Academia de Letras de Biguacu - Trajetoria

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Copyright © 2008, by Academia de Letras de Biguaçu Editoração Eletrônica: Marcelo Pescador dos Santos Organização e Coordenação Editorial: Toni Jochem (48) 3242-0826 – (48) 3344-2777 – E-mail: toni@tonijochem.com.br Website: www.tonijochem.com.br

FICHA CATALOGRÁFICA Bibliotecária responsável: Cleuza Regina Costa Martins – CRB 14/500

Reservados ao autor todos os direitos de reprodução, total ou parcial. Impresso no Brasil / Printed in Brazil

Endereço Postal:

Academia de Letras de Biguaçu E-mail: academia@academiadeletrasdebiguacu.com.br Website: www.academiadeletrasdebiguacu.com.br Rua Hermógenes Prazeres, 59 Centro – CEP 88.160-000 – Biguaçu – Santa Catarina – Brasil Telefone: 0 XX (48) 3279 -8044


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DIRETORIA DA ACADEMIA DE LETRAS DE BIGUAÇU Eleição e Posse: 29 de junho de 2007 Período do mandato: 30 de junho de 2007 a 30 de junho de 2010 Presidente: Joaquim Gonçalves dos Santos Vice-Presidente: Zenilda Nunes Lins Secretária: Vera Regina Silva Barcellos Tesoureiro: José Braz da Silveira Assessor Jurídico : Valdir Mendes Assessor Cultural: Neusita Luz Azevedo Churkin Bibliotecária: Janice Marés Volpato Conselho Fiscal: – Dalvina de Jesus Siqueira – Homero Costa Araújo – Miguel João Simão – Stela Máris Piazza Souza – Zelka de Castro Sepetiba Presidente de Honra: Dalvina de Jesus Siqueira Patrono da Academia de Letras: São João Evangelista

ABREVIAÇÕES ABEPL = Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas Literárias. ACIBIG = Associação Comercial e Industrial de Biguaçu. ACPCC = Associação dos Cronistas, P oetas e Contistas Catarinenses. ACRIMESC = Associação dos Advogados Criminais do Estado de Santa Catarina. AFAJO = Associação da Família J ochem no Brasil AHESC = Arquivo Histórico -Eclesiástico de Santa Catarina. APA = Área de Proteção Ambiental. APAE = Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais. APB = Acervo da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld, Alemanha. APESC = Arquivo Público do Estado de Santa Catarina.


4 APREMAG = Associação de Preservação do Meio Ambiente de Governador Celso Ramos. ARENA = Aliança Renovadora Nacional. BAC = Biguaçu Atlético Clube. BADESC = Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S.A. CASAN = Companhia Catarinense de Águas e Saneamento. CBHRT = Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Tijucas. CFO = Curso de Formação de Oficiais. CIASC = Centro de Informática e Automação de Santa Catarina. CM-ALESC = Centro da Memória da Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina. CODESC = Companhia de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina. CPF = Cadastro de Pessoas Físi cas. DVD = Disco Versátil Digital. E.E.B. = Escola de Educação Básica. ECA = Estatuto da Criança e do Adolescente. ESAG = Escola Superior de Administração e Gerência. ETFSC = Professor da Escola Técnica Federal de Santa Catarina. Farmácia com Registro n o CRF/SC FEB = Força Expedicionária Brasileira. FECH = Fundamentos de Expressão Humana e Comunicação. FEDAVI = Fundação Educacional do Alto Vale do Itajaí. FUCAPRO = Fundação Casa do Professor de Santa Catarina. FUMBA = Fundação Municipal de Bagé -RS IEE = Instituto Estadual de Educação. IHGSC = Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina IPESC = Instituto de |previdência do Estado de Santa Catarina . LIC = Lagoa Iate Clube. MDB = Movimento Democrático Brasileiro. NETI = Núcleo de Estudos da Terce ira Idade. OFM = Ordem dos Frades Menores. ONG’s = Organizações Não Governamentais. PMDB = Partido do Movimento Democrático Brasileiro. PPB = Partido Progressista Brasileiro. PPR = Partido Progressista Reformador. REPAM = Recanto Pré -Adolescente Municipal. SENAC = Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial. TJSC = Tribunal de Justiça de Santa Catarina. UDESC = Universidade do Estado de Santa Catarina. UFSC = Universidade Federal de Santa Catarina. UNISUL = Universidade do Sul do Estado de Santa Catar ina. USA = United States of America.


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NOSSOS COLABORADORES Agradecemos às pessoas aqui mencionadas pela colaboração no processo de elaboração desse livro. Consignamos nosso especial agradecimento a: Adauto Beckhäuser; Evandro Thiesen; Joaquim Gonçalves dos Santos; Marcelo Pescador dos Santos ; e

Toni Jochem.

"Somos o que repetidamente fazemos. A excelência, portanto, não é um efeito, mas um hábito". Aristóteles.


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Dedicamos este livro à memória de todos os membros já falecidos da Academia de Letras de Biguaçu.


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SUMÁRIO PREFÁCIO...................................................................................... APRESENTAÇÃO.......................................................................... HISTÓRICO DA ACADEMIA DE LETRAS DE BIGUAÇU ............ ADAUTO BECKHÄUSER SAGA DO IMIGRANTE JOHANN KARL BECKHÄUSER .............. ALFREDO DA SILVA OS DOIS MUNDOS DE MARIA -NAIR............................................. ALZIRA MARIA SILVA DOS SANTOS BIGUAÇU.......................................................................................... CESAR LUIZ PASOLD CONTANDO COM UM CONTO ........................................................ DULCINÉIA FRANCISCA BECKHÄUSER MULHER, SEXO FRÁGIL? .............................................................. ERNESTINA FAIZER KURTH MEUS, QUASE, HAICAIS ............................................................... ESPERIDIÃO AMIN HELOU FILHO A RAIZ EM BIGUAÇU ....................................................... ............... HOMERO DA COSTA ARAÚJO BOI DE BOTAS FUTEBOL CLUBE ................................................ JANICE MARÉS VOLPATO LAPIDAR A ESSÊNCIA HUMANA ................................................


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JOAQUIM GONÇALVES DOS SANTOS HOMENAGEM AOS ACADÊMICOS .............................................. JOSÉ RICARDO PETRY MENSAGEM: POR CÔN. RODOLFO PEREIRA MACHADO ........ LEATRICE MOELLMANN PAGANI ESPELHO........................................................... ............................. MARIA DO CARMO ANTUNES DESEJO........................................................................................... MIGUEL JOÃO SIMÃO A ROSA QUE EU PERDI ................................................................ NORBERTO NAZARENO ÁGUA DOCE.................................................................................. OSMARINA MARIA DE SOUZA VOCÊ SABIA?... NA HISTÓRIA DE BIGUAÇU ............................. ROGÉRIO KREMER AS ESCOLAS PAROQUIAIS DO ALTO BIGUAÇU – 1880/1937 STELA MÁRIS PIAZZA SOUZA BILLY, O PERALTA........................................................................ TONI JOCHEM NOS PERCALÇOS DA HISTÓRIA: DO ALTO BIGUAÇU A ANTONIO CARLOS ................................... VALDIRA MENDES PRESENTO TRÊS MOTIVAÇÕES: A NATUREZA, SER HUMANO E SER ANIMAL .............................................................. VANDA LÚCIA SENS SCHÄFFER ALGUÉM A PROCURA DE FELICIDADE ......................................


9 VERA REGINA DA SILVA DE BARCELLOS VIDA DE POETA............................................................................. VILCA MARLENE MERÍZIO EU TAMBÉM ESCREVI CARTAS DE AMOR............... ................. ZELKA DE CASTRO SEPETIBA CLARA E O CIRCO.............................................................................. ZENILDA NUNES LINS JANELA PARA O SOL ........................................................................... WILLIAM WOLLINGER BRENUVIDA LUZ LEMBRADA II...........................................................................


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PREFÁCIO Era uma vez, sim era uma vez... três mulheres, ávidas de conhecimentos, querendo mudar a cultura de uma cidade simples, pequena, porém com algumas pessoas que queriam mudar o curso da história. Salvo melhor juízo, imaginaram fundar uma Academia de Letras, e porque não? Conversaram, almoçaram e daquela conversa surgiu a "ACADEMIA DE LETRAS SÃO JOÃO EVANGELISTA DA BARRA DE BIGUAÇU". Que felicidade, quanta esperança, quanta coragem. Daquele dia em diante, passamos a nos dedicar somente à Academia de Letras. Isto era o dia 28 de setembro do ano de 1996. Dia este, que passou para a história de Biguaçu. Foi um marco na nossa histó ria. Criamos uma Bandeira, com o símbolo de Biguaçu, (dois biguás), e com a frase de minha autoria "O Sublime é ser". Por vários anos elaboramos Antologias que mostram como é importante a dedicação e o objetivo de se fazer algo. E o tempo foi passando, e morreu a Vilma, uma das fundadoras, morreram outros que marcaram época. Não tínhamos um lugar ao sol, um lugar decente para que esta Entidade funcionasse como deveria. Passamos por várias salas atopetadas de entulho no Prédio "David Crispim Corre a", onde muitas vezes choramos juntas a nossa desdita, o desconforto e a desvalorização. Tudo bem... Todo ano mudavam a nossa Academia de Letras, mudavam de sala de depósito, entretanto, graças ao Mário César, (Arquivo Público) , obtivemos um pedacinho de sala onde passamos a funcionar, portanto, este moço, foi escolhido como Sócio Emérito, passando a fazer parte da Academia de Letras, assim como também a Secretária de Educação Sra. Zulmara Gesser e o DD. Prefeito Vilmar


11 Astrogildo Tuta de Souza. Por fim conseguimos uma salinha, pequena, porém acolhedora, onde tratamos logo de colocar cortinas, armários, mesa e cadeiras (móveis usados), porém dignos de uma Academia de Letras. Era tudo o que podíamos fazer, não possuíamos dinheiro, poucos foram, ou melhor, eram aquele s que contribuíam para a Academia de Letras. Foi uma luta constante, um trabalho árduo e difícil. Hoje, porém, estamos a comemorar os 12 anos desta menina moça que é a nossa Academia de Letras, e se Deus nos ajudar, ela há de comemorar os cem (100), anos c om muitas festas e com muitas honrarias. Então de lá onde estivermos, haveremos de dizer em tom musical. "Muito obrigada meu Deus". Muito obrigada, por ainda existirem pessoas que sabem amar e salvar a poesia. E neste momento sublime, em que estamos passando para a posteridade, a nossa poesia, o nosso amor, a nossa gratidão, eu passo a cantar baixinho: "Naquele bairro afastado, onde criança vivias, a remoer melodias, numa ternura sem par, passava todas as tardes, um realejo tristonho, passava como num so nho, um realejo a tocar. Depois tu partiste, ficou triste a rua deserta, na tarde fria e calma ouço ainda o realejo a tocar, ficou a saudade, comigo a morar, tu cantas alegre e o realejo, parece que chora com pena de mim..."

Foi assim a nossa História. Então, agora, passados 12 anos, reerguida, surgindo das cinzas feito Phoenix, o nosso objetivo, é cada vez mais. Fazer da Academia de Letras, uma casa de Cultura máxima, onde a qualidade


12 esteja sempre presente.

Dalvina de Jesus Siqueira (Estrela) Presidente de Honra da Academia de Letras de Biguaรงu.


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APRESENTAÇÃO Uma antologia como esta, rica em belos trabalhos engrandece a sociedade e me faz recordar a observação do profeta Daniel : “Os que educarem a muitos para a justiça, bri lharão para sempre como estrelas” (Dn 12,3). Ao assumir a responsabilidade de ajudar na publicação da VII Antologia da Academia de Letras de Biguaçu, a pedido do Presidente Joaquim Gonçalves dos Santos, logo passei a receber todos os textos dos acadêmicos e suas respectivas biografias. O próximo passo seria encorajar o nobre historiador Toni Jochem, também, acadêmico a organizar o material recebido. De forma muito simpática foi à aceitação do historiador e Acadêmico Toni Jochem. Nem todos os acadêmicos se d isponibilizaram em elaborar um texto para a Antologia ; mas, os que se lançaram no desafio de elucidar um tema entregaram prontamente na data aprazada. Coube ainda, ao Presidente da Academia Sr. Joaquim Gonçalves dos Santos, solicitar alguns dados faltantes aos acadêmicos. Esta publicação além de contos, histórias, poesias, prosas, temos um históri co da Academia de 1996 a 2008, com a relação dos acadêmicos e fotos desde a fundação até a presente data. São fotos que falam por si, relembrando o passado e o pr esente.


14 Tenho a certeza que todo este trabalho da VII Antologia, através de contos, crônicas, saga, histórias, amor, registros, poesias vem demonstrar a beleza destes textos e a potencialidade de nossa academia de letras; além de mostrar o que a academia p roduz apresenta também a sua história de 12 anos de existência. Todos que tiverem a oportunidade de ler a VII Antologia, sentirão a beleza e o encanto dos textos. Tenho a certeza que novos trabalhos virão e engrandecerão a nossa Academia de Letras. Tudo i sto servirá de estimulo para novas produções. É no que acredito. Boa Leitura, Acadêmico Adauto Beckhäuser

HISTÓRICO DA ACADEMIA DE LETRAS DE BIGUAÇU

"A Academia de Letras é a guarda de nossa Língua e, portanto, ca ber-lhe-á defendê-la do que é legítimo – do que não vem do povo e os escritores –, não confundindo moda, que mata, com o moderno, que vivifica" . Machado de Assis


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O município de Biguaçu 1 começou a surgir quando em 1748 imigrantes portugueses vindos do Arquipélago dos Açores e da Ilha da Madeira, foram assentados no lugarejo denominado de São Miguel da Terra Firme. Mas seu crescimento foi lento ao longo dos tempos. Distante 28 quilômetros de Florianópolis , Biguaçu 2 limita ao Norte: com os municípios de 1

SOBRE BIGUAÇU: Em 23 de janeiro de 1751, foi inaugurada a igreja de São Miguel Arcanjo. A provisão que nomeia o primeiro vigário, Padre Domingos Pereira Machado, para a freguesia de São Miguel é de 8 de fevereiro de 1752. Embora de caráter temporário, a freguesia de São Miguel foi a capital da capitania de Santa Catarina no período de 10 de outubro de 1777 a 2 de agosto de 1778 quando os espanhóis a inda ocupavam a ilha de Santa Catarina. Por ato do conselho Administrativo da Província em primeiro de março de 1833, a freguesia de São Miguel foi elevada a vila, e criado o município de Desterro (atual Florianópolis). A instalação do município de São Mig uel ocorreu em 17 de maio de 1833. Face à decadência econômica, aos freqüentes surtos de malária, ao desmembramento de novas freguesias, São Miguel vai aos poucos perdendo seu prestígio. No início da segunda metade do Século XIX, surgia na margem direita d o rio Biguaçu, um povoado (atual cidade de Biguaçu) que aos poucos crescia face as terras férteis, ao trabalho dos colonos, da construção de uma igreja e de um cemitério em 1874, onde resultou na criação de uma freguesia em 19 de dezembro de 1882, sob a invocação de São João Evangelista. Lideranças políticas de Biguaçu conseguem em 1886 transferir a sede do município para Biguaçu que fica elevada à categoria de Vila. Em 1888, por decisão do governo da Província, sede municipal volta para São Miguel, vindo a acontecer quase no final de 1889 devido a relutância dos vereadores. Já no período republicano, João Nicolau Born, consegue junto ao Governador do Estado, a mudança definitiva da sede municipal de São Miguel para Biguaçu em 22 de abril de 1894. Fonte: http://www.bigua.sc.gov.br/index.php?item=historico – Consulta realizada em 24 de julho de 2008. – Consulta realizada em 24 de julho de 2008. 2 ORIGEM DO NOME: Há algumas controvérsias quant o à origem do nome da cidade. Uma versão afirma que é de origem indígena, que significa “Biguá Grande”. Biguá é um pássaro aquático ainda hoje


16 Canelinhas e Tijucas; ao Sul: com o município de São José; a Leste: com o município de Governador Celso Ramos e o Oceano Atlântico; a Oeste: com os municípios de Antônio Carlos e São João Batista. A cidade de Biguaçu passou a crescer com a instalação da Universidade do Vale de Itajaí – Univali3, encontrado no rio Biguaçu. Já o Pe. Raulino Reitz (in memoriam) em seu livro “Alto Biguaçu” (1988), apresenta a v ersão de que o nome deve -se a uma árvore semelhante ao jambolão e chamada popularmente de “baguaçu”. Atualmente, o jornalista da cidade Ozias Alves Júnior (JB Foco), através de uma pesquisa que contou com a ajuda do Professor Aryon D. Rodrigues, um dos mai ores especialistas em Tupi -Guarani do Brasil, afirma que a origem do nome Biguaçu vem da Palavra “Guambygoasu” que significa “Grande Cerca de Paus” ou “Cerca Grande” (palavra de língua usada pelos antigos índios Carijós). Fonte: http://www.bigua.sc.gov.br/index.php?item=historico – Consulta realizada em 24 de julho de 2008. 3 A carência de ensino superior na região da Grande Florianópolis motivou o inicio do processo de expansão da UNIVALI para a região Sul do Estado no início da década de noventa. Naquele período, dezenas de ônibus se deslocavam, da Grande Florianópolis, até a cidade de Itajaí com alunos que buscavam acesso ao ensino superior, enfrentando as terríveis condições da rodovia BR 101, e somando despesas. Nesse contexto foi criado em 1991 o Campus de Biguaçu, com objetivo de atender a demanda da região, além de produzir e viabilizar conhecimento, por meio da pesquisa e extensão. Na época, ainda sem espaço físico, foram ofertados os cursos de Ciências Contábeis e Direito. As aulas eram ministradas no Grupo Escolar Alexandre Godinho, sendo depois transferidas para o Colégio EDUCAR. A construção do Campus A, em Biguaçu, aconteceu em 1993, quando então foi implantado, também, o curso de Administração. Com estrutura física própria, a UNIVALI passou a oferecer na Grande Florianópolis cursos nas áreas de Ciências Humanas, Sociais Aplicadas e Jurídicas, além do curso de Segurança Pública, único no Estado. A inauguração do Campus B acontece u alguns anos depois, em 2000, abrigando os cursos de Pedagogia, Administração e Ciências Contábeis. No ano de 2002, a UNIVALI instalou em Biguaçu a Clínica Integrada de Atenção Básica à Saúde (Ciabs), que presta serviços à comunidade e promove a formação do profissional em diversas áreas da saúde, o que fortaleceu a vocação do Centro na área da Saúde. Nessa área, são ofertados os cursos de Enfermagem, Fisioterapia, Psicologia e


17 no início da década de 1990. Este fato fez aumentar o número de universitários que precisavam um lugar para morar, levando a construção de vários prédios residenciais para abrigar a demanda então surgida. Além dos prédios residenciais, várias indústrias se instalaram no Município, aumentando o n úmero de emprego ofertado à população local. Antes desse fato , não raro os biguaçuenses recorriam a São José e Florianópolis para trabalhar; ao assim agir , a cidade de Biguaçu tornou-se mero dormitório. Com o aumento no crescimento econômico e social, a cidade passou a ter uma nova feição. Feição esta que levou Dalvina de Jesus Siqueira a pensar grande. Ela cogitou a possibilidade de criar na referida cidade uma Academia de Letras. Para tanto, se lançou em montar o estatuto provisório e a reunir poetas, escritores, historiadores e outros intelectuais da respectiva cidade e das imediações. Assim agindo, no dia 26 de julho de 1996 , convidou a Sra. Vilma Bayestorff e Osmarina Maria de Souza para um lanche em sua residência e no dia 8 de agosto do mesmo ano as recebeu para um almoço para dar estrutura e melhor fundamentar o referido projeto de fundação da uma Academia de Letras. Na ocasião ficou decidido que a anfitriã, Senhora Dalvin a de Jesus Siqueira, seria a Fonoaudiologia. Além desses, o campus mantém os cursos de Administração, Ciênc ias Contábeis, Direito, Pedagogia, Segurança Pública, Letras, Pedagogia – Educação Infantil e Séries Iniciais, e Pedagogia – T&T, divididos em dois campi. Fonte: http://64.233.169.104/search?q=cache:4E_2fqlLcncJ:siaiweb22.univali.br/ asp/system/empty.asp%3FP%3D1764%26VID%3Ddefault%26SID%3DV8 %26C%3DV8+hist%C3%B3rico+univali+Bigua%C3%A7u&hl=pt BR&ct=clnk&cd=3&gl=br – Consulta realizada em 20 de agosto de 2008.


18 primeira presidente 4. E deram o nome de Academia de Letras de São João Evangelista 5 da Barra de Biguaçu. 4

Nominata da primeira Diretoria da Academia - Presidente: Dalvina de Jesus Siqueira; Vice-Presidente: Zenilda Nunes Lins; Secretária: Osmarina Maria de Souza; Tesoureiro: Zelka de Castro Sepetiba; Conselheiro fiscal: Rogério Kremer; e Bibliotecário: Otávio Rosa. 5 São João Evangelista, o apóstolo "bem -amado". Um dos 12 apóstolos de Cristo e nascido em Batsaida, na Galiléia, autor do quart o evangelho e conhecido como o discípulo que Jesus amava foi o único apóstolo que acompanhou Cristo até a morte na cruz, ao lado de Nossa Senhora, ocasião em que lhe foi confiada a tarefa de cuidar de Maria, a mãe de Jesus. Pescador e filho do também pesca dor Zebedeu e de Salomé, uma das mulheres que auxiliavam os discípulos de Jesus, juntamente com o irmão mais velho, Tiago o Maior, foi convidado a seguir Jesus, logo depois de Pedro e André. Um dos mais jovens apóstolos de Cristo, ele e seu irmão, juntamen te com Pedro e André, foram os discípulos privilegiados e participaram do círculo mais íntimo junto a Jesus. Presenciaram a ressurreição da filha de Jairo, a transfiguração de Jesus na montanha e sua angústia no Getsêmani. Os dois foram os únicos apóstolos que ousaram pedir a Cristo que lhes fosse dado sentar um à direita, outro à esquerda. Da resposta de Jesus "do cálice que eu beber, vós bebereis" deriva a suposição de que os dois se distinguiriam dos demais pelo martírio. Esteve em Jerusalém (37) e depoi s por ocasião do Concílio dos Apóstolos, que se realizou em Antióquia. Após as perseguições sofridas em Jerusalém, transferiu -se com Pedro para a Samaria, onde desenvolveu uma intensa evangelização (8,14 -15). Mudouse para Éfeso (67), onde viveu o resto de sua vida, morreu e foi sepultado. A partir dessa cidade, dirigiu muitas Igrejas da província da Ásia e também ali escreveu (80 -100) o Quarto Evangelho, o último dos Evangelhos canônicos, e as Epístolas, três cartas aos cristãos em geral. De acordo com os Atos dos Apóstolos, quando acompanhou Pedro na catequese dos Samaritanos, com ele foi convencido por Paulo a desistir da imposição de práticas judaicas aos neófitos cristãos. Durante o governo de Domiciano (81 -96), foi exilado (93 -97) na ilha de Patmos, no mar Egeu, onde escreveu o Livro do Apocalipse ou Revelação, que é o derradeiro livro da Bíblia, onde narrou as suas visões e descreveu mistérios, predizendo as tribulações da Igreja e o seu triunfo final. O seu evangelho difere dos outros três que são cha mados sinóticos ou semelhantes, pois a sua narrativa enfoca mais o aspecto espiritual de Jesus, ou seja, a vida e a obra do Mestre com base no mistério da encarnação: o verbo feito carne e veio dar a vida aos homens. É o homem


19 A grandeza de pensamento e de ação de Dalvina se projetou com grande entusias mo, de modo que nenhum dos convidados para ocupar uma das cadeiras declinou do convite. O grande impasse inicial foi estabelecer um lugar como sede para a Academia, lugar este que abrigaria os documentos e em cujas dependências se efetuassem as reuniões acadêmicas. Tudo isto foi resolvido aos poucos. Montada toda a estrutura da academia passou em efetuar em 1999 a organização e o lançamento da primeira Antologia. Foi um sucesso. Outras mais 6 foram lançadas posteriormente com os seguintes títulos: Primeira Antologia – 1999 – Um Passeio pela Grande Florianópolis – Homenagem aos 500 anos do Brasil; Segunda Antologia – 2000 – Sonhos de Outono; Terceira Antologia – 2001 – Renascer da Primavera ; Quarta Antologia – 2002 – Devaneios de Verão ; Quinta Antologia – 2003 – Aconchego; Sexta Antologia – 2004 – Veredas Literárias. E agora, em 2008, está sendo lançada a Sétima Antologia que tem como título: Trajetória. Na presidência da Academia, por 11 anos, esteve Dalvina Siqueira de Jesus . Depois dessa data foi eleita Presidente de Honra. da elevação espiritual, mais inclinado à contemplação que à ação. De acordo com Clemente de Alexandria, ordenou bispos em Éfesos e outras províncias da Ásia Menor. Ireneus afirmou que os Bispos Polycarpo e Papias foram seus discípulos. Os primeiros fragmentos dos escritos Joanitas foram encontrados em papiros no Egito datando de princípios do segundo século, e muitas escolas acreditam que ele tenha visitado estas áreas. Aparece representado por Michelângelo na cúpula da Basílica São Pedro, em Roma, pela imagem da águia. Fonte: http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_3422.html – Consulta realizada em 01 de agosto de 2008.


20 Osmarina Maria de Souza descreve com maestria os fatos que levaram a fundação da Academia de Letras: Em uma manhã de 26 de julho de 1996, Vilma Bayestorff e Osmarina Maria de Souza foram convidadas pela amiga Dalvina de Jesus Siqueira para um almoço em sua residên cia. O dia estava lindo e o almoço muito mais saboroso que se pode imaginar – um peixe ensopado, com feijão e saladas, mas o pirão, meus amigos, feito pela colega Dalvina que muito feliz agradecia a visita, ao contrário virou farofa. Almoçando e com bom papo tivemos a idéia de fundar uma Academia de Letras em Biguaçu. Já havíamos fundado a Associação dos Poetas, Cronistas e Contistas Catarinenses, a Academia de Letras de São José, por que não também fundarmos uma em Biguaçu? Da idéia, após o almoço partimos para sua concretização. Primeiro vamos dar um nome a esta casa e Dalvina nos disse: eu já tenho este nome, porque acho que vamos homenagear a cidade; deve se chamar ACADEMIA DE LETRAS SÃO JOÃO EVANGELISTA DA BARRA DO RIO BIGUAÇU. O nome foi aceito e fomos então achar os patronos para estas 40 cadeiras. Algumas horas depois já tínhamos esta relação pronta bem como um rascunho do estatuto . Constituímos a Primeira Diretoria; Presidente Dalvina de Jesus Siqueira, Vice Vilma Bayestorff, Primeira Secretária Osmarina de Souza, Segunda secretária Dorinda Rabello Waltrick, Primeira 6 Tesoureira (Não me lembro) .

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Texto inédito escrito por Osmarina Maria de Souza.


21 E nesta reunião passou -se a escolher as cores da academia: cinza, azul e amarela. O respectivo símbolo aprovado foi o do pássaro biguá, a bandeira azul com o pássaro cinza e as letras amarelas. O lema escolhido: “O sublime é ser”. Nesta mesma reunião ficou estabelecido um total de 40 cadeiras, os seus respectivos patronos, o valor a ser cobrado para as despesas iniciais: beca, medalhas, diplomas. Com relação aos patronos foram eleitos: Cadeira 1 – Abelardo Sousa. Cadeira 2 – Aderbal Ramos da Silva. Cadeira 3 – Adolfo Konder. Cadeira 4 – Altino Flores. Cadeira 5 – Aníbal Nunes Pires. Cadeira 6 – Antonieta de Barros. Cadeira 7 – Luiz Delfino dos Santos. Cadeira 8 – João da Cruz e Souza. Cadeira 9 – Elpídio Barbosa. Cadeira 10 – Alaíde Sarda de Amorim. Cadeira 11 – Juvêncio Araújo Figueredo. Cadeira 12 – Francisco Galloti. Cadeira 13 – Fritz Müller. Cadeira 14 – Geraldino Atto de Azevedo. Cadeira 15 – Henrique Fontes. Cadeira 16 – Holdemar de Menezes. Cadeira 17 – Cônego Rodolfo Pereira Machado. Cadeira 18 – Arnaldo de S. Thiago. Cadeira 19 – João Crisóstomo Pacheco. Cadeira 20 – João Nicolau Born. Cadeira 21 – Jorge Lacerda. Cadeira 22 – Vidal Mendes. Cadeira 23 – Lausimar Laus. Cadeira 24 – Paschoal Apóstolo Pitsica.


22 Cadeira 25 Cadeira 26 Cadeira 27 Cadeira 28 Cadeira 29 Cadeira 30 Cadeira 31 Cadeira 32 Cadeira 33 Cadeira 34 Cadeira 35 Cadeira 36 Cadeira 37 Cadeira 38 Cadeira 39 Cadeira 40

– Luiza dos Reis Prazeres. – Maria da Glória Viríssimo de Faria. – Mário Quintana. – Manoel de Menezes. – Maura da Senna Pereira. – Nereu Corrêa de Souza. – Nereu de Oliveira Ramos. – Nila Sarda. – Oswaldo Rodrigues Cabral. – Othon da Gama Lobo D’eça. – Padre Raulino Reitz. – Dom Jaime de Barros Câmara. – Thomé da Rocha Linhares. – Lauro Locks. – Virgílio Várzea. – Visconde de Taunay.

Dessa forma, no dia 20 de setembro de 1996, às 20h30min, no Auditório do Centro Cultural David Correa, em Biguaçu, foi realizada a Assembléia de Fundação da Academia de Letras de São João Evangelista da Barra de Biguaçu. Presentes a esta assembléia estavam o Sr. Rogério Kremer, João Paulo Rodrigues, Lauro Locks, Dalvina de Jesus Siqueira, Vilma Bayestorff, Alaíde Sarda Amorim, Ana Maria Leal Mendes e Osmarina Maria de Souza. Posteriormente foi marcada nova reunião para acertos finais, como a estruturação e aprovação dos Estatutos da nova entidade. Após onze anos a frente desta academia sucedeu a Senhora Dalvina de Jesus Siqueira, no dia 29 de junho de 2007, o Sr. Joaquim Gonçalves dos Santos,


23 como presidente para o p eríodo de 30 de junho de 2007 a 30 de junho de 2010 7. Com o mandato de três anos, tem como meta modernizar e criar um website para a Academia para melhor comunicação entre os acadêmico s, elaborar o novo Estatuto que ficou a cargo do Acadêmico Valdir Mendes, já aprovado. O website ficou a cargo do acadêmico Adauto Beckhäuser e está disponível para consulta na rede mundial de computadores desde 16 de maio de 2008, no seguinte endereço ele trônico: www.academiadeletrasbigucu.com.br . Foi também elaborado um novo modelo de Diploma, bem como um novo Brasão de Armas. Há um trabalho que deve ser destacado: projeto Açores em Portugal. Nesse projeto algumas acadêmicas se destacaram junto aos órgãos Públicos. Foi um grande sucesso. O trabalho desenvolvido pelo atual presidente é digno de elogio como foi também o da ex -presidente, Senhora Dalvina de Jesus Siqueira. A edição da VIII Antologia, em comemoração aos 12 anos de existência da Academia, revela a beleza nos textos e mostra a grande atuação dos Acadêmicos na sociedade. Um dos pontos altos desta administração foi a informatização da Academia. Trabalho este de grande importância na atualidade. A partir do website houve uma maior 7

Nominata com todos os membros da diretoria. Presidente: Joaquim Gonçalves dos Santos; Vice-Presidente: Zenilda Nunes Lins; Secretária: Vera Regina Silva Barcellos; Tesoureiro: José Braz da Silveira; Assessor Jurídico: Valdir Mendes; Assessor Cultural: Neusita Luz Azevedo Churkin; Bibliotecária: Janice Marés Volpato; Conselho Fiscal: Dalvina de Jesus Siqueira; Homero Costa Araújo; Miguel João Simão; Stela Máris Piazza Souza; Zelka de Castro Sepetiba. Presidente de Honra: Dalvina de Jesus Siqueira.


24 comunicação entre os acadêmicos que viram seus trabalhos serem mais amplamente divulgados. Enumeramos, a seguir, as realizações e projetos para 2008 da nova Diretoria da Academia de Letras de Biguaçu: 1 – Aquisição de um computador, cedido pela Prefeitura Municipal de Biguaçu. 2 – Instalação de internet, cedida também pela referida prefeitura. 3 – Aquisição de uma impressora, esta, feita pela própria Academia. 4 – Aquisição de um telefone, instalado pela Prefeitura de Biguaçu, número: (48) 3279 8044. 5 – Aprovação de um novo estatuto. Já distribuído após o Registro. 6 – Realização de Projeto Missão Açores II. Já realizado. Com prestação de contas pendente junto ao Governo Estadual. 7 – Elaboração da Antologia 2008, apenas aguardando o lançamento. 8 – Expediente da Academia no período vespertino de segunda -feira a sexta-feira. No momento, cumprido quando possível. 9 – Está sendo feito o chamamento de acadêmicos afastados. 10 – Posse de novos acadêmicos. 6 empossados. 11 – Festividades de 12 anos de criação a Academia. Está sendo providenciada, conforme planos.


25 12 – Elaboração do website, já disponível no seguinte endereço eletrônico: www.academiadeletrasdebigu acu.com.br

HOMENAGEM PÓSTUMA “A morte não é nada. Eu só passei para o outro lado do caminho. Eu sou eu, vocês são vocês. O que eu era para vocês, eu continuo sendo. Me dêem o nome que vocês sempre me deram, falem comigo como vocês sempre fizeram. Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas, eu estou vivendo no mundo do Criador. Não utilizem um tom solene ou triste, continuem a rir daquilo que nos fazia rir juntos. Rezem, sorriam, pensem em mim. Que meu nome seja pronunciado como sempre foi, sem ênfa se de nenhum tipo, sem nenhum traço de sombra ou tristeza. A vida significa tudo o que ela sempre significou, e o fio não foi cortado. Porque eu estaria fora de seus pensamentos, agora que eu estou apenas fora de suas vistas? Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do caminho” . Santo Agostinho


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A diretoria da Academia de Letras gostaria de fazer homenagem póstuma a: * Dorinda Rabelo Meiss Waltrich – Falecida no dia 12 de junho de 2008; * Hermelinda Izabel Merizi – Falecida no dia 12 de fevereiro de 2008; e a * Solange Rech – Falecido no dia 29 de janeiro de 2008, bem como a todos os demais acadêmicos falecidos anteriormente: * Vilma Bayestorff – Falecida em 14/01/2000; * Durval Borba Neto – Falecido no dia 06/07/2001; * Lauro Locks – Falecido no dia 24/02/2004; * Otacílio Schüller Sobrinho – Falecido no ano de 2006; e * Otávio Rosa – Falecido em 10/09/2007.


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ADAUTO BECKHÄUSER Data Nascimento: 29 de julho de 1944. Filiação: Gabriel Carlos Beckhäuser e Maria Vieira Beckhäuser . Naturalidade: Tubarão -SC. Nacionalidade: Brasileiro . Profissão: Advogado militante desde 1995. Funções exercidas: – Professor Adjunto IV aposentado pela Universidade Federal de Santa Catarina. – Professor Universitário do Curso de Pedagogia de Joinville, na Associação Catarinense de Ensino. – Professor Universitário da Unisul. – Diretor de Escola Secundária da Rede Estadual. – Professor da rede estadual e particular de Ensino Médio. – Atualmente presta Assessoria Jurídica para grandes Empresas da Capital e de todo o Estado de Santa Catarina. Atuante como advogado no escritório, sito à Rua Tenente Silveira, n. 200, sala 405, Centro, Florianópolis-SC, desde o ano de 1975 até a presente da ta. Atuante nos Tribunais de 1º e 2º graus, nas esferas Federal e Estadual. Formação – Graduação Superior: – Filosofia pela UFSC, Florianópolis-SC. – Pedagogia pela Fumbá, Bagé -RS. – Direito pela UFSC, Florianópolis -SC. Pós-Graduação – Especialização: – Mestre em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina. – Mestrado em Direito Tributário pela Universidade Federal de Santa Catarina. – Tecnologia Educacional pela Universidade Federal de Santa Catarina. – Cours de Langue Française Heures – Universite Catholique de Belgique – Institut des Langue Vivante – Belgique (Bélgica). Curso CAPES: – Português, registro de professor de 1º e 2º graus. – Desenho, registro de professor de 1º e 2º grau s. Doutorado: – Doutorando “Doctorat spécial em Droit, Faculté de Droit – Université Catholique de Louvain -la-Neuve – Belgique”. – Doutorando em Direito pela Universidade do Museu de Buenos Aires – Argentina, em convênio com a UNISUL. Trabalhos realizados: – Dissertação de Mestrado: Sistema Jurídico Estatutário X Consoli dação das Leis do Trabalho. – Tese: Le Regime Juridique de Funcionaire Publique Bresilien e Belgique (Etude Comparative du Statut Juridique du Fonctionnaire Public Dans le Droit Bresilien et Dans le Droit Belge. – Tese: A Prova no Direito Civil Brasileiro.


28 – Publicação Livro: História da Família Beckhäuser no Brasil ; lançado em 26/11/2006, sendo impresso na Nova Letra, Gráfica e Editora, em Blumenau-SC. – Livro "A Trajetória de 1862 à 2008 : A fuga da fome e da miséria salva a família Beckhäuser nas duas grandes guerras", no prelo. – Músico. – Presidente da Associação da Família Beckhäuser , de 2004 à 2010. Acadêmico: Adauto Beckhäuser Nascimento: 29-07-1944 Cadeira nº: 02 Posse: 14-05-2008 Título: Escritor / Advogado Endereço: Rua Tenente Silveira, 200, Ed. Atlas, Sala 405, Centro, Florianópolis-SC CEP: 88010-300 Fone: (48) 3222-7781 E-mail/Site: adauto@advbeckhauser.com.br / www.advbeckhause r.com.br Patrono: Aderbal Ramos da Silva Título: Político / Orador

SAGA DO IMIGRANTE JOHANN KARL BECKHÄUSER

Em 1862, Johann Karl Beckhäuser, com 36 anos de idade nascido em 09 de setembro de 1826, juntamente com sua esposa Maria Elisabeth Kropp nascida em 20 de setembro de 1834, com 28 anos de idade e grávida de oito meses, emigraram para o Brasil, na esperança de dias melhores para sua família, que já era composta por duas filhas: Philippine, com quatro anos de idade, e Elizabeth, com nove meses. No entanto, já haviam perdido o primeiro filho de nome Johann Karl, ainda, na Alemanha, em 16 de


29 abril 1856, mesmo dia de seu nascimento. O casal Johann Karl Beckhäuser e Maria Elisabeth Kropp saiu de Bierkenfed na Alemanha e seguiu para a Antuérpia na Bélgica. Lá, no dia 20 de junho de 1862, a bordo do Navio César, de bandeira belga, os dois iniciaram a viagem rumo ao Brasil, onde desembarcaram no porto do Rio de Janeiro, em 08 de julho de 1862 8. Posteriormente, em 19 de julho de 1862 9, a bordo de uma em barcação de nome desconhecido, seguiram viagem rumo ao Sul do país, com destino a Desterro (hoje Florianópolis), no Estado de Santa Catarina, junto a mais 128 colonos. Ao chegar em Desterro, o casal foi destinado à Colônia Santa Isabel, onde, assim que che gou, Johann Karl Beckhäuser comprou terras ao lado das de Miguel Kropp. Miguel Kropp era irmão de Maria Elisabeth Kropp. Mas, por que os dois irmãos compraram terras contíguas? Há algumas hipóteses: Uma delas aponta para a possibilidade de Miguel Kropp ter vindo anteriormente para o Brasil e escrito para sua irmã, Maria Elisabeth Kropp, falando das vantagens da emigração. Outra hipótese é a de que vieram juntos para o Brasil devido à propaganda feita pelo governo brasileiro, de que aqui encontrariam terras férteis. A primeira hipótese é a mais plausível porque na lista dos imigrantes 10, em que consta Johann Karl Beckhäuser, não está inserido o nome de Miguel Kropp, dos Schuchs. Mas é preciso empreender novas pesquisas. Sobre a família Kropp, sabe -se que o pai de Maria Elisabeth, João Karl Kropp, casado com Anna Katharina 8

Segundo Certidão de Nascim ento de Karl Eduard. Certificado por Cópia Conforme do registro nas Atas do Estado -Civil n. 10. Rio de Janeiro, 11 de julho de 1862 do Cônsul Geral da Bélgica, Edouard Pecher. 9 Transcrição Peleográfica das Correspondências do Ministério da Agricultura para Presidente da província, do ano de 1861/1862, n. 50. APESC. 10 Idem.


30 Schwickert, em 05 de fevereiro de 1829 11, teve cinco filhos: 1 – Anna Maria Dorothea Kropp – nascida a 15 de novembro de 1829, faleceu em 10 de janeiro de 1846 12; 2 – Maria Elisabeth Kropp – nascida a 20 de setembro de 1834, casou -se em 31 de maio de 1855 com Johann Karl Beckhäuser – nascido a 09 de setembro de 182613; 3 – Johann Michael Kropp – nascido a 24 de fevereiro de 1838 e migrou para o Brasil 14; 4 – Maria Philippina Kropp – nascida a 15 de agosto de 1841 15; 5 – Katharina Kropp – nascida a 05 de maio de 1846, casada com Joseph Franz, nascido em 05 de maio de 184616. Tudo indica que as vantagens alegadas para emigrar foram de tamanha força que superaram as vantagens de permanecer em solo alemã o. O casal de imigrantes Johann Karl e Maria Elisabeth teve um filho durante a viagem para o Brasil, a bordo do navio Cesar. Trata-se de Karl Eduard Caesar Beckhäuser, nascido no dia 08 de julho de 1862; seu nascimento foi registrado no Consulado Belga, Ri o de Janeiro, no dia 11 de julho de 1862 17. Tudo indica que ele foi ali registrado, por ter nascido a bordo de um navio de bandeira daquele país. 11

Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld, Alemanha. Registro n. 940, p. 194. APB. 12 Idem. 13 Idem. 14 Idem. 15 Idem. 16 Idem. 17 Conforme consta na respectiva Cert idão de Nascimento. Certificado por Cópia Conforme do registro nas Atas do Estado -Civil n. 10. Rio de Janeiro, 11 de julho de 1862, do Cônsul Geral da Bélgica, Edouard Pecher.


31 Chegados ao Rio de Janeiro, foram encaminhados pela Diretoria das Terras Públicas e Colonização, do Ministério das Navegações, da Agricultura, Comércio e Obras públicas para cidade de Desterro 18. Quando do envio dos imigrantes, foi encaminhado um comunicado ao Presidente da Província de Santa Catarina; no qual se fez constar: “Nesta data seguem para essa Província cento e vinte e oito colonos, constantes da relação inclusa, os quais Vossa Excelência fará estabelecer nas Colônias do Governo, a que derem preferência, e concedendo-lhes os mesmos favores a que outros se têm feito em casos semelhantes. Deus Guarde a Voss a Excelência, João Luiz Vieira, 19 de julho de 1862” 19. A Colônia Santa Isabel foi fundada em 1847 por imigrantes oriundos, em sua maioria, da região do Hunsrück e estava localizada a aproximadamente 50 quilômetros de Desterro, às margens do Caminho das Tr opas, que ligava o Litoral ao Planalto Serrano catarinense. Na época, a produção agrícola da colônia era bastante diversificada: mandioca, milho, feijão, batata, algodão, café e cana. Após 1850, com a Lei das Terras, não mais eram concedidos gratuitamente os lotes de terras aos imigrantes. Eles tinham que adquiri -los por compra, com seus próprios recursos. Johann Karl Beckhäuser adquiriu suas terras na região de Taquaras, uma das linhas da Colônia Santa Isabel. Ali, teve que abrir clareira na mata virgem pa ra 18

Correspondências do Ministério da Agricultura para Presidência da Província, do ano de 1861/1862. APESC. 19 Idem.


32 construir sua casa, onde passou a abrigar a sua esposa, suas duas filhas e o filho nascido a bordo do navio. Por sorte, as terras da colônia não apresentavam baixa fertilidade. Todavia, nem por isso as coisas foram fáceis para a família Beckhäuser. Tudo dependia do trabalho, da fé e da esperança de Johan e Maria Elisabeth, qualidades que não os deixavam esmorecer diante das dificuldades. Não se sabe a razão, mas provavelmente no final da década de 1860, Johann Karl migrou de Taquaras para o Vale do Capivari, exatamente, para o Rio Sete. Aos poucos, a família foi crescendo. Em 08 de julho de 1865, nasce Anna Maria e, em 1867, Guilhermina 20. Ao todo, agora eram cinco os filhos da família Beckhäuser, que, a considerar o natimorto, compôs -se da seguinte maneir a: 1 – Karl Beckhäuser (este já havia falecido); 2 – Philippine Beckhäuser; 3 – Elizabeth Beckhäuser; 4 – Eduard Caesar Beckhäuser; 5 – Anna Maria Beckhäuser; 6 – Guilhermina Beckhäuser. Após o nascimento de Guilhermina, morre a mãe Maria Elisabeth, aos 34 anos de vida, vítima de complicações no parto. Ela faleceu em data ignorada e o mesmo se verifica com relação ao cemitério onde foi sepultada. Tudo indica que Maria Elisabeth era uma mulher de muita coragem, espírito de luta e abnegação. Somente seis anos foram suficientes para comunicar o seu projeto de vida nova aos seus diletos filhos, o qual foi legado posteriormente aos netos, bisnetos, trinetos e tataranetos. 20

Guilhermina posteriormente teve o filho chamado Guilherme, nascido em 13 de dezembro de 1893. Livro de Registro de Batismo da Paróquia de Teresópolis, n. 4, folha 64, Livro de 1888 a 1895. AHESC.


33 Viúvo, novamente a fé de Johann Karl levou -o a não esmorecer com a perda da mão amiga de s ua esposa Maria Elisabeth, sua grande incentivadora e companheira. Ele agora se via sozinho nos cuidados com sua família. Nem com os filhos poderia dividir essa responsabilidade, visto que a filha mais velha tinha apenas 11 anos de idade 21. Johann Karl morava a doze lotes das terras da família Schug, cujo patriarca era Peter Schug. Este também havia emigrado da Alemanha, juntamente com sua filha Margareth Schug e mais outros familiares. Com a morte de Maria Elisabeth, Johann Karl veio a se casar com Margaret h Schug, com quem teve outros cinco filhos: 1 – Bernard Peter Beckhäuser; 2 – Johann Peter Beckhäuser; 3 – Peter Beckhäuser; 4 – Johann Beckhäuser; 5 – Heirinch Beckhäuser. O casamento foi oficiado em local ignorado, assim como a data de sua realização. Nada fácil para a jovem Margareth Schug, na época com 20 anos de idade; ela, de imediato passou a cuidar das cinco crianças deixadas por Maria Elisabeth. Esse número aumentava ao longo dos anos, à medida que nasciam os seus filhos com Johann Karl Beckhäuse r. O primeiro filho desse novo casamento, Bernard Peter, nasceu em 08 de abril de 1870, o que reforça a suspeita de o casamento de Johann Karl e Margareth ter acontecido entre 1868 e 1869. 21

Esta situação veio a se repetir com Gabriel Carlos Beckhäuser, filho de Karl Eduard Caeser, neto de Johann Karl. Com o falecimento de Corina Mendonça, Gabriel se viu diante de seis filhos menores, sendo que a mais velha possuía 13 anos de idade. E com a coragem e a fibra Bec khäuser, enfrentou a morte de sua amada Corina. E logo veio a se casar com Maria Vieira Beckhäuser, que com muito amor e carinho passou a cuidar dos filhos do primeiro casamento e a criar seus oito filhos.


34 Uma década e meia depois, em 1885, falece o imigrante Johann Karl, aos 59 anos de idade 22, deixando todas as tarefas para Margareth. Desconhece -se o local de seu sepultamento, mas, provavelmente, tenha sido em Rio Sete, em São Bonifácio -SC, onde residiam. Com muita fé e amor a sua família, Margareth teve força para enfrent ar as duras penas da época e a tarefa de dar seguimento ao caminho traçado por Johann Karl para seus filhos. Pouco tempo depois do falecimento de Johann Karl, Margareth veio a se casar com João Heikes, casamento que gerou a filha de nome Antônia Heikes, na scida no ano de 188623, que, por sua vez, casou -se com Pedro Scheidt. Margareth, a segunda esposa de Johann, nasceu na Alemanha em 1848 e veio a falecer no dia 02 de julho de 1913, aos 65 anos de idade 24. Está sepultada no cemitério luterano da comunidade do Alto Rio Sete, Município de São Bonifácio-SC. Os filhos da primeira esposa de Johann, agora também sem o pai, contavam apenas com a dedicação de Margareth, a madrasta, que procurava suprir a ausência de Maria Elizabeth. Verifica -se, no entanto, que houve um grande afastamento dos filhos da primeira esposa dos da segunda, bem como o afastamento de todos os filhos do primeiro e do segundo casamento de Johann Karl, por discordarem do casamento de Margareth com João Heikes. Em conseqüência do afastamento físic o, passaram não mais a manter contatos e a família literalmente se dispersou. Em certa ocasião, numa festa em São Martinho, Karl Eduard Caesar Beckhäuser, um dos filhos do imigrante 22

Certidão de óbito de Margareth Schug: n. 46, f. 18, Livro n. 02-C, do Cartório de Registro Civil de Águas Mornas -SC. 23 Idem. 24 Após busca no cartório de Águas Mornas, descobrimos que Margareth Schug faleceu no dia 02 de julho de 1913, foi enterrada no Cemitério Protestante em Auto Rio Sete, Município d e São Bonifácio-SC.


35 Johann Karl, encontra uma pessoa de idade respeitável que teria vindo de Urubici, na serra catarinense. Após conversarem, indagou aquele senhor: “sabes que tu és meu irmão?” Fato este relatado por muitos da família. Com o passar do tempo, os filhos de Johann constituíram suas próprias famílias : Filhos da primeira esposa: 1 – Philippine Beckhäuser – nascida a 09 de maio de 1957, em Hambach, casada com João Batista May; 2 – Elizabeth Beckhäuser – nascida a 27 de setembro de 1859, casada com Christoph Schmoeller, seu segundo casamento foi com Bernard Schmoeller, o terceiro, em 25 de fevereiro de 1908, com Pedro Meurer na Igreja Matriz de São Ludgero -SC; 3 – Karl Eduard Caesar Beckhäuser – nascido a 08 de julho de 1862, em navio de bandeira Belga, casado com Anna Aurora Arns; 4 – Anna Maria – nascida em 08 de julho de 1865, casada com Bernardo Kühlkamp, foi para a região de São Martinho, Armazém e São Ludgero 25; 5 – Guilhermina Beckhäuser 26; Filhos da segunda esposa: 1 – Bernard Peter Beckhäuser; (nascido em 08 de abril de 1870) casado com Bernardina Eyng permaneceu em São Martinho 27;

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Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis encontrei no livro 1862-1876, fls. 29 n. 298. AHESC. 26 Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis, livro 1888 -1895, fls. 64, n. 4. AHESC. Guilherme nasceu dia 13 de dezembro 1893; P ai: João Baptista May e mãe Guilhermina Beckhäuser; avós maternos Carlos Beckhäuser e Maria Elisabeth Kropp. 27 Registro de Batismo d a paróquia de Teresópolis, livro 1888 -1898, fls. 114, n. 118. AHESC.


36 2 – Johann Peter Beckhäuser; (nasceu em 16 de agosto de 1871) residiu em Águas Mormas e dele não temos mais informações 28. 3 – Peter Beckhäuser; (nascido em 16 de agosto de 1871) casado com Joanna Schmoeller subiu a serra e foi residir em Urubici-SC29; 4 – Johann Beckhäuser; (nascido em 18 de março de1873) casado com Auguste Grunfeld seguiram o Rio Hipólito-Orleans e depois para Forquilhinha-SC30; 5 – Heinrich Beckhäusen – (nascido 09 de abril de 1875) seguiu para Porto Alegre, passando a se assinar Beckhausen31. A FAMÍLIA BECKHÄUSER ainda hoje está muito dispersa. Com a fé e a esperança de Johann Karl, levar -se-á a bom termo a união de todos. Johann Karl não teria suportado a perda de sua amada Maria Elisabeth, se não tivesse o apoio de seu cunhado Miguel Kropp e da família Schug, que, num gesto de amor e carinho, abençoou o casamento de Margareth. Quando Margareth faleceu, em 05 de junho de 191332, já casada com João Heikes, deixou uma filha, de nome Antônia Heikes, nascida no ano de 1886, com 27 anos de idade. Há, no entanto, um fato a questionar: teria mesmo alguém testemunhado a morte de Johann Karl Beckhäuser? 28

Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis, livr o 1876 fls. 81, n. 60, n. 4. AHESC. 29 Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis, livro 1888 -1898, fls. 117, n. 151. AHESC. 30 Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis, livro 1862 -1876, fls. 99, n. 69. AHESC. 31 Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis, livro 1862 -1876, fls. 116, n. 17. AHESC. 32 Registro de Óbito n. 46, f. 18, do livro n. 02 -C, do Cartório de Registro Civil de Águas Mornas -SC.


37 Há informações de que o mesmo havia desaparecido por muitos anos juntamente com uns escravos. Ele carregaria consigo muitas moedas de ouro. A pós muito tempo do seu desaparecimento, foi considerado morto e Margareth Schug resolveu se casar novamente em 1885. São questões nunca antes cogitadas. Será que Johann Karl Beckhäuser separou -se de Margareth Schug ou ele veio a falecer antes do segundo ca samento de Margareth Schug? A busca de informações continua. Embora, Mas acreditamos que os dados da certidão de óbito de Margareth sejam verdadeiros. Por ironia do destino, com a morte de Margareth Schug, o ponto de apoio da família Beckhäuser passou a se r João Heikes, o segundo esposo de Margareth, motivando a dispersão dos filhos Beckhäuser. Foi ele mesmo quem efetuou o registro de óbito, em cujo documento fez constar que a residência do casal era em Rio Sete, em São Bonifácio, alegando também que Margar eth deixou bens a partilhar.

Em Taquaras, na Colônia Santa Isabel Não é fácil explicar por que algumas pessoas abandonaram o seu lar, a sua pátria, para emigrar. Uma razão comum e, talvez até simples demais, é a busca por uma vida melhor. Já no Brasil, cada imigrante de posse de sua terra, tratava de fazê -la produzir para não ter que sofrer mais tarde com as privações deste novo mundo. E o árduo início na mata virgem pode ser descrito assim: “Enquanto as mulheres e as crianças ficavam no acampamento, o s homens com os filhos e as filhas mais crescidos


38 iam para as suas propriedades a fim de torná-las habitáveis. Providos de machado, foice e facão, cada qual com sua carga de mantimentos às costas, marchavam mato adentro até os seus terrenos. Lá, construíam , primeiramente, um pequeno rancho para o qual o mato fornecia tudo. Depois, ocupavam -se de preparar um pequeno pedaço de terra para a plantação. Enquanto os filhos menores derrubavam os arbustos e pequenas árvores, os pais punham abaixo, a machadadas, os gigantes da floresta e as filhas cuidavam da cozinha. Nesse trabalho, gastavam semanas até que um bom pedaço de mato estivesse derrubado. A espingarda nunca ficava longe da mão. Tão logo o mato derrubado estivesse seco e o tempo fosse favorável, queimava -se a roça. Era uma beleza ver como o fogo levantava labaredas até a copa das mais altas árvores que haviam ficado de pé. Depois, escolhia-se um lugar próximo a uma fonte d’água, o qual era limpo e preparado para se construir ali uma casinha, para toda a fam ília. Buscavam-se moirões que eram enterrados e, depois, folhas apropriadas de uma espécie de palmeira, para cobertura. Logo após, faziam-se paredes com ripas amarradas com cipó, as quais eram, então, cobertas com barro amassado. Em pouco tempo, a casinha


39 estava pronta. O transporte, depois, dos móveis para a Colônia não era tarefa fácil. Como o caminho do acampamento para a Colônia ainda não havia sido construído, não passando de uma picada muito primitiva, não se podia pensar em transportar os nossos trastes em carroças ou em lombo de burro. Tudo tinha que ser conduzido nas costas por várias horas. Enquanto a mãe levava os filhinhos no colo, ou uma cesta com roupa de uso, as filhas carregavam as roupas maiores ou alguns baldes e panelas enfiados no braço, o pai e o filho mais velho seguiam atrás carregando um pesado caixão amarrado a um pau que levavam nos ombros. Como tudo tinha que ser transportado dessa maneira para a Colônia (lote), passava -se muito tempo até que o último objeto estivesse em casa. E a família começava, então, a semear e a plantar verduras, cereais, preparando -se para enfrentar o futuro. Nos primeiros anos, certamente, as coisas não iam às mil maravilhas; passava -se muita necessidade, mas depois de algumas colheitas, tudo melhorava. Dia após dia a clareira na mata virgem ia se alargando e tomando forma; cada vez se plantava mais e a fartura ia se acentuando entre os moradores” 33. 33

SCHAUFFLER H. (Org.). “Da vida de um alemão no Brasil. Crônica de Mathias Schmitz”. In: Blumenau em Cadernos. Blumenau, Tomo VII. N. 12, pp. 248-249.


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Em nova terra – Rio Sete

Na Colônia Santa Isabel, nas imediações da localidade de Taquaras, instalados em terras em que os acidentes geográficos abundavam e a fertilidade do solo era aquém do esperado, alguns colonos ficaram completamente desencorajados, fator que os levou a migrar para outras terras dentro do Estado de Santa Catarina. Johann Karl não pensou d uas vezes e saiu em busca de novas terras, porém, de melhor qualidade, onde pudesse assentar definitivamente a sua família. Em comum acordo com sua esposa, passou a planejar a migração da Colônia Santa Isabel, para Vale do Capivari, exatamente no Alto -Rio Sete, hoje município de São Bonifácio -SC. Lá, o casal encontrou terras consideradas mais férteis e de melhores condições em relação às da região de Taquaras. Mas, o destino lhe pregou mais uma peça: a perda de sua amada Maria Elisabeth. Isso dificultou a m igração da Região de Taquaras para o Vale do Capivari. Se era algo difícil de se realizar com a ajuda de sua amada, agora, sem ela um turbilhão de problemas se projetava diante da família Beckhäuser, quase sem solução. Contudo, a garra do alemão Johann Kar l e a ajuda da família de Miguel Kropp, seu vizinho de lote na colônia, lhe deram o apoio necessário para que um novo rumo fosse dado em sua vida. Muitos eram os questionamentos que o afligiam: “o que fazer com cinco crianças menores, uma recém -nascida, sem sua amada que o alentava nos momentos mais difíceis?” Johann Karl Beckhäuser, sentindo a solidão e a responsabilidade de criar estes cinco filhos menores em


41 terras brasileiras, resolveu se casar novamente. A solução estava a 12 lotes de distância; lá, mo rava a Família de Peter Schug, com uma numerosa prole. Sua preferida, sua eleita foi outra imigrante alemã, Margareth Schug, com 20 anos de idade. Embora considerada nova ainda para receber tamanha responsabilidade de cuidar dos cinco filhos do viúvo Johan n Karl. Após o casamento, ele iniciou outra migração, agora para o Vale do Capivari. Com todas as dificuldades o novo casal começou tudo de novo. Em 1868, munido de espingarda, munição, facão e da determinação que herdara de seus ascendentes alemães, meteu -se mata-virgem a dentro, abriu picada, atravessou o morro e, depois de alguns dias, encontrou entre as nascentes do Rio Cubatão e do rio Capivari um lugar que lhe lembrava Birkenfeld. Lá, construiu uma pequena cabana coberta de palha. Era o Capivari do Meio, à margem direita. No entanto, não se estabeleceu por ali imediatamente, teve que voltar para buscar algumas ferramentas, como foice e machado, para derrubar um pedaço daquela mata. Com sua coragem e fé em Deus, mais uma vez, enfrentou sozinho aquela ma ta. Depois de queimar a roça, iniciou sua viagem de volta para a nova casa, a pé, pela segunda vez. Num cargueiro de burro, trouxe sementes de milho, batata inglesa, feijão, mudas de aipim, sementes de laranja, de bergamota, de pêssego e mudas de grama par a a pastagem dos animais. Depois de tudo plantado, construiu uma cabana maior, fabricou uma mesa, bancos e camas de madeira bruta e os cobriu com palmito rachado. Tudo estava pronto para a recepção da família. Duas cestas de taquara, jacás, eram suficiente s para transportar os pertences da família de Johann Karl: por baixo, a louça e panelas; por cima, os cobertores, travesseiros e lençóis; e finalmente, por cima de tudo isso, Karl Eduard Caesar, Ana Maria e Guilhermina, todos


42 pequenos. E seguiam, a pé com a nova mãe Margareth, e as duas outras filhas, Philippine e Elisabeth. Colocados os jacás no lombo de um burro, lá se foram o pai, Johann Karl e a mãe Margareth com os filhos, a pé, mata adentro, pela picada aberta pelo facão do pioneiro de garra. Sem medo dos bugres e animais selvagens, dormiram duas noites em plena mata virgem, a céu aberto. Na época, a mata-virgem era rica em caça: pacas, tatus, veados, jacupembas, jacus, macucos; em pesca e, também, frutos do mato: o coração do palmito substituía as verduras. A carne fresca excedente era transformada em carne seca, o charque selvagem. Tudo isso era saboreado com o feijão, a batatinha e o aipim plantados pelo precavido pai Johann Karl. Não estava ainda completa a mudança. Desta vez, carregou o burro com dois porquinhos, galinhas, mudas de café e de uvas e conduziu uma vaquinha. Nada mais faltava agora à família unida no Vale do Capivari, rodeada de bugres, animais selvagens, mas de outro lado, da bela natureza. Tudo isso debaixo do céu azul, à noite, iluminado pelas estrelas cintilantes do Cruzeiro do Sul. Como vimos, no Vale do Capivari, o novo casal Johann Karl e Margareth teve cinco filhos, a saber: 1 – Bernard Peter; 2 – Johann Peter; 3 Peter; 4 – Johann; e 5 – Henry. Esta foi a saga de Johann Karl Beck häuser.


43 ALFREDO DA SILVA

Natural de Rio da Prata, Anitápolis -SC, com 1º e 2º graus a partir da terra natal, passando por Criciúma, Tubarão e Lages, onde concluiu na Escola Técnica de Comércio de Lages o curso de Técnico em Contabilidade iniciad o na Escola Sena Pereira, Estreito, Florianópolis, quando servia o Exército Brasileiro, no 14º BC, o 63º BI. 3º grau, Bacharel e Licenciado em História . Posteriormente, Bacharel em Direito e PÓS GRADUAÇÃO, com Mestrado, pela Universidade Federal de Santa Catarina. Exerceu também as profissões de comerciário, radialista como locutor e rádio ator (Rádio Tuba , de Tubarão, Rádio Diário da Manhã de Lages e de Florianópolis, Rádio Guarujá de Florianópolis, além da colaboração na antiga Rádio Anita Garibaldi e Rád io Jornal a Verdade também de Florianópolis). Professor da Escola Técnica Sena Pereira, Instituto Estadual de Educação, Escola Técnica Federal de Santa Catarina, Fundação Educacional do sul do Estado, originária da UNISUL e da Universidade Federal de Santa Catarina, nas cadeiras de História e de Sociologia. Foi também assessor do Conselho Estadual de Educação no governo do ilustre e conceituado político, Antônio Carlos Konder Reis. Atualmente membro da Associação de Imprensa de Santa Catarina, Academia de Letras de Biguaçu, Cadeira Dom Jaime de Barros Câmara, Presidente do Clube dos 100, Coqueiros, Florianópolis -SC e advogado militante na grande Florianópolis, com escritório em Biguaçu SC. Acadêmico: Alfredo da Silva Cadeira nº: 36 Posse: 14-05-1998 Título: Escritor / Advogado Currículo: Sim Endereço: Praça Nereu Ramos, n....., Centro, Bi guaçu-SC CEP: 88160-000 Fone: Não informado E-mail/Site: www.advocaciaassociada.com.br/alfredo Patrono: Dom Jaime de Barros Câmara Título: Orador


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OS DOIS MUNDOS DE MARIA -NAIR

“Gostaria de ressaltar que não existe apenas uma vida interior, mas várias, à medida que retornamos no tempo (...). Para Nietzsche, o conceito de renascimento é um ponto de mu tação na história da humanidade. (...) . Recordações de vidas anteriores e reencarnação, ainda não são encaradas com naturalidade para nossa concepção do mundo. A partir de suas experiências de regressão com pacientes voluntários, (...) busca-se comprovação experimental da doutrina da reencarnação (...) responde as exigências de fundamento 34 e de comprovação científica” .

________________

PLURARIDADE DAS EXISTÊNCIAS. I REENCARNAÇÃO (...)

34

A Regressão a Vidas Passadas Como Método de Cura – A Comprovação Experimental da Teoria da Reencarnação . THORWALD DETHLEFSEN, Psicólogo diplomado pela Universidade de Munique . Editora Pensamento, São Paulo, 1976.


45 “Em cada nova existência o espírito dá UM PASSO NO C AMINHO DO PROGRESSO: Quando se tenha despojado – de todas as imperfeições não mais necessitará de novas as provas na vida corporal (...) 35 reencarnação” .

Os Dois Mundos de Maria -Nair, tem a finalidade de revelar parte de suas relações vividas durante a su a estada aqui na terra, no período de 1913 a 2007, que intitulamos como o PRIMEIRO MUNDO e informações extraídas através dela, nas sessões realizadas com amigos e momentos outros em que como médium revelava acontecimentos de suas VIDAS PASSADAS e de juntamente com outras pessoas com as quais teve relacionamentos que intitulamos O SEGUNDO MUNDO. Entretanto, ressalta -se que quaisquer nomes, personalidades ou locais aqui mencionados, se coincidirem com os realmente existentes ou tenham existido, são mera coin cidência. Vale lembrar aqui, o grande literato HUMBERTO DE CAMPOS, que após a sua partida para o “outro mundo”, como espírito, passou a aproveitar a mediunidade de FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER, escrevendo crônicas e assuntos importantes que despertou a curios idade pública e também certo desconforto e ambição por parte de seus familiares, 35

Cap. IV do Livro dos Espíritos de Allan Kardec, pseudônimo de Denizar Hipplyte Leon Rivail, página 83, obra, “Allan Kardec – O Caminho da Verdade”. Opus Editora Ltda. S ão Paulo.


46 ainda vivos, que moveram uma ação em juízo para apurar os fatos, tendo como réus, A Federação Espírita Brasileira que publicava e o Chico Xavier que era o intermediário. “Produções do médio (...), referentes ao espírito de Humberto de Campos, foram publicadas em ‘Reformador’, órgão da federação e a parti r de 1937, reunidas em volumes” 36. Voltemos aos Dois Mundos de Maria -Nair. Portanto, em aproximadamente mil novecentos e treze, um casal do Império Germânico, resolve deixar a Alemanha onde residia, e vir para o Brasil tendo -se fixado provisoriamente em Campo Alegre, Santa Catarina, cuja paisagem fertilizada e pela natureza, com suas cascatas e pinheirais até hoje são o encanto de seus habitantes e visitantes, juntamente com seus filhos, um menino de quatro anos e uma menina de um ano, que chamaremos de Valquíria, comparando -a com as “Valquírias” deusas germânicas que protegiam os rios e as florestas, por ter também seus lindos ol hos azuis e cabelos loiros, sedosos como os cabelos de milho-verde, menina esta que é a PERSONAGEM deste conto. O pai biológico, engenheiro da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, que aqui permaneceu pouco tempo, pois foi vitimado por uma das araucárias que derrubava para abrir a estrada, falecendo imediatamente. A mãe também teve vida curta, deprimida com a morte do marido não suportou os encargos que exigia a nova terra em que estava vivendo, desprovida de um apoio e assistência social, 36

A Psicografia Ante os Tribunais , de MIGUEL TIMPONI, Federação Espírita Brasileira, 4ª. Ed., Rio de Janeiro, pág. 33.


47 também faleceu e pela sombra dos pinheiros do alto da serra Dona Francisca, seguiu o mesmo destino de seu amado. Coube ao Juiz de Direito da Comarca, pertencente a notável família do Rio de Janeiro, magistrado em São Bento do Sul, dar destino aos dois menores. Homem porta dor de muita bondade resolveu ficar com o menino levando -o como filho no seu retorno para Guanabara, menino esse que se tornou médico e como alemão legítimo, por incrível que pareça, tornou se expedicionário brasileiro, servindo no corpo médico da Força Expedicionária Brasileira (FEB), na luta contra os alemães na Segunda Guerra Mundial. A menina, Maria-Nair, também foi criada como filha legítima por um casal de Florianópolis, que em São Bento do Sul, estava como visitante de parentes que eram amigos do magistrado. Deram-lhe todo o carinho, assistência, educação em instituição de grande conceito na Capital Catarinense, formando -se normalista e chegou a atuar como professora e depois foi funcionária pública federal até a aposentadoria. Faleceu em dois mil e s ete com noventa e quatro anos de idade, como brasileira legítima, filha de descendentes de açorianos, tendo como pai, alto funcionário público federal e homem muito conceituado, que tinha como recreação a pescaria, liderava e ajudava muitos pescadores do litoral, embora fosse amigo do Capitão dos Postos. A mãe, embora do lar, tinha além do pai uma parentela militar com elevados postos e trabalhos de grande reconhecimento na História do Brasil. Dentre eles o General Liberato Bittencourt. Este O PRIMEIRO MUND O DE MARIA-NAIR, que ainda faremos referências no prosseguimento.


48 Agora com a permissão dos senhores leitores, este conto prossegue, destacando várias passagens marcantes do SEGUNDO MUNDO DE MARIA -NAIR. Para não contrariar ninguém, procuremos primeiramente a salvação no ECUMENISMO do Papa João XXIII, com todo o respeito à infinidade de religiões. É onde encontramos agasalho para justificar OS DOIS MUNDOS DE MARIA -NAIR, consolidado na filosofia e na metodologia científica do Espiritismo, codificado por Allan Kardec no séc. XIX e também numa das áreas teóricas e práticas da Psicologia que envolve o princípio da reencarnação. Foi por intermédio de nossa personagem, que era MÉDIUM de alto grau de sensitividade e de pessoas de seu relacionamento, que temos informações de seu segundo mundo. É como se estivesse predestinado, um casal, sem filhos, vivendo na ilha de Santa Catarina, naquela data, resolvesse passar alguns dias, com familiares que moravam em São Bento do Sul, para encontrar a filha que já lhes havia per tencido em vidas passadas, noutras partes do mundo. Na Arábia, por exemplo, o pai, cheique do deserto, com grande poder de liderança. A que passou a ser sua mãe também fora num grupo de ciganos, na Espanha ela, desde menina foi à atração do grupo, como bai larina e deleitava o povo pelos lugares e países por onde passava o “grupo gitano”. Na Espanha, um de seus elementos vendeu um anel de jade para Don Pablito, senhor feudal, com grande propriedade que cultivava azeitonas e nossa personagem, a menina bailari na tentou recuperar a jóia que era de sua mãe, foi perseguida por bravos


49 cachorros da fazenda que lhe danificaram uma das pernas, não mais podendo dançar. Esse que na época era o Grande Senhor Feudal Espanhol e exportador de olivas que produzia para o continente europeu, aqui, no primeiro mundo, também veio encontrá-la e por ela e sua mãe agasalhado em seu próprio lar onde juntos viveram por muitos anos. Essa mesma pessoa, num grupo cigano em vida passada, havia sido neto da velha cigana chamada Giovana, que quando neste primeiro mundo de Maria Nair, imediatamente convidou -o para morar com elas, mãe e filha, deixando -lhe a disposição em quarto de hóspedes e doravante tratando -o como se ainda lhe fosse o “neto do passado”. E nesse lar, através da mediunidade de MariaNair, é que foi despertado para a Fé em Nossa Senhora de Guadalupe, pelo guia dela, Francisco de Assis, espírito de um frade franciscano, que foi missionário no México e nos Estados Unidos da América do Norte e toma conhecimento da existência de uma gruta em homenagem a Nossa Senhora de Guadalupe, doada pela família Reitz, à Paróquia de Biguaçu inaugurada em 1995 e até hoje visitada pelos fiéis. A mesma pessoa, que por muitos anos também divulgou a Fé a “VIGENCITA DE GUADALUPE”, como dizia o Frei Franciscano, já mencionado, através da antiga Rádio Diário da Manhã, – na hora do ângelus – às 18 horas de cada dia que provavelmente, alguns dos leitores ainda tenham recordações. Por sua casa também passou conhecido de vida passada na Rússia onde ela (nossa personagem), era a Princesa Olga, um


50 cidadão que também pertencia aos meios de comunicação, mais que lá, por ela havia se apaixonado, como oficial integrante das forças do Tzar, mas foi banido pelo comandante geral “Korsako”, que dela também gostava. E o antigo Senhor Feudal, já mencionado, naquela época, na Rússia e junto dela, também estava naquela encarnação, mas como um humilde “mojique”, serviçal plantador de trigo sofrendo as conseqüências de um “terceiro mundo”, como até hoje acontece. A estória de Maria-Nair também revela que uma de suas vidas passadas ela chegou a ser heroína da História Universal como Izabel de Castela que por união política casou com Fernando de Aragão. Foi rainha da Espanha e destacou -se na luta pela expulsão dos mouros, união do território espanhol e influente na descoberta e colonização do Novo Mundo. E quem ela veio encontrar também neste seu primeiro mundo, aqui, Ilha de Santa Catarina, o próprio Fernando, que segundo informações, por ela se apaixonou, pedindo -a até em casamento, o que por ela sempre foi negado, pois revelava que sua missão era dar assistência a seus pais. A sua estória do SEGUNDO MUNDO ainda é muito longa. Como também, natural da China chegou a ser mulher de um embaixador francês, voltou para a espiritualidade ainda muito jovem. Dessa passagem não temos informações mais detalhadas. Tem outro acontecimento muito importante de outra vida que ela teve nos Estados Unidos da América do Norte, época da colonização e desbravamento do oeste, como filha de um Pastor Evangélico, que com sua família resolveu


51 dar assistência aos colonizadores. Em viagem para o oeste foi trucidada por um grupo hostil de índios pele vermelha, sendo a única que se salvou, escondida debaixo do carroção. Por ali passando um grupo de guerreiros de outra tribo levou -a e a criou até a adolescência. Mais tarde a entregaram para outro pastor que a levou para o México confiando -a a uma família mexicana, para lhe dar continuidade na vida civilizada. Entretanto, no norte, deixou uma comunidade indígena que a amava e que já lhe havia transmitido grande parte de sua cultura, saindo de lá como pele-vermelha loura para o mundo dos astecas. Já no México, ela retornou em outra vida, como filha de um casamento misto. Mãe asteca e pai pele vermelha, que possuíam uma fazenda na Serra Madre chamava-se Manolita. Mas sofria muito, quando descia ao povoado, e certa vez que chegou até a ser apredejada, perseguida pelo fato de ser mestiça. Juntamente com a família foi chacinada por um grupo de bandoleiros que at acou a fazenda. Sua mãe só teve tempo de enrolar seu irmãozinho menor em um cobertor, descer até a divisa da fazenda e escondê -lo debaixo de um cacto gigante, retornando para lutar e morrer com os demais familiares e peões. Os bandoleiros procuraram o tes ouro da Serra Madre, segundo deduções até hoje ainda não encontrado. O Frei Francisco, já mencionado, que por ali passava retornando de uma missão, encontrou o menino e o levou para um convento onde foi criado por uma freira a Madre de Las Dolores, batiz ado com o nome de Miguelito, que aos cinco anos de idade era o


52 encanto de todos, com seus cabelos negros e cor dos olhos coberto por um sombreiro aparecendo somente à costeleta e as franjas. Era o maior tocador dos sinos da capela. Determinado dia, quando o frei voltava das missões, encontrou o menino já moribundo que deu sua despedida, com apenas dez anos de idade perdendo o frei, temporariamente, o filho que achou e criou, pois também morreu, depois de catequizar várias tribos de índios pele -vermelha, e vários índios e peões originários dos astecas, dando assistência religiosa em grande parte do território mexicano, que envolvia também grande parte dos Estados Unidos. Magro, cansado, hábito marrom surrado, pisando sobre espinhos, partiu apenas com trinta e oito anos de idade, com expressão radiante longo e negro bigode e olhares penetrantes e na espiritualidade Miguelito já estava lhe esperando. Neste segundo mundo de Maria -Nair, este, como espírito, foi o frei da Ordem dos Frades Menores (OFM), natural do México, mais que aqui no primeiro mundo de Maria-Nair chegou e permaneceu como seu guia e protetor até o seu desencarne em meados de dois mil e sete e através de sua mediunidade, durante mais de meio século, muita caridade praticou, de ordem moral e espiritual, sempre no anonimato, sendo esta a primeira vez que se toma a liberdade de revelar que nessa missão arrebanhou e trouxe consigo enorme falange de outros frades desencarnados, irmãos da Ordem Terceira, índios pele -vermelha, astecas, incas, guaranis e tupinambás, espanhóis, ciganos, portugueses, brasileiros de todos os níveis nas escalas sociais quando viventes na terra. Ainda crianças, ex -


53 escravos africanos, hindus, árabes, que poderíamos até revelar seus nomes e não e não o fazemos por uma questão de ética. A Maria-Nair tinha sempre ao seu lado o menino da Serra Madre, com seus cabelos negros e seu sombreiro colorido, acompanhado do Frei Francisco, que nas doutrinas que proferia e em todas as vezes que reunia suas falanges espirituais, e através de Maria-Nair evocava Jesus, Nossa Senhora de Guadalupe, (Vigencita de Guadalupe) como dizia no seu suave e cantante espanhol mexicano. Sem esquecer também de São Francisco de Assis. O encanto de Maria -Nair, em vida, neste seu PRIMEIRO MUNDO era visitar a grut a de Nossa Senhora de Guadalupe, na estrada Biguaçu - Antônio Carlos já mencionada, nesta paróquia de São João Evangelista, que na literatura espírita encarnou no século XIII na Família Bernardone , na Itália, e pelo seu trabalho cristão tão reconhecido tor nou-se São Francisco de Assis pela Igreja Católica Apostólica Romana. Neste seu PRIMEIRO MUNDO – em dois séculos, XX e XXI – Maria-Nair não constituiu família e se dedicou à caridade. Voltando para o Segundo Mundo e reencontrou a sua família espiritual. TODOS NÓS TEMOS DOIS MUNDOS COMO OS DE MARIA-NAIR. UM QUE VOLTA A SE ABRIR QUANDO CHEGAMOS... OUTRO QUE VOLTAMOS A REVER NA HORA DE PARTIR.


54 VINDO DA ALEMANHA AINDA MENINA . ELA AQUI CHEGOU COM A BELEZA LOIRA DAS “VALQUÍRIAS”. E O NINHO QUE ENCONTROU N A ILHA DO DESTERRO . FOI UM BERÇO PORTUGUÊS DE “ALÉM-MAR”. A GERMANIA DESAPARECEU... FAMÍLIA É A QUE CRIA EM REGRESSÃO ESPIRITUAL TEVE MUITO A NAVEGAR. PALMILHOU CONTINENTES JÁ VIVIDOS MUITOS JARDINS... COM MUITA FLOR Foi cigana, índia, princesa, r ainha, chinesinha, esposa de embaixador Distribuiu muito amor. E aqui e agora com mais de noventa Acabou sozinha. Para o seu outro mundo não partiu... quis voltar Deixou muita gente chorando a professora que tanto ensinou a amar tanto no mundo de lá quanto no mundo de cá BRILHA COMO ESTRELA DO MAR!

ALZIRA MARIA SILVA DOS SANTOS Alzira Maria da Silva dos Santos nasceu aos 05 de julho de 1950. Filha de Oscar Silva e Nair Bunn Silva é natural do Município de


55 Biguaçu/SC, onde cresceu, estudou e viveu a maior parte da sua vida. Formou-se normalista em 1970 no Colégio Normal Professora Maria da Glória Veríssimo de Faria. Gosta de crianças, de flores, do mar e de escrever poesias. Alzira descobriu a afinidade pelas letras quando, em Joinvile, onde atuou três anos como professora, fez duas paródias das músicas “Lencinho” e “Jardineira” para apresentação das crianças, em comemoração ao aniversário daquela cidade. Em 1999, em Biguaçu, olhava a neblina, ou serração que vem do rio -mar conforme dizem, através da janela da cozinha de sua casa, inspirou -se, pegou um guardanapo e uma caneta e escreveu um dos seus primeiros poemas, intitulado “Nebliguá”. Nunca mais parou de escrever. Quando a inspiração abre as portas, saem de seu coração lindos poemas, em su a grande maioria, enfatizando a terra natal, seus lugares, sua natureza. Alzira tem, em muitas de suas poesias, o desafio de chamar a atenção para a defesa do meio ambiente, e também o valor cultural da cidade que nasceu. Também chama atenção para o cuidad o com as nossas crianças, o folclore, entre outros temas. E assim, de verso em verso, Alzira vai descrevendo seus costumes, seu povo, sua preocupação com o mundo.

Acadêmica: Alzira Maria Silva dos Santos Nascimento: Não informado Cadeira nº: 29 Posse: 14-05-2008 Título: Poetisa Endereço: Rua Justino Adalberto Leal, 57, Biguaçu -SC CEP: 88160-000 Fone: (48) 3243-4170 E-mail/Site: Não informado Patrono/Patronesse: Maura da Senna Pereira Título: Poetisa

Nebliguá


56 Oh! Neblina gelada É fácil te encarar Porque só descortinas Aqui no nosso lugar. Começas no Morro da Bina E no Centro resolves pairar Pois ao chegar na Praia de Baixo O sol já começa a brilhar. O povo já te conhece Cerração que vem do rio -mar Sabemos no dia seguinte Que o sol é de rachar. Vens chegando de madrugada Quando o povo já foi se acomodar E ao sairmos cedinho Tu vens livre e baixinha Querendo nos congelar. Neblina de nosso inverno Garoa ou cerração Faz parte da natureza És própria dessa estação. Gostamos como tu és Causando-nos muita atração Porque os nativos daqui Te admiram com emoção.


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Biguaçu Quando falo de Biguaçu Algo forte bate em meu peito Defendo tudo que tens de bom Pois para mim não tens defeito. Tens um clima especial Propício para hortaliças As frutas são saborosas E as flores são belíssimas. Em Biguaçu a natureza se esbalda Com rios, cachoeiras e o mar Ainda tem floresta nativa E montanhas verdejantes sem par. O povo de Biguaçu é hospitaleiro É solidário na alegria e na dor Ampara pessoas cada uma do seu jeito Desde o humilde até o doutor. Biguaçu parece pequeno Aí que estamos enganados É grande por natureza E de gente boa está habitado. Grandes enchentes alagavam a cidade Para sair de casa só de bateira Certa vez uma embarcação lotada Quase morreu uma família int eira.


58 Tinha uma ponte toda de ferro Cartão postal do nosso lugar Embaixo dela as tocas de peixes Que os homens pescavam prá se sustentar. Que saudades das tropas de bois Das carroças e das ciganadas As crianças corriam atrás deles E dos cavaleiros levava m relhadas.

O grupo escolar José Brasilício Este era igual nosso lar Estudávamos com entusiasmos Lá aprendemos ler, escrever e amar. Na praça havia grandiosas festas Com touradas, parques e barraquinhas Os alto-falantes mandavam mensagens Para namoradas, amigas e vizinhas. Ah! O cinema foi demolido A Alameda deu lugar ao progresso O clube 17 de maio pede socorro Mas para o BAC ainda temos ingresso. Biguaçu tem muita história E também bastante cultura Parabéns aos que aqui trabalharam Com sabedoria e mu ita bravura. Duas características fortes tu tens


59 Os Biguás e a gelada cerração Como os dois são obras de Deus Agradecemos em oração. Biguaçu tem uma Bandeira Com orgulho te hasteamos Para defender este chão querido Do município que tanto amamos. O padroeiro de Biguaçu É São João Evangelista Interceda por todos nós No progresso e nas conquistas.

CESAR LUIZ PASOLD Advogado, Professor e Escritor. Membro das: Academia de Letras de Biguaçu; Academia de Letras de Palhoça; e, Academia Desterrense de Letra s. Acadêmico: César Luiz Pasold Cadeira nº: 24 Posse: 25-06-2004 Título: Escritor / Advogado Endereço: Caixa Postal 223, Imbituba -SC CEP: 88780-000 Fone: Não informado E-mail/Site: clp@advocaciapasold.com.br / www.advocaciapasold.com.br Patrono: Paschoal Apóstolo Pitsica Título: Escritor


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CONTANDO COM UM CONTO

Ajeitado, preguiçosamente, na cadeira de balanço cujo respaldar era um trançado branco e no assento havia uma almofada puída, Maurício olhou a ponta do cigarro apagado, respirou bem fundo e, em seguida, começou a falar manso. ... Era dia três. De dezembro. De um mil e novecentos e trinta e dois, eu acho. Marisa azucrinava o marido, reclamando da sua inércia, comodismo, preguiça e falta de ambição. As duas figuras eram, fisicamente, muito diferentes. Ela, 25 anos, corpo farto, rosto redondo e lindo como de uma boneca gorda de porcelana, cabelos castanhos escuros contribuin do para ressaltar os olhos azuis claros, e sempre vestida com roupas que exibiam pelo menos três cores fortes diversas. Do lar, as suas prendas principais eram coser e cozinhar. Da primeira, o destaque era a habilidade em recuperar roupas rasgadas de uma forma praticamente perfeita, tanto que somente um olhar muito concentrado e previamente informado se tornava capaz de identificar o local do dano antes existente no tecido.


61 Na cozinha os seus pratos famosos entre os parentes, vizinhos e amigos eram a galin ha ao molho pardo, o bife à milanesa (feito com alcatra por ela escolhida pessoalmente no açougue do Ari) e o macarrão ao sugo, cuja massa compunha com especial maestria, e cujo molho era de tomate ao natural, bem picado e bem cozido. Ele, o marido, tinha corpo franzino, mas surpreendentemente dotado de força e vigor, cotovelos exageradamente ossudos, rosto pálido e muito vincado para um homem de 30 anos, cujo cabelo preto correspondia rigorosamente à cor de seus olhos. A sua atividade profissional era a d e mascate, vendendo sal e farinha de mandioca para as biroscas de toda a região, na qual era conhecido como Jonas Magro. Pois, a bronca de Marisa naquela noite era cantilena repetida: afinal faltavam só treze contos para o total necessário à compra do t erreno na esquina da rua Colombo com a Praça Independência, bem no centro da vila. Comprada a terra, o pai de Marisa, comerciante próspero, com promessa já feita e expressa mais de uma vez, daria o dinheiro para a construção da casa própria. O marido respondeu, berrando como sempre quando nervoso, que não queria esmola do sogro. A conversa morreu ali. Deitaram-se amuados, em posições ressentidas, um em cada canto da cama de casal.


62 Na madrugada, Marisa acordou, confirmou o sono profundo do marido pelo ress onar contínuo e rítmico e levantou-se, mesmo assim, cautelosa. Puxou, vagarosa e o mais silenciosamente possível, o bauzinho que estava debaixo da cama e, perto da janela, sob a luz da lua cheia contou o dinheiro. Não acreditou! Eram já cento e vinte e nove contos de ré is! Faltava apenas um conto! Recontou e confirmou: o marido não lhe havia dito – porque ela não lhe dera chance - que ganhara mais dinheiro e o que faltava, agora, era muito pouco: apenas um conto... repetiu mentalmente. Voltou à cama, aco rdou suavemente o marido e fez, com ele, um ato de amor ardente e completo, como nunca dantes nos oito anos de casados, haviam consumado. Readormeceram nus, de mãos entrecruzadas, corpos suados e unidos, no centro da cama de casal. De manhã, Violeta acord ou sentindo a sensação estranha de algo muito frio e rígido colado a seu corpo: o marido estava morto... o coração dele havia parado subitamente! Já no enterro, o pai de Marisa, informado da falta de apenas um conto, prometeu o valor e reafirmou a construção da casa. Terreno comprado. Casa construída. Marisa, viúva e grávida. O menino nasceu, cresceu, tornou -se adulto. Marisa faleceu, sempre viúva, com 60 anos.


63 O terreno foi negociado pelo solteirão, único filho e herdeiro de Marisa, em troca de apartamentos na futura construção. ... Amassando enfim, no cinzeiro, com a mão esquerda, aquele cigarro apagado, enquanto que com mão direita raspava uma pequena lágrima, Maurício concluiu: – É por isso, Mimi, que tenho estes três apartamentos neste majestoso edifício, e graças ao aluguel que recebo em dois deles eu me mantenho em velhice serena, ainda que simples. É por isso, também, que este edifício se chama Condomínio Um Conto de Réis. ... Mimi, a gata, tendo cessado o ronronar habitualmente incompre ensível de seu dono, levantou se lânguida e calmamente foi perseguir a barata que estava procurando esconder -se sob o armário da sala de estar.

DULCINÉIA FRANCISCA BECKHÄUSER Data Nascimento: 11 de agosto de 1947 . Filiação: Manoel Inocêncio Martins e Albertina Francisca Martins . Estado Civil: Casada . Naturalidade: Florianópolis -SC. Nacionalidade: Brasileira . Profissão: Professora. Funções Exercidas : – Gerente de Tecnologias Educacionais no período de 1995 a 1988. – Diretora de Tecnologia Educacional . – Gerente de Pesquisa e Inovação da Diretoria do Ensino Superior. Gerente do


64 Ensino Superior. – Secretária da Associação da Praia Brava (período 2000 a 2002). – Secretária do PMDB / mulher Florianópolis . – Presidente do PMDB / mulher Florianópolis (durant e 3 mandatos). – Secretária do PMDB / mulher – Estadual (durante 2 mandatos) . – Delegada do mesmo partido PMDB (durante 6 mandatos) . – Presidente do Conselho de Segurança nas seguintes localidades: Jardim Santa Mônica – Parque São Jorge – Córrego Grande – Jardim Anchieta – Pantanal – Trindade. – Diretora do Colégio Estadual Lauro M üller (cargo eletivo) em 1985. – Reeleita Diretora do Colégio acima citado em 1990 com 99% da votação. – Atualmente desenvolve Trabalho Voluntário na Comunidade – Instituto Lagoa Social – Idosos. Jardim Santa Mônica – Diretora Social e Comunitária do Conselho de Segurança. – Atualmente exerce a função de Secretária do Jardim Santa Mônica e membro do Conselho Diretor do mesmo. Formação - Magistério: – Licenciada em Letras: Português , Literatura Portuguesa e Brasileira, Francês, Literatura Francesa. Curso de Especialização: – Comunicação e Expressão Português Francês – UFSC. – Mestrado em Metodologia do Ensino na Bélgica – 1983 a 1985. – Cours de Langue Française Heures – Universite Catholique de Belgique – Institut des Langue Vivante – Belgique (Bélgica). – Lecionou 18 anos Francês – Português, 1º e 2º Grau. – Literatura Francesa e Portuguesa. – Cursou Escola de Governo e Cidadania durante um ano – Total de horas aulas e trabalhos com defesa, 148hs, 2003. Cursos de formação continuado: – Seminário Estadual sobre Segurança Pública – julho 2003. – Proposta Curricular do Estado de Santa Catarina. – Tecnologias Educacionais. – Curso de Gestão Educacional e Gerencial. – Curso Qualidade Tota l na Educação. – Artista Plástica.

Acadêmica: Dulcinéia Francisca Beckhäuser Nascimento: 11/08/1947 Cadeira nº: 33 Posse: 14-05-2008 Título: Escritora / Artista Plástica / Professora Endereço: Rua Tenente Silveira, 200, Ed. Atlas, Sala 405, Centro, Florianópolis-SC CEP: 88010-300 Fone: (48) 3222-7781 E-mail/Site: neiasc2004@yahoo.com.br Patrono: Oswaldo Rodrigues Cabral Título: Historiador


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Mulher, sexo frágil?

Sabemos que dia 08 de março foi escolhid o para ser o Dia Internacional da Mulher porque nessa data em 1857, quando as mulheres já trabalhavam nas fábricas de tecido houve em uma fábrica de Nova York uma greve de mulheres. A primeira greve de mulheres do mundo reivindicava as condições de trabalh o e salários, se recusavam a trabalhar, ficando dentro da fábrica. Os patrões vendo que não era possível expuls álas não tiveram dúvidas, mandaram incendiar o prédio queimando-as vivas. Depois de sofrerem durante séculos a condições de escravas dos homens. As mulheres do século XX passaram a conquistar o seu espaço na sociedade, equiparando-se ao homem. É evidente que sempre ouve famílias onde há muitos homens que tratam sua mulher como companheira, com amor, consideração e respeito, pois toda regra sempre há exceções. Mas grande parte a situação da mulher era submissão ao homem. Após a Segunda Grande Guerra, a mulher conseguiu sua emancipação e hoje as mulheres ocupam os mais importantes cargos na indústria, comércio, empresa, na administração pública. Até nas forças armadas a mulher está ocupando seu espaço. Já na política em pleno século XXI a mulher deveria ter seu espaço com maior conotação. Sim porque somos a maioria e ainda temos apenas cotas para as mulheres poderem ser candidatas, mulheres no mundo i nteiro


66 entusiasmaram, aplaudiram e no fundo, ficaram um tanto orgulhosas com a posse recente da chilena Michelle Bachelet e a da alemã Ângela Merkel no posto máximo do poder político em seus países. No Brasil o número de representantes na política é muito pouco. Haja vista o número de representantes no país, estados e municípios. Porém do ponto de vista dos eleitores a situação é diferente. Estudos realizados em vários países mostram que o eleitorado acredita que políticos são mais éticos do que políticas. Mas isso em tese. Porque na teoria a situação é outra. Nós mulheres ainda votamos em políticos. Sejamos corajosos vamos eleger mulher para poder termos nosso lugar na política brasileira, (poder nas mãos femininas) no campo cultural a situação é animadora, pois um número bastante expressivo de mulheres ingressa em cursos superiores no Brasil. Após décadas de preparação silenciosa, experiências e frustrações para com o trabalho masculino, as mulheres estão a beira de uma mudança revolucionária. Vivemos num t empo de esperanças, de vontades novas. Convivemos numa situação paradoxal, pos de um lado, a sociedade lhes pede que sejam iguais aos homens, acenando com oportunidades de estudos e trabalho, e, por outro lado, as mantém desiguais já que são consideradas a s responsáveis exclusivas da vida privada. Como ser ao mesmo tempo igual e desigual? É preciso repensar em todos os seus aspectos esta proposta social contraditória. Necessitamos encontrar caminhos para adequar nossa sociedade a sua nova realidade nova rea lidade, dando as mulheres e aos homens as condições para


67 redefinir seus papéis e desenvolver cada um suas potencialidades. Em nenhum lugar esta discussão será tão importante e fecunda quanto nas famílias e nas escolas. É certo que o feminismo trouxe mudanç as irreversíveis para o mercado de trabalho, o comportamento sexual e, obviamente, as relações pessoais. Não se tem notícia de uma revolução de costumes tão poderosa e efetiva na história ocidental. Pelo menos nos países desenvolvidos as conquistas femininas foram reconhecidas. Não podemos e não devemos usar o poder da sexualidade e da sedução como meio de conseguir dinheiro e poder. A questão que se coloca é se as mulheres, a maioria delas, querem m esmo essa mudança e dispõem-se a pagar o preço de abandona r a postura de desprotegidas, coitadinhas, sexo frágil e, de fato, partir para a luta. Mais atarefada do que nunca, as mulheres buscam estratégias para ganhar tempo e qualidade de vida. A boa notícia é que é possível resolver o problema. A grande massa fem inina parece estar mais interessada em lutar contra a balança e as rugas do que contra desigualdades ainda presentes e alardeadas desde a época das feministas históricas. No centro da questão que afligem o movimento pós feminista do século XXI, nada surge tão forte quanto o velho tema do casamento. Ele ainda é ao que tudo indica, o grande nó da questão. “As mulheres devem reconhecer que a família é hoje o que o ambiente de trabalho era em 1964 e o voto em 1926”. De todos os erros cometidos pelo feminismo o mais grave foi a incapacidade de mudar a instituição


68 que estaria no centro de toda a tragédia feminina. O casamento para muitas mulheres é um empecilho para que elas atinjam a igualdade total de salários, as mesmas oportunidades de ascensão profissional e a divisão com os homens da carga de trabalho e das responsabilidades na administração da casa e na educação dos filhos. Desta forma muitas mulheres são infelizes por ter de cuidar da casa e dos filhos e dividir a vida familiar com o trabalho. A saída seria resolver o problema entre as quatro paredes do lar. O diálogo é sempre a melhor forma para solucionar conflitos. “Juntos eles devem estruturar sua vida familiar com igualdade de direitos e deveres também nos afazeres domésticos”. Seja qual for a razão pes soal pela qual as mulheres costumam se desdobrar em casa, o que os analistas do assunto afirmam é que é preciso romper socialmente essa dependência. Sem mexer no papel tradicional que a mulher exerce no casamento, pregam esses estudiosos, elas tendem a con tinuar em desvantagem eterna em relação aos homens, sobretudo no campo profissional. É verdade que nos últimos anos a diferença salarial diminuiu, assim como se abriram muitos cargos de chefia para mulheres. Porém a distância ainda é bem sólida. Infelizmen te as discussões sobre educação dos filhos, chateação da sogra, itinerário no trânsito ou horário de cada um são fichinhas perto do tema dinheiro. Os homens podem não admitir que motivo tão mesquinho cause tanta encrenca todo conflito em casa começa pelo d inheiro. A falta dele e as despesas excessivas do companheiro são as duas principais razões apontadas. Mentir sobre


69 dinheiro também é recorrente nos relacionamentos. Os homens na grande maioria não admitem que as mulheres ganhem mais do que eles. O dinheir o muitas vezes é motivo de tensão no casamento. Homens e mulheres podem não vir de planetas diferentes, mas quando o assunto são finanças, operam em órbitas distintas. A maioria dos casais ainda adota uma divisão tradicional de tarefas. As mulheres em gera l, tomam os homens, cuidam dos investimentos e das decisões de longo prazo. Ainda encontramos resquícios da sociedade antiga em que o homem era o provedor. Embora seja clara a emergência de um tipo de casal mais igualitário, em que ambos contribuem – mesmo de forma desigual – para o sustento da família. Homens e mulheres não concordam nem sobre dados objetivos que poderiam ser confirmados. Por exemplo, sobre quanto receber e quanto gastam. Esse descompasso pode se tornar um grande problema no controle das finanças. É preciso saber quanto entra e quanto sai, como uma empresa, senão é fácil perder a direção. Quando os cálculos ficam , mas suposições é normal que se credite o rombo financeiro ou a falta de recursos ou a má administração do outro. O certo é o casal discutir sempre as questões que envolvem despesas e investimentos. Tanto um como o outro precisam estar a par de tudo que envolve o dinheiro do casal. Só assim as surpresas desagradáveis são evitadas. Não se acomode pensando que seu marido é mais esperto em relação às finanças. Não use suas falta de confiança como desculpa pra abdicar de suas responsabilidades.


70 Participe e se informe. Saiba quanto vocês investem e onde seu dinheiro está alocado, comece com calma. Se seu marido cuida das finanças sozinho há anos, participe e mostre interesse pelo assunto devagar – sejam objetivos, críticas não levam a lugar nenhum. Dinheiro envolvem questões emocionais, não gastem energias tentando convencer o outro. Criem um plano de ação que funcione pra os dois. Aprenda m a gerenciar seu dinheiro. A esperança que alimento é a de que quando um número grande de mulheres assumir as alavancas de comando do planeta, e o fizerem calcadas em valores femininos, crie -se a massa crítica suficiente capaz de mudar o comportamento dos próprios homens e, por essa via mudar o mundo. Não se deve pensar que sonho com um mundo no qual homens e mulheres serão iguais. Não o serão, visto que diferentes, mas diferentes não quer dizer necessariamente superior ou inferior. Ou seja, homens e mulhe res serão homens e mulheres, mulheres , porém enriquecidos com características de um e de outro gênero para termos seres humanos melhores. Também não alimento ilusões de que um processo de mudança da magnitude e da profundidade possa se completar em curto prazo. Em que pesem as evidências de que o processo já se iniciou, muito ainda há de ser feito e complet á-lo não será tarefa para apenas uma ou duas gerações. Por fim, uma indagação de Freud: Afinal , o que uma mulher quer?


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ERNESTINA FAIZER KURTH Nasceu em Agenlina-SC a 07 de março de 1929 e formou -se no Curso Normal no Colégio Maria Auxiliadora, de Rio do Sul -SC, em 1952. Lecionou desde os 15 anos de idade, tendo se aposentada em 1982 como Diretora de Escola Básica. É Bachare l em Administração de Empres as (1973) e Licenciada em Letras (1975) pela FEDAVI. Diplomada “Master Cake Decoration” pela Wilton School Of Decoration (USA), onde estudou em 1993 e 1995. É co -autora do livro “Um Passeio pela Gra nde Florianópolis” e participou , com contos e poesias, nos livros “Histórias de Professor”, “Contos do Professor” e “Poemas de Professor”, da Coleção FUCAPRO. Participou da organização do Varal Literário do Grupo Almas em Serenata, de São José -SC. Pertence à Academia de Letras de Biguaçu, ocupando a Cadeira 39, cujo patrono é o poeta Vergílio Várzea. Acadêmica: Ernestina Faizer Kurth Cadeira nº: 39 Posse: 18-12-1996 Título: Poetisa Endereço: Rua Getúlio Vargas, 3 .008, São José-SC CEP: 88103-400 Fone: (48) 3247-0280 E-mail/Site: Não informado Patrono: Virgílio Várzea Título: Poeta

MEUS, QUASE, HAI CAIS

Amigo rabdomante, pela rabdomancia, advinha a água nossa de cada dia.


72 Santo Bento, Santo Bento Vem cobrir Quem dorme ao relento , Com teu manto santo . Por onde passares, Passa de modo, Que possas sempre ali voltar. O pinheiro magnífico candelabro, De verdes arandelas , As pinhas são as velas. Nuvens correm fugid ias, Escondendo-se atrás do mosteiro, CÉU DE BRIGADEIRO . Chega-nos uma boa lembrança, Emoldurada pela saudade. Obrigado Senhor Pelo dom das curas, Que crias em tuas criaturas. Se és amigo de Deus e precisas de alguém ou de alguma coisa , Olha em volta. Ele já ali as colocou. As folhas caem A árvore fica. O Outono explica.


73 Neblina como lá, Assim, cá. A poesia está no ar, Pede as rimas ao luar. Nuvens grávidas no céu, Chuvas ao léu. Na roupa do céu Nossa Senhora passou anil . Deus gostou e guardou para Abril. Se o amanhã tivesse janela , e eu soubesse dela, Debruçar-me-ia já, nela. Obrigado Senhor por esta cama tão boa E que nela, nada me doa. Na chuva: – Mãe água Leva de mim Toda dor e toda mágoa. Vento qual pente, penteando palmeiras: Cabelos verdes.


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Envelheci um ano em uma noite. Adormeci com 17 e acordei com 18. Lágrimas ardentes chora já sem fé. Velha garrafa de café. Parece desatino mas cada panela com seu destino. Minha geladeira por que chora em líquido , Se pode as lágrimas solidificar? Regai, consolai as plantas presas em vasos , e as pessoas em seus casos. Estejamos sempre em alerta : tentando acertar o quê errado, e consertar o quê quebrado. O sol debruando a ouro a nuvem vestal, Que quer se vestir Após o temporal. Limpa pára-brisas trabalha com mágua,


75 Lavando água. O guarapuvu alcançou a floração dos ipês , a diferença são os pés. Já foi verde a sombrear ramos bem distribuídos, Agora secos a esqueletar. O sol por entre nuvens, Caiu no lago. Saiu molhado. Naquele dia que as formigas fizeram greve A cigarra não cantou , As rosas murcharam, E o olho d’agua chorou. O sol amarelo Faz a nuvem mais bela. Sob a crista Um bico, Galo rico. O vento faz a onda a onda faz a renda. Se não puderes levar água para tua roça , Inunda a do vizinho , igualmente seca, que inundada derrama na tua.


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Na casa do meu avô diziam roda d’agua, Descobri que era de madeira. Dente de leite, roda d’agua, quem já viu dente de alho? Com a seca dos rios, vê-se tantos seixos. É de cair o queixo. Vi a luz do pirilampo Mas não ouvi seu canto. Luz, luz, luzes. Acesas. Quem paga Apaga. Teria Deus colocado Açúcar no rio? É uma corrente de água doce. Na orelha de pau, Não achei brincos. Calendário sem fases da lua... Como saber em que hora a Lua Nova vem para a rua.


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Um grande pé-de-vento achou um sapato. Por que não o calçou? Na boca da noite nascem estrelas. No céu da boca, não nascem dentes. No chimarrão, presentes três continentes: Bomba da Europa, Erva Mate da América e Cuia da África caliente. No escabelo vão bem os pés. Na cabeça, cabelos. No Paço Real uma brasileira reinou Dona Maria II, Rainha de Portugal. Gris no cume alvacento no sopé. Neblina presente.

ESPERIDIÃO AMIN HELOU FILHO


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Esperidião Amin Helou Filho é filho de Esperidião Amin Helou e Elza Marini Amin Helou. Nasceu em Florianópolis -SC em 21/12/1947. É formado em Administração pela ESAG, Bacharel em Direito pela UFSC e Mestre em Administração também pela UFSC, tendo feito especialização e extensão nas áreas de Economia e Direito. Exerceu o magistério na UFSC de 1968 até 1990. Exerceu diversos cargos públicos, como: Diretor de Administração, chefe de Gabinete, Secretário de Esta do da Educação e Cultura, Assessor de organização e Métodos, Diretor Financeiro do BADESC, Prefeito Municipal de Florianópolis, por duas legislaturas, Presidente da AMGF – Associação dos Municípios da Grande Florianópolis, Deputado Federal, Senador da Repú blica, Presidente Nacional do PPR e do PPB, e Governado do Estado de Santa Catarina. Atualmente é professor no curso de Administração da UFSC e é também aluno Doutorando na Engenharia de Gestão do Conhecimento. Acadêmico: Espiridião Amin Helou Filho Nascimento: 21/12/1947 Cadeira nº: 28 Posse: Não informado Título: Político / Orador / Professor Endereço: Rua Antenor de Moraes, 412, Bom Abrigo, Florianópolis -SC CEP: 88085-430 Fone: (48) 3244-4389 E-mail/Site: e.amim11@hotmail.com Patrono: Manoel de Menezes Título: Jornalista

Dedico estas linhas à ex presidente da Academia de Letras de Biguaçu, nossa amiga Dalvina de Jesus Siqueira, dedicada e diligente lutadora em prol da valorização da Academia e do patrimônio sócio-cultural de Biguaçu.


79 A Raiz em Biguaçu O Engenheiro Celso Ramos Filho ofereceu a Santa Catarina uma extraordinária contribuição à História de Santa Catarina com seu livro “COXILHA RICA – Genealogia da Família Ramos”. Além de abordar de maneir a abrangente e profunda as origens de uma família marcante na história do nosso Estado, o livro homenageia Biguaçu ao revelar a origem catarinense dos Ramos. Três questões merecem registro que me permito aqui fazer, pretendendo, no máximo, alinhar tópicos para uma discussão futura. A primeira questão refere-se ao nome. O nome original da família que migrou dos Açores era Coelho. Ao que tudo indica, Coelho fora adotado como expressão de uma conversão mais do que conveniente para a época. Sim; os recém conve rtidos, os chamados “cristãos novos” adotavam, como nome de família, designativos “naturais”, isto é, substantivos que denominam árvores, pássaros, animais e assemelhados. Coelho (Celso Ramos Filho sugere que seja derivado da Quinta da Coelha) pode ser sucedâneo de nome de família “sefaradine”, ou seja, semita – judeu ou árabe – da península ibérica. Se formos consultar Manoelito de Ornelas, em seu clássico “Gaúchos e Beduínos”, colheremos informações adicionais para crer que as feições dos serranos (e dos Ramos, em particular), guardam familiaridade com os traços dos Beduínos. Estes, com seu acendrado amor pelo cavalo, constituem modelo que o nosso gaúcho assumiu em


80 nossas latitudes. A propósito, lembra Manoelito que “o gaúcho, como o árabe, tem pelo cavalo um culto exagerado. O próprio Maomé chamava aos cavalos filhos do vento. E dizia que Deus, quando criou o cavalo, proferiu estas palavras: “Quero fazer de ti uma criatura para a glória dos meus fiéis e terror dos meus inimigos!”. O cavalo é, para o homem do oriente médio, o mais nobre dos animais.”. Daí decorre a “gabança poética” referida por Domingo Sarmiento: “Tou velho, tive bom gosto Morro quando Deus quiser. Duas penas levo comigo: Cavalo bom e Mulher” . Isto quando não coloca o cavalo em plano superior: “Mi mujer y mi caballo Se me fueron para Salta, Como mi caballo vuelva, Mi mujer no me hace falta!” . Sem comentários… Manoelito de Ornelas demonstra as afinidades entre gaúchos e beduínos nos hábitos, costumes, vestimentas, músicas e outros fatores. Maragateria, bombacha e os principais identificadores da pelagem dos cavalos são decorrência dessas afinidades. Quem desejar conferir tais origens, pode consultar o interessante “Dicionário de Termos Árabes da Língua Portuguesa”, do Dr. Júlio Doin Vieira.


81 Os Coelho desembarc ados em São Miguel da Terra Firme, da nossa sempre hospitaleira Biguaçu, deram ao seu filho Laureano José o nome de Ramos por ter este nascido no Domingo de Ramos de 1777 (exatamente em 18 de março daquele ano). Sim, seus pais – Matheus José Coelho e Maria Antônia de Jesus –, originários de Angra do Heroísmo, Ilha Terceira (ou de Jesus Cristo), deram -lhe o sobrenome Ramos e estenderam este sobrenome ilustre aos outros filhos, nascidos em 1776 (antes, pois) e 1779, respectivamente, Adolfo José e Ricardo José . Portanto, este primeiro tópico aborda a origem brasileira e catarinense da família Ramos, situando -a em Biguaçu, mais precisamente em São Miguel. A segunda questão aborda a saga de Laureano José Ramos. Falar que o marceneiro Laureano saiu de Biguaçu e foi para São Francisco do Sul; de lá foi para Antonina (Paraná); de Antonina foi para Lapa (Paraná); de lá foi para Santo Antônio da Patrulha (Rio Grande do Sul) e de lá, enfim, veio para Lages, é fácil. Difícil e desafiador deve ter sido cumprir esse itiner ário entre 1804 e 1812... Os estudiosos da língua árabe encontrariam na palavra “MAKTUB!” (estava escrito!) a melhor explicação para tal “odisséia”. Todo aquele conteúdo substrato referido por Manoelito de Ornelas explica essa procura pela paisagem em que o fundador dos nossos Ramos se sentiria em casa... Que ambiente seria mais adequado para os Ramos? Podemos dizer que Laureano, depois de tanto viajar, chegou à sua casa!


82 Em sua obra “Taipas – Origem do Homem do Contestado”, Octacílio Schüller Sobrinho res salta que “o vaqueiro, o pastor por excelência é o homem da cor do pinhão, descendente de uma raça habituada à vida nômade – o árabe”, ou seja, o beduíno. Tendo, pois, vencidas vicissitudes tão marcantes, Laureano José de Ramos fundou em Lages o mais importante estabelecimento agropecuário, compreendendo azenha, atafona, tecelagem de lã e de algodão, carpintaria (afinal, era marceneiro), olaria, pomar e outros agregados econômicos. Portanto, o catarinense (nascido em Biguaçu) Laureano, fundador do tronco Ra mos, foi um grande e distinguido empreendedor. Além disso, sua descendência deu a Santa Catarina, além de Nereu Ramos (Presidente e Vice Presidente da República, Presidente da Câmara e do Senado, Ministro da Justiça e Governador de SC), um embaixador (o grande historiador Licurgo Ramos da Costa), sete senadores, oito deputados federais, seis governadores do Estado, dez deputados estaduais, seis desembargadores, nove prefeitos municipais e um arcebispo, além de inúmeros outros exemplares servidores da nossa “res publica”. O contributo originário de Biguaçu é singularmente expressivo, pois. E não tem paralelo. Podemos dizer que as bênçãos derramadas naquele Domingo de Ramos de 1777 foram muito especiais! Esta avaliação é apropriada, especialmente se considerarmos que aquele não era um momento tranqüilo. Menos de 30 dias antes, os espanhóis de Ceballos tinham tomado a Ilha de Santa Catarina! E o


83 fizeram lançando mão da maior esquadra que até então chegara a estas plagas. Cento e vinte navios ancoraram na baía d e Canasvieiras e deles desembarcaram cerca de dez mil soldados que puseram em fuga a guarnição do forte de São José da Ponta Grossa e forçaram a rendição – sem luta – da tropa e das autoridades portuguesas da Ilha de Santa Catarina. Não foi, portanto, sob todos os aspectos, um Domingo de Ramos comum o de 1777! A terceira questão volta-se para Biguaçu e para suas raízes açorianas, sediadas em São Miguel da Terra Firme. Quem já teve o privilégio de visitar os Açores pode sentir a emoção de conhecer um povo valente – sem ser acintoso – e que valoriza a família, instituição essencial para sua organização social. Dentre as ilhas dos Açores, a do Pico, pela dureza de sua topografia e pela aspereza de sua morfologia, é exemplo muito especial. Areia vulcânica escur a, batida por incansável vento, só poderia ser habitada por um povo forte! Comer de seus queijos e beber de seus vinhos e licores é atestar a vitória da perseverança e da criatividade sobre as adversidades. São Miguel, em particular, e todo o território de Biguaçu ofereceram ao imigrante açoriano um ambiente muito mais propício e generoso. Aqui, a “a mão do Criador” plantou terras férteis; desenhou baías e enseadas caprichosas; dotou generosamente o território de águas boas; fez do mar um celeiro abundante de frutos que não precisamos plantar (mas, seria muito bom deles desfrutar com moderação). Enfim, de Laureano Ramos aos nossos


84 dias, Biguaçu nos oferece berço e cenário de oportunidades. O berço – generoso e seguro – continua à nossa disposição! As oportunidades são desafios postos diante de nosso espírito empreendedor. Se este não faltou – em outras plagas – a Laureano, filho ilustre de Biguaçu, cabe aos que gostamos de Biguaçu, especialmente pelo desenvolvimento de nossas competências através de educação de qualidade, tornar possível a concretização dos nossos sonhos.

HOMERO DA COSTA ARAÚJO Nascimento: 06 de maio de 1948; Local de Nascimento: Lages SC; Filiação: Antônio Alencar Araújo Furtado e Helma Helena da Costa Araújo. Formação: Curso Primário: Colégio Vidal Ramos Júnior , LagesSC; Curso Secundário: Colégio Diocesano de Lages : Curso Científico; Academia de Comércio de Lages : Curso Técnico de Contabilidade . Curso Superior: Administração de Empresas na UFSC ; Direito na UFSC. Experiência Profission al: Professor da Escola Técnica Federal de Santa Catarina – ETFSC, na disciplina de Organização e Normas (ano 1972 – 1998). Administrador, na Companhia Catarinense de Águas e Saneamento – CASAN (1972 – 1979). Administrador, na Companhia de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina – CODESC; Advogado Autônomo, OAB-SC 3144; Diretor da Empresa Vida, Importação Comércio e Representações Ltda. (1986 – atual). Autor das seguintes obras: Fogo de Chão, então, então; Caminho das Tropas; Prosas de Galpão; Por detrás das Taipas; Cama de Pelego; Confraria da Coxilha . Membro da Academia de Letras de Biguaçu, cujo patrono é o ilustre lageano Nereu Ramos. Acadêmico: Homero Costa Araújo Nascimento: 06-05-1948


85 Cadeira nº: 31 Posse: 15-12-2006 Título: Escritor Endereço: Rua Newton Ramos, 70, Apto. 502, Ed. San Matheu, 5º Andar, Florianópolis-SC CEP: 88086-893 Fone: (48) 3223-4664 / 8808-6893 E-mail/Site: h.f.comercial@terra.com.br Patrono: Nereu de Oliveira Ramos Título: político / Orador

Boi de Botas Futebol Clube

O

time do Boi de Botas Futebol Clube, da Coxilha Rica, contava trinta e seis jogos sem vitória. A diretoria, preocupada com o rebaixamento, se reuniu e chegou a conclusã o de que deveria contratar. — Mas nós não temos dinheiro, argumentou o tesoureiro. Até a venda do centroavante “Lambança” não se concretizou, o que tiraria o time do buraco... quinze milhões de euros. — Não estou falando de contratar jogadores, mas sim um benzedor, pai-de-santo, ou alguém do gênero que faça um trabalho para afastar a má fase do time. É muito mau-olhado; muito olho -grande; muita mandinga contra nós; coisas desse gênero, argumentou o presidente. Doutor Paulinho, médico do clube, facultativo, como se diz na linguagem do futebol, soube da


86 preocupação do presidente e apresentou -se como voluntário. — Já fui macumbeiro quando estudava medicina em Florianópolis. Era um quebra -galho que me ajudava a cobrir as despesas da faculdade, não mais do que isso. Entendo da função, não contratem ninguém. Vou fazer o “trabalho”, e de graça pra ajudar a salvar o clube. O presidente topou a parada. — De graça, até injeção na língua. Paulinho começou com sessões aplicadas no vestuário: reza, chifre raspado de bode preto; incenso; patuás; velas; charutos e galinha preta; enfim, até arruda na meia dos jogadores. Nada disso resolveu. Doutor Paulinho partiu então para o plano “B”: Banho de mar grosso, muita água salgada no plantel. — Esse recurso nunca falha – garanto-lhe presidente. Fiz isso no Arranca Toco de Campo Belo do Sul e ficamos oitenta e dois jogos invictos. — Mande brasa “Pai Paulinho” , pois domingo que vem teremos jogo e não poderemos perder. Quem vai estar presente na transmissão do jogo é a Rádio Clube de Lages com Camargo Filho e toda sua equipe de repórteres. — Deixa comigo, presidente. O time do Boi de Botas veio para Florianópolis e Pai Paulinho determinou: dois banhos de mar pela


87 manhã, um à tarde e outro à noite, é o bastante, não mais do que isso. Repetiu a operação por três dias seguidos. Retornaram para a Coxilha Rica e em seguida concentraram-se para o confronto decisivo com o Estrela Azul, de Capão Alto. Presente no evento toda a equipe esportiva da Rádio Clube de Lages, coisa inédita na Coxilha R ica. O jogo se realizou no estádio do Rincão do Perigo e novo revés: Estrela Azul 8x1 Boi de Botas. O locutor Camargo Filho, ficou rouco de tanto gritar gol. O presidente do Boi de Botas, inconformado pelo resultado questionou Pai Paulinho: “O que houve, painho?” — Não houve nada, presidente. Pra mim não houve nenhuma surpresa. Os pais -de-santo me avisaram que o resultado do jogo era pra ser 12x0 pro Estrela Azul, e, eu com o meu “trabalho” diminuí a goleada, além de termos tido a sorte de sair com 1x0 a nosso favor, ou seja, marcamos um gol, coisa que o time não fazia há quatorze rodadas. O senhor está reclamando de quê? Tenha a santa paciência. Qualquer pessoa percebe que 8x1 é melhor do que 12x0. Pergunte pro pessoal da Rádio Clube. Quem tá certo é o locutor Camargo Filho que sempre afirma: “Quem quebra galho é macaco gordo”. Saravá, presidente. — Eu, hem? Arrumo cada um. Saravá, Pai Paulinho.


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Lambança

Nos idos do ano de 1960 apareceu em Lages, vindo de Porto Alegre, uma jovem e grata rev elação do futebol daquela cidade e, de cara, o locutor esportivo Camargo Filho, da Rádio Clube, colocou -lhe o apelido de “Lambança”. Ingressou nas hostes do Esporte Clube Internacional onde foi titular absoluto por dois anos seguidos. Lambança alternava gr andes e brilhantes partidas com atuações medíocres e ridículas que comprometiam a equipe. Tinha momentos de Pelé e outros de verdadeiro perna-de-pau, ninguém entendia tanta oscilação. Após pendurar as chuteiras como atleta foi convidado pela Diretoria do I nternacional para ser o treinador da equipe juvenil. Aceitou o desafio. Era um excelente motivador, embora fosse um homem de pouca instrução. Formou uma grande equipe sendo que alguns atletas chegaram muito rápido ao time titular que venceu o campeonato estadual de 1965, lembra -se? Lambança proporcionava momentos hilariantes como treinador. Apresentaram-lhe numa oportunidade, um pretinho que tinha sido a revelação do campeonato do Cerro Negro e disseram maravilhas acerca do garoto e


89 pediram para que Lambanç a o testasse na equipe do Internacional. — Não tem problema, é só me trazer a fera que eu já digo se presta ou não... “Flexinha”, assim era o apelido do guri, apresentou-se numa segunda-feira, à tarde. Quando Lambança botou os olhos na figura, sentiu o drama e lascou: “Qual é o seu forte Flexinha: ataque, meio-campo ou defesa? — Eu sô ponta dereita professô. Corro quinem um curisco. Pra mi pará só na porrada ou no tiro. Pego inté lebre de morro acima. — Meu filho. Estou precisando é de jogador, não de maratonista: a São Silvestre é só em dezembro, sabe? E tem mais, troque de roupa no vestiário, ligeiro, que o treino já vai começar. Flexinha tirou da sacolinha um par de chuteiras que havia engraxado com sebo de ovelha e trajou -se ali mesmo, pois queria era participar do treino. Lambança mandou Flexinha aquecer e pediu para que ele viesse à beira do gramado receber instruções. O coração do Flexinha aumentava os batimentos e quase saltava boca a fora tamanha a expectativa pela oportunidade: “Meu Deus, não acredi to que vô ponhá a camisa do Internacioná, não vejo a hora”..., e continuou aquecendo. Lambança ordenou: — Tá bom meu filho, não esquente demais senão derrete. Venha cá. Está pronto Flexinha?


90 — Tô professo. Tô. — Está nervoso ou está calmo? — Um pôco nervoso, sabe cumo é, sô muito novo ainda. — Logo vi que você está nervoso. Olhe para a sua chuteira, está com os cadarços trocados. — Cumo? Cardaço trocado? Cumo? Eu explico O cadarço do pé direito está no pé esquerdo e o cadarço do pé esquerdo está no pé direi to. Você entendeu agora? — Intendi professô. Acho que foi a pressa, troco já, agorinha memo. E Flexinha agachou -se para a operação da troca do cadarço. Lambança ria a mais não poder. Aplicava essa pegadinha em todo mundo. Colocou Flexinha só no segundo tem po de treino. Viu que Flexinha não tinha nenhum talento e resolveu explorá-lo um pouco mais. Findo o treino, chamou -o em separado dos demais jogadores e colocou -o a bater penalty. Aí é que a desgraça aumentou. Das vinte cobranças, Flexinha apenas acertou uma. Um índice baixíssimo. — Flexinha venha cá. Vou instruí -lo e ensiná-lo como bater a “falta capital”. — Falta capital? O que é isso professô? Nunca ouvi falá nisso. É argum pecado? — Eu explico. Falta capital é o penalty. Usava-se esse termo antigamente, não é do seu tempo Flexinha,


91 sabe? Agora, preste muita atenção nos meus ensinamentos. Penalty não tem segredo. Aprendi com o meu amigo e locutor Camargo Filho da Rádio Clube de Lages. Você pega a redonda e coloca-a na marca da cal. Na marca da cal, não do cal, porque cal é uma palavra feminina entendeu? — Intendi, e aí? — Aí você se concentra e dá uma cacetada com bastante efeito, rasteiro, no canto que o goleiro não está, ouviu? Não tem erro... é só correr pros braços da galera. E Flexinha questionou: — Professô, e cumo que eu vou sabê quar é o canto que o golêro não tá? E Lambança gargalhava: — Aí já é demais. Você quer que eu lhe diga qual é o canto que o goleiro vai se atirar? Qual é Flexinha? Pode tomar banho e voltar para o Cerro Negro. Aqui em Lages não tem lebre pra você correr atrás. Logo vi, revelação do futebol de Cerro Negro só podia dar nisso. Só eu pra acreditar numa dessa... Mereço...


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JANICE MARÉS VOLPATO Catarinense de Mafra nasceu em 23 de maio de 1953. Filha de Jayme Marés, falecido, e de Marianna Wisovata Marés. Casada com Pacelli Volpato, filhos gêmeos: Laércio e Leonardo Marés Volpato. Graduada em Biblioteconomia pela UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina. Especialista em Metodologias de Atendimento da Criança e do Adolescente em Situação de Risco. Parapsicóloga Clínica do Sistema Grisa. Ocupa a cadeira n. 10 da Academia de Letras de Biguaçu, e n. 09 de Governador Celso Ramos. Publicações: 2008 – “Jornal a Cidade – Governador Celso Ramos”, Coluna: “Pescadores”. 2006 a 2008 – “Jornal Fique Esperto” – São José. Coluna: “Janice Marés Volpato”. 2007 – Participação na Antologia de Contos e Poemas “Encontros da Primavera”, Academia de Letras de Governador Celso Ramos, com a poesia “O Gancheiro e sua tradição”, 2006 – Monografia de Especialização. Acadêmica: Janice Marés Volpato Nascimento: 23-05-1953 Cadeira nº: 10 Posse: 15-12-2006 Título: Parapsicóloga / Escritora Endereço: Rua Heriberto Hülse, 78, Barreiros, São José -SC CEP: 88110-010 Fone: (48) 3246-0533 / 8407-3227 E-mail/Site: janicemv@brturbo.com.br Patronesse: Alaíde Sarda de Amorim Título: Educadora / Escritora

LAPIDAR A ESSÊNCIA HUMANA

O Ser Humano caminha, ora em passos largos e apressados, ora curtos quase parados. E nesse momento carece pensar: S im, é um ser racional que pensa a cada passo . Não como deveria ser em sua


93 totalidade, pois muita s vezes age e reage como animal, via seus instintos. Existem no seu Subconsciente registros que o aprisionam e na ausência de uma liberdade interior trava uma luta entre o bem e o mal conforme sua percepção. Da conjunção da qual foi concebido e programado, e de uma vida sofrida da mãe que o carregou no ventre, veio ao mundo rejeitado. Quando sente se ameaçado, dele emerge toda a realidade, pois as informações recebidas desde a vida intra -uterina ficaram nele impregnadas, quase que adormecidas. Sob a égide do Subconsciente, os registros mais profundos, distorcidos afloram e por segundos falta -lhe a razão. É a manifestação do sistema emocional completamente desequilibrado. Nisso ele grita, agride, se arrepende e chora. É tarde demais! Um crime foi cometido, agiu por impulso descontrolado. – Assassino! Gritam as pessoas que assistiram o trágico acontecido. E quando toma consciência do fato, e nada mais pode fazer, pensa em fugir, quer sumir, mas de joelhos cai ao chão e logo, deitado. Com as mãos aperta a cabeça, sua fala cansada parece longínqua. – Meu Deus! Por que eu fiz isso? Sou um jovem fracassado. Perde as forças, se entrega, para não ser torturado. A polícia l ogo chega e o jovem é levado, algemado, no camburão, só e desesperado!


94 A vítima inerte, no chão ensangüentado, é observada com pesar por ser ainda tão jovem, mas, logo depois da perícia, sai na maca carregada. As conversas paralelas se misturam na multidão, que aumenta rapidamente, entre curiosos querendo detalhes e testemunhas dando opinião. – Esse mundo está perdido! – É por causa das drogas! Exclama a mãe desesperada, que ao saber do ocorrido chega um pouco atrasada ao cenário. – Eu dizia pra ele, tu vai morre, vão acabá com tua vida! Ai meu Deus! E agora? Proclama ela ao vento. As vizinhas a consolam e juntas saem em procissão. Claudenira, a mãe sofrida, ainda reforça com ênfase as palavras que seguem automatizadas: – Eu sabia que isso ia acontecer! – Eu sabia... Até chegar à sua casa ela continua a falar, o nervosismo toma conta e ela chega a desmaiar. Enquanto isso na delegacia, Robert o está desolado, lembra que algumas vezes sentia ódio, vontade mesmo de matar. Mas não era isso que queria. Estava realmente arrependido. Agora sabia que as conseqüências seriam as piores. Pensava na Mãe, nas palavras que ela dizia: – Meu filho não se envolva com drogas, um dia vai acontecer alguma coisa ruim. Mas, aqueles conselhos da mãe sempre foram ignorados, pois ele queria dinheiro fácil. De relance percebe sua triste condição e sente muita amargura na rigidez da prisão. Algumas semanas após o acontecido, na cadeia recebeu a sentença, em papel sujo e amassado. No


95 bilhete estava escrito a jura de vingança mortal, e nesse momento percebeu que seu destino foi traçado. Essa é uma situação em que muitos daqueles que se encontram presos vivenciam. Conforme o envolvimento criminal, sofrem ameaças e se sujeitam as muitas humilhações, a raiva e o medo podem a todos contaminar. O carcereiro por sua vez acostumado, com tantos e tantos casos, esclarece a situação: – Alguns casos são resolvidos aqui mesmo na prisão, outros quando saem encontram a morte no outro lado do portão. Sem oportunidade s dificilmente conseguem mudar. E da vida, algo melhor, só resta -lhes esperar... A Mãe sofrida, agora se esforça para falar com as vizinhas, e sua respiração difícil e muito fraca evidencia a dor e o pesar. – Ele sempre foi assim, brig ão desde pequeno, não adiantava surrar, ele não melhorava, depois deixei por conta e deu no que deu. Roberto demonstrava ter o sistema emocional indomável. Seria por conseqüência de problemas gerados desde o período da vida intra -uterina, na hora do nascimento, ou algum trauma? Provavelmente, ainda mais quando reforçado no convívio d o dia-a-dia, onde os riscos à integridade físi ca e mental são mais eminentes. As situações vivenciadas por Roberto ou outras pessoas que também manifestam descontrole emocional e isso as incomodam, desde a concepção, durante a infância ou adolescência ou fase adulta, podem ficar aliviadas, pois existem possibilidades para


96 melhorar ou eliminar definitivamente as causas prejudiciais. Roberto não obteve uma orientação adequada, para controlar o sistema emocional, quando ainda era criança. E quando adulto ele também não procurou ajuda. Muito pelo contrário sempre rejeitou. Queria mostrar o poder por meio de agressividade. Fato que reforçava cada vez mais, até sem motivo aparente. Pedro Grisa, autor de vários livros, depoi s de muitos estudos e pesquisas minuciosas, comprova: – “A mente humana merece ser lapidada”. E numa outra expressão conclui sua grande descoberta. – “Só se expressa no exterior o que já é no interior”. Em forma de brincadeiras, crianças e jovens batem nos irmãos, nos amigos, desrespeitam pais e professores. Atitudes que possibilitam a programação de um futuro avassalador . Porém, se desde a mais tenra idade a criança for orientada a manter o controle emocional, vai crescer com segurança, estudar e respeitar, vai poder ser feliz, viver em equilíbrio e harmonia. Assim como em vários lugares, Biguaçu também apresenta situações complexas . Cresce a violência, a criminalidade e a agressividade de forma desenfreada. Dalvina de Jesus Siqueira reside no município desde seu nascimento, em 1929. Por tanta vivência, tem um elevado conhecimento sob re sua comunidade. É um grande exemplo de vida, uma verdadeira guerreira do bem. Disciplinadora nata, possuidora de muita


97 sabedoria, tem uma imensidão de histórias para contar. Diz ela: – “Biguaçu era um lugar calmo, muito bom para morar, não havia agressividade e criminalidade como hoje. Durante muitos anos as pessoas podiam andar tranquilamente pelas ruas, até com a bolsa aberta . Não se via criança brincando ou perambulando nas ruas, elas trabalhavam em casa e ajudavam os pais, não eram escravas, eram ocupadas, estudavam.” Dalvina ainda afirma: – “A situação que vivenciamos hoje, iniciou após a legalização do Estatuto da C riança e do Adolescente – ECA, pois nele existem artigos que os superprotegem e deixam pais, professores e a sociedade sem ação ”. Garantidos nessa proteção, muitos adultos aproveitadores se utilizam da inocência das crianças para atingirem seus objetivos. – “A razão de tudo é a distorção na educação, existe uma inversão de valores, transtornaram a forma de relacionamento, crianças e jovens não respeitam, impõem regras, geram medo, insegurança e impotência nos adultos”. Afirma Dalvina, e ainda comenta: – “Biguaçu tem locais específicos para o atendimento de crianças e jovens envolvidos em situações de risco: O Recanto Pré -Adolescente Municipal – REPAM, A Casa Lar e a Inst ituição Vovó Sebastiana. Elas oferecem atividades que incentivam e orientam crianças e adolescentes no melhor caminho a seguir. Mas, está difícil resolver como deveria.” A situação de vulnerabilidade é existente na maior parte dos bairros de toda a Grande Florianópolis e


98 se estendem à outros, q uando o assunto é violência, criminalidade, prostituição e livre acesso às drogas, independente da idade, e algumas vezes vítima e vitimizador ficam sem solução. Fatos que têm gerado maiores probabilidades de risco às mesmas, aos familiares e a sociedade como um todo. As conselheiras do Conselho Tut elar do município de Biguaçu, em depoimento oral, relatam: – ‘’Dentre os casos mais graves registrados no Conselho Tutelar também está a violência sexual, pois ocorre toda semana e o agressor normalmente é da própria família, padrasto, pai ou av ô, que abusam sem piedade dos pequenos indefesos. – Para atendimento nos Bairros: Saveiro, Bom Viver, Janaina, Morro da Boa vista, locais de maior probabilidade de riscos, recebemos ajuda da polícia, mas não se pode generalizar, pois dependendo dos meses, pode ser nos Bairros: Jardim Anápolis e Jardim Carolina”. Considerando a escola, como local ideal, por abranger uma grande quantidade de crianças e jovens reunidos, é o momento propício para os responsáveis pela educação desenvolverem um bom trabalho visando melhorar a qualidade de vida, por meio de orientação e prevenção aos riscos que todos estão expostos. É possível ainda que ocorra uma grande mudança na cultura da agressividade. Para tanto, é necessário conscientização e interesse das autoridades municipais, estaduais e federais. Porém, continuamos em nosso pequeno trabalho social, sabendo que pelo menos algumas crianças obtêm conhecimentos que lhes proporcionam melhores possibilidades perante a vida.


99 Esperamos que em breve surja um governante que tenha capacidade de ver e de agir, que enfrente desafios, seja dinâmico, tenha humanidade e faça algo de muito significativo pelas crianças e adolescentes, para que elas consigam evoluir com sabedoria, obtenham autocontrole, consigam manter a concentração nos es tudos e leituras, para que se tornem adultos dignos, seguros, de respeito bem sucedidos e felizes. O relato também é para nós refletirmos sobre as situações que estamos vivenciando e juntos buscarmos soluções. ------------------------------------------- ------------------------------

JOAQUIM GONÇALVES DOS SANTOS Historiador, mestre em História, brasileiro, casado, nasceu a 27 de março de 1936, em Florianópolis -SC. Fez os estudos do primário, secundário e o superior na cidade de Florianópolis. Com a idade de 17 anos ingressou na Marinha de Guerra do Brasil, tendo lá permanecido no período de junho de 1953 até agosto de 1960, onde realizou os cursos de: Direção de Tiro, Combate a Incêndio, Operador de Cinema, Técnico em Eletricidade (eletricista naval) e Escrituras Sagradas. Após ter dado baixa do serviço militar, foi nomeado por concurso para o cargo de Escrivão de Exatoria Estadual, e depois para Exator Estadual (atual Auditor Fiscal). Está aposentado deste último cargo desde 1984. Ingressou no Magi stério Público Estadual através de concurso. Professor no período de 1968 até 2002, tendo também exercido os cargos de Diretor de Colégio e Supervisor Estadual de Educação. Primeiro diretor da Casa dos Açores – Museu Etnográfico, em São Miguel, Biguaçu -SC, nos anos de 1979 -80.


100 Professor de Educação Moral e Cívica, de Organização Social e Política do Brasil, de Geografia e História. Está aposentado no cargo de professor de História desde 2002. Na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC fez os cursos de: Antropologia Social, Etnologia Brasileira, Origens do Homem e Origens do Homem Americano, Licenciatura Plena em História e o Mestrado em História do Brasil. Vereador em Biguaçu por duas legislaturas: de 1973 a 1977 e reeleito até 1981, tendo sido Presidente da Câmara Municipal por dois períodos, na administração do Prefeito Dr. Lauro Locks, e depois com o Prefeito Senhor João Brasil de Azevedo. Escreveu e publicou as seguintes obras: A Freguesia de São Miguel da Terra Firme – aspectos históricos e demográficos – 1750-1894; Cônego Rodolfo Machado – 60 anos de sacerdócio; Martinho e Alzira – suas histórias; A Guarda Nacional em São Miguel; Cônego Rodolfo Machado – Cidadão de Biguaçu. Atualmente ocupa a Cadeira nº. 03 da Academia de Letras de Biguaçu, cujo Patrono é o Dr. Adolfo Konder. Eleito Presidente da mesma Academia para o período de 30 de junho de 2007 a 30 de junho de 2010. Está sempre à disposição dos interessados para proferir palestras em educandários, associações, clubes, entidades civis ou religiosas..., nas seguintes áreas: História do Brasil, de Santa Catarina e Biguaçu. Acadêmico: Joaquim Gonçalves dos Santos Nascimento: 27-03-1936 Cadeira nº: 03 Posse: 25-06-2004 Título: Historiador / Escritor Endereço: Rua São José, 100, Apto . 404, Residencial Cône go Rodolfo, Centro, Biguaçu-SC CEP: 88160-000 Fone: (48) 3285-8968 / 9914-9880 E-mail/Site: joaquim.santos.gs@hotmail.com Patrono: Adolfo Konder Título: Político / Orador

Homenagem aos Acadêmicos


101 Joaquim Gonçalves dos Santos

A Academia de Letras de Biguaçu É formada por acadêmicos idôneos, Que ocupam quarenta cadeiras De ilustres patronesse e patronos. Cadeira nº. 01_ Patrono: Abelardo Souza. Miriam de Almeida, poetis a. Considerada com muito afeto, Ela mudou de residência Não disse o endereço certo. Cadeira nº. 02_ Patrono: Aderbal Ramos da Silva. Adauto Beckhäuser, advogado e escritor. Organizou um “site” para a academia, Gosta de tudo documentado Está a disposição todo dia. Cadeira nº. 03_ Patrono: Adolfo Konder. Joaquim Gonçalves dos Santos, historiador. Atual presidente da Academia, Quer organização e participação Caso contrário ele renuncia. Cadeira nº. 04_ Patrono: Altino Flores. Hilta T. Bencciveni, poetisa. Acadêmica isenta de vaidade, É muito amiga de todos Não importa qual a idade. Cadeira nº. 05_ Patrono: Aníbal Nunes Pires. Zenilda Nunes Lins, poetisa. Vice-presidente muito democrática, Usa sempre o bom senso, Amigas de todos e simpática.


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Cadeira nº. 06_ Patronesse: Antonieta de Barros. Zelka de Castro Sepetiba, escritora. Na academia é do conselho fiscal, Trata os assuntos com seriedade Pois não considera nada banal. Cadeira nº. 07_ Patrono: Luiz Delfino. Dorinda Rabelo M. Waltrick, poetisa. Estava muito doente, Ela deixou o nosso mundo Causando saudades na gente. Cadeira nº. 08_ Patrono: João da Cruz e Souza. Norberto Nazareno B. Fortes, escritor. Está em Santo Amaro da Imperatriz, Voltou a participar ativamente Está contente e muito feliz. Cadeira nº. 09_ Patrono: Elpídio Barbosa. José Braz da Silveira, advogado e escritor. É o nosso competente tesoureiro, Sempre está à disposição de todos Muito atencioso e companheiro. Cadeira nº. 10_ Patronesse: Ala íde Sardá de Amorim. Janice Marés Volpato, escritora. Na academia é a bibliotecária, Muito prestativa e amiga Pessoa assim é coisa rara. Cadeira nº. 11_ Patrono: Juvêncio A. Figueredo. Willian Wollinger Brenuvida, poeta. Intelectual muito competente ,


103 Irradia alegria e otimismo Nos eventos está sempre presente. Cadeira nº. 12_ Patrono: Francisco Galloti. Toni Vidal Jochem, historiador. Faz falta a sua participação, Esperamos o seu retorno Pois é uma pessoa de ação. Cadeira nº. 13_ Patrono: Fr itz Müller. Wanda Ritta, historiadora. Não deu o novo endereço, Talvez ocorra algum problema Sem comunicação não há jeito. Cadeira nº. 14_ Patrono: Geraldino A. de Azevedo. Dalvina de Jesus Siqueira, poetisa. Educadora e ótima escritora, É nossa Presidente de Honra Da academia é a fundadora. Cadeira nº. 15_ Patrono: Henrique Fontes. Arlete Carminatti Zago, advogada. Brilhante na sua profissão, Queremos sua valiosa presença Nos eventos ou em reunião. Cadeira nº. 16_ Patrono: Holdemar de Menezes. Maria do Carmo Antunes, poetisa. Voltou disposta para a academia, Muitos acadêmicos até pensaram Que ela não retornaria. Cadeira nº. 17_ Cônego Rodolfo Machado. José Ricardo Petry, filósofo.


104 Entende tudo de fotografia, É muito amigo das pessoas Trabalha sempre com alegria. Cadeira nº. 18_ Patrono: Arnaldo de S. Thiago. Stela Máris Piazza Souza, escritora. Não temos a sua biografia, É competente e assídua Sempre disposta em qualquer dia. Cadeira nº. 19_ Patrono: João C. Pacheco. Onete Ramos Santiago, psicóloga. Sempre notada a sua ausência, Aguardamos a sua volta Pois temos a preferência. Cadeira nº. 20_ Patrono: João Nicolau Born. Osmarina Maria de Souza, poetisa. Da academia também é fundadora, Muito prestativa e organizada Tem o perfil de historiadora.

Cadeira nº. 21_ Patrono: Jorge Lacerda. Orival Prazeres, escritor. Está sempre muito atarefado, Defensor dos fracos e oprimidos Por todos é muito estimado. Cadeira nº. 22_ Patrono: Vidal Mendes. Valdir Mendes, advogado. É o nosso assessor jurídico, Fez a reforma do estatuto Dando o valioso veredicto.


105 Cadeira nº. 23_ Patrono: Lausimar Laus. Vilca Marlene Merízio, poeti sa. Sabe tudo sobre Portugal, Trabalha sempre com projetos Companheira e muito legal. Cadeira nº. 24_ Patrono: Paschoal A. Pitsica. Cezar Luiz Pasold, escritor. Em Imbituba está residindo, Sempre muito disposto Feliz por um filho lindo. Cadeira nº. 25_ Patronesse: Luiza dos R. Prazeres. Miguel João Simão, historiador. Educador muito atuante, Gosta muito de escrever Desprovido de qualquer rompante. Cadeira nº. 26_ Patronesse: Maria da Glória V. de Faria. Rogério Kremer, historiador. Muito amigo e organizado, Do município de Antônio Carlos Tem muito documento arquivado. Cadeira nº. 27_ Patrono: Mário Quintana. Vanda Lúcia Sens Schäffer, poetisa. Das pessoas é muito amiga, Seu coração é de todos Jamais comprou uma briga.

Cadeira nº. 28_ Patrono: Manoel de Menezes. Esperidião Amim Helou Filho, educador. Precisa reservar algum tempo ,


106 Está ausente da academia Até o presente momento. Cadeira nº. 29_ Patronesse: Maura de Senna Pereira. Alzira Maria S. dos Santos, poetisa. Educadora de grande qualidade, Sempre enaltece Biguaçu E defende nossa cidade. Cadeira nº. 30_ Patrono: Nereu Corrêa. João F. Vaz Sepetiba, escritor. Sua ausência é muito sentida, Algum motivo deve existir Aguardamos agora sua vinda. Cadeira nº. 31_ Patrono: Nereu Ramos. Homero Costa Araújo, escritor. Intelectual muito competente, Quando não pode comparecer Sempre justifica antecipadamente. Cadeira nº. 32_ Patronesse: Nila Sardá. Resilamar F. M. Silva, escritora. É otimista e sorridente, Deve reservar algum tempo Para prestigiar nossa gente. Cadeira nº. 33_ Patrono: Oswaldo R. Cabral. Dulcinéia F. Beckhäuser, escritora. Assumiu recente esta cadeira, Demonstra muita competência Sempre atenta e ordeira. Cadeira nº. 34_ Patrono: Othon Gama D`Eça.


107 Vera Regina da S. de Barcellos, escritora. É a nossa competente secretária, Apresenta sempre boas idéias Não importa qual seja a área.

Cadeira nº. 35_ Patrono: Raulino Reitz. Maria de L. Zunino Duarte, escritora. É uma acadêmica ausente, Gostaríamos de saber os motivos Porque não está presente. Cadeira nº. 36_ Patrono: D. Jaime de B. Câmara. Alfredo da Silva, escritor. Agora muito participativo, Ficamos contentes com a volta É intelectual muito ativo. Cadeira nº. 37_ Patrono: Thomé da R. Linhares.

Ana Lúcia Coutinho, historiadora. Batalha pela cultura em geral, Sempre muito atarefada Pessoa competente e leal. Cadeira nº. 38_ Patrono: Lauro Locks. Neusita Luz de A. Churkin, poetisa. Está sempre com disposição, Viaja de longa distância Para prestigiar uma reunião. Cadeira nº. 39_ Patrono: Virgílio Várzea. Ernestina Faizer Kurth, poetisa. Também é acadêmica ausente, Já enviamos correspondência Aguardamos resposta urgente.


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Cadeira nº. 40_ Patrono: Visconde de Taunay. Leatrice Moellmann Pagani, escritora. Acadêmica de grande capacidade, Seus livros são tão import antes Que nunca perdem a validade. Encerro minha homenagem Com estes versos inéditos, Sei que não agradei a todos Da próxima vez serão completos.

JOSÉ RICARDO PETRY

Nasci em 22 de novembro de 1958 em Florianópolis, filho de Luiz Felipe Ramos Petry (in memoriam) e Marina Petry. Meu pai era Coletor Estadual de Biguaçu. Estudei o primário na Escola Básica José Brasilísio. Concluiu a 8ª série no Colégio Estadual M aria da Glória V. de Faria. E o 2ª grau estudou no Estreito no Colégio Co mercial Pio XII, foi a última turma com reconhecimento Técnico em Contabilidade. Exercia a função de contador. Em 1974 meu irmão Luiz Renato montou o “Foto Ideal”, tendo contratado o fotógrafo Amaro, Daí despertou meu interesse pela fotografia, e o cont ado com o Padre Francisco Costa (in memoriam) que tinha um grande conhecimento da fotografia, que muito ensinou. E em 1976 Luiz Renato fechou seu Foto Ideal, e eu fui trabalhar de continuo no Banco Real, trabalhei até 1977 onde tinha sido promovido para ca ixa. No


109 início de 1978, já formado, sai do Banco e montei meu comércio Foto Ricardo usando os equipamentos do meu irmão. No 2ª semestre de 1978 fiz um curso Pré -Vestibular a noite em Florianópolis, onde conheci a colega de aula Cátia Regina Gonçalves, casamos em 1981, foi o Cônego Rodolfo Machado quem celebrou nossas alianças. Tenho 3 filhos: Ricardo Luiz Petry – 1983, Júlia Gonçalves Petry –1984, e João Vitor Gonçalves Petry – 1989. Em 1983 prestei vestibular UFSC para Filosofia e me formei em 1986. Sou um fotógrafo Social, perdi as contas de quantos casamentos, batizados, festas de aniversário, desfile 7 de setembro, bailes, eventos religiosos e políticos que eu fiz cobertura. Em 1990 fui Presidente da ACIBIG (Associação Comercial e Industrial de Biguaçu), e 2004 fui candidato Vice-Prefeito com Pedro Cardoso, na coligação entre PSDB com PTB, meu partido até hoje. Uns dos meus trabalhos mais relevantes foi da pesquisa fotográfica “Atividades Cônego Rodolfo Machado” (in memoriam). Em 2000 na casa dos Açores Museu Etnográfico, fiz a doação do acervo, ficando a exposição permanente até hoje. Segue em ordem cronológica, certificados e homenagens recebidos: 1969 – Lembrança 1ª Eucaristia em 28 de setembro na Igreja Matriz São João Evangelista . 1974 – certificado de conclusão de 1ª grau no Colégio Mª da Glória V. de Faria. 1977 – Formatura de 2ª grau no Colégio Comercial Pio XII, no Estreito. 1980 – SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) “Curso de Fotografia e Arte”. 1991 – Destaque Empresarial, promovido pela Sociedade Recreativa 17 de Maio. 1993 – Padrinho de turma 8ª série da Escola Municipal Donato. 1995 – Homenagem Projeto Biguá -Flor, Troféu Raulino Reitz. 1996 – Homenagem da Margan Confecções “Cliente Amigo”. 1996 – Padrinho turma 8ª série da Escola Avelino M üller. 1996 – Troféu Empresarial do Ano, promovido pela ACIBIG. 1998 – Destaque do ano pela Empresa de Pesquisa Promatex. 1998 – Troféu Empresarial pela ACIBIG. 1998 – Certificado Associação Com. e Industrial de Joinville, 1 ª colocado concurso categoria “Foto Social”. 2000 – Imprensa – Cobertura Viagem Presidencial a Petrobras em Biguaçu/SC, para o Jornal Biguaçu em Foco. 2000 – Certificado Exposição Fotográfica “Atividades Cônego Rodolfo Machado (in memoriam), pela Fundação Catarinense de Cultura Casa dos Açores e Museu Etnográfico. 2001 – Troféu Lar do Idoso Osvaldo Alípio da Silva (Padrinho). 2001 – Certificado Espaço do Artista DICAVE – Blumenau Foto Arte. 2003 – Troféu Biguá-Empresarial CP Propaganda. 2004 – Câmara de Vereadores de Biguaçu em Secção Solene Homenagem “Honra ao Mérito”. 2004 – Biguaçu Atlético Clube BAC. Diploma Amigo do BAC. 2004 – Troféu Top Of Mind. Destaque


110 empresarial “Biguá 2004”. Pela conquista da Preferência popular e reconhecimento da comunidade de Biguaçu. 2005 – Troféu OF-MIND, destaque empresarial. 2006 – Troféu OF-MIND, 4ª edição destaque empresarial. 2007 – Prefeitura Municipal de Biguaçu – Secretaria Municipal de Cultura Esporte Turismo e Lazer, “Honra ao Mérito Bom Cidadão”. 2008 – Homenagem pela contribuição da turma Heróis da Fé e amigo da Igreja do Evangelho Quadrangular. É com grande responsabilidade que vou ocupar a cadeira do Grande Homem Público, o Cônego Rodolfo Pereira Machado, estou com um acervo de mais de 500 fotos reproduções inéditas. Aos meus familiares, amigos e clientes uma grande gratidão. Biguaçu é minha vida, agradeço a Deus pela cidade maravilhosa. Acadêmico: José Ricardo Petry Nascimento: 22-11-1958 Cadeira nº: 17 Posse: 14-05-2008 Título: Filósofo / Escritor Endereço: Rua João Born, Biguaçu -SC CEP: 88160-000 Fone: Não informado E-mail/Site: Não informado Patrono: Cônego Rodolfo Pereira Machado Título: Cônego / Orador

Mensagem Por Cônego Rodolfo Pereira Machado Meus Caros Amigos Dezembro de 1996 Nada mais importante na vida de um homem do que o agradecimento, e eu sempre agradeço a Deus os benefícios que Ele me concedeu ao longo da minha vida. Ao me levantar de manhã ou na cama deitado, peço sempre a Deus que abençoe a todos,


111 principalmente aos necessitados, os doentes e todos aqueles que precisam de sua misericórdia para perseverar no caminho do bem e da salvação. Nada mais gratificante para um padre se levantar e ver diante de si os seus sucessores, aqueles que o substituíram e vem pregando a palavra de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso, nas minhas orações, eu sempre peço a Deus para glorificar aqueles que pastoreiam as almas. Espero que todos em 6 de janeiro de 1997, quando completarei 60 anos de sacerdócio, foi nesse dia em 1937, que prometi a nosso Senhor lutar pela salvação das almas. Vamos, portanto, meus amigos, com muita satisfação rezar pelo menos uma vez por dia pedindo paz e harmonia nesse mundo. Que as famílias de Biguaçu esteja m unidas no nome de Deus. Muito Obrigado e que Deus conceda a bênção a todos. Amém.

Cônego Rodolfo Pereira Machado 64 anos de sacerdócio e 92 anos de vida Janeiro de 2001 A igreja de Biguaçu, São João Evangelista, prepara uma missa em ação de graças para comemorar os 64 anos de sacerdócio do C ônego Rodolfo em 6 de janeiro de 2001, do padre símbolo da


112 cidade. Muito doente, sofre de artrose, não anda; ouve e vê com dificuldade. Mesmo tendo deixado as atividades de pároco em 1976, ele continua sendo procurado por seus fiéis, a maioria deles grato pelo trabalho realizado desde 1943. Apesar de doente ele está lúcido, e quando procurado, ele ouve as confissões completa s. Padre Rodolfo como é conhecido, completaria 93 anos em novembro, natural de Florianópolis, localidade de Canasvieiras, viu surgir a vocação sacerdotal após sua crisma, com o padrinho Padre João Casale. Estudou Filosofia a Teologia em São Leopoldo -RS, concluiu em Mariana -MG e ordenou-se padre em Itajaí (1937). Foi nomeado para Orleans (1937 a 1938), São Pedro de Alcântara (1938 a 1941) e Itajaí (1941 a 1943). Em 1943 veio para Biguaçu permanecendo até sua morte. Os moradores mais antigos ainda se lembram que o primeiro carro a aparecer na localidade foi o seu. Além das atividades de Padre, realizou trabalho comunitário, buscando junto as autoridades, donativos para as famílias carentes. Político, professor e muito mais. Era o Padre Rodolfo quem dava assistência as mulheres que tinham dificuldades no parto caseiro, levando para o Florianópolis no seu carro. A primeira creche, para as mulhe res poderem trabalhar, ajudar no orçamento familiar, foi criada por ele, (Jardim de Infância Chapeuzinho Vermelho). Nomeado Cônego em 1962, quando comemorou suas Bodas de Prata como sacerdote, também recebeu


113 homenagem de Honra ao Mérito pela Câmara de Vereadores como “Cidadão de Biguaçu” . Padre Rodolfo tinha grande domínio da língua Alemã. Não posso esquecer de falar de Dona Paulina Brugemann (em memória). Grande auxiliadora na casa paroquial, fazia expediente, cuidava da casa, do Jardim de Infância, professora de catequese e de música na Igreja. Teve toda sua vida voltada a cuidar do Cônego Rodolfo Pereira Machado. Todo dia fornecia muitos pratos de comida aos necessitados, mendigos e outros. No fim da vida, Padre Rodolfo depend ia em tudo de Vilma Lourenço Peres, criado por ele desde 3 anos de idade “Ele é praticamente uma criança, apesar da lucidez”, conta ela. O Cônego não anda, apenas dá alguns passos, de uma cadeira a outra, sofreu um derrame, que agravou sua saúde. Um cilindro de Oxigênio é instalado em seu quarto, esta muito frágil. Em 2000, a poetisa Dalvina de Jesus Siqueira, em comemoração do Jubileu de Ouro da Igreja Matriz que ele construiu, fez a o utorga da cadeira nº 17 ao acadêmico Cônego Rodolfo Pereira Machado. Em 21 de março de 200 1, veio a falecer o Padre Rodolfo, sendo sepultado no cemitério Municipal São João Evangelista. Fez parte importante como personalidade Histórica de Biguaçu.

Procissão de Corpus Christi Numa manhã de junho 1975, Grupos de Famílias, Movimento de Irmãos, Grupo de Jovem e a população em geral se reúnem ao redor da praça, na


114 madrugada, para confeccionar os tapetes a procissão de Corpus Christi. Muita serragem, flores, tampinhas de garrafas, areia fina, pó de café, papel picado e muito mais material reciclad o, além das formas para os corredores. Já os tapetes são únicos em cada estação, surgem os belos tapetes para os fi éis expressarem, através da arte, seus sentimentos da fé cristã. De todos os tapetes, o que me faz pensar, é o da Dona Augusta, no cruzament o da Rio Branco com Lúcio Born, feito na maioria com tampinhas de garrafas cobertas com papel laminado, lembro minha mãe (Marina Petry), cobria estas tampas com antecedência, para entregar no dia. Era um Cálice e uma Hóstia, representando a fé em Jesus Cristo; muito lindo. “O corpo de Jesus é um alimento forte que sustenta a nossa caminhada na fé” diz o Padre Rodolfo. Começa a profissão, uma multidão acompanha o Cônego Rodolfo, que termina com a missa ao ar livre, pois dentro da Igreja não caberia a quant idade de fiéis devotos no dia de Corpus Christi.

Festa da Nossa Senhora dos Navegantes Tudo começa num sábado de fevereiro às 10h, no Posto Texaco beira do rio, na rua João Pessoa, centro Biguaçu. Muita s embarcações enfeitadas com bandeirinhas e fogos de artifício, comandadas pelo fogueteiro Pialo, segue a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes, da Igreja Matriz até beira do rio . Ia de


115 procissão pelo rio até o mar, ficando na Capela da Praia até a noite, quando segue a procissão a pé em direção a Igreja Matriz vindo pela rua 7 de setembro . Mais fogos são estourados neste percurso . Chegando na Igreja Matriz havia uma verdadeira bateria de foguetes coloridos e barulhentos. O Cônego Rodolfo estava a frente de toda a festividade, barraquinhas eram dist ribuídas em toda a praça, muita comida era servida nas barracas; as bebidas eram do Sr. Vidal Mendes – responsabilidade Bebidas Marte; as galinhas eram com recheio alemão; o churrasco bem temperado em cocho com temperos. A maioria das vendas era realizada através de roletas que tinha os números 00 a 99, fabricad as a partir da roda de bicicleta . O baile no salão era realizado nas tardes de domingo ; as domingueiras eram gratuitas. Padre Rodolfo adorava fazer a Guerra dos Bonecos em fogos de artifício, era a última atração na praça. Que belas festas eram realizadas ! Todos ajudavam: uns na cozinha, outros nas bebidas, outros ainda nas churrasqueiras improvisadas . Nas barracas haviam tortas de suspiro, pão de trança, cucas. .. Tudo ficou na saudade... Reconhecimento Quando fizeres o bem, não espere aplausos, abraços ou notícias na mídia. Talvez seja por timidez, orgulho, desprezo, as pessoas raramente reconhecem


116 a realização do bem . Mas, nem por isso, deixe de praticá-lo. Agora, se fizeres o mal, esta rás sujeito a todo tipo da má sorte; estarás nas páginas de jornal c om todo pejorativo em evidência; descobrem o inacreditável e sua vida vira uma eterna desgraça. Portanto, ainda é melhor fazer o bem, um dia serás homenageado por Ele e serás uma pessoa feliz.

LEATRICE MOELLMANN PAGANI Natural de Florianópolis -SC, Leatrice Moellmann é formada em Direito e Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal de Santa Catarina. Tem onze livros publicados, três dobraduras e inúmeros artigos em jornais, revistas e antologias. Pertence à Academia Catarinense de Letras, à Academia de Letras do Estado do Rio de Janeiro, à Academia de Letras de Biguaçu -SC e outras instituições culturais. Acadêmica: Leatrice Moellmann Pagani Cadeira nº: 40 Posse: 17-12-1997 Título: Escritora Endereço: Rua Esteves Júnior, 563, Apto. 301, Florianópolis -SC CEP: 88015-130 Fone: (48) 3222-5862 E-mail/Site: leatricepoeta@gmail.com Patrono: Visconde de Taunay Título: político / Orador

ESPELHO


117 Passando pelo espelho eu me vi com um ar tão feliz e tão contente que fiquei bela e me surpreendi de ter-me transformado de repente . E logo em seguida eu entendi a razão de tornar-me esplendente Foi porque me flagrei pensando em ti e o amor me iluminou completamente . Senti-me como noiva engrinaldada senti-me uma mulher abençoada senti-me desejada e formosa . Vendo-me de relance no cristal senti-me uma mulher especial tornando o nosso mundo cor -de-rosa.

MARACANÃ Foi uma apoteose ver dadeira. No estádio, a família carioca, são artistas, a sociedade inteira: o nosso patriotismo nos convoca. Depois de sete anos, a chuteira risca o maracanã e nos provoca. Oitenta mil é a claque brasileira numa explosão que a TV enfoca. Em dribles e firulas corre o jogo,


118 vai o Maracanã pegando fogo. O nosso adversário é o Equador. Cacá, Robinho e Dunga, alvissareiro. E canta o torcedor: Sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor...or!

NOSSO VELHO AFETO

Um belo dia tu me presenteias com uma linda peça musical. Nossa vida pregressa tu folheias, dizes que meu olhar te é fatal. Com teu canto de amor me homenageias, surpresas me dedicas às mãos-cheias. Meu carinho também é especial. Uma alva camélia invernal a cada ano eu te oferecia. Assim recordo, cheia de saudade. Tu me amavas e eu não percebia. Meu passado de ti está repleto. Pela instável fronteira entre amizade e amor, transita o nosso velho afeto.

O DIA SEGUINTE


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É um calor de sol a iluminar É uma embriaguez que me faz bem Em ti agarradinha, a recordar Eu entro em alfa e vou além do além... Existe uma utopia pelo ar Se me abraças, não sei mais quem é quem Este êxtase hei de perpetuar Ao anjos todos vão dizer amém . Meu corpo necessita e exige o teu Minh’alma se compraz em teu ardor Teu corpo necessita e exige o meu . Ao me entregar me sinto inebriada E te devoto todo o meu amor Na certeza de ser também amada .

MARIA DO CARMO ANTUNES Tem formação na área da saúde e prestou relevantes trabalhos como funcionária pública estad ual da Secretaria da Saúde de Santa Catarina. É bonsaista (produz bonsai – arte oriental), é mosaicista de cerâmica (produz mosaico – arte lusitana) e é poetisa.


120 Participou de 5 (cinco) antologias da Associação dos Cronistas, Poetas e Contistas Catarinens es. É acadêmica da egrégia Academia de Letras de Biguaçu, onde ocupa a cadeira de número 16, cujo patrono é o escritor Holdemar Menezes, que foi médico obstetra em Florianópolis -SC, profissional esse com quem esta acadêmica teve a honra de trabalhar como instrumentadora na Maternidade Carlos Corrêa. Participou da antologia “Renascer da Primavera”, lançada pela Academia de Letras de Biguaçu. Atualmente fixou domicílio em Santo Amaro da Imperatriz -SC, onde mora com seu esposo, e também poeta, Norberto Naza reno Barreiros Fortes – acadêmico da Academia de Letras de Biguaçu –, com quem tem um filho que se chama André Frederico Antunes Fortes. Acadêmica: Maria do Carmo Antunes Cadeira nº: 16 Posse: 17-12-1997 Título: Poetisa Endereço: Caixa Postal 59, Santo Amaro da Imperatriz-SC CEP: 88140-000 Fone: Não informado E-mail/Site: Não informado Patrono: Holdemar de Menezes Título: Escritor

Desejo (Para Norberto Nazareno Barreiros Fortes)

– Que sua vida seja feita com canções de vitórias e de alegrias; – Que sua consciência esteja sempre submersa na luz divina; – Que os ventos lhe soprem as músicas dos que sabem amar; – Que a inspiração poética e musical esteja sempre constante em seus dias; – Que o amor seja sempre a nota musical maior em sua vida.


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Voa pássaro, voa! I Voa pássaro, voa! Cumpre teu destino, A janela é pequena Mas está aberta! Sai de mansinho. II Voa pássaro, voa Em direção à liberdade! Segue teu bando, Todos vão te admirar! Na hora de cantar, Não sejas brando! III Voa pássaro, voa! Faze de tua melodia Um engajamento de multidões, Migra para outras fronteiras, Cantando, formando fileiras! IV Voa pássaro, voa! E que no adejar de tuas asas Nunca saibas o que é cansar, E que teu canto seja ac alanto


122 E venha as almas tristes alegrar! V Voa pássaro, voa! Sai feliz a cantar, Toca muitas notas, Canta muitas letras, A música é tua sina! VI Voa pássaro, voa! Não fiques a esperar, Derruba muros, Abre alas, Espalha mensagens Para a terra melhorar!

Tarde de outono! Bruscamente a chuva cai! Meu coração entoa uma canção desconhecida, mística, quase sinistra! Sua imagem plasmada em minha mente povoa meu mundo, momentaneamente desalicerçado: a chuva, a rua, a lama, o vento, o pensamento, o lamento..., a sensação se expande, o sentimento voa à toa, a lembrança navega numa maré agitada, desvairada, desacreditada, num barco sem proa. Você chegou e amorteceu, acalentou, beijou, adentrou, pousou e ritmado meu coração ficou!


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Ser Poeta! É volitar entre as nuvens! Catar estrelas! Beijar as bochechas da lua cheia! É “morrer de amor”! É ter um amor maior que o Mundo! Um coração maior que tudo!

Parabéns por saber amar! Vós tendes a chave do conhecimento mas se, contudo, não entrardes no coração de cada criança, vosso saber é como uma primavera sem flores! Conhecimento e emoção precisam ser despertados na mesma medida, do contrário cresce um adulto desequilibrado. É decepcionante o desequilíbrio profissional nos graduados de ciências humanas. Temos cada vez mais especialistas que aprenderam ser peritos em tratar olhos, ossos, cérebros, coração etc; entretanto, não aprenderam a tratar os doentes. Ciências humanas sem amor é uma oficina onde o essencial não é prescrito, nem admin istrado. Sobretudo nossas crianças precisam aprender a praticar o verbo amar; precisamos injetar amor em nossas crianças, para que no futuro tenhamos profissionais, especialistas de todas as áreas, que também saibam amar.


124 Há mais de cem anos, já dizia Ch arles Chaplin: “mais do que inteligência precisamos de afeição e doçura”!

Toscas notas O barulho do silêncio ecoa E cria toscas notas Num piano roto. As notas assumem seqüência E o pianista, Que de pé permanecia Dedilhando teclas empoeiradas, Agora se ajoelha e, em forma De prece, abraça o piano Que só toca toscas notas Que evaporam, Formando brumas Mescladas, amareladas, empoeiradas. Janelas opacas, Tudo tão desnudo, Tudo tão mudo, Paredes solitárias, Minha mente tão ocupada, Tantos versos atrope lados Por tantos pensamentos Tão desalinhados. Um campeão (Um acróstico para meu filho André Frederico Antunes Fortes)

Amor de nossas vidas,


125 Nessa dimensão és exemplo a ser seguido: Determinado, animado! Regras não te prendem, És campeão na arte de viver! Festeiro, gozador, ímpar! Rico menino de alma nobre, Entendes a linguagem Da natureza como ninguém. Entre tantos nativos Reinas junto com as águas do riacho. Imperas o mundo da ecologia Como um professor de área rural. Orientas a todos para jamais prender animais. Antigamente um manezinho na ilha a abençoar o mar! Naquele gesto de reverência, na cadência das ondas, Tinhas cor dourada para contrastar com o sol. Uma paralisia cerebral Não te faz menos capaz. Estais cada vez melhor nas artes marciais! Serás também campeão na natação. Fazes da vida um manancial de delícias! Ontem parecias um ser indefeso, hoje Recrias condições para vencer! Trata com amor todos os que de ti se aproximam! Encontras na terra a poderosa energia para Ser um implacável campeão!

Um pouco do que é ser mãe


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Ser mãe é sentir-se o máximo, pela condição de sê-la! Ser mãe é saber falar, calar e, sobretudo, ouvir o que seu filho tem para lhe contar. Ser mãe é afagar, fazer ninar aquela criancinha que faz parte do maior encanto da vida! Ser mãe é esquecer -se de si, de suas preferências, sem, contudo, anular -se, para poder dividir sua vida com seu filho. Ser mãe é ser mestra na arte de amar, porque há que ser dócil, generosa, companheira, amiga incondicional de todas as horas. Ser mãe é emocionar -se ao ver que seu filho está aprendendo as lições da escola e, sobretudo, aprendendo a arte de viver, porque saber viver é uma arte!

MIGUEL JOÃO SIMÃO Natural de Governador Celso Ramos -SC, Miguel João Simão nasceu em 21 de julho de 1960. Casado com Lucineide de Azevedo Simão desde 1981 é pai de Diego, Eduardo e Iolanda. Professor da Rede Estadual de Ensino dede 1980, atua como Professor Supervisor de Estágio e Didática na E.E.B. Wanderley Júnior, em São José. Presidente e Fundador da Academia de Letras de Governador Celso Ramos, ocupa a Cadeira Nº 1, tendo como Patronesse Iolanda dos Santos Simão. É Membro da Academia de Letras de Biguaçu ocupando a Cadeira Nº 25, sendo Patronesse Luiza dos Reis Prazeres. É Membro da


127 Oficial Academia Tijuquense de Letras, ocupando a Cadeira Nº 11, sendo Patrono Padre Jacob Hudieston Steler. Presidente e Fundador da Associação dos Escritores dos Municípios da Região da Grande Florianópolis. Presidente da Academia de Letras do Brasil em Santa Catarina, ocupando a Cadeira Nº 01. Tem três obras publicadas: “Ganchos – Um pedacinho de Portugal no Brasil”, “De Ganchos a Governador Celso Ramos” e “Mulheres de Ganchos ”. Participou das seguintes antologias: Devaneios de Verão e Aconcheg o pela Academia de Letras de Biguaçu e Encontros da Primavera pela Academia de Letras de Governador Celso Ramos, onde foi organizador da Obra. Escreve para diversos Jornais da Região. Acadêmico: Miguel João Simão Nascimento: 21-07-1960 Cadeira nº: 25 Posse: Não informado Título: Educador / Escritor Endereço: Rua São Pedro, 105, Canto dos Gaúchos, Governador Celso Ramos-SC CEP: 88190-000 Fone: (48) 3262-0296 / 9972-1823 E-mail/Site: academiagcr@gmail.com Patronesse: Luiza dos Reis Prazeres Título: Educadora

A ROSA QUE EU PERDI Do alto do campanário da velha igrejinha sentada no topo do morro, o sino badalava sem cessar. O sino era tão velho quanto a construção das paredes da igrejinha rebocadas com óleo extraído de fígados de baleias. A igreja foi um sonho do povo que necessitava de um lugar para rezar.


128 Sua construção data de 1941, mas não é a data da pedra fundamental, que foi colocad a no local bem antes, nem se sabe ao certo quanto tempo antes. Todo mundo queria ver a igrejinha acabada, com janelas, com portas, com uma torre bem alta. Muitos não alcançaram, foram embora desse mundo antes da obra ficar pronta, não chegaram nem a conhecer o padre. Mas, outros tiveram até o privil égio de vestir seus primeiros ternos na inauguração, chapéus de carmuça e lenços brancos no bolso do paletó. Para as “moças de famílias” não faltou o véu que lhes cobriam os rostos e que só eram levantados na hora de tomar a comunhão. R oupas descentes, sem decotes e saias abaixo dos joelhos, é claro. Teve até a banda de músicos que veio de Florianópolis; foi aquele festão! Depois da missa, começava a domingueira no salão improvisado ao lado da igrejinha. Salão Poeira, como diziam os hilários de plantão. Uma cobertura com lonas, cercado com uns pedaços de madeira, e ali todos se divertiam. Começou a dança. Pedro se encheu de coragem e respondeu ao olhar fascinante da mais bela jovem que ali estava a enfeitar ainda mais a festa. Chegou de mansinho, meio envergonhado e pediu permissão para aquela dança. Prontamente a moça aceitou. Começaram a dançar. Os olhares se atentaram a eles, centro de atenção por criarem um momento de raro esplendor. Formou um belo casal aos olhos dos mais velhos que ali estavam e deu inveja nos mais jovens.


129 Ele era nativo da pacata vila de pescadores denominada Canto dos Ganchos, hoje Governador Celso Ramos. Descendia de uma mistura de alemães com portugueses. O moço moreno claro, de olhos meio esverdeados trazia bem os traços das duas raças. Alto, de bela presença, chamava a atenção por onde passava. Ela chamava-se Rosa, uma rosa pura e bela que chamava a atenção por onde passava por sua beleza ímpar. Loira pura de cabelos amarelinhos e de olhos azuis, lindos como o céu clareado sem nuvens, era percebida sempre. Sua simpatia, seu carisma eram qualidades admiradas por todos que lhes conheciam. Essa dança foi o primeiro contato que ela teve com um moço desconhecido, por isso tão marcante para sua vida. Era a primeira vez que saia só, sem a companhia dos pais. Mal terminava essa dança e o músico já comunicava a dança da gasosa, um costume da época que, muitas vezes, esvaziava o salão e que permaneciam apenas os poucos sortudos. A dança da gasosa era uma espécie de brincadeira que acontecia em todos os bailes, onde as moças eram quem convidavam os moços a dançar, e como uma maneira generosa de retribuir o convite, o moço pagava uma gasosa (refrigerante) para a moça. Nesse momento, ficavam todos de orelhas bem em pé, pois os convidados geralmente eram seus futuros pretendentes ao namoro.


130 Rosa dirigiu seu olhar encantador para Pedro. As expressões no rosto, o sorriso singelo já dizia tudo, era o convite para dançar. Na primeira dança nem uma palavra, mas na dança da gasosa já estavam mais soltos, mais a vontade, e puderam trocar algumas palavras que marcariam aquele momento como único, sagrado para o jovem casal. Final de tarde! Algumas estrelas começam a pintar o céu, que vai perdendo o azul irradiante pelo tom escuro da noite que se aproxima. A domingueira termina, as moças dirigem -se as suas casas, apenas os rapazes ficam ainda por mais tempo trocando idéias, fazendo comentários da festa, dando boas gargalhadas. Rosa vai acompanhada da tia e da prima, mesmo assim ainda consegue deixar algumas palavras de despedida a Pedro, visto que partiria cedo no dia seguinte. Na manhã de inverno, daquele 30 de junho, agasalhada com um casaco que lhe protegia do frio, ela se despede dos parentes e embarca na lancha que a levaria até Tijucas. Quando chegou em casa, não levou muitas novidades, o pai já sabia da festa, das companhias e até da dança. O pai de Rosa era um homem duro, incompreensível, áspero. Era do tipo que achava que um bom pretendente para a filha tinha que se r dali dos arredores, gente de família conhecida, menino que ele viu nascer e crescer, nada de gente de fora. Dizia que paixão é igual fogo de palha, logo se apaga. Um bom


131 casamento não precisa ter paixão, amor, essas coisas tiradas da cabeça de gente nova . Um bom casamento se fazia com obediência. Mulher obediente e trabalhadeira tem futuro, pega bom casamento. A moça tem que ser prendada, saber cozinhar bem para agradar o marido, usar bem o ferro de passar para não amarrotar a roupa, deixando -a bem passada. Por mais que Rosa, co m a ajuda da compreensiva mãe, tentasse explicar que tinha sido apenas uma dança, o homem não queria entender. Para tanto, tratou logo de arrumar um casamento para a filha. O moço em questão era de família tradicional de Tijucas e há muito tempo se interessava por Rosa. No pacato vilarejo de Ganchos, Pedro continuava suas atividades profissionais ao lado do pai. Em suas horas de solidão, buscava no amigo violão o antídoto para suas dores de cotovelos. Cantava, inventava canções, declamava poesia, vivia um sonho acordado. Era um incansável lutador pelo sonho que desenhou ao lado de Rosa. Sempre que ia alguém de confiança para Tijucas, mandava uma carta. As viagens à Tijucas eram comuns na época e aconteciam quase todos os dias. Semp re ia alguém para Tijucas, fazer compras, buscar remédios nas benzedeiras, vender crivos, enfim, sempre alguém tinha alguma coisa para fazer em Tijucas, visto ser uma cidade desenvolvida, com muitos recursos por aqui inexistentes. Em todas as cartas receb idas por Rosa vinha a certeza do amor de Pedro. Mas, seu coração partia de dor em imaginar que já era comprometida, mesmo contra-gosto, mas por força de seu pai. Pedro sabia das atitudes do pai de Rosa, mas a cada casa, a cada


132 barco que terminava de constr uir, guardava o dinheiro, moeda sobre moedas, pois haveria de surpreender a família de Rosa. Era uma promessa feita para si mesmo, economizar, e quando tivesse um montante suficiente iria à Tijucas e fugiria com a moça. Namorou Rosa quase um ano por carta e se encontraram depois daquela inesquecível domingueira apenas duas vezes, tempo suficiente para jurarem amor eterno. Pedro trabalhava incansavelmente e não via a hora de buscar Rosa, pois já fazia algum tempo que ele não recebia notícias dela . As costumeiras cartas já não lhe eram respondidas e, depois do último encontro, ele recebeu apenas uma carta sua, que suplicando ela dizia que o casamento, logo seria marcado. No sábado, depois da Páscoa, do ano seguinte, com uma quantia de dinheiro qu e era suficiente para assumir tamanho compromisso, o de tirar uma moça de família de casa de seus pais e dá -lhe o conforto necessário, Pedro se preparou para buscar Rosa. Acordou feliz! Como se tivesse achado ouro enterrado. Ele foi buscar um terno que ma ndou o alfaiate fazer, engraxou seus sapatos e tratou com um dono de embarcação a hora da surpresa. Mar calmo! E lá se vão os homens, remando rumo à Tijucas. Na entrada da barra já se avista as casas e a Igreja de São Sebastião. Foram eles se aproximando e vendo a presença de pessoas que se dirigiam para a igreja. Pessoas bem arrumadas, carroças e charretes enfeitadas e cheiro de festa no ar. Pedro, os dois


133 remadores e o dono da embarcação atracam a canoa no Porto e descem. A curiosidade de Pedro instigo u-lhe a perguntar uma senhora, qual era a festa que tinha na cidade. A senhora que também se dirigia à igreja, sorrindo, calmamente falou: – É o casamento da Rosa, filha do seu Antônio, com Geraldo, o filho do fazendeiro. Os remadores e o dono da embarcaç ão baixaram a cabeça e só as levantaram quando os sinos da igreja anunciavam a entrada da noiva. Ficaram estáticos, nem os olhos se mexiam, esperando a reação de Pedro que teve seu olhar transformado em dor, solitário, aprisionado. Lágrimas lhes caiam do r osto, mas manteve a postura de um homem educado, nem uma palavra falou, apenas pasmo ficou. Deixou todas as pessoas entrarem na igreja, e quando os noivos se aproximam do altar, ele chega de mansinho a porta da igreja. Olha as pessoas, a igreja, dirige seu olhar em direção aos noivos. Peito rasgado, não conseguia imaginar Rosa nos braços de outro, para viver como manda os mandamentos de Deus. Casar para a vida toda, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Queria uma explicação plausível para o c aso, queria saber se Rosa havia deixado de lhe amar. Saiu da porta da igreja da mesma maneira que ali chegou, e preferiu esperar o casamento terminar próximo a embarcação. Gostaria de poder olhar nos olhos de Rosa, mesmo que fosse pela última vez. Quase uma hora depois, saia da igreja a noiva de braços dados com o noivo. Ela não o percebeu. Soube,


134 muitos anos depois por uma amiga, que Pedro tinha ido lhe buscar, bem no dia de seu casamento. Ele pode apreciar sua beleza, mesmo de longe, lá da barranca do rio, viu pela última vez sua amada, como desejou um dia vê -la, vestida de noiva. Ordenou aos homens que dessem a volta na lancha e dando seu último olhar em direção a igreja, com os olhos marejados de lágrimas, disse: Lá se foi a Rosa que eu perdi...

NORBERTO NAZARENO Nome literário de Norberto Nazareno Barreiros Fortes. De descendência portuguesa (Barreiros) e espanhola (Fortes), nasceu numa cidade de colonização italiana, ao sul de Santa Catarina, Urussanga, a “Terra do Vinho”, em 1959. Aos 7 anos de idade já tocava violão e, enquanto entoava os primeiros acordes musicais, também cursava o ensino fundamental no Grupo Escolar “Barão do Rio Branco”. Na adolescência passou a compor poemas e a musicá -los, vindo a formar um grupo musical que se apresen tava em shows beneficentes. Durante a infância e adolescência sempre veio muito à Florianópolis visitar irmãos mais velhos que já cursavam Universidade e, junto com os amiguinhos ilhéus, apresentavam o boi -de-mamão. Em 1977 concluiu o ensino médio, formand o-se no “Curso Técnico em Análises Químicas”, no Colégio “Rainha do Mundo”, em Urussanga. Em 1978 veio morar em Florianópolis, fixando seu domicílio na Capital do Estado até 2006, quando mudou -se com sua família para Santo Amaro da Imperatriz-SC, onde reside atualmente. Em 1978 fez o curso pré-vestibular do Barddal e estudou inglês na escola FISK. De 1978 a 1980, na Capital do Estado de Santa Catarina, passou nos concursos públicos da Polícia Federal, Centro de Informática e Automação de Santa Catarina (CIASC), Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) e Ministério das Comunicações. Ainda em 1979 foi aprovado no vestibular da Universidade Federal de Santa Catarina para o curso de Farmácia e Bioquímica, onde


135 cursou a primeira fase. Neste ano participou d o I Concurso Universitário de Violão, realizado na Igrejinha do campus universitário, concorrendo com grandes violonistas do cenário musical, classificando -se para a etapa final do certame. Em 1980 foi novamente aprovado no vestibular da Universidade Federal de Santa Catarina para o curso de Direito. Formou se no segundo semestre de 1985, colando grau em 04/01/1986. De 1987 a 1994 classificou vários poemas musicados em diversos Festivais da Canção em Santa Catarina (já publicados – com detalhes dos locais apresentados – no livro “Aconchego” da Academia de Letras de Biguaçu), passando então, posteriormente, a apresentar -se profissionalmente como músico (e sempre muito bem acompanhado por excelentes músicos) no Shopping Itaguaçu, no Lagoa Iate Clube (LIC), restaurante Kantão (próximo ao Banco Itaú no bairro Estreito), festas particulares e casamentos. De 1990 a 1996 participou de vários cursos e vivências alternativas para o autoconhecimento, especializando -se no estudo do Tarot e massoterapia ayurvédica, vin do a tornar-se Terapeuta holístico. Em 1996 classificou “Saudades” no concurso promovido pelo Grupo Brasília de Comunicação, com sede em Brasília -DF e Rio de Janeiro-RJ, vindo a ser membro, neste mesmo ano, da Associação dos Cronistas, Poetas e Contistas Catarinenses (ACPCC), participando da maioria das antologias lançadas por esta agremiação. Em 1997 recebeu a medalha do mérito cultural “Stella Brasiliense” (Estrela de Brasília) do Grupo Brasília de Comunicação – pela participação ativa nas atividades culturais dessa empresa jornalística – e tornou-se acadêmico da “Academia São João Evangelista da Barra de Biguaçu”, que mais tarde, por votação democrática de seus acadêmicos, viria denominar -se simplesmente de “Academia de Letras de Biguaçu”, onde ocupa a c adeira nº 8 do poeta Cruz e Sousa. Tem participado, até o presente, de todas as antologias lançadas por esta insigne Academia de Letras. Em 2001 conquistou o título de “Maestro Letterato” (Mestre Literato) pela Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas L iterárias (ABEPL), em Brasília -DF. De 2001 a 2003 concluiu pós -graduação em Direito Constitucional e Direito Tributário pelo Instituto de Preparação Jurídica, com sede em Brasília -DF. Atualmente, participa do website da “Sociedade dos Poetas Advogados de S anta Catarina” (www.poetasadvogados.com.br ). Em concurso de poesias realizado em São Paulo -SP (produção de Arnaldo Giraldo), classificou alguns poemas e foi convidado pelo editor a participar de um website literário – www.giraldo.org – para divulgar trabalhos literários. Endereço pessoal no website: www.giraldo.org/norbertofort


136 Acadêmico: Norberto Nazareno Barreir os Fortes Nascimento: 29-08-1959 Cadeira nº: 08 Posse: 17-12-1997 Título: Não informado Endereço: Caixa Postal 59, Santo Amaro da Imperatriz -SC CEP: 88140-000 Fone: (48) 9106-1161 E-mail/Site: Não informado Patrono: João da Cruz e Souza Título: Poeta

Água doce 37 A água doce é um bem essencial à vida. É um dos maiores valores da vida, assim como é o oxigênio que, através da respiração, é levado pelo sangue a todos os tecidos do nosso corpo, mantendo a vida em todos os seres humanos. A água doce é um direito de todos. Temos que democratizá -la com uma gestão comunitária e não transformá -la em consórcio para geração de lucros particulares e capitalistas. A água doce não é mercadoria, pois sendo mercadoria não tem nenhum objetivo ou valor social. Se for considerada apenas uma mercadoria, gera um desastre, um caos social, porque muitas pessoas excluídas economicamente da sociedade não poderão sobreviver, pois a água doce é um bem insubstituível à vida. 37

Crônica publicada no Jornal VIP – Vitrine Popular, de Santo Amaro da Imperatriz-SC, cidade conhecida como o “Paraíso da Águas”, com distribuição para a Grande Florianópolis, de 22 a 28 de setembro de 2006.


137 Temos a obrigação, nós, seres humanos conscientes, de trabalhar para diminuir a poluição nos mananciais e nos rios das águas doces e proteger o meio ambiente. Temos que formar grupos ativistas para proteger as nascentes e os rios, cada pessoa dando sua cota de contribuição e participação dentro de sua área profissional, com o apoio do Poder Público – Executivo, Legislativo e Judiciário. Em razão de a água potável ser um dos maiores valores da vida, é dever de todos economizá -la, principalmente em razão dos níveis alarmantes de poluição que permeiam os n ossos rios atualmente. Como é um bem que está ficando cada vez mais raro a cada dia que passa, conseqüentemente, está também a cada dia mais valorizado e cobiçado, chegando a haver, atualmente, estrangeiros que estão querendo internacionalizar a Amazônia, que é um dos maiores reservatórios de água doce no mundo, isso sem falar da sua biodiversidade – flora e fauna – que é de uma riqueza incomensurável. Então, atualmente, está havendo uma grande corrida para o apossamento dos mananciais de água doce no planeta. Compete ao Poder Público, com o apoio de ONG’s (Organizações Não Governamentais – formadas com o objetivo de dar consciência ecológica às pessoas menos esclarecidas, e, conseqüentemente, dar também uma consciência mais humanitária –), continuar proporcionando uma vida comunitária justa e igualitária, com distribuição de água potável para toda a sociedade, garantindo qualidade de vida a todos os seus membros, combatendo a poluição dos rios e dos seus mananciais, protegendo o meio ambiente do


138 Planeta Terra, garantindo a continuidade da vida às futuras gerações.

Altruístas

Ainda existem, atualmente, pensamento e oratória de algumas mulheres que persistem em dizerem-se “feministas”. Em pleno século XXI conclui -se que esse discurso já está ultrapassado. Senão vejamos: O movimento feminista aconteceu até o final do século XX. Foi bom ; as mulheres evoluíram muito, atingiram um grau de crescimento justo, semelhante ao do homem ou ainda maior em muitos casos; exemplo disso é o atual Código Civil Brasileiro (Lei n. 10.406, de 10/01/2002) que criou medidas igualitárias entre o homem e a mulher promovendo a tão sonhada justiça entre os sexos, os direitos iguais, que tanto as mulheres almejavam. A Lei n. 11.340, de 07/08/2006, também criou mecanismos de defesa e proteção à mulher, eliminando todas as formas de discriminação contra as mulheres e previne, pune e erradica a violência contra a mulher. Então, hoje, não há mais necessidade de movimentos “feministas” ou “machistas”. E les estão superados. Não há mais espaço para rivalidades e competições entre os sexos porque isso só prejudica o bom relacionamento e o entrosamento entre as pessoas no seio da sociedade, sociedade esta já tão abalada em sua estrutura pela falta de seguran ça, de


139 paz social, de moral, de respeito e de confiança entre seus membros. Deixemos as competições, saudáveis para todos, no âmbito dos esportes, dos concursos públicos e dos diversos outros concursos de várias modalidades para ambos os sexos. Neste século XXI, denominado de Nova Era, preocupemo-nos todos em sermos humanitários, contribuindo para ajudar a sanar o problema da injustiça social em nosso país, a erradicar a fome no mundo e a miséria nos países subdesenvolvidos, periféricos, e tentarmos soluc ionar, juntos, o problema do aquecimento global e da poluição do meio ambiente, para que as futuras gerações possam continuar sobrevivendo com dignidade, qualidade de vida e com as mesmas facilidades e condições que uma parcela da humanidade desfruta nos d ias atuais. Para que os dias continuem bons na atualidade e no futuro, e a felicidade esteja ao alcance de todos os habitantes do Planeta Terra, busquemos sermos saudáveis com entendimento, ajuda mútua e amor: sejamos “altruístas”!


140 Ao grande saxofonista38 Muitos vôos alçamos juntos: eu com meu violão, Você com o seu saxofone! A vida ficava mais alegre E vibrante quando entoávamos nossos sons, Que se eternizaram no infinito! Hoje a vida ficou mais triste Pois não poderá ouvir jamais As notas sonoras do seu saxofone, Ainda mais belas quando tocadas de improviso! Vamos procurar absorver o conteúdo Dessa estranha realidade: a perda de um Grande músico, dedicado, uma alma amiga Que nos deixou, vítima de estúpido ato de violência.

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Homenagem ao músico saxofonista, Cabo Osvaldir Gonçalves , da Banda do Exército – 63º Batalhão de Infantaria, em Florianópolis -SC, tragicamente assassinado a tiros na madrugada do dia 2 de fevereiro de 1998, em frente à Associação dos Funcionári os da Bescri, no Jardim Atlântico, Florianópolis -SC. Poema publicado no Jornal AN Capital, Florianópolis -SC, poucos dias após a sua morte. Curiosidades: O músico Osvaldir Gonçalves era de raça negra, mas falava fluentemente a língua alemã. Certa noite ao chegar numa cidade catarinense de colonização alemã, foi xingado em língua alemã por dois anfitriões alemães, por ser negro, ao entrar no clube da cidade onde iria apresentar -se com seu saxofone. Ele contava que tinha entendido todos os palavrões contra el e dirigidos. Após a apresentação, essas mesmas pessoas que o haviam xingado foram parabenizá-lo e ele os questionou porque o haviam xingado em língua alemã momentos antes, e fez com que os agressores pedissem desculpas. Osvaldir Gonçalves contava essa his tória com um senso de humor muito grande. Todos nós, amigos, ríamos muito com essa e outras histórias e muitas piadas que ele contava. Por isso que, além de grande músico, era uma pessoa maravilhosa.


141 Você foi embora, mas o seu sorriso largo ficou, Como também ficou o seu exemplo de homem público Cheio de otimismo, companheirismo, honestidade, Amor, espírito de coletividade e respeito ao próximo! Osvaldir Gonçalves: cabo do exército à espera da farda De sargento, por merecime nto, pois que já havia sido Aprovado num concurso federal, no ano próximo passado. Meus parabéns! Grande músico da banda e de grandes parcerias! Você foi um vitorioso por aqui! A platéia, Bem como seus amigos do mundo da música, Tanto da banda do quartel, quanto dos bares e restaurantes, Todos ouviram e se emocionaram com suas apresentações maravilhosas! Aonde você estiver, esteja com Deus, Na Luz do Amor Divino! Amor esse Que muito você soube nos irradiar Com simplicidade, amizade e calor humano! Não à violência! Que se continue a conscientização Pela não violência em Santa Catarina, no Brasil E no mundo. Que todos os países lutem em prol de uma Convivência fraterna, de respeito e dignidade.

“Os responsáveis pelo futuro são os pais e as autoridades! Ou o homem acaba com o crime Ou o crime vai acabar com o homem”. Que a concórdia, o entendimento entre os cidadãos, Seja a meta principal a ser alcançada no seio De uma sociedade civilizada, onde, acima de tudo, O diálogo deve imperar, por amor a si, ao pr óximo e à paz!


142 Um acróstico para Orlando Amorim Ontem você apareceu em minha vida! Rico de conhecimentos, deu -me chance de Laborar com você para eu crescer profissionalmente. Agora, somos, além de colegas, também amigos. Nem a pressão do sistema va i desatar esse laço de amizade! De vez em quando, estaremos longe um do outro: Olharei para o horizonte e, com as estrelas, rezarei por você. Advogado competente, simples, humilde e solidário. Muito trabalhador, discreto, independente, leal e correto. Orgulha-me ter conhecido você e desfrutar do seu convívio. Rico conhecedor das leis e do trabalho prático forense! Inteligentemente vai ajudando muitas pessoas: Moços, adultos, idosos e todos são gratos ao seu trabalho.

Catarinense 24 horas por dia 39 Florianópolis é a capital de Santa Catarina, terra amada dessa nação! É terra amada de todos, do Rio Grande do Sul ao do Norte! Mas, por favor, não troquem a sigla do nosso Estado, não! Nós, catarinenses, não queremos trocar nosso passaporte! Nós, catarinenses, somos um povo de muito orgulho e tradição!

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Esta poesia foi composta em resposta a uma correspond ência endereçada ao autor por uma Instituição Literária de Brasília -DF, em cujo envelope constava “ Florianópolis-RS”. Assim que terminei de compô -la, coloquei-a num envelope com o endereço da Instituição Literária Brasiliense, dirigi-me a uma agência do c orreio e a remeti de volta em resposta ao erro crasso que constava no envelope que eu havia recém recebido.


143 Para cá imigraram, dentre outros, o negro, o açoriano, o espanhol e o alemão! Do nosso folclore temos o pau -de-fita e o boi-de-mamão! Por que trocar a sigla do nosso Estado, então? Quanta desatenção! Nós, catarinenses, os perdoamos, pois, com certeza, foi falta de atenção! Mas esperamos que não se repita, pois por aqui já campeia muito gauchão! Aceitamos amizade, mas troca ou perda, jamais. Por favor, não! Assim, espero que vocês não levem a mal esta carta em forma de poesia! Porque esses versos são de um catarinense 24 horas por dia! Poeta que ama essa terra e por nada no mundo a trocaria!

Confiante e feliz Ame Como se você estivesse Numa guerra: Desprendido, Apesar de toda tensão; Confiante, Apesar de toda incerteza; Feliz, Apesar de todo clima adverso; Alegre, Porque essa é a natureza harmônica Do nosso ser,


144 Mesmo diante da morte!

Perfume de mulher (Homenagem a todas as mulheres do Planeta e a lembrança pela passagem do dia 8 de março quando é celebrado, todos os anos, o Dia Internacional da Mulher).

Mulher... Quem és tu? És uma ave? És um cantar? És o fogo? És a terra? És o mar? És a brisa suave? És o nascer e o pôr-do-sol? Pois és tudo isso e muito mais... És fonte de amor, Um oásis relaxante, mitigador! És uma flor, um abraço, um licor! És um aconchego familiar! És um incenso a queimar! És um coração alado Que a tudo quer tocar E deixar... O teu perfume de mulher!

Eu e Carminha em Floripa (Carminha é minha esposa Maria do Carmo Antunes)


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Floresta e mar E animais, vegetais, Flores, pássaros, enfim, Cores, multicores, Da natureza, Naturalmente bela. Pensando... imaginei Nós dois felizes, Num lugar livres, Tranqüilos, Numa ilha imensa, Onde há paz, Onde há harmonia, Onde há beleza e amor: Floripa, Belas praias e calor.

OSMARINA MARIA DE SOUZA Natural de Florianópolis. Nasceu em 17 de novembro de 1929. Faz poesias e crônicas. Sócia e fundadora da Associação dos Poetas, Cronistas e Contistas Catarinenses. Fundadora da Academia São José de Letras, da Academia Desterrense de Letras e da Academia de Letras de Biguaçu, Voluntária no Núcleo de Estudos da Terceira Idade -UFSC. Fez o Curso de Monitora da Ação Gerontológica do NETI -UFSC. Tem participação em muitos seminários e Congressos bem como na Primeira Conferência Nacional para Política da Pessoa Idosa, em Brasília, Faz parte da Missão Açores com participação na Escola de Ensino Superior em Setúbal - Portugal e na Universidade dos Açores na cidade de Ponta Delgada, nas Ilhas: Graciosa, do Pico e Faial nos Açores.


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Acadêmica: Osmarina Maria de Souza Nascimento: 17-01-1929 Cadeira nº: 20 Posse: 18-12-1996 Título: Poetisa Endereço: Rua Ivo Reis Montenegro, 328, Apto. 101, Ed. Emanuelle, Bl. C, Bairro Floresta, São José -SC CEP: 88110-618 Fone: (48) 3246-2931 / 9972-2272 E-mail/Site: Não informado Patrono: João Nicolau Born Título: Político / Orador

VOCÊ SABIA?... Na história de Biguaçu Você que é natural desta simpática cidade, já deve saber que a história de Biguaçu tem dois tempos: Primeiro o tempo dos portugueses, açorianos chegados por volta de 1748. Alguns destes casais foram assentados na localidade de Três Riachos , outros em São Miguel. O segundo, o tempo dos alemães, que da vila d a Armação da Piedade, transferiram -se para São Pedro de Alcântara, e para a Foz do rio Biguaçu. João Nicolau Born era um dos filhos do próspero agricultor prussiano John Born, que também se transferira para a localidade do Louro. João Nicolau, também agricultor, como seu pai, descia o rio para negociar suas mercadorias na barra do rio ou atravessar a baía para vendê -las na capital. Gostou das terras, achou -as apropriadas e na barra do rio fincou sua morada, construiu ali uma casa de negócios em estilo português, em 1892. Em 1894


147 construiu o casarão, ago ra em estilo alemão, ao lado de seu armazém, que até hoje, com mais de um século, continua desafiando o tempo na praça da cidade. É um dos símbolos de Biguaçu. Muito se escreveu sobre a vida do casarão dos Born, todo biguaçuense sabe de sua história e mui to deve a João Nicolau Born. Ele foi uma mola propulsora no desenvolvimento da cidade. Foi o primeiro Superintendente da cidade. Em sua gestão se abriu a estrada que liga Biguaçu a Florianópolis, e desviou a estrada Biguaçu Tijucas, passando pela localida de de Sorocaba e Timbé, de vez que por São Miguel era muito difícil a passagem pelo local Inferninho. Hoje neste trajeto temos a famig erada e devastadora rodovia BR-101 que destruiu parte do patrimônio histórico local. Não estou aqui para escrever a histó ria de Biguaçu e sim para uma proposta diferente com um capítulo cujo título é: Você Sabia, e dando início já lhe faço a pergunta. Você sabia... – que Tomé da Rocha Linhares, nascido em São Miguel foi um líder na vida pública da vila. Foi o primeiro presidente da Câmara de São Miguel, foi Juiz de Paz, Vereador e exerceu, ainda, outros cargos na vida político-administrativo da cidade. Quando chamado para assumir uma cadeira na Câmara de Deputados, recusou. Conforme relato de Maria Lúcia Coutinho Locks, a m orte de Tomé aconteceu em 9 de novembro de 1848, aos 77 anos de idade, motivada por uma queda de cavalo . – que no dia 19 de março de 1780, nascia na localidade de São Miguel, o garoto Laureano José.


148 – que segundo Maria do Carmo Ramos Krieger Goulart em seu livro “Um Ramo da Família Ramos”, o menino era filho de Matheus José Coelho, um dos açorianos ali assentados. Por ser aquele dia um Domingo de Ramos, Matheus o registrou como Laureano José Ramos. Seu casamento com Maria Gertrudes e Moura, natural de L apa no Paraná consta do Livro 1º de Casamento da Paróquia de Santo Antônio da Lapa. Laureano foi o primeiro varão da grande família Ramos de Santa Catarina que fixou residência na cidade de Lages. – Nove foram os filhos deste casal: Davi José Moura Ramos, Policarpo José Ramos, João José Ramos, Henrique Ferreira Ramos, Fidelis José Ramos, Luiz José de Oliveira Ramos, Gertrudes Maria de Moura Ramos. Dos descendentes destes, em especial Henrique, temos: Aureliano de Oliveira Ramos, Vidal de Oliveira Ramos, Manoel de Oliveira Ramos, e mais seus familiares, Nereu de Oliveira Ramos, Celso Ramos, Aderbal Ramos e tantos outros que foram figuras de projeção na história de Santa Catarina . – que o tenente-coronel João da Silva Ramalho, filho do tenente-coronel Joaquim da Silva Ramalho, foi comandante da Guarda Nacional de São Miguel, local de seu nascimento? – Que Joaquim da Silva Ramalho, avô de João da Silva Ramalho foi o primeiro catarinense a receber direitos de sangrar, operar, e fazer sanguessugas, ou seja, o certificado de médico cirurgião? – que Cipriano Coelho Ruiz, nascido em São Miguel, foi comandante do 6º Batalhão a Guarda


149 Nacional? – que os dois primeiros historiadores de Santa Catarina, Joaquim de Almeida Coelho e Manoel de Almeida Coelho eram na turais de Biguaçu, mais precisamente da localidade de São Miguel e filhos do Brigadeiro Manoel Coelho Rodrigues também natural e São Miguel? – que eram também nascidos em Biguaçu o Marechal Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão, Visconde de Santa Teresa? – que o Marechal de Campo A ntônio Nicolau Falcão da Frota aos dezesseis anos ingressou na vida militar e participou na guer ra contra o Uruguai e Paraguai chegando ao posto de Brigadeiro , depois a Marechal, e ocupou a Pasta da Guerra; e que seu irmão Júlio Anacleto Falcão da Frota foi militar do Corpo de Engenheiros e tomou parte também na Guerra do Paraguai e Uruguai. Serviu o gabinete do Marechal Osório e foi o primeiro brasileiro a receber os bordados de general. Chegou ao posto de Marechal como o seu irmão, ambos eram também naturais de Biguaçu? – Joaquim da Silva Ramalho também exerceu o cargo de Promotor Público na capital e foi VicePresidente da Província de Santa Catarina. Todos estes vultos tiveram destaque na história não só de Santa Catarina, mas do Brasil? – Sabia que em 1829, se instalaram em São Pedro de Alcântara, alemães vindos das margens do Rio Mosela e na década de 1860 chegaram os vindos de Vestfália, entre eles a família Locks que foram assentados na Colônia Teresópolis. Alguns deles


150 migraram para Braço do Norte, onde se formava um novo núcleo de colonização alemã, inclusive os Locks. Duas ou três gerações após, nascia também em Braço do Norte o menino Lauro, filho de Bernardo Francisco? – que Lauro Locks iniciou sua vida profis sional como professor primário e depois como Diretor, nas escolas de Braço do Norte, Bom Retiro e Tubarão quando foi transferido para Biguaçu. Lauro foi eleito Deputado Estadual, por Biguaçu e com votos de Braço do Norte, e como tal exerceu o cargo em quatro legislaturas. Foi Secret ário Estadual de Educação, Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado e Prefeito da cidade. Em sua gestão à frente da Prefeitura, Biguaçu teve grande impulso em seu desenvolvimento. A cidade deve muito a este homem nascido em Braço do Norte e aqui estabelecido desde 1951. A morte de sua querida esposa Tabita, o deixou em viuvez, rodeado de seus dezesseis filhos e netos, mas vivendo na cidade que adotou a sua querida Biguaçu. Você, jovem ou garoto que estudou ou estuda na velha escola no centro da cidade, sabe, é lógico, o seu nome, pois está escrito no seu frontal e muitas foram às vezes que escreveu em seus cadernos “Escola Básica José Brasilício”. Muitos , no entanto, não tiveram a curiosidade de saber quem foi este homem que deu nome a sua escola. Você sabia que José Brasilício, nasceu em nasceu em Pernambuco e chegou a Santa Catarina com apenas três anos de idade. Era ateu, mas regeu por muito tempo o coro da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco. Foi grande Professor, c olecionador de


151 selos e moedas, astrônomo, e sobre isto se correspondia com grandes conhecedores do assunto. Divulgador do idioma volapük, e sobre ela manteve farta correspondência com divulgadores europeus. José Brasilício foi casado com a poetisa Maria Carolina Corcoroca de Souza, pai do músico Álvaro Souza e avô do cronista, m úsico, escritor e poeta Abelardo Souza. José Brasilício foi autor da letra do Hino do Estado de Santa Catarina que recebeu música de Horácio Nunes Pires. – que Abelardo Souza, con ta com riqueza de detalhes o que aconteceu na noite e 4 de fevereiro de 1890. Com a presença do Governador Lauro Müller, do Tenente Carlos Augusto de Campos, seu secretário e José Artur Boiteux, seu oficial de gabinete, quando em sua bela residência à rua Álvaro de Carvalho nº 14 , na cidade de Desterro, José Brasilício, sua esposa dona Maria Corcoroca receberam os ilustres visitantes e os conduziram à sala onde, entre seleto auditório com farfalhar de saias e leques já se encontrava o Maestro Horácio Nunes Pires. Após todos terem se acomodado José Brasilício senta -se ao piano-de-cauda, e acompanhado pelo violino do maestro João Adolfo Ferreira Melo, três jovens cantam o Hino do Estado de Santa Catarina. É um longo e belo capítulo este que Abelardo Souza no s apresenta com o título de “Pequena História de um Grande Hino ”, em seu livro “O Mestre-Escola Viaja no Tempo ”. – que o piano acima mencionado esteve por muitos anos na Escola José Brasilício de Biguaçu, hoje se encontra corroído no Museu Histórico de S anta


152 Catarina. – que um dia conversando com a professora

Dalvina, ex-Diretora daquela escola, ela me confidenciou comovida: – Visitei o Museu e quando vi o piano onde muitas vezes meus dedos dedilharam seu teclado, confesso que chorei. Doeu no fundo do m eu coração, acrescentou ela. – E você sabia que a família Ramalho foi quem construiu o sobrado de São Miguel, que mais tarde passou a ser propriedade de outras famílias e hoje é patrimônio do Estado, onde funciona o Museu Histórico? – que o sobrado, além de residência, foi Paço Municipal, Paço da Capitania, abrigo das tropas que combateram no sul a gente Farroupilha e foi onde nasceu o miguelense Joaquim da Silva Ramalho , que chegou a Vice-Governador e depois Governador da Província? Abro aqui um parêntese para contar um encontro que tive no ano de 2000, com a senhora Araci Tavares Neves. Esta senhora, que há três ou quatro anos nos deixou, era neta de João Nicolau Born. Com quase noventa anos Araci muito lúcida me contou passagens pitorescas de seus av ós; porém um caso interessante aconteceu com o rico tijucano Jacó Lameu Tavares, filho do proprietário do sobrado de São Miguel, que se enamorara de Guilhermina uma da s filhas de João Nicolau Born. Jacó muito apessoado, de boas posses, boêmio, pediu a jovem em casamento. João Nicolau, querendo saber se realmente o galã tinha dinheiro, perguntou:


153 – Você pode me emprestar duzentos mil réis? Ao que o jovem mancebo, à queima roupa respondeu lhe com outra pergunta. – O senhor quer este dinheiro em dólar ou em libra esterlina? João Nicolau silenciou admirado. Em pouco tempo estavam casados Jacó e Guilhermina e deste casamento eu nasci, complementou Araci. Certa vez, acrescentou Araci, meu pai, e outros familiares visitaram o Museu de São Miguel, antiga residência da nossa família. Ficaram empolgados com as fotos e utensílios, e tudo mais que viram, inclusive com a foto de vovô João Nicolau. Passaram então, a narrar aos presentes um pouco da história dos Born e Neves, ligadas por laços familiares, pela política, e pelos dois casarões, de Biguaçu e de São Miguel que guardam curiosidades deste aprazível recanto à beira mar. Os turistas presentes, disse Araci, passaram a escutá-lo; o guia do Museu muito admirado também o ouvia, pois também ele viveu momentos de sauda de. Sabia que Biguaçu em sua vida literária conta com pessoas importantes ligadas às letras e que aqui tentamos lembrar e perguntamos: você sabia que? – Geraldino Atto de Azevedo, natural de Camboriu viveu anos de sua vida entre Rio Grande do Sul, Florianópolis (Canasvieiras) . Em 1924 veio morar em Biguaçu indo trabalhar no armazém de Aníbal A. da Silva e apaixonou -se pela filha de seu patrão com quem se casou. Começou a publicar suas poesias e ficou conhecido como “O Poeta de Biguaçu”, título que serviu para ilustrar seu livro póstumo, editado em 1948 pelo amigo Manoel Félix Cardoso.


154 – Geraldino é patrono da Cadeira nº 14 da Academia de Letras de Biguaçu, onde tem acento a escritora Dalvina de Jesus Siqueira . – que Salim Miguel, para todos, um bigua çuense que nasceu no Líban o, veio para o Brasil ainda muito pequeno, criou-se no interior do município, no meio da colonização alemã. Sempre escreveu ressaltando sua vida em Biguaçu, ena ltecendo a cidade suas praias, a praça, e logradouros com passagens pi torescas de um menino levado, feliz, que viveu sua infância como todo menino deve viver, isto é, brincando de ser feliz, na cidade também simples , mas com cara de cidade feliz. É um contista de renome, elogiado pela crítica. Biguaçu se orgulha de Salim Mig uel que tanto a valorizou em seus escritos. – que João Machado Mendes – é um autor, nascido em Biguaçu, cujo destino lhe pregou uma peça. Sofreu um acidente e perdeu a visão, mas nem por isso deixou de estudar. Escreveu livros . O primeiro foi prefaciado pela professora Nila Sardá e o segundo pelo escritor gaúcho Nilo Ruschel. Joã o Mendes montou em Biguaçu uma livraria e papelaria. Figura muito querida na cidade. Em 1951 escreveu “Amor, Amizade e Esperança”, poesias líricas, prefaciado também por Nila Sardá. – que João Crisóstomo Pacheco, é natural de Camboriu, mas se transferiu para Biguaçu e em 1921 fundou a imprensa com o jornal “O Arauto”, onde além de proprietário era o seu diretor. Faleceu em Blumenau a 4 de maio de 1948. – que José Nicolau Bor n, filho de João Born, tinha o diploma de Engenheiro -Geógrafo. Foi


155 funcionário da Diretoria de Terras e Colonização. Mais tarde foi trabalhar no Ministério da Agricultura, no Rio de Janeiro. Em 1961 foi eleito Deputado Estadual. Membro do Instituto Históri co e Geográfico de Santa Catarina. Foi o primeiro autor de Biguaçu a se dedicar à história do município. Escreveu um livro com notícias descritivas sobre estatística, em diversos volumes. Começou a escrever um novo livro sobre a história de Biguaçu, porém com sua morte, este trabalho foi perdido. Faleceu em maio de 1966, deixando escritos e alguns ensaios topográficos sobre agricultura, e geografia. – que Walter José Jorge – nasceu em Biguaçu, filho de pais libaneses. Advogado, defendeu tese em Direito Florestal. Foi Consultor Jurídico do Serviço Florestal da Diretoria de Terras e Colonização, Conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil, Conselheiro Jurídico do Estado, fundador da Confederação Brasileira de Fotografia e Cinema em São Paulo, Crítico em foto grafia, escreveu em jornais de Santa Catarina e Rio de Janeiro. Tem livros publicados. É sócio fundador da Associação dos Cronistas, Poetas e Contistas Catarinenses, e acadêmico fundador da Academia São José de Letras, onde ocupa a Cadeira nº 09 cujo Patro no é Oswaldo Rodrigues Cabral. – que Lídio Martins Barbosa – natural de Biguaçu, foi autodidata. Era jornalista e fez parte do jornal “A Tribuna” era amigo de Martinho Callado, Cruz e Souza e de Virgílio Várzea. Ao lado de Esteves Júnio r representou Santa Catarina no Congresso Republicano, na Corte em 1887. Membro do Instituto


156 Histórico e Geográfico de Santa Catarina. É patrono da Cadeira nº 28 da Academia Catarinense de Letras, e da Cadeira nº 24 da Academia Biguaçu de Letras. – que Alaíde Sardá Amorim – nascida em Biguaçu, recentemente falecida foi professora nesta cidade. Exerceu sua profissão com muita dedicação sem com isto deixar de escrever poesias. Seu primeiro livro, cujo título foi Turismo a Dois, onde se encontram dados biográficos da autora e tem apresentação do grande historiador Oswaldo Rodrigues Cabral. Pertenceu à Academia de Letras de Biguaçu, e hoje é patronesse de uma cadeira nesta mesma Academia. É fundadora da Associação dos Cronistas, Poetas e Contistas Catarinenses. – que Durval Neto – jovem boêmio, alegre, poeta, compositor, professor, era autor do Hino de Biguaçu. Netinho pertenceu à Academia de Letras de Letras de Biguaçu. – que Dalvina de Jesus Siqueira – nascida em Biguaçu, sempre morou em sua cidade natal. É professora, licenciada em Pedagogia, Letras e Psicologia. Todos os habitantes de Biguaçu conhecem dona Dalvina, pois se não foram seus alunos, seus filhos ou seus pais o foram. Dalvina foi professora e Diretora da Escola Básica José Brasilício, e Diretora do Colégio Mari a da Glória Veríssimo de Faria. É escritora e poetisa. Tem cinco livros publicados além de participação em diversas Antologias. Dalvina é pessoa saudosista e tem um acervo de memória sobre curiosidades e casos acontecidos em Biguaçu. É fundadora e foi Pres idente da Academia de Letras de Biguaçu.


157 Você sabia que em fins de 1906 fo i terminada a estrada Biguaçu – Tijucas, obra iniciada por João Nicolau Born, e que em dezembro deste mesmo ano o Governador Gustavo Richard inaugurou a ponte metálica sobre o rio Biguaçu? Muitos moradores desta cidade lembram da velha ponte coberta de zinco, assoalhada, e que media 30 metros. Às 8 horas de uma manhã de sol, o Governador e sua comitiva fizeram a bordo de uma lancha, a travessia para o Estreito. Daí para o municíp io de Biguaçu foram de carro de cavalo. Segundo descreveu a escritora Sillviamélia, neta do Governador. – Você sabia que no chão da Igreja de São Miguel estão enterradas algumas pessoas ilustres, entre elas Joaquim da Rocha Linhares, o médico Joaquim da Silva Ramalho Pereira, o Juiz José Joaquim Varela, o Coronel João Florêncio Jordão, o Coronel Henrique e Azevedo Leão Coutinho, o Padre Serrano e outros. No cemitério ao lado da Igreja podemos ainda ler em algumas tumbas, inscrições com mais de 200 anos cu jos restos são de pessoas de famílias ilustres e até hoje conhecidas como: os Moura, Demoro, Linhares, Azevedo Coutinho, Siqueira, Neves, Farias, Born, Dias, Couto, Amorim, Ramalho. Ali podemos inclusive levantar dados da história do município. – Você sabia que ainda hoje são lembrados em Biguaçu o nome de professores dedicados, amigos e muitos deles nascidos nesta cidade, Procuramos aqui lembrar alguns nomes: Ana Amélia Pereira, filha do Coronel Henrique de Azevedo Leão Coutinho, foi


158 nomeada para dirigir a primeira escola provincial feminina. Em 1851, funcionava em Biguaçu duas escolas, uma do professor Caetano José Gonçalves, com 5 alunos e outra de Francisco José Pereira Duarte, com 7 alunos. Em 1864, João Rodrigues Pereira era nomeado professor de primeiras letras. Nas localidades pouco distantes do centro da vila, outras escolas funcionavam precariamente. Sabe -se que em Três Riachos, a professora Bernardina Manoela Siqueira dirigia a escola com 19 meninos e 14 meninas matriculadas. Em 1917, nesta mesm a escola era professora Benta Siqueira com um total de 12 alunos. Para não nos estender muito, podemos, ainda, anotar que na sede do município estavam os professores: Donato Alípio de Campos e Maria Barbosa que foi a primeira professora normalista nomeada em Biguaçu e lecionou francês na Escola Feminina. Fa zia textos teatrais que apresentava no casarão dos Born. Maria Barbosa era casada com Alfredo Bor n, filho de João Nicolau Born. Em São Miguel também estava ensinando as primeiras letras, a professora Julieta Amorim. Mais recentemente lembramos as professoras Maria da Glória Veríssimo Faria, cuja dedicação a causa, foi distinguida merecidamente com seu nome em um Colégio, Nila Sardá, a dona Nenem como era conhecida pelos seus alunos e familiares, não te ve a atenção da Prefeitura, com uma homenagem, A cidade não lhe distingui nem com uma placa de rua. É uma pena que dona Nila não tenha sido lembrada como também dona Alaíde Sardá, a poetisa de quem já falei


159 acima. Anita Borbi Coutinho, que em entrevista e m 1997, nos contou: – Sou professora aposentada e por 18 anos dei aula em São Miguel, e 8 anos no José Brasilício de Biguaçu, lecionei também em Três Riachos. Durval Borba, o Netinho, de saudosa memória foi professor no Colégio Maria da Glória Faria. João Brasil de Azevedo – nasceu em Biguaçu, é filho do poeta de Biguaçu, Geraldino Atto de Azevedo. Foi aluno do Grupo Escolar José Brasilício . Comerciante e contabilista, foi eleito por diversas vezes vice-prefeito e como tal assumiu a Prefeitura, na ausência dos titulares. À frente da Prefeitura deu grande impulso e prioridade a formação de escola no interior do município. Foi fundador e pertenceu à Diretoria do Clube 17 de Maio. Encerrando meu trabalho, deixo além destas breves curiosidades, novamente a pergunta: Você Sabia?... Antes de encerrar meu trabalho vejamos o que disse Duperrey Lesson, em 1822 quando em viagem para o Prata, esteve em São Miguel, cujo relato se encontra às páginas 257 e 258 do livro Ilha de Santa Catarina – relatos de Viajantes Estrangeiros nos Séculos XVIII e XIX: “Avançamos para o sul, ao logo da costa, encontra-se a Vila de São Miguel, notável por seu moinho de água e uma linda cascata. A vila de São Miguel é situada a O.S.O. a cerca de umas seis milhas do forte de Santa Cruz.


160 Esta se compõe de uma série de casas distantes umas das outras. Na sua estrada fica a aguada onde os navios se abastecem. Esta é fresca e límpida e vem das montanhas vizinhas por meio de um aqueduto de madeira que conduz a água sobre os cubos de uma larg a roda de moinho que serve para debulhar arroz... Basta estender o recipiente onde ela cai sob a mesma escoa até o mar que não está a mais de cinqüenta passos. ... As casas que constituem o vilarejo são particularmente dispostas em duas fileiras muito espaçadas; em seguida o terreno sobe e desce e as casas isoladas não ultrapassam uma pequena cadeia que se dirige de leste a oeste. As mulheres voltadas para os d iferentes trabalhos domésticos, ocupam-se de fazer renda que elas trabalham com gosto, e a limpar o algodão que elas fiam nos fusos, com os quais elas fazem roupas para toda a família. Elas têm formas graciosas às suas figuras não faltam encantos nem expressão. Embora ponham um certo esmero em seus adornos, elas usam vestimentas simples de uma limpeza notável. Um vestido leve de chita que desenha uma estatura bem apanhada, algumas flores colocadas com arte sobre a bela cabeleira, lhes dão um ar provocante. Elas possuem aquela


161 coqueteria tão comum ao seu sexo, e tão atraentes paras os estrangeiros... “ E assim galantemente segue Lesson sua narrativa tão pitoresca, romântica e cheia de verdades. Uma verdade ainda hoje notada na gente de Biguaçu.

UMA PRACINHA ALEGRE Caminhando com uma amiga pela calçada da romântica e gostosa pracinha da cidade, ou vi o cantarolar de alguém. Eram 9 horas de uma ensolarada manhã. Uma aragem, que balançava a ramagem, as árvores e as flores, anunciava que o dia não seria tão quente. Aquele cantarolar se tornava cada vez mais próximo de nós que, paradas na esquina, aguardávamos a passagem de um ou dois carros apressados. Foi então que vimos e nos surpreendemos com uma cena pitoresca; pedalando uma bicicleta, muito velha, um jovem senhor aparentando vinte e cinco anos de idade. Vestindo bermuda azul, camisa branca e boné vermelho, cantava bem alto uma canção alegre e dava vivas à vida, sem acanhamento e sem se preocupar com aqueles que paravam para admirá lo. Olhava para os lados, dava um alegre bom -dia e continuava cantando sua alegre canção de felicidade em bom tom. Ainda se podia ouvi-lo ao longe. Caminhamos mais alguns passos, e o encontro com uma simpática senhora professora aposentada e


162 amiga de minha colega, que agora se dedica a um pequeno sítio. Haviam trabalhado juntas no colégio próximo. – Crio animais, disse ela. Cavalos, vacas, galinhas, perus. Colho ovos, bananas, leite, continuou feliz. E gesticulando muito, mostrando com isto sua felicidade, completava: – Ganhei um carro de minha filha, mas preferi comprar uma bicicleta, para correr pela cidade e sentir me ainda mais livre e feliz. Respiro melhor, concluiu sorrindo, ao se despedir. – Dirigimo-nos a uma agência bancária, e resolvi aguardar minha amiga, do lado de fora. Minha atenção despertou para uma senhora que se aproximava. Aparentava sessenta anos e chegava ali pedalando uma velha bicicleta já enferrujada. Olhou para um lado e para o outro, saltou e encostou a sua velha condução a uma parede, e sem o menor cuidado também se dirigiu ao Banco. Eu fiquei só meditando : “Como a bicicleta é importante nesta cidade e como seus habitantes são felizes. Cantam pelas ruas, preferem a bicicleta ao automóvel, e não têm medo que lhes roubem sua magrela; podem deixá -las encostadas a qualquer parede sem perigo”. Confesso que também me senti feliz por e star ali e tive até vontade de fazer parte daquela população. É uma cidade tão simples e rom ântica, onde todos se conhecem se respeitam, e além desta virtude a cidade conta com belas praias, um rio de integração, piscoso e com grande participação em sua história. Como é bom passear as nove horas da manhã pela pracinha da


163 querida Biguaçu tão romântica. Fontes de consultas: CARDOSO, Manoel Félix. O Poeta de Biguaçu . 1948. Ilha de Santa Catarina – Relatos de Viajantes estrangeiros nos Séculos XVIII e XIX . Florianópolis: Editora UFSC, 2ª edição, 1984. PIAZZA, Walter. História de Biguaçu . Fascículo 01,02, 03. Florianópolis: Ed. Lunardelli e UFSC, 1983. Revistas da Academia Catarinense de Letras : Anos 1995, 1996, 1997, 1998 e 1999. Florianópolis: Ed. da UFSC. SCHEIDT, Marlene Luzia & SOUZA, Osmarina Maria de. Nossas Memórias. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1997. SIQUEIRA, Dalvina de Jesus. Grandes Momentos . 1999. Biguaçu: Prefeitura Municipal, 1997. SOARES, Iaponam & LOCKS, Ana Lúcia Coutinho . História de Biguaçu através su a Gente. Florianópolis: Ed. Lunardelli e UFSC, 1983. SOARES, Iaponam. História do Município de Biguaçu. Florianópolis: Ed. Lunardelli e UFSC, 1983. SOUSA, Abelardo. O Mestre Escola Viaja no Tempo . Florianópolis: Imprensa Oficial, 1978. Um Passeio pela G rande Florianópolis . Biguaçu: Academia de Letras de Biguaçu , 1999.


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ROGÉRIO KREMER

Nascido em 05 de abril de 1940, em Antônio Carlos -SC. Filho de Humberto Kremer e Ana Apolônia Pereira Kremer. Casado por duas vezes. Pai de três filhos. Todos co m nível superior de escolaridade. Formado em Pedagogia pela UDESC, com Licenciatura Plena em Psicologia, Didática e Sociologia. Oficial de Farmácia com Registro no CRF/SC sob N.º 364 N. Aposentado como professor e diretor de escola. Participou de diversos cursos nas áreas da saúde e educação. Vereador em 1965 e 1972 à Câmara Municipal de Antônio Carlos. Possuidor de diversas condecorações por serviços prestados a sua comunidade e a literatura catarinense. Autor e co -autor de diversos livros. Organizador e proprietário de um Arquivo Histórico de Antônio Carlos, em oito volumes. Proprietário e responsável técnico de uma drogaria. Acadêmico da Academia de Letras de Biguaçu, com posse em 18 de dezembro de 1996. Acadêmico: Rogério Kremer Nascimento: 05-04-1940 Cadeira nº: 26 Posse: 18-12-1996 Título: Escritor Endereço: Rua 06 de Novembro, 102, Antônio Carlos -SC CEP: 88180-000 Fone: (48) 3272-1152 E-mail/Site: Não informado Patronesse: Maria da Glória Viríssimo de Faria Título: Educadora


165 AS ESCOLAS PAROQUIAIS DO ALTO BIGUAÇU – 1880/1937 A preocupação com a questão escolar entre os alemães, principalmente a leitura -base para uma melhor prática religiosa, fez com que fossem criadas, nas comunidades, Escolas Paroquiais. O descaso do governo em construir escolas públicas e o desejo de manter a língua alemã foram condições suficientes para que essas escolas proliferassem e persistissem até o final da década de 1930. Data de 1880 a fundação da primeira Escola Paroquial Alemã, no Rachadel, pelo Pe. Guilherme Roer, então responsável pela Paróquia de São Pedro de Alcântara, sob a qual encontravam -se vinculados os colonos de Alto Biguaçu (Antônio Carlos). E ssa escola continuou funcionando até 1937, quando num período intenso de nacionalização do ensino foi fech ada pelo interventor Nereu Ramos. Durante aproximadamente, duas décadas, a Escola Paroquial do Rachadel foi a única escola particular alemã que se tem conhecimento na região. Somente em 1902 é que foram criadas por Pe. Frei Ernerto Zeno Walbroehl * 30/07/ 1866 + 03/06/1925 – OFM, também vigário de São Pedro de Alcântara, outras escolas paroquiais : Capela do Louro, Rio Farias, Egito e Santa Maria. Segundo o ex -vereador Sr. João José Guesser * 01/08/1914 + 02/05/2002, em 1898 havia uma escola particular alemã em Alto Rio Farias, que durou 2 anos. Pedro José Franzner, um dos professores, mais tarde, em 1906, lecionou na Escola Paroquial do Rachadel. Ainda em 1929, Cô nego Dr.


166 Raulino Reitz localizou duas Escolas Paroquiais em Braço do Norte, uma no Egito e duas no interior do Rachadel. Em função do abandono das comunidades pelas autoridades educacionais, as escolas paroquiais alemãs cresceram como fruto da própria comunidade e em tudo se identificava com ela. A importância dada à língua alemã pelos colonos de c erta forma foi responsável pela manutenção das escolas paroquiais. A necessidade em aprender o português os levou a aceitar as escolas bilíngües à medida que o português era a única língua admitida para o ensino. As escolas paroquiais eram pagas pelos pa is dos alunos através da Caixa Escolar. Cada comunidade escolhia uma diretoria escolar que deveria zelar pelo pagamento do professor. Assim sendo, a Diretoria da Caixa Escolar era responsável pelo recolhimento de uma determinada taxa mensal por aluno, que variava entre 1 a 3 mil réis, destinada ao salário do professor. Conseq üentemente, quanto mais alunos, maior seu salário. A escola e o professor paroquial, contratado ou dispensado pelo vigário responsável, eram a ponte entre a igreja católica e a coloniz ação alemã. Os vigários alemães mantinham escolas paroquiais nas pequenas comunidades com a intenção de manipular a religião, além da escolarização. Pois, sabendo ler e escrever estes poderiam participar dos cultos dominicais, manusear livros e partituras de cânticos nos atos litúrgicos e festas familiares. Os professores, verdadeiros líderes comunitários, eram considerados uma extensão do padre. Mantinham a comunidade


167 informada dos acontecimentos nacionais e mundiais através da leitura de jornais, almanaqu es, revistas, etc. Sua função social ia desde o zelo pelos bens da comunidade (capela, escola, terrenos), árbitro e pacificador de desentendimentos, até sua representação junto às autoridades. Na ausência do padre, cuja visita à comunidade era mensal, pres idia o culto, acompanhava os doentes com preces, encaminhava os atos fúnebres e, geralmente, era iniciado em música para dirigir o coral e o canto na igreja. Era, ainda, responsável pela catequese. Nem sempre os professores paroquiais eram qualificados para exercerem a profissão. Dos professores de Alto Biguaçu sabemos que Vítor Pauli (Capela do Louro) era ex -seminarista e Pedro Amâncio Conrat, apesar da grande influência que exerceu na comunidade não tinha qualquer formação profissional. Exemplo de “virtude e retidão no agir” eram condições suficientes para a indicação do professor pelo vigário. Por outro lado, o governo dispensava uma grande atenção aos professores regentes das escolas rurais. Muitas vezes, mal falavam o português não podendo, segundo um Relatório da Instrução Pública de 1929, “satisfazer as justas necessidades da nacionalização do ensino primário, assunto esse que em Santa Catarina se reveste de real importância e ao qual o governo vem de anos dispensado a maior atenção”.

Apesar de não resolver os problemas com o ensino público, o governo matinha inspetores a fim de fiscalizar as poucas escolas existentes: particulares e


168 públicas. Com a intensificação da política de nacionalização através do ensino, a língua alemã foi sendo proibida, e uma pronúncia correta do português era o que se esperava dos professores. Com a falta de cursos de formação para professores, as longas distâncias e mesmo o interesse dos colonos em manter a língua alemã, as escolas paroquiais persistiram e conviveram com as escolas públicas. A última Escola Paroquial do Alto Biguaçu foi a de Rachadel, fechada em 1937; tendo como último professor Pedro Amâncio Conrat. Desde o início, a Igreja Católica participou da colonização alemã na região.

STELA MÁRIS PIAZZ A SOUZA Nascida a 4 de julho, em Florianópolis -SC, filha de Luiz Boiteux Piazza e de Carolina Taranto Piazza; cursou Serviço Social na Universidade Federal de Santa Catarina; Bolsista da Fullbright, cursou especialização em Desenvolvimento de Comunidade, na Universidade de Michigan, E.U.A; professora titular do Departamento de Serviço Social da UFSC; Mestre em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre – 1990; Mestre em Inovação do Sistema Educativo, Pedagogia A plicada (Universidade Autônoma de Barcelona – 1996); Doutoranda Inovação do Sistema Educativo, Pedagogia Aplicada (Universidade Autônoma de Barcelona – 2006). Autora do livro "Serviço Social e Universidade – Resgate de Lembranças" Editora da UFSC – 1994; Cronista do Jornal "A Gazeta" Florianópolis, com o pseudônimo de ASTER; Professora de Sociologia Aplicada à Administração – ESAG/UDESC; Professora de Sociologia –


169 Faculdade de Educação UDESC; Doutoranda do Curso Inovação no Sistema Educativo – Pedagogia Aplicada Universidade Autônoma de Barcelona – 2002; Presidente do Clube Soroptimista Internacional e Florianópolis – 1976/1978 – 1978/1980 – 1993/1996 – 2006/2008 – 2008/2010; Conselheira da Fundação d os Professores de Santa Catarina –FUCAPRO/FPOLlS – 2000/2003. Co-fundadora do Curso de Serviço Social Universidade do Contestado Caçador/SC; Membro da Comissão Editorial da Revista Katalysis, do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina.

Acadêmico (a): Stela Máris Piazza Souza Nascimento: 04-07-...... Cadeira nº: 18 Posse: Não informado Título: Não informado Endereço: Rua Dom Joaquim, 866, Apto. 802, Ed. Solar Flambo yan, Florianópolis-SC CEP: 88015-310 Fone: (48) 3222-5550 E-mail/Site: telazza@gmail.com Patrono: Arnaldo de S. Thiago Título: Poeta

BILLY, O PERALTA Quando ele desapareceu, numa manhã em Canasvieiras, neste verão, a família toda ficou em polvorosa. Como o Billy fugiu? Para onde ele foi? Quem deixou o portão aberto? C omo? Quem estava em casa? Quem abriu o portão e não fechou? Estas perguntas martelavam a cabeça e o coração da mãe de Billy. Foi ela que, ao sair, havia recomendado que tomassem conta do cãozinho e não deixassem o portão aberto. Pois Billy era o seu xodó.


170 Quando chegou, de suas lides acadêmicas, já haviam lhe comunicado do desaparecimento de Billy, aquele cãozinho amoroso, tão leal e companheiro. Como isto aconteceu? Não podia ser, logo o Billy que todos cuidavam tanto. Não, isto não podia acontecer. Ela não acreditava e logo se pôs em ação para achar seu querido animalzinho. Telefonemas e mais telefonemas, procura nas casas das ruas próximas, dos supermercados, dos mercadinhos, das clínicas, das lojas e nada do cãozinho aparecer. Foi quando surgiu a idéia de colocar nos locais com maior afluência de público, a fotografia de Billy, prometendo uma recompensa para aquele que o trouxesse de volta. A fotografia era muito própria e mostrava muito bem como era aquele cachorrinho. Toda a manhã se passou, a tarde ta mbém e a noite estava se aproximando e nenhuma notícia havia chegado. Que agonia... Todos estavam ansiosos por um telefonema, uma batida na porta, com a boa notícia. Mas nada. E como era o Billy? Um cachorrinho da raça Shitsu, todo rajado de preto e branc o, pêlo muito sedoso, com dois olhinhos pretos, bem redondos, muito expressivos, um focinho bem delineado e tinha um jeitinho todo especial de caminhar. O que mais se salientava nele era o companheirismo, a lealdade, o querer ficar sempre perto da gente. Era muito manso e fazia festa para todo mundo. Jamais ladrava assustando as pessoas. Quando


171 dormia, sonhava, e sonhando ladrava. Gostava de tomar banho de sol no inverno. Seu rabinho peludo, meio arredondado, estava sempre abanando para as pessoas e fazendo festa. Billy veio para nossa casa, no dia 23 de março, justo no aniversário de Florianópolis. Quando a mãe o viu, no canil, para ser vendido, logo se encantou pela sua beleza e pelo seu jeito de ser. Tinha dois meses de idade, e, agora, quase 2 anos. Não era possível que não achassem o Billy, pensavam todos os que estavam a sua procura. A preocupação era que o cachorrinho só podia comer ração e gostava de muita limpeza. Toda semana quando vinha do veterinário, após o banho, trajava uma gravata diferente e vinha muito elegante e perfumado. Era tão leal e companheiro que só ia dormir quando sua mamãe (a que ele tinha escolhido) também se recolhia. Isto, quase sempre de madrugada, pois a mãe estava fazendo sua tese de doutorado e, Billy, o guardião, ficava sem pre aos seus pés ou a seu lado, esperando a hora de se recolher. É bom lembrar que gostava muito do computador, daquele barulhinho gostoso que o fazia dormir. Pudera, não era só o computador que o tranqüilizava, mas também a televisão e o som do CD. Era um cachorrinho muito feliz e trazia felicidade para todos. Quando mamãe chegava em casa Billy pegava seu chocalho e chocalhava numa demonstração de que queria brincar. Uma graça. E brincava mesmo. Tinha uns brinquedos que gostava muito, e outros que, para brincar os colocava na soleira da varanda do


172 apartamento e, com a patinha, jogava para a rua. E assim perdia o brinquedo. O único que não conseguira jogar fora era um osso de plástico, que parecia osso de verdade. Ruía que fazia gosto. Este era o cãozinho tã o querido e amoroso que havia desaparecido. Como? Não, ninguém se conformava! Onde estará ele? Será que alguém roubou e vai levá-lo embora? Será que vão levá -lo para outro país, já que é grande o número de turistas na cidade e nos balneários? Estes pensam entos povoavam a mente daqueles que o estavam procurando e as dúvidas deixavam todos muito ansiosos. E o que vai comer? Está acostumado com ração e, sempre da melhor qualidade. De repente, um telefonema. Tudo indicava que haviam encontrado o Billy. Mas qu eriam a presença das pessoas chegadas a ele para fazerem o reconhecimento, a acareação. Lá foram todos à Clínica Veterinária para ter a certeza de que era mesmo o Billy. Lá estava ele, o peralta. Haviam encontrado Billy na frente de sua casa e, percebendo que era um cachorrinho de raça, bem tratado, o levaram para uma Clínica Veterinária. E. lá, na Clínica, se depararam com o cartaz e a fotografia de Billy, com os seguintes dizeres: “Quem encontrar, por favor, devolva este cãozinho que é o nosso xodó. Nós o queremos muito e, ele, a nós”. Então telefonaram para a família. Era um casal de namorados. A alegria foi grande. Abraços, agradecimentos e recompensas foram trocados.


173 Billy havia passado parte da manhã e a tarde toda brincando com os meninos, bem na rua aonde havia desaparecido. Mais tarde os meninos se cansaram de brincar e deixaram o cãozinho perambulando pelas ruas próximas a sua casa. Até que o casal de namorados o viu e o levou para a Clínica. E, por coincidência, esta era a Clínica que cuidava de Billy, quando ele estava veraneando em Canasvieiras. Talvez vocês perguntem: E, por acaso, cãozinho também veraneia? Claro que sim! Não é preciso dizer que a chegada de Billy, em casa, foi uma festa, regada a refrigerantes, docinhos e salgadinhos. Afinal, este cãozinho peralta, merecia. Mas, para ele foi um dia bem diferente. Vadiou à bessa. Se sentiu saudades, não se sabe, mas nós sentimos.

TONI JOCHEM Toni Jochem é bacharel e licenciado em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catari na. Mestre em História Cultural pela mesma Universidade, na linha de pesquisa "Migrações, Cultura e Identidade". É autor dos livros: “Pouso dos Imigrantes” (1992); “A Epopéia de uma Imigração” (1997); “A Formação da Colônia Alemã Teresópolis e a Atuação da Igreja Católica (1860 -1910)” – Dissertação de Mestrado (2002); "Nossos Pais" (2005); "Uma Caminhada de Fé: História da Paróquia Santo Amaro (Santo Amaro da Imperatriz e Águas Mornas -SC)"


174 (2005); e "Tecendo o Saber Confessional Católico em Santa Catarina " (2006). Toni é organizador das publicações: “Sesquicentenário da Colônia Santa Isabel – 1847-1997, Celebração e Memória” (1998); “São Pedro de Alcântara – Aspectos de sua História” (1999); e "História da Família Beckhäuser no Brasil" (2006). Co-autor dos livros: “São Pedro de Alcântara: 170 anos depois” (1999); “Terras da Esperança – A Trajetória dos Irmãos Buss em Santa Catarina” (2003); e “Os Cunha e os Tatim na História de Soledade” (2005). E editor dos livros: “Caminhos da Integração Catarinense – Do Caminho das Tropas à Rodovia BR 282” (2004), de autoria de Antônio Carlos Werner; "São Bonifácio -SC: Aspectos de sua História" (2006), de Anselmo Buss; "Senhor Bom Jesus de Nazaré – Padroeiro do Município de Palhoça/SC: Arte, História e Devoção" (200 6), de autoria de Manoel Scheimann da Silva; "As Alavancas do Progr esso da Região de Braço do Norte-SC" (2008), de autoria de Anselmo Buss; “Estradas da Vida – História de um Ramo da Família Deschamps” (2001); e “São Pedro de Alcântara – Memórias da Nossa Terra e Nossa Gente” (2005), esses dois últimos de autoria de Osvaldo Deschamps. Toni Jochem foi coordenador do biênio comemorativo do 170º aniversário da imigração alemã de São Pedro de Alcântara – 1998/1999. É Presidente da Associação da Família JOCHEM no Brasil – AFAJO; membro da Academia de Letras de Biguaçu -SC; Membro da Academia de Letras de Santo Amaro da Imperatriz -SC; e sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina -IHGSC. É coordenador dos seguintes websites: IMIGRAÇÃO ALEMÃ : www.tonijochem.com.br e FAMÍLIA JOCHEM NO BRASIL: www.familiajochem.com.br Acadêmico: Toni Jochem Nascimento: 13-10-1969 Cadeira nº: 12 Posse: 18-05-2001 Título: Historiador Endereço: Rua Gerânio, 217, Apto. 303, Residencial Pedra Branca, Jardim das Palmeiras, Palhoça-SC CEP: 88133-800 Fone: (48) 3242-0826 ou (48) 3344-2777 E-mail/Site: toni@tonijochem.com.br / www.tonijochem.com.br Patrono: Francisco Galloti Título: político / Orador


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NOS PERCALÇOS DA HISTÓRIA: DO ALTO BIGUAÇU A ANTONIO CARLOS Apesar de ser uma extensão fí sica da colônia São Pedro de Alcântara, a localidade do Alto Biguaçu, bem como suas imediações, foram, aos poucos, se desenvolvendo. Nessa localidade, no dia 30 de abril de 1838, mediante o Decreto Nº. 100 foi autorizada a construção de uma capela e de um cemitério. E, após quase três décadas, mediante a Lei Nº. 544, de 02 de maio de 1864, foi criada a Freguesia (paróquia) de São Pedro Apóstolo do Alto Biguaçu 40, e, uma vez desmembrada da paróquia de São Pedro de Alcântara, por razões diversas, nunca foi ofi cialmente instalada 41. Registra a história que: ”Antônio Carlos, antigo distrito de Biguaçu, começou a ser colonizado em 1830, quando João Henrique Schoeting, juntamente com outras dez famílias e alguns homens solteiros assentaram -se 42 às margens do Rio do Louro . Constitui-se de uma extensão física do povoamento da Colônia 40

Mais informações cf. Doc. 28, Leis 1857 -1866, pp. 146v-147, CMALESC. Veja ainda Doc. 22, ATAS, 1867, p. 142, CM -ALESC. 41 Cf. KREMER, Rogério. Antônio Carlos – 175 Anos de História – 1830-2005. Biguaçu: Litográfica, 2007, p. 205. 42 Na região do Louro, instalaram -se, entre outras, as seguintes famílias: Schenk/Vieira, Geissbusch/Kraemer, Kuber (solteiro), Hoener, Meinschein (solteiro), Sieglin (sol teiro), Schwart/Both, Crels (viúva), Holze (solteiro), Schwarz/Schneider, Schwarz/Hermes, Schwartz (solteiro), Hermes/Reimaelus, Jochem (viúvo), Bins/Pudinger, Emmerich/Vhors, Soechting/Silva, Revoets (solteiro) e Ruppel/Kickn, cf. MATTOS, p. 61.


176 43

São Pedro de Alcântara , primeiro núcleo de 44 colonização alemã em Santa Catarina (1829)” .

Os imigrantes que se estabeleceram em São Pedro de Alcântara e nas cabeceiras dos r ios Louro e Biguaçu eram provenientes, em sua maioria, da Região do Eifel 45 e do Hunsrück, na Alemanha. A imigração alemã para o Brasil pode ser classificada em duas categorias (de acordo com o método aplicado e com objetivos propostos), quais sejam: a imi gração de parceria; e a imigração baseada na pequena propriedade. A imigração de parceria utilizava -se do método do “endividamento” e era voltada para o Sudeste brasileiro, principalmente São Paulo, considerando a existência, naquela província, de grandes latifundiários. Esta forma de imigração visava a resolução do problema decorrente da extinção paulatina da escravidão, relacionado à falta de mão-de-obra no cultivo do café – que a partir de meados do século XIX passa a ser o principal produto de exportaçã o do Brasil. A imigração baseada na pequena propriedade era composta por colonos livres e foi dirigida principalmente ao Sul do Brasil. Esta segunda forma de imigração tinha entre

43

Interessante observar que, não raras vezes, as denominações das colônias homenageavam a família imperial; assim temos as seguintes colônias: São Leopoldo -RS, Petrópolis-RJ, Santa Amélia-PE, São Pedro de Alcântara das Torres -RS, Teresópolis-SC, Leopoldina-SC, Santa Leopoldina-ES, Santa Isabel-SC e ES, entre outras. 44

http://www.antoniocarlos.sc.gov.br/portal1/municipio/historia.asp?iIdMun= 100142015 – Consulta realizada em 30/07/2007. Cf. também BESEN, José Artulino; PAULI Evaldo. A Comunidade de Antônio Carlos . Antônio Carlos: Prefeitura Municipal e Paróquia Sagrado Coração de Jesus, 1983, p. 2. 45 A região de Eifel "tirou" de localidades como Brohl, Forst, Moselkern, Treis-Karden, Kaisersesch, Müsntermaifeld etc. parte dos emigrantes enviados a Santa Catarina em 1828.


177 seus objetivos, povoar a região e desenvolver uma agricultura voltada ao aba stecimento do mercado interno. Pretendia o governo brasileiro, com a colonização baseada no regime de pequenas propriedades e do trabalho livre, criar profundas mudanças na realidade brasileira: demográficas (povoamento), morais (dignificação do trabalho manual), sociais (instituição de uma classe média), militares (defesa das fronteiras) e econômicas (desenvolvimento do Brasil). Neste contexto, os alemães eram considerados bons agricultores e, portanto, ideais para povoar vazios demográficos. Assim, fund aram-se algumas colônias pelo Brasil: em 1818, na Bahia, a Colônia Leopoldina; em 1820, Nova Friburgo, no Rio de Janeiro; e, para encerrar, em 1822, com a Colônia São Jorge dos Ilhéus, no Sul baiano, o ciclo da colonização alemã na região montanhosa do lit oral médio brasileiro. Mas, a colonização alemã no Brasil, sob o regime de pequena propriedade, se concentrou em suas Províncias Meridionais (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná), onde os imigrantes deixaram sua marca. Assim, pode-se dizer que: “Os descendentes de imigrantes que se estabeleceram no Alto -Biguaçu, construíram ao longo do século XX, um patrimônio cultural bastante expressivo. Apesar do contato antigo e contínuo com Florianópolis e região, Antônio Carlos ainda mantém características mar cantes da colonização do imigrante alemão, principalmente na zona rural. Junto a alguns valores culturais, pratos típicos ou o dialeto ainda hoje falado, encontramos ao percorrer suas localidades, 46 edifícios isolados que marcam sua história” . 46

http://www.antoniocarlos.sc.gov.br/portal1/municipi o/historia.asp?iIdMun= 100142015 – Consulta realizada em 30/07/2007.


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A formação da população de Antônio Carlos pode ser caracterizada por quatro principais etnias: luso -brasileira de origem açoriana, alemã, libanesa e negra 47. No entanto, predominam os descendentes da matriz étnica alemã, provenientes, em sua maioria, das colônias viz inhas, tais como: São Pedro de Alcântara 48, Santa Isabel 49 e Piedade 50, além da Colônia Leopoldina 51 localizada nas imediações. 47

Veja mais em: REITZ, Raulino. Alto Biguaçu – Narrativa Cultural Tetrarracial. Florianópolis: Ed. Lunardelli e Ed. da UFSC, 1988. 48 A Colônia São Pedro de Alcântara foi fundada em março de 1829 por 635 imigrantes alemães, constituindo -se a mais antiga colônia alemã fundada em Santa Catarina. Foi elevada à Freguesia em 1844 através da Lei Nº. 194, sendo emancipada político -administrativamente do município de São José mediante Lei Nº. 9.534 datada de 16 de abril de 1994. 49 Fundada em 1847 por imigrantes recém -chegados da Alemanha, a Colônia Santa Isabel foi composta, em sua maioria, por agricultores e provenientes da região do Hunsrück, no atual Estado da Renânia Palatinado. Professavam a re ligião católica e a luterana sendo que, nesta última, Santa Isabel tem a primazia cronológica sobre todas as colônias fundadas no Estado de Santa Catarina. Instalada às margens do Caminho-de-Tropas que ligava o Litoral catarinense ao Planalto serrano, a denominação da colônia é uma homenagem prestada pelo Governo constituído à Princesa Isabel. Inicialmente, além da sede da colônia, localizada num terreno excessivamente montanhoso e impróprio para a agricultura, foram fundadas e povoadas as linhas coloniais de Löffelscheidt e Primeira Linha. Em 1860, o Governo resolveu remeter novos imigrantes para a Colônia, a qual desde 1851 crescia apenas pelo desenvolvimento interno de sua população, sem receber novos imigrantes. O núcleo foi ampliado e submetido ao regim e colonial com a chegada de novos imigrantes resultando na fundação de novas linhas coloniais, entre elas: Segunda Linha, Terceira Linha, Quarta Linha, Quinta Linha, Rancho Queimado, Linha Scharf e Taquaras. 50 Em 1847, foi fundada na Armação da Piedade – localizada no continente da Baía Norte da Ilha de Santa Catarina – uma Colônia Alemã formada por, aproximadamente, 150 imigrantes chegados durante os meses de janeiro a março daquele ano. Todos professavam a religião católica. Sem regulamento especial, a Co lônia Piedade era dirigida pelos comandantes da fortaleza de Santa Cruz, localizada na Ilha de Anhatomirim. As terras eram íngremes, destituídas de fertilidade e,


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Seu nome foi uma homenagem ao estadista brasileiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrade 52, político mineiro, com destacada atuação na Revolução de 1930. A nomenclatura foi imposta à população local. Antônio Carlos era integrante de uma das famílias de maior tradição na

portanto, impróprias para a agricultura. Por isso, os imigrantes foram se retirando. Dos 150 imigrantes com os quais a Colônia fora fundada havia, um ano após, apenas 120; em 1849, 114; em 1850, 105 e em 1854 somente 54. Em 1856, o censo demográfico apurou 41 habitantes para a Colônia. Finalmente, também os mais esperançosos se deixaram vencer migrando para as regiões vizinhas, especialmente para Biguaçu. Extinguiu-se, assim, a Colônia Piedade. 51 Colônia Leopoldina é uma homenagem a Dona Leopoldina Teresa Francisca Carolina Miguela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon (Rio de Janeiro, 13 de julho de 1847 – Viena, 7 de fevereiro de 1871), princesa do Brasil e duquesa de Saxe -Coburgo-Gota, foi a segunda filha de D. Pedro II do Brasil. A referida colônia foi um empreendimento particular de duas léguas em quadro de terras, que foram medidas em 1847 e c oncedidas em 24 de fevereiro de 1848, aos empresários Sheridan Telghuys Filho e Henrique Ambauer Schutel. De Hamburgo, Alemanha, em 1849, vieram para a Colônia Leopoldina nove pessoas; em 1852, mais cinco imigrantes. Pela inacessibilidade das terras nenhuma delas se fixou na área. Em 1853, foram estabelecidas quatro famílias alemãs e uma belga. Mas a colônia não se desenvolveu. Em 1849, havia ali apenas um estabelecimento de criação de gado e nenhum colono. Como se demorou a vinda de novos imigrantes, foram estabelecidos brasileiros. Em 1853, foram colocados em 14 lotes de terra, 38 colonos belgas e alemães, procedentes quase todos da fracassada colônia da Armação da Piedade. Cf.: BESEN, José Artulino; PAULI Evaldo. A Comunidade de Antônio Carlos . Antônio Carlos: Prefeitura Municipal e Paróquia Sagrado Coração de Jesus, 1983, p. 6. Cf. também REITZ, Raulino. Alto Biguaçu – Narrativa Cultural Tetrarracial . Florianópolis: Ed. Lunardelli e Ed. da UFSC, 1988, pp. 46ss. Veja ainda: Doc. 20, Ofícios 1849 -1857, de 22/04/1851, pp. 86 -7, CM-ALESC. Cf. também KREMER, Rogério. Antônio Carlos – 175 Anos de História – 1830-2005. Biguaçu: Litográfica, 2007, p. 118. 52 Antônio Carlos Ribeiro de Andrada nasceu em Barbacena -MG a 05 de setembro de 1870 e faleceu no Rio de Janeiro-RJ, em 02 de janeiro de 1946.


180 política brasileira. Em julho de 1963, foi cogitada na Câmara Municipal de Biguaçu a conveniência da mudança da denominação “Antônio Carlos” para “Reitzburgo” em homenagem a João Adão Reitz, pioneiro da colonização no vale do Rio Rachadel. Após acalorada discussão, a proposta não obteve aprovação daquela casa legislativa 53. Além da questão do nome a se adotar para um município, outra problemática estava na pauta daqueles que estavam a construir a história política de Alto Biguaçu, ou seja, a sede onde se instalaria a administração do então Distrito: “Pela Lei Municipal Nº. 121 de Biguaçu/SC, de 15 de julho de 1919, era criad o o quarto Distrito de Paz na localidade de Louro, cuja instalação ocorreu em 02 de agosto do mesmo ano. A sede do Distrito foi localizada na casa de Leopoldo Freiberger, que possuía também uma casa comercial de secos e molhados, ambas situadas no entroncamento das estradas da Capela do Louro e Santa Maria. O proprietário era político influente, tendo exercido os cargos de segundo secretário da Mesa da Câmara em 1919 e chefe do Poder Executivo Municipal no período de 1927 54 a 1930” .

53

REITZ, Raulino. Alto Biguaçu – Narrativa Cultural Tetrarracial . Florianópolis: Ed. Lunardelli e Ed. da UFSC, 1988, p. 176. 54 http://64.233.169.104/search?q=cache:2Ua1MKcS3gMJ:www.portalsant oamaro.com.br/antoniocarlos.php+limites+do+munic%C3%ADpio+de+Ant %C3%B4nio+Carlos&hl=pt -BR&ct=clnk&cd=1&gl=br – Consulta realizada em 31/07/2007. Cf. também BESEN, José Artulino; PAULI Evaldo. A Comunidade de Antônio Carlos . Antônio Carlos: Prefeitura Municipal e Paróquia Sagrado Coração de Jesus, 1983, p. 2. Cf. ainda REITZ, Raulino. Alto Biguaçu – Narrativa Cultural Tetrarracial . Florianópolis: Ed. Lunardelli e Ed. da UFSC, 1988, p. 167. Cf. também KREMER,


181 Mas, a sede do Distrito do Louro foi transferida para outras localidades até ser confirmada, em definitivo, em 1938, no atual centro urbano de Antônio Carlos: “Em 1930, a sede do Distrito de Louro, era transferida para o local chamado ‘Encruzilhada’ ou Coração de Jesus, por se en contrar ali um pequeno povoado e uma Ermida dedicada ao Sagrado Coração de Jesus. Passava também a denominar-se Antônio Carlos, o nome do Distrito, através do Decreto Nº. 24, de 09 de dezembro de 1930. (...). Pelo Decreto Estadual Nº. 489 de 15 de fevereiro de 1934, era a sede transferida novamente ao Louro, sua sede inicial. Porém, as repartições públicas (correio e cartório) permaneceram em Coração de Jesus, o que impediu o retorno. Em 1938, com a elevação à categoria de Vila, foi confirmada a sede em definitivo, e delimitados os perímetros urbano e suburbano da Vila de Antônio Carlos, com 55 vigência em 01 de janeiro de 1939” .

Localizado na região da Grande Florianópolis, em Santa Catarina, distante 33 quilômetros da capital do Estado, Antônio Carlos foi em ancipado político-

Rogério. Antônio Carlos – 175 Anos de História – 1830-2005. Biguaçu: Litográfica, 2007, p. 135. 55 http://64.233.169.104/search?q=cache:2Ua1MKcS3gMJ:www.portalsant oamaro.com.br/antoniocarlos.php+limites+do+munic%C3%AD pio+de+Ant %C3%B4nio+Carlos&hl=pt -BR&ct=clnk&cd=1&gl=br – Consulta realizada em 31/07/2007. Cf. também BESEN, José Artulino; PAULI Evaldo. A Comunidade de Antônio Carlos . Antônio Carlos: Prefeitura Municipal e Paróquia Sagrado Coração de Jesus, 1983, p. 2. Cf. ainda REITZ, Raulino. Alto Biguaçu – Narrativa Cultural Tetrarracial . Florianópolis: Ed. Lunardelli e Ed. da UFSC, 1988, p. 168. Cf. também KREMER, Rogério. Antônio Carlos – 175 Anos de História – 1830-2005. Biguaçu: Litográfica, 2007, p. 135.


182 administrativamente em 06 de novembro de 1963, pela Lei Estadual Nº. 928 56. Atualmente, o município é integrado pelas seguintes localidades: Egito, Alto Egito, Divisa, Rocinha, Rancho Miguel, Morro do Gato (hoje Morro da Glória), Nova Inglaterra (atualmente Santa Maria), Braço do Norte, Alto Braço do Norte, Capela do Louro, Louro, Santa Bárbara, Rio Farias de Baixo, Rio Farias de Cima, Alto Rio Farias (ex -Rio Antinhas), Canto dos Petry, Colônia Leopoldina, Vargem dos Pinheiros, Faxinal (hoje Reserva Ecológica Caraguatá), Espeito (Espeto), Vila Doze de Outubro, Cantos dos Guesser, Rachadel (ex-Salto), Morro da Gaita (Morro dos Hoffmann), Canto do Seu Belmiro, Canto da Sinhá Dadinha, Morro dos Cunha, Usina, Encruzilhada (posteriormente Coração de Jesus), hoje sede municipal de Antônio Carlos, Canudos, Califórnia, Riacho Negro e Rosápolis (ex Bananal) 57. Com relação aos aspectos demográficos, a população total do município era de 6.434 de habitantes, de acordo com o Censo Demográfico do IBGE (2 000); uma estimativa da população residente para 2006 apresenta 7.041 habitantes 58. Vale ressaltar que a maioria absoluta desse total professa a religião católica. Quanto à área territorial 59, Antônio Carlos possui 229,12 km 2, 56

BESEN, José Artulino; PAULI Evaldo. A Comunidade de Antônio Carlos. Antônio Carlos: Prefeitura Municipal e Paróquia Sagrado Coração de Jesus, 1983, p. 6. Cf. também KREMER, Rogério. Antônio Carlos – 175 Anos de História – 1830-2005. Biguaçu: Litográfica, 2007, pp. 12 e 137ss. 57 Cf. KREMER, Rogério. Antônio Carlos – 175 Anos de História – 1830-2005. Biguaçu: Litográfica, 2007, p. 11. 58 http://www.ibge.gov.br/cidadesat/default.php – Consulta realizada em 30/07/2007. 59 Coordenadas: Latitude: -27 31 0 Gr. Min. Seg. Longitude: -48 46 03 Gr. Min. Seg.


183 representando 0.2403% do Estado de Santa Catarina, 0.0407% da Região Metropolitana de Florianópolis e 0.0027% de todo o território brasileiro 60. Faz fronteira com os municípios de Biguaçu, São Pedro de Alcântara, Angelina, São José, São João Batista e Major Gercino. Eis, portanto, uma rápida caracterização do município de Antônio Carlos, objeto de estudo desse artigo.

VALDIR MENDES

Filho de Lauro Mendes e Clarice da Silva Mendes , nascido em 01 de novembro de 1947, em Florianópolis-SC. Casado com Clarice Aparecida Cabral Mendes . Filhos: Pierre, Michel, Bianca, Michelli, Lauro, Davi e Ana Clara. I – Comércio: Gerente da Seguradora "Mendes" ; Secretário da empresa "Nova Sauna" ; Secretário da Empresa "Mendes Representação" ; Diretor Proprietário da "Pousada Sol da Costa" , em Florianópolis. II – Professor: Grupo Escolar Lauro Müller (diurno) / 1965 ; Escola Arquidiocesana São José (noturno) / 1966 ; Colégio Antonieta de Barros (noturno) / 1967; Instituto Estadual de Educação – IEE (diurno/noturno) / 1968/1969; Colégio Catarinense (diurno /noturno) / 1969/1973 ; Diretor proprietário da Escola de Datilografia Pierre Mendes / 1973/1985 . III – Órgão Público: Chefe da Assessória Jurídica da Secretária de Estado da Justiça – 1980/1985. IV – Advocacia: Presidente da Associação dos Advogados Criminais do Estado de Santa Catarina A.ACRIMESC ; Advogado Militante.

60

http://www.antoniocarlos.sc.gov.br/portal1/dado_geral/mumai n.asp?iIdMun =100142015 – Consulta realizada em 30/07/2007.


184 V – Jornalismo: Apresentador do Programa Toque Ilhéu – TV AI TV Capital; Apresentador do Programa Passaporte Catarinense – TV São José / Viamax 2003/2005; Colunista do Jornal Fique Esperto 20 03/2005.

Acadêmico: Valdir Mendes Nascimento: 01-11-1947 Cadeira nº: 22 Posse: 17-12-2005 Título: Escritor / Advogado Endereço: Rua Tenente Silveira, 85, Sala 101, Ed. ....., Florianópolis -SC CEP: 88010-030 Fone: (48) 3222-5071 E-mail/Site: advmendes@yahoo.com.br Patrono: Vidal Mendes Título: Empresário

Apresento três motivações: A natureza, ser humano e ser animal

UM DIA A MAIS

Após uma noite de agradável sonhar, vagando por lembranças mil, d e saudosismo de meus pais, avós, parentes e amigos, estes que já se encontram em um estágio iluminado, visualizando o encanto das flores, do mar, do céu e da terra, das pessoas, dos sorrisos, dos olhares... acordei. Sentado a cama, pensei.


185 Que bom dormir, acordar alegre e assim ficar. O dia-a-dia se torna então motivado. Assim caminhei em volta da casa, sozinho, sem ninguém acordar. Cedo, pois. Resido em frente a praia de mar grosso, circundada por morros e com visual para a ilha dos “Moleques” e das “Três Irmãs;’ local onde as gaivotas fazem seus vôos e pousam. Lá onde os peixes abundam e os barcos navegam formando um cenário de harmonia e paz. E com olhar carinhoso para a s flores, sentindo o charme de seus perfumes; para o céu, ainda adormecido, embalado por uma suave brisa; para o mar, com ondas pequenas deitando -se na praia, espumosas e com leve chuás; saindo da fantasia de um sonho para a realidade e tudo ao som dos pássaros, estes inquietos, buscando seus alimentos na relva e nas árvores, a lguns com brincadeiras entre si e outros saltitando alegremente e lá no fundo, como se brotasse do mar, esbelto, forte, avermelhado, nascia o grande astro o sol, elevando -se ao céu como se majestade fosse e é, fazendo com que a natureza, por um todo, com ele acordasse. E então pensei... como somos abençoados por Deus. Elevei, pois, o espírito a um pensar divino e agradeci, mais ainda, quando retornei para a casa e encontrei a família acordada iniciando as obrigações da manhã. Deu fez e faz este universo de bondade, de certeza, de amor e de beleza.


186 Seguir para o trabalho, com es ta fantasia real é com certeza o lado bom da vida. Mocidade... esperança Tudo na vida passa por um processo de evolução, crescimento, amadurecimento. O ser humano, portanto, possui este perfil, nasce aprende a andar, falar, pensar e a conhecer os sentimentos de alegria e de dor. Após vem a formação da personalidade. Ao atingir a mocidade, idade que acelera o direito de independência, procura criar uma autoconfiança de que seus argumentos, suas vontades, suas interpretações são efetivamente as credenciadas como as corretas. Entretanto, assim agindo, por vezes vem a incorrer em erros de somenos importância , mas também cai em contrariedades que podem ser fortes e de grande prejuízo. Contudo, por absoluta certeza, tenho na mocidade como a fase ideal, perfeita, emocionante de sonhos e de ideais. Estamos na época do modernismo, da tecnologia, da poderosa máquina que é o computador e da internet o que torna, inobstante a inteligênc ia desta tecnologia, um afastamento do jovem do que é belo no contexto de sua formação. As conversas pessoais passam a ser virtuais, a prática esportiva se detém em sentar em frente ao computador e interagir ali jogando qualquer tipo de esporte. A educação sexual, posto completamente permissivo no computador, torna este mecanismo um tanto quanto nocivo. É salutar, na minha visão, que por oportunidades, a família se reúna, desligando o computador, e em conversação sadia,


187 façam as reflexões que sejam convenie ntes, digam o que querem e o que não querem. Apresentem suas vontades. Ainda, que a mocidade procure no esporte outra forma de se comportar, pois assim estará melhorando sua condição física e participará de competições. E, é claro, no descansar do dia, apó s os trabalhos escolares, o bate papo pessoal com a família e amigos, a participação esportiva, estar com o computador se torna extremamente salutar. Posto então, com certeza a mocidade estará sendo motivada para um futuro promissor.

BOB... um grande am igo Em um determinado dia, ao entardecer, no final do ano de um mil novecentos e noventa, meu grande amigo Rubinho, artesão de elevada competência, tendo sua tenda de atendimento nas areias da Praia de Pântano do Sul, foi me visitar e me presenteou com um filhote de cão da raça Setter, de origem Irlandesa, caçador, porte grande e pelo longo, com a característica de ser ágil e ain da dotado de rara inteligência. Recebi o presente com muita alegria. Imediatamente, sem ninguém consultar, em atitude até antidemocrática, passei a lhe chamar de BOB. Com o tempo, todos concordaram com o nome e ass im se familiarizaram. Na época BOB ficava sob a responsabilidade de caseiros, vez que eu não residia na praia. Com ele, portanto, tinha contacto nas férias


188 de julho e final de ano. BOB foi um cão fiel, estimado pela família e pelos amigos. Em sua minúscula idade eu o levava ao costão e lá, choramingando, tentava ultrapassar as barreiras das pedras e com dificuldade vinha aos poucos conseguindo alcançar este objetivo. Ganhou então uma destreza muito grande. Ademais disso, desde cedo ia para a praia, época, pois, que não se proibia a presença de cão e prazerosamente tomava seu banho de mar. Às vezes, forte o calor, ia se banhar no período noturno. As ondas não se aprese ntavam como problema, eis que BOB pulava sobre elas como se gigante fosse. Era um animal magro, pois assim é a formação de sua raça. Suas pernas compridas lhe davam a vantagem de superar os obstáculos. Entretanto, como é realidade para todos os seres vivos , este querido cão de estimação alcançou a terceira idade e aos poucos foi se deixando le var, embora estivesse presente no dia a dia da família. Certa noite como de costume, passei a mão em sua cabeça e desejei-lhe uma boa noite. Ao acordar, quando fui ao quintal lá estava BOB deitado, sem vida, de olhos abertos e lacrimejados, como se estivesse em choro de despedida, olhando para o quintal onde gostava de estar brincando com as crianças, perseguindo gatos e entregadores, enfim o seu mundo. A perda foi grande e hoje quando a s ós estou, fechando os olhos, mentalizo BOB ao meu lado, junto com todos que o amavam, pulando as ondas do mar e outras saudades. Posso afirmar que BOB foi um cão incomum em razão de suas atitudes. Destaco, pois, que, quando estávamos tomando banho de mar e levantávamos a mão, como se pedindo socorro, este


189 mergulhava e mordia a mão da pessoa que buscava ajuda e a trazia para a praia, largando o socorrido somente quando na areia estivesse. Os turistas, encantados fotos batiam levando a i magem de BOB para outras cidades. Ainda, quando deitado, o chamávamos de “cara sem vergonha” e ele prontamente colocava suas patas sobre sua cabeça, como se envergonhado estivesse. Para pedir alimento, quando nos sentávamos, BOB colocava sua pata sobre nossa perna e olhava para outro lado. Era um grande pedinte. Seu olhar transmitia carinho e amizade profunda. E tantas e tantas outras manifestações do BOB fizeram com que ele fosse para mim e tenho certeza que para tantos outros, um cachorro amigo e inesquecível.

Mãe... que saudade Como é gratificante falar a respeito de minha mãe... CLARICE DA SILVA MENDES . Uma pessoa maravilhosa que manteve uma vida voltada para seus familiares, para o bem e para a cultura. Eu e o meu irmão VILSON MENDES, Presidente da Academia Desterrense de Letras, sabemos o quanto nossa mãe foi importante e como somos gratos a ela. Em meu Programa de Televisão, na T V Capital, Programa Toque Ilhéu, tive o prazer de estar com ela participando do primeiro programa e quando assumi como Acadêmico da Academia de Letras de Biguaçu, lá estava ela, brilhante, de sorriso, na primeira fila,


190 assistindo ao evento, assim como também estava por ocasião da posse de meu irmão, sendo inclusive homenageada. No dia do escritor – 26/07/2008 –, na aprazível praia de Palmas, em evento presidido pelo Presidente da Academia de Letras do Brasil (SC), Professor Miguel Simão, fui diplomado como Presidente Municipal de Florianópolis da Academia de Letras do Brasil, oportunidade em que estavam presentes meus filh os Michel e Nívea, Bianca e Alexandre, Lauro, Davi e Ana Clara, tendo a companhia de minha esposa que leva o nome de minha mãe...Clarice, tive forte sensação de que ela estava presente iluminando o momento. Em sua residência sempre acolheu seu familiares , ofertando bem estar. Como professora teve uma dedicação muito forte para com seus alunos, sendo respeitada e amada. E, quando Diretora do Grupo Escolar Lauro Müller, além do trato para com os alunos, ela incansavelmente atendia aos interesses dos professores e pais. Naquela época, os alunos tinham a obrigação de saudar a bandeira nacional, cantando o hino, todos perfilados em respeito, motivação esta que tive a grata satisfação de participar, eis que fui aluno do Grupo Escolar Lauro Müller. Nossa mãe e xerceu o Magistério por 47 anos, sendo de 1938 até alcançar a aposentadoria em 1985. Nascida na cidade (vila) de Camboriu, iniciou suas atividades como professora em Ibirama, vindo a encerrar sua carreira em Florianópolis, ocupando a Presidência da Associa ção dos Professores. Foi agraciada pela Câmara de Vereadores de Florianópolis e Camboriu.


191 Participava do Grupo de Idosos do Instituto de |previdência do Estado de Santa Catarina – IPESC e nas festividades gostava muito de dançar. As colegas do Grupo dos Idosos eram como se irmãs fossem. Com o falecimento de nosso pai, LAURO MENDES, a quem ela sempre teve admiração e dedicação, passou a viver sozinha, independente, cuidando de si, sendo, pois, uma verdadeira guerreira. Como colaboradora pessoal, na verdade sua amiga, tinha sempre presente LUIZA FARIAS. Mãe de VALDIR MENDES e VILSON MENDES, tendo dez netos e sete bisnetos a quem estava sempre dedicando carinho e atenção. Seu falecimento ocorreu no dia 11 de março de 2007, quando contava com 89 anos. Agora, e m plano superior, com certeza junto com nosso pai, suas irmãs, Altina e Zizi, ela está em sua plenitude junto com Deus... Todos nós que a conhecemos sentimos uma saudade imensa, harmonizada com o orgulho de ser ela CLARICE DA SILVA MENDES uma professora qu e marcou época, conforme assim bem define a reportagem realizada no dia seis de dezembro de 2006.

VANDA LÚCIA SENS SCHÄFFER Filha de Francisco Sens e de Olinda Thiesen Sens. Nasceu aos 22 de setembro de 1952 , em Taquaras, município de Rancho Queimad oSC. Fez seus primeiros estudos no Grupo Escolar daquel a localidade. Vanda, mais tarde, estudou como interna, no Colégio "Nossa Senhora", no município de Angelina -SC. Por motivos alheios a sua vontade, não concluiu os estudos. Pensou então, dedicar -se à música, mas em sua


192 bucólica cidade, não havia aula para tal. Além da música, gostava muito de ler. No seu primeiro livro intitulado "A DANÇA DAS FLORES" , publicado pela Editora Paulus de São Paulo, ela relata com veemência que a natureza é a sua maior fonte de inspiração. Em todos os seus contos e poesias, viaja -se por um mundo colorido, cheio de pássaros, flores e noites enluaradas. Hoje com aproximadamente cento e cinqüenta contos e muitas poesias de ótimo conteúdo, Vanda também está escrevendo três livros. Casada com Adilso Amo Schäffer desde 1972, Vanda tem três filhos: Keila, Mateus e Lucas; e duas netas: Beatriz e Heloísa. Além de escritora e poetisa, é comerciante. No entanto, com a publicação do seu primeiro livro, afirma que se abriram os caminhos p ara a sua vida literária. Vanda que é católica e temente a Deus. Diz ser apenas uma partícula em busca do seu Criador. Acadêmica: Vanda Lúcia Sens Schäffer Nascimento: 22-09-1952 Cadeira nº: 27 Posse: 17-12-1997 Título: Poetisa Endereço: Avenida Lédio João Martins, 543, Kobrasol, São José -SC Fone: (48) 3259-1711 E-mail/Site: Patrono: Mário Quintana Título: Poeta

ALGUÉM A PROCURA DE FELICIDADE Procurei a liberdade pois estava aprisionado por meu orgulho. Dos humanos sentia-me o melhor! Procurei a liberdade pois estava aprisionado por meu egoísmo. De tudo queria mais e melhor!


193 Na bebida procurei a liberdade. Aprisionei-me na embriagues! Nas drogas procurei a liberdade. Aprisionei-me na insensatez! Na prostituição procurei a liberdade. Aprisionei-me nas fúteis paixões. Perdi a dignidade! Na preguiça procurei a liberdade. Nela aprisionei o meu coração em perniciosas cobiças sem prosperidade! No roubo procurei a felicidade de possuir sem trabalho. Tombei qual a mais alta árvore de carvalho! Na noite procurei a liberdade. A encontrei escura fria e traiçoeira. Procurei-a em vão. A lua e as estrelas, somente tem para tanto permissão! Ah! Mas quando encontrei o Sol Maior notas rítmicas e perfeitas tocaram em meu peito a mais bela canção. Era a força brotara do amor e enlaçava o meu coração! Deixei seduzir-me por Jesus! Abri os braços em cruz. Hoje sou livre como o vento. Sou pássaro que vôo no espaço dos meus pensamentos. Livres, livres pensamentos


194 modificados pela liberdade que Deus me deu e me dá a cada momento! Não sou mais alguém a procura. Sou a própria liberdade. Sou liberdade em forma de criatura! 25/07/2001

ANJO DEFORMADO Fazendo caminhadas matinais que somam cinco voltas ao redor do Shopping. Oro. E em cada volta uma oração especifica e muitas inventadas na hora. Eis uma delas. Os meus pensamentos, os meus sentimentos, as minhas emoções e os meus desejos, Senhor a ti os entrego. Ao término dessa oração olhei para o céu e vi um anjo deformado. Logo pensei. “Que anjo engraçado”. Seus cabelos encaracolados. O rosto... O rosto de um lado era achatado. Uma asa era pequena a outra enorme. Na volta seguinte o anjo havia se modificado e na outra volta ele estava sem a asa maior, e parecia desanimado. A asa menor acenava para o mar.


195 Mas... o mais curioso deu -se com o rosto abriu-se uma fenda. Nitidamente vi que era uma boca implorando a Deus para que a humanidade de todo o mal a defenda. Continuo caminhando... E em todas a voltas continuo orando. Porém o anjo deformado que v i naquele dia jamais saiu do meu pensamento. Penso nele todos os dias... No entanto nunca mais o vi nas nuvens retratado. Concluo também não há necessidade. Há tantos ao meu lado interiormente deformados. E ... quem sabe não sou um deles. 11/09/2000

CRÔNICA DO BOM CAFÉ Levantei bem cedo, fui para a cozinha fazer o café, lembrei-me da minha filha que sempre diz: – Mãe, você está na idade da pedra. E sabem por quê? Porque não uso cafeteira. Pus a chaleira no fogo e, enquanto esperava a água ferver, minha mente trabalhava e esta crônica fez nascer. Obrigado, Senhor! Como preciso de Vós para, em mim, nascer a chama do amor. O fogo não mais para ferver a água.


196 Mas, o fogo que abrasa. O fogo que cada indivíduo deveria ter em sua casa interior. E... a chama, amarelo-azulada logo a água fez borbulhar. O café, mais gostoso em seguida pude saborear. Coadjuvantes do meu café, o leite quentinho e o adoçante eles inspiraram-me ainda mais. Não é tão raro, mas todos não têm café saboroso assim. Analisado poeticamente e degustado vagarosamente, originando esta crônica tão diferente. No entanto, muitos não têm café e jamais um pão com manteiga, isso já pela manhã. O restante do dia passam fome; são indivíduos excluídos da sociedade e errantes, vagu eiam no mundo chamados de vagabundos. E quanto a nós, que temos café, almoço e jantar, podem nos chamar do quê? Mui capacitados e sensíveis? Ou a nossa sensibilidade evaporou com as labaredas do desamor? Eis a receita do meu café; de um bom café. Água filtrada, pó de boa qualidade, leite também do melhor. E foi assim nesse entrosamento, um necessitando do outro, que o meu café ficou pronto. Então me transportei ao passado; visualizei uma plantação de café. Visualizei muitas vacas prontas para serem ordenhadas; prontas a repartirem conosco e com os bezerros o leite, uma das fontes de vida terrena, sustento primeiro. Visualizei também quem não tem o básico sustento. Concluí que nós, humanos, precisamos compartilhar até os talentos. Agradecer a Deus ainda é m uito pouco.


197 Colocarmo-nos à sua disposição e ajudar os desvalidos, é nossa obrigação. Não querendo dizer com isto que sempre devemos dar a eles o café pronto, mas ensiná -los a plantar. O que nós sabemos, eles querem aprender. Utopia não é, pois até o papagaio aprende a falar e a dar o pé. 04/11/2002

ENSOPADO Lá vai o pintainho recém da casca saiu. Contente piando vai... Nem sabe o pobre inocente que o seu fim será azarado reverter-se-á num frango ao molho pardo. Meses mais tarde... – Que delícia este ensopado! – Parabéns cozinheira! Ela escondendo a verdade se agita e ao pé do fogão grita. – Não me contento com elogios tenho saudade de ver o pintainho subindo a escada aos pius... Eis que de repente ouve-se do galinheiro um có-có-ri-có mui afinado.


198 Era um galo faceiro que de cima do poleiro cantava para todo o galinheiro. Surpresa geral à quem ali almoçava. Os que na rua passavam ouviam também o catar estridente. – Que galinho esperto! Por certo alguém o adotou como gente. E o papagaio falador fazendo o maior alvoroço bradou de alivio. – Graças a Deus que do meu convívio desapareceu o gato e o cachorro! 06/02/2003

VERA REGINA DA SILVA DE BARCELLOS Vera Regina da Silva de Barcellos denomina-se Vera De Barcellos como nome literário. Nasceu em Florianópolis , capital de Santa Catarina, em 1948. Suas atividades literárias aconteceram em 1996, quando começou a participar de entidades literárias em Santa Catarina. Inicialmente foi convidada a participar da Associação de Contistas, Poetas e Cronistas Catarinense, posteriormente como acadêmica da Academia São José de Letras, da Academia de Letras de Biguaçu e fundadora e acadêmica da Academia Desterrense de Letras, todas catarinense.


199 É membro correspondente das: Academia Municipali sta do Rio Grande do Sul, Aca demia Petropolitana de Letras, Academia de Letras Raul de Leoni, estas duas últimas da cidade de Petrópolis no Rio de Janeiro. Mantém com orgulho o título de Membro Titular do Clube dos Escritores de São Paulo e mais onze entid ades literárias de renome nacional. Editou em 1997 duas obras literárias “Na luz a dor da saudade tua (poesias e poemas já em segunda edição) e Cores poéticas em teu coração (Pensamentos, na quarta edição) e um DVD poético que acompanha suas apresentações literária e artística e em 2004 lançou juntamente com o escritor. Hugo Bessoni em Belo Horizonte -MG, a obra infantil “A ratinha vaidosa”. Hoje Vera De Barcellos colabora com sessenta e cinco jornais, revistas e boletins literárias e mantém um acervo de se tenta e cinco antologias literária, realizado junto a outros escritores de renome nacional. Sempre participando de concursos literário s contando hoje com dezenove prêmios e troféus em primeiro lugar, Menção Honrosa, Honra ao Mérito, classificação p or Destaque e outras honrarias de nível nacional. Para os próximos meses será lançada a coleção “Tia Vera” contendo nove obras infant is. Acadêmica: Vera Regina da Silva de Barcellos Nascimento: Não informado Cadeira nº: 34 Posse: 17-12-1997 Título: Não informado Endereço: Avenida Rubens de A. Ramos, 2 .082, Apto. 302, Ed. Belvedere, Florianópolis -SC CEP: 88015-701 Fone: (48) 3207-6888 / 9621-7660 E-mail/Site: vera.de.barcellos@gmail.com Patrono: Othon da Gama Lobo D’Eça Título: Poeta

VIDA DE POETA Vera de Barcellos


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Poemas e poesias Um Poeta a outros poetas que poetando fazem do verdadeiro “POETA” um monge na sua simples e infinita sabedoria.

Ah! poeta Ainda era madrugada, precisamente 2:45 da manhã, quando me acordaste com tua infinita inspiração para compor estes versos nas ondulações dos cantos líricos de outros tempos... Abri vagarosamente meus olhos espreguicei-me... tentando ainda continuar a dormir mas, tu, oh! poeta dos meus encantos, fizeste-me colocar meus pés no chão e, preguiçosamente, levantei -me para estender em linhas poéticas o que me vem á alma ! Canta pois, alma querida os deleites dos teus cantos despertos da aurora e vislumbre em tuas cadências rítmicas os mais puros sentimentos de outrora...

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Despertei na madrugada primaveril...

Poeta, sei que despertei de um sono profundo; que descoberto dos deslizes do tempo vem à tona todos os ímpetos juvenis das pequenas almas que percorrem seu s espaços, vislumbrando em cada canto de seus mundos as incessantes perturbações de seus novos pensares! Sei, que não é fácil dedilhar os pesares do dia a dia... Sei que não é simples colocar-se a descoberto aos incessantes olhos que vêem sem olhar na mesma direção os códigos morais que deslizam nas políticas inconformadas dos tempos. Diz o político com seus botões: Será o certo ou o incorreto? É correto saber colocar o ovo em pé? Nas vicissitudes da vida, um chapéu de palha voa ao vento, de quem a cabeça pertence? Ao ancião que vende quitutes na esquina ou ao jovem que busca outros empregos na boléia de um caminhão? Ah! poeta... segues poetando sem parar, pensando talvez que este não seja o teu poema, mas na poeira do tempo as linhas que se descobr em


202 fazem parte do rodeio do teu próprio mundo, fazem parte da tua própria descoberta... Entender que as almas que caminham juntas nas descobertas de si mesmas seguem o mesmo compasso dos sonhos inevitáveis do destino. Quem viu que o diga!

Hoje é teu dia...

Sei poeta que hoje é o teu dia, ou serão todos os dias da tua vida o dia de tuas descobertas ou as descobertas de outras almas... Tua inspiração como um bisturi médico dilacera vísceras para curar o mal ou quem sabe as mãos de um pedreiro que soma pedra sobre pedra para formar uma grande parede indiv isível quem sabe! Pingos pingados de uma saudade conta as contas dos rosários das ave -marias, ou o pai nosso de cada dia do pão de aluguel que na mesa fornece, ou o feijão de um bago só no tempero da água com sal fervendo na panela a dias! Ah poeta! Quantas viagens nos teus mundos,


203 já se conta mais de centenas talvez! Somos como o vento que apazigua os temporais ou as fagulhas que aumenta o fogo nos vendavais? Ah! poeta deixe nas linhas de tuas diretrizes o consolo que aumenta de dia e atemoriza nas noites os teus sonhos despertos da intuição. Canta poeta os teus sentimentos mais íntimos da pureza que tua alma de criança crescida deixa transparecer as luzes que sempre foram o néctar do mais puro mel!

Ah! poeta dedilha tua oração matinal rezando baixinho a outros poetas que seguem pelo mesmo caminho em direção ao sol! Chame poeta, teus companheiros da lida, deixe-os dedilhar nas linhas das tuas descobertas teus sonhos ínfimos de contornos s oletrados de mistérios, olhando jardins a descobertos! Sim poeta, hoje é teu dia, tua liberdade começa quando a do outro poeta termina. Sim quando termina... Se num mesmo festival de cantorias os poetas poderão um dia terminar suas poesias! Pois as poesias, poeta dos meus encantos, resistem ao tempo e ao espaço elas são infinitamente belas e eternas...


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--------000-----Simplesmente poeta!

Poeta, hoje é teu dia. Voas como as borboletas leves em seus vôos primeiros nos mais altos valseios de um d ança qualquer . Não preferes jazz, rock ou samba, somente dança de um compasso três por quatro para que tuas asas junto a outras possam delinear a frênesi dança dos eternos enamorados... Poeta, hoje desperta stes tão romântico, deixastes em teu lençol na ca ma os vestígios de uma noite de amor! Deixastes um coração cantando baixinho as melodias do encanto d’alma, sussurrando apaixonadamente teu nome poeta, anônimo inspirador dos trovadores dos tempos! Ah! poeta... teu vesperal desperta corações, faz saltar poesias... jardins de rosas... e as águas das mil correntezas... faz cantar passarinhos ... voar borboletas... contornar nuvens altaneiras... azuis no céu... e verdes mares do sul! Teus encantos poeta, encantam a muitos, namoricam a outros e apaixonam a tan tos... Teus dizeres poeta colorem sonhos, assumem diretrizes das almas que te escutam...


205 que se comprazem em atender o teu chamado para que seus corações não parem de bater neste mundo infinitamente belo de emoções e encantos ... Poeta... continue a dedilhar o compasso de tua própria dança e não deixes jamais de seres simplesmente um poeta do mundo... um poeta da vida... um poeta do amor! “UM POETA NESTE GRANDE UNIVERSO DE DEUS”.

Um caminho solitário, talvez!

Poeta, sei que caminhavas sozinho pelas veredas da vida, bisbilhotando outras vidas... ou espiando outras almas... Quem sabe! Somente olhando as almas em sua simplicidade, passando pela vida, dedilhando sapatilhas de balé, sapateando castanholas, ou picoteando rebolés de samba... Não importa poeta, para ti tudo é possível. Tens livre caminho nas curvas que a vida dá... Tens livre conduto nas fronteiras de outros mundos... Tens passe aberto na s portas de todos os corações... Pois dedilhas em tuas linhas


206 toda a euforia toda a candura toda a beleza toda a tristeza toda a amargura todas... todas as vicissitudes de todas as vidas... E não paras por aí... descobres em cada pouso da tua imaginação os contornos febris das almas que nascem sementes, germinam raízes e descobrem -se frutos maduros para serem corrompidas pelas maldades do mundo ou inebriadas pelos mistérios da vida . Oh! poeta... nas frases que compões trazes em teu próprio peito os cód igos que delimitam a sabedoria do Universo, para que todas as almas possam um dia conhecer as delícias de tua própria vivência em direção á luz e a sensibilidade de teu coração na força de um grande amor!

Hoje ainda é o teu dia! Hoje ainda é teu dia, poeta estás de parabéns! Acordei-te de mansinho para que teus sonhos coloridos não se diluíssem no sabor de um mero despertar... Hoje ainda é teu dia, poeta vislumbre em teu amanhecer o quanto já fizestes. .. Quantos já despertastes do seu sono eterno?


207 Quantos que enviastes a outros mundos... mundos de esperanças e sonhos... mundos de amor e descobertas... mundos de altruísmo e sabedoria... mundos eternos de poesia... Forme hoje se puderes, poeta um grande ramalhete de flores e envie a cada um daqueles que passaram por tua vida e ainda não descobriram que o verbo “AMAR” está intri nsecamente ligado ao verbo da eterna declinação “POETAR”... Dê hoje poeta, se puderes, as linhas das tuas poesias a outros poetas que parados em suas linhas dedilham dicionários a procura de novas palavras quando está na verdadeira alma do sábio poeta a simplicidade das “Verdades Eternas”... Poeta vejo que estas a amar... amando a poesia, poetar... poetando o amor! Nas tuas mais simples emo ções do dia a dia e na singeleza de hoje semente amanhã desabrochas em botões, flores de um mesmo ramo beleza infinita do teu bem querer!

A faceirice... Hoje poeta descobri tua alma faceira,


208 não da faceirice que o mundo conhece, mas da beleza que canta a natureza... A simplicidade da alvorada com suas matrizes coloridas, seus encantos e perfumes... O cantar das águas do rio cantando soltas sua liberdade nas danças ondulantes que vão... e vão... O vôo da cotovia que escutou na janela as juras de amor de Romeu e Julieta... O som das trombetas apaziguadoras dos doze da Távola R edonda... Das passarelas atapetadas, dos estadistas em busca da paz nas fronteiras da Terra ... O grito saltitante do homem que vem ao mundo para descobrir em si mesmo a sabedoria de tudo... Ah! poeta, este é o teu lema, descortinar nas linhas de tuas emoções as descobertas das histórias... as tramas e os limiares das alcovas... os píncaros mais altos dos filósofos... as verdades encobertas das ciências novas... os planos sociais inconformados de muitos... e os objetivos arcaicos para si mesmo... Conta poeta, hoje é teu dia. Sabes, porém que todos os dias sempre serão o teu dia.


209 Pois a tua liberdade não se restringe a dias, mas à eterna sabedoria dos temp os! Motivando almas... abrindo corações... traçando caminhos e iluminando com esperanças as noites escuras de outros viventes... Poetando, proseando, contando e estoriando espalhas o brilho estrelares do teu coração pelos caminhos eternos do teu sonhar!

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Na tristeza!

Hoje, poeta te vi tão triste. Estavas junto ao mendigo que mendigava dizendo baixinho, que tudo faria para descobrir em seu mundo o saciar da fome de todos... Queria descobrir em sua análise o teu coração que a ti já não mais pertence, mas ao mundo que de ti muito espera. Queria dedilhar a tua própria dança para contar aos seus pa rceiros a ligeireza das tuas idéias e a inteligência das tuas diretrizes...


210 Ah! poeta... e ali te deixastes ficar... Observastes então na quietude do teu coração o olhos ávidos que queriam te conhecer mais de perto, pois, analfabeto de pai e mãe, não conhecia as letras dos teus poemas... não conhecia a singeleza das tuas canções e tampouco o compasso de tua própria sinfonia... Mas tu, oh! poeta com toda a tua simplicidade olhastes as estrelas no céu , pois teto ali não havia... sentistes em tuas faces a brisa fria da noite pois estavam a descoberto... respirastes o cheiro azedo do suor pela falta de banho no corpo dele... tomastes a fraca refeição do pão e água borrenta de um ralo café, e com os dedos envolvendo uma lata velha aquecida olhastes fundo aqueles olhos nublados e vividos e te deixaste pousar naquela tão grande beleza e sabedoria, espelhando-te nas pupilas de seus olhos encontrastes a ti mesmo... Mendigo das dores do mundo... conhecedor de suas desesperanças... analisador de suas amarguras... avaliador de seus desconfortos... sedento da sua sede... faminto da sua fome..


211 E assim dedilhando um rosário das eventualidades infinitas adormecestes junto ao outro poeta da vida... E assim, na manhã do outro dia, seguistes teu caminho, intimamente sabendo que muito aprendestes com ele. E, lá ficou o mendigo, olhando-te a perder de vista dizendo para um só botão de sua malbaratada camisa... Segue poeta o teu mundo, e diga a outros poetas que fizemos parte das diretrizes do mesmo caminho, fizemos parte da mesma rota, contornamos as voltas dos nossos corações, eu com meus sonhos perdidos e tu, poeta, dedilhando em tuas linhas os perdidos nos caminhos... De todos aqueles que inconformados com sua vida não avaliam a riqueza que existe bem dentro do seu coração, um Universo de belos e desprendidos sentimentos... Amar a todos sem distinção de raça, credo ou cor! Estas as verdadeiras linhas do Universo de DEUS! E assim, quando o poeta pouco a pouco desaparecia no horizonte, o mendigo transformava -se em uma nuvem luminosa


212 que pouco a pouco subindo aos céus formava com outras nuvens a beleza que todos os poetas delineiam nas linhas de suas poesias! --------0-0-------

Eu sou...

És feliz? diria o poeta não se lembrando se é dia sem tira da sandália de couro cru olha o balanço da cigana andarilha... Lenço de seda e bola de cristal pulseira de ouro e brinco de argo las tudo pulsa o gingado da guitarra... Canta rouxinol o teu canto mavioso que contorne em lágrimas um coração em saudades... Das cantigas ao pé da fogueira nos rodeios das conversas ao léo... Tudo lembra euforia meditação e alquimia quantas alegrias... lembranças do meu dia de cigana andarilha... Cantante melodia que há em seu canto o rebordo de uma aliança de ouro... melodia dourada nos preâmbulos dos meus sonhos de mulher crescida...


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Sem querer...

Sem querer galguei os caminhos que ora descortinavam em flores de mil cores... Sem querer caminhei por atalhos de mil espinhos em direção a sabedoria transcendental... Sem querer tornei-me antes da hora um ermitão tão sequioso de conhecimentos Sem querer... continuei no caminho das flores de mil pétalas dos mil encantos e das mil lágrimas que unidos formam-se em bolas cristalinas que se encontram dentro do mar Onde? sem querer encontrar nos preâmbulos que a vida dá o toque angelical do sino da c apela... onde encontrar a alma que busca conforto em outro alma em direção da Luz Maior? Onde? Sentir dentro do peito o sibilar do toque de mil estrelas no recôndito escondido da alma que luta por sua libertação? Onde? sem querer ser... sem querer estar...


214 Sei o que sou... mas e o caminho que terei que percorrer , onde está? sim... onde está pois... não quero me perder! (nos momentos que a alma pede socorro)

Para outro poeta... Ah! poeta de outros tempos saboreia o vesperal de cantos que tua alma anseia em cantar... É este o teu lema, descortinando em prosas os anseios de tua alma que segue as linhas harmoniosas dos grandes monges de outrora. Não deixe a poeira da solidão obscurecer o sentido exato do que propusestes a fazer. Ah! querido amigo... também dos tempos idos! Lembro -me das nossas conversas na “Torre Alta”... tantas sabedorias e tantas alegrias... quantas descobertas... que carinhosamente passavas ao compasso do meu coração que bebendo cada palavra... cada evocação... sentia-me voar aos píncaros mais elevados dos meus sonhos! Hoje um despertar assola minha alma e pingos pingados de uma saudade


215 brota em meu peito, despertando jardins de diferentes encantos... perfumes de flores que sempre depositavas em meus cabelos que desciam em cachos pelos ombros da mais clara alvura dos lírios dos campos... Meu poeta... desfaça -se em folhas coloridas e desperta nas páginas em branco tua alma em cantoria.. Espero-te nos jardins entrecortados de ciprestes... nas alamedas dos grandes valseios.. . junto as estrelas dos nossos sonhos... Até lá... um sopro de outono em teu coração ao rumo na transcendência nas Pontas do Grande Triângulo! (Uma alma poeta para outra alma que canta a sinfonia da Luz que não se apaga...)

PINCELADAS DE CARINHO Percorrendo as noites de inverno durante meus devaneios noturnos, verifiquei que as brumas em pensamentos assolavam todos aqueles que defraudavam bandeiras arraigadas do passado . Triste pensar... triste ilusão.


216 Como poderia falar clarame nte a todos a qual visitara no meu palco psíquico.. das minhas viagens fora do corpo? Num bela tarde onde o crepúsculo banhava a minha Ilha de Sol e Mar raios violeta tocavam minhas aspirações no meio de outras tonalidades douradas veio-me o livro que ora está em vossa mão. Trazendo-te raios semelhantes para expandir flores de alegrias, paz e equilíbrio em vossa tão bela vida. Pense belo... e raios de fortalecimento e amor serão jorrados em vosso caminho... Tendo a certeza de que o vosso Eu Interior brilhará com o fulgor do Grande Sol Central... Creia firmemente que tudo na vossa vida se resolvera quando vossos pensamentos mudarem para um positivismo maior e mais persistente... O grande Criador provera vossa necessidade Basta crer... Vossa vida sempre será a dimensão de vosso pensar... Vossa vida será a extensão de vosso amor... Creia firmemente em vosso poder de transmutação... E seja feliz consigo mesma e com tudo que te rodeia. Seja simplesmente feliz... E tudo a vossa volta se modificara porque você mudou seu plano transformando seu Eu Superior na direção do AMOR!


217 Como tecer o brilho das estrelas? Como falar a linguagens dos anjos de Deus? Como colorir a vida com as cores do arco -íris? Como beber da água viva que levaremos a nossa ressurreição!

UM ESTADO INTERESSANTE um estado interessante... que estado?... um estado de humor, de sabor... das estações do ano, Ah! quantos estado... e lá vem ela, alquebrada pelo tempo, no estado da idade, tão interessante, nas brumas do tempo... da saudade.... Ah! quanta saudade... dos caminhos... dos atalhos e entulhos... nas estradas da vida... queria que fosse tudo tão limpo, Ah, mundos... seria tudo tão belo tão maravilhoso Neste estado interessante onde as rugas aparecem iluminando teu rosto... cada uma marcando a sabedoria de tua alma!

Ah! que estado interessante... onde o brilho das estrelas são marcados pela singeleza do teu sorriso cansado, do brilho de teus olhos opacos,


218 mas teu coração... oh! qu e estado de amor, de agrado incandescente... de ternura... quantas... quantas mil, na soberania dos teus anos, a singeleza sabia dos grandes monges... em direção da Luz que não se apaga...

Ah se todos nos pudéssemos alcançar os seus frutos maduros. quem sabe,,, um dia eu saberei Estarei neste mesmo estado interessante... no cintilar dos ventos... nas cores do por do sol que sempre nasce... na sempre claridade das esperanças ... Ah! quando estarei neste estado interessante quem sabe... ele sabe... já o conhece... eu sei!

(na certeza de novas descobertas)

VILCA MARLENE MERÍZIO Vilca Marlene Merízio (Brusque, Santa Catarina, Brasil) vive em Florianópolis há 45 anos. Professora Doutora em Literatura Portuguesa (Universidade dos Açores, Portugal, 1992; Mestre em Literatura Brasileira (1978) e Licenciada em Letras (1973) pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professora de Língua Portuguesa e Literatura (1963 -2008). Idealizadora e Coordenadora Geral do Programa MISSÃ O AÇORES 2008 e Missão Cultural Santa Catarina Açores/Portugal e Comunidades Lusófonas (2001-2007). Criadora e Coordenadora Geral do Projeto


219 Representação Catarinense no II Encontro de Lusofonia e Açorianidade e atividades Paralelas nas Ilhas de São Miguel e Graciosa, Açores (maio de 2007) e do Projeto Missão Açores II – 2008. Criadora e Coordenadora do Programa Cultural Açores -SC para o Festival do Mar, Florianópolis, 1996. Idealizadora e Professora de Cursos de Harmonização P essoal, Açores/Portugal (2002 ) e em SC (2000-8). Conferencista e palestrante de congressos, colóquios, painéis e outros. Membro de júris de doutoramento, mestrado e graduação. Revisora de livros. Atualmente, Professora aposentada da Universidade Federal de Santa Catarina, Vice -Presidente da Academia São José de Letras. Membro da Academia de Letras de Biguaçu. Diretora Institucional da Associação de Amigos da Casa dos Açores -Museu Etnográfico de Biguaçu. Sócia-fundadora da Associação dos Poetas Livres de Florianópolis. Livros publicados: A História de Um Amor Feliz. 2004. 375 p. Açores... De memória . 2004. 122 p. Quase... de Corpo Inteiro . 1996. 190 p. Redação: uma Experiência de Ensino -Aprendizagem. Brasília. Ministério da Educação e Cultura, 1980, 180 p. (Prêmio MEC 1979). Publicações em Antologias, Jornais e Revistas Literárias. Artista Plástica (1993-2008).

Acadêmica: Vilca Marlene Merízio Nascimento: 05-01-1944 Cadeira nº: 23 Posse: 18-12-1996 Título: Poetisa / Escritora Endereço: Rua Irineu Bornhausen, 3 .770, Apto. 203, Bl. 2, Ed. Agronômica, Florianópolis -SC CEP: 88025-205 Fone: (48) 3224-4031 / 9971-2285 E-mail/Site: vilcamerizio@hotmail.com / vilcamerizio@yahoo.com.br Patronesse: Lausimar Laus Título: Poetisa

“EU TAMBÉM ESCREVI CARTAS DE AMOR” 61 61

Conferência proferid a pela autora em maio de 2008, no 3º Encontro de Lusofonia e Açorianidade, na Lagoa, Ilha de São Miguel, Açores, Portugal,


220

Nasce um poema E ao contrário dos regulamentos Sei porquê O porque dum nascimento

em representação da Academia de Letras de Biguaçu, ao abrigo do Protocolo de Intenções de Cooperação Mútua entre o Governo do Estado de Santa Catarina e o Governo Regional dos Açores (2007) e com o patrocínio da Secretaria de Estado da Cultura, Esporte e Turismo do Governo do Estado de Santa Catarina , dentro das comemorações dos 260 anos da imigração açoriana e madeirense em Santa Catarina.


221 Misterioso quanto um sedimento De longo amor e desejo . José Martins Garcia

Era outubro de 1987. Nove de outubro. Num restaurante, em Ponta Delgada, minha família e eu fomos apresentadas pelo então Reitor da Universidade dos Açores, Prof. Doutor Machado Pires, ao Prof. Doutor José Martins Garcia (JMG) 62, que, durante cinco anos, na mesma universidade, iria me conduzir aos caminhos da percepção literária, instigando-me, com coragem e perseverança, a transcender os mistérios que permeiam mar , céu, terra e gente das ilhas açorianas. A chave capaz de abrir as portas imateriais das ilhas, descobri mais tarde, não estava com ele, não estava comigo, mas pairava dentro de nós, e sobre nós, na palavra dita, no olhar hospitaleiro e nos gestos de amizade de toda a comunidade que me recebia. A constatação, depois a compreensão, de que, entre brasileiros e açorianos, existiam maneiras diferentes de pensar; a aceitação de um silêncio que, às ve zes, dizia mais que um discurso; a imersão na arte de viver d os quantos, 62

Também escritor, poeta, contista, romancista, ensaísta e crítico literário. Sobre JMG, David Mourão -Ferreira escreveu: o “escritor mais completo e mais complexo que no último decénio que entre nós se revelou” (Jornal Signo, 1987).


222 amando ou odiando estes cumes emersos do Atlântico, aqui viviam e repartiam comigo fraternalmente a mesa e, carinhosamente, os laços de família, tudo isso permitiu-me conhecer e vivenciar a poesia destas ilhas. Mas foi com o Professor JMG que a prendi a ver os Açores com o distanciamento necessário para que nele coubesse Portugal com sua história e conquistas, mas também com seus desvios e desvarios, levando -me a amar a Literatura Portuguesa, incondicionalmente, a partir de leituras a que só ele era capaz de me fazer ascender. Antes de vir para os Açores procurei no Pequeno Roteiro da História da Literatura Portuguesa (1984) informações sobre o professor -orientador com quem iria trabalhar nos dois anos de pesquisa, pensava eu, que teria pela frente. Lá estava, à página 282: JMG, autor de “exegeses inovadoras, ensaísta de sólida preparação humanística e ficcionista de largos recursos, mas polemista de temível mordacidade. A par disso, ainda no Brasil, o Prof. Machado Pires já havia advertido: “JMG é o melhor professor que temos no âmbito das Letras, mas o mais complexo, o mais difícil de se lidar...” No entanto, JMG professor apresentou-se para mim e para meus filhos com tanta solicitude e amabilidade, que o receio que eu sentira antes de conhecê-lo pessoalmente desapareceu diante do homem extremamente gentil que se colocava à disposição para auxiliar-me naquela longa trajetória de meia década de permanente orientação nos estudos da cultura açoriana e da literatura portuguesa. Muitos dos que me dava m as boas vindas referiam se ao Prof. Martins Garcia como um profissional altamente qualificado, mas de uma sensibilidade que o levava a perder freqüentemente a paciência em razão da sua forte tendência à irritabilidade. Contavam -me sobre a contundência de suas críticas, a veia satírica de suas personagens de ficção, a linguagem quase sempre direta e acutilante dos seus


223 narradores e sobre a ironia que constantemente o acompanhava nas suas falas. Na ocasião, senti o quanto os seus colegas, apesar da descriçã o crítica um tanto severa, admiravam-no, respeitando a sua maneira de ser, e quanto alguns dos seus alunos, talvez por não o conhecerem suficientemente, temiam -no. Contudo, no meio acadêmico, era comum, a todos que com ele conviviam, o reconhecimento de sua gentileza e de sua cordialidade no trato. “Conversava amenamente, fossem os interlocutores simpáticos e tivessem com ele afinidades. Mas era raro vê -lo engajado numa troca”, escreve Onésimo de Almeida (2001/04:33). Diz ainda: JMG “Quedava -se freqüentemente pelo assentimento reverencial nas aparências, na maior parte das vezes em polidez retraída”. A respeito da permanência do poeta nos Estados Unidos, Almeida relata: “Precedido pela fama de senhor de uma têmpera de ebulição freqüente, forte e em pouca ág ua, nunca ninguém viu Martins Garcia levantar a voz, zangar -se, polemizar, maltratar quem quer que fosse. De uma lisura impecável, chegava a parecer subserviente no seu saudar de cabeça inclinada e pasta na mão. As secretárias [na Brown University (Provide nce, Estados Unidos)], conheciamno por São Tomás de Aquino”.

E assim, JMG, um “intelectual em estado puro”, como o definiu Machado Pires 63, era um 63

“Intelectual: talvez também aquilo a que o seu mestre Nemésio chamava ‘o intelectual em estado puro’ – o que se refugia no luminoso percurso espiritual das idéias e das palavras, com alhe amento total dos prazeres ‘terrenos’ das máquinas e das tecnologias, que não sabe mexer em aparelhos, não tem carta de condução, não se importa com inventos e últimos modelos do que quer que seja” (Pires, Machado, 2001/04:177).


224 complexo misto de serenidade e de vulcão à flor da pele 64, escondido por trás da amabilidade de um comportame nto social impecável e de um caráter profissional que provocava inveja. O seu mundo particular “era mesmo de um outro reino” (Almeida, 2001/04:115), não importando se vivesse nos Açores - Pico, Faial e São Miguel, se em Lisboa, França ou Estados Unidos, lu gares que, de algum modo, fizeram parte do seu universo profissional e literário. JMG mesmo justifica-se: “a ficção, sendo distinta da realidade, tem profunda relação com a realidade”, talvez, passasse a impressão de uma procura constante de uma outra vida , de um outro lugar. A esse respeito, Vamberto Freitas (1992:34) confirma: “quanto mais andou, mais sobre si se fechou”, embora essa solidão voluntária tenha sido a origem de “uma das mais enclausuradas , mas originais, vibrantes e desmistificadoras obras l iterárias portuguesas da actualidade [...]. “É no acto de escrever que Martins Garcia volta à sua comunidade” (Freitas, 1992: 37). De volta aos Açores, em 1984, seu último refúgio, JMG não reconheceu nas ilhas o seu mundo original. Então foi cada vez mais se “fechando no seu imenso mundo interior”, aceitando a situação de exilado: exílio criado por ele mesmo, como costumava dizer. E se em Contrabando Original dá voz a um personagem que diz: “Sim, nasci numa ilha e perdi-me no mundo”, é numa entrevista con cedida a Vamberto de Freitas que confirma: “Sou um exilado, é certo. Mas um exilado por temperamento”. Logo depois, confessa: [...] eu próprio criei o meu exílio. O mundo circundante não me bastava... Permanecer nele 64

Ler a obra de JMG, segundo Vamberto Freitas (1992:33), “é ler com sorrisos na cara ou então a rir a sério. São páginas que contêm, sempre, uma espécie de escuridão cômica, de onde o medo nunca se retira por completo, e nas quais nada e ninguém é sagrado, tudo e todos são alvos a atingir, inclusive o próprio narrador. Está -se aqui no inferno, mas sem nunca se perder o humor – é a vingança (aterrorizadora) do homem pensante e artista moderno”.


225 seria resignar-me à monotonia. Sair de le seria (como foi) uma aventura marcada por muito sofrimento. [...] de certo modo, quis fazer coincidir a vida com a imaginação. Claro que isso é impossível. O resultado, quer me acredite quer não, foi o divórcio entre a minha vida quotidiana e os mundos que inventei. Rigorosamente falando, não há nada de autobiográfico nos meus romances, nos meus contos [...] Só na poesia ‘lírica’ o ‘eu’ que sinto se exprime sem a invenção de um médium. (FREITAS, 1992:119).

E esse exílio procurado pelo cidadão foi traduzido pela dor da ausência, no signo da saudade que o poeta dizia sentir. Por isso, diz a Freitas (1992:127) “estou aqui, mas não me encontro aqui”. (E teria vivido no Brasil, não tivesse ido tão cedo, embora para os amigos mais próximos, depois da sua aposentadoria (2001) afirmasse não mais poder viajar.) Talvez, o que o fizesse afastar -se das suas ilhas fosse a têmpera inflamada que, à falta de compreensão dos conterrâneos, fazia-o crer que o problema da não aceitação dos seus livros, da indiferença, ou me smo do esquecimento sobre o que havia escrito – poucas foram as críticas publicadas e menos ainda as frontalmente orais – devia ser relegado à estética da recepção. Na ilha, este mundo limitado, mas infinit o, como define Fernando Aires, também outros amigos foram percebendo que JMG abrigava-se, sozinho, no seu imenso mundo interior. Onésimo (2001/04:43) observa que nesse mundo de (aparente) paz e sossego o escritor parecia ser feliz e, “quando desse mundo interior emergia, tinha uma enorme facilidade em e ntrar em colisão com o dos outros”. Envolvia-se, por vezes, com o público (chegou mesmo a ser Vice-Reitor da UA, mas isso lhe ex igiu tremendo esforço), quando lecionava ou proferia palestras e isso o fazia com erudição e prazer. A acutilância da sua inteli gência extravasava em brilho nos momentos serenos, ou explodiam


226 em sarcasmo cruel quando algo o a cicatava. De todas as maneiras, “Os alunos bebiam -lhe o verbo e os ensinamentos”, disse dele Onésimo (2001/04:44), e confirmo eu. Bem, naquele nosso primeiro e ncontro, nem mesmo havíamos acabado o almoço (ele sentou -se à minha frente) e questionou-me a respeito do tema da dissertação que eu pretendia escrever. Falei do meu interesse em estudar uma autora açoriana (Natália Correia, evidentemente). Ele sorriu, sem aprovar ou contradizer a minha idéia. Do que ele me disse, ficou na minha memória mais ou menos isso: Escrever sobre a Lite ratura Açoriana é árduo demais para quem não viveu em Portugal. O ser açoriano, na sua complexidade existencial, exige que o pesquis ador observe mais do que hortênsias, bandeiras do Espírito Santo e marchinhas de São João. Um bom trabalho de pesquisa exige tempo e dedicação exclusiva. Se você veio para voltar antes de cinco anos (eu pensava ficar dois), nem procure saber onde fica o interruptor de luz da sua casa. Volte. Quem está aqui só de passagem não conhece as ilhas nem os açorianos e muito menos conhecerá a sua literatura. Adiei o estudo sobre a Natália e fiquei. Fiquei, não só cinco anos, mas muito mais e cá ainda estou... P orque, como diz Daniel de Sá, é saindo das ilhas que nelas se permanece. A primeira lição recebida de JMG surtiu efeito: para falar da exuberância de hortênsias, que embelezam os Açores, há-de-se, antes, amar o solo em que elas vicejam e reverenciar as mãos que as transplantaram; para saber da sua essência, é preciso igualar -se à seiva que as fazem florescer pelos caminhos tortuosos, como se cascatas de luz abençoassem as escarpas negras destas ilhas. É preciso amar, mesmo com toda a dureza e negritude, “estes ricos penhacos”, como dizia a Sra. Dona Lili Pavão. Então, aprendi que os Açores não eram somente a beleza das curvas ao longo da costa onde o mar disputa atenção com a


227 estrada ladeada de plátanos a ensombrar camélias, beladonas e azáleas. Os Açores não si gnificam apenas a presença das criptomérias, alinhadas pelos campos e montes, onde vaquinhas pretas com manchas brancas, também alinhadas, ficam pastando, sempre igual, a ruminar despedidas... Ficar na ilha, não era somente ser o viajante maravilhado diante dos pores de sol cheios de magenta, dourado e ciclame... Não, os Açores não eram, e não são, só vento, só mar (e aqui lembro Antero)... Umidade excessiva, austeridade. Aqui existe angústia... Solidão! Se é de despedidas que a sua gente se constrói, man têm-se, os que aqui ficam, de reencontros, de alegrias, de felicidade por se estar junto, de conversas longas nas mesas de uma esplanada ou de um café, das histórias mil vezes recontadas... Sem pressa, com ternura, olhos nos olhos... Coração aberto, mão estendida... E para quem chega, hera nça dos que daqui partiram, os Açores também não são o “cativeiro geográfico” que tanto se promulga. São antes, o ponto de repouso, o abastecimento da alma que anseia por silêncio e cultura. A certeza de que a Terra de Lídia se estende por todo o arquipélago faz o estrangeiro ir ficando, ou quando obrigado a regressar ao seu país, retornar às ilhas porque os laços se estreitaram e o coração já não mais abandona o seu novo paraíso. A alegria que hoje perceb o nos açorianos, essa agitação interna que os leva, entre eles, a conver sar alto, a dizerem da sua vida; o tom irônico, as observações aguçadas, a franqueza..., mas também a solicitude, a amizade franca e hospitaleira apontam, hoje, uns Açores mais abertos ao progresso e d e mãos dadas com a evolução que determina a sua identidade. JMG tinha razão. De nada adianta o pesquisador preocupar -se apenas com as variantes lingüísticas de cada ilha nem com o que lhe é


228 familiar na cultura. Isso não garante a açorianidade. Para se ter uma literatura que fuja do regional é preciso mais. É preciso universalidade sem deixar de ser original. Os aspectos geofísicos e históricos contam, mas acrescem -se a eles a psicologia individual e coletiva das pessoas que habitam a região, a filosofia de vida, a moralidade e os costumes, a sua abundância e a sua miséria, é aí, então, que se solidifica a identidade integral do território que se abre à globalidade das pesquisas. E a sua literatura assim pode ser lida e apreciada por todo o mundo porque conté m, para além da sua especificidade, os mesmos códigos da universalidade humana. E foi refletindo sobre tudo isso que consegui compreender o que José Martins Garcia pretendia que eu alcançasse a fim de melhor estudar a Literatura. Senti, então, ser necessário à pessoa interessada no tratado da alma portuguesa, presente na consciência das ilhas, um tornar-se resistente e leve como a lava e, ao mesmo tempo, sensível e doce como a aragem que passeia, no verão, entre as faias e o louro. Mas também suportar a um idade e os vendavais. E as distâncias. E as saudades. Se as ondas do mar beijam as rochas e se perpetuam na espuma, é no movimento das marés que o planeta se compõe e recompõe. Apreciar a Literatura Açoriana, que não deixa de ser portuguesa, por sua univer salidade, é saber ir e voltar. É saber que ainda há homens no mar... e sereias em volta das ilhas. É aspirar no ar da madrugada a alegria de quem volta e sabe que há alguém à espera.. É apreciar o verde e o azul, mas também o negro. É rir e chorar. É ter n a polarização natural da vida o contraponto do sonho. É resistir... Mantendo, não na vida, mas apenas na memória, a dor do isolamento e a nódoa da partida. E, então, pela literatura, voltar a esse tempo mágico onde tudo é permitido, porque expressão de alma sofrida, vivida.


229 E essa luz dos Açores, tão inco nstante e variada, a mesma luz que cativa o estrangeiro é mesma que, às vezes, perturba o ilhéu. Essa luz das ilhas, esse tempo baço incomodava JMG. Ouçamo -lo: A luz dos Açores, mesmo em dias de sol, é um a coisa aquosa, um derrame que pesa nas pálpebras. Melhor do que eu o escreveu Raul Brandão, encantado, sim, mas farto dessa atmosfera de limbo. Essa atmosfera pesa na escrita. O clima não explica nada, claro! Mas quem nos garante que não tem a sua quota -parte de responsabilidade na atmosfera social dos Açores? E, por conseguinte, na escrita cercada por essa sociedade? (GARCIA, 1999:68)

Para pouco mais adiante explicar: “Não é o efeito directo do clima; é a translucidez das muitas teias que se acumulam em torno da privacidade” 65 que me fazem querer respirar o ar de fora. Referia -se ele ao convívio das ilhas, ao conhecimento natural, quase obrigatório: ler um escritor conterrâneo e contemporâneo era quase ver d evolvidos nas páginas escritas os reflexos da vida comunitária 66. Questiona Onésimo Almeida (2001/04, p. 42): “Mas ou a literatura é só fingimento ou há uma ligação profunda (obviamente nem sempre coincidente) entre as vozes dos narradores da ficção de MG, do poeta e de JMG himself.” Tzvetan Todorov mesmo dizia que “uma leitura ingênua dos livros de ficção

66

“As marcas da vida do sujeito empírico, dissimuladas pelo s artifícios de que dispõe a literatura, procuram evidenciar -se, sem que, no entanto, cheguem a impor a sua soberania. Contudo, elas lá estão, interferindo na escrita, deixando impressas as vivências do criador” (DUARTE, 2001/04:109). E na mesma linha, o parecer de Rui Dores (1987: 4): “ a ficção de Martins Garcia situa -se entre uma dimensão da vida vivida e uma dimensão da vida recreada. O que prova, pelo menos, que o ofício de escrever é indissociável do ofício de viver” (Idem: 125) .


230 confunde personagens e pessoas vivas” (MOURÃO FERREIRA, 1976: 89). Carlos Ventura (2001/04:190), ao lembrar o primeiro encontro com JMG, em Lisboa, aponta os possíveis riscos que se pode incorrer na pro cura de “homologias, entre a produção de um autor e a personalidade do homem” que escreve. No caso de Martins Garcia , diz ser possível encontrar muito da voz docente coincidindo com o cerne, por exemplo, de Linguagem e Criação (1973), a sua primeira obra publicada. E eu digo que muitos pensamentos do ensaísta estão revelados sob forma “quase teórica” em (quase) teóricos e malditos (1999). O fato de JMG afirmar que os seus livros vão se fazendo, sem um plano estruturado, é conceito conhecido das pessoas que com o professor tiveram o privilégio de dialogar sobre o processo literário de criação. A mim, por diversas vezes, ele confessou construir suas obras passo a passo, sem esquemas a cumprir, a escrita fluindo ao sabor da memória. Muitas vezes, ouvi-lhe dizer que o “texto quis ser assim e eu não pude contrariá-lo”, justificativa que deixou registrada em seu último livro no capítulo “Uma aposta em três postas” (1999:61) em que se refere à POLIFONIA (destaque do autor67), recurso amplamente por ele utilizado no romance Imitação da Morte (1982). “Eu também fui revolucionário... ‘Eu também escrevi cartas de amor’...” Assim começa JMG um dos parágrafos do capítulo “Sobre Crítica Literária”, da sua última publicação em vida, o (quase) teóricos e malditos (1999:27), a lembrar Allain Robbe Grillet (a destruir a ‘alma’ da burguesia) e Fernando Pessoa, (talvez mais para justificar a sua incapacidade revolucionária do que pelas cartas de amor de Fernando a Ofélia). 68 Mas, pelo sim, pelo não, achei 67

[...] “POLIFONIA (caixa alta quer dizer que não é o que julgam...)” (GARCIA, 1999: 61). 68 Ver Mourão-Ferreira, 1978.


231 aí o argumento, o filão que me levaria a desenvolver estas páginas, cujo objetivo único é o de revelar o caráter digno, leal e compreensivelmente humano, de um açor iano torturado pela distância, pelo isolamento voluntário a que se dispunha e, segundo o seu sentir, pela falta de reconhecimento público à arte do seu trabalho literário .69 Um homem que, durante a minha permanência em Portugal como sua orientanda, soube conservar -se ao leme do processo que me levaria ao doutorado. Ao cabo da árdua tarefa oficial, quando eu já retornava à minha pátria, tornamo-nos grandes amigos, a ponto de confiar -me alguns dos seus segredos, que, sabia ele, sei eu, iriam ser revelados com o tempo. Por isso, sinto -me à vontade, já que a mim pertencem, por doação do autor e autorização expressa da destinatária, dar a público algumas das cartas assinadas por JMG, no período que vai de novembro de 1992 a outubro de 1998. Fernanda Leitão, no artigo “O meu Amigo da Criação Velha” (Açoriano Oriental, 7/12/ 02:16), poucos dias após o falecimento de JMG, ao e xaltar-lhe a coragem política de outrora, refere-se ao depauperamento físico em que encontrou o amigo, dezoito meses antes do seu falecimento: a “palidez, os olhos inundados de amargura, a linha dos ombros a gritar desamparo. Como se tivessem passado sobre ele 30 anos de trabalhos forçados”. E indaga, deduzindo: “Que tratos de polé teria sofrido o artista, homem de superior inteligência e rectidão de caráter, sabe Deus a que mediocridade teve de obedecer em silên cio”. E a solidão, sabemos nós, rondou a sua alma, principalmente nos últimos anos de sua existência. Assim é que, lendo algumas das suas cartas particulares, fortalece-se a impressão e a (quase) certeza do seu imenso esforço em continuar em Ponta Delgada em 69

Onésimo Almeida (2001/04: 35) confirma: (Martins Garcia queixava -se do silêncio a que o votavam, a ele e a seus livros).


232 razão dos abalos emocionais sofridos na d écada de noventa (um divórcio litigioso), da debilitação física que lhe foi corroendo a capacidade de escrita, do isolamento a que se permitia, da alma em sobressalto por razões muito pessoais. A primeira carta é datada de 4 de novembro de 1992, e aqui a transcrevo com o sublinhado e as caixas altas do autor, suprimindo apenas o nome próprio da destinatária, em respeito à memória de JMG, que a todo custo manteve, por muito tempo, esse relacionamento em segredo. Minha querida; meu Amor [...] – só no fim reparei que só te chamei de meu Amor) . As duas páginas lamurientas que te escrevi – e destruí – estavam datadas de 1 e 2 do corrente. Ontem, 3, após um dia de imensa angústia, ouvi a tua voz. “Deus te proteja!”, também to digo. Lembras -te do dia de Agosto em que formulaste este mesmo voto?... Há quanto tempo, meu Amor! O que torna tão difícil o acto de escrever -te resulta certamente da inquietação que me atormenta de maneira contínua. Queria enviar -te umas palavras onde houvesse algo belo... e não consigo, não vou conseguir. E, contudo, eu recordo momentos belos cujo centro és tu. Mas agora, dada a tua ausência, tudo parece irreal, amargo, sonho desmentido por um despertar cruel, frio, solitário – talvez como o tempo e as pessoas que me rodeiam. E é isto. Recaio no mesmo estilo. Para ser coerente, deveria destruir estas linhas. Mas, então, nunca te enviaria uma única carta. Tenho o espírito desmantelado, o coração... Ah, o coração! Que é que posso dizer dele?... Há uma semana ainda aqui estavas. Gostaria de dar-te algum ânimo porque sei que vives momentos atribulados. E , no entanto, só sei


233 queixar-me porque não te tenho junto de mim. Creio que ultrapassei o Amor e que estou apaixonado. Ou tonto de todo. Os apaixonados não serão egoístas, ao contrário dos am orosos? Eu, apaixonado, volto-me para o meu sofrimento. Quero dizer: volto-me, principalmente, para o sofrimento causado pela tua falta. E acho que pratico uma terrível injustiça, porque afinal o meu amor por ti te coloca acima (deveria colocar acima) dos problemas da minha vida íntima. Ou será que não consigo fugir ao paradoxo? Ou será que não digo, de perturbado, coisa com coisa? O teu rosto, as tuas mãos... As águas, a luz, as ondas (sete?), a rosa... Mas quando foi tudo isso?... Sinto doer o coração. Si nto os olhos teimosamente húmidos. Em vez de reter a beleza das recordações... Lá estou a bater na mesma tecla! Meu Amor! Afinal é o que gosto de exclamar: meu Amor! Sei que, por mais ruas que percorra, não há agora um acaso que me faça cruzar contigo. Por favor, perdoa este tom. Gostaria tanto de imaginar o teu regresso. Tenho esperança, mas não tenho imaginação para tanto. É horroroso o quase nada das nossas duas vidas! Queria falar-te de tanta coisa... Mas – agora reparo! – há uma espécie de ‘censura’ a impedir-me as palavras que te queria dedicar. Ou então amo-te demais: um sentimento tão grande e profundo (e tão ‘acorrentado’ ao longo de tanto tempo) não cabe na escrita. Não se conforma com a tua ausência. Tenho de dizer -te: AMO-TE, AMOTE, AMO-TE... Tenho de dizer-te que não imagino o futuro longe de ti. Beijo -te as mãos, os olhos, os lábios, beijo-te. Quero-te. E tanto que o próprio querer (ou desejar) também se enovela em sofrimento. Um abraço. Mil beijos. Imensa saudade.


234

Escolhi entre as cartas que seguem uma seqüência cronológica. Esta é de 15 de Agosto de 1993: Domingo, 15 de agosto de 1993. Minha Querida, meu Amor: Na última sexta-feira era enorme a minha angústia. Por isso telefonei. Ontem o teu telefonema, se por um lado me trouxe a tua voz, não pôde dissipar a minha ansiedade. Vivo (?) em saudade angustiada. E os dias de Julho e Agosto em que me deste a tua presença contraem -se agora numa espécie de momento, um clarão breve. Neste estado de espírito, pesa muito, sem dúvida, a inquietação resu ltante da tua presente situação. Mas há outra coisa aflitiva, a um nível mais egoísta: esta ilha sem ti, é dum imenso tédio. Ontem, sol, Hoje, nuvens. É igual. Os dias, contigo, voam. Sem ti, os dias voltaram a ser imensos. Regressei a esta “penitência” de lutar (?) contra o tempo. Lutar?... Não sei o que digo. Sinto o peso do tempo, físico, implacável. O relógio, o relógio... As pedras de Ponta Delgada. A cidade deserta. O horror destes fins de semana!... Seria tão bom abraçar-te, ou saber pelo menos que poderias surgir algures, por uns instantes... Nada! Vou deter esta triste prosa. Intervalo... O que esta palavra me lembra! Tenho de parar.

15h30min do mesmo dia. Almoçar no “Sagres”, naquela mesinha, sem ter à minha frente os teus olhos, os teus lábios, o teu rosto, o teu ser... Quando nos


235 reencontrarmos, estarei feito outra vez pele e osso, que a comida não passa na garganta. E começo a reinventar fugas... Por exemplo, tomar Lorenin para enganar o tempo até sabe Deus quando. Ou então: marcar passagem para fugir a isto, nem que seja por dois ou três dias. Será que mais alguém nota o pavor desta ilha condenada? Ou sou eu, “doente”, a não poder v iver sem ti? Amo-te tanto, tanto, que me parece nunca ter amado outra...

22h do mesmo dia Meu Amor: Amo-te duma forma que, infelizmente, só posso classificar de desesperada. Pensava não tornar a inscrever no TEMPO expressões tão desanimadoras, mas o presságio invade -me e pode mais que a minha vontade. Vontade?... Em mim, uma contradição: débil, raivosa, mole e tensa. Quereria resolver tudo num instante em que as minhas mãos te arrebatassem à distância geográfica que nos mata e do passado que nos sufoca. Peço-te que me ajudes, a esta hora, a lutar contra o Mal que nos persegue... Amo -te, amo-te, amo-te, amo-te, meu Amor, minha Vida, minha Ressurreição, meu Amor doce com fundo de TÍLIAS e muito MAR... Será que gosto desta sílaba de cativeiro?... Quem me dera poder pintar, desenhar, desleixar estes pobres vocábulos... Sofro! Imenso! Nunca imaginei sofrer assim por uma separação! Oxalá isto signifique alguma coisa boa no futuro! Amo-te, quero beijar-te as mãos, os pés, a alma! Quero-te! E não posso continuar... Mas continuo alguns minutos depois. Lembro-te com tanta intensidade que me faz doer.


236 Há neste sentimento qualquer coisa que tenho de moderar. Há um sabor de fim em cada uma das nossas despedidas. Claro que é um fim. Claro também que a esperança não nos traiu. Mas, meu Amor, há sempre tanto tempo, tanta lonjura entre nós! Perdoa! Eu resistirei! Peço -te que resistas. Peço-te por tudo quanto creias que res istas! BEIJO-TE. Amanhã continuo.

Nessa mesma época José Martins Garcia escreveu numa folha A4, comum, branca: No momento em que sinto que a vida passou Sobre mim como onda que não pude beber No momento em que o excesso abortou Na minha pobre e podre poesia de nada obter. No momento em que me ferem feitas apenas dor As estrelas do Sul e uma gaivota saída destes penedos No momento em que até o Verbo me abandonou Para me deixar nuvens de vertigens várias e segredos De corpos mal cumpridos no contato do sonho. Mulher Tu que foste minha amante e minha mãe E minha filha nos beijos com que te cerquei Tu que vieste sem culpa (que eu te não chamei) E voltaste a ser virgem nos meus braços viajeiros . Mulher Escuta Faz-me chegar ao coração vencido O perdão que uma só vez na vida Se concede (quando a alma é grande Para o conceder)


237 Perdoa-me e escuta o sangue tão culpado e vil Que em mim bate por ti 70 (Por mais ninguém) .

Difícil é escolher, dentre tantas afirmações e confirmações do depauperamento de JMG, os excertos mais significativos. A evolução progressiva para um fim próximo evidencia-se. A letra torna -se diferente, as idéias desconexas, o esforço da rememoração agiganta -se. E, aqui, a consciência de que também estou che gando ao fim (deste texto), igualmente me angustia. Mas, vamos lá: Ano de 1994, 8 de julho. Faz hoje precisamente dois anos que, em Lisboa, sozinho, fugindo a não sei quê fantasmas. Falei muito comigo mesmo, tentando tomar precauções para me defender duma grande angústia. Fui falando comigo mesmo, sempre só, ao longo do dia, ao longo da noite. Creio que regressei no dia seguinte a Ponta Delgada. Parece -me que então compreendi que fugir da ilha não me tinha ajudado a resolver coisa nenhuma. O problema viajava comigo, a angustia estava por dentro; não havia fuga de mim para nenhum lugar. Desculpa, meu Amor – beijo-te as mãos! – [...] Às vezes, tenho a impressão, de que o perpassar do tempo é uma coisa descontínua. O passado volta – mentalmente, só isso! – com uma intensidade angustiante. Saio da angústia como que impelido por alguma grande força. Recaio depois na angústia, noutra angústia, noutra angústia, com 70

Publicado em 1ª Antologia Poética. Florianópolis, Associação dos Cronistas, Poetas e Contistas Catarinenses, 1966: 34, juntamente com mais três poemas inéditos em Portugal: “The Legend of Cutty Sark” (O fim silenciado) – escrito num café de Ponta Delgada; O poeta (diz -se) palpa o lado palpável do signo – escrito em Estoril, em 1993 – e um poema sem título, escrito nos Mosteiros, Açores, em 1994, cujo primeiro verso é “Era a terra de verde permanente”.


238 todos os sintomas da depressão. Uma enorme inércia. Uma vontade de ficar deitado, sem projectos, sem rumo, morto-vivo à espera do fim. Depois, revolto-me, reajo... e assim sucessivamente.

8 de setembro de 1994: Depois da tua voz vem a consciência aguda de que me faltou o teu ombro, a tua mão, o teu calor, o teu cheiro. Sob o pouco de azul que este dia me oferta, outra ausência se sobrepõe à presente ausência e torno a ligar -te para Lisboa e mando -te música pelo telefone... Lembras -te? [...] É igualmente certo que os ‘ últimos’ dias sempre os sinto como catástrofe, Junto ao mar, à lagoa, num aeroporto, sob re a berma dum passeio. Aeronave. Encontro muito antigo/ Devolvido a minutos de altitude /Inigualável. E o primeiro rito/ Comentário carnal e clandestino./ Areias e palmeiras e o teu corpo. Na alcatifa repleta de infinito/ Desejo. Hora aérea no teu rosto. Conta-gotas suspenso. Nosso o ardor. Súbito a brecha. Algures o luar/ Reacendia a contagem do interdito/ Tempo nosso. E em lugar da aeronave/ Quatro paredes de nocturno espaço. [...] Beijo-te mil vezes. Torno a dizer -te que foste o mais carinhoso dos ser es que conheci na minha vida. Quero beijar-te os olhos. Sinto-me de novo tão triste. Apagado, obrigado a circular como um autômato. Gostaria de falar de fé e esperança. Talvez amanhã. Amo-te. Amo-te...

21 de Abril de 1995.


239

Meu doce Amor: Apenas um murmúrio de saudade. Recebi a tua carta, abafou -a uma nuvem, passei mal dois ou três dias. [...] Além disso, que é quase uma doença, vivo (?) tenso, coma sensação de muitas feras de dentes à mostra, todas dispostas circularmente à minha volta. Meu doce Amor, és tão de céu e mar e sol e beleza! Precisamente o que não me pode se consentido. Se te disser que me dilacero, não vais acreditar, nem sequer aprovar. [...] Não ouso implorar perdão, Nada faz sentido nas minhas palavras. Eu estou enredado por algo que não consigo decifrar. E continuaria um lamento com muitos “sês”. Não, não pode ser. Beijo -te as mãos, dou-te a minha alma.

Em 21 de julho de 1995. [...] Acredites ou não, o facto de hoje se oficializar o novo Reitor causa-me um enorme mal-estar, uma dor. É assim uma espécie de “fim de ciclo” Pergunto-me o que aconteceu, o que fui, o que fiz, o que foi aquela minha vice -reitoria (um ano e poucos meses), as circunstâncias que lhe marcam o fim. [...] Devem existir momentos em que , sem razão nenhuma, uma pessoa sente que está ‘embarcando’ numa grande infelicidade. [...] nunca mais escrevi uma obra... Obra?... Nunca mais escrevi um texto que valha a pena. Talvez se salve algum fragmento. Fragmentos... às ve zes tenho a impressão de s er só fragmentos. Um resto. Claro que o meu mundo onírico é de fragmentos. Repete-se a tua despedida, é sempre Outubro. O cenário é que varia. As personagens também. É angústia, é culpa, é dor.


240 Bem mais tarde, em 20 de feve reiro de 1997. O meu tempo de escrita pessoal está quase reduzido a zero. O que se passa na Univ. dos Açores obriga-me a um desgaste imenso. [...] . Assim, tendo recebido a tua mensagem de Ano Novo (que me confrangeu – o remorso, o pesar, a desventura...) e, ontem, o fax referente ao meu aniversário, respondo, só agora, com gratidão angustiada, com um afecto indefinível e com a perturbação inerente à mudança de habitação, a que sou obrigado [...] Perdi um ‘tecto’, perdi os meus livros... Vou sobreviver, tal vez... [...]. E sintome cansado, desalentado com a memória a perseguir-me (na vigília e no sono). Não te esqueço; não vejo nenhuma luz que nos envolva. [...] Um beijo. Uma saudade... Um cerco de sombra permanente. Rezar?! – Oh Deus! Um beijo.

Quase dez meses depois, em 27 de novembro de1997: Acabo de receber a tua carta. Um solavanco na minha (parcial) apatia. Escrevo ‘apatia’, muito subjectivamente, quando afinal o diagnóstico da psiquiatra diz ‘depressão reativa’ – do mesmo tipo de moléstia de que fui vítima na Guiné Biassau nos meus tempos de militar. Custa crer! Quase trinta anos depois!... Mas sinto agora uma enorme vontade de viver. Contigo. Falas de Fé; eu acrescento ESPERANÇA. Às vezes, julgo que os meus últimos anos foram pass ados em pavoroso absurdo, um desgaste estúpido, um sonho mau. [...] Cumpri as determinações médicas escrupulosamente. Sinto -me mais forte, mas incapaz de escrever ficção. (Tinha entre mãos dois capítulos de um romance, que têm de aguardar...) Fui aconselhado a escrever, mesmo que tudo me


241 desagradasse depois. Assim fiz: rabiscos sem importância. Mas – imagina! Há dois ou três dias planeei uma crônica humorística. Escrevi uma página apenas, meditei no que faltava (umas seis ou sete páginas) e senti -me muito cansado. Ainda não! [...] Sabes que, ao imaginar a normalização da minha vida, me parece renascer?... Aulas de novo (antes isso que a inércia psíquica), livros, tu... Será possível, meu Deus? Quero-te junto a mim. Quero tornar a olhar, contigo, junto de mim , os ‘nossos’ lugares, o ‘nosso’ mundo. Quero que me olhes e sorrias sem ressentimentos... Não será exigir de mais?[...] Desculpa a minha letra. Deves achar diferenças. Resultado dos medicamentos? Resultado da profunda emoção que a tua carta me trouxe? Cansaço ainda?... Peço-te que creias no meu amor. Com infinita saudade e um milhão de beijos, o teu [e assina].

Numa outra carta, assinada em Outubro de 1988, JMG escreve um trecho a caneta com tinta azul, outro a lápis e, novamente a caneta: Aceita, por favor, esta desorganização do que não posso exprimir correctamente. [...] (que horror, o que se passa aqui, neste 10 de outubro de 1998! A humidade é tanta que as mãos sujam o papel e a esferográfica não quer deslizar. Dizem que caminhamos para o FIM EM ESTUFA... Gostaria de ver-te antes do FIM...). Gostaria de restituir-te a imagem de há dez anos (vou tentar usar um lápis): a imagem da menina de caracóis louros [...] em Ponta Delgada. Sempre disse que não gostava desse penteado. Inconscien temente andei a mentir-te. É dessa imagem que guardo, sem o ter sabido, uma SAUDADE, saudade, saudade, Saudade, que me leva a não saber mais nada de palavras [fim do parágrafo com traços que


242 parecem ter sido grafados com a mão a cair pesadamente sobre o pa pel].

Num trecho mais adiante: “SEMPRE QUE MAIS PRÓXIMO ME SENTIA DE TI, TU PARTIAS... E SABES – agora, deves saber! – COMO É A DOR DA SOLIDÃO? Convive-se, dorme-se... por solidão, não é? É um deserto, sem ser bem deserto, esse horror chama do solidão!”. E conclui, páginas adiante: “Santo Deus! Há muito anos que não escrevia (sem obrigação ‘académica’) tantas páginas ... assim... assim. Mas desabituei -me. No fundo, já não sei quem ÉS. Seria melhor pensar se QUEM SOU ainda faz sentido”. Na última página da mesma carta, refere -se a um telefonema recebido seis meses antes: “Que horror de telefonema, de madrugada, eu em Lisboa . E que vontade de não CRER em mais nada! Quase uma vontade de autodestruição! E foi o que fiz! E foi o que viria a ser o m eu caminho de amargura! Tanta Amargura, tanta!” E termina: “Agora não posso escrever mais. Há uma revolta contra não sei quê, contra mim certamente. Fiz da vida uma coisa sem conteúdo, sem sentido, sem perdão... Alguém me escutará? [...] Queria exprimir ta nta ternura, esperar por perdão; sentir... O quê? Que não estamos mortos? Que vais pensar DISTO? Não penses Mal!”. No final da carta um X, marcado com linhas trêmulas, como se realmente ali alguém que não o poeta -professor devesse assinar. Quem? O homem? O amante? O poetafingidor? Não, não tenho resposta. E na data referida ao telefonema “maldito” (30/10/1996), em outro envelope para a mesma destinatária, duas páginas em papel-cartão amarelo, com timbre do Hotel Dom Carlos, de Lisboa. Uma página: Todo o vivido é irreversível. E mais intensamente irreversível quando mitificado. Tu és um ser recortado naquele tempo, que abrange vários


243 tempos e lugares. Tu sabes a diferença que marcou os teus dois regressos. A ternura e a gratidão são indestrutíveis em mim. A vida problematiza o prolongamento. Que destino? Rezo sempre, cada vem com menor convicção. Um abraço. Um beijo.

Na outra página, depois da invocação, um poema:

Nem o mínimo deus a menor gota De bálsamo ou da fórmula sancionada Legitimam o espanto da memória Acordada em acorde repentino A meio da noite onde. A lisura dum lago determina Um círculo de mar que falsamente Quebra nas cristas de invernia Remetidas ao bojo de outro tempo A nódoa viva da espera.

Que era de lodaçal impresso numa a resta Bico de garça ou nome passageiro Proa matriculada no sargaço Farol exausto sem sol que mesmo assim Nublado indicativo prometia . Talvez carta mais tarde talvez núpcia Entre um olhar insaciado e crédulo E o sonho de água Límpida Ido e retornado dedos Modulando na ausência todos os possíveis .


244 Talvez tenha sido esse o último poema do grande escritor açoriano. Pelo que sei dessa história, o escritor e a destinatária se reencontraram em Lisboa, alguns anos depois. JMG disse que ainda a amava e que não pa ssou dia desde a última despedida em que não houvesse pensado nela. Abraçaram-se. Ele chorou. Ela também. Ambos seguiram o seu destino. Encontrei-me, pela última vez com o Prof. Doutor José Martins Garcia, em Ponta Delgada, em março de 2002. Surpreso, ele me disse, com os olhos marejados de lágrimas, quase fechados, dando a impressão de que assim me via melhor, e em tom de queixa: “não consigo mais escrever. Não escrevo mais”. Indagou por que vinha eu falar de paz num tempo de guerra. Deixou que eu percebe sse uma aliança no seu anular esquerdo 71. Últimas palavras que dele ouvi: “Escreve-me!” Não escrevi. Oito meses mais tarde, exatamente sete dias antes do meu retorno aos Açores, falecia o grande poeta e escritor açoriano, meu grande Mestre e Amigo. Dele, a luz da escrita permanece, fazendo da Literatura Açoriana um marco da universalidade embebida nos traços da açorianidade atlântica. Aqui ainda permanecem “hortênsias no colo das ilhas” a simbolizarem os seus poetas e a gente dos Açores. Pudesse eu, dizer a JMG, o que já disse Armando Cortes Rodrigues, numa última homenagem prestada à (Ode à) Solidão: “Homem! Sacode o pó do teu caminho Serena a dor que tens nos olhos teus, E humilde e confiante e pobrezinho, 72 Regressa à Solidão, regressa a Deus. 71 72

Realmente havia casado meses antes com a Sra. Carmem. Canção da Vida Vivida (1991).


245

Com certeza, JMG voltou. Está em Deus. Assim espero.

Referências Bibliográficas Almeida, Onésimo (2001/04) . “Coração Despedaçado a Morrer Devagar’. Da experiência americana de José Martins Garcia”. In Arquipélago. Línguas e Literaturas. Vol. XVII. Revista da Universidade dos Açores, 29 -45. ARQUIPÉLAGO (2001/04). Línguas e Literaturas. Vol. XVII. Revista da Universidade dos Açores. DORES, Victor Rui (1987). “ Contos Infernais ou a efabulação do poder”. In Signo. Jornal de Letras e Artes, 16, 4. DUARTE, Noélia (2001/04). “David Mourão-Ferreira e José Martins Garcia: o ‘ofício de escreviver”. In Arquipélago. Línguas e Literaturas . Vol. XVII. Revista da Universidade dos Açores, 109-131. MOURÃO-FERREIRA, David (1978) . Cartas de Amor de Fernando Pessoa. Lisboa: Ática. Pequeno Roteiro da História da Literatura Portuguesa (1984). Lisboa: Instituto Português do Livro. PIRES, A. Machado (2001/04) . “José Martins Garcia um intelectual em estado puro”. In Arquipélago. Línguas e Literaturas. Vol. XVII. Revista da U niversidade dos Açores: 171-177.


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Fotos e imagens: Anamaria Brandão (excerto de carta) Vilca (Fernanda Pereira, Setúbal) JMG: autor desconhecido

ZELKA DE CASTRO SEPETIBA Filha de José Pereira de Castro e Maria das Neves Moreira de Castro. Nasceu no Rio de Janeiro, em 21 de janeiro de 1943. Curso Primário: "Escola Primária D. Ida Schmidt” em Lages, 1951-1954. Curso Secundário: Científico no Colégio Diocesano de Lages, 1959-1961. Em 1963 prestou ve stibular para Letras na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Faculdade Santa Úrsula. Cursou o 1° e 2° anos na Faculdade Santa Úrsula, tendo cursado o 3° e 4° anos na Universidade Federal de Santa Catarina. Concluiu o Curso em 10/12/1967. Curso Superior: Licenciatura Plena em Letras; Português – Inglês – Literaturas Brasileira e Portuguesa; Inglês – Literaturas Inglesa e Americana. – Mestre em Lingüística Aplicada pela Universidade Federal de Santa Catarina, 1982 -1985. – Tese: "Uma Introdução à Análise Semiótica – Prática", 1985. Professora Concursada no Instituto Estadual de Educação, 1969 (onde lecionou Português e Inglês). – Professora Titular da Faculdade de Educação pela Universidade do Estado de Santa Catarina, 1975 -1995, lecionando Língua Portuguesa, Literaturas Brasileira, Portuguesa, Catarinense, Português Instrumental, nos Cursos de Pedagogia, Biblioteconomia, História e Geografia. – No Curso de Educação Artística da Universidade do Estado de Santa Catarina, lecionou Língua Portuguesa, Fundamentos de Expressão Humana e Comunicação – FECH, 1978-1984. – Professora de Língua Portuguesa na Academia de Polícia Militar, no Curso de Formação de Oficiais – 1º CFO, 1987-1992, convênio com a Universidade do Estado de Santa Catarina. – Professora de Teoria e Prática de Redação no Curso de Formação de Oficiais da Polícia Militar – 2° ano, convênio com a Universidade do Estado de Santa Catarina. – Participou de diversas Bancas para Seleção de Professores na Universidade do Estado de Santa Catarina – Faculdade de Educação .


247 – Participou da Elaboração de Provas do Vestibular da Associação Catarinense das Fundações Educacionais, 1978 -1984, e da Universidade do Estado de Santa Catarina, 1992 -1995. – Como Jurada participou de Concursos Estaduais para escolh a de melhor Conto e melhor Crônica. Acadêmica: Zelka de Castro Sepetiba Nascimento: 21-01-1943 Cadeira nº: 06 Posse: 18-12-1996 Título: Não informado Endereço: Rua Anita Garibaldi, 149, Apto. 801, Florianópolis -SC CEP: 88010-500 Fone: (48) 3222-2740 E-mail/Site: Não informado Patronesse: Antonieta de Barros Título: Educadora / Política

CLARA E O CIRCO

Numa pequena cidade vivia a menina Clara. Ela era esperta, bonita e muito alegre. Vivia com seus tios e primos, pois os pais a abandonaram após seu nascimento, indo morar em local desconhecido. Clara fazia o serviço de casa pela manhã e à tarde ia à escola. Era uma criança realmente feliz e a todos alegrava. Às vezes, ela punha -se a pensar sobre seus pais: Como seriam? Onde viveriam? E uma tristez a profunda a dominava. Os tios José e Anita a criavam como filha e tudo faziam para que fosse feliz. Eles só tinham filhos homens – três garotos – e Clara era a filha que sempre desejaram. Nada faltava à garota: tinha casa, comida,


248 boa escola e o carinho d os familiares que a adoravam. Ela tinha vários amigos na cidade, era estimada por todos. Certo dia, chegou à cidade um circo muito famoso, com várias atrações. Todos se alegraram com sua chegada e pretendiam ir assistir as apresentações no final de semana. Curiosos, os alunos saíam da escola e iam olhar os animais do circo, ver os artistas e os palhaços. As crianças estavam encantadas, maravilhadas com o novo mundo que se descortinava, tudo era lindo, fantástico, enigmático. Como estavam felizes com a vinda do circo! Toda a cidade só falava no circo e aguardavam ansiosos para assistir aos shows. Os tios de Clara prometeram levá -la, juntamente com os filhos, para assistir o espetáculo de sábado à tarde. O sábado foi ansiosamente esperado por todas as crianças. Não se falava em outra coisa, a expectativa era enorme. Naqueles dias, Clara trabalhou e estudou com mais satisfação, ajudou sua tia Anita nas tarefas domésticas com mais alegria. Finalmente, chegou o dia tão esperado! O sábado. Clara e seus primos tomar am o café da manhã, fizeram suas tarefas, tomaram banho, almoçaram e esperavam a hora de usar suas roupas novas para irem ao show circense. A alegria e o contentamento eram tanto que eles riam à toa. Há muitos anos não aparecia um circo na cidade. O show foi todo muito bonito, com atrações


249 maravilhosas. Trapezistas, bailarinos, domadores, palhaços – enfim, um festival de atrações inesquecíveis. O que mais chamou a atenção de Clara foi um número em que o palhaço Totó apresentou -se com uma garota e três cach orrinhos. Foi uma atração muito bem feita, porém a garota parecia triste e aquilo impressionou Clara. Na saída, ela falou com a menina do circo – Alice – e combinou de passar ali outro dia para conversarem. Na semana seguinte, após a escola, Clara foi até o circo e falou com Alice. Perguntou de sua vida no circo, se ela estudava, e falou de sua família. Alice disse-lhe que era feliz no circo. Ali era a sua casa e o Totó a criara desde pequena. Ela não conhecia os pais, nem sabia se tinha irmãos. Totó falou-lhe que a encontrou numa cestinha de vime, perto do circo onde ela foi deixada, e isto, às vezes, a entristecia. Gostaria de conhecer sua verdadeira família. Clara contou-lhe que fora abandonada pelos pais na casa de seus tios, e que chorou muito quando soube da historia, mas hoje, agradece aos tios e primos com quem vive e é feliz. – Alice, seja uma pessoa alegre e feliz, pois você tem quem cuide de você. Eu quero ser sua amiga, iremos nos corresponder. Não fique triste, a vida é boa e lembre-se: “Quem tem um amigo tem tudo!”


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ZENILDA NUNES LINS Natural de Florianópolis, professora universitária aposentada, escreveu a história de três entidades ligadas à educação: Faculdade de Educação Projeto e Realidade, 1988 – 2ª edição, 1999; ACP Sucesso e Consolidação, 1995 – 2ª edição, 2002; FUCAPRO História e Dimensão Social, 1996. Publicou Rosas e Violetas – contos – 1998; Ondas Rendilhadas – poemas – 1997; Contos de Outono, 2004; Horizonte de Montanhas, 2007. Tem participado em diversas antologias e pertence à Academia de Letras de Biguaçu. Acadêmica: Zenilda Nunes Lins Nascimento: 09-04-1933 Cadeira nº: 05 Posse: 18-12-1996 Título: Não informado Endereço: Rua Dom Joaquim, 680, Centro, Florianópolis -SC CEP: 88015-310 Fone: (48) 3222-1758 E-mail/Site: Patrono: Aníbal Nunes Pires Título: Educador / Escritor

JANELA PARA O SOL Levantei-me, hoje, muito feliz. Depois de angustiosas semanas, posso olhar da janela do meu quarto, o céu se tingindo com os tons anunciadores do amanhecer, a neblina esvaindo -se ao calor dos primeiros raios solares, a dança das palmeiras na colina, ao longe, limitando o horizonte. Consegui, finalmente, um agradável lugar para


251 morar. Nem sufocado pelo barulhento centro urbano, nem isolado, distante dos serviços básicos, tão necessários à minha atual condição de vida. E mais importante: compatível com os meus modestos proventos de aposentada. Sou do tempo em que, para ser professora primária, bastava ter-se o diploma de normalista. Essa titulação era suficiente para lecionar nos gr upos escolares da rede pública de ensino. Hoje, a exigência aumentou, requerendo curso universitário. Naquela época, o Normal era um bom curso, até porque, em alguns estados, as faculdades eram raras ou inexistentes. Muitas autoridades e doutores de hoje aprenderam a ler e escrever com os professores normalistas, tão desvalorizados atualmente. Eu mesma vi alunos meus chegarem a altos postos da administração pública. Entretanto, apesar de haver lecionado por mais de trinta anos, meus proventos não ultrapassa m dois salários mínimos. Como não casei, não recebo pensão de marido, nem auxílio de filhos, pois também não os tenho. Mantive-me sempre sozinha e independente. Desenvolvi um bom senso de economia, não gasto dinheiro com o supérfluo. Mas a velhice está che gando, devagarinho, mas está. E como não se pode deter a ampulheta do tempo, o melhor a fazer é assumir uma atitude otimista e não desperdiçar o precioso dom da vida. Residi, por quase doze anos, numa discreta pensão pertencente à Dona Marta. Ela alugara, há anos, um antigo casarão no centro da cidade, e nele instalara o pensionato. Aceitou alguns hóspedes,


252 quatro, que garantiam o aluguel e lhe proporcionavam pequeno lucro. Eu era uma das suas hóspedes. Atuava como uma espécie de assessora: ajudava nas compras, na manutenção da casa e distraia as outras residentes, quando os frios e nevoentos dias de inverno retinham todas em casa. Dávamo-nos muito bem. Até que o senhorio decidiu vender a casa, um prédio decrépito, mas vistoso, as platibandas ornamentadas co m bonitos arabescos, as janelas guarnecidas com vidros jateados e uma espaçosa varanda lateral. Dona Marta tomou conhecimento da proposta por um corretor e, não podendo comprar o imóvel, foi intimada a sair, desativando a pensão. Por insistência nossa, tentou encontrar outra casa nas imediações, mas o preço proibitivo dos aluguéis fê -la desistir. Avisou-nos da decisão. Duas das pensionistas tinham filhos e, embora não desejassem residir com eles, tiveram que o fazer. A terceira, viúva abonada, encontrou fác il um pequeno apartamento localizado num condomínio residencial, classe média. Dona Marta recebeu uma razoável indenização por deixar o imóvel antes do término contratual e mudou-se para Curitiba, onde residia seu irmão mais velho, negociante lá instalado. Só eu continuava sem destino. Choramos, todas, no dia da partida. Fizemos uma festinha – não sei se cabia uma festa –, mas fizemos. Festa com bolo, risos, choros e adeuses. Fiquei sozinha no casarão que me pareceu enorme. Pedi ao novo proprietário alguns dias. Seu projeto


253 era demolir a casa, cedendo espaço para um moderno edifício. Uma pena, o casarão, imponente a despeito da sua decrepitude, situado na esquina de duas ruas centrais, merecia ser restaurado, não demolido. Ele concordou com a pretensão, ao s aber que o prédio estava tombado pelo serviço de patrimônio municipal. Minha permanência seria útil por afastar possíveis intrusos. Alegrei -me com a perspectiva de ali ficar ainda algum tempo, acrescida da vantagem extra de ser dispensada do aluguel. A alegria, porém, durou pouco. Um mês depois, chegou o engenheiro responsável pelas obras e me informou do destombamento. A demolição estava liberada. Na minha alegria, havia esquecido que nesta cidade, como em outras, a observância de certas leis depende do prestígio e poder dos interessados. Não consegui esconder a tristeza ante a expectativa frustrada da permanência. O engenheiro, penalizado com a aflição expressa no meu semblante, indicou-me um residencial para idosos, situado num lugarejo afastado da cidad e. Prontificou-se até a levarme lá, se eu quisesse. Combinamos ir no sábado. Saímos cedo, aproveitando a quietude da manhã. Uma hora de percurso e trânsito livre, chegamos ao Residencial, encoberto por espessa vegetação. Acionada a sineta, o alto portão s e abriu. O engenheiro despediu-se, recomendando -me que voltasse de ônibus ou lá pernoitasse. Uma senhora, mais gorda que magra, idade indefinida, recebeu-me com polidez. Conduziu -me por uma alameda ladeada de altos ciprestes. Àquela hora


254 matinal, o arvoredo circundante sombreava todo o caminho, provocando uma sensação de friagem. A parte frontal da construção, longa e sólida, apresentava poucas aberturas. Entramos numa sala, mais parecendo um escritório, mobiliada com uma estante com portas de vidro, deixan do ver as prateleiras cheias de pastas, uma mesa de madeira escura e poucas cadeiras. Disse-lhe que procurava um lugar pare residir. Perguntou-me se tinha parentes. Respondi negativamente, pois primos distantes não são reconhecidos como parentes. – Venha, vou lhe mostrar alguns quartos. Caminhei ao seu lado, observando atentamente os cômodos. Atravessamos um amplo salão. Certamente o refeitório, parecendo também uma sala de recreação. Chamou -me a atenção o silêncio. Não se ouviam vozes. – A casa está vazia? – Não, neste horário todos ficam no pátio externo. É mais saudável permanecerem ao ar livre. Às onze e trinta retornam para o almoço. Depois vem a sesta. Fazemos um lanche no meio da tarde e às dezenove horas servimos a última refeição, em geral uma sopa seguida de um chá. Parecia interessante. Manifestei a vontade de conversar com algum residente. – Veja primeiro o seu quarto, disse, destravando uma porta. – Este lhe agrada? Olhei o cômodo, aparentava ser bom. Acomodaria bem os meus pertences: uma confort ável cadeira de balanço, herdada de minha mãe, a velha, mas eficiente


255 máquina de costura, alguns livros e pouca coisa mais. Aprendi a não acumular quinquilharias. – Então, indagou a mulher, com voz grave. – Gostei, mas quero saber o preço. Meus proventos são reduzidos. – Não se preocupe. Vamos ao escritório e lhe mostrarei o contrato. Apresentou-me um documento e pediu que eu lesse e assinasse no lugar indicado. Ao notar que eu estava lendo mesmo, apressou se em apontar o espaço da assinatura. – É aqui, com sua identidade e CPF. Pode terminar de ler depois. – Prefiro ler agora, respondi. Ainda não sei quanto vou pagar. Notei que o documento não era um contrato de locação ou similar. Era uma procuração permitindo que a Direção do estabelecimento recebesse os meus proventos mensais. Ao pedir esclarecimento, a mulher informou, que dada a falta de agência bancária na localidade, ser mais fácil o tesoureiro da casa receber e descontar o valor da hospedagem, entregando o restante ao residente. Não gostei. Percebi q ue iria ficar dependente deles. Afinal, eu podia andar, enxergava bem, estava lúcida. Era idosa, sim, mas a idade não é um fator limitativo dos nossos direitos de cidadãos. Disse que precisava pensar. A mulher procurou argumentar salientando vantagens que, a meu ver, pareciam, exatamente, o contrário. Despedi -me e sai sem falar com mais ninguém.


256 Caminhei rápido para a rua em direção ao ponto de ônibus. No trajeto, analisei a situação: grande distância do centro, silêncio demais, cedência dos meus direitos. Não, eu teria que encontrar outra solução. E encontrei. Ela estava à minha espera. Sentada na varanda do casarão fechado, Dona Marta me aguardava. – Finalmente, você chegou, disse – abraçando-me efusivamente. Voltei de Curitiba. Não me acostumei ao clima. Senti falta do mar, das ondas, das gaivotas. E das minhas amigas, também. Consegui, por influência de um velho conhecido de meu irmão, uma casa agradável no bairro Bosque Verde, próximo ao Campus Universitário. O lugar é tranqüilo, tem árvores, pássaros, como você gosta. Vim convidá -la para morar comigo. Dividiremos as despesas e aproveitaremos o dinheirinho restante para viajar. Há várias opções de viagens curtas para orçamentos modestos como o nosso. Aceita? Minha resposta foi um longo e agradecido abraço . Ajudou-me a empacotar minhas coisas, aluguei uma caminhonete e, ao findar o dia, chegamos, cansadas mas felizes, ao novo endereço. Uma be néfica noite de sono afastou a angustiante incerteza da véspera. Este é o meu primeiro despertar aqui. Vejo da janela, voltada para o norte, os raios luminosos do sol, a luz e o calor invadindo o cômodo, iluminando e aquecendo a chegada dos meus oitenta anos.


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WILLIAM WOLLINGER BRENUVIDA William Wollinger Brenuvida , paulista de São Bernardo do Campo (17/06/1979). Filho de Adilson Domingos Brenuvida e Elizabeth Wollinger Brenuvida. Irmão de Wellington e Caroline. Escritor e poeta radicado em Santa Catarina desde 1998. Graduado em Direito e Especialista em Processo Penal pela Universidade do Vale do Itajaí. Escreveu os trabalhos: “O Menino e as estrelas” (poesia/2003); “Trabalho Penal: fator de auto -estima, valorização e inclusão social do condenado” (monografia/2005); “Luz Lembrada – Jyoti” (poesia/2007); “Tortura como meio de prova: aspectos da lei 9.455/97 (lei da tortura)” (monografia/2008). Em andamento coletânea poética: “No cair das folhas”. Contribui com jornais da grande Florianópolis. É colunista do Jornal “O Rebate”, de Macaé-RJ. Ativista sócio-ambiental nas seguintes entidades: Academia de Letras de Governador Celso Ramos (cadeira n. 06) – patrono Francisco Wollinger; Academia de Letras de Biguaçu (cadeira n. 11) – patrono Juvêncio Araújo Figueiredo; APAE – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais; APREMAG – Associação de Preservação do Meio Ambiente de Governador Celso Ramos; CBHRT – Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Tijucas; Conselho da APA do Anhatomirim; Conselho de Assistência Social de Governador Celso Ramos. Delegado Territorial pela comunidade de Canto dos Ganchos, para revisão e aprimoramento do Plano Diretor. Suplente de vereador (2004). Exerceu as funções de Coordenador do Meio Ambiente (2005) e Diretor de Saneamento Básico (2005-2007) na administração municipal de Governador Celso Ramos. Acadêmico: William Wollinger Brenuvida Nascimento: 17-06-1979 Cadeira nº: 11 Posse: 14-05-2008 Título: Poeta Endereço: Rua Hipólito de Azevedo, 131, Canto dos Ganchos, Governador Celso Ramos -SC Fone: (48) 3262-0157 E-mail/Site: acangatu@yahoo.com / acangatu@gmail.com Patrono: Juvêncio Araújo Figueredo Título: Poeta


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LUZ LEMBRADA II E luz lembrada… Tem o galope de um cavalo , e a singeleza de uma flor . É um descanso na loucura … Não é verbo. É amor. Luz lembrada… É alma que caminha, sem temor. É a face de deus-energia, e a paz interior. Luz lembrada… É a imagem refletida , Resquício-caminho-incompleto. Sobressalto e lembrança já vivida , é o universo em expansão incontido . Luz lembrada… É medida imensurável . A face antiga renovada, e sempre conhecida. Sonho que não termina . Luz lembrada… É Jyoti, um sânscrito, língua antiga .


259 Um caminho em verso, pra alma. Um céu de estrelas sem pranto, É luz que reflete na retina. RETORNOU MEU SORRISO 73 Demorou, mais recobrei o sorriso . Foi uma nuvenzinha aí que passou. Sem avisar ou dar sinal. Vento sul eu acho… Ah! Maroto. Se eu pego um cavalo vou voando , espalhar o riso pra todo canto . Voltaram as piadinhas sem sal, devo lembrar. E o humor de fundo de quintal. Do traço presente a eternizar. Puta reza braba essa que fizeram, resta avisar . A próxima macumba pra cima, eu vou revidar ! E se vier correndo eu daqui grito, Ou mando pelo correio sem aviso. O jeito de encantar sem dizer, de falar pelos cotovelos tá no rosto, Pra quem me quer em osso, deixo a benção do torto!

73

“Retornou meu sorriso”, “Movimento”, “Luz lembrada II”, “O jardim das borboletas”, “A borboleta” serão publicados na coletânea “No cair das folhas”.


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O MOVIMENTO O movimento manso e suave da rua mantém a mente nua e desavisada. Veículos, demônios, um gigante puma. Os vejo em toda parte. Dão risadas. O sol se esconde, acho que é o fim de tarde. A tristeza vai… prolongam gargalhadas. Os barcos se recolhem na margem. O cais se estreita… soldados apanham armas. Minha pequena vila expandiu horizontes, Minha porciúncula cansou a cidade. O sertão em mim cortou os montes, quando lembrou o mar sentiu saudade. O sorriso-menino desatinou frases, a bela juntou todas elas, e fez oração. E assim trancou o sorriso a sete chaves, pra que um dia lembrasse em seu coração. O movimento das marés em vai e vem constante. Tabulas rasas, esparsas, sentinelas e casas acesas. Vento predominante é o sul a soprar errante… Pede aos bateis, em seu balé, que não icem as velas. Um universo inteiro em folhas se esvaindo, em leis, átomos, procelas, serestas, tempos idos . Batalhas e horizontes, novamente, se erigindo … Um calabouço, a parte, se abrin do no abismo .


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O JARDIM DAS BORBOLETAS 74 Vi num sonho! Acreditem, vocês todos, eu vi num sonho… Uma menina que andava entre caminhos e jardins abertos De belas flores multicores em contraste ao enfadonho, O bater de asas da borboleta inspirando sorriso -universo. Não tinha pressa. Apreciava cada paisagem e cenário. Recriava, seus olhos, um estágio de liberdade infinita. Na limitava, a menina, ela voava junto aos canários. Ressurgia, quando queria, sem definir ponto de partida. No semblante um sorriso. N a lembrança lugares invejáveis. No coração um estandarte. Na imaginação muitas artes. Na perseverança uma hoste de soldados incontáveis. E o sonho? Lugares que se misturam, pedem passagem. O jardim estaria pronto como fora idealizado? É bem provável que s im, a espera das borboletas.

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A poesia fiz pra Carissa. Surgiu de uma conversa nossa há tempos… também da melodia e harmonia da música “Madame Butterf ly”, de Puccini [Coro final de la parte 1ª del acto 2º – segundo o maestro Valdo de Los Rios].


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RERITYBA 75 Essa diminuta parte do meu coração bate. Percorre suas ruas, nossa gente e seus falares, as paisagens e o destino. É um recanto, canto dos pássaros, verde das colinas e das árvores, colorido dos vestidos e sorrisos , das moças. Flores que nascem delicadas em algumas moradas. Essa diminuta parte do meu ser sente. Viaja nas lembranças… Adentra as matas, rios e cachoeiras. Rememora encontros e transpassa a terceira marg em. Vê sorrisos e estrelas, na face e no jeito de gente tão simples e festiva. A passagem dos Jês, A Rerytiba dos Guarani, e todos seus extintos sambaquis. O cantar das francas nos meses de inverno, e o balé dos golfinhos num encanto, espaço aberto quase infinito. Relembra essa diminuta parte do meu ser, das migrações e apresamentos, 75

Rerityba ou Reritiba, nome de uma das aldeias Guarani no atual município de Governador Celso Ramos até 1538. Em tupiguarani – ostreira, lugar de muitas ostras. Os Guarani que aqui viveram foram escravizados, mortos, ou migraram. A história de Ganchos não pode esquecer de seus primeiros habitantes. Agradeço o conhecimento obtido junto a minha amiga, jornalista e historiadora, Rosana Bond autora de “O Caminho de Peabiru”.


263 da mortandade de nossos nativos, cativos fadados ao esquecimento. Relembra essa diminuta parte do meu ser, o (re)surgimento dos nossos vilarejos, na ocupação dos vicentistas , negros, alemães e açoritas. braços cansados e fé cativa, que deram vida aos engenhos de Ganchos, Palmas, Piedade e outros recantos… Essa diminuta parte do meu ser compreende… Os erros do passado e exalta a perseverança, aceita as etnias do hoje, espera nça e ponto de partida, para um eterno retorno. Essa diminuta parte do meu ser enxerga, essa cidade esquecida e sofrida em suas mazelas. Querida, por sua resistência ao progresso. Em seu levante, em seu protesto quer ser ouvida, emergida em nossos sonhos e pensamentos, lembrada e transmitida. É essa diminuta parte da bela e Santa Catarina: Ameríndia e européia, que transborda em mim, grita em minhas veias, pede que eu atenda ao chamado, e siga adiante. E Ganchos, É um barco a vela no oceano. Redes lançadas e o calor do espírito humano. É um restinho de vento sul que sopra cantando, Falando baixinho em quase silêncio. É luz que lembra, fascina, voa e desconcerta, que preenche a alma e nos eleva. Essa diminuta parte de todos nós, gancheiros , Está viva e pulsando dentro de nós.


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GANCHOS: NEM SEMPRE O SILÊNCIO FOI RESPOSTA

O livro “Brasil: nunca mais”, de D. Paulo Evaristo Arns, cita: “A imagem do brasileiro, conformado, acomodado, submisso, que sempre se procurou vender, não corresponde ao registro da his tória”. A repressão a artistas, idealistas, trabalhadores, e minorias foi cruel, mas vozes sempre denunciaram a violência do Estado, do capitalismo mercantil, industrial e neoliberal. O fascismo arraigado nos governos municipais age com truculência. A barb árie enrustida nos déspotas de gabinete usa o povo de escudo em defesa de erros fúteis, e as propagandas de desenvolvimento escondem ranços de corrupção e violência. Numa perspectiva local o município de Governador Celso Ramos sofreu revezes. A primeira greve de Ganchos ocorreu na Armação da Piedade em 30 de julho de 1784. Pescadores descontentes com as condições de trabalho e agressões se rebelaram sob a liderança do arpoador João Pereira Ruivo. Brancos e negros lutaram juntos contra o exército e o capital mercantil. Massacre: mortes e prisões. Ruivo levado ao Rio de Janeiro foi condenado e torturado. Para que não houvesse rebeliões o governo a época passou a retirar das famílias membros para lutar no sul. O comércio de crianças feito por ingleses aqui era omitido pelas


265 autoridades. “Não macular a imagem do Brasil frente ao mercado internacional” – era o lema! Em 1905 paralisação no Porto de Ganchos. Resistência dos pescadores ao “dízimo do pescado”, que o Distrito de Armação e Ganchos pagava ao Município de Biguaçu. O movimento grevista foi duramente repreendido. Desta vez não se usou apenas da força, mas a penhora dos bens dos pescadores. Muitos faliram. Nos anos 1960 o deputado catarinense Paulo Stuart Wright organizou os pescadores artesanais e as colônia s de pescadores. Anos depois a ditadura militar prendeu ilegalmente, torturou e o assassinou. O corpo nunca foi encontrado. Em 1963 emancipação de Biguaçu. Não se deixou, porém, de ser um bairro afastado. A ditadura militar piorou a economia de Ganchos. Os recursos destinados aos artesanais foram para armadores destruindo a pesca artesanal. Política patrocinada pelo governo de Celso Ramos. Nos anos 70 o agricultor Pedro Wollinger e outros trabalhadores fundam o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Gov. Cel so Ramos. O movimento sindical o lança candidato a vereador pelo MDB sob pressão da ARENA. As manobras governistas e oligárquicas, porém, sempre fizeram da terra um cativeiro. O sindicato pereceu. Lassale dizia: “o povo é forte, mas desorganizado”. Freire na “pedagogia do oprimido” salientava o aprender com os próprios erros. Mas, continua-se observando em cada brasileiro o coronel da república velha: “autoritário e racista” . Essa condição se transfere aos governantes .


266 Em 1984/86 invasão da tropa de choque da polícia militar tentou sufocar a brincadeira do boi – é o começo da especulação imobiliária em Gov. Celso Ramos. A violência do Estado fez com que a população reagisse distorcendo a evolução da cultura. Nos 1990 e início dos 2000 houve diversas manifes tações contra as caras tarifas de ônibus, e as condições de bem -estar dos transportes. Em 2008 quem ousa discutir o plano diretor “participativo” e buscar alternativas para Gov. Celso Ramos é rotulado “descontente”, “reacionário”, “anti-desenvolvimentista”, para não citar palavrões, ameaças, e perda de espaço. O gancheiro, mistura de muitos povos desde tempos imemoriais, corre o risco de ficar sem terra, mar, e identidade.

Perguntaram sobre o futuro… Disse em linhas céleres: Não haverá militares. A Demo cracia será o modelo: com justiça, igualdade e liberdade. Haverá chance de propor idéia que não oprima e divida. Teremos áreas verdes, cidades mais bem planejadas, sem tirar a graça. Tecnologias limpas e pessoas saudáveis, mas ainda pessoas! Gente risonha e educada, nas ruas e praças. Não precisaremos da pressa. Evoluiremos a outro estágio. Eterno -retorno ao que somos! William Wollinger Brenuvida, Acangatu…


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ANHATOMIRIM O sol queima o rosto, como a chuva seca a alma. Por companheira a lembrança, a solidão, a dor da despedida, e a visão restrita de uma ilha, perdida na imensidão do atlântico sul. É uma masmorra medieval, moça ainda no tempo de sua existência. Nas paredes espessas daquela prisão, redigidas foram algumas preces, repetidas aos mesmos santos, em memória e no olhar vazio. De súbito é uma torrente de ar, que atrofia e faz o prisioneiro emudecer. E é a paciência que comprime o tempo, e não compreende sua resistência. Ele quer voar, sair pelos poros dos muros, através dos canhões, risos e baioneta s. As grades da prisão, atravessam os olhos do prisioneiro, junto ao bramido do vento, que ao entrar sereno, pelos gradis, recordam tempos imemoriais, de uma terra sem males e fuzis. Cantam, os ventos, palavras índias,


268 Herança Jê e Guarani, provindas das cantigas e dos falares das memórias e dos sonhos, arremessados ao ar, da Ilha do Arvoredo ao mar. É quando os laços que sem dó, e em nós, buscam artifícios, entre as preces e as vozes dos capitães, é que o respirar se torna o impulso da fuga, atrofiando o último suspiro, levando a alma pelos olhos. Ao longe, amalgamados, entre as fardas, as ordens, os ritos, o marulhar das ondas, os ganidos de Anha 76 e de qualquer bandido, disparam também os tiros, comendo a ferrugem e a carne, descansando, em liberdade, o prisioneiro. Numa paragem longínqua, perdida na imensidão do atlântico sul, num esquecimento e absoluto silêncio, ficou para trás a ilha e a maldição de anha. Porque a alma viajou serena, 76

Anha em tupiguarani “Diabo”. Anhatomirim: “Pequena Toca do Diabo” . A poesia reflete minha estada na ilha em 2006. Ao passar o pórtico de entrada, em estilo chinês, com escadaria de mármore português, lembrei o verso de Quintana cujo título é “A Porta”: “Quem atravessa a porta da única parede de uma casa em ruínas é como se passasse para o Outro Mundo”. Na ilha está edificada a Fortaleza de Santa Cruz (1739). Santa Cruz era parte do plano militar do Brig. Silva Paes que construiu outros fortes: Santo Antônio (Ratones Grande); São José (Ponta Grossa); e Nossa Senhora da Conceição (Barra do Sul).


269 misturou-se ao azul e infinito do mar.

TERRAÇO DA JUVENTUDE Hei você no escuro, do quarto abafado, tempo perdido, já escasso, acenando no terraço... Da memória, a juventude, da atitude, a fome e a sede, de querer ser, como a gente, que se acha feliz. Hei amigo espera comigo, a estrela cadente do espaço, que carente admite seu lado, seu brilho seco e opaco, perdido no espaço. Quem sabe da outra vez, com toda força e sensatez, a gente mude, ou fique mudo de uma vez. Grita um verso nos dedos, donde surge algum refrão, de qualquer música, que toque qualquer coração.


270 Na visão final do terraço, da memória, a alma que se eleva, da janela e sem escada, acena pra toda essa gente, vai! que não se acha feliz. 77

A BORBOLETA Olha a borboleta! Suas listas são madeixas , parecem seda japonesa na parede ela escamoteia … Borboletinha viverá pouco tempo . Na parede da cozinha ela fica . Descansa ou foge do vento? Permanece ali quietinha. Borboleta como essa eu nunca vi . Não me lembro de vê -la na coleção. Será que pro vovô era condiz? Acho que não. Não chamaria atenção. Borboleta voa logo e ligeiro. Vai pequenina! Diga a menina , 77

Ao amigo Eder Oliveira Fernandes, que prematuramente foi nos levado, mas resistiu firme aos ventos contrários. Coração vascaíno, “ a música elevou tua alma na iminência do criador e nas notas da vida, tocasse com amor”. Publicada em “O menino e as estrelas” (2003).


271 que nesse dia, meu luzeiro… quer que eu nela reviva.

ORELHA DO LIVRO A iniciativa de escrever e publicar este VII número da Antologia da Academia de Letras de Biguaçu foi do Senhor Presidente Joaquim Gonçalves dos Santos . Ele nos impulsionou e nos encorajou nessa jornada : todos os acadêmicos foram convocado s a apresentar um texto além de uma rápida autobiografia, como homenagem aos 12 anos da fundação da referida Academia. Cientes do grande desafio qu e se nos apresentava em face do tempo e em especial a uma data tão especial para a academia, eu juntamente com a ajuda do renomado historiador e Acadêmico Toni Jochem, mestre em história pela Universidade Federal de Santa Catarina, que se prontificou a auxiliar em todas as etapas dessa obra. Com a ajuda desse escritor de renome a respeito da imigração alemã em Santa Catarina, tudo ficou mais fácil e iniciamos a coleta dos textos dos acadêmicos que nos deram a honra de enviar no tempo estabelecido pelo Senh or Presidente da Academia de Letras de Biguaçu. E todos os que aceitaram o convite para produzir um texto o fizeram com muita dedicação, buscando sempre produzir o melhor. Cabe destacar a coragem da primeira presidente da Academia e atual presidente de hon ra, Dalvina de Jesus Siqueira, que há doze anos atrás, juntamente com outras acadêmicas, fundaram a academia.


272 Na atual administração, partimos para uma nova etapa, disponibilizando todos, fatos e acontecimentos para as gerações futuras através do website. Trabalho que este acadêmico não mede esforços para levar a todos. Cabe aqui ressaltar o trabalho brilhante que vem sendo desempenhando a frente da Academia pelo Sr. Presidente Joaquim Gonçalves dos Santos . Umas das provas disso é a viagem que nossas acadê micas fizeram a Portugal, levando além mar o nome de nossa academia. Acadêmico Adauto Beckhäuser


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