Antologia 2017

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ACADEMIA DE LETRAS DE BIGUAÇU Antologia 2017

ENTRE PORTAS E JANELAS

BIGUAÇU – SC


ACADEMIA DE LETRAS DE BIGUAÇU Antologia 2017

ENTRE PORTAS E JANELAS BIGUAÇU – SC


Edição da Academia de Letras Biguaçu – SC – 2017 Copyright © 2017 by Academia de Letras de Biguaçu Capa: Brasão da Academia Editoração Eletrônica: Amanda Talita Organização e Coordenação Editorial: Adauto Beckhäuser / Gabrielle Beckhäuser Rodriguez / Evandro Thiesen (48) 3222-7781 – E-mail: adauto@advbeckhauser.com.br FICHA CATALOGRÁFICA ______________________________________________________________ 168e Academia de Letras de Biguaçu Entre Portas e Janelas / Org. Academia de Letras de Biguaçu: Colaboradores: Adauto Beckhäuser; Gabrielle Beckhäuser Rodriguez; Evandro Thiesen. [et al.]. – Blumenau: Nova Letra, 2017. 260p. : il. cl.; 21 cm. Inclui Bibliografia. ISBN 978-85-4600174-3 1. Literatura Brasileira. 2. Escritores Brasileiros. 3. Antologia 4. I. Título. II. Org. Academia de Letras de Biguaçu. III. Beckhäuser, Adauto; Rodriguez, Gabrielle Beckhäuser; Thiesen, Evandro [et al.] ___________________________________________________________ Catalogação por: Bibliotecária Janice Marés Volpato. CRB 14/860 CDD B 869.9098164 CDU 93:92: 869.0(81) Reservados ao autor todos os direitos de reprodução, total ou parcial. Impresso no Brasil / Printed in Brazil Endereço Postal: Academia de Letras de Biguaçu E-mail: academia@academiadeletrasdebiguacu.com.br Website: www.academiadeletrasdebiguacu.com.br Casarão Born, Praça Nereu Ramos, n. 160, Centro – CEP 88.160-000 – Biguaçu – Santa Catarina – Brasil

MEMBROS DA ACADEMIA DE LETRAS DE BIGUAÇU


DIRETORIA DA ACADEMIA DE LETRAS DE BIGUAÇU


GALERIA DE PRESIDENTES

Adauto Beckhäuser Mandatos: 26 de outubro de 2010 à 26 de outubro de 2017.

Joaquim Gonçalves dos Santos Mandato: 29 de junho de 2007 à 30 de junho de 2010.

Dalvina de Jesus Siqueira Mandatos: 20 de setembro de 1996 à 29 de junho de 2007.


NOSSOS COLABORADORES Agradecemos às pessoas aqui mencionadas pela colaboração no processo de elaboração desse livro. Consignamos nosso especial agradecimento.

“No mesmo instante em que recebemos pedras em nosso caminho, flores estão sendo plantadas mais longe. Quem desiste não as vê.”

Adauto Beckhäuser Amanda Talita Ferreira Dulcinéia Francisca Beckhäuser Esperidião Amin Helou Filho Evandro Thiesen Felipe Farias Ramos Gabrielle Beckhäuser Rodriguez Gustavo Sérgio Heil Janice Marés Volpato José Braz da Silveira Joaquim Gonçalves dos Santos

William Shakespeare

Todos os Acadêmicos em geral, que contribuíram com seu trabalho para essa Antologia. Dedicamos esta Antologia aos acadêmicos que integram essa obra. E a cidade de Biguaçu.


SUMÁRIO

PREFÁCIO Felipe Farias Ramos..........................................................................17 APRESENTAÇÃO José Braz da Silveira..........................................................................21 HOMENAGEM A MIGUÉL JOÃO SIMÃO Texto de Adauto Beckhauser e Esperidiao Amin.........................25 TRABALHOS REALIZADOS PELA GESTÃO 2010-2017.........31


ANTOLOGIA 2017 Entre Portas e Janelas

Alexandre Mendonça Cadeira nº: 13...................................................................................111 Dalvina de Jesus Siqueira Cadeira nº: 14...................................................................................119

Josiane Rose Petry Veronese Cadeira nº: 01.....................................................................................40

Carlos Antônio de Souza Caldas Cadeira nº: 16...................................................................................123

Adauto Beckhäuser Cadeira nº: 02.....................................................................................51

José Ricardo Petry Cadeira nº: 17...................................................................................134

Joaquim Gonçalves dos Santos Cadeira nº: 03.....................................................................................58

Leonidio Zimermann Cadeira nº: 18..................................................................................136

Cesar Luiz Pasold Cadeira nº: 04.....................................................................................62

Orival Prazeres Cadeira nº: 21...................................................................................138

Egídio Martorano Filho Cadeira nº: 05.....................................................................................68

Osmarina Maria de Souza Cadeira nº 20....................................................................................139

Sérgio Izidoro Heil Cadeira nº: 06.....................................................................................70

Valdir Mendes Cadeira nº: 22...................................................................................164

Rudi Oscar Beckhäuser Cadeira nº: 07.....................................................................................72

Gustavo Sérgio Heil Cadeira nº: 23...................................................................................168

Gabrielle Beckhäuser Cadeira nº: 08.....................................................................................75

Valéria Maria Kravchychyn Cadeira nº: 24...................................................................................171

José Braz da Silveira Cadeira nº: 09.....................................................................................77

Miguel João Simão Cadeira nº: 25...................................................................................174

Janice Marés Volpato Cadeira nº: 10.....................................................................................87

Rogério Kremer Cadeira nº: 26...................................................................................182

William Wollinger Brenuvida Cadeira nº: 11.....................................................................................96

Vanda Lúcia Sens Schäffer Cadeira nº: 27...................................................................................187

Angela Regina Heinzen Amin Helou Cadeira nº: 12...................................................................................108 14

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Esperidião Amin Helou Filho Cadeira nº: 28...................................................................................190 Alzira Maria Silva dos Santos Cadeira nº: 29...................................................................................194 Felipe Farias Ramos Cadeira nº: 30...................................................................................200 Homero Costa Araújo Cadeira nº: 31...................................................................................207 Hélio Cabral Filho Cadeira nº: 32...................................................................................211 Dulcinéia Francisca Beckhäuser Cadeira nº: 33...................................................................................216 Vera Regina da Silva de Barcellos Cadeira nº: 34...................................................................................221 Luciano Peres Cadeira nº: 35...................................................................................232 Pedro Paulo dos Santos Cadeira nº: 37...................................................................................236 Neusita Luz de Azevedo Churkin Cadeira nº: 38...................................................................................240 José Castelo Deschamps Cadeira nº: 39...................................................................................249 Leatrice Moellmann Cadeira nº: 40...................................................................................253

PREFÁCIO Felipe Farias Ramos Entre Portas e Janelas... Eis o título da Antologia de 2017 de nossa Academia de Letras. Se, talvez à exceção da retratada na canção de Vinícius de Moraes, toda a casa necessite de fortes paredes e estruturado telhado para o fim isolar e dar segurança a seus habitantes, é usualmente olvidada a essencialidade das portas e janelas --- cotidianamente chamadas de aberturas --- para que a construção permaneça, altiva, de pé. São as portas e as janelas que arejam; que, permitindo a entrada do vento, garantem a intersecção entre o que está dentro e o que está fora dos limites da construção; sem elas o que está para além da murada não conversa com o que se encontra no conforto da habitação. Portas e janelas são, pois, o penhor da experiência do encontro, a garantia de que, malgrado a importante divisão existente, o interior da casa estará em constante diálogo com o mundo que passa lá fora, livre de engessamentos e desconexões malsãs. Não poderia, por isso, ser mais feliz o título que nossa Antologia encerra. É que, por meio desse opúsculo, a Academia, de forma vivaz, abre-se à comunidade, levando a todos, parte da produção literária dos acadêmicos no presente ano de 2017. É então que se dá o milagre do encontro: Academia e sociedade civil, irmanados numa influência recíproca, enlaçam-se de forma tal que, na possante reflexão de Heráclito, nem ela prossegue sendo a mesma de d’antes, nem seus concidadãos permanecem os mesmos d’outrora. 17


Momento de regozijo este em que, em mais uma edição anual, a nossa Academia abre suas portas e janelas oferecendo a todos a parte mais nobre do que é seu: a arte de seus membros. Em troca, a Casa recebe os influxos de tudo quanto se passa lá fora: escuta, enxerga toca e apalpa o que se encontra para além da forte estrutura sua, saindo dessa experiência de empatia mais forte, serena, revitalizada, e pronta para os desafios do porvir. Fica aqui o convite que a Academia faz à experiência da alteridade, do encontro com o outro: sinta-se abraçado, caro leitor, por esta augusta Casa, que, neste momento e sempre, vem estender-lhe a mão para a saudação fraternal.

ESTATÍSTICAS DE ACESSOS AO SITE DA ACADEMIA Mensalmente visitado por pessoas de mais de 100 países Estatística mensal de 2017, até agosto do corrente ano:

Boa Leitura.

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Estatísticas de 2017, classificadas por países, até agosto do corrente ano:

APRESENTAÇÃO José Braz da Silveira Para uma obra literária como esta, com diversos autores e textos com tema livre, torna-se indispensável uma breve apresentação. A começar pelo sugestivo título: “Entre Portas e Janelas”, que inspira a criatividade e ao mesmo tempo nos remete a uma vastidão imensa. Vejo a apresentação como um portal de boas vindas ao leitor para conhecer a obra por inteiro. Em tempos de vida apressada, a meta é cativar o interesse do leitor. Acredito que nada mais estimulante para o leitor do que enaltecer a inestimável contribuição que os acadêmicos vêm prestando à Academia de Letras de Biguaçu. Estou certo de que ao ler esta resumida apresentação, você será tentado a conhecer os textos produzidos por cada um dos autores. Os integrantes da Academia de Letras de Biguaçu têm desempenhado papel importante para o crescimento e amadurecimento dessa grande instituição literária. Quantas portas e janelas têm sido abertas mundo afora pelo nosso portal disponível na internet, alcançando mais de 150 nações? Méritos da gestão de Joaquim Gonçalves dos Santos que deu início a esta ação e da percepção criativa do nosso atual Presidente Adauto Beckhäuser, que tem se esmerado para bem representar a nossa academia junto à sociedade e principalmente no âmbito de outras instituições que participa. Quantas portas e janelas têm sido abertas pela nossa Presidente de Honra Dalvina de Jesus Siqueira, a começar pela feliz iniciativa de criar a nossa academia? Muitos são os feitos proporcionados pelo Professor Joaquim Gonçalves dos Santos, que ao

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lado de Dalvina são os nossos dignos Embaixadores da Cultura de Biguaçu, título mais do que merecido. Inúmeras e amplas têm sido as portas e janelas escancaradas para Biguaçu pelo Ilustre casal Esperidião e Ângela Amin, que em suas exitosas incursões pela administração pública, navegando sem sobressaltos nas águas revoltas da política contemporânea, só nos enchem de orgulho. Não há como deixar de destacar o belíssimo trabalho desenvolvido por Miguel João Simão a frente da Academia de Letras do Brasil, Seccional de Santa Catarina, incentivando a criação de inúmeras casas de letras por todo o Estado. E como não registrar a presença marcante de César Luiz Pasold e Josiane Petry Veronese, seja no Magistério Superior com tantos serviços prestados, ou na produção literária com inúmeras obras publicadas? A destacada contribuição literária de Rogério Kremer, com 22 livros publicados, de Valdir Mendes e Rudi Oscar Beckhäuser, todos com participação ativa nas atividades da nossa instituição, assim como outras que presidem ou participam também com largas folhas de serviços prestados. A inestimável contribuição dos operadores do direito, a começar por Sérgio Izidoro Heil, nosso representante na mais alta Corte de Justiça do Estado, ou dos juristas Pedro Paulo dos Santos, José Braz da Silveira, Carlos Antônio Caldas, Arlete Carminetti Zago, Luciano Peres, Homero Costa Araújo, Alfredo da Silva, Gustavo Sérgio Heil, Gabrielle Beckhäuser Rodrigues e Felipe Farias Ramos, profissionais de tantas lutas e vitórias. O grande trabalho desenvolvido pelos ilustres jornalistas Alexandre Mendonça, Luiz Nocetti Lunardelli e Valéria Maria Kravchychyn, que também vêm abrindo portas e janelas por meio

da imprensa catarinense e tanta projeção têm proporcionado a nossa academia. A fundadora Osmarina Maria de Souza, que nos conquista pela simplicidade e simpatia, o empresário José Castelo Deschamps, também com destacada atuação política, o conceituado médico Egídio Martorano Filho, o idealista e sonhador Orival Prazeres, o perseverante William Wollinger Brenuvida, a nossa bibliotecária dedicada Janice Marés Volpato, o nosso fotógrafo José Ricardo Petry, o exemplo de superação Leonídio Zimermann, o sempre surpreendente Hélio Cabral Filho e a incrível Alzira Silva dos Santos, cada qual com o seu estilo peculiar. E como esquecer das nossas musas das artes plásticas e literárias Dulcinéia Francisca Beckhäuser, Vera Regina de Barcelos, Neusita Luz de Azevedo Churkin e Leatrice Moellmann Pagani? Enfim, com esse elenco de elevado padrão, nossa academia de letras vem proporcionando a nossa gente, durante todos esses anos, grandes e inestimáveis serviços. Uma boa leitura a todos.

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Biguaçu, 20 de setembro de 2017


HOMENAGEM A MIGUÉL JOÃO SIMÃO

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Por: Adauto Beckhäuser Homem de coragem, de fé e de grandes idéias. Miguel João Simão plantou em oitenta cidades, novas casas literárias. O Estado de Santa Catarina ficou mais rico e respeitado, pois Miguel descobriu grandes tesouros literários. Incentivou em cada cidade a criação de Academias de Letras e após a criação deu posse a novos acadêmicos. Estes novos talentos perdidos pelo Estado a fora, passaram a escrever e lançar belos e maravilhosos trabalhos. Quando se fala em Gancheiro me lembro do poema de Carlos Drumonnd de Andrade quando fala do bom mineiro e nos remete ao Gancheiro Miguel João Simão: “O BOM MINEIRO NÃO LAÇA BOI COM IMBIRA, NÃO DÁ RASTEIRA NO VENTO, NÃO PISA NO ESCURO NÃO ANDA NO MOLHADO, NÃO ESTICA CONVERSA COM ESTRANHO, SÓ ACREDITA NA FUMAÇA QUANDO VÊ O FOGO, SÓ ARRISCA QUANDO TEM CERTEZA, NÃO TROCA UM PÁSSARO NA MÃO POR DOIS VOANDO. SER MINEIRO É TER SIMPLICIDADE E PUREZA, HUMILDADE E MODÉSTIA CORAGEM E BRAVURA, “FIDALGUIA E ELEGÂNCIA” Miguel João Simão, o bom gancheiro também não laça boi com imbira e é de coragem bravura, fidalguia e elegância. 26

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Miguel acadêmico é quem dá um pedacinho do chão, quando é de terra firme que se precisa ou um pedacinho do céu. Miguel é ombro amigo, é mão estendida, é mente aberta. Miguel é o sol que seca lágrimas, é a polpa que adocica ainda mais o sorriso. Miguel é o amigo que toca na sua ferida numa mesa de Chopp, acompanha suas vitórias, faz piada amenizando problemas, é quem sorri pra você sem motivo aparente, é quem sofre com seu sofrimento. Miguel acha aquilo que você nem sabia que buscava. Este é o Miguel, bom amigo e bom Gancheiro. Somos agradecidos pelo enriquecimento da Literatura Catarinense. Miguel é o grande descobridor de talentos literários e grande criador de academias. Somos eternamente gratos pelo teu amor à arte literária. Adauto Beckhäuser Presidente da Academia de Letra de Biguaçu

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Por: Esperidião Amin Helou Filho Sou honrosamente convocado pelo nosso dedicado presidente Adauto Beckauser a escrever algumas linhas homenageando nosso amigo MIGUEL JOÃO SIMÃO. Ele merece essa reverência por várias razões. ​Aqui, destaco duas muito especiais. A primeira é a natureza de sua pessoa. Bastaria evocar sua condição de GANCHEIRO para que fizesse jus a aplausos muito efusivos. A alma de gancheiro o faz uma pessoa prestativa, leal e franca. O gancheiro é um valente sem arrogância; sua coragem é serena, capaz de enfrentar as incertezas do mar, seu parceiro de vida, respeitando seus rompantes e imprevistos. Miguel João Simão é reconhecido por guardar essas características. ​A segunda razão para o homenagearmos é o seu “apostolado” em favor da criação de dezenas (cerca de 80) de academias de letras por nosso Estado afora. Este espírito de missão contribui para descobrir e desenvolver talentos no trato da língua que falamos, traço fundamental da nossa identidade, ponto de partida da nossa cultura. A missão de disseminar o gosto pela associação de pessoas em academias de letras é um processo de fortalecimento do gosto individual pela sinergia que o grupo promove. Permite descobrir talentos que tendem a fenecer quando solitários. Ao contrário, o diálogo, a convivência e a troca de ideias e gostos é fermento que faz desenvolver tais talentos. É fertilizante natural, pois o ser humano é eminentemente social. Não há dúvida de que a missão a que o nosso homenageado se dedica enriquece pessoas, cidades e o próprio Estado de Santa Catarina. ​Estas linhas têm a principal finalidade de enaltecer o exemplo a nós oferecido por este homem de nome generosamente abençoado por seus padrinhos onomásticos: Miguel, que guarda o 29


céu que almejamos; João, que é precursor e evangelista, sendo como tal, padroeiro de Biguaçu, e Simão que, apesar de fraquezas comuns a todos nós, é a pedra basilar do cristianismo. ​Por sua missão e por sua dedicação, parabéns, amigo Miguel João Simão!

Trabalhos Realizados pela gestão 2010-2017

Esperidião Amin, em 26/7/2017 Acadêmico da Academia de Letra de Biguaçu

Parabéns a todos os Acadêmicos que contribuíram para o sucesso desse trabalho Sete Anos de dedicação semanal e constante

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ANTOLOGIA VII - 2008

ANTOLOGIA VIII - 2011

ANTOLOGIA IX - 2012

ANTOLOGIA X - 2013

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ANTOLOGIA XI - 2014

ANTOLOGIA XII - 2015

ANTOLOGIA XIII - 2016

ANTOLOGIA XIV – 2017

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OBRA IMPORTANTE PARA O MARCO DE NOSSA HISTÓRIA

Obra colocada na Praça Nereu Ramos, em Biguaçu, em homenagem aos 20 anos de Fundação da Academia.

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ATIVIDADES GERAIS DESENVOLVIDAS - Lançamento de 7 Antologias, 1 (um) por ano

- Aquisição de geladeira, TV, cafeteira, mesa, cadeiras, estantes, impressora, computadores e demais utensílios essenciais para o pleno funcionamento da Academia

- Concessão de uso do Casarão Born para se tornar sede da Academia

- Internet na Academia

- Antologia: Organização geral de todo o conteúdo no escritório: captação, criação de esboço e envio para a gráfica (6 Antologias)

- Elaboração de Diplomas, artes para Obelisco, crachás e demais materiais de divulgação

- Sólida participação de aproximadamente 80% de todos os Acadêmicos nas 6 Antologias

- Digitalização por parte da Biblioteca Pública de SC, das 6 primeiras Antologias da Academia, para que esse material historicamente rico de conteúdo, possa ser disponibilizado online

- Nossa última Antologia contou com a participação massiva de 29 Acadêmicos, cujo tema foi “A cidade de Biguaçu – Laços de Memória” - Ingresso de 17 (dezessete) novos Acadêmicos - Patrocínio integral de 2 (duas) obras literárias da Acadêmica Dalvina de Jesus Siqueira - Patrocínio integral de 1 (uma) obra literária do Acadêmico Joaquim Gonçalves dos Santos - Incentivo a produção literária, em período que contou com o lançamento de aproximadamente 30 (trinta) obras - Captação de recursos junto a Prefeitura de Biguaçu para publicação de obra de Joaquim Gonçalves e José Ricardo Petry

- Disponibilização de todas as obras online

- Distribuição das obras junto às escolas do município - Atividades de exposição e participação em Feiras Culturais (Na semana da Feira no Livro, tivemos a participação de aprox. 3 mil alunos da rede municipal de ensino) - Exposição de obras de artes, fotografias (Dulcinéia, Janice, Dalvina, Petry) - Atividades externas junto a órgãos governamentais, levando o nome da Academia para outros setores públicos - Desenvolvimento e atualização constante (semanal) do Site e redes sociais

- Controle Financeiro

- Envio de e-mail marketing para que o conteúdo produzido chegue até os acadêmicos e demais membros de outras academias

- Alteração de Estatuto

- Hino da Academia

- Hino da Academia

- Logo Oficial (bandeira, bótons, beca, medalhas, obelisco, placas)

- Lançamento de obras literárias dos Acadêmicos

- Organização de eventos

- Lei de Utilidade Pública em nível Estadual e Federal

- Organização e cobrança da anuidade dos Acadêmicos

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- Elaboração de mensagens de parabéns e datas festivas - Criação de revista virtual Biguá – Revista Oficial da Academia - Criação de nova logo, banner, crachás, bótons e outros - Pagamento de despesas extras semanais com o Evandro Thiesen (suporte geral)

ANTOLOGIA 2017 ENTRE PORTAS E JANELAS

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Josiane Rose Petry Veronese Cadeira nº: 01

A ética como elemento de transformação social Josiane Rose Petry Veronese1* 1 Alguns apontamentos Hoje, as relações sociais, as mutações técnico-científicas têm acontecido com uma velocidade tal que nós, atores das mais diversas áreas, nos encontramos circunspectos.

No que concerne ao universo do Direito, por exemplo, entre o mundo da norma - do dever ser - e o mundo dos fatos, do ser, há um abismo tamanho que ficamos a nos questionar se é valido continuar operando com a dinâmica societária como até então vínhamos fazendo? Se é possível a criação de pontes? E que pontes seriam estas? Somos levados, portanto, a lançar um primeiro olhar pesaroso sobre a nossa história, sobretudo quando constatamos que grandes bandeiras, como a defesa dos direitos humanos fundamentais, pelas quais se lutou e se continua lutando ao longo da história da humanidade parecem, no entanto, tão distantes. O Direito, segundo uma perspectiva monista, percorreu toda uma trajetória histórica com uma postura nitidamente diretiva, onipotente, muitas vezes distante do que acontecia no âmago corpo social. A ele foi conferido o poder de criar e estabelecer normas, cobrar condutas e penalizar, numa relação em que se configurava claramente a manutenção de certo status quo. Era o senhor do instituído, diante do qual tudo aquilo que se contrapunha era tido como o anormal, o perigoso. O Direito propugna por uma ordem justa e o que assistimos é um quadro de profunda, aviltante injustiça social. Pede-se pela paz e o que presenciamos no nosso dia-a-dia senão os mais variados conflitos de ordem interna: dos sem-terra, dos sem-teto, dos sem-documentos, dos com-fome, e na ordem externa: a falta de solidariedade entre os povos, os conflitos armados, extermínio dos migrantes.

1 *Professora Titular da disciplina Direito da Criança e do Adolescente da Universidade Federal de Santa Catarina, na graduação e nos programas de Mestrado e Doutorado em Direito. Mestre e Doutora em Direito pela UFSC. Pós-doutorado realizado na PUC/RS. Coordenadora do NEJUSCA – Núcleo de Estudos Jurídicos e Sociais da Criança e do Adolescente e vice-coordenadora do Núcleo de Pesquisa Direito e Fraternidade/CCJ/UFSC. Currículo: http://lattes.cnpq.br/3761718736777602

Diante do que foi apresentado entendemos necessária a construção de um novo paradigma, baseado numa visão ética da

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2 Por onde caminhar?


história: no acreditar no ser humano, na dignidade da pessoa humana, na edificação de novos valores, através do qual, não cancelando a pessoa, em seu caráter individual, conheça-se o alcance da fraternidade, da participação, do comunitário e, também, não negando o fato de que somos diferentes, não nos conformamos, no sentido que não compactuamos com uma sociedade cuja ordem econômico-político-social seja pautada por situações de extremas, discrepantes desigualdades e contradições. Por um lado, todo o fascínio do consumo, numa tão bem exemplificada e globalizada construção - os shopping centers (também os virtuais) – catedrais do consumo e por outro, uma multidão dos sem-teto, dos sem-terra, dos com-fome. Torna-se, assim, imperioso o resgate do conceito do amor. Mas como falar do amor? Há espaço nas academias para o amor, visto tratar-se de discursos supostamente científicos? Quando falo do amor, não faço menção a um discurso vazio, alienado, piegas. Quando falo do amor, refiro-me a um amor concreto, comprometido com a sociedade, no seu conjunto de valores, com suas transformações. Ao falar do amor, tenho plena consciência disso, sobretudo dentro dos padrões acadêmicos, que envolto, no mais das vezes, numa fictícia cientificidade, pode ser visto como algo escandaloso, mesmo que tal discurso, dito científico, seja calcado, por exemplo, na tão desejosa democracia, na pluralidade de opiniões; ainda assim continua sendo alijado, excluído o amor, como se fosse possível pensar um Estado, uma comunidade, uma família, que sobreviva, que se desenvolva, sem esta base. Pois afinal, o que são as guerras entre nações, senão um profundo desamor entre os povos? Que nome poderia ser dado ao descaso na implantação de políticas sociais por parte do Poder Público, senão um descompromisso com seus cidadãos?

O que são os conflitos étnicos, raciais, senão um desamor, um desrespeito a condição do diferente que há no outro? O que são os tão comuns problemas familiares, senão pura e simplesmente a exclusão do amor, na realidade doméstica? O que vem a ser afinal, o problema carcerário? Que pode, inclusive, ser travestido com o nome de superlotação dos presídios, falta de verbas, de pessoal, carência de um acompanhamento jurídico, instalações degradantes, etc.. Sim, e não seria tudo isso opção de um Estado desamor, que não tem compromisso algum com a classe marginalizada, despossuída? E mais, o trancafiamento de pessoas se apresenta como uma questão extremamente paradoxal, também no sentido pedagógico, pois como educar para a liberdade aqueles que são submetidos a uma condição de não liberdade? A uma convivência não compatível com a dignidade humana e, também, como “reinserir-se” na sociedade - conjunto de diversidades - tendo vivido só entre “iguais”? Torna-se, inclusive, muito complexo trabalhar a “ressocialização” em termos da não-violência, se a vida “extra-muros” vive continuamente tão submersa na violência que agride a nossa cidadania, a nossa condição de seres humanos, desde os programas televisivos até as guerras. Portanto, o problema da violência carcerária não pode ser abordada isoladamente, sem uma preocupação com o tipo de sociedade em que vivemos e, sobretudo, com o seu modelo político-econômico. Os cárceres são na realidade um espelho da violência de um sistema que pretende manter os desfavorecidos economicamente à margem do corpo social, no qual as cadeias abarrotadas explicitam muito mais o caráter vingativo da pena, do que qualquer possível proposta socializadora.

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Não é meu desejo que as reflexões aqui trazidas, sobre o fenômeno da violência, conduzissem a um olhar cético sobre a história e mais especificamente sobre o ser humano nessa história. Há que se acreditar nos valores mais fundamentais, de nos voltarmos sempre para o respeito para com a pessoa e daí este desejo - que por vezes toma ares de intransigência - no tocante a defesa dos Direitos Humanos, pois a partir daí contemplamos a concepção de que todos temos direito à moradia, à educação, à saúde, à liberdade, à livre manifestação do pensamento, de opinião e de crença, ao trabalho, à segurança, enfim, a uma série de garantias que se colocam como indispensáveis à satisfação das necessidades, e ainda, no valor de sermos pessoas que nascemos para a felicidade. Aliás, justamente não foi esse o primeiro conceito de ética se formos levados a revisitar Aristóteles em uma de suas obras clássicas: A ética, o qual acentua o homem em sua busca das virtudes e de uma vida feliz? O pensador grego mergulha profundamente nessa questão quando nos propõe a felicidade “como fim das ações humanas” (ARISTÓTELES, 1989, p. 151). Neste momento podemos indagar se será feliz o ser humano em meio a tantos focos de violência? Evidentemente, não! Nascemos para alçar grandes vôos, alcançando céus de liberdade, solidariedade, de compreensão acerca da caminhada humana sobre a terra. Todas as circunstâncias que são reveladoras de um quadro de miséria, de dor, na realidade ofuscam a grandeza que há em cada um de nós. E todas as vezes que violamos com atos insanos a beleza da natureza humana o que acontece? No plano individual um enorme desconforto, mal-estar, culpa... Enfim, uma série de sentimentos negativos que assolam a nossa alma e nos tornam cabisbaixos, melancólicos, sem ânimos até.

No plano societário o que assistimos é um espetáculo de egoísmo coletivo, uma sociedade que se perde, pois não mais consegue visualizar-se enquanto comunidade. Esta concepção do social nos conduz a ideia de agrupamento, de meio humano integrado, formado por pessoas unidas pelo mesmo sentimento de consciência. Que sentimento de consciência seria esse? De um corpo amorfo e sem cor? Não, mas na crença do que de mais precioso existe no ser humano que é a capacidade de livremente optar por um tipo de convivência na qual cada um se sinta comprometido com o outro. Ousaria até falar em cumplicidade, a qual não enseja a simples colaboração, mas algo ainda mais comprometedor: falo de participação, de parceria, de um pensar e agir não de modo hermeticamente individual, mas coletivo. Isto sim poderia ser visto como sociedade, a vivência comum, temporal e espacial, de pessoas engajadas numa crescente dinâmica. Aí se consubstanciaria o ideal da unidade, desse novo modelo societário que a humanidade em seu dever ser tanto aspira. Nesse processo não perderíamos as nossas características de pessoas humanas, de também sermos indivíduos - sim o somos -, mas a visão do outro que está ao meu lado ou mesmo distante ensejaria um aprimoramento do meu eu, de que se faz necessário trabalhar também a nível particular as falhas, bloqueios, tendências egoístas, moldando, portanto, na proporção do meu ser individual as virtudes. Talvez seja este, inclusive, o grito que sufocamos cotidianamente em nossos corações. Um grito que pede companheirismo, que pede perdão ao invés de punições, que clama pela unidade ao invés da discriminação, do preconceito, da guerra. Nesse aspecto se apresenta a tolerância como um dos grandes temas da atualidade, a qual se constitui num elemento indispensável na construção de uma “cultura de paz”. Cultura esta que

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se fundamenta na solidariedade, no pluralismo, no perdão, na não-violência ativa, etc. Hoje, falar em tolerância é ir além do seu significado histórico predominante, qual seja o respeito à convivência de crenças distintas entre si, sejam elas religiosas ou políticas. Assim, temos uma ampliação do seu conceito para questões outras como o da convivência das minorias étnicas, lingüísticas, raciais, para com os que o senso comum define como os “diferentes”, cite-se os homossexuais, os loucos, os deficientes, etc. Conforme assinala Bobbio, [...] a tolerância não implica a renúncia à própria convicção firme, mas implica pura e simplesmente a opinião (a ser revista em cada oportunidade concreta, de acordo com as circunstâncias e as situações) de que a verdade tem tudo a ganhar quando suporta o erro alheio, já que a perseguição, como a experiência histórica o demonstrou com freqüência, em vez de esmagá-lo, reforça-o. (BOBBIO, 1992, p. 216)

Desse modo, a tolerância está pautada num princípio moral absoluto: o respeito ao outro. Esta proposta exige uma prática contínua, de benevolência, de aceitação do outro que é diferente de mim e das minhas concepções. De fato, quando aprenderemos a nos amar, respeitando intensa, profunda e sinceramente a natureza do outro que está ao meu lado ou mesmo distante de mim? Por que nos arrogamos no sombrio direito de que esse outro deva ter os meus padrões, de beleza, de religião, de interesses? Ao longo do tempo vamos aprendendo que amar é entrar na pele do outro e então por que tanta dificuldade em aceitar o semelhante assim como ele é? São passos que poderiam ser experimentados e que conduziriam a prática de certas atitudes, uma delas, fundamental nesse processo de interação com o que me é 46

desconhecido é o não julgar. A nossa natureza humana nos conduz, como que naturalmente a julgar, a padronizar o outro. O julgamento aniquila qualquer possibilidade de construção de algo novo, pois faz com que o que se sente julgado, passe a se considerar um verme, um nada e se afaste, suprimindo qualquer possibilidade de diálogo. A intolerância é violência, o julgamento injusto e inconseqüente também o é. Sob a perspectiva relacional, ou seja, em termos de indivíduos que fraternalmente se reconhecem como sujeitos, e a partir daí se conheçam, segundo a categoria de Honeth2, o que implica em altruísmo, partilha, em ações que efetivamente nos irmane e, passamos a compreender que a educação deve ter em sua essência este fundamento. Se a educação perder esta configuração de essência, de otimização da paz, ao invés da violência, do comunitário, ao invés do cego e materializante individualismo, do reconhecimento do outro, corre o risco de perder-se num tecnicismo sem fim. Esta mesma dimensão, sequer poderia ser outra, alcança o cenário da educação jurídica, pois afinal para que valem as normas, princípios, instituições... Se não conseguirmos fazer com que o acadêmico, no caso do estudante de direito, compreenda a sua verdadeira natureza: o compromisso com a Justiça. Enfim, ou nos reconhecemos no humano que há em cada um ou, nos perderemos enquanto humanidade. 3 Ética social – solidariedade e responsabilidade Podemos considerar a ética social sob dois perfis: a) com referência aos nossos comportamentos na relação com os outros e dentro da comunidade da qual fazemos parte; 2 HONETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. Tradução de Luiz Repa. São Paulo: Editora 34, 2011.

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b) com referência aos comportamentos que têm uma incidência sobre a sociedade e sobre as instituições. 3 Portanto, a nossa concepção ética envolve uma relação estreita com a solidariedade e a responsabilidade. Um político, por exemplo, pode individualmente ser justo, honesto, mas qual a incidência disto no seu processo de elaboração das leis ou mesmo na construção de uma cidadania efetiva, que amplie o conceito de política. (comentar sobre Foco no parlamento italiano). Também neste ponto é necessário recuperarmos o sentido do outro, que é o outro para mim (eu sirvo o outro, ou me sirvo do outro). Sobre este ponto Chiara já afirmara: “Vi que o outro (homem ou coisa) foi criado como um dom para mim”. Daí é possível vermos que resultaria uma nova forma de estar neste mundo, o cuidado com o planeta, com as pessoas, com as instituições, com o coletivo, portanto, uma efetiva transformação. E esta transformação, como educadora que sou, passa necessariamente pela educação. Finalizo, portanto, na essência do nosso poeta da educação: “O educador se eterniza em qualquer ser que educa”. (Paulo Freire)

ARNAUD, Edy. Reflexões sobre a violência no Brasil e suas causas. Série Realidade Urbana no Brasil: Novas Interpretações – vol. 6. São Paulo: Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais, abr. 1996. BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Trad. de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Campos, 1992. COTRIM, Gilberto & PARISI, Mário. Fundamentos da educação - História e Filosofia da Educação. São Paulo: Editora Saraiva, 1993. CURY, M., AMARAL E SILVA, A. A. et al.. Estatuto da Criança e do Adolescente ELIAS, Norbert. O processo civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. FAORO, Raymundo. O jurista marginal. In: LYRA, Doderó Araújo. Desordem e progresso: estudos sobre o direito em homenagem a Roberto Lyra Filho. Porto Alegre: Fabris, 1986. FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 31 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008. _________. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educatica. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1997. _________. Pedagogia do oprimido. 18. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: história da violência das prisões. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984. GIODANI, Igino. Il laico Chiesa. Roma: Città Nuova, 1988.

4 Referências

GOMBRICH, Ernst. A história da arte. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1988.

ARISTÓTELES. A ética. Trad. de Cássio M. Fonseca. Rio de Janeiro: Ediouro, 1989.

HONETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. Tradução de Luiz Repa. São Paulo: Editora 34, 2011.

3 Baseado no texto de Gianni Caso: “Ética social e ética profissional”. Nápolis, 6 de junho de 2004. Aos/às voluntárias, p. 1 a 6.

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KANT, Immanuel. Sobre a Pedagogia. Tradução de Francisco Cock Fontanella. Piracicaba: Unimep, 1996. LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Unicamp, 1996.

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LYRA FILHO, Roberto. O Direito que ensina errado. Brasília: UnB/Centro Acadêmico de Direito, 1980.

Adauto Beckhäuser Cadeira nº: 02

VERONESE, Josiane Rose Petry; Entre violentados e violentadores? São Paulo: Ed. Cidade Nova, 1998. __________; VIEIRA, Cleverton Elias. Limites na educação: sob a perspectiva da doutrina da proteção integral, do Estatuto da Criança e do Adolescente e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Florianópolis: OAB editora, 2006.

Janela do Tempo Abro a janela do tempo, Tempo que passa e passa Voando como uma Flecha, Flecha de um doce olhar. E nas asas de um sorriso O amor está à espera, Espera e espera e vem Sem um aviso.

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O brilho do olhar se acende Na intensidade do doce olhar. O amor vem sem aviso Vem sem estarmos à espera.

Refletem o olhar, Olhar tão meigo E carinhoso da pessoa amada Amada e não antes tão amada.

Neste esperar esperando, Espera o bater das asas De um sorriso Flechado pelo doce olhar.

Levo o olhar aos céus E rogo uma luz em meu olhar Olhar sem lágrimas Só a lágrima do orvalho da noite.

O coração acelera O olhar se intensifica O fixar neste olhar doce Tudo parece parar o tempo.

Noite. Sem luz, sem orvalho Sem olhar em lágrimas Sem olhar meigo Só um olhar distante entre lágrimas.

Fecho a janela do tempo Tempo, tempo tão rápido, Rápido mais não tão Rápido, deixando gravado o doce olhar.

O Pouso nas asas do sorriso

Lágrimas beijadas pelo sol Lágrimas, lágrimas se entremeando Entre o sorriso triste e Nas lágrimas beijadas Pelo sol tão docemente.

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Sorriso. Sorriso e triste sorriso Passo a olhar num olhar piedoso Onde nas asas do sorriso Tento pousar de mansinho. Para um vôo para além do horizonte Onde se possa viver Num viver vivendo Num lugar tranqüilo para se amar.

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Rio seco e mar seco O nadar, o nadar e o nadar No rio seco que leva ao Mar seco Lágrimas, lágrimas e a lagrimejar E num lagrimejar lagrimejando Correm entre sorriso triste/alegre Pela face molhada pelas lágrimas Lágrimas poucas, tão poucas Sugadas pelo simples sobro do vento. Ventos revoam os cabelos, Ventos balançam o meu andar Ventos, me levam a andar para frente Ventos, me levam a andar andando para traz. Neste balançar no vento, Escondo o rosto, num proteger Protegendo mas não protegendo O Sugar do vento das lágrimas. Rio seco e mar seco Quero chorar e neste constante chorar Choro não o suficiente para encher De lágrimas o rio seco e o mar seco. Quero surfar nas ondas do rio seco e Do mar seco, e se o vento parar Irei nas ondas do pensamento Das lembranças do rio cheio a correr p/mar. 54

E continuo a surfar nas ondas do pensamento Levado pelo vento num canto choroso Sendo este uivo tão intenso E se perde no balanço do vento revolto. Vento, vento num uivar choroso Batendo na face molhada pelas lágrimas Retendo as lagrimas que correm pela face E não enche o rio de lagrimas.

A morte do silencio Portas e Janelas Janelas e portas num abrir e fechar E num fechar e abrir no nada. E a grande porta do casarão aberta, Uma pessoa adentra no vazio do espaço. E nada fala. E mata o silencio que imperava, como barulho de seus passos. Anda de um lado para o outro. Sem saber o que procurava, e continua no seu passo pelo casarão adentro. No escuro ouve rangidos e num parar quase parando ressurge o silencio. Aproxima-se lentamente sem matar o silencio, abre a janela. Inerte fica e sente forte o pulsar de seu coração. O que ouve vozes de pessoas passando. E olha nada vê. Coração dispara. Sente um frio de uma mão gelada. 55


Passo a passo recua da janela. E ouve vozes e risos. E um choro vindo do fundo do casarão. Dois passos para frente e para inerte. Pernas tremulando como se bandeira fosse. Vozes e choros. Choros e vozes a confundirem em que direção a tomar. Abre os olhos no escudo da noite para o nada ver. No balançar do assoalho pelo andar apressado o barulho aumenta, E se depara com uma escada e ouve passos a descer pelos degraus. Olhos fechados como num querer querendo ver e nada vê. Sente impulsionado a subir e ouve sons de choros. E disparada louca sobe e num escuro corre e abre todas as janelas, E o escuro continua. Olha a sua frente e vê alamedas ouve os sons das águas no rio que corre. O seu andar lento sai e neste sair saindo busca encontrar a escada E ouve passos e passos a sua frente E lentamente desce e quase cai e uma mão o segura, Olha e nada vê e num correr correndo sai pela grande porta aberta Alcançando a rua a procura de alguém e nada vê Somente ressurge o silencio da noite. E como folha voando sai como medo de matar o silêncio. Na madrugada gelada o silencio é o seu cobertor.

O seu andar lento sai e neste sair saindo busca encontrar a escada E ouve passos e passos a sua frente E lentamente desce e quase cai e uma mão o segura, Olha e nada vê e num correr correndo sai pela grande porta aberta Alcançando a rua a procura de alguém e nada vê Somente ressurge o silencio da noite. E como folha voando sai como medo de matar o silêncio. Na madrugada gelada o silencio é o seu cobertor.

Sobe e num escuro corre e abre todas as janelas, E o escuro continua. Olha a sua frente e vê alamedas ouve os sons das águas no rio que corre. 56

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Joaquim Gonçalves dos Santos

Com muita honra e alegria, a Academia de Letras de Biguaçu, abre mais uma vez, suas portas e janelas, para o lançamento de sua décima quarta “ANTOLOGIA”, quando comemora o aniversário de 21 anos (1996 – 2017) de sua fundação. Portas e Janelas estavam abertas na residência da família Siqueira, no centro da cidade de Biguaçu (SC), quando três escritoras e historiadoras sob a liderança de Dalvina de Jesus Siqueira, e Osmarina Maria de Souza, acompanhadas de Vilma Bayestorff Duarte, de saudosa memória; estavam reunidas trocando idéias e filosofando com a finalidade de fundar uma Academia de Letras. O encontro histórico foi na data de 20 de setembro de 1996.

Bendito o momento que as portas e janelas da casa estavam abertas para dar entrada a Luz do Divino espírito Santo, iluminando a mente daquelas senhoras. É através de portas abertas que transitam pessoas, que chegam ou saem mensagem de otimismo e de fé, que entra o ar, a claridade, o calor e o frio, os ventos inclusive diversos sons externos. Após a fundação da Academia Letras de Biguaçu, as portas e janela s da primeira sede provisória continuaram abertas atendendo suas finalidades. A Academia de letras de Biguaçu ocupou outros espaços físicos durante alguns anos para servir de sede, não sendo nada fácil, sempre recebendo a proteção do Padroeiro São João Evangelista da Barra do Rio Biguaçu. Através das portas e janelas abertas foram chamados e empossados novos membros, sendo que alguns já partiram para vida eterna, e outros continuam firmes no ideal abraçado. A Prefeitura Municipal de Biguaçu autorizou que a Academia de Letras ocupasse um espaço físico na Casa de Cultura (Casarão Born), dando condições para a sede da mesma. Agradecemos o apoio e esperamos maiores auxílios. Muitos eventos foram programados e realizados durante os vinte e um anos de existência da Academia de Letras que ficou cada vez mais fortalecida, onde muitas pessoas deixaram de apóias por vários motivos. As portas e janelas abertas são testemunha das lutas vencidas ou de vitórias não alcançadas que foram motivadas pela falta de apoio econômico. E todas as pessoas de bem, sejam intelectuais ou não sempre serão recebidas de braços abertos pela Academia de Letras de Biguaçu.

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Cadeira nº: 03

ABRINDO PORTAS E JANELAS


Infelizmente algumas portas e janelas foram fechadas durante a trajetória de vinte e um anos da Academia de Letras ocasionadas por entidades ou pessoas que ocupavam cargos importantes. No século passado uma música uma música do saudoso cantor Vicente Celestino, assim era cantada:...”Porta Aberta, esta porta não se fecha, contra ela não há queixa, são os braços de Jesus...”. Se as nações intituladas “democráticas”, mantivessem suas portas e janelas abertas aos necessitados, não estaríamos assistindo as barbaridades cometidos contra os seres humanos, principalmente os mesmos favorecidos. Por intermédio de livros e da “Internet”, a Academia de Letras colou Biguaçu no mapa do mundo. Parabéns a todos sem exceções, e aos Presidentes Adauto Beckhäuser e Dalvina de Jesus Siqueira.

Publicou seis obras inéditas. Face problemas sérios de saúde procura concluir duas obras iniciadas em 2016, sempre enfrentando algumas dificuldades. Escreve semanalmente um artigo sob o título “NOSSA HISTÓRIA” para o Jornal Biguaçu em Foco (JBFOCO). Os nomes dos pais e familiares já foram citados em Antologias anteriores, inclusive em obras diversas. Faz agradecimentos pelo carinho e apoio que sempre recebe da família, parentes e amigos; em particular a todos os membros da Academia de Letras de Biguaçu. A porta do coração continua aberta. Abraços do Joaquim.

O autor: Joaquim Gonçalves dos Santos nasceu em Florianópolis (SC), em 27 de março de 1936. Título de Mestre em História pela Universidade Federal de Santa Catarina. Cidadão biguaçuense e Embaixador da Cultura de Biguaçu. Ocupa a cadeira nº3 da academia de Letras de Biguaçu, desde 2004, sendo o Patrono Dr. Adolfo Konder. Ocupou o Cardo de Presidente da Academia de Letras de Biguaçu no período de 2007 á 2010. Ocupa também a Cadeira nº 39 da Academia de letras de Governador Celso Ramos desde 2008, tendo como Patrono o historiador José Arthur Boiteux. 60

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Cesar Luiz Pasold Cadeira nº: 04

de Biguaçu- Cadeira n.04- Patrono: Altino Flores. Membro da Academia Catarinense Maçônica de Letras- Cadeira 29- Patrono: Ari Kardev Bosco de Melo. Membro da Academia de Letras de Palhoça- Cadeira n. 04- Patrono: Jorge Lacerda. Membro da Academia Desterrense de Letras – Cadeira n.20- Patrono: Henrique Stodieck. Autor e coautor de 38 obras. Como Autor, destacam-se aqui entre 16 livros, este: Personalidade e Comunicação. Lisboa: Chiado Editora, 2017.Como organizador e/ou co-autor, entre 22 livros, destaca-se este: O Pensamento de Henrique Stodieck. Joaçaba: Editora da UNOESC, 2016. Site profissional: www.cesarluizpasold.com.br Email: clp@cesarluizpasold.com.br

ENTRE PORTAS E JANELAS: DO “MEU”SOBRADO/HOTEL E SUA LIÇÃO FUNDAMENTAL DE ÉTICA PESSOAL E PROFISSIONAL CESAR LUIZ PASOLD

Acadêmico Cesar Luiz PASOLD Cadeira na Academia de Letras de Biguaçu, sob número 04 -Patrono : Altino Flores

Doutor em Direito do Estado pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco - Universidade de São Paulo-USP. Pós Doutor em Direito das Relações Sociais pela Universidade Federal do Paraná-UFPR. Mestre em Instituições Jurídico-Políticas pela Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC. Mestre em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo-USP. Docente da UNIVALI.É Pesquisador principalmente voltado aos seguintes temas: Ética; Teoria do Direito, do Estado e da Constituição; Teoria e Ciência Política; Metodologia da Pesquisa Jurídica. É Consultor de Organizações nas áreas jurídica e axiológica.Advogado militante -OAB/SC 943. Presidente da Academia Catarinense de Letras Jurídicas- ACALEJ- Cadeira n.01Patrono: Henrique Stodieck. Membro da Academia de Letras

Era o mês de fevereiro de 1949. Eu completaria 04 anos de idade, no dia 13 de julho daquele mesmo ano. Eu era um menino de cabelos efetivamente loiros e lindos olhos “azuis- esverdeados” conforme me era dito. Estava recém-chegado, vindo, então, de Indaial para a Ilha de Santa Catarina, em Florianópolis, Capital do Estado de Santa Catarina, falando apenas e tão somente o idioma alemão.

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Meu alemão, era um plattdeutsch, ou seja, um alemão não clássico, um dialeto, como é o caso do alemão falado na região de Blumenau- Santa Catarina, a minha cidade natal. Minha pronuncia da letra “r” era bem esquisita, o que fazia meus amigos pedirem que eu dissesse, sempre que possível, o nome Estreito (bairro na parte continental de Florianópolis), ou palavras como “rua” ou “primeiro”, e se divertiam muito com isto. Nunca me senti ofendido por esta “provocação”: sempre repetia as palavras solicitadas e ria junto com os que pediam, porque a encarava, sem sentimentos de desafeto, como um brincadeira! A minha Família (Mãe, Pai, Primo/irmão de Criação, Omama=Vovó, Opapa=Vovô e o cãozinho Necki) veio para Florianópolis, para iniciar nova vida. Este grupo, sob a liderança incontestada da Omama - matriarca legitimamente aceita e respeitadíssima por todos nós, e uma empresária competente montou e geriu um Hotel (popularmente denominado “Pensão da Dona Rosalinda”) com Restaurante. Instalamo-nos num sobrado alugado, com 04 andares, se considerarmos o grande porão seguido de uma horta de porte médio, como sendo incluso no cálculo. A sua localização era muito central e ecumênica: Rua Marechal Guilherme no então nº 23, na Capital Catarinense (atualmente nº 103, Edifício Canadá- de natureza comercial). Estava a exatamente a uma quadra e meia distante da Igreja de Confissão Luterana (localizada na Rua Presidente Nereu Ramos nº 185) e cerca de uma quadra distante da Catedral Metropolitana de Florianópolis, esta com endereço oficial à rua Padre Miguelinho nº 55, mas cuja clássica porta principal de entrada estava e está de frente para a Praça XV.

Ao nosso lado direito, o Centro Espírita Amor Humildade do Apóstolo. Ao lado esquerdo, a residência que estimado e inesquecível médico pediatra Wilson Paulo Mendonça. O Sobrado não fora construído obedecendo a nenhum estilo arquitetônico definido. Tinha burocráticas duas janelas de frente no térreo, e um corredor longo à esquerda de quem o olhava de frente, sem porta principal de entrada. Este corredor terminava em duas portas: a de frente para uma enorme cozinha , um depósito e um quarto médio. E, a da direita para um pequeno hall separando a referida cozinha da sala de refeições. Esta, com 08 (oito) mesas para 05 ( cinco) pessoas cada. Ainda à esquerda desta, os dois quartos das janelas acima referidas. Os seus segundo e terceiro andares possuíam, cada um, três janelas dos três quartos de frente, e da mesma forma assim o era nos seus três quartos em seus fundos. Destas janelas de fundo, nos três andares, enxergava-se uma paisagem maravilhosa vista da Ilha: a linda Baia Sul e, ao seu final, o, para mim – então e hoje-, impressionante “Morro do Cambirela”. Nele, desde que eu olhei pela primeira- e até hoje assim o é - enxerguei um gigante deitado, com braços cruzados sobre o peito, boca nítida, língua evidente representada por uma árvore longilínea. Tem um pequeno nariz arrebitado composto por um montículo em sua parte média, seguindo-se as covas dos olhos e uma cabeleira composta por arvores, que à distância, pareciam e se parecem, para mim, até hoje a chorões.

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Esta paisagem de fundo assim completa e aberta, ficou visível somente até 1959, quando o Governador Heriberto Hulse inaugurou o denominado Edifício das Diretorias também sem qualquer qualidade estilística e que continua ali mesmo! Enfatizo que, ambos, o sobrado/hotel e o edifício que cortou o centro da visão paisagística deslumbrante, NÃO eram no estilo açoriano, então predominante na Ilha e no Continente! Em frente ao Hotel, estava – e ainda está - o então Grupo Escolar (atualmente Escola de Educação Básica) Lauro Müller. Nele aprendi, graças à dedicação das Professoras e à paciência de meus colegas, o correto português e fiz meu completo “Curso Primário”, sempre com notas boas- para alegria de meus Pais Erna e Ralf, Avós Rosalinda e Leopoldo, e do meu querido Irmão Oscar. O imponente edifício principal da Escola, em forma da letra C, tinha e conserva até hoje um estilo que, sem ser um especialista, considero clássico e levemente açoriano, bem como até atualmente assim o são, os seus telhados. O edifício complementar, construído enquanto eu ainda era aluno, é sem qualquer estilo clássico. Tenho o privilégio de ter o meu escritório profissional no Edificio Daux Boabaid, na mesma Rua Marechal Guilherme, 147. Das janelas no nono andar, vejo o meu “Grupo Escolar” praticamente todos os dias. Ouço as crianças brincando e jogando bola nos intervalos, sempre com agradável e terna emoção! Vivi no Hotel/Sobrado por 14 anos, com inúmeros momentos muito felizes...e alguns fortíssimos momentos tristes. Sinto muitas saudades afetuosas do meu” Hotel/Sobrado e de todas as pessoas que, entre suas portas e por suas janelas, conheci e com as quais ali convivi.

Cultivo em minha memória o especial respeito aos servidores do Hotel, os seus hospedes, e os clientes do restaurante , estejam eles vivos ainda, ou aqueles que já partiram em busca da Luz. Ali aprendi lições de Vida, preciosíssimas para minha Ética Pessoal e Profissional. A principal delas: o verdadeiro estilo da Casa em que moras, deverá ser aquele que o teu Coração e a tua Mente, em harmoniosa Sabedoria, decidirem! E o mais importante desta lição: escolha a tua Casa sempre em função do quanto as portas e janelas nela existentes efetivamente se abrem para o Bem de todas as pessoas, e o quanto devam estar hermeticamente fechadas para o egoísmo e o preconceito! ======================

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Egídio Martorano Filho Cadeira nº: 05

Portas e Janelas Terminei minha graduação em medicina no final da década de oitenta, lembro como se fosse hoje, quando estava prestes á prestar prova para ocupar uma vaga em cirurgia geral no serviço da Santa Casa de Misericórdia. Estava muito nervoso, mas seguro de que uma das quatro vagas existentes seria minha. Todos os professores da cadeira comentavam que eu era o candidato mais forte. Durante anos acompanhei o chefe do serviço de cirurgia geral, um medalhão da época, sendo seu pupilo preferido. Acordava todos os dias às cinco e trinta da manhã, passava visita nos internados, preparava a aula para os doutorandos e ia para cirurgia com o grande mestre, crente na sonhada vaga garantida. 68

A uma semana da prova no pensamento de todos e em minha mente uma das vagas pertenceria ao Dr. Egídio. No tão esperado dia da prova tudo ocorreu dentro do previsto, realizei um bom teste e jamais imaginando a grande peça que o destino me reservaria. Pois bem, vamos lá, na hora de passar o resultado do gabarito da prova de múltipla escolha pulei uma questão e toda a prova foi desconsiderada, nada pude fazer, pois havia a regra do concurso público. Neste momento minhas ambições, planos e sonhos desmoronaram, por completo. Depois de tanto estudo, preparo e esforço tudo evaporou, lembro-me que ia dormir chorando e acordava chorando, senti que realmente Deus fechou uma grande porta em meu futuro! Ninguém acreditava no que havia acontecido, professores, amigos e parentes. Fiquei sem saber qual atitude tomar e nem para aonde ir, totalmente desmotivado, revoltado e entristecido. Resolvi então prestar prova para cirurgia geral em Florianópolis, mas pelo grande número de candidatos e com as vagas marcadas não fui aprovado. A partir dai já pensei o que fazer?! Resolvi então prestar prova na cidade do Rio de Janeiro, sem qualquer esperança, pois, a possibilidade de sucesso seria mínima, para minha surpresa fui aprovado e em um dos hospitais senão o mais solicitado e difícil para aprovação, o “Hospital da Lagoa”. Da penúria passei a uma felicidade inimaginável, estava na cidade maravilhosa e no local em que faria cirurgia plástica, no serviço do Dr. Pitanguy, meu objetivo final. Pensei, se Deus fechou uma porta, abriu um portal para minha felicidade!!!

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Sérgio Izidoro Heil Cadeira nº: 06

ENTRE PORTAS E JANELAS Da janela da frente da minha casa, construída em um bairro tranqüilo da cidade, conseguia observar todo o movimento da via em toda sua extensão. Era véspera da noite de Natal e as residências vizinhas ostentavam uma miríades de cores da magia natalina. Como há muitos anos fazia nas noites de Natal, presenteava com algum valor os trabalhadores da coleta de lixo. Era comum nas datas festivas o caminhão da coleta de lixo se atrasar e naquela noite não foi diferente. Já passava da meia noite e nenhum som anunciava a passagem do pesado veículo. A cada barulho ouvido corria a espiar de uma janela a 70

outra e freneticamente abria todas as portas da casa, na esperança de visualizar a presença festiva e alegre dos faróis piscando, do barulho do motor e da buzina da robusta caçamba. Apenas se ouvia os latidos dos cães da vizinhança, que em uma conversa barulhenta, anunciavam a presença de estranhos nos logradouros do bairro. Procurava escutar e observar os sons advindos da rua, na ânsia de terminar a minha agonia, na espera daqueles homens humildes, que não deixavam de trabalhar até na véspera de Natal, longe de suas famílias. De vez em quando abria as portas da área de serviço e do quarto de minha filha - a qual dormia tranqüila - na tentativa de ouvir o ronco do veículo e observar o céu repleto de estrelas, que sinalizavam a noite de Natal. Por volta da uma hora da manhã, escutei o barulho do caminhão, que mais parecia uma nave alienígena aterrizando na rua, com suas luzes brilhantes ao som das sirenes e buzinas. Ao todo eram cinco guerreiros! Que se aproximavam do portão da minha casa para me cumprimentar. Chegava o momento mais especial daquela noite, cada um recebia um valor para compra de uma ceia de Natal. A alegria destes irmãos era indescritível, sorrisos largos e apertos de mãos, após sacarem suas pesadas luvas que as protegiam, nos dávamos um caloroso Feliz Natal!

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Rudi Oscar Beckhäuser Cadeira nº: 07

Meu pai Oscar, ensinou-me o trabalho e minha mãe Blandina, ensinou-me a fé. Este binômio representa muito bem e expressa minha gratidão profunda pelo trabalho e fé que as pessoas a seguir nominadas, nos ensinaram. Agostinho, Oscar, Paulo, Ana Maria e Carlos, além de serem nosso sangue, ostentaram muito bem e dignificaram mais ainda o nome Beckhauser. A fé que minha madrinha Ana Maria irradiava e demonstrava, que a possuía com muita intensidade, chegava a todos nós como uma luz infinita.

Carlos, que era meu amigo fraterno, as vezes confidente, visitava-me constantemente em Capri, local que ele apreciava, adorava e curtia muito, com sua casa de veraneio e acompanhou a história de Capri desde o início, dando-nos a ideia inicial de dragagem (dos canais). Costumava levar uma “cachaça de Luiz Alves” para nos deliciarmos nos aperitivos. Cláudio, seu filho, meu afilhado, que está lendo estas palavras, continuou a amizade com minha família pelo qual sou-lhe grato. Agostinho, lembra-me sempre seu amor e cultivo especial pelas árvores (meio ambiente) que plantava e cultivava com muito amor. Paulo, quando lembro dele, o vejo tocando seu cavaquinho (bandolim, violão) era sinônimo de musicista que muitos da Família Beckhauser têm em seu sangue. Aliás, Paulo, Agostinho e Oscar fizeram um trio musical que alegrava muitas domingueiras, festas e bailes, lá para as bandas de Armazém e arredores. O trio era muito famoso. Pena que não existia a comunicação de hoje.

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Entre Portas e Janelas Pessoas Especiais


Por último, mas não menos importante, falo de Oscar, meu pai, meu professor, meu mestre e grande incentivador de meu trabalho, desde musicista até o ramo de imóveis. Quando compus o método “Beckhauser” de ensino para acordeom, dediquei aquela obra, em três volumes ao grande mestre (Gaiteiro Oscar Beckhauser).

Quem o conheceu e teve a oportunidade de verificar parte de seu trabalho, como grande realizador e desbravador do norte da Ilha de São Francisco do Sul, fundando dois bairros :Capri, voltada para classe média alta e esportes náuticos e Sandra Regina, hoje, o terceiro bairro mais populoso de nossa cidade com três mil e quinhentos proprietários,pode testemunhar uma vida de muitos trabalhos profícuos que, deslumbram as vistas dos turistas e proprietários e que permanecerão para sempre na história de nossa São Chico. Capri, alegria de viver e como Oscar menciona em seu Hino ao Capri: Capri, cidade de tão lindas praias, belezas naturais imensuráveis que jamais desaparecerão. Estas palavras foram escritas para dizer que sou muito grato a todos vocês. Capri, 03 de agosto de 2017.

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Gabrielle Beckhäuser Cadeira nº: 08

Amor ao próximo Vivemos em tempos em que o benefício da dúvida é do acusador e não do acusado. Se alguém é acusado, mesmo a míngua de provas, já é condenado pela mídia de forma sumária, antes mesmo do processo judicial findar ou até mesmo iniciar. E quando o processo judicial finda e o acusado é inocentado, pode ter certeza que os holofotes da mídia não serão os mesmos e a sentença absolutória não conseguirá apagar a mancha que a condenação midiática proporcionou. Sabemos que a função da mídia é gerar informação, mas deve ser agido com parcimônia e com cuidado quando o fito é anunciar que alguém está sendo acusado, deve se buscar verificar 75


se existem provas contundentes ou se a acusação é baseada puramente em alegações. Vivemos tempos de intolerância, e em que a boa-fé não é presumida e sim a má-fé. Vivemos tempos que anunciam que a raça humana parece não ter mais jeito... Temos que mudar e a mudança deve ser geral! O amor ao próximo nunca esteve tão distante. Não podemos justificar os nossos erros no erro dos outros, não podemos esperar os outros mudarem, temos que começar a mudança em nós, de dentro pra fora. As pessoas normalmente pensam que a mudança deve partir do outro e assim esperam as coisas acontecerem, mas a realidade é que a mudança tem que partir de cada um de nós. Mahatma Gandhi já dizia: “ Seja a mudança que você quer ver no mundo”.

José Braz da Silveira Cadeira nº: 09

A ESCOLHIDA Em um pequeno vale que brotava das encostas mais íngremes da Cordilheira dos Andes, na Costa do Pacífico, vivia a civilização Grotas, assim chamada em razão da topografia atípica do lugar. Com a invasão constante dos europeus, da mesma forma que ocorreu com os Incas, os Maias e os Astecas, a civilização Grotas também foi literalmente saqueada e finalmente dizimada. Vigorava na nação grotense a Monarquia com apenas duas classes sociais, os nobres, que tinham tudo, e os que nada tinham. Antes das invasões dos europeus, entretanto, a civilização grotense viveu em paz por milhares de anos. Em determinada época, há muitos anos, uma grave doença atingiu a nação grotense, praga que acabou matando mais da me76

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tade da população, principalmente as crianças. A epidemia ficou conhecida como “Primavera Negra”, em razão de ter iniciado no mês de setembro daquele ano. Entre as poucas crianças que sobreviveram, destacavam-se o José Joaquim da Nóbrega, o Quinhão e Joaquim de Moraes, o Quinzinho, o primeiro pertencente à classe dos que tudo tinham e o segundo originário daqueles que nada possuíam. Sobreviveram tão poucas crianças que mesmo sendo de classes distintas, Quinhão e Quinzinho se tornaram grandes amigos. Evidentemente que nunca foi uma amizade inteiramente sincera, pois Quinhão sempre tentou impor a sua superioridade e Quinzinho negava-se a aceitar. A diferença física entre ambos também era muito grande, sendo Quinhão um garoto forte e corpulento e Quinzinho frágil e raquítico. Não raro, as brigas ocorriam e, invariavelmente, Quinzinho apanhava muito. Certa vez um velho viajante que passava pelo vilarejo, sentou-se na Praça para descansar e Quinzinho sentou-se ao seu lado para conversar e conhecer um pouco da vida daquele atípico homem. A barba caía-lhe ao peito e os cabelos amarrados na nuca camuflavam os enormes fios já esbranquiçados. Quinhão não quis participar da conversa, pois acreditava que nada de interessante aquele homem mal trajado teria para lhe ensinar ou mesmo para contar, mas ficou acompanhando a conversa a distância. Claro que ao observar o comportamento de Quinhão e de Quinzinho o velho já tirou evidentes conclusões. Antes de qualquer rodeiro, o velho forasteiro olhou fixo nos olhos do garoto e lhe perguntou com firmeza: Sabes como um fraquinho pode derrotar um fortão? E já emendou a resposta. Agindo como um louco. - Como assim, perguntou Quinzinho? Fortes ou fracos todos têm medo dos loucos, completou o viajante

misterioso. Em seguida, ajeitou com a mão esquerda o chapéu de couro surrado pelo tempo e com a direita acenou em despedida. Por muito tempo Quinzinho procurou entender o que aquele ancião quis lhe dizer naquele dia, sobretudo porque não haviam conversado antes e disparou aquela flecha sem que lhe tivesse perguntado nada. Como aquele estranho homem, impregnado com a poeira das estradas poderia lhe dirigir a palavra daquele jeito se não o conhecia e nada sabia sobre a sua vida? Precisava decifrar aquele enigma com muita calma e paciência. Em todas as ocasiões que era surrado e humilhado por Quinhão, Quinzinho recolhia-se ressentido e voltava a pensar no que aquele homem havia lhe falado. Sentia-se impotente diante da situação, mas alguma coisa teria que fazer, pois a agressividade do seu amigo folgado aumentava a cada dia. Tornaram-se adultos e agora as brigas já não eram como antes. Quinhão havia sido preparado para assumir o Reino de Grotas e Quinzinho, como bom súdito, precisaria se comportar e aceitar as ordens do futuro Monarca. A praga que se abateu sobre Grotas atingiu também a família real, sendo Quinhão o único filho do Rei Demóstenes da Nóbrega a permanecer vivo para ser empossado. O Rei Demóstenes já estava muito idoso e doente, mas mesmo assim estendeu o seu reinado o quanto pode para que seu filho ao menos alcançasse a maioridade. Vigia no Reino de Grotas uma lei muito antiga que assegurava ao Rei na época da sua posse, o direito de escolher a moça com a qual desejasse ficar. Ninguém jamais ousou questionar essa regra e ao que se sabe todos os Reis de Grotas haviam usufruído desse direito previsto em lei, quando acenderam ao trono dos da Nóbrega. Em determinado dia o mensageiro oficial do Reino de Grotas bateu à porta da casa de Romana, a primeira e única namora-

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da de Quinzinho. Trazia uma mensagem expressa de Quinhão, o novo Rei de Grotas. Deveria se preparar para ser conduzida ao Palácio imediatamente, pois tinha sido a escolhida do Rei. Nada mais honroso para uma donzela de Grotas do que ser a escolhida do Rei. Mas Romana não pensava como a maioria. Além disso, já havia jurado amor eterno a Quinzinho, com quem pretendia se casar em breve e com ele ter muitos filhos. Mas quem se atreveria a descumprir uma ordem do Rei de Grotas? Só um louco poderia imaginar um desfecho diferente para aquela história. Foi então que Quinzinho lembrou-se novamente da lição do velho caminhante e resolveu tentar mudar o rumo da história. Dirigiu-se imediatamente ao Palácio e desafiou Quinhão para um duelo. Quem saísse vitorioso desse duelo, ficaria com o coração de Romana. A atitude foi contestada por todos os graduados integrantes do Governo e principalmente pala família real que se sentiu desafiada. Que ousadia era aquela de um súdito qualquer para desafiar o Rei de Grotas? E onde estava escrito que a escolhida do Rei poderia ser disputada em um duelo? A lei era clara: a escolhida do Rei deveria ser trazida ao Palácio e posta a sua disposição e isto deveria ocorrer sem demora. A notícia se espalhou como um foguete em todo o território de Grotas e em poucos minutos a multidão curiosa e aflita rodeava o Palácio para acompanhar aquele desfecho histórico. Na extremidade sul da Praça em frente ao Palácio, Quinzinho apeou do seu cavalo e gritou a todos os pulmões: – Venha para a Praça Quinhão! Estou aqui esperando por você. Aquela altura, Romana já estava prestes a chegar, trazida pelos capachos do Rei, mas desta vez seria diferente. Nas internas do Castelo os funcionários incrédulos se aproximavam de Quinhão para esperar a sua decisão frente à inusitada

proposta. Aceitaria esse desafio absurdo e colocaria em risco a sua própria vida e a estabilidade do Reino de Grotas? Ou mandaria o seu exército resolver a situação na forma tradicional, acabando com a vida daquele impostor que ousava desafiar o Rei. Do lado de fora do Castelo o clima era de tensão e expectativas. A cada minuto que passava, mais gente chegava ao local. Até as pessoas de mais longe já começavam a chegar. Pelo que se observava ninguém ficaria em casa naquela tarde. O acontecimento havia mexido com os brios e ferido os sentimentos das famílias de Grotas. Já não se tinha como infalível a palavra do Rei. A “Lei da mulher escolhida” já poderia ser questionada. Ao menos isso Quinzinho já havia conseguido despertar no subconsciente daquele povo. Na casa de Romana o ritual de preparação já estava bem adiantado. Uma equipe de mulheres nobres assumia a tarefa de preparar a “escolhida” para o grande encontro. Todo o ritual de preparação acontecia na casa da moça. O imóvel era requisitado pelo Rei e cercado pelas forças de segurança do Reino, permanecendo na casa apenas a escolhida e a equipe de preparação. Os próprios familiares da moça eram obrigados a se retirar, sendo autorizados a retornar ao lar somente quando tudo terminasse. A preparação incluía a substituição de todas as roupas, começando pelas peças íntimas, calçados e joias. Tudo que pertencia à escolhida era recolhido e guardado. No seu retorno, depois de 10 dias, receberia um novo enxoval com roupas, joias e calçados novos, além de muitos presentes. Se preferisse ficar morando no Palácio teria um quarto exclusivo e passaria a receber salários, mas teria que trabalhar como os demais empregados. Na Praça em frente ao Palácio já não sobrava espaços para mais ninguém. A cavalaria real protegia o portão principal do

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Castelo. Ao lado de Quinzinho, que se posicionou em uma das extremidades da Praça com seu cavalo mouro, havia alguns cavaleiros sem armas ou escudos. Eram seus fieis amigos, mas sem nenhuma disposição para qualquer batalha. A multidão circundou a Praça de chão batido, mas reservou o centro para o grande enlace que por certo não tardaria a acontecer. Ninguém ousava bradar qualquer palavra de ordem ou mesmo falar com quem estivesse ao seu lado. O silêncio tomava conta da multidão, até que um sonoro murmúrio coletivo anunciava a chegada da carruagem que trazia a escolhida. Ao perceber a aproximação do cortejo, Quinzinho levantou a espada com sua mão direita e, assumindo o controle da cerimônia, ordenou que Quinhão fosse chamado e conduzido até a Praça. Ao sinal de clarinete, o grande portão do Castelo foi se abrindo lentamente. Ladeado por soldados fortemente armados e montado em seu belo cavalo negro, Quinhão avançou em direção à Praça e voltando-se para Quinzinho determinou: “Percebo que o meu amigo de infância ousa desafiar o Reino de Grotas e as suas leis milenares. Assim como as leis são escritas para serem cumpridas, a todos é dado o direito ao arrependimento. Antes de tomar a decisão que julgo ser a mais difícil da minha vida, quero oferecer ao meu amigo Quinzinho a oportunidade do arrependimento, com um pedido de desculpa formal em Praça pública, sem qualquer outro tipo de sanção ou conseqüência”. Mal terminou suas palavras, Quinzinho lhe respondeu no mesmo tom: “Nenhuma lei deve ser desrespeitada, mas toda lei injusta pode e deve ser revogada. Um Rei justo não pode conviver com leis injustas. A “Lei da Mulher Escolhida” pode e deve ser revogada pelo Rei de Grotas em respeito ao seu povo e principal-

mente as nossas famílias. Caso Vossa Majestade insista em fazer cumprir essa lei espúria, só o fará por cima do meu cadáver”. A carruagem com a bela Romana já havia se aproximado da Praça, mas a multidão obstruiu a sua passagem até que tudo se resolvesse. O sol já se escondia atrás dos morros, mas ainda se via o seu clarão com belos raios cintilantes. O confronto final já não se poderia evitar. Caberia ao desafiante o gesto inicial. Com sua espada em punho Quinzinho riscou as suas esporas na virilha de seu cavalo e partiu em direção ao seu algoz. Quinhão também fora criado e preparado para aquelas situações e não perdeu tempo. Juntou seu potro na espora e desbravou os céus com sua espada prateada. No centro da Praça os cavaleiros se encontraram em grande velocidade, sendo estridente o tinir das duas espadas, mas nesse primeiro golpe ninguém foi atingido. Mal conseguiram fazer parar as suas montarias e os contendores se voltaram em direções contrárias com suas espadas pontiagudas. Mais uma vez as atitudes de defesa prevaleceram, constatando-se apenas um corte sutil na coxa esquerda de Quinhão, atingido de raspão pela espada de Quinzinho. E assim, foram os contendores se digladiando com a plateia em completo silêncio e incontida aflição. Os próprios animais já davam sinais de fadiga e desatino. Foram mais de duas horas de lutas, golpes e contragolpes. A luz do sol de trás dos morros já não garantia claridade para assegurar lisura ao ato. Por fim, os cavalos de ambos os duelistas já corriam trôpegos em velocidade moderada. Os braços que empunhavam as respectivas espadas já não demonstravam total firmeza, como no início da peleia. Os próprios animais, quando iniciava a disparada final, cada qual de uma extremidade da Praça em direção ao cen-

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tro, pareciam já saber que aquele seria o último lance. Ninguém duvida que entre o homem e o seu cavalo existe uma relação sagrada e de absoluta empatia. Foi o que se pôde constatar naquele instante. Por muito tempo, depois daquele fatídico e histórico episódio, houve quem acreditasse piamente que Quinhão e Quinzinho, no auge da disputa, haviam selado um último acordo. De fato ficou essa impressão. Com as respectivas espadas apontadas um para o coração do outro, aparentemente despreocupados com atitudes de defesa, o que teria caracterizado o duelo até aquele momento, partiram para o último ataque, como quem já soubesse do resultado. Com os corpos transpassados, um pela espada do outro, caíram mortos os dois contendores. O Rei estava morto, assim como o seu rival. A comoção coletiva tomou conta da multidão. E agora? Quinhão não tinha um sucessor natural. Ainda não tinha filhos e seus irmãos haviam sido tragados pela chamada “Primavera Negra”. A célebre frase “Rei morto, Rei posto”, já não se poderia assegurar. Quem seria o novo Rei ou a nova Rainha de Grotas? A nação grotense não conhecia outra Forma de Governo, a não ser a Monarquia. Na concepção de Nicolau Maquiavel, o mago de Florença, um Príncipe, o comandante supremo de uma nação, precisava reunir duas características indispensáveis, “a virtude e a fortuna”. A virtude estava ligada à capacidade, o conhecimento, à habilidade do comandante. Já a fortuna não se relacionava à riqueza, mas sim à sorte, a oportunidade. Uma pessoa afortunada era uma pessoa com muita sorte. Alguém cujas oportunidades sempre lhes aparecem. Enquanto a Guarda de Honra recolhia os corpos, o cortejo oficial conduzia a carruagem com Romana para o centro da

Praça, já sem saber o que fazer. No subconsciente de cada uma das pessoas presentes uma decisão instantânea e espontânea foi se formatando. Uma voz forte e estridente ecoou da multidão como um cântico sagrado. O nome de Romana parece ter sido tatuado no coração e na alma de cada um dos que se faziam presentes. Roommannaa, Raaiinhaa. O cântico se repetiu diversas vezes e cada vez mais forte. E assim foi instalado um novo reinado, sob o comando da Rainha Romana de Castro Monteiro que por certo revogaria a Lei da Mulher Escolhida no seu primeiro ato.

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Nota: O conto que você acaba de ler foi premiado em primeiro lugar no 26º Concurso Internacional 2017 promovido pela ALPAS XXI. José Braz da Silveira: Breve Currículo Advogado, Mestre em Ciências Jurídicas pela UNIVALI e Especialista em Políticas Públicas pela UDESC. Ocupou algumas funções públicas de Consultoria, Direção e Gerência no Governo do Estado de Santa Catarina, entre as quais, Consultor Jurídico da Secretaria de Estado da Administração e Coordenador do Programa de Proteção a Testemunha. Foi Secretário Municipal de Educação de Biguaçu, quando implantou o Programa Educação Cidadã, com excelentes resultados. Tem oito livros publicados e mais seis em co-autoria. Foi também professor colaborador da UNIVALI, Diretor Cultural da Rádio Biguaçu FM, Presidente da Federação das Rádios Comunitárias e Educativas e Presidente da ASSOTEM – Associação dos Ocupantes dos Terrenos de Marinha em Santa Catarina. Membro da Academia de Letras de Biguaçu e de Governador Celso Ramos, Coordenador do MSB – Movimento Solidariedade do Brasil, além de figurar como sócio


colaborador de outras entidades não governamentais em nosso Estado. Inconformado com as mazelas da política no Brasil, mas consciente de que os homens de bem não devem se omitir, exerceu o mandato de vereador em Biguaçu nas legislaturas 1989/92, 1993/96, 2009/2012 e 2013/2016. Atua ainda como conferencista na sua área de conhecimento.

Janice Marés Volpato Cadeira nº: 10

ENTRE PORTAS E JANELAS A VIDA A porta que se abre para o milagre da vida é a porta que dá entrada ao maior mistério que existe, e só a Deus pertence. E acontece no momento da vitória do espermatozóide que vence a grande corrida para fecundar o óvulo. A partir do momento da fecundação, portas e janelas se abrem para a comunicação mais intima e sublime que existente entre a mãe e a criança. Por meio da comunicação telepática, a criança, na vida intra-uterina, inicia também o processo de desenvolvimento mental, emocional, de aprendizado, é a energia divina operando em harmoniosa evolução. 86

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“Por muito mais de um século, pesquisadores, psicanalistas e parapsicólogos foram tateando pela escuridão desse misterioso mundo da vida intra-uterina, questionando sua importância em relação à formação, ao desenvolvimento e à estrutura da personalidade do futuro cidadão”. Grisa. Pg. 156, 2004. “O Jogo e a Estrutura das Personalidades”. Pedro Antonio Grisa, o Pai da Parapsicologia Científica Catarinense, foi professor de psicologia, sociologia, letras neolatinas e literatura. Como cientista dedicou a maior parte de sua vida nos estudos e nas pesquisas direcionadas ao ser humano, mais precisamente nas potencialidades da mente humana, na busca do saber como a mente funciona para ser usada em beneficio próprio e de outras pessoas. No dia 9 de junho de 2017 abriu-se a porta do céu e ele mudou a maneira de viver, como ele costumava falar: “Ninguém morre, apenas muda o modo de viver”. Deixou um legado valioso para a humanidade. Suas pesquisas e descobertas abriram portas e janelas para o bem estar do ser humano, mostrando um novo mundo, até então desconhecido por muitos. Grisa idealizou a metodologia que proporciona ao ser humano o autoconhecimento. E como conseqüência a pessoa obtém a libertação da alma e as conquistas dos objetivos. Por meio dos conhecimentos obtidos com a metodologia desenvolvida por ele, a partir da vida intra-uterina, e do ser humano como um todo, é possível uma grande transformação para melhorar a qualidade de vida. Entre as constatações de Grisa, destaca-se a maior, quando ele desvenda o mistério da relação principal, a comunicação telepática entre mãe e filho. As portas e as janelas da mente da criança ficam abertas para a livre e constante comunicação.

O feto mantém a porta da mente aberta, e fica recebendo informações que podem vir por varias formas, positivas ou negativas, construtivas ou destrutivas. Seja por meio dos sentimentos e das emoções geradas pela mãe, como por pensamentos e palavras que também influenciam. E ainda, por meio da imaginação e todas as situações vivenciadas por ela. A mãe sábia, e ciente da responsabilidade em emitir mensagens, usará a melhor forma possível para que seu filho receba as informações mais perfeitas, para que tenha qualidade de vida plena. Ela vai procurar direcionar o pensamento ideal para cada momento ou finalidade. Tudo o que a mãe pensa e vivencia, a criança vai captando e também sentindo as emoções, sejam de medo ou de segurança de tristeza ou de alegria. E a personalidade da criança vai sendo construída. E na maioria das vezes, sem que ambas se dêem conta ou sequer saibam. Conforme Grisa, pg.157: “Surpreendente e revolucionaria é a constatação de que determinadas programações de vida intra-uterina vão definir acontecimentos na vida do individuo. É a evidência objetiva e pratica de que o subconsciente move a realidade”. Significa que a criança, enquanto esta recebendo as informações, por meio das emoções e mensagens telepáticas da mãe, está programando a mente e vai registrando cada situação, criando a sua realidade. As quais também podem ser reprogramadas quando necessário, e apenas por meio de três métodos, segundo Grisa: “Compreensão, repetição e imaginação”. Assim, vai Mudando a realidade, das programações negativas para positivas. Essas informações podem ser conferidas na obra mais importante do Autor: “O Jogo e a Estrutura das Personalidades”. É valiosa e é indicada para leitura à todas as pessoas que recebem orientações por meio da metodologia da parapsicologia cientifica Sistema

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Grisa, e também para quem quer se conhecer melhor e conhecer a personalidade das pessoas com quem convive. Assim como as portas e janelas se abrem para todos, elas também se fecham no decorrer da vida. Isso se aprende desde o tempo da vida em desenvolvimento, seja intra-uterina ou até a fase adulta, mas sempre é possível aprimorar o aprendizado. A porta que se abre para a vida no momento do nascimento é considerada a porta da grande vitoria, é uma riqueza imensurável, pois depois do período da gestação a criança nasce para a vida, é vitoriosa, tornando-se independente da ligação direta com a mãe, pelo cordão umbilical. O momento do nascimento também é decisivo para marcar as características da personalidade de cada criança. Pois, conforme for o tipo do parto, seja normal ou com dificuldade, se a criança nasceu prematura ou por cesárea programada, ou por uma necessidade da mãe que teve que fazer uma cesárea de emergência, ou ainda, se a criança precisou de ajuda para nascer. Enfim, são as várias situações que vão gerar as manifestações de segurança ou insegurança, de sucesso ou de fracasso, bem como, dificuldades ou facilidades frente à vida. As portas que se travam na mente humana, por conseqüência de traumas vividos no período da vida intra-uterina, no momento do nascimento, ou por outras situações, não significa que a pessoa tenha que viver travada e em conflito emocional até o fim da vida. Para tanto, existe orientação específica para a que a pessoa possa compreender os traumas, decepções e mágoas, enfim, para que abra a porta do coração e mude a realidade que tanto causa prejuízo, mas para que possa resolver e eliminar o que incomoda para que possa viver em equilíbrio, harmonia e feliz.

Ao se deparar com alguma porta fechada, não se deve entrar em desespero, o correto é usar a chave secreta da porta interior para encontrar as repostas. Se não conseguir sozinho, existe ajuda para encontrar. Permitir que o ar entre renovado por essa porta valiosa ao respirar bem fundo, e soltar o ar bem devagar, proporciona uma tranqüilidade e maior segurança para resolver as situações que deseja. É o tempo que se dá para pensar antes de agir ou reagir sem querer diante de qualquer situação, É muito gratificante usar a imaginação ao respirar a vida, a saúde e a alegria, e assoprar mandando para longe tudo o que incomoda, desde sofrimentos, decepções, tristezas, amarguras, inseguranças, traumas e medos. São técnicas simples que se bem usadas vão mudar a realidade de vida para muito melhor. Principalmente ao abrir a porta do coração e selecionar os pensamentos com cautela, escolher o que quer deixar entrar, o que quer manter, o que quer mandar embora, pois a escolha é livre, por isso é bom aproveitar o que tem de melhor. Plantar boas sementes para colher os melhores frutos porque a vida recebe o que dá. Parece simples? E realmente é, precisa apenas obter conhecimentos sobre como funciona a Mente Humana para que consiga realizar o que almeja. A Mente Humana possui duas funções que são conhecidas por: Função Consciente e Função Subconsciente. Pode ser feita uma analogia ao comparar com um computador. Cada uma dessas funções possui portas de entrada das informações, assim como o computador possui portas para a entrada de dados. A atenção é a chave principal da porta da Função Consciente. A pessoa precisa estar sempre bem atenta para aprender e

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para fazer as melhores escolhas para a vida. Para que a pessoa possa ter e manter o controle emocional equilibrado e em harmonia é necessário somente deixar entrar por essa porta, os pensamentos focados em situações positivas. A Função Subconsciente registra tudo o que acontece com a pessoa. Sua porta fica sempre aberta e vai recebendo e registrando as informações como verdadeiras, sem questionar se são corretas ou não. E se a porta da Função Consciente não selecionar o que vai deixar entrar para o Subconsciente registrar, que é sua função, ele vai agir e reagir de forma mecânica e automática. Por isso é importante manter porta da Função Consciente da Mente no controle das informações que passam pela porta que dá o acesso a Função Subconsciente da Mente. É importante conhecer muito bem como funciona a Mente Humana, para não se deixar levar pelos impulsos atrapalhados do subconsciente e acabar agindo sem querer. Conforme Grisa, para não precisar repetir e repetir a frase: “Desculpe foi sem querer”. Ou ainda, “Eu prometo que não faço mais”. Mas, é o que acontece. Pois, cada ação gera uma reação. E da ação ou reação errada, pode restar apenas o arrependimento, muitas vezes até sem solução. Felizmente a procura pela porta que conduz ao esclarecimento sobre as potencialidades da Mente Humana tem evoluído muito. O beneficio que o aprendizado proporciona são as respostas para as situações que muitas vezes parece impossível de solucionar. Cada pessoa possui a chave da porta mais poderosa que existe, e pode fazer o uso correto, com assiduidade, mantendo o controle do Subconsciente sob a Função do Consciente. A Função Consciente só funciona quando a pessoa está realmente prestando ATENÇÃO. E essa é a palavra que representa

tudo na vida do aluno, pois ele só aprende quando está prestando atenção. É na realidade a porta que se abre para o segredo do sucesso escolar. Mas, muitas pessoas lacram essa porta, a ponto de se prejudicar em várias situações. A porta da atenção é simples e muito fácil de abrir, pois não tem chave, está à disposição, mas não é aproveitada como deveria. Assim como a porta da atenção é a que direciona aos melhores caminhos, por meio do aprendizado, existe a pior porta, a da indisciplina, que deveria ser lacrada, pois ela destrói qualquer expectativa em relação ao estudo, ou atividade. A porta da indisciplina vibra escancarada nas salas de aula. E as conseqüências são as notas baixas, mostrando a qualidade do aprendizado já comprometido. Muitos alunos culpam os professores pelo fracasso escolar. E os professores se empenham em criatividade para atrair a atenção dos mesmos. Sem serem correspondidos, muitos professores desanimam com a falta de interesse dos alunos, situação que pode levar ao esgotamento, a estafa e a depressão. A tecnologia foi se infiltrando sutilmente nas salas de aula. Essa porta favorece quando bem utilizada, principalmente para pesquisas, mas, atrapalha quando é usada de forma incorreta. E, até o celular desperta o maior interesse e os alunos se distraem quando o usam em sala de aula, ou na hora de estudar. Nos dias atuais, a janela mais atrativa e valiosa que existe é a tecnológica, do Windows a todos os programas, pois abrem e fecham portas, para entrada e saída de dados. A tecnologia tem mostrado portas e janelas que eram consideradas tão secretas, que a população brasileira jamais imaginou que existisse uma situação assim. Dessas portas jorram milhões, bilhões e trilhões de reais que movem a corrupção. E não tem Es-

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tado, município ou lugares que não sejam atingidos direta ou indiretamente por essa contagiosa manipulação. O lado bom é que tudo, agora pode ser visto por todos, pois vai sendo mostrado por intermédio dos meios de comunicação. E só resta esperar que a justiça seja feita rigorosamente. Muitas pessoas ainda não estão preparadas para usarem a fantástica tecnologia e nem o potencial mental que possuem. Em tempo veloz são lançadas novidades tecnológicas, que a maioria nem percebe e nem consegue usar tantos recursos que aparelhos, de micro a macro oferecem. A preocupação maior é no desenvolvimento das tecnologias. E mentalmente deixam a desejar, pois os recursos sobre o uso das potencialidades mentais ainda são pouco explorados. A máquina desafia o homem levando-o cada vez mais ao progresso. Mas, o homem ainda é muito limitado no desenvolvimento mental. Essa inversão de valores é percebida em todos os lugares. As portas e as janelas que são realmente valiosas enferrujam com o passar do tempo, por falta de uso. Enquanto outras vão sendo abertas, muitas vezes de forma indevida. Sem pedir licença, são invadidas, arrombadas e transformam a vida das pessoas. É o preço que se paga ao perder a privacidade. Entre milhares e milhares de portas e janelas de todos os lugares e lares, a que é mais importante para manter sempre aberta é a porta do coração, da felicidade. Mas, como conseguir isso se a maioria só se sente feliz quando consegue ter suas necessidades atendidas? Conflitos emocionais sejam pessoais, familiares ou sociais, vivenciados por muitas pessoas, gerados pela justificativa da porta da “atual crise”, têm levado a busca de ajuda terapêutica, para so94

lução de tudo. Querendo solução tão rápida quanto à tecnológica. Apesar da mente humana ser superior a tecnologia, porque não existe máquina que a supere, mas, ela não consegue resolver problemas emocionais apenas apertando teclas. Sem contar, que as crianças também já manifestam ansiedade. Segundo Grisa: “Ansiedade é a pressa em obter um resultado quando se tem medo ou dúvida de que vai alcançá-lo” É a definição mais objetiva para compreender a forma de manifestação que afeta muitas pessoas. É a porta do sistema emocional agindo, porque se mantém aberta para as situações, sejam positivas ou negativas, mas que tem gerado muita aflição. Terapias abrem muitas portas sim, mas precisa querer mesmo abrir a porta do coração. Ultrapassar para fazer valer. Porque não é toda a pessoa que abre a sua porta secreta, onde guarda tudo com sete chaves, que vai conseguir mudar, que vai conseguir melhorar. É preciso ter disciplina para fazer o uso correto da mente e usar todo o potencial a seu favor. É preciso compreender o fato gerador do conflito e desenvolver as técnicas da metodologia com eficiência. Só assim, estará abrindo a porta da felicidade, no relacionamento pessoal, familiar, social e profissional. Deus abre os caminhos que conduzem às portas mais preciosas que existe, por isso é importante usar a mente com sabedoria, abrir a porta do coração e deixar as energias boas fluírem, deixar o amor vibrar. REFERÊNCIA GRISA, Pedro A. O jogo e a estrutura das personalidades. Florianópolis: EDIPAPPI, 2004.

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William Wollinger Brenuvida Cadeira nº: 11

William Wollinger Brenuvida. Patrono Juvêncio Araújo Figueiredo. Jornalista. Mestrando em Ciência da Linguagem (Unisul). Graduado em Comunicação Social – Jornalismo (Estácio de Sá). Especialista em Direito Processual Penal e Bacharel em Direito (Univali). Secretário da Academia de Letras de Biguaçu/SC. Membro da Casa dos Açores, e do Instituto de Genealogia Catarinense (Ingesc). Delegado na 1ª Conferência Nacional da Cultura, Brasília-DF, 2005. Publicou: “O Menino e as estrelas” (2003), “Luz Lembrada (Jyoti) (2007)”, e “7 contos da resistência (2012)”. Participou de antologias de prosa e poesia. acangatu@gmail.com – ganxos.mar@gmail.com

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Em cada detalhe… Ganchos, inverno de 2017 Aprecio detalhes. O entalhe na madeira. A nervura da folha. O cirro tênue. O dorso serpentiforme do mar. O vento sul. Um acorde que ressoa esquecido, ricocheteando na parede da memória. Sim, nos acerta. A camada de tinta que faz novo traço na tela, deixa-a sem sentido. Amamos rostos, expressões, aromas que não entendemos. Aquilo que olhamos, nos olha4, nos preenche, nos inunda, inquieta. Ao olharmos, essa coisa ainda sem nome, disforme, nos olha de volta sem que a entendamos – vamos (tentar) entender depois – se dela gostamos ou não. Há algo tão belo nas celhas delineadas de uma rapariga, quanto há nas matas que protegem as ribeiras, que adornam cimalhas,entre portas e janelas. Cimalha5 é a parte superior do friso, da cornija. Saliência. É como se a abertura ou parte outra da arquitetura recebesse uma moldura. É quase uma platibanda, porém mais tênue. Com o tempo, as casas recentes ou as antigas reformadas perdem as cimalhas. E isso se deve mais ao custo em se manter uma edificação, do que pela falta de tato das comunidades. Conheço quem não gostaria de mudar o estilo, mas se vê obrigado pelos custos da obra, pelas reformas iminentes, pela ausência total ou parcial dos poderes públicos que não dispõem de políticas públicas para conservação e preservação do patrimônio cultural. Com a eco4 DIDI-HUBERMANN, Georges. O que vemos, o que nos olha. São Paulo: Editora 3A, 1998. 5 Deriva do termocima, do grego kyma, latim cyma. A parte mais elevada. Cume, cimo, topo, cimeira. Plural: cimas. Antropônimo(nome de batismo)Simas, com ocorrência no Arquipélago dos Açores (Ilhas Terceira e do Pico.Há lugarejo ao norte de Lisboa com tal nome).

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nomia de gestos, recursos, olhares atentos, quem vence é a monotonia das linhas retas, chatas e moribundas. Não é obrigatório ser arquiteto para se gostar de arquitetura. Mas é urgente fugir ao arquétipo, ao uniforme da linha de produção industrial.

Quintana, em “A porta”, diz: “Quem atravessa a porta da única parede de uma casa em ruínas é como se passasse para o Outro Mundo”. Assim, eu me sinto na Fortaleza de Santa Cruz do Anhatomirim. Travessia e metáfora. Metáfora que em grego, significa transferência6, e não apenas figura de linguagem. Há deslocamento de quem escreve porque ao passo que observa, também analisa, se afasta, e vai além: atravessa. Não há nada de transcendente, apesar de jogarmos, insistentemente, com o real: da língua e da história. Atravessar para outro tempo é ser contemporâneo:

outro mundo, outro tempo, nesse tempo. No coração de Anha A partir do final de década de 1970, a Ilha do Anhatomirim recebeu um ancoradouro em forma de trapiche, permitindo que barcos de maior calado ali aportem. Antes desse período havia apenas pequeno escaler, que soma poucos degraus esculpidos na rocha, na Praia do Porto, e que tem acabamento em Lioz8. As embarcações maiores do período colonial ficavam ancoradas na Baía de São Miguel ou mais próximas à enseada da Armação. Somente barcos menores atracavam no escaler da Ilha. Defronte à Praia do Porto observamos um antigo paiol ou casa de víveres que hoje abriga uma lanchonete. Também, há uma escadaria de Lioz e a portada da fortaleza. Quase tudo, com exceção da portada e algumas construções, estava em ruínas, sem qualquer zelo por parte da Marinha do Brasil, quando a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) colocou em prática o Projeto Fortalezas, em 1979. Interessa a esse relato citar detalhes da Fortaleza que me são caros: a portada; a bateria baixa; o frontispício da capela; e as vigias. Tudo mais é fascinante, mas é preciso que o leitor tome parte no cenário, realizando descobertas, em cada detalhe, cada visita. Deixando a Praia do Porto nós subimos as escadarias de Lioz. O Lioz era trazido nos lastros dos navios para servir de contrapeso, e depois eram escambados ou vendidos para se obter madeira de lei, ouro e prata. O uso do Lioz não se deve apenas a sua 7

6 ORLANDI, Eni. Análise de discurso: princípios & procedimentos. 12. ed. Campinas-SP: Pontes, 2015.

7 Anhatomirim, palavra indígena, com base no tronco lingüístico tupi-guarani. Lê-se de trás para frente: Mirim (pequena), to (toca), Anha (diabo). Pequena toca do diabo, porém, não deve ser lida como algo pejorativo. Cabem interpretações, principalmente pelo uso do nheengatu. 8 Lioz é um tipo raro de calcário que ocorre em Portugal, nos arredores de Lisboa.

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beleza ornamental. O Lioz é praticamente antiderrapante. Em dias ou noites de chuva, se por necessidade ou urgência, um soldado tivesse que descer correndo os degraus dificilmente se acidentaria. Quanto a portada da fortaleza, cabe especial e dedicado olhar. Ela é única. Não há igual. Por sugestão minha, o portal de Governador Celso Ramos, na rodovia municipalizada Francisco Wollinger, foi construído inspirado na portada da Ilha do Anhatomirim.

Vigias ou guaritas, com as seteiras envoltas em uma cimalha retangular. Teto em forma de abóboda.

Faltou, evidentemente, cuidados na execução do projeto, mas foi um avanço na preservação da memória. Pagoda ou pagode chinês é o estilo de construção oriental que nós vemos na 100

portada do Anhatomirim. É um monumento imponente, seja pela localização estratégica, seja ela pelos elementos arquitetônicos. Possui duas vigias, em cada banda, devidamente desenhadas com as seteiras9. Caiada de branco, supostamente foi edificada a partir e tijuco10, óleo de baleia11, cal e areia. As cimalhas dessa portada adornam a entrada principal, em pedra, destoando de toda obra caiada em branco. As duas torres que dão uma aparência de pagode oriental são simetricamente riscadas na horizontal, sendo que de baixo para cima nós observamos quatro saliências também simétricas que dão beleza ímpar à obra. O vão central tem um teto mais arredondado, quase uma abóboda. Quem chega ao vão central tem ao seu dispor duas belas paisagens: parte da enseada da Caieira do Norte em uma extremidade; e a Ilha do Arvoredo no outro extremo. Foi projetada para estar ali, naquele espaço e não em outro lugar. O detalhe que mais me impressiona é um relato que ouvi, certa vez, de um pesquisador atento. Sem que possamos comprovar a autoria do relato, porém, observando o gesto empregado por Silva Paes na construção da obra, temos que ela foi edificada para além de uma estratégia militar, ou mesmo por um capricho de seu comandante em chefe. O primeiro gancheiro 9 Abertura longa e estreita em uma muralha, por onde se atiram setas contra os sitiantes; abocadura; flecheira; frecheira. Fresta nas paredes dum edifício para iluminar o interior. 10 Palavra tupi-guarani que deriva de tyuco, significa barro preto ou lama. O tijuco, essencial na argamassa rudimentar, dava liga às amarrações das construções. Argila. 11 O óleo, azeite, ou espermacete, era um líquido viscoso extraído do crânio do cachalote ou cacharréu (Physetercatodon ou Physetermacrocephalus, Lineu 1758). O cachalote pode atingir 15 metros de comprimento, 57 toneladas, vivendo até os 70 anos. No passado, essa espécie media até 28 metros, pesando 150 toneladas – a redução de tamanho se deve à caça. Única criatura que mergulha mais que 2 mil metros (o óleo protege o crânio do superaquecimento). Foram mortos na Armação da Piedade (Gov. Celso Ramos) mais de 3 mil indivíduos. A Armação foi a primeira indústria do Sul do Brasil, e exportava o óleo para Boston, Lisboa, Londres, também Nova Iorque e Rio de Janeiro.

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ilustre, Silva Paes, mandou edificar aquela obra por amor. O primeiro governador da capitania catarinense, que coloca Ganchos12 como lugar de importância na história oficial brasileira, deixou no Oriente, em Macau, uma amante por quem era apaixonado. Portugal permaneceu em Macau por 400 anos, e no período colonial houve constante troca e aprendizado. O estilo da portada é oriental, já o motivo foi a saudade de Silva Paes para com a amante. Um dos monumentos mais belos já construídos. Para o engenheiro da UFSC, Roberto Tonera, um dos monumentos mais significativos da fortaleza de Santa Cruz são as vigias ou guaritas. Verdadeiras sentinelas, são belíssimas. Chama atenção como estão dispostas, construídas em parapeitos de pedras, lançadas ao oceano. Parecem suspensas ao ar. Cilíndricas, formando pequenas abóbodas, elas foram erigidas nos vértices da fortaleza. As vigias encarnam o espírito de alerta, em posto avançado, notadamente em uma ilha13·. A capitania de Santa Catarina projeto militar para exercer domínio no Brasil Meridional era o último bom porto, como afirmavam os franceses, antes da Colônia do Sacramento (hoje Uruguai). Portugueses e espanhóis lutaram palmo a palmo, pela hegemonia e domínio do Brasil Meridional, 12 O nome Ganchos ou Ganxos pode ter origem ibérica relacionada aos navegadores da Catalunha. Navegadores espanhóis sempre visitaram a região centro-leste catarinense, desde as primeiras expedições no século XVI. O mapa mais antigo que estudamos, e que, aponta alguma referência a Ganchos, é datado de 1776. Este mapa português menciona a esquadra do Almirante Robert MacDouall (1730-1816) que serviu à Marinha da Inglaterra de 1759 até 1816. Macdoaull serviu a marinha no Sul do Brasil entre 1774 e 1777, tendo entrado para história como o militar que deixou de enfrentar a esquadra do General Cevallos, vice-rei do Prata, em 1777. Os castelhanos somente saíram de Santa Catarina em 1778, quando Portugal entregou aos castelhanos a Colônia do Sacramento. 13 A palavra ilha, deriva do latim insula, e que os italianos denominam isola, é per si, um entendimento de algo isolado, ao mesmo tempo separado e independente, ao passo que está periférico, longe da porção continental.

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resguardando interesses das metrópoles. As fortalezas envolviam um arquitetado plano militar que serviu também ao planejamento urbanístico. É pensar, por exemplo, a planta urbanística do bairro da Praça, em Tijucas - SC. Como menciona Tonera e Oliveira (2015), “O oficial do exército colonial era pinçado na tropa, entre os mais capazes intelectualmente e mais habilidosos nas artes do desenho, geralmente oriundos dos colégios jesuítas, que, muitas vezes, ministravam noções de fortificação e defesa das cidades e dos territórios.”. As fortalezas e o povoamento por colonos açorianos e madeirenses revela preocupação da Coroa Portuguesa no Sul do Brasil com a finalidade de manter o domínio sobre a Colônia do Sacramento, e consolidar o comércio sobre o azeite ou óleo da baleia. Os casais açorianos e madeirenses, notadamente lavradores em nossa região até mesmo após 1850 serviram aos propósitos militares14, antes, durante e após a hegemonia da Coroa Portuguesa. A ausência de um espírito empreendedor ou mesmo de zelo pelas questões culturais em nossa região se deve ao fato do povo estar subjugado ao um poder militar que castrou a criatividade e autonomia da população. Boa parte da população foi inserida num contexto semifeudal, muitos foram instalados em pântanos úmidos, insalubres e sem produtividade, sendo lançados à caça às baleias. Sem contar, que mais da metade da produção de uma pequena propriedade rural desses colonos era dada em pagamento (ou auxílio) aos militares do exército da Coroa ou formado por mercenários europeus. Outro aspecto pouco mencionado na lite14 Ver livro de matrículas dos alistados para Guarda Nacional de 1864, assinado pelo Major Antonio de Souza e Cunha. Inscrito sob o número 321, no 23º Quarteirão de alistados, aos 57 anos de idade, João Simão Alves (1811-1864), meu tetravô, era lavrador.

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ratura histórica era o constante comércio ilegal de escravos branco e negros. Se os filhos dos casais de açorianos eram roubados ou furtados pelos navios ingleses, os negros que aqui chegavam, quase ou nunca eram registrados ou sequer tinham condições do computo ao cálculo da alforria. Se a escravidão já é uma estupidez, independente da cútis ou condição socioeconômica, pior é quando as regras são ausentes. Os açorianos e africanos, que formam, em nossa região uma cultura de base açórico-africana, foram lançados à caça da baleia, se rebelaram juntos na primeira greve geral do Sul do Brasil, em 30 de julho de 1784, formaram famílias num processo de miscigenação que poucos ousam escrever. Essa gente que forma, ao lado dos indígenas e de outras etnias europeias um mosaico etnocultural foi massacrada pela fome e pela violência institucional para que a Coroa Portuguesa protegesse os interesses dos ingleses no comércio do óleo da baleia. Portugal dependia da proteção da marinha inglesa, fazendo assim valer uma aliança entre as duas coroas que perdurava desde o ano de 1373. Assim, os ingleses exploravam e lucravam com o negócio do óleo da baleia, e a Coroa Portuguesa tinha tempo para amenizar os ânimos da Espanha na região. É uma questão tão complexa, mas fascinante se pensarmos que se os castelhanos (leia-se espanhóis) não tivessem conquistado a Ilha de Santa Catarina e porção continental, desmontando e repartindo a Armação da Piedade em pequenas outras indústrias ao longo do litoral, e se o plano de recuo do Brigadeiro Silva Paes, em transformar São Miguel da Terra Firme em capital da capitania catarinense tivesse surtido efeito, hoje o Uruguai pertenceria ao Brasil. Silva Paes tinha, em si, o pensamento militar de sua época, atendendo aos propósitos da Coroa Portuguesa, de outra forma, sem a presença de Silva Paes por uma década na Ilha do Anhatomirim, mapas, estudos, construções e

projetos arquitetônicos executados nas décadas seguintes nunca existiram nessa porção do Brasil Meridional. Deixei para o final, duas outras observações. Vou começar pela passagem à bateria baixa da Fortaleza de Santa Cruz. É um dos pontos mais bonitos da Ilha. A Ilha do Arvoredo em frente nos mostra como a natureza é fascinante, alinhando as duas ilhas, em pontos eqüidistantes. Isso se a perspectiva for do oceano, e com um olhar mais atento, vamos ver parte das praias da Daniela, de Canasvieiras, e do Forte, esta última com dois monumentos importantes: a Fortaleza de São José, e a Bateria de São Caetano. Também, a Ponte Hercílio Luz entre as ilhas de Ratones Grande e Ratones Pequeno, com a Fortaleza de Santo Antônio. Mas, se voltarmos nosso olhar para o interior da Ilha, lá vai estar o Quartel da Tropa, a masmorra, as vigias, também as canhoneiras. Há um detalhe que passa despercebido de muita gente, e que, para mim, tem um valor todo especial: a cimalha do túnel, adornada em estilo igualmente oriental. Quem projetou aquela passagem poderia tê-la feito rusticamente, sem qualquer detalhe. Ora, o teto é curvilíneo e as paredes espessas dão conta de algumas toneladas de terra acima do teto. Há uma claraboia posicionada de modo que a luz adentre ao local mesmo em noites escuras. Mas, àquela cimalha lanço meu olhar sempre que lá retorno. Imagine que um navio inimigo poderia fraturá-la em pedaços com saraivadas. O projetista, mesmo assim, desafiou essa condição. Saber que ela está lá há mais de 200 anos é fascinante. Cada qual tem paisagem ou detalhe preferido em Anhatomirim. Não há sinos na Ilha. Nunca questionei se mesmo houve. Penso que sim. Imagino, sem qualquer documento que me ampare. No século XIX, a Marinha do Brasil decidiu construir nova casa do comandante, e isso deve ter ocorrido entre 1878 e 1895.

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Duvido muito que esse fato tenha ocorrido antes do golpe militar republicano de 1889, e por uma questão óbvia: havia respeito às instituições religiosas. O que tem isso com o assunto? Ora, havia uma capela no lugar onde projetaram a nova Casa do Comandante. Capela tão antiga quanto a Igreja de Nossa Senhora da Piedade, edificada na Praia da Armação Grande das Baleias a partir de 1739, e benta em janeiro de 1745. Sob o pensamento positivista de Augusto Comte, uma nova ordem era estabelecida. Penso eu que aquilo que a Europa viveria sob o nazi fascismo nas décadas de 30 e 40, do século XX, sob a égide de um pensamento de beleza, pureza e ordem, tenha nascido com as linhas retas da “ordem e progresso” positivista que enterrou parte significativa da arte que floresceu por séculos. Um movimento artístico nunca vem separado do político, e qualquer arquitetura da destruição serve para apagar detalhes, fazendo valer, pela força, nova ordem que desconsidere a historicidade. Das ruínas da antiga capela, destruída por um mata-borrão das linhas retas de um militar, restou parte do frontispício que se observa defronte as duas casas do comandante; e uma bela cimalha que adorna a porta corta-fogo, no novo paiol de pólvora, e que, já serviu de aquário na década de 1990. Essa cimalha, moldura ali preservada é feita de Lioz. Para mim, um dos monumentos mais belos daquele período, mas que um tanto esquecido nas decisões de administradores, que passam desapercebidos, entre cimalhas, portas e janelas.

ro: Jorge Zahar Ed., 1998. BRENUVIDA, William Wollinger. GANCHOS/SC: a mudança na denominação do município e o reflexo sobre a memória e o patrimônio histórico. Artigo e palestra. Florianópolis: UFSC, 2015. DIDI-HUBERMANN, Georges. O que vemos, o que nos olha. São Paulo: Editora 3A, 1998. ELLIS, Myriam. A baleia no Brasil colonial. Edições Melhoramentos. Editora da Universidade de São Paulo, 1969. HOLANDA FERREIRA, Aurélio Buarque de. Novo dicionário da Língua Portuguesa. 1. ed. 15. impressão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, [198-] ORLANDI, Eni. Análise de discurso: princípios & procedimentos. 12. ed. Campinas-SP: Pontes, 2015. PALAZZO JUNIOR, José Truda. BOTH, Maria do Carmo. Guia dos mamíferos marítimos do Brasil. Porto Alegre: Sagra, 1988. SILVA, Célia Maria e. Ganchos/SC: ascensão e decadência da pequena produção mercantil pesqueira. Florianópolis: Editora da UFSC, 1992. TONERA&OLIVEIRA. As defesas da Ilha de Santa Catarina e do Rio Grande de São Pedro em 1786. Florianópolis: Editora da UFSC, 2015. Legendas das fotos: Foto 1 - Frontispício da Capela de Santa Cruz, Anhatomirim. Foto 2 - Escadaria de Lioz e Portada da Fortaleza de Santa Cruz do Anhatomirim. Foto 3 - Vigias ou guaritas, com as seteiras envoltas em uma cimalha retangular. Teto em forma de abóboda.

Bibliografia BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janei-

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Angela Regina Heinzen Amin Helou Cadeira nº: 12

As mil vidas de uma casa... Renovar a casa, a memória, o tempo. Uma casa conta uma história de uma cidade, de uma família, de várias vidas que passaram por ali. Morei com meus pais na nossa casa em Indaial até meus 18 anos. Eles a construíram com muita dedicação e capricho. O projeto foi idealizado por um arquiteto alemão, que residia em Blumenau. A construção ficou sob a responsabilidade de seu Calixto Schlögel. Acompanhei a construção com a percepção de que se estava realizando um sonho. A dedicação e o capricho sempre foram marcas das atitudes dos meus pais. Somos nove irmãos; minha mãe diretora concursada de escola pública estadual, e o pai trabalhador na Tecelagem e Ma108

lharia Indaial. O que pudemos verificar durante nossa infância era a parceria deles na distribuição das responsabilidades da casa. Durante os dias úteis da semana, a mãe fazia o almoço e o pai ajudava a servir os filhos. O tempo para almoço era curto; tínhamos que comer rápido, ajudar a arrumar a cozinha para que eles retornassem para o trabalho. Pela ausência do pai e a mãe durante o dia, nossa casa era o ponto de encontro dos amigos. Tivemos um período de convivência com dois primos que tiveram paralisia infantil e moraram conosco para fazer o tratamento em Blumenau, o Evaldo e a Nega, apelido da Nelci. Foi um período muito bom. Um dia, decidimos passear pelo telhado da casa. A Nega, mesmo com gesso na perna, nos acompanhou. Subimos pela goiabeira e caminhamos por todo o telhado. À noite, quando o pai e a mãe chegaram do trabalho, foram informados por uma vizinha da nossa aventura e a mãe perguntou como ela conseguiu, com gesso na perna, subir no telhado. Foi muito engraçada a resposta. Ela disse: “O Tadeu me ajeitou bem ajeitadinha e eu subi”. A gargalhada foi geral e garantiu o perdão. Nos dias de chuva na Indaial de temperatura média muito alta, a grande aventura era o banho de chuva. Desencaixávamos a calha que beirava o telhado para que a ducha de água viesse com mais força. Para aprender a andar de bicicleta, saíamos em direção a um terreno baldio, onde havia vários montes de entulho, assim o tombo era amortecido. Várias são as histórias que teríamos a relatar dessas aventuras. A partir do momento em que passei a viver em Florianópolis, voltar para casa é sempre muito bom, junto com os demais irmãos poder relembrar as várias passagens da nossa infância. Nos últimos anos, após a morte do pai, uma decisão foi tomada pelos filhos. Rodízio do plantão de final de semana para 109


dar mais atenção à mãe. Isso fez com que pudéssemos observar a necessidade de reformar a casa, para mais conforto e segurança dela. Está sendo um momento muito interessante de convivência com os irmãos. Passamos a nos reunir com frequência para deliberar sobre as providências a serem tomadas. Os homens ficaram responsáveis pelas obras físicas e as mulheres pela organização visando o conforto e os cuidados pessoais da mãe. Mais uma vez, temos nos baseado nas experiências e lembranças da infância e adolescência. Cada um tem sua atribuição, como era na infância quando cada filho tinha uma responsabilidade. Durante as reformas, a mãe foi para São Bento do Sul, onde mora a Leonida, uma de suas filhas. Um cuidado especial foi com as cortinas da copa e sala de TV. As cortinas foram bordadas pela mãe e estavam bem velhinhas. Para não perder seu trabalho, procurei uma prima que costura para nós, Terezinha, para ver como aproveitar o bordado. Ela recortou, fez a aplicação num linho e o acabamento ao invés do crochê, renda de bilro. Ficou especial e mantivemos a recordação de um belo trabalho dela. Tudo isso tem contribuído para que valorizemos as portas e as janelas, pontos que delimitam as referências daquela casa que foi nosso abrigo na infância e agora é o ponto de encontro dos nove irmãos e da nossa mãe. Findos os trabalhos de recuperação da casa, o retorno da mãe para casa foi preparado com muito carinho. O embelezamento da casa e a reforma geral do jardim fizeram com que ela se sentisse muito feliz e os filhos, mais uma vez, vivemos o espírito de família e sensação da gratidão com a certeza do dever cumprido.

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Alexandre Mendonça Cadeira nº: 13

O HOMEM E O TEMPO Sentado à beira do pátio, em torno do qual sua moradia foi construída, Lúcio, aos 12 anos, tentava fugir da realidade, admirando a natureza do pequeno jardim que lhe proporcionava um ar agradável frente ao clima extremamente seco da cidade. A população de Córdoba, Espanha, sofria com as altas temperaturas do verão europeu. Era o ano 8 a.C, início da era cristã. Caminhar pelas ruas de terra seca, levantando poeira de arder os olhos, não era uma atividade prazerosa nem rotineira, senão para os que precisavam, por força do ofício. Naquele espaço, entre flores e pequenos arbustos, o garoto refletia que algo estava errado lá fora. Observava todos os dias, 111


pela janela de casa, algo que o irritava muito. Questionava sobre o motivo que levava escravos a seguirem o patrão pelas ruas, num bajulador cortejo que beirava o ridículo, ainda mais debaixo daquele sol escaldante. O ofício era tradicionalmente necessário como forma de agradecimento, pela proteção e ajuda que o nobre oferecia aos subordinados, dando-lhes mínimas condições de sobrevivência. Um bando de ordinários - pensava o menino - tentando agradar aquele explorador de pessoas! Uma vida sem sentido para o pequeno rapaz que, já no começo da adolescência, não conseguia aceitar situações como aquela, mesmo sabendo que os “clientes” do patrão não tinham sequer direito de escolha. E tornava a contemplar aquela natureza minúscula, porém encantadora do pátio de casa. Por um momento, esquecia a imagem degradante dos escravos e se concentrava naquilo em que via algo de valor – flores, borboletas coloridas, capim - como se todo o resto que acontecia ao seu redor fosse uma ficção inútil. Rejeitava tudo o que não era natural. O pai de Lúcio, Marco Anneo Sêneca, um orador e escritor renomado, percebia que o filho era indiferente quando, nas conversas sociais, o assunto era guerra, luta pelo poder... A ganância por mais terras, mais riqueza, incomodava o aprendiz. E seu refúgio, invariavelmente, era aquele pequeno jardim, no meio da modesta morada. Definitivamente, seu refúgio diário. - Não entendo por que as pessoas reclamam tanto da natureza! – disse certa vez Lúcio ao seu pai, encostado do lado de fora da casa, observando a movimentação de pessoas no mercado de rua. - Talvez porque não estejas preparado para entender a voracidade dos homens! – respondeu Marco, ao lado do filho. – Eles precisam produzir, construir, demonstrar força, virilidade! Esse é o papel deles em cada nova batalha.

- Batalha!? E por que a vida tem que ser uma batalha? Tal argumento do eloqüente senhor Sêneca, na visão do garoto, não tinha validade, pois não significava coisa alguma. Pra que perder tempo com brigas, acúmulo de armas, discussões inúteis em torno de conquistas que ninguém carregaria após a morte? Naquele tempo, era decididamente raro encontrar um jovem rapaz com tanta firmeza de pensamento. Normalmente, os garotos seguiam o comportamento dos pais e da sociedade, fosse certo ou errado. As meninas, obviamente, não tinham outra alternativa. Talvez por capricho, ou para fazer o filho ganhar horizontes na vida, Marco levou o jovem Lúcio para estudar em Roma. Logo se tornaria um filósofo, especialista em gramática e retórica, tal como o pai. Mas a essência de questionador insatisfeito com a natureza humana não o tornou diferente, mesmo depois de anos de estudo na Itália. Numa noite quente, no centro de Roma, o agora adulto Sêneca estava prestes a vivenciar aquilo que só via de longe, enquanto estava na casa do pai. Ao sair das aulas de filosofia, resolveu passar por uma rua onde se falava que havia um bom vinho italiano para degustar e apreciar o movimento, supostamente, daqueles estudiosos a cerca dos mais importantes filósofos da história. Assim que sentou à mesa, em um velho mercado romano, o ambiente não se revelou dos mais aconchegantes. Um senhor de barba grisalha, parecendo jogado a uma mesa cheia de garrafas, já não fazia distinção entre o vazio da cadeira da frente e um interlocutor fantasma. Palavras mal pronunciadas nem chegavam a encerrar uma frase, tamanho era o teor alcoólico em seu sangue. E quanto mais o velho embriagava-se de vinho, mais o comerciante empurrava garrafas para esvaziar sua adega.

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De outro lado, um grupo de homens se gabava por reunir tropas mais fortes que os inimigos. Batiam na mesa e no peito, como se uma cavalaria destinada a causar destruição e derramar sangue fosse motivo de orgulho. Lúcio começava a se dar conta dos exageros dos homens. E um cálice de vinho foi o suficiente para sair logo daquele local. Caminhando pelas ruas de Roma, o jovem Sêneca não sentia outra coisa a não ser decepção diante de homens que desejavam a tortura e a exploração de mais terras, em busca de poder e glória. Como estudava e refletia sobre a natureza humana, sabia, no fundo, que a tendência era essa: a humanidade perdida em meio a guerras por acúmulo de tesouros, deixando de lado sonhos de uma vida justa e tranqüila junto à natureza. Em suas cartas, de quase dois mil anos atrás, deixou seu testemunho de uma época em que o homem já demonstrava suas futilidades. Quantos preferiam a desordem das cidades a uma vida mais serena e proveitosa?! Quantos se atormentavam mais com a elegância os prazeres mundanos do que com sua saúde e a da sua família?! Tristes escolhas que viriam a formar sociedades com muita libertinagem e pouca filosofia. Já no tempo atual... ...em pleno desenvolvimento tecnológico, em que parece não haver mais limites para tornar o homem cada vez mais dependente de aparelhos eletrônicos, Pedro Ramos, um talentoso artesão, destaca-se na cidade de Biguaçu, no sul do Brasil. Em sua oficina, junto à garagem do chalé em que vive com a esposa e dois filhos, o jovem está terminando mais uma placa para o mercado do seu João Silveira. O comerciante é fã incondicional do traba114

lho de Pedro, artista que ganhou o respeito de todos, servindo famílias, amigos e colegas de trabalho com sua arte e seu carisma. Apesar de ser um aventureiro nas horas vagas, prefere terminar o trabalho para depois sair em busca de outras culturas. Sendo um grande profissional aos 35 anos, tem placas em cafés, mercearias, lanchonetes e restaurantes por toda a cidade. Esta, que finaliza agora, é mais uma encomenda do seu João. A primeira placa entalhada em madeira que Pedro fez, há 10 anos, dizia: “Mercado Silveira. Entre, a casa é sua!”. A nova placa é mais sofisticada, pois as vendas melhoraram muito desde o começo do negócio. - Pedrinho!!! Quero ver se tá do jeito que eu pedi... – alerta seu João, acabando de chegar na oficina com seu cavalo, certo de que verá um trabalho bem feito. - Tá prontinha, seu João, como o senhor pediu! – diz Pedro, passando um pano na peça, pintada com verniz. “Mercado Silveira. Há 10 anos servindo bem sua família”. - Ah, mas tá linda demais... que talento que tu tens, hein! – exclama seu João, olhando a placa, em estilo rústico. Pedro nunca passou por um curso de artesanato ou coisa do tipo. Parece que já nasceu com a habilidade de fazer entalhes em madeira. Começou aos 15 anos e não há uma pessoa sequer na cidade que não tenha, pelo menos, uma peça em casa feita por ele. E não trabalha pra ninguém! É um apaixonado pelo que faz. - Eu faço o que eu gosto, né, seu João... Aí a coisa sai certinha! Pedro adotou essa filosofia de vida: fazer o que gosta, em harmonia com a natureza. Não que o trabalho devesse ser feito só na natureza, mas a atitude de estar sempre em contato com o meio ambiente é que era importante, na opinião dele. 115


Mas o problema nem era a posição de dormir, ou as mochilas empilhadas atrás do banco. Estava muito quente, e era preciso deixar as janelas um pouco abertas. Mesmo assim, os pernilongos (que, segundo Pedro, são bem maiores que os de Biguaçu) entravam aos montes, causando um uníssono insuportável aos ouvidos, além de coceira pelo corpo. Estariam mentindo se dissessem que conseguiram dormir naquela noite. Ficaram, na maior parte do tempo, conversando, rindo da própria tragédia... Mas chegaram à conclusão de que poucas pessoas nesse mundo passaram a noite dentro de um Fusca em pleno Deserto do Atacama. No dia seguinte, pela manhã, antes de comer os sanduíches que haviam trazido, testemunharam o nascer do sol mais esplêndido que já viram. Com a temperatura mais agradável, saíram do carro para ver melhor o sol entre as montanhas vermelhas do deserto. E permaneceram ali, de pé, ao lado do Fusca, contemplando aquele espetáculo natural de que pouca gente tem a oportunidade de ver. Só depois do café da manhã no capô do carro é que resolveram trocar apenas o pneu da frente. O de trás ficou do jeito que estava, já que não havia outro. E, devagarzinho, conversando e cantarolando, conseguiram chegar, duas horas depois, a uma borracharia, quase na divisa com o Peru. No whatsapp da esposa, Pedro escreveu: “tudo certo! A viagem tá o máximo!”.

Não é por acaso que adquiriu um sítio, no meio de uma montanha, nos arredores de Biguaçu. O chalé, ele mesmo construiu, ao seu modo, com móveis rústicos de madeira de demolição. Nos campos da propriedade, cavalos, bezerros, cães, gatos e galinhas ficam soltos. E uma boa rede na varanda da casa serve para aqueles momentos de ócio que ele tanto gosta, de onde surgem suas ideias malucas. Aliás, como gosta muito de um aventura, veja só o que ele fez! Há dois meses, comprou um Fusca, ano 76, azul (pois é apaixonado por Fusca). Pegou uma lixa e começou a passar no capô do carro, nos pára-lamas... Queria deixar o Fusquinha com cara de aventureiro. Dentro do capô da frente, tirou o estepe e abriu mais espaço para as malas. No teto do carro, colocou o estepe, preso por um rolamento e uma porca gigantes... Chamou o irmão mais novo, um amigo de infância e, juntos, embarcaram para uma viagem de 25 dias pelo Chile. Viajaram mais de mil quilômetros pelo Deserto do Atacama, no norte do país, perto do Peru. Uma viagem com paisagens surpreendentes do mais alto deserto do mundo. Mas... Numa certa noite, e num calor infernal, dois pneus do Fusca furaram no meio do deserto; um da frente e outro de trás, ambos do lado direito... Estavam parados na estrada, sem luz, sem civilização à vista. - Não tem nenhum posto no caminho... – constatou o irmão de Pedro, olhando num mapa de papel, com a ajuda de uma lanterna. - Humm, então, o jeito é dormir dentro do carro mesmo!... Amanhã a gente vê o que faz – resumiu Pedro, dando risada. O amigo, que era o mais alto de todos, precisou colocar o banco do passageiro para trás, o máximo que pôde, para esticar as pernas. O irmão deitou no banco de trás, com as pernas pra cima.

Seu João colocou a placa no lombo do cavalo, despediu-se de Pedro e foi embora, feliz da vida. O jovem artesão, depois de receber o pagamento, fechou a oficina e subiu à montanha ao

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lado de seu chalé. Lá do alto, só dava para ver as colinas, pequenas casas rodeadas por arbustos... E uma imensa figueira no centro daquele vale encantado, em que a luz do sol fazia brilhar cada uma de suas folhas. Pedro pensou: “como sou grato pela minha natureza, pela natureza das coisas que me cercam, pelo ar que posso respirar, pelas cores que diferencio, e pela paz que consigo sentir...” Ele tinha encomendas suficientes para se manter por um bom período... E, além de todo o trabalho artesanal, acabara de ser convidado pelo prefeito do município para ser secretário de cultura e turismo, pelo seu empenho em melhorar a cidade e incentivar o turismo local. Como dizem por aí, estava com a vida ganha! O engraçado é que, com exceção das escolhas de Pedro, a vida continua sendo a mesma daquela de dois mil anos atrás. E Pedro nunca ouviu falar do grande filósofo que viveu durante o início da Era Cristã; nunca folheou uma obra sequer de Lúcio Sêneca, nem cursou uma faculdade que lhe pudesse abrir os horizontes da literatura e do conhecimento. Mas tinha em sua alma a mesma filosofia do eminente escritor que, em suas cartas Sobre a Brevidade da Vida, disse: “Dentre todos, somente são ociosos os que estão livres para a sabedoria, apenas estes vivem, pois não só controlam bem sua vida, como também lhe acrescentam a eternidade”. Sozinho, na montanha, Pedro já pensava na próxima aventura que faria junto à natureza. É um dos poucos que descobriram que o essencial é tirar um tempo para si! Mas lembrou que precisava providenciar dois estepes para o Fusca antes de partir. Vai que...

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Dalvina de Jesus Siqueira Cadeira nº: 14

Lendo o seu artigo, de hoje, dia 10 de outubro, descobri que existe mais um poeta por perto, a procura de poesias para seu encantamento, mas tem receio de dizer. Olha meu amigo, se você se considera um poeta, levante-se cedo muito cedo todos os dias e veja o sol nascer na linha do horizonte. Junto ao mar verde azulado, fazendo aquele espaço dourado nas ondas do mar, como se estivesse abrindo vagas para se espelhar e transmitir aos olhos do amante apaixonado, aquele brilho espetacular, incomparável que faz com que o ente se transporte para os momentos mais lindos de sua vida, para os lugares mais românticos onde já viveu ou sonha viver as maiores delícias de amor de um poeta Você acha que aqui não tem poetas? Talvez nem seja isso, mas aproveitando. Tem sim. Cada um de nós é um poeta, só que 119


a maioria tem vergonha de dizer que é (poeta). Eu, simplesmente imagino todos os dias, um céu cheio de belos arabescos brancos pintados pela mão do artista Superior. Vejo e observo os pássaros batendo em revoada pelo céu azul, ao entardecer, para conseguir um lugar num galho para descansar do dia de luta, entre galhos, penas e pios. Haverá coisa mais bela do que um jardim cheio de flores de todas as espécies, encantando os olhos já cansados e tristes de sua senhora..........? Observe com ternura os lindos olhos azuis de seu netinho, deixando escapar uma lágrima que mais parece uma pérola rolando... Observe a lua cheia ou a meia lua brilhando num céu negro pontilhado de estrelas, feito um manto prateado cobrindo os beijos e abraços de um casal apaixonado deitado numa relva macia e verdinha, molhada de sereno, sinta-se ali, converse consigo mesmo e crie um momento divino, cheio de esplendor, durma por ali... Olha poeta, enquanto nós sonhamos, com os pés no chão, é claro, (digo aqui, nós os poetas da vida), outros tentam subestimar a nossa inteligência, ou até a nossa capacidade de amar e escrever, e eu, sou com muito orgulho uma poetisa que vê em tudo um poema. Sinto-me muito honrada em poder extravasar meu sentimento poético, já na terceira idade, e no século 21, terceiro milênio. Vamos soltar a nossa veia poética, até porque por incrível que pareça, ainda tem muita gente que gosta de poesia e há de gostar por muitos e muitos séculos AMÉM. E ainda digo mais, em cada pássaro que pousa num galho da árvore que está plantada em qualquer lugar, nós os poetas ficamos a escutar seu canto triste e enternecido ao cair da tarde, depois de uma ligeira chuva de verão, ou até mesmo no

inverno da vida, o sabiá que à tardinha canta seu copioso canto para chamar sua fêmea, copulando juntos para eternizar a reprodução da espécie E para que sempre tenhamos nós o prazer de ouvi-los cantar para nosso entretenimento, e, muitas vezes para chorarmos a saudade de alguém que Partiu para não mais voltar, deixando uma tremenda dor no nosso coração fragilizado pelas maldades da vida traiçoeira e safada que nos prega muitas e muitas tristezas. Só os poetas são capazes de atentos como sempre, perceberam pequenos grandes detalhes que são verdadeiras poesias e que nos levam a imaginar o prelúdio eternizado de uma grande história de amor, que se não aconteceu como deveria, poderia ter acontecido, e, ter feito amantes felizes para sempre. O encontro que a malfadada vida não permitiu que acontecesse, fez com que as hortênsias azuis da estradinha de barro vermelho daquele lugar, onde até os pássaros haviam vindo fazer coro, para os amantes apaixonados ficassem murchas e sem perfume, a passarada que iria fazer um coro de belo trinado, não apareceu, o sol escondeu-se e as lágrimas do poeta derramadas sobre o chão, não rolaram por sua faces envelhecidas e tristes. Mas o poeta não morreu, Ele continua a poetar e a embalar seus belos sonhos de amor. O poeta sente ao longe o marulhar de uma cachoeira descendo na curva cheia de pedras da montanha aquela água caudalosa e fria. O poeta imagina, cria e vive momentos divinos. O poeta sonha de olhos abertos. E podemos todos crer, o poeta é romântico, sonhador, amável, simpático, solícito, amigo e fiel. O poeta imagina uma viela simples, com ruas sem calçamento, mas com casinhas amarelas verde ou azuis, janelas entreabertas e pessoas sentadas nas cadeiras de balanço nas calçadas,

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esperando o anoitecer, a lua aparecer e ouvir as conversas, os mexericos os (disse me disse) escutados atrás das grandes portas e janelas dos casarões antigos do tempo do Império. E entre as portas e janelas da vida, durante uma existência inteira, o poeta é sempre aquele que vê o belo, e que por mais difícil que seja ele cria e recria cenas de verdadeiro encanto, não interessando sequer quem está ao seu lado e não observa a vida como é Bela.

Carlos Antônio de Souza Caldas Cadeira nº: 16

Dalvina de Jesus Siqueira - Estrela Embaixadora da Cultura do Município de Biguaçu. Ocupante da Cadeira número 14 da A.L.BIG.

AMOR E PAIXÃO DE UM VELHO AMIGO A cisão, talvez por toda a vida, porém, continuará a agitar a alma das pessoas. Um homem que se reparte e que gosta de agir, pode se transformar a cada choque aplicado pelo mundo real, o homem que não tem medo de mudar, porque sabe que ninguém pode roubar, de fato, sua alma, ao menos por enquanto. Um dos pontos forte da sabedoria convencional reza que o amor é o último estágio da paixão, o viçio afetivo depurado pelo tempo, o fascínio testado e confirmado pela experiência. Que o amor emerge da paixão, todos sabem, quando aprendemos que saber viver, é preciso, saber sonhar é importante lutar para realizar esses sonhos é essencial para ensinarmos a viver melhor. Velho amigo e amigo velho que se chama Dr. João Alfredo 122

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Medeiros Vieira, autor de diversos livros, diz-me ele, pode se falar algo como a paixão envelhecida, no sentido melhorado como se fosse num barril da vida a dois. É como se aquele vôo viaja-se em direção ao infinito com alta energia e emoção, à flor da pele. JA Medeiros Vieira, dotado de raro senso de humor, conta a história do dia: Que certa vez um amigo contou-lhe, que todos os dias um juiz de direito em uma Comarca Catarinense, tinha o hábito pela manhã, ir ao bar, um dia um grupo de pessoas, “fofocando”, dizia que ele, todos os dias pelas manhãs tomava sempre uma “talagarça”, comunidade pequena, então, corria a noticia com certa maldade, que o magistrado, não podia ao amanhecer todos os dias beber tanto. Um dia foi descoberto que essa “talagarça” que o Juiz bebia todos os dias, era um copo de leite que ingeria todos os dias. Voltando que a paixão desse velho amigo conduz ao amor, pela leitura, família, adora esta em seu sítio em Sorocaba de dentro – Biguaçu/SC, mas poucos pensam que o caminho inverso também seja possível. Sim, estou dizendo que a paixão sobre sai infinitamente no emergir do amor. Às vezes brota da convivência, que em lugar de diluir o sentimento, este se fortalece, aumentando a interação entre duas pessoas. Não se trata de atração física, simplesmente, do desejo no sentido estritamente sexual, mas da paixão pelo caráter, da admiração pelos dotes sublinhados interagidos à realização e criação, à devoção parental e familiar, às atitudes diante da vida: Que passa pela ética, intelecto, filosofia e política humana. Estimados Leitores estou falando de um velho amigo - J.A. Medeiros Vieira, que é Escritor, Juiz aposentado, Filósofo, Professore Poeta, por longos anos, estudiosos no campo da Filosofia

e do Direito, membro da Academia Catarinense de Letras, traço marcante desse velho amigo, “A Prece de Um Juiz”, traduzida para várias línguas, foi um marco poético na sua carreira de escritor, amigo velho, hoje com 87 anos, casado com Vanilda Tefen Medeiros, sua capacidade de desdobrar seus conhecimentos diferentes áreas da cultura, mantendo um estilo agradável e atraente em seus escritos. Mas não seria preciso salientar quanto a um nome já muito conhecido por diversas obras no território nacional e internacional. A paixão que emerge do amor pode também retornar com freqüência às raízes, ao núcleo do passado. Num casal bem-sucedido, a paixão desaparece, mas parte de sua energia permanece preservada, permanecerá guardada, para em qualquer momento permitir novo impulso à vida conjunta. Afinal, a paixão, segundo estudos, revelam as pesquisas acadêmicas, dura pouco mais de um ano, período em que liberta nos corpos afetados por uma substância – a neurotoxina, responsáveis por sensações agradáveis. Falo daqueles casais que não conseguem confirmar sua possibilidade e vê o amor se extraviar sem poder reagir. Estudiosos, dizem que é diferente do vício da paixão, aquela sensação de que a vida esta sempre em relação aos sonhos e ambições amorosas. É como se tivesse uma dívida de amor com essas pessoas, que não foi preenchida. Para finalizar, no texto bíblico, o admirável Eclesiastes: “O coração dos sábios está na casa do luto, mas o dos insensatos na casa da alegria. Melhor ouvir a repreensão do sábio do que a canção do insensato”. Sim, a paixão acaba, nessa fase, se os parceiros compreenderam e se entenderem, pois, não se pode viver eternamente na vertigem e que a insatisfação faz parte da natureza humana, passará a viver um amor mais tranqüilo. Então, vale pensar se es-

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sas novas paixões indicam o fim de um amor, a procura de algo melhor ou não passa correr ambicioso e interminável em direção algo real que nunca será real. Desse amor, quando a relação é agradável, podem surgir novos momentos de paixão e de amor, de amor e de paixão... E a vida segue conectada, com essas vibrações em direção a Deus. Não devemos esquecer nossa filiação: Leitor, você é filho de Deus, muito obrigado! PAZ E SOSSÊGO NO MEU CANTINHO Certa vez, no meio de atividades que eu costumo desenvolver todas as manhãs na área da advocatícia, preparando meu corpo e minha alma, para que logo termine a semana para o merecido descanso com a paz e sossego no meu cantinho. Chegando nesse cantinho, da janela do quarto no quarto piso, posso olhar diretamente para o mar, quando declino meus olhares observo a vasta montanha, conhecida por morro da “cambirela” parecia banhada em luar, a vegetação ainda verde, a torre da Embratel, ao lado DA casa do Sr. Onildo (Nini), a padaria do Sr. “Jano”, dos vizinhos e amigos Sr Argemiro (tuta), Sr. Jonas e Sr. Antonio (AM), quando deparo com pessoas felizes transitando em direção a praia, observando suas as águas cristalinas, criada por Deus. É uma cena repousante de se contemplar todos os dias. O dia estava muito cinzento e nublado e nublado. O mar agitado rolava suas águas em direção à praia, com seu rugido profundo, com seu incessante, mas perfeito e orquestrado. Espuma clara borbulhava na crista de suas ondas. Na praia, caminhando pela areia grossa, observando adentrar nas águas “Jet ski” e lancha do amigo Dias (ensinando a navegar) e olhando bem alto para o céu azul, depois deslizando com 126

o vento, para baixo, com graça inefável, gaivotas gritavam e mergulhavam. Tudo naquela cena era gracioso, belo, e conduzia à serenidade. Sua tranqüilidade benigna sobre mim um bálsamo salutar e repousante. Não acreditava, então fechei os olhos, e descobri que ainda podia visualizar a cena, tal como a tinha contemplado. Ali estava tão bem delineado como eu a tinha realmente visto com meus olhos, como se tivesse sonhado e sonhos realizados. Correu-me que a razão de poder eu “vê-la” com os fechados, era ter a memória absolvida a paisagem e estar capacitado para reproduzi-la em pormenores. Por que, então – raciocinei – não poderia eu reviver uma de muitas vezes aquela cena tranqüila beleza, mesmo que meu corpo estivesse ausente daquele lugar. Portanto, iniciei a exercitar a visão tranqüila de cenas de beleza, que realmente contemplara. Às vezes, em meio de trabalho ativo, achei de proveito parar por um minuto ou dois e trazer a memória cenas cinematográficas ali, e também cenas que me haviam impressionado pela sua beleza, e experimentar, mais uma vez, seu notável poder de tranqüilizar, de acalmar o coração. Por exemplo, descobri que quando o sono não vem, eu posso, realmente, atrair a sonolência visualizando, com a memória, cenas de tranqüilidade de paz, sossego no meu cantinho. Na radiante manhã, beijada de sol, fui até a praia num mergulho sob as águas incrivelmente azuis. Assim, aquela tarde mística em que observei, pela primeira vez, lanha “iate” de cor branco e azul lançou âncora no fundo do mar, afastado da praia a 200 metros, tornando-se transbordante de silêncio. Cenas de beleza, paz e de sossego, através do poder da memória para recriá-las, a verdadeira imagem de Deus. Assim, estimados Leitores, cuidados, preocupações, decisões, multiplicadas 127


durante o dia, busquem a natureza e entrega-se ao poder benigno da visualização tranqüila que encontrará a paz, sossego no meu cantinho. MÃE, Rainildes mores.

Força suprema que me acompanha em meus anseios e te-

Na esperança e alegrias e sobre tudo em amor de Mãe... Minha Mãe, Pela grandeza de sua dedicação... Tens muito de anjo. E pela imensidão de teu amor... Tens um pouco de Deus. E aqueles que perderam e se dediquem este dia sublime a levar-lhes flores... Saudades... tristezas ...lembranças, de suas santas mãos de santa.... Que rezavam todos os dias... De um rosário ou de uma oração. Lembranças de suas mãos de anjo... Aquela que, quando viva, não lhe damos o verdadeiro valor. Porque sob sua proteção ..aliviam todas as dores...e depois de partir, tudo que somos e tudo que temos daríamos para tê-la de volta.... E junto a ela abraçarmos fortemente. Estendendo proteção sobre minha cabeça e que um dia se fora para o oriente eterno. Por que partiu? ...Por que, minha mãe?... Sem antes... Fechar os meus olhos?...

DESTINO Onde estão as que sorriam, Eram como rosas mal germinadas. Onde estão as que eram brancas e puras. Como as águas que descem das altas pedras, No fechado coração da mata. Onde estão as que dançavam e eram leves, Como flores que o vento estremece e desfolha. Onde estão as que traziam nos cântaros a água nova das fontes Onde estão as que enchiam o escuro do mundo. De um sorriso de graça e de alegria. Onde estão as que traziam nos longos cabelos negros, O pequeno coração vermelho de uma grandiosa flor sobre A cabeça dessa mulher.

HONESTIDADE PODE SER PREMIADA?

Então, comemoramos, pois a todas as mães, representamos o dia das Mães em todo o Universo.

Num programa de televisão foi narrada uma estória de um modesto servidor público que recebeu num avião uma mala a ele entregue por uma pessoa desconhecida, estase sentiu mal, vindo a falecer instantes depois de pedir ao jovem servidor que guardasse a mesma. Após muitas indecisões e idas e vindas, por fim, ele entregou a mala á Associação de Pais e Professores – APP, de uma escola, como solicitado pelo falecido, o que lhe renderia certamente um prêmio e uma consideração especial. Outro episódio é o de um motorista de taxi da cidade de Biguaçu, na grande Florianópolis, que tendo encontrado no banco de trás do veículo a maleta de um executivo que acabara de deixar num hotel, depois de pegá-lo no aeroporto internacional Hercílio

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Luz, viu-se recompensado de vez que a maleta estava com altos valores em forma de títulos bancários e dinheiro vivo. Outro caso na cidade de Itajaí, um jovem catador de material de reciclagem, que encontrou vinte mil reais e devolveu a Delegacia Policial. Existem várias narrativas de casos semelhantes acontecidos entre nós; em Santa Catarina e no Brasil a virtude da honestidade será tão rara assim que os possuidores da mesma precisam ser premiados, ante a um clima de mau-caratismo que cada vez toma conta de tudo, onde precisamos usufruir da democracia? Se assim é, então nossa sociedade está destinada ao pior dos males, a falta de alguns valores, será que passam pela formação familiar, educacional dos valore e da ética entre as pessoas e nos negócios. Se no lar e na escola, pudesse ensinar a valorizar desde cedo nas pequenas coisas e no relacionamento interindividual em nível de princípios éticos a boa conduta, então, os fatos seriam outros e nunca os que estamos a presenciar; isto porque, o procedimento normal sempre deveria ser este. O contrário ocorre na cultura que herdamos: Tirar proveito de tudo sem se importar com a prática do bem. Quando se vê em outros países um diferente modo de agir, tão típico de diversas civilizações, compreende-se que tal fato se deu por motivos claros as formação obtida no meio familiar; e no prolongamento escolar, expresso na disciplina de “Educação Moral e Cívica”. Hoje extinta no currículo escolar com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Portanto, o que demonstra que a juventude de hoje, não está alienada, quer conhecimento cientifico, mas também quer ter virtudes. Infelizmente, em nossos dias a informação, nos currícu-

los escolares, acontecendo também com a disciplina “preparação para o trabalho”, permanecendo os conteúdos exclusivamente cabedais científicos destituídos mais importantes da pedagogia moderna, a simultânea formação dentro dos valores éticos e morais do cidadão. A honestidade deveria ser um modo normal de viver e de agir, mas nunca algo que necessite de prêmio. E a vida segue...

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CIDADANIA SOLIDÁRIA Para falarmos sobre o tema é necessário estudarmos a educação num todo, principalmente no enfretamento da discriminação e da violência contra a mulher, num ponto de vista prático da valorização. As ações educacionais pode ser formal ou informal quando desempenham papel importante na melhoria das condições de vida da mulher no seio de sua comunidade ou no mundo. Nesse aspecto as mulheres podem ter apoio decisivo diante de problemas no que tange a desigualdade de tipos em que aumenta o índice da violência contra as mulheres, desde a infância até a idade mais avançada. Então se faz necessário incentivaras pessoas, dialogando sobre o posicionamento feminino no momento em que a maioria das mulheres ainda não é independente. Nesse caso, é necessário que seja discutido temas no ensino fundamental para que em programas lúdicos ou pedagógicos, aonde possa reunir informações com amplo esclarecimentos para a erradicação dos casos de agressão contra crianças, adolescentes e adultos; uma situação intolerante no mundo dos altos índices de ocorrências já registrados. O ambiente escolar, é sua segunda casa, propostas devem


surgir de forma imediata capazes de fazer a diferença na mudança dessa realidade. O ponto de partida para a construção é que seja uma sociedade mais justa e igualitária em que as pessoas de ambos os sexos tenham igual acesso às oportunidades de condições de trabalho, tanto no aspecto salarial e de crescimento profissional. Um elemento importante desse diálogo e de proposta pedagógica é o de contribuir para despertar no educando o olhar crítico e uma postura que privilegie a competência, sempre com harmonia e com sentimento. Entretanto, dar-se-á ênfase ao sentimento que jamais subtrai a criatividade da criança aprendiz. Fato esse, caminha ao contrario quando o coração passa ser abastecido pelo exercício da solidariedade, da fraternidade e da igualdade ou pela amizade, que pode alcançar um grau maior de esclarecimento. A educação por sua vez, mostra valores éticos, ecumênicos e espirituais que vão interferir na infantilidade na capacidade da criança de saber respeitar o outro e a si mesma, sem o risco de se caracterizar ou maltratar sua própria personalidade. As salas de aula do ensino fundamental tem que representar um local aberto ao diálogo, a reflexão de temas que possam interessar aos alunos, principalmente os que já chegaram à adolescência. Nesse trabalho, os educandos precisam compartilhar conhecimentos. Com isso, o exercício proposto e mediado pelos educadores na qual promovem o conteúdo pedagógico e expande o entendimento da temática em discussão. A linha pedagógica de aprendizagem, a ferramenta facilitadora de um maior envolvimento dos estudantes nos assuntos propostos pelo professor em sala de aula ou extraclasse. Para finalizar, o Método de Aprendizagem por Pesquisa Racional Emocional e Intuitiva – MAPREI, apresenta seis etapas; 132

tomando como base, que os alunos devem realizar levantamentos de dados sobre o tema a ser debatido em cada aula. Já o desenvolvimento da aptidão para a busca de conhecimento é um fator que favorece a experiência de autonomia do educando e ao mesmo tempo, fortalece a conscientização dos próprios direitos do cidadão para enfrentar e superar situações de violências e discriminação. Pergunta-se ao leitor, porque nas escolas não são passados informações as crianças valor da cidadania e da solidariedade e desta maneira discute-se com educandos temas da atualidade. No artigo Milênio das Mulheres, encaminhado à ONU em vários idiomas, afirma: (...) O papel da mulher é tão importante, mesmo que, com todas as obstruções da cultura machista, nenhuma organização que queira sobreviver – seja ela religiosa, política, filosófica, cientifica, esportiva, empresarial ou familiar- pode ter o seu apoio. E a vida segue...

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José Ricardo Petry Cadeira nº: 17

senhores de engenho. Que vida sofrida deste povo que fez parte da história do Brasil. Daí vem o nome Saudade, sem liberdade, de cor negra, sem os seus costumes. Quando se combate o racismo não é de graça, o Brasil tem uma grande dívida social com este povo africano e também com os índios e prisioneiros. Vejam só como é forte a palavra saudade, neste relato não quis ser um historiador porem explicar o que aconteceu no Brasil, coisas absurdas, que nos envergonham. Terminamos em saudade.

Saudade Vendo a falta, da distância e do tempo isso talvez seja saudade. Aconteceu em Biguaçu no bairro Saudade de nome dado pelos negros que ali fizeram sua morada com suas famílias. Mas sentiam muitas saudades de seus familiares: avós, tios, pais, primos, amigos, esposa, namorada e religiosos. Assim é a vida sofrida dos povos africanos que vieram para o Brasil a força para serem explorados como escravos sem liberdade. Para esse povo saudade é sofrimento por passar pela prisão, fome, sem estudo, riqueza e profissão. Trabalhavam no desmatamento, na colheita de madeira, na extração de minérios e na plantação de cana-de-açúcar. As mulheres trabalhavam nas casas e eram estupradas pelos capatazes e 134

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Leonidio Zimermann Cadeira nº: 18

Como começou minha antologia Começo foi que minha mãe me ensinou a ler em alemão ,depois comecei a escrever em alemão por mim mesmo depois o jornalista Ozias me ofereceu uma coluna no jornal Biguaçu em foco para tradusir português e alemão eu escrevia criticas historias comentarios ,e o muitos gostava de ler minhas colunas E assim fui escrevendo pesquisando estudando procurando Hitorias dos imigrantes da minha raça e outras . Eu só estudei dois anos na escola ,depois continuei a estudar em casa tanto alemão como o português E eu sempre tinha grande amor aos meus ancestrais da minha origem . daí comecei a pesquisar na internet as historias dos imigrantes que vieram da Alemanha da Italia portugueses os es136

cravos que tinha uma historia muito triste . Daí procurei a origem da familia Zimmermann desde os primeiros que vieram da Alemanha . pois eu gosto de preservar a cultura para não se esquecer das tradiões destes bravos erois que vieram a procura de terra para trabalhar ,que o Brasil era um paíz novo e Alemanha a terra era pouca ,os alemães tiveram que procurar outros Paizes principalmente agricultores .no Brasil era os portugueses que descobriram o Brasil le os indios que eram naturais. Si não deixar por escrito ,então aos poucos fica esquecido; e assim com livros escritos ,os nossos filhos e netos podem sempre recordar a historia dos antigos Por isso eu ja tenho tres livros escritos Português e Hunsrick que era a lingua que ainda continua no Brasil ,só esta lingua é conforme a região ; Biguaçu Antonio Carlos, ja é bem diferente como Blumenau Pomerode Estado do Espirito Santo no oeste de Santa Catarina e Rio Grande do sul mas a origem é a mesma .Mas agora eu recebi dois parentes meu fiseram parte do meu trabalho na pesquisa da familia Z immermann é o Edirlei Zimmermann, que é neto do meu irmão ,e Joseane Zimmermann bisneta de um tio meu graças a Deus da familia Zimmermann, tem orgulho de pesquizar a nossa origem vai dar para escrever um livro da nossa Historia mas quem me deu toda esta força ,foi o jornalista Ozias do Biguaçu em foco este me ajudou muito.

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Orival Prazeres

Osmarina Maria de Souza

Cadeira nº: 21

Cadeira nº 20

Padre JOSÉ EDGARD DE OLIVEIRA – Padre EDGARD Nasceu em 1930 em São João Batista-SC Ordenado Padre em 07/12/1958 Jubilado em 07/12/2008 Sua passagem ocorreu em 31/05/2016 TESTEMUNHO DE UMA VIDA ADMIRÁVEL

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UMA RUA UMA SAUDADE Eu queria uma história. Resolvi contar a que tenho na lembrança, sobre a rua em que vivi minha infância. Eu era muito pequena, nasci em fins de 1929. Não naquela rua, mas para lá fui talvez aos 3 ou 4 anos de idade. No filme da memória tenho muitas historinhas registradas, mas quero aqui lembrar seus moradores. Não era o que se podia chamar de rua. Era um morro lamacento onde moravam muitas famílias pobres, mas que se uniam muito bem. Alguns até a chamavam de quilombo, pois a maioria das famílias era negra, que ali foram morar logo após a abolição da escravatura, adquirindo pequenos lotes, pagos com muito suor. 139


De difícil subida, principalmente nos dias chuvosos. Só um velho caminhão conseguia subir, pois seu motorista morava lá. Segundo informações colhidas com a senhora Raulina Farias do Nascimento, filha do pioneiro morador do “morro”, o senhor Ramiro Farias. Ele, ao adquirir seu terreno, abriu seu espaço e de outros novos proprietários à foice e machado. Este grande terreno, paralelo aode Celso Ramos, dava frente para a Rua Frei Caneca e ia até os confins do Morro do Antão, pertencia à família Formiga que morava em um belo chalé também na Frei Caneca, esquina com a Rua Embaixador Edmundo da Luz Pinto . Esta bela casa foi demolida talvez há 10 anos, para construção de mais um espigão, apagando assim mais um pouco de nossa história. Mas o que estou me propondo aqui é tentar lembrar e registrar algumas pessoas que foram os primeiros moradores e que por isso fizeram a história daquele morro. Vamos ver se consigo satisfazer minha vontade: Na entrada, ou ”Boca da Rua”, como era conhecida, tinha à esquerda a bela capela de São Luís, cuja parede de fundo era muito próxima ao barranco, sem iluminação. Acima do barranco, muita pitangueira, que era a diversão dos alunos do Grupo Escolar Arquidiocesano Padre Anchieta, que ficava ao lado da Igreja. Nivaldo, o meu primo, no dia da primeira comunhão, antes de chegar à Igreja passou pelas pitangueiras roxas e se fartou da deliciosa frutinha. Quebrou o jejum e recebeu a hóstia de boca roxa. Ao lado direito, um enorme pé de araçá. À noite, mulher não passava nas imediações. Só homens corajosos. Diziam que aparecia o “Homem da capa preta”, mas os araçás eram deliciosos; sei porque muitas vezes ao sairmos da aula passávamos ali para juntar as frutinhas maduras no chão. Um trecho sem casa e depois ao lado direito, bem na curva

do morro morava dona Doralice e sua filha Juraci. A casa era azul. Quando dona Doralice foi morar no Estreito, Juraci foi contratada para trabalhar no Departamento de Saúde Pública, e novo morador, um curandeiro que gritava muito. Da rua ouviam-se seus gritos quando rezava. Segundo informação do senhor Rogério Farias, o tal cidadão chamava-se João Rosa muito amigo de seu pai o senhor Ramiro Farias. Do lado esquerdo, após as pitangueiras a primeira casa era do senhor Leonardo, zelador da Igreja e da Escola. O casal tinha uma filha, a Amélia, muito extrovertida, mas repentinamente entrou para um convento. Soube-se mais tarde que estava com trabalho voluntário na África, era uma moça amiga de todas as outras moças do morro. A seguir uma casa muito pequena, não melembro quem ali morava. Depois a casa branca com uma enorme mangueira na frente. Morava ali dona Neneca e seus treze filhos, todos homens. Seu marido era da Marinha Mercante. Depois dona Neneca mudou-se para o Rio de Janeiro. Ela era irmã dona “Cota” da mãe de Aldo Brito, esposo da prima Noêmia que morava em Palhoça, no Bairro Aririú. A seguir a casa de dona Isaura, o esposo, seu João e a filha Hilda que ainda mora no local. A seguir vinha a casa de dona Vitória Salim e muitos filhos Luiz e Jorge; este casou com Jacyra, filha do senhor Bertoldo dono do armazém. Quando em 1939 correu a notícia que o mundo ia se acabar, dona Vitória vendeu todas as galinhas, foi à feira, comprou muito tomate, fez a massa e a armazenou. Disse que era para armazenar, já que tudo ia acabar.... Creio que ela acreditava ser a única a escapar do fim do mundo. Logo a seguir a casa de senhor Felipe, seu filho Acácio e a filha Norminha, que fez calos nos cotovelos de tanto ficar na janela. Em frente à casa de dona Vitória uma casinha baixa onde

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morava a senhora dona Maria, o esposo Jacó e uma filha. Tenho sua imagem na memória, muitas plantas, ervas de chá. Naquele quintal tinha de tudo um pouco plantado. A seguir o velho clube vinte e cinco, em frente, o Concórdia. Era o “ apartaid” da época: brancos pra lá, pretos pra cá. E foi aqui, que naquela noite em 1936, lembro muito bem a maioria dos moradores, ali em frente aos clubes assistindo a passagem do zepelim. AH! Como me lembro aquele grande charuto passando sobre o morro, e uma luminosidade parecendo chuva de luzes prateadas e todos gritando. No dia seguinte um pasquim na venda do Mané Paulo: De madrugada de longe eu vi o Farias em cuecas olhando o Zepelim. É que seu Farias, um senhor, gordo, barrigudo, boa gente, amigo de todos, morador na Rua Franzoni, saiu correndo para assistir o Zepelim e esqueceu de vestir a calça, e lá estava ele de cuecas. Ao lado da casa do senhor Felipe estava o Concórdia e ao lado deste moravam dona Tereza seu esposo Nicolau, cuja filha Sueli que por comer muito açúcar, ganhou por castigo andar uma semana com o açucareiro pendurado no pescoço. (recentemente falando com ela, me disse que era muito pequena,mas nunca esqueceu aquele castigo). Mais tarde seu Nicolau e Dona Tereza adquiriram um lote na Bacia e construíram a sua casa. A seguir uma pequena casa onde moraram Carmélia e seu esposo Julhinho e como vizinho a venda do senhor “Mané Paulo”. (Aqui, abro um parêntese para lembrar. Em frente a esta venda, aos seis anos achei um mil réis, ou dez tostões, e foi o que salvou o lanche da manhã e o almoço do dia e ainda sobrou troco). Mais tarde, ali o armazém do Brasil, a seguir a casa do senhor Manoel “Nané”Teodoro, pais dos meus saudosos amigos Hilta e Vilmar Teodoro (ambos falecidos neste ano de 2015) e da professora Hilda Teodoro, que foi professora do Grupo Padre Anchieta

e hoje dá nome a um Grupo Escolar no Bairro Trindade. Lembro que o senhor Manoel Teodoro era muito amigo de meu tio José Capistrano, o marido de tia Alzira. Mais adiante a casa de dona Palmira e seu Paulo e sua filha Valmira, a amiguinha que eu e Linaura achávamos que era rica porque na sua casa tinha assoalho, cortina e panela de ferro no fogão. Alguns anos depois em um terreno baldio ao lado foi construída uma pequena casa de madeira e nela foram morar os jovens recém-casados João Farias e Maria Julia (minha prima) e ali tiveram as filhas Maria Izabel e Maria da Graça. Ao lado, no lugar da casa de seu Paulo, quefoi demolida estava o armazém do senhor Bertoldo, pai da Jacyra, que alguns anos depois se mudaram para o bairro Prainha, justamente no local onde hoje tem a abertura do túnel Antonieta de Barros. Jorge, o marido filho de dona Vitória, faleceu de acidente e Jacira foi morar em um apartamento na Avenida Mauro Ramos. Soube recentemente que faleceu em 2015, fica aqui minha saudade à colega de trabalho. Extremando com este armazém um grande quintal e lá nos fundos a casa de dona Julita, sua mãe Luíza e as netas, uma delas conhecida por Lena, todas lavando e engomando muita roupa, o que faziam muito bem e eram elogiadas. Alguns anos depois Lena foi morar no Rio de Janeiro com Judite, segunda esposa de meu tio José Capistrano e o filho Namiltom. Voltando ao lado direito, depois da casa de seu Jacó e dona Maria, uma pequena casa onde alguns anos depois, já viúva, foi morar Carmélia, futura sogra de minha filha Sonilda. A seguir a casa de dona Carrucha e suas filhas Maria Emília e Hilda. Lembro que dona Carrucha tinha bigode. Ao lado o velho clube 25. Como me lembro desteclube e sua rainha Carmem, que no dia de sua coroação rodopiou comigo, muito pequena, no salão. Car-

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mem casou com Augusto, primo de meu amo e senhor. Logo a seguir a casa de seu Martinho e sua palidez, parecia ser muito doente, sua esposa e a filha Rute. Vizinha a estes uma velha casa onde morava dona Aurora, que só me lembro que tinha muitos filhos e andar sempre de preto, luto pelo marido. A seguir a casa de seu Lindolfo, dona Chiquinha e os filhos: Olindina, Osvaldina, Osmarina, Olga, Osni e Osvaldo. Esta casa depois foi comprada por meu tio Alexandre e tia Santa. Hoje moram lá alguns filhos e netos do velho casal. Ao lado da casa de meu tio Alexandre uma casinha bem pequenina onde moraram Nicolau (Lau), amigo de meu pai, a esposa Zizi e um único filho conhecido por Mazinho. Depois nesta casa moraram José Luiz, a esposa Diva e uma filha, casal muito querido de todos. Ele motorista de João Carlos Ganzo, o proprietário da Empresa Telefônica de Santa Catarina. Ao lado a casa azul de dona Pequeninha, sua filha Clarinha e a tia dona Natália. Eram os vizinhos queridos de tia Alzira. Lembro que na entrada desta casa tinha uma trepadeira de rosas roxas muito miúdas e cheirosas. Clarinha, muito jovenzinha, faleceu tuberculosa, depois também dona Pequeninha. Dona Natália então foi morar com sua patroa, Paulina Wolf, na Rua Tenente Silveira. Logo abaixo a casa de tia Alzira, irmã de meu pai e o esposo José Capistrano, pais de Noêmia, falecida neste ano de 2015, de Nivaldo e Nivaldina, também já falecidos. Meus tios haviam comprado dois lotes e permitiram que meus pais construíssem lá também nossa casinha até que pudessem comprar também um lote; assim foi e a casa transferida com as paredes inteiras para a Bacia. Este local meu tio doou para a sociedade 25 de dezembro e então o clube foi transferido lá de cima para a nova sede. Onde ficava nossa casinha, era depois onde estava o Bufê do Clube. Tenho desejo de escrever a história desse

Clube, que foi de muita luta e muitas glorias, lindas festas e bailes e de muito amor e seriedade, quando administrado e usado pelos moradores do Morro, história que fica no aguardo de minha coragem e disposição. Descendo mais um pouco, a casa do senhor Osvaldo e a seguir a casa do senhor Paulo, seu filho Luís e as filhas Tereza e Dalila. Tenho a impressão que eram parentes de seu Ramiro Farias. Como vizinhos tinham a casa de seu Ramiro e dona Marcolina. Estes realmente foram os primeiros habitantes do Morro do Chapecó. Eram pessoas carismáticas, conselheiras muito respeitadas por todos os vizinhos. Ela era parteira e se orgulhava de ter trazido ao mundo a maioria dos jovens e crianças da rua. Seu Ramiro comprou mais tarde o último lote ao lado da última fonte e construiu sua nova morada e na casa que deixou foi morar dona Pureza. Abro um parêntese para dizer: Eu era muito pequena, mas ainda morando em terras de tia Alzira, lembro dona Marcolina também morando na casa citada, quando trovejava e o céu ficava escuro ela chegava no meio da rua para chamar os filhos que estavam brincando na Bacia. E então gritava: - Reduzinoranilaromelioritarogeriooooô venham pra casaaaa que vai choveeeer. Olha que o relho já está na mão esperandooooo! Era uma ladainha dita com muita propriedade. A seguir a casa de seu João Jararaca e dona Maria Rita (Tia Bia) e o irmão, o velho e querido escravo Tio Miguel, a quem todos nós pedíamos a benção. Nesta casa tinha um quintal com muitas frutas e um belo pé de gema d’ovo. Oi frutinha gostosa, que não existe mais no grande pomar que foi a ilha de Santa Catarina. Logo ao lado uma casa e não lembro quem ali morava; sei, no entanto, que fui muitas vezes lá com a prima Maria Júlia e bem

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mais tarde morou uma das filhas de Dona Izaura, esposa de seu Irineu. Depois a casa de Tia Júlia e tio Marcelino e todos os filhos: Marcelino, Avelino, Tolentino, Manoel, Maria Júlia e Áurea Maria. A casa de tia Júlia não tinha assoalho, e era muito pequena, mas quando jovem dormi muitas noites lá. Agora vinha uma descida mais acentuada, onde alguns anos depois foi construída a casa de madeira em que morou Edite, filha de dona Izabel e seu José de Aquino, o seu Joca. No lado de baixo desta casa tínhamos um córrego cujo grande olho d´agua era na grota, temida por todos e cheia de cobras. Tudo que não prestava, caco, vidros, cobras, restos eram jogados na grota. Ninguém descia lá, mas no córrego havia a fonte onde tia Júlia, dona Alice a esposa do senhor Celso lavavam as roupas. Uma pinguela permitia a travessia. Com a construção da casa de Edite e o nivelamento da rua o córrego desapareceu, foi canalizado. Do outro lado do córrego a casa de dona uma senhorinha que estava sempre com um pano amarrado na cabeça, plantava muitas ervas. Vivia só. Depois a casa de dona Umbelina, sua filha Sebastiana. Tio Miguel, vivia muito lá, e segundo sua neta Raulina ele ajudava dona Umbelina a criar seus filhos. Com a morte de Tio Miguel, dona Umbelina foi morar no Rio de Janeiro com sua filha Sebastiana (a Basta como era tratada) e que se casara com um jovem da Marinha Mercante. Foi, então, morar na casa um casal de alemães mas ficaram pouco tempo e se mandaram. Aí mudou-se então para lá a senhora dona Amara e seu parente Ari. Ao lado um pé de araçá e um de sapota, que dividiam o terreno de dona Umbelina, com o que meus pais construíram nossa casinha. Raulina Farias me informou recentemente que o pé de sapota até pouco tempo estava lá; mas agora foi cortado e só o tronco ainda resiste. Estava muito velho, pois eu tinha seis anos e ele já existia

quando meus pais compraram o lote; hoje tenho oitenta e seis, porém segundo novas informações da senhora Raulina Farias o dito pé de sapota está novamente brotando e provavelmente dará frutos para deleite de seus proprietários... Dali em diante era a “bacia”. Ao lado de nossa casa foi construída uma outra, onde foi morar o Senhor Alvício e dona Cecília, com seus filhos Edeonildo, Edelvício, Edevaldo, Maria e outros, quando então compraram uma casa na Rua São Vicente e se foram. Como novo morador então veio o senhor Pedro, mais conhecido por Pedro Mosquito, e que mais tarde também foi inquilino nosso. Novamente a casa desocupou e foi comprada por Ricardo, conhecido por Jacaré, casado dona Osvaldina, filha do senhor Lindolfo, e que tiveram 22 filhos. Hoje moram ali três filhos deste casal que já faleceu há algumas décadas. Uma casa a cem metros desta era morada de seu João Batista e dona Hercília, tios e pais de criação da minha amiga Linaura. Era uma morada também pequena, sem assoalho, sem luz e tão pobre quanto a minha. Um dia, ao lado da casa de Ricardo, numa outra casa, foi morar José Libano e dona Palmira (a Bia). Outra casa ao lado era a do senhor Nicolau e dona Tereza, mais uma pequena casa com um armazém, que não sei de quem, depois seu Pedro Calazans, um militar reformado da Polícia do Estado e sua esposa dona Júlia e a casa de tia Alice. Quando seus filhos casaram, ela cedeu um lote para Osvaldo e outro para a filha Bola. Eleuza ficou morando com a mãe. Daí para frente mais ninguém, só quando seu Ramiro construiu a sua casa bem mais adiante. Muitos anos depois, Linaura já casada com Jorge, comprou um lote depois da propriedade do senhor Ramiro e também seu Osvaldo e meu primo Tolentino. A rua foi crescendo e subindo novamente o Antão.

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Do lado esquerdo da rua e da casa de dona Luiza um grande espaço e a casa de seu Irineu e dona Isaura, com muitos filhos: Carminha, Zilda, Zilma e outros. No espaço ao lado e vazio o caminhão desceu desgovernado e mais tarde uma pequena casa onde foi morar um senhor conhecido por Antônio Fornalha e sua esposa. Foi depois a casa de seu Angelino, amigo de meu pai e motorista corajoso do caminhão. Um dia seu filho de dez anos mexeu no motor e o caminhão disparou caminho abaixo e caiu sobre a casa de dona Senhoria, na rua de baixo. A seguir a casa de seu Celso a esposa dona Alice e suas filhas Maria Clara, Edi, Hilda e Nasie lá também a jovem Maria Gorda. A seguir o córrego de que já falei e em que um dia Judite, a segunda esposa de tio Capistrano e já viúva, construiu ao lado uma pequena casa e ali morou com seu filho até que foi de muda para o Rio de Janeiro e nunca mais voltou. A seguir, depois do córrego e então no alto a casa de dona Geni. Atrás desses loteshavia uma grande faixa de terreno com muitas plantas, flores, verduras, bambuzal, galinhas, porcos, vacas, onde mora dona Lídia, a sogra de Reduzino Farias e sogra de minha prima Alba Brito. Dona Lídia era muito trabalhadeira, cuidava de tudo aquilo sem esmorecer. De fundos para este quintal estava a casa de dona Geni, de seu Tino, um policial militar, viúvo casado com a mulata Ondina, muito bonita e um casal de filhos do primeiro casamento. Tinha ali também vizinha a estes a casa do senhor José de Aquino, o Seu Joca e dona Izabel e as filhas: Edite, Odete, Marlene, Rute, Mariza e Sandra. Seu Joca doou parte do terreno e construiu o Centro Espírita Bezerra de Menezes, que foi inaugurado em 20-07-1945. Não sei se ainda existe. Quando seu Joca faleceu, seu corpo foi velado no Centro. Dona Izabel foi morar em Capoeiras com as filhas depois casou novamente e mais tarde faleceu.

Depois da casa de Seu Joca e Izabel tinha a casa de dona Vina, o esposo que não recordo o nome, mas de três filhos eu lembro: Betinha, Movan e Aquinoque foi cobrador de ônibus da linha Agronômica. Um menino muito bonito e educado. Lembro que a seguir tinha a casa de dona Teteia e seu esposo, um casal de idosos muito estimado por todos. Estes eram os moradores desta rua que ainda lembro, apesar de ser muito pequena (década de 1930/40/50. Os familiares de meu pai, na maioria moravam e alguns ainda moram ali. Foi ali que também cresci e vivi minha infância e boa parte da minha vida. Daí em diante não posso mais dizer, pois me ausentei há muito tempo do morro e não lembro. Muitas outras casas foram construídas, outras famílias vieram morar, houve casamento entre os jovens. A rua cresceu, subiu o Antão, dizem até que já tem uma favela. Não sei. Porém, a melhor década que ali passei foi a de 1940 a 1950, e um dia talvez eu escreva sobre a juventude que lá morava e fale sobre suas alegrias e amizades tão sinceras do Morro do Chapecó, que recebeu o nome de Rua Padre Schrader, mas que atualmente é mais conhecida como o Morro do 25, talvez em homenagem ao velho clube que lá está em ruínas. Mas sei que ali moram muitas famílias honestas, trabalhadoras e dignas, que merecem se escreva uma bela história. Mais uma notícia que recebo da senhora Raulina, um bisneto de dona Umbelina, morador nesta cidade de encantos mil, sabedor de meus escritos está interessado na leitura dos mesmos. Vou procura-lo para, apesar de tardiamente, agradecer e dizer-lhe do quanto sua bisavó nos alimentouquando criança. Naquele Morro ou naquela rua da minha saudade moraram muitos militares, quase todos da Polícia Militar do Estado,

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da Marinha, bombeiros e até do Exércitocomo foi o meu amo e senhor. Os jovens daquela época aos dezesseis anos iam para a Marinha, o orgulho das mamães. “ Meu filho foi para Marinha no Rio de Janeiro” diziam elas para as vizinhas. Posso, no entanto, dizer que ali também moraram oficiais da nossa Polícia Militar. Vejamos: naquela casa do Manoel (Mané) Teodoro, ao lado da venda do Mané Paulo viveu seu filho, o jovem Vilmar que chegou a capitão, o nosso saudoso amigo Vilmar Teodoro. Lá no Morro viveu também um jovem muito querido por todos. Morava o casal e um filhinho, de favor, na casa do policial Hermógenes e esposa Florisbela (Bela). Muito inteligente, ingressou na Polícia do Estado e chegou a Maestro da Banda de Música, o nosso sempre lembrado Tenente Coronel Roberto Kel, hoje patrono de uma Cadeira na Academia de Letras dos Militares Estaduais. Moraram também naquele Morro duas crianças, um menino e uma menina, filhos de um militar e ambos são atualmente Coronéis ou Tenentes Coronéis da Polícia: a Jovem e bela Edeniceda Cruz Fraga e seu irmão, e aqui peço desculpas por não lembrar seu nome.Ali também morou por pouco tempo o jovemMoacir Corrêa, que nas fileiras da Polícia Militar do Estado chegou ao posto de Coronel e hoje já está na reserva e Edelsicio um jovem filho do senhor Alvício e dona Cecília ingressou na Marinha do Brasil e chegou a Oficial. Não poderia fechar este trabalho sem falar na Bacia. AH! A Bacia da minha infância! Era na realidade uma grande bacia e talvez ali coubesse quase um campo de futebol. Na década de 30/40 só existiam do lado direito as casas de dona Umbelina, a nossa maisadiante, a de João Batista e dona Hercília, depois a de Pedro Calazans e a de tia Alice. Por todo lado esquerdo a grande faixa de terra com a casa onde mais tarde morou dona Lídia. No centro aquela bacia, que a criançada feliz pedia para chover bas-

tante. Como depois do temporal vem a bonança, a criançada do morro corria para banhar-se e brincar na bacia cheia de água da chuva. Depois deste banho, corriam para casa e banhar-se novamente pois a lama do fundo da bacia vinha grudada em suas roupas. Que saudade, que delícia. Isto que aqui está são minhas lembranças; no entanto, muito maisteria sobre as famílias, parentes e amigos que tenho e que lá vivem, porém a idade não me permite lembrar fielmente o querido e saudoso Morro do Vinte e Cinco ou o Morro do Chapecó..

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Osmarina OS ESCRAVOS NA MINHA HISTÓRIA Muitos amigos me chamam de saudosista e que vivo de lembranças, o que para mim é a mesma coisa. Porém creio que tenho minhas razões e até acredito ser um privilégio. Não é qualquer um quepode lembrar tantos momentos do passado, como este que segue: Conheci alguns escravos e posso também dizer que em 2017 poucas são as pessoas que podem dizer que conheceram uma dessas sofridas criaturas libertas pela Lei Áurea. Eu conheci. 1 – IZABEL IGNÁCIA DA COSTA, depois IZABEL IGNÁCIA DE SOUZA – Nasceu no dia 21 de novembro de 1865 na vila de Ribeirão da Ilha (segundo informações da Diocese de Florianópolis) e faleceu a 15 de fevereiro de 1941 no Morro do 25. Dela ouvi e vi lindas e sofridas histórias do cativeiro, seus trabalhos manuais e sua habilidade na cozinha. Izabel, foi vendida três vezes, casou com Silvestre Pereira de Souza, teve oito filhos. O mais jovem deles, João Batista, o meu pai. Ela morava conosco,


razão de ter ouvido muitas histórias, inclusive sobre o 13 de maio de 1888, quando foi liberta. Fumava cachimbo, trabalhava na roca e no tear, fazendo fios e panos para confeccionar seus saiotes. Virava as tripas da galinha, limpava os pés da ave, enrolava ali as tripas e fazia deliciosos ensopados dizendo: - Isto, minha neta, era o que comíamos na senzala. Para os brancos o peito da ave e da carne de porco, para os negros as tripas, a cabeça, a orelha, os pés os joelhos e todo o resto possível de aproveitar. E dai surgiu a feijoada, jogávamos tudo dentro da panela de feijão pois o trabalho era muito e o tempo era pouco. Eram seus filhos – Juvenal, quem muito cedo faleceu na construção da ponte Hercílio Luz,Valentim, Alexandre, Alzira, Alice, Júlia, Maria e João. 2 – TIO VICENTE - assim chamado por todas as crianças da rua. Era um negro sarará, muito querido e paciente, Não conheci sua esposa. No entanto, conheci suas filhasDonzilia, Maria Eufrásia, Carmélia, Jovita e o filho Bernardo.. 3 – MIGUEL, ou Tio Miguel para todos os vizinhos. Era amável com as crianças. Era pai do pioneiro naquele morro, o senhor Ramiro Farias e de dona Maria Rita, a tia Bia para os íntimos. Benzedor, lembro que certa vez benzeu meu pé de um terrível cobreiro. Tio Miguel, bondoso, ajudava financeiramente a senhora Umbelina, nossa vizinha, na criação de seus filhos Osvaldo e Sebastiana. Não sei se tio Miguel viveu maritalmente com ela, mas lembro de que estava sempre na casa da nossa vizinha. Quando Tio Miguel faleceu, dona Umbelina foi para o Rio de Janeiro acompanhando sua filha Sebastiana que casara com um jovem da Marinha Mercante. 5 – DEMÉTRIO – com sua esposa, era um casal amigo de todos do Morro, mas moravam no Estreito, em um pasto entre a

hoje rua Gil Costa e Barreiros Filho. Para se chegar lá subia-se a Rua Heitor Blum, depois Rua Spivak e aí o caminho para a entrada no tal pasto. Lá estava a casa do Demétrio, que cuidava dos animais de não sei quem.Lembro mais tarde que um portão na Rua Santos Saraiva era a entrada para este pasto, hoje rua Barreiros Filho e lá morava a negra Zulmira afilhada de minha sogra.. Demétrio era o CAPITÃO da dança cacumbi, da qual alguns ex-escravos ou filhos deste faziam parte, inclusive seu Ramiro e meu tio Alexandre e que muitas vezes eu assisti. 6 – NICOLAU (LAU) – Um homem com coração de anjo. Era o negro mais negro que conheci, magro, alto, casado com a senhora Zizi e tinha um único filho apelidado de Mazinho. Lau bebia muito, mas chegava em sua casa, deitava em uma esteira e dormia sem dizer uma palavra ofensiva a sua Zizi. Era um homem bom, admirado e amado por todos os moradores do Morro. 6 – PÊDRA – Fora escrava e creio que tenha sido alforriada, pois trazia o sobrenome de seus patrões “ Pêdra Anfilóquio. Alguns destes escravos estavam de alguma maneira ligados à minha família, senão vejamos: - IZABEL, já falei, era a minha avó. Mãe de João Batista que casou com dona Maria Clarinda, uma jovem natural da Colônia de Águas Mornas, casal do qual eu sou filha -TIO MIGUEL, ajudava dona Umbelina e seus filhos, justamente ela, a nossa vizinha que, quando meu pai jogava nossa comida para o cachorro Mandico, gentilmente ela nos passava por debaixo da cerca e nos dava um prato de comida. Muitas vezes até um pirão de feijão com um pedacinho de charque assado na brasa. Eu jamais posso esquecer este gesto de dona Umbelina. Tio Miguel era ainda o pai de Ramiro Farias, padrinho de crisma de

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meu irmão. A esposa de Ramiro, senhora Marcolina, era a parteira que atendia a todas as mulheres do morro na hora de dar a luz. Atendeu minha mãe quando ganhou minha irmã e meu irmão. - DEMÉTRIO – era amigo de meu pai e padrinho de batismo de meu irmão. - LAU – talvez seja entre todos o maior amigo de meu pai. Trabalhavam juntos e bebiam no mesmo copo. - PÊDRA – amiga de minha avó Izabel, lavava roupa na fonte da bica, porque morava em uma das últimas casas do Morro Nova Trento e era fácil descer e vir lavar e bater papo com vovó e mamãe. Pêdra fora na juventude a namorada de Cruz e Sousa. Quando o poeta foi para o Rio, Pêdra sofreu por longos anos. Casou depois com Belarmino Alexandre Machado, mas guardou por toda sua vida os poemas que Cruz e Sousa fez em sua homenagem, e que também eu tenho. Creio que dona Marcolina conheceu Pêdra, porque ela como parteira conhecia e atendia muitas senhoras do Morro Nova Trento e, apesar de certa distância, a casa de dona Marcolina dava fundos para os fundos da casa de Pêdra, lá no outro morro. -TIO VICENTE – este é o escravo cujos descendentes têm mais ligação com minha família. Vejamos: A filha MARIA EUFRÁSIA casou com o irmão de meu pai, o tio Alexandre e tiveram seis filhos; o filho BERNARDO casou com Maria (Bola) uma filha de tia Alice, irmã de meu pai. Tiveram dois filhos, uma não sei o nome e o garoto era o Vicente; JOVITA (Tota) outra filha de Vicente, casou com Osvaldo, o filho de tia Alice. Tiveram seis filhos; Epson, um filho de CARMÉLIA, portanto neto de Vicente, casou com minha filha Sonilda, tiveram dois filhos. Uma neta de Jovita casou com um neto de Maria, filha de Izabel em Sambaqui. Muito mais teria a falar, mas a estes heróis o meu agradecimento. Meu pedido de perdão pelos sacrifício que a sociedade

os fez passar e um agradecimento a Princesa Izabel pela Lei Áurea que libertou os escravos e por conseguinte a mim.

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Osmarina Maria de Souza Natural de Florianópolis, nasceu em 17-11-1929. Tem cinco livros publicados, mais quatro em parceira com outras escritoras e participação em 52 Coletâneas Poéticas É co-fundadora da Associação dos Cronistas Poetas e Contistas Catarinenses Co-fundadora da Academia de Letras de Biguaçu -Cadeira nº 20 Co-fundadora da Academia São José de Letras- Cadeira nº 24 Co fundadora da Academia Desterrense de Letras - Cadeira nº 10 Co fundadora da Academia de Letras de São Pedro de Alcântara (Acadêmica Honorária) Co fundadora da Academia Brasileira dos Contadores de Histórias – Cadeira nº 14 Com fundadora do Grupo Literário Terceiro Tempo Co fundadora do Grupo Romaria da Palavra Poética Tem diversos certificadosmedalhas e troféus. Recebeu da Câmara Municipal de São José o Pimeiro Troféu Oleiro É detentora do Título de Manezinha da Ilha e de SanatusPopulis. É Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina.


Nesses dias de 2017, desde fevereiro, dias tormentosos que a doença do câncer me agride e teima em me submeter ao desânimo, venho lutando e buscando transformá-los em bênçãos e dádivas, substituindo o sofrimento em oportunidades de crescimento espiritual e vida que se renovam pela fé e confiança na Espiritualidade e na Ciência inovadora. Nessa luta pela cura venho me encontrando com janelas de recordações, levando-me a nelas me debruçar, num reencontro com o passado ainda muito vivo e presente em minha mente, a renovar momentos eternos de nossas vidas, em suas inúmeras vivências de emoções, exemplos de amizade, de virtudes, compromissos, tropeçares e felicidades, que nos emocionam e nos fazem crescer. Muitas são essas recordações, que as guardo com devoção e carinho, algumas delas como exemplos de vida elevada e dedicada ao próximo e ao Supremo Ser da Vida. Nessas lembranças vivas, destaco para marcar minha participação de última hora, aproveitando um raro momento de minha sofrida recuperação física, um especial Testemunho de Vida prestado ao saudoso amigo Padre José Edgard de Oliveira, o PADRE EDGARD, assim conhecido pelas gerações de jovens nascidos nas décadas de 1960 a 1990, principalmente na região metropolitana da Capital Florianópolis, pelo sua atuação nos movimentos pastorais junto aos estudantes secundaristas e ao movimento escoteiro no Estado. Padre Edgard: De seu fecundo e santo sacerdócio, fui apenas alguém que sempre o admirou e o respeitou muito. Sinto que tive pouca presença e atuação nesses 50 anos de seu ministério sacerdotal. Mas sempre testemunhei sua coragem e firmeza em pregar e defender a palavra de Deus pela mensagem do Amor, da Caridade, da Justiça e da Verdade. 156

Conheci o seminarista Edgard no Seminário de Azambuja nos anos de 1950 e 1951, eu da turma dos menores, ele já de batina, da turma dos maiores. Por força da idade, eram bastante restritas as relações entre menores e maiores. Recordo-me em vê-lo jogando futebol no time principal, onde também atuava com destaque o amigo comum João Paulo Rodrigues (eu pertencia ao time dos menores) e na realização de uma peça teatral sobre a expulsão dos holandeses em Pernambuco, encenada pelo padre Ney Brasil, falecido em 04/01/2017, em Florianópolis. Também um pastor excepcional. Conhecido como o “Padre da Cidade”. Somente voltamos a nos encontrar, quando já ordenado padre, atuando na Arquidiocese de Florianópolis com trabalho de assistência junto aos jovens estudantes secundaristas, através da JEC – Juventude Estudantil Católica, nos anos a partir de 1960. Foi uma época no mundo onde a Doutrina Social da Igreja esteve muito presente nos estudos e ações dos movimentos estudantil, universitário e operário no Brasil. Os documentos oficiais da Igreja, conhecidos por Encíclicas Papais, como a Rerum Novarum (Leão XIII), Mater et Magistra e Pacem in Terris (João XXIII), influenciaram muito a nossa geração e os movimentos sociais no Brasil e em todo o mundo. O enfrentamento das questões sociais tratado nas Encíclicas Papais, em especial as de João XXIII, incluindo os ensinamentos de Lebret, Jacques Maritain, Michel Quoist e outros tantos, e apoiados na interpretação dos textos dos Evangelistas, passaram a orientar a minha visão pessoal sobre a missão da Igreja e sua presença no mundo. Foi nessa fase, a partir do ingresso na Universidade em 1962, que minha admiração e respeito à presença e atuação carismática de Padre Edgar passou a ocupar os espaços no meu pequeno mundo, como um ser admirável, extremamente humano e 157


acolhedor, decidido e pronto para ação, conselheiro e amigo em todos os momentos e situações, distribuindo entusiasmo, esperança, alegria, confiança, fé e felicidades a todos que o cercavam. Jamais se preocupou em fazer carreira, mas em encher a vida em plenitude, nas palavras de Padre L.J.Lebret, célebre humanista e grande economista francês do nosso tempo, que foi muito importante na formação política dos jovens sociais democratas de nossa geração dos anos 60, com seus famosos e memoráveis livros “Princípios para a Ação” e “Manifesto por uma civilização Solidária”. É este Padre Edgard, engajado, impelido pela Justiça e animado pelo Amor, amado e respeitado por todos os seus irmãos, que chega aos 50 anos de vida sacerdotal, tendo no sofrimento e na grandeza de seu trabalho de amor, a marca de seu ministério: serviu sempre, a despeito de considerações e privilégios. Na construção do Homem e do Mundo, apenas cumpriu a sua missão, sem discussão e arrogância, pela fé e o seu testemunho no Senhor, continuando a viver a vida em sua plenitude. Por isso, em 2008, quando a comunidade de São João Batista, sua terra natal e onde se encontrava residindo com seus familiares, resolveu festejar o seu Jubileu de vida sacerdotal, resolvi prestar-lhe uma singela homenagem pessoal. Como me encontrava impossibilitado em participar naquele dia dos festejos programados, resolvi mandar-lhe uma mensagem de reconhecimento e admiração por seu imenso trabalho social à serviço da renovação da Igreja e pela construção de uma sociedade mais justa e fraterna, mediante o diálogo com a juventude, de sua sabedoria, inquietude e alegria em transmitir as mensagens de evangelização, como escreveu o editor Rodrigo Lima, em Notícias do Dia, edição de 4 de junho de 2016, registrando sua morte aos 86 anos de idade, no

Hospital SOS Cárdio, ocorrida no dia 31, em Florianópolis. Esse gesto de reconhecimento, contudo, não chegou a tempo para ser lido e conhecido pelo homenageado. Como predito pelo jornalista Hamilton Alves, em matéria sob o título “Edgar, Junípero, Agostinho”, quando substituindo o titular da coluna do escritor jornalista, Flávio José Cardoso, no Diário Catarinense, edição dominical de 24 de janeiro de 1993, Padre Edgard era um Santo. E explicou: “Conheço facetas dele que o revelam como um ser tocado pela chama divina. Quanto aos desfrutes dos bens da terra, ao uso do dinheiro, me lembro que, certa vez, num papo informal, ele me disse que só dispunha do dinheiro necessário para os gastos mínimos, nada mais. Qual era esse mínimo ele também não explicou. Mas penso que um homem que vive com a cabeça presa a dilemas existenciais (ou com o espírito ligado a Deus) do que é mesmo que essa criatura precisa? De nada. Comer é uma necessidade biológica como outra qualquer. Mas alimentar o espírito ou procurar um caminho no torvelinho do mundo, que seja compatível com a dignidade humana, e, no caso de um padre, condizente com a santidade, não é simples. Ser santo, para mim, é, por exemplo, ter a plena consciência de que tudo no mundo é transitório, que todas as coisas que compõem a vida são feitas da mais pura tolice ou do mais puro absurdo e que só a santidade resplende em ouro. Mas o padre ou o sacerdote sabe que é feito de uma massa corrupta de que não pode fugir, que o acompanhará, como todos os homens, do berço ao túmulo. É uma nódoa permanente, que o permeará para sempre, de que não se libertará. O santo só vive em sociedade porque não há outra fórmula de escapar dela. Viver metido nela, sem outra solução, é de alguma formar emporcalhar-se. Mas para vencê-la o santo sabe que só conta com sua santidade. Quando encontro o padre Edgar (nunca mais o vi, deve andar escondido por

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algum canto anônimo, na sua igreja em Biguaçu, vivendo no meio de gente simples ou miserável, onde de certo modo se confunde ou é um deles) ele me passa a sensação de que ser santo é a única forma de vencer ou mundo ou ser maior que as coisas do mundo”. Depois de comentar sobre Frei Junípero e padre Agostinho, ambos com uma vida exemplar dedicada à dignidade sacerdotal em Florianópolis e região, tratados muitas vezes como “loucos, que se votam à santidade, como antídoto da corrupção de serem homens. Ou de ultrapassarem a contingência de serem filhos deste mundo”. E conclui: “Quanto a mim, morrerei provavelmente com a frustração de não ter me tornando santo, preso demais à condição de homem”. A admiração ao Padre Edgard, também por sua postura política avançada, revelou-se no reconhecimento popular que lhe foi prestado em 3º de maio de 2012, no Veleiros da Ilha, em Florianópolis, com a entrega do troféu Manezinho da Ilha, “que contempla pessoas que defendem a cultura e o modo de vida dos autênticos florianopolitanos”.

Muitas outras homenagens e reverências foram prestadas a esse santo homem, como o testemunho do jornalista Carlos Da-

mião, em declaração feita ao jornal Notícia do Dia, edição de 1 de junho de 2016, quando de sua morte no dia anterior: “Padre Edgard foi uma referência para nós, do Movimento Pólen, jovens ligados à Catedral Metropolitana. Ele sempre tinha uma palavra amiga, um conselho, uma orientação. Mais do que padre, era um mestre na arte de cativar a juventude, um exemplo que alguém que, com destemor, enfrentou o avanço da direita e da extrema-direita após o golpe militar de 1964. Por causa de suas posições, em defesa da democracia e da justiça social, acabou sendo marginalizado dentro da Igreja Católica, que preferia valorizar os sacerdotes conservadores para agradar os poderosos. Em outra de suas qualidades, Edgard jamais abandonou o escotismo, mantendo-se fiel ao movimento até o fim de sua vida, motivando a garotada com suas palavras carinhosas e estimulantes”. Thayná Hammes, escoteira, também expressou-se na mesma página do jornal ilhéu, afirmando sua admiração e devotamento ao Padre Edgard, “tendo dele partido o convite para a causa do escotismo, quando descobriu ser uma de suas maiores paixões... a última vez que o vi foi em 2011, quando alcancei o nível de progressão máxima dentro do ramo escoteiro, e ele apareceu de surpresa no acampamento para me entregar o distintivo Lis de Ouro. A emoção não cabia em seus olhos. Padre Edgard deu um dos maiores presentes da minha vida, e para sempre o levarei em meu coração”, completou. Mas é preciso que eu recorde aos leitores, um desses momentos de sofrimento do Padre Edgard, registrado em 1968 por Márcio Moreira Alves, Deputado Federal pela Guanabara (atual Estado do Rio de Janeiro), cassado pelo Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968, em seu livro O CRISTO DO POVO, páginas 251/252: Muitos católicos, sacerdotes e leigos, conheceram a prisão ou o exílio durante o regime militar.

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Naquele ano de 1964, “Padre Edgar era Assistente da JEC – Juventude Estudantil Católica, professor de Religião no Instituto de Educação e um dos grandes incentivadores dos ainda incipientes movimentos estudantis em Florianópolis. Quando ocorreu o golpe militar, 1º de abril de 1964, Padre Edgar participava de uma reunião no Seminário de Viamão, em Porto Alegre. Voltou a Florianópolis na noite de 4 de abril e, ao chegar à Casa Paroquial do Estreito, onde residia, começou a relatar ao padre Quinto os acontecimentos políticos. O padre José Backes ouviu a conversa e entrou na discussão. O debate azedou-se e chegaram a trocar empurrões. No dia seguinte, padre Quinto levou padre Edgar ao 14º Batalhão de Caçadores (hoje 63º Regimento de infantaria do Exército, no Estreito) para apresentá-lo ao comandante, que declarou ser o padre Edgar acusado de pregação subversiva, de realizar reuniões espúrias e de ter ligações secretas com o Partido Comunista. Padre Quinto, procurando amenizar a situação, disse que o padre Edgar se queixava de não ser compreendido e ter inimigos, e chamou a si a responsabilidade de interrogá-lo. Voltando à Casa Paroquial, um interrogatório começou, com um padre de batina respondendo às perguntas dos outros dois, fardados de capitães. O inquisidor mais áspero foi o padre Backes, que declarou ter em mãos duas listas de perguntas, uma que interessava ao 5º Distrito Naval (autoridade militar superior no Estado) e outra que interessava pessoalmente a ele. São exemplos destas perguntas: - “Quais são suas ligações com o Partido Comunista? – Tem a lista dos que iam ser fuzilados, caso “vocês” vencessem? – Que leitura você e seus rapazes fazem? – Que atuação teve em greves? – Que reuniões fazia? – Quem re-

cebia de fora? – Por que foi para Porto Alegre?” Ao fim do interrogatório, o padre Edgar perguntou se ia ser preso e se estava fora da proteção do Direito Canônico. Recebeu do padre Backes, como resposta: - “Fique sabendo que nem padre você é mais. Suas missas são sacrílegas. Sua situação é perdida”. Finalmente, na segunda-feira seguinte, quando ia saindo de casa, o padre Edgar foi procurado pelo coadjutor da catedral, com um recado do bispo - auxiliar, Dom Felício César Cunha Vasconcelos, que havia recebido informações sobre sua prisão iminente. Para evitar as celas da polícia política ou dos quartéis militares, padre Edgar recolheu-se ao Convento dos Franciscanos, onde ficou vinte e dois dias em virtual prisão domiciliar e de onde saiu para um estágio de dez meses na casa de seus pais, com a recomendação do Arcebispo de nem aulas de religião dar.” Este o testemunho que tinha a oferecer ao amigo e fraterno irmão, Padre Edgard, recordando um verso especial sobre a Excelência do Amor Fraternal, ou A Alegria da Concórdia Fraterna, cantado por Davi no Salmo 133: “Oh, quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união! É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Aarão, e que desce à orla de seus vestidos. Como o orvalho de Hermon, que desce sobre os montes de Sião; porque ali o Senhor ordena a benção e a vida para sempre”. Saudades!

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Em 03/08/2017


Valdir Mendes Cadeira nº: 22

De terror acovardados, os dois gatinhos, coitados, não puderam nem miar, lamentando tanto azar! Sem ouvir nenhum miado, a dona, por seu lado, dos gatinhos teve dó, e a porta abriu de uma vez só! Mesmo estando tão gelados, os dois gatinhos arrepiados Zás! Bem junto do fogão surgem, sem reclamação!

“Entre Portas e Janelas...” (Tatiana Belinky – retalhos) Dois gatinhos assanhados se atracaram, enfezados. A dona se irritou e a vassoura agarrou! E apesar do frio, na hora, os varreu porta afora, bem no meio do inverno, com um frio “do inferno”!

Confortados, no quentinho, com sossego e com carinho, dormem bem, bichos queridos, já da briga esquecidos.

(Tatiana Belinky – retalhos

Confortável ver que ser irracional possa desvendar o segredo da boa convivência, mesmo após arranhões. E nós seres humanos devemos assim agir. Por vezes as portas se fecham e por outras se abrem e então o caminho da felicidade surge. E a janela... por ela se observa o que acontece lá do lado de fora e assim podemos abrir para o desfecho de bem estar. A convivência sempre será salutar de porta e janela fechada nem pensar.

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Na janela espiar e então a porta abrir para a pessoa entrar. As portas e janelas existem, sim claro que existem e servem para que a brisa e a claridade adentrem na casa e possam fluir a natureza para o nosso observar. Pessoas, animais domésticos e principalmente a natureza, com certeza, sempre estarão lado a lado fortificando o bem querer, colaborando com as famílias. E na vida sempre haverá “entre tapas e beijos” – “entre querer e não querer” – “entre encontros e desencontros” e mais e mais... E “entre portas e janelas” temos a vivência diária e por certo sempre haveremos de estar entre elas pois faz parte do nosso cotidiano.

nando-as úteis para todos. Abrir, fechar, delas cuidar, pintura não estragar, não quebrar os vidros e sempre limpos deixar. Entre tantas e tantas coisas mais, eleva-se a porta e janela, para que por elas possamos ver e aproximar o horizonte e poder vivenciar os momentos tão firmes e importantes. Entre portas e janelas do real ao abstrato assim podemos conceituar. Valdir Mendes Pres. da ALB/SC, seccional de Florianópolis.

Quero sempre estar presente na janela, poder abrí-la, fechá-la e por igual a porta abrir e trancá-la, pois estas nos oportunizam as conveniências dos nossos dias. Quero, sim claro que quero, poder espiar através da janela e ver chegando os cultos e nobres literatos da Academia de Letras de Baguaçu e de imediato abrir a porta para confortá-los em nossa residência e com eles poder traças linhas de amizade, de interação e “entre bate papo” unificar o saber da escrita e da fala no aconchego da sala. Entre portas e janelas a afinidade se faz presenciar, faz por acontecer e torna o real das nossas vidas se motivarem. E em família todos se ocupam da janela e porta, tor166

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Gustavo Sérgio Heil Cadeira nº: 23

Fui uma serpente que vivia presa dentro de uma sala de armas. Visitei vários cômodos e nenhum deles me satisfez. Tinha a impressão de existir algo mais. Algumas vezes tive de aprender a esperar a porta se abrir. Foi assim que conheci o Mago Merlin. Com um toque de seu bastão mágico passei a falar. Expliquei a ele que apesar de [ser]pente, sonhava uma outra realidade. Sim, meu caro, as serpentes também sonham. Merlin permitiu que eu ali ficasse E observasse os encantamentos da magia. Pouco a pouco aprendi os mistérios do sagrado E um dia ousei a verbalizar palavras de poder.

Entre portas e janelas A estória dessa prosa é metade verdade e metade sentida. Estou disposto a narrar desde o começo. Vou contar como deixei de me arrastar para visitar os ares e os mares. Preste atenção, venha comigo, bem-vindo à magia. Peço apenas que não julgues, esvazie sua mente... Nasci dentro de um belo e grandioso castelo. Alguns da minha espécie diziam que sempre seria assim. Veríamos tudo igual, comeríamos migalhas e jamais seríamos os eleitos. 168

Após a invocação, a porta da sala se fechou. Um vento forte soprou, as janelas abriram e uma águia enorme adentrou. O que de fato ocorreu, jamais poderei entender. Foi o fim de uma vida rasteira. Meu destino estava aparentemente fadado à ruína. A ave de rapina me carregou para fora dali e de repente estava a voar. E lá de cima vi o reino, o bosque, a floresta. Não sabia explicar, mas sentia afeto pelo predador prestes a me devorar. Sua viagem às alturas me engrandeceu, 169


Permitiu que eu me conectasse com o céu, os rios, a mata e o sol. Vi a conexão de tudo, aceitei pela primeira vez a vida na sua magnitude Até avistar o velho Merlin...

Valéria Maria Kravchychyn Cadeira nº: 24

Vi o Mago erguer um cajado e bater três vezes na terra. Um fogo ali surgiu e tal qual uma escada subiu, subiu, subiu. Quando chegou aos céus tocou as nuvens pela qual passávamos. Ali um relâmpago e um trovão iluminaram e esbravejaram a terra. Senti uma carga elétrica passar por nós. Um brilho, uma luz ofuscou meus olhos. Entreguei-me por completo à experiência mais sublimar de todas. Por meio da alquimia me fundi com a águia. E dali em diante senti uma força extraordinária, superior. Aspirara o ar pelas narinas e expelia fogo pela boca. Compreendi que essa chama purificava meus sentidos. Fechei as portas e janelas do meu corpo para me integrar ao Universo. Foi assim que me tornei um dragão, Umas das criaturas mais respeitadas na face da terra E cuja missão seria aconselhar Merlin até o fim de sua jornada. E tudo isso aconteceu, não me pergunte como.

“Quando eu era pequena, tudo e todos me pareciam enormes. Ao me tornar adolescente, estas mesmas coisas me pareciam muito pequenas. Hoje, na vida adulta, tudo me parece exatamente do tamanho que deveria ser.” O Olho de Deus

Agora, é a sua vez... Gustavo Sérgio Heil

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Cursei o primário (era assim que se chamava o 1º grau nos anos 60) em um colégio de freiras. Então, não é de se estranhar que todas as alunas tivessem que conhecer o catecismo “de cabo a rabo”, livrinho este, que como a minha cartilha, guardo até hoje. Sempre tive o plano de ensinar um adulto analfabeto a escrever usando a velha cartilha na qual aprendi o “bê-á-bá”. Mas isto é outra estória. O assunto agora é o catecismo, que além da parte escrita, tinha diversas gravuras. A que sempre me impressionou, foi a que tinha um triângulo com um olho dentro, que representava o “Olho que tudo vê”, o “Olho de Deus”. Na época, eu apenas uma criança, tinha a sensação de estar sendo sempre observada. Até quando tomava banho eu não queria tirar toda a roupa, pois Deus estava sempre me olhando. Seria uma falta de respeito ou até mesmo um pecado mortal me apresentar pelada na frente do senhor. Chegou a ser uma obsessão! Outro dia quando recebi o resultado do meu check-up anual, não sei bem por que, me lembrei daquela época, durante a qual eu acredito, não cometi nenhum pecado. Um pensamento levou a outro e acabei chegando a uma conclusão. O “Olho que tudo vê” é o nosso próprio corpo. Nunca conseguimos fugir de sua “observação” de nossos pequenos ou grandes excessos, sejam eles físicos ou mentais. Ele é a testemunha permanente de tudo o que sentimos e fazemos. Tenho uma infinidade de exemplos. Beber e comer demais e errado, fumar, tomar sol sem protetor e não se exercitar são alguns deles. Ah, e tem um, o meu preferido, que medicina já confirma, e que tem uma relação direta com as mágoas que guardamos durante nossas vidas. O fato é que a atitude de ficar remoendo mágoas antigas pode resultar num grande número de doenças. Para citar algumas, as dos sistemas nervoso (enxaqueca e vertigens), cardiovascular

(hipertensão, angina e taquicardia), gastrointestinal (gastrite, úlcera e síndrome do intestino irritável), articular (tendinite, artrite e outras), respiratório (asma, bronquite e outras), endocrinológico e metabólico (obesidade e diabetes), doenças dermatológicas (herpes, urticária, enfisema), e tudo isso sem falar em doenças autoimunes e até câncer. A moral da estória, é que uma “simples magoazinha” guardada, causada por uma pessoa que continua vivendo a sua vida “numa boa” e não está nem aí para o que te causou ou provocou, e muito menos para o sentimento que você cultiva, pode literalmente acabar com a sua raça. Tem um “Olho de Deus” mais eficiente do que este? Deus pode até tirar férias. Não precisamos da punição Divina para o pecado do rancor. Este é um caso no qual já nos ferramos por conta própria. Para obtermos o perdão do nosso “Olho de Deus” interno, só temos uma saída: dar um basta. Aprender a difícil tarefa de praticar o perdão, relevar ou deletar de nossa vida o causador (ou a causa) que originou a mágoa, independentemente de este perdão ter se originado em decorrência de desvarios religiosos ou por uma simples e egoísta autopreservação. Afinal, por mais que pareça impossível transmutar um sentimento, às vezes há muito tempo arraigado, creio que ninguém em sua sã consciência prefira “dar comidinha” para uma bela hipertensão, um efisema, uma artrite, uma urticária ou para um câncer, talvez, incurável. Já dizia Shakespeare, “Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra”. Talvez pelo fato de ter me recordado dele já não sendo mais aquela pequenina isenta de pecados, eu consigo ver aquele grande olho emoldurado por um triângulo, apenas como uma espécie de amigo que fica por perto para me alertar. Ele já não me intimida mais!

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Miguel João Simão Cadeira nº: 25

ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL DE SANTA CATARINA – ABRINDO CAMINHOS PARA TODOS OS ESCRITORES DO ESTADO

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Embora a mídia mostre apenas escritores com destaques ou vinculados as grandes instituições, entendemos que a busca por novos talentos deve ser constante. Muitos escritores encontrados em pacatas cidades não têm a oportunidade para publicarem seus trabalhos, o que traz tristeza para eles, tirando todo estímulo e vontade de prosseguirem. “A Academia de Letras do Brasil de Santa Catarina (ALBSC) dedica-se a esse fim, pois busca novos escritores e valoriza o que chamamos de pequeno escritor ou iniciante”. E foi no ano de 2008 que tudo começou… Após assumirmos a presidência da ALBSC, nosso objetivo principal é alcançar todas as cidades de Santa Catarina com esse projeto. Sabemos que é um trabalho lento, pois não temos apoio financeiro dos governos, mas com recursos próprios enfrentamos as estradas e chegamos em terras antes desconhecidas por nós. Encontramos olhares curiosos e ao mesmo tempo felizes por saberem, que muito em breve colocarão sobre si uma toga, receberão uma medalha e um diploma que os tornarão imortais. Mas, ainda o que mais faz brilhar seus olhos são seus poemas, crônicas, contos e histórias escritas sendo lidas e expostas ao público. Aqueles trabalhos que estavam nas gavetas amarelados, hoje fazendo parte de uma antologia organizadas por eles mesmos. Aquele escrito que muitas vezes por medo ou vergonha de mostrar a alguém sendo folheados e lidos por um público. Tudo isso nos traz a alegria de saber que a partir de 2008, a cortina abriu-se e uma nova história está sendo escrita com novos escritores. São mais de 80 cidades de Santa Catarina que fazem parte do projeto da ALBSC. Escritores de todas essas cidades não tinham a menor ideia do que era uma Academia de Letras. Muitos depoimentos nos chegam e que um grande número de escritores 175


imaginava que uma Academia de Letras, como uma instituição, só poderia ser criada em cidades grandes, ou em capitais de estados. O sorriso estampado, as fotos tiradas, os abraços dos familiares e amigos e a presença das autoridades locais fazem brilhar os olhos dos novos imortais, que um dia puderam sentir-se valorizados pelo reconhecimento e pela oportunidade. Somam-se mais de mil pessoas envolvidas nessa história que envolve a ALBSC, foram mais de mil escritores descobertos que estavam no anonimato. Mas tudo isso é soma, é fruto de união, resultado do trabalho de um grupo que faz acontecer. O incentivo de pessoas que olham o nosso projeto cultural com seriedade é outra motivação que nos faz prosseguir. Ouvimos palavras que nos deram força e coragem de autoridades e nomes que brilham no estado catarinense para continuarmos à caminhada. Pessoas como a senhora Angela Amim, que em 2010, no dia 29 de maio na cidade de Itapoá, lá na Barra do Saí, teve a oportunidade de acompanhar a sessão de posse da Seccional daquela cidade. A palavra de carinho e de estímulo deixada pela ex-deputada federal e, na ocasião candidata ao governo do Estado, nos fez acreditar que nosso projeto iria avançar. O ator global Sérgio Mamberti, na ocasião prestigiando o mesmo evento, admirou-se de ver um salão com mais de 400 pessoas envolvidas na criação de uma academia de letras, numa noite de sexta-feira. O senhor João Matos (ex-depuado estadual e ex-secretário de governo), num dos eventos que aconteceu na cidade de Ibirama, também teve uma admiração profunda pelo nosso trabalho, o que o fez solicitar a criação de uma Seccional da cidade de Navegantes sob os cuidados da Faculdade Sinergia. A fala do Ministro do Superior Tribunal de Justiça, Marco Aurélio Gastaldi Buzzi, na cidade de Timbó, no dia 16 de novembro

de 2013, por ocasião da posse de sua mãe, Apolônia Gastaldi, nos deu ainda mais credibilidade para caminharmos avante nesse processo de criação de Academia de Letras. O ministro disse que a ideia de levar a Academia de Letras até o escritor, até as escolas, formar em cada cidade uma instituição cultural forte, é uma novidade que ele mesmo desconhecia. Parabenizou os idealizadores dessa nova modalidade, criar Academia de Letras por todo o estado de Santa Catarina. O saudoso e estimado Lauro Junkes (1942/2010), no segundo encontro de escritores promovido pela Academia Catarinense de Letras, que aconteceu na cidade de Orleans no ano de 2009, foi outro grande incentivador de nossos trabalhos frente à ALBSC. Numa roda de escritores dizia que novos tempos estavam chegando e novas mudanças aconteceriam com a implantação de Academias de Letras criadas nas cidades nos moldes da Academia de Letras do Brasil de Santa Catarina. Dr. Celso Leal da Veiga Junior, advogado, professor, radialista e escritor, morador de Tijucas, é outro amigo e incentivador de nosso trabalho. Dr. Celso sempre nos auxiliando e motivando. Não são diferentes pessoas como Dr. José Brás da Silveira, da Academia de Letras de Biguaçu, que em todos os momentos nos dá palavras de ânimos. Dr. Adauto Beckhauser, nosso amigo, que está sempre ligado à criação de novas Seccionais. O grande radialista e amigo Fernando Carvalho, da cidade de Imbituba, nosso presidente da ALBSC microrregional da região de Imbituba, parceiro e lutador nas causas culturais. Fernando tem carisma e isso tem atraído escritores para a criação de novas seccionais como o caso de Treze de Maio e Garopaba, em que no último mês empossamos seus imortais nas suas respectivas cadeiras. Incentivos que tivemos da nossa querida Dalvina de Jesus Siqueira, que acreditou em nosso trabalho. Em 2002, nos chamou

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para fazer parte da Academia de Letras de Biguaçu, início da motivação maior para o preparo dessa jornada na ALBSC. Parceiros como William Brenuvida e José Honório Marques de Governador Celso Ramos, Janice Marés Volpato de São José, Maria da Graça Fornari de Florianópolis, Maria do Carmo Tridapalli de Nova Trento, Joaquim Gonçalves dos Santos de Biguaçu. São pessoas que desde o início acreditaram em nosso trabalho e nos apoiaram. Hoje temos a certeza que as cidades que receberam suas Academias de Letras escrevem outras histórias e vivem novos momentos na cultura. A abertura que lhes foi dada motivou crianças, jovens e adultos a participarem da vida cultural de cada uma. Exemplos que encontramos em todas as cidades onde a ALBSC chegou e que têm mostrado em seus eventos literários a participação ativa da comunidade. Muito gratificante tudo isso, muito bom ver pessoas participando, não apenas dos momentos solenes de posse numa Academia de Letras, mas fazer desse momento o pontapé inicial para mostrarem seus talentos e dividirem com amigos da comunidade. Nossa Academia de Letras do Brasil de Santa Catarina, além de criar as Seccionais, acompanha seus trabalhos, visitas as escolas, apoia a criação e manutenção das bibliotecas escolares, promove concursos de declamações e de redações, promove pesquisa nas comunidades com a terceira idade, participa das festas populares, homenageia populares que fizeram a história acontecer em suas cidades… Agradecemos aos diversos apoios citados e outros que temos diariamente em nossa caminhada cultural. Esse batalhão de homens e mulheres que não medem esforços para fazer acontecer a cultura, a literatura de forma participativa.

Mas em especial, quero agradecer sempre a minha querida e amada esposa, Lucineide, que é a mais corajosa em toda essa história, incentivadora e orientadora, motivo maior para continuarmos a fazer a mudança na arte literária que acreditamos.

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Rogério Kremer

A fundação do segundo núcleo de alemães em Santa Catarina aconteceu na localidade de Louro, em 06 de maio de 1830, com as instalações das residências do 2° Diretor da Colônia São Pedro de Alcântara, João Henrique Soechting, acompanhado de sua esposa, Guiomar da Silva, e do filho, Júlio César, com mais dez famílias e cinco solteiros, todos imigrantes, dando início ao povoado de Antônio Carlos, nas terras dos índios XOKLENGs – BOTOCUDOS. Louro, originalmente, é o nome de uma árvore (Laurus Nobilis) da Família das lauráceas. Mas aqui se refere ao topônimo cuja origem situa-se em um enorme e grosso tronco de pé de

louro caído sobre o riacho hoje chamado Rio do Louro, que, na época, formava uma passagem sobre a qual se atravessava o rio. A localidade próxima ao rio passou a ser conhecida como Louro. Devido às origens, ainda há quem diga que a localidade da Capela de Louro ou Louro de Dentro pertence a São Pedro de Alcântara e não a Antônio Carlos. Nas cercanias da atual Capela de Louro, João Henrique Soechting, até 03 de junho de 1831, assentou mais 8 famílias de colonos alemães. Nesta data, sua população era de 56 habitantes. Com o crescimento do núcleo, construíram uma pequena capela coberta de palha. A Lei n°100 de 30/04/1838, no Período Imperial, no Bispado do Rio de Janeiro, Dom Manuel do Monte Rodrigues de Araújo, autorizou a construção de uma capela com a invocação de São Pedro Apóstolo e de um cemitério nas cabeceiras do Rio Biguassú (sic). Foi, então, construída a segunda capela, de madeira, sendo inaugurada em 22 de maio de 1838. O primeiro sino tem data gravada de 1838. O cemitério é o primeiro e único marco histórico que restou da imigração alemã em Antônio Carlos. O primeiro sepultamento foi de Heinrich Müller (Henrique). Antes da abertura do cemitério, os mortos de Louro eram sepultados no cemitério da Capela de Santa Bárbara I, pertencente ao primeiro núcleo de alemães, fundado em 01 de março de 1829 (hoje São Pedro de Alcântara). O cemitério de Louro foi o primeiro cemitério de Antônio Carlos até 1882, quando aconteceu a abertura de um outro, em Rachadel. O Bispo do Rio de Janeiro, em visita à Colônia Príncipe Dom Pedro, hoje Nova Trento, decreta a Lei Provincial n°544/0205-1864, criando a Paróquia do Arraial de São Pedro Apóstolo do Rio do Louro – cabeceiras do rio Biguaçu, município de São

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Cadeira nº: 26

PARÓQUIA DO ARRAIAL DE SÃO PEDRO APÓSTOLO


Quarta Capela de São Pedro Apóstolo, construção de 1902, com a sacristia construída em 1937, sendo demolida em 1973, para servir de hospedaria aos padres, pelas ocasiões de visitas pastorais. Foto de 09-04-1973. Acervo: Rogério Kremer.

Padre Alberto Francisco Maximiliano Gattone: Nasceu no dia 09 de outubro de 1824, em Schladen (Goslar), na Diocese de Hildeshein, na Alemanha, Filho de João Gerard Ignatz Gattone e Ernestina Frederica Gericke, foi batizado no dia 13 de novembro do mesmo ano e recebeu o nome de Francisco Maximiliano Alberto. Foi ordenado sacerdote em novembro de 1858, sendo designado para Hannover. Em 20 de agosto de 1860, requereu permissão para se retirar da diocese a fim de viajar ao Brasil como missionário. Pretendia trabalhar na Colônia São Pedro de Alcântara, em Santa Catarina, junto aos imigrantes alemães. Veio ao Brasil em 02 de novembro de 1860. Chegou a Joinville com o propósito de auxiliar nos trabalhos pastorais. Desde que chegou no Vale do Itajaí, além de Belchior e Gaspar, Padre Gattone passou a visitar as capelas na Colônia Blumenau: no Caeté (Garcia), dos bandenses (Badenfur), dos luxemburgeses (Texto Salto). A 25 de janeiro de 1865, deu a bênção na capela provisória de São Paulo Apóstolo, com a primeira missa e festejos em Blumenau, hoje Catedral. Foi pároco de Gaspar (1864 a 21-05-1867), Brusque, SC (1867-1882), e concomitantemente, de Itajaí (1871-1874), Laguna, SC e Vassouras, RJ. Na Colônia Príncipe Dom Pedro, hoje Nova Trento, Padre Alberto ministrou a Primeira Comunhão a Amábile Visintainer, hoje Santa Paulina. Em 1882, cansado e doente, Padre Alberto Francisco Maximiliano Gattone retirou-se para o Rio de Janeiro, sede da diocese (Nesse tempo Santa Catarina pertencia canonicamente ao Rio). Era um homem de grande cultura: falava o alemão, o português, o latim, o italiano, o francês e o inglês. Estimado e respeitado, ainda trabalhou na paróquia da

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Miguel da Terra Firme (hoje Capela do Louro ou Louro de Dentro, Antônio Carlos), abrangendo toda a área geográfica do atual Município de Antônio Carlos, e na mesma ocasião é nomeado para ser pároco da nova paróquia o alemão, Padre Alberto Francisco Maximiliano Gattone, que administrava as paróquias de Brusque, Blumenau e Gaspar. Por falta de comunicação do Bispo do Rio de Janeiro e dos Párocos de São Pedro de Alcântara, Padres Buperto Bucher e Guilherme Frederico Clemente Röer aos novos paroquianos da Freguesia do Arraial de São Pedro Apóstolo e ao Padre Alberto, este nunca tomou posse; como conseqüência a referida paróquia nunca foi instalada. E a capela continuou ser atendida pelos párocos de São Pedro de Alcântara. A capela da Freguesia, em 1864, era muito pequena, sem condições de servir de igreja matriz. Em 1875, é construída uma terceira capela de tábuas, pelo carpinteiro Nicolau Reinert. Em 26 de agosto de 1876, recebeu-se Despacho de Dom Pedro Manoel de Lacerda, Bispo do Rio de Janeiro, confirmando toda a área da Paróquia São Pedro Apóstolo como pertencente a São Miguel da Terra Firme, deixando de ser paróquia.


Glória e na Santa Casa de Misericórdia, residindo no Convento Franciscano de Santo Antônio. Mais tarde, doente, residiu no Hospital Nossa Senhora da Gamboa, Rio de Janeiro, onde morreu em 28 de janeiro de 1901. Seu corpo está sepultado no cemitério do Caju.

Vanda Lúcia Sens Schäffer Cadeira nº: 27

Fonte: KREMER, Rogério. ANTÔNIO CARLOS UMA CIDADE DE FÉ, 2016

CAMINHANDO PARA O ETERNO Caminhando resolvi convidar, aliados para comigo andarem lado a lado. Primeiramente convidei a paz. Ela chegou mas encontrou o meu coração um tanto agitado e foi embora... Paz era linda meiga e pura transmitia dos anjos a candura e desde então: 186

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a persegui-la coloquei-me. Buscava-a em todos os lugares em pessoas em coisas e até em supérfluos buscava-a. A paz resplandecia tão pura e sem maldade que me fez lembrar de bondade. Há muito tempo havia distanciado-me dela também. Pensei então... Se não posso ter paz comigo com bondade contentar-me-ei... Bondade veio encontrou o meu coração por fora esturricado por dentro fechado. E também foi embora... Um tanto, desolada fui encontrar-me com perdão. O perdão que é forte e decidido ficou escondido não quis sozinho permanecer em meu coração sentia falta do seu advogado tão cogitado pouco convidado o amor. Perdão falou em alta voz mas só eu podia ouvir. - Em vão procuras a paz, a bondade e eu o perdão se para o maior dos sentimentos ainda, não destes, vazão. Foi quando senti o cheiro da terra pó donde Deus me criara.

Foi só então que eu entendi que nada seremos se por esse mundo passarmos sem abraçar o amor. Com ele virá, a paz a bondade o perdão e outros bons fluidos virão. Entendi também que os amigos físicos podem nos decepcionar mas esses não! Não devemos apenas convidá-los, mas recepcioná-los com toda a força do pensamento. No entanto, o amor é exigente. A paz conseqüência. A bondade dom de Deus. E o perdão depois do amor é e sempre será o maior dos mandamentos.

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Esperidião Amin Helou Filho Cadeira nº: 28

As primeiras janelas da minha vida não valiam pelo cenário que descortinavam; significavam confinamento, proibição de ir à rua para viver a liberdade e os riscos da vida. Mais tarde, lendo o livro “Das Grades da Penitenciária” (1960), de Manoel de Menezes, padrinho da cadeira número 28 da nossa academia, que a amizade da nossa querida Dalvina e a generosidade dos meus confrades me emprestam, percebi que a janela pode não ter esse sentido figurado; pode ser a representação da própria prisão! E a figura que a sintetiza é a janela com grades.

Entre portas e janelas... gelosias e postigos Foi num dia de inverno quase tão rigoroso quanto este que estamos cruzando neste julho de 2017, que pude perceber a vantagem climática de uma janela. Percebi, guri de uns três anos de idade, que estava frio sem sentir o frio que fazia. Só mais tarde fiquei sabendo das desvantagens da janela e de suas formas alternativas. Conheci a desvantagem quando passei a ser proibido de ir para a rua por causa dos repetidos e freqüentes resfriados que me afligiram até os sete anos de idade, época em que o Dr. Araújo me retirou as amígdalas. Notei, então, que a janela representava a “prisão”. O frio e a chuva, por sua vez, eram acompanhados dos agasalhos que se sobrepunham, formando uma cebola de seis ou sete camadas. 190

Janelas, pois, podem ser aberturas ou “fechaduras”! Depende da circunstância que as colocam diante do nosso nariz! Por isso, sempre que enxergo uma janela me ocorre indagar: ela me protege ou me tolhe? Ela me deixa apreciar o cenário, presenteando o sentido da visão, ou me impede de sentir os cheiros, a brisa ou o calor? Devo agradecer pelo que ela me oferece ou reclamar do que ela me priva? A janela pode ser, também, o posto de observação implacável, fonte de mexericos e cizânias, a que alude o adágio trentino “Dona ala finestra no’ Ia val ‘na minestra!”, ou seja, “Mulher que vive à janela (janeleira) não vale uma sopa!”.. E as portas? Servem para proteger ou impedir? Em tempos de neurose determinada pela insegurança, elas são medidas e avaliadas pela capacidade física e de inteligência de que são dotadas para nos assegurar sossego e respeito ao lar e ao local de trabalho, certo?! Basta ver o que são as portas das cabines dos aviões. Tão “seguras” que protegeram a privacidade do co-piloto suicida Andreas Lubitz, do avião da GermanWings, lembra? 1 Mas as portas podem significar a busca de socorro, de redenção, de perdão. É o que nos promete Jesus em Lucas, capítulo 11, versículo 9: “Por isso vos digo: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei e abrir-se-vos-á.” De igual sorte, o filho pródigo, referido em 191


Lucas, capítulo 15, versículos 11 a 32, nem precisou “bater à porta”. Bastou apresentar-se no raio de visão do pai para ser acolhido de maneira generosa. Ainda, nessa configuração de “porta”, quem teve a ventura de “bater à porta do coração da mãe”, sabe que o retorno foi de um amor absoluto e perfeito. Pode ser a porta do Castelo de Canossa, cidade da Emilia Romana, Itália, diante da qual, sob intenso frio, Henrique IV, imperador do Sacro Império Germânico, aguardou, durante três dias, que o papa Gregório VII o recebesse e, perdoando-o, retirasse a excomunhão sobre ele lançada. A Penitência de Canossa, episódio ocorrido em janeiro de 1077, tem grande simbologia política na história. As portas, quando de saída, podem representar libertação de um presídio ou de uma clausura, tantas vezes retratadas em livros, novelas e filmes. Podem, ainda, caracterizar a “queda do homem”, relatada em Gênesis, capítulo 4, versículos 22 a 24. Nesse caso, além da expulsão, uma “espada refulgente” foi assentada para guardar o caminho da “árvore da vida”, fazendo definitiva a expulsão. Sob outro prisma, é entre as portas e janelas da nossa casa que se desenvolvem as atividades sociais mais comuns da família. A convivência, cada vez menos praticada pelo homem urbano moderno, tem nesse espaço um campo propício para se desenvolver. Sim, a urbanização, ao invés de favorecer, tem tornado mais difícil a convivência. Os celulares e as redes sociais, longe de estimulá-la, propiciam cenas intrigantes: grupos de pessoas ao redor de uma mesa dedilhando seus telefones celulares, sem conversarem entre si, envolvidas num interminável e extenuante debate cibernético. Mas, não merecem registro apenas portas e janelas. Existem muitos derivados e assemelhados que povoam nossa arquitetura. Vou recordar dois nobres “familiares”: postigos e gelosias. Quem de nós sabe o que significam essas palavras? A sinceridade 192

manda premiar esses raros conhecedores de palavras tão antigas... Recapitulando: postigo é uma abertura quadrangular em porta ou janela que permite observar sem as abrir. O chamado “olho mágico” é sua versão mais contemporânea. Quem já abriu o postigo para saber quem bate à porta ou está do outro lado da janela sabe o que é desconfiança. E quem estiver do outro lado já foi alvo dela. O postigo é uma versão mecânica da verificação do “pode ou não pode entrar”. É a barreira arquitetônica que inibe nossa interação e limita nosso contato físico com o interlocutor. A gelosia ou janela de rótula, sendo uma grade redonda de varetas cruzadas, pretende ocultar o observador. É também um recurso para espionar os “do outro lado”. A eletrônica moderna substitui a gelosia por instrumentos de espionagem que abalam repúblicas, inclusive a nossa... Concluindo esta incursão pelo espaço delimitado pelas aberturas mais presentes em nossos hábitos e habitat’s, faço duas citações. A primeira, de Machado de Assis, em “Memórias Póstumas de Brás Cubas: “... eu, Brás Cubas, descobri uma lei sublime, a lei da equivalência das janelas, e estabeleci que o modo de compensar uma janela fechada é abrir outra, a fim de que a moral possa arejar continuamente a consciência”. E, finalmente, de MateoAlemán, em “Guzmán de Alfarache”, um conselho muito prático: “Se batendo a uma porta duas vezes, não estiverem ou não quiserem estar, pois não respondem, passa ao largo e não te detenhas, porque perdendo tempo não se ganha dinheiro”. Esperidião Amin, em julho de 2017 Notícias sobre o acidente da GermanWings: • http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/03/piloto-do-aviao-que-caiu-na-franca-ficou-trancado-fora-da-cabine-diz-nyt.html • http://www.avioesemusicas.com/relatorio-final-do-acidente-suicidio-com-o-germanwings-voo-9525.html 1

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Alzira Maria Silva dos Santos Cadeira nº: 29

A colônia dos alemães Precisava de muita ajuda Na época compravam escravos E foi um Deus nos acuda

Tinha um negro mui sabido Um famoso capelão Rezava por toda gente Tanto negro, quanto alemão

Este sistema forte e cruel O alemão não aprovava Porém era obrigado Senão ele não desbravava

Os negros de Antônio Carlos Superaram todas as barreiras Têm graduados e doutores Também padres e freiras

Havia também na época Na mistura de tradições As mães de reprodução Cada um mostrava o seu lado Assim que ganhavam os filhinhos O negro aprendeu com o alemão Já entregavam ao patrão Comer carne seca com melado

Negros e Louros Em terras de Antônio Carlos Tinha negros e louros também Beberam da mesma fonte Da água boa que lá tem

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Santo Antônio de Categeró E o querido São Benedito Nossa Senhora do rosário Vós sois os Santos benditos

No cenário de Antônio Carlos Em Antônio Carlos tem negros Brilha negro, Brilha alemão claros Fizeram parte da mesma hisE alemão de pele morena tória Porque o amor que os une Com trabalho de suas mãos É uma relação muito serena Tortura e muito massacre Quão belo é Antônio Carlos No tronco em São José Com a mistura de seus povos Outro tronco em São Miguel E ainda guardam memória Era sofrimento da cabeça ao pé Desde os antigos até os mais novos Cinqüenta chibatadas apenas Era a ordem do delegado Entre vales e colinas Quem ultrapassasse essa É forte a união ordem E o padroeiro de Antônio Carlos Pagava um preço salgado É o Sagrado Coração. 195


Saudades da Minha Infância

Tinha outro tronco importante Que era a mãe de toda família A ela todos respeitavam E suas ordens eram cumpridas O mês de maio é mês de MÃE Neste mês Antônio Carlos foi reconhecido Também mês da abolição Deste povo tão sofrido

Parabéns negros e brancos! Alzira Maria Silva dos Santos 25 de março de 2013

Que mistura belíssima de raças De história e cultura Deus não tem cor nem sexo Bênçãos e graças vem das alturas

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Assim que as crianças nasciam Tratavam logo de batizar Porque se ficassem no escuro A bruxa poderia pegar Lamparinas e lampiões Ficavam sempre a clarear Pois o pagão no escuro A bruxa poderia maltratar Jogávamos 5 pedrinhas Chamadas de 5 Marias Brincadeira tão divertida E as meninas ficavam entretidas Quem pulava uma só corda Era garota de pernas fortes Mas pular em duas cordas Precisava ter muita sorte Brincadeira de bate manteiga Essa não podia faltar Quem corria mais ligeiro Sua equipe podia salvar Os meninos soltavam pipa Andavam de patinete e carretão Bolinha de vidro e também de pano Faziam carrinhos, tudo a mão Nas festas de São João Serviam aipim com melado Cocada e rapadura Batata doce e bom-bocado

Quando eu era pequenina Comia num alguidar O pirão era pra muitos Mas o conduto tinha que regular Um forno na rua era feito Para vários pães assar Mas se a lenha tivesse verde Botava prá fumaçar Socavam café num pilão Faziam açúcar e garapa E o bolinho de fubá Assavam em cima da chapa Em cima do fogão a lenha Assavam banana com casca Comiam-nas quentinhas Acompanhadas de café e bolacha Vinha da Praia do Tamanco O seu Candinho peixeiro Trazia em seu carrinho de mão Mais peixes que os gancheiros Nossa água era salobra Não dava para tomar Então traziam água da bica Para abastecer nosso lar O seu Juvenal Guilherme Era quem trazia água na pipa Puxada por um burrinho Ele ia abastecer lá na bica.

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Da Janela a Vida é Bela Da janela vemos a criação Vemos o sol, a lua, estrelas e o mar Os pássaros em revoadas dançantes Da janela respiramos bom ar Na soleira da antiga janela As moças iam se debruçar Para esperar os charmosos rapazes Passarem e com elas flertar Elas se arrumavam bonitas Com arranjos no cabelo, brinco e colar Ficavam esperando os rapazes dizerem: _ Como está linda! Minha princesa do lar Da janela namoravam contentes Pois só ali podiam se encontrar Os moços falavam encantadoras palavras Só da janela que podiam conversar Os rapazes mais ousados Falavam palavras atrevidas

Porque o progresso chegou diferente Mudando até quem tem altos muros Janelas de enormes vidraças Janelas de casas, presídios e hospitais Janelas de blindex ou espelhadas Janelas de diversos materiais Que saudade das antigas janelas Onde se via a vida mais bela Era das famosas soleiras Que os rapazes encantavam as donzelas Alzira Mª Silva dos Santos Biguaçu 31 de Julho de 2017

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E as moças emocionadas Ficavam todas iludidas Nas madrugadas silenciosas Vinham os seresteiros para as janelas Tocavam e cantavam amorosas melodias Que emocionava qualquer uma delas

Da janela que sai para a rua Tem um acesso maravilhoso Porque além de vermos a natureza Invade os cômodos com um ar gostoso Hoje temos janelas fechadas e abertas Algumas com grades de ferro ou no escuro

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Felipe Farias Ramos Cadeira nº: 30

DESENGANO15 Castro de Carvalho e Albuquerque - Oh! Mamãe, tudo bem com a senhora? disse Elizabeth ao ver a mãe sentada em frente à mesa de delegado. - Está tudo certo - repetia várias vezes o oficial enquanto se levantava, ao mesmo tempo em que arrumava o suspensório colocado pela manhã às pressas -, foi apenas um seqüestro mal emendado, senhorita. 15 Conto apresentado pelo acadêmico Felipe de Farias Ramos, sob pseudônimo de Castro de Carvalho e Albuquerque, no 9° Concurso Literário Conto e Poesia promovido pelo Sinergia. O opúsculo, premiado, foi selecionado para publicação em livro, o qual se encontra no prelo.

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- Os meliantes não roubaram nada, nem mesmo encostaram as mãos em sua mãe. Ela está sã e salva, não ocorreu nada, eu lhe garanto, concluía. A velha, no entanto, permanecia distante; alheia a tudo e a todos naquela mal organizada e barulhenta delegacia de polícia. Assinados alguns papéis – com a demora que é peculiar à burocracia – e prestados alguns esclarecimentos, Lígia Fagundes Monteville, viúva, 69 anos, brasileira, RG 69.575.702, estava, enfim, liberada. Algo estranho - era notório - afligia a senhora, contudo. Quem o percebia com clareza era Elizabeth, filha mais moça com quem a mãe, desde a morte do Dr. Monteville, passou a morar. Aquela estranheza, percebia a filha, era também diferente daquelas oriundas de grandes sustos, de desgraças; era uma feição algo estranha, diante da qual a filha não tergiversou: - Que foi, mamãe? Que tem a senhora? Lígia, perante o carro que já se aproximava a fim de que pudesse embarcar, suspirou densamente, e, nesse momento, sua mente, já maltratada pelos anos, como que se congelou por alguns rápidos instantes. Lembrou-se dos tempos de outrora em que o marido, do alto escalão do funcionalismo público, ainda era vivo; lembrou-se dos bailes de gala, das festas, dos presentes luxuosos e de todo aquele mundo para o qual, segundo suas próprias convicções, ela nascera. Vieram à mente as aulas de etiqueta e de francês a que semanalmente ela e as filhas eram submetidas, as criadas servindo os importantes convidados, os motoristas e as amas a tratar dos infantes que teimavam em fazer barulho nas ocasiões festivas. Com amargor, pensou na mísera aposentadoria que agora – distintamente dos tempos áureos – vinha-lhe por mês e em to201


das as privações por que, em virtude de sua atual condição, estava passando. Aquela Lígia exuberante - pensou consigo – não mais existia: uma mulher forte, com ideias vivas e educação refinada; seu gênio, dizia sempre o falecido, tinha aspectos excêntricos desde moça, mas nada que lhe comprometesse a doçura e o encanto. A propósito, mantinha a distinta senhora um desejo um tanto quanto inusitado: queria ser assaltada. Mas não esses pequenos assaltos; Lígia sonhava, desde moça, com um desses assaltos definitivamente superiores, premeditados até; obviamente que não lhe levassem tudo, mas, ao menos, algumas jóias, talvez certos relógios do marido e alguns brilhantes – nada que não pudesse ser reposto em curto tempo pelos ganhos de seu cônjuge. As empregadas recebiam, todas, pormenorizados esclarecimentos quanto às ações – no que respeita a choros e gemidos – que deveriam ser praticadas quando do possível ilícito. As filhas pequenas haviam já memorizado os procedimentos que seriam adotados em diferentes ocasiões: passasse-se o sinistro em casa, as ações seriam estas; fosse longe de casa, essas; junto à igreja matriz, aquelas, e assim por diante numa cadeia de razões que se seguia ao infinito. O marido, pasmado, olhava tudo aquilo incrédulo, mas, apesar do espanto, enxergava neste procedimento de seu cônjuge certo ar de brincadeira, coisas de mulher, enfim... - Mamãe - disse agora, enfaticamente, a filha na porta da delegacia–, que tem a senhora? A velha, porém, continuava com suas lembranças: parecia-lhe que tinha sido ontem mesmo a conversa que tivera com Dolores, amiga de longa data e esposa do Dr. Alcides, médico da família: - Ai, Dolores – dizia - Deus que me perdoe, mas existe coisa melhor do que ser assaltada! Ora, não me faça esta cara; pense, Dolores: um assalto é prova de poder, de riqueza, de dinheiro mesmo...

é a irrefutável comprovação de que alguém tem o que os outros não podem ter, de que alguém é aquilo que outrem não pode ser; de que, enfim, há quem queira ser o que eu sou, quem queira ter o que eu tenho. Certa vez, Lígia chegou mesmo a sonhar com o dia em que lhe fosse anunciado o “isto é um assalto”; quando, já desperta, percebeu que dormitava, ficou possessa, gastando o restante do dia – “para distrair”, como mesmo dizia – em compras e mais compras. Nas suas caminhadas até a igreja ou a farmácia, olhava com o canto dos olhos para os mendigos e pedintes, pensando consigo: ‘será este ou aquele que irá me abordar?’, ‘estará esse esperando para que, quando do meu regresso, venha me assaltar?’; não gostava de ir ao armazém acompanhada do porteiro da casa, homem de companhia: gostava mesmo era de ir com as criadas aos bandos, de preferência aquelas mais descuidadas com as sacolas. Decepção imensurável ocorrera quando o Dr. Albuquerque, inspetor policial, certa manhã anunciou à família que havia, na noite passada, desmantelado uma quadrilha que planejava assaltar a casa dos Montevilles. – Não pode ser – exclamou a senhora -, ao que o funcionário respondeu prontamente: Sim, senhora, prendemos todos; já estão detidos, longe, graças a Deus, de nossos filhos. A filha seguia com a mãe, e o carro já estava parando na frente da delegacia. Os tempos de agora, Lígia refletia ignorando o movimento que se passava ao seu redor, eram outros. A pensão que lhe deixara o marido, de há muito não atualizada, dava apenas para manter a casa da zona norte. O sítio havia sido já hipotecado e o apartamento de verão tomado pelo banco há poucos meses. O casamento das filhas também não havia vingado: Maria Olívia casara-se

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com um Motta, mas os exageros típicos daquela gente e a crise na agricultura levaram-nos a uma baixa jamais vista, de modo que seu sustento advinha de alguns aluguéis de propriedades do marido e de uma pequena paga por ele recebida na Secretaria da Administração Fazendária do Tesouro Estadual. Quanto à Elizabeth, a alta educação e os finos tratos com que fora acostumada deram-lhe uma visão deturpada da realidade, de sorte que todos os pretendentes, agora não mais oriundos daquelas finas salas de outrora, iam com o passar dos anos rareando perante as teimosas e renitentes negativas. Os empregados, em número tal que se precisava de considerável tempo para gravar–lhes o nome, reduziram-se a uma só doméstica, Rosalina, que – diante do último aumento do salário mínimo e da ‘indisponibilidade de verbas’ por parte da patroa – passara a trabalhar somente três dias na semana. As festas, de igual sorte, transformaram-se em alguns escassos chás em casas alheias, sob responsabilidade de uma ou outra amiga que, porventura, lembrava-se da Sra. Monteville. Lígia sabia de tudo isso, mas ainda se orgulhava de si; quando, a procurar algum troco para dar a algum miserável pedinte, nada encontrava, fechava sua bolsa de nariz empinado, e repetia para si própria: “tenho, ao menos, um sobrenome”. - Entremos logo, mamãe, o taxista está a esperar, alertava a filha. Foi, aliás, catando algumas moedas de sua bolsa – não mais aquela de brilhantes, dada em penhor mês passado ao Banco do Estado – que, naquela manhã mesma, aos 69 anos de idade, Lígia tivera uma experiência inédita em sua vida. O acontecimento por que aguardou durante toda a sua via, enfim, tornava-se realidade: ali, perante a tenda do Matias – o açougueiro -, dois rapazes de-

ram a voz de assalto: - Vai entrando no carro, minha senhora, que isso é um assalto... Como que privada dos sentidos, a velha entrou no veículo popular em silêncio – numa mistura de gozo e nervosismo, de apavoro e deliciamento. – E vai ficando quietinha aí, porque não vai sobrar nadinha, minha senhora”. - Ai, senhor, exclamou a distinta senhora, vocês irão me assaltar? Ao que respondeu o rapaz: - Nós vamos te levar para tua casa e tu irás nos entregar todo o teu ouro, certo? O carro seguiu por meio das ruas do centro da cidade. - Mamãe, a filha agora pegava cuidadosamente a mãe pelas mãos descendo aos poucos os degraus que davam para a porta central da delegacia. Mas os pensamentos de Lígia voavam no horizonte... lembrou-se de que, certa hora, um dos homens ordenou: - Passa a chave de portão rapidinho, minha senhora. Foi então que a seqüestrada se deu conta de que estava bem longe de sua casa, já que seu lar ficava no outro lado da cidade. - Já mandei passar a chave; ralhou o rapaz em tom ameaçador. - Mas, eu... eu não moro aqui, seu moço! balbuciou Lígia. - Como? Tu estás dizendo que não moras aqui? Oh Tião, não é essa a tal de Ruth? - Ruth? – quem falava agora era a sequestrada – meu nome, distintos senhores, é Lígia, Lígia Monteville... - Quê?! - exclamou Tião - Lígia? Eu não acredito! Impossível, como pode haver duas velhas tão iguais neste mundo, eu jurava que era a Ruth, e olha que eu conheço a Dona Ruth... - Ah, Tião, joga essa velha para fora do carro de uma vez

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– dizia agora o homem que conduzia o automóvel – e joga logo porque eu não quero me sujar por coisa pouca. - Anda, senhora, vai embora – dizia Tião enquanto, ao mesmo tempo, abria, já irritado e um pouco nervoso, uma das portas do carro empurrando a viúva –, salta do carro de uma vez por todas. Boquiaberta, a mulher ainda tentou explicar-se dizendo que seu anel, a despeito de não ser de ouro, era valiosíssimo... e que as joias, da mesma forma, poderiam, mesmo não sendo legítimas, trazer boa quantia desde que bem negociadas. Mas os homens estavam irredutíveis; a velha logo foi como que expulsa do veículo, vindo a cair sentada na calçada, num misto de temor e dissabor. O socorro, após considerável tempo, é que teve de levantá-la, levando-a a delegacia. - Mamãe, vamos de uma vez... o táxi está caro, alertava a filha enquanto o taxista abria uma das portas. Ao que a velha - já com uma das pernas dentro do táxi e com os olhos fixos na filha que a ajudava sem entender nada - respondeu sussurrando: - Foi por engano, minha filha; foi tudo por engano...

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Homero Costa Araújo Cadeira nº: 31

Entre Portas e Janelas Costumo dizer para meus amigos que fui gerado no Painel (antigo distrito de Lages), hoje município, e nascido em Lages. Vim para Florianópolis em 1969 e aqui finquei raízes como estudante de administração de empresas e de direito. Naqueles idos de 1970 os lageanos eram denominados “BOI DE BOTAS” ou “LADRÃO DE CINCERRO” e, isso, em algumas oportunidades ocasionaram algumas rixas com a turma da ilha e chegavam às vias de fato.

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Monumento “Boi de Botas”

Cincerro.

Retrucávamos, é claro, com: Amarelos; COMEDÔ DE BERBIGÃO e/ou PAPA-SIRI... Éramos taxados de BOI DE BOTAS porque em 1839 os farrapos formavam, na cidade de Lages, um pelotão de cavalaria que desceu serra abaixo para a tomada de Laguna junto a Giuseppe e Anita Garibaldi. Durante o combate, os canhões e carretões puxados por bois atolaram na lama e foram retirados a força de braços, pela comitiva lageana. O comandante Davi Canabarro dirigiu-se ao Coronel Serafim de Moura, que chefiava a expedição lageana e disse: Seus soldados se portaram com tal bravura, como se fossem verdadeiros BOIS DE BOTAS.

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Em razão dessa demonstração de civismo e bravura, o apelido “BOI DE BOTAS” virou sinônimo de heroísmo e é motivo de orgulho para todos os lageanos, enquanto que para as pessoas do litoral serve de gozação altamente pejorativa. Já, LADRÃO DE CINCERRO, é porque a cidade de Lages era passagem e parada obrigatória de tropeiros e viajantes que levam as tropas de gado e muares para Sorocaba, interior de São Paulo, onde eram vendidos na maior feira que existe à época, e, os tropeiros tinham por costume fazer seus acampamentos no local onde hoje está a Igreja Santa Cruz e também a CACIMBA onde deram de beber para suas tropas. Ali acampavam e soltavam os animais para descansarem e pastarem. A rapaziada da Vila de Lages, muito brincalhões e arteiros (característica do povo lageano), à noite, roubavam os cincerros das tropas ou colocavam palha de milho dentro dos mesmos, evitando assim que os tropeiros escutassem o tilintar do cincerro na hora de localizar a manada. 209


A rapaziada lageana, escondida nas redondezas do acampamento deram boas gargalhadas ironizando os tropeiros que estranhavam o que estava acontecendo. Assim alcunha de “Ladrão de Cincerro”. Aqui fiz grandes amizades, mesmo como “Boi de Botas” ou “ladrão de cincerro” as portas do caminho da alegria e de felicidade se abriram pra mim e aqui fui acolhido como um filho pela Ilha da Magia.

Hélio Cabral Filho Cadeira nº: 32

Entre portas e janelas Só! Entre portas e janelas vai Passando a minha vida acelerada. Uma paisagem que se sobressai, Alguma estreita e complicada estrada... Uma sombra que chega e logo sai, Tal qual uma visita inesperada; Um pôr do sol que logo nos atrai; Uma flor esquecida e mal cuidada...

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Com a alma debruçada na janela; Atrás da porta o coração mendiga, Sempre esperando o surgimento “dela”... Ela, essa noite eterna, indefinida... A indesejável; a última tramela, Das portas e janelas dessa vida.

No livro do amor Gosto de ler na tua boca os traços, E as letras dos teus beijos sensuais. Gosto de decifrar nos teus abraços, As formas dos prazeres mais carnais.

Cia do Bem Bendito todo aquele que é do Bem, Que deixa o dia prazeroso e lindo. Pode adentrar, pode ficar também, Pois, tudo que é do Bem, sempre é bem-vindo. Abençoado ainda seja quem Um sorriso sincero vai se abrindo, Quando nos vê e assim, nos entretém E a nossa dor nos vai diminuindo. Aquele que acrescenta uma energia Renovadora; positivamente Repleta de bondade e de alegria;

Em ler teus olhos já me satisfaço; Percebendo as paixões mais liberais; Em folhear teu corpo me desfaço, Nos devaneios mais sentimentais.

Quem tem essa atitude sorridente, Pode viver comigo a cada dia E andar sempre ao meu lado eternamente.

No livro da minha vida está escrito: Que toda a inspiração que vai surgindo, É fruto desse amor tão infinito...

Penso

Nessa leitura vou me descobrindo, Pois vou sonhando em teu olhar bendito E viajando em teu sorriso lindo.

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A lei da nossa mente é implacável. O que pensamos - sempre construímos; Se acreditamos - é realizável E aquilo que sentimos - atraímos.

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A força do pensar é incalculável; Remexe, mexe, aguça o nosso tino; É energia pura e inesgotável; Transforma, forma, muda até o destino. O pensamento é vida e concretiza O sonho, a meta mais laboriosa E tudo o que se quer se realiza. O pensamento é Deus que se renova; É dessa vida a forma mais precisa E a força mais intensa e poderosa.

Assim seja! Sorria que o mundo é maravilhoso; Sorria que viver é muito bom; A bondade é o teu bem mais precioso E só o amor é o verdadeiro dom. Busque escutar, de um jeito harmonioso, Da natureza o milagroso som. Pinte sua vida com o gesto generoso, Que dá ao mundo o verdadeiro tom.

Expresse a caridade e a gratidão... Pois cada gesto que você mantém, É Deus agindo no seu coração.

Atrevidamente Dispa-se dos seus medos, das suspeitas; Exponha agora seu atrevimento; Arrisque, esteja sempre em movimento; Não fique só esperando por gorjetas. Não estacione no planejamento; Nem busque coisas fúteis ou perfeitas. As mais compensadoras das colheitas, Exigem, força, garra e envolvimento. Ouse! Jamais recuse um desafio! Não deixe a sua alma entorpecida, Nem deixe coração ser tão vazio. Trabalhe com audácia e persistência! Assim, com sua força destemida, Fazer valer a pena essa existência!

Sorria, ame, ampare, faça o bem; Estenda humildemente a sua mão, Ajude a todos, sem olhar a quem. 214

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Dulcinéia Francisca Beckhäuser Cadeira nº: 33

Fonte: Blog QMágico.

Entre Portas e Janelas

O país tem priorizado mais a telefonia celular e menos em saneamento básico, concede incentivos fiscais para a uma grande indústria e não investe na construção de mais escolas, como meio de promover e alavancar desenvolvimento intelectual da nação. No ensino não se consegue atingir os objetivos educacionais nos dias atuais se o processo educacional não estiver atrelado ao sistema do poder das tecnológicas.

A importância do ensino no processo tecnológico e o contexto social Nos dias atuais a tecnologia está cada vez mais nos surpreendendo. Não deve haver “reservas de mercado” para as elites pensantes para cientistas, filósofos ou governantes. As pessoas menos favorecidas, por direito como cidadãos e necessidade como seres humanos, precisam saber das implicações que a tecnologia tem para seu dia a dia.

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A mensagem continuará sendo direcionada através das tecnologias aí postas. 217


No entanto, não podemos tirar o mérito dos benefícios das tecnologias, porque eles poderão oportunizar abordagens e reflexões, durante a formação escolar do indivíduo. Fazendo desta forma a eles, oportuniza as implicações da tecnologia no contexto social e familiar. As discussões sobre tecnologias e o ensino formal devem ser alavancadas pelos profissionais para dar uma excelente formação. Neste contexto, quero lembrar da importância da leitura para uma excelente formação pois, é importante a leitura na minha opinião. Quando a família e a escola dão oportunidades da vivência da leitura, as crianças ganham em dobro em sua aprendizagem já que a tecnologia está hoje posta em todos locais. Daí o processo de aprendizagem torna-se natural e gostoso de vivenciar no dia a dia. Estamos vivendo no tempo da tecnologia e nós educadores devemos estar atentos para avanços tecnológicos a nível social e escolar. Pois, ele pode prejudicar ou ajudar a escola e a família tem que caminhar juntas. Somos responsáveis por tudo que acontece com nossos filhos. A responsabilidade não é só da escola, pois, a educação começa em casa e a continuação da educação. ENTRE PORTAS E JANELAS Os estudos da introdução da tecnologia na educação começaram nos anos 80, com sede no Instituto Estadual de Educação com um projeto experimental de uma equipe da Secretaria Estadual de Educação do projeto Logo. 218

Somente em 1997 no governo de Paulo Afonso Vieira, tendo como Secretario da Educação João Matos, é que realmente a informática foi introduzida na educação, como mais uma ferramenta de aprendizagem, com acesso à Internet em todas as escolas. Foi implantada a videoconferência para melhor comunicação entre o grupo de pesquisa e os professores. O Professor João Vianey, professor da Universidade Federal de Santa Catarina e consultor em Educação a distancia, orientavam nossa equipe nas pesquisas. Neste período eu exercia o cargo de Gerente de informática Educacional no Estado de Santa Catarina. A princípio foram criados os núcleos de Tecnologia Educacional (NTE) que funcionavam nas redes das Secretarias Regionais. Com duas equipes, uma composta por Informática Educacional e outra de Informática operacional, saímos montando os núcleos para formação de professores. O Governo de Paulo Afonso Vieira não poupou esforços nos investimentos na Educação. Durante seu governo sempre fazíamos palestras, seminários e congressos em varias regiões do Estado, onde participavam mais de dois mil professores. A partir de 1995 a 1997 começamos a colocar os computadores nas escolas estaduais, implantando os laboratórios de Informática Educacional. Foi uma tarefa difícil, porém gratificante. Encontramos resistência ao uso de informática na educação, pois qualquer mudança gera preocupação, ainda mais na educação. Percorremos os mais longínquos locais do Estado de Santa Catarina para implantar a informática na educação., todavia, en219


contramos resistência de professores, já que na época, em determinados locais, era exíguo o conhecimento da tecnologia. Por vezes tínhamos que mudar todo planejamento em determinado estabelecimento Escolar, em que os alunos tinham bom conhecimento de informática, passando o aluno a ser professor e o professor a ser o aluno. Nem tudo eram flores neste trabalho de implantação da informática nas escolas, lembro-me bem do ocorrido em uma determinada Escola Indígenas no Morro dos Cavalos no município de Palhoça. Todas as Escolas receberam um laboratório de informática completo, e de igual forma foi realizado nesta escola. Foram entregues os equipamentos, contudo o Cacique abriu as caixas, sem esperar a equipe de apoio para instalação dos aparelhos. O cacique distribuiu na casa de cada de índio um Visor do computador, ligaram os aparelhos de voltagem 110 direto na rede de voltagem 220, queimando todos os aparelhos. No dia que a equipe de apoio foi realizar a instalação dos computadores, os índios correram com a mesma, pois alegavam que deram aparelhos queimados e que não aparecia imagem nenhuma. Somente com o auxílio da policia é que a equipe de apoio conseguiu levar os equipamentos para realizar os consertos e posteriormente efetuar a implantação do Laboratório de informática nesta Escola Indígena. O projeto foi uma experiência extraordinária. Hoje às escolas e as pessoas já não convivem mais sem o uso da tecnologia. Bem diferente de quando começamos.

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Vera Regina da Silva de Barcellos Cadeira nº: 34

VERA REGINA DA SILVA DE BARCELLOS denomina-se Vera de Barcellos, nasceu em Florianópolis, capital de Santa Catarina, em 17 de fevereiro de 1948, filha de Adi Catarinense da Silva e Valcivia Maciel da Silva (ambos in memoriam). Atualmente é acadêmica de várias Academias de Letras, Associações de Escritores e Grupos Literários. inclusive a Academia de Letras e Artes de Lisboa e a Divine Académie Française des Artes Lettres et Culture. Lançou até hoje (2017) 9 obras literárias: Na luz a dor da saudade tua; Cores poéticas em seu coração; A ratinha solidária; 150 anos de Cruz e Souza; Portal da Luz; Minutos de Paz e Sabedoria; A trilogia em três volumes intitulada Colorindo a Vida. Em seu acervo literário mantém noventae99 coletâneas, recebeu vários Prêmios, Troféus, Diplomas e Certificados de valor nacio-

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nal e internacional e mantém 41 obras literárias, registradas na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Sua alegria é conviver com sua linda família, filhos, nora e netos, seus trabalhos artísticos, musicais e literários e seus amigos, confrades e confreiras que comungam os mesmos ideais. Vera.de.barcellos@gmail.com www.veradebarcellos.com.br

Uma Flor!

Uma flor de amor Deixada na alma Exala o perfume da paz E do bem querer...

Não sei...

Não sei se deixo rolar As canções que partem Da minha alma

Num tempo dos carrosséis da vida! É o vaso na janela Flores ao derredor É o vento... Que canta em sussurro Desfolhando As páginas do meu diário! É o balanço das plantas Ou o canto dos pica-paus É a pluma que cai de mansinho Na minha caixa de música das saudades! Respiro forte O néctar das flores no meu jardim... Vejo nuvens que correm Em desalinho Pelos céus que sempre foram... azuis Deixo meus dedos Rolarem pela grama verde Dedilhando no teclado de piano Surdinas musicais É a lua que adormece... É o sol que acorda... Num recanto guardado da minha saudade! Quando uma coleção de porcelanas antigas Lembram-me os chás nas toalhas de linha branco Acobertadas das iguarias, receitas européias Ah! Quanta saudade dos meus tempos de criança... crescida Hoje só lembranças... lembranças... (Na juventude o canto eterno das recordações da meninice)

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Páginas... Paginas em branco Simples páginas A esperarem por mim... Acaricio Cada linha Beijo cada página No encanto Dos meus pensamentos E no desabrochar Da minha alma! Então levo as tintas De uma pena antiga A desenrolar O que Meu coração dita... Nas linha em branco Do meu diário Minha amiga! Minha amiga... Teu sorriso Singelo gesto Das almas primeira Daquelas que vencem Calada O gosto dos gomos das frutas

Às vezes amargas... Vencestes eu sei Mais uma parada Ao percorreres Pelos caminhos da tua vida Mil etapas... delas perdidas Nos encantos E desencontros De tantos... De outros momentos Descortinados de ti mesmo... Olhas hoje O despertar Dos teus horizontes As linhas que já se foram Apagadas pelo tempo Vencestes... Em silencio profundo Estão coladas em teu coração As lembranças opacas Das tuas recordações Ao vento da vida... Sim da vida! (contando as estórias de amigas nas experiências da vida)

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Lembretes... Inebriada de luz Leio a certeza De teres cumprido Tua missão minha amiga! As folhas do teu diário escolar... Os fiéis de Cristo Vencem sempre Todas as batalhas Todas as dificuldades... Tua alegria contagiou a muitos Tua caridade mostrou a nós o caminho Tua fé deu-nos a força de continuar Sejas sempre amiga querida A bandeira na caminhada A todos que andarem por tua trilha Deus existe, não? (uma querida amiga que fez os votos para o convento Um toque Um toque Do raio De sol Ë a luz De teus olhos Adentrando Nas janelas 226

De outras almas Imanadas De graças, Amor E Luz! (O olhar de Pedro) Eu senti saudades... Na calada da noite Enquanto os vaga-lumes cintilavam Enquanto a brisa em guarda-chuva aberto Diante do brilho das estrelas No céu... Um viajante das estrelas seguia E eu da janela ouvia. Turvo o que lá dentro. Da janela consentia... Um par de meias finas. Um meio charuto retorcido. Que de pernas e bocas. Não conheço o dono! Mesmo assim. Continuava a viagem em regresso. Pelos caminhos do amor Por entre telhados úmidos Pelos orvalhos gotejantes Umedecendo o verde da grama. Da cama desfeita 227


Rejeita... traços Dos corpos nus... cansados Que não queriam ir embora Na calada da noite Os sonhos desvaneceram-se, e além Das gotas do orvalho O torpor de um novo sonho! Um novo sonho! (introspecção de alguns sonhos) Uma nuvem passou! Uma nuvem Passou... lentamente Transformando-se Em diferentes recados Quem percebeu? Era o vento Que de mansinho Acariciava Em ação O sopro de DEUS Quantos ventos eu percebo? Quantas nuvens eu vejo? Quantos esquecimentos ... de DEUS ! (se todos vissem e ouvissem...!)

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Tempo... meu tempo ! Do tempo que restou Saudades... Saudades... Um capim melado Só o sopro Do meu assobio... É a alma que chama De mansinho O toque do vento Adentrando nova estação! Saudade! Primavera Dos ares floridos De outrora Dos campos verdejantes Das raízes fortes Dos sentimentos nús Esperanças novas Sim... novas! Perguntarão... quem sabe! O que Fizeste Dos teus dias? Teus tempos? Tua lida? Teus pensamentos? 229


Tuas obras? Tua boca? Tuas mãos? Teu corpo Teu encanto Teus desencantos Tuas simpatias E mais Quantos teus? Ah! como responder? Quem sabe... devo começar tudo agora Por que não? Helenita Teu diário Linhas tuas Nuas linhas De tons multicolores Das dores que permeiam Ao debruçares Na janela Do mundo... Visão dos seres Que vão... que vão.... Na multiplicidade Dos sons... Que vêm Das almas dos corações Onde estão? 230

Se encontrando ou buscando-se Mas vão... Um dia encontrar O que nós Um dia já encontramos nos caminhos de Deus O Amor Infinito! Poeta enamorado! Adentra teu coração Uma estrela Que vem... Que chega... De mansinho Ensinando O amor Eterno canto Dos poetas enamorados Adentra teu coração E escreve linhas de tua alma Mulher-poeta! Mistério Que em si mesma... Mistérios...

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Luciano Peres Cadeira nº: 35

UM LINDO ENCONTRO COM DEUS E A FELICIDADE Luciano Duarte Peres Nesta vida, as nossas escolhas começam com um lindo diálogo junto a Deus, antes de nossa concepção, em que definimos um propósito para evoluirmos espiritualmente. Deus, em sua infinita bondade e generosidade, nos concede o livre arbítrio de sermos os protagonistas de nossa existência. Assim, nascemos com o propósito de fazermos o bem e ajudarmos na construção de um mundo mais justo, caridoso e igualitário. Nossos pais são os primeiros santuários de vida. Devemos, todos os dias, em virtude da benção da vida, concedida por Deus, cumprir o seu mandamento de honrarmos pai e mãe, em todo o 232

seu amor. Em suas regras, Deus nos pede para cumprirmos as leis, os mandamentos, e acima de tudo, amarmos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Deus nos dá nestes mandamentos o verdadeiro segredo da felicidade. Crescemos, em bondade e sabedoria, e começamos a conhecer e construir este mundo que, nada mais é do que a soma das opções individuais da vida de todos os seres humanos. Devido ao poder humano, a riqueza humana e o ego esquecemos o nosso propósito inicial, desviamos do caminho de caridade e oração, e nos afastamos de Deus. Com isto, começa as competições, guerras, corrupções, ganâncias, e todas as demais mazelas criadas pelo homem. Tudo isto ocorre por esquecer e escolher um caminho diverso ao caminho da oração. Deus, por meio de sua graça, nos concede a liberdade mesmo ciente que nossas decisões poderão nos levar por caminhos diferentes do que Ele deseja. Somos pela bondade divina o reflexo de nossas escolhas. Ele espera e confia no retorno de seus filhos. Como na parábola do Bom Pastor, Deus busca a cada dia resgatar as ovelhas perdidas. Temos o segredo da felicidade, e estar com Deus, não significa abdicar da vida, do progresso e da prosperidade, mas ter a certeza que podemos progredir e prosperar. Devemos fazer o bem sem olhar a quem, deixar cada um com seu livre arbítrio de fazer suas escolhas. Somos responsáveis uns pelos outros e não podemos contribuir com criticas, brigas e desavenças, mas com muita oração. Afinal, cada um faz suas escolhas e devemos respeitar a cada uma delas, por mais que nos desagrade. A grande beleza da vida é que somos todos diferentes. E isto contribui para a nossa evolução e felicidade. Podemos construir um mundo melhor para nós e nossos filhos, que nos escolheram com Deus, para sermos seus orienta233


dores e condutores nesta vida. É muita responsabilidade e honra esta escolha. Isto ocorre, também, de igual sorte com a escolha dos amigos e cônjuges. Agradecer por nossas dificuldades e aprender com elas são bênçãos. Deus está pronto em todos os momentos para nos ensinar e se somos capazes de errar tanto é porque o homem carnal é propenso a falhar. Muitas vezes, estamos ocupados com as coisas mundanas, e por mais que sejamos livres em nossas escolhas, Deus através de seus anjos da guarda nos orientam para que tenhamos vitória e prosperidade. Não podemos esquecer que, somos livres em nossas escolhas e que somadas são espelho do que somos. Por isso, respeitar a natureza, os animais, o próximo e a si mesmo são sementes do bem que plantamos no decurso de nossa vida. É sabido que, mesmo plantando o bem, teremos tempestades, pestes, pragas e doenças. O remédio de tudo está na oração, fé e a confiança em Deus. A vida é muito simples e o reflexo de nossas escolhas somos nós. Nossa passagem por este mundo só será turbulenta se nós complicarmos. O mundo precisa de homens de bem e a responsabilidade aumenta quando temos a graça de podermos fazer um mundo diferente, através de nossa profissão, de nossa escolha de vida, e levar a todos uma justiça interior e uma justiça divina. Basta que sejamos um templo vivo de Deus na terra. Amar não custa nada. É despretensioso, não é egoísta, o amor é livre e respeitar ao próximo e a si mesmo são verdadeiros exemplos do amor de Deus. Estar com Deus não significa deixar de viver as coisas da vida, mas viver a todas elas. Plantar o bem e querer ao próximo a mesma paz que sentimos quando optamos por cumprir a escolha que fazemos com Deus. 234

A liberdade de escolhas é a maior prova da generosidade de Deus. E Ele entristece ao ver a forma com que o homem usufrui desta liberdade e acaba por tomar decisões equivocadas. A partir destas escolhas, o ser humano cria um mundo cheio de rancor, ganâncias, corrupções, guerras e desrespeito a si e ao próximo. Certamente, criamos nossos filhos e almejamos a felicidade para eles. Por vezes, ficamos entristecidos quando escolhem caminhos tortuosos. E, assim, Deus é com todos nós, somos filhos Dele, e Ele conhece e ama a cada um da mesma maneira. Como na parábola do Filho Pródigo, o Pai sempre espera o retorno do seu filho com festa, nós esperamos o retorno dos nossos filhos, e Deus espera paciente o retorno de cada um de nós para uma vida de amor, caridade, oração, e recebe com festa quando retornamos a seu verdadeiro amor. Basta querermos amar e voltar à casa do Pai, aceitar o seu verdadeiro amor e sermos o templo vivo de Deus.A vida está para ser vivida e não precisamos esperar pelo próximo. Podemos fazer a nossa parte na construção de um mundo melhor. Então, vamos plantar amor, compreensão, bondade, caridade, trabalho, prosperidade e lembrar todos os dias que viemos de Deus e para Ele iremos voltar. Amar ao próximo como a si mesmo é gratuito, e sorriso e o abraço são dons. Todos nós temos o direito de sermos felizes. Não devemos cobiçar o que é do próximo. Ajudar ao outro faz bem para o corpo, alma e o espírito. Quem pratica o perdão consigo e com o próximo alivia o coração. Viemos ao mundo para sermos felizes conosco, com o próximo, com Deus, Jesus e a Virgem Maria. Nós podemos e devemos ser felizes!

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Pedro Paulo dos Santos Cadeira nº: 37

Entre Portas e Janelas Inicio esta crônica, na condição de membro da Academia de Letras de Biguaçu, do que muito me orgulho dentro do que nos foi exigido para fazer parte da coletânea anual de contos, poesias e crônicas, que deverão ser escritas pelos confrades e confreiras, numa prova de que continuamos em plena atividade. Para falar sobre portas e janelas, recorro ao nosso saudoso poetinha Vinicius de Moraes, que ao falar sobre a porta, musicada no disco “A Arca de Noé”, assim se pronunciou: Eu sou feita de madeira Madeira, matéria morta Mas não há coisa no mundo 236

Mais viva do que uma porta. ........................... Só não abro pra essa gente Que diz (a mim bem me importa...) Que se uma pessoa é burra É burra como uma porta. Eu fecho a frente da casa Fecho a frente do quartel Eu fecho tudo no mundo Só vivo aberta no céu! E não são poucas as manifestações de arte que se referem sobre portas, existindo até uma música portuguesa, não sei se é fado, que diz “o nosso mundo começa cá dentro da nossa porta”. Existe um provérbio muito antigo, e muito repetido e corriqueiro entre a nossa gente, dizendo que Deus não fecha uma porta sem abrir uma janela, ou seja, para aquele que crê sempre existe uma possibilidade, uma saída. Tal qual a porta, a janela também é tema constante das artes, seja na música, pintura, poesia, literatura, cinema, etc. São inúmeros os filmes que falam de janelas, assim como os mais variados poemas e romances, além da música, pois como diz Chico Buarque de Holanda, “toda gente homenageia Januária na janela”. Enfim, se fossemos citar tantos compositores, autores, poetas que tem a janela como tema, ficaríamos aqui o tempo inteiro. Acima de tudo, entendo que portas e janelas, são antes de tudo uma possibilidade de sair, libertar-se, buscar novos horizontes, abandonar a mesmice. Na linguagem poética, ao abrir-se uma porta ou uma janela, es237


pera-se que adentre um novo sol, que chegue uma visita trazendo novidades, enfim, alguma coisa que altere a rotina do dia a dia. E é isto que estamos buscando hoje, para esta Nação Brasileira, orgulho de todos nós, vivemos num país poderoso, habitado por um povo hospitaleiro, trabalhador e ordeiro, que a única coisa que exige de seus governantes é responsabilidade, competência e acima de tudo honestidade. Todavia não está sendo fácil atravessar esta tempestade, esta verdadeira intempérie que assola a tudo e a todos. Vê-se a esperança de crescimento e de progresso fugir entre os dedos como se fosse água. Não se vislumbra um horizonte de desenvolvimento e progresso, o desemprego atinge a toda classe social. Até a natureza parece estar conspirando contra o Brasil, pois o Rio São Francisco, rio perene, de integração nacional, que percorre inúmeros estados, está cada dia mais e mais perdendo o volume de água. As represas e hidrelétricas existentes em seu percurso estão operando em limite mínimo de condições, e o pobre do sertanejo, castigado pela seca vê cada dia mais e mais esmorecer sua esperança de boas safras. E continua a insistir na sua triste sina de plantar e não colher, sem desistir, pois como dizia Guimarães Rosa, se a memória não me trai, “o Sertanejo é antes de tudo um forte.” Resta-nos a esperança de que se abra uma janela na medida em que o País está fechando a porta. Uma janela por onde entre o sol da alegria, a verdadeira democracia, - tão apregoada e tão maltratada -, o sol da promissão, o sol que vai iluminar um novo dia, o sol da esperança, de uma nova era para que esta nação tão sofrida, tão espoliada, tão vilipendiada, possa respirar novamente, entrar em ritmo acelerado de crescimento, e atropele todos estes que aí estão impedindo seu progresso, seu desenvolvimento criando a cada dia novas cri-

ses, novos factóides, iludindo a todos, e tudo fazendo para permanecer governando e dominando nossa gente. Que o tão sofrido e espoliado povo brasileiro desperte, e em despertando que movimente esta nação, para que voltemos a ter orgulho de nosso país. É o que todos desejamos, queremos e acima de tudo, merecemos.·.

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Neusita Luz de Azevedo Churkin Cadeira nº: 38

Nasceu em Governador Celso Ramos, Santa Catarina, em 28/12/1946. Filha de Belarmino Hipólito de Azevedo e Dalma Luz de Azevedo. Casada com Claudinei Churkin. Mãe de Samuel Luz de Azevedo Churkin. Licenciada em Letras pela Universidade Federal de Santa Catarina habilitada em Português e Inglês. Lecionou em escolas do estado de Santa Carina, dentre elas, E.E. F. Teófilo Teodoro Régis, em Biguaçu, Escola Estadual Professora Laura Lima, em Florianópolis, Instituto Estadual de Educação, em Florianópolis, E.E.B. Belisário Pena, em Capinzal, E.E.B. Melo e Alvim, em Herval D’Oeste. Exerceu a Função de Diretora Geral na E.E.B. Dr. Aderbal Ramos da Silva, em Governador Celso Ramos. Trabalhou na Secretaria de Estado da Educação. Membro da Academia de Letras de Biguaçu; da Acade240

mia de Letras de Governador Celso Ramos, Academia de Letras do Brasil para Santa Catarina e Membro efetivo do Grupo de Poetas Livres de Florianópolis participando de suas publicações, atividades culturais e contribuindo com suas criações literárias e apresentações musicais. Imprimiu seu poema “Em Silêncio” na Coletânea Literária – Poemas/Crônicas/Contos pela Associação Catarinense de Professores/ACP, da qual faz parte como associada. Autora das obras: Cantando Meu Chão - Tributo a Canto dos Ganchos; As Vogais e Casinha Pensante. Alguns de seus trabalhos foram publicados em Jornais do Estado de Santa Carina. Desenvolve atividades artísticas em Igrejas Evangélicas e participou do coral da Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina. Em 14/03/2004, dia Nacional da Poesia, foi homenageada, na Biblioteca Pública Municipal - Alice Maria Roque por sua colaboração com o Município de Governador Celso Ramos, entre outras. Entre Portas e Janelas O luar instigante me faz debruçar à janela para apreciar a esplêndida beleza da noite. O brilho refletido nas ondas parecem brilhantes em profusão de um garimpo inesgotável. A brisa marinha a soprar levemente cria nuances, matizando as águas fervilhantes e belas. Entre portas e janelas, que se abre para o mar posso contemplar o amor de Deus refletido na natureza quando árvores se erguem sobranceiras, frutificando, abrigando pássaros e borboletas dando-lhes sustento e acolhimento, onde constroem seus ninhos e voam alegremente. 241


Desde criança aprendi a abrir as janelas da alma para admirar e amar as belezas naturais, cujo arquiteto e construtor é Deus, o Excelso Criador, que se revela de várias maneiras em Sua multiforme graça, mostrando-se bondoso e soberano sobre todas as coisas. O relato bíblico nos informa acerca do dilúvio. A arca construída pelo patriarca Noé, entre portas e janelas abrigava sua família e a criação. Foi também pela janela que o patriarca soltou um corvo e uma pomba para lhe darem conta da situação climática durante o cataclisma. “Entre portas e janelas dos céus” Deus derrama sobre os seres humanos bênção sem medida. A chuva, o vento, o calor e o frio. Concluímos que Deus é bom e não faz acepção de pessoas. Entre portas e janelas, observamos o mundo que nos cerca: ouvimos sussurros, diálogos, canções, contemplamos o infinito, o azul do céu, a relâmpago, a chuva e os montes. Neste mosaico inusitado, observamos o universo a nossa volta, cujo arquiteto e governante é o soberano Deus.

No jardim abrem-se as flores O passaredo canta Embalando o dia purpúreo E o sonho devaneio Espera novo dia de aurora Ensejando a vida Com a permissão do Criador

Aurora

Brisas Mansas

Na aurora fresca e mansa do amanhecer Contemplativa, espero O dia nascerá, por certo Esvai-se o tempo E num breve momento Rompe Rósea manhã de sol esperto É dia aberto Vento manso

Entre portas e janelas Ouço o vento a sussurrar Fagueiras brisas marinhas Que vêm as ondas beijar

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Entre portas e janelas Entre portas e janelas Vejo barcos a navegar Por sobre ondas suaves Trazendo novas de lá Com bandeiras tremulantes Despertando emoções Singrando águas marinhas Disparando corações

Entre portas e janelas Observo o jovem que passa Que em seu porte elegante 243


Ondas mansas Espumas breves esfumam-se Sumindo ao sopro da brisa Semelhando neve Vento vadio Vida, suspiro fugidio

Em devaneios me enlaça Bate à porta, olho à janela Quem será que quer entrar É o príncipe encantado Que chegou pra namorar Abro a porta, ele entra Porte atlético, alinhado Cumprimenta a mocinha Um tanto desajeitado Entre portas e janelas Cumpre-se, por certo, o intento Do namoro ao noivado Do noivado ao casamento

Neblina Nas manhãs primaveris Nascem poemas Em noites solitárias Morrem esperanças Nuvens espessas, mansas Chuvas torrenciais Ou esparsas, ou ocasionais Desnudam o céu Que se veste de dourado Mares coloridos 244

Cheguei Rompi o casulo E cheguei para ficar Teimosa sementinha Transformando-se em gente Pretensiosa, combativa, insistente Hibernando, esperando Chegou o momento de chegar Lutei, esperneei, sai Em grande apuro fugi do escuro rompi o casulo Estou livre, mas perdida Ao iniciar uma nova vida Engolida pela claridade e o burburinho Terminou o segredo Estou com tanto medo! Mundo diferente... Sou gente! Gente nova Que veio para ficar!

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Vôo sublimado Deixe que este poema suba Ao imaginário Que voe num vôo sublimado E como águia, rompendo o casulo, como borboleta Alcance as nuvens, as estrelas, O infinito Que se abram as portas, As janelas da alma E deleitem-se Os que por ele forem tocados Entre portas e janelas Todo segredo se revela

Entre Gotas Extrema ansiedade Entre gotas que deslizam suavemente Ou pampeiros que farfalham às gargalhadas Valsando ao som de violinos que choram Entre dedos trêmulos Regresso à fantasia Ou enfrento fantasmas Amealho reminiscências Com perfume de saudade Serpenteio caminhos inexplorados Tropeçando em pedregulhos Vôo em plenitude rebuscando veleidades 246

Até que o devaneio se desfaça Caminhando em marcha triunfante Viajo em mil pedaços

Quadrinha Abri a porta da alma Para que entrasse bondade Vi bênçãos do Criador Derramadas em quantidade

Enquanto há tempo Rega-me com gotas de bonança Esparge o orvalho fresco É primavera Descobre o escondido Segreda o meu ouvido Derrama a chuva benfazeja É longa a espera Orvalha as folhas verdes Antes que murchem E desfolhem sobre a eira E já sem vida desfaçam-se em poeira Sacia a minha sede Enquanto houver água corrente Aquece-me ao sol enquanto seus raios me alcançarem Envolve-me na penumbra rósea e mansa do entardecer 247


José Castelo Deschamps

Abraça-me, estreita-me Enquanto houver prazer

Cadeira nº: 39

Apreciação Quero deixar nestas páginas, um registro de apreço ao confrade Miguel Simão, pela contribuição que tem dado a cultura em Santa Catarina, mormente na área da Literatura. Com o surgimento das várias Academias de Letras, certamente descobriu-se muitos escritores que anteriormente não tiveram a oportunidade de fazer suas obras conhecidas. Por isso o parabenizo pelo valioso trabalho.

José Castelo Deschamps e esposa Terezinha Deschamps

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Cumpre, primeiramente, manifestar a satisfação de estar, mais uma vez, em companhia dos confrades para registrar fatos, circunstâncias e ideias que marcaram e marcam a nossa vida terrena. É uma oportunidade para podermos compartilhar opiniões e feitos dessa trajetória com os irmãos de academia e com todos aqueles que acessam essas páginas para a leitura do que, humildemente, aqui procuramos expressar. Desde 20 de setembro de 1996 que confrades de diferentes áreas profissionais se reúnem para tornar perene um pouco de história, as artes e também alguns conceitos positivos que, se bem trabalhados, poderão servir a novas inspirações e acrescentar valores junto à sociedade. O dever e a alegria de fazer parte desse grupo merece nossa manifestação de entusiasmo e gratidão a Deus. Sempre acreditei que, com fé e muito trabalho conseguimos superar as adversidades e contribuir para o desenvolvimento pessoal e social. Desde a mais tenra idade tenho a convicção de que a frase do mestre dos mestres revelada em Mateus 9, 27-31: “Faça-se conforme a vossa fé”, é a mais pura expressão da verdade. E este ensinamento cristão de transformação se aplica não apenas para a cegueira física como no milagre descrito pelo evangelho, mas, principalmente, para a cegueira da visão da própria vida e dos sentimentos em relação ao universo em que estamos inseridos. Perdoe-me o nosso digno presidente Adauto Beckhäuser porque talvez não seja aqui o espaço apropriado, mas tenho que inserir algo sobre a conjuntura que se encontra a nação brasileira. Vive-se um momento de cegueira ética e moral que abala a nação e provoca de maneira intensa, caos administrativo em

governos e organizações corporativas. A mudança na sociedade passa, inevitavelmente, pela mudança do indivíduo. Eu acredito firmemente que, mesmo que não seja um processo fácil e rápido, estamos passando por um período de transformação e o povo brasileiro saberá, com fé e trabalho, encontrar dias muito melhores. E, por entender que a esperança, o trabalho e a persistência são atributos indispensáveis para chegarmos a vitória em qualquer empreitada é que busquei praticá-los no meu dia a dia. Muitas foram as veredas; várias foram as dificuldades e, felizmente, abundantes as vitórias. Assim, o esforço empreendido numa dessas frentes foi no cargo de prefeito de Biguaçu que, sempre que possível, gostamos de destacar. Desde cedo, manifestávamos nos meios de comunicação o que foi traduzido no plano de governo acolhido pelo povo. Saúde, educação e desenvolvimento sustentável foram projetos prioritários. Nossa população estava cansada de ver Biguaçu em segundo plano no mapa da Grande Florianópolis. Por isso, uma das premissas foi colocar o município num patamar mais alto de reconhecimento no contexto da região metropolitana. Destacam-se, entre muitas outras, a construção e implementação da UPA e postos de saúde; a abertura e pavimentação de vias públicas; a macro drenagem; a construção do hospital regional; a construção e implementação de unidades escolares; os recursos e início das obras de esgotamento sanitário; a incessante busca para a construção do anel viário; melhorias significativas na iluminação pública; construção de creches e escolas; elaboração de leis específicas para habitação popular, e controle do lixo; elaboração da lei de outorga onerosa; criação da Fundação Municipal do Meio Ambiente – Famabi; criação do Celeiro Rural; atualização do Plano Diretor; criação de áreas de lazer com academias da terceira idade; trans-

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formação da Lagoa do Amilton e área pública e de lazer; criação do programa droga zero, de prevenção ao uso e tráfico de drogas, etc. Nenhum governo sobrevive sem incentivo aos setores da indústria, comércio e serviços. Isso promove a geração de emprego e renda, além do conseqüente aumento da arrecadação de tributos, fundamental para os serviços e obras públicas. É oportuno salientar que a rápida transformação por que passam as indústrias e os serviços de um modo geral, ocasionada pela tecnologia da informação inserida nos diferentes segmentos e em permanente processo de aprimoramento, exige uma nova visão de futuro. Demanda planejamento e incentivo que possa preparar a cidade para esse segmento que cresce mundialmente e passa a dominar uma enorme fatia do setor econômico. Mesmo tendo que me afastar do governo de Biguaçu por questões de saúde, venho procurando participar com ideias e encaminhamentos na área política, pois creio que nosso compromisso social continua e a pessoa só se sente realizada se puder contribuir de alguma forma para a felicidade dos seus semelhantes.

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Leatrice Moellmann Cadeira nº: 40

Portas e janelas. Quantas se abriram e fecharam na trajetória de Leatrice, mas uma, talvez a mais importante e especial, abriu-se e deixou que a luz da poesia enchesse de brilho o seu caminhar. Ainda menina já sabia que seria uma sacerdotisa a cantar o amor e o lirismo pela vida afora. Quando Telma Lucia Faria escreveu sobre o Livro NA HISTÓRIA DA MINHA VIDA (Editora Insular) de autoria de Leatrice Moellmann, involuntariamente descreveu as inúmeras portas que o fazer poético abriu ao talento de Leatrice: “Na história da minha vida é uma pequena faceta de um brilhante chamado Leatrice. Falar do cuidado formal, estilo e linguagem impecáveis seria “lugar comum”, considerando que a autora é reconhecida e festejada em instituições como Academia Catari253


nense de Letras e Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, entre tantas outras entidades culturais, por mérito e talento. Prefiro falar do ser humano Leatrice, de quem aprendi a gostar, respeitando-a como parâmetro de mulher valorosa que buscou e conquistou seu espaço. Prefiro falar do seu jeito pueril, do olhar profundo, da sensualidade que transborda dos seus versos. Leatrice é mulher-odalisca... É mulher-menina... É mulher-mãe. Leatrice é mulher-pioneira (Brasília), é mulher-saudade (Rua Esteves Júnior, a chácara do seu avô)...”. SEDUÇÃO é o poema de maior sucesso de Leatrice. A inspiração surgiu quando, há muitos anos, no Rio de Janeiro, veio-lhe à cabeça a frase: “Quero despir pra ti minhas meias”. A partir dessa inspiração, mergulhou na poesia. Leatrice nos abre as portas a janelas do encantamento, do lirismo: SEDUÇÃO Vaporosas, rendadas, transparentes, Feitas com o trançado fio das teias, Enleadas nas pernas quais serpentes, Voluptuosas, sensuais e cheias De promessas de sedução, as meias Instilam seu veneno, impudentes. E quanto teu olhar nelas passeias, Eu quisera saber o que tu sentes... Quais os mistérios que elas revelam, As intenções eróticas que velam... São como o canto mago das sereias. 254

Vou me trajar de seda e brocado, Depois me insinuar bem a teu lado: Quero despir pra ti minhas meias. Carlos Adauto Vieira, ex- aluno da autora no Instituto Estadual de Educação “Dias Velho” na década de 1950. Jornalista, escritor, cronista do “Jornal A Notícia” de Joinville, e vice-presidente da Academia de Letras e Artes de São Francisco do Sul (ALASFS), escreveu: “As mulheres nos ensinam a amar. Porque sabem fazer com corpo, alma e talento. Mais, ainda, se cultas. Isto é, com aquele conhecimento sobre as obras não divinas, porém simplesmente humanas. Tem-se observado ao longo dos tempos Safo, Cloé, Elizabeth Bishop, Florbela Espanca, Cecília Meireles, Júlia da Costa, Leatrice. Desta, também, os versos fervem de paixão, tanto que ela diz conhecer todos os amores “A mais autêntica sinceridade,o amor-luxúria e o amor-amizade. Amores que me fazem bem feliz”. “O amor em Portugal. Em tons diversos, no Brasil tropical, amar é amar... Poetisas, cada qual com a sua voz.” Diria, paixão. Seu grande amor se foi a outras dimensões. Na sua lembrança, sem a desmerecer, continua amando a recordação em outras presenças: “Então brinco de estar apaixonada, E adoro me sentir aprisionada, Num lance mágico de insensatez. Por teu abraço másculo e forte, Sinto-me fêmea entregue à própria sorte. Acho que estou amando outra vez”. E, escritos como se fossem para todos nós, os que a amávamos como seus alunos fissurados na sua graça, na sua elegância, na sua beleza e na sua inteligência, não só escritos para o que a conquistou, conseguiu amar e ser amado, verseja os seus sentimentos: “quando jovem fui tua professora, Tu talentoso e eu encantadora (confor255


me a tua libido de estudante). Nessa idade provecta, bem vividos, nossos destinos foram resolvidos. Restou uma amizade instigante”. Nada mais frustrante, mais desesperador que ser amado, ao invés de se tornar nosso amante, tornar-se, apenas, uma amizade. E provocadora, menina e moça, “Vou me trajar de seda e brocado, depois me insinuar bem a teu lado: Quero despir pra ti as minhas meias”, a que recebe do ex-aluno, ainda apaixonado e sério: “Hoje confesso com saudade que muita vez em nossa mocidade, despi com os olhos as tuas meias.”. Quanto encantamento e saudade na mulher que viveu um tempo onde os casarões com janelas e portas imponentes se debruçavam nas ruas de uma Florianópolis que hoje é só saudade:

Nesta rua viveram e morreram Meus antepassados: Bisavô de sangue açoriano E trisavô alemão. Nela vicejaram convivências amigas Nas chácaras e mansões antigas. Nesta rua eu me aninho Como afugentado passarinho Expulso de bosques paradisíacos Obrigado agora a fazer seu ninho Entre o fragor de marteladas E olhos curiosos de vizinhos

Minha rua, minha cidade.

Aguardo o fim Que a ninguém poupa, Nem aos patifes que pela ambição Tudo destroem, matando a tradição.

Agora, quando a minha rua Que foi do Passeio e foi Formosa, Está asfaltada e modernosa Despida dos verdes atavios, dos laranjais, Dos limoeiros que não voltam mais, Substituídos pelos arranha-céus Que a ganância distribuiu No lugar de árvores seculares, Toldando os brilhos estelares... Agora, que trago cicatrizes Da devastação que não respeita raízes, Guardo comigo indestrutíveis lembranças. Ninguém há de apagar a vida de criança Que trazemos no recôndito do coração.

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Insultada na privacidade Só me restará a saudade. Cine Imperial Na adolescência fui frequentadora assídua do Cine Imperial, da Rua João Pinto, nas matinês (à tarde). As filmagens se apresentavam em capítulos, entre os quais eram tocadas músicas, enquanto o baleiro vendia guloseimas. Depois apagava-se a luz e o filme continuava. Desconfio que tudo isso se devia à precariedade tecnológica. Meu nome, papai o tirou de uma artista de cinema (Leatrice Joy). Naquela época a gente fazia álbuns de artistas, e eu tinha as fotos dela. Mas o tempo levou. E isto me faz lembrar meu galã prefe257


rido, Clark Gable, que dava num filme um escandaloso beijo na boca da atriz. Pessoas na cama, fazendo amor? Jamais! Indecência! Eu frequentava mais tarde o Cine Ritz, na sessão das moças, às terças-feiras (entrada mais barata) e era proibida para menores de doze anos, se bem me recordo. Eu tentava furar a vigilância, mas havia um fiscal que me perseguia. Na vida real, só meninas ditas desfrutáveis davam a mão ao namorado. No entanto, sei que no cinema os rapazes se localizavam no assento atrás da mocinha e faziam amor com... os pés. Estás rindo, é? Eu também. Agora o teatro. Sim, os desterrenses e depois florianopolitanos, gostavam muito. Isto me lembra que o nosso grande poeta Cruz e Sousa, perseguido por ser negro, ausentou-se da terrinha pelo Brasil a fora, como “ponto”, aquele que tinha a função de assoprar aos personagens das peças as frases que os lapsos de memória prejudicavam. Em Rancho Queimado, onde passava as férias todos os anos, fugindo do calor, (ainda possuo a propriedade lá), outras famílias também lá se refugiavam. E a moda teatral andava tão em voga, que lá fazíamos teatrinho em casa. E se não fosse o susto que nos deu um “tarado” exibicionista, creio que eu nem me lembraria mais disso: o sem-vergonha, quando se abriu a cortina, estava de calças abaixadas. “Ah! Mocidade! Rosicler d’a aurora” Leatrice é a própria porta, passagem para o mundo da poesia, onde as palavras são lapidadas pelas ferramentas do talento e da saudade:

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À Praça Esteves Junior Beijam-se os namorados na pracinha. ah! Mocidade! rosicler d’a aurora... é a fase em que o tempo não tem hora e a vida não tem tempo, mas caminha inexorável pelo munda a fora. praça da minha infância, praça minha vens povoar-me de saudade agora, me lembras tudo que então eu tinha. na praia a água morna do nordeste à luz dos arabescos do poente é uma colcha furta-cor celeste, com as recordações na alma da gente. por tudo que ao meu coração disseste desliza-me uma lagrima ardente.

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Sonetar Soneto é um flagrante da existência O poeta desprograma o raciocínio e insere o sentimento, o sonho, a essência a música, a promessa, o vaticínio Burila a inspiração com paciência e subordina o insight ao tirocínio É o néctar da flor na transparência da matéria inflamável do fascínio Fazer soneto é ourivesaria é o estro contumaz que até vicia é a pulsação da vida em claro-escuro É o jogo de palavras luminosas reinvenção de frases saborosas É rima na paixão do verso puro! Finalizamos com as palavras do saudoso Licurgo Costa: “ Juntamos as duas definições e podemos afirmar que ler os versos de Leatrice Moellmann é um exercício de felicidade”.

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