Financeiro 103/Maio 2017

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DESCENTRALIZAÇÃO COM RESPONSABILIDADE Recém-eleito presidente do Conselho da Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF), Sérgio Rial deseja intensificar o diálogo entre as associadas, aumentar a contribuição do setor em prol de uma agenda nacional e oferecer subsídios para as reformas estruturais do País

CIDADANIA FINANCEIRA Como instituições contribuem para a sustentabilidade dos recursos das famílias e o consumo consciente do crédito

CADASTRO POSITIVO Adesão automática ao envio dos dados do consumidor reduziria a inadimplência e o spread bancário



editorial | financeiro

e

CIDADANIA FINANCEIRA A hora dos propósitos convergentes É A PRIORIDADE

EA

ntramos em 2017 com a é necessário priorizar, checar as cidadania financeira ganha cresessa inclusão, em sintonia com os Princícerteza de que teremos despesas e receitas e onde é poscente importância quando se pios para Inclusão Financeira Inovadora maistrataum ano repleto de sível racionalizá-las. de falar no aprimoramento do G-20. Além disso, o Brasil Trata-se participou de do mercado Cada observavez mais tede todasum as sessões da negociação que “check dedesafios. Porfinanceiro. um lado, fazer diagnóstico, um a atenção voltada para esse imporfiniu os Objetivos de Desenvolvimento mosmosum pequeno aumento da up” completo da empresa. tante elo da cadeia de crédito – e esse foco Sustentável (ODS), por ocasião da Cúconfiança dosjá agentes econômidisso, precisamos estar é importante que, até há poucos anos, pulaAlém das Nações Unidas para o Desenassunto não figurava entre as priovolvimentopara Sustentável. cos,esse embora ainda prevaleça a atentos a onda de pessimisridadesDe dosoutro, debates cresce do setor, aapesar da cautela. apremoAções quedesse cadatipo vezdeixam mais claro tomaque conta crescente importância da cidadania nos todos nós, que fazemos parte do ecosensão com o ritmo da retomada do País. Com tantas pessoas vatimais variados setores de nossa sociedade. sistema financeiro, estamos conscientes do crescimento, queacreditamos para a maiocinando vai dar certo, Nós, da ACREFI, firmede que semque chegarnão da maneira correta mente que a cidadania financeira funtomador detende crédito não há como ter ria ainda está mais lento doé que aaoprofecia a se autorrealiHILGO GONÇALVES: damental em seu objetivo principal de um sistema saudável, eficiente e sustenpresidente da ACREFI se previa inicialmente. zar. O antídoto a essa situação é estabelecer uma relação positiva do cidatável. Cada vez mais reconhecemos que Essa sobre uma acreditar que oconhecer Brasil otem jeito e dão com percepção o dinheiro. Com esse escopo, é muito importante elo final Hilgo Gonçalves: entre outros pontos, na essa cidadania é de da cadeia de verdade crédito e quenão é preciso essuposta demora retomada que essa se baseia “CADA VEZ da MAIS presidente ACREFI grande relevância para a sustentabilidade tar ao lado dele, ouvindo-o e fornecendo ganhou mais força em novembro, em um pensamento ingenuamendo crédito, tanto que a incluímos entre informações qualificadas que permitam RECONHECEMOS quando foidedivulgado que oà frente PIB te positivo. Temos um país os pilares nossa administração a tomada consciente de recursos pelascom apresentou retração 0,8% no terceiro QUE trimestre. muitos e muitospessoas pontos positivos, frequentemenda entidade. Para nossadesatisfação, verie empresas. É MUITO ficamos que temos importantes atores Sem essa postura, financeiro que O clima foi de decepção para a maioria da socieda- te esquecidos em razão daso sistema dificuldades do mercado olhando na mesma direção. não cumpre a missão de conceder um IMPORTANTE de. ÉFortalece-se, compreensível que tenha havido essa reação, enfrentamos, mas que precisam ser lembrados e assim, não só o debate, mas crédito mais consciente. Estamos enmastambém não se podepráticas deixar ponderar que o País enfatizados, vãoemnos a de sair da crise. as ações que de autorizam trando um ajudar novo ciclo desenvolCONHECER O ELO e que otimismo. vimento do País, embora em ritmo mais que estánosso vivendo um período, que começou no ano pasPara ter êxito nessa empreitada temos Como bem lembra o Banco Central, lento do que o previsto. E para que desta FINAL DA CADEIA sado e irá até 2018, no qual teremos, todos nós, de ter o pensamento e a ação sempre voltados para a cidadania financeira atua em três frenvez o crescimento seja sustentável, como fazer uma grande e necessária lição de casa para propósitos convergentes. Em umnosso cenário DE CRÉDITO” tes: gestão de finanças pessoais, relaciodemanda a sociedade, setor de tem tancidadão com o Sistema grande Estar prepaque namento o Brasildovolte aos trilhos, aoFimesmo tempo em tas dificuldades,papel nãodecabe o relevância. individualismo nem a nanceiro Nacional e relacionamento das rado para cumprir esse papel é prioritário que teremos que refrear nossa ansiedade por uma busca por soluções que atendam a um determiinstituições financeiras com o cidadão. Financeira – Foco na Cidadania, tam- e a visão voltada para a cidadania finanmelhora rápida daessas economia brasileira. nado grupo. O momento é deé aliada convergência, todos Levando em conta frentes, prolifebém retratado nesta edição. ceira certamente das instituições A tarefa mas que precisamos como interesses ram em todoéo árdua, País iniciativas visam Onos Brasilempetem papel detendo destaque no ce-prioridade financeiras número na luta paraum queos ajudemos o incentivar essa cidadania, como tivemos nário global de ações desse tipo. É o caso Brasil a ser cada vez melhor, principalnhar para cumpri-la. Nesse sentido, é importante do Brasil. recentemente com a 4ª Semana de Edu- do Plano de Fortalecimento da Cidada- mente para as próximas gerações. que cação cadaFinanceira, um de nós assuma o protagonismo que Como se vê,Naserão muitos os obstáculos a realizada no início de nia Financeira, iniciativa do Banco Cenprática, essa postura torna cada a situação exige. Os do problemas e, a inclusão enfrentar nestevezano. No entanto, não podemos maio em várias regiões Brasil e que são tral grandes para promover financeira mais próxima e produtiva a comunimostramos edição. Também pen- sedapode população. O planoesquecer insere-se no de âm- que cação entre o cidadão ecom o sistema finan-períalguns deles,nesta complexos, mas não atribuíjá convivemos outros sando assim, a ACREFI realizou no dia bito da Parceria Nacional para Inclusão ceiro, ampliando ainda mais a satisfação -los aos “outros”. Uma frase define a postura odos de crise e saímos deles, por mais intrans19 de maio o Seminário de Orientação Financeira, que catalisa os esforços para de todos. f correta a adotar nesse caso: “É comigo mesmo!”. poníveis que parecessem os obstáculos. Entre as Maio 2017 situações, FINANCEIRO 3ficou Não se pode terceirizar nossa responsabilidade, lições que aprendemos dessas nem podemos nos omitir frente às dificuldades. É claro que cada um deve fazer sua parte, sempre




financeiro | sumário

A hora dos propósitos converg

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3. EDITORIAL

ntramos em 2017 com a é necessário certeza de que teremos despesas e re mais um ano repleto de sível racional desafios. Por um lado, observafazer um dia mos um pequeno aumento da up” completo confiança dos agentes econômiAlém diss cos, embora ainda prevaleça a atentos para cautela. De outro, cresce a apremo que cada ensão com o ritmo da retomada do País. Com Sérgio Rial, presidente do CNF, do crescimento, que para a maiocinando que expõe seu plano à frente da entidade ria ainda está mais lento do que a profecia ten e diz que espera intensificar o se previa inicialmente. zar. O antídot diálogo entre as associadas Essa percepção sobre uma acreditar que Hilgo Gonçalves: suposta demora na retomada que essa ver presidente da ACREFI ganhou mais força em novembro, em um pensa quando foi divulgado que o PIB te positivo. T apresentou retração de 0,8% no terceiro trimestre. muitos e muitos pontos posi O clima foi de decepção para a maioria da socieda- te esquecidos em razão d Instituições atentas ao consumo de. É compreensível que tenha havido essa reação, enfrentamos, mas que precis conscientemas do não crédito se pode deixar de ponderar que o País enfatizados, e que vão nos aj está vivendo um período, que começou no ano pasPara ter êxito nessa em sado e irá até 2018, no qual teremos, todos nós, de ter o pensamento e a ação s fazer uma grande e necessária lição de casa para propósitos convergentes. Em Curitiba que o Brasil volte aos trilhos, ao mesmo tempo em tas dificuldades, não cabe o i que teremos que refrear nossa ansiedade por uma busca por soluções que aten melhora rápida da economia brasileira. nado grupo. O momento é de A tarefa é árdua, mas precisamos nos empe- tendo como prioridade núme nhar para cumpri-la. Nesse sentido, é importante do Brasil. Benefícios do envio automático que cada um de nós assuma o protagonismo que Como se vê, serão mui dos dados do consumidor a situação exige. Os problemas são grandes e, enfrentar neste ano. No en alguns deles, complexos, mas não se pode atribuí- esquecer de que já convivem -los aos “outros”. Uma frase define a postura odos de crise e saímos dele a adotar nesse caso: “É comigo mesmo!”. poníveis que parecessem os Inovação ecorreta Tecnologia Não se pode terceirizar nossa responsabilidade, lições que aprendemos des na Evoluçãonem dos podemos Negóciosnos omitir frente às dificuldades. É claro que cada um deve faze preciso arregaçar as mangas e partir para a ação, pensando no conjunto. Dessa e fazer a nossa parte nesta retomada. um país consciente, forte e Em períodos como este que estamos vivendo merecem o Brasil e as geraç também é fundamental fazer um diagnóstico dos Desejamos um 2017 de r nossos negócios. Deve-se definir, por exemplo, seja melhor que 2016. quais são os pilares mais importantes, o que Todos pelo Brasil, pois ju

9. ASSOCIADOS ACREFI 10. ENTREVISTA

17. ESPECIAL

CIDADANIA FINANCEIRA

24. ROAD SHOW

29. CADASTRO POSITIVO 32. SEMINÁRIO

ARevista_Financeiro_101q.indd 3

6 FINANCEIRO Maio 2017


edição 103 | financeiro

34. ARTIGO –

CAETANO DE VASCONCELLOS NETO E VICENTE BRAGA O FGC e os problemas que não podemos ver

37. WORKSHOP

Compliance reputacional

38. ARTIGO – SERGIO VALE

O país da ilusão fiscal

40. PAINEL B3 43. ARTIGO –

FÁBIO ASTRAUSKAS Boas novas na Lei de Recuperação Judicial

45. ESTANTE

Novidades do mercado editorial

47. CULTURA

Biblioteca Guita e José Mindlin: 32 mil títulos raros

48. ESTILO

Palácio Tangará: o primeiro hotel “seis estrelas” do Brasil

50. PALAVRA FINAL – NICOLA TINGAS

Rumo ao crescimento sustentável no próximo governo?

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ISSN 1809-8843

Publicação da acrefi - Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento Rua Líbero Badaró, 425 - 28°andar - São Paulo - SP - Tel: (11) 3107-7177 - www.acrefi.org.br Diretoria - Biênio 2016-2018 Presidente Hilgo Gonçalves Vice-presidentes Aquiles Leonardo Diniz, Celso Luiz Rocha, João Carlos Gomes da Silva, José Luiz Acar Pedro e Rubens Bution Diretores Tesoureiros João dos Santos Caritá Jr. e José Garcia Netto Diretores Secretários André de Carvalho Novaes e Rodnei Bernardino Diretores Executivos Álvaro Augusto Vidigal, Edmar Casalatina, José Tadeu da Silva, Marcelo de Castro Villela, Roberto Willians da Silva Azevedo e Wanderley Vettore Diretores Regionais Carlos Alberto Samogim, Felicitas Renner, Leonardo Lima Bortolini, Luis Eduardo da Costa Carvalho, Marcos Teixeira da Rosa e Romeu Zema Diretores Conselheiros Alexandre Teixeira, Eliseu Cézar Colman, Giorgio Rodrigo Donini, José Carlos Alves, Marcos Westphalen Etchegoyen e Ricardo Albuquerque Montadoras Alessandra Reis Rollo, Américo da Costa Martins, Edson Fróes Castilho, Edson Tadashi Ueda, Eduardo Tavares Nobre Varella, Gunnar Alejo Ramos Murillo e Nelson Dias de Aguiar Conselho Consultivo – Membros Natos Alkindar de Toledo Ramos, Érico Sodré Quirino Ferreira e Manoel de Oliveira Franco Membros Alarico Assumpção Júnior, Antonio Carlos Botelho Megale, Gilson de Oliveira Carvalho, Gilson Finkelsztain, Ilídio Gonçalves dos Santos, Luiz Tavares Pereira Filho e Miguel José Ribeiro de Oliveira Conselho Fiscal Domingos Spina, Geraldo Lima Vandalsen e Cláudio Messias Ferro Diretor Superintendente Antonio Augusto de Almeida Leite (Pancho) Controller Carlos Alberto Marcondes Machado Consultor Econômico Nicola Tingas Consultora Jurídica Cintia M. Ramos Falcão Consultor de Regulação e Compliance Sérgio Odilon dos Anjos Auditoria Megacont Auditoria e Assessoria Contábil Contabilidade Conaupro Consultoria e Contabilidade Ltda. Assessoria de Imprensa

Publisher Sergio Tamer Editores Theo Carnier e Gilberto de Almeida Editor Assistente Gustavo Girotto Arte Ricardo Marques Revisor Vicente dos Anjos Impressão Mundial Gráfica As matérias e artigos aqui publicados são de inteira responsabilidade de seus autores.

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• BV FINANCEIRA S.A. CRÉDITO,

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financeiro | chapéu

SÉRGIO RIAL

Confiança não se presume, ela é fortalecida no dia a dia” 10 FINANCEIRO Maio 2017


entrevista chapéu| financeiro | financeiro

Eleito há dois meses presidente do Conselho da Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF), SÉRGIO RIAL assumiu o novo desafio, que manterá simultaneamente com a presidência do Santander, com um robusto programa de realizações. Sua proposta prevê, entre outras coisas, a intensificação do diálogo entre as associadas, a maior contribuição das instituições financeiras em prol de uma agenda nacional e oferecer ao setor público subsídios em favor das reformas estruturais. A seguir, leia a íntegra da sua entrevista exclusiva à Financeiro.

O

sr. foi eleito recentemente presidente do Conselho de Representantes da CNF. Quais são seus principais planos relacionados à entidade? No plano interno, desenvolver um programa de compliance que assegure uma atuação da CNF balizada continuamente em princípios éticos e legais. Além disso, implantar um mecanismo de avaliação de resultados e de desempenho dos funcionários que buscam esses objetivos. No plano externo, contribuir para a construção de consenso no setor financeiro em torno das reformas estruturantes, de forma a oferecer ao setor público subsídios relevantes para o êxito dessas reformas. Ainda nessa esfera, avançar a agenda de modernização do setor financeiro. Seu novo cargo na CNF certamente tem muitos desafios, tendo em vista a necessidade de harmonizar os interesses de diversos agentes e também a promoção da contribuição coletiva para a agenda do País. De que maneira o sr. pretende gerenciar essas amplas atribuições? A harmonização dos interesses das instituições financeiras e a contribuição do setor para a agenda nacional passam por constante e intenso intercâmbio de informações envolvendo as associadas da CNF. Essa troca gera a matéria-prima essencial para a atuação da confederação, que é a preparação de posições lastreadas em consenso. São essas conclusões que norteiam as atividades da confederação: sem elas, a entidade fica paralisada. Por essa razão, creio que a CNF será tão mais dinâmica e eficaz quanto melhor estiver equipada para construir essas posições. Um movimento dessa natureza acontece em diferentes níveis, passando pelos técnicos, gerentes e superintendentes das associadas, além das diversas comissões internas destas, até chegar aos presidentes. Assim, o gerenciamento da CNF deve contemplar esMaio 2017 FINANCEIRO 11


financeiro | entrevista ses níveis, o que pode ser traduzido em: descentralização com responsabilidade, acompanhada do azeitamento permanente dos canais de comunicação, com uma meta clara de consolidar um ecossistema financeiro mais competitivo e a serviço do consumidor. Como o sr. pretende conciliar os interesses das diferentes entidades que estão sob o “guarda-chuva” da CNF, já que às vezes esses interesses são diferentes? Antes de mais nada, é preciso conhecer quais são as visões divergentes e, entre essas, quais são as posições em choque. Para tanto, não basta intensificar o diálogo entre as associadas, é fundamental consolidar a confiança entre elas para que as discussões aconteçam de maneira franca e construtiva. Confiança não se presume, ela é fortalecida no dia a dia, sempre que o papel de mediação da confederação é exercido de maneira totalmente imparcial e isenta. A governança da CNF facilita muito essa imparcialidade e isenção, seja porque sob o Conselho de Representantes existe uma diretoria executiva que se ocupa em explicitar interesses divergentes e buscar sua conciliação, seja porque cada associada tem um voto, independentemente de seu tamanho, dando voz a todos os segmentos envolvidos nas discussões. São frequentes (eu diria, semanais) as reuniões de associadas sobre os mais diversos assuntos, que geram debates acalorados e resultam em interesses conciliados. Nessas reuniões, concessões não são “perdas”, mas sim parte de um processo incessante, que acontece em várias frentes, em prol do avanço da agenda do setor. De que maneira as entidades que fazem parte da CNF podem intensificar sua contribuição para a entidade e em que áreas? As associadas podem incrementar sua contribuição para a CNF (e com isso torná-la mais eficaz) ao menos de duas maneiras. A primeira é produzir conhe12 FINANCEIRO Maio 2017

Não basta intensificar o diálogo entre as associadas, é fundamental consolidar a confiança entre elas para que as discussões aconteçam de maneira construtiva” cimento, gerar informação e levantar dados – essenciais para a CNF preparar desde petições no Supremo Tribunal Federal até propostas de Projetos de Lei, passando pela participação em audiências públicas no Congresso Nacional e em grupos de trabalho no Poder Executivo. A segunda maneira é criar pontos focais, em cada entidade, responsáveis por receber as informações geradas pela confederação, triá-las, distribuí-las no âmbito dos segmentos que representam e, quando for o caso, respondê-las. O sistema financeiro brasileiro ocupa reconhecidamente lugar de destaque no cenário global do setor. No entanto, dada a dinâmica do mundo atual, esse sistema encara também o desafio de se manter nessa posição. Em sua avaliação, de que maneira é possível manter o sistema com esse destaque nos próximos anos? Bastaria acompanhar a evolução tecnológica? No plano internacional, o grande avanço em anos recentes tem sido menos a evolução tecnológica e mais o aumento da transparência no relacionamento en-

tre instituições financeiras, seus clientes, seus funcionários e órgãos reguladores. Uma das consequências da evolução tecnológica foi a dramática redução do espaço que havia para operações originadas de crimes, tais como evasão fiscal e lavagem de dinheiro vinculada a essas operações. O Brasil já conta com um dos sistemas financeiros mais sólidos e bem regulados do mundo, com supervisão eficiente e produtos e serviços sofisticados. A crescente adaptação desse sistema a um ambiente internacional mais transparente ampliará ainda mais as oportunidades para as instituições que nele operam. Além disso, as instituições financeiras vêm liderando um processo transformador por meio do “digital”. Como são a interlocução e a participação da CNF com os órgãos do Poder Executivo? A CNF goza de prerrogativas legais que a credenciam a atuar em diferentes foros (grupos de trabalho, comissões, comitês, conselhos, etc.) ligados ao Poder Executivo, tais como Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), Conselho de Recursos da Seguridade


Sérgio Rial | financeiro

Social (CRSS), Conselho Nacional de Imigração (CNIG), Conselho Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC), para citar apenas quatro dos 138 órgãos. Além do mais, funcionários da confederação mantêm interlocução constante com autoridades de diferentes níveis hierárquicos de vários ministérios e órgãos federais (como a AGU e a CGU). A instituição atua nesses fóruns estritamente dentro dos limites dos direitos que lhes são conferidos pelas leis, decretos, portarias, etc., que regulamentam seu funcionamento. Nessa atuação, a Confederação exerce suas três grandes missões: informar, representar e negociar. O sr. tem planos de aumentar a participação da CNF em fóruns de setores da sociedade, como Ação Empresarial, Coalizão Empresarial Brasileira e Fundo Garantidor de

O Brasil já conta com um dos sistemas financeiros mais sólidos e bem regulados do mundo, com supervisão eficiente e produtos e serviços sofisticados” Maio 2017 FINANCEIRO 13


financeiro | entrevista

A comunicação da CNF com a sociedade não se dá no vácuo. Ela é balizada por dois eixos: a cuidadosa preparação de posições de consenso entre as associadas e ... a tempestividade da informação” 14 FINANCEIRO Maio 2017

Créditos, entre outros? A CNF conta com uma unidade dedicada exclusivamente à interação com a sociedade civil, responsável pela coordenação da extensa agenda comum com outras oito confederações patronais e com fóruns, como o CEB – Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos. Aumentar a participação nesses fóruns não é um fim em si, mas a consequência do adensamento de temas relevantes para o setor financeiro que podem ser mais bem tratados por meio de atuação conjunta com entidades representativas de outros setores. O sr. vê necessidade de o sistema financeiro se comunicar mais intensamente com a sociedade para mostrar seu importante papel no desenvolvimento econômico e social? Em


Sérgio Rial | financeiro

Centenas de assessores de Ministérios, de parlamentares e de juízes que já passaram pelos cursos da CNF puderam verificar que spread não é sinônimo de ‘lucro’” caso positivo, como essa comunicação mais intensa poderá ser feita? A comunicação da CNF com a sociedade não se dá no vácuo. Ela é balizada por, pelo menos, dois eixos. O primeiro é a cuidadosa preparação de posições de consenso entre as associadas sobre os múltiplos assuntos de interesse da cidadania. O pilar central desse exercício é a “Agenda do Setor Financeiro” – ASF, anual, que é mais do que um mero cardápio de temas de interesse do setor, uma vez que ali também estão as posições relativas a esses temas. Os leitores da ASF surpreendem-se ao verificar que o documento não se preocupa com questões “paroquiais”, isto é, de exclusivo interesse das instituições financeiras, mas sim com tópicos que afetam o ambiente de negócios em que operam. É por essa razão que lá figuram temas sociais, ambientais, de direitos do consumidor, etc. O segundo eixo de comunicação é a tempestividade – ou a oportunidade – da informação. Os assuntos que envolvem o setor financeiro são geralmente de natureza técnica e requerem algum conhecimento prévio de economia, finanças, contabilidade,

direito, entre outros. Com isso, não são assuntos de fácil divulgação ao grande público. Essa comunicação é facilitada quando, por alguma razão, algum tema da CNF ganha visibilidade e a Confederação passa a ser consultada sobre ele. Tais oportunidades permitem que a entidade anuncie sua posição. Nesses casos, há uma grande preocupação em apresentar a informação de maneira simples e didática, sem, contudo, abrir mão do rigor técnico. Há também a preocupação em utilizar fontes de informação verificáveis e públicas (tais como Banco Central ou IBGE) para sedimentar a credibilidade das posições da Confederação. Faremos um esforço contínuo para promover uma comunicação atuante alicerçada em dados técnicos, em benefício de um ambiente de negócios mais competitivo. Dada a crescente importância do conhecimento, a CNF pretende ampliar sua agenda de cursos e seminários neste e nos próximos anos? Sem dúvida. A Unidade de Cursos e Eventos, da CNF, apresenta crescimento exponencial desde sua criação, há sete

anos, o que atesta o grande interesse da população. Contudo, o foco principal dessa unidade não recai sobre o grande público, mas sim sobre a necessidade de formar interlocutores no Congresso Nacional, nos Tribunais Superiores e no Governo. A Confederação desenvolve vários programas de educação financeira voltados à população, alguns em parceira com o Banco Central e com o Banco Regional de Brasília (BRB). Porém, seu alcance é limitado pelos custos envolvidos nesses programas. Devido às restrições orçamentárias, a CNF privilegia a formação de interlocução nos órgãos com os quais se relaciona, de maneira a facilitar a troca de informações. Um bom exemplo é o tema spread bancário. Centenas de assessores de Ministérios, de parlamentares e de juízes que já passaram pelos cursos da CNF puderam verificar que spread não é sinônimo de “lucro” e que discussões envolvendo a margem bancária passam por questões de inadimplência, cunha fiscal, créditos direcionados, tributação, etc. Esses assessores, mesmo que discordem das posições da CNF, ao menos estão preparados para discutir o tema tendo em vista todas suas implicações, a partir de uma base mais técnica. Existem planos para a CNF ampliar geograficamente sua área de atuação? Se sim, como seria essa ampliação e em que timing? Por um lado, a Confederação Nacional do Sistema Financeiro (CONSIF), de natureza sindical, tem experimentado grande expansão geográfica por meio da criação de novos sindicatos e da associação de empresas a sindicatos já existentes. Por outro lado, a Confederação Nacional das Instituições Financeiras, de natureza associativa, tem uma perspectiva diferente. Todas as associadas da CNF são entidades de âmbito nacional, de modo que eventual expansão no número de membros estaria condicionada à inclusão de segmentos do setor financeiro que ainda não têm assento no Conselho de Representantes. f Maio 2017 FINANCEIRO 15


46 financeiro agosto/setembro 2015


especial chapéu| financeiro | financeiro

ESPECIAL CIDADANIA FINANCEIRA POR UM AMANHÃ

SUSTENTÁVEL A ACREFI, desde sempre, apoia e estimula as ações e os programas direcionados à orientação financeira. Isso porque a entidade acredita que um relacionamento mais consciencioso e responsável do cidadão com o dinheiro é essencial para o aperfeiçoamento do mercado financeiro, tornando-o ainda mais eficiente e sustentável. Para contribuir com a divulgação do tema, a Financeiro traz nesta edição iniciativas de órgãos públicos e de instituições privadas em favor da difusão: do conhecimento, principalmente, entre as crianças e os jovens; do equilíbrio orçamentário das famílias; e do consumo consciente do crédito.

Maio 2017 FINANCEIRO 17


financeiro | especial

HILGO GONÇALVES: presidente da ACREFI

TODO CUIDADO

É POUCO

Especialistas reunidos em seminário da ACREFI mostram as conquistas atingidas nos programas de orientação financeira e apontam os desafios em favor do consumo consciente

C

omo sair do consumo massificado para o consumo consciente do crédito? Essa transformação passa certamente por uma nova postura perante os recursos financeiros e por uma forma mais cuidadosa de administrar o seu orçamento pessoal. Para analisar como as instituições oficiais e privadas avaliam e tratam essa e outras questões, a ACREFI organizou no dia 19 de maio, no Renaissance Hotel São Paulo, o seminário Orientação Financeira – Foco na Cidadania, com os 18 FINANCEIRO Maio 2017

palestrantes: Isaac Sidney Ferreira, diretor de Relacionamento e Cidadania do Banco Central; Claudia Forte, superintendente da Associação de Educação Financeira (AEF – Brasil); e André Loes, diretor-executivo do Fundo Garantidor de Créditos; com a moderação da jornalista Christiane Pelajo. O evento foi patrocinado pela B3, CNSeg, Serasa Experian e Credilink. Como de hábito, antes de passar a palavra aos convidados, Hilgo Gonçalves, presidente da ACREFI, fez questão de

deixar sua mensagem de estímulo e otimismo. “Devemos analisar as coisas sempre pela perspectiva da metade cheia do copo, assim alinhamos os nossos objetivos pela ótica da prosperidade. Se desejamos um país pujante, não podemos fugir à responsabilidade de fazer a nossa parte. Do nosso lado, não devemos tratar o crédito como um produto de prateleira, mas algo que permita às pessoas realizar um sonho”, recomendou Gonçalves. O presidente da ACREFI lembrou ain-


cidadania | financeiro

Fotos: Luciano Piva

ISAAC SIDNEY FERREIRA: diretor de Relacionamento Institucional e Cidadania do BC

“OS CANAIS DIGITAIS TORNARAM-SE A PRINCIPAL PORTA DE RELACIONAMENTO DO CIDADÃO COM O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL”

da de uma pesquisa recente da Confederação Nacional do Comércio, que recomenda aos empresários que utilizem a oferta de crédito aos clientes como ferramenta estratégica, cientes das informações disponíveis no mercado, como comprometimento da renda, dívidas pendentes, contas em atraso, além da sua percepção em relação à capacidade de pagamento. “Além desses cuidados, não podemos esquecer que temos um Banco Central atento à disseminação da cultura da educação financeira, ao respeito ao cliente e à busca por um crédito mais barato”, afirmou ele. A atenção dispensada pelo Banco Central à questão da educação financeira pode ser dimensionada, involuntariamente, pela atitude de comprometimento do representante da autoridade monetária indicado para participar do seminário da ACREFI. Impossibilitado de estar em São Paulo, Isaac Sidney Ferreira, diretor de Relacionamento e Cidadania do BC, excepcionalmente, fez sua palestra via web, sem qualquer prejuízo do conteúdo. Preliminarmente, Ferreira revelou que 140 milhões brasileiros, 87% da população nacional, têm algum tipo de relacionamento bancário, dos quais 55 milhões deles são tomadores de crédito, segundo o último levantamento do SCR (Sistema de Informações de Crédito do BC) divulgado ano passado. Como a bancarização da população tem crescido 3,3% ao ano, principalmente entre as pessoas de baixa renda, amplia-se o desafio regulador em criar e dissemi-

nar campanhas de educação financeira. “A bancarização não pode vir dissociada de ações permanentes de orientação financeira”, reforçou Ferreira. “Esse tipo de iniciativa se torna mais importante diante do fato de que 70% dos entrantes no sistema financeiro possuem baixo nível de escolaridade”, completa o diretor do BC. Outro foco de atenção da autoridade monetária está no crescimento dos acessos aos bancos por meio da internet, 21% nos últimos seis anos. “Os canais digitais tornaram-se a principal porta de relacionamento do cidadão com o sistema financeiro, portanto é preciso também prepará-lo para essa realidade”, acrescentou ele. Dentro do Plano Cidadania Financeira, o BC vai implementar, nos próximos três anos, 32 novas ações com diferentes parceiros. Uma delas, já em andamento, com

o CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola), é voltada para alunos do Ensino Médio. São cursos presenciais ou a distância sobre gestão de finanças pessoais. “Para isso, procuramos utilizar uma linguagem próxima do cotidiano desses jovens, transmitindo informações relevantes de forma direta, atraente e transparente”, sintetizou Ferreira. Terminada a conexão digital com Brasília, Christiane Pelajo passou a palavra para Claudia Forte, superintendente da Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF). Logo de saída, ela fez questão de pontuar o protagonismo do Brasil como um dos poucos países do mundo que possui uma Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF). “Esse tipo de iniciativa é fundamental para formarmos a próxima geração, que hoje está com seis, sete anos. São crianças que ainda não compreendem o valor do dinheiro ou que acreditam que o pagamento de uma compra termina depois de digitarmos a senha do cartão de crédito”, lembrou Claudia. “Indo mais longe, quem hoje mantém contato com os universitários observa que eles não percebem e não se sensibilizam com a chegada das dificuldades provocadas pela crise financeira que atinge o País. Por isso, a educação financeira mostra-se determinante para a construção de uma nação forte e sustentável.” Segundo a superintendente da AEF – Brasil, o comprometimento do professor é essencial para o sucesso das iniciativas de educação financeira. Sem seu engajamento não há material de didático que consiga

“O FGC TRABALHA DE MANEIRA PREVENTIVA E PERMANENTE PARA QUE SISTEMA FINANCEIRO FUNCIONE EM PLENA HARMONIA E TRANQUILIDADE”

ANDRÉ LOES: diretor executivo do Fundo Garantidor de Créditos

Maio 2017 FINANCEIRO 19


financeiro | especial

provocar essa transformação conceitual entre as crianças e os jovens. Na outra ponta, o projeto Transmídia, do ENEF, também investe em plataformas digitais e interativas para atrair a atenção dos adolescentes, como um game didático; a websérie R$100 Neuras, com a blogueira Raissa Venâncio, o programa Sua Escola, Nossa Escola, entre outras ações. “No entanto, o mais importante é incutir neles o conceito de poupança, implica bem menos a quantidade guardada”, resumiu ela. Porém, antes de concluir, Claudia trouxe uma frase do romance Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, para reflexão dos convidados do seminário da ACREFI: “O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe

CLAUDIA FORTE: superintendente da Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF)

20 FINANCEIRO Maio 2017

para a gente é no meio da travessia.” Por parte das instituições financeiras, André Loes, diretor executivo do Fundo Garantidor de Créditos, compartilhou entre os convidados da ACREFI a importância do papel do FGC como estabilizador da garantia dos depósitos em conta-corrente, principalmente daquele pequeno depositante. Ele explicou que o total de créditos de cada pessoa, depositado em uma mesma instituição associada ao FGC, está garantido até o valor de R$ 250 mil. “Muito mais do que atuar, em eventuais, momentos de crise, o FGC trabalha de maneira preventiva e permanente para que sistema bancário/financeiro funcione em plena harmonia e tranquilidade”, resumiu Loes.

“QUEM MANTÉM CONTATO COM OS UNIVERSITÁRIOS OBSERVA QUE ELES NÃO SE SENSIBILIZAM COM A CHEGADA DAS DIFICULDADES FINANCEIRAS”

Com o propósito de divulgar o seu trabalho de forma mais direcionada, o FGC encomendou uma pesquisa qualitativa ao Instituto Ipsos com a população bancarizada de diferentes faixas de renda. Ainda em andamento, o levantamento está ouvindo 1.200 pessoas, em todo o território nacional. “Com base no resultado do estudo, previsto para o mês de julho, conseguiremos estabelecer a melhor forma de nos comunicar com o nosso público-alvo e disseminar os conceitos que envolvem a garantia de créditos e o papel do FGC como estabilizador do sistema financeiro”, contou o executivo do FGC. Como última recomendação, Loes disse que a despeito da existência do FGC é fundamental que o depositante não abra mão de conhecer a instituição em que está investindo. Um pouco antes de Hilgo Gonçalves fazer suas considerações finais, o espectador Vanio Aguiar levantou-se na plateia para anunciar que estava ali entre eles o economista José Dutra Vieira Sobrinho, especialista em matemática financeira. Para quem não conhecia, Aguiar explicou que Dutra foi o primeiro profissional, ainda nos anos de 1970, a ensinar empresários, jornalistas e até mesmo bancários a efetuar cálculos envolvendo juros simples e compostos. Ou seja, há mais 40 anos, Sobrinho foi um dos precursores da disseminação da orientação financeira no País. f


cidadania | financeiro

Fotos: Luciano Piva

GARANTIR O FUTURO E REALIZAR SEUS SONHOS Esforço nacional para conscientizar os cidadãos para o uso do dinheiro já começa a conquistar seu principal alvo, os jovens. Evento da 4ª Semana de Educação Financeira atrai 300 pessoas, em São Paulo. Todos em busca de um futuro mais tranquilo POR LÉA DE LUCA Maio 2017 FINANCEIRO 21


financeiro | especial mais equilibrado já começa a conquistar seu principal alvo: os jovens. No auditório, era possível notar também a presença de alguns aposentados, que ouviam atentamente as explicações do palestrante. A educação financeira é um assunto cada vez mais importante e cada vez mais em foco no Brasil. A Semana de Educação Financeira faz parte do programa da Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF) – uma mobilização permanente organizada independentemente do governo em exercício. A iniciativa nasceu da percepção de que os brasileiros conhecem pouco sobre como administrar seu dinheiro. Afinal, passamos muitos anos convivendo com inflação muito elevada, quando o acesso ao crédito era muito restrito, e não nos preparamos para o momento atual, com oferta abundante – não tivemos educação para isso. “Em famílias, se conversa mais sobre sexo e drogas do que a respeito de dinheiro. O marido não sabe quanto a mulher ganha, a esposa, por sua vez, ignora se o marido fez uma dívida, os filhos desconhecem se os pais estão com dificuldades financeiras”, disse Oliveira. “A ideia é disseminar esse assunto e os jovens são muito importantes. Por estarem estudando, são referências em suas famílias, podem levar os conhecimen-

RICARDO LOPES DE OLIVEIRA: ana­lista de Educação Financeira do BC

22 FINANCEIRO Maio 2017

tos e as informações para dentro de casa e para as pessoas que conhecem”. O objetivo é tornar os consumidores mais ativos no uso do dinheiro, empoderados e conscientes. Durante sua exposição, Oliveira procurou bater várias vezes na mesma tecla: é preciso fazer escolhas conscientes. A sociedade de consumo tenta, por meio de uma ciência conhecida como arquitetura de escolha, induzir as escolhas dos consumidores. A sobremesa vem antes da salada no bufê de comida a quilo, produtos caros ficam na altura dos nossos olhos nas prateleiras do supermercado, o limite de crédito é somado ao saldo real para informar o “disponível” em conta. Tudo foi estrategicamente pensado para induzir o cidadão ao consumo impulsivo. Mas é preciso prestar atenção no contexto e fazer escolhas. “Alternar entre tomar crédito para consumir agora antes de ter o dinheiro – e pagar um pedágio por isso (ou seja, juros) ou poupar para comprar depois e receber um prêmio (juros) por esperar é natural. O problema é criar o hábito ruim, de consumir sem pensar. É importante ter consciência de todas as escolhas e suas respectivas consequências”, ensina o palestrante. O crédito serve para atender emergências, aproveitar oportunidades e anteci-

“O PROBLEMA É CRIAR O HÁBITO DE CONSUMIR SEM PENSAR. É IMPORTANTE TER CONSCIÊNCIA DE TODAS AS ESCOLHAS E SUAS CONSEQUÊNCIAS”

Fotos: Luciano Piva

A

conhecida fábula A Cigarra e a Formiga, de Jean de La Fontaine, faz uma metáfora sobre dois arquétipos humanos – a formiga que poupava para sobreviver no inverno e a cigarra que só pensava no aqui e agora. Ao nosso redor, não são poucas as pessoas que se encaixam perfeitamente nesses perfis. “Alternar entre os dois extremos é o mais saudável quando se trata de dinheiro”, argumenta Ricardo Laureno Lopes de Oliveira, analista da área de Educação Financeira do Banco Central. Em sua palestra “Gestão de Finanças Pessoais”, realizada dia 11 de maio, no teatro do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), em São Paulo, Oliveira falou para cerca de 300 pessoas − a grande maioria jovens na faixa dos 20 anos – sobre como fazer escolhas conscientes, como evitar o superendividamento, como poupar e investir para garantir o futuro e realizar seus sonhos. O evento promovido pelo CIEE, tradicional parceiro das ações do BC, fez parte da programação da 4ª Semana de Educação Financeira, iniciativa do governo federal realizada com apoio de diversas entidades privadas. A palestra de Ricardo de Oliveira foi direta ao ponto e mostra que o movimento por um orçamento pessoal


cidadania | financeiro par consumo, mas é preciso atenção para evitar dois riscos: o preço mais caro e o superendividamento. O segundo perigo decorre do fato de que quanto mais acessível é o crédito, mais caro ele se torna. O cartão de crédito, por exemplo, é mais acessível e mais caro do que financiamento de veículos, que exige mais pré-requisitos do cliente. A saída é tomar conhecimento da situação, mapear as dívidas, evitar novos comprometimentos financeiros, reduzir gastos − diferenciando o que é necessário, supérfluo e desperdício −, gerar renda extra e pagar. Esse esforço certamente será recompen-

sado com prêmio duplo: consumir mais e melhor dali em diante.

POUPAR VERSUS INVESTIR Poupar é guardar dinheiro, investir é fazê-lo render. É preciso entender melhor o que são juros e quais são as opções de investimento disponíveis. Elas podem ser classificadas pelo risco, pelo retorno e pela liquidez que oferecem. As escolhas de onde aplicar os recursos devem ser baseadas em objetivos e perfis de investidor. O mais importante é criar o hábito de poupar com regularidade. Para fazer o dinheiro sobrar, é preciso definir a neces-

sidade e o desejo. “O desejo não tem limite, mas nosso bolso tem”, alerta Oliveira. O palestrante ensina também a tornar orçamento doméstico uma ferramenta importante em favor do seu equilíbrio financeiro. “Para isso, é preciso estimar os gastos mensais, registrar tudo, agrupar em categorias, avaliar e agir”, ensina. “É importante também saber que sonhos são etéreos, vagos, subjetivos. Para realizá-los, devemos transformar os sonhos em projetos. Não perca de vista o direcionamento de cada centavo. Se for tomar dinheiro emprestado, faça bem as contas e invista com segurança e objetividade”. f

AS CONTEMPLADAS Ao final da palestra no CIEE, Oliveira escolheu três jovens da plateia para receber um kit completo de educação financeira do Banco Central. Conheça a opinião das estudantes.

Carol de Souza, 19 anos, trabalha e cursa Ciências Contábeis na Uninove: “A PALESTRA AGREGOU BASTANTE. ACHEI MUITO IMPORTANTE ELE FALAR COMO É POSSÍVEL ORGANIZAR AS DÍVIDAS E OS GASTOS. E PRECISO CONSCIENTIZAR OS JOVENS SOBRE O NOSSO FUTURO E O DO BRASIL. A MINHA VIDA FINANCEIRA, FELIZMENTE, É BEM ORGANIZADA. EU JÁ FAZIA MUITAS DAS COISAS QUE ELE EXPLICOU DURANTE A PALESTRA.”

Isabela Santana, 17 anos, trabalha e cursa Segurança do Trabalho na ETEC Takashi Morita:

Chayenne Nobre de Melo, 18 anos, trabalha e cursa Ciências Contábeis na Faculdade Drummond de Andrade:

“A PALESTRA FOI BEM EXPLICATIVA. ELE FOI AO PONTO, TRATOU DE TEMAS QUE OS JOVENS DEVEM SABER QUANTO ENTRAM NO MERCADO DE TRABALHO. NÃO TEMOS CONSCIÊNCIA FINANCEIRA, GASTAMOS MAIS DO QUE RECEBEMOS. ESTOU NO MEU SEGUNDO EMPREGO, NO PRIMEIRO EU SÓ GASTAVA O DINHEIRO, AGORA ESTOU PROCURANDO TER MAIS CONSCIÊNCIA, GUARDANDO DINHEIRO E PROCURANDO INVESTIR.”

“A PALESTRA FOI MUITO INTERESSANTE, ABRANGEU ASSUNTOS POLÊMICOS E TROUXE CONHECIMENTOS PARA OS JOVENS QUE TÊM MUITAS DÚVIDAS EM RELAÇÃO ÀS FINANÇAS. A MINHA VIDA FINANCEIRA É BEM ORGANIZADA, SOU ECONÔMICA. TENHO INTERESSE DE CONHECER MAIS SOBRE ECONOMIA. A MINHA MAIOR DÚVIDA É SABER COMO ESTARÁ O BRASIL DAQUI A ALGUNS ANOS.” Maio 2017 FINANCEIRO 23


financeiro | road show

HILGO GONÇALVES: presidente da ACREFI

OS RUMOS E AS (IN)CERTEZAS DO ATUAL CENÁRIO DO BRASIL

Em Curitiba, road show da ACREFI, em parceria com a Associação Comercial do Paraná, promove debate sobre as perspectivas econômicas do País frente aos últimos acontecimentos políticos

D

iante da atmosfera de incertezas que se instalou no cenário nacional, impactado por grande instabilidade política, a ACREFI reuniu especialistas, em seu road show de Curitiba, para um debate sobre os rumos da economia, dia 23 de maio, na Associação Comercial do Paraná (ACP). Em sua fala de abertura, Hilgo Gonçalves, presidente da ACREFI, destacou a importância da troca de experiências e das discussões a respeito do crédito sustentável para o crescimento econômico brasileiro, 24 FINANCEIRO Maio 2017

“CONTINUO CONFIANTE NO BRASIL...É IMPORTANTE QUE POSSAMOS AJUDAR PARA QUE ENCONTREMOS O CAMINHO CORRETO”

GUSTAVO LOYOLA: sócio da Tendências Consultoria

Fotos: Divulgação

POR GUSTAVO GIROTTO


curitiba | financeiro

NELSON ARNS NEUMANN: coordenador Nacional Adjunto da Pastoral da Criança

“PRECISAMOS TRABALHAR COM PROPÓSITOS CONVERGENTES, QUE LEVEM EM CONTA TODOS OS ASPECTOS DE NOSSA SOCIEDADE”

dando ênfase e fazendo um paralelo com o boom da expansão do crédito e do consumo entre 2003 a 2012. “A inflação do período foi 61,49%, com um crescimento do PIB de 3,74%, varejo 7,12% e a evolução do consumo das famílias de 4,29%. No período, o desemprego caiu 12,2%, em 2002, para 5,5%, em 2012. Além disso, o salário mínimo teve aumento real de 66% e o crédito livre à pessoa física subiu de 5,8% do PIB para 14,6%. Era um outro momento e esse modelo não se sustentou”, ressaltou Gonçalves. O presidente da ACREFI expôs também dados do endividamento das famílias, que subiu de 29% (2007) para 46% (2014), sendo que 18% estavam centrados em crédito imobiliário. “Mesmo diante das dificuldades que o cenário nos impõe, não podemos deixar de acreditar. Vamos fomentar uma agenda positiva por meio do Cadastro Positivo, uso do crédito consciente e da cidadania financeira”, destacou. Em relação ao cenário atual, Gonçalves foi enfático: “temos uma equipe econômica técnica, de ponta, e instituições fortes para levar o Brasil adiante. Vamos manter nossa previsão, conforme manutenção do atual status quo, apoiando a nossa atual equipe econômica. Cada um

precisa fazer a sua parte, com propósitos convergentes e, como entidade, acreditamos no potencial do Brasil”. Na sequência, Gláucio Geara, presidente da ACP, destacou que a associação, fundada em 1890, acompanhou a história do Paraná e do Brasil nos seus últimos 126 anos e, por isso, a entidade sente-se honrada em receber o evento. “No momento em que a sociedade brasileira acompanha uma crise sem precedentes na história da nossa república, diante dos acontecimentos, essa é uma rara ocasião de atualização e reflexão sobre o que ocorrerá em nosso país. É um encontro oportuno para que possamos

“ESSA É UMA RARA OCASIÃO DE REFLEXÃO SOBRE O QUE ACONTECERÁ EM NOSSO PAÍS”

sair daqui com uma visão clara e, por meio dessa troca de experiências, entenderemos os desdobramentos e os enfrentamentos que estarão em nossas próximas decisões”, pontuou. Nelson Arns Neumann, coordenador Nacional Adjunto da Pastoral da Criança, por sua vez, fez uma pausa reflexiva sobre a importância dos cuidados em relação ao desenvolvimento infantil. “O médico britânico David Barker fez um estudo em que detectou que crianças nascidas com baixo peso apresentam mais problemas durante seu desenvolvimento. Elas manifestam maiores riscos relacionados ao colesterol, à osteoporose, às cardiopatias e às implicações renais. Atenta aos problemas decorrentes da desnutrição infantil, a Pastoral da Criança está presente em 3.500 municípios brasileiros, acompanhando o desenvolvimento de 1 milhão de bebês nos primeiros meses de vida. Um dos grandes problemas que enfrentamos é manutenção das condições favoráveis para a criança, uma vez que isso impacta diretamente no seu futuro. Não adianta só o governo falar, precisamos trabalhar com propósitos convergentes, que levem em conta todos os aspectos de nossa sociedade. Isso também é poupar”, refletiu.

GLÁUCIO GEARA: presidente da Associação Comercial do Paraná

Maio 2017 FINANCEIRO 25


financeiro | road show

Voltando ao campo financeiro, Cláudio Ferro, diretor executivo do Poupa Brasil, apresentou aos empresários os benefícios do portal de investimento, que afiança, por meio de uma operação simples e prática, uma rentabilidade acima da caderneta de poupança e do tesouro direto, além de oferecer garantia absoluta de 100% do valor investido. “Nosso objetivo é facilitar o acesso dos poupadores dando grandes oportunidades, eliminando os pontos que desagradam o consumidor, como as tarifas, a burocracia, a linguagem técnica e complicada. Desde o primeiro acesso, todas as etapas de cadastro e depósitos são feitas integralmente na internet, em um ambiente cercado de absoluta segurança e tranquilidade. Em seguida, Marcus Lavorato, gerente de Relações Institucionais da B3 − junção recente da BM&F Bovespa e da Cetip −, mencionou que um dos pilares da nova empresa é apoiar as instituições. “Um dos principais produtos da B3 é a base de gravames, que evita que veículos sejam financiados duas vezes. Embora o desemprego e a renda sigam em trajetórias desfavoráveis, a confiança do consumidor segue em elevação. Os índices de contentamento revelam alta nos quatro primeiros meses do ano, mantendo o descolamento entre 26 FINANCEIRO Maio 2017

a situação presente e as expectativas. Um bom indicador é a queda da Selic”, ponderou. Sobre o financiamento de veículos, segundo Lavorato, a região Sudeste foi a que ganhou mais no acumulado do ano, cerca de 0,5 ponto percentual. “A região Norte ficou em 4,2%, Centro-Oeste em 9,6%, Sul em 22,1%, Nordeste em 14,5% e Sudeste em 49,6%. O segmento de veículos novos mantém tendência estável, ainda em patamar negativo. Entre os usados, o mercado apresentou, nos últimos 12 meses, alta de 6% nas vendas e 4% nos financiamentos”. Mauro Melo, CEO da Credilink,

ressaltou a importância do engrandecimento do Brasil e apresentou soluções de segurança de informação da empresa para transações no mercado financeiro. “Uma das ferramentas é a consulta a óbito, que cresce ano a ano. São 12 milhões de registros, entre 2016 e 2017. Ou seja, a primeira verificação é se a pessoa está morta. Se está, nem continuamos (risos...). Nossa empresa agrega softwares e serviços que vão direto ao foco de informações de crédito, cobrança, fraude, consignados e cartões. Contamos com um banco de dados próprio que aglutina informações desde o ano de 1988. A análise de fraude evitou 374 milhões no seguro desemprego. A cada 15 minutos um CPF é usado para alguma fraude no Brasil e a nossa finalidade é evitar que isso aconteça”, ressaltou. João André Pereira, chefe de gabinete da área de Regulação do Banco Central, focou na importância do Cadastro Positivo, com objetivo de contribuir com a sociedade, gerando benefícios sustentáveis. “Nessa linha, criamos a Agenda BC+, que foca na cidadania financeira, em uma legislação mais moderna, em um Sistema Financeiro Nacional mais eficiente e crédito mais barato, com atenção na redução do spread. Em termos de

“A CADA 15 MINUTOS UM CPF É USADO PARA ALGUMA FRAUDE NO BRASIL E A NOSSA FINALIDADE É EVITAR QUE ISSO ACONTEÇA”

MAURO MELO: CEO da Credilink

Fotos: Divulgação

MARCUS LAVORATO: gerente de Relações Institucionais da B3

“EMBORA O DESEMPREGO E A RENDA SIGAM EM TRAJETÓRIAS DESFAVORÁVEIS, A CONFIANÇA DO CONSUMIDOR SEGUE EM ELEVAÇÃO”


curitiba | financeiro

JOÃO ANDRÉ PEREIRA: chefe de gabinete da área de Regulação do Banco Central

“CRIAMOS A AGENDA BC+, QUE FOCA NA CIDADANIA FINANCEIRA...EM UM SFN MAIS EFICIENTE E CRÉDITO MAIS BARATO”

Cadastro Positivo, esperamos reduzir a assimetria de informação, melhorando a avaliação do risco e da qualidade da concessão do crédito, além de fomentar o aumento da concorrência, com mais informações para que os agentes ofertem crédito com ainda mais segurança”, reforçou. Para Pereira, o Cadastro Positivo ainda não funcionou por formação de base, mas há uma mudança de conceito. “Em 2011, o Brasil deu um passo importante para consolidar seu mercado de crédito, por meio da publicação da Lei do Cadastro Positivo, nº 12.414. Agora vamos alterar a forma de constituição do Cadastro Positivo. Ou seja, todos farão parte havendo possibilidade de exclusão (conceito Opt-in e o Opt-out). Mediante adesão automática, o brasileiro sentirá a força e o impacto em relação à prática de juros”, destacou. Gustavo Loyola, sócio da Tendências Consultoria e ex-presidente do BC, enfatizou que os fatos atuais colocam as previsões sob judice. “Estávamos com queda nos juros, bom encaminhamento das reformas (Trabalhista e Previdenciária), com projeções de crescimento do PIB de 0,7%, em 2017, e 2,5% no próximo ano, além da melhora nos índices de emprego. O cenário macroeconômi-

co estava em processo de melhora, favorecido, no ambiente internacional, com a redução dos prêmios de risco, em especial entre os países emergentes – o Brasil chegou a cair abaixo de 200 pontos no CDS (Credit Default Swap), o que não ocorria há muito tempo. E agora chegou essa bomba”, ressaltou. Um dos caminhos para sedimentar os indicadores, segundo Loyola, seria a aprovação das reformas. “Ou mesmo que o governo eleito nas próximas eleições mantivesse o compromisso do encaminhamento dos planos econômicos e das reformas da atual equipe Henrique Meirelles/

Ilan Goldfajn. Um ponto de atenção, que destacamos por conta da “Lava Jato”, é até de que forma e o tempo que ela atingiria o núcleo político. Diante dos fatos, temos três cenários possíveis: 15% de chance é voltar ao cenário anterior (Temer sai ou é substituído por um novo presidente, com base e comprometimento com as reformas); 60% um segundo que pode se materializar – seja pela manutenção ou nova eleição – e é um pouco pior (se mantém a equipe, mas o endereçamento das reformas serão prejudicadas); 25% o cenário mais negativo seria uma eleição direta − contrariando a constituição − com um candidato alinhando a política econômica anterior, mudança dos planos e equipe. Sabemos que essa história não deu certo e isso deterioraria a economia”, alertou. Para ele, o Brasil está em uma encruzilhada. “Não é ser contra a ‘Lava Jato’, mas o País corre o risco de escolhas populistas, sejam de direita ou de esquerda. Independentemente do agente, do ponto da gestão macroeconômica, estávamos indo pelo caminho correto. Continuo confiante no Brasil, temos que trabalhar e é importante que possamos ajudar para que encontremos o caminho correto”, finalizou. f

“NOSSO OBJETIVO É FACILITAR O ACESSO DOS POUPADORES..., ELIMINANDO PONTOS QUE DESAGRADAM O CONSUMIDOR”

CLAUDIO FERRO: diretor executivo do Poupa Brasil

Maio 2017 FINANCEIRO 27


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eventos | financeiro

HILGO GONÇALVES: presidente da ACREFI

ANTÍDOTO

CONTRA A

Fotos: Luciano Piva

INADIMPLÊNCIA Além de favorecer a pontualidade dos pagamentos, a adesão automática ao Cadastro Positivo é instrumento importante para redução do spread bancário e ainda estimula o consumo consciente do crédito Maio 2017 FINANCEIRO 29


financeiro | eventos

A

retomada do protagonismo no Brasil passa pelo crescimento da economia e pelo reequilíbrio financeiro das empresas e das famílias. Uma forma de contribuir na construção desse quadro favorável é por meio da adesão automática ao Cadastro Positivo, instrumento essencial para a redução da inadimplência e dos juros praticados pelo mercado. Essa foi a mensagem de Hilgo Gonçalves, presidente da ACREFI, na abertura do seminário Cadastro Positivo – Desafios e Tendências, evento realizado pela entidade, em parceria com a Serasa Experian, dia 28 de março, no Renaissance Hotel São Paulo. Para tratar desse importante tema, participaram do encontro os palestrantes Otávio Ribeiro Damaso, diretor de Regulação do Banco Central; Murilo Portugal Filho, presidente da Febraban; Paulo Melo, VP de Relações Institucionais da Serasa Experian; e Vander Nagata, VP de Consumer Information da Serasa Experian. Também como anfitrião do evento, Paulo Melo saudou os convidados e disse que a Serasa está alinhada com as ações do governo para estimular a economia e favorecer o crédito sustentável. “Isso se faz, entre outras coisas, com educação financeira e com os benefícios inerentes do Cadastro Positivo. Até que a adesão automática ao Cadastro Positivo seja plenamente autorizada, com o amparo 30 FINANCEIRO Maio 2017

da lei, essa troca de ideias, como a que estamos fazendo hoje, neste seminário, torna-se essencial”, destacou Melo. Em seguida, Otávio Ribeiro Damaso, do BC, destacou que há muito tempo a autoridade monetária do Brasil acompanha as questões relacionadas ao Cadastro Positivo e isso se intensificou a partir de 2013, quando as instituições financeiras iniciaram o processo de envio das informações para formação de Cadastro Positivo. “Ele é um dos instrumentos mais importantes para a redução do spread bancário”, destacou Damaso. O executivo do BC comparou o Cadastro Positivo com a relação de confiança que o consumidor cria, por exemplo, com o jornaleiro da esquina. “No início, o dono da banca não conhece o cliente.

Aos poucos, ele apreende seus hábitos, toma contato com outros membros da família, até que um dia se sente seguro para oferecer uma conta de pagamento mensal”, explicou Damaso. Segundo o diretor do BC, no plano internacional, quando se trata da construção do histórico de pagamentos do consumidor, o Brasil ainda está distante até mesmo de países emergentes. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Credit Score – pontuação que representa o valor do crédito de cada pessoa − reúne informações geradas desde um simples pagamento de água ou condomínio, passando pelas movimentações, com cartão de crédito, até a compra de uma propriedade. “Essa assimetria da informação contribui com o dinamismo da economia norte-americana. O Cadastro Positivo, acompanhado de programas de orientação financeira, é importante para a inclusão social do cidadão”, lembra ele. Em contraponto ao avanço que representa o envio automático dos dados financeiros para o Cadastro Positivo, Damaso apontou o retrocesso que significa a lei paulista que exige a notificação por AR (aviso de recebimento) antes que o inadimplente seja incluído na lista de mau pagador. “Essa é uma legislação que precisa ser revista. Ao mesmo tempo, o Cadastro Positivo merece ganhar espaço nas discussões que envolvam as garantias de crédito ao consumidor”, concluiu Damaso. Na sequência, Vander Nagata, VP de

“ATÉ QUE A ADESÃO AUTOMÁTICA AO CADASTRO POSITIVO SEJA AUTORIZADA, ESSA TROCA DE IDEIAS TORNA-SE ESSENCIAL”

PAULO MELO: diretor de Relações Institucionais da Serasa Experian

Fotos: Luciano Piva

OTÁVIO RIBEIRO DAMASO: diretor de Regulação do Banco Central

“O CADASTRO POSITIVO É UM DOS INSTRUMENTOS MAIS IMPORTANTES PARA A REDUÇÃO DO SPREAD BANCÁRIO”


cadastro positivo | financeiro

VANDER NAGATA: VP de Consumer Information da Serasa Experian

“O CONSUMIDOR PERCEBERÁ QUE A SUA PONTUALIDADE NOS PAGAMENTOS... O BENEFICIARÁ NO FUTURO”

Consumer Information da Serasa Experian, demonstrou aos convidados do seminário os benefícios do Cadastro Positivo para que se enxergue de forma mais completa a realidade do consumidor. Lavando-se em conta não só a sua renda como também o seu histórico de consumo, favorecendo o ciclo sustentável do crédito, a redução da inadimplência e, consequentemente, a diminuição do custo do crédito. “O Cadastro Positivo também contribui em uma mudança cultural do consumidor em relação ao crédito, pois, em uma visão de longo prazo, ele perceberá que a sua pontualidade nos pagamentos estará registrada no seu histórico de crédito e o beneficiará no futuro”, argumentou Nagata. Segundo o executivo da Serasa, temos no Brasil cerca de 60 milhões de consumidores inadimplentes, totalizando uma dívida de R$ 220 milhões, R$ 4.800 por pessoa. Ao distribuirmos esses devedores por segmento, temos 30,7% comprometidos com bancos e cartões, 17,7% com serviços de utilidade pública, 13,6% com a varejo, 11,9% com a área de serviços, 10,8% com telefonia, 9,4% com financeiras/leasing e 5,9% com outros setores. Ainda de acordo com Nagata, um estudo do IFC (International Finance Group), instituição do Banco Mundial, a adesão automática ao Cadastro Positivo provocaria queda de 45% nos níveis de inadimplência, redução de 4,05

pontos percentuais no spread bancário e ainda a possibilidade de aumentar a taxa anual do PIB em 0,54 ponto percentual. “84% dos 32 bureaux de crédito que a Serasa opera ao redor do mundo atuam com dados positivos e negativos. Atualmente, o Brasil e a Austrália estão em transição para a adoção dos Cadastro Positivo. E apenas a Estônia, os Países Baixos e a Noruega ainda optam por levar em conta somente os dados negativos do consumidor”, contou o VP de Consumer Information da Serasa Experian, antes de finalizar sua palestra. Logo após a exposição de Nagata, Murilo Portugal Filho, presidente da Febraban, ponderou que o crédito é um instrumento muito poderoso e importante tanto na vida das pessoas como no

desenvolvimento da economia nacional. No entanto, os bancos devem trabalhar com informações cada vez mais consistentes sobre o tomador de crédito para evitar riscos com a inadimplência. “Com a adesão automática ao Cadastro Positivo, conseguiríamos avaliar melhor o perfil do cliente e reduzir o custo do crédito”, argumenta Murilo Portugal. “O nosso risco atualmente é quatro vezes maior do que a média em outros países relevantes”, comparou ele. No entanto, o presidente da Febraban alertou sobre a responsabilização objetiva e solidária que deve haver entre os bancos de dados, as fontes e os consulentes, pois, eventuais falhas de segurança no processo ou uso inadequado dos dados de crédito podem gerar ações contra a fonte de informação, mesmo que esta não tenha sido responsável pelo erro. Por isso, a Febraban tem um grupo de trabalho dedicado ao Cadastro Positivo e, por meio da CIP (Câmara Interbancária de Pagamentos), tornou o uso dos dados ainda mais eficiente e seguro. Atualmente, 130 bancos já estão homologados a interatuar, via CIP, com o Cadastro Positivo”, informou Murilo Portugal. “Contribuir com o aperfeiçoamento da gestão do crédito no País, em uma perspectiva de longo prazo, criará condições para a redução da inadimplência e do superendividamento das famílias, permitindo também a inclusão financeira de milhões de consumidores”, finalizou o presidente da Febraban. f

“CONTRIBUIR COM O APERFEIÇOAMENTO DA GESTÃO DO CRÉDITO CRIARÁ CONDIÇÕES PARA A REDUÇÃO DA INADIMPLÊNCIA”

MURILO PORTUGAL FILHO: presidente da Febraban

Maio 2017 FINANCEIRO 31


financeiro | seminário

ANTÔNIO GUSTAVO RODRIGUES: presidente do COAF

TRILHAS DA

INOVAÇÃO S

e existe um assunto que evolui constantemente e nunca se esgota é tecnologia. Por reconhecer a importância do tema no avanço das operações no mercado financeiro, a ACREFI organizou dia 25 de abril, no Renaissance São Paulo Hotel, o seminário “Inovação e Tecnologia na Evolução dos Negócios”. Para expor as novidades e debater os impactos gerados pelo progresso digital na área de crédito, o evento reuniu Antônio Gustavo Rodrigues, presidente do COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras); Paschoal Baptista, sócio da área de Ser32 FINANCEIRO Maio 2017

“VÁRIAS DAS FERRAMENTAS QUE USÁVAMOS PARA CONSEGUIR CRÉDITO ESTÃO EM PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO TECNOLÓGICA”

PASCHOAL BAPTISTA: sócio da área de Serviços Financeiros da Deloitte

Fotos: Luciano Piva

Seminário da ACREFI apresenta as tendências da tecnologia que tornam o mercado financeiro ainda mais eficiente, ágil e seguro


tecnologia | financeiro

FERNANDA MONNERAT: diretora da Serasa Consumidor

“ACREDITAMOS QUE ATUALMENTE O CLIENTE PASSA POR UM PROCESSO DE EMPODERAMENTO E, POR ISSO, BUSCA MAIS INFORMAÇÕES”

viços Financeiros da Deloitte; e Fernanda Monnerat, diretora da Serasa Consumidor. O encontro foi patrocinado pela B3, Serasa Experian, Credilink e CNseg. Antes de passar a palavra aos expositores, André de Carvalho Novaes, diretor-secretário da ACREFI, abriu o seminário dizendo que as empresas financeiras devem aproveitar as oportunidades diante desses primeiros sinais da recuperação econômica do País. “As instituições de crédito, que sempre se preocuparam em gerir suas carteiras, agora precisam focar mais atenção na experiência do cliente, buscando gerar diferenciais nos canais da internet”, comentou Novaes. Logo em seguida, Paschoal Baptista, da Deloitte, abordou as principais inovações tecnológicas do mercado e como impactaram no consumo dos serviços. “Várias das ferramentas que usávamos para conseguir crédito, por exemplo, estão em processo de mudança por conta das transformações tecnológicas. Podemos dizer que a inovação é previsível, pois sempre surge quando algo não funciona bem, lembrou Baptista. O executivo da Deloitte enumerou também algumas das tendências tecnológicas previstas para o setor financeiros ainda em 2017. Ele aponta o It UnBounded, em que áreas de TI deixam de ser fechadas e passam a interagir com outros setores; Dark Analytics, que trata de informações em formato de imagem e de vídeo que passarão a ser transformadas em conteúdo para análise; e Machine

Intelligence, sobre trabalhos que passarão a ser realizados por robotics solutions, machine learning, entre outros, a fim de resultar em maior produtividade. Mais uma novidade é o Mixed Reality, utilização dos conceitos de Internet das Coisas e Realidade Virtual no mercado de bens. “Tudo isso será feito por via digital, influenciando, por exemplo, as áreas de treinamento e de vendas”, sinalizou. Baptista aproveitou também para apresentar o Robotic Process Automation (RPA), uma das soluções da Deloitte para o segmento. Trata-se de robôs de software, que automatizam processos repetitivos, replicando interações humanas no ambiente virtual e promovendo a melhoria da qualidade e do tempo dos processos. Já Fernanda Monnerat, da Serasa, exibiu uma nova solução da empresa, que

permite enxergar o consumidor de crédito por um ângulo diferente. “Acreditamos que atualmente o cliente passa por um processo de empoderamento e, por isso, busca mais informações. Com o Serasa Score, programa composto pelas informações mais relevantes relacionadas aos hábitos financeiros dos consumidores, é possível estabelecer uma pontuação fiel de acordo com o perfil de cada usuário”, garantiu Monnerat. A fim de explicar melhor a dinâmica do COAF, Antônio Gustavo Rodrigues, presidente do órgão do Ministério da Fazenda, falou sobre o trabalho cotidiano realizado por sua equipe. “Lidamos diariamente com um volume expressivo de informações vindas de vários setores da economia. Recebemos diversos tipos de comunicações, enviadas de origens muito diferentes e que devem ser analisadas da melhor maneira possível”, explicou Rodrigues. Para isso, o conteúdo é depurado e avaliado ao longo de algumas etapas: recebimento das informações, análise individualizada, abertura de caso, relatório de inteligência financeira e gerenciamento de riscos e de prioridades. “É nesse contexto que buscamos a racionalização e a transparência de todo o processo, o que faz da qualidade da informação um bem muito importante para nós. Acredito que criamos um sistema moderno e confiável, que permite contar com a credibilidade das autoridades e da sociedade”, finalizou Rodrigues. f

“AS INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO PRECISAM FOCAR MAIS ATENÇÃO NA EXPERIÊNCIA DO CLIENTE”

ANDRÉ DE CARVALHO NOVAES: diretor-secretário da ACREFI

Maio 2017 FINANCEIRO 33


financeiro | artigo

O FGC E OS PROBLEMAS QUE NÃO PODEMOS VER O fundo evita que instituições financeiras venham a não honrar suas obrigações, mediante um auxílio de liquidez em um momento difícil POR CAETANO DE VASCONCELLOS NETO* E VICENTE BRAGA**

A

lém de um hábil estadista, Winston Churchill foi um grande frasista. Em verdade, como conta uma interessante biografia lançada recentemente, a ascensão de Churchill à vida pública deu-se por meio da sua habilidade com as palavras, vez que iniciou sua carreira como correspondente de guerra, rapidamente se destacando pela qualidade de sua prosa, a qual, inclusive, veio a lhe render o Prêmio Nobel da Literatura em 1953. Dentre as pérolas de perspicácia e sabedoria cunhadas por Churchill, uma merece destaque para o assunto deste artigo: “Quando olho para todas essas preocupações, lembro-me da história do velho homem que disse, em seu leito de morte, haver tido muitos problemas em sua vida, a maioria dos quais nunca aconteceu”. Essa frase tem o mérito de demonstrar que é um tanto quanto inútil a preocu34 FINANCEIRO Maio 2017

“O FGC GARANTE A TOTALIDADE DE 99,6% DOS DEPÓSITOS DETIDOS POR CLIENTES” pação com problemas que ainda não se materializaram. Aqui ela merece destaque porque, o que muitas vezes a maioria ignora, é que a não materialização de muitos problemas deve-se à uma intensa atuação preventiva. Essa situação é um muito da história do FGC (Fundo Garantidor de Créditos).

Criado há 21 anos em meio a uma grave crise bancária, o fundo prestou garantia aos depositantes de todas as 34 instituições financeiras que quebraram desde 1996. Isso mitigou os traumas da população relacionados à quebra de bancos, grande parte da qual não faz ideia do que tantas instituições financeiras passaram nos últimos anos. Além disso, o FGC atuou antecipadamente em diversos casos. Por vezes, conseguiu evitar que instituições financeiras viessem a não honrar suas obrigações, mediante um auxílio de liquidez em um momento difícil. Em outras, viabilizou a assunção das atividades de uma instituição financeira de saúde débil por outra sólida, engendrando o que se conhece como solução de mercado. E, quando inviável a recuperação, atuou para possibilitar uma saída organizada do sistema financeiro, com a quitação integral do passivo bancário. Nos casos mais críticos, para mitigar os efeitos de uma quebra


FGC | financeiro iminente e inevitável, o FGC administrou medidas paliativas, diminuindo significativamente o passivo das instituições em dificuldade e, por conseguinte, o trauma de sua quebra na economia real. Atualmente, o FGC garante a totalidade de 99,6% dos depósitos detidos por clientes em instituições financeiras no Brasil, mediante a garantia de depósitos e algumas modalidades de renda fixa até R$ 250 mil por pessoa (física ou jurídica), por instituição ou conglomerado financeiro. Garantia essa que representa mais de oito vezes o PIB per capita nacional, razão consideravelmente superior ao que é praticado em outros países (nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, essa relação é a metade da brasileira e, na Espanha, cerca de um quarto), contribuindo para promover a inclusão financeira de expressiva parte da população, que em geral não goza de condições técnicas e materiais para observar e entender a situação das instituições financeiras. Essa garantia ordinária é complementada pelo Depósito a Prazo com Garantia Especial – DPGE, modalidade especial por meio da qual o FGC garante depósitos de até R$ 20 milhões. DPGE esse que, em momentos de turbulência econômica, contribui para manter viável a operação de instituições financeiras de médio e pequeno portes (por meio do desincentivo a saques de clientes com depósitos superiores a R$ 250 mil), de modo a evitar a intensificação da já elevada concentração do setor bancário.

O breve panorama exposto demonstra claramente que há muito trabalho por trás da relativa tranquilidade, fruída pelo setor bancário desde 1996 aos olhos da opinião pública. Trabalho que é levado a cabo por uma estrutura enxuta (somos menos de 40 entre empregados e administradores), gerida pelo setor privado e sem ônus para os cofres públicos, custeado pelo próprio sistema. E o trabalho não se limita ao narrado acima. Recentemente, o FGC se viu obrigado a defender na Justiça a lógica, a forma e os métodos pelos quais presta a sua garantia. Mais especificamente, o FGC foi alvo de pleitos desarrazoados, numa tentativa de transformar (ou subverter) a garantia pres-

“HÁ MUITO TRABALHO POR TRÁS DA RELATIVA TRANQUILIDADE, FRUÍDA PELO SETOR BANCÁRIO DESDE 1996 AOS OLHOS DA OPINIÃO PÚBLICA”

*CAETANO DE VASCONCELLOS NETO Advogado e conselheiro do FGC

tada a pequenos depositantes, ao cliente médio, em um “seguro” ilimitado para investimentos de alto risco, feito por investidores institucionais/profissionais. Felizmente, e com o indispensável concurso do Banco Central do Brasil, por sua Procuradoria-Geral, os resultados desses embates têm sido positivos, com o Poder Judiciário, destacadamente o STJ, demonstrando grande sensibilidade e sensatez no julgamento de questões jurídicas com grande potencial de impacto econômico. Hoje se tem, portanto, que a prestação rápida e suficiente das garantias ofertadas, o sucesso auferido em sua atuação preventiva e o êxito obtido em embates judiciais ajudaram a consolidar a atuação do FGC. Assistiu-se, assim, ao aumento gradual das competências e responsabilidades do FGC na prevenção e na contenção de crises bancárias. Afinal, a autoridade reguladora vê hoje nele um instrumento eficiente e idôneo de solução de problemas complexos do setor privado, pelo setor privado e sem custos ao contribuinte. Para voltar a Churchill, seu repertório possui outra interessante frase que elucida este momento: “Os problemas da vitória são mais agradáveis do que aqueles da derrota, mas não são menos difíceis”. Assim, sedimentamos a expectativa de que a sociedade possa continuar não se preocupando com os problemas do sistema financeiro nacional, que conta, há 21 anos, com mais um (importante) ator trabalhando para que esses problemas não se materializem. f

**VICENTE BRAGA

Advogado, mestre pela EDESP-FGV e doutorando pela FD-USP. Maio 2017 FINANCEIRO 35


financeiro | workshop

ALERTA REDOBRADO

Em evento exclusivo para associados, a ACREFI chama atenção das empresas para os avanços nos conceitos e nas ferramentas de compliance no ambiente dos negócios

36 FINANCEIRO Maio 2017

agentes públicos e da repercussão dos episódios na mídia. “Nos momentos de crise, com as equipes pressionadas a atingir metas, a atenção das empresas deve ser redobrada com o compliance, pois falhas podem ocorrer com maior frequência no monitoramento das informações”, alerta Alessandra Gonsales. “É preciso estar sempre alerta. E pensar: se acon-

teceu com o meu vizinho, por que não pode acontecer comigo?”, sugeriu ela. Ruben Delfini sugeriu, entre os focos de atenção, eventuais dependências exageradas de empresas em apenas um cliente. Em caso de envolvimento de um deles com o ilícito, as consequências são mais rápidas e significativas. Ele lembrou também que multas e sanções, depois de pagas, são penalidades

“É PRECISO ESTAR SEMPRE ALERTA. E PENSAR: SE ACONTECEU COM O MEU VIZINHO, POR QUE NÃO PODE ACONTECER COMIGO?”

ALESSANDRA GONSALES: sócia do escritório WFaria Advogados

Fotos: Aline Araújo

D

iz-me com quem andas e te direi quem és! Esta expressão popular pode dimensionar de maneira simples um conceito que ganha relevância no ambiente dos negócios: o compliance reputacional. Atenta às tendências no universo corporativo, a ACREFI realizou dia 10 de abril, em parceria com LexisNexis Risk Solutions, um workshop exclusivo para os associados sobre o tema. O encontro contou com a participação dos especialistas: Alessandra Gonsales, sócia do escritório WFaria Advogados; e Ruben Delfini, gerente de Desenvolvimento de Negócios da LexisNexis. Num tempo em que nos surpreendemos diariamente com novos casos e personagens envolvidos com corrupção e lavagem de dinheiro, o compliance reputacional vai muito mais fundo na avaliação e no cruzamento dos dados. O processo envolve, entre outras coisas, a análise do perfil e das ações dos clientes das empresas, a vigilância sobre a postura e as atitudes dos


compliance | financeiro recebe uma ligação sugerindo algo ligado à corrupção, saiba que você pode ser alvo de processo pelo Foreign Corrupt Practices Act (FCPA)”, explicou ele. Portanto, como se vê, adotar programas de compliance tornou-se um

investimento praticamente obrigatório para as empresas que buscam se consolidar no seu segmento, respaldadas em conceitos de transparência e de ética, além da necessidade de disseminar essa cultura entre os colaboradores. f

“O COMPLIANCE REPUTACIONAL DEVE GANHAR CADA VEZ MAIS ATENÇÃO ENTRE AS PRIORIDADES DAS CORPORAÇÕES”

RUBEN DELFINI: gerente de Desenvolvimento de Negócios da LexisNexis

EDF

que até podemos considerar passageiras. No entanto, no caso dos frigoríficos envolvidos na operação da Polícia Federal, desencadeada pelo Ministério Público, por exemplo, a imagem e a reputação dessas empresas foram seriamente comprometidas em apenas um dia, além de milhões em prejuízos. “É por isso que o compliance reputacional deve ganhar cada vez mais atenção entre as prioridades das corpora-ções”, recomendou Delfini. Segundo o executivo da LexisNexis, com a globalização das transações comerciais, a pesquisa de due diligence reduz os riscos relacionados a sanções internacionais envolvendo empresas em lista negra, informações negativas divulgadas na mídia, seu histórico de litígios, etc. “Muitas vezes a sua empresa pode não ter nenhum vínculo comercial com os Estados Unidos, mas

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financeiro | artigo

O PAÍS DA

ILUSÃO

FISCAL

Os idosos merecem toda a consideração, mas, infelizmente, a discussão chegou a um ponto em que se arrisca a não ter nada para pagar os próprios aposentados POR SERGIO VALE

E

m junho, o Brasil completa quatro anos de turbulências ininterruptas. Desde as manifestações de 2013, foram inúmeros os eventos que o colocaram em permanente estado de crise. Se em um primeiro momento os pedidos eram por mais serviços de qualidade, hoje essa mesma sociedade se nega a querer esses serviços ao desconsiderar a reforma da previdência. Para melhorar, a qualidade do gasto público terá que passar inexoravelmente pela escolha da população, se deseja continuar desviando recursos escassos para a população mais velha. Obviamente, os idosos merecem toda a consideração, mas, infelizmente, a discussão chegou a um ponto em que se arrisca 38 FINANCEIRO Maio 2017

“FORAM ANOS DE ACOMODAÇÃO DE UM GASTO INCOMPATÍVEL COM A ESTRUTURA FISCAL BRASILEIRA”

a não ter nada para pagar os próprios aposentados. Situação, aliás, que já ocorre no Rio de Janeiro. Tão devastadora situação a que chegamos é fruto do “deixar para depois” que nos acompanha de nascença. Foram anos de acomodação de um gasto incompatível com a estrutura fiscal brasileira, que era acomodada ilusoriamente pelo farto e temporário crescimento dos idos anos de Lula. Criaram-se gastos sociais e se aumentou o salário mínimo em um ritmo quatro vezes maior que o crescimento da produtividade. Pagar por isso hoje só poderia vir por aumento significativo dos impostos ou de controle forte dos gastos. Sabiamente, o governo optou pelo controle de gastos, única solução du-


previdência | financeiro radoura para gerar crescimento futuro, pois evita aumentos adicionais de impostos, além de permitir, com o tempo, que o ajuste fiscal ocorra de modo que caiam a dívida e a taxa de juros. Não se criou ainda melhor ajuste fiscal do que esse. Mas, cortar gasto público no Brasil é matar, em alusão à inesquecível frase da ex-presidente, para quem gasto público é vida. Nessa desavergonhada vontade do brasileiro de manter seu status quo, segundo a qual direitos são para todo o sempre e que se ache outro jeito de pagar as contas. Como, de fato, contrapor-se a cerca de 140 milhões de pessoas que, direta ou indiretamente, dependem de algum recurso do Estado? Pense na sua família e certamente lembrará de alguém que trabalhe no governo, em alguma esfera qualquer. Claro, o serviço público é necessário e há muitos de extrema qualidade, mas o Brasil infelizmente peca por excesso nessa área. Serviços que poderiam há muito ser privados continuam estatais. Em um mundo que, desesperadamente, busca aumento de produtividade, as inovações tecnológicas atropelaram qualquer país afundado na lógica antiga de agarrar-se ao Estado para tudo resolver. Isso vale, inclusive, para as inúmeras empresas que se acostumaram mal com BNDES e com desonerações sem fim. Como nos lembra Richard Baldwin,

“O SERVIÇO PÚBLICO É NECESSÁRIO E HÁ MUITOS DE EXTREMA QUALIDADE, MAS O BRASIL INFELIZMENTE PECA POR EXCESSO NESSA ÁREA” em seu importante livro The Great Convergence, o mundo tornou-se integrado em cadeias de produção, o que significa que não faz sentido mais para nenhum país se manter fechado. Se tal país quiser se integrar, ele precisa permitir a livre entrada de insumos e produtos finais, pois ele faz parte de uma

cadeia e não é mais o produto isolado de início ao fim de um único produto. Mas, a mentalidade brasileira ainda vê graça em taxar produtos importados, jogar IPI na importação de carros e outros atrasos do tipo. Esse país que lá atrás, em 2013, pediu mais serviços de qualidade esqueceu de focar no que é relevante. Educação e saúde de qualidade deveriam ser o foco de qualquer governo e a Inglaterra talvez seja o modelo mais próximo de uma sociedade que focou no correto: dar as condições básicas para o cidadão ser cidadão. Mas aqui as demandas sempre foram maiores do que as condições de oferta e também se deseja, além do básico, todo o resto. Desde subsídio à casa própria com juros baixos de banco público a benefícios de todos os tipos, esses excessos é que ajudam a explicar a incapacidade de fornecer o básico. Quando se quer dar tudo, nem o mínimo se sustenta. Saberemos mais à frente se a população continuará na ilusão de tudo querer quando da votação da reforma da previdência. A sua não aprovação terá como inevitável consequência a piora no que já se oferece, com mais imposto sendo tirado de quem já o paga em demasia. Mas, talvez, nem quatro anos de crise possam ter sido suficientes para convencer a população do inevitável encontro das contas com a realidade. f

SERGIO VALE

Economista-chefe da MB Associados. Maio 2017 FINANCEIRO 39


financeiro | painel B3

Vendas financiadas de veículos somam 1,2 milhão de unidades no 1º trimestre

O

volume de financiamentos de veículos encerrou o primeiro trimestre do ano com 1.208.969 unidades, entre autos leves, motos e pesados. O resultado mostra um aumento de 7,2% em relação ao mesmo período de 2016. Os dados consideram unidades novas e usadas. O levantamento é da B3, empresa resultante da combinação de atividades da BM&FBOVESPA, uma das maiores bolsas do mundo em valor de mercado, e a Cetip, maior depositária de títulos privados da América Latina. A B3 opera o Sistema Nacional de Gravames (SNG), base integrada de informações que reúne o cadastro das restrições financeiras de veículos dados como garantia em operações de crédito em todo o Brasil. O SNG impede que o processo de financiamento de veículos seja suscetível a fraudes sistêmicas.

Enquanto os financiamentos de veículos novos registram queda de 7,2% no primeiro trimestre do ano, em relação ao mesmo período de 2016, os usados mantêm o movimento de avanço, acumulando alta de 16,5%, na mesma base de comparação, com 799.257 unidades negociadas no período. 40 FINANCEIRO Maio 2017


Financiamentos de autos leves usados avançam 16,2% na comparação anual “O avanço de 9,8% nas vendas financiadas dos autos leves foi impulsionado pela alta nos financiamentos das unidades usadas, que cresceram 16,2% no primeiro trimestre do ano”, disse Marcus Lavorato, gerente de Relações Institucionais da B3. Entre os automóveis leves, foram financiadas 245.826 unidades novas nos três primeiros meses do ano, queda de 5,6% na comparação com o mesmo período do ano passado. Já as vendas a prazo de carros usados totalizaram 734.622 unidades, aumento de 16,2% na mesma base de comparação.

No primeiro trimestre, os autos leves com nove a 12 anos de uso avançaram 45,5%, na comparação com o mesmo período de 2016, com 122.043 carros negociados. Os carros com quatro a oito anos de uso também apresentaram alta de 17,8% e somaram 420.157 unidades vendidas a prazo. Já os autos leves novos e com até três anos de uso mostraram queda de 5,6% e 5,8%, respectivamente, em fevereiro. Considerando as modalidades de financiamento, o CDC continua sendo a mais utilizada pelos consumidores, com 1.000.990 unidades negociadas no primeiro trimestre do ano, avanço de 10,8% na comparação com o mesmo período de 2016.

O prazo médio de financiamento de autos leves de quatro a oito anos de uso aumentou de 42,5 para 43,3 meses no primeiro trimestre, em relação ao mesmo período de 2016. Já o prazo para carros com mais de 12 anos recuou de 36,7 para 35,8 meses, na mesma base de comparação.

Maio 2017 FINANCEIRO 41


Foto: Maurício Nahas

Ponto de Criação

SONHAR Kaike, paciente do GRAACC, com Reynaldo Gianecchini

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1991

1998

2013


artigo | financeiro

BOAS NOVAS NA LEI DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL É recomendável focar a sua revisão em três pontos: empréstimos com garantias de alienação/cessão fiduciária; dívidas fiscais; e atuação do Judiciário quando se trata do tema POR FÁBIO ASTRAUSKAS*

O

Ministério da Fazenda deu um passo importante para discutir mudanças na lei 11.101/2005 que rege as falências e recuperações judiciais, com a publicação da portaria MF 467, de 16/12/2016. A atual legislação, que entrou em vigor em 2005, foi uma reforma necessária que trouxe benefícios para as partes envolvidas. Com mudanças no cenário econômico e jurídico, porém, é preciso fazer alterações para aprimorar a lei e ajustá-la à nova realidade. Trata-se de um assunto abrangente, com vários temas distintos. Em nossa avaliação é recomendável focar a revisão em três pontos: empréstimos com garantias de alienação/cessão fiduciária; dívidas fiscais; e atuação do Judiciário quando se trata do tema. No primeiro, é preciso lembrar que a classificação dos créditos sujeitos a

“PARA QUEM PEDE RECUPERAÇÃO, UM PRAZO LONGO É PREJUDICIAL, POIS A EMPRESA FICA EXPOSTA A UMA SÉRIE DE RISCOS”

recuperação judicial não progrediu. A lei complementar 147/2014 instituiu a classe IV – titulares de créditos enquadrados como ME e EPP. Essa mudança trouxe pouco benefício e criou polêmica na interpretação dos critérios de aprovação do Plano de Recuperação Judicial. Por outro lado, a principal modalidade de empréstimo financeiro está vinculada à alienação fiduciária. Ela não está sujeita aos efeitos da recuperação judicial e abrange o principal montante de dívida da empresa em grande parte dos atuais casos. A sujeição dessa modalidade à Lei é crucial para aumentar as chances de recuperação da empresa. Atualmente, os credores concordam que é preciso alterar a lei, incluindo a alienação fiduciária, promovendo meios mais eficazes de garantir a recuperação desses créditos, seja por meio da criação de uma classe especial de credores ou outros meios. Maio 2017 FINANCEIRO 43


financeiro | recuperação judicial O segundo ponto trata das dívidas tributárias. Houve uma iniciativa em âmbito federal em 2009 e alterada em 2015, que regulamentou um parcelamento especial em 84 meses para empresas em recuperação judicial. O prazo é inferior se comparado a outros parcelamentos já concedidos. As condições também são mais restritivas e não favorecem o soerguimento de uma empresa. E ainda há a necessidade de se regulamentar parcelamentos nas esferas estaduais e municipais. O assunto precisa ser discutido, pois em muitos casos, a principal dívida da empresa é de natureza tributária. Propostas como dilação do prazo de pagamento, e utilização integral do prejuízo fiscal para compensação da dívida devem estar na pauta do grupo de trabalho. É verdade que o assunto é delicado para os técnicos da Receita Federal, que obviamente estão preocupados com os efeitos disso na arrecadação. Certamente, este será um ponto polêmico e de difícil avanço. Quanto ao Judiciário, a lei estabelece que o pedido de recuperação seja imediatamente analisado e deferido pelo juiz da comarca principal da empresa. Porém, cada juiz cria um ritual próprio de análise do pedido. Muitas vezes, este permanece semanas em análise. Para quem pede recuperação, um prazo longo é prejudicial, pois a empresa fica exposta a uma série de riscos. E depois do deferimento, uma cadeia de prazos

“OUTRA IDEIA É QUE A EMPRESA COM PLANO APROVADO TENHA A RECUPERAÇÃO ENCERRADA NO MOMENTO DA APROVAÇÃO PELA ASSEMBLEIA” de impugnações e contestações acarreta demora na realização da assembleia geral de credores e na homologação da recuperação judicial. Enquanto isso, fornecedores, trabalhadores, clientes e financiadores sentem-se inseguros, diminuindo suas chances de sucesso. E a via crucis ainda se estende por pelo menos mais dois anos após a homologação, obrigando a empresa a carregar o aposto de “em recuperação judicial”, o que a classifica como rating de risco para os

*FÁBIO ASTRAUSKAS CEO da Siegen Consultoria 44 FINANCEIRO Maio 2017

bancos. A consequência disso é: crédito escasso e juros maiores. As alternativas para aliviar esse quadro podem ser a definição de um prazo máximo entre o pedido e o deferimento da recuperação, de 2 a 5 dias úteis. Outra ideia é que a empresa com plano aprovado tenha a recuperação encerrada no momento da aprovação pela assembleia, o que evitaria tantas burocracias e traria rapidamente seu rating no mercado de crédito. Para isso, é recomendável que o juiz seja uma pessoa especializada. Hoje, com exceção das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Campo Grande, onde há varas especializadas, o Brasil não possui juízes especializados em recuperação judicial, ou seja, o mesmo que analisa o pedido também julga questões da vara de família, e tantos outros processos. A sugestão é criar varas especiais, instaladas por regiões para analisar somente os pedidos daquela jurisdição. Todos esses assuntos estão na pauta do grupo que se tem reunido no Ministério da Fazenda. Esse é formado por técnicos da Receita Federal, juízes, advogados especializados de credores e devedores e membros do TMA Brasil. Se o objetivo for alcançado, os maiores beneficiados não serão apenas essas empresas, mas sim a economia brasileira, que certamente tem a ganhar se contar com companhias cada vez mais saudáveis e em condições de investir, gerar empregos e arrecadar impostos. f


estante | financeiro

LIVROS 10 BRASILEIROS NOTA 10 Celso Furtado, Ariano Suassuna, Fernanda Montenegro, Orlando Villas-Bôas e Oscar Niemayer são algumas das personalidades nacionais reunidas pelo autor neste trabalho por sua capacidade de transformar o brasileirismo em razão de ser. Tornaram-se nota 10 não apenas pela condição de terem nascido aqui, mas pela dignidade e pelo trabalho com que honraram o estigma, trunfo ou até mesmo fardo que é ser brasileiro. Autor: Luís Pimentel I Editora: Moderna

HISTÓRIAS DE SUCESSO 2 Luciano André Ribeiro (Itaú), Danielle Bibas (Avon), Rodrigo Kede Lima (IBM) e Luiz Claudio Menezes (Lexmark) integram a seleção de 37 executivos garimpados pela coach Fabiana Monteiro para a segunda edição da série Histórias de Sucesso. Além de apresentar cases bem-sucedidos, a organizadora também mostra, por meio de depoimentos sucintos, como esses profissionais conquistaram visibilidade no mundo corporativo. Organizadora: Fabiana Monteiro I Editora: Global Partners

TANCREDO NEVES, O PRÍNCIPE CIVIL Mais do que a biografia de um dos políticos mais influentes do Brasil, Plínio Fraga faz uma grande reportagem sobre os bastidores do poder entre as décadas de 1950 e 1980. Silencioso nas articulações e estrondoso na tribuna, ele foi ministro da Justiça de Getúlio Vargas, primeiro-ministro no parlamentarismo de João Goulart, governador de Minas Gerais, senador, até eleger-se indiretamente à Presidência da República, em 1985, ainda pelas regras do regime militar. Autor: Plínio Fraga I Editora: Objetiva

COMO MATAR A BORBOLETA-AZUL Extinção da borboleta-azul no sul do país é a metáfora escolhida pela economista Monica de Bolle para descrever a desconstrução do Brasil durante a gestão de Dilma Rousseff. A autora acompanha erros e desacertos da ex-Presidente, ano a ano, passo a passo, desvendando cada um de seus desatinos. Porém, no lugar de gráficos e tabelas, o leitor encontra drama, suspense e terror, com vilãs, vilões e pouquíssimos heróis. Autora: Monica de Bolle I Editora: Intrínseca Maio 2017 FINANCEIRO 45


Viva o Centro 25 anos

Foto: Fabio Mattos / Associação Viva o Centro

Apoie a requalificação do Centro de São Paulo. Associe-se à Viva o Centro. www.vivaocentro.org.br

Associação Viva o Centro

Rua da Quitanda, 80 - Térreo - Centro São Paulo - SP - CEP 01012-010 11 3556-8999 / avc@vivaocentro.org.br A Associação Viva o Centro é reconhecida como Entidade de Utilidade Pública pelos governos do Município de São Paulo, do Estado de São Paulo e Federal (DOU de 10/03/2000) e como Entidade Ambientalista, Entidade Promotora de Direitos Humanos e Instituição Cultural pelo Governo do Estado de São Paulo.


cultura | financeiro

OS SERTÕES: um dos exemplares raros do acervo

JOSÉ MINDLIN (1914 – 2010): mais de 80 anos dedicados aos livros

Fotos: Divulgação USP

TEMPLO DAS LETRAS Doado à Universidade de São Paulo, o acervo da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin reúne mais de 32 mil títulos. São obras valiosas da literatura, história, relatos de viajantes, manuscritos históricos e literários, documentos, periódicos, mapas, etc.

Q

uem frequenta o campus da Universidade de São Paulo, na capital paulista, pode ter deixado passar despercebido o prédio da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin ou viu e não conseguiu dedicar a merecida atenção. Pois saiba que ali está abrigado o valioso acervo, com mais de 32 mil títulos, que o empresário e bibliófilo José Mindlin reuniu ao longo de mais 80 anos, desde a sua adolescência, e doou à USP em 2006, quatro anos antes do seu falecimento, em um gesto de generosidade aos amantes da cultura nacional. A nova sede da biblioteca, porém, foi

inaugurada apenas em março de 2013. Assinado pelos arquitetos Eduardo de Almeida e Rodrigo Mindlin (neto do bibliófilo), o espaço é cercado de todos os cuidados para a preservação de relíquias de literatura, história, relatos de viajantes, manuscritos históricos e literários, documentos, periódicos, mapas, livros científicos e didáticos, iconografia e livros de artistas. O acervo inclui também 2.300 títulos doados ao casal Mindlin pelo bibliófilo e bibliotecário Rubens Borba de Moraes, em quem José Mindlin reconhecia “uma espécie de irmão mais velho”, falecido em 1986. Faça uma visita, você não se arrependerá. f Maio 2017 FINANCEIRO 47


financeiro | estilo

OÁSIS PAULISTANO Q

uem frequenta o Parque Burle Marx há anos, acostumou-se a ver, integrado à paisagem, o esqueleto de um castelo entremeado à vegetação da região do Panamby, na zona sul de São Paulo. Porém, a esquecida estrutura acolhe agora o luxuoso Palácio Tangará, considerado por muitos o primeiro hotel “seis estrelas” do Brasil. Com investimen48 FINANCEIRO Maio 2017

to estimado em R$ 100 milhões, seus 141 apartamentos – todos com vista para o parque −, dos quais 59 suítes, são decorados com muito requinte, mas sem a menor ostentação. Tudo na medida certa. Primeiro empreendimento da conceituada rede europeia Oetker Collection na América do Sul, o Tangará veio para atrair clientes que buscam os chamados hotel boutique,

acostumados a se hospedar, por exemplo, no Fasano ou no Emiliano. “Estamos animados em trazer a experiência europeia, combinada com o modo de viver brasileiro para esta cidade vibrante”, declarou Celso David do Valle, diretor geral do Palácio Tangará. Além do spa, da vistosa piscina externa e dos amplos salões para eventos, uma das principais atrações do novo hotel está no


palácio tangara | financeiro

JEAN-GEORGES VONGERICHTEN: chef que assina o cardápio do Palácio Tangará

Fotos: Divulgação Palácio Tangará

Ao lado do Parque Burle Marx, em São Paulo, o Palácio Tangará, considerado o primeiro hotel “seis estrelas” do Brasil, desperta atenção pelo requinte e bom gosto das suítes e pelo cardápio do premiado chef francês Jean-Georges Vongerichten menu do seu restaurante, assinado pelo chef francês Jean-Georges Vongerichten, um dos mestres da gastronomia internacional. Dono de três estrelas no Guia Michelin, conquistadas por seu restaurante em Nova York, Vongerichten é referência quando se levam em conta os sabores e os ingrediente orientais. “A herança brasileira, o estilo de vida e a

cultura alegres, a imensa variedade de produtos locais, combinados com a arquitetura espetacular do hotel tornam este projeto muito especial”, afirmou Vongerichten. Com 32 restaurantes distribuídos pelo mundo, o do Palácio Tangará é a sua 33ª casa. Para auxiliá-lo nessa nova empreitada, Vongerichten contará com o apoio executivo do chef Pascal Valero, que já atuou

por aqui no Le Coq Hardy, no NB Steak e no Kaá, entre outros. Se quiser espreguiçar-se em um dos quartos do Palácio Tangará, prepare-se para gastar cerca de R$ 1,6 mil por estadia. Se a sua opção for pela suíte Royal, com nada menos que 528 m², sua extravagância custará mais de R$ 38 mil a diária. O valor é quase garantia de sonhos inesquecíveis. f Maio 2017 FINANCEIRO 49


financeiro | palavra final

RUMO AO CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL NO PRÓXIMO GOVERNO

N

o cenário básico para economia e política em 2017, o governo tem expectativa majoritária de sucesso moderado, caracterizado a partir de um “ponto de virada da economia” que começa a ser indicado pelo fim da recessão e retorno gradual ao crescimento econômico a partir do primeiro semestre de 2017. Com isso seria materializado um cenário de travessia positiva até as eleições de 2018, com maiores chances de melhor desempenho econômico que poderia influenciar na eleição de um novo presidente da República comprometido com a continuidade de uma política econômica consistente, que possa levar o País de volta a uma nova fase de crescimento sustentável. Há um cenário alternativo, atualmente de baixa probabilidade de ocorrência, conforme precificação nos mercados financeiros. Consiste na combinação de várias dificuldades que inviabilizam significativa retomada do crescimento econômico. Ou seja, fatores inibidores da confiança dos agentes econômicos internos e investidores externos: aprovação de reforma de previdência insuficiente para sustentabilidade da dívida pública, ausência de avanços no ambiente regulatório e jurídico para atrair investidores externos, problemas no crescimento global afetando a economia local, dificuldade de retomar crescimento econômico significativo até 2018, e mais crises políticas. Esse cenário poderia eleger à presidência

da República um candidato populista ou oportunista, pouco comprometido com as contas públicas, com governança pública de qualidade, e com a produtividade. A sedimentação de um de cenário “agenda positiva em 2018 e novo governo consistente a partir de 2019” prevê vários fatores propulsores, começando pela aprovação “suficiente” na visão local e internacional da reforma da previdência. Nesse cenário, o desempenho da economia seria impulsionado por: 1) maior liberdade para o COPOM antecipar a intensidade de corte de juros; 2)

continuidade das exportações como fonte auxiliar para a atividade econômica; 3) o fluxo de recursos originado pelo investidor estrangeiro ingressar no País com mais vigor para concessões ou investimentos; 4) continuidade de medidas de curto prazo para estímulo à retomada econômica; 5) recuperação da “agenda positiva” com a aprovação da reforma da previdência; 6) superação “suficiente” dos variados conflitos e riscos políticos; 7) melhora da confiança com gradual recuperação da estabilidade econômica e retomada do crescimento econômico. f

ANO TRIM. PIB CONSUMO DAS FAMÍLIAS INVESTIMENTO (FBK)

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 (e) 2017 (p) 2018 (p) 2019 (p) 2016 (set) 8,0 7,0 6,0 5,0 4,0 3,0 2,0 1,0 0,0 -1,0 -2,0 -3,0 -4,0 -5,0

IV IV IV IV IV IV IV IV IV IV IV IV IV IV IV IV IV IV IV III

1,4 3,1 1,1 5,8 3,2 4,0 6,1 5,1 -0,1 7,5 4,0 1,19 3,0 0,5 -3,8 -3,6 0,7 2,3 4,0 -4,4

0,8 1,3 -0,5 3,9 4,4 5,3 6,4 6,5 4,5 6,2 4,8 3,5 3,5 2,3 - 3,9 - 4,2 2001 2001 2001 -5,2

1,3 -1,4 -4,0 8,5 2,0 6,7 12,0 12,3 -2,1 17,9 6,8 0,8 5,8 -4,2 -13,9 -10,2 2001 2001 2001 -13,5

7,5 6,1

5,8 3,2

1,3 1,4

4,0

5,1

4,0 1,9

1,1

4,0

3,0

2,3 0,7

0,5 -0,1 -3,8 -3,6 e)

p)

p)

p)

( ( ( ( 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20

NICOLA TINGAS Consultor econômico da ACREFI

(Artigo enviado em 8/5/2017)

50 FINANCEIRO Maio 2017



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