Financeiro 27 - Agosto 2005

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mercado de capitais

Divulogação

Novas tendências abrem caminho para captações estruturadas

Até não muito tempo atrás, as carteiras de investimentos em renda fixa eram compostas, na sua grande maioria, por títulos públicos pós-fixados e CDBs de bancos de conglomerado. Mesmo as debêntures, tendo em vista a falta de padronização, tinham papel secundário nas estratégias dos administradores de carteira, e acabavam por ficar restritas aos fundos de pensão e a alguns poucos investidores institucionais. Era relativamente fácil manter um grau de risco baixo com rentabilidade: os títulos públicos e o CDBs dos grandes bancos cumpriam este papel com maestria. Recentemente, entretanto, a perspectiva de redução do déficit e, por conseguinte, do financiamento público, vem abrindo espaço para uma política monetária mais próxima dos países desenvolvidos, onde a oferta de títulos públicos tende a ser cada vez menor, e as alternativas mais rentáveis, no segmento privado, têm vez. De fato, já podemos perceber que uma parcela, ainda que pequena, dos investimentos está migrando do “porto seguro” dos títulos públicos para as oportunidades em investimento privado. As debêntures vêm ganhando relevância, apesar das emissões ainda estarem muito concentradas em emissores ligados a conglomerados, principalmente, financeiros. A expectativa é de que a padronização das debêntures, recentemente regulada pela Comissão de Valores Mobiliários –

PATRÍCIA BENTES, SÓCIA-DIRETORA DA HAMPTON SOLFISE

CVM –, estimule a liquidez, tornando os prêmios mais condizentes com o risco de crédito, e atraindo emissores tais como as grandes empresas de capital aberto. Outros papéis que têm atraído o interesse dos investidores são os chamados “papéis estruturados”, entre eles, as cotas dos Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios FIDCs, os Certificados de Recebíveis Imobiliários - CRIs, os Certificados de Crédito Bancário - CCBs e os Certificados de Crédito Rural - CCRs. Do ponto de vista dos investidores, estes papéis quando estruturados com qualidade, significam retorno mais atraente com mitigação de riscos, que seriam difíceis de avaliar e precificar, não fosse a natureza estruturada destes papéis. Por outro lado, do ponto de vista dos emissores, estes papéis significam a captação de recursos mais baratos e/ou mais longos através de outro mercado que não o de dívida: o mercado de capitais. A principal questão para o emissor é: como emitir um papel com um retorno maior que o oferecido pelos títulos públicos, sem aumentar substancialmente o risco do investidor e a um custo e prazo competitivos quando comparado ao custo de dívida? A resposta está na capacidade de mitigar riscos através de contratos bem estruturados, que passam pela qualidade da governança corporativa dos emissores.

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Papéis estruturados com qualidade requerem a adoção de mecanismos de controle de desempenho e de liquidação antecipada nos casos de deterioração do ambiente econômico. Falhas na produção de garantias, na documentação e a contaminação por outros passivos não identificados no processo de estruturação do papel, estão entre os riscos que podem ser facilmente mitigados. O emissor deve sempre lembrar que, para efetivar uma colocação ampla e bem sucedida do seu papel, o material para a oferta de distribuição deve conter detalhes sobre o modus operandi da empresa emissora, seu histórico corporativo e outras informações que serão passadas ao mercado investidor, em geral, pela primeira vez. Sai, portanto, na frente no ranking das colocações bem sucedidas, aquele emissor que já vem trabalhando para melhorar os seus controles internos, compor um quadro gerencial com boa qualidade técnica, resolver questões sucessórias, entre outros fatores que convertem a governança corporativa em um forte aliado na captação de recursos via o mercado de capitais. Ter o mercado de capitais como fonte de recursos para os seus negócios é realidade para a maioria das empresas no mundo e, porque não, em breve uma realidade para a maioria das empresas no Brasil FINANCEIRO


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