, a casinha estava pronta. O transporte, depois, dos móveis para a Colônia não era tarefa fácil. Como o caminho do acampamento para a Colônia ainda não havia sido construído, não passando de uma picada muito primitiva, não se podia pensar em transportar os nossos trastes em carroças ou em lombo de burro. Tudo tinha que ser conduzido nas costas por várias horas. Enquanto a mãe levava os filhinhos no colo, ou uma cesta com roupa de uso, as filhas carregavam as roupas maiores ou alguns baldes e panelas enfiados no braço, o pai e o filho mais velho seguiam atrás carregando um pesado caixão amarrado a um pau que levavam nos ombros. Como tudo tinha que ser transportado dessa maneira para a Colônia (lote), passava-se muito tempo até que o último objeto estivesse em casa. E a família começava, então, a semear e a plantar verduras, cereais, preparando-se para enfrentar o futuro. Nos primeiros anos, certamente, as coisas não iam às mil maravilhas; passava-se muita necessidade, mas depois de algumas colheitas, tudo melhorava. Dia após dia a clareira na mata virgem ia se alargando e tomando forma; cada vez se plantava mais e a fartura ia se acentuando entre os moradores” 39 .

Em nova terra – Rio Sete Na Colônia Santa Isabel, nas imediações da localidade de Taquaras, instalados em terras em que os acidentes geográficos abundavam e a fertilidade do solo era aquém do esperado, alguns colonos ficaram completamente desencorajados, fator que os levou a migrar para outras terras dentro do Estado de Santa Catarina. Johann Karl não pensou duas vezes e saiu em busca de novas terras, porém, de melhor qualidade, onde pudesse assentar definitivamente a sua família. Em comum acordo com sua esposa, passou a planejar a migração da Colônia Santa Isabel, para Vale do Capivari, exatamente no Alto-Rio Sete, hoje município de São Bonifácio-SC. Lá, o casal encontrou terras consideradas mais férteis e de melhores condições em relação às da região de Taquaras. 50


Mas, o destino lhe pregou mais uma peça: a perda de sua amada Maria Elisabeth. Isso dificultou a migração da Região de Taquaras para o Vale do Capivari. Se era algo difícil de se realizar com a ajuda de sua amada, agora, sem ela um turbilhão de problemas se projetava diante da família Beckhäuser, quase sem solução. Contudo, a garra do alemão Johann Karl e a ajuda da família de Miguel Kropp, seu vizinho de lote na colônia, lhe deram o apoio necessário para que um novo rumo fosse dado em sua vida. Muitos eram os questionamentos que o afligiam: “o que fazer com cinco crianças menores, uma recém-nascida, sem sua amada que o alentava nos momentos mais difíceis?” Johann Karl Beckhäuser, sentindo a solidão e a responsabilidade de criar estes cinco filhos menores em terras brasileiras, resolveu se casar novamente. A solução estava a 12 lotes de distância; lá, morava a Família de Peter Schug, com uma numerosa prole. Sua preferida, sua eleita foi outra imigrante alemã, Margareth Schug, com 20 anos de idade. Embora considerada nova ainda para receber tamanha responsabilidade de cuidar dos cinco filhos do viúvo Johann Karl. Após o casamento, ele iniciou outra migração, agora para o Vale do Capivari. Com todas as dificuldades o novo casal começou tudo de novo. Em 1868, munido de espingarda, munição, facão e da determinação que herdara de seus ascendentes alemães, meteu-se mata-virgem a dentro, abriu picada, atravessou o morro e, depois de alguns dias, encontrou entre as nascentes do Rio Cubatão e do rio Capivari um lugar que lhe lembrava Birkenfeld. Lá, construiu uma pequena cabana coberta de palha. Era o Capivari do Meio, à margem direita. No entanto, não se estabeleceu por ali imediatamente, teve que voltar para buscar algumas ferramentas, como foice e machado, para derrubar um pedaço daquela mata. Com sua coragem e fé em Deus, mais uma vez, enfrentou sozinho aquela mata. Depois de queimar a roça, iniciou sua viagem de volta para a nova casa, a pé, pela 51


segunda vez. Num cargueiro de burro, trouxe sementes de milho, batata inglesa, feijão, mudas de aipim, sementes de laranja, de bergamota, de pêssego e mudas de grama para a pastagem dos animais. Depois de tudo plantado, construiu uma cabana maior, fabricou uma mesa, bancos e camas de madeira bruta e os cobriu com palmito rachado. Tudo estava pronto para a recepção da família. Duas cestas de taquara, jacás, eram suficientes para transportar os pertences da família de Johann Karl: por baixo, a louça e panelas; por cima, os cobertores, travesseiros e lençóis; e finalmente, por cima de tudo isso, Karl Eduard Caesar, Ana Maria e Guilhermina, todos pequenos. E seguiam, a pé com a nova mãe Margareth, e as duas outras filhas, Philippine e Elisabeth. Colocados os jacás no lombo de um burro, lá se foram o pai, Johann Karl e a mãe Margareth com os filhos, a pé, mata adentro, pela picada aberta pelo facão do pioneiro de garra. Sem medo dos bugres e animais selvagens, dormiram duas noites em plena mata virgem, a céu aberto. Na época, a mata-virgem era rica em caça: pacas, tatus, veados, jacupembas, jacus, macucos; em pesca e, também, frutos do mato: o coração do palmito substituía as verduras. A carne fresca excedente era transformada em carne seca, o charque selvagem. Tudo isso era saboreado com o feijão, a batatinha e o aipim plantados pelo precavido pai Johann Karl. Não estava ainda completa a mudança. Desta vez, carregou o burro com dois porquinhos, galinhas, mudas de café e de uvas e conduziu uma vaquinha. Nada mais faltava agora à família unida no Vale do Capivari, rodeada de bugres, animais selvagens, mas de outro lado, da bela natureza. Tudo isso debaixo do céu azul, à noite, iluminado pelas estrelas cintilantes do Cruzeiro do Sul. Como vimos, no Vale do Capivari, o novo casal Johann Karl e Margareth teve cinco filhos, a saber: 1 – Bernard Peter; 2 – Johann Peter; 3 Peter; 4 – Johann; e 5– Henry. Esta foi a saga de Johann Karl Beckhäuser. 52


Ícones da Família Beckhäuser

Adauto mostra o recipiente onde estava e está guardada a histórica certidão de nascimento de Karl Eduard. Fotografia de 2006. ADAB.

Fac-símile da Certidão de nascimento de Karl Eduard Caesar Beckhäuser. AAFABE.

Adauto mostra o livro de orações e o relógio de parede que herdou de seus antepassados. Fotografia de 2006. ADAB.

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Caminho percorrido por Johann Karl Beckhäuser e Maria Elisabeth Kropp

Vista aéra de Hambach - Alemanha. GE.

Vista aéra de Birkenfeld - Alemanha. GE.

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Vista aéra de Antuérpia - Bélgica. GE.

Vista aéra do Rio de Janeiro - RJ. GE.

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Vista aéra de Florianópolis - SC. GE.

Vista aéra da localidade de Santa Isabel, em Águas Mornas - SC. GE.

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Vista aéra do Rio Sete - São Bonifácio - SC. GE.

Vista aéra da cidade de São Martinho - SC. GE.

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Vista aéra de Vargem do Cedro, em São Martinho - SC. GE.

Vista aéra da localidade de Vargem do Cedro, em São Martinho, onde será construído Memorial da Família Beckhäuser. GE.

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Vista aéra de região da Grande Florianópolis. GE.

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Vista aéra da cidade de Armazém - SC. GE.

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Capítulo III

Maria Elisabeth Kropp Beckhäuser Por Adauto Beckhäuser

Os Beckhäuser no Brasil, descendentes do mesmo Johann Karl Beckhäuser, procedem, no entanto, de duas ramificações diferentes, ou seja, ou descendem do primeiro casamento de Johann com Maria Elisabeth, ou do segundo daquele com Margareth Schug. E é sobre a história da esposa do primeiro casamento de Johann Beckhäuser que nos deteremos neste capítulo. Afinal, quem eram os Kropp’s? O que se sabe sobre a família de Maria Elisabeth? Sobre a família Kropp, não se conhece mais do que sua origem alemã. A Alemanha foi também o berço de Maria Elisabeth, filha de Johann Karl Kropp e de Anna Katharina Schwickert – nascida a 05 de novembro de 1815 –, de um casamento que se concretizou em 05 de fevereiro de 1829 40 . Os avós paternos de Maria Elisabeth chamavam-se Johann Jakob Kropp e Susana Gündler, de Hambach; e os maternos, Johann Nikolaus Schwichert e Elisabeth Daniel Gollenberg. Johann Karl Kropp era o segundo filho do casal Johann Kropp e Susanna Gündler, e teve, ao todo, seis irmãos, a saber: 1 – Maria Elisabeth Kropp – nascida a 14 de setembro de 1798, em Hambach, faleceu em 05 de novembro de 181541 ; 2 – Johann Jakob Kropp – nascido a 13 de fevereiro de 1803, em Hambach, casou-se em 01 de novembro de 1827, 40

As notas correspondentes a este capítulo constam a partir da página 151.

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com Maria Carolina Burge 42 ; 3 – Heinrich Kropp – nascido a 02 de novembro de 1805, em Hambach, casou-se em 02 de fevereiro de 1827, com Elisabeth Katharina Biegel 43 ; 4 – Franz Karl Kropp – nascido a 08 de janeiro de 1810, em Hambach, casou-se em 11 de setembro de 1831, com Maria Katharina Elisabeth Schmidt 44 ; 5 – Johann Peter Kropp – nascido a 01 de março de 1814, em Hambach, faleceu em 07 de maio de 1837 em Brombach 4 5 ; 6 – Maria Katharina Kropp – nascida a 11 de maio de 1816, em Hambach, casou em 04 de julho de 1837, com J. Giebel 46 ; Johann Karl Kropp tinha 25 anos de idade quando de seu casamento, ao passo que sua noiva ainda estava para completar os seus 15 anos. Desta união, nasceram os seguintes filhos: 1 – Anna Maria Dorothea Kropp – nascida a 15 de novembro de 1829 e falecida em 10 de janeiro de 184647 ; 2 – Maria Elisabeth Kropp – nascida a 20 de setembro de 1834, casou-se com Johann Karl Beckhäuser no dia 31 de maio de 1855 48 ; 3 – Johann Michael Kropp – nascido a 24 de agosto de 1838 49 ; 4 – Maria Philippina Katharina Kropp – nascida a 15 de agosto de 1841, casou-se em 05 de maio de 1846, com Joseph Franz 50 . Johann Karl Kropp, em homenagem a sua irmã Maria Elizabeth Kropp, nascida a 14 de setembro de 1798, em Hambach, e falecida em 05 de novembro de 1815, deu o seu nome a sua segunda filha. Fato semelhante já havia acontecido anteriormente na família Beckhäuser. Com o falecimento de seu filho Johann Karl – nascido a 12 de maio de 1813 – em 25 de abril de 1816, Heinrich Peter Beckhäuser e Dorothea Elisabeth deram, em homenagem ao filho falecido, o seu nome Johann Karl Beckhäuser ao quarto filho que nascera nessa família. Este, posteriormente, se casou 62


com Maria Elisabeth Kropp em 31 de maio de 1855 e, junto com sua incipiente família, emigrou para o Brasil. Assim, a segunda dos quatro filhos do casal Johann Karl Kropp e Anna Katharina Schwickert deixou sua pátria rumo a um novo mundo.

Da Partida para o Brasil Ao partir para o Brasil, Maria Elisabeth Kropp, deixou os pais Johann Karl Kropp e Anna Katharina Schwickert e sua irmã Maria Philippina Katharina Kropp. Seu irmão Johann Michael Kropp veio para o Brasil e a outra irmã Anna Maria Dorothea Kropp já era falecida. Certamente, ver dois de seus filhos partirem não foi tudo o que Johann Karl Kropp e Anna Katharina Schwickert almejaram para sua família. Sem contar que com a partida de seus filhos, deixaram-nos também suas duas netas Philippine e Elisabeth. A tristeza não devia ser menor em relação a sua filha Anna Maria Dorothea, que já havia falecido. Apesar disso, continuaram seus dias apenas com sua filha caçula, Maria Philippina Katharina Kropp, que não menos que seus pais sentia a falta de tantos entes queridos lhes deixando. Como se isso já não bastasse, ainda havia a preocupação com Maria Elisabeth, que partiu grávida de 08 meses. Mas, ao chegar no Brasil, ela enviou a seus pais uma cópia da certidão do filho Carlos Eduard Caesar Beckhäuser, que nasceu a bordo do navio de bandeira Belga de nome Caesar51 . Ela, uma jovem com 28 anos de idade, deixa seu país em busca de um futuro melhor para seus filhos. Empolgada pelas propagandas do governo brasileiro e pelas facilidades que aqui encontrariam se emigrassem, não pensou duas vezes, e concordou com seu esposo em juntar recursos necessários para emigrar para o Brasil. O Brasil era a esperança do casal. Não esperava a jovem esposa que sua garra deveria ser redobrada. As dificuldades seriam muitas. 63


O primeiro passo foi o embarque mesmo, para iniciar a travessia do oceano. Tudo indica que isso ocorreu no porto de Antuérpia, na Bélgica. Ao embalo das ondas, em pleno Atlântico, a bordo do Cesar, nasce o terceiro filho de Maria Elisabeth e Johann Beckhäuser: Carlos Eduard Caeser Beckhäuser. Um filho cujos pais receberam-no com muita alegria, tanto que lhe deram o nome do primeiro filho que não passara do primeiro dia de vida: Johann Karl. Por outro lado, agora, com um recémnascido, o cuidado era redobrado. Após terem passado vários dias no Rio de Janeiro, deslocaram-se para Desterro-SC onde chegaram em final de julho de 1862. Mas não ficaram em Desterro. O casal continuou a viagem rumo à Colônia Santa Isabel, onde, na localidade de Taquaras, adquiriram um lote de terras. A família teve que lançar mão de seus parcos recursos para a compra do lote. A garra do casal jamais se exauriu. Com mãos sempre ao trabalho, ergueram uma casa e organizaram as primeiras plantações. Assim que terminaram esse primeiro estágio, Maria Elisabeth ficou grávida, de cuja gestação nasceu Ana e, de outra, no ano seguinte, Guilhermina. Essa última gravidez significou, de um lado, a alegria de uma nova filha e, de outro, o inesperado e triste padecimento de Maria Elisabeth. Vítima de complicações no parto, falece aos 34 anos de idade, depois de seis anos no Brasil, deixando esposo e seis filhos, legando-lhes, antes, as sementes de seus valores e a inevitável saudade. Seu corpo foi sepultado em local ignorado. Mas, a vida tinha que continuar em meio a tantas adversidades. Mais do que nunca, a fé e a perseverança do imigrante Johann foram suas aliadas para que não desanimasse em face dessa nova dificuldade: a perda da mão amiga de Maria Elisabeth, sua grande incentivadora e companheira de todas as horas. Agora, viúvo, estava sozinho para cuidar de uma família de seis filhos, com a filha mais nova com apenas alguns dias de vida e a mais velha, com 11 anos de idade. Maria Elisabeth Kropp deu o nome de Philippina a sua primeira filha em homenagem a sua irmã mais nova que per64


maneceu na Alemanha; e, à quarta filha, deu o nome de Anna Maria 52 , em homenagem a sua outra irmã Anna Maria Dorothea. As sementes plantadas por Maria Elisabeth deram flores e frutos. O pouco tempo de vida no Brasil foi suficiente para legar a todos os seus filhos a garra e os valores de uma mulher forte e batalhadora. Uma mulher que não hesitou em renunciar o seu próprio bem-estar para deixar uma vida melhor a seus filhos. Mesmo que, para isso, tivesse que deixar sua pátria-mãe e rumar a um novo mundo. Escolheu o Brasil como destino, deixando para trás toda a sua família, a qual nunca mais tornaria a vê-la. Mais do que um gesto, um sentimento de gratidão, orgulho e satisfação, de dimensão incomensurável, é comum entre os descendentes de Maria Elisabeth Kropp, por ela ter escolhido o Brasil e com bravura, coragem e dedicação ter construído neste país o berço de sua família. De uma família de sete irmãos, Johann Karl Beckhäuser foi o único a ter coragem de começar uma vida nova em terras distantes, juntamente com sua esposa Maria Elisabeth Kropp e suas duas filhas. Johann é filho de Heinrich Beckhäuser, nascido em Hambach em 09 de julho de 1866, e de Dorothea Elisabeth Marx, de um casamento realizado em 20 de janeiro de 1813. Os avós paternos de Johann são Franz Nikolaus Beckhäuser e Elisabeth Werres Beckhäuser; e os maternos, Johann Nikolaus Max e Katharina Brauer. Os filhos de Heinrich P. Beckhäuser e Dorothea Elisabeth Marx foram os seguintes: 1 – Johann Karl Beckhäuser – nascido a 12 de maio de 1813, faleceu no dia 25 de abril de 1816, em Hambach 53 ; 2 – Peter Beckhäuser – nascido a 23 de dezembro de 1813, casado com Anna Marg. Ludwig 54 ; 3 – Franz Nikolaus Beckhäuser – nascido a 06 de dezembro de 1822 55 ; 4 – Johann Karl Beckhäuser – nascido a 09 de se65


tembro de 1826 em Hambach, casou em 31 de maio de 1855, com Maria Elisabeth Kropp 56 ; 5 – Johann Jakob Beckhäuser – nascido em Hambach, a 07 de maio de 1830, casou-se em 20 de outubro de 1859, com Anna Maria Züscher 57 ; 6 – Maria Carolina Beckhäuser – nascida em Hambach, a 07 de agosto de 1833, faleceu em 19 de julho de 1834 58 ; 7 – Philipp Beckhäuser – nascido em Hambach, a 11 de junho de 1855, faleceu no dia 22 de fevereiro de 1837. Como se pode constatar através destes dados extraídos do Documento n. 96 da Paróquia de Bierkenfeld, ao partir para o Brasil, Johann Karl Beckhäuser deixou os pais e mais os três irmãos: Peter, Franz Nikolaus e Johann Jakob, pois os outros irmãos tinham falecido. Assim como a família Kropp, a família Beckhäuser perdia mais um filho que partia para o Brasil, com duas de suas netas, sem expectativa alguma de voltar a vê-los novamente. Os abraços e acenos daquela despedida seriam únicos, jamais voltariam se repetir. Todavia, justificar-se-iam pela fé e pela esperança de dias melhores para seu filho e netas. As dificuldades encontradas no Brasil eram pequenas em comparação com as existentes em Bierkenfeld. No Brasil, teriam terras e bastava trabalhar, enquanto na Europa não havia esta possibilidade: a miséria e a pobreza se expandiam. Toda essa trajetória histórica, traçada e percorrida com confiança e coragem por Johann e Maria Elisabeth, enche de orgulho e de admiração, encoraja e anima a todos aqueles que dela tomam parte. São sentimentos, valores, aspectos caracteriológicos que perduram por gerações, comunicadas a cada membro que dessa família fez e faz parte. O projeto inicial de construir uma vida com qualidade triunfou. A Família Beckhäuser se enche de orgulho quando fala de seus antepassados e de suas glórias e virtudes, que servem de exemplo e motivação. As sementes, que Johann e Maria Elisabeth plantaram, germinaram e deram frutos dignos de admiração.

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Capítulo IV

Margaretha Schug Beckhäuser Por Frei Alberto Beckhäuser, OFM

Na Família Beckhäuser no Brasil encontramos duas figuras femininas, duas mulheres que merecem a nossa atenção e a nossa homenagem: Maria Elisabeth Kropp e Margaretha Schug. Maria Elisabeth Kropp vem contemplada em outro capítulo nete livro. Fui convidado a traçar o perfil de Margarida, Margareth ou Margaretha Schug, a segunda esposa de Johann Karl Beckhäuser. Não temos muitos dados sobre sua vida, mas o suficiente para abordar alguns aspectos de sua vida. Para muitos descendentes de Johann Karl ela é a mãe, a avó, a bisavó, a trisavó, a tataravó e mais ainda, ou seja, a grande mãe no sentido restrito de genitora. Para os filhos, netos, bisnetos, trinetos, tataranetos e mais ainda, de Maria Elisabeth Kropp ela é também, ainda que por adoção, mas verdadeiramente mãe, avó e assim por diante. Já diremos o porquê. Em Margaretha Schug eu gostaria de trazer à memória figuras femininas, sejam da Família Beckhäuser, seja de tantas outras famílias de imigrantes alemães, italianos, poloneses e outros que no século XIX se estabeleceram no sul do Brasil, mais especificamente em Santa Catarina. Diante dos sobrenomes transmitidos pelos homens, as mulheres desaparecem em geral nas brumas da história. Importa resgatar essas figuras femininas e prestar-lhes a devida homenagem. É uma justa homenagem àquelas que foram as 67


depositárias da vida, àquelas que sustentaram a vida de tantos filhos, como companheiras fiéis e amorosas dos seus maridos. Sim, as mulheres imigrantes, esposas e mães! Enfrentaram com coragem e galhardia toda espécie de obstáculos, lutaram com valentia. Participaram, ombro a ombro com seus maridos, da conquista do novo chão que foi designado para as famílias imigrantes. Desbravaram as terras tão inóspitas das montanhas e dos vales do Rio Cubatão, do Rio Capivari e do Rio Tubarão com seus afluentes. Tiveram que enfrentar serpentes venenosas, feras e outras hostilidades em defesa própria e dos filhos. Tinham que gerar um filho atrás do outro, para que a família tivesse mão-de-obra para a sobrevivência e o cultivo da terra no meio da mata virgem. Labutavam de sol a sol em casa, com todo o serviço do lar e na lavoura. Era cuidar das crianças, alimentá-las, vesti-las. Cuidavam dos animais domésticos. Nesta tarefa prolongavam-se os serões e antecipavam-se ao nascer do sol. Quantas, assim que as condições físicas o permitiam após mais um parto, levavam o filhinho, a filhinha, para a roça num jacá ou em qualquer balaio e lá colocavam o bebê à sombra de uma árvore, com perigo de ataques de insetos, répteis e animais selvagens. Com o coração e a mente sempre atentos à criança, dedicavam-se ao cultivo da terra. As pausas serviam não apenas para respirar e refazer as forças físicas, mas eram usadas também para oferecer o leite aquecido ao calor do sol. Ouvi dizer que certos colonos levavam um garrafão de pinga para a roça para estimular e manter o ânimo do empenho no trabalho. Mesmo as mulheres participavam da bebida estimulante, tornando-se por vezes, até dependentes da bebida. Que luta, quanto sofrimento! Contudo, não perdiam a paz, a serenidade, a capacidade de doação e a esperança de dias melhores. No meio de tudo isso, ainda encontravam tempo, energia e disposição para colocar-se junto aos fogões nas cozinhas da comunidade ou de uma família para preparar a comida nas festas de casamento e em outras festas da Comunidade para alegria de todos. 68


A mulher sempre no batente, acolhendo a vida, cuidando da vida, sustentando a vida, tantas vezes, ameaçada pelas intempéries e por tantos outros fatores. Quantas mulheres deram a vida na hora de dar à luz mais um filho, naquelas situações precárias de falta de assistência à maternidade. Daí se compreendem os vários casamentos dos homens e o fato de tantas mulheres se casarem com viúvos para acolherem e cuidarem de seus filhos órfãos de mãe e ainda gerar outros tantos filhos, acrescidos aos filhos do primeiro ou do segundo casamento do esposo. De onde estas mulheres tiraram tal energia, tanta força e disposição de ânimo? Certamente na fé em Deus, na prática da religião, na oração fervorosa e num imenso amor. Os lugares de destaque na Comunidade eram geralmente ocupados pelos homens: professores, dirigentes das Comunidades, negociantes. Eram eles os dirigentes do culto. Alguém saberia informar, por exemplo, quem foi a primeira mulher descendente de imigrantes ou da família Beckhäuser que foi professora? Graças à labuta, à coragem e à dedicação total dessas heroínas em prol da vida, hoje, a situação é bem diversa e mais favorável. Hoje, a mulher tem voz e vez na sociedade, nas diversas profissões, e mesmo na política partidária. Infelizmente, o registro da história dos imigrantes é por demais masculina. Creio que é tempo de resgatar a história feminina da imigração. Quem sabe, um livro traçando o perfil de uma figura feminina em cada família de imigrantes! Quem se habilita? A todas essas mulheres queremos homenagear e manifestar nossa eterna gratidão pelo que foram e fizeram. Esta homenagem desejo traduzi-la na apresentação de uma dessas mulheres: Margaretha Schug. Que todos possam espelhar nela tantas outras figuras femininas das diversas famílias de imigrantes. Mas, quem foi Margaretha Schug? Sabemos alguma coisa e, até bastante, sobre ela. Meu pai Ernesto nos falava que sua avó era Schug. Tínha69


mos também um tio Schuch, o tio Augusto Schuch, casado com nossa tia Joaninha, mãe da Clara, neta de Johann Beckhäuser. Justamente, por ocasião da morte de Clara, casada com Dionísio Viero Possato, no Rio Hipólito, a figura de Margaretha apareceu mais clara. No Registro de Casamento do meu avô datado de 1942, Johann com Auguste Grünfeld, consta: “Ele com 23 anos, profissão lavrador, natural deste Estado, domiciliado em Rio Novo, d/Distrito e residente no mesmo lugar, filho de Carlos Beckhäuser, nascido em ... domiciliado em Terezópolis e residente no mesmo lugar e Margarida Schug, nascida em ... domiciliada em Terezópolis e residente no mesmo lugar”59 . Portanto, minha bisavó era Margarida Schug, escrito com “g” (Schug). Em outros documentos se escreve com “ch” (Schuch)60 . Como vimos, o Registro de Casamento não indica o lugar de nascimento de Carlos Beckhäuser nem o de Margarida Schug. Diante das informações acima fiquei intrigado, pois, sabia que constava na Certidão de Nascimento de Karl Eduard Caesar que a esposa de Johann Karl era Maria Elisabeth Kropp. Foi atrás para esclarecer a questão. Com dados fornecidos pelos livros do historiador Toni Jochem e por Adauto Beckhäuser, pude reconstituir melhor a família do imigrante Johann Karl Beckhäuser; ele casou por duas vezes. A primeira com Maria Elisabeth Kropp e a segunda com Margaretha (Margarida, Margareth, Greth) Schug. Filhos do primeiro casamento: 1 – Karl Beckhäuser (esse já havia falecido); 2 – Philippine Beckhäuser; 3 – Elisabeth Beckhäuser; 4 – Eduard Caesar Beckhäuser; 5 – Anna Maria Beckhäuser; 6 – Guilhermina Beckhäuser. Com a morte de Maria Elisabeth Kropp, Johann Karl Beckhäuser veio a se casar com Margareth Schug, com quem teve 59

As notas correspondentes a este capítulo constam a partir da página 152.

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05 filhos: 1 – Bernard Peter Beckhäuser; 2 – Johann Peter Beckhäuser; 3 – Peter Beckhäuser; 4 – Johann Beckhäuser; 5 – Heirinch Beckhäuser. A partir desses dados acima expostos recentemente escrevi: “No mesmo dia 08 de junho de 1870, era batizado Bernard Peter Beckhäuser, nascido aos 16 de abril de 1870, sendo os pais Carl Beckhäuser e Margaretha Schuch, no Capivari. Portanto, em 1870, Margarida ou Margaretha já é casada com Karl Beckhäuser. Deve, pois, ter casado em 1868 ou 1869. Aos 08 de agosto de 1871, é batizado Johann Peter Beckhäuser, nascido aos 16 de agosto de 1871, em São BonifácioCapivari, sendo avós maternos Peter Schuch e Elisabeth Hehn. Na Certidão de Casamento de Johann Peter Beckhäuser, consta que ele nasceu e foi batizado em Rio Sete. Estes dados mostram novamente que Johann Karl deve ter ficado viúvo entre 1866 e 1868. Aos 04 de julho de 1872, vemos mais uma vez Carl Beckhäuser e Christina Speck sendo padrinhos em Capivari, de Christina Steiner, nascida aos 10 de setembro de 1871. Aos 18 de março de 1873 (as anotações pessoais de Johann dão o dia 19 de março; o que pode ser um lapso de memória), nasce Johann Beckhäuser, filho de Carl Beckhäuser e Margaretha Schuch, e é batizado no Capivari pelo Pe. (Guilherme) Roer61 , aos 31 de agosto de 1873. Aos 14 de outubro de 1874, Carl Beckhäuser e Margaretha Beckhäuser são padrinhos de Carl Buchner, em São Martinho do Capivari. Aos 09 de abril e 1875, nasce Heinrich Beckhäuser, filho de Carl Beckhäuser e Margaretha Schuch, sendo batizado aos 04 de maio de 1875, em São Bonifácio-Capivari pelo Pe. Roer. É praticamente provado que, em 1868, Johann Karl se deslocou para o Rio Sete, Alto Capivari, São Bonifácio, onde nasceram os filhos do casamento com Margaretha Schug”62 . Como vimos, Margareth Schug deve ter-se casado com Johann Karl em 1868 ou 1869. Jovem ainda assumiu os quatro 71


ou cinco filhos de Johann Karl (a questão da Guilhermina, não está totalmente esclarecida 63 ) e os quatro filhos dela com Johann Karl: Bernard, Peter, Johann e Heinrich. Meu pai dizia que a família do meu avô eram em oito irmãos. Estaria novamente excluída a tal Guilhermina. No meio da luta pela criação dos filhos, parece que bastante cedo faleceu seu marido Johann Karl Beckhäuser. A Certidão de Óbito de Margarida Schug, porém, traz algumas luzes sobre o assunto. Eis o teor da referida Certidão: “Aos cinco dias do mês de julho de mil e novecentos e treze nesta Freguezia de Theresoplis, Comarca de Palhoça, Estado de Santa Catharina, em meu cartório compareceo o cidadão João Heikes e em presença das testemunhas Augusto Schauffler e José Sobatta declarou que no Rio Sete, no dia dois do corrente mez, as cinco horas da tarde falleceo MARGARIDA SCHUG, viúva de João Carlos Beckhauser e casada em segundas núpcias com João Heikes, com sessenta e cinco annos de idade, natural da Allemanha, deixando os seguintes herdeiros: Bernardo Beckhauser com Certidão de óbito de Margarida Schug.

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quarenta e três annos de idade; Pedro Beckhauser com quarenta e um annos de idade; João Beckhauser com quarenta annos de idade; e Antonia Heikes com vinte e sete annos de idade, casada com Pedro Scheidt. A finada deixou bens para arrolamento. A doença foi hydropesia e finalmente o cadáver foi sepultado no Cemitério Protestante de Rio Sete. Do que para constar, lavro este termo, que assigno com todos. Eu, Carlos Schmidt, Official interino o escrevi. (Assinados) o Oficial Carlos Schmidt, João Heikes, Augusto Schauffler e José Sobatta. O referido é verdade e dou fé. Águas Mornas, 29 de maio de 2006. Claudinei Lehmkuhl. Oficial do Registro Civil”64 . Algumas constatações e/ou observações extraídas ca certidão acima: Se Margaretha faleceu em 1913, aos 65 anos de idade, então ela nasceu em 1948. Consta que nasceu na Alemanha, sem se mencionar a cidade. Seus pais eram Peter Schug e Elisabeth Hehn. Terá casado com Johann Karl com em torno dos 20 anos, como já disse entre 1866 e 1968. Os filhos nasceram a partir de 1870. Mas, quando é que ela terá enviuvado e casado com João Heikes? Antônia Heikes consta entre os herdeiros? Teria sido sua filha do casamento com João Heikes? Tudo indica que sim. Percebe´se também que Heinrich não consta entre os herdeiros. Por que será? João Heikes seria luterano para que Margaretha fosse sepultada no Cemitério dos protestantes? As pesquisas de Adauto Beckhäuser na Paróquia Luterana de Santa Isabel, em Águas Mornas-SC, resultou na localização da certidão de casamento de Margaretha Beckhäuser 65 com Johann Heikes no dia 07 de agosto de 1877, na comunidade evangélica do Rio Sete do Capivari, em São Bonifácio-SC. Portanto, Johann Karl Beckhäuser terá falecido em 1876, ou até um pouco antes, lembrando que seu filho Heinrich nasceu em 1875. Continua misterioso o final da vida de Johann Karl: Quando mesmo terá falecido, onde foi sepultado? A data mais provável do seu falecimento é o ano de 1876. Portanto, a trajetória de Johann Karl no Brasil durou apenas 14 ou 15 anos no Brasil. Tenho a impressão de que a partir do fato de que Margaretha tenha enviuvado e casado novamente, criaram-se dificuldades na nova família. Imaginem esta jovem mãe com todos os filhos do primeiro casamento de Johann Karl com Maria Elisa73


beth Kropp e mais quatro filhos homens, sendo que o mais novo, o Heinrich, talvez recém-nascido! Não estaria aí o motivo da dispersão dos filhos? Sabe-se que os filhos e filhas de Johann Karl com Maria Elisabeth Kropp se estabeleceram em regiões vizinhas, ao passo que os filhos do segundo casamento de Johann Karl com Margaretha Schug muito cedo se dispersaram. Este foi o caso do meu avô Johann que partiu para Rio Novo, no então distrito de Orleans, e depois se estabeleceu em Rio Hipólito, no mesmo distrito; o Heinrich, filho mais novo, terá “fugido” para o Rio Grande do Sul, não dando mais notícias de si e sendo assim excluído dos herdeiros? Seria essa a razão por que Peter migrou para Urubici? São conjeturas, mas creio que fundadas.

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Capítulo V

A Família Beckhausen no Rio Grande do Sul Por Juliana Beckhausen e Adauto Beckhauser

São poucos os Beckhausen no Rio Grande do Sul. A maioria reside na região de Porto Alegre. Não se sabe o porquê da alternância entre a grafia do sobrenome, com “n” ou com “r”. Esse aspecto, para ser desvelado, deve ser estudado mais a fundo, com uma pesquisa histórica mais ampla. Sabe-se que uma família de imigrantes alemães com o sobrenome Beckhäuser, com “r”, se estabeleceu no séJuliana Marques Beckhäusen.Fotografia de culo XIX, no Estado de Santa Catarina. 2006. AJMB. Tudo indica que as duas famílias descendem do mesmo ramo. No entanto, não se dispõe de informações históricas confiáveis capazes de confirmar nossa suposição. A família Beckhausen se estabeleceu no Rio Grande do Sul há aproximados cem anos, pelo menos. O primeiro nome que se tem conhecimento é o de Júlio José Beckhausen que, juntamente com Eduwirge Zeimann, teve um filho, Júlio Beckhausen. Júlio nasceu no dia 15 de abril de 1912, em Porto Alegre-RS. Era casado com Iara Gelain Beckhausen e ocupou o posto de coronel da Brigada Militar do Rio Grande do Sul. Ele faleceu no dia 26 de setembro de 1982, com 72 anos de idade, vítima de parada cardí75


aca 66 . Seu corpo foi sepultado no cemitério São Miguel e Almas, sepultura n. 935, em Porto Alegre-RS. Iara nasceu em 02 de abril de 1923; era filha de Egildo Gelain e de Doralina Zeimann. Durante muitos anos trabalhou como professora de piano. Faleceu no dia 07 Iara Gelain Beckhäusen e o neto Bernardo Marques Beckhäusen. Fotografia de outubro de 2006, vítima de de 30 de setembro de 2006. AJMB. pneumonia 67 . Seu corpo foi sepultado no mesmo cemitério e na mesma sepultura de Júlio Beckhausen. O casal Júlio e Iara teve dois filhos: Júlio César Gelain Beckhausen (¤08/09/1944) e Maria Augusta Beckhausen (¤01/ 03/1963). O primeiro casou-se com Denise Grace Beckhausen; ele era viajante, trabalhava com vendas; hoje está aposentado. A segunda filha, Maria Augusta Gelain Beckhausen, era nutricionista e solteira. Júlio Gelain Beckhausen casou-se duas vezes. No primeiro casamento com Denise Grace Beckhausen, teve seu primeiro filho, Júlio César Gelain Beckhausen Júnior, criado por sua avó, Iara, des- Júlio César Gelaim Beckhäusen Jr., de garoto, hoje é formado em Rela- Júlio César Beckhäusen e um amigo . Fotografia de 2006. AJMB. ções Públicas. Em segundas núpcias, contraiu matrimônio com Ana Maria Marques, do qual nasceram três filhos, a saber: 1. Leonardo Marques Beckhausen (¤12/01/1982); 2. Juliana Marques Beckhausen (¤22/09/1983); 3. Bernardo Marques Be- Juliana Marques Beckhäusen e o filho Lucas. Fotografia de 2006. AJMB. ckhausen (¤07/03/1987). 66

As notas correspondentes a este capítulo constam a partir da página 152.

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Após alguns anos do nascimento do último filho, Júlio e Ana Maria se separam. Leonardo tornou-se atleta de ginástica olímpica no GNU em Porto Alegre. Bernardo tonou-se atleta de ginástica de trampolim da ULBRA, em Canoas. Hoje, Leonardo trabalha no Circo Vargas, fazendo faixa e Bernardo, no Circo do Beto Carrero World, como trapezista. Leonardo e Bernardo são solteiros. J u l i a n a , p o r sua vez, teve um filho Juliana Marques Beckhäusen e com Rogério Innocen- o noivo Alexander Dubreucq. Juliana Marques t i P e r e i r a , c h a m a d o Fotografia de 2006. AJMB. Beckhausen. Fotografia de 2006. Lucas Beckhausen InAJMB. nocenti (¤30/01/2004). Juliana, ao visitar um de seus irmãos no circo, conheceu Alexander Dubreucq (argentino, com residência em Buenos Aires). Hoje, estão noivos, motivo que a levou a decidir-se por mudar para a Argentina. No dia 30 de setembro de 2006, pela manhã, Adauto ligou para Júlio César Gelain Beckhausen, em Porto Alegre, para conseguir informações que detalhassem melhor a história de seus familiares. Quando atendeu, Júlio César se encontrava no hospital com sua mãe Iara Gelain Beckhausen. Passou o telefone para ela que, numa conversa muito animada, disse que deixaria o hospital na segunda-feira, motivo pelo qual não poderia participar do encontro da família em Florianópolis. Apesar disso, desejou sucesso e mandou um grande abraço a todos da familia. Dispôs-se, ainda, a participar do próximo encontro. No sábado seguinte, no entanto, o seu quadro se agravou e ela veio a falecer. Além desta família de Beckhausen, temos Jonas Beckhausen, primo de Júlio César Gelain Beckhausen. Dr. Marcelo Viega Beckhausen, procurador da República 77


no Rio Grande do Sul, prontificou-se a fornecer mais dados históricos da família, mais dos quais busca conseguir junto à Cúria Metropolitana em Porto Alegre. Júlio José Beckhausen e Eduwirge Zeimann tiveram outro filho de nome José Beckhausen. Este, por sua vez, teve um filho chamado Jonas Beckhausen, que se casou com Lia Veiga Beckhausen, nascida em 13 de setembro de 1930, e com ela teve dois filhos: Márcio e Marcelo. 1. Márcio Viega Beckhausen – nascido a 24 de dezembro 1967, casado com Sandra Mara Raupp Beckhausen, nascida a 31 de março de 1972. O casal Márcio e Sandra tem um filho: Matheus Raupp Beckhausen, nascido em 29 de março de 2002. 2. Marcelo Viega Beckhausen – nascido em 27 de julho de 1969, casado com Caroline Härter Beckhausen, nascida em 07 de março de 1981. Na busca de mais informações sobre a Família Beckhausen no Rio Grande do Sul, Laércio consultou José Jones Beckhausen, segundo o qual, havia um tio, José Antunes da Silva, que também foi militar da Brigada Gaúcha. Ele reside em Porto Alegre-RS e tem 85 anos de idade. Havia ainda mais um Beckhausen denominado Gottlieb Beckhausen, que era coronel da Brigada Gaúcha. Na época, José Antunes era soldado e não tinha muito contato com seus oficiais superiores. O regime militar não permitia “muita aproximação” e, por isso, não sabia de dados mais exatos. Mas foi colega de farda do filho de Júlio e se colocou à disposição para que possamos tomar todas as informações nos Leonardo Marques Beckhausen. Fotografia de 2005. AJMB. arquivos daquela corporação militar. Todavia, um incêndio no prédio onde funcionava a Polícia Militar talvez tenha queimado estes arquivos.

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Capítulo VI

Johann Beckhäuser e Auguste Grünfeld e Descendentes Por Frei Alberto Beckhäuser, OFM

Johann Beckhäuser ou, simplesmente, João Beckhäuser é o terceiro filho nascido do segundo casamento de Johann Karl com Margareth Schug, sendo os dois primeiros Bernard e Peter, e Heinrich, o último. Meu avô Johann nasceu aos 18 de março de 1873, ao que tudo indica, em Rio Sete, sendo batizado em Capivari por Pe. Guilherme Röer, aos 31 de agosto de 1873 68 . Pe. Röer trabalhava na Paróquia Santa Teresa d’Ávila, de Teresópolis. João Beckhäuser nasceu em Rio Sete do Alto Capivari, para onde, de Taquaras, havia se transferido seu pai Johann Karl com a família. Agricultor de profissão, encontra-se muito cedo em Rio Novo, naquele tempo, distrito de Orleans, onde, com 23 anos de idade, se casou com Auguste Grünfeld, ela com apenas 17 anos. Rio Novo era uma colônia de letos ou letões, emigrantes da Letônia. A certidão de casamento civil de João Beckhäuser fornece dados interessantes sobre o: “assento do matrimônio de Johann Beckhäuser e Augusta Grünfeld, contraído perante o Juiz de Paz Galdino Fernandes Guedes e as testemunhas Frederico Guckest e João Schug. 68

As notas correspondentes a este capítulo constam a partir da página 152.

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Ele com 23 anos, profissão lavrador, natural deste Estado, domiciliado em Rio Novo, d/Distrito e residente no mesmo lugar, filho de Carlos Beckhäuser, nascido em... domiciliado em Teresópolis e residente no mesmo lugar e Margarida Schug, nascida em... domiciliada em Teresópolis e residente no mesmo lugar. Ela com 17 anos, natural da Rússia, profissão... domiciliada em Rio Novo, d/Distrito, filha de Hans Grünfeld, nascido em... domiciliado em Rio Novo, deste Distrito e residente no mesmo lugar, e Augusta Grünfeld, nascida em... domiciliada em Rio Novo, deste Distrito e residente no mesmo lugar, a qual passa a assinar-se... Foram apresentados os documentos a que se refere o art. 180 ns... do Código Civil. Observação: O Casamento foi realizado em 5 de Dezembro de 1896. O referido é verdade e dou fé. Orleans, 24 de agosto de 1942. Emone Mattei. Oficial de Registro Civil” 69 . Era jovem independente e de vida um tanto boêmia. Fator contribuinte para esse tipo de conduta, muito provavelmente, tenha sido a falta prematura do pai, de forma que sua mãe, viúva, teve de incumbir-se do cuidado dos seis filhos do casamento de Johann Karl com Maria Elisabeth Kropp e dos quatro meninos de seu casamento com Johann Karl. As pesquisas de Adauto Beckhäuser em Santa Isabel apresentam a certidão de casamento de Margareth Beckhäuser, viúva de Johann Karl Beckhäuser, com Johann Heikes no dia 07 de agosto de 1877, na comunidade evangélica de Rio Sete do Capivari, São Bonifácio-SC. Portanto, Johann Karl Beckhäuser teria falecido em 1876, ou até um pouco antes, lembrando que o filho Heinrich nasceu em 1875. O novo casamento de Margareth Schug com Johann Heikes na comunidade evangélica de Rio Sete do Capivari, faz supor que Johann Heikes era evangélico, e por isso, Margareth Schug teria sido sepultada também no cemitério evangélico de Rio Sete, conforme sua Certidão de Óbito70 . Nesse momento, os filhos de Joahnn Karl do primeiro casamento já passavam por uma segunda reconstrução dos papéis dentro da família. Com tantas variações, também em âmbito religioso, a dispersão dos filhos de Joahnn Karl Beckhäuser foi inevitável. Johann Beckhäuser era um homem inquieto e um tanto aventureiro. Muito cedo se encontra em Rio Novo. Também ele 80


se casou com uma pessoa de outra denominação religiosa, o que não era muito comum na época, isto é, com uma batista leta, de Rio Novo, o que parece tê-lo afastado ainda mais da família. Em 1903, já o vemos em Gravatal, onde nasceu o nosso pai Ernesto. Por causa da diferença de religião dos pais, os filhos não eram batizados enquanto crianças, deviam escolher sua religião quando chegassem à idade adulta. A vida de Johann Beckhäuser, durante a infância e a adolescência dos filhos, se movimenta pelo Vale dos rios Capivari e Tubarão, pelas localidades de Rio Novo, Rio Sete, Gravatal, Guarda, Orleans, Guatá, Grão-Pará e Rio Hipólito. Não sabemos como, mas João Beckhäuser tornou-se agrimensor e fez parte da Equipe de Agrimensura das Companhias de Colonização do Sul de Santa Catarina. Há grande probabilidade de ter trabalhado na Companhia Colonizadora Grão-Pará, pois a região de Orleans, entre as Termas do Gravatal e a Serra do Rio do Rastro, era um lote de terras com o que o então imperador Dom Pedro II decidiu presentear o marido de sua filha, a princesa Isabel, o Conde D’Eu. Ali, em 1884, foi fundada a colônia que recebeu o nome de Orleans, com o nome da cidade francesa, berço natal do conde D’Eu. Depois de morar em vários lugares, João estabeleceu-se em Rio Hipólito, próximo a Orleans, nos costões da Serra do Mar. Com seu grupo de trabalho, João Beckhäuser realizava verdadeiras expedições para abrir picadas e estabelecer extremas em densas florestas, enfrentando as intempéries, além dos índios e das feras. Numa dessas expedições, por volta dos anos 1920, quando participava de um trabalho de delimitação de terras perto de Araranguá, foi atingido na perna por um galho de árvore. Fraturou-a gravemente. Imediatamente, levaram-no de maca até Forquilhinha, à casa de Augusto Arns, cuja esposa Anna May era sua sobrinha, filha de Philippine Beckhäuser May. A família em Rio Hipólito foi avisada. A convalescença demorou. Para pagar os gastos com o tratamento e estadia de Johann em Forquilhinha, Ernesto Luiz, como fora registrado ao nascer, foi para lá.

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Curada a fratura, aliás, duas na mesma tíbia, João Beckhäuser voltou para Rio Hipólito, enquanto Ernesto permaneceu em Forquilhinha, afastando-se também ele da família, procurando novos caminhos em sua vida. Nós, netos, tivemos pouco contato com nosso avô João Beckhäuser. Papai o visitava com certa freqüência, fazendo o trajeto de 80 km a cavalo ou de aranha. Aos 09 de outubro de 1945, falecia nossa avó Augusta Grünfeld Beckhäuser, em Rio Hipólito. Em 1946, meu avô Beckhäuser manifestou o desejo de passar seus últimos dias com o filho Ernesto, em Sanga do Coqueiro Baixo, Capela de Santa Teresinha, na Paróquia de Forquilhinha, distrito, então, pertencente ao município de Criciúma. Participando de uma missão pregada por Frei João Bosco Erdrich em 1947, na Capela Santa Teresinha, aproximou-se novamente da prática da religião católica. Ele veio a falecer aos 29 de janeiro de 1952, e foi sepultado no Cemitério da Comunidade de Santa Teresinha, em Sanga do Coqueiro Baixo. Seus restos mortais foram transladados para Forquilhinha, onde jaz na mesma sepultura de nossos pais.

Auguste Grünfeld Não a conheci pessoalmente. Não se sabe muito sobre os Grünfeld. Conforme a Certidão de Casamento, a noiva de Johann era nascida na Rússia. De fato, trata-se da Letônia, na época sob o regime do Império Russo. Auguste nasceu na Letônia aos 15 de junho de 1879, e faleceu em Rio Hipólito (Orleans), aos 09 de outubro de 1945. Seu pai Hans Grünfeld, casado com Auguste Sakalovski, era natural de Champeter, um lugarejo perto de Riga, hoje, um bairro de Riga, capital da Letônia. Veio para o Brasil em 1891. Parece que, após breve estadia em Rio do Sul-SC, a família se estabeleceu na colônia leta de Rio Novo, perto de Orleans. Hans Grünfeld e Auguste Sakalovski vieram com três filhos: Auguste, com 12 anos; Adolf, com 09 anos; e Marta, com 07 anos. Auguste Sakalovski, nascida em 22 de abril de 1855, morreu aos 82


09 de junho de 1941. Lembro-me de que meu pai recebeu um telegrama com a notícia da morte de nossa bisavó Auguste. Hans Grünfeld morrera dois anos depois de ter chegado a Rio Novo. Não é se sabe ao certo se a família Sakalovski era de origem polonesa ou de origem russa. A maior probabilidade é de que fosse de origem russa. Sabemos que a Letônia através da história esteve sob vários domínios: da Rússia, da Polônia e da Alemanha. Meu pai contou-nos que os Sakalovski tinham um título de nobreza: Von Sakalovski. Família com propriedades, certamente aos poucos foi empobrecendo. O mais provável é que os Grünfeld e os Sakalovski tivessem relação com os alemães. Pois, Grünfeld é nome que se deriva do alemão. Há algum tempo eu nutria o desejo de visitar a Letônia. Tive esse prazer agora em minha estadia na Europa de fevereiro a julho de 2006. Visitei Riga, a belíssima capital da Letônia, agora novamente país independente. Fiz a agradável experiência de sentir os ares de Champeter, um vilarejo perto de Riga, que, hoje, é um bairro industrial perto do aeroporto da cidade de Riga. Johann Beckhäuser e Auguste Grünfeld tiveram os seguintes filhos: 1. Fernando – nascido a 12 de janeiro de 1898, casado com Maria Nazário; 2. Alvina – nascida a 22 de agosto de 1899, casada com Paul Hibert; 3. Clara Joanna – nascida a 17 de maio de 1901, casada com Augusto Schuch; 4. Ernesto – nascido a 16 de outubro de 1903, casado com Helena Hoepers; 5. Adolfo – nascido a 20 de setembro de 1905, casado com Hulda Dorfmüller; 6. Härta – nascida a 26 de julho de 1907, casada com Rudolfo Felsberg; 7. Verônica – nascida a 19 de junho de 1908 e falecida aos 19 de fevereiro de 1909; 8. Reinoldo – nascido a 04 de fevereiro de 1911, casado com Lídia Cleta Bainha. 83


Ernesto Beckhäuser Ernesto foi o quarto filho de Johann Beckhäuser e Auguste Grünfeld. Nasceu aos 16 de outubro de 1903, em Gravatal, (então, Gravatá) no vale do Baixo-Capivari, uma Freguesia de origem luso-açoriana. Recebeu o nome Ernesto Luiz. Pelo fato de sua mãe ser de religião batista leta, Ernesto, como seus irmãos e irmãs, não foi batizado quando criança. Passou a infância, a adolescência e parte da juventude entre as localidades de Gravatal, Rio Sete, São Martinho do Capivari, Guarda, Guatá, Grão-Pará, Orleans, Rio Hipólito e Praia Redonda, hoje, São Martinho. Ele conhecia aquelas redondezas como a palma da mão. Freqüentou a Escola Primária de São Martinho do Capivari. Teve aulas com o professor João Hoepers, tio de sua futura esposa Helena Hoepers. Mais tarde, ele freqüentou a escola de Rio Sete. Diz-se que Ernesto levava uma vida alegre e cheia de inocentes travessuras, além, é claro, de se dedicar ao trabalho. Enquanto parava em Rio Sete, ajudava uma família que lá possuía uma “venda”, a entregar produtos diversos, em geral, a cavalo. Gostava de festas, de montar cavalos não muito mansos e com eles atravessar rios cheios a nado. Por volta de seus 15 anos, fixou-se com a família em Rio Hipólito, perto de Orleans. Nesta idade trabalhava com a família na agricultura. Por este tempo, quando na derrubada da mata, isto é, preparando uma coivara, caiu-lhe uma resina venenosa no olho direito, o que fez com que perdesse parcialmente a vista. Com quase 18 anos, em 1921, foi enviado a Forquilhinha, Criciúma, para trabalhar para Augusto Arns. Ernesto gostou de Forquilhinha e de sua gente, de modo a não retornar para entre os seus familiares. A família Johann Beckhäuser, e depois, a de Ernesto, tomaram um rumo próprio no conjunto dos descendentes de Johann Karl. Ernesto, porém, não podia permanecer de braços cruza84


dos. Morando em casa de Augusto Arns, começou a trabalhar no negócio de Gabriel Arns, puxando frete entre Forquilhinha e Criciúma, a aproximados 15 km de Forquilhinha. Eram latas de banha e outros produtos que ele levava de carro de boi até Criciúma. Devido ao péssimo estado das estradas, muitas vezes ficava atolado. Após dois anos, transferiu-se para a casa de Carlos Kühlkamp, seu primo – filho de Maria Beckhäuser Kühlkamp – a quem ele considerava como segundo pai e a quem se referia sempre com profunda reverência e gratidão, o que exigia também de nós, seus filhos. Já na casa de Carlos Kühlkamp, iniciou-se o namoro com Helena Hoepers, nossa mãe. No convívio com as famílias de profunda prática cristã católica de Forquilhinha, Ernesto preparou-se para o batismo, que lhe foi ministrado naquela cidade. Seu batismo, muito consciente, foi no dia 10 de agosto de 1924. A partir daí adotou simplesmente o nome de Ernesto, sem o segundo nome Luiz. Seus padrinhos foram Augusto Arns e Anna May, que o tinham acolhido juntamente com seu pai em Forquilhinha. Em 1926, Ernesto foi convocado para o serviço militar. É um capítulo extraordinário e glorioso em sua vida, que lhe valeu muitas lutas, sofrimentos e vantagens no transcurso de sua vida após o serviço militar. Não foi um simples soldado, que tenha prestado serviço militar normal para os jovens de seu tempo. Oito dos 14 meses de serviço esteve em campanha militar, nos difíceis anos da afirmação da democracia da República Brasileira. O Brasil se confrontava com levantes contra o Poder Central dominado pelas oligarquias. A revolta do General Isidoro em São Paulo recebeu o apoio da Coluna Prestes do Rio Grande do Sul. Foi neste contexto que Ernesto teve de servir o Exército. Serviu no quartel de Joinville, incorporado no dia 12 de maio de 1926, e despedindo-se dele em 14 de julho de 1927. Não foram tempos fáceis. Em sua Caderneta Militar, transcrita no livro Ernesto Beckhäuser, a Vida de um Homem Honrado, temos como que o diário de campanha. Em resumo, eis alguns tópicos:

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A 03 de julho de 1926, seguiu com a Companhia e acampou no Quilômetro 04, da estrada Dona Francisca, onde a Companhia realizou diversos exercícios de campanha. De Joinville partiam as tropas transportadas em caminhões, de trem ou muitas vezes em marcha. Consta da Caderneta: de Joinville para São Francisco do Sul. Daí para Curitiba, Porto União e Palmas. De volta para Porto União e Herval. De Herval para Jaraguá. De Jaraguá para Altona e subida até Rio do Sul, onde tomaram posição. De Rio do Sul, marcharam de regresso a Joinville. A 28 de março de 1927, parte com o efetivo rumo a Guaíra. Nesta campanha, passou novamente por Curitiba, Sorocaba, Bauru, até Porto Epitácio e Guaíra, onde a 15 de julho de 1927 foi excluído do estado efetivo do Batalhão e da Companhia por conclusão de tempo. Todo esse tempo e a forma como se dedicou ao serviço militar fizeram-no merecer o reconhecimento de reservista de 1ª categoria. Ernesto foi, sem dúvida, um grande soldado. Contou-nos que, no esporte, foi campeão em lançamento de disco. Aprendeu muitas coisas que lhe foram de grande utilidade ao longo dos anos. Aprendeu desde a cozinhar até as técnicas de primeiros socorros. Foram longas marchas, noites ao relento, viagens de trem e com caminhões por péssimas estradas. Chegou a contrair malária, doença que deixou reflexos em sua saúde. Tendo, finalmente, recebido alta em Porto Guaíra, Ernesto voltou para Forquilhinha. É recebido e admirado por todos como herói. Era visto como um ser superior, um ídolo da juventude, como diriam hoje. Em Forquilhinha, reencontrou sua amada Helena com quem continuou o namoro. Era tempo de se preparar para o casamento. Aí, estabeleceu-se novamente na casa de Carlos Kühlkamp, passava a maior parte do tempo na Sanga do Coqueiro Baixo, onde adquirira um terreno, levantando a casa e preparando a terra para a lavoura. Quase tudo era floresta em sua propriedade. Dela, derrubou algumas árvores e as toras eram arrastadas em carretão puxado por bois. Com a ajuda dos vizinhos, as tábuas para a casa foram sendo cerradas. Levantou um estaleiro. Erguia-se a tora sobre ele e começava o trabalho. Um homem em cima e outro embaixo, puxando a cerra, transformavam toras em tá86


buas. Gastava-se muito tempo, suor e energia eram despendidos até que surgisse uma tábua. E não eram poucas as necessárias para a construção da casa. Finalmente a casa ficou pronta e as roças preparadas. Realizou-se então o casamento em Forquilhinha, aos 19 de setembro de 1928.

Helena Hoepers Aqui vem, a propósito, uma informação sobre a Família Hoepers e, particularmente, sobre Helena, nossa mãe. Não seria difícil apresentar uma grande árvore genealógica da Família Hoepers, natural de Oeding, na Westfália, cidadezinha próxima da fronteira da Alemanha com a Holanda. Em 1966, copiei uma apostila sobre a “Família Hoepers em Oeding”. A primeira referência é de Johann Hoepers, casado aos 30 de junho de 1681, com Gertrud Flaskamp. Mais adiante, para encurtar o caminho, temos: Gerhard Heinrich Hoepers (Weber = tecelão), nascido aos 13 de fevereiro de 1820 e casado aos 09 de junho de 1846, com Anna Catharina Speckinn.

Filhos: 1. Johann Wilhelm – nascido a 10 de janeiro de 1848; 2. Bernard Heinrich – nascido a 07 de outubro de 1849; 3. Franz Ferdinand – nascido a 12 de setembro de 1851; 4. Catharina Elisabeth Ges – nascida a 17 de maio de 1853; 5. Johann Heinrich – nascido a 16 de dezembro de 1855; 6. Anna Christina – nascida a 03 de abril de 1858. E consta a observação: Toda a família, em 1862, foi para o Brasil. Nosso bisavô Johann Heinrich Hoepers tinha a idade de 07 anos quando naquele ano chegou ao Brasil com sua família. Johann Heinrich Hoepers casou-se com Catarina Arns:

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Filhos: 1. João – casado com Helena Westrup; 2. Maria – casada com João Preis; 3. Evaldo – casado com Elisabeth Sehnem; 4. Carolina – casada com José Sehnem; 5. Edmundo – casado com Gertrudes Eyng; 6. Ana – casada com Antônio Eyng; 7. Clara – casada com Antônio Herdt; 8. Juliana – casada com José Eyng, e, em segundo casamento, com Henrique Back; 9. Francisco – casado com Maria Back; 10. Leonardo – após os votos passou a se chamar Frei Mateus. Evaldo Hoepers, casado com Elisabeth Sehnem, teve os seguintes filhos: 1. Maria – casada com Augusto Loch; 2. Helena – casada com Ernesto Beckhäuser; 3. Lúcia – casada com Augusto Ricken; 4. Sebastião – casado com Emília Fritzen e, em segundo casamento, com Lúcia Kalfers; 5. Ágata – falecida quando criança; 6. Otto – falecido quando criança; 7. Apolônia – casada com Adílio Miranda. Helena Hoepers Beckhäuser nasceu aos 02 de novembro de 1907 em São Martinho do Capivari ou Alto São Martinho. Em 2007, a família de Ernesto Beckhäuser vai celebrar o centenário de nascimento de nossa falecida mãe e está preparando um livro sobre Helena Hoepers Beckhäuser, Nossa Mãe, onde sua vida será relatada com maiores detalhes. Resumidamente, Helena freqüentou a escola de São Martinho do Capivari e, em 1917, portanto, com dez anos, seguiu com a família para Forquilhinha. A família de Evaldo Hoepers estabeleceu-se perto da casa de Gabriel Arns, que depois foi de Augusto Arns. Em Forquilhinha, ela continuou a freqüentar a 88


escola paroquial e ajudou a carregar tijolos para a construção da Capela Sagrado Coração de Jesus. Participou também do coral da comunidade. Foi lá também que ela conheceu Ernesto, do qual tornou-se esposa e companheira dedicada e fiel por toda a vida.

Ernesto e Helena Depois do casamento, Ernesto e Helena foram morar na pequena Freguesia da Sanga do Coqueiro Baixo, que, naquele tempo, ainda pertencente ao Município de Araranguá, a 10 km de Forquilhinha. Freqüentavam, entretanto, a comunidade de Forquilhinha, uma colônia alemã, onde nosso avô Evaldo Hoepers foi um dos pioneiros. A Sanga do Coqueiro Baixo também organizou uma comunidade religiosa e civil. Construiu uma escola-capela, onde Ernesto se tornou um dos líderes, sobretudo no campo da saúde e do ensino. Em 1935, foi inaugurada a Escola Mista Municipal de Sanga do Coqueiro Baixo, servindo ao mesmo tempo de capela, tendo como padroeira Santa Teresinha. Por isso, o lugar hoje é mais conhecido como Santa Teresinha. Ernesto foi nomeado Delegado Escolar pelo então Prefeito de Criciúma, Elias Angeloni. A Escola teve como primeiro presidente, Ernesto Beckhäuser, que exerceu a função de Delegado Escolar, eleito pela Comunidade até 1943. Ernesto e Helena moraram na primeira propriedade de 1928 a 1940, com exceção de dois anos em que voltaram a morar com os pais de Helena em Forquilhinha. Pois, devido a um sério problema de saúde de Helena, que exigiu volumosos gastos com saúde, Ernesto teve que se desfazer da propriedade e adquirir outra bem menor ao norte da localidade, onde passava uma picada para Morretes, hoje, Maracajá e Araranguá. Na nova propriedade e na nova casa, Ernesto e Helena viveram anos de pobreza, de lutas, mas também de recuperação e de progresso. Ele, com muita fé, continuou muito presente na vida da comunidade, respeitado e estimado por todos. As 89


dificuldades aumentaram com os terríveis anos de seca dos inícios dos anos de 1940. Ernesto, porém, não perdeu o ânimo. As roças não produziam o necessário nem para o sustento dos filhos, que, graças a Deus e à dedicação dos pais, nunca passaram fome. Além dos trabalhos da lavoura, abriu outras frentes de trabalho: queima de carvão de lenha, nos anos de seca mais agudos, “puxar leite” para a Queijaria existente em Forquilhinha, engorda de porcos. Depois, montou um engenho de farinha de mandioca em parceria com um vizinho. Aos poucos, a vida foi melhorando. Adquiriu mais um terreno anexo ao dele e a agricultura voltou a florescer. Preparou os próprios tijolos para construir uma casa melhor para a família. Instalou outro engenho de farinha mais moderno junto à própria casa. Os filhos foram se encaminhando na vida. Permaneceu na roça até o fim dos anos de 1960. Helena sempre manifestou o desejo de morar mais perto da igreja. Assim, com apenas um filho solteiro em casa, Ernesto se desfez da propriedade da Sanga do Coqueiro Baixo e foi morar em Forquilhinha, onde faleceu aos 22 de julho de 1975. Sua esposa, Helena, viveu por mais oito anos, vindo a falecer em Criciúma, aos 21 de julho de 1983. Ambos estão sepultados no Cemitério Paroquial de Forquilhinha. Ernesto e Helena tiveram 12 filhos: 1. Paulina (falecida) – casada com Antônio Kammer, reside em Forquilhinha; 2. Petronila (Nila) – casada com Domingos Antônio da Silva (falecido), reside em Balneário do Rincão, Içara; 3. Alfredo – casado com Gertrudes Giovanella, reside em Timbó; 4. Augusto (falecido) – casado com Maria Buss, reside em Forquilhinha; 5. Alberto – Sacerdote franciscano (OFM), reside em Petrópolis-RJ; 6. Arnoldo – falecido ainda criança; 7. Maria – casada com Ricardo Kammer, em Forquilhinha; 90


8. José – casado com Cecília Zanette e, em segundo casamento, com Maria Janice Fernandes, reside em Criciúma; 9. Marta – casada com Augusto Lingnau, reside em Blumenau; 10. Irma – reside em Florianópolis; 11. Leonardo – casado com Margarida Vitório, reside em Nova Veneza; 12. Teresinha – falecida aos 09 anos de idade. Os descendentes de Johann Beckhäuser e Auguste Grünfeld encontram-se espalhados pelo Estado de Santa Catarina e alguns estão no Paraná. Em Santa Catarina, estão em Forquilhinha, Criciúma, Içara, Rio Hipólito, Rio do Sul e redondezas, Blumenau, Timbó, Florianópolis, Herval d’Oeste, Rio do Rastro, Joinville, Taió e outras regiões. No Paraná, encontram-se em Dois Vizinhos. Uma característica dos descendentes de João Beckhäuser é o ecumenismo. Seus filhos seguiram confissões religiosas diferentes: católicos, luteranos, batistas e evangélicos. Todos, porém, estimam-se mutuamente, independentemente de suas denominações, mas unidos no mesmo Cristo Senhor. A Ele todos rendem honra e glória, fazem de seu trabalho e conquistas uma oferta de louvor.

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Capítulo VII

A Família Beckhäuser em Urubici Por Keler Luciane Beckhäuser

A família Beckhäuser tem presença marcante na cidade de Urubici, Estado de Santa Catarina. Hoje, os membros dessa numerosa família vivem nos bairros e nas comunidades localizadas no interior do município de Urubici-SC, onde se dedicam principalmente a atividades agrícolas e pecuárias. No presente capítulo, observar-se-ão os motivos que levaram a família de Pedro Beckhäuser a migrar da cidade de São Martinho-SC para o referido município. Tenciona-se, ainda, mostrar como vivem os descendentes de Johann Karl Beckhäuser no município do Planalto Serrano catarinense. Os antepassados da família viveram, no entanto, em diversos outros locais anteriormente, até mudar-se para lá. Desde a chegada do imigrante Johann Karl ao Brasil, até Pedro Beckhäuser, que foi quem se estabeleceu em Urubici, muitas migrações aconteceram pelo interior do país em busca de um sonho, de qualidade de vida e de “terras mais férteis” para cultivar. Meu nome é Keler Luciane Beckhäuser e sou tataraneta de Johann Karl, bisneta de Pedro, neta de Matheus e filha de Evaldo Beckhäuser. O que lhes contarei a seguir foram relatos de meu vovô Matheus em vários momentos; também me valerei de uma ocasião especial em que sentamos para documentar, por escrito, diversos fatos. Esses relatos se restringem às gerações de Pedro e Matheus. O relato sobre as gerações presentes e sobre as famílias dos demais filhos de Pedro, será feito em opor93


tunidade futura. Pedro Beckhäuser nasceu no município de São Martinho e viveu lá até casar-se com Joana Schmöller. Depois de casado, estabeleceu residência em Rio Fortuna; teve sete filhos (04 filhas e 03 filhos); morou também em Rio Café. Ficou viúvo de Joana Schmöller; e, posteriormente, casou-se com Edwirges Hoepers. Desse segundo casamento, teve mais sete filhos (04 filhos e 03 filhas). Foi quando, enfim, Pedro mudou-se para Urubici. Segundo meu avô Matheus, uma das filhas do primeiro casamento de Pedro, ainda criança, morreu acidentalmente caindo dentro de um tacho fervendo, no qual estavam fazendo sabão. Pedro, meu bisavô, era um homem pacato e trabalhador. Plantava milho, batata-doce, mandioca, feijão e arroz. Engordava porcos para o consumo e venda da carne e da banha. Criava galinhas, e também possuía algumas vacas como fonte de carne e leite para a família. Sua subsistência era baseada, portanto, no cultivo da própria alimentação e na venda da banha dos porcos. Uma vez ao ano, fazia-se o grande plantio de mandioca e milho para se obter provisões que durassem o ano todo. Conta meu avô que, em um ano, chegaram a plantar 50 mil ramas de mandioca e dois sacos com milho. Quando se tratava de realizar esse trabalho, homens e mulheres trabalhavam juntos. No período da manhã, os homens iam à roça e as mulheres ficavam em casa para fazer a limpeza e preparar o almoço; mas, no período da tarde, todos iam juntos ao trabalho da roça. As refeições de família eram sempre realizadas numa mesa grande, a que todos se sentavam. De manhã, muito cedo, os homens tomavam um café leve, ou seja, comiam pão e tomavam café. Às nove horas, era servido o café na roça a base de alimentos salgados, tendo em vista o trabalho duro que teriam pela frente: pirão de farinha de mandioca com salame, ovo cozido, ovo estralado e bolo frito. No almoço, faziam uso do fruto da plantação: arroz, fei94


jão, batata, mandioca, carne de porco, de gado e de galinha. Os filhos de Joana Beckhäuser (primeira esposa de Pedro) e de Edwirges Beckhäuser (segunda esposa de Pedro) dividiam todas as tarefas, pois não tinham empregados para ajudá-los. Ainda assim, quem estivesse em idade escolar não podia faltar às aulas por causa do trabalho. Guilherme Koepp foi um dos professores na época. Ele alfabetizou a família na língua alemã. O alemão era o único idioma falado em casa, na escola, na igreja e por toda a vizinhança. Pedro tinha por vizinhos as seguintes famílias: Wiggers, Ricken, Hert, Schulte e Pereira. Alguns dos seus irmãos moravam na região Sul de Santa Catarina. Carlos morava em Armazém, Bernardo, em Rio Carolina e João, em Orleans (comunidade de Mundo Novo). Assim, os irmãos mantinham contato entre si e, inclusive, se ajudavam. Carlos, por exemplo, fez as aberturas de madeira utilizadas na casa que seu irmão Pedro construiu em Rio Café, no ano de 1919. No ano de 1922, Pedro ampliou a casa com tijolo, barro e areia, pois queria proporcionar mais conforto à família. Eram quatro quartos, um corredor, uma sala, uma cozinha e uma varanda. Na parte posterior da casa ficava o tanque, em que se tomava banho e também o paiol. Em outro tanque lavavam-se as roupas e as louças eram lavadas numa gamela de madeira no interior da casa. Utilizavam-se, também, de sarrafos fixados nos cantos dos quartos para pendurar as roupas. Trabalhavam até sábado à tardinha. No domingo de manhã, cavalgavam por uma hora para chegar até a igreja onde participavam da missa. Na volta, o almoço já estava pronto, preparado pela filha escolhida para desempenhar a tarefa naquele fim de semana. Cardápio: sopa geralmente de frango, gemüse, macarrão, arroz e carne. Não se comiam saladas, uma vez que não eram cultivadas. Nos domingos, as famílias costumavam visitar-se para conversar, tomar o café da tarde e jogar baralho (só os homens jogavam). Enquanto os adultos passavam a tarde dessa forma, as crianças encontravam outras maneiras de se divertirem, como 95


caçar passarinhos com bodoque, subir em árvores, conversar e comer bergamotas e laranjas. Conta também meu avô que alguns conhecidos seus comentavam que Pedro e Edwirges eram bons dançarinos nas domingueiras. Ele tocava uma gaitinha de dois baixos para se entreter. Para a comemoração de Natal, Pedro e Edwirges presenteavam os filhos com doces, bolachas, algum chapéu e pequenos brinquedos, como a gaita de boca que meu avô Matheus ganhou. A família de Pedro foi a Urubici algumas vezes antes de migrar para lá. A razão da visita consiste no fato de terem amigos ali, além das filhas Philipina (Mina) e Vilimina (Bina), já casadas, morando no local. Certa vez, os filhos Pedro e Matheus foram, a cavalo, para Urubici, a fim de colherem o trigo que haviam plantado anteriormente em terras que meu avô, Matheus, desconhece o dono. No caminho, depararam-se com um leão que cruzou a trilha e os ficou observando entre dois despenhadeiros enquanto passavam. A sensação de alívio foi muito grande quando perceberam que o bicho havia desaparecido. Apesar da relutância de Edwirges em morar em Urubici, por se tratar de um lugar isolado, a família migrou para a cidade em 1936. Pedro queria morar em Urubici para ficar mais próximo das filhas já casadas e amigos, bem como para tentar amenizar problemas de saúde. O terreno, a casa e alguns animais que Pedro e a família possuíam foram trocados pela terra, a casa e alguns animais de Fernando Warmling, que morava em Urubici. Ao invés de vender o terreno para outra pessoa, os dois simplesmente acordaram em trocá-los. Nesse local, moram hoje a viúva e alguns filhos de Baldoino (já falecido), filho de Pedro. A partida para Urubici aconteceu no dia 02 de setembro de 1936, pela manhã, e a chegada só se deu no dia 04 de setembro de 1936, por volta das três da tarde. O transporte dos bens foi feito em 22 cargueiros. Levaram 96


roupas pessoais, roupas de cama (trem de cama como eram denominados) e também as louças da casa. As crianças dividiam um cavalo e os adultos vieram em um cavalo cada. Havia vários cavalos, pois a família era grande. A alimentação para durante a viagem foi preparada antes da partida. Trouxeram também uma junta de bois e uma vaca de leite. O restante dos animais, como as demais vacas, galinhas e porcos, ficou para o uso de Fernando Warmling, pois também foi trocado pelos animais dele, da mesma forma que o imóvel. Na viagem, pousaram (dormiram) em Forcadinha, hoje Aiurê, na casa de um conhecido alemão chamado Etler. A casa para a qual se mudaram era de madeira e a cobertura, de tabuinha e também tinha quatro quartos, uma sala, uma cozinha e um paiol. Logo que chegou a Urubici, meu avô Matheus se tornou capelão da igreja da comunidade de Santa Teresinha. Lá, moravam as famílias Schmitz, Kuhnen, Warmling, Stange, Faust, Figueiredo, Flores, Silvano, Soete e Henrique de Oliveira. Em Santa Teresinha, Pedro media terras para os vizinhos e para os conhecidos da região. Trabalhava com a família plantando milho, trigo, batata, feijão e criando porcos para vender a banha na “fábrica de banha” localizada no atual bairro Esquina. Esta fábrica era de propriedade de Adolfo Niehues e de João Locks. Assim, a vida seguia bem naquele ano de chegada, até que a febre tifo assolou a família e outras pessoas da comunidade. Somente Marcos e Matheus não adoeceram e puderam, dessa forma, cuidar dos acamados. A febre tifo não tinha cura em Urubici, mas conta meu avô que uma das pessoas da comunidade com mais recursos financeiros foi levada para outra cidade fora da Serra, onde se curou da doença. Pedro Beckhäuser faleceu no dia 11 de abril de 1937, vítima de febre tifo, na companhia de seu filho Matheus. Foi sepultado no dia seguinte, no cemitério de Santa Teresinha, em que ainda hoje estão seus restos mortais. Por um ano, a família guardou luto pela morte de seu pa97


triarca, usando roupas pretas e não dançando. Apesar da tristeza, a viúva Edwirges continuou a vida de forma firme, pois tinha os filhos para criar. Contava minha avó Lídia, esposa de Matheus e nora de Edwirges, que a viúva era uma pessoa determinada e forte. Edwirges foi, a exemplo de Pedro, uma mulher para ser lembrada. Depois daquele ano de luto, os filhos voltaram a freqüentar as domingueiras. Na opinião de meu avô, as melhores eram as da comunidade vizinha de São José, pois possuíam os melhores gaiteiros. As danças iniciavam por volta das duas horas da tarde e se estendiam no máximo até as dez da noite. Essas festas aconteciam nos paióis e casas dos amigos. Eram nessas domingueiras que se iniciavam os namoros, que, depois, se perenizavam em casamentos nas casas dos noivos. Nessa época, os filhos de Pedro e Edwirges já conheciam suas futuras esposas e, também, já foram se casando. Meu avô Mateus iniciou o namoro com Lídia Luchtemberg no ano de 1939. Eles eram vizinhos e, numa noite, depois de haverem conversado numa domingueira, Matheus foi até a casa de Lídia. Não houve um pedido oficial de namoro, pois Lídia já havia conversado com sua mãe Maria, que recebeu o futuro genro muito bem. Assim, seguiram-se os dias até que Matheus achou que deveria estudar mais um pouco e contou a Lídia sobre sua vontade. Ela concordou com sua ida para Blumenau, onde estudaria no Colégio Santo Antônio, apesar de saber da saudade que sentiria do namorado. Era o ano de 1940. Segunda Guerra Mundial. Matheus ouvia freqüentemente as notícias sobre a guerra quando iam todos os alunos do Colégio Santo Antônio para a sala em que ficava o rádio. O medo e a insegurança sobre o futuro eram sentidos por todos naquela época. O contato de Matheus com a família e a namorada se dava através das poucas cartas que podia enviar para a mãe Edwirges, a qual transmitia recados a Lídia. Passado um ano, Matheus volta para Urubici. A viagem foi feita de carona com um caminhão, que veio de Blumenau 98


para Desterro (Florianópolis) e, depois, com outro caminhão que ia até Urubici. Acontece, então, no dia 06 de setembro de 1941, o casamento de Matheus e Lídia. Na ocasião, ele tinha 22 anos de idade e ela, 23. Foram morar ao lado da igreja da Comunidade Santa Teresinha, com a sogra: a viúva Maria Schmitz Luchtemberg. Esse local ficava ao lado do que é hoje o cemitério da comunidade. Tempos depois, Edwirges faleceu, aos 76 anos de idade. O mesmo luto que havia sido respeitado na morte de Pedro foi guardado também quando Edwirges veio a falecer. Desde o casamento, Matheus trabalhava de empregado na casa de comércio de Ricardo Küntz, localizada em Santa Terezinha. Alguns anos depois, Ricardo resolveu morar no Estado do Paraná e convenceu meu avô a ficar com o estoque e prosseguir com o negócio: “– Matheus, você está com a faca e o queijo na mão... é só continuar!” – disse Ricardo. Matheus gostou da idéia e continuou a fazer comércio com os que moravam na comunidade e com moradores das comunidades vizinhas de São José, São Pedro e Canudo. Vendia-se de tudo na casa de comércio: tecidos diversos, açúcar, café, ferramentas, bebidas, chapéus, sapatos e produtos homeopáticos. Por vender bebida alcoólica, várias vezes teve que levantar de madrugada para servir cachaça a certos clientes que batiam a sua porta, com a desculpa de estarem com dor de dente ou dor de cabeça; na verdade, queriam mesmo era apenas embriagar-se. Para repor o estoque, Matheus precisava ir até Florianópolis. Freqüentava muito o Mercado Público, na rua Conselheiro Mafra e o Comercial Hoepcke. Dormia em Campinas, num dormitório localizado na atual Avenida Presidente Kennedy. Ia e voltava de caminhão com os colegas. Já era conhecido no local desde quando Ricardo o levou para apresentá-lo aos comerciantes como o novo dono do negócio. Nesse meio tempo, nasceram seus cinco filhos: Evaldina, Oraldina, Adelícia, Evaldo e Valdeci. Os filhos compreendiam a língua alemã que era falada em casa. Na escola, no entanto, 99


aprendiam o Português devido à repressão do governo para que não se falasse mais a língua alemã no Brasil. Com medo dos efeitos ruins que a repressão pudesse ter na família, Matheus e seus irmãos decidiram não mais falar o alemão. Comprou vários terrenos contíguos, nos quais, ainda hoje, parte de sua família trabalha e reside. O primeiro terreno que adquiriu era de propriedade da família Henrique de Oliveira. Mais tarde comprou terras de Lucas Kuhnen. Em 1973, Matheus se aposentou da profissão de comerciante e se tornou agricultor. O cenário da agricultura era diferente de 1939. Além de feijão, batata e milho, plantavam-se também milho de pipoca, amendoim e vassoura, para o consumo doméstico, e tomate, cenoura e beterraba para serem vendidos. As vargens produziam hortaliças de boa qualidade. Na entressafra, plantava-se feijão lupim para dar força a terra para a próxima safra. A família Beckhäuser, em Urubici, continuava sua rotina de trabalhos e também tinha seus finais de semana como os de Rio Café. A ida à missa aos domingos, o cardápio de gemüse, os encontros nas tardes para conversar e as comuns domingueiras. Os vizinhos e a família rezavam e cantavam juntos com o acompanhamento do violino de meu avô. Todo domingo ele pegava o seu violino e, como bom capelão que havia sido desde 1936, ia até a igreja tocar o sino e animar as orações. Assim, o coral de Santa Terezinha foi formado com seus irmãos, vizinhos e amigos e ainda existe até hoje na comunidade. Os membros são ainda a família, amigos e vizinhos. Matheus não é mais o maestro, mas tem posição de honra por ter ocupado a função por 54 anos. Matheus e Lídia deram prosseguimento a suas vidas e a de seus filhos. Todos se casaram e mudaram para alguma parte do terreno de Matheus. Somente a filha mais nova, de nome Valdeci, foi morar no terreno de seu sogro, que era vizinho de Matheus.

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Aos domingos, em Santa Teresinha, era ainda costume a família toda se reunir para conversar e tomar o café da tarde na casa dos avós. Esse costume não era e não é exclusividade da família de Matheus. As famílias de Baldoino e de Marcos também partilham dessa cultura de encontro familiar dominical, além de partilharem muitos outros costumes e valores. As famílias de Marcos e Baldoino continuam morando na cidade; a de Júlio foi para Florianópolis e nenhum de seus filhos mora mais ali. Baldoino faleceu há poucos anos atrás e a maior parte de sua família mora em Urubici. Marcos ainda vive em Urubici com sua filha Isalina e a maior parte de seus filhos mora lá também. Com o passar do tempo, as pessoas começaram a dizer a meu avô Matheus que estava na hora de parar de trabalhar. Ele, porém, insistia em cuidar de suas vacas, de dar trato aos peixes de seu açude e de fazer pequenos trabalhos ao redor de casa. Ele e sua companheira eram incansáveis batalhadores. No ano 2000, recebeu da Câmara Municipal de Urubici o titulo de Cidadão Urubiciense pelos trabalhos prestados à sociedade. Em 13 de fevereiro de 2005, depois de 64 anos de casamento, ficou viúvo. Lídia, minha avó, faleceu aos 87 anos, deixando grande saudade. Seu corpo foi sepultado no cemitério de Santa Terezinha, no dia 14 de fevereiro de 2005. Matheus, agora viúvo, com muito orgulho, alegria, satisfação e saudade, faz cada um que o escuta reviver as histórias de seus antepassados. Homem de muita coragem, bravura, honra e altivez. O curso da vida é contínuo, umas gerações terminam, outras vêm. Pais, irmãos, tios, primos, os filhos dos primos, os sobrinhos. Muitos continuam morando na cidade de Urubici com o avô Matheus. Outros, como eu mesma, que moro hoje em São José-SC, mudaram-se para cidades próximas. Em Urubici ou fora do município, os descendentes de Pedro Beckhäuser trazem sempre na lembrança os grandes homens e mulheres de quem são filhos, netos, bisnetos. Os Beckhäuser descendentes de Johann Karl, de Pedro e de Matheus carregam a garra característica dos imigrantes alemães em busca de 101


vida, muita vida. Ao longo dos anos, os Beckhäuser têm cultivado, e isso se desenvolve cada vez mais, o sentimento de orgulho de seus antepassados, a alegria em encontrar outros Beckhäuser. Com isso, valorizam-se os princípios herdados ao longo de tantas gerações, fazendo com que os pertencentes a esta família procure sempre o caminho do bem e do respeito; viver muita esperança e força; acreditando no futuro.

Casa de Pedro Beckhäuser, em Urubici. AKLB.

Santinho que Matheus recebeu de seu professor quando estava na escola em Rio Café. AKLB.

Jogo de futebol entre amigos em Santa Teresinha. Na fileira da frente, o último da direita é Baldoino Beckhäuser, filho de Pedro Beckhauser. AKLB.

Matheus Beckhäuser e sua esposa LidiaLuchtemberg. AKLB.

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Wilson, Lindaura, Eládio, Ivone, Adenir e Geraldo na fileira de trás. AKLB.

Edwirges (esposa de Pedro Beckhäuser), sua irmã, Marcos, primo Ventura, Amiga de ventura, Júlio, Baldoino e Eugênia. Família de Pedro depois de sua morte. AKLB.

Apresentação do coral Santa Teresinha sendo regidos pelo maestro Matheus e com os cantores da familia, incluindo Baldoino,também filho de Pedro (segundo homem da esquerda para a direita). AKLB.

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Casamento de Antônia Stange e e Júlio Beckhäuser. AKLB.

Matheus Beckhäuser e sua esposa ao lado de sua casa, em Urubici. AKLB.

Oraldina, Adelicia, Valdeci, Evaldo e Evaldina. Sentados estão Matheus e Lídia Beckhäuser. AKLB.

Evaldo, Oraldina, Matheus, Lídia, Laércio e Marcos. AKLB.

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Capítulo VIII

Histórico de Irma e Antônio Beckhauser ‘Quod scripsi, scriptum est’ Por Clay Juliano Schulze

As primeiras lembranças que me vêm à memória quando me refiro a meus avós, Irma Back e Antônio Beckhauser, relacionam-se ao modo como nós, netos, os identificávamos. Eles eram carinhosamente chamados de Opa de óculos e de Oma de óculos, obviamente porque ambos usavam o acessório. Éramos muito pequenos e nos prendíamos a estes detalhes para identificá-los, já que o sobrenome Beckhauser ainda era complicado de pronunciar. Vale ressaltar que o Opa também recebeu um segundo apelido, Clay Schulze neto de Antônio Beckauser. Foto- Opa Fuqui, devido às cobiçadas voltas que o grafia de setembro de Opa, em seu Fusca branco, ano 1975, dava 2006. ACS. com seu netos. Este apelido foi dado originalmente pelos netos Neimar e Nestor, filhos de Osvaldo Beckhauser. Devo confessar que tenho flashes de memória dos tempos em que o Opa e a Oma moravam na Serra dos Índios, município de Presidente Getúlio, Estado de Santa Catarina. Contudo, eu tinha somente 04 anos de idade e a história de Antônio Beckhauser, filho de João Carlos Beckhauser e de Maria Selhorst e Irma Gertrudes Back, filha de Antônio Back e de Ana Steiner iniciouse havia muito tempo. 105


Ambos nasceram em Praia Redonda, município de Imaruí, hoje São Martinho 71 , Sul do Estado de Santa Catarina. Antônio e Irma eram vizinhos, mas os terrenos de suas famílias eram divididos pelo Rio Capivari. Na certidão de nascimento de Antônio Beckhauser, constam as seguintes informações: “Assentamento do nascimento de Antônio Beckhauser, do sexo masculino, de cor branca, nascido em domicílio em 17 de Agosto de 1924, às 18 horas, filho legítimo de João Carlos Beckhauser e de sua esposa Dona Maria Selhorst, naturais deste Estado, casados no Juízo deste distrito, residentes neste distrito, neto paFamília de João Carlos Beckhauser (Antônio sentado à terno de Carlos Beckhauesquerda), em Praia Redonda. ACS. ser e de Dona Ana Arns e materno de Huberto Selhorst e de Dona Helena Michels. Foram testemunhas da declaração João Sehnem Jnr. e Antonio May e o declarante o pai”72 . Tal qual a maioria das famílias da época, a prole de João Carlos Beckhauser passou por dificuldades. Referindo-se às famílias de ambos, a Oma Irma conta que “meu pai ‘tava’ sempre um colono forte, já o Opa não era aquela coisa” 73 . Podia-se perceber resquícios deste passado na repulsa que o Opa tinha quando observava desperdícios. Em 1940, o Opa Antônio foi estudar na conceituada “Escola Apostólica Sagrado Coração de Jesus” da Vila Hansa Humboldt 74 , hoje Seminário Sagrado Coração de Jesus de Corupá, Norte do Estado de Santa Catarina. Lá, cursou e concluiu os quatro anos das séries Ginasiais e os três anos do Curso Colegial, na época também chamados de 1º e 2º Ciclos. Durante estes anos no Seminário o Opa teve aulas de álgebra, francês, alemão, inglês, grego, latim e canto gregoriano, entre outras disciplinas escolares. Sua formatura no Curso Ginasial foi em 28 de 71

As notas correspondentes a este capítulo constam a partir da página 153.

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outubro de 1946, ocasião a que compareceram seus irmãos Aloísio, Pedro João e Ana. Apesar dos anos de estudo no seminário objetivarem a formação sacerdotal, o Opa optou por não seguir este caminho, como lembra Osmar Beckhauser, filho mais velho de Antônio Beckhauser: “o Opa chegou a ser clérigo, até usava batina, mas quando chegou a hora de fazer os votos, ele desistiu da carreira. A partir desta decisão, ele que estava livre até aquele momento do serviço miliFormatura de Antônio Betar obrigatório, teve que se apre- ckhauser no Seminário, em sentar no 62º Batalhão de InfanCorupá - SC. ACS. taria em Joinville. Nesta época, o Opa nos contava que viveu como um príncipe. Não precisava fazer exercícios, ganhava cigarro, salário e quarto diferenciado para que ele desse aulas de francês e inglês, pois vivíamos ainda tempos turbulentos do pós-guerra”75 . Quando o Opa Antônio retornou à sua cidade natal, São Martinho, a Oma conta que “o Opa trabalhou com o cunhado, Eriberto Back, em uma serraria e também como secretário na madeireira de João Effting, em Braço do Norte”76 . Outro emprego que teve depois de sua vinda do seminário, foi de auxiliar de pintor. Em 1949, a Igreja Matriz Cristo Rei de São Martinho estava sendo reformada; para tal serviço foi contratado um pintor profissional, Alfonso Weihersmann, de São Bento do Sul. Este, após constatar o empenho que o jovem Antônio dedicava ao trabalho, convidou-o para voltar com ele e auxiliá-lo em outras obras e atividades. A resposta coube a sua mãe, Maria, que não aceitou, pois ficaria longe do filho e teria muitas saudades. Antônio e Irma namoraram durante um ano. Segundo Osmar, relatando sobre esse período: “para chegar à casa do sogro Antônio Back, o Opa deveria andar um trecho significativo e, para evitar este longo trajeto, cortava caminho atravessando o Rio Capivari a nado, nu com a roupa numa das mãos, chegando do outro lado 107


colocava as roupas e ia namorar”77 . Opa e Oma casarem-se em 12 de janeiro de 1952, numa sexta-feira, na cidade de São Martinho. A cerimônia religiosa teve a bênção de Pe. Vendelino Vimmes. O casamento civil, por sua vez, foi efetuado um dia antes, em 11 de janeiro de 1952, registrado no Cartório de Registro Civil de São Martinho. Na ocasião, o Opa tinha 28 anos de idade e a Oma, 27. No sábado, dia seguinte ao casamento de Irma e Antônio Beckhauser, seus compadres Norma e Alfredo Sehnen, primos de Irma, também casaramse. O primeiro passo para construir o seu futuro foi dado já no domingo, quando os dois casais partiram para a Serra dos Índios, comunidade isolada do município de Presidente Getúlio. Foi no caminhão de Jacó Berkenbrock Casamento de Irma e Antônio que os dois casais viajaram de mudanBeckhauser em 1952. ACS. ça, partindo ainda pela madrugada. Após 380 km de viagem de São Martinho até a Serra dos Índios, chegaram ao novo lar na tarde do mesmo domingo, dia 13 de janeiro de 1952. Antes da mudança para a Serra dos Índios o Opa já estava trabalhando no município, pois conforme relatos da Oma, “o Opa já lecionava em Presidente Getúlio, no Alto Vale do Itajaí, um ano antes de nos casarmos” 78 , deduz-se que ele tenha sido transferido para a Escola Mista Municipal Isolada de Alto Rio dos Índios. Sabe-se que: “no dia 02 de junho de 1952, Antônio Beckhauser assumiu a regência da escola. Em 1954, o governo estadual construiu um novo prédio escolar de alvenaria e a escola foi transferida para o Estado. De acordo com o aumento da matrícula, a escola passou a ser desdobrada, ‘tridesdobrada’ e ‘quadridesdobrada’. O aumento da matrícula foi conseqüência do crescimento da serraria da Cia. Sallinger S.A. que atraiu para a região grande número de famílias provenientes dos mais diversos lugares”79 . 108


Para começar a vida, a Oma conta: “nós compramos um terreno que pertencia a João Selhorst, primo do Opa, bem ao lado da escolinha. Ali já existia uma casinha de madeira, coberta de tábuas” 80 . Foi neste terreno que iniciaram a vida conjugal e construíram a casa que, posteriormente, foi herdada por Otávio Beckhauser, um dos filhos do casal. Atualmente, a casa não pertence mais à família. Com o passar do tempo, Antônio e Irma construíram no mesmo terreno uma casa maior para abrigar os vários filhos que tiveram, oito ao todo. Primeiro, vieram os gêmeos Oscar Antônio Beckhauser e Osmar Antônio Beckhauser, nascidos em 28 de outubro de 1952, seguidos por Odete Beckhauser de 16 de novembro de 1954, Osvaldo Antônio Beckhauser de 08 de janeiro de 1957, os gêmeos, mas agora um casal, Otávio José Beckhauser e Otília Maria Beckhauser nascidos em 20 de outubro de 1958, depois Orival Antônio Beckhauser de 13 de dezembro de 1961 e o caçula Odair Antônio Beckhauser, nascido em 19 de julho de 1964. Ainda na Serra dos Índios, seu Antônio também adquiriu um terreno de Zeninho Schothen (que hoje não pertence mais à família), e outro do seu compadre Bertolino Steiner. Estes terrenos eram utilizados para plantação e pastagem de animais e, posteriormente, ficaram com seu filho Osvaldo Beckhauser. A família plantava mandioca, arroz, feijão, batata, milho, cará, taiá (uma batata similar ao cará) e, por último, iniciaram o cultivo do fumo. Além da plantação, criavam animais tais como patos, marrecos, perus, porcos, galinhas e gado leiteiro, mas também possuíam um cavalo utilizado na tração de uma charrete. Com o esposo dedicando-se integralmente ao trabalho na escola, a vida não era fácil para a Oma Irma, além das atividades do lar e de mãe de oito filhos, sobrava-lhe o cuidado com a lavoura e os animais, principais fontes de alimento e renda das famílias de interior. Sabe-se que o trabalho com a agricultura é tarefa difícil e pesada até mesmo para os homens, mas a determinação e a força de vontade sempre foram presentes na Oma. Dia após dia, 109


sol a sol, ela dirigia-se à lavoura levando consigo sete de seus oito filhos. Odete, filha mais velha do casal, incumbia-se de alguns afazeres do lar, como a preparação do almoço, enquanto os mais velhos auxiliavam a mãe na lavoura e também na vigia dos mais novos que brincavam por perto. “A Oma até confeccionava as nossas roupas” 81 , conta Odete, lembrando da dedicação de sua mãe. Odete também acrescenta que sua mãe “ensinou muitas mulheres da comunidade a fazer trabalhos manuais, tanto que teve uma época em que ainda foi dar aulas de crochê na escola” 82 . Com estes relatos, fica muito claro que educar não era só uma tarefa do Opa como professor, mas era um dever também dos demais membros da família participar e ser exemplo, fosse dentro ou fora da sala de aula. Aqui, cabe a observação da visão de responsabilidade social do Opa, especialmente com relação à educação, muito antes do tema ser discutido academicamente, ele já era colocado em prática pela família Beckhauser. Sobre o período de construção da nova Escola Mista Municipal Isolada de Alto Rio dos Índios, Osmar Beckhauser lembra de um acidente que envolveu a família: “quando trouxeram os tijolos para a construção, Odete foi colocada em cima do caminhão, mas as laterais do veículo se abriram acidentalmente e ela caiu no chão, quebrando o braço em dois lugares. Foi uma correria na família, com a menina desesperada, aos prantos, o Opa a pegou e foi de charrete procurar auxílio” 83 . Ao contrário do relatado no livro de Harry Wiese, “De Neu-Zürich a Presidente GetúPrimeira Comunhão de Osvaldo, Odete lio: Uma história de sucesso”, e Osvaldo. ACS. Osmar e Odete afirmam que a construção da escola aconteceu em 1960, pois Odete já tinha seus seis anos de idade neste episódio. Em 1963, ao vender um terreno no Bairro Jacu, Presidente Getúlio, o Opa comprou seu primeiro automóvel, um Jeep, que 110


foi um dos primeiros carros da região. As aventuras no Jeep do Seu Antônio são lembradas até hoje pelos populares, pois muitas vezes serviu de ambulância para os moradores da Serra dos Índios. Sempre que alguém precisasse de transporte até o hospital, era o Seu Antônio que descia a Serra para levar o aflito até o Hospital e Maternidade Maria Auxiliadora em Presidente Getúlio. Conta Osvaldo Beckhauser “que a situação se tornou tão rotineira que o Dr. Waldomiro Colautti 84 , então médico no município, sempre dizia que o Seu Antônio ‘trazia o doente e o remédio’, pois possuía sangue O positivo, doador universal” 85 . Osmar lembra de um caso que chegou a extremos: “o Opa socorreu moradores durante três noites seguidas, levando os doentes para o hospital e ainda tendo que dar aulas durante o dia. Era um inverno frio e chuvoso e o Jeep atolava, dificultando ainda mais a viagem, na maioria das vezes, tinha que andar até achar uma casa para pedir auxílio, o que demorava mais que todo o trajeto até o hospital. Na terceira noite, o Opa salvou a vida de Maria Garcia Sehnen. Durante a descida da serra, ele teve que parar três vezes para velar a mulher, devido à grave situação em que esta se encontrava. Quando chegaram ao hospital, ele entrou gritando pedindo para que alguém viesse acudir a doente. Nesta noite, o Opa foi novamente doar sangue para ajudar a paciente, mas no outro dia, de tão fraco que estava, ele não teve mais condições de voltar e muito menos de dar aula. Tempos mais tarde, conversando com Chico Sehnen, marido da doente, o Opa descobriu que o hospital cobrou o sangue por ele doado para a paciente, o que o levou a questionar os valores éticos da responsável pelo hospital” 86 . Revivendo os passos do pai, os filhos mais velhos Oscar e Osmar foram estudar em seminário, inicialmente em Taió-SC, no Seminário Nossa Senhora de Fátima (1965-1966), depois se transferindo para o Seminário de São Francisco Xavier em Rio do Oeste-SC. Detalhe interessante é que o percurso de 23 km da Serra dos Índios até Rio do Oeste era feito de bicicleta, sendo que chegaram a fazer uma viagem em impressionantes 35 minutos, apesar do relevo acidentado das estradas. Este trajeto também era feito por outros filhos de moradores da Serra dos Índios, mas somente Oscar e Osmar possuíam bicicletas, um ar111


tigo de luxo para a época. Ao contrário da fartura e facilidades das atuais gerações, naquela época presentes e doces eram itens raros e muito valorizados pelos filhos. Odete lembra, “sempre que o Opa voltava do centro de Presidente Getúlio, trazia balas para nós, principalmente na época em que ele foi candidato a prefeito”87 . Mesmo residindo na Serra dos Índios, uma localidade bem isolada do centro do município, Antônio Beckhauser foi candidato a prefeito de Presidente Getúlio nas eleições de 3 de outubro de 1965 contra Francisco Ax. Infelizmente, a totalidade dos votos recebidos não foi suficiente para que atingisse o objetivo. Com o Lema “Trabalho, Honestidade, Desenvolvimento e Justiça Social”, a coligação feita pelos partidos UDN/PDC/PL88 perdeu as eleições, como também perdeu o candidato da coligação ao governo do Estado, Antônio Carlos Konder Reis. Odete conta que Alfredo Schlindwein era cabo eleitoral do Opa durante a campanha. “Onde o Opa ia, o Seu Alfredo ia junto. O Opa reclamava que eles passavam fome durante os dias de visita às famílias e comiam só ‘ameixinha’ e tangerina, frutas da época que apanhavam na estrada” 89 . Em 1971, o Opa foi transferido da escola na Serra dos Índe Antônio Beckhauser, na Serra dios para trabalhar como secre- Famíliados Índios em 1972. ACS. tário no Colégio Estadual Deputado Orlando Bértoli, no centro de Presidente Getúlio, indo com ele também Odete e Otília para completar seus estudos. Em 1979, a Oma junto com os filhos mais novos, Orival e Odair, mudouse para Presidente Getúlio. A família residiu inicialmente na casa que pertencia a sua filha Odete, na época já casada com Artur Guilherme Schulze e morando em Jaraguá do Sul. Excluindo-se Odair e Orival, que estavam com os pais, todos os outros filhos também já estavam casados. 112


Em 1983, o Opa comprou uma casa na Rua Paulo Müller, centro de Presidente Getúlio. Durante a década de 90, adquiriu uma casa vizinha, na Rua Getúlio Vargas, mudando-se pouco tempo depois. Ambas as casas ainda são de propriedade da família. No mesmo período em que se mudou para Presidente Getúlio, o Opa foi um dos fundadores do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, em 08 de fevereiro de 1971. Antônio Beckhauser fez parte da primeira diretoria. Por diversos anos, o Opa manteve-se ainda como presidente ou membro da diretoria. A união e a luta pelos interesses dos agricultores foi motivo de sua grande dedicação ao Sindicato e a esta classe, como se pode perceber no seu editorial para o informativo do Sindicato em 1995: “Agricultor, nós somos uma grande corrente. Cada um é um elo dessa corrente, quanto maior e mais forte, maior valor tem” 90 . O filho Orival Beckhauser seguiu os caminhos traçados pelo pai, dedicando vários anos de trabalho como secretário no mesmo Sindicato. Como o seu avô, “Vater” Carlos Beckhauser, Antônio também era católico apostólico romano, praticante desde pequeno, tanto ele como Dona Irma mantinham uma vida dedicada à religião e às atividades da Igreja. O Opa foi Ministro da Eucaristia e presidia a celebração de casamentos, enterros ou auxiliava nas missas com grande freqüência, especialmente nos últimos anos de sua vida. A Oma estava sempre pronta para auxiliar na cozinha quando eram realizadas as festas da comunidade católica de Presidente Getúlio. As festas eram realizadas no salão da Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário. Nestes dias, a coruja/rosca preparada pela Oma fazia grande sucesso. Aliás, sucesso na cozinha a dedicada Oma já fazia em casa, principalmente com os Weihnachtskuchen (bolachas de Natal), toucinho do céu e o famoso Spritz-dochen, que até hoje são literalmente devorados pelos netos. “O kochkäse, os pães trançados, a batata tostada e o pão de milho da Oma eram disputados desde os tempos da Serra dos Índios”91 , relembra Odete. 113


O casal também participou do Coral Misto da Igreja Matriz, onde a Oma era segunda voz e o Opa era tenor. O Coral fazia suas apresentações nas datas especiais do calendário cristão. O conhecimento religioso do Opa foi transmitido em sala de aula quando lecionou Ensino Religioso no Colégio Estadual Deputado Orlando Bértoli, de Presidente Getúlio, onde trabalhou até se aposentar em 1986. Antônio Beckhauser “foi um dos grandes líderes da educação e da política da Serra dos Índios e de Presidente Getúlio” 92 . Participou ativamente de inúmeras atividades no município, como Conselheiro do Departamento de Saúde e da Ação Social e fundador de partidos políticos (PRN93 , PPR94 , PPB95 ). É verdade e fato notado que em vários momentos o Opa Antônio tirou o tempo que dedicaria à família para se entregar ao bem estar social de sua comunidade. Em 1999, tarde anterior ao baile de minha formatura de graduação, estávamos o Opa, meu irmão Clenio Jair Schulze e eu, sentados na biblioteca de nossa casa em Blumenau-SC, entretidos com as histórias que o Opa contava. Nesta ocasião, pedimos novamente a ele para que as passasse por escrito, para que as mesmas não se perdessem com o tempo. No entanto, nosso pedido não pôde ser realizado. Em 26 de fevereiro de 2000, passado meio ano de nosso pedido, o Opa veio a falecer, levando consigo muitas de suas histórias. Antônio Beckhauser foi sepultado no cemitério da comunidade católica de Presidente Getúlio, deixando com saudades sua esposa Irma, seus filhos, netos e bisnetos. As férias escolares, hoje, são lembradas por meu irmão Clenio e por mim, como a nossa fuga para a Formatura de Clay Schulze com Oma e Opa em 1999. ACS. casa do Opa e da Oma em Presidente 114


Getúlio. Com nossos avós, ficávamos praticamente todo o período de férias, para deleite deles, e certamente para nós. Numa dessas tardes, durante o tradicional jogo de cartas, o Opa citou uma frase em latim, fato que chamou a nossa atenção, pois era uma frase desconhecida. Esta frase se enquadra muito bem neste momento, quando através da reunião destes fatos e causos tentamos preservar sua história. Opa falou: – “Quod scripsi, scriptum est”. (O que está escrito, ficará escrito.)

Família reunida para comemorar o aniversário da Oma, em 17 de Agosto de 2005. ACS.

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Capítulo IX

Gabriel Carlos Beckhäuser e Corina Mendonça Por Adauto Bechkäuser

Falar dos próprios pais não é tarefa fácil, levando em consideração a existência dos lanços de família. Mas, quem foi Gabriel Carlos Beckhäuser? Quem teria sido Maria Vieira Beckhäuser? Gabriel nasceu em 23 de setembro de 1901, em Armazém-SC. Era de Karl Adauto Beckhäuser e Dulcinéia Francis- filho ca Beckhäuser. Fotografia de 2005. Eduard Caeser BeADAB. ckhäuser e de Anna Aurora Arns; e neto paterno de Johann Karl Beckhäuser e de Maria Elisabeth Kropp. Tinha mais sete irmãos: Rodolfo, João, Bernardo, Jacó, Max, Maria e Júlia. Em setembro de 1918, casou-se com Corina Mendonça, na Igreja Matriz São Pedro Apóstolo, em Armazém. Desse casamento nasceram: José Gabriel Beckhäuser, Carlos Beckhäuser, Adélia Beckhäuser, Laura Beckhäuser da Rosa, DáKarl Eduard rio Gabriel Beckhäuser, Valdomiro Beckhäuser e os Caeser Beckhäuser. Fotografia gêmeos Estélio Beckhäuser e Ester e Beckhäuser. de 1949. AFAB. 117


Com quase 24 anos de matrimônio, Corina veio a falecer. Era 06 de agosto de 1942, e Gabriel fica viúvo. Não demorou muito tempo, casou-se com Maria Vieira em 04 de agosto de 1945, na Igreja Matriz São Pedro Apóstolo96, em Armazém. Desse casamento, nasceram: César Beckhäuser, os gêmeos Adauto Beckhäuser e Anita Beckhäuser, Valquíria Beckhäuser, as gêmeas

Gabriel Carlos e Maria Vieira Beckhäuser e seus 8 filhos. Fotografia de 1954. ADAB.

Estér, Estélio, no colo Nair e Nadir e na frente Adauto e Anita Beckhäuser. Fotografia de 1949. ADAB.

Maria Vieira e seus filhos Beckhäuser’s. Fotografia de 1949. ADAB.

Nadir Beckhäuser e Nair Beckhäuser e os gêmeos Dilmar Beckhäuser e Dimas Beckhäuser97 . Na década de 1950, em Armazém, Gabriel exerceu o cargo de In96

Gabriel e seus filhos Beckhäuser’s. Fotografia de 1949. ADAB.

As notas correspondentes a este capítulo constam a partir da página 153.

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tendente Distrital. Tinha grandes conhecimentos de matemática, o que o auxiliou grandemente no exercício da profissão. Gabriel teve quatro vezes gêmeos: uma vez no primeiro casamento; e três outras no segundo. São eles: Estélio e Ester, Adauto e Anita, Nair e Nadir e Dimas e Dilmar. E do segundo casamento teve ainda César e Valquíria. Na região, as pessoas o indagavam constantemente sobre como ele pôde ter quatro duplas de filhos gêmeos. Queriam saber se havia alguma fórmula para conseguir semelhante feito. A tantas indagações dos curiosos, Gabriel sempre respondia com muito bom humor: - Traga a tua mulher que eu ensino. Gabriel veio a falecer em 23 de março de 1987, aos 87 anos de vida. Sua segunda esposa, Maria Vieira, faleceu em 03 de maio em 2003.

Início do namoro de Gabriel Carlos e Corina Mendonça Segundo Laura Beckhäuser da Rosa: ”O papai era um menino magro e alto que veio para a praça em Armazém, para começar uma profissão. Escolheu a de sapateiro. Ao lado desta sapataria, morava Corina Mendonça. (Gabriel) sempre passava em frente à casa de Corina, até que, um certo dia, tomou coragem e foi falar com o velho Mendonça, pai de Corina: ‘Olha, quero casar com tua filha!’, ao que o senhor Mendonça disse: ‘o que sabes fazer para ganhar dinheiro para sustentar uma mulher e filhos?’ - ‘Já tenho uma profissão, a de sapateiro e é um bom início de vida’ - respondeu ele. Senhor Mendonça retrucou mais uma vez: ‘vejo em ti muita coragem e confio em tua determinação, por isso concedote a mão de minha filha em casamento’” 98. O casamento, de fato, Corina Mendonça e Gabriel Beckhäuser . Fotografia de 1930. ADAB.

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veio a se concretizar e o novo casal foi morar à margem esquerda do rio Capivari, Praia Redonda, hoje pertencente ao município de São Martinho-SC, em terras que herdou de seu pai Karl Eduard Caeser Beckhäuser, após o falecimento de sua mãe Ana Arns. Gabriel contava que Corina tinha muito medo de escuro e, por isso, ficava em cima duma pedra localizada ao lado da casa até ele chegar. Deste casamento, nasceram oito filhos, sendo que os dois primeiros faleceram quando crianças.

A Educação e o estudo em primeiro lugar

Dário Beckhäuser, no Colégio de Vargem do Cedro. Fotografia de 1935. ADAB.

de São Martinho, pois era onde se tinha o ensino considerado de melhor qualidade de toda a região. Lá passaram José, Laura, Dário, Valdomiro e Estélio e Ester. Até pouco tempo, existia uma porta na escola com o nome de Dário. Sempre que passo por lá, o pessoal mais antigo lembra com saudades dos filhos de Gabriel. Terminados os estudos em São Martinho, Vargem do Cedro, Ester foi estudar no convento das Irmãs 120

Gabriel sempre procurou dar o melhor para seus filhos. Assim, o estudo foi a forma privilegiada de proporcionar isso. Todos tiveram a oportunidade de estudar. No início, os filhos mais velhos estudaram em Vargem do Cedro, no município

Valdomiro, Dário e Gabriel Beckhäuser. Fotografia de 1950 no Rio de Janeiro - RJ. ADAB.


Dário, Gabriel, Valdomiro e um amigo. Fotografia de 1950 no Rio de Janeiro - RJ. ADAB.

Franciscanas de São José, em Angelina-SC. Com o tempo, viu que não tinha vocação para a vida religiosa, deixou o convento e veio a se radicar em Armazém, onde atuou como professora primária. Casou-se com José João Berto. Foi considerada a melhor professora em alfabetização pela comunidade.

Atualmente, mora em Armazém. Dário, com o término dos estudos em Vargem do Cedro, partiu para a cidade de São Paulo onde residiu por muitos anos. Nessa cidade, várias vezes recebeu a visita de seu pai, donde iam ver seu irmão Valdomiro no Rio de Janeiro, cidade em que servia o exército. Um amigo de Dário por várias vezes esteve na casa de Gabriel em Armazém onde tirou fotos registrando a sua estadia. Dário, por sua vez, quando visitava seus pais, sempre procurou tirar fotos da família. Por isso, temos muitos registros fotográficos hoje disponíveis. De volta a Armazém, juntamente com seu irmão Estélio, Dário comprou uma padaria e um bar. Os pães lá produzidos eram vendidos em toda região. Dário veio a se casar com Zulma Mendonça e deste casamento tiveram duas filhas: Vera Corina e Sandra. Dário faleceu no dia 04 de junho de 2001. Estélio veio a se casar com Maria Batista e deste casamento teve três filhos: Hilton, Clóvis e Edson. Posteriormente, venderam a padaria e o bar e Estélio partiu para a cidade de Braço do Norte. Ali, comprou um Hotel e um restaurante, que vendeu mais tarde. Daí, passou a investir no ramo têxtil. Hoje, reside em Tubarão onde produz e vende os tecidos Beckhäuser e o jeans com a marca Beck’s Jeans para todo o Brasil. Dário também foi residir em Tubarão, onde comprou uma loja de tecidos e os vende em atacado. Valdomiro, como já citamos, serviu o exército e quando do seu término prestou concurso e foi aprovado para coletor da 121


Fazenda Estadual. Veio se casar com Edy Araújo e teve 05 filhos: Leiege, Miriam, Lúcia, Lenita, Flávio e Ivan. Flávio faleceu em 09 de fevereiro de 1993. Atuando por muitos anos em Armazém e, depois de algum tempo, transferido para a cidade de Tubarão. José, casado com Bernadete Luz Beckhäuser, após estudos realizados em Vargem do Cedro, comprou uma loja de relógios e jóias em Tubarão. Não continua nesta atividade pois, foi acometido da febre espanhola e veio a falecer em 08 de janeiro de 1947, deixando três filhas: Sueli Terezinha Beckhäuser, Sônia Corina Beckhäuser e Sirene Beckhäuser. Laura, após os estudos em Vargem do Cedro, fixou residência em Armazém. Contraiu matrimônio com José Diomário da Rosa. Atua como comerciante de tecidos.

Inventário Com a morte de Corina no dia 06 de agosto de 1942, vítima de hemorragia durante uma gravidez devido a esforço demasiado (ao deslocar um guarda-roupa) no Hospital da Divina Providência, em Tubarão, no dia 13 de agosto de 1942, se iniciou o processo de abertura do inventário na Comarca de Tubarão, sendo Juiz da Comarca o Dr. Adalberto Belisário Ramos. Ela partilhou os seus bens com seis filhos: José Gabriel Beckhäuser, 22 anos, casado; Laura Beckhäuser, com 14 anos; Dário Gabriel Beckhäuser, 11 anos; Waldomiro Beckhäuser, com 09 anos de idade; Estélio Beckhäuser e Ester Beckhäuser com 07 anos de idade99 . Extrai-se do inventário que Gabriel Carlos e Corina Mendonça adquiriram um bom patrimônio, a saber: 1. Terreno com 242.000 m2 situado à margem esquerda do Rio Capivari em Armazém, com moradia tipo Chalet. 2. Terreno adquirido em 21 de janeiro de1927 de Pedro Inocêncio Teixeira. 3. Terreno adquirido de Pedro Isidoro medindo 96.800 m2, em 06 de abril de 1928. Margem esquerda do Rio Capiva122


ri, em Armazém-SC. 4. Terreno adquirido de João Pedro Michels, em 28 de abril de 1942, medindo 23.232 m2. Margem esquerda do Rio Capivari, em Armazém-SC. 5. Terreno na margem direita do Rio Capivari, em Armazém-SC, com 27.984m2. 6. Uma pequena casa de madeira num terreno com área de 27.984m2 adquirido em 03 de julho de 1942. 7. Terreno adquirido de Júlio Antônio Correia, em 04 de julho de 1942, área de 48.400m2. 8. Terreno adquirido de Sotério Manoel Demetrio, com área de 121.000m2, em 07 de março de 1930. Com a partilha dos bens, cada um dos seis filhos recebeu o seu quinhão hereditário que serviu para dar início aos seus negócios.

Visão de Negócios Gabriel, seguindo o exemplo de seu avô Johann Karl Beckhäuser, não se contentava com pouco, sempre queria mais para os seus filhos. Com talento para os negócios, viu que na Gabriel Beckhäuser e os tropeiros. Fotografia de 1949. região de Armazém ADAB. quase não tinha animais de raça e bons cavalos; por isso, procurou uns empregados, juntou um pouco de dinheiro e saiu em viagem para o Rio Grande do Sul. De lá, trouxe em várias viagens grande quantidade de animais, que foram vendidos na região. Gabriel contava que, apesar dos riscos, nunca foi roubado, nas casas dos tropeiros onde se hospedavam. Guardava seu dinheiro dentro de uma toalha e envolvia no bacheiro100 e colocava tudo dentro do lixeiro. Este segredo só revelou aos filhos 123


bem mais tarde. Em viagem por Urubici, vendeu duas potrancas ao seu tio Peter Beckhäuser, pai de Mateus Beckhäuser, dizendo que elas eram já domadas. Para dar provas do que disseram, mandou um de seus empregados montar nos dois animais, ao que Peter pôde comprovar a doma. Num outro dia, um domingo, Peter pediu a seu filho Mateus que montasse num dos animais para ir a missa, na Capela Santa Teresinha, em Urubici. Teve uma grande surpresa ao ver seu filho caído e bastante condoído, ao lado do cavalo. Das duas hipóteses uma: ou Mateus não sabia montar direito, ou Gabriel enganou o seu tio Peter. Com esta atividade de compra e venda de animais adquiriu grande fortuna. Passando a ser o banco financeiro da região. Era difícil encontrar alguém que não havia tomado emprestado algum dinheiro dele. Segundo José Diomário da Rosa, genro de Gabriel, ele nunca havia perdido nenhum dinheiro com o pessoal. E ele afirmava: “Meu sogro era um homem muito sério e honesto”101 . Em suas terras trabalhavam muitos agregados e sempre se deu bem com todos eles. Criava muito gado. E com esse manejo aprendeu a cuidar de doenças. Por isso, era considerado o veterinário da região. Gado em sua mão não morria de doença. Sempre tinha uma solução para a doença. Num determinado dia, apareceram alguns veterinários em sua casa, alegando que não poderia mais medicar os animais, pois não tinha formação para isso. Nisto, apareceu um colono em desespero na casa de Gabriel, pedindo que ele medicasse sua vaca de estimação. Gabriel recusou-se a atender o pedido, visto que estava sendo proibido por dois jovens veterinários, aos quais enviou o colono. Os veterinários, no entanto, não conseguiram resolver o problema daquele homem. Como a saúde do animal piorava cada vez mais, os próprios veterinários recorreram a Gabriel, solicitando uma solução, pois temiam perder o crédito diante dos colonos. Gabriel, sempre com bom coração, pediu para que trouxessem o colono em sua casa, pois lhe daria o medicamento necessário. Assim fizeram os veterinários, conduziram o colo124


no à casa de Gabriel, que, prontamente, passou o medicamento e disse que no outro dia a vaca já estaria de pé e se alimentando. E foi o que aconteceu. A partir deste dia, os jovens veterinários passaram a respeitar o seu Gabriel. Ele não cobrava nada pela medicação; era um gesto de amizade para com os colonos que sempre acreditavam em seu conhecimento. Certa vez, Gabriel comprou um automóvel Ford 1946 e, ao colocá-lo na garagem, atravessou-a, totalmente desgovernado. Só parou graças a uma árvore, acima de um barranco que dava para o Rio Capivari. Este fato tornou-se objeto de gozação para os amigos.

Religioso Gabriel era muito religioso; lia a bíblia em alemão gótico com perfeição e falava muito bem o alemão. Afirmava que só foi aprender o português aos 16 anos de idade. Sempre ia à missa das 10h, todos os domingos, na Igreja Matriz de São Pedro, em Armazém. E tanto no almoço como na janta rezava agradecendo a Deus por ter o pão de cada dia. Seu lugar na igreja era tão cativo que, num segundo domingo do mês de maio, nem percebeu que se sentara em lugar reservado para as mães. Uma irmã religiosa, que havia organizado a homenagem, delicadamente solicitou-lhe que deixasse aquele lugar. Ao que ele retrucou: “então, estou no meu lugar”. A Irmã, um pouco triste, a pensar que ele não tinha entendido o seu pedido, insistiu: “Senhor Gabriel, este lugar hoje é só para as mães”. E ele prontamente respondeu: “Então, Irmã, estou no meu lugar”. “Como assim senhor Gabriel?” - “Olha de tão bom que sou, meus filhos me chamam de mãe. Logo, não vou sair, porque este é o meu lugar”. Depois desta ousada resposta, a Irmã se rendeu: “Tudo bem, só que o Senhor vai ficar rodeado de mulheres”. Nem mesmo essa última observação o intimidou, continuou no mesmo lugar. Entre as mulheres e todo feliz, acabou por se tornar o foco das atenções da missa.

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Supersticioso Gabriel acreditava em benzedeiras. Quando um animal ficava um pouco doente, recorria a uma benzedeira para tirar o quebranto. Quando alguém visitava o seu gado leiteiro e tecia muitos comentários, ele já se precavia; chamava a benzedeira para tirar o mal-olhado. Quanto vendia alguma vaca leiteira, chamava o pretenso comprador e mandava o empregado ordenhar o animal Gabriel Carlos Beckhäuser. Fotografia de 1985. ADAB. com as duas mãos pois, assim, parecia que a vaca dava o dobro de leite. O comprador não pensava duas vezes e comprava a vaca, que, quando em casa de seu comprador, não produzia metade do leite que ele viu dar no dia anterior. De volta a casa de Gabriel, reclamava por causa da baixa produção do animal, ao que retrucava Gabriel: “podes me trazer que eu te garanto que a vaca irá dar o mesmo leite de quando te vendi”. E o mesmo procedimento era feito: o mesmo empregado tirava o leite com as duas mãos, fazendo muita espuma; após alguns minutos, voltava a vaca a dar a mesma quantidade de leite do dia de sua compra. O colono ficava admirado pela honestidade de Gabriel e, mais um vez, levava a vaca leiteira para sua casa, com a recomendação de Gabriel: “antes passe numa benzedeira para tirar o quebranto”.

Espirituoso e Brincalhão Gabriel reclamava constantemente para seus amigos de Armazém, que não gostava que as moças usavam roupas xadrez e listradas, porque embaralhava a visão. Isso o empedia de ver com mais clareza o corpo delas. Toda sexta-feira às 05 h da manhã, Gabriel ia ao açougue de seu compadre Hercílio da Rosa para comprar carne (filé mignon). Lá chegando, batia na janela e, muito cedo, acordava seu compadre, o açougueiro. 126


Certa vez, em período de férias, suas filhas Anita e Valquíria passaram juntamente com dona Ana Salvador a fazer bolos e bolachas e outras iguarias para a longa viagem de Armazém até Urubici, onde passariam os outros dias na casa do Compadre Nicolau Correia. Antes, enquanto preparavam as bolachas, um cheiro muito apetitoso dali exalava, o que deixou Adauto e Gabriel com vontade de comer algumas. Seus pedidos, no entanto, foram incansavelmente negados, sob a justificativa de que eram para se comer durante a viagem. Os dois, descontentes com a situação, planejaram uma forma de comer aquelas bolachas. Gabriel deu dinheiro para Adauto ir ao correio loca da cidade de Armazém, e passar um telegrama para ele mesmo, com o seguinte texto: “Senhor Gabriel Impossibilitado de buscar as meninas, viagem urgente a Porto Alegre-RS. Do compadre Nicolau”. Era por volta de 15 h, quando o carteiro chegou à casa de Gabriel com o telegrama. Tendo assinado a confirmação de recebimento, passou a lê-lo. Nisto, as duas filhas não tiveram dúvidas: colocaram todas as bolachas na mesa e disseram: “podem comer tudo”. E foi o que eles fizeram. No outro dia, novamente batem palmas em frente a sua casa, as duas filhas de Gabriel foram atender e qual foi a sua surpresa: era Nicolau, pronto para levá-las para Urubici, de Jipe. Imediatamente foram à procura de Gabriel e Adauto, pedindo justificativas. Ao que Gabriel disse: “nunca negues uma bolacha ao seu pai e irmão, pois não queríamos todas as bolachas, só umas. E vocês nos deram todas. Por isso, ficamos muito gratos”. Há um fato que gostaria de registrar, ocorrido quando fui lhe apresentar minha noiva, Dulcinéia Francisca Martins, e sua família em Armazém, saímos de Florianópolis, os pais de Dulcinéia, Manoel Inocêncio Martins e Albertina Martins, e sua irmã Sueli e seu esposo Valdir Fidelis. Em Armazém, Manoel começou a reclamar que sua esposa Albertina e a empregada que lá vivia há mais de 30 anos, de nome Gertrudes, viviam reclaman127


do de doenças e de outras coisas mais. Gabriel, sempre espirituoso, respondeu: “Olha, Manoel! Tenho a solução para o teu caso.” - Manoel não teve dúvida, queria saber qual era: “Então, Gabriel, qual a solução para as duas velhas?” - “Manoel, existe em São Paulo uma fábrica que coloca duas velhas e sai uma novinha em folha”. Obviamente, Dona Albertina não manifestou apreço por aquela observação. Gabriel diz a Manoel que seria bom ele ficar com a Dona Albertina por que um amigo trocou a velha por duas de 18 e na semana seguinte foi lá para pegar de volta.

A Batalha dos Maragatos Gabriel Carlos Beckhäuser muitas vezes se referia à Batalha dos Maragatos ocorrida na região, em novembro de 1893. Desde sua infância, ouvia falar do episódio sangrento no qual se constituiu. Dele participaram muitos habitantes da região em defesa de suas propriedades. Considerado relevante para a história local, transcrevemos abaixo um trecho do livro “Max: História e genealogia da família Steiner, do Westerwald ao Capivari”, de autoria de Carlos Eduardo Steiner, que situa o referido evento no contexto regional, brindando-nos com interessantes detalhes: “A época é o final do século XIX. (...). A República ainda estava dando seus primeiros passos quando Marechal Deodoro da Fonseca, primeiro presidente do Brasil, renunciou. Seu sucessor, o também Marechal Floriano Peixoto, assumiu a presidência na vigência de instabilidade política, caracterizada por revoltas do norte ao sul do país. Em novembro de 1893, durante a Revolução Federalista102 iniciada no Rio Grande do Sul, um grupo de soldados federalistas liderados por Gumercindo Saraiva marchou rumo à capital de Santa Catarina, Desterro. Parte desses revolucionários, também chamados maragatos103, perdeu os ideais da causa revolucionária e, ao passarem por Tubarão, vinham tomando de assalto as fazendas da região, saqueando as plantações, matando o gado para se alimentarem dos melhores pedaços e roubando as famílias. Não se tratava de soldados treinados, mas sim um bando de guerrilhei128


ros maltrapilhos, entre os quais havia mulheres e crianças. Esse grupo passou pelo Capivari, deixando em polvorosa a população local. (...). Incomodados com essa quadrilha, os moradores da região resolveram se vingar. Sabiam que os bandidos, 13 em seu total, entre homens e mulheres, haviam capturado um rapaz e faziam-no cavalgar vários metros à frente do grupo, a fim de usá-lo como escudo ou alerta. (...) um grupo de cerca de 100 homens de São Martinho preparou uma emboscada, se escondendo no mato às margens da trilha por onde eles passariam, perto do morro chamado Pelzberge. Esperaram o rapaz inocente passar, sem atirar como haviam previamente combinado. Ao se aproximarem, um dos bandidos parece ter percebido a tensão no ar e advertiu o chefe do bando sobre a possibilidade dos moradores quererem vingança, ao que recebeu como resposta: “Tolice! Eu não temo nem cinqüenta alemães!”. Terminando de pronunciar essas palavras, recebeu um tiro que o derrubou do cavalo. Estava iniciado o tiroteio. O rapaz que servia de escudo, ao perceber a situação, fugiu a galope e nunca mais se soube nada dele. (...) Os bandidos foram sendo mortos e o último chegou a se esconder embaixo da saia de uma das mulheres mortas, suplicando por clemência, mas nem ele foi poupado. Os colonos recuperaram seus animais e bens que haviam sido roubados e retornaram no dia seguinte, para enterrar os bandidos ali mesmo. Existe o folclore de que uma das mulheres, vendo que a batalha estava perdida, jogou rapidamente as jóias saqueadas no rio, antes de ser morta. Isso deu origem à lenda de um tesouro submerso, mito que alimentou os sonhos de muita gente na região nesses mais de cem anos... Três dos maragatos, feridos, conseguiram fugir até Teresópolis, onde foram mais tarde presos e mandados para a capital. Lá chegando, relataram sua versão dos acontecimentos e pediram providências. Uma expedição punidora composta por 40 soldados foi enviada, tendo como guia o inspetor de quarteirão de Teresópolis. Ao chegarem no morro onde se iniciava os domínios do Capivari, o guia alertou que não mais os acompanharia. Se eles quisessem ir, era certo de que nenhum retornaria. E assim a expedição foi interrompida antes mesmo de alcançar o vale do Capivari. Esse episódio transformou simples agricultores em soldados confiantes em si e em seus camaradas. (...). 129


O combate aconteceu em novembro de 1893. Alguns meses depois, no começo de março de 1894, começou a haver carestia de alimentos, principalmente de carne, pois nas regiões próximas a Tubarão as reses disponíveis haviam sido em parte consumidas e em parte levadas pelos moradores, por motivo de segurança, para os matagais da redondeza. O General Guerreiro, um dos comandantes dos revolucionários, resolveu empreender uma expedição de apresamento à colônia do Braço do Norte com o objetivo de aproveitar a abundância de gado dos alemães ali estabelecidos. Os colonos westfalianos, declararam-se dispostos a fornecer um tributo livre em reses na condição de que este imposto suplementar fosse repartido eqüitativamente entre todos. Se o General tivesse acatado essa ajuizada sugestão, as tropas, depois de dois ou três dias de andanças, poderiam ter voltado para Tubarão com, no mínimo, 300 reses. Os maragatos infelizmente preferiram roubar todo o gado existente nas três propriedades mais próximas por ser mais cômodo e porque receavam demorar-se um ou dois dias entre os ‘alemães’. Mas quando quiseram retirar-se com seu despojo, apresentaram-se uns 80 colonos alemães, na maioria moços. O tiroteio que então se seguiu, resultou em algumas mortes. Dois dos alemães ficaram feridos e tudo o que foi roubado foi novamente retomado dos soldados. Foram entre uns 20 moços, todos filhos de colonos que haviam participado do combate, a um bar para festejar a vitória com cerveja ou alguma outra bebida. Subitamente o bar foi cercado pelos maragatos e, antes que os jovens colonos pudessem se dar conta daquilo, encontraram-se algemados com violência pelos exasperados soldados. Sem gado, mas em compensação com 20 prisioneiros, voltaram a Tubarão. Lá chegando, foram ridicularizados por não terem trazido os animais prometidos. Bem que gostariam de ter soltado sua raiva sobre os prisioneiros, mas não se arriscaram a praticar maus tratos sem a autorização do general. Os jovens alemães foram temporariamente metidos na prisão local. Ainda naquele mesmo dia, perto da noite, um sujeito brincalhão espalhou o boato de que à distância de um dia de viagem, acima de Tubarão, no Capivari, havia 2.000 alemães armados para libertar imediatamente os prisioneiros em Tubarão. Algo de verdade havia nessa história, porém o número dos que estavam vindo não passava de 150, (...), e estavam a três dias de viagem. Mas o General Guerreiro acreditou no boato e ficou muito alvoroçado com a notícia. Dirigiu-se imediatamente à resi130


dência do pároco, Pe. Francisco Topp, a quem pediu que cavalgasse o mais rápido possível ao encontro desta expedição de colonos e que empregasse toda a sua influência (religiosa) junto aos mesmos para impedir o assalto a Tubarão. ‘Caso contrário’, dizia ele, ‘todos nós levaremos a pior, primeiramente nós soldados, mas também vocês civis da cidade porque meus homens tomarão medidas de represália contra vocês’. Depois disso, ordenou para o Coronel que viera com ele transportasse imediatamente os canhões para a margem do rio e, em caso de agressão, autorizasse atirar pesadamente com balas. Entre os presentes, alguns mal podiam conter seus risos porque os maragatos, na verdade, tinham seis velhos canhões, mas sem mais nenhuma bala e, além disso, o General não conseguia ocultar sua grande preocupação. Neste mesmo tempo, chegou a Tubarão o pároco de Braço do Norte, Pe. Francisco Auling, também de origem alemã, para intermediar a liberação dos prisioneiros, seus paroquianos. Este senhor, para quem o medo era desconhecido, aproveitou a ocasião para dizer as verdades ao General, denominando o ato de banditismo, crueldade e barbaridade. O General teve que engolir em seco estas e outras verdades e também foi obrigado a revelar seus planos aos párocos. O vigário de Tubarão, Pe. Topp, sugeriu ser a oportunidade favorável para liberar os prisioneiros. Declarouse disposto a conversar com os colonos alemães de São Martinho e convencê-los a não marcharem sobre Tubarão, em troca da certeza da imediata libertação dos prisioneiros. O General, receoso que seus soldados pudessem ser hostilizados durante a libertação a caminho do Capivari, declarou que os prisioneiros seriam libertados em Laguna. No dia seguinte, o Pe. Topp, em companhia de um comerciante alemão residente em Tubarão, foi a cavalo até o Capivari e de fato encontrou aproximadamente 150 homens prontos para marchar sobre Tubarão. Solicitou que o grupo não fosse adiante enquanto o grupo não tivesse notícias seguras a respeito dos prisioneiros. Após regressar a Tubarão, Pe. Topp recebeu a notícia de que os jovens haviam sido de fato libertados. Alguns dias depois, soube-se que os mesmos haviam alcançado sua terra natal, o Braço do Norte. Enviou o mais depressa possível a notícia até (São Martinho) (...). Logo veio a notícia de que a Revolução havia terminado. Os maragatos voltaram a seus pontos de origem, deixando Desterro, Tubarão e os vales do Braço do Norte e do Capi131


vari em paz. Uma conseqüência dessa revolução foi a mudança do nome da capital, Desterro, para Florianópolis, em ‘homenagem’ ao Marechal Floriano Peixoto”104 .

A Morte de Corina Mendonça Corina faleceu em 06 de junho de 1942, quando estava em Tubarão ajudando sua sobrinha Jurema Tononn Ximenez nos preparativos para o seu casamento. Mesmo grávida, Corina dispusera-se a auxiliar no trabalho doméstico, ao deslocar um guarda-roupa de grande peso, provocou a ruptura de um vaso sanguíneo. Foi socorrida no hospital de Tubarão. Segundo o diagnóstico médico, o que houve não passara de uma indisposição pelo grande esforço dos preparativos da festa do casamento de sua sobrinha e pelo fato de ter movimentado o guarda-roupa. E a recomendação não foi nada além de um repoucos em casa. Não demorou muito, ela começou a passar mal. Veio a falecer logo em seguida. No outro dia, acontecia o enterro de Corina e o casamento de sua sobrinha.

Casamento com Maria Vieira A saga de Johann Karl Beckhäuser se repete com Gabriel Carlos. Agora, só, com a perda de sua grande companheira e amiga, com a qual construiu um grande patrimônio. Viu-se com seis filhos pequenos, sendo a mais velha de 13 anos de idade. A essa altura, era difícil casar de novo, com tantos filhos pequenos para cuidar. Não obstante, encontrou a mão amiga de Maria Vieira, professora. Ela morava com sua cunhada em Armazém. O pai de Gabriel, Carlos Eduard Caeser Beckhäuser, logo aprovou a escolha de Gabriel, pois Maria Vieira era professora e poderia dar continuidade Maria Vieira Beckhäuser. Fotografia de 2000. à educação de seus netos. ADAB. 132


Para Karl Eduard Caeser Beckhäuser, o ideal era seus filhos se casarem com uma pessoa de origem alemã, que soubesse falar a língua alemã. Mas, como se tratava de uma professora, foi o primeiro a dar a aprovação. O casamento foi re-

Mariquinha Beckhäuser, Adauto e Laércio Beckhäuser. Fotografia de 2003. ADAB.

alizado em 04 de julho de 1945, na Igreja Matriz São Pedro, em Armazém. Depois de casados, o casal passou a morar em Praia Redonda, São Martinho, margem esquerda do Rio Capivari. Carlos tanto aprovou o novo casamento que foi viver junto Mariquinha, Laércio, Adauto Beckhäuser e familiares. Fotografia de 2003. ADAB. com Gabriel e Maria Vieira, ajudando na criação dos seus netos. Depois de seis anos vivendo com seu filho, foi morar com sua neta Mariquinha Beckhäuser - filha de João Beckhäuser -, casada com Adolfo Steiner, em São Martinho, até sua morte em 1949. Do segundo casamento com Maria Vieira Beckhäuser, teve oito filhos, e, do primeiro, seis, e dois faleceram em quanto pequenos. Todos os 14 filhos, Maria Vieira educou com muito carinho, sempre respeitando a memória de Corina. Os filhos de Corina, por sua vez, tinham grande respeito por Maria Vieira, tanto que a chamavam de mãe. Esta educação Maria também levou aos netos e bisnetos. Sempre com afeto tratava a todos. César, o filho mais velho do segundo casamento, após os estudos no Colégio Deon em Tubarão, retornou para Armazém, onde passou a trabalhar com seu pai Gabriel na loja de tecidos e atacados. Posteriormente, fixou residência em Tubarão, abrindo uma loja de tecidos, com atacado. Atualmente, é bacharel em Direito e trabalha em Florianópolis. E foi casado com Alacir 133


Derner e pai de quatro filhos: Soraya, Simone e César (teve também Sávio Beckhäuser em segundo relacionamento). Anita estudou no Colégio da Divina Providencia em Tubarão, e com o término dos estudos passou a exercer o magistério em Armazém. Veio a se casar com Cláudio Crippa. Hoje, viúva, reside em Nova Veneza-SC. Deste casamento, teve um filho e três filhas: Siglea, Sinara, Claudianita e Emerson. Quando Adauto saiu do seminário em dezembro de 1962 em Tubarão, aos 17 anos de idade, Maria, sua mãe, ficou triste e Gabriel, seu pai, ficou contente e as moças da região ficaram faceiras. Alegria de que compartilhavam as jovens da região. Adauto casou-se em 24 de julho de 1968, com Dulcinéia Francisca Beckhäuser. Deste casamento, tiveram quatro filhas: Annelize Beckhäuser, Lizeanne Beckhäuser, Gabrielle Beckhäuser e Dulcianne Beckhäuser. Adauto (gêmeo de Anita) in- Adauto Beckhäuser, aos 17 anos de idade. ADAB. gressou com 09 anos no Seminário 105 Nossa Senhora de Fátima , em Tubarão-SC e o deixou após o término dos estudos no Segundo Grau. Depois, fixou residência em Florianópolis-SC, onde não conhecia ninguém. Para se sustentar, iniciou sua atividade como organista nas igrejas, tocando em casamentos. Posteriormente, num cursinho pré-vestibular, lecionou literatura, gramática e um pouco de latim para os interessados em candidatar-se ao curso de Direito. Ingressou no curso de Filosofia e Direito e, posteriormente, estudou Pedagogia na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Na mesma instituição, fez seu mestrado em Direito. O doutorado, porém, fez em terras belgas, na Université de Louvain la Nueve; o segundo doutorado foi pela Universidade do Museo de Buenos Aires, em convênio com a Universidade do Sul Catarinense (UNISUL). Hoje, é Professor Adjunto aposentado pela UFSC e exerce a profissão de Advogado em Flori134


anópolis-SC. Suas quatro filhas também fizeram o curso de Direito. Annelize Beckhäuser Mallon casou-se com Fernando Mallon, atual prefeito municipal de São Bento do Sul-SC, e atua como Técnica Judiciária do Tribunal Regional do Trabalho. Lizeanne Beckhäuser casou-se com Antônio Augusto Baggio e Ubaldo, atual Juiz de Direito da Vara Criminal de ChapecóSC. Ela exerce advocacia na mesma cidade. Gabrielle Beckhäuser Gonçalves casou-se com Carlos Alberto Luz Gonçalves; ele é advogado e professor do curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) – São José-SC. Ela é advogada no escritório de seu pai Adauto; presidente da comissão do jovem advogado OAB/SC; e secretária da comissão do jovem advogado do Conselho Federal da OAB. Dulcianne Beckhäuser cursa a sexta fase do curso de Direito da UNISUL – Campus da Grande Florianópolis-SC, onde é presidente do Diretório Central de Estudantes (DCE). Nair Beckhäuser, com o término dos estudos, passou a lecionar e abriu um comércio de roupas em Tubarão. Casou-se com Heitor Wensing e deste casamento teve três filhos: Heitor, Fabricia e Guilherme. Após o nascimento do quarto filho, veio a falecer em 06 de agosto de 1985. Nadir, com o término dos estudos, passou a lecionar em Lebon Régis-SC. Após, assumiu a direção de Escola Estadual Frei Caneca até 1985 quando foi transferida para o Colégio Irineu Bornhausen, localizado em Coqueiros, em Florianópolis. Casada com Alceu Ribeiro de Andrade, mãe de dois filhos: Daniele Beckhäuser de Andrade, advogada; e Adriano Beckhäuser de Andrade, comerciário em São Paulo. Dimas entrou para o Seminário Nossa Senhora de Fátima, em Tubarão-SC, de onde saiu quando concluiu o Segundo Grau. Hoje, é bacharel em Direito exercendo atividades no DEINFRA 106 . Casado com Gislaine Mendonça, pai de duas filhas: Mayara e Isis Mendonça Beckhäuser. Dilmar Beckhäuser concluiu o Segundo Grau e passou a exercer as atividades de corretor de imóveis na cidade de Tubarão e, hoje, em Balneário Camboriu. Casado com Tânia Beckhäuser, pai de dois filhos: Petize Beckhäuser e Dilmar Beckhäuser Júnior. No segundo casamento, teve mais uma filha, Amábile 135


Beckhäuser. No terceiro casamento, Nésia Colonetti foi a esposa com quem teve a filha Gabriela Beckhäuser. Foi casado com Soraya Fernandes.

A Morte De Gabriel Carlos Gabriel veio a falecer em 23 de março de 1987, aos 87 anos de vida, deixando muitas saudades e uma grande lição de vida para todos, inclusive para a comunidade de Armazém. Deixa Maria Vieira, viúva, seus diletos filhos, netos e binestos, que, hoje, somam aproximadamente 140 descendentes. Na lista de seus pertences, constavam um relógio de parede, um livro de oração escrito em alemão gótico e a certidão de nascimento original de Karl Eduard Caesar. O relógio funciona até hoje, marca JUNGHANS, é datado de 1862. Tudo indica que o imigrante Johann Kar o trouxe da Alemanha quando imigrou. O livro de oração data de 1875. Por sua vez, a certidão de nascimento original de Karl Eduard Caeser Beckhäuser, expedida pelo consulado da Bélgica no Rio de Janeiro, em 11 de julho de 1862 certidão estava acondicionada num porta-documentos (provavelmente de zinco). Todos esses pertences foram herdados por Adauto e com ele permanecem.

A Morte de Maria Vieira Maria Vieira faleceu em 03 de maio em 2002, vítima de parada cardíaca. Seu corpo foi sepultado no Cemitério Municipal em Armazém-SC. No dia do enterro de seu enterro, aconteceu um fato inusitado. Abriu-se o túmulo de Gabriel Carlos Beckhäuser, onde também estavam sepultados sua primeira esposa Corina Mendonça e seus dois filhos: Carlos e Adélia. Quando da abertura do caixão de Corina, constatou-se que seu corpo estava quase intacto. Na ocasião, todos os filhos dela puderam matar as saudades da mãe. Outra urna funerária teve que ser comprada, para que, nela, se recolhessem os restos mortais de Gabriel e de seus dois filhos, que foram colocados no mesmo túmulo. 136


Várias pessoas, na ocasião, se questionavam sobre o porque da existência de dois caixões se a única pessoa que estava sendo enterrada era Maria Vieira Beckhäuser. Adauto foi quem dirimiu os questionamentos. O corpo de Corina Mendonça, enterrada em 1942, ainda em 03 de maio 2003 estava quase intacto, como se estivesse aguardando Maria Vieira Beckhäuser, a segunda esposa de Gabriel, para agradecer pela acolhida de seus filhos menores, os quais ela não teve a oportunidade de criálos. Função que tão bem Maria desempenhou. E concluiu dizendo: “Corina, descanse em paz, pois Maria também chegou para completar o trio amoroso de Gabriel Carlos”. Também deixa muitas saudades. Pois, os filhos da primeira esposa de Gabriel sempre diziam que ela também era mãe deles, quem, com muito amor e carinho, soube dar educação e uma excelente formação a todos. A família Beckhäuser certamente tem muito orgulho e gratidão a manifestar a essas três pessoas fundamentais na educação e desenvolvimento de todos os seus descendentes.

Os dois amores de Gabriel

Gabriel Beckhäuser. Fotografia de 1986. ADAB. Maria Vieira Beckhäuser. Fotografia de 1986. ADAB.

Corina Mendonça. Fotografia de 1930. ADAB.

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Capítulo X

Bernardo Carlos Beckhäuser – A Vida de um Teuto-brasileiro Por Laércio Fagundes Fogaça Beckhäuser

Bernardo Carlos Beckhäuser nasceu em Armazém107, Sul do Estado de Santa Catarina, no dia 02 de outubro de 1889. Era irmão gêmeo de Jacó e o segundo entre os oito filhos do casal Karl Eduard Caesar Beckhäuser e Anna Aurora Arns. O irmão primogênito de Bernardo Carlos foi denominado, por Anna e Karl, como Rodolfo. Os Laércio e Mirian Beckhäuser, bisneto de Bernardo. Fotografia de 2005. ALB. outros irmãos, na seqüência de nascimento, foram: João Carlos, seu irmão gêmeo Jacob, Gabriel, Maria, Max e Júlia. Bernardo Carlos Beckhäuser era neto do alemão Johann Karl Beckhäuser (natural de Birkenfeld – Hunsrück, Alemanha), que imigrou para o Brasil em 1862 e se estabeleceu inicialmente na Colônia Santa Isabel. Bernardo Carlos Beckhäuser, por sua vez, nasceu, casou e morreu em Armazém. Seus avós paternos foram Johann Karl Beckhäuser (¤09/ 09/1826) e Maria Elizabeth Kropp (¤22/09/1834), filha de Johann Karl Kropp e Catherina Schwickert. Seus avós maternos foram Philipp Joseph Arns (¤26/02/1833†27/07/1914) e Ma107

As notas correspondentes a este capítulo constam a partir da página 154.

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ria Michels (¤1872†1907). Entre seus bisavós maternos estão: Nikolaus Arns (¤05/01/1792) e Ana Margareth Simonis (¤23/ 12/1832†02/03/1835). E entre seus bisavós paternos constam: Heinrich Peter Beckhäuser (¤1794† .......) e Dorothea Elizabeth Marx. A irmã mais nova de Bernardo Carlos, Júlia Beckhäuser, se casou com Anton Hoepers e a outra irmã, Maria Beckhäuser, se casou com Gregório Back. Bernardo Carlos era católico e se casou na Igreja São Pedro, em Armazém, com Leonarda Fagundes (¤20/02/1894†17/ 09/1951), com quem teve nove filhos; após o falecimento de Leonarda, Bernardo contraiu matrimônio com Justa Bittencourt em 17 de setembro de 1951. Leonarda Fagundes era filha de Joaquim Fagundes e de Maria Fagundes e Justa Bittencourt era filha de ... e de ...; Justa faleceu em 2003 e seu corpo foi sepultado no cemitério municipal, em Armazém. Bernardo Carlos Beckhäuser era agricultor e possuía engenho de farinha e cana-deaçúcar. Em sua propriedade plantava milho, hortaliças, árvores frutíferas, acácias, feijão, aipim (mandioca) e cana-deFamília de Bernardo Carlos Beckhäuser e Leonarda açúcar. O Fagundes. Fotografia da década de 1920. ALB. Rio Capivari, afluente do Rio Tubarão que desemboca na cidade de Laguna, fazia divisa com sua propriedade imobiliária. Possuía também gado vacum, cavalos e muitas aves domésticas. Sua família o auxiliava em suas tarefas da agricultura e na fabricação de farinha e açúcar. Os produtos finais deste 140


trabalho eram vendidos na região e, em especial, remetidos às cidades de Laguna e Tubarão, centros econômicos maiores. Seus filhos, do primeiro casamento com Leonarda Fagundes foram: 1. Antônio Beckhäuser; 2. Agostinho Beckhäuser; 3. Oscar Beckhäuser; 4. Osvaldo Beckhäuser; 5. Paulo Beckhäuser; 6. Hilda Beckhäuser; 7. Saul Beckhäuser; 8. Ana Maria Beckhäuser; 9. Ema Beckhäuser; 10. Carlos Bernardo Beckhäuser. No segundo casamento, com Justa Bittencourt, teve um filho: Nicolau Beckhäuser. Excetuando Osvaldo Beckhäuser, que morreu em Florianópolis, solteiro, todos os seus filhos deixaram muitos netos, bisnetos, trinetos e tetranetos. Consoante a certidão de óbito número 48, do dia 13 de outubro de 1977, do Registro Civil de Santa Catarina, Comarca de Tubarão, Município de Armazém, o Oficial de Registro Civil, Antônio David Fileti, certificou no livro C-6 de Registro de Óbitos, na folha 105, em 11 de outubro de 1977, às 13h30min, faleceu, em Armazém, Bernardo Carlos Beckhäuser, aposentado, viúvo, por “acidente Vascular Cerebral Isquêmico – Arteriosclerose”, sendo o sepultamento feito na cidade de Armazém. Foi declarante Nicolau Bernardo Beckhäuser e não deixou bens a inventariar. Segundo Dulce Beckhäuser Rodrigues, filha de Max Beckhäuser e de Joana Fagundes, sobrinha de Bernardo Carlos Beckhäuser, seus irmãos Rodolfo e Max Beckhäuser também se casaram com as irmãs Elvira e Joana Fagundes pela proximidade física da residência destas famílias, em Armazém. Com o falecimento de Maria Fagundes, mãe de Leonarda, 141


suas netas Joana e Elvira, ainda menores de idade, que residiam com a avó, foram morar na casa de Bernardo e Leonarda, que era a filha mais velha de Maria Fagundes e de Joaquim Fagundes. Este fato favoreceu o casamento de Max Beckhäuser com Joana Fagundes e Rodolfo Beckhäuser com Elvira Fagundes. Este foi o motivo do casamento entre três irmãos Beckhäuser com três irmãs Fagundes, proporcionando uma consangüinidade muito forte entre todos estes descendentes, pois estes três casais tiveram muitos filhos, netos e bisnetos. Alguns de seus descendentes se casaram e tiveram também descendentes com uma consangüinidade ainda bem mais forte. Dulce Beckhäuser Fagundes relembra que Karl Eduard Caesar Beckhäuser, pai de Bernardo Carlos, que tinha ficado viúvo em ... de ... de 1919, também estava interessado em namorar e casar com “Elvira Fagundes”, que veio a se tornar sua “nora”, mulher de Rodolfo Beckhäuser, e não sua segunda esposa. Karl Eduard Caesar Beckhäuser, pai de Bernardo Carlos Beckhäuser, viúvo por quase três décadas, morreu em 18 de outubro de 1949, vítima de insuficiência respiratória e parada cardíaca. Seu corpo foi sepultado no cemitério municipal de São Martinho. Bernardo Carlos Beckhäuser possuía muita “força física” e se orgulhava de seu “braço-de-ferro”. Levantava com facilidade sacos de feijão e açúcar com 60 kg. Há muitas histórias sobre a sua força física nos anais da família Beckhäuser. Deixou seus genes (fortes... fortíssimos...) em diversos descenLaércio junto ao túmulo de Bernardo Beckhäudentes que se orgulham da ser, no Cemitério Municipal de Armazém. Fotografia de 2003. ALB. “queda de braço” ou “luta de braço”. Além da força, o gosto por esse tipo de atividade se estendeu a outros descendentes. Laércio Beckhäuser, neto de 142


Bernardo Carlos, se sagrou campeão sênior catarinense de Luta de Braço em 2001, em uma competição esportiva realizada em Joinville-SC, patrocinada pela CBLB - Confederação Brasileira de Luta de Braço, denominado Campeonato Sul Brasileiro de Luta de braço. Luís André Beckhäuser, filho de Laércio, neto de Agostinho e bisneto de Bernardo Carlos, foi campeão catarinense de Luta de Braço em 1998. Carlos Bernardo Beckhäuser, filho de Bernardo Carlos e de Leonarda Fagundes, mudou sua residência de São Paulo para Blumenau em 1955. Ali, tornou-se empresário: atuava na extração de areia. Também era um grande campeão na queda de braço, quase que imbatível, embora em competições extra-oficiais. Neste esporte, era respeitado e temido. E assim Carlos Bernardo Beckhäuser foi levando sua vida... tinha vigorasa saúde até os seus últimos dias de vida. Ele nasceu em 1889 e faleceu em 1978, com 89 anos de idade. Portanto, viveu Bernardo Carlos, 78 anos no século retrasado e 11 anos no século anterior. Em outubro de 1976, dois anos antes de seu falecimento, Laércio Beckhäuser, quando morava em Blumenau, fez uma visita a seu avô, Bernardo Carlos, que residia em Armazém, e levou junto consigo seu filho Luís André e seu pai Agostinho. Na ocasião, foi feito o registro fotográfico destas quatro gerações masculinas da família Beckhäuser. Laércio ainda “jogou” uma luta de braço com seu avô, Bernardo Carlos, na varanda de sua casa. Tinha, Bernardo Carlos, mesmo com a idade avançada de 87 anos, muita força. Segundo o próprio Bernardo, ele havia sido abençoado por um frade capuchinho, há muitos anos atrás, nas “Santas Missões” realizadas na Igreja São Pedro, em Armazém. Afirmou ainda que, por volta de 1930, levantou uma grande e pesada cruz, sozinho, e o frade e todos os presentes a este evento ficaram “maravilhados” pela sua força física. Bernardo Carlos não sentia o peso real da cruz e disse ao frade que a cruz era leve. O frade respondeu-lhe que não gostava de “gente mentirosa”. Bernardo Carlos, “nervoso, meio bravo”, pediu para que quatro homens, seus amigos, sentassem um em cada ponta da cruz e, indo ao meio, pegou a cruz e ergueu 143


a todos de uma só vez. O frei, admirado e estupefato, lhe disse: “Ajoelha-te, Bernardo Beckhäuser, vou te dar uma especial bênção e terás esta ‘força prodigiosa de Sansão’, até os teus últimos dias de vida. Nunca precisarás da ajuda de teus semelhantes para andar e se locomover”. Bernardo Carlos, católico praticante, se ajoelhou e foi abençoado na presença de muitas pessoas por este missionário pregador das Santas Missões, na década de 1930. Viveu forte e sadio, até seu último suspiro. Sobre sua residência, em 2005 havia somente o terreno e as salientes pedras no local onde tinha sido construída, em Armazém. Naquele local bucólico e rural, viveu Bernardo Carlos Beckhäuser, criou seus filhos, amou duas mulheres e perpetuou sua geração com inúmeros filhos, netos, bisnetos e trinetos. Lia, escrevia, alemão e português, as duas línguas usadas na comunidade de Armazém. De seus ancestrais, aprendeu com sua mãe, Ana Arns e seu pai Karl Eduard Caesar Beckhäuser, a falar e escrever a língua alemã. Freqüentou a escola primária em Armazém; assinava e lia jornais alemães publicados na cidade de São Leopoldo-RS. Casou com a primeira esposa Fagundes e com a segunda, Bittencourt, e ambas não dominavam a língua alemã; consequentemente, seus filhos não perpetuaram a língua de seus ancestrais e atualmente raros são os netos e bisnetos que entendem e falam a língua germânica. Daí se justifica que até do sobrenome de seus ancestrais tenha sido omitido, excluído o trema do a (ä) na palavra Beckhäuser (Umlauf em alemão). Como vimos, Bernardo Carlos Beckhäuser teve dez filhos em seus dois casamentos. Além do sobrenome Beckhäuser, deixado por seus descendentes masculinos, suas filhas Hilda, Ana Maria e Ema deixaram muitos descendentes com os sobrenomes Aguiar, Mattos e Flor. Suas netas e bisnetas também se casaram e, hoje, há muitos de seus descendentes afins e consangüíneos com diversos sobrenomes nesta genealogia que teve como origem o teuto-brasileiro Carlos Bernardo Beckhäuser.

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Capítulo XI

Biografia de Maria Beckhäuser Por Inês Back Fiorio 108

Maria Beckhäuser é filha de Karl Eduard Caeser Beckhäuser (¤11/07/ 1862†18/10/1949) e de Anna Aurora Arns (¤16/03/1896†16/ 08/1951). Nascida em 16 de março de 1896, em Praia Redonda (São Martinho-SC), Luiz Flávio Fiorio, Inês Back Fiorio e Wagner Alexey Back Fiorio (neta e bisneto de Maria Beckhäuser). Fotografia recebeu educação em de 2002. AIBF. colégio de freiras, em Braço do Norte-SC. Aos 20 anos de idade, em 05 de maio de 1912, na Igreja São Pedro, em Armazém, casou-se com Gregório Back (¤03/11/1879†04/06/1960). Gregório era filho de Johann Jakob Back (¤03/11/1879†1909) e de Catarina Heinzen (¤29/09/1837†1894). Maria Beckhäuser e Gregório, assim que se uniram oficialmente em matrimônio, passaram a residir em São Martinho. Na época, não havia eletricidade, nem água encanada naquela cidade. A água era transportada do Rio São João Capivari para uso doméstico. Com o passar do tempo, nasciam os filhos desse casal, ao 108

As notas correspondentes a este capítulo constam a partir da página 154.

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todo foram 16, entre eles: Boaventura, Afonso, Silvestre, João e diversas filhas cujos nomes desconhecemos; dois não sobreviveram: natimorto, em 1913, e outro por volta de 1933, vítima Gregório Back, marido de Maria Beckhäuser. AIBF. de desidratação. Maria Beckhäuser. AIBF. A educação dos filhos de Maria Beckhäuser foi rígida. Quando algo acontecia de errado, eram repreendidos apenas com um olhar. Todos trabalhavam na lavoura. Criavam aves e mamíferos e plantavam frutas, verduras e legumes para a subsistência da família. Em 1945, a família mudouse para o Norte do Paraná. Mudaram por deciCecília, Ana, Afonso, Aloísio, Madalena, Apolônia e Teresa. são dos filhos Abaixo: João Gregório, Otília, Melânia no colo de Maria Bemais velhos, que ckhäuser, Felicita, Irene, Gregório Back e Silvestre Back. Fotografia de 1935. AIBF. julgavam ter um futuro promissor naquelas terras, apesar de terem que desbravá-las. Contavam que para ir ao armazém fazer as compras da casa, saíam armados, pois havia onças na mata, andavam 17 quilômetros, corriam enorme perigo. O local onde foram viver era chamado de Distrito de Catarinenses devido à migração de catarinenses para 146


Filhas de Maria Beckhäuser Cecília, Ana, Apolonia, Madalena, Teresa, Felicita, Otília, Irene e os filhos João e Silvestre. Fotografia de 1936. AIBF.

o Paraná, depois Graciosa dos Catarinenses, que se chama, hoje, simplesmente Graciosa 2 . É um Distrito de Paranavaí 3 . Mas, Maria não gostava de lá. Saiu de São Martinho para desbravar o sertão do Norte do Paraná, porém, Vista aérea de Graciosa - PR. GE. não se adaptou. No Paraná, aproveitavam as plumas de ganso, que eram usadas para confecção de travesseiros. Esses travesseiros eram enviados para São Paulo, onde Maria tinha um filho, Aloísio, casado com Ione. A família de Maria Beckhäuser era bastante religiosa. Havia, em sua casa, quadros com estampas de Nossa Senhora e 147


Jesus, diante dos quais a família se reunia à noite, após os afazeres, para rezar. Para comemorar o Natal, Maria Beckhäuser enfeitava uma árvore e montava um presépio, costume que alguns de seus descendentes herdaram. Sempre deixava árvores plantadas para serem usadas nos anos seguintes. Tudo que fazia era feito com muito capricho, inclusive bolos e bolachas. A casa sempre se mantinha com zelo e asseio. Suas filhas eram consideradas moças muito bonitas e alegres. Seus filhos tinham habilidades com instru- Melânia e Silvestre Back. Fotografia de 1940. AIBF. mentos musicais e no canto; hábito ainda mantido pela família. Seu pai, Karl Eduard Caeser Beckhäuser morava com Adolfo Steiner e a neta Mariquinha Beckhäuser, filha de João Beckhäuser. Karl Eduard não deixava ninguém entrar nos seus aposentos, nem mexer nos seus pertences particulares. Cuidava ele próprio de todas as suas coisas, inclusive do conserto de suas roupas. O esposo de Maria Beckhäuser, Gregório Back, era um homem bem humorado e alegre. Gostava de festas, de dançar e, às vezes, jogava baralho. Faleceu no dia 04 de junho de 1960 em São Martinho-SC, vítima de falência múltipla dos órgãos. Seu corpo foi transladado para GraciosaPR e está sepultado no cemitério local. Disciplinada, rígida e racional: assim é definida a personalidade de Maria Beckhäuser. Falava muito bem alemão e lia jornais nesta língua, enInês Back, neta de Maria Bechkäuser. Fotografia de 1966. AIBF. viados por seu filho, que morava na 148


cidade grande (São Paulo). Ficou diabética, sofreu um acidente vascular cerebral; usava insulina, enviada por seu filho Aloísio. Maria Beckhäuser faleceu em 16 de agosto de 1951, vítima de coma diabético, em Graciosa-PR, onde seu corpo foi sepultado no cemitério municipal.

Da esquerda para direita: Francisco, Salésio, Augustinho, Zezinho, Boaventura (pai de Inês), Sebastião, Gabriel e Toninho. AIBF.

Bisnetos de Maria Beckhäuser. Da esquerda para a direita: César, Mauro, Márcia, Kelly, Paula, Marta, Flávio, Andresa, Moiséis, Ana Carolina, Felipe, Gustavo, Bruno, Carla, Bárbara e Lucas. Fotografia de 1990. AIBF.

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Notas de Fim da Primeira Parte Apresentação 1 A Colônia Santa Isabel foi fundada em 1847 por imigrantes recém-chegados da Alemanha. Foi composta, em sua maioria, por agricultores provenientes da região do Hunsrück, no atual Estado da Renânia-Palatinado. Professavam a religião católica e a luterana sendo que, nesta última, Santa Isabel tem a primazia cronológica sobre todas as colônias fundadas no Estado de Santa Catarina. Instalada às margens do caminho litoral-planalto, que ligava o Litoral catarinense ao Planalto Serrano via vale do Cubatão, sua denominação é uma homenagem prestada pelo Governo constituído à então Princesa Isabel. 2 Estatutos registrados no Cartório de Registro de Títulos, Documentos e Pessoas Jurídicas de Florianópolis sob o n. 010901, f. 117 do Livro A-49, em 14 de janeiro de 2005.

Introdução 3 A Colônia São Pedro de Alcântara foi fundada em março de 1829 por 635 imigrantes alemães, constituindo-se na mais antiga colônia alemã fundada em Santa Catarina. Foi elevada à Freguesia em 1844 através da Lei N. 194, sendo emancipada político-administrativamente do Município de São José mediante Lei N. 9.534 datada de 16 de abril de 1994. 4 Vargem Grande foi fundada às margens do Rio Cubatão, acima de Caldas do Norte (Águas Mornas), em 1836, por 11 famílias germânicas, num total de 44 pessoas, dissidentes da Colônia São Pedro de Alcântara. PAIVA, Joaquim Gomes de Oliveira. “Memória Histórica sobre a Colônia São Pedro de Alcântara”. In: Os Alemães no Estado de Paraná e Santa Catarina, p. 197ss. Veja também SCHADEN, Francisco. “Notas sobre a Colônia Vargem Grande”. In: Revista Atualidades, Florianópolis, números 6, 7, 8, 9, 10/11 e 12 de 1947. 5 Baseada na política da pequena propriedade familiar, o Governo Imperial determinou, a fundação de um núcleo colonial nas imediações da colônia Santa Isabel. A determinação para sua fundação data de 18 de novembro de 1859, tendo sido destinada ao então Presidente da Província de Santa Catarina, Francisco Carlos de Araújo Brusque, que deveria abrigar inicialmente 40 famílias de imigrantes alemães. A fundação da colônia efetivou-se em 03 de junho de 1860, com 91 imigrantes chegados dois dias antes a Desterro, provenientes do porto de Antuérpia, a bordo do patacho belga “Meuse”. Eram católicos e luteranos provenientes, em sua maioria, da região da Renânia e Vestfália, enclaves prussianos, transportados pela empresa de navegação Daniel Steinmann & Companhia, de Antuérpia. Neste mesmo ano, o núcleo colonial recebeu várias famílias de imigrantes procedentes das fazendas do Rio de Janeiro, onde trabalhavam desde 1849 no cultivo de café através do sistema de parceria. Essas famílias seriam em número de quarenta e eram originárias de Schleswig-Holstein, no norte da Alemanha. Mais informações cf. JOCHEM, Toni. A Formação da Colônia Alemã Teresópolis e a atuação da Igreja Católica (1860-1910). Palhoça: Ed. do Autor, 2002, pp. 39ss.

Capítulo I 6 BECKHÄUSER, Frei Alberto. Ernesto Beckhäuser: A Vida de um Homem Honrado. Petrópolis: Ed. do Autor, 2003. 7 Livro das Famílias. Vol. II. p. 45. APB. 8 Observe que aqui o sobrenome de Maria Elisabeth aparece grafado Krepp e não Kropp. 9 Trata-se da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil. 10 Trata-se do livro Kath. Pfarrkirche St. Jakobus – Birkenfeld: 100 Jahre 1892 – 1992. Birkenfeld: Kath. Pfarregemeinde, 1992. 11 Johann II, de Sponheim, mas agia já em favor da Reforma Protestante. Sem filho para sucedê-lo, Frederico III mandou o seu Magistrado Chefe de Trarbach, Friedrich von Schönburg, implantar a Reforma. Em lugar da Missa foi introduzido o Culto da Palavra e todas as propriedades da Igreja foram inventariadas para um eventual uso do pároco (na linguagem da Igreja na Alemanha, usa-se até hoje o termo pastor para o sacerdote católico e Pfarrer ‘pároco’ para o pastor protestante). 12 Trata-se de um levantamento feito por Reiner Schmitt em 2001: Die Angehörigen der Katholischen Pfarrei St. Jakobus, Birkenfeld/Nahe am 1. April 1812. Birkenfeld: Kath. Pfarregemeinde, 1992.

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13 Os dados a respeito de Birkenfeld e seus arredores podem ser encontrados no livro: Kath. Pfarrkirche St. Jakobus – Birkenfeld: 100 Jahre 1892-1992. Birkenfeld: Kath. Pfarregemeinde, 1992. Um exemplar pode ser encontrado no acervo da Associação da Família Beckhäuser, em Florianópolis.

Capítulo II 14 Segundo Certidão de Nascimento de Karl Eduard. Certificado por Cópia Conforme do registro nas Atas do Estado-Civil n. 10. Rio de Janeiro, 11 de julho de 1862 do Cônsul Geral da Bélgica, Edouard Pecher. 15 Transcrição Peleográfica das Correspondências do Ministério da Agricultura para Presidente da província, do ano de 1861/1862, n. 50. APESC. 16 Transcrição Paleográfica das Correspondências do Ministério da Agricultura para Presidente da Província, do ano de 1861/1862, n. 50. APESC. 17 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 940, p. 194. APB. 18 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 940, p. 194. APB. 19 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 940, p. 194. APB. 20 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 940, p. 194. APB. 21 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 940, p. 194. APB. 22 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 940, p. 194. APB. 23 Conforme consta na respectiva Certidão de Nascimento. Certificado por Cópia Conforme do registro nas Atas do Estado-Civil n. 10. Rio de Janeiro, 11 de julho de 1862, do Cônsul Geral da Bélgica, Edouard Pecher. 24 Correspondências do Ministério da Agricultura para Presidência da Província, do ano de 1861/1862. APESC. 25 Correspondências do Ministério da Agricultura para Presidência da Província, do ano de 1861/1862. 26 Guilhermina posteriormente teve o filho chamado Guilherme, nascido em 13 de dezembro de 1893. Livro de Registro de Batismo da Paróquia de Teresópolis, n. 4, folha 64, Livro de 1888 a 1895. AHESC. 27 Esta situação veio a se reperir com Gabriel Carlos Beckhäuser, filho de Karl Eduard Caeser, neto de Johann Karl. Com o falecimento de Corina Mendonça, Gabriel se viu diante de seis filhos menores, sendo que a mais velha possuía 13 anos de idade. E com a coragem e a fibra Beckhäuser, enfrentou a morte de sua amada Corina. E logo veio a se casar com Maria Vieira Beckhäuser, que com muito amor e carinho passou a cuidar dos filhos do primeiro casamento e a criar seus oito filhos. 28 Certidão de óbito de Margareth Schug: n. 46, f. 18, Livro n. 02-C, do Cartório de Registro Civil de Águas Mornas-SC. 29 Certidão de óbito de Margareth Schug: n. 46, f. 18, Livro n. 02-C, do Cartório de Registro Civil de Águas Mornas-SC. 30 Após busca no cartório de Águas Mornas, descobrimos que Margareth Schug faleceu no dia 02 de julho de 1913, foi enterrada no Cemitério Protestante em Auto Rio Sete, Município de São Bonifácio-SC. 31 Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis encontrei no livro 1862-1876 fls. 29 n. 298. AHESC. 32 Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis, livro 1888-1895, fls. 64, n. 4. AHESC. Assento de Guilherme, nasceu dia 13 de dezembro 1893; Pai: João Baptista May e mãe Guilhermina Beckhäuser; sendo avós maternos Carlos Beckhäuser e Maria Elisabeth Kropp. 33 Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis, livro 1888-1898, fls. 114, n. 118. AHESC. 34 Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis, livro 1876 fls. 81, n. 60, n. 4. AHESC. 35 Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis, livro 1888-1898, fls. 117, n. 151. AHESC. 36 Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis, livro 1862-1876, fls. 99, n. 69. AHESC. 37 Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis, livro 1862-1876, fls. 116, n. 17. AHESC. 38 Registro de Óbito n. 46, f. 18, do livro n. 02-C, do Cartório de Registro Civil de Águas Mornas-SC. 39 SCHAUFFLER H. (org.). “Da vida de um alemão no Brasil. Crônica de Mathias Schmitz”. In: Blumenau em Cadernos. Blumenau, Tomo VII. N. 12, pp. 248-249.

Capítulo III 40 41 42 43 44

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940, 933, 938, 939, 941,

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194. 191. 192. 193. 194.

APB. APB. APB. APB. APB.


45 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 933, p. 191. APB. 46 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 933, p. 191. APB. 47 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 940, p. 194. APB. 48 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 940, p. 194. APB. 49 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 940, p. 194. APB. 50 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 940, p. 194. APB. 51 Na certidão de nascimento de Carlos Eduard Caeser Beckhäuser enviada para Johann Karl Kropp e Anna Katharina Schwickert, consta o seguinte endereço: Anna Maria Vitau Kropp – In Guttemberg, Grossherzag, tum Hambach Oldenburg, Fürstan Tum Birkenfeld. 52 Anna Maria posteriormente casou-se com Bernard Kuhlkamp. 53 SCHMITT, Reiner. Die Angehörigen der Katholischen Pfarrei St. Jakobus, Birkenfeld/Nahe am 1. April 1812. Birkenfeld: Kath. Pfarregemeinde, 1992, p. 21, n. 96. 54 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 101, p. 23. APB. 55 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 96, p. 21. APB. 56 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 102, p. 23. APB. 57 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld. Registro n. 103, p. 23. APB. 58 SCHMITT, Reiner. Die Angehörigen der Katholischen Pfarrei St. Jakobus, Birkenfeld/Nahe am 1. April 1812. Birkenfeld: Kath. Pfarregemeinde, 1992, p. 21, n. 96.

Capítulo IV 59 Registro de Casamento, f. 33, livro n. 1, datado de 24 de agosto de 1942, no Cartório de Registro Civil de Orleans. 60 Informamos que também imigraram para as Colônias Alemãs da Grande Florianópolis duas famílias com o sobrenome Schuch. Trata-se dos casais João Schuch e Catharina Simonis e Guilherme Schuch e Catharina May. Não se sabe a relação existente entre as respectivas famílias Schuch e Schug. 61 Pe. Guilherme (Wilhelm Friedrich Clemens) Roer é natural de Münster, Alemanha, onde foi ordenado sacerdote diocesano em 19 de agosto de 1848. Chegou ao Brasil em 1860 e à Colônia Teresópolis em 1862 à qual dedicou 27 anos de seu apostolado. Cansado e doente (Gehirnerweichung) doou, aos 69 anos de idade, a Santa Casa de Porto Alegre, 1:800$000 bem como todos os bens que estivesse com ele depois de sua morte: juros, livros, roupas, etc. e nela internou-se para passar seus últimos dias. Faleceu aos 8 de outubro de 1891 em Porto Alegre. JOCHEM, Toni Vidal. Pouso..., p. 255 e DIRKSEN, Valberto. “Padre Roer – Um Santo Sem Milagres”. Revista Encontros Teológicos, Florianópolis, n. 24, 1998, pp. 85-9. Cf. também LEIDINGER, Paul. “Warendorf und Santa Catarina – Münsterländische Kolonisten und Missionare in Südbrasilien”. Warendorf Schriften. Warendorf: Schnell Busch & Druck, 1993, pp. 151-3. 62 BECKHÄUSER, Frei Alberto. Ernesto Beckhäuser: A Vida de um Homem Honrado. Petrópolis: Ed. do Autor, 2003, pp. 22-24. 63 Mas informamos que existe o assento do registro de batismo de um filho de Guilhermina, ao qual foi dado o nome de Guilherme. Também consta como neto paterno de Carlos Beckhäuser e Maria Elisabeth Kropp. Cf. Livro de Registros de Batismos da Paróquia Santa Teresa d’Ávila, de Teresópolis, de 1888-1895, f. 64, n. 4. AHESC. 64 Certidão de Óbito n. 46, folha 18, do livro n. 02-C, do Cartório de Registro Civil de Águas MornasSC. 65 Livro de Registros de Casamentos da Paróquia Luterana de Santa Isabel de 1877-18......, p. ... assento n. 05. APLSI.

Capítulo V 66 Certidão n. 3.627, f. 027, livro C-19 de Registro de Óbitos, Cartório de Oficio do Registro Civil das Pessoas Naturais – 5ª Zona, da Comarca de Porto Alegre-RS. 67 Certidão n. 36.075, f. 120V, Livro C-91 de Registro de Óbitos, do Cartório do Registro Civil das Pessoas Naturais – 1ª Zona, de Porto Alegre-RS.

Capítulo VI 68 JOCHEM Toni. A Formação da Colônia Alemã Teresópolis e a atuação da Igreja Católica (18601910). Palhoça: Ed. do Autor, 2002, p. 176, registro n. 991. 69 Registro de Casamento, f. 33, livro n. 1 do Cartório do Registro Civil de Orleans-SC. 70 Certidão de Óbito n. 46, folha 18, do livro n. 02-C, do Cartório de Registro Civil de Águas Mornas-SC.

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Capítulo VIII 71 Município de São Martinho foi fundado em 14 de novembro de 1962. 72 Cartório de Registro Civil de São Martinho. Livro 6, Registro 657, Folha 192v. 73 Entrevista oral concedida por Irma Back Bechkauser ao autor em 08/09/2006. 74 A 01 de janeiro de 1944, o nome de Hansa Humboldt foi mudado para Corupá devido à nacionalização imposta pelo governo, reflexo da Segunda Guerra Mundial. 75 Entrevista oral concedida por Osmar Beckhauser ao autor em 16/09/2006. 76 Entrevista oral concedida por Irma Back Bechkauser ao autor em 08/09/2006. 77 Entrevista oral concedida por Osmar Beckhauser ao autor em 16/09/2006. 78 Entrevista oral concedida por Irma Back Bechkauser ao autor em 08/09/2006. 79 WIESE, Harry. De Neu-Zürich a Presidente Getúlio: Uma História de Sucesso. Presidente Getúlio: Editora Nova Era, 2000, p. 221. 80 Entrevista oral concedida por Irma Back Bechkauser ao autor em 08/09/2006. 81 Entrevista oral concedida por Odete Beckhauser ao autor em 26/09/2006. 82 Entrevista oral concedida por Odete Beckhauser ao autor em 26/09/2006. 83 Entrevista oral concedida por Osmar Beckhauser ao autor em 16/09/2006. 84 Que depois se tornaria Presidente da Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina, mandato 1977/78. 85 Entrevista oral concedida por Osvaldo Beckhauser ao autor em 10/09/2006. 86 Entrevista oral concedida por Osmar Beckhauser ao autor em 16/09/2006. 87 Entrevista oral concedida por Odete Beckhauser ao autor em 26/09/2006. 88 UDN/PDC/PL = União Democrática Nacional (UDN), Partido Democrata Cristão (PDC), Partido Libertador (PL). Foram extintos logo após as eleições, em 27 de outubro de 1965, pelo Regime Militar. 89 Entrevista oral concedida por Odete Beckhauser ao autor em 26/09/2006. 90 Boletim Informativo Sitrupege. Presidente Getúlio-SC, Ano 1, Número 1, de Janeiro/Fevereiro 1995, p. 2. 91 Entrevista oral concedida por Odete Beckhauser ao autor em 26/09/2006. Eis algumas destas receitas da Oma: Kochkäse – Para o kochkäse, você vai precisar de queijo envelhecido (também conhecido como qualhada). Primeiro, tem que espremer o queijo para tirar o soro. Deixe o queijo num refratário tampado por 03 a 05 dias (precisa começar a derreter e até cheirar mal – depende da estação climática). Estando derretido e com poucos grumos, coloque-o numa panela com 01 colher (sopa) de manteiga de boa qualidade, um pouco de sal e um pouco de leite. Deixe ferver até que os grumos se dissolvam. Está pronto o kochkäse. Sirva com rodelas de pão ou torradas (o queijo morno é o mais gostoso). Spritz-dochen – A massa desta bolacha é composta pelos seguintes ingredientes: 01 xícara de manteiga, 01 xícara de banha, 02 xícaras de açúcar, 03 ovos, 04 colheres de leite, 01 pacote de açúcar baunilha, 01 colher de fermento e casca de limão ralado (a gosto). Passar a massa na máquina de moer carne, utilizando na saída da máquina tampas próprias para este fim. Levar ao forno. Weihnachtskuchen (bolachas de Natal) – Ingrediente da massa da bolacha: 12 ovos, 1 kg de açúcar, ½ kg de margarina, 01 colher de sal amoníaco, 01 colher de fermento e 01 xícara de leite. Depois de feita a massa e assada no forno, fazer a cobertura com os seguintes ingredientes: 02 claras de ovos, 01 xícara de açúcar e 01 gota de limão ou vinagre. Pronta a cobertura, passar sobre a bolacha e adicionar açúcar confeiteiro para decorar. Levar as bolachas ao forno para secar a cobertura. Esta receita veio com os imigrantes germânicos, que davam esta bolacha como presente de Natal para as crianças, vindo daí a origem do nome Weihnachtskuchen. 92 WIESE, Harry. De Neu-Zürich a Presidente Getulio: Uma História de Sucesso. Presidente Getúlio: Editora Nova Era, 2000, p. 221. 93 PRN = Partido da Reconstrução Nacional. 94 PPR = Partido Progressista Reformador. 95 PPB = Partido Progressista Brasileiro.

Capítulo IX 96 Certidão de Casamento, livro B-3, p. 264, registro n. 450, no Cartório de Registro Civil de Gravatal-SC. 97 No total, Gabriel teve quatro vezes gêmeos, nos dois casamentos. 98 Depoimento oral (gravado) prestado por Laura Beckhäuser da Rosa ao autor, em 05 de abril de 2003. 99 Dados do jomal de partilha registrado sob n. 11.440, p. 594 e transcrito para o registro n. 11.206, fls. 280, do Registro de Imóveis da Comarca de Tubarão.

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100 Bacheiro geralmente é de lã de um pouco grossa e serve para proteger o pelo do animal da cela. 101 Depoimento oral prestado por José Diomário da Rosa ao autor, em 05 de abril de 2003. 102 A Revolução Federalista teve início no Rio Grande do Sul, em 1893, e envolveu as principais facções políticas gaúchas. Foi liderada pelo fazendeiro Gaspar da Silveira Martins, exigia o afastamento de Júlio de Castilhos do Governo do Estado do Rio Grande do Sul e a instituição de uma república liberal. Ancorados em bases eleitorais nas cidades do litoral e da serra, os republicanos queriam, a todo custo, manter o poder. Os federalistas, que representavam os interesses dos grandes estancieiros da campanha, lutaram contra o que chamavam de “tirania castilhista” e exigiam a reforma da Constituição do Estado, com vistas a impedir a perpetuação dos rivais no poder. Também chamada de Revolta da Degola, a Revolução Federalista contou com a participação dos revoltosos da 2ª Revolta da Armada, que se aliaram aos maragatos de Silveira Martins. Floriano Peixoto, então Presidente da República, não se intimida e manda tropas para a Região Sul, em apoio às tropas de Júlio de Castilhos. A Revolução transformou-se numa longa e sangrenta luta e provocou a morte de aproximadamente dez mil pessoas (mil pessoas foram degoladas) e só terminou em 1895, no governo de Prudente Moraes, sucessor de Floriano. A vitória coube às tropas de Júlio de Castilhos. 103 O termo “maragato” é de origem pejorativa, identifica, no Uruguai, matadores de aluguel. Os republicanos passaram a chamar os federalistas de “maragatos” pelo fato de o movimento insurgente ter partido do Uruguai. Já os federalistas chamavam os republicanos de pica-paus devido à farda vermelha. No Rio Grande do Sul, os maragatos eram identificados pelo lenço vermelho atado ao pescoço, os republicanos usavam lenço branco. Em Santa Catarina os republicanos usavam a cor vermelha e os federalistas, o branco. MACHADO, Paulo Pinheiro. Um estudo sobre as origens sociais e a formação política das lideranças sertanejas do Contestado, 1912-1916. Campinas – São Paulo: Tese de Doutorado, 2001, p. 81. 104 STEINER, Carlos Eduardo. Max. História e genealogia da família Steiner, do Westerwald ao Capivari. Porto Alegre: Sociedade Vicente Pallotti, 2003, pp. 75-78. 105 Sobre a história do Seminário Nossa Senhora de Fátima, de Tubarão, recomendamos a leitura de HERDT, Sebastião; DAMIANI, Fiorindo; CARVALHO, Eduardo Búrigo de. Elfos Seculares: Histórias dos Tempos de Seminário. Tubarão: Ed. Unisul, 2002. 106 Departamento Estadual de Infra-estrutura – DEINFRA é um Órgão do Governo do Estado de Santa Catarina.

Capítulo X 107 Armazém pertencia, na época, à cidade de Laguna, posteriormente Imaruhy e, por último, à cidade de Tubarão, localizada no Sul do Estado de Santa Catarina. Fica ao lado da cidade de Gravatal e São Martinho-SC.

Capítulo XI 108 Informações fornecidas, em 15 de Outubro de 2006, por Melânia Back da Rosa, Maria Madalena Back Vandresen e Carlota Vandresen da Rocha, respectivamente, filhas e neta de Maria Beckhäuser. 109 Histórico de Graciosa - Como a maioria dos pioneiros da época, as famílias eram devotas de Nossa Senhora das Graças, em homenagem à qual foi denominado o distrito de Graciosa. Este distrito situa-se a 17 km da cidade de Paranavaí. A região é basicamente agrícola, cujos principais produtos são: mandioca, milho, feijão e cítricos. Os primeiros colonizadores chegaram em 1944, onde construíram, suas primeiras casas. O distrito foi fundado em 1951. Fonte: http://72.14.209.104/ s e a r c h ? q = c a c h e : q F O 1 a I C d a l 0 J : w w w . p a r a n a v a i . c o m . b r / %3Fcont%3Dhistorico+graciosa+paranava%C3%AD&hl=pt-BR&gl=br&ct=clnk&cd=2 - Consulta realizada dia 22 de outubro de 2006. 110 Criado pela Lei Estadual N. 790, de 14 de dezembro de 1951, desmembrado do município de Mandaguari. Foi solenemente instalado em 14 de dezembro de 1952. Pela Lei N. 1542, de 14 de dezembro de 1953, o município foi elevado à categoria de comarca. Fonte: http://72.14.209.104/ s e a r c h ? q = c a c h e : q F O 1 a I C d a l 0 J : w w w . p a r a n a v a i . c o m . b r / %3Fcont%3Dhistorico+graciosa+paranava%C3%AD&hl=pt-BR&gl=br&ct=clnk&cd=2 - Consulta realizada dia 22 de outubro de 2006.

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