Financeiro 71 - Outubro 2011

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PÁGINAS AZUIS MÁRCIO NAKANE, DA TENDÊNCIAS CONSULTORIA

outubro/novembro 2011 edição 71

Cenário promissor para o crédito

APÓS UM PERÍODO DE ESTIAGEM NESTE ANO, PROJEÇÕES AVALIAM QUE AS TORNEIRAS VOLTARÃO A SE ABRIR EM 2012

ESPECIAL JOVENS SÃO A NOVA APOSTA DO MERCADO FINANCEIRO

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conteúdofinanceiro

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Entrevistas

Capa Crédito Acrefi e Tendências Consultoria divulgam

40 Leasing – Osmar Roncolato, presidente da Abel, explica funcionamento da atividade

diagnóstico sobre comportamento desse mercado em 2011 e os rumos futuros 10

46 Gestão Pública – Edmilson José dos Santos, gestor da Sefaz (MT), comenta política

Páginas Azuis

tributária mato-grossense

Na entrevista do mês, Márcio Nakane, professor de economia da Universidade de São Paulo (USP)

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e coordenador técnico da Tendências Consultoria,

A importância do trabalho do Graacc

fala sobre a necessidade de reformas estruturais

na luta contra o câncer infantil

para concluir a estabilização econômica 20

Especial

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Cultura Álvaro Modernell, autor de livros sobre

Série com matérias sobre iniciativas privadas e

educação financeira, dá dicas sobre como

públicas voltadas aos jovens entrantes no mundo

ensinar os pequenos a lidar com o dinheiro

das finanças 36

Acrefi Social

Happy Hour

artigos 34 Luiz Rabi Cenário

Em comemoração ao Dia das Crianças,

53 Thiago Freitas Indicadores

seção traz opções lúdicas de como aprender

58 Luiza Betina Petroll Mercado Imobiliário

a controlar o orçamento

64 Alberto Borges Matias Análise e Perspectivas 66 Nicola Tingas Última Palavra outubro/novembro 2011 FINANCEIRO 3

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expediente financeiro ISSN 1809-8843

Publicação da Acrefi – Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento Rua Líbero Badaró, 425 – 28o andar – São Paulo – SP Tel: (11) 3107–7177 Fax: (11) 3106–6082 – www.acrefi.org.br Presidente Érico Sodré Quirino Ferreira Vice-Presidentes Marcio Ronconi de Oliveira, Luis Otavio Matias, Aquiles Leonardo Diniz, Mauro Roberto Vasconcellos Gouvêa, Bartholomeu Ribeiro e Ricardo Annes Guimarães Secretários Paulo Tabaquim e Sérgio Marra Pereira Capella Tesoureiros Cláudio Messias Ferro e Marcus André de Oliveira Diretores Regionais Athaide Vieira dos Santos, Carlos Alberto Samogim, Elcio Antonio de Azevedo, Felicitas Renner, José Antonio Rodrigues, Francisco Sotero Rosas Neto, Marcos Etchegoyen, Leonardo Marcondes Dadalto, Paulo Henrique Pentagna Guimarães e Pedro Costa Carvalho Diretores-Executivos Morris Dayan, Sandro Alexandre de Almeida, Edson Froes Castilho, Felipe César Rodrigues Ferreira, Laurent Thong Vanh, Luis Felix Cardamone Neto, Rubens Bution e Leonel Dias de Andrade Neto Diretores Conselheiros Eduardo Tavares Nobre Varella, Élcio Jorge dos Santos, Giovani Cataldi Neto, Paulo Sérgio Borsatto, Nelson Aguiar Junior, Odilon Pereira Guerra e Joelcyr Carmello Filho Conselho Consultivo Membros Natos: Alkindar de Toledo Ramos, Manoel de Oliveira Franco e Ricardo Malcon Membros: Alencar Burti, Ricardo Loureiro, Jorge Hilário Gouveia Vieira, Luiz Horácio da Silva Montenegro, Miguel José Ribeiro de Oliveira, Sergio Antonio Reze e Ilídio Gonçalves dos Santos Conselho Fiscal Efetivos: Domingos Spina, Edson Ueda, David Figueiredo Suplentes: Elpídio Hoffmann, Maria Madalena Américo Marinho e Gilson de Oliveira Carvalho Diretor Superintendente Antônio Augusto de Almeida Leite (Pancho) Controller Carlos Alberto Marcondes Machado Economista-Chefe Nicola Tingas Consultor Jurídico Cassio M.C. Penteado Jr. Auditoria KPMG Assessoria de imprensa Tamer Comunicação Empresarial

Rua Novo Horizonte, 311 – Pacaembu – São Paulo – SP Tel.: (11) 3125–2244 – CEP 01244-020 – www.gpadrao.com.br Publisher Roberto Meir REDAÇÃO Editora-executiva Giseli Cabrini Editora-assistente Juliana Jadon Reportagem Flávia Corbó, Mariana Congo, Paulo Gratão, Raimundo de Oliveira, Raquel Sena e Thiago Borges (colaboradores) Fotografia Douglas Luccena Arte Editora de Arte Marina Martins Diagramadores Carlos Borges, Érika Bernal e Marcelo Kilhian Pré-Impressão Alexandre Lima Revisora Dora Wild Publicidade Diretora Comercial – Fabiana Zuanon – fzuanon@gpadrao.com.br Gerente Comercial – Marco Góes – mgoes@gpadrao.com.br Gerente de Negócios – Adriana Próspero – aprospero@gpadrao.com.br Impressão IBEP Gráfica Ltda. 4 FINANCEIRO outubro/novembro 2011

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editorial

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O mundo ainda está sob o impacto da morte de Steve Jobs, o mágico que fez da Apple sinônimo de tecnologia de ponta e de inovação. Foi uma perda que ainda será lamentada por muito tempo, mas que também nos leva a pensar – o que o legado de Jobs nos ensina, não apenas como indivíduos, mas também como nação? O executivo encarnou como ninguém a busca da melhoria contínua, da inovação como ferramenta para se manter sempre à frente da concorrência, da capacidade criativa e da escolha dos profissionais mais preparados para colocar suas ideias em prática. Soube também, como nenhum outro, “vender” a Apple como empresa de ponta. São lições que ficam também para nós, brasileiros, e para o nosso projeto para o País. O Brasil vive um momento positivo com um quadro de estabilidade econômica e política que o credencia e o diferencia em relação aos outros países. E até mesmo diante das nações que formam conosco o grupo que se convencionou chamar de BRIC (bloco de países emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia e China).

Brasil e a Apple

Foto: Flávio Roberto Guarnieri

O Brasil leva vantagem nesse grupo quando se trata de estabilidade política e de cumprimento de contratos, entre outros pontos. Nossa nação também possui recursos naturais em abundância e um parque industrial diversificado, o que torna o País um candidato natural a receber cada vez mais investimentos do exterior. Por esses fatores, nosso País sai com alguma vantagem nessa competição. No entanto, também há pontos fracos que precisam ser equacionados. Em matéria de desenvolvimento de tecnologia estamos atrás de Rússia, China e Índia. O Brasil também se ressente da falta de um projeto estratégico de crescimento. E precisa investir mais e melhor em educação para formar os profissionais que nos ajudarão a ter diferenciais no mercado internacional. O Brasil ganha força no cenário mundial e tem tudo para se tornar uma grande potência – recursos humanos e naturais, estabilidade politica, economia forte e diversificada. No entanto tem de definir prioridades, desenhar seu planejamento de longo prazo e encontrar maneiras de fazer a real adoção desse projeto, sem dúvida, a parte mais difícil. Se puser foco nestes três pilares – prioridades, planejamento e informação –, poderá se transformar na mais apetitosa “Apple” do século 21 e tornar-se, assim como Steve Jobs conseguiu, um referencial para o mundo. Terá aprendido algumas das maiores lições de um visionário e poderá se transformar em uma potência verdadeiramente forte, produtiva e admirada.

Érico Sodré Quirino Ferreira Presidente da Acrefi outubro/novembro 2011 FINANCEIRO 5

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capacrédito

Rumos do mercado financeiro Acrefi e Tendências Consultoria debatem cenário econômico global Por Juliana Jadon Diante da piora do cenário externo e de alguns indicadores internos como inflação, inadimplência e ritmo de crescimento econômico, a pergunta que fica aos aspirantes e analistas do mercado financeiro é: como iremos fechar este ano? De acordo com a perspectiva da Tendências Consultoria, o atual contexto de agravamento da crise no mundo afora – embora inspire cautela e possa, eventualmente, motivar uma desaceleração econômica mais intensa do que o esperado até o momento – não deve trazer os mesmos efeitos para o Brasil no canal de crédito, como os registrados em 2008. A conclusão foi apresentada durante o 1º Encontro Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento) e Tendências Consultoria. “Estamos em um momento econômico favorável. Mesmo assim, espero que as autoridades brasileiras consigam pilotar o avião no momento turbulento que iremos passar”, afirma o presidente da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento), Érico Sodré Quirino Ferreira, na abertura do encontro. Por sua vez, defende a consultoria Tendências, o governo dispõe de instrumentos capazes de manter o mercado de crédito funcionando com um nível reduzido de contami-

nação da crise e que podem ser utilizados em um período de maior turbulência. “Embora exista o risco de o problema fiscal em países desenvolvidos ganhar proporções maiores, não vislumbramos contágio acentuado no crédito ofertado no Brasil”, aponta Márcio Nakane, professor doutor do departamento de economia da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador técnico da Tendências Consultoria (veja entrevista com o especialista nesta edição). “De um lado há, no Brasil, a dificuldade de captação externa e um cenário mais conservador por parte dos bancos. Não vemos nenhum sinal de crise bancária externa, a não ser que outros fatores, como a repentina quebra de uma grande instituição financeira, ocorram”, reforça Nakane. Há, porém, segundo o especialista, temores no mercado em relação ao chamado “risco Argentina”, que representa o perigo de o Brasil usar erroneamente políticas semelhantes às adotadas pelo país vizinho, com baixo controle de inflação. “Vejo com preocupação essa mudança de rumo aparente do Banco Central junto ao Ministério da Fazenda e a Presidência da República, com notícias desencontradas”, observa Érico. Ele alerta, no entanto, que algo no Brasil que o incomoda pessoalmente é a extrema

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concentração no segmento bancário, no qual cinco bancos controlam a maior fatia de clientes e negócios financeiros realizados no País. Novo indicador Os ventos estão propícios. Nos próximos meses, observa a Tendências, as condições de financiamentos devem melhorar parcialmente para os tomadores, especialmente no que diz respeito a taxas de juros mais baixas do que o previsto diante do cenário de manutenção da Selic em 13% ao ano em 2012, revela o “Relatório de Crédito Acrefi – Tendências Consultoria”, lançado durante o encontro. No ano passado, enquanto a inadimplência para pessoa física alcançou baixas históricas, na modalidade pessoa jurídica o cenário foi controverso e teve altas recordes. Em 2011,

em ambos segmentos, os patamares estão em ascensão. No mês de agosto, as taxas de inadimplência bancária nas operações de crédito a pessoa física avançaram (de 6,6% para 6,7%). “Nos próximos meses não devem ocorrer altas significativas, dado que a parcela dos saldos em atraso entre 15 e 90 dias já dá sinais de arrefecimento”, aponta Nakane. Entre as pessoas jurídicas, o saldo da carteira aumentou 9,8% ante agosto do ano anterior. Devido ao ritmo mais moderado de evolução da atividade econômica doméstica e considerando baixa probabilidade de contaminação de uma crise global, a empresa de análise projeta alta de 7,7% no saldo destinado à pessoa física e aumento de 8,8% no estoque à pessoa jurídica para 2011. Já os prazos de pagamento devem manter tendência de acomodação nos próximos meses e no início de 2012. Essa variável foi diretamente atingida pelas medidas macroprudenciais introduzidas pelo Banco Central do Brasil (BCB) em dezembro de 2010, as quais foram refletidas principalmente no financiamento de veículos e no crédito consignado a pessoas físicas. outubro/novembro 2011 FINANCEIRO 7

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capacrédito

Pesquisa Acrefi de Sensibilidade de Crédito de Consumo Confira os principais pontos de levantamento realizado pela Acrefi com os associados: Como foi o ano até agosto de 2011? De razoável a bom, de maneira geral. Houve volatilidade da carteira. O primeiro semestre foi melhor, agora há a piora do perfil de risco do tomador O que fará em 2012 em política de crédito? Cautela e incerteza predominam para a abertura do ano. Política será revista considerando risco de crédito, cenário local e global O que espera da inadimplência? Preocupação maior é com o momento atual, pois o patamar ainda está em ascensão, mas deve se acomodar até o final do ano. Problema maior do risco clean (sem garantia).

Érico Ferreira, da Acrefi “Estamos em um momento econômico favorável”

As condições de financiamentos devem melhorar para os tomadores, com taxas de juros mais baixas do que o previsto

Nicola Tingas, da Acrefi “A preocupação maior é com a inadimplência atual, que apresenta alta, mas que deve se acomodar até o final do ano”

Cenário global Para Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi, os países desenvolvidos continuarão a passar por questões delicadas em suas finanças e o crescimento mundial continuará sustentado pelos emergentes. “Embora a China também tenha sofrido forte desaceleração, continua sustentando altas taxas de expansão. A América Latina, por sua vez, deve encerrar 2011 com uma projeção de crescimento de 4,2%.” Tingas fez uma análise do cenário internacional. “Dentre os destaques do relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI), foi enfatizado o problema de funding que os bancos têm em algumas economias, o risco de desalavancagem, contração de crédito, queda de PIB (Produto Interno Bruto) e a necessidade de preservar a capitalização dos bancos. Além disso, vê-se como necessária uma ação de credibilidade fiscal e consolidação de estratégias”, ressalta. Ao final da apresentação, repercutiu as principais linhas da “Pesquisa Acrefi de Sensibilidade de Crédito e Consumo” (ver box) realizada junto aos associados. O levantamento em questão sondou a opinião dos players de mercado até o fim do governo Dilma. Mediante as informações em questão,

Tingas estimou que “2011 será um ano de razoável a bom, melhor do que o esperado, embora o primeiro semestre tenha sido pior”. Por isso, segundo o economista, “para 2012, a cautela ainda predomina mediante o cenário do final de 2011. A tendência dos juros é a de que permaneçam em queda para um patamar de até 10%, embora muitos percebam que o governo possa reduzir ainda mais”. O levantamento revelou que em relação à inadimplência, a preocupação está na elevação da demanda por linhas de baixa garantia e tarifas altas – especialmente cheque especial e cartões de crédito. “De qualquer modo, a preocupação maior é com a inadimplência atual, que ainda apresenta um ciclo de alta, mas que deve se acomodar até o final do ano”, afirmou o economista.

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Lição de casa

incompleta Por Juliana Jadon

O mercado de crédito brasileiro amadurece à medida que a economia nacional vem se fortalecendo. Mas para que ele dê frutos ainda mais significativos, é necessário que o governo mantenha as rédeas firmes no sentido de consolidar a estabilização macroeconômica e de garantir um crescimento sustentado. Concluir essa jornada implica cumprir uma agenda que vem sendo negligenciada ao longo dos anos e que envolve reformas profundas: fiscal, tributária e trabalhista. E, também, driblar as incertezas de um cenário internacional adverso. Essas ponderações são de Márcio Nakane, professor doutor do departamento de economia da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador técnico da Tendências Consultoria. O executivo também atuou entre 2000 e 2007 no departamento de estudos e pesquisas do Banco Central do Brasil (BCB) e foi coordenador do Índice de Preços ao Consumidor calculado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe). Confira a entrevista a seguir.

Revista Financeiro Como está o mercado de crédito brasileiro comparado a outros países? Márcio Nakane Nosso mercado de crédito, de maneira geral, mudou muito nos últimos cinco anos. Éramos um patinho feio diante de outros países e agora, quando olhamos nossos números de crédito, entre eles o porcentual do Produto Interno Bruto (PIB), vemos que temos uma situação muito melhor do que outras nações emergentes. Já quando comparamos esses dados com mercados desenvolvidos, temos muito a crescer e melhorar. O nosso problema está relacionado a questões como spread bancário e as taxas elevadas de financiamento. Financeiro Qual o principal ponto da primeira edição da pesquisa “Perspectivas para o mercado de crédito”, realizada pela Tendências Consultoria e a que tipo de situação o País deve estar atento? Nakane É o fato de que passamos por um momento de turbulência internacional e que muito do que projetamos para o mercado de crédito em

Fotos: Douglas Luccena

A atividade de crédito avança no País. Mas para que ela deslanche é preciso que a agenda de reformas estruturais do governo saia do papel

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boa medida dependerá da qualidade de resposta do governo a esse cenário de incertezas. Em minha opinião, dependemos de que não aconteçam muitas barbeiragens do ponto de vista da condução das políticas adotadas pelo governo. Financeiro O estudo apresentado pela Tendências mostra que enquanto a inadimplência para pessoa física teve recordes de queda nos comparativos anuais, o cenário para pessoa jurídica se manteve o oposto, com elevações consecutivas da falta de pagamento. Você acredita que bancos e financeiras devem ser mais cautelosos no momento de ofertar crédito para empresas? Nakane O comportamento do nicho de pessoas jurídicas reflete um fenômeno que ocorreu no período pós-crise. O governo, por meio do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), disponibilizou muitas linhas de ajuda

“O nosso problema está relacionado a questões como spread bancário e taxas elevadas de financiamento” às empresas, incluindo as de capital de giro – que eram tipicamente o foco de atuação dos bancos privados. Dessa maneira, após a crise global, todos que puderam pagar empréstimos com o BNDES o fizeram, pois as taxas eram outubro/novembro 2011 FINANCEIRO 11

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capaentrevistadomês menores que as ofertadas no mercado. Assim, houve uma piora nas carteiras de pessoa jurídica que ficaram com as instituições privadas. Como consequência, ocorreu o aumento da inadimplência. Acho que em uma situação mais normal, com o BNDES menos ativo nesse nicho de curto prazo, a tendência é de melhoria nas carteiras para pessoa jurídica dos bancos privados. Por conta disso, imagino que o quadro de inadimplência de pessoa jurídica deva começar a ser revertido. Voltamos para um cenário de envolvimento do BNDES mais parecido com o que tínhamos antes da crise. Financeiro Um dos seus artigos diz que o Brasil ainda

precisa completar a estabilização macroeconômica. Quais as principais medidas nessa reforma necessária? Nakane Há muita coisa, mas algo de fato importante que perdemos é a agenda microeconômica de reformas, que engloba previdência, tributos e mercado de trabalho. Observávamos isso já no começo do primeiro governo Lula, com o ministro Antonio Palocci, à frente da Fazenda, e a Secretaria de Política Econômica, com Marcos Lisboa. Tudo que precisava ser feito estava lá, documentado. Se o governo desengavetar esses papéis e começar a agir nesse sentido aí, sim, estará no caminho da estabilização. “Não sabemos exatamente como o Cadastro Positivo vai ser regulamentado na prática, qual será a adesão dos grandes bancos, entre outras questões”

Financeiro Faça uma análise sobre o spread bancário brasileiro que mesmo com quedas nos últimos anos continua sendo um dos mais elevados do mundo. Nakane Acho que a tendência dos últimos anos, de fato, tem sido de queda. Se olharmos para frente, vemos que esse cenário deverá persistir. A ansiedade que temos é que poderia ser em um ritmo mais rápido. Agora, vemos a questão do spread e das taxas como um equilíbrio. De um lado, há bancos e financeiras e, do outro, os tomadores de crédito. O resultado dessa interação são as taxas que podemos observar. Financeiro Em sua opinião, o Cadastro Positivo trará mudanças efetivas ao cenário de crédito e inadimplência brasileiro? Nakane Não há dúvidas que essa ferramenta terá efeitos favoráveis sobre a inadimplência e outros fatores que geram impactos para a economia do País, como o spread. Mas aqui ainda há a dúvida sobre o quanto que realmente se ganha com a redução de inadimplência, melhores condições de financiamentos e queda do spread bancário. Se de um lado é verdade que as taxas ficam menores para os bons pagadores, por outro devem ficar maiores para aqueles que não honram seus compromissos. A incerteza maior é como colocar essa ferramenta em prática. Não sabemos como o Cadastro Positivo vai ser regulamentado na prática, qual será a adesão dos grandes bancos, entre outras questões. Existem, assim, incertezas que fazem com que não saibamos qual será o impacto quantitativo desse novo banco de informações.

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notasmercado

TERMÔMETRO

CRESCIMENTO

Consumidores estão dispostos a gastar mais

Economia inicia terceiro trimestre em expansão

O índice de consumidores que pretendem comprar algum bem durável no último trimestre de 2011 teve alta de 5,6 pontos porcentuais em relação ao período de julho a setembro, passando de 72,4% para 78%. Os dados foram obtidos pela Pesquisa Trimestral de Intenção de Compra no Varejo, realizada pelo Programa de Administração do Varejo (Provar), da Fundação Instituto de Administração (FIA), em parceria com a Felisoni Consultores Associados. O estudo também revelou que a intenção de consumidores que pretendem efetuar a compra de um imóvel subiu de 5% no terceiro trimestre deste ano para 8,2%, com intenção de gasto médio de R$ 101,7 mil.

CONFIANÇA EMPRESARIAL

Pequeno empresário recupera otimismo

Após três quedas consecutivas, o Índice de Confiança de Pequenos e Médios Negócios (IC-PMN), que analisa as perspectivas dos empresários do segmento, voltou a subir no levantamento para o quarto trimestre deste ano. Em uma escala de zero a cem, o indicador registrou 73,7 pontos. No terceiro trimestre, o índice havia atingido 72,3 pontos. Entre as questões que compõem o IC-PMN, foi registrado crescimento na confiança em relação ao desempenho da economia (72,3 pontos ante 70,5 no terceiro trimestre), expectativas de faturamento (78,4 ante 76,5) e de lucro dos empresários (76,2 ante 74,5). Já as previsões de investimento e de contratações tiveram pouca alteração em relação à última pesquisa.

INADIMPLÊNCIA

Jovens “no vermelho”

Os jovens com menos de 29 anos registraram a taxa mais elevada de inadimplência em cheque, segundo informações da TeleCheque, empresa especializada em análise de crédito baseado nesse meio de pagamento. De acordo com pesquisa realizada pela companhia, no primeiro semestre de 2011 o índice de inadimplência verificado entre jovens até 20 anos ficou em 16,92%. Por sua vez, o patamar registrado entre pessoas com mais de 60 anos atingiu 1,24%. Entre brasileiros de 21 a 30 anos, a taxa apurada foi de 6,33%.

Após a estagnação verificada em junho, a economia brasileira voltou a crescer em julho. De acordo com o Indicador Serasa Experian de Atividade Econômica (PIB Mensal), a alta foi de 0,4% em julho deste ano, descontando-se as influências sazonais. Do ponto de vista da demanda agregada, a atividade econômica continua sendo puxada pelo consumo das famílias que avançou 1,1% em igual período avaliado, acumulando alta de 5,8% de janeiro a julho de 2011. Também o consumo do governo ajudou a impulsionar a economia, registrando expansão de 0,4% em julho e de 3,5% nos primeiros sete meses de 2011.

SATISFAÇÃO

Cliente reconhece quem são os melhores

A empresa de consultoria Bain & Company utilizou o Net Promoter Score (NPS) – índice que mede a satisfação dos clientes – para analisar instituições financeiras. Entre os bancos de varejo, o Itaú Unibanco obteve o maior índice nesse quesito devido ao atendimento diferenciado e excelência do serviço prestado. Por sua vez, na categoria bancos premium, o HSBC Premier recebeu destaque. Na análise de seguradoras de vida e ou previdência, a Brasilprev conquistou a melhor posição. Já entre as seguradoras de autos, a Porto Seguro recebeu o índice de maior satisfação. A Credicard teve o melhor resultado entre as empresas de cartão de crédito, pelo atendimento, pela segurança e pelos serviços adicionais. Na categoria Informação de Crédito, a Serasa Experian foi a melhor avaliada pela confiabilidade nas informações.

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MICROCRÉDITO

Crediamigo lança pacote de incentivos O programa de microcrédito urbano do Banco do Nordeste, Crediamigo, acaba de lançar um pacote de medidas que inclui redução de juros em todas as linhas de empréstimo, além de aumento de limite de crédito e diminuição da Taxa de Abertura de Crédito (TAC) para algumas modalidades. Com as mudanças, as linhas de crédito Giro Popular Solidário, Crediamigo Comunidade e Investimento Fixo terão juros mensais de apenas 0,64% ante uma faixa anterior que variava de 0,99% a 2,95%. Para essas modalidades de empréstimo, a TAC também baixou, de 3% para 1%. O limite máximo de crédito para o Giro Popular Solidário, destinado a grupos de três a dez integrantes, dobrou e é agora de R$ 2 mil. CADASTRO POSITIVO

Brasileiro possui boas perspectivas Mais de 80% dos consumidores aprovam o Cadastro Positivo e confiam nessa modalidade de avaliação para conseguir crédito. O dado é da pesquisa “A Expectativa do Brasileiro sobre o Cadastro Positivo”, realizada pela Boa Vista Serviços. O estudo aponta ainda que 88% dos pesquisados consideram que a novidade será importante para o reconhecimento dos bons pagadores e 79% acreditam que, com ele, o acesso ao crédito será facilitado. MPES

2,5

bilhões de reais é o montante que a Receita Federal irá liberar para 2,69 milhões de contribuintes em restituições do imposto de renda, referentes a 2011 e à malha fina de 2010, 2009 e 2008

140,13

foi o porcentual de variação verificada em preços de brinquedos vendidos na capital paulista pelo Procon–SP. A diferença média de preços no comparativo anual foi de 6,58%, segundo o órgão

9,5

bilhões de reais foi o valor captado pela poupança de janeiro a setembro de 2011. O montante corresponde a menos da metade do verificado em igual período do ano passado: R$ 25,7 bilhões

Caixa atinge um milhão de correntistas A Caixa Econômica Federal (CEF) alcançou a marca inédita de um milhão de clientes pequenos e médios empresários. O número representa 92% da base total de correntistas pessoa jurídica do banco. Até agosto, a Caixa contratou R$17,1 bilhões em recursos para empresas com faturamento de até R$ 2,4 milhões. Em todo o ano de 2010, o montante foi de R$ 23,1 bilhões. Para conquistar o resultado, a empresa afirma investir em soluções que atendam às necessidades dessa categoria do empresariado. Uma das medidas adotadas recentemente foi o lançamento de uma ferramenta para simplificar a liberação de folhas de pagamento para empresas com até 150 funcionários.

13,1%

foi o aumento das vendas do comércio varejista de materiais de construção do Estado de São Paulo no ano passado em comparação a 2009, segundo o Sindicato Paulista dos Comerciários

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eventoacrefiserasa

O banquete dos emergentes:

você está preparado? Os novos entrantes do mercado de crédito representam ao mesmo tempo riscos e oportunidades. Chave está em dosar o apetite a fim de garantir um lugar na mesa, sem correr o risco de uma indigestão

Neste novo cenário de equilíbrio de forças no ambiente macroeconômico mundial , – no qual as economias emergentes despontam em relação às avançadas –, o Brasil se destaca. Embora ainda existam críticas sobre se a estabilidade econômica está, de fato, concluída e se o dragão da inflação não tenha sido completamente extinto – é fato que a situação melhorou. A opção por uma política de inclusão social, iniciada com a administração Lula e perpetuada pelo governo Dilma e que tem como uma das principais ferramentas programas de transferência de renda, deu resultados. A classe média cresceu e abriu espaço para novos membros. Pela primeira vez, milhares de pessoas possuem a oportunidade de, realmente, consumir. E mais: ter acesso ao crédito. Esses brasileiros, os emergentes, representam uma grande chance para que o crédito se consolide como uma ferramenta de apoio à geração de riquezas no País e, assim, conquiste uma participação cada vez mais significativa no Produto Interno Bruto (PIB). Mas tudo que é novo causa apreensão. Para o mercado financeiro há basicamente dois riscos. Ter apetite demais e depois pagar a conta por níveis de inadimplência de difícil di-

gestão. Ou pecar pelo excesso de moderação e, assim, desperdiçar oportunidades. Há ainda a questão do cenário internacional. Conforme abordado anteriormente, ocorre uma inversão de locomotivas na economia global. As incertezas são muitas em relação a fatores que influenciam diretamente a atividade de crédito, como a paridade entre moedas, preços de commodities, taxas de juros, entre outros. A fim de compreender melhor o que a nova classe média representa para o mercado financeiro, a Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento) e a Serasa Experian realizaram o evento “Os novos entrantes do mercado de crédito: riscos e oportunidades”. O presidente da Acrefi, Érico Sodré Quirino Ferreira, ressaltou a importância da realização do encontro sobre o tema crédito e os emergentes. “Um detalhe pode ser o grande diferencial para o seu negócio, sua empresa ou sua carreira”, afirmou o executivo. Para Ricardo Loureiro, presidente da Serasa Experian, apesar de o cenário internacional atravessar um momento de turbulências, o mercado de crédito deverá seguir firme.

Fotos: Douglas Luccena

Por Giseli Cabrini

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Fotos: Douglas Luccena

“É preciso fazer marketing de forma a atrair e gerar dividendos para nossas empresas a partir dessas 40 milhões de pessoas que alçaram voo ao mercado de crédito e consumo. No entanto, há uma série de armadilhas. Portanto é preciso dar os passos corretos ao assumir riscos”, alerta o executivo. Alexandre Pundek Rocha, assessor sênior do Banco Central, falou sobre os efeitos das medidas macroprudenciais adotadas pelo governo na tentativa de conter a inflação no mercado de crédito. Entre elas estava a elevação da taxa básica de juros, Selic, medida que foi revista em agosto. “O objetivo foi evitar uma bolha, o crédito cresceu mais de 20% até o ano passado. Agora vem se expandindo em ritmo inferior. No entanto os juros podem subir de 5% a 10% que isso praticamente não afeta a classe C. Para essa parcela, o importante é saber se a prestação cabe ou não no bolso.” Peculiaridades De acordo com Marcelo Neri, economista e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a nova classe média brasileira tem particularidades em relação a esse mesmo nicho presente em economias mais ricas ou até mesmo emergentes, mas isso não diminui sua vertente promissora para o mercado de crédito. “Não é uma classe média norte-americana ou europeia que tem maior poder aquisitivo, mas o potencial existe. No Brasil, esse ciclo de expansão começou em 2004. A classe C saiu de uma participação de 37% da população e deve chegar a em 60%, em 2014.” Ele ressaltou que, de 2003 a 2009, a renda reportada pelos brasileiros cresceu 1,8 ponto porcentual ao ano a mais do que o avanço verificado no

Reflexão Especialistas do mercado financeiro debateram riscos e oportunidades para o mercado de crédito PIB nacional. Já na China o avanço da renda tem ficado dois pontos porcentuais abaixo da geração de riqueza naquele país. E destacou que, entre 2001 e 2009, os maiores ganhos de renda foram em grupos tradicionalmente excluídos. “No Maranhão – um dos Estados mais pobres do Brasil – a renda teve ganhos de 46%, enquanto que, em São Paulo – o mais rico – esse avanço foi de 7,2%”. No Nordeste, a elevação foi de 42%, ante 16% apurada no Sudeste. “As pessoas são incorporadas ao mercado de trabalho.” E acrescenta: “eu acreditava que esse crescimento da renda não era tão sustentável quanto gostaria como macroeconomista. Mas utilizando modelos, de 2003 a 2009 o índice outubro/novembro 2011 FINANCEIRO 17

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Érico Sodré Quirino Ferreira, da Acrefi “Um detalhe pode ser o grande diferencial para o seu negócio, sua empresa ou sua carreira”

Ricardo Loureiro, da Serasa Experian “É preciso fazer marketing de forma que ele possa atrair e gerar dividendos para nossas empresas”

de potencial de consumo aumentou 22,6%, enquanto o de geração de renda subiu 31,2%. O grande responsável pela redução da desigualdade é a maior oferta de vagas, a geração líquida de emprego formal e não programas de transferência de renda. Os empresários estão apostando no futuro”. O economista destacou ainda outro fator que tem sido decisivo para que as pessoas ascendam socialmente é o investimento em educação. Já Alexandre Cordeiro, executivo da Caixa Econômica Federal (CEF), enfatizou que o Brasil está no caminho certo no que diz respeito à manutenção da estabilidade econômica. Ele lembrou a importância do programa “Minha Casa, Minha Vida” como ferramenta que colabora para a elevação da renda média do brasileiro. “A construção civil emprega, formalmente, cerca de 640 mil pessoas, sendo que um dos principais estímulos vem desse programa”, revela. Dicas Em relação aos cuidados na hora de conceder crédito para que não se torne uma inadimplência futura, Marcos Teixeira da Rosa, diretor da Kredilig, falou sobre

o modelo da financeira baseado na união de duas culturas: crédito e varejo. A Kredilig nasceu para dar suporte às atividades da rede varejista catarinense Lojas Koerich. “Em uma cidade pequena, por exemplo, o vendedor conhece o consumidor e a origem de sua fonte de renda que, em alguns casos, não pode ser comprovada oficialmente. É preciso reconhecer isso logo de inicio e fazer com que esse cliente não deixe a loja sem realizar seu sonho”. E complementou: “a ação de cobrança precisa ser feita de uma forma extremamente amigável quando se trata do varejo”. Juliano Marcílio, presidente de marketing da Serasa Experian, ressaltou a importância de deixar de lado os estereótipos quando o assunto é a concessão de crédito para os emergentes. Ele chamou a atenção para o fato de que quando se fala de periferia os dados do birô de crédito mostram que existem nove tipos de perfis diferentes em relação aos desejos e anseios desse consumidor. “Esses novos entrantes tendem a ser menos inadimplentes do que os que já participam do mercado de crédito, a diferença é que quando isso ocorre eles, em geral, têm mais dificuldade para saldar uma dívida em atraso.”

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De olho em clientes futuros, bancos oferecem condições especiais para jovens estudantes no início da carreira profissional

A fada madrinha dos estudantes É como o mundo dos sonhos de qualquer aspirante a correntista: abrir uma conta sem precisar comprovar renda, não pagar anuidade do cartão de crédito e ter isenção na taxa de pacote de serviços ou pagar muito pouco. A fada madrinha que os bancos criaram a fim de materializar todos esses desejos é a conta universitária. O produto é voltado ao público jovem – calouro na faculdade –, pensado sob medida para quem está no início da vida financeira e profissional, não tem muito dinheiro agora, mas possui grandes chances de ter sucesso no futuro. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Ibge) esse nicho de mercado só tende a crescer. A proporção dos jovens no curso superior passou de 6,9% para 13,9% nos últimos dez anos e com o aumento da renda do brasileiro esse montante deverá avançar ainda mais. Nos contos infantis, as fadas madrinhas acompanham os protegidos durante a vida toda. Da mesma forma, segundo a lógica dos bancos, as contas universitárias repre-

sentam a possibilidade de fidelizar um cliente e garantir seu apreço pela instituição financeira mesmo depois do fim da faculdade. “O desafio é reter esse cliente após a formatura. A instituição bancária funciona como um parceiro do estudante durante a universidade, investindo nele. A ideia é que o banco acompanhe essa evolução financeira, oferecendo alternativas de acordo com seu ciclo de vida, incluindo produtos mais sofisticados, como crédito imobiliário, consórcio, financiamento de veículos, serviços internacionais, entre outros”, coloca Paulo Silva, diretor do HSBC Brasil. Segundo José Kobori, professor do MBA de finanças do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), devido à grande concorrência presente no setor bancário as instituições lançam mão de estratégias para atrair o público jovem. “O banco sabe que os grandes empresários de amanhã estão saindo hoje do meio universitário e acreditam que o retorno deles, no futuro, vale o risco”, diz Kobori.

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Por Juliana Jadon e Mariana Congo

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Vantagens universitárias Conheça alguns dos benefícios oferecidos pelos bancos para o público que está na faculdade BANCO DO BRASIL > movimentação por cheque e Ourocard Universitário Internacional (cartão de débito e crédito), com primeira anuidade grátis > R$ 500 de crédito pré-aprovado, podendo chegar a R$ 800 > seis meses sem pagar pelos serviços bancários, depois a tarifa é de R$ 3,80 > todos os benefícios valem por um ano após a formatura BRADESCO > taxas revertidas em bônus no celular pré-pago > isenção de tarifas nos seis primeiros meses, depois o valor é de R$ 3,50 > um talão de cheques com dez folhas gratuitas por mês > linhas de crédito exclusivas para compra de material didático e computadores > cursos on-line gratuitos em diversas áreas de interesse CAIXA ECONÔMICA FEDERAL > tarifa mensal de R$ 3,35 > cheque especial de R$ 250 e cartão de crédito com até R$ 700 de limite, sem comprovação de renda > mesada eletrônica: o cliente pode receber a mesada direto na conta

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O especialista do Ibmec explica que assim como no segmento de crédito os juros pagos pelos adimplentes cobrem a perspectiva de inadimplência. As baixas taxas praticadas nas contas universitárias e o risco envolvido na aprovação de crédito sem comprovação de renda são compensados pelos correntistas comuns que, geralmente, pagam taxas mais altas. Depois da faculdade, o universitário

O Real foi pioneiro ao lançar a conta universitária em 1986, ferramenta que foi mantida após a união com o Santander, em 2007 Paulo Silva, do HSBC “O cliente universitário é parte de uma meta global do banco”

pode se manter fiel ao banco e até mesmo não se preocupar em comparar as tarifas entre diferentes instituições. “Existe um aspecto emocional de o jovem pensar ‘quando eu estava quebrado esse banco me deu atenção’ e valorizar a instituição que o ajudou”, afirma Kobori.

Dentro do público jovem existem perfis muito diferentes. Há aqueles que não trabalham e o estudo é pago pelos pais. E os que precisam trabalhar para pagar os estudos. “Não verificamos índices de inadimplência muito diferentes da média dos demais clientes nas mesmas faixas etárias e nem de movimentação bancária”, aponta Silva, do HSBC. No Santander, o universitário também cumpre com suas obrigações. “Acontece que ele é um cliente que demanda informação diferenciada. É importante explicar os conceitos bancários de uma forma mais didática, o trabalho de educação financeira é fundamental para manter esse cliente”, afirma Daniel Mitraud, gerente-executivo do Santander Universidades. Calouro, assim como os outros No Brasil, o Banco Real foi pioneiro na modalidade. Sua conta universitária foi lançada em 1986 e em 2007, quando foi incorporado ao Grupo Santander, eram quase dois milhões de clientes ou 17% da base. O Santander Universidades é mantido como um pilar estratégico global

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> Vantagens Site do Bradesco para universitários oferece cursos gratuitos como forma de incentivo

há cerca de 20 anos pela instituição, e com a integração dos dois bancos no País as melhores práticas foram mescladas. “O cliente universitário do Real tinha dez dias sem juros para pagar o cheque especial. Isso não havia no Santander e foi incorporado. O Santander já tinha um programa de bolsa de estudos e o Real não, isso foi mantido”, explica Mitraud. O banco investe nesse público pensando no futuro. “É um potencial cliente Van Gogh, de alta renda, formador de opinião e há muitos anos o banco consolidou essa expectativa”, diz o executivo do Santander. Segundo Mitraud, 70% dos clientes da modalidade permanecem com a instituição financeira pelo menos cinco anos depois da formatura. Mais do que participar da vida financeira, o Santander aposta na estratégia de fazer parte da vida universitária do cliente para se diferenciar dos concorrentes. Assim, criou ações como o Prêmio Santander Universidades, que incentiva a produção acadêmica e empreendedora, e o Plano de Apoio à Educação Superior (Paes), pelo qual mantém mais de 900 convênios com universidades em 15 países e concede bolsas de estudos. No ano passado o banco distribuiu um total de R$ 1 milhão a 21 projetos inscritos. O segredo para fidelizar o cliente universitário, diz o executivo do Santander Universidades, é oferecer educação financeira e soluções que o acompanham ao longo da vida. Por exemplo, o limite de crédito da conta universitária do Santander começa em R$ 900 (cheque especial e cartão), mas

aumenta gradativamente ao ano se o cliente apresentar um bom comportamento bancário. Correndo atrás Há dez anos, o Bradesco iniciou a abertura de contas universitárias. O produto surgiu com o objetivo de atender ao crescimento dos jovens que adentravam as universidades no País, por meio da oferta de produtos direcionados. Percebeu-se, na época, a necessidade de atender a um público cada vez mais atento aos assuntos financeiros e que procurava não apenas por serviços bancários, mas por um relacionamento prestativo, prático e duradouro. “Construímos uma série de benefícios, como a isenção da mensalidade nos seis primeiros meses e cartão de crédito com a primeira anuidade grátis e desconto de 50% nas demais, dez folhas de cheques sem custo por mês, entre outros”, conta Marcos Daré, diretor de investimentos do banco. No Bradesco, o cliente universitário caracteriza-se por um público que busca praticidade, tecnologia e mobilidade. Trata-se de um mercado promissor que valoriza produtos diferenciados adequados às suas

HSBC > abertura de conta sem comprovar renda ou assinatura de um responsável > limites maiores de crédito para quem comprovar renda > cheque especial e cartão de crédito com limites a partir de R$ 500, cada > crédito universitário diferenciado para pagar pós-graduação ou intercâmbio ITAÚ UNIBANCO > limite de crédito a partir de R$ 1.000 (cartão e cheque especial), sem comprovação de renda > seis meses sem taxas, depois a tarifa é de R$ 3,95 > primeira anuidade grátis no cartão de crédito e 50% de desconto até o sexto ano de faculdade > descontos especiais em parceiros e pontos em dobro no programa “Sempre Presente” SANTANDER > o cliente que usa o cartão de crédito pelo menos uma vez por mês e não paga anuidade > pacote de serviços grátis por três meses a partir da abertura da conta > limite de crédito sem comprovação de renda: R$ 400 no cheque especial e R$ 500 no cartão de crédito > dez dias, sem juros, para pagar o cheque especial > o cliente recebe SMS quando usa o cartão de crédito > linha de crédito pessoal com taxas diferenciadas e 24 meses para quitar, ideal para compra de livros, laptops e custeios de cursos complementares

A proporção dos jovens que fazem curso superior passou de 6,9% para 13,9%, nos últimos dez anos

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Banco do Brasil Além da conta universitária, outros produtos, como a Conta Comissão de Formatura e o crédito educativo do Fies são pensados para atender às demandas do público jovem

necessidades diárias. Daré acredita que essas pessoas sabem lidar com dinheiro e, entretanto, estão em busca de aprendizado na área financeira. Por isso, o banco disponibiliza vídeos-chats no site da conta universitária com temas ligados à educação financeira. Na área acadêmica, o Bradesco oferece cursos gratuitos on-line disponíveis no site da conta universitária (www.bradescouniversitários.com.br) que conferem certificado de conclusão e podem ser aceitos como atividades complementares, entre elas estão: matemática financeira, pacote Office e finanças pessoais. Na área profissional, possui parceria com a Microsoft para a oferta de softwares gratuitos de diversos temas, com

todo material de apoio. Ambos disponíveis na área vip do site. Além disso, a Conta Universitária Bradesco está presente no Twitter e no Facebook, redes sociais disseminadas entre os universitários. Já para o HSBC, investir no público universitário é a melhor alternativa para capturar o crescimento social do Brasil. Os gestores do banco acreditam que clientes com ensino superior possuem maior mobilidade social. Caso sejam bem trabalhados e fidelizados desde a universidade, serão a base do banco no futuro. “Eles preferem canais remotos de atendimento, especialmente internet banking. Os principais produtos utilizados são cartão de crédito e cheque especial. Esse perfil reflete o comportamento dos jovens, que valorizam uma instituição que oferece conveniência, boa infraestrutura remota e que apoia as necessidades financeiras de curto e médio prazo”, conta Paulo Silva, diretor do HSBC Brasil. O banco iniciou sua conta universitária em 2000, mas em 2010 a atuação com os jovens foi intensificada com a oferta de novos produtos de crédito para graduação, pós-graduação e intercâmbio. “Além disso, revisamos toda a comunicação feita para o universitário, incluindo merchandising em agências, site exclusivo e ações remotas em universidades”, afirma o executivo. Diferentes abordagens A maior conquista de um cliente universitário se dá no momento da abertura da conta. Nesse sentido, os bancos lançam suas estratégias e buscam estar onde esse cliente se encontra. As ações do HSBC, por exemplo, começam no início do ano letivo, quando as instituições permitem maior alcance e exposição aos alunos. “O cliente universitário é parte de uma meta global”, revela Silva, do HSBC. Presente em mais de 350 universidades brasileiras, o Santander aposta na capilaridade de suas agências nos campi universitários para conquistar o calouro, logo no início no curso. “Isso é um diferencial para o banco e um benefício para o cliente. Na matrícula, na volta às aulas e em eventos geralmente atuamos com uma equipe promovendo a nossa oferta”, explica Mitraud. Para o Banco do Brasil (BB), a comunicação é um pilar fundamental da estratégia com os universitários. Neste ano, ele investiu na campanha “Eu Faço Acontecer”, convidando o público a acessar o site www.eufacoacontecer.com.br.

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A plataforma interativa foi criada para estabelecer uma nova comunicação com os jovens. “Além de promover as soluções que o banco oferece para esse público, o site é um ponto de encontro virtual, com uma proposta altamente colaborativa. Vinculado às redes sociais, permite a troca de ideias e opiniões. Também possui um espaço para o compartilhamento de fotos e vídeos. O BB investe forte nas redes sociais. Ao longo do ano, promoções são ativadas via perfis do BB no Twitter e no Facebook”, conta Sérgio Nazaré, diretor da área de clientes do Banco do Brasil. O patrocínio esportivo, especialmente ao vôlei, é outra estratégia da instituição para se aproximar dos jovens. Outras ações, como as de volta às aulas, são realizadas em cerca de cem campi brasileiros, com atrações culturais, distribuição de brindes e informativos. Além da conta e do cartão de crédito, o BB também mantém produtos como o BrasilPrev Júnior, a Conta Comissão de Formatura e o Seguro Auto Jovem. O crédito educativo do Fundo de Financiamento ao Estudante de Ensino Superior (Fies), antes exclusivo da Caixa Econômica Federal (leia mais nesta edição), passou a ser ofertado também pelo Banco do Brasil desde agosto de 2010 e já atendeu 30 mil universitários. Futuro promissor O esforço voltado ao público universitário, em geral, traz resultados satisfatórios. No Banco do Brasil, por exemplo, o índice de retenção dos clientes que deixaram a uni-

versidade no primeiro semestre deste ano chegou a 70%. A instituição financeira tem um modelo de relacionamento com esse público desde 1995. Hoje, são cerca de 1,3 milhão de correntistas e dois milhões de cartões de crédito ativos. “Esperamos garantir a fidelidade desse público na continuidade do seu ciclo de relacionamento, contribuindo para a renovação da nossa base de clientes”, afirma Nazaré. Já no HSBC a principal expectativa para os próximos anos é a ampliação do público universitário no mercado, o que tem relação direta com o crescimento econômico e da classe média no País. Outra tendência é o aumento da procura por produtos e serviços para intercâmbio no exterior. “Devido ao crescimento dessa demanda, acreditamos estar bem posicionados, pois estamos presentes nos principais países procurados, além de ter crédito disponível para financiar cursos. Oferecemos também de serviços internacionais, como abertura de conta no exterior, saques em terminais de autoatendimento (ATMs) em mundo todo”, explica o executivo do HSBC. O Bradesco também tem uma visão otimista. “Com a tendência de aumento do número de universitários no Brasil e a iniciativa do governo para adotar o tema educação financeira no currículo das escolas do ensino médio (leia mais sobre esse assunto nesta edição), esperamos jovens cada vez mais exigentes em relação ao mercado financeiro e ao atendimento bancário”, diz Daré. E conclui: “esse público anseia não apenas pela oferta de produtos bancários, mas por uma consultoria financeira”.

Prêmio Santander reconhece universitários que realizam projetos sociais

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Incentivo na ponta do lápis Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) garante o curso universitário de mais de 111 mil brasileiros somente em 2011.No ano passado, os contratos somaram cerca de R$ 450 milhões Por Juliana Jadon Uma pessoa com ensino superior possui 500 vezes mais chances de conseguir trabalho registrado na área que almeja atuar do que alguém sem diploma. O dado é do Ministério da Educação (MEC). Mas fazer faculdade nem sempre é algo acessível e compatível com a renda. Nesse contexto, uma das principais alternativas de inclusão que pode resolver esse problema é o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), empréstimo que cobre até 70% do valor do curso e que é pago somente depois que o estudante concluir os estudos. Somente em 2010 foram mais de 75,8 mil contratos que somam cerca de R$ 450 milhões. E o número de financiamentos cedidos por esse fundo não para de crescer (ver tabela). Neste ano já foram firmados mais de 111,5 mil acordos.

Seguir cursando o terceiro ano letivo da faculdade de ciências contábeis era inviável para Sônia Ribeiro em 2000. Aos 23 anos, ela trabalhava na área financeira de uma construtora e tinha renda de cerca de R$ 900. Com esse rendimento, precisava pagar os estudos, além das compras de livros, aluguel, condomínio e outras contas essenciais. Sôninha, como é conhecida, queria fazer parte do grupo de pessoas com melhores oportunidades no mercado de trabalho. Na biblioteca da universidade Oswaldo Cruz, em São Paulo (SP), cartazes anunciavam o Fies. Colegas também comentavam o benefício pelos corredores e salas da instituição de ensino. Sonia, então, decidiu ir a uma agência da Caixa Econômica Federal (CEF) e optou pelo financiamento. A partir dessa etapa tinha de pagar somente 30% das mensalidades – menos de R$ 100 por mês – e destinar uma quantia mínima para a Caixa. “Sem esse incentivo, eu não teria conseguido concluir os estudos”, diz ela. O Fies foi criado em 1999 para financiar estudantes carentes. Em 2010 passou a funcionar em novo formato. Podem recorrer ao benefício os estudantes matriculados em

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O Fies é uma maneira de as pessoas conseguirem chegar ao objetivo de estudar. É uma espécie de atalho para um caminho que poderia levar anos para começar a ser trilhado”

Realização Sônia Ribeiro concluiu a faculdade de ciências contábeis e se sentiu preparada para enfrentar novos desafios

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Somente em 2010 foram mais de 75,8 mil contratos de financiamentos do Fies que somam R$ 450 milhões cursos superiores que tenham avaliação positiva nos processos conduzidos pelo Ministério da Educação (MEC). No ano passado, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) passou a ser o agente operador do programa e os juros caíram para 3,4% ao ano. Além disso, o estudante pode solicitar o financiamento em qualquer período do ano. Antes, o Fies priorizava os alunos que cursavam,

Renato Meirelles, do Data Popular “Para uma família de menor renda, a educação é vista como um investimento”

no mínimo, o segundo ano letivo, assim como Sônia, que entrou com o pedido no terceiro ano. O empréstimo que ela fez teve duração de seis anos, com parcelas que não ultrapassavam mais do que R$ 300. O MEC facilita o cálculo para os interessados. No portal (http://sisfiesportal.mec.gov.br/faq.html) é possível simular o financiamento, inserindo dados como a renda familiar e o valor do trimestre universitário. Ainda no quarto ano, antes mesmo de terminar o curso de ciências contábeis, a estudante saiu da construtora e conseguiu um emprego na área financeira de outra empresa, no qual está até os dias atuais. Já são 11 anos na mesma companhia. “O propósito de tudo isso para mim era ampliar os horizontes e conhecer outras áreas e oportunidades. O Fies é uma maneira de as pessoas conseguirem chegar mais rápido ao objetivo de estudar. É uma espécie de atalho para um caminho que poderia levar anos para começar a ser trilhado”, completa. Educação é prioridade Assim como Sôninha, a nova classe média está em busca de maior acesso à educação. Segundo o instituto de pesquisas Data Popular, de 2004 a 2009 a escolaridade do público feminino emergente avançou 65% no nível

Em números A aplicação anual do Fies ofertada pela Caixa só aumentou nos últimos anos. Por meio de financiamento, mais de 560 mil estudantes tiveram a possibilidade de continuar sua graduação. Confira os valores anuais: ANO

VAlOR

2008

R$ 21milhões

2009

R$ 160,2 milhões

2010

R$ 293 milhões

2011*

R$ 254,7 milhões

*Base: 31/07/2011 Além da Caixa, outras instituições financeiras oferecem essa linha Fonte: Caixa Econômica Federal

superior ou acima. “O principal ponto que leva a essa mudança é a melhora da renda das classes C, D e E, que passaram a investir em itens tecnológicos, casa própria e educação. Para uma família de menor renda, a educação é vista como um investimento. Não existe previdência privada melhor do que investir na educação dos filhos”, diz Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular. Além do Fies, os estudantes ou futuros universitários desprovidos de recursos têm à disposição outro mecanismo criado pelo governo: o Programa Universidade para Todos (Prouni). Ele surgiu em 2004 e é destinado à concessão de bolsas para alunos comprovadamente carentes, oriundos de instituições públicas e submetidos ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

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Por Paulo Gratão

Fotos: iStockphoto/Douglas Luccena

Projeto piloto criado pelo governo federal sobre educação financeira abrange 891 escolas em seis Estados desde 2010 e está sendo abraçado por professores, alunos e familiares A renda dos pais de Warley Esteves, 16 anos, é a mesma do ano passado, mas a forma de administrar mudou. Depois que começou a ter aulas de educação financeira na escola, o estudante levou o conhecimento para os pais, que passaram a fazer um controle melhor do consumo da família e, atualmente, vivem com o orçamento menos apertado. “Expliquei a eles como era o projeto e, então, passamos por grandes mudanças nos gastos”, explica o jovem. Warley é um dos 13.236 estudantes das 891 escolas de ensino médio selecionadas, por meio do Censo Escolar e de critérios socioeconômicos, em seis Estados brasileiros, para fazer parte do projeto de educação financeira do governo federal. As regiões contempladas são: Ceará, Distrito Federal, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Tocantins. Warley cursa atualmente o terceiro ano do ensino médio na Escola Estadual Araci Zebral Teixeira, localizada na Vila Yolanda, região leste de São Paulo. Nesse estabelecimento de ensino, a educação financeira é coordenada por Janete Aparecida Souza Melo, que inscreveu a escola após ouvir a descrição do Decreto nº 7.397. Ele instituiu a Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef) em uma reunião na diretoria de ensino da região. O objetivo do projeto é alinhar as disciplinas já ministradas no currículo escolar com a realidade financeira, ensinando os jovens a poupar, administrar e se preparar para o mercado de trabalho. O Ministério da Educação (MEC) afirma que o intuito não é transformar a educação financeira em uma disciplina isolada e, sim, “transitar com desenvoltura entre as referidas áreas”. Além disso, é meta também fazer com que os jovens sejam multiplicadores, de forma que o conhecimento financeiro ultrapasse os muros das escolas e chegue às conversas de domingo nas famílias.

Matemática vista por outro ângulo Janete conta que ela mesma aprendeu muito folheando o material das aulas. “Nunca fui boa com contas, por isso escolhi psicologia. Mas esse é outro tipo de matemática: é orientação. Eu aprendi a controlar minhas próprias finanças”. A coordenadora diz que os alunos têm demonstrado interesse particular pelas aulas, que são ministradas pelos professores Marli de Souza, de filosofia e sociologia, e Nilson Ranieri, de matemática. “Em conversas com os estudantes, percebemos que eles estão mais conscientes. Para comprar um tênis, por exemplo, um aluno me disse que prefere juntar o dinheiro para pagar à vista e negociar do que parcelar em quatro vezes. Os alunos, com certeza, terão uma

Finanças na Balança A educação financeira não está restrita apenas a ações do poder público. A iniciativa privada também pode colaborar, assim como a Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento), que lançou, no início do segundo semestre deste ano, o blog Finanças na Balança (http://financasnab alanca.blogspot.com). A ideia é ajudar as pessoas na busca pelo equilíbrio financeiro de modo a usar o crédito como um aliado e não como um vilão do orçamento pessoal. Semanalmente são feitas atualizações com pelo menos dois novos posts. Os assuntos envolvem temas sobre o universo das finanças que tenham relação direta com o dia a dia das pessoas. Entre os assuntos já abordados estão dicas relacionadas a situações de grande interesse do brasileiro, como financiamento imobiliário, viagens e até casamento.

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“O projeto está agregando muito à matemática convencional. Ensina os alunos como gastar, como investir e como poupar. Coisa que nós não tínhamos, antigamente” Sônia Santonini Leopoldo, diretora da Escola Estadual Araci Zebral Teixeira

vida financeira melhor que a nossa se aproveitarem o conteúdo”, afirma. Para colocar o projeto em prática, a diretora Sônia Santonini Leopoldo escolheu, no ano passado, uma turma do segundo ano do ensino médio. Ela conta que a adesão dos professores à iniciativa foi voluntária. “Não foi nada imposto, quando o professor abraça, ele trata com carinho.” Em 2011, as salas foram mescladas para que mais alunos tivessem acesso ao projeto, uma vez que existe apenas uma turma do terceiro ano no período matutino

seria a contemplada. Sônia explica que fez isso a pedido dos próprios alunos, que gostariam de ter a orientação. Em 2012, a educação financeira será estendida para as turmas do primeiro ano do ensino médio. Marli acredita que a dinâmica da educação financeira é a ideal e representa uma mudança significativa na metodologia de ensino: “o lúdico encanta e facilita o aprendizado. E a matemática financeira é lúdica”. As notas nas disciplinas convencionais também tiveram reflexo positivo, segundo a educadora. “As últimas avaliações foram excelentes, a educação financeira fez muita diferença, principalmente, em matemática”, explica. “O projeto está agregando muito à matemática convencional. Ensina os alunos como gastar, como investir e como poupar. Coisa que nós não tínhamos, antigamente”, acrescenta Sônia. Primeiro emprego e faculdade Devido às aulas de Marli, Lisley Gomes Silva, 16 anos, se sente mais apta a preencher fichas de seleção e enfrentar

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o mercado de trabalho. “Pedi para minha madrinha fazer meu primeiro currículo, mas agora já sei fazer sozinha. Estou mais preparada, sempre é bom aprender”, diz. Pensando no futuro, Daniela Gonçalves Caruso, 17 anos, passou a poupar R$ 100 por mês para fazer faculdade de artes cênicas. Atualmente, a jovem é empacotadora em um supermercado na região e pode ter esperanças de ver seu sonho materializado em alguns anos. Da mesma forma pensa Douglas Melo de Carvalho, 18 anos. Pelo menos metade do salário que recebe atualmente como assistente administrativo vai para a poupança. A meta é cursar a faculdade de administração. “Com as aulas, vi que é possível planejar melhor. Antes eu gastava tudo e agora sei dividir e poupar”, explica. O jovem já tem cartão de crédito e atribui à educação financeira sua nova postura com a utilização dos recursos financeiros. “Já sei usar o dinheiro de forma mais consciente. Se em um determinado mês eu compro alguma coisa, espero até o próximo para adquirir outra”, afirma.

“Com as aulas, vi que é possível planejar melhor. Antes eu gastava tudo e agora sei dividir e poupar” Douglas Melo de Carvalho, estudante da Escola Estadual Araci Zebral Teixeira

A expectativa do MEC é que a educação financeira leve até dez anos para se consolidar nas escolas brasileiras. O Enef teve a colaboração do Banco Mundial para a escolha e segmentação das instituições e a parceria permanece para o acompanhamento da prática. Além do Enef, o governo federal criou o “Programa Mais Educação”, que enxerga na educação financeira um dos articuladores para motivar o espírito empreendedor nos jovens. As iniciativas do governo federal ainda que incipientes representam sementes para que o brasileiro e, principalmente, a nova classe média consiga lidar com o dinheiro de modo consciente, tendo uma relação de consumo equilibrada que contribua de forma positiva para a economia do País. f outubro/novembro 2011 FINANCEIRO 33

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artigocenário

A inadimplência subiu.

Por Luiz Rabi

À medida que o ano de 2011 vai se aproximando do seu final, cresce a sensação de ter sido um ano com sabor de pizza morna: não tão saboroso quanto 2010, mas deu para engolir sem fazer muita cara feia. Afinal, o crescimento econômico recuou de 7,5% no ano passado para pouco mais de 3% neste ano, a inflação subiu, o crédito desacelerou e o mundo ficou mais conturbado. Mas o que também diferenciou 2011 de 2010 foi a elevação, praticamente ininterrupta, dos níveis de inadimplência, tanto das empresas quanto dos consumidores. O que leva muitos a se perguntarem: será que a falta de pagamento continuará subindo também no próximo ano? Antes de mais nada é importante notarmos que a elevação a inadimplência em 2011 deveuse à confluência de três elementos. Em primeiro lugar, tivemos um período de crescimento acelerado do crédito entre meados de 2009 e ao longo de 2010, dada a prevalência dos estímulos relacionados com o pacote anticrise (aumento dos gastos públicos, juros mais baixos, isenções fiscais etc.), baixado pelo governo a partir do último trimestre de 2008. Em segundo lugar, o País passou por um s u r t o inflacionário entre outubro de 2010 e abril deste ano, registrando

uma taxa média de inflação rodando a casa dos 10% ao ano no período, o que desequilibra qualquer orçamento familiar. Por último, e para combater esta alta da inflação, o governo apertou a política monetária subindo juros e compulsórios, além de adotar medidas de restrição ao crédito (as chamadas medidas macroprudenciais). Assim, a acentuada expansão do endividamento dos dois últimos anos acabou deparando-se com um período razoável de inflação bem mais elevada e, mais adiante, com um custo maior para o carregamento das dívidas: combinação perfeita para se provocar um processo de elevação da inadimplência, que de fato começou a se materializar a partir do final de 2010 e que caracterizou quase todo o ano de 2011. Felizmente o cenário que se abre para os próximos trimestres é diferente. O crédito já evolui a um ritmo mais moderado, não apenas pelas medidas macroprudenciais adotadas pelo Banco Central, como também por uma postura mais cautelosa dos agentes financeiros diante da inadimplência corrente maior. A inflação está sendo controlada e em processo de convergência, ainda que bastante gradual, às suas metas, e o agravamento do quadro externo tem permitido ao governo reiniciar um novo ciclo de redução dos juros, contribuindo para diminuir o custo do endividamento. Tudo isso é positivo para presenciarmos, no curto prazo, uma estabilização e, em 2012, o início de uma trajetória de redução dos níveis de inadimplência no País. f Luiz Rabi É gerente de Indicadores de Mercado da Serasa Experian

Foto: Carol Carquejeiro/Artigo enviado em outubro

E agora?

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Brincando de fazer dinheiro

Seja na tela do computador ou no tabuleiro, crianças e jovens têm à disposição jogos que ensinam de maneira lúdica como lidar com finanças Por Flávia Corbó

É comum a crítica de que as crianças e adolescentes de hoje em dia passam tempo demais no computador. Mas será que todas as horas gastas com os olhos fixos na tela são em vão? Entre o amplo universo de informações que podem ser obtidas na rede há alguma que pode colaborar para o crescimento e formação dos pequenos internautas? A empresa Cedro Market & Finances acredita que sim. Aproveitando o conhecimento adquirido na criação de softwares para o mercado finaceiro, a Cedro – responsável pelo simulador de ações da Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo (BM&FBovespa) – criou o jogo Goumi. De forma lúdica e divertida, a brincadeira procura ensinar educação financeira para crianças e adolescentes. “O objetivo é criar uma relação saudável entre criança e os benefícios do dinheiro a partir do lema: poupar, gastar, investir e até doar”, explica o gerente de marketing da Cedro Finances, Samuel Paiva. Ao criar um personagem, o jogador ganha um terreno e 500 mics – a moeda vigente no jogo. Com esse espaço 36 FINANCEIRO outubro/novembro 2011

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de terra e essa quantia no bolso é preciso gerar lucro para alimentar as necessidades básicas do personagem: alimentação, higiene pessoal e moradia, o que inclui mobiliar a casa e pagar contas de consumo como água e luz. Inicialmente o jogador deve comprar sementes na casa da agricultura e passar a cultivar em seu terreno para ganhar dinheiro. Mas o Goumi oferece outras inúmeras possibilidades de tornar-se bem-sucedido. “Certa vez, uma jogadora comprou todas as sementes de morango disponíveis à venda. Os demais jogadores riram, mas depois a fruta começou a ser requisitada e como só ela possuía a mercadoria, vendeu pelo preço que queria”, relata Paiva. Ganhando dinheiro na agricultura, o participante tem oportunidade de expandir seus negócios, comprar itens e acessórios na loja de roupas, fazer trocas de mercadorias entre os jogadores, investir na construção de indústrias e até na Bolsa de Valores. Como o jogo pode ser acessado via Facebook, além do site www.goumi.com.br, há a possibilidade de pedir conselhos e propor parcerias aos demais participantes. “É possível se relacionar com vizinhos, perguntar como eles prosperaram, pegar dicas. Forma-se uma rede de relacionamento entre os jogadores pela qual eles trocam experiências, criam fóruns e estratégias de crescimento”, analisa Paiva. Atualmente, o Goumi já tem cinco mil usuários e vem chamando a atenção pela didática. “Temos apresentado o jogo para diversas secretarias municipais de Educação, pois atualmente

a educação financeira está muito em voga no Ministério da Educação”, afirma o gerente de marketing (leia mais sobre o tema nesta edição). Fonte para a academia Desde abril, a Universidade Federal de Uberlândia (UFU), em Minas Gerais, está analisando o comportamento dos usuários de Goumi. Os resultados serão utilizados para a sustentação de uma tese de mestrado. “Imagine você tirar uma fotografia desses cinco mil usuários e daqui a cinco anos ter contato com essa mesma base de jogadores, que informações não poderemos ter?”, indaga Paiva. O executivo vê no Goumi um instrumento vocacional bem simples, pois desperta aptidões que podem se desenvolver no futuro. “Tem crianças que a partir do contato com o jogo começam a se identificar com administração, economia, engenharia. De repente, daqui alguns anos elas vão seguir mesmo essas profissões.”

Já tem criança achando até que entende melhor de finanças do que os adultos Para os pais que pensam que o jogo pode incentivar os filhos a passarem ainda mais tempo isolados em frente ao computador, o Goumi tem a solução. Os personagens do jogo precisam descansar, então não é benéfico jogar por muito tempo seguido. Além dessa preocupação, o lado social também é abordado. Frequentemente são feitas campanhas sociais, incentivando atos como a doação de sangue e o combate ao mosquito da dengue, por exemplo. “Já tivemos o relato de uma criança que estava ajudando a mãe a eliminar a água dos vasos de plantas, pois viu que no jogo, quando o personagem fica doente, é preciso comprar remédios, melhorar a alimentação e tudo isso gerava mais gastos”, conta o gerente de marketing da Cedro Market & Finances. Embora tenha sido criado para o público infantil e adolescente, o jogo faz sucesso entre adultos. “Teve uma outubro/novembro 2011 FINANCEIRO 37

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associação comercial que disse que as lições aprendidas seriam ótimas para passar para micro e pequenos empresários que desejam entrar no mercado financeiro, mas não sabem gastar e investir”, garante Samuel Paiva. Inclusive já tem criança achando até que entende melhor de finanças do que os adultos. “Outro dia ouvi de uma jogadora: minha empresa está ganhando muito bem e meu pai vive no vermelho“, relata.

O lado social também é abordado. Frequentemente são feitas campanhas sociais Desde a época do tabuleiro Mas o lado lúdico das finanças foi explorado muito antes do surgimento da internet e das redes sociais. O Monopoly – um dos mais populares jogos de tabuleiro do mundo – surgiu na década de 1930, nos Estados Unidos, lançado pela Parker Brothers e, mais recentemente, seus direitos

foram parar nas mãos da Hasbro. A versão em português, o Banco Imobiliário, foi trazida para o Brasil pela fabricante de brinquedos Estrela, em 1944, com suas famosas notas coloridas de dinheiro em miniatura e propriedades que tinham nome de ruas ou localidades famosas das cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, como Avenida Paulista, Ipanema, Morumbi, Interlagos, Copacabana. Apesar do sucesso imediato, o jogo nunca parou no tempo e, ao longo dos anos, ganhou novas versões, em sintonia com as necessidades e os desejos dos consumidores e fãs da brincadeira. Atualmente o Super Banco Imobiliário funciona assim: todos os competidores começam com um crédito de 25 mil lastreado na moeda própria do jogo. As compras de imóveis e companhias são debitadas do cartão de crédito, de acordo com as aquisições de cada participante. Quando um jogador tem de pagar ao outro, os dois cartões passam pela máquina. Um para ter o valor debitado e outro para receber os créditos. As companhias à venda no jogo foram substituídas por empresas de verdade. No Super Banco Imobiliário é

Fotos: iStockphoto/Divulgação

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Atualmente o Goumi já tem cinco mil usuários e vem chamando a atenção pela didática

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possível fazer transações com ações de marcas como Vivo, Itaú, TAM Viagens, Nivea, Ipiranga e Fiat. Seguindo outra tendência mundial, a Estrela lançou uma versão ecologicamente correta do Banco Imobiliário. As peças do brinquedo são feitas de plástico verde, material à base de cana-de-açúcar e outras matérias-primas 100% renováveis. O tabuleiro, a caixa e as cartas são de papel reciclado. Toda a dinâmica do jogo está ligada à sustentabilidade. No lugar de bairros e ruas importantes, as casas do tabuleiro são reservas naturais como Pantanal, Rio São Francisco, Chapada dos Veadeiros, Serra da Mantiqueira e áreas sucroalcooleiras como Ribeirão Preto, Três Lagoas (MS) e Teotônio Vilela (AL). As companhias de transporte foram substituídas por empresas como Companhia de Reciclagem Energética, Companhia de Reflorestamento, de Agricultura Orgânica e de Reciclagem Mecânica. As cartas de sorte ou revés também estão temáticas. O jogador pode ser punido: “sua empresa foi multada por poluir demais” ou bonificado: “você protegeu suas terras do desmatamento e faturou com o turismo ecológico”.

Samuel Paiva, da Cedro Finances “O objetivo é criar uma relação saudável entre a criança e os benefícios do dinheiro a partir do lema: poupar, gastar, investir e até doar”

O jogo também oferece formatos mais simplificados que podem ser apreciados por crianças a partir de cinco anos. Os personagens da “Turma da Mônica” foram parar no tabuleiro para ajudar os pequenos a aprender a lidar com dinheiro. E também para fãs específicos. Para os apaixonados por quadrinhos, há a versão com a “Liga da Justiça”. Os imóveis à venda são conectados aos heróis e vilões dos gibis e quem não fizer o melhor negócio logo vai descobrir que o aluguel do “Planeta Diário”, famoso jornal no qual trabalha Clark Kent e Louis Lane, não é nada acessível assim como o da mansão do milionário vilão Lex Luthor. f

O Banco Imobiliário foi trazido para o Brasil pela fabricante de brinquedos Estrela em 1944

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Motor para o

crescimento

Mais conhecido como opção para a aquisição de veículos, o arrendamento mercantil tem papel importante como fonte de recursos para novos investimentos no País da Redação Na hora de comprar um carro surge a pergunta: financiamento, leasing ou consórcio? Embora o arrendamento mercantil, também conhecido por leasing, seja quase sempre associado ao segmento automotivo, suas potencialidades vão além. Trata-se de uma ferramenta importante para que grandes investimentos produtivos saiam do papel e se concretizem. E, assim, o Brasil tenha um crescimento econômico ainda maior e ser torne mais competitivo no cenário global. E é com esse raciocínio que a Associação Brasileira das Empresas de Leasing (Abel) trabalha desde sua criação, em 1970. Confira a seguir a íntegra da entrevista com o presidente da entidade, Osmar Roncolato. Revista Financeiro Quais as diferenças entre o leasing destinado à pessoa física e à jurídica? Osmar Roncolato No arrendamento mercantil, o bem é adquirido pela arrendadora de acordo com a especificação do contratante por prazo e pagamentos previamente definidos. O bem permanece sob propriedade da sociedade arrendadora durante o contrato. A diferença básica entre o leasing efetuado pelas pessoas físicas e pessoas jurídicas reside no contexto do registro das despesas de arrendamento, uma vez que para as pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real tais despesas são dedutíveis para fins de apuração do Imposto de Renda (IR).

Financeiro Quais as vantagens do leasing para pessoa jurídica diante de outras linhas de crédito? Elas persistem mesmo com a adoção do sistema contábil internacional IFRS (International Finance Reporting System) pelo Brasil? Roncolato O contrato de arrendamento mercantil em termos de custos financeiros é equivalente às demais modalidades de crédito disponíveis no mercado. Entretanto o contrato de arrendamento mercantil proporciona às empresas contratantes as seguintes possibilidades: substituição do bem arrendado (em casos de mudança tecnológica), renovação do contrato por um novo período de arrendamento e exercício da opção de compra do bem arrendado pelo preço contratualmente estipulado. Financeiro De que forma a atividade de leasing ajuda no desenvolvimento do País? Roncolato O arrendamento mercantil possibilita a atualização do parque industrial dos mais diversos setores de nossa economia, participando de forma decisiva na modernização e no ganho de produtividade dessas empresas. Financeiro Quem são os maiores clientes de leasing no País, atualmente? Roncolato No Brasil, o maior item objeto de arrendamento ainda está voltado a veículos destinados não só

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às pessoas físicas como também às jurídicas cujos bens são aplicados para o transporte de cargas, em geral.

O leasing proporciona a opção de compra do bem arrendado, entre outras vantagens

Financeiro Comparativamente a outros países, como a atividade de leasing tem se desenvolvido no Brasil? Roncolato O Brasil representa o maior mercado arrendador da América Latina. O leasing tem se desenvolvido de maneira muito consistente, embora temos nos deparado com certa deficiência na segurança jurídica necessária para o pleno crescimento do produto leasing.

Financeiro Fale um pouco a respeito do seminário sobre arrendamento mercantil promovido pela Abel, em outubro. Roncolato O seminário teve por objetivo apresentar as questões tributárias que envolvem o produto, discutir casos de utilização do arrendamento mercantil como instrumento de viabilização de investimentos pro-

dutivos, mostrar aspectos contábeis e regulatórios na visão do Banco Central do Brasil (regulador) e do International Accounting Standard Boards (Iasb) diante da convergência internacional.

Financeiro Quais as principais oportunidades e desafios para o leasing no País? Roncolato As oportunidades do arrendamento mercantil são imensas, principalmente sua utilização como instrumento de fazer com que investimentos produtivos se tornem viáveis, oportunidades essas que não podem ser desperdiçadas, em especial diante do cenário macroeconômico que o Brasil vem apresentando. E, sobretudo, em virtude dos grandes investimentos que devem ocorrer no País diante da realização da Copa do Mundo (2014) e das Olimpíadas (2016). Em relação aos desafios, a nossa entidade procurará o aprimoramento do marco regulatório, fazendo com que o arrendamento mercantil no Brasil possa ser reconhecido verdadeiramente como um “instituto”, eliminando a assimetria que existe atualmente. f outubro/novembro 2011 FINANCEIRO 41

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Plástico,

papel ou metal? Apesar do crescimento do uso dos cartões, cédulas e moedas ainda têm lugar garantido na carteira dos consumidores Por Thiago Borges e Raquel Sena colaborou Juliana Jadon Metais preciosos, papel e até mesmo sal e gado. Ao longo da história, os meios de troca e, na sequência, de pagamento, se diversificaram e evoluíram de acordo com a necessidade dos consumidores e do próprio mercado. Assim como as mercadorias se tornaram inconvenientes às transações comerciais – devido à oscilação de seu valor e pelo fato de não serem fracionáveis e facilmente perecíveis, não permitindo o acúmulo de riquezas – as vantagens até então oferecidas por cédulas, moedas e cheques – possibilidade de entesouramento, divisibilidade e facilidade de transporte – começam a perder espaço para a conveniência e agilidade de transações eletrônicas. Multiplicam-se os consumidores que preferem usar cartões de débito, crédito e pré-pagos. Há ainda esforços para tornar possível o pagamento de despesas por meio do aparelho celular, como já ocorre em outros países.

Diante disso, a pergunta que fica é: cheques, cédulas e moedas estão realmente perdendo espaço nas carteiras dos consumidores diante do avanço do uso dos cartões? A resposta surpreende, embora o avanço no uso dos plásticos – seja na modalidade débito ou crédito – seja um processo irreversível. Dados do Banco Central do Brasil (BCB) mostram que cerca de metade da população economicamente ativa recebe o pagamento em dinheiro, principalmente os mais jovens e os menos favorecidos. Em um mês são gastos atualmente, em média, R$ 807,93 e 59% desse valor é pago com dinheiro. O brasileiro costuma levar na carteira, em média, R$ 36 por dia. O volume de cédulas em circulação aumentou nos últimos dez anos. Em setembro de 2001 havia mais de 1,8 bilhão de cédulas monetárias da primeira família do real em circulação no Brasil. Atualmente, são 4,3 bilhões. Para gerar maior segurança no uso desse meio de pagamento e melhor identificação por parte de deficientes visuais, a autoridade monetária criou a segunda família do real. A produção foi iniciada em dezembro do ano passado. Além de ser mais difícil de ser fraudada, a nova família possui diferentes tamanhos de cédulas.

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Foto: Douglas Luccena/Divulgação BCB

Conveniência Para gerar maior segurança no uso desse meio de pagamento e melhor identificação por parte de deficientes visuais, a autoridade monetária criou a segunda família do real

Volume versus valores Embora a utilização de cheque seja algo cada vez mais em desuso, a extinção desse meio de pagamento parece distante, por enquanto. Para entender essa realidade é preciso fazer uma distinção entre a participação do cheque no volume total de operações financeiras e quanto ele representa em valores. De 2005 a 2010, as transações com plásticos acumularam altas de, respectivamente, 157% e 121% nas modalidades débito e crédito, e somaram 4,4 bilhões de operações no ano passado. Por sua vez, em igual período, a utilização de cheques recuou 34% e alcançou 1,6 bilhão de operações, em 2010. Mas, em valores, os cheques ainda lideram. Em 2010, o valor médio por operação nessa modalidade era de R$ 1.003 ante R$ 99 (cartão de crédito) e R$ 54 (cartão de débito). As informações têm como fontes Abracheque, associação que representa as empresas do segmento, BCB e instituições financeiras. José Antonio Praxedes, presidente da TeleCheque – presente em 14 mil estabelecimentos – e da Abracheque, parte para a defesa das qualidades desse meio de pagamento. Ele reconhece a perda da importância dessa ferramenta bancária e atribui isso muito mais à ascensão do débito automático e do internet banking que aos cartões. “Antigamente você emitia um cheque para pagar a sua fatura de cartão”, lembra. E afirma que a inadimplência dos cartões de crédito está em torno de 30%, enquanto 3,5 % dos cheques emitidos são sem fundo. “Cheque não é meio de pagamento. É instrumento de crédito” diz Praxedes. Considerando-se a renda familiar brasileira de R$ 1.360, segundo o Ibope, em uma família com três pessoas economicamente ativas o limite individual do cartão de crédito não permitiria comprar um outubro/novembro 2011 FINANCEIRO 43

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item de maior valor agregado. Nessa lógica, o cheque não rivaliza com o cartão. Pelo contrário: complementa, uma vez que também pode ser usado para compras programadas. A vez do cartão Levados pelas exigências do mercado, pela disposição de ampliar as vendas e pela vontade de reduzir a exposição a riscos, a adesão dos empresários a maquininhas que aceitam o dinheiro de plástico é cada vez maior. Números do “Diagnóstico do Sistema de Pagamentos de Varejo do Brasil”, do Banco Central do Brasil, indicam que os pagamentos com cartão

Em valores, os cheques ainda lideram. Em 2010, o valor médio por operação nessa modalidade era de R$ 1.003 ante R$ 99 (cartão de crédito) e R$ 54 (cartão de débito) tiveram um crescimento considerável nos últimos anos. Em 1999, o porcentual de cartões de crédito e débito correspondia a 22% dos meios de pagamento, enquanto o cheque alcançava

62%. Já em 2010, os cartões passaram a ser 62% e o cheque 15%. Segundo Fernanda Della Rosa, economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio) são diversos os benefícios e as facilidades oferecidas pelas bandeiras de cartões aos clientes. “Em muitos casos, há juros embutidos, mas isso é algo que o consumidor consegue absorver e não o intimida na hora de decidir se deve ou não alongar a dívida.” Entre os fatores que colaboram para que os plásticos ganhem do papel e do metal estão a ascensão da classe C juntamente com a bancarização.

Plásticos no comércio Os cartões de crédito e débito emitidos no País se consolidaram no mercado brasileiro, participando de forma crescente nas transações comerciais; porém ainda há alguns entraves tanto para o lojista quanto para o consumidor: LOjista/cOmérciO • aceitação das taxas impostas pelas administradoras de cartões, podendo comprometer sua rentabilidade • Prazo alongado para o recebimento das faturas • Problemas com a queda do sistema em horários de pico que implicam aceitação de outros meios de pagamento • redução de margens pela dificuldade de repassar custos cOnsumidOr • custo das mensalidades cobradas • cobrança indevida nas faturas • dificuldade de cancelar transações comerciais • altas taxas de juros cobradas no parcelamento ou atraso de pagamento • Possibilidade de clonagem de cartões sem chip Fonte: Fecomercio

José Antonio Praxedes, da TeleCheque “cheque não é meio de pagamento. é instrumento de crédito”

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Atualmente, com o aumento da oferta de crédito, o acesso aos cartões tornou-se muito mais fácil. O consumidor consegue adquirir o produto financeiro gratuitamente em estabelecimentos próprios ou mesmo por meio do banco no qual é correntista. Para alguns consumidores, os plásticos trazem segurança e comodidade. “Em minha opinião, o cartão é mais seguro. Se você vai a uma banca de jornal, por exemplo, e abre a carteira no meio da rua corre um grande risco de alguém estar observando, ver a quantia que você tem em dinheiro e assaltá-lo”, diz Ricardo Escandon que é publicitário. Sempre que vai a restaurantes, lojas de conveniência, bancas de jornal e lanchonetes, ele utiliza o dinheiro de plástico para pagar as contas. Carrega na carteira o

valor máximo de R$ 50, caso precise comprar itens de menor valor, como uma água, um chocolate ou até pagar uma passagem de ônibus. O outro lado da moeda Mas é bom ficar atento, pois a conveniência pode ter um reverso negativo: o descontrole financeiro. Na avaliação de Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o cartão facilita e muito a compra por impulso. “Roupas, calçados, CDs e livros são alguns dos itens que o cliente compra sem planejamento. Ele passa na frente da loja, gosta e estando com o cartão em mãos não pensa duas vezes em adquirir o produto, mesmo estando sem dinheiro”, avalia.

Solimeo faz outra ressalva. Embora o duopólio no segmento de cartões tenha chegado ao fim – atualmente os estabelecimentos estão aptos a processar plásticos de todas as bandeiras – alguns comerciantes ainda têm dificuldades para operar com esse tipo de sistema. Persistem problemas em relação à cobrança de taxas muitas vezes consideradas elevadas pelos micro e pequenos empresários, além de gargalos no relacionamento com as administradoras, entre elas a instabilidade na operação do sistema. Na opinião do economista da ACSP, são esses entraves que não permitem que o cheque saia de circulação. O número de transações, segundo ele, pode crescer menos que o de cartão, mas não necessariamente deixará de existir.

Ricardo Escandon, publicitário “Em minha opinião, o cartão é mais seguro”

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O outro lado da porteira Entre os principais players do agronegócio brasileiro e até mundial, o Mato Grosso se destaca também pelas políticas públicas voltadas a questões fiscais e tributárias

Com uma economia baseada no agronegócio, o Mato Grosso (MT) tem alcançado um elevado nível de desenvolvimento que vai além dos limites das cercas das fazendas de grãos e de gado bovino. O Estado é líder nacional na produção de soja e algodão. Isso faz desse território um importante agente da balança comercial brasileira e um player respeitado no mercado mundial. Até agosto deste ano, a pauta de exportações do Estado era composta, principalmente, por embarques de soja e derivados (70%), carnes (11,9%), algodão (2,28%) e madeira (1,04%). De acordo com informações do governo local , o avanço da atividade agrícola gerou um grande desenvolvimento econômico, além de contribuir para o surgimento de inúmeras cidades. Atualmente, são 141 municípios. O Produto Interno Bruto (PIB) local é composto por agropecuária (29%), serviços (55%) e indústria (16%), segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE – Ano Base 2008). Já o PIB per capita é de R$ 17.927. Diante de números tão expressivos, ter à frente da máquina pública uma gestão eficiente é fundamental para a multiplicação das riquezas semeadas no território mato-grossense. Dessa forma, o trabalho desenvolvido pela Secretaria de Fazenda do Mato Grosso (Sefaz–MT) tem se destacado no sentido de tornar mais ágil, transparente e eficaz o processo de arrecadação estadual. Leia a seguir entrevista com o gestor da Sefaz–MT, Edmilson José dos Santos. Revista Financeiro O modelo de cobrança do Imposto Sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) – adotado no

Fotos: Divulgação

Por Giseli Cabrini

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todo o acréscimo de produção obtido naquele ano fica livre de tributação. É uma medida que aumenta o número de empregos e aprimora tecnologicamente a nossa produção. Financeiro Quantas empresas do setor de revenda de veículos usados participam da estimativa segmentada no Mato Grosso? Santos Ao todo, 133 empresas do segmento participam desse modelo de tributação e devem recolher R$ 1,3 milhão em ICMS aos cofres do Estado até o final deste ano. A medida aumentou a “O montante transparência do segmento e melhorou total do ICMS significativamente a relação entre o Es- é estipulado tado e revendedores de veículos usados, pelo Fisco, mas que passaram a fornecer mais informa- quanto cada ções ao Fisco sobre esse segmento ecoempresário nômico. Recolhem também por esse deve recolher modelo tributário as usinas de etanol, a indústria de água mineral e os atacadistas. é determinado Financeiro Recentemente o aten- pelos próprios dimento na secretaria passou a ser contribuintes”

Fotos: Divulgação

Mato Grosso sobre a revenda de veículos usados – deverá ser indicado como exemplo para os demais Estados do Brasil. A sistemática, inclusive, foi elogiada pela direção da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto) durante convenção nacional da entidade, realizada em Cuiabá. Em que consiste essa iniciativa? Edmilson José dos Santos Após diversas reuniões com os revendedores de veículos usados, nós propusemos, no início do ano passado, o modelo de estimativa segmentada, no qual a Sefaz calculou o valor recolhido em 2009 e o potencial para o ano de 2010 de todo o segmento. O montante total do imposto é estipulado pelo Fisco, mas o quanto cada empresário deve recolher é determinado pelos próprios contribuintes. O recolhimento do imposto passou a ser mensal, em parcelas fixas, nas quais o pagador pode fazer um planejamento de suas finanças. Essa forma de tributação também atua como incentivo ao desenvolvimento da economia. Quando determinamos um valor a ser pago, levamos em conta o faturamento do ano anterior. Então,

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agendado pela internet. Como funciona esse sistema e quais os resultados já alcançados? Santos Em nosso Estado, precisamos ter um controle fiscal minucioso, justamente por esse perfil voltado ao agronegócio. Como a maior parte do que produzimos é destinada à exportação, a base de arrecadação ficou pequena após a aprovação da Lei Kandir. Ampliamos e muito o controle eletrônico da economia e isso possibilitou também melhorar o atendimento ao contribuinte. Atualmente, o contador, o empresário ou o representante legal da empresa – quando precisa de um atendimento presencial na Agência Fazendária – deve antes entrar no portal da Sefaz e agendar a data e o horário. A única exigência que fazemos para isso é que o contribuinte chegue cerca de 15 minutos antes da hora marcada, o que tem sido rigorosamente cumprido. O agendamento trouxe comodidade ao contribuinte e garantiu maior agilidade ao resultado produtivo do nosso quadro de servidores. Financeiro O agronegócio, como as demais atividades, tem bônus e ônus. A questão do meio ambiente é sempre alvo de críticas. O que a Sefaz tem feito nesse sentido? Santos O Mato Grosso não quer ser apenas um Estado muito produtivo, o “celeiro do Brasil”, mas também ter uma produção sustentável. Para isso, o governo como um todo atua na fiscalização do agronegócio e no desenvolvimento de políticas que incentivam ações ambientais. Nosso Estado é o que mais recolhe embalagens de agrotóxicos, ou seja, 98% do total empregado na produção agrícola. Mas, para isso se tornar realidade, a Sefaz teve um papel importante no processo. Há dez anos, propusemos nacionalmente o fim da cobrança do ICMS na devolução dessas embalagens, o que possibilitou a ampliação no recolhimento.

Antes, o custo do imposto fazia com que as embalagens ficassem no campo, poluindo nossas águas. Isso é passado. Outra medida foi a interligação do banco de dados da Sefaz junto aos servidores da Secretaria de Meio Ambiente. Isso possibilita que o Fisco realize um controle de créditos e desmatamentos, somente permitindo a emissão de notas fiscais na hipótese de existência de crédito ambiental. Financeiro Neste ano, a arrecadação estadual com soja apurou aumento de 100% em relação ao ano passado. De que forma esse resultado foi obtido? Santos Nós adotamos um esforço na auditoria das exportações. Identificamos basicamente duas situações. Na primeira, produtores informavam ao Fisco que a carga era destinada à exportação e terminavam vendendo internamente, em outro Estado. Nesse caso, a soja que deixa de ser tributada (uma vez que teria como destino a venda no exterior) acumula duas irregularidades: passa a dever o imposto e ainda as multas pela tentativa de fraude. Na segunda situação, a produção ao chegar ao porto era “batizada” como se fosse originada em outro Estado do País, fazendo com que o Mato Grosso perdesse recursos do Fundo de Apoio às Exportações (FEX). Financeiro O que prevê o Decreto n° 526/2011? De que forma ele beneficia o Estado? Santos O Decreto n° 526/2011 regulamentou o Fundo Estadual de Desenvolvimento Social (Funeds). Criamos essa ferramenta para o financiamento de políticas sociais nas áreas de infraestrutura, segurança pública, habitação e desenvolvimento humano. Precisávamos encontrar uma forma de obter recursos para o Funeds mesmo diante de um momento de contenção de gastos, tendo em vista a possibilidade da crise internacional atingir, fortemente, o Brasil. Esse fundo também é importante dentro do esforço de preparação do nosso caixa para os desembolsos que serão necessários para a realização de obras envolvendo a Copa do Mundo, em 2014. Dessa forma, o decreto possibilita descontos de 45% a 90% nos débitos tributários registrados na base da Sefaz até dezembro de 2010. É uma oportunidade que o Fisco oferece para os contribuintes entrarem em situação de regularidade tributária e, ao mesmo tempo, ampliar os recursos públicos para a realização de mais obras sociais. f

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acrefisocial Por Juliana Jadon

Muito além dos limites

da medicina Quando Gabriela Moraes Rosetti tinha apenas dois anos de idade, sua mãe, Maria Aparecida Guimarães de Moraes Rosetti, conhecida como Maita, descobriu que a pequena tinha leucemia, um tipo de câncer no sangue com origem na medula óssea. A criança havia sofrido mais de três episódios seguidos de pneumonia e o pediatra decidiu investigar a baixa imunidade apresentada por ela. O médico a encaminhou para outro hospital, no qual foi detectada a doença. Desde então Gabriela passou por diversos tratamentos até a chegar ao Grupo de Apoio ao Adolescente e a Criança com Câncer (Graacc), quando tinha, aproximadamente, dez anos. No ano passado, aos 14 anos, ela finalmente obteve a cura. Atualmente, a ex-paciente diz que “ama o Graacc” e leva do lugar, além de um aprendizado inigualável e a desejada cura, amigos para a vida toda. Com o lema “Combatendo e vencendo o câncer infantil”, o Graacc atendeu cerca de 2,5 mil crianças somente em 2010, sendo que 90% delas são pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). “Precisamos de ajuda financeira, pois a nossa receita é menor do que a metade dos nossos gastos”, explica doutor Sérgio Petrilli, oncologista infantil que foi um dos idealizados e fundadores do hospital, criado em 1998. Graças ao trabalho de Petrilli, que conheceu em outros países o que há de melhor no combate ao câncer infantil – tratamentos, medicamentos e tecnologias – e trouxe para o Brasil todo esse conhecimento na bagagem, hoje o Graacc é um centro de referência na América Latina, operando com equipamentos de última geração, serviços especializados e excelentes resultados nessa batalha. “Atualmente, cerca de 70% dos casos de câncer podem ser curados se descobertos cedo”, diz o médico. Nos dias atuais, conta Petrilli, uma das principais metas da instituição é a construção de um aparelho de radioterapia que emite radiação apenas para o local no qual está o tumor, poupando os tecidos em volta. A estrutura já está sendo construída, mas ainda é preciso angariar recursos. A instituição

Fotos: Douglas Luccena

Com apoio de instituições, como a Acrefi, e de doadores individuais, o Graacc combate o câncer infantil. Trabalho é referência na América Latina

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Mundo de fantasias Gabriela, na Brinquedoteca do Graacc, espaรงo criado para entreter os pequenos

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Foto: Divulgação

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Sérgio Petrilli, do Graacc “Atualmente, cerca de 70% dos casos de câncer podem ser curados, se descobertos cedo”

também incentiva o desenvolvimento de pesquisas científicas, conduzidas em convênio com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/EPM) e promove a formação de profissionais especializados em oncologia infanto-juvenil. Devido a toda essa expertise, pacientes como Gabriela são curados. Amor à primeira vista Dona Maita define o Graacc como um “mundo de fantasias”. O trabalho dos médicos e das pessoas que atuam no local ultrapassa as barreiras da medicina. Gabriela não perdeu a escola, pois conseguiu continuar os estudos enquanto recebia os cuidados médicos, tendo aulas dentro do Graacc. Uma das preocupações é entreter as crianças e fazer com que o tratamento não pese na vida escolar. Na brinquedoteca, os pequenos se divertem. Há ainda apoio

Como ajudar O Graacc tem o apoio de voluntários, parceiros e doadores para continuar seu trabalho. Assim como faz a Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento) você pode contribuir de diversas maneiras. É possível ser um sócio mantenedor e ajudar no tratamento dos pacientes. Sua empresa pode ser parceira da instituição, desenvolvendo uma campanha ou como patrocinadora dos eventos. Você pode ainda destinar parte do imposto de renda devido por meio do Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, entre outras ações. Para saber mais, entre em contato pelo telefone (11) 5908–9100, pelo e-mail graacc@graacc.org.br ou acesse o portal www.graacc.org.br.

de diversas áreas, entre elas terapia ocupacional, importante para a humanização, uma vez que as crianças geralmente ficam mais de um ano em tratamento. Psicólogos orientam também os familiares dos pacientes no momento delicado. Gabi, conta Maita, era tratada como criança e não como doente. Levava até bronca quando era preciso. “Mesmo na situação em que os pacientes tratados no Graacc se encontram, eles são felizes lá”, relata. “Foi amor à primeira visita”, brinca ela, orgulhosa com a maneira com que a filha foi atendida. No Graacc, Gabriela passou por um transplante de medula óssea, doada por uma de suas duas irmãs. A família pôde acompanhar partes da operação para tranquilizar a menina. Os médicos foram sinceros ao dizer que ela tinha 50% de chance de se curar com a cirurgia. “Graças a essa sinceridade, inclusive sobre os possíveis efeitos colaterais dos tratamentos, ela foi muito tranquila para a operação.” Depois do procedimento, lembra Maita, houve um período em que a menina não conseguia se alimentar e a equipe comprou um milk-shake porque Gabi havia dito que tinha vontade e nunca havia tomado. Em outra época, ela só conseguia comer panqueca e a cozinheira fazia o prato especialmente para ela. “O câncer é uma doença como qualquer outra. As pessoas devem ver que existe a cura”, finaliza a mãe de Gabriela, que, ao lado de outros ex-pacientes do Graacc, servem como exemplo para muitas crianças que atualmente estão em busca da cura. f

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artigoindicadores

A importância do

consumidor

Foto: Divulgação/Artigo enviado em setembro

Por Thiago Freitas

Dentro da análise das contas nacionais, o consumo é a principal variável na geração do Produto Interno Bruto (PIB). No Brasil, o consumo corresponde a aproximadamente 60% da riqueza produzida no País, o que torna o seu monitoramento fundamental para o entendimento da evolução do nível de atividade econômica. Criado para medir o grau de otimismo do consumidor nas suas decisões de consumo e poupança, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) é um dos indicadores de nível de atividade mais utilizados nos países desenvolvidos. Ele tem o poder de medir a confiança do consumidor na sua capacidade de compra e na situação do País, abordando a percepção das pessoas em relação à inflação, ao desemprego e aos rendimentos futuros. Um índice de confiança do consumidor pode ser definido como um conjunto de informações econômicas construídas a partir de um questionário sobre as percepções das condições econômicas atuais e expectativas para o futuro. No caso do consumo, esses indicadores têm por objetivo antecipar a evolução futura do nível de gastos dos consumidores, auxiliando, assim, na antecipação de possíveis impactos desse fenômeno sobre a demanda agregada. Dessa forma, a cada mês o empresário dispõe de um instrumento de referência que possibilita auxiliar no processo decisório de formação de estoques e comportamento de vendas. Ressalta-se, ainda, que uma das principais vantagens da utilização de índices de confiança do consumidor é o fato desse indicador fornecer

informações sobre o comportamento do consumo futuro de uma forma mais rápida do que por meio de variáveis macroeconômicas que, divulgadas com maior defasagem, frequentemente estão sujeitas a correções. Além disso, ao captarem as expectativas dos consumidores, esses índices permitem projetar o comportamento dessas pessoas antes mesmo da materialização dos gastos. No agravamento da crise a relevância da informação dos índices de confiança para a modelagem econométrica dos Bancos Centrais e para o julgamento dos condutores das políticas econômicas torna-se cada vez mais indiscutível. No Brasil, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio) foi a pioneira a aderir a metodologia voltada para medir o grau de confiança dos consumidores. Até setembro, os dados apurados pela entidade mostram que o indicador vem apresentando sinais de volatilidade, principalmente pela persistência da inflação em curso. Mesmo com um nível de confiança em um patamar elevado, acima dos cem pontos, derivado dos excelentes resultados da massa real de rendimentos, é razoável imaginar que o consumidor, diante de um cenário menos favorável e com percepções crescentes de que o ritmo de atividade econômica está efetivamente desacelerando, incorpore isso em suas avaliações, ajustando suas expectativas em relação ao presente e ao futuro. f Thiago Freitas É administrador, mestre em economia pelo IBMEC–RJ, e analista da FFA Consultoria e Pesquisa Econômica outubro/novembro 2011 FINANCEIRO 53

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Por Karin Fuchs

Esportista assĂ­duo, o superintendentegeral da CIP transfere para o trabalho os ensinamentos de horas de treinos

CĂŠrebro oxigenado,

grandes

ideias 54 FINANCEIRO outubro/novembro 2011

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Foto: Douglas Luccena

Definitivamente o esporte entrou na vida de Joaquim Kavakama, superintendente-geral da Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP), e não a deixará mais. Tudo começou, como ele mesmo diz, há 11 anos, com um alerta de seu cardiologista sobre os perigos do sedentarismo. Horas dedicadas ao trabalho e nada de tempo para cuidar da sua saúde. Uma mudança de atitude era mais do que necessária. O tempo corria... O primeiro passo foi matricular-se na academia que ele, atualmente, frequenta pelo menos três vezes por semana, durante duas horas por dia. O tempo é dividido entre aulas de musculação e aeróbica. E, nos fins de semana, é adepto de corridas ao ar livre nos arborizados parques de São Paulo. Aliás, correr é uma paixão que foi despertada em Kavakama logo que ele começou a praticar esportes, bem como o gosto por competir. São Silvestre e as maratonas internacionais de São Paulo e do Rio de Janeiro fazem parte do seu currículo. Esportes radicais também entraram na sua agenda, entre eles rapel, mergulho e até escalada de montanha. Todos eles renderam a ele mais saúde e muito aprendizado que, na prática, ele aplica no dia a dia à frente da CIP, nas suas atividades e junto à sua equipe. E se a desculpa é falta de tempo para cuidar de si, ele logo traz um ensinamento: “o tempo é o que há de mais democrático. Todos nós temos 24 horas por dia. O que faz a diferença é o que cada um de nós faz com elas, as escolhas de prioridades”, diz o executivo, que acorda, pontualmente, às 5 horas durante os dias úteis e uma hora depois já está na academia. Pode parecer exagero, mas foi a forma que ele encontrou para se exercitar e fugir do pesado trânsito matinal da cidade, sem comprometer o horário de trabalho. Afinal, o esporte está entre as suas prioridades. Inspiração para a vida Para quem trabalha em um segmento que requer muita segurança, sigilo de informação e um cuidado preciso para não haver vazamento de dados, como na CIP, Kavakama traça um paralelo com o mesmo cuidado que requer escalar uma montanha. “Aprender a escalar não é uma técnica para chegar ao topo mais rápido de uma montanha, mas subir com segurança, analisando todos os riscos e possibilidades.

E ter um plano B, caso o inicial falhe. Um conceito que deve ser aplicado nas empresas”. E acrescenta. “Eu costumo dizer para todos na CIP que somos responsáveis por um sistema importante que é a compensação de Transferência Eletrônica Disponível (TED), em tempo real. Um problema que dure um segundo pode comprometer toda a credibilidade perante os bancos.” O executivo traça outro paralelo entre a segurança de uma escalada e as ações adotadas no mundo corporativo. “A tragédia sempre acontece depois de vários sinais. Na montanha, um erro de ancoragem ou um fiapo na corda põe em risco a vida. O mesmo acontece nas empresas quando eles passam desapercebidos e não se tomam providências. Uma vez percebido o risco, é preciso planejar.”

Acredito que, até por uma questão fisiológica, o cérebro mais oxigenado nos traz mais clareza. Na CIP, o pessoal diz que eu sou o professor Pardal, sempre com novas ideias logo pela manhã” Da São Silvestre em 2002, Kavakama recorda-se que, na época, estava se recuperando de uma lesão no joelho e, por orientação médica, poderia participar da competição, desde que parasse imediatamente de correr se a dor voltasse. Pouco mais da metade do trajeto, depois de oito quilômetros corridos, o joelho não perdoou. No lugar de parar, como deveria, continuou. O resultado foi ter de fazer várias seções de fisioterapia durante quatro meses e a interrupção dos treinos. “Esse foi outro aprendizado. Existem limites que têm de ser respeitados. O mesmo acontece no trabalho. A corda estoura.” outubro/novembro 2011 FINANCEIRO 55

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Retorno Assim como no mundo das finanças, no qual o retorno está no centro de todas as ações, praticar exercícios trouxe ganhos para o executivo. Estresse e mau humor não fazem parte da rotina de Kavakama. “Acredito que, até por uma questão fisiológica, o cérebro mais oxigenado nos traz mais clareza. Na CIP, o pessoal diz que eu sou o professor Pardal, sempre com novas ideias logo pela manhã.” O esporte também garante energia extra ao executivo, principalmente, diante de tarefas mais complexas e que demandem mais esforço, como a adoção do sistema de Débito Direto Autorizado (DDA) pela CIP, em outubro de 2009. O projeto de cobrança eletrônica demandou muita dedicação de todos os envolvidos e mudanças. Inicialmente, eram estimados 200 mil clientes cadastrados, o que já era um grande volume. Quatro dias antes do lançamento nacional do DDA, havia 1,3 milhão de cadastrados. Todo o sistema teve que ser reformulado para garantir agilidade. Além da experiência de ter participado de outros projetos dessa dimensão – sistema de compensação e de liquidação de TEDs, DOCs, boletos de cobrança e TECs –, Kavakama teve um fôlego extra para enfrentar a situação. “Naquela semana eu dormi praticamente uma ou duas horas por noite. Toda a equipe trabalhou direto para cumprir o prazo de lançamento do DDA. Lidei muito bem com a situação, pois o condicionamento acumulado com a prática esportiva dá a energia necessária quando é preciso ir além. Já recuperei as horas de sono, mas ainda preciso me policiar para dormir melhor, pelo menos sete horas por dia”, brinca, ao citar que ao chegar do trabalho a dedicação é toda voltada à família, pelo menos, até às 23 horas. Energia de sobra Toda essa energia contagia a equipe do executivo. Logo após o almoço, quem estiver na fila do elevador com aparência de sedentário não foge do alvo de Kavakama e logo vem um convite: “Vamos subir pelas escadas?” Em geral, ninguém declina o convite para chegar ao décimo andar. O esforço costuma valer a pena. É uma oportunidade e tanto de estar ao lado do executivo. Na reta final, ele se diverte com os comentários do companheiro de “subida”,

Todos nós temos 24 horas por dia. O que faz a diferença é o que cada um de nós faz com elas, as escolhas de prioridades” geralmente com comparativos sobre disposição e idade. Kavakama tem 52 anos e um pique de causar inveja a muitos jovens. Incentivar as pessoas a cuidar da saúde e promover o bem-estar é algo presente na vida do executivo. No ano passado, a CIP patrocinou os colaboradores que participaram da Maratona Internacional de São Paulo, de dez quilômetros. Muitos que nunca haviam

tentado antes, além de se inscreverem, também começaram a treinar com frequência. “Nós trabalhamos muito com a questão do bem-estar na CIP para que as pessoas sejam felizes nas suas escolhas, gostem do que fazem e dediquem essa energia na execução das tarefas. Saber qual é o seu objetivo de vida e se a empresa lhe proporciona atingi-lo é fundamental para alcançar a felicidade.”

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artigomercadoimobiliário

Bolhas imobiliárias, em princípio, não se diferenciam de outras bolhas econômicas. Todas apresentam período de rápido aumento dos preços, estimulador de maior oferta, até que chegam a um nível considerado insustentável, seguido por correção acelerada. O que torna o caso imobiliário mais assustador é ele agir sobre a principal forma de riqueza e segurança das famílias, a casa própria. Ao contrário do que ocorre em setores que produzem produtos menos duráveis, o aumento da oferta ocorrido na primeira fase não “desaparece” em pouco tempo: o estoque excessivo de residências pressiona os preços para baixo por anos. Esse efeito devastador justifica que se pergunte se o Brasil vive uma bolha. A capacidade de pagamento das famílias explica em parte a demanda por residências. Entre 2006 e 2009 a renda média das famílias cresceu fortemente (16%) e foi acompanhada de queda da desigualdade social. Além disso, a estabilidade da economia gerou aumento dos prazos de financia-

Por Luiza Betina Petroll Rodrigues

Dados de financiamentos 2006

2009

Variação

Prazo máximo oferecido

20 anos

30 anos

50%

O prazo aumentou...

Parcela (juros de 12% ao ano)

R$ 1.059

R$ 982

-7,3%

Renda necessária (a)

R$ 3.529

R$ 3.272

-7,3%

... e com isso a parcela e a renda necessária para pagá-la diminuíram

Milhões de domicílios com renda igual ou superior a (a) Total de domicílios (milhões)

5,1

8,5

65,0%

54,3

58,7

8,1%

Interpretação

Isso aliado ao crescimento vegetativo e da renda e à queda da desigualdade social fizeram aumentar em 65% o número as famílias que podem arcar com este financiamento

Fonte: cálculos da autora a partir dos microdados da PNAD do IBGE

mento de 20 para 30 anos, o que reduziu a parcela. Esses três efeitos combinados fizeram saltar de 5,1 para 8,5 milhões os domicílios com renda suficiente para arcar com o financiamento imobiliário de R$ 100 mil. Esse aumento de 65% do mercado potencial (3,3 milhões de novos demandantes) por si só já explica parcialmente a alta real de 51,5% nos preços de imóveis entre 2008 e 2010. O mercado imobiliário exige análise de longo prazo. Os seis países cujos preços de residências caíram mais de 10% desde 2007 (Irlanda, Dinamarca, Espanha, EUA, Nova Zelândia e Reino Unido) já passaram pela transição demográfica, ou seja, possuem mais adultos e idosos que crianças. Ao contrário do Brasil, a população tende a cair e com ela a demanda por moradias. Assim, um indicador seguro de demanda futura por habitações é o número de pessoas por domicílio: 3,3 no Brasil contra cerca de 2,6 nesses países – nível que só devemos atingir em cerca de 11 anos. Indício institucional de início de bolha imobiliária é o afrouxamento excessivo das condições de financiamento. Felizmente, essa não foi a tendência dos anos 2000: a exigência de entrada de 20% do preço do imóvel e o consignado imobiliário demonstram o conservadorismo do sistema financeiro na concessão de crédito, e a alienação fiduciária substituiu a hipoteca como recurso para diminuir o não pagamento. A recente alta dos preços dos imóveis, portanto, assenta-se em sólidos fundamentos: aumento da renda e dos prazos, queda da desigualdade e instituições firmes. Os fatores demográficos também sinalizam que essa demanda continuará forte ao menos nos próximos cinco anos. Não há motivos, portanto, para temer uma bolha no curto prazo. f Luiza Betina Petroll Rodrigues é analista econômica do Santander

Foto: Douglas Luccena/Artigo enviado em outubro

Alta justificada

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tecnologiacurtas

Por Raimundo de Oliveira

O que vem por aí Conheça novidades no autoatendimento bancário

Fotos: iStockphoto

Saques mais ágeis Depois da biometria, que dispensa o uso de senhas na utilização de caixas eletrônicos, os brasileiros estão prestes a usufruir de um novo tipo de conveniência. Uma tecnologia que permite que as cédulas para saques em terminais de autoatendimento (ATMs) tenham como origem depósitos feitos em dinheiro pelos próprios clientes. A comodidade é válida também para

Multicanal em alta A expectativa de grandes alterações na forma atual de vender os serviços e produtos por parte das empresas que atuam no mercado financeiro vai muito além de expansão do mobile payment e da queda no movimento nas agências bancárias e financeiras. O cliente preza cada dia mais pela conveniência. Na área de centrais de relacionamento, o uso exclusivo do telefo-

as empresas, uma vez que esse sistema dispensa o uso de mão de obra física para abastecer os equipamentos. Quem promete trazer a novidade para o País é a Wincor, empresa especializada no fornecimento de tecnologia da informação e uma das líderes globais no fornecimento de caixas eletrônicos, em parceria com a IBM. De acordo com o presidente da Wincor, Javier López-Bartolomé, a novidade traz ganho de tempo e redução de custos para as companhias e facilita o funcionamento dos ATMs para os clientes. A iniciativa está em sintonia com o que os consumidores desejam. Segundo o executivo, pesquisa realizada nos Estados Unidos revela que 74% deles preferem as transações financeiras por meio de ATMs e que 86% levam em conta as funcionalidades dos caixas eletrônicos no momento de escolher suas instituições financeiras. Outro fator que reforça a expectativa de crescimento da Wincor no mercado de terminais de ATMs no Brasil foi a recente aquisição da Dynasty Technology, empresa espanhola que atua no segmento de software e desenvolvimento de sistemas para o setor bancário.

ne é coisa do passado. A tendência é que aparelhos, como celulares convencionais, smartphones, tablets e redes sociais assumam gradativamente o papel de canal de comunicação entre os clientes e as instituições financeiras. A dica é de Carlo Gibertini, diretor de pré-vendas da XGen, empresa que atua no segmento de integração e desenvolvimento de sistemas para contact centers. f outubro/novembro 2011 FINANCEIRO 59

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culturaentrevista

Especialista em educação financeira infantil dá dicas de como pais podem orientar os filhos a usar o dinheiro de forma responsável

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Por Raquel Sena

Álvaro Modernell

Poupar, um aprendizado

que vem do berço

Fotos: Divulgação

Provavelmente quem é pai ou mãe já ouviu de seus filhos frases como: “eu quero uma boneca que fala”, “quero avião de brinquedo que voa de verdade”, “quero um tênis” e assim por diante. E se a resposta for “não” o choro entra em ação. Muitas vezes ceder a tanta pressão pode desestruturar o orçamento doméstico. Por isso é importante que pais, tios e educadores auxiliem os pequenos e a educação financeira, nesse caso, é essencial. Ciente disso, Álvaro Modernell, sócio-fundador da Mais Ativos e especialista em educação financeira, lançou em 2004 “Zequinha e a Porquinha Poupança” primeiro livro de educação financeira voltado para o público infantil. “Há muito anos eu já trabalhava esse tema com adultos, mas quando nasceu meu filho, atualmente com nove anos, passei a trabalhar também com literatura infantil, não como profissional, mas como pai. E por conta disso hoje sou o autor que mais publica livros infantis com esse tema”, afirma. Ao todo são oito publicações, porém o primeiro livro já está na sétima edição. “No início, isso era apenas um hobby e acabou virando parte da minha vida profissional. Eu acredito que o livro é um meio de transformar o mundo”. Confira a entrevista na íntegra.. Revista Financeiro Explique o conceito de educação financeira. Álvaro Modernell Em síntese, a educação financeira ajuda as pessoas a mudarem a postura e a atitude em relação ao uso do dinheiro. É usar o seu conhecimento e o bom senso de maneira que consiga conciliar as ne-

cessidades e os interesses do presente com os do futuro. Ou seja, as pessoas que gastam mais priorizam o presente e sacrificam a segurança do futuro. Já as econômicas poupam demais e não vivem o presente, só pensam no dia de amanhã. A educação financeira tem por objetivo ajudar as pessoas a encontrarem esse equilíbrio, que elas vivam bem o presente e gastem dinheiro, mas façam isso de maneira adequada. Que possam viver o presente, mas assegurando o futuro. Financeiro Quais são as ferramentas utilizadas para introduzir a educação financeira? Modernell Não existe melhor instrumento de educação para as crianças do que o exemplo dos pais. Questões básicas como fazer lista de compras e planejamento, não comprar por impulso, pensar no futuro, comparar preços e conservar os próprios bens são exemplos para as crianças. Até ensiná-las a cuidarem dos brinquedos e da roupa é um tipo de economia. Além disso, é muito importante que os pais, no lugar de trazer a criança para o mundo dos adultos, se aproximem do universo infantil. O correto é relacionar dicas de educação financeira a assuntos de interesse deles. Uma boa dica é tocar nesse assunto na hora de comprar um brinquedo, por exemplo. Os livros e jogos são dois instrumentos importantes, pois as crianças são muito mais abertas a compartilhar a companhia dos pais no momento de leitura ou durante partidas de jogos de tabuleiro. Financeiro Dos instrumentos domésticos quais são positivos? outubro/novembro 2011 FINANCEIRO 61

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culturaentrevista

“Tenho dois filhos, um menino de nove anos e uma menina de oito anos, por isso no cotidiano trato desse assunto de maneira muito natural” Modernell Os cofrinhos, pois ajudam as crianças a desenvolver uma mentalidade poupadora. Além disso, tem a mesada que permite que a criança vivencie algumas situações práticas do uso do dinheiro como limites, planejamento, escolhas e consulta de preços. São várias as oportunidades que elas têm de vivenciar o uso do dinheiro por meio dessa ferramenta. Mas é importante destacar que a mesada é um instrumento que se bem utilizado, os resultados serão excelentes, mas se mal orientado também pode trazer prejuízo. Não basta dar mesada ou colocar dinheiro na mão dos filhos se junto com isso não houver também orientação, a chamada educação financeira. Financeiro Quando surgiu a ideia de escrever livros sobre educação financeira para as crianças? Modernell Eu já trabalhava há alguns anos com educação financeira para adultos e percebi que eles tinham

dificuldade para lidar com o dinheiro justamente porque não tiveram uma orientação adequada. Foi então que eu resolvi que meus filhos teriam essa orientação. Comecei a pesquisar mais sobre esse assunto e quando meu primeiro filho nasceu, passei a trabalhar também com literatura infantil, não como profissional, mas como pai. Em 2004, lancei o livro “Zequinha e a Porquinha Poupança”. Fiz esse livro para meus filhos e também para os amiguinhos deles e a aceitação foi muito boa. Escrevo livros porque acredito que eles são um meio de transformar o mundo. No início isso era como hobby e acabou virando parte de minha atividade profissional. Montei uma empresa hoje especializada em educação financeira (Mais Ativos), inclusive para crianças, e tenho a satisfação de ser o autor brasileiro que mais publica livros infantis nesse segmento. Financeiro Qual foi o campeão de vendas? Modernell Foi o primeiro que já está na sétima edição, com cerca de 50 mil exemplares vendidos. Financeiro A que atribui esse resultado? Modernell Acredito que é por ser o mais conhecido e estar há mais tempo no mercado. O livro traz um apelo forte às crianças, que é a questão de ter um animal de estimação, nesse caso, a “porquinha poupança”, uma figura simpática que agrada meninos e meninas. Financeiro Há previsão para lançamento do próximo livro? Qual será o tema? Modernell Em 20 de setembro, lançamos o “O Tesouro do Vovô”, em parceria com a Fundação Sistel de Seguridade Social. É a primeira obra brasileira de educação previdenciária voltada para o público infantil. Com esse lançamento, são oito livros publicados até hoje. Financeiro Com vasta experiência nessa área, como repassa esse conhecimento para seus filhos? Modernell Tenho dois filhos, um menino de nove anos e uma menina de oito anos, por isso no cotidiano trato desse assunto de maneira muito natural. Fazemos poupança, conversamos, jogamos, lemos livros e realizamos compras juntos. Eles têm conta poupança

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desde que nasceram e sempre acompanham o saldo. Além disso, recebem mesada desde os seis anos. Financeiro A partir de qual idade as crianças estão aptas a receber conselhos sobre educação financeira? Modernell Eu acredito que antes dos seis anos é precipitado fazer isso de maneira mais sistematizada. É um pouco complicado. Agora, se os pais entenderem que seu filho de três ou quatro anos já demonstra interesse por esse assunto podem até abordar. A partir dos seis anos, as crianças estão sendo alfabetizadas e são muito mais antenadas e ávidas por conhecimento. Financeiro Como pai nunca passou por uma situação constrangedora com seus filhos em um shopping como, por exemplo, as crianças implorarem por um determinado produto? Modernell Esse tipo de problema, nunca. Eles absorveram as orientações tranquilamente. Aprenderam que é preciso esperar, que nem tudo aquilo que se deseja pode ser obtido no momento exato. Mas, também, não fico dizendo “não” a todo o momento. Os pais têm de saber administrar. Ceder de vez em quando é bom para que as crianças não fiquem frustradas; afinal, elas têm seus desejos. E, ao mesmo tempo, ensinar a criança a fazer escolhas é muito importante. É preciso que os pais sejam firmes e digam que enquanto ela não fizer uma escolha não vai ganhar nada. Financeiro Desde pequeno já era organizado com suas finanças? Quando começou a se interessar por esse assunto? Modernell Eu tive a sorte de ter orientação financeira, mesmo que de maneira pouco organizada. No entanto, sempre tive bons exemplos nesse sentido, com orientações e conversas com meus pais e avós. Tomei tanto gosto que, com o tempo, busquei minha formação profissional nessa área. Hoje sou formado em administração de empresas, com mestrado em finanças, fiz MBA em negócios internacionais pela Universidade de São Paulo (USP) e em gestão financeira de empresas pela

Universidade Americana. Trabalhei 23 anos no Banco do Brasil e atuo como professor de educação financeira em MBA e cursos de especialização. Financeiro É cada vez maior a procura dos pais por produtos financeiros ligados à previdência privada para garantir o futuro e o estudo dos filhos . O que é melhor, previdência ou poupança? Modernell Digamos que são duas coisas complementares. Olhando no longo prazo, a conta poupança não é boa para investimento, ela é uma excelente alternativa para começar a guardar dinheiro. Já no longo prazo, o fundo de previdência é uma opção melhor de investimento. Na verdade, um não elimina o outro. A poupança é para fazer investimento e a partir de uma quantia razoável transferir para a previdência para que

“É preciso que os pais sejam firmes e digam que enquanto ela não fizer uma escolha não vai ganhar nada” fique em um período maior de rendimento. Para as crianças a poupança, como instrumento de educação financeira, é mais efetiva, pois elas conseguem levar o dinheiro do cofrinho para depositar e verificar o extrato. Ou seja, a percepção de crescimento para eles é mais fácil do que a previdência. Financeiro Qual sua opinião referente à proposta do governo federal de adotar a educação financeira nas escolas públicas? Modernell Eu sou suspeito para falar porque trabalhei 23 anos como consultor dessa proposta. O grupo do qual eu fazia parte analisou um modelo em mais de 20 países e todos que não iniciaram educação financeira infantil mudaram de postura e incluíram nas escolas. Eu sou absolutamente um defensor dessa proposta tanto para escolas públicas quanto particulares (leia mais sobre o assunto nesta edição). f outubro/novembro 2011 FINANCEIRO 63

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artigoanáliseeperspectivas

Taxa de juros e

Uma importante discussão no Brasil é quanto a real necessidade de se manter as taxas de juros em um nível tão elevado. Segundo o Banco Central do Brasil (BCB), o regime de metas para a inflação brasileira utiliza a taxa básica de juros, Selic, como instrumento primário de política monetária. O discurso adotado pelo governo é que com uma taxa de juros maior as pessoas teriam menor incentivo para consumir, diminuindo, portanto, a pressão inflacionária. Este artigo tem como objetivo estabelecer a correlação existenPor prof. dr. Alberto Borges Matias te entre a taxa básica com colaboração de Julio Godoy de juros (Selic), o

Certificado de Depósito Interbancário (CDI) e o volume total de crédito do País para pessoas físicas e jurídicas. A hipótese é que exista uma correlação negativa entre a taxa básica de juros e o volume total de crédito. Isso porque, uma vez que a Selic aumenta o custo de captação para os bancos, esses, para manterem as margens de lucro, devem elevar as taxas cobradas e, com o crédito mais caro, a tendência é a de que o volume diminua. Nessa análise, foram utilizadas como base para a taxa de juros a taxa Over Selic acumulada no mês anualizada e a taxa Over CDI acumulada no mês anualizada. Para o volume de crédito

Tabela de correlações

TAbelA 1

Taxa de juros – Over Selic acumulada no mês anualizada Período de defasagem

Taxa de juros – Over CDI acumulada no mês anualizada

0

1

2

3

4

0

1

2

3

4

Volume total de crédito

-0,0032

-0,0208

-0,0332

0,0457

-0,0460

0,0012

-0,0355

-0,0179

-0,0403

-0,0606

Significância

0,9713

0,8131

0,7055

0,6027

0,6007

0,9888

0,6857

0,8386

0,6468

0,4899

Foto: iStockphoto/Divulgação/Artigo enviado em outubro

volume de crédito

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foram usadas as concessões totais gerais consolidadas das operações de crédito com recursos livres referenciais para taxa de juros. As séries de dados vão de agosto de 2000 até igual mês de 2011. Calcularam-se também, além da correlação sem período de defasagem, correlações com períodos de defasagens de um a quatro meses, visto que os aumentos ou quedas nas taxas de juros podem não influenciar imediatamente o volume de crédito.

A hipótese é que exista uma correlação negativa entre a taxa básica de juros, a Selic, e o volume total de crédito concedido pelas instituições financeiras A tabela 1 demonstra que com ou sem defasagem não existe qualquer correlação significativa, estatisticamente, entre volume de crédito e taxa de juros, seja essa taxa a Over Selic ou a CDI. O gráfico 1 expõe as curvas das variações da taxa Over Selic assim como as do volume total de crédito.

Nota-se que o volume de crédito varia mais do que a taxa Over Selic. Isso porque o Comitê de Política Monetária (Copom) define a meta da taxa básica de juros e o Banco Central tem o objetivo de manter a taxa Over Selic bem próxima a sua meta, ou seja, com poucas variações. Conclui-se nesse estudo que a justificativa utilizada pelo governo para aumentar a taxa de juros não é comprovada estatisticamente. O artigo prova que não há correlação significativa, estatisticamente, entre a taxa de juros e o volume de crédito.

Prof. dr. Alberto Borges Matias Professor Titular do Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo no campus de Ribeirão Preto, e diretor do Inepad Julio Godoy Analista Financeiro do Inepad

Taxa de juros X volume de crédito

GRÁFICO 1

0,400 0,300 0,200 0,100 0,000 -0,100 -0,200

ag o/ 0 fe 0 v/ 01 ag o/ 0 fe 1 v/ 02 ag o/ 0 fe 2 v/ 03 ag o/ 0 fe 3 v/ 04 ag o/ 0 fe 4 v/ 05 ag o/ 0 fe 5 v/ 06 ag o/ 0 fe 6 v/ 07 ag o/ 0 fe 7 v/ 08 ag o/ 0 fe 8 v/ 09 ag o/ 0 fe 9 v/ 10 ag o/ 1 fe 0 v/ 10 ag o/ 1 fe 0 v/ 11 ag o/ 11

-0,300

Variação do volume de crédito total

Variação da taxa Over Selic Fontes: Inepad & BC

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artigoúltimapalavra

Por Nicola Tingas

O modelo europeu de bem-estar social, ao menos em países mediterrâneos do continente – Portugal, Espanha, Itália, Grécia –, está à beira de um colapso. A crise de dívida soberana já contamina o sistema financeiro europeu, ameaçando repercutir de forma contundente nas finanças globais. O risco de uma crise sistêmica passou a ser evento de alta probabilidade. Finalmente e aparentemente, os fracos líderes europeus começaram a se mobilizar para evitar o pior: uma severa recessão ou depressão. O momento não é adequado para teorizar realidades em curso. É vital e necessário encarar os riscos e identificar as oportunidades. Essa é a vocação dos verdadeiros líderes. Ter coragem e lucidez para o enfrentamento, além de sabedoria e serenidade para identificar oportunidades de ação, com consequente renascimento ou crescimento a partir da crise. No caso brasileiro, há uma crescente assimetria de informação. Por um lado, há confiança, corretamente fundamentada, na capacidade de amplo descolamento da economia nacional da crise global. E, por outro, há insuficiente consciência e compreensão de que, apesar de nossa melhor condição de risco, também estamos vivendo consequências desse ambiente de deterioração global. No sistema financeiro ligado ao crédito de consumo (pessoa física), a inadimplência tem mantido ritmo de crescimento acima do esperado, embora ainda em patamar absorvível e manejável. Dentro desse contexto, tem havido acordos entre ofertantes e tomadores, na busca da normalização do fluxo financeiro entre as partes do contrato de crédito. Paralelamente tem havido uma deterioração no comprometimento da renda do consumidor, seja

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esse efeito da crescente inflação, da má gestão do orçamento familiar e ainda, em muitos casos, consequência da euforia de consumo de 2010. Com isso, os novos tomadores de crédito, ou mesmo aqueles em processo de renovação de uma operação vencida, têm demonstrado algum grau de deterioração de sua capacidade creditícia. Os consumidores buscam crédito para consumir, mas indicam baixa capacidade para pagamento das prestações do empréstimo pretendido. Concomitantemente, a crise financeira europeia já se manifesta na contração do mercado de capital internacional, não necessariamente para bons tomadores brasileiros, mas certamente no aumento em geral do prêmio de risco e do custo do funding internacional. Em poucas palavras, está mais caro captar recursos no exterior para emprestar no Brasil, reduzindo as fontes para financiamento ao mesmo tempo em que se amplia o risco de crédito global se houver mais intensa desaceleração do ritmo de crescimento econômico, tanto lá como cá. A somatória resulta em uma aversão ao risco e maior rigidez na concessão de crédito pelos agentes financeiros da economia. Pois cabe ao bom profissional gestor financeiro identificar e diluir o risco. Neste momento, essa é a síntese do mercado de crédito de consumo no Brasil: risco sendo mitigado e consumidor em processo de ajuste orçamentário. Nada mal, comparado ao que passa o quase “ex” consumidor europeu dos países afetados pela crise. f Nicola Tingas é economista-chefe da Acrefi

Foto: Douglas Luccena/Artigo enviado em outubro

Encarando riscos. Identificando oportunidades

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