Financeiro 69 - Junho 2011

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financeiro

financeiro arevistadocrédito edição

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jul À FRENTE DA ATP, SÉRGIO DARCY, ANALISA AS OPORTUNIDADES DA ERA DA IMAGEM NAS TRANSAÇÕES BANCÁRIAS

Evolução em marcha junho/julho 2011 edição 69

ESPECIAL A HORA E A VEZ DOS BANCOS BRASILEIROS NO EXTERIOR



conteúdofinanceiro

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Sérgio Darcy, presidente da ATP, fala sobre as

Especial Internacionalização

perspectivas para o segmento de automação bancária

Chega a hora de os bancos brasileiros

Capa – Entrevista do Mês

Ignácio de Loyola Brandão

Mercado Automotivo Medidas macroprudenciais ameaçam brecar o crédito

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Educação Financeira Visa ensina crianças com teatro

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Happy Hour Wall Street Bar: a versão gastronômica do antigo pregão

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conquistarem o mundo

Cultura Confira na nova seção a entrevista com

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Pré-Pagos Transações portáteis trazem mais agilidade e segurança

artigos 34 Joel Paillot Cenário Externo 47 Elder Aquino Questão Jurídica 50 Aquiles Diniz Consumidor Emergente 52 William Handorf Governança Corporativa 56 Alberto Borges Matias Análise e Perspectivas 58 Nicola Tingas Última Palavra

Por Dentro do Varejo TaQi: o novo trunfo do Grupo Herval

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expediente financeiro ISSN 1809-8843

Rua Líbero Badaró, 425 – 28o andar – São Paulo – SP Tel: (11) 3107–7177 Fax: (11) 3106–6082 – www.acrefi.org.br Presidente Érico Sodré Quirino Ferreira Vice-Presidentes Marcio Ronconi de Oliveira, Luis Otavio Matias, Aquiles Leonardo Diniz, Mauro Roberto Vasconcellos Gouvêa, Bartholomeu Ribeiro, Ricardo Annes Guimarães e Sérgio Antonio Cipovicci Secretários Paulo Tabaquim e Sérgio Marra Pereira Capella Tesoureiros Cláudio Messias Ferro e Marcus André de Oliveira Diretores Regionais Athaide Vieira dos Santos, Carlos Alberto Samogim, Elcio Antonio de Azevedo, Felicitas Renner, José Antonio Rodrigues, José Newton Lopes de Freitas, Francisco Sotero Rosas Neto, Marcos Etchegoyen, Leonardo Marcondes Dadalto, Paulo Henrique Pentagna Guimarães, Pedro Costa Carvalho e Teófilo Newton Mattos Diretores-Executivos Morris Dayan, Sandro Alexandre de Almeida, Edson Froes Castilho, Felipe César Rodrigues Ferreira, Laurent Thong Vanh, Luis Felix Cardamone Neto, Rubens Bution e Leonel Dias de Andrade Neto Diretores Conselheiros Eduardo Tavares Nobre Varella, Élcio Jorge dos Santos, Giovani Cataldi Neto, Roberto Bronzere, Paulo Sérgio Borsatto, Nelson Aguiar Junior, Odilon Pereira Guerra e Joelcyr Carmello Filho Conselho Consultivo Membros Natos: Alkindar de Toledo Ramos, Manoel de Oliveira Franco e Ricardo Malcon Membros: Alencar Burti, Ricardo Loureiro, Jorge Hilário Gouveia Vieira, Luiz Horácio da Silva Montenegro, Miguel José Ribeiro de Oliveira, Sergio Antonio Reze e Ilídio Gonçalves dos Santos Conselho Fiscal Efetivos: Domingos Spina, Edson Ueda, David Figueiredo Suplentes: Elpídio Hoffmann, Maria Madalena Américo Marinho e Gilson de Oliveira Carvalho Diretor Superintendente Antônio Augusto de Almeida Leite (Pancho) Controller Carlos Alberto Marcondes Machado Economista-Chefe Nicola Tingas Consultor Jurídico Cassio M.C. Penteado Jr. Auditoria KPMG Assessoria de imprensa Tamer Comunicação Empresarial

Rua Novo Horizonte, 311 – Pacaembu – São Paulo – SP Tel.: (11) 3125–2244 – CEP 01244-020 – www.gpadrao.com.br Publisher Roberto Meir REDAÇÃO Editora-executiva Giseli Cabrini Editora-assistente Juliana Jadon Reportagem Ana Borges, Raimundo de Oliveira e Sérgio Siscaro (colaboradores) Fotografia Douglas Luccena Arte Editora de Arte Marina Martins Revisora Dora Wild Publicidade Diretora Comercial – Fabiana Zuanon – fzuanon@gpadrao.com.br Gerente Comercial – Marco Góes – mgoes@gpadrao.com br Gerente de Negócios – Adriana Próspero – aprospero@gpadrao.com.br Impressão IBEP Gráfica Ltda.

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editorial

A reforma tributária, hoje discutida entre governo, industriais e trabalhadores, representa um retrocesso. A salvação da competitividade da indústria será feita por meio do sacrifício de outros segmentos econômicos. A proposta da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) diferencia setores e privilegia a indústria de transformação quanto à isenção tributária. Ao final da reestruturação, como sempre, o governo não abre mão de nenhuma arrecadação. E, para que isso seja possível, alguém precisa pagar a conta. Segundo a proposta da Fiesp, o fim da tributação da folha de salários pode ser viabilizada com a substituição das atuais contribuições previdenciárias cobradas de empregados e empregadores por um aumento na alíquota do PIS/Cofins. Assim, a desoneração de 20 pontos da contribuição previdenciária patronal da Previdência Social da indústria de transformação seria compensada pela elevação da Cofins dos demais setores. Assim, as alíquotas seriam diferenciadas. Os tributos seriam menores para atividades mais intensivas em mão de obra, como as indústrias, e maiores para setores com alto grau de tecnologia,

Reforma tributária: quem paga a conta?

Foto: Flávio Roberto Guarnieri

como o sistema financeiro. Os empresários afirmam que as instituições financeiras devem arcar com valores superiores porque têm maior margem de lucro e não são intensivas em mão de obra. Todavia essa não é uma verdade. Os bancos e financeiras não têm a maior lucratividade no Brasil. Basta ver os rankings de lucros divulgados trimestralmente, no qual grandes empresas industriais aparecem no topo. Nesse caso, faria então mais sentido que as empresas com maior lucratividade pagassem mais impostos. Mas essa medida é um total desestímulo para que qualquer companhia continue investindo em crescimento. A diferenciação de tributos é um grande absurdo. Não há o menor cabimento fazer com que uns paguem mais impostos que os outros. Devemos lembrar ainda da importância do setor financeiro para o crescimento do País. Os bancos são os grandes provedores de recursos tanto para financiar a atividade produtiva da indústria quanto o consumo das famílias. Desde o início do ano, o sistema financeiro tem sido punido pelas medidas macroprudenciais do governo. Dessa forma, a oferta de crédito tende a reduzir e, por consequência, há o aumento do custo dos recursos. O que, aparentemente, pode ser um avanço no sistema tributário acaba se transformando em um retrocesso.

Érico Sodré Quirino Ferreira Presidente da Acrefi junho/julho 2011 FINANCEIRO 5


capaentrevistadomês

Por Ana Borges

Inovação para o mercado Sérgio Darcy, diretor-presidente da ATP, fala sobre os planos da companhia, que processa mensalmente R$ 4,5 bilhões em volume financeiro A quebra de paradigma com a implantação da compensação de cheques por imagem abre novas oportunidades de processamento de documentos bancários. Nesse cenário, a ATP, empresa especializada em soluções tecnológicas para sistemas financeiros, depara-se com a perspectiva de crescimento acelerado dos negócios. Hoje a companhia processa R$ 4,5 bilhões em volume mensal, cerca de 40% do mercado total. Em entrevista à Financeiro, Sérgio Darcy, diretor-presidente da ATP, fala sobre os planos da companhia e o bom momento do mercado. Darcy é ex-diretor do Banco Central (BC) e membro dos comitês de auditoria da BM&FBovespa e do banco Santander. Confira: Revista Financeiro Faça um balanço sobre o processamento de documentos bancários no Brasil e a participação da ATP nesse mercado. Sérgio Darcy A ATP processa, em média, 43 milhões 6 FINANCEIRO junho/julho 2011

de documentos por mês. Isso representa 40% do volume total de documentos bancários terceirizados no Brasil. Em valores financeiros, o volume de documentos processado pela ATP corresponde a aproximadamente R$ 4,5 bilhões por mês. A empresa é a maior instituição não bancária de processamento de documentos do País, especializada no desenvolvimento, na implantação e na operação de soluções tecnológicas para o sistema financeiro, as concessionárias de serviços públicos e as grandes usuárias de serviços bancários. Financeiro O senhor declarou que uma das metas é consolidar a expansão no mercado. Quais são os planos para os próximos anos e as projeções de crescimento? Darcy Com a quebra de paradigma advinda da implantação da compensação por imagem (Compe por Imagem), novas oportunidades de processamento de


Fotos: Douglas Luccena

“Com a quebra de paradigma advinda da compensação por imagem, novas oportunidades se abrem”

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capaentrevistadomês documentos bancários se abrem. Com as soluções da ATP, é possível capturar informações de cheques e de outros tipos de documentos em qualquer etapa do processo. Esse tipo de software de captura de documentos tem o potencial de levar a ATP a conquistar grande parcela do mercado, o que poderá resultar em um crescimento acelerado da companhia nos próximos anos. Uma das soluções tecnológicas de maior atratividade no momento é a captura descentralizada do cheque no varejo, por meio da solução Imagon Verify, que está sendo comercializada pela empresa e já está em franca operação para alguns de nossos clientes. Financeiro É possível fazer uma avaliação das mudanças que têm ocorrido na forma de compensação de cheques (Compe por Imagem), implantadas neste ano e o quanto essas alterações impactaram esse segmento em termos de redução de custos? Darcy A Compe por Imagem, recentemente implantada, representa significativo avanço para a modernização do serviço de compensação de cheques. A nova sistemática resulta em ganhos qualitativos e redução de custos de transporte para os bancos participantes do sistema de compensação, os quais estão estimados em aproximadamente R$ 300 milhões anuais, além de ampliar os atributos de segurança para os bancos e seus clientes. O processo envolve desde a captura na ponta até o processamento dos dados e imagens, com os seguintes componentes integrados: captura e tratamento de imagem; garantia de padrões de segurança; truncagem do cheque físico e armazenamento das imagens capturadas. Para os correntistas, o novo processo resultará em redução do tempo para a obtenção de cópias dos cheques, agilidade na entrega de cheques devolvidos ao depositante e redução de riscos decorrentes do transporte físico dos documentos, como roubos, assaltos ou perdas por acidentes. Financeiro Qual a solução proposta pela ATP? Darcy A solução para processamento da Compe por Imagem, desenvolvida e colocada à disposição do mercado pela ATP, inclui os scanners para digitalização dos cheques, a solução para captura e tratamento da imagem na origem, o data center para transmissão, o processamento, 8 FINANCEIRO junho/julho 2011

o storage e a recepção de arquivos de dados e imagens entre os diversos bancos-clientes, a infraestrutura para armazenamento temporário do cheque físico e o serviço de destruição segura dos cheques. Financeiro Como funciona o processo de truncagem de cheques? Darcy A partir da implantação definitiva da Compe por Imagem, o banco que recebeu o depósito digitaliza o cheque e envia ao banco destinatário a imagem digital e os dados lógicos para realização da compensação. Esse processo elimina a necessidade do transporte físico do documento, permanecendo o cheque sob a guarda do banco em que foi depositado até a finalização do processamento. Depois disso, o cheque pode ser destruído. Por medida de segurança, alguns bancos optaram por manter esses cheques armazenados pelo período de até 90 dias. Financeiro Quais as soluções e os diferenciais que a ATP oferece ao mercado financeiro? Darcy Disponibilizamos diversas soluções tecnológicas que buscam a racionalização de custos e o aumento do poder de competição dos nossos clientes. Nossos produtos e serviços são dotados de diferenciais, por exemplo, serviços no modelo de full outsourcing de máquinas de autoatendimento e de correspondentes no País, proporcionando aos clientes a gestão total do processo terceirizado via web. Outro diferencial consiste na possibilidade de rápida integração das soluções com o legado já existente nas empresas-clientes, proporcionando flexibilidade e menores custos na implantação e operação dessas soluções. Como a ATP é uma empresa voltada ao desenvolvimento de soluções baseadas em tecnologia de ponta, permanentemente seus produtos são, no mínimo, atualizados. Financeiro E a solução de microagência bancária, como funciona? Darcy Trata-se de um ponto de atendimento, com a identidade visual do banco contratante, no qual as soluções de hardware e software desenvolvidas por nós possibilitam a realização de todas as operações bancárias convencionais, de baixo custo e com todos os requisitos de segurança exigidos pelo sistema financeiro nacional.


Uma das suas principais características é a flexibilidade operacional e agilidade na implantação. A ATP fornece toda a infraestrutura, inclusive com a possibilidade de disponibilizar mão de obra especializada para a operação. Pela simplicidade e baixo custo, a solução de microagência é ideal para implantação em áreas urbanas ou rurais, de potencial econômico limitado e desprovidas de acesso a serviços bancários. Financeiro A companhia é provedora de quantos correspondentes no País e como funciona esse processo? Darcy Implantamos e coordenamos as operações de mais de dez mil pontos de correspondentes. Além desses, até o final de 2011 outros milhares de equipamentos estarão em produção e funcionamento em atendimento a contratos já firmados com bancos-clientes da companhia, que serão colocados no mercado por meio de processos ativos de implantação. A solução ATP é completa e cus-

tomizada de acordo com os requisitos definidos pelo banco ao qual o correspondente se vincula. A empresa disponibiliza solução full, que integra hardware, software, telecom, operação e manutenção completa de rede. E também soluções parciais, com a disponibilização de módulos a partir de especificação dos clientes. Financeiro Como está o processo de expansão da Rede Sim! e os pontos de atendimentos ? Darcy A Rede Sim! é a nossa marca própria de multisserviços, capaz de processar transações com qualquer meio de pagamento por diferentes meios de acesso ou canais de captura. Permite a realização de saques, pagamentos de contas e taxas, compra de passagens, recargas de crédito em bilhetes ou celulares e uma infinidade de outros serviços, que podem chegar aos consumidores por meio dos vários canais disponíveis – ATMs (Terminais de Autoatendimento), microagência bancária, correspondente não bancário, caixas de redes de varejo, e está aberta junho/julho 2011 FINANCEIRO 9


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a incluir novos canais para atender cada vez mais clientes e suas diferentes necessidades. A expansão da rede ocorre de forma gradativa a partir da implantação das diversas formas de captura de transações dos nossos clientes. Nessa linha, a ATP desenvolveu, também, terminais atualizados, com tecnologia de captura de imagem para depósito de cédulas e cheques sem o uso de envelopes. Além de reduzir o impacto ambiental ao atualizar terminais, a empresa busca oferecer uma alternativa sustentável também para a utilização de terminais de autoatendimento . Acreditamos que a demanda por esse tipo de terminal se dará de forma mais intensa a partir da recente implantação da Compe por Imagem.

“A Rede Sim! é a nossa marca própria de multisserviços, capaz de processar transações com qualquer meio de pagamento” Financeiro E em relação à adesão? Darcy Qualquer instituição do segmento financeiro, cooperativista, varejista etc, pode aderir com pequena quantidade de máquinas a custos reduzidos, tendo em vista o compartilhamento de máquinas de outros clientes da rede. Isso possibilita uma ampla cobertura geográfica para atendimento aos seus clientes. A rede também pode ser naturalmente interligada aos correspondentes no País que são administrados pela ATP. Financeiro O que a ATP apresentará no Congresso e Exposição de Tecnologia da Informação das Instituições Financeiras (Ciab), realizado pela Febraban 2011? Darcy A ATP estará presente no Ciab Febraban 2011 e apresentará ao público participante do evento, além da solução de microagência, que visa atender ao processo de assinatura digital, possibilitando que as imagens dos cheques sejam disponibilizadas com segurança dentro da janela de tempo definida pelo “Manual Operacional da Compe por Imagem”. No estande, poderá ser visto o processo de geração e armazenamento dos certificados 10 FINANCEIRO junho/julho 2011

eletrônicos, de forma a garantir a segurança do uso de documentos assinados digitalmente. Também apresentaremos serviços que já estão em operação para nossos clientes, a exemplo do “Caixa aqui”, projeto de inclusão financeira da Caixa Econômica Federal (CEF). Financeiro Qual seu papel e que mudanças conseguiu colocar em prática no Conselho de Administração da organização, a ATP? Como está composta atualmente a governança corporativa da empresa? Darcy Em setembro de 2007, assumi a presidência do Conselho de Administração da empresa, permanecendo até abril de 2011, quando fui eleito para o cargo de diretor-presidente. Durante o período em que exerci a presidência do conselho, busquei tornar tangíveis atributos de boa governança corporativa, tendo sempre por base as valiosas orientações do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), em termos, por exemplo, de composição do Conselho de Administração, redefinição de funções do Conselho Fiscal, aperfeiçoamento do Estatuto Social da empresa e criação de comitês internos de assessoramento à diretoria, entre outras ações. A ideia central é tornar cada vez mais transparente a relação da empresa com seu público de interesse. A governança da ATP atualmente é formada pela Assembleia Geral dos Acionistas, Conselho de Administração totalmente independente, com profissionais que vieram do mercado financeiro e de capitais. A governança ainda está formada pelo Conselho Fiscal, que atua como Comitê de Auditoria, e é composto por profissionais oriundos do Banco Central (BC) com larga experiência no segmento financeiro. Também faz parte da governança a empresa de auditoria independente Ernst&Young Terco e a auditoria interna, que, além de suas funções naturais, assessora os trabalhos do Conselho Fiscal. Um ponto que merece destaque para que a nossa estrutura de governança seja bem-sucedida é a atuação dos Comitês Internos, que tratam de temas relevantes da companhia no trabalho de assessoramento à Diretoria Colegiada, trazendo maior segurança ao processo decisório. f



notasmercado

SEGURANÇA

FINANCIAMENTO

Consumidor tem serviço gratuito de alerta de cheques roubados

Banco Mundial aumenta empréstimos para o Brasil

A Boa Vista Serviços colocou à disposição do consumidor em seu site www.apoioaoconsumidor.com.br, o SOS – Cheques e Documentos, serviço gratuito de utilidade pública para registro de alerta de cheques e/ou documentos roubados e extraviados. O portal permite o cadastro no sistema, em uma medida preventiva complementar para o registro de perda ou roubo de documentos. Com a notificação, quando alguém tenta utilizar documentos perdidos em algum estabelecimento que faz parte da rede de clientes da Boa Vista, aparece uma mensagem informando que os documentos do CPF consultado foram roubados. Dessa forma, protegem-se o consumidor e os lojistas. Na home, também há um link direto para verificar a situação do CPF do consumidor na Receita Federal. TECNOLOGIA

Cheques ganham compensação digital por imagem

Em regiões de difícil acesso do País, a compensação, conjunto de procedimentos que leva à troca de cheques por dinheiro, demorava até 20 dias úteis. Em maio, esse cenário mudou. Os bancos aposentaram a compensação física mensal de cerca de 90 milhões cheques e ingressam na era digital. Batizado de Compensação Digital por Imagem, o projeto começou a ser desenvolvido em 2009 pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e os associados. Foi testado em julho do ano passado, e dentro de dois meses irá permitir que o prazo de compensação do meio de pagamento caia para dois dias. Outra vantagem do sistema é a segurança. Com a eliminação do trajeto físico do cheque, se reduz a possibilidade de clonagem, extravio, perdas e roubo dos mesmos. Do ponto de vista ambiental, contribui para a redução expressiva de emissões de CO2 na atmosfera.

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Os empréstimos do Banco Mundial (Bird) ao Brasil vão quase dobrar nos próximos 12 meses, anunciou o presidente da instituição, Robert Zoellick. Em visita ao País, ele disse que a maior parte dos recursos extras será aplicada em projetos de erradicação da pobreza no Nordeste. Em 2010, o banco emprestou US$ 3,7 bilhões ao Brasil. Neste ano, o organismo pretende emprestar de US$ 5 bilhões a US$ 6 bilhões. Do total, US$ 3,5 bilhões irão apenas para a região Nordeste. Cada país está sujeito a um limite de US$ 16,5 bilhões em crédito do Banco Mundial. Atualmente, o Brasil têm 64 projetos financiados pelo Bird em 19 Estados que representam US$ 13 bilhões.

MERCADO DE CAPITAIS

Programa de popularização da BM&FBovespa atinge 1 milhão de pessoas

A BM&FBovespa alcançou a marca de um milhão de usuários cadastrados nos seis simuladores: SimulAção, FolhaInvest, UolInvest e Simulador Exame (para o mercado de ações), Mercados Futuros (derivativos financeiros e agropecuários) e Tesouro Direto (títulos do governo). Os simuladores fazem parte do programa de popularização da Bolsa para estimular o conhecimento sobre investimentos. Por meio deles, os usuários vivenciam o dia a dia das operações de mercado de capitais e acompanham também as oscilações do mercado. Após o cadastramento, em qualquer uma das ferramentas, os participantes recebem um valor fictício para iniciar seus investimentos e os mais bem colocados podem ganhar prêmios como notebooks, R$ 5 mil em crédito para investir em ações, iPads, viagens a resorts, cursos e outros.


CERTICREFI

Certificação a serviço do mercado A Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento), entidade que há mais de meio século congrega instituições voltadas – na sua grande maioria – ao crédito direto ao consumidor, passará a contar com a atividade de Certificação, implantando para isso o CertiCrefi (Exame de Certificação de Funcionários de Correspondentes e de Instituições Financeiras) em parceria com o Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração), propondo-se a examinar, rigorosamente, os

conhecimentos adquiridos pela força de vendas e – assim – poder atestar o grau de aproveitamento dessas pessoas em cursos de capacitação que serão oferecidos pelo mercado. Com efeito, a certificação de conhecimentos profissionais constitui nos dias atuais uma tendência internacional, aliás, já aplicada no Brasil, em relação aos agentes autônomos de investimento e os corretores de imóveis. Nesse sentido, a certificação vincula-se à necessidade de proteger o público e os próprios profissionais, garantindo um padrão mínimo de atuação.

DADOS DO EXAME: O Exame CertiCrefi não vincula qualquer pré-requisito quanto à formação acadêmica. A data da primeira avaliação acontece em 18 de setembro de 2011. O exame será realizado em São Paulo, em local informado posteriormente. Aprovação: aproveitamento igual ou superior a 70% das questões. Número de questões: 60 de múltipla escolha com quatro alternativas. Duração do exame: duas horas. Taxa de inscrição: R$ 300.

EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Acrefi cria blog para o tema Em linha com a era da web 2.0, a Acrefi lançou o blog Finanças na Balança, de educação financeira. Com a nova ferramenta, a associação cria mais um canal de comunicação com o público, já que o blog permite a interatividade com os usuários. A educação financeira ganha cada vez mais espaço no Brasil, e já foi incluída em currículos de importantes escolas do País. Além disso, várias empresas, instituições financeiras e principalmente associações de classe estão bastante atuantes no segmento de prestação de serviços sociais. O tema tem crescente interesse do público, que demanda cada vez mais informações sobre o assunto em busca de opções para organizar seu orçamento e para fazer investimentos. A Acrefi, consciente dessa realidade, oferece agora esse tipo de informação aos interessados também pelo novo blog, que pode ser acessado por todos.

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culturaentrevista

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Por Giseli Cabrini

Ignácio de Loyola Brandão

O menino que ainda vende palavras Jornalista e escritor, Ignácio de Loyola Brandão comenta sobre sua obra, censura, qualidade da cobertura feita pela imprensa e as mudanças trazidas pelas mídias digitais e redes sociais com reflexos para o mercado editorial. E arrisca ainda conselhos como investidor. Revista Financeiro Sua obra, na categoria infanto-juvenil, é permeada por muitos meninos: o que vendia palavras, o que perguntava, o que não teve medo do medo. Quais as semelhanças entre eles e o garoto Ignácio que nasceu, em Araraquara, no interior paulista? Elas ainda existem e de que forma o inspiraram a se tornar um dos grandes nomes do jornalismo e da literatura? Ignácio de Loyola Brandão Sabe quem é aquele menino? Sou eu. Simplesmente busquei na memória quem fui e vi que parecia ficção. Claro que acrescentei alguma imaginação e deu no que deu. Um outro menino que sou eu, mas também aquele que gostaria de ter sido. Financeiro Você transita muito bem entre esses dois mundos. Qual o mais prazeroso? Existe mais ficção no mundo real ou vice-versa? O que inspira você? Brandão A ficção me possibilita viajar para fora dessa realidade que é cruel e violenta, mas que também é doce e terna. O que seria da literatura se não fosse a realidade? O escritor não descreve, ele transfigura a realidade, apanhando seus símbolos. O que faço? Mostro nos livros de que modo vivemos, as injustiças, as loucuras, as crises e as ternuras. Financeiro Acha injusto apenas José Saramago ser o único escritor de língua portuguesa a ter recebido o Nobel da Literatura?

Brandão O Nobel tem razões que a própria razão desconhece, assim como a Academia Brasileira de Letras (ABL) que elege não-escritores, em lugar de escritores. Financeiro O Tribunal de Justiça de São Paulo acaba de vetar, definitivamente, a distribuição do livro “Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século” na rede pública de ensino. O principal motivo seria o texto de sua autoria “Obscenidades para uma dona de casa”. Na sua opinião, foi um ato de censura? Como avalia a questão da liberdade de expressão atual no Brasil? Brandão A Justiça, às vezes, tem o seu quê de ridículo. O caso tem quase um ano. O governo mudou, o secretário de Educação que determinou a entrega dos livros mudou, a política mudou, os alunos mudaram de ano. Os livros que deveriam ter sido entregues, chegaram. Uns poucos foram impedidos pela censura moral, fanática, religiosa de pessoas que não sabem que estamos em 2011, no século 21. O que está em meu conto é poesia pura que os jovens entenderam e com ela se deliciaram. Sexo tem que deixar de ser tabu. A Justiça chega atrasada, sempre. Por isso, essa calamidade. A questão nem existe mais e o livro é vetado. Ora, ora, ora! Financeiro E o outro lado da moeda. Acredita na objetividade da imprensa? Ela é, de fato, imparcial? Que nota atribui à cobertura jornalística atual? Brandão Objetividade? A imprensa tem interesses de acordo com o grupo que detém o poder da mídia nas mãos. Cada jornal tem sua ideologia, seu partido favorito, seus objetivos. Se as matérias não ferem isso, são publicadas. Caso contrário, não. junho/julho 2011 FINANCEIRO 15


culturaentrevista

Aprendi que a liberdade de imprensa é muito relativa no primeiro mês em que trabalhei em jornal, há 50 anos. Nota? Às vezes dou dez, muitas vezes zero. Em geral, é quatro e meio. Financeiro Como vê o avanço das mídias on-line e redes sociais e os efeitos para o jornalismo e para a literatura? E sobre a migração do conteúdo dos livros para os tablets. Quais os impactos disso para o mercado editorial e para os hábitos de leitura? Brandão Elas estão conquistando espaço, o futuro está ali. Como vão resolver uma infinidade de problemas, eu já não sei. As mídias terão de se ajustar à realidade. Quanto aos livros, é provável que em um futuro não muito distante se faça a leitura pelos tablets. E daí? Contanto que se leia. Não importam os suportes, a literatura sempre existirá. Já lemos na pedra, na madeira, no papiro, no papel, vamos fazer isso no monitor. Hábitos de leitura? São tão poucos os que têm. Vamos conquistá-los logo por meio dos tablets. Financeiro É cada vez mais comum o mercado corporativo procurar a colaboração de grandes escritores para livros institucionais, assim como ocorreu com você e os 60 anos da Ypê. Qual sua opinião? Brandão A Ypê foi apenas um entre os 30 livros institucionais que escrevi. O que representam tais publicações feitas por escritores de verdade e não mais por burocra16 FINANCEIRO junho/julho 2011

tas da empresa, por sujeitos do marketing? Leitura fácil, gostosa, palatável. A história contada em ritmo de ficção, sem fugir à verdade. Com isso, surgiu um novo gênero no Brasil. Esses livros que nunca eram lidos, distribuídos aos clientes e fornecedores, passaram a ser. Estão deixando de ser coffe table books. Financeiro O que acha da recente polêmica que envolve os livros didáticos no Brasil entre as diferenças sobre o português falado e o escrito? Os jovens da chamada geração Y leem menos? É possível reverter isso? Brandão Cada vez mais me assombra a incompetência do Ministério da Educação e Cultura (MEC). Nem consegue realizar um Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) direito. Agora, permite-se que erros não sejam erros. Um dia, vai ser uma catástrofe com todo mundo esquecendo a concordância, os plurais, o correto. Cada um falando o que quer, do jeito que achar melhor. Tem até um ex-presidente que só fala “nóis”. Reverter? Seria preciso mudar o ministério, colocar ministro alfabetizado e não políticos puxa-sacos. Fazer com que os professores tenham condições de dar aulas, reprovar aluno burro, por exemplo. Financeiro Qual conselho dá como investidor? Brandão Meu parco dinheirinho fica em poupança e CDBs (Certificados de Depósitos Bancários). Quando ganhar a Mega-Sena, vou procurar um consultor financeiro. f



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Por Sérgio Siscaro

Carro zero

um pouco mais distante Como era de se esperar, um dos segmentos que mais se beneficiaram da expansão do acesso ao crédito por parte da população nos últimos anos foi o automotivo. A aquisição de um veículo próprio, zero quilômetro, passou a ser mais facilitada em razão também do recente aumento da renda média do brasileiro. E foi justamente esse bem que acabou sendo um dos alvos das chamadas medidas macroprudenciais adotadas pelo Banco Central (BC) e pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a partir de dezembro do ano passado, voltadas a conter o consumo e, assim, segurar os índices inflacionários. A partir da adoção dessas ações, passou a ser mais um pouco mais difícil para as pessoas físicas obterem crédito. E o financiamento automotivo foi, naturalmente, atingido. Isso pode ser observado pelos números divulgados no fim do ano pela Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef). Os dados de 2010 referentes às operações de Crédito Direto ao Consumidor (CDC) e leasing para a compra de veículos por pessoas físicas apuraram um recorde histórico: crescimento de 19,9% nas carteiras de financiamento na comparação com o ano anterior, levando a

Efeitod as medidas do governo para conter o consumo chegam ao financiamento de autoveículos


Fotos: iStockphoto/ Douglas Luccena

um total de R$ 188,6 bilhões. Na época, a entidade projetava incremento da ordem de 5% para o crédito automotivo em 2011. Quando novos dados foram divulgados, em fevereiro deste ano, o efeito das medidas macroprudenciais ainda não havia sido sentido – mas já era esperado. Tanto que, quando a Anef anunciou o balanço referente ao primeiro trimestre de 2011, já havia um tom mais contido nas projeções. Apesar de os números registrados entre janeiro e março terem sido favoráveis – com elevação de 6,4% no CDC e salto de 17,3% nas carteiras de financiamento, que atingiram o montante de R$ 190,4 bilhões – já se admitia a sombra das determinações do BC nos cálculos. “O impacto se tornou claro nos meses de abril e maio”, afirma Décio Carbonari de Almeida, presidente da Anef. Apesar de ainda não ter números fechados, ele lembrou que, nos primeiros dias de maio, houve queda de 7% na comercialização de veículos via financiamento. “Esse quadro deve perdurar para o resto do ano, uma vez que o governo não irá deixar de combater a inflação por meio dessas medidas.” Haveria, então, espaço para que o segmento de crédito automotivo pleiteasse ao governo federal algum relaxamento na austeridade monetária, caso as ações surtam o efeito desejado? “Enquanto a inflação não estiver totalmente sob controle, isso não deverá acontecer”, pondera Almeida.

Vendas O impacto dessas medidas nas vendas de veículos também apareceu de forma mais clara em maio. De acordo com Sérgio Reze, presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), observou-se uma queda de 6,5% na comercialização de automóveis e comerciais leves. Ainda que não tenham afetado os preços, as restrições “tornaram mais difícil de se obter a aprovação do cadastro dos consumidores que estão atrás de financiamento”.

Houve avanço de 62,3% nas vendas de veículos importados entre março de 2010 e igual mês de 2011, segundo a Abeiva Essa desaceleração no segmento – que, vale a pena lembrar, contabilizava no primeiro trimestre deste ano salto de 6,28% nos emplacamentos da indústria automotiva, na comparação com os três primeiros meses de 2010 – deverá continuar. “Para 2011, antes projetávamos um crescimento de 4,5%. Mas teremos de reconsiderar esse porcentual”, disse Reze, afirmando que o ano deverá ser neutro – sem um aumento expressivo, mas também sem perdas. Já a Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva) informa que houve avanço de 62,3% nas vendas de veículos importados entre março de 2010 e igual mês de 2011. Na ocasião, o presidente da entidade, José Luiz Gandini, avaliou que esse desempenho foi impulsionado pela chegada de novas empresas, junho/julho 2011 FINANCEIRO 19


desafiosmercadoautomotivo

Alternativa O efeito das medidas de contenção do consumo tem sido mais direto para as camadas da sociedade para as quais o acesso ao crédito não era tão fácil anteriormente e que fluíram para as facilidades do financiamento há, relativamente, pouco tempo. “Esse público pode adiar a compra do veículo ou obter um carro mais simples, sem muitos opcionais”, afirma o presidente da Anef. Outra alternativa disponível a esse público é migrar para o consórcio na hora de adquirir o tão sonhado carro. Dados recentes divulgados pela Associação de Administradoras de Consórcios (Abac) indicam que foram vendidas no primeiro trimestre 336 mil novas cotas para a venda de motocicletas – volume 19,7% superior ao observado em igual período do ano passado. Para o presidente da Anef, contudo, essa alternativa não é tão interessante quanto o CDC ou o leasing. “O prazo para o consumidor ser contemplado é longo, de 60 meses. Apesar de ser uma opção válida, ela não substitui o financiamento.” No entanto, a Abac tem uma visão diferente do comportamento do mercado. De acordo com Paulo Roberto Rossi, presidente da entidade, houve uma alteração no comportamento do consumidor – que passou a ser mais criterioso na hora de optar por um mecanismo de crédito. “Com custos menores em razão da inexistência de juros, o sistema de consórcios passou a receber adesões em volume superior à média de períodos anteriores, tornando-se ainda mais atrativo àqueles que não precisam do bem de imediato”. E acrescenta: “Além disso, as medidas macroprudenciais, 20 FINANCEIRO junho/julho 2011

Fotos: Divulgação

Sérgio Reze, presidente da Fenabrave “Restrições dificultam aprovação de financiamentos”

o aumento da participação dos veículos “de entrada” oriundos de fora no mercado doméstico e a presença dos automóveis importados do segmento B e de utilitários esportivos. No mês seguinte, essa tendência se manteve, com crescimento de 120,9% entre abril de 2010 e igual mês de 2011.


O arrocho Diminuir possíveis riscos ao sistema financeiro mundial e, ao mesmo tempo, afastar o risco de um salto inflacionário no País. Em linhas gerais, as chamadas medidas macroprudenciais adotadas pelo governo brasileiro no final do ano passado têm esses dois objetivos – e, para cumpri-los, o Banco Central (BC) e o Conselho Monetário Nacional (CMN) não hesitaram em interromper o movimento de escalada que vinha sendo observado na oferta de crédito ao consumo. Assim, em dezembro de 2010, passaram a vigorar novas regras para a concessão de financiamentos a pessoas físicas com prazos superiores a 24 meses, pelos quais aumentou o requerimento de capital das instituições que oferecem essa modalidade. No caso do empréstimo consignado, a medida aplica-se a períodos acima de 36 meses. Para o crédito automotivo, ficou definido que o aumento do capital das instituições financeiras passaria a ser exigido em prazos entre 24 e 36 meses, quando o valor da entrada do item adquirido fosse inferior a 20% do valor. Entre 36 e 48 meses, quando a entrada ficasse abaixo de 30% do valor. E entre 48 e 60 meses, nos casos em que a entrada não chegasse a 40% do valor. Outra medida que teve impacto no mercado de concessão de crédito foi a elevação, em abril deste ano, de 1,5% na alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) incidente sobre as transações de crédito para pessoa física. Assim, o tributo passou para 3% ao ano sobre todas as operações com cartão de crédito, CDC e crédito consignado. Na época, Guido Mantega, ministro da Fazenda, justificou a medida afirmando que a expansão do crédito no País estaria em 20% ao ano, o que foi considerado um porcentual muito alto.

assim como a maior consciência do brasileiro em consumir de forma responsável, são indicadores de que o consórcio tem sido uma interessante opção para aqueles que pretendem poupar com um objetivo predefinido.” Em relação aos longos prazos para contemplação dos participantes, Rossi avalia que esse não é um fator de desestímulo. “Ao contrário, o prazo é um dos atrativos do mecanismo que desperta interesse e preferência do público consumidor.” Ele complementa, afirmando que no primeiro trimestre do ano a comercialização de novas cotas

foi 54,3% maior que o acumulado em igual período de 2010. Para 2011, as previsões são otimistas. “Em fevereiro, quando encerrávamos o balanço de 2010, as projeções para este ano indicavam crescimento de 7% a 8%. Apesar da estimativa conservadora, as perspectivas de crescimento são favoráveis.” Décio Carbonari de Almeida, presidente da Anef “Esse quadro deve perdurar para o resto do ano, uma vez que o governo não irá deixar de combater a inflação por meio dessas medidas”


educaçãofinanceira

Brincando

de somar Por Juliana Jadon

De maneira lúdica, a partir de peça teatral, atores ensinam crianças a lidar com dinheiro. Em um esforço global voltado à educação financeira, a Visa do Brasil pretende atingir 20 milhões de pessoas até 2013

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Entre um passe de bola e outro, os números ganham vida e ficam na memória da plateia. A história dos amigos Dudu e Gabriel, que gostam de jogar futebol, é o enredo utilizado durante o “Teatro Finanças Práticas”, promovido pela Visa do Brasil. Ao usar um tema tão presente na vida dos brasileiros, o espetáculo apresenta de forma lúdica conceitos sobre hábitos conscientes em relação ao uso do dinheiro, e busca, assim, fazer com que o público se identifique com o assunto. Por meio de uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, a bandeira de crédito realiza eventos como esse, de educação financeira, em regiões periféricas da capital. As peças infantis são apresentadas, desde o segundo trimestre do ano passado, em 43 Centros Educacionais Unificados (CEUs). Neste ano, o espetáculo será mostrado para mais de 14,5 mil crianças e jovens frequentadores dos CEUs e das comunidades que ficam no entorno. “Os professores nos dizem que os alunos aprendem com os personagens”, afirma, com orgulho, Sabrina Sciama, responsável pelo programa de educação financeira da Visa no Brasil.

A iniciativa no País não é isolada. Em um esforço global voltado à educação financeira, a bandeira pretende atingir 20 milhões de pessoas até 2013. No México, a apresentação lúdica é feita por meio de mágicas. Nos Estados Unidos, a empresa criou o site “Practical Money Skills” (do inglês, Habilidades Práticas com Dinheiro). Além disso, muitas outras ações semelhantes se espalham pelo planeta. Os projetos buscam atender às necessidades e características culturais de cada país ou região.

1+1 O trabalho com educação financeira da Visa não é recente. Em 2005, e empresa criou de maneira pioneira, no País, o portal “Finanças Práticas”. Nele, simuladores apontam o que é preciso fazer – entre economizar e investir – para comprar um carro ou promover uma grande festa, por exemplo. O portal divide as dicas por etapas da vida. Quem faz ensino superior encontra maneiras de guardar dinheiro para a festa de formatura, como reduzir custos da conta telefônica, ganhar descontos

Foto: Marcelo Pereira

Bate-bola No CEU Capão Redondo Atores educam financeiramente com brincadeira

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educaçãofinanceira

Dica “Em educação financeira, as empresas não concorrem entre si. Elas precisam se unir para trabalhar de mãos dadas. Estamos de portas abertas para ajudar as instituições financeiras nesse conteúdo. Eu diria que é possível começar do zero, mas antes é preciso conhecer o público, adaptando a linguagem de acordo com o nicho de atuação. Não dá para falar de investimentos com uma pessoa que desconhece o que é uma planilha de orçamento, por exemplo”, ressalta Sabrina Sciama.

nas mensalidades da faculdade, entre outros. Para quem está próxima de se tornar mãe, há informações sobre como se preparar para o grande dia e o que será preciso comprar com a chegada do bebê. Atualmente, o website recebe cerca de 80 mil visitas mensais de pessoas que acessam, periodicamente, ou que descobrem o conteúdo por meio de postagens em blogs e comentários em redes sociais. A companhia também possui uma cartilha com “50 dicas para lidar com a saúde financeira”. O material ensina a criar metas financeiras, organizar o orçamento, usar conscientemente o crédito, gerenciar dívidas, poupar e, por fim, investir. Bancos e bandeiras de Sabrina Sciama, da Visa “Ainda é longo o caminho para o brasileiro saber administrar o dinheiro de forma correta”

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adquirência (como Redecard e Cielo) disponibilizam o material em estabelecimentos e parceiros. Na última Copa do Mundo, em 2009, foi lançado, com o apoio da fundação Gol de letra, o jogo “Bate-Bola financeiro”, já customizado para os parceiros. O game foi inserido no site da marca, além dos portais do Banco do Brasil e da federação Brasileira de Bancos (febraban). O aplicativo é simples. A cada resposta certa das questões de múltipla escolha, os jogadores passam a bola até finalizar a jogada com um gol. Apesar de não revelar números, a executiva da Visa diz que o orçamento para educação financeira na empresa só tem aumentado desde 2005. O desafio de sabrina e da companhia, atualmente, é conseguir cada vez mais parceiros para o programa. Para isso, ela conversa com executivos de bancos e empresas levando na pauta a importância do trabalho. Outro projeto recente é a inclusão do conteúdo do “finanças Práticas” em redes sociais, como facebook e Twitter. “Ainda é longo o caminho para o brasileiro saber administrar o dinheiro de forma correta. As pessoas começam a se interessar, mas a maioria da população precisa ter acesso a esse tipo de conteúdo”, finaliza. f



happyhour

Por Juliana Jadon

Um mercado dec apitais e bebidas Inspirado na Bolsa de Valores de Nova York, o paulistano Wall Street Bar vende cervejas a preços que oscilam de acordo com a lei da oferta e demanda. Conceito está prestes a ser exportado para a Europa, América e Ásia Termos de mercado típicos de uma Bolsa de Valores como day trade, IPO, derivativos e volatilidade, confundem-se com palavras como cerveja, mojito, aperitivos, amigos, entre outras. Não é loucura. É o que acontece no Wall Street Bar, espaço inspirado na Bolsa de Valores de Nova York (Nyse), situada na famosa Wall Street. Na versão paulistana, é possível operar em tempo real os preços das bebidas comercializadas, em um sistema semelhante ao da negociação de ações em um 26 FINANCEIRO junho/julho 2011


Fotos: Divulgação

pregão eletrônico. O estabelecimento possui telões que mostram a “cotação” das bebidas de acordo com as marcas. Além disso, em cada mesa há telas touch screen para que os clientes façam as aquisições como em um home broker. O sistema também dá acesso ao cardápio de alimentos e a uma espécie de jukebox, que permite ao frequentador escolher as músicas que deseja ouvir no ambiente. Após um período de muita euforia no pregão das bebidas ocorre um “crash”. No mercado de capitais, isso significa uma queda profunda e inesperada no preço das ações. Já quando isso acontece no Wall Street Bar, o valor das cervejas volta ao inicial e o jogo começa novamente. O crash ocorre, automaticamente, em momentos nos quais o valor dos produtos ofertados dispara demais, ficando muito acima do normal. “Quem entende o conceito, pode levar vantagem na brincadeira”, diz Fabio Strano Alguim, um dos donos. Nas paredes, letreiros coloridos mostram em tempo real a cotação das bebidas. Na entrada, encontra-se um touro semelhante ao da Bolsa de Valores da Big Apple. Ao longo da semana, o público é, em geral, formado por executivos, jornalistas e advogados. Já aos sábados e domingos, o perfil dos frequentadores é mais diversificado e inclui ainda turistas e curiosos em conhecer o local. No segundo andar há uma sala de sinuca, disponível para reservas em caso de evento privativo. O cliente pode conectar seu iPod e controlar a música ambiente. Grandes empresas, como a Gafisa e o banco JP Morgan, já organizaram eventos no local. Quem paga mais? Em março de 2009, ao passar a tarde tomando cervejas com amigos em um bar em São Paulo, Fabio Stramo Alguim, agora com 31 anos, comprou a última loura gelada de uma determinada marca junho/julho 2011 FINANCEIRO 27


happyhour

serviço

Wall Street Bar www.wallstreet bar.com.br Rua Jerônimo da Veiga, 149 Itaim Bibi Horários: de segunda a sábado, das 18 às 2 horas, e domingo, das 15 às 23 horas

que havia no lugar. Quem quisesse beber mais, deveria sucumbir a outras marcas ou comprar o produto dele. Na pele de vendedor, ele levou a brincadeira adiante com o grupo de conhecidos e de pessoas de outras mesas no estilo “quem dá mais para levar a garrafa?” Ao observar a interação, colegas que acabavam de voltar de Barcelona comentaram com ele que, por lá, existia um estabelecimento que vendia cervejas com preços que oscilavam de acordo com a lei de oferta e demanda. Quanto maior era o consumo, mais elevado o preço final. E sugeriram fazer algo semelhante no Brasil. No dia seguinte, Fabio acordou com a ideia na cabeça. Mas acreditava que um negócio do tipo não funcionaria em terras brasileiras pelas características culturais serem divergentes da Europa. Ao encontrar Thiago Armentano, um amigo de infância, contou a proposta. Thiago, agora com 28 anos, na mesma hora resolveu fechar uma parceria para a criação do local e disse: “Vamos fazer, mas não fala para ninguém”. Só que o próprio Thiago, empolgado com a empreitada, contou para todos os amigos. Foi assim que entraram para a sociedade mais três pessoas. No dia posterior, ele saiu em busca de um ponto e o encontrou. Era um galpão de uma ex-fábrica de roupas femininas, com dois andares e sem infraestrutura alguma, segundo Fabio. “Olhei e gostei do lugar e do bairro. Assim decidimos, bem na loucura, ficar com o ponto”. Ele começou, então, a desenhar um sistema para calcular o preço dos produtos com a ajuda de mais amigos estatísticos, matemáticos e físicos. “Sentamos e co-

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meçamos a montar um modelo de variação. Foi um processo árduo: de março a dezembro”. Em paralelo, Thiago desenhou o ambiente do bar com a ajuda do pai arquiteto. No começo do ano passado o Wall Street Bar foi inaugurado.

Projetos Fábio, desde o início do processo de criação do sistema operacional do pregão fictício, incluiu um espaço nas telas de touch para colocar anúncios. Recentemente, fechou acordos para divulgação de revistas, um hotel e duas marcas de bebidas. As inserções devem começar em julho. “Neste ano, vamos trabalhar mais o marketing.” E as novidades não param. O sistema irá migrar para a fase 2.0. Com ele, será possível visualizar na tela o item a ser adquirido com o descritivo. Além disso, os sócios estão colocando promoções em redes sociais, como Facebook e Twitter. Por exemplo, quem está no Facebook e é aniversariante, ganha um mojito – bebida muito procurada na casa. Outra coisa que os sócios espalharam na internet é que quem barganhar preço com o gerente sempre consegue desconto. O senso de oportunidade dos sócios é ininterrupto. A ideia é criar, ainda no segundo semestre, uma rede de franquias do bar. O plano envolve, inclusive, a internacionalização do Wall Street Bar, que já possui a marca patenteada em diversas partes do globo para evitar cópias. Lisboa, Madri, Colômbia, Miami e China são potenciais lugares para a abertura das novas unidades. f



mercadopordentrodovarejo

Mais do que um ano dourado:

2 11 um

diamante

Sem perder de vista a tradição, grupo gaúcho Herval volta os olhos para o futuro. Atento às oportunidades, consolida nova bandeira para lojas próprias: a rede TaQi. Planos de expansão no segmento varejista contemplam outros Estados e formatos de negócios Por Giseli Cabrini Uma empresa de valor. E de valores. É assim que o Grupo Herval se autodefine. Apesar de acumular mais de meio século de existência (veja em “Linha do Tempo”), ele está longe de pendurar as chuteiras. Ao contrário, ao longo de mais de 50 anos, se reinventa constantemente. O processo de diversificação das áreas de atuação reflete o exercício de descobrir novas oportunidades. A pequena serraria, em Dois Irmãos (RS), deu lugar a um moderno conglomerado que reúne mais de 15 marcas – entre produtos, serviços e modelos de negócio. Elas, por sua vez, estão divididas em seis segmentos de atuação: serviços, indústria, varejo de canais exclusivos, varejo, atacado/distribuição e importação (veja a configuração completa na ilustração). 30 FINANCEIRO junho/julho 2011

Fisicamente, com a bandeira varejista de lojas TaQi, a organização está presente no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e se prepara para chegar ao Paraná ainda em 2011. Por meio dos canais e-commerce (www.taqi.com.br) e de revendedoras autorizadas da Apple – conhecidas como Apple Premium Resellers (APRs) –, a operação vai além das fronteiras do Sul. As vendas on-line acontecem em todo o País e há APRs também em Brasília e Belo Horizonte. Nos próximos três meses será a vez de chegar a São Paulo. As informações são de Germano Grings, diretor do grupo e responsável pela operação TaQi. “Nosso plano de expansão para o varejo neste ano prevê chegar a 85


unidades. Atualmente, são 70 lojas. Do total do faturamento, que ficou acima de R$ 1 bilhão em 2010, 65% são provenientes de varejo e atacado. Os outros 35% têm como fonte as outras áreas de atuação”, explica. Segundo o executivo, com base nos números que mostram aumento superior a 30% nas vendas do varejo, de janeiro a maio deste ano em relação a igual período de 2010, a receita em 2011 deve, pelo menos, repetir a performance anterior e permanecer na casa dos nove dígitos. “Se o ano passado foi considerado de ouro para o varejo, este será diamante. Mesmo diante da indefinição sobre os rumos da inflação, a procura por mão de obra supera a oferta. As pessoas estão empregadas e ganhando mais”, afirma, com otimismo, o diretor. Foi justamente em um momento particularmente favorável para a atividade varejista nacional, que o grupo gaúcho remodelou a cadeia de lojas físicas. Além da mudança de razão social para “TaQi – Tá em casa”, foram investidos R$ 20 milhões para remodelação de layout inter-

no e de estoques, introdução do conceito de autosserviço e expansão do mix de produtos com a inclusão de novas categorias compostas por itens de maior valor agregado. “Por exemplo, a área de eletroeletrônicos até então tinha um perfil mais popular. Passamos a trabalhar com marcas e mercadorias mais sofisticadas, como televisores 3D da Sony e Samsung. Na seção de computadores, há modelos da HP, Apple, entre outros”. Ainda segundo Grings, há planos para incrementar o portfólio de bazar e de artigos de cama, mesa e banho. E, para atingir essa meta, mais novidades. “Nossa intenção é ter lojas maiores. Atualmente, o padrão varia de um mil a três mil metros quadrados.” Sem revelar detalhes sobre a área financeira, Grings afirma que 90% das atividades ainda são direcionadas ao suporte de operações de crédito para aquisição de itens vendidos no varejo por meio das lojas TaQi. “No entanto, temos uma vasta linha de produtos financeiros que inclui private labels, inclusive para outras redes varejistas”, ressalta.

Lojas TaQi Empresa investiu R$ 20 milhões no projeto de remodelação

Germano Grings, do Grupo Herval “As pessoas estão empregadas e ganhando mais”

junho/julho 2011 FINANCEIRO 31


mercadopordentrodovarejo

Linha do tempo

1950

A Madeireira Herval começa as atividades em Dois Irmãos (RS), em 1959, liderada pelo fundador Felippe Seger Sobrinho e por Nelsi Seger Grings

1960

Iniciada a fabricação de novos itens: de caixas de madeira para calçados até móveis. O passo seguinte acontece com a abertura de uma loja, com linha de construção, ferragem, móveis e eletrodomésticos

1970

Empresa passa a produzir móveis estofados

1980 Construção da fábrica de espumas para atender à produção própria de estofados e colchões. Surge, então, o Grupo Herval, inicialmente com três divisões: comércio, móveis e química. Em 1982, abertas as primeiras filiais das Lojas Herval. Dois anos depois, é criada a unidade de Itaiópolis. Em março de 86, todo o complexo industrial foi transferido para Dois Irmãos (RS), onde permanece até os dias atuais

1990

Em 1992, a corporação passa a atender a um novo segmento: o setor calçadista. Para isso é incorporada a fabricação de laminados de látex, além da espuma de poliuretano. Em 1994, surge a Herval Administradora de Consórcios. Dois anos depois, começa a fabricação de solados de poliuretano e a empresa adquire a primeira máquina para produção de colchões de mola. No fim de 1997, são iniciadas as obras do novo prédio da Herval Química. Linha de móveis começa a ser exportada para diversos países

2000

No fim de 2002 e 2003 são inaugurados os novos centros de distribuição e administrativo. Em 2004, é aberto um novo centro de distribuição na região industrial de São Paulo. Nessa época, começa também o fortalecimento do conceito Grupo Herval. Isso leva à divisão em três segmentos, de acordo com a natureza de seus produtos: ndústria, comércio e serviços. Em 2009, são criadas as marcas que diferenciam os produtos produzidos pelo grupo: HS Seguros, HS Financeira, iF Móveis, Beden Sleep Comfort, H Lar e Herval Tech. Também é adquirida uma nova marca, a LF

2010

Em 2010, as lojas Herval passam a usar a bandeira TaQi – Tá em Casa

Fonte: Grupo Herval

32 FINANCEIRO junho/julho 2011


Principais marcas do Grupo Herval Atacado/distribuição

Indústria

Serviços

Fotos: Divulgação

Varejo

Varejo de canais exclusivos

Fonte: Grupo Herval

Gauchês O diretor diz não haver uma fórmula de sucesso pronta para garantir o sucesso no varejo na região Sul, em particular no Rio Grande do Sul. No final de 2009, a Casas Bahia – antes de se unir ao grupo Pão de Açúcar – encerrou as atividades no Estado, após cinco anos. Segundo especialistas, faltou imprimir um sotaque regional na operação. “Quem vem para o Sul, encontra dificuldades por não falar ‘gauchês’. Há diferença no mix de produtos: as linhas oferecidas costumam ser mais completas. O comportamento de consumo também é bastante peculiar. Em geral, as pessoas compram menos por impulso. Elas não se contentam em saber se o valor da prestação irá caber no bolso. Fazem contas sobre o valor final de juros e, muitas vezes, preferem comprar à vista e tentar obter desconto”, explica o executivo do grupo Herval. “Existe também a questão da proximidade. Em cidades com menos de 50 mil habitantes, os gerentes de nossas lojas participam ativamente da comunidade: vão à missa aos domingos e eventos sociais, coisas desse tipo.” Grings também chama a atenção para outros trunfos da organização: logística e espírito de equipe. “Na nossa operação física, todo pedido é entregue, sem qualquer exceção, em 24 horas. Investimos muito para que isso aconteça. Nas vendas on-line, o prazo é um pouco maior, entre dois e três dias. Temos excelentes parceiras, com destaque para a que mantemos com os Correios.” Embora o e-commerce, canal cujas ações foram intensificadas nos últimos dois anos, represente cerca de 5% das vendas totais da operação varejo, ele é definido pelo diretor como “a menina dos olhos” desse segmento. “Nossa estratégia de comunicação, fora da região Sul onde somos conhecidos, é diversificada e inclui e-mail marketing para mailings específicos, propaganda boca a boca, anúncios em sites como BuscaPé e Google, além de ações em redes sociais como Facebook e Twitter.” Grings finaliza destacando a importância do relacionamento com os funcionários para os resultados crescentes do grupo. “A base do sucesso não está no faturamento, mas nas pessoas. Atualmente, temos 4,5 mil empregados, sendo 2,2 mil no varejo. Somos uma grande equipe.” junho/julho 2011 FINANCEIRO 33


artigocenárioexterno

A crise no Oriente Médio e seus desdobramentos na economia mundial Por Joel Paillot

Muito tem se falado sobre as consequências políticas e econômicas da crise que se instaurou em alguns países do Oriente Médio e do norte da África. Essas preocupações se dão porque é nessa parte do globo que pulsa o coração energético da Terra. Sempre que o mundo presencia uma crise em regiões produtoras de petróleo, retomam-se as discussões sobre a necessidade latente de independência energética. É verdade que o Egito e a Tunísia não possuem uma reserva expressiva de petróleo, mas a Líbia detém uma das mais importantes da África. A Argélia é uma grande fornecedora, assim como o Bahrein, país fronteiriço da Arábia Saudita que é a maior produtora do petróleo que abastece o mundo. Vem, com a crise, o aumento do preço do barril de petróleo e do litro da gasolina. A alta das cotações impacta diretamente as economias dos Estados Unidos e da Europa, que ainda se recuperam da grande crise. Trata-se de uma ameaça ao crescimento global e, certamente, esse é um problema digno de roubar as noites de sono dos governantes. No entanto, não há razão para pânico. O risco da instabilidade no fornecimento do petróleo existe, mas devemos lembrar que os países do Oriente Médio precisam vender. Mais preocupante que as turbulências é o fato de o petróleo ser um recurso esgotável. Após a crise nuclear decorrente do terremoto que atingiu o Japão, muito se discute sobre a utilização dessa forma de energia. Enquanto a geração oriunda de fontes limpas ainda não está madura, qualquer instabilidade no Oriente Médio causará insegurança. O mundo árabe está em transição, ao mesmo tempo em que o Brasil se aproxima cada vez mais dele. Empresas brasileiras que fazem negócios por lá têm se preocupado. De fato, houve saques em alguns países, situação que pode desencadear atrasos e

até mesmo ausência de pagamento. O risco político também pode ocasionar sinistros uma vez que – com um banco central fechado, por exemplo –, o pagamento deixa de depender só do comprador. Também não se deve esquecer do risco tradicional em transações com essas nações, que é o de litígio. Quando uma empresa privada é controlada pela família de um governante, qualquer situação que caminhe para uma cobrança judicial pode ser muito perigosa. Esse risco ainda existe nos países do Oriente Médio afetados ou não pela crise. Nós, como seguradora de crédito, realizamos uma análise com indicadores que classificam o nível de risco de transações realizadas em um determinado país. Esses indicadores medem como os negócios são influenciados pelas perspectivas econômicas, financeiras e políticas externas de uma nação, em um ambiente corporativo. Estabelecemos um rating global para cada avaliado, por meio da classificação do risco em sete níveis – partindo de A1 (o mais baixo) até D (o mais alto). Também diminuímos nossos limites de cobertura para contratos que envolvem os países confrontados por manifestações, revoltas ou guerras civis. É possível se assegurar, por meio de produtos clássicos, como as cartas de crédito emitidas por bancos locais e confirmadas por uma instituição financeira brasileira. Outra alternativa está no seguro de crédito. Tomando esses cuidados é possível enxergar oportunidades na crise. A instabilidade no mundo árabe fará com que os investidores enxerguem a América Latina como uma zona de segurança para aplicações, abrindo novas oportunidades de negócios na região. Joel Paillot é presidente da operação brasileira da seguradora de crédito Coface



especialinternacionalização

Por Raimundo Oliveira

Finanças à O sistema financeiro brasileiro vive um período de fortalecimento. Parte expressiva dessa robustez resulta do comportamento da “economia verde e amarela” durante e após a crise iniciada no fim de 2008. De acordo com previsões feitas pelo Banco Mundial (Bird), até 2025 o Brasil –ao lado de China, Índia, Indonésia, Coreia do Sul e Rússia – será responsável por mais da metade de todo o crescimento global. Entre os fatores que exemplificam esse novo momento estão a melhora do rating do País pelas agências de classificação de risco, como Fitch e Standard & Poor’s, e o movimento de internacionalização das instituições financeiras nacionais.

Banco do Brasil (BB), Itaú Unibanco, Bradesco e Caixa Econômica Federal (CEF) estão cada vez mais expandindo fronteiras nas Américas, na Ásia e na África. Essa empreitada combina diferentes estratégias: atuação efetiva no varejo bancário de outras nações com a captação de clientes locais a partir de aquisições, operações de private label e ainda escritórios de representação internacional e parcerias com outras instituições financeiras. A publicitária brasileira Cliscia Costa Teixeira Luhter mora na cidade norte-americana de Seattle e tem uma conta poupança no Banco do Brasil (BB). Ela torce para que a expansão das agências da instituição


Fotos: iStockphoto/Divulgação

brasileira financeira chegue até o Estado de Washington. “Tenho uma poupança no Brasil e minha mãe faz as transações bancárias para mim de lá. Quando recebo algum valor, isso é feito via Paypal. Cliscia afirma que já precisou de serviços de bancos brasileiros no exterior e que a tarefa não foi nada fácil. “Precisaria ir pessoalmente à agência, sendo que a mais próxima fica em Nova York. Então deixei pendente e resolvi quando estive no Brasil, há quatro meses”. Ela diz ainda que usa os serviços do BB de previdência privada e que seria muito mais prático pagar as mensalidades diretamente dos Estados Unidos, assim como fazer a movimentação da conta poupança.

Grandes bancos nacionais estão cada vez mais presentes em outros países. Estratégias diferenciadas vão de aquisições a parcerias com outras instituições financeiras


Eles vão às compras O desejo de Cliscia pode se tornar realidade. Com a compra do EuroBank pelo BB em abril deste ano, o banco passa a ter atuação de varejo nos Estados Unidos. A incursão na terra do Tio Sam será feita por meio da marca Banco do Brasil América e, inicialmente, ficará concentrada em três agências no Estado da Flórida. Apenas nos Estados Unidos, nos próximos quatro anos o banco brasileiro pretende ter cerca de 400 mil clientes por meio da rede de agências adquirida com a compra do EuroBank em Coral Gables, Pompano Beach e Boca Raton. O EuroBank tem atualmente cerca de 1,5 mil clientes entre norte-americanos, portugueses, hispânicos e brasileiros que vivem na Flórida. A expectativa do BB é que a rede seja ampliada. Os planos de expansão preveem a abertura de sete a nove unidades por ano, principalmente nos Estados da Flórida, da Califórnia e de Nova Jersey. Para essa empreitada, deverão ser investidos cerca de US$ 25 milhões. Apenas a compra do EuroBank exigiu US$ 6 milhões. Na avaliação do gerente-executivo da área de governança corporativa das participações no exterior, Eduardo de Oliveira Martins, o momento atual é muito favorável 38 FINANCEIRO junho/julho 2011

à marca Brasil nos negócios internacionais e o BB está de cada vez mais de olho no mercado externo. A instituição definiu três linhas estratégicas para nortear os negócios fora do Brasil, de acordo com Martins. Além do atendimento a brasileiros no exterior, afirma o executivo, o BB também tem como alvo o apoio às empresas nacionais que atuam fora do País e o aprimoramento da presença em nações nas quais o Brasil têm aumentado atuação em comércio exterior, como, por exemplo, no continente africano, na Ásia e na América Latina. A meta até 2015 é elevar a participação internacional nos resultados financeiros da instituição dos atuais 3% para 10%. Segundo Martins, com a compra de 51% do Banco Patagônia que fica na Argentina, a participação dos negócios fora do Brasil nos resultados financeiros do BB saltou de 1,5% para 3%. Com a operação, o BB se junta ao Itaú Unibanco na disputa de instituições financeiras nacionais por clientes de varejo no país vizinho. A estratégia será diferente daquela adotada nos Estados Unidos. Nesse território, a marca adquirida – já consolidada e com presença em todas as províncias argentinas – será mantida. Ainda na América Latina, onde já atua com rede própria de agências, a expectativa é de novas aquisições em


países como o Paraguai e Chile, nos quais a presença e a atuação de empresas e cidadãos brasileiros é crescente. Quanto a investimentos, só a compra de 51% de participação do Banco Patagônia custou US$ 479,6 milhões, mas o BB já sinalizou intenção de aumentar para 75% o controle por meio de oferta pública aos acionistas minoritários. Em relação à África, o BB está atento ao fenômeno recente de bancarização por conta do crescimento econômico, explica o executivo. Segundo ele, entre as oportunidades vislumbradas estão as operações com cartões e o alvo vai além dos países de língua portuguesa. “Nigéria e África do Sul são mercados de grande expressão e o continente tem recebido grandes investimentos por parte de empresas brasileiras em segmentos como construção civil, por exemplo”. Além disso, essa área geográfica é palco de um recente fenômeno de bancarização por meio de telefonia celular em virtude da precária infraestrutura na rede de bancos, o que impulsiona ainda mais a corrida das instituições financeiras no continente. Recentemente, na companhia do Bradesco, o BB formou com o português Banco Espírito Santo (BES) uma holding financeira, a BES África. O objetivo é coordenar futuros investimentos que englobam a aquisição de participações em bancos do continente africano e também operações próprias por lá. O mercado asiático também está na mira do BB em virtude do crescimento dos negócios brasileiros, principalmente na China. Em vista disso, o banco trocou a unidade de representação de Xangai por uma agência. No Japão,o BB atua com uma rede de agências e de representantes, e têm cerca de 125 mil contas ativas. O Itaú Unibanco, que já atua como banco de varejo na Argentina desde 1995, também aposta em aquisições. Em 1998, comprou o Banco del Buen Ayre, que em 2008 passou a se chamar Banco Itaú Argentina. Atualmente, possui 81 agên-

cias espalhadas pela capital argentina, Grande Buenos Aires, La Plata, Mar del Plata, Rosário, Mendoza, Córdoba, Tucumán, Salta e Neuquén, e sinalizou ao mercado que pretende aumentar a presença no Cone Sul. Um pé aqui, outro lá... Parceiro do BB na empreitada africana, o Bradesco – que tem forte presença no mercado de private label no México desde a compra do banco Ibi – informa que está com o radar ligado para os negócios no exterior, principalmente em operações de comércio exterior, corporate, asset management, mercado de capitais e private banking. Após fechar negócio com o Ibi no Brasil por R$ 1,4 bilhão em 2009, o Bradesco adquiriu também a unidade mexicana do banco em meados do ano passado. Na transação internacional, que contemplou um acordo por 20 anos para operações financeiras por meio de cartões nas lojas da C&A,o Bradesco desembolsou cerca de R$ 300 milhões e abocanhou uma carteira com mais 1,3 milhão de cartões de crédito ativos.


especialinternacionalização

capilaridade que atinge todos os municípios brasileiros por meio de agências próprias e correspondentes bancários, a instituição financeira deve abrir em 2011 cerca de 200 agências, o que corresponde a igual volume de inaugurações do ano passado. “Concluímos também o novo centro de TI, na Cidade de Deus (que fica na sede do banco em Osasco, Estado de São Paulo), que é um dos maiores do mundo”, afirma o executivo.

Norberto Pinto Barbedo, do Bradesco Radar ligado para negócios no exterior, entre eles: asset management e private banking

No entanto a ampliação das operações no mercado mexicano para além do segmento de private label vai depender do comportamento da economia daquele país. De acordo com o vice-presidente executivo do Bradesco, Norberto Pinto Barbedo, em virtude do volume de investimentos no Brasil em infraestrutura, por exemplo, há uma aceleração no processo de crescimento das empresas que passam a grandes, o que demanda atuação em operações de securities, equity e abertura de capitais. “O Brasil tem cerca de 400 companhias listadas em Bolsa e o número tende a crescer bastante”, afirma. Outro alvo do banco é o segmento de private banking em virtude do aumento no número de milionários brasileiros em decorrência do aquecimento da economia brasileira, aponta Barbedo. A instituição, no entanto, reitera que o alvo continua a ser o varejo brasileiro e não há intenção de comprar redes de agências em outros países, pelo menos por enquanto. SegunEduardo de Oliveira Martins, do o vice-presidente executivo do Banco do do Bradesco, o banco manteve Brasil O momento nos últimos seis anos a estratéatual é muito gia de grandes investimentos favorável à no varejo brasileiro. Com uma marca Brasil

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Parceiros A Caixa Econômica Federal, por sua vez, tem forte atuação entre brasileiros que vivem e trabalham no exterior por meio de escritórios de representação (Tóquio, Nova Jersey e Caracas) e de parcerias com outros bancos para captação de remessas de dinheiro para o Brasil, como as que mantêm no Japão com o Iwata Shinkin Bank e com o Japan Post Bank; nos Estados Unidos, com o Citibank e em Portugal, com o Millennium bcp. O alvo da Caixa é dar apoio aos brasileiros que vivem fora do País por meio de carta de crédito, mediante comprovação de pagamento baseada no envio de remessas regulares de dinheiro para o Brasil. A instituição também oferece o saque do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para brasileiros que vivem nos Estados Unidos e no Japão que tiveram emprego formal no Brasil. f



especialpré-pagos

Com amplas oportunidades e nichos a serem explorados, o mercado de cartões pré-pagos atrai bandeiras, bancos e empresas. Em ascensão, o segmento deverá faturar R$ 81 bilhões em 2017 na América Latina

Dinheiro

Por Juliana Jadon Em uma segunda-feira, pela manhã, o caminhoneiro que transporta móveis iria percorrer os 402,6 quilômetros da rodovia Régis Bittencourt (BR-116), que liga as cidades de São Paulo (SP) e Curitiba (PR). São seis pedágios ao longo do trajeto e, mesmo assim, ele não se preocupa em levar dinheiro para o pagamento, pois a companhia que o emprega carregou seu cartão pré-pago que faz esse papel. É só entregar o plástico para a garota da cabine do pedágio e pronto. Com isso, ele economiza tempo e ainda ganha segurança. A companhia contratante sabe que o recurso foi gasto da maneira certa e não corre o risco de perda da quantia por roubo. O produto, ofertado pela Visa desde 2001, já está

de plástico consolidado no mercado brasileiro e é um caso de sucesso de pré-pago para a bandeira, que tenta exportar o conceito. “Somos referência mundial em pré-pago para transporte terrestre”, reforça Felipe Maffei, diretor de produtos da Visa do Brasil. O segmento de pré-pagos no Brasil promete. De acordo com estimativa da Mastercard, esse mercado deverá faturar cerca de US$ 81 bilhões na América Latina em 2017, principalmente pelas transações realizadas no País. No mesmo ano, somente Estados Unidos e Canadá deverão gerar ganhos de US$ 457 bilhões para essa indústria. 42 FINANCEIRO junho/julho 2011


No entanto, apesar das expectativas, o mercado de pré-pagos brasileiro ainda é incipiente em alguns quesitos. E é exatamente para o exemplo da Visa que as empresas que atualmente adentram no segmento devem olhar e se espelhar, segundo especialistas. “Existe um grande campo a ser explorado. Entretanto para um produto como esse dar certo no Brasil é preciso atender a determinados nichos, cobrindo necessidades específicas”, avalia Celso Grisi, presidente do Instituto de Pesquisas de Mercado Fractal. Para não ficar de fora do crescimento, a Mastercard anunciou recentemente o lançamento de um cartão pré-pago internacional em uma parceria com um banco brasileiro e com a Rêv, companhia global que é uma das líderes do segmento. O público-alvo será a população que não tem acesso a bancos – cerca de 40% dos brasileiros – e trabalhadores que ainda ganham salário em dinheiro físico – 55% do total de assalariados do País, segundo dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis (Ipead). Segundo o vice-presidente de produtos da Mastercard, Marcelo Tangioni, o produto também poderá ser usar por jovens que começam a utilizar cartão pela primeira vez e filhos que ganham mesada cujos pais querem controlar e saber para onde vai o dinheiro. As três empresas pretendem, com a jogada, alcançar uma carteira de 500 mil clientes já no primeiro ano. Oportunidades O uso de pré-pagos no Brasil não é recente. Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações, do total de acessos móveis no País (210,5 milhões), 173 milhões são pré-pagos enquanto que somente 35 milhões são pós. Ou seja, ainda no Brasil 82% do número do uso de celulares é feito por meio de pagamento antecipado. O brasileiro, assim, já possui a cultura do pré-pago muito forte no dia a dia e as companhias que adentram o segmento não perderão essa brecha.

Meissan Monajem, da e-SafeTransfer “Unimos o mundo da fidelidade com o do pré-pago”


Cartão para a Copa 125 mil comércios e 17 mil caixas automáticos credenciados na África

A área de turismo também gera entusiasmo. Os brasileiros gastaram no exterior cerca de US$ 1,9 bilhão em abril, crescimento de 58% frente a igual período do ano passado, aponta o Banco Central. Olhando para os que gastam no exterior, a American Express aposta nos benefícios do programa Selects, que dá descontos aos clientes e estará disponível também para quem comprar o cartão pré-pago da empresa. O produto também oferece acesso a fundos emergenciais sem custo, facilidade de carregamento e atendimento 24 horas, tanto on-line, quanto por telefone. Outra vantagem é o Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) reduzido para

Grupos com potencial para o uso dos pré-pagos: Consumo Viagens Compras on-line Vale-presente Transferência Setor público Programas de benefícios – como o Bolsa Família Serviços de assistência emergencial Seguridade social Viagens e controle orçamentário Folhas de pagamento e incentivo Setor privado Viagens de negócios ou entretenimento Alimentação Compras corporativas Promoções e campanhas de incentivo Fonte: Mastercard

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quem utiliza os pré-pagos para viagens. No caso a taxa é de 0,38% ante 2,38% para quem faz compras com o cartão de crédito comum. Já a Visa aproveita megaeventos para lançar os plásticos. Na Copa do Mundo 2010, na África do Sul, por exemplo, os brasileiros puderam usufruir do “Visa TravelMoney (VTM)” em rands, moeda sul-africana. O pré-pago foi ofertado pela Confidence, corretora de câmbio para turismo, responsável por um dos maiores volumes de vendas do VTM no mercado brasileiro. O plástico pôde ser utilizado em mais de 125 mil comércios e 17 mil caixas automáticos credenciados à Visa. Um dos diferenciais do produto é a possibilidade de recarga a distância, além do acompanhamento das transações e do saldo por meio do extrato on-line, acessado pelo site da Confidence. Há ainda o direito até oito cartões adicionais que acessam o mesmo fundo, o que facilita a viagem de casais e famílias. Além disso, o portador tem à disposição uma central de atendimento 24 horas em português. “Temos alguns

Fotos: Douglas Luccena/Divulgação

especialpré-pagos


Celso Grisi, do Instituto Fractal “Para um produto como o pré-pago dar certo no Brasil é preciso atender a determinados nichos, cobrindo necessidades específicas”

milhões de pré-pagos para viagens comercializados”, aponta Maffei, sem revelar números. O VTM também é emitido pelo Banco do Brasil, com o Ourocard, e outros bancos parceiros. O produto permite que o viajante faça uma pré-carga em dólar ou em euro, o que possibilita a utilização em mais de 200 países e territórios ao redor do mundo. A corrida dos pré-pagos está cada vez mais rápida. “Algumas empresas descobriram o pré-pago agora. Para nós, é algo consolidado e representa uma fatia muito grande de mercado. Nossos concorrentes para esse produto são o dinheiro e o cheque”, provoca Maffei, da Visa. Moeda própria O pré-pago também pode ser um instrumento para fidelizar o consumidor, quando bem ofertado. Exemplo disso, cerca de 80 mil clientes aderiram ao Hut Cash, cartão pré-pago oferecido pela Pizza Hut pelo qual cada real vale 1,1 Hut Cash. Assim, o ganho

para o portador é de 10% sobre o valor dos produtos. Os usuários ganham ainda desconto sobre pizzas e podem participar de outras promoções. Segundo pesquisa, cada vez que um cliente do cartão vai a um

Celular-carteira Até o Google entrou na onda dos pré-pagos. Em parceria com o Citibank, a Mastercard, a First Data e a Sprint, ele anunciou recentemente o Google Wallet, aplicativo que tem por objetivo transformar o celular em um meio de pagamento. O sistema suportará pagamentos por meio de duas soluções: um cartão pré-pago virtual do Google e um PayPass do Citi Mastercard. Para a área corporativa, a novidade representa oportunidade de reforçar o relacionamento com clientes, oferecendo uma experiência de compras mais conveniente por meio de negócios, promoções e prêmios de fidelidade. Como exemplo, o Google está testando diversos tipos de promoções, desde um desconto de 20% em um novo par de botas encontrado a partir de um anúncio do sistema de busca da ferramenta até uma “oferta do dia” de um almoço que, tradicionalmente, custa US$ 20 pela metade do valor em um restaurante próximo ao local. Fonte: Mastercard

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especialpré-pagos

dos estabelecimentos da rede ele gasta, em média, 23% a mais do que quem não tem o plástico. Além disso, ele volta mais vezes. Essa modalidade de cartão foi desenvolvida e emitida pela e-SafeTransfer, que desenvolve e integra soluções de segurança em tecnologia Smart Card, com fidelização e certificação digital. “Quando o cliente destina dinheiro antecipado para uma rede, como no caso da Pizza Hut, ele demonstra que deseja ser fiel e que voltará ao estabelecimento. Além disso, sente que o poder de compra é ampliado com os benefícios adquiridos junto ao plástico. Assim, unimos o mundo da fidelidade com o do pré-pago”, considera Meissan Monajem, sócio-diretor da e-SafeTransfer. Em 2009, a empresa iniciou a oferta de pré-pagos nas escolas. Os pais carregam o cartão dos filhos via boleto bancário ou na própria cantina e fazem o controle dos gastos por meio da internet. Se preferirem, podem estipular uma quantia máxima diária que funcionará como um limite do plástico. Uma maquininha, também da e-SafeTransfer, faz a captura do pagamento e a

recarga no próprio estabelecimento comercial. Já são 23 escolas atendidas pelo serviço. Neste ano, a meta de Meissan é alcançar 36 mil alunos com o produto, enquanto que o Hut Cash deverá atingir cem mil clientes da rede. Felipe Maffei, da Visa do Brasil “Algumas empresas descobriram o pré-pago agora. Para nós, é algo consolidado e representa uma fatia muito grande de mercado. Nossos concorrentes para esse produto são o dinheiro e o cheque”

Cartão-presente Redes varejistas em parceria com bancos e as próprias financeiras ofertam o gift cards, cartões-presente com ampla adesão nos Estados Unidos. A própria Visa colocou o tipo de plástico em teste no País, mas a adesão do produto não alcançou as expectativas da empresa. “Por questões culturais, o brasileiro não abraçou da mesma maneira que um norte-americano o conceito de presentear com cartão pré-pago”, explica o diretor de produtos da Visa. Mas a aderência pode ser só uma questão de tempo.“O brasileiro ainda acha que um cartão denuncia que não houve tempo ou vontade de escolher o presente. Mas o pré-pago de celular em 93 também não existia por aqui e, atualmente, é um mercado gigantesco”, reforça Meissan, com o intuito de apostar, em breve, nos gift cards.


artigoquestãojurídica

Regulamentação: ferramenta adicional para as boas práticas O sistema financeiro é um dos setores econômicos mais regulados do mundo. Isso acontece porque os bancos compõem a estrutura financeira dos países e qualquer desequilíbrio põe em risco toda a economia, inclusive em âmbito global. No Brasil, as autoridades que regem o sistema financeiro, o Conselho Monetário Nacional (CMN) e o Banco Central (BC), são responsáveis por minimizar os possíveis riscos no setor. A tarefa é aumentar a governança Elder Aquino corporativa dos bancos por meio da exigência por transparência, controles robustos e gestão de risco. Desde 1998, os bancos são obrigados a instituir um conjunto de controles internos, funcional e sólido, com o objetivo de aprimorar a gestão de risco do setor financeiro nacional, garantindo maior solidez para a economia do País. Mais recentemente, o Banco Central anunciou a Resolução 3.467. Foi um passo importante rumo à ampliação da governança corporativa no segmento financeiro. Tornou-se obrigatória a validação do conjunto de controles internos por um auditor externo. A legislação traz elementos que devem ser analisados, com orientações para a elaboração do relatório. A regulamentação dá mais robustez ao sistema financeiro nacional e traz benefícios, como evitar a exposição a riscos, fornecer respostas integradas a diversos cenários, melhorar a alocação de capital, formar base de conhecimento que permita definir quais os riscos deverão ser gerenciados e subsidia a tomada de decisões estratégicas de risco. Além disso, a norma também é positiva para as companhias, auxiliando na busca por menores custos e risco operacional, mais visibilidade junto ao investidor e facilidade de acesso a mercados que exigem maior governança. Outro ponto positivo é que a validação pelo auditor externo oferece uma resposta aos administradores das empresas sobre o quanto a companhia aderiu às boas práticas. Isso permite à liderança antecipar e diminuir os riscos, assim

como corrigir desvios. Em outras palavras: aprimorar a gestão dos recursos. Não se trata apenas de obrigação regulatória, mas de uma oportunidade para tornar essa revisão uma etapa importante rumo à melhoria dos processos internos. Essa validação é importante para as companhias de outros segmentos , como indústria e comércio, para perceberem o potencial de aprimoramento de gestão que está embutido no processo de revisão desses controles, já que os ganhos a partir da antecipação dos riscos e suas mitigações são consideráveis. É natural que os bancos sejam mais regulados devido às dimensões do risco, mas a tendência é que a busca por governança corporativa avance, por conta da exigência dos investidores e analistas por boas práticas e transparência. Nos EUA, a Lei Sarbanes-Oxley (Sox) cumpre esse papel regulador. Ela obriga a administração a reavaliar o conjunto de controles internos e estipula o auditor externo a certificá-lo. De certa forma, o objetivo é similar ao que é feito no Brasil, mas o foco está na validação dos controles operacionais. O ideal seria se a lei se concentrasse na busca por controles gerenciais. O objetivo dos reguladores é manter o setor financeiro nacional na vanguarda mundial em termos de gestão de riscos e governança corporativa. Não é exagero afirmar que as autoridades reguladoras de outros países estão aprendendo com a experiência brasileira. Isso porque o sistema financeiro do País é sofisticado e se mostra funcional. O Sistema de Pagamentos Brasileiros (SPB), por exemplo, que é novidade para o mundo, possibilita o controle da liquidez das instituições financeiras em tempo real. No Brasil, temos todos os negócios e títulos devidamente registrados. É hora de o Brasil ensinar ao mundo. f Elder Aquino é diretor da KPMG no Brasil na área de financial advisory services junho/julho 2011 FINANCEIRO 47




artigotendências

Classes emergentes

e crédito responsável A última década foi marcada por um sistema de políticas públicas focado na redistribuição de renda dos brasileiros. Isso ocorreu não apenas no sentido de expandir e consolidar programas de distribuição e transferência direta de renda aos mais pobres, como o Bolsa Família, o Bolsa Escola, o Fome Zero, entre outros, mas também de aumentar o número de empregos formais e elevar o salário mínimo. Um reflexo Por Aquiles Leonardo Diniz direto dessa nova condição socioeconômica foi o crescimento veemente da chamada classe C, hoje denominada a nova classe média. A consolidação da classe C como a nova classe média e a ascensão da participação das classes D e E no consumo impuseram às empresas a necessidade de segmentar produtos e serviços para atender às expectativas desse novo perfil de consumidor, que tem aumentado seu padrão de vida. Hoje, essas classes usam celular e internet, compram carro, viajam. Consequentemente, para corresponder às demandas de um público que consome cada vez mais e se tornou potencial tomador de crédito, porque precisa buscar auxílio para adquirir bens duráveis e realizar seus desejos, o setor também precisou se readequar, por exemplo, barateando e oferecendo novas modalidades de crédito e aumentando o número de parcelamentos. No entanto, além de atender às demandas dos novos consumidores, outro papel fundamental que deve ser assumido pelo setor de crédito é o de conscientização. É importante mostrar ao público que lançar mão do crédito não é problema, pois ele faz parte da dinâmica da economia. O ponto crítico é afogar-se em dívidas e empregá-lo sem 50 FINANCEIRO junho/julho 2011

critérios. Saber usá-lo de maneira sadia pode garantir a saída de uma crise financeira ou a aquisição dos maiores sonhos de consumo. Usar o crédito de maneira responsável e consumir conscientemente são princípios que podem fazer do crédito um aliado e, ainda, beneficiar as próprias instituições financeiras, pois orientar é uma das maneiras de se combater a inadimplência. A Acrefi possui uma nova iniciativa nesse sentido, o blog “Finanças na balança” (http://financasnabalanca.blogspot.com), cujo objetivo é disponibilizar informações úteis e práticas para os leitores sobre administração do orçamento e das finanças. No blog, os leitores encontram, de forma clara e objetiva, dicas para equilibrar o orçamento pessoal ou familiar, instruções para limpar o nome e retirá-lo dos cadastros negativos, dados sobre linhas de crédito, conselhos sobre consumo consciente, entre outros temas. O usuário também pode comentar os textos postados e interagir com a instituição. Com diferentes perfis de consumidores e a economia sinalizando que o consumo continuará crescendo no País —apesar das medidas macroprudenciais adotadas pelo governo—, o blog pretende ser mais uma ferramenta educativa à disposição dos consumidores e um espaço no qual assuntos relacionados a direitos e deveres do bom pagador, processos de cobrança e concessão de crédito, entre outros, sejam simplificados e desmistificados. Aquiles Diniz é vice-presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), e diretor-executivo do Banco Intermedium



artigogestão

Governança c orporativa e comitê de gerenciamento de risco O “Código das Melhores Práticas da Governança Corporativa”, publicado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (4a edição), revela que: “A governança corporativa é o sistema sob o qual as empresas são organizadas, administradas e incentivadas. As boas práticas de governança corporativa convertem os princípios em recomendações de objetivos, alinhando os interesses para manter e melhorar o valor da organização, facilitando o acesso ao capital e Por William C. Handorf contribuindo para a sua longevidade.” Diversas atividades do Conselho de Administração, que requerem muito tempo, podem ser melhor desempenhadas pelos comitês. Eles podem incluir: auditoria, recursos humanos/remuneração, governança, finanças e sustentabilidade, entre outros. O número de comitês depende do porte da empresa. Obviamente, para companhias brasileiras, a governança corporativa representa um tópico de grande importância. Os comitês do conselho facilitam o controle efetivo. O grupo de supervisores seniores do sistema do Federal Reserve apontou que falhas no gerenciamento de riscos contribuíram para a falência de centenas de bancos norte-americanos desde o pânico de 2008 e durante a recessão duradoura e severa registrada entre 2007 e 2009. De acordo com a 13a Pesquisa Anual Global de CEOs, realizada no final de 2009 pela PriceWaterhouseCoopers, “cerca de 70% dos CEOs norte-americanos dizem que, em função da crise, os conselhos participam mais da avaliação de riscos estratégicos”. Em 2010, a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos adotou novas regras de divulgação financeira, exigindo que as empresas registradas documentem o papel do conselho na supervisão de riscos. Muitos bancos atenderam às recomendações supervisórias e aos requisitos de divulgação, criando um novo comitê de gerenciamento de riscos. 52 FINANCEIRO junho/julho 2011

O presente artigo descreve o papel e a responsabilidade do comitê de gerenciamento de risco. Quais são as responsabilidades desse grupo recém-formado? Quem deve fazer parte do comitê? De que forma ele interage com outros comitês e com a administração da empresa? Antes de avaliar a estrutura do comitê do conselho, seria útil explicar porque o gerenciamento de riscos apresentou, recentemente, falhas no sistema bancário dos Estados Unidos. Esse país registrou um histórico bem pior que o Brasil no gerenciamento de risco e, com isso, as empresas nacionais podem aproveitar desse estudo de caso para evitar repetições. Para evitar que a falência bata à porta

As empresas financeiras quebram porque a administração e o conselho de administração são incapazes ou não querem identificar, medir, acompanhar e controlar os riscos e manter uma organização segura e robusta. O plano de negócios da companhia se mostra equivocado ou ela é incapaz de manter um modelo de negócios viável. As fraudes praticadas por administradores e ou clientes geram perdas adicionais. As instituições que estão a caminho da falência pagam bônus excessivos aos acionistas e recompram muitas ações com a finalidade de aumentar a influência e o retorno sobre capital para os proprietários da empresa. Os bancos próximos da liquidação diminuem os ativos para melhorar a razão entre capital e ativos, mas a estratégia sempre falha, pois as despesas fixas além dos juros terão de ser alocadas entre uma base de ativos menor. E as perdas decorrentes disso enfraquecem os demais índices de capital, que já estão fragilizados. Invariavelmente, os bancos quebram porque mantêm níveis inadequados de capital ou passam por uma crise de liquidez. Os índices de capital são desgastados pelo crescimento muito acelerado, incapacidade de


controlar as despesas além dos juros ou excessivas baixas contábeis de empréstimos agravadas por recessão, crise ou fraude. Esses problemas são acentuados quando uma instituição conserva um portfólio concentrado de créditos de baixo desempenho. Ou seja, não muito diversificado. Quando os problemas financeiros de um banco são bem conhecidos pelas agências de regulamentação, agências de classificação de crédito e mercados financeiros, os problemas de liquidez começam a aparecer quando a mídia divulga artigos adversos a respeito das dificuldades difusas da instituição e os depositantes fogem. O baixo nível de capital, as perdas e os riscos maiores – sejam resultado da concentração de empréstimos e títulos de alto risco, estratégias e práticas de gerenciamento de risco fracas que nascem de governança corporativa inadequada – criam problemas financeiros que podem levar à falência. A formação de um comitê de gerenciamento de riscos não é a solução parar todos os males, mas ela pode detectar problemas com antecedência, quando ações corretivas ainda podem ser tomadas, antes de registrar perdas maiores. Como garantir retorno

O gerenciamento de riscos é um componente da tarefa de administração mais ampla de ativos/passivos de um banco. Tal atividade exige da instituição um processo coordenado para obter, usar e atribuir valores aos fundos a fim de manter sua viabilidade e gerar valor para os acionistas. Esse processo exige que o banco seja bem avaliado pelas empresas de classificação de crédito e agências de fiscalização. Os reguladores e as agências de classificação procuram níveis apropriados de capital, um portfólio diversificado de empréstimos e títulos bem subscritos e de baixo risco, ganhos e fluxo de caixa operacional consisten-

tes, gerenciamento estratégico e efetivo de riscos, alta liquidez e acesso a recursos financeiros em épocas de estresse no mercado, além de níveis apropriados de sensibilidade às taxas de juros ou de câmbio. É impossível evitar ou eliminar riscos na busca de valor. Esse tipo de fator deve ser gerenciado para garantir que o retorno sobre o capital seja igual ou maior comparado com o retorno exigido pelos investidores. O conselho de administração é responsável por manter a viabilidade do banco e criar valor. Para determinar se essas metas, por vezes conflitantes, estão sendo realizadas, ele deve avaliar a administração, os controles internos, as operações, o desempenho financeiro, as análises regulamentares, as classificações de crédito e os preços das ações, entre outras variáveis. O mecanismo é responsável pela aprovação de políticas que garantem lucros alinhados com o risco e com um plano de negócios que define metas, objetivos e marcos da instituição. O trabalho pode ser muito grande e, às vezes, requer mais tempo do que um conselho de administração poderá investir. Na estrutura organizacional comum entre bancos, é natural a existência de comitês para

administrar essas questões. O comitê de gerenciamento de riscos, quando houver, costuma ser o mais jovem. E é comum encontrar dúvidas em relação a possíveis sobreposições ou conflitos com outros grupos de trabalho mais antigos do conselho. A boa governança corporativa exige a aprovação e adoção pelo conselho de padrões éticos e a colocação em prática de um plano de negócios coerente, monitorado por políticas e procedimentos adequados. O conselho deve garantir que as atividades corporativas sejam controladas por meio de auditorias internas e externas, com acompanhamento adequado realizado por comitês independentes e experientes de auditoria, remuneração e gerenciamento de riscos. O conselho deve, obviamente, possuir habilidades e experiência necessárias para conhecer: gerenciamento de riscos, serviços bancários, contabilidade e auditoria, derivativos, créditos, jurídico, tecnologia de informação, planejamento de negócios, regulamentos, finanças e recursos humanos. Muitos bancos encontram uma lacuna de experiência em seus conselhos nas áreas de gerenciamento de riscos, derivativos e tecnologia de informações. As três áreas representam funções ou produtos corporativos relativamente mais recentes que, antes, não eram aprendidos ou aplicados por diretores mais antigos. O gerenciamento de riscos incorpora disciplinas quantitativas e qualitativas. O conhecimento estatístico – desvio-padrão; análise de correlação e de regressão; valor no risco e teste de estresse, entre outros temas – é um requisito necessário para o administrador de riscos. No entanto, essa atividade é muito mais do que números e algoritmos matemáticos. Os responsáveis devem garantir que todo grande risco enfrentado pela empresa seja identificado, mensurado, acompanhado junho/julho 2011 FINANCEIRO 53


artigogestão

e controlado. As ações consideradas arriscadas demais podem ser evitadas ou modificadas, a fim de garantir que possíveis impactos negativos sejam suportados pelo banco e consistentes com o retorno em potencial. Ou o risco pode ser compensado, vendendo a exposição a ele para outras instituições ou reduzindo as perdas por meio de garantias, cauções ou seguros. O comitê deve se concentrar em fatores externos que terão um impacto muito adverso e ou uma alta probabilidade de acontecer. De igual importância, o comitê deve avaliar o possível impacto de eventos pouco prováveis chamados de “cisnes negros”. O banco sabe do nível e da direção do risco e possui controles suficientes para manter operações rentáveis? A mais importante tarefa inicial de um comitê de gerenciamento de risco é de desenvolver e recomendar uma “Declaração de Apetite de Risco ao Conselho de Administração”. Esse documento deve priorizar os princípios de risco/retorno e mostrar de que forma ele será usado no processo de planejamento. Deve incluir ainda um conjunto de medidas qualitativas e quantitativas para conduzir a tolerância da instituição aos riscos. Muitos comitês de risco também devem desenvolver uma matriz. Ela exige que o conselho e a administração identifiquem a exposição ao risco. O que poderia causar uma perda para o banco? O administrador de riscos deve determinar se o nível atual é baixo, médio ou alto e estabelecer se ele é decrescente, estável ou crescente. O comitê precisa garantir que cada risco aplicável ao banco seja identificado na matriz e medido e monitorado pela diretoria e ou conselho. Os relatórios de risco devem ser usados. A instituição financeira, então, deve determinar se os controles existentes são suficientes e se o risco deve ser evitado, modificado, retido ou compartilhado. 54 FINANCEIRO junho/julho 2011

Por sua vez, os eventos de “cisne negro’ são mais difíceis de prever. Quais situações, por mais improváveis que sejam, podem acontecer e gerar algum impacto para o banco? Esses riscos incluem guerra regional, pandemia, golpe militar ou default do governo em relação a obrigações fiscais? De que forma o banco pode responder a cada um desses eventos e qual é o custo de proteção? Muitos bancos norte-americanos consideraram a possível desvalorização dos Estados Unidos como um “cisne negro”, até que a Standard & Poor’s classificou, recentemente, o país dentro de um cenário negativo, devido à incapacidade dos líderes políticos de controlar um déficit fiscal federal crescente. A possível desvalorização da classificação abaixo de “AAA” não é mais remota, e as consequências serão muito grandes para as instituições financeiras, atualmente com idêntico score e comparáveis ao banco do autor. Óticas diferentes

Há um forte aspecto temporal que separa o foco dos comitês de uma instituição financeira. O de auditoria tem uma perspectiva mais histórica e deve garantir que os controles internos sejam adequados. A função da auditoria deve ser alocar mais tempo e recursos a áreas de alto risco. Os de finanças, crédito, pagamentos e outros grupos semelhantes são mais voltados às decisões atuais da empresa. O financeiro garante que o banco retenha capital suficiente, liquidez adequada e baixa sensibilidade às taxas de juros ou de câmbio, compatíveis com a capacidade de geração de caixa e com o capital. Esse comitê deve sugerir o valor dos lucros que serão pagos como dividendos e o valor residual que será mantido para sustentar o crescimento. O comitê de crédito garante que o portfólio de empréstimos seja diversificado e que os financiamentos ofereçam diversas fontes

de acesso aos recursos em conjunto com taxas e juros proporcionais ao risco. Esse comitê também deve garantir que as reservas ou provisões para perdas decorrentes de empréstimos sejam consistentes com as perdas de financiamentos previstas para o ano seguinte. O de remuneração alinha os interesses da administração aos de outras partes interessadas e aos dos acionistas identificados no plano de negócios. O banco deve atrair, reter e motivar executivos excepcionais para atingir as metas corporativas adotadas ao menor custo. O comitê de gerenciamento de risco, por sua vez, se preocupa com o futuro. Tipos

Existem diversas categorias de risco que devem ser analisadas por qualquer empresa que oferece crédito aos clientes. Primeiramente as instituições devem lidar com riscos de compliance (como a exposição a ações judiciais, relações regulamentares, anticorrupção e anticoncorrência). Esses temas podem ser acompanhados por um comitê de auditoria, de finanças, de relações de políticas públicas ou de gerenciamento de riscos. Em segundo lugar as instituições devem se concentrar no risco financeiro (ou seja, capital, qualidade de ativos, lucros, liquidez e sensibilidade). Tais assuntos devem ser abordados por um comitê de auditoria, de finanças ou de gerenciamento de riscos. Terceiro as instituições devem considerar o risco estratégico (por exemplo, plano de negócios, orçamento operacional, remuneração, planejamento de sucessão), questões a serem abordadas por um comitê de governança corporativa, de remuneração ou de gerenciamento de riscos. Finalmente é recomendado às organizações avaliar problemas operacionais (por exemplo, tecnologia da informação, segurança do trabalho e planos para recuperação de desastres) que cabem


ao comitê de sustentabilidade, de TI ou de gerenciamento de riscos. As instituições financeiras com maior exposição devem considerar a criação de um comitê de gerenciamento de risco. Frequentemente esses bancos demonstram os seguintes atributos: w Receitas significante de juros (ou seja, alto risco). w Receita de juros líquido volátil e lucros inconstantes w Baixo nível de capital e lucros retidos. w Uma provisão para perdas com empréstimos inadequada para cobrir perdas reais desses empréstimos. w Deficiências de controle interno de material. w Troca excessiva de gestores ou perda de funcionários de alto desempenho. w Um conselho de administração passivo e dominado pelo presidente. w Declarações financeiras atrasadas e ou muitas correções posteriores. w Problemas operacionais sem alternativas disponíveis. As características acima são indicativas de instituições de alto risco. Uma vez que o banco também está sujeito a outras questões semelhantes, o conselho deve se preocupar cada vez mais em desenvolver uma cultura de risco. Cada instituição deve determinar se conseguiu elencar todos os riscos e quem seria mais capaz de monitorar essa área. Na verdade, o maior papel de um comitê de gerenciamento de riscos é garantir que todas as variáveis foram articuladas e definir responsabilidades para manter a exposição em níveis apropriados. Esse grupo também deve ficar encarregado de prever “cisnes negros” e preencher uma matriz de risco destacando os níveis, tendências e controles necessários para manter a viabilidade dos negócios. É útil

Cada instituição deve determinar se conseguiu elencar todos os riscos analisar as alternativas adotas por bancos ao estabelecer os mandatos dos comitês de gerenciamento de risco. Exemplos dos mandatos do comitê de gerenciamento de risco do banco: Um grande banco comercial canadense compartilhou o mandato do comitê de gerenciamento de riscos. As principais responsabilidades incluem: w Identificar e monitorar os principais riscos e avaliar sua administração. w Aprovar políticas de gerenciamento de risco que estabeleçam os níveis de aprovação adequados para decisões e outras verificações e saldos para gerenciar essa questão. w Garantir que existem políticas para administrar os riscos aos quais o banco está exposto (mercado, operações, liquidez, crédito, seguro, regulamentar, legal e de reputação). w Criar um fórum para uma análise mais abrangente de riscos futuros, incluindo as tendências. A instituição financeira acreditou que a independência fosse um aspecto crítico. O comitê de risco deve ser inteiramente composto por diretores independentes ou não envolvidos na administração da empresa. Outro banco de atacado nos Estados Unidos revelou o mandato do comitê de gerenciamento de risco e sugeriu as seguintes responsabilidades: w Revisar e recomendar mudanças ao conselho, conforme necessárias, para garantir que o banco mantenha uma política de

gerenciamento de risco. Ela deve atender à exposição da instituição ao risco de crédito, de mercado, de liquidez, corporativo, estratégico e operacional, de acordo com os regulamentos e as melhores práticas. w Aprovar e recomendar uma “Declaração de Apetite de Risco”, especificando os níveis-limite e as medidas de tolerância, considerando o volume de capital do banco, níveis apropriados de retenção de lucros e qualidade geral do gerenciamento e medição e sistemas de informação. w Revisar, todos os anos, a avaliação de riscos preparada pela administração que identifique e avalie todos eles, incluindo aspectos qualitativos e quantitativos. E auxiliar o conselho a compreender a natureza e o nível dos riscos enfrentados pela organização. w Oferecer assistência para garantir que as funções de monitoramento e emissão de relatórios sobre o sistema de gerenciamento de risco do banco sejam independentes da linha de negócios ou processos que assumem riscos. Os mandatos desses bancos claramente revelam que o conselho deve considerar de que forma o comitê de gerenciamento de risco deve interagir com a administração e com os outros que compõem o conselho. Dessa forma, o processo adotado pela instituição financeira deve auxiliar a empresa a tomar decisões inteligentes sobre o acompanhamento de riscos enquanto produz lucros que atendam às necessidades dos acionistas. f William C. Handorf é professor de finanças da George Washington University’s School of Business, e vice-presidente do Conselho de Administração do Federal Home Loan Bank, de Atlanta. Ele é ainda membro do Comitê de gerenciamento de riscos do banco junho/julho 2011 FINANCEIRO 55


artigoanáliseeperspectivas

Crédito

e desenvolvimento econômico

Por professor doutor Alberto Borges Matias com colaboração de Patricia Balachi, Julio Godoy e Matheus Figo

Grande parte dos empreendimentos e novos negócios desenvolvidos em um país possui como principal fator de alavancagem o crédito, tanto concedido pelo setor público quanto pelo privado. No Brasil, existem inúmeras modalidades de crédito, direcionados para pessoas físicas e jurídicas, o que proporciona aumento de renda e de consumo, novos investimentos e, consequentemente, desenvolvimento econômico. Feitas essas considerações, é importante estabelecer a relação existente entre a concessão de crédito no Brasil e seus impactos referentes à evolução do PIB (Produto Interno Bruto) nacional. Nota-se, no Gráfico 1, que o País bateu o recorde no volume de crédito total concedido.

Em dezembro de 2010, o volume alcançou a marca de R$ 189,7 bilhões para pessoas físicas e jurídicas, o que representa aumento de 57% nos últimos cinco anos. Em igual período, a concessão de crédito para pessoa física cresceu 76%. Como se pode observar no Gráfico 2, a maioria das linhas analisadas bate o montante máximo no intervalo de tempo analisado. O volume de crédito para a modalidade cartão de crédito, por exemplo, aumentou 152%, e para financiamento imobiliário avançou, aproximadamente, 1627%, representando a maior evolução dentro das linhas de crédito para pessoas físicas. As linhas de crédito para pessoas jurídicas também apresentaram gran-

Concessão total de crédito – PFe PJ (R$ em milhares) GRÁFICO 1

200.000,00 180.000,00 160.000,00 140.000,00 120.000,00 100.000,00 80.000,00 60.000,00 40.000,00

As marcações de cada ano são referentes aos meses de março, junho, setembro e dezembro

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20 10

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20 01

20 00

20.000,00


Concessão de crédito – pessoa física (R$ em milhares) GRÁFICO 2

30.000,00 25.000,00 20.000,00 15.000,00 10.000,00 5.000,00

de z m /00 ai / ou 01 t/ m 01 ar / ag 02 o/ ja 02 n/ ju 03 n/ no 03 v/ ab 03 r/ se 04 t/ fe 04 v/ 0 ju 5 l/ de 05 z/ m 05 ai / ou 06 t/ m 06 ar / ag 07 o/ ja 07 n/ ju 08 n/ no 08 v/ ab 08 r/ 0 se 9 t/ 0 fe 9 v/ ju 10 l/ de 10 z/ 10 Cheque espec al Aquis ção de veículos

Créd to pessoal Cartão de créd to

Financ amento imobil ário Outros bens

Concessão de crédito total – PF GRÁFICO 3 40.000.000 35.000.000 30.000.000 25.000.000 20.000.000 15.000.00 10.000.00

20 10

20 09

20 08

20 07

20 06

20 05

20 04

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20 01

5.000.00

20 00

de expansão no período analisado, com aumento de 47% nos últimos cinco anos. No Gráfico 3, é possível notar que quase todas as modalidades de crédito estão bem próximas do pico em toda a série histórica. Analisando o Gráfico 4, vemos que a expansão do PIB brasileiro dos últimos dez anos, evidenciando índices de crescimento em praticamente todos os períodos analisados, com exceção do intervalo referente à crise dos mercados financeiros, que perdurou mais especificamente de setembro de 2008 até junho de 2009. Por sua vez, observando o volume de crédito juntamente com a evolução do PIB nos últimos cinco anos, nota-se que ambos apresentaram evolução no período em questão. Isso demonstra a importância da concessão de crédito no desenvolvimento econômico nacional. O Brasil, se comparado às economias mais desenvolvidas, como a dos Estados Unidos, ainda apresenta um sistema financeiro pouco desenvolvido, pois as operações de crédito diante do PIB total correspondem a 45%, enquanto se observa índice de 100% nos países desenvolvidos e emergentes, por exemplo. Isso demonstra que há ainda um potencial enorme de expansão para o volume total das operações de crédito do País e, consequentemente, os reflexos para os índices de crescimento no Produto Interno Brasileiro. Isso demonstra a responsabilidade social dos agentes e executivos na atividade de crédito para o desenvolvimento do Brasil, a maior distribuição de renda e a redução da pobreza.

As marcações de cada ano são refe entes aos meses de março, junho, setembro e dezembro

PIB x concessão de crédito GRÁFICO 4 400.000.000 350.000.000 300.000.000 250.000.000 200.000.000 150.000.00 100.000.00

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50.000.00

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Prof. dr. Alberto Borges Matias Professor Titular do Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo no campus de Ribeirão Preto, e diretor do Inepad

As marcações de cada ano são referentes aos meses de março, junho, setembro e dezembro PIB mensal em valores correntes (R$ em milhões)

Total de operações de créd to

junho/julho 2011 FINANCEIRO 57


artigoúltimapalavra

Crescimento, consumo e crédito

Por Nicola Tingas

O que poderá acontecer com a dinâmica da economia, do consumo e do crédito daqui em diante? Estamos em um processo de desaceleração das variáveis de demanda da economia, mas ainda não é totalmente conhecida a velocidade e intensidade da aterrissagem para convergir à meta do governo de obter um Produto Interno Bruto (PIB) crescendo na velocidade de 4% ao ano. Vários dados econômicos e pesquisas de consumo da quase primeira metade do ano indicam que a economia já está em desaceleração, mas com tendência de queda de demanda menos intensa do que previsto no início do ano. Contudo, há efeitos indesejados. Esse arrefecimento ocorre em ambiente de corrosão da renda real das famílias, sinais de esgotamento da capacidade de endividamento e, por consequência, algum risco adicional de inadimplência e maior cautela na concessão de crédito. Mas, felizmente, nada ainda que inspire cautela excessiva. O governo tem atuado na busca dessa acomodação do ritmo de crescimento da economia e do consumo, com cautela e gradualismo. Tenta acomodar um crescimento econômico que está fortemente ancorado na enorme ampliação da base de renda e emprego dos anos recentes. Ao mesmo tempo, indica que a inflação irá convergir para a meta até 2012. Contudo, ainda há riscos nessa trajetória, pois, além da pressão do preço de commodities, há também a que é exercida pela inflação de demanda devida ao intenso consumo popular. Caso a política de acomodação gradual do governo não leve à convergência para uma meta de inflação de 4,5% ao ano em 2012, o Banco Central poderá ter de rever essa estratégia, ampliando o horizonte de aumento da taxa de juros e ou anunciando novas medidas de restrição ao consumo e crédito.

58 FINANCEIRO junho/julho 2011

Como poderão reagir os consumidores? As pesquisas indicam que há enfraquecimento do consumo em diversos segmentos de renda, consequência da redução do rendimento líquido devido à maior inflação. Isso, acontece, principalmente nos segmentos de menor renda, mais sensíveis ao aumento geral de preços. Por outro lado, estamos em pleno início de um governo que tem consciência da necessidade de atenuar os desequilíbrios macroeconômicos e ampliar significativa e qualitativamente a oferta na economia. Esse cenário estimula a manutenção dos projetos de investimentos que sancionam a continuidade da oferta de emprego para um grande número de famílias, embora em alguns casos para ocupações de menor faixa de salário nominal. Essa oferta de vagas, formais e informais, ajudará a evitar uma queda mais brusca no consumo; mantendo ainda significativa expansão do comércio varejista. O crédito manterá boas condições de oferta? Sim. Ela continua firme e ampla, no entanto mais cautelosa, pois enfrenta maior risco de atraso e inadimplência nas carteiras de crédito ao consumidor. Mesmo assim, a oferta de crédito ao consumidor poderá crescer 15% em 2011, número inferior a marcas anuais de até 30% em anos recentes. Contudo trata-se de um bom ritmo de expansão, dadas as condições atuais de desaceleração do crescimento econômico. Fica como missão para as instituições financeiras, governo e sociedades de apoio ao consumidor a busca por uma melhor preparação das famílias voltada à gestão do orçamento familiar, consumo consciente e uso adequado do crédito. Nicola Tingas é economista-chefe da Acrefi




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