Financeiro 20 - Dezembro 2004

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economia

Professor Toledo não acredita em crescimento sustentado “O que nós estamos vivendo não é um pesadelo, é uma tragédia. E uma tragédia prolongada, porque é uma política de juros praticada há não sei quanto tempo. No mínimo, desde antes

Segundo o economista quem acredita que juros altos derrubam a inflação está equivocado

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reocupação. Esse foi o sentimento dominante no público que presenciou a explanação do Prof. Dr. Joaquim Elói Cirne de Toledo, dia 25 de novembro, em mais uma palestra organizada pela Acrefi para discutir “As Perspectivas da Economia Brasileira”. Com seu ar sério e humor refinado, Toledo falou sobre a atual situação da economia mundial e seus impactos no Brasil, conjuntura e política econômica. A conclusão de suas análises, porém, não foram nada animadoras, como o leitor poderá verificar a seguir. Segundo Toledo, olhando a economia mundial, podemos observar que a China cresce em ritmo acelerado e continuará crescendo. E isso, afirma, trará conseqüências extremamente importantes para o resto do mundo. Umas delas é o fim da inflação em todo o mundo, devido à demanda da própria China. Outra, afeta diretamente os trabalhadores. “Os chineses aceitam trabalhar por muito pouco e isso acabará determinando,

Luciano Zafalon

de 1986”

de certa forma, o conjunto do resto do mundo”, comenta. Para completar o cenário internacional, o economista lembra que devemos observar também a economia americana. Muitos falam que o déficit e dívida pública americana podem comprometer o crescimento do país. “Esqueçam isso”, afirma Toledo. “O déficit e a dívida pública não causam problemas para a economia dos EUA. E a razão é simples. Os juros americanos são extremamente módicos. O Banco Central de lá é sensato e não faz a tolice de adotar taxas estapafúrdias de juros, argumentando que isso é a favor ou em favor da população, dos trabalhadores, como os bancos centrais de alguns outros países que nós conhecemos”, ironiza o professor, que aproveita os risos da platéia para nova piada. “E já que eu falei de Banco Central, quero deixar registrado que eu discordo profundamente do Lessa (ex-presidente do BNDES). Ele afirmou que a política do BC é um pesadelo. É claro que

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ele está equivocado. Afinal de contas, de um pesadelo a gente acorda. E, além disso, o pesadelo, a única coisa que traz é o desconforto emocional enquanto você está dormindo. Nada mais real acontece. Você pode até acordar um pouco ansioso, é a única coisa. O que nós estamos vivendo não é um pesadelo, é uma tragédia. E uma tragédia prolongada, porque é uma política de juros praticada há não sei quanto tempo. No mínimo, desde antes de 1986”. Voltando a discussão da economia americana, o professor alerta que o déficit externo, sim, é um grande problema para os EUA. Na opinião de Toledo, esse déficit levará a depreciação do dólar contra o euro e o iene, sendo que o euro se fortalecerá contra o dólar e também contra o iene”, explica. Esse movimento, diz o professor, não causará problemas de inflação para a economia americana, mas as taxas de juros tenderão a subir. O euro muito forte pode provocar um desaquecimento da economia européia e mundial, o que prejudicaria as exportações brasileiras, aumentaria o custo da dívida externa, o risco Brasil e a necessidade de uma taxa de câmbio bem mais desvalorizada. “Tudo isso impacta em pressão inflacionária no Brasil, que, no futuro, já estará sofrendo desaceleração pelos aumentos passados, presentes e futuros de juros”, acredita Toledo. FINANCEIRO


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