Actualidade Economia Ibérica - nº 277

Page 64

espaço de lazer

espacio de ocio

Agenda cultural Livro

“De Olhos Postos no Amanhã”

O economista Éloi Laurent sustenta que o valor universal da humanidade é a saúde, e não o crescimento económico e que os Governos não devem agir em função de indicadores como o PIB, mas sim orientar os orçamentos do Estado em função do bem-estar dos cidadãos, da resiliência e da sustentabilidade. Dessa forma, “os países serão capazes de mudar o seu foco num crescimento infinito e irrealista, passando a dar maior importância à justiça social e à qualidade de vida dos seus cidadãos”. Isso mesmo se depreende ao ler a sinopse do livro “De Olhos Postos no Amanhã”, agora editado em português: “A avidez de crescimento económico ignora o bem-estar humano, é surda às desigualdades sociais e muda às alterações climáticas. Só com essas alterações, se dará mais importância à justiça social e à qualidade de vida dos cidadãos.” Para o economista francês, o “milagre português” é, em termos de crescimento, “uma miragem, e defende que os próximos Orçamentos do Estado devem ter em conta o bem‑estar humano e não só o crescimento económico”. O bem‑estar humano deve tornar‑se a bússola das políticas públicas, argumenta. O autor procura levantar o véu sobre tudo o que, no seu entender, o crescimento esconde: o efeito corrosivo das desigualdades, a recessão democrática, o fim do lazer, ou a globalização da solidão. Para Éloi Laurent, “o crescimento económico é uma ilusão perigosa e que a década que agora se inicia é a do desafio ambiental para evitar que o século XXI seja o da autodestruição do bem‑estar humano: a crise sanitária global desencadeada pelo covid‑19 (ou novo coronavírus) é originalmente um problema ecológico”. Éloi Laurent é economista sénior no Observatório Francês das Conjunturas Económicas e professor no Instituto de Estudos Políticos de Paris.

64 act ualidad€

juLho de 2020

Exposição

Retrospetiva de Yoko Ono no Porto A primeira exposição realizada em Portugal inteiramente dedicada à obra de Yoko Ono estende-se pelo museu e parque de Serralves, bem como em vários pontos da cidade do Porto. “Yoko Ono: O Jardim da Liberdade” faz uma retrospetiva da produção artística da japonesa, nascida em 1933. “Ao longo de uma carreira de mais de sessenta anos, Yoko Ono manteve-se fiel à sua arte e às suas convicções, sem nunca abandonar as mais prementes questões estéticas, políticas e sociais”, lê-se na sinopse da exposição, que também cita o curador Christophe Cherix, no seu livro “Yoko Ono’s lightning years” (2015), quando escreve que “o que torna a arte de Ono tão essencial no nosso tempo é a sua capacidade de se situar sempre no presente e de nunca nos fazer olhar para trás”. A exposição inclui objetos, obras em papel, instalações, performances, gravações em áudio e filmes, além de materiais de arquivo raramente expostos. “Yoko Ono teve um papel precursor no desenvolvimento do conceptualismo, da arte performativa e do filme experimental a nível internacional. Ideias, mais do que materiais, são a principal componente do seu trabalho. Muitas dessas ideias são poéticas, absurdas e utópicas, enquanto outras são específicas e práticas. Algumas são transformadas em objetos, enquanto outras permanecem imateriais. Frequentemente, a obra reflete o sentido de humor da artista, bem como sua postura marcadamente socio-crítica”, destaca o Museu de Serralves. A artista dá diretrizes orais ou escritas aos espectadores, conferindo-lhes “um papel muito mais ativo do que é geralmente esperado no mundo da arte”. Assim, “ao longo do percurso, o espetador é encorajado por Yoko Ono a experienciar, a tocar e a movimentar objetos integrados nas peças, sendo mesmo desafiado a participar na obra — seja física ou mentalmente”. Neste processo de “construção dialogante”, a arquitetura do museu é também confrontada pela arquitetura que a artista concebeu nas suas Instructions [Instruções]. Muitas das quais estão no seu livro ‘Grapefruit’ [toranja]. Estas instruções são divididas em diferentes secções: música, pintura, evento, poesia e objeto e é através destas que a artista envolve outras pessoas na construção da obra, ganhando deste modo perspetivas totalmente diferentes. “Textos presentes ao longo de toda a mostra contemplam ainda a possibilidade de algumas obras serem apenas construídas mentalmente ou não serem de todo realizadas, numa antecipação do que viria a ser o conceptualismo”. Em Serralves, na obra Cut Piece, por exemplo, “uma performer permanece sentada em palco, imóvel e perfeitamente concentrada, enquanto membros do público, um de cada vez, sobem ao palco para cortar um pequeno pedaço da sua roupa para levar consigo”. Yoko Ono tem exposto o seu trabalho por todo o mundo, incluindo grandes exposições itinerantes, bienais e trienais. Em 2009, recebeu o Leão de Ouro de Carreira na Bienal de Veneza. A artista viaja todos os anos para a Islândia, para acender a sua IMAGINE PEACE TOWER [Torre Imagina a paz], que criou em 2007, como instalação permanente na Ilha Viðey, e continua a trabalhar incansavelmente para a paz na sua campanha IMAGINE PEACE [Imagina a paz]. Até 15 de novembro, no Museu de Arte Contemporânea de Serralves e Parque de Serralves, Porto


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.
Actualidade Economia Ibérica - nº 277 by Actualidade Economia Ibérica - Issuu