Financeiro 102/Abril 2017

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MOTORES AQUECIDOS Com as indústrias ajustadas e mais confiantes na economia, Antonio Megale, presidente da Anfavea, diz que as montadoras estão na linha de largada para começar a correr e recuperar números positivos

ERA TRUMP Novo inquilino da Casa Branca garante turbulências nos mercados pelos próximos quatro anos. Por Marcos Troyjo

ASTÚCIA FEMININA Denise Pavarina fala sobre a percepção da mulher nas diversas áreas do ambiente dos negócios


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e editorial | financeiro

TRILHANDO O CAMINHO DO A hora dos propósitos convergentes CRÉDITO SUSTENTÁVEL

EA

ntramos em 2017 com a é necessário priorizar, checar as economia brasileira passou a conNossa entidade tem trabalhado na mescerteza de que teremos despesas e receitas e onde é posviver nesses primeiros meses do ma direção. Como exemplo, realizou com maisanoum repleto de sível Trata-se de com ano notícias animadoras, sucesso racionalizá-las. um seminário sobre relacionamencomo não se via há muito É certo com clientes em fevereiro. E como desafios. Por um lado,tempo. observafazer um diagnóstico, um mais “check to que o desemprego ainda preocupa, mas uma comprovação de nossa aposta no diámos um pequeno aumento da up” completo da empresa. também é sabido que esse indicador coslogo, promovemos no dia 10 de março um confiança agentes Alémpara disso, precisamos tuma ser odos último a reagir noseconômiperíodos de encontro falar sobre a ENAJUD estar – Nosainda outros pontos – inflação, cos, retomada. embora prevaleça a atentos para a onda de pessimisEstratégia Nacional de Não Judicialização. juros, crescimento, confiança dos agentes A ACREFI, assim,vez está mais comprometida cautela. De outro, cresce a apremo que cada toma na conta econômicos – os sinais são positivos (inconvergência de propósitos em relação à ensão com o ritmo da retomada do País. Com tantas pessoas vaticluindo os indicadores antecedentes) e fatomada consciente do crédito e no diálogo do crescimento, a maiocinando queem não dar certo, zem crer que o Paísque está para no caminho certo. entre os agentes casos devai imprevistos. Esse quadro música lento para os ouvidos de São exemplostende práticos de ACREFI ria ainda está émais do que a profecia a que se aautorrealiHILGO GONÇALVES: todos nós, que há muito ansiávamos por não se atém apenas ao discurso. Ao contrápresidente da ACREFI se previa inicialmente. zar. O antídoto a essa situação é tempos menos turbulentos. No entanto, rio, estamos colocando na prática o nosso Essa ter percepção uma acreditar tem jeito e devemos em mente quesobre a retomada não compromissoque de focoonoBrasil crédito sustentável Hilgo Gonçalves: NO CASO DO significa demora que passaremos conviver com e também em nossos pilares não estratégicos (resuposta na a retomada que essa verdade se baseia presidente da ACREFI um cenário igual ao da “pré-crise”. Não vista Financeiro de maio/2016), principalCRÉDITO, A ganhou mais força em novembro, em um pensamento ingenuamenhá como passar incólumes por uma crise, mente da cidadania financeira, e no incentiquando que também o PIB te Temos paísquecom PREVISÃO DA que aofoi lado divulgado de tantas dificuldades vo apositivo. mais treinamentos para um as equipes apresentou retração de 0,8% no terceiroACREFI trimestre. É DE muitos e muitosatendem pontos frequentemennos traz muitas lições a serem aproveitadas os positivos, clientes. É fundamental que UM quando temos a estabilidade de volta. cada vez mais todos tenham mais conheciO clima foi de decepção para a maioria da socieda- te esquecidos em razão das dificuldades que No caso do crédito, a previsão da CRESCIMENTO mento e informações, para que a decisão do de. ÉACREFI compreensível que tenha havido essa reação, enfrentamos, mas que precisam ser lembrados e é de um crescimento entre 5% novo crédito seja ainda mais consciente. ENTRE 5% E 8% mase não seano. pode de ponderar que o País enfatizados, e queEsse vãocompromisso nos ajudar a sair crise. 8% este Mas deixar estamos atentos para inclui umadavisão não se repitam erros do passado, em amplanessa em relação a todos os pontos que que estáque vivendo um período, que começou no ano pas- ANO Para ter êxito empreitada temos ESTE que o maior volume de crédito criou propodem beneficiar a cadeia do crédito, sado e irá até 2018, no qual teremos, todos nós, de ter o pensamento e a ação sempre voltados para blemas colaterais, como aumento da ina- que a cada ano mostra a importância e a como é o caso do Cadastro Positivo, que fazerdimplência uma grande e necessária de casa de para propósitos Em um cenáriosobre deotane endividamento das famíliaslição e necessidade dar prioridade ao acessoconvergentes. a ao disponibilizar mais informações nemtrilhos, sempre responinformações parte dos tomador vai colaborar que empresas o Brasile consumo volte aos ao mesmo tempoporem tascidadãos. dificuldades,comportamento não cabe odo individualismo nem a sável. Nesse quadro, cresce a importância Em outras iniciativas, o Banco Central para que se tome uma decisão ainda mais que teremos que refrear nossa ansiedade por uma busca por soluções que atendam a um determide nossa atitude frente à necessidade de também tem deixado clara sua estratégia assertiva em relação ao crédito. De olho melhora rápida daa economia brasileira. é de convergência, todos que o País conviva, partir de agora, com de trabalhar nessa linha.nado Foi o grupo. que ficouO momento nessa importância, a ACREFI em parceria tarefa é árdua, mas precisamos nos empetendonocomo número os interesses oAcrédito sustentável. evidenciado com a publicação, final doprioridade com a Serasa Experian um programou para o As precondições para isso estão dadas. O ano passado, da Resolução 4.539, de 24 de dia 28 de março um seminário em que o nhar para cumpri-la. Nesse sentido, é importante do Brasil. Banco Central, por exemplo, tem cada vez novembro de 2016, que enfatiza a necessi- Cadastro Positivo será debatido com lideque mais cada um de nós assuma o protagonismo que Como se vê, serão muitos os obstáculos a se envolvido nesse esforço, como ficou dade de relacionamento com clientes e usu- ranças do mercado financeiro, entre elas o a situação exige. Os problemas enfrentar ano.Central No entanto, mais uma vez claro quando Ilan Goldfajn são áriosgrandes de produtose,e serviços financeiros.neste A Banco e Febraban. não podemos anunciou os detalhes do “BC mas Mais”, não pro- seACREFI apoia essa resolução, assim como está, enfim, comprometida alguns deles, complexos, pode atribuíesquecer de que Ajáentidade convivemos com outros perígrama estruturado em quatro pilares: cida- também acontece com a Resolução 4.553 no esforço com a transparência, a dissemi-los aos “outros”. Uma frase define a postura odos de crise e saímos deles, por mais intransdania financeira; legislação mais moderna; do BC, de 30 de janeiro de 2017, que es- nação das informações e o estímulo à decorreta a Financeiro adotar nesse “É comigo mesmo!”. poníveis que Entre Sistema Nacionalcaso: mais eficientabelece que as instituições financeiras se- parecessem cisão conscienteos de obstáculos. tomada de recursos. O as barato. Nesse contexto, rão segmentadas para fins de aplicação Não te;see crédito pode mais terceirizar nossa responsabilidade, lições que da aprendemos objetivo é fazerdessas com que osituações, crédito cumpraficou um dos principais destaques do BC é a Esregulação prudencial proporcionalmente ao seu importante papelsua comoparte, alavanca do nem podemos nos omitir frente às dificuldades. É claro que cada um deve fazer sempre tratégia Nacional de Educação Financeira, porte e ao perfil de risco de cada segmento. crescimento da economia brasileira. f preciso arregaçar as mangas e partir para a ação, pensando no conjunto. Dessa forma teremos, sim, FINANCEIRO como 3 e fazer a nossa parte nesta retomada. um país consciente, forteAbril e 2017 sustentável, Em períodos como este que estamos vivendo merecem o Brasil e as gerações futuras.


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A hora dos propósitos conve

financeiro | sumário

E

3. EDITORIAL

ntramos em 2017 com a é necessá certeza de que teremos despesas mais um ano repleto de sível racio desafios. Por um lado, observafazer um . ASSOCIADOS ACREFI mos um pequeno aumento da up” compl confiança dos agentes econômiAlém d . ENTREVISTA cos, embora ainda prevaleça a atentos pa Antonio Megale, cautela.presidente De outro, da cresce a apremo que ca ensão com o ritmo da retomada do País. Co Anfavea, fala que o setor de veículos do crescimento, que para a maiocinando q está pronto para voltar a crescer ria ainda está mais lento do que a profecia se previa inicialmente. zar. O ant . ARTIGO Essa percepção sobre uma acreditar q Hilgo Gonçalves: MARCOS TROYJO suposta demora na retomada que essa presidente da ACREFI Começa a turbulenta Eraforça Trump ganhou mais em novembro, em um pe quando foi divulgado que o PIB te positivo apresentou retração de 0,8% no terceiro trimestre. muitos e muitos pontos p . OBSERVATÓRIO O clima foi de decepção para a maioria da socieda- te esquecidos em razão Denise Pavarina, diretora executiva do de. É compreensível que tenha havido essa reação, enfrentamos, mas que pr Bradesco, traz a percepção da mulher mas não se pode deixar de ponderar que o País enfatizados, e que vão no no ambiente negócios está dos vivendo um período, que começou no ano pasPara ter êxito nessa sado e irá até 2018, no qual teremos, todos nós, de ter o pensamento e a açã fazer uma grande e necessária lição de casa para propósitos convergentes. . EVENTO que o com BrasilClientes volte aos Relacionamento − trilhos, ao mesmo tempo em tas dificuldades, não cabe que teremos que refrear nossa ansiedade por uma busca por soluções que Resolução nº 4.539 do BC melhora rápida da economia brasileira. nado grupo. O momento é A tarefa é árdua, mas precisamos nos empe- tendo como prioridade nú .nhar EVENTO 2 para cumpri-la. Nesse sentido, é importante do Brasil. UBERLÂNDIA (MG) que cada um de nós assuma o protagonismo que Como se vê, serão a situação exige. Os problemas são grandes e, enfrentar neste ano. No Competitividade − alguns deles, complexos, mas não se pode atribuí- esquecer de que já convi De onde virá a recuperação? -los aos “outros”. Uma frase define a postura odos de crise e saímos d correta a adotar nesse caso: “É comigo mesmo!”. poníveis que parecessem . NOVO ASSOCIADO Não se pode terceirizar nossa responsabilidade, lições que aprendemos J.P.Morgan nem podemos nos omitir frente às dificuldades. É claro que cada um deve preciso arregaçar as mangas e partir para a ação, pensando no conjunto. De e fazer aCENTRAL nossa parte nesta retomada. um país consciente, for . BANCO Em períodos como este que estamos vivendo merecem o Brasil e as ge Nova norma classifica as instituições também é fundamental fazer um diagnóstico dos Desejamos um 2017 pelo porte e perfil de risco nossos negócios. Deve-se definir, por exemplo, seja melhor que 2016. quais são os pilares mais importantes, o que Todos pelo Brasil, poi

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edição 102 | financeiro

29. NOVO ASSOCIADO 2 Negresco S.A.

30. WORKSHOP

Gerenciamento Integrado de Risco e novas formas de Funding

32. SEMINÁRIO IFRS 9 – Mudanças, Impactos e Desafios

34. SEMINÁRIO 2 Estratégia Nacional de Não Judicialização

37. ARTIGO

ROBERTO MACEDO Restringir terceirização precariza investimentos

39. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 4ª Semana Enef

40. PAINEL CETIP 42. CARROS McLaren 720S

44. ESTANTE

Novidades do mercado editorial

45. TERCEIRO SETOR Pastoral da Criança

48. CULTURA

Centenário do Theatro São Pedro (SP)

50. ARTIGO

NICOLA TINGAS

Convergência monetária ajuda a impulsionar a expansão da economia

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financeiro | expediente

ISSN 1809-8843

Publicação da acrefi - Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento Rua Líbero Badaró, 425 - 28°andar - São Paulo - SP - Tel: (11) 3107-7177 - www.acrefi.org.br Diretoria - Biênio 2016-2018 Presidente Hilgo Gonçalves Vice-presidentes Aquiles Leonardo Diniz, Celso Luiz Rocha, João Carlos Gomes da Silva, José Luiz Acar Pedro e Rubens Bution Diretores Tesoureiros João dos Santos Caritá Jr. e José Garcia Netto Diretores Secretários André de Carvalho Novaes e Rodnei Bernardino Diretores Executivos Álvaro Augusto Vidigal, Edmar Casalatina, José Tadeu da Silva, Marcelo de Castro Villela, Roberto Willians da Silva Azevedo e Wanderley Vettore Diretores Regionais Carlos Alberto Samogim, Felicitas Renner, Leonardo Lima Bortolini, Luis Eduardo da Costa Carvalho, Marcos Teixeira da Rosa e Romeu Zema Diretores Conselheiros Alexandre Teixeira, Eliseu Cézar Colman, Giorgio Rodrigo Donini, José Carlos Alves, Marcos Westphalen Etchegoyen e Ricardo Albuquerque Montadoras Alessandra Reis Rollo, Américo da Costa Martins, Edson Fróes Castilho, Edson Tadashi Ueda, Eduardo Tavares Nobre Varella, Gunnar Alejo Ramos Murillo e Nelson Dias de Aguiar Conselho Consultivo – Membros Natos Alkindar de Toledo Ramos, Érico Sodré Quirino Ferreira e Manoel de Oliveira Franco Membros Alarico Assumpção Júnior, Antonio Carlos Botelho Megale, Gilson de Oliveira Carvalho, Gilson Finkelsztain, Ilídio Gonçalves dos Santos, Luiz Tavares Pereira Filho e Miguel José Ribeiro de Oliveira Conselho Fiscal Domingos Spina, Geraldo Lima Vandalsen e Cláudio Messias Ferro Diretor Superintendente Antonio Augusto de Almeida Leite (Pancho) Controller Carlos Alberto Marcondes Machado Consultor Econômico Nicola Tingas Consultora Jurídica Lívia Esteves Consultor de Regulação e Compliance Sérgio Odilon dos Anjos Auditoria Megacont Auditoria e Assessoria Contábil Contabilidade Conaupro Consultoria e Contabilidade Ltda. Assessoria de Imprensa

Publisher Sergio Tamer Editores Theo Carnier e Gilberto de Almeida Editor Assistente Gustavo Girotto Arte Ricardo Marques Revisor Vicente dos Anjos Impressão Eskenazi Gráfica As matérias e artigos aqui publicados são de inteira responsabilidade de seus autores.

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• BANCO BRADESCO

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• BANCO CBSS S.A.

• ESTRELA MINEIRA CRÉDITO, FINANCIAMENTO

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• BANCO CETELEM S.A. • BANCO CSF S.A. • BANCO CITIBANK S.A. • BANCO CNH INDUSTRIAL CAPITAL S.A. • BANCO DAYCOVAL S.A. • BANCO DO BRASIL S.A. • BANCO FIDIS S.A. • BANCO GMAC S.A. • BANCO HONDA S.A. • BANCO INTERMEDIUM S.A. • BANCO ITAUCARD S.A. • BANCO ITAÚ UNIBANCO S.A. • BANCO JP MORGAN BRASIL S.A. • BANCO LOSANGO S.A. • BANCO PAN S.A. • BANCO PAULISTA S.A. • BANCO PSA FINANCE BRASIL S.A. • BANCO RODOBENS S.A. • BANCO SAFRA S.A. • BANCO SANTANDER (BRASIL) S.A. • BANCO SEMEAR S.A.

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financeiro | chapéu

2017 será o ano em que voltaremos a crescer” 10 FINANCEIRO Abril 2017

Foto: Divulgação

ANTONIO MEGALE


entrevista chapéu| financeiro | financeiro

Bastante confiante com os resultados que podem surgir do ajuste econômico do País, ANTONIO MEGALE, presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), acredita que o setor voltará a trabalhar este ano com números positivos, espera a manutenção de investimentos das matrizes internacionais e maior oferta de crédito direcionado aos financiamentos de veículos. A seguir, leia os principais trechos da sua entrevista

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uais são as expectativas do setor de veículos para 2017? Será um ano, pelos menos, de estabilização? Acredito que já atingimos o piso, embora ainda ocorram algumas oscilações. Mas, 2017 será o ano em que voltaremos a crescer. Não será nada espetacular, na ordem de 4%, mas é um crescimento. Se compararmos com o ano passado, quando tivemos uma queda de 20%, em relação ao exercício anterior, um crescimento de 4% já é uma boa notícia. Ainda estamos sofrendo com o período de aterrissagem do setor. Ao longo do ano, gradualmente, espera-se uma reversão desse quadro. Isso está calcado na expectativa de estabilização da economia, na recuperação da confiança do consumidor e dos empresários. As próprias agências internacionais de rating já estão diminuindo o risco/país, entendendo que as contas estão mais bem equacionadas, a inflação convergindo para a meta, contribuindo para a queda dos juros. Com isso, o custo dos financiamentos começa a ficar mais competitivo. Mesmo o problema do desemprego já dá sinais de que alcançou o seu limite. Aliado a isso, tivemos uma baita safra, de 220 milhões de toneladas de grãos, a maior da história. O setor agro trabalha com uma expectativa de adicional entre R$ 30 e 40 bilhões. Isso, de certa forma, vai irrigar mais o consumo e movimentar o segmento dos transportes. Esses 4% de crescimento no segmento serão puxados pelo setor agro? Não. Isso porque no segmento agro, desde o ano passado, o preço das commodities voltou a subir, o pessoal começou a plantar, o que levou à compra de máquinas. Esta safra trará adicionalmente recursos para que os empresários modernizem seus equipamentos em busca de melhores resultados. A rentabilidade do setor está razoável, permitindo investir em modernização. Dentro desses 4%, consideramos apenas veículos de passeio comerciais leves, ônibus e caminhões. A nossa previsão interna de venda de máquinas agrícolas é de crescimento de

13% em relação ao ano passado. Além disso, nós temos uma previsão de crescimento na exportação de máquinas, da ordem de 6%, o que resulta em um aumento de produção de cerca de 10%. O Banco Central divulgou que as indústrias de veículos, em 2016, receberam de suas matrizes no exterior US$ 6,5 bilhões. Esse suporte financeiro deve permanecer em 2017? A necessidade do suporte vai continuar existindo. A vontade de fazer esse aporte é mais complicada. Esse é um dos pontos de preocupação máxima que nós temos. Se as matrizes tiveram que socorrer suas filiais, o nível de rentabilidade do setor estará muito baixo e as empresas não estarão fazendo lucro. Ao contrário, algumas estarão gerando prejuízos elevados. A matriz suporta por um determinado tempo e depois começa a pedir ajustes a serem realizados pelo país. É como os nossos filhos, não é possível mantê-los até aos 50 de idade. A gente banca por um tempo, mas chega uma hora em que a vida passa a ser por conta deles. É isso o que esperamos das empresas em 2017, que comecem a reverter, aos poucos, essa difícil situação de mercado. Mas acredito que ainda continuaremos a receber empréstimos intercompanies e também investimento – esse é o lado positivo da história. Além dos empréstimos divulgados pelo BC, tivemos outros US$ 5 bilhões em investimentos diretos, perante uma remessa de US$ 86 milhões. Significa que as empresas, além de estarem ajudando suas filiais no Brasil, continuam aplicando novos recursos e confiando no nosso país. O senhor acredita que algumas indústrias deixem o mercado brasileiro em 2017? Não acredito. O Brasil tem um enorme potencial. A nossa taxa de motorização é relativamente baixa, 5,5 habitantes por automóvel, e para chegar aos patamares de Argentina e de México, que têm níveis entre 3 e 3,5, teríamos que colocar no mercado alguns milhões de veículos. Mais, precisamente, uns 20 milhões de Abril 2017 FINANCEIRO 11


financeiro | entrevista

Para enfrentarmos 2017, como a Anfavea avalia os ajustes propostos pelo governo? Na economia, ainda temos muitos ajustes a enfrentar. Apenas começaram a ser trabalhados. Estabeleceram o teto dos gastos públicos, que é uma medida fundamental, mas nós temos uma necessidade enorme, uma preocupação do país e do mundo, olhando as contas brasileiras, que é o equacionamento da questão previdenciária. Essa é uma reforma imprescindível para dar sinais

internos e externos de que a situação pode ser controlada. Além disso, existe uma oportunidade para rediscussão das leis trabalhistas. Precisamos diminuir a insegurança que as empresas têm nessa área. Isso nos atrapalha muito na hora de aprovar investimentos, ao confrontarmos a legislação brasileira com a que é aplicada em outros países. O nosso tema central a respeito dessa questão é o acordado sobre o legislado. Ou seja, que os acordos firmados entre as empresas e os sindicatos prevaleçam sobre a CLT. Essa é a realidade. Hoje temos uma situação de insegurança jurídica. Precisamos desconstruir essa visão de que tudo deve ser judicializado nas regras trabalhistas. E na indústria, todos os ajustes já foram realizados? É difícil dizer se todos os ajustes foram feitos em todas as empresas. Mas, a grande maioria delas fez os seus ajustes e está

preparada para começar a correr. As empresas estão na linha de largada, esperando apenas alguém dar o tiro. Os ajustes levaram em conta uma nova realidade de mercado, não mais os 3,8 milhões de veículos vendidos por ano, mas, usando as ferramentas de flexibilização, todos estarão preparados para essa largada. Como tem sido a receptividade dos pleitos da Anfavea por parte do governo? Este governo está com uma visão horizontal da economia, olhando menos setor a setor, dedicando-se mais às macrorreformas que podem reorganizar as finanças como um todo. Nós, felizmente, sempre tivemos um bom acesso ao governo, por sermos um importante setor na economia. Nos nossos contatos com o governo sempre conseguimos expor as preocupações. Atualmente, conscientes da situação que o País enfrenta, não temos demandado nenhuma deso-

Existe uma oportunidade para rediscussão das leis trabalhistas. Precisamos diminuir a insegurança que as empresas têm nessa área. Isso nos atrapalha muito na hora de aprovar investimentos” 12 FINANCEIRO Abril 2017

Fotos: Divulgação

veículos. Então, com esse potencial, tão logo os problemas da economia e da política, principalmente, sejam equacionados, o consumidor e as empresas deverão ganhar ainda mais confiança, os investimentos retornarão de maneira mais consistente, caindo a taxa de desemprego, e a roda voltará a se movimentar. É isso o que as empresas acreditam que deve acontecer no Brasil.


Antonio Megale | financeiro

A oferta de crédito é o business das instituições financeiras e, para nós, do setor automotivo, o financiamento é vital para vendermos os nossos produtos” neração. As discussões são sobre como preparar essa indústria para os próximos anos, como organizar o setor neste momento, lembrando que termina em 2017 o programa Inovar-Auto – como construir essa nova política industrial, com a visão direcionada para os próximos 10/15 anos, para que, à medida que a economia volte a ganhar força, possamos acelerar com maior vigor. Como está atualmente a situação do emprego na indústria de autos? Dentro do setor, estamos vivendo uma situação de estabilidade. Nos últimos meses, não tivemos nenhum movimento acentuado de redução de pessoal. Sempre existe uma pequena variação, mas é normal. São pessoas que estão se aposentando ou que resolvem mudar de área, mas os números estão muito próximos da estabilidade. A nossa expectativa, à

medida que a economia e o mercado comecem a se recuperar, é de um gradual aumento de postos de trabalho. Qual é a sua avaliação sobre a oferta de crédito para financiamento de veículos? Nosso setor vive muito do crédito. Somos dependentes do crédito. E, nos últimos meses, estivemos abaixo dos limites inferiores em número de financiamentos. Chegamos a 50,7%, que é o índice mais baixo dos nossos registros. O que significa, de acordo a nossa visão, a combinação de dois fatores. Primeiro, o cliente de menor poder aquisitivo está com maior dificuldade de compra. E segundo, as instituições de crédito ainda continuam sendo bastante seletivas na concessão do crédito para evitar qualquer problema de inadimplência. Então, as empresas estão com menos apetite na oferta do crédito. Entretanto, percebemos sinais de uma

pequena reversão. Os números, que estiveram próximos de 50,7%, começam a se aproximar de 54%, crescendo gradualmente. Mas esperamos que a tendência positiva leve o índice à casa dos 60% ou um pouco mais. Tem sido positivo o relacionamento da indústria automobilística com o setor financeiro? Sempre foi positivo. O contato é permanente e se intensificou ainda mais nos últimos anos. E acreditamos que ele pode ser maior em 2017, porque estamos abraçados no mesmo negócio. A oferta de crédito é o business das instituições financeiras e, para nós, do setor automotivo, o financiamento é vital para vendermos os nossos produtos. É sempre importante estarmos juntos, discutindo alternativas, oferecendo eventuais promoções ao longo do ano. f Abril 2017 FINANCEIRO 13


financeiro | chapéu

TRUMP POR MARCOS TROYJO*

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Foto: Divulgação

COMEÇA A TURBULENTA ERA


artigo | financeiro

T

ítulos de dois influentes livros sobre economia global nos últimos 40 anos – “A Era da Incerteza”, de J. K. Galbraith, e “A Era da Turbulência”, de Alan Greenspan − adaptam-se perfeitamente à etapa que agora se inicia. A julgar pelo conteúdo e pelo estilo de sua campanha e o convulsionado período como presidente eleito, o que Donald Trump oferece ao mundo nos primeiros movimentos de seu governo é um estoque de incerteza e turbulência. “Fazer a América grande de novo”, mote da candidatura, significará romper com o padrão de política externa estabelecido quando, ao final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os Estados Unidos alçaram-se à condição de superpotência líder − a “Pax Americana”. Para tal inflexão, o inquilino da Casa Branca terá de transformar em ações concretas sua denúncia do quadro internacional do comércio e a própria relação que o presidente dos Estados Unidos mantém com a elite global. O comércio internacional, em sua atual configuração, é para a retórica trumpista o que a União Soviética foi para o marketing político de Reagan − um “Império do Mal”. A deslealdade de parceiros e a incompetência dos negociadores norte-americanos – desde o fim da Guerra Fria – teriam permitido um “mundo plano” apenas àqueles que querem exportar para os Estados Unidos. O México se valeria do NAFTA para “roubar” empregos dos norte-americanos. A China, com seu capitalismo de Estado, manipularia câmbio e custos visando ao declínio do setor manufatureiro nos Estados Unidos. Para Trump, supostas vantagens geopolíticas de uma maior interdependência econômica não estão mais surtindo efeitos positivos para os Estados Unidos. Na mesma linha, a elite global − burocratas encastelados em instituições “desatualizadas”, como FMI, ONU, OTAN e OMC − perdeu a capacidade de corrigir desequilíbrios da ordem mundial. Incerteza e turbulência resultam, portanto, numa trama com dois eventuais

desfechos. O primeiro: a América se fecha para o mundo − isolamento comercial, populismo nacionalista, diminuição de presença geoestratégica, entretenimento para uma opinião pública interna conflagrada e imbecilizada. O segundo: os Estados Unidos, ainda que de modo tumultuado, ajudam a reinventar a globalização. Guerra co-

O FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL PROJETOU UM PONTO DE INTERROGAÇÃO SOBRE O QUE AGUARDA O CENÁRIO GLOBAL NOS PRÓXIMOS QUATRO ANOS mercial, instabilidade emocional, populismo, tolerância com autoritarismo, inexperiência no mundo político. Todas essas noções fazem parte da “nuvem” Donald Trump e da presidência que há pouco se iniciou. O Fórum Econômico Mundial, que se reuniu em janeiro deste ano nos alpes suíços, projetou um enorme ponto de interrogação sobre o que aguarda o cenário global nos próximos quatro anos. A nova liderança norte-americana lança o mundo nas sombras do desconhecido. Tradicionais parâmetros de política externa dos Estados Unidos para a Europa, Oriente Médio e Ásia-Pacífico parecem, de fato, destinados ao abandono. A desglobalização, supostamente, tem em Donald Trump seu mais importante proponente. Inversamente, o presidente chinês Xi Jinping foi saudado por Davos como defensor da globalização. Tal

mudança de posições − Estados Unidos insulares e China extrovertida − era inimaginável há apenas alguns poucos anos. Sabemos que Donald Trump é um jogador. Gosta de blefar, de negociar sob cortinas de fumaça, de “chutar para cima” de modo a obter o melhor resultado possível. Nessa linha, de todas as intervenções feitas até em Davos, sem dúvida, a mais surpreendente foi a de Anthony Scaramucci, ex-gestor de fundos que hoje ocupa lugar de destaque entre os principais assessores de Trump. Scaramucci, que chefia o Escritório de Relações Públicas da Casa Branca, pôs Davos em parafuso ao argumentar que a globalização sairá fortalecida com o próximo presidente norte-americano. Literalmente, sugeriu que “Trump representa uma esperança para o globalismo”. A frase de Scaramucci está em diagonal oposição ao que seu chefe propagou durante a campanha. Mais especificamente, em seu discurso de nomeação como candidato republicano à Casa Branca, Trump defendeu: “o americanismo, e não o globalismo, será a nossa crença”. Ainda assim, Scaramucci relacionou uma série de tópicos em que, segundo ele, a opinião pública global não estaria lendo corretamente a mensagem que o presidente dos Estados Unidos quer transmitir. Ou seja, o mundo não está vendo Trump pela ótica do “copo meio cheio”. Vamos então a algumas das posições mais controvertidas de Trump e, de acordo, com Scaramucci, como o cenário global em conjunto pode sair ganhando. Nos tratados comerciais, Scaramucci contou à plateia de Davos que Trump está longe de ser um opositor do livre comércio. A crítica do presidente eleito residiria no caráter “assimétrico” dos acordos. No segundo pós-guerra, os Estados Unidos, com o FMI, o BIRD, o NAFTA ou outorga da cláusula de nação mais favorecida à China, estaria trocando influência geopolítica por benefícios econômicos. Como muitas das razões para a existência dessas iniciativas − como a reconstrução da Europa pós-1945 ou o Abril 2017 FINANCEIRO 15


financeiro | artigo comunismo como força geopolítica – deixaram de figurar no tabuleiro, caberia, portanto, reestruturá-las de modo a harmonizar as condições de competição não apenas dos Estados Unidos, mas também de outros países. Trump disse em diferentes ocasiões que a OTAN está “obsoleta”, que as razões de sua criação relacionadas à Guerra Fria deixaram de existir. Para Scaramucci, isso não significa que Trump deseja abandonar a Europa à sua própria sorte, mas sim, revela o pedido de atualização da aliança de modo a que ela possa também combater ameaças como o terrorismo internacional. A esses argumentos de Scaramucci pode somar-se uma série de outras posições de Trump que, em princípio, poderia ajudar a globalização. O cenário global teria a ganhar com instituições de Washington (FMI, Banco Mundial) reformadas? Sem dúvida. A ONU precisa de atualização, de modo a refletir novas correlações de poder e capacidade de contribuição orçamentária? Claro. O mundo se tornaria mais seguro se Washington e Moscou cooperassem em áreas como a luta contra o terrorismo? Em tese, sim. O comércio internacional se tornaria mais justo se o governo chinês oferecesse menos incentivos e escudos de proteção a suas empresas de economia mista? Muito provavelmente. Para que o mundo possa enxergar Trump pelo “copo meio cheio”, além de apontar incoerência e deslealdade em outros países, a nova administração teria

PARA AJUDAR A GLOBALIZAÇÃO, TRUMP, ALÉM DE SEU CONHECIDO ACERVO CRÍTICO, PRECISA APRESENTAR AO MUNDO UMA AGENDA PROPOSITIVA de estar também disposta a mexer nas muitas assimetrias patrocinadas pelos próprios Estados Unidos. Essas passariam por rever o inquestionável protecionismo na esfera agrícola ou a política de incentivo à inovação industrial disfarçada de orçamento do Pentágono − bilionários recursos que ajudam a manter os Estados Unidos na vanguarda dos setores de alta tecnologia. E, no limite, para ajudar a globalização, como Scaramucci buscou vender à elite de Davos, Trump, além de seu conhecido acervo crítico, precisa apresentar ao mundo uma agenda propositiva. Disso, até agora, ninguém tem notícia. Se o caminho adiante é o do isolacionismo, quatro anos de Trump podem ser

mascarados por uma economia herdada de Obama que, com baixo desemprego e crescimento razoável para um país da OCDE, não vai tão mal. E, no curto prazo, os Estados Unidos podem ainda beneficiar-se da combinação (matematicamente insustentável) de desoneração tributária e expansão dos investimentos governamentais em infraestrutura – coração da “Trumponomics”. Mas o desmantelamento das redes globais de valor será, em horizonte não distante, devastador para os Estados Unidos, que têm mais multinacionais que qualquer outro país. A “vingança da globalização” virá quando perda de eficiência e custos altos de produção precipitarem inflação e balanços patrimoniais menos robustos para empresas norte-americanas de atuação global. Nessa projeção, “guerras comerciais” são o menor dos problemas. Confrontos em outras frentes, em que nacionalismo dá as mãos ao militarismo, passam a ser plausíveis. Torçamos para que, com retórica ofensiva a comércio e a elites globais, Trump esteja apenas querendo “trucar” o mundo. Se servirem para tornar as trocas internacionais menos assimétricas e elites mais dispostas a iluminar o lado escuro da globalização, suas muitas grosserias serão esquecidas. Tal cenário é possível, mas pouco provável. Chance maior é que a administração Trump, com versão repaginada de “pão e circo”, seja apenas um “junk government”. Emoções não faltarão. Hora de apertar os cintos e cruzar os dedos. f

Diretor do BricLab da Universidade de Columbia 16 FINANCEIRO Abril 2017

Foto: Divulgação

*MARCOS TROYJO


observatório | financeiro

A partir desta edição, a Financeiro abre espaço para que profissionais do mercado tratem de questões que não necessariamente façam parte do seu cotidiano corporativo. Na estreia da seção, DENISE PAVARINA, diretora executiva do Bradesco e nova integrante do Conselho de Administração da Vale, fala sobre tecnologia, planejamento, novas gerações e a participação cada vez maior da mulher no ambiente dos negócios

Foto: Luciano Piva

DENISE PAVARINA

Acredito em um processo evolutivo e de coparticipação das mulheres” Abril 2017 FINANCEIRO 17


financeiro | observatório

Q

ual é a sua percepção sobre a implantação e o uso das novas ferramentas digitais no sistema financeiro? Isso porque nem bem os clientes se acostumam com uma inovação já surgem outras mais avançadas e seguras. Embora não seja uma profissional da área de tecnologia, setor mais indicado para esse tipo de questão, acredito que a atualização das ferramentas digitais faz parte do processo evolutivo dos sistemas. É natural e desejado que nós, usuários, tenhamos que incorporá-las e encará-las como fato da vida, assim como são os processos de backup, atualização da senha, ou seja, uma tarefa cotidiana.

Como é possível equilibrar três itens que se tornaram essenciais em qualquer planejamento: ousadia, investimento e resultado? No desenvolvimento de um novo negócio, como é repetido inúmeras vezes pelos especialistas, planejamento é fundamental para garantir o sucesso ou, ainda melhor, para evitar o fracasso dos novos negócios/ produtos. É natural para empreendedores 18 FINANCEIRO Abril 2017

Ao olharmos a história, o sistema financeiro sempre esteve na vanguarda das inovações tecnológicas” (e que bom que é assim), serem ousados, tomarem riscos que outros não teriam coragem de tomar e ter velocidade. Não conheci nenhum empresário em toda a minha carreira que não quisesse implementar rapidamente suas ideias e projetos. E esse espírito serve ao novo ambiente que estamos vivendo de pura inovação. Mas a verdade é que o que define o sucesso, além da disposição inabalável para superar todas as dificuldades que é natural nesses empreendedores, é o planejamento, que reduzirá

os riscos de falha e aumentará substancialmente as chances de sucesso. Estudos de mercado e fluxo de caixa projetado são bem desinteressantes para os inovadores, mas essenciais para qualquer novo negócio. Os executivos sentem-se seguros sobre a realidade, em infraestrutura, que encontrarão nos próximos anos ou só é possível atuar em terreno ainda desconhecido? Convivemos hoje com basicamente quatro

Foto: Luciano Piva

No passado, o setor financeiro era um dos mais resistentes à inovação e atualmente tornou-se impulsionador da tecnologia. Como foi possível transpor esse desafio? Ao olharmos a história, o sistema financeiro sempre esteve na vanguarda das inovações tecnológicas. O Bradesco, por exemplo, foi pioneiro nessas inovações, com a primeira empresa pontocom do Brasil e o primeiro internet banking. São alguns exemplos. O desafio que enfrentamos de maneira mais intensa hoje é o de rever os modelos mentais para criar produtos e atender os clientes. E isso se aplica a todos os setores da economia. As mudanças não são tão somente de “atualização” ou melhoria dos sistemas, mas, de fato, de repensar constantemente os modelos de negócio e ter como prioridade a tão falada “jornada do cliente”. E as mudanças não ocorrem mais gradualmente. Elas rompem o modelo existente e começam em bases totalmente novas, ágeis e amigáveis.


Denise Pavarina | financeiro

“As mulheres vêm se preparando e ocupando espaços em vários níveis e funções no sistema financeiro”

Foto: BM&FBOVESPA/Divulgação

gerações e isso se reflete tanto na usabilidade dos sistemas, serviços e produtos como na cultura, que vai desde a mais permeável, dos millennials, quanto a uma grande resistência a mudanças, daqueles que não conviveram na juventude com a tecnologia. Recentemente assisti a uma matéria na TV que mostrava que crianças de até 11 anos, inglesas, não sabiam como usar nem para que servia um telefone fixo com disco – e acharam muito difícil usar... E nem faz tanto tempo assim que paramos de usar esse tipo de dispositivo. Certamente todos nós, em especial no sistema financeiro, teremos que conviver por vários anos com quatro gerações e atendê-las da melhor maneira possível, em um longo processo de transição. Mas já não há mais como evitar o terreno incerto e instigante que vamos percorrer. É admitido que as mulheres têm maior facilidade em administrar, simultaneamente, diversas responsabilidades. Essa capacidade é bem-vinda e reconhecida no mercado financeiro? As mulheres vêm se preparando e ocupando espaços em vários níveis e funções no sistema financeiro. Hoje, 47,3% da força de trabalho é composta por mulheres (média de 32 países). Acredito em um processo evolutivo e de coparticipação das mulheres. Hoje as equipes trabalham muito bem em conjunto, com cada um dando a sua melhor contribuição, da diversidade, da pluralidade. O ambiente de inovação que vivenciamos e que será a tônica dos próximos anos favorece profundamente a participação da mulher, que tem ouvidos bem abertos para o novo e para o diferente. O treinamento involuntário que as mulheres têm tido ao longo da história de observar o comportamento de seus filhos é um ativo valioso quando o que se busca é a melhor experiência para o cliente, suas reações e percepções. As relações ficam cada

dia mais transparentes e nisso as mulheres realmente podem contribuir. O que falta para que os postos de gestão no ambiente financeiro se tornem plenamente equilibrados entre homens e mulheres, como já acontece na área jurídica ou na área da comunicação? A descentralização dos negócios e das decisões permitem que o empreendedorismo e a ousadia sejam premiados, o que possibilita que as mulheres se destaquem. Um ingrediente importante na receita de sucesso dos homens em posições mais relevantes, além da competência e dedicação que de ambos são exigidas, é o networking. Essa é uma habilidade natural dos homens – por mais contraditório que possa parecer. Mas as mulheres ainda preferem ir para casa, cuidar da família, estudar ou ir à academia e os homens entendem e praticam o networking como parte do negócio.

E é claro que se você não é conhecido não será lembrado em uma eventual indicação. Como já mencionei antes, as novas gerações, que buscam uma economia com propósito diminuem e diminuirão cada vez mais a distância de percepção sobre o que cada um dos gêneros é capaz de entregar e fazer. Uma pesquisa conduzida pela Oliver Wyman sobre as mulheres nos serviços financeiros em 32 países, incluindo o Brasil (Women in Financial Services, 2016), aponta que as mulheres da geração millennial (millennial woman working in financial services industry) têm maior grau de instrução que seus pares, não têm receio de demonstrar opiniões que desafiam o status quo e acreditam que o gênero não será um impedimento ao seu sucesso. Com certeza, essa atitude também contribuirá para a sua maior participação no sistema financeiro e haverá espaço para todos os profissionais competentes. f

O ambiente de inovação que vivenciamos favorece profundamente a participação da mulher”

Membro do Conselho de Administração da BM&FBOVESPA, Denise Pavarina (segunda, da esq. para a dir.) participa da comemoração do Dia Internacional da Mulher organizada pela entidade

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financeiro | eventos

SUA EXCELÊNCIA,

O CLIENTE U

ma programação atraente tem sempre por trás um bom planejamento. A partir dessa receita de sucesso, a ACREFI iniciou, dia 10 de fevereiro, no Renaissance São Paulo Hotel, seu calendário de eventos 2017, com o seminário Relacionamento com Clientes − Resolução nº 4.539 do Banco Central. O êxito já pode ser medido, preliminarmente, pela presença de mais de 200 convidados, que prestigiaram as palestras de Isa20 FINANCEIRO Abril 2017

ac Sidney Ferreira, diretor de Relacionamento Institucional e Cidadania do BC; Sílvia Marques de Brito e Silva, chefe do Departamento de Regulação do BC; Sérgio Odilon dos Anjos, consultor de Regulação e Compliance da ACREFI; e Armando Luiz Rovai, secretário Nacional do Consumidor, do Ministério da Justiça e Cidadania. A audiência do encontro justificou-se não só pela qualidade dos expositores, como também pelo grau de interesse gerado pelas questões

que envolvem a Resolução 4.539, do BC, que entrará em vigor em novembro deste ano. Tudo isso foi possível graças aos patrocínios da Cetip, da CNSeg e da Credilink. Além disso, o primeiro evento deste ano marcou o início das transmissões via webinar dos encontros da ACREFI, por meio de par­cerias com a WebSIA e Logitech, ampliando o alcance dos conhecimentos gerados e compartilhados. Antes de passar a palavra aos pales-

Fotos: Luciano Piva

Evento da ACREFI discute a Resolução 4.539, do BC, e mostra como as instituições financeiras devem adaptar-se às novas normas de relacionamento com os consumidores a partir de novembro


relacionamento com clientes | financeiro

ISAAC SIDNEY FERREIRA: diretor de Relacionamento Institucional e Cidadania do BC

A ADOÇÃO DE NOVOS PROCEDIMENTOS ESTIMULA AINDA MAIS OS PADRÕES ÉTICOS NA CULTURA ORGANIZACIONAL

trantes, Hilgo Gonçalves, presidente da ACREFI, transmitiu aos convidados sua habitual injeção de otimismo. Defensor incansável da qualidade dedicada ao atendimento aos clientes, ele acredita que, se as empresas pensarem ainda mais nos consumidores, o Brasil atingirá um novo patamar no plano dos negócios, permitindo que as pessoas tomem decisões mais conscientes, amparadas em mais informação e segurança. A respeito da economia, reconheceu que o momento continua desafiador, mas já é possível ter esperança, pois a taxa Selic vive tendência de queda − pode chegar a 9,5% no fim do ano −, a inflação também está na decrescente, só o emprego deve demorar um pouco a reagir. “É hora de o empresário se tornar protagonista das suas atividades, dizendo que é com ele mesmo.” Em tom de brincadeira, completou: “Aja como nas orientações das comissárias de bordo antes da decolagem: em caso de emergência, vista a máscara de oxigênio e depois faça as coisas acontecerem”. Em seguida, Isaac Sidney Ferreira, diretor de Relacionamento Institucional e Cidadania do Banco Central, transmitiu a preocupação do órgão regulador do mercado financeiro em pensar cada vez mais nos clientes do sistema. “O Banco Central está se tornando um novo Banco Central. Ainda mais atento às boas práticas na gestão das finanças, no planejamento dos recursos, no

uso do crédito com responsabilidade”, destacou Ferreira. “A adoção de novos procedimentos estimula ainda mais os padrões éticos na cultura organizacional dos agentes financeiros”, reforçou o executivo. Lembrou também que regulador e regulados são parceiros nessa travessia e que as ouvidorias devem ganhar um papel diferenciado dentro das instituições, favorecendo a troca de informações com o BC e com a Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor). “A partir da agenda BC +, estruturada em quatro pilares (Mais Cidadania Financeira, Legislação Mais Moderna, SFN Mais Eficiente e Crédito Mais Barato), o Banco Central conta com o apoio da ACREFI para melhorar o seu relacionamento com os agentes financeiros”, concluiu Ferreira.

Na sequência, Sílvia Marques de Brito e Silva, chefe do Departamento de Regulação do Banco Central, disse que para termos assegurada a consistência entre os aspectos teóricos e práticos que envolvem a implantação de ações como a da Resolução 4.539 é preciso manter-se vigilante em quatro pontos: a capacidade limitada de processamento, a opacidade da mente humana, o valor relativo das perdas e a tendência à inércia versus “nudges”. Para explicar a importância desses pontos de atenção, trouxe uma pesquisa sobre transplante de órgão em países com padrões socioeconômicos e educacionais semelhantes. Naqueles em que a doação é opcional e exige que o cidadão se inscreva no programa, a adesão é, consequentemente, baixa, o que naturalmente não ocorre nos países em o comprometimento com a doação já faz parte da legislação. “No mercado financeiro a situação não é diferente, como acontecerá, em breve, com o Cadastro Positivo, exemplificou Sílvia. Embora o sistema já tivesse diversas normas de proteção aos consumidores, o Banco Central, com a Resolução 4.539, criou um guarda-chuva normativo que passa a envolver todas as questões focadas no relacionamento das instituições com os clientes. De acordo com Sílvia, isso exigirá que os agentes financeiros promovam uma cultura organizacional que favoreça uma convivência mais equilibrada com os clientes. Será pre-

RESOLUÇÃO 4.539 CRIOU UM GUARDA-CHUVA NORMATIVO QUE ENVOLVE AS QUESTÕES DO RELACIONAMENTO DAS INSTITUIÇÕES COM OS CLIENTES

SÍLVIA MARQUES DE BRITO E SILVA: chefe do Departamento de Regulação do BC

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ciso também que as informações sejam transmitidas aos usuários de forma ainda mais clara e precisa, com contratos, por exemplo, redigidos e apresentados de maneira que evite entendimento equivocado. “Para alcançarmos os benefícios esperados e a plena conscientização, espera-se grande envolvimento da alta administração das instituições

financeiras, com a adoção de controles internos rígidos e programas de auditoria interna. É preciso haver uma convergência de interesses para adotarmos com tranquilidade as normas a partir de novembro de 2017”, finalizou a chefe do Departamento de Regulação do BC. Por parte da ACREFI, Sérgio Odilon dos Anjos, consultor de Regulação

A OBSERVÂNCIA DAS NORMAS É O MÍNIMO QUE SE ESPERA DAS INSTITUIÇÕES, CABENDO A ELAS SÉRGIO ODILON DOS ANJOS: consultor de Regulação e Compliance da ACREFI

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ESTIMULAR A APLICAÇÃO DESSES PRINCÍPIOS

e Compliance da entidade, iniciou a sua palestra lembrando que o cliente é a razão das instituições financeiras. Por isso, é preciso haver um entendimento único e transparente entre as instituições, o cliente e o órgão regulador sobre a regulamentação que orienta a oferta de produtos e serviços. “A observância das normas é o mínimo que se espera das instituições, cabendo a elas também o desafio de disseminar e estimular a aplicação desses princípios”, alertou Sérgio Odilon. Para o consultor de Regulação e Compliance da ACREFI, o novo conceito da Resolução 4.539 exige que as instituições adotem uma política interna que envolva, efetivamente, todas as esferas administrativas, desde o presidente até funcionários com atribuições mais simples. “Olhando para o dia a dia das instituições, será preciso, por exemplo, refazer contratos e evitar a emissão de documentos em que é necessário apenas preenchimento de lacunas”, sinaliza Sérgio Odilon.

Fotos: Luciano Piva

financeiro | eventos


relacionamento com clientes | financeiro 1. Isaac Sidney Ferreira e Hilgo Gonçalves 2. Sílvia Marques de Brito e Silva e Mauro Melo 3. Sérgio Odilon dos Anjos e Rosimara Vuolo 4. Armando Luiz Rovai e Marcus Lavorato

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Nas vendas casadas, que já são proibidas pela legislação, mas ainda mantidas na prática para o cumprimento de programas de metas, uma possível punição atingirá indistintamente a todos os envolvidos. “A diretoria é responsável por tudo o que acontece na instituição financeira”, reforça ele. Portanto, são medidas importantíssimas. Pois, se por um lado, elas podem reduzir as margens, na outra ponta, minimizam o risco sistêmico, aumentam a confiança entre as partes e ainda estimulam o desenvolvimento econômico e social. Para trazer posição do Poder Executivo, Armando Luiz Rovai, secretário Nacional do Consumidor, cargo ligado ao Ministério da Justiça, disse que o papel da Senacon é evitar a polarização, buscar sempre a harmonização entre os clientes e as instituições financeiras. “O consumidor não deve ser encarado como antagonista. Uma mudança de postura favoreceria a redução de cerca de 30% das ações relacionadas à defesa do consumidor em mais de 100 milhões de processos que tramitam no Poder Judiciário”, dimensiona Rovai.

Para evitar a judicialização dos litígios, o secretário Nacional do Consumidor estimula a procura por meios alternativos: a mediação, a arbitragem e a conciliação. Além disso, a Senacon oferece o canal consumidor.gov. br, direcionado à interlocução direta entre consumidores e empresas para a solução de conflitos de consumo pela internet. Essa alternativa tem solucionado 80% das queixas, em um prazo

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médio de sete dias. No entanto, a participação das empresas nesse canal de negociação exige uma adesão formal, comprometendo-se a conhecer, analisar e investir esforços para a dissolução de problemas. “A Senacon é um elemento catalisador de soluções, estimulando a comunicação permanente das empresas com os clientes”, reforça Rovai, antes de concluir sua exposição no seminário promovido pela ACREFI. f

A SENACON É UM ELEMENTO CATALISADOR DE SOLUÇÕES, ESTIMULANDO A COMUNICAÇÃO ENTRE AS EMPRESAS E OS CLIENTES

ARMANDO LUIZ ROVAI: secretário Nacional do Consumidor

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financeiro | eventos

HILGO GONÇALVES: presidente da ACREFI

CRISE OFERECE

OPORTUNIDADES, Em seminário realizado em Uberlândia (MG), convidados da ACREFI preveem leve recuperação da economia para 2017, com espaço para corrigir ineficiências e impulsionar o crescimento nos próximos anos POR GUSTAVO GIROTTO

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Fotos: Mauro Marques

DESAFIOS E RISCOS


competitividade | financeiro

C

ada vez mais próxima dos associados, compartilhando conhecimento em diversas regiões do País, a ACREFI realizou, em parceria com a Amcham-Brasil, dia 14 de fevereiro, em Uberlândia (MG), o seminário “De onde virá a recuperação?”. Para responder a essa desafiadora questão, os organizadores reuniram o economista Gustavo Loyola, sócio-diretor da Tendências Consultoria Integrada; Romeu Zema Neto, CEO do Grupo Zema; Wagner Bueno, diretor Financeiro da Estrela Mineira; Mauro Melo, fundador e diretor da Credilink; e Hilgo Gonçalves, presidente da ACREFI. O encontro, mediado por Christiane Pelajo, contou com o patrocínio Cetip, CNseg, Credilink, Estrela Mineira e Zema, além do apoio da TV Integração. Os palestrantes procuraram ambientar suas apresentações levando em conta a perspectiva de uma queda mais rápida da taxa de juros e um processo em curso de desinflação – movimentos que devem resultar na reativação da atividade econômica. Para Hilgo Gonçalves, presidente da ACREFI, o Brasil vive um novo momento e a recuperação econômica depende, essencialmente, de cada um de nós. “Um dos pilares dessa revitalização é a sustentabilidade do crédito, que deve crescer, em termos nominais, entre 5% e 8%. Já a inflação deve fechar o ano em 4,3%, com a taxa Selic em 9,5% e o PIB em 0,75%. Sabemos que sem confiança não há crescimento. “Precisamos reconstruí-la para que o investidor internacional volte a olhar para o nosso país”, ressaltou Gonçalves. O presidente da ACREFI disse ainda que a melhoria do ambiente econômico passa pelo aumento de produtividade, investimento em inovação e governança. “O engajamento de todos é primordial. Não podemos nos esquecer de que o cliente é o nosso principal ativo. Precisamos aumentar o conhecimento da população sobre o uso do dinheiro. Essa é uma responsabilidade que cabe também às instituições do sistema. Devemos promover cidadania financeira

WAGNER BUENO: diretor Financeiro da Estrela Mineira

O RISCO DE INVESTIR NA ESTRELA MINEIRA NÃO É DIFERENTE DO DE INVESTIR EM OUTRAS INSTITUIÇÕES GARANTIDAS PELO FGC

para diminuir o endividamento”, frisou Gonçalves. Empresa associada da ACREFI, a financeira Estrela Mineira manteve em 2016 seu protagonismo na região do Triângulo Mineiro, força amplificada por 812 pontos de venda, distribuídos em 11 Estados brasileiros e com uma equipe de 5 mil colaboradores. “Essa estrutura foi fundamental para que atingíssemos no ano passado um faturamento de R$ 4 bilhões” destacou Wagner Bueno, diretor Financeiro da Estrela Mineira, perante os mais de 400 convidados que prestigiaram o seminário. “O risco de investir na Estrela Mineira não é diferente do de investir em outras instituições garantidas pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito)”, disse Bueno. Pelo lado da garantia das informações

que circulam no mercado financeiro, Mauro Melo, fundador da Credilink, destacou que a confiabilidade dos dados apresentados pelos clientes durante a concessão de um crédito é essencial para que a instituição realize uma operação segura. “O Brasil é pioneiro em muitos segmentos, já atravessou crises, mudanças de moedas e continua crescendo e gerando emprego. É com esse otimismo que vamos fazer o País crescer, deixando um legado para nossos filhos e netos”, exaltou Melo. O tom de otimismo moderado permaneceu na palestra de Gustavo Loyola, sócio diretor da consultoria Tendências e ex-presidente do BC, mostrando que a crise oferece oportunidades, desafios e riscos, pois sacode o mercado, os consumidores e as empresas. “Muitas

É COM OTIMISMO QUE O PAÍS VOLTARÁ A CRESCER, DEIXANDO UM LEGADO PARA NOSSOS FILHOS E NETOS

MAURO MELO: fundador da Credilink

Abril 2017 FINANCEIRO 25


financeiro | eventos

EM 2017, A RECUPERAÇÃO DA ECONOMIA NÃO SERÁ FORTE, COM PREVISÃO DE PIB PRÓXIMO DE 0,7% ineficiências econômicas são solucionadas nos momentos de crise. Em 2017, teremos uma recuperação da economia, mas não muito forte. A previsão é de um PIB com leve alta de 0,7%, com 2,4% em 2018 e 2,6% em 2019. Além disso, cortes em progressão nos juros, queda da inflação e recuperação do crédito estão inseridos neste cenário. É importante que a reforma da previdência e a trabalhista avancem, sem qualquer percalço político que prejudique essa agenda”, destacou. Segundo Loyola, a liberação do FGTS deve injetar em torno de R$ 30 bilhões no mercado. Isso permitirá que as famílias consigam acertar suas dívidas e também ativará, de alguma forma, o consumo. “Mas é por meio da produtividade que o País pode crescer 2% de forma sustentada, com investimentos 26 FINANCEIRO Abril 2017

têm problemas e os juros no Brasil são atraentes, os investimentos externos devem retomar”, frisou. Romeu Zema Neto, CEO do Grupo Zema, que participou do debate, relatou que a inadimplência acompanhada pela companhia já está em nível estável, com indicação de queda − diferente do que aconteceu nos anos anteriores. “O cenário interno irá se expandir, assim como teremos espaço para queda do spread bancário e do custo do crédito para as empresas e para as pessoas físicas. Isso favorecerá o ambiente de concessão. Esse ciclo de redução gradual da taxa de juros também nos dá uma boa perspectiva de longo prazo, e incentiva investimentos em infraestrutura, melhorando, dessa forma, o ambiente de negócios do País”, finalizou. f

O CENÁRIO INTERNO IRÁ SE EXPANDIR, COM QUEDA DO SPREAD BANCÁRIO E DO CUSTO DO CRÉDITO

ROMEU ZEMA NETO: CEO do Grupo Zema

Fotos: Mauro Marques

GUSTAVO LOYOLA: diretor da Tendências

em reformas e infraestrutura”, enfatizou Loyola. Sobre a economia global, ela deve crescer em torno de 3,4%, mas ainda há riscos relevantes que podem alterar o panorama internacional, como algumas diretrizes do governo Donald Trump, as eleições na França e na Alemanha, o Brexit − saída do Reino Unido da União Europeia − e a relação da economia dos Estados Unidos com a China, colocando em risco a sua expansão de 6,5% ao ano”. Loyola ponderou que a política econômica do Brasil está na direção correta. Entretanto, o processo será gradual. “A mudança do governo trouxe melhora no ambiente econômico, mas a capacidade da demanda é limitada por queda na renda das famílias, desemprego e cortes do governo. Os investimentos serão peçachave na retomada da atividade. Nesse sentido, a agenda de reformas, abertura e concessões será crucial para consolidar a retomada da confiança e os ganhos de produtividade. No cenário básico, a taxa de crescimento do PIB converge para cerca de 2,5% no prazo de 10 anos. Em um ambiente positivo, com mudanças mais profundas, a economia converge para um ritmo mais acelerado, pouco acima de 3,0%. Se olharmos com pessimismo, ficará em 1,7%”, sinalizou o economista. Para ele, o cenário econômico do governo Temer pressupõe melhora no relacionamento do Executivo com o Congresso, retomando o padrão típico do ‘presidencialismo de coalização’. “A equipe de Temer tem viés liberal e pró-mercado. É comprometida com o ajuste fiscal e com as reformas estruturais. Ele (Temer) conhece o ambiente, não é um amador político como a ex-presidente Dilma Rousseff. Em um cenário mais provável, Temer conseguirá aprovar em 2017 as medidas de ajustes e as reformas no Congresso, embora sem um aprofundamento mais complexo nos temas. O fator de risco é a Lava Jato, que segue chamando desse governo de transição, diante da possibilidade do surgimento de fatos novos que impliquem nomes da atual gestão. Dado que todos os países


novo associado | financeiro

SEJA BEM-VINDO!

A

ACREFI tem a satisfação de anunciar a inclusão do J.P. Morgan entre os seus associados. Operando há 50 anos no Brasil, o nosso novo filiado é líder global em serviços financeiros e oferece soluções às corporações, aos governos e às instituições mais importantes do mundo, em mais de 100 países. No Brasil, o J.P. Morgan possui escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte e Campinas. Em sua apresentação corporativa, o banco divulga a seguinte mensagem social:

ESTAMOS COMPROMETIDOS EM DESENVOLVER COMUNIDADES VIBRANTES

“Estamos comprometidos em desenvolver comunidades vibrantes, preservando o meio ambiente e promovendo uma cultura inclusiva em todo o mundo, que beneficia pessoas hoje e nas gerações futuras. Para atingir esses objetivos e maximizar os ganhos, nossos programas de responsabilidade corporativa na América Latina refletem nossas metas filantrópicas nas áreas de desenvolvimento comunitário, educação, artes e cultura”. Saiba mais a respeito do J.P. Morgan acessando o site www.jpmorgan.com/country/BR/PT/jpmorgan. f


financeiro | banco central

MAIS PROPORCIONALIDADE

E EFICIÊNCIA

Nova medida do BC, que contou com a colaboração da ACREFI, classifica as instituições financeiras de acordo com o porte e o perfil de risco de cada segmento, para fins de aplicação da regulação prudencial

28 FINANCEIRO Abril 2017

do que admitem regimes prudenciais simplificados (RPS). Na avaliação do Banco Central, esse sistema vai ter como uma de suas consequências um arcabouço regulatório equilibrado e eficiente, com redução do custo de observância para a grande maioria das instituições financeiras. Além disso, a diferenciação em cinco segmentos deverá, na opinião do BC, facilitar a coexistência de dois objetivos fundamentais da regulação prudencial: a solvência e liquidez de cada instituição (aspecto microprudencial) e a solidez e sustentabilidade do sistema financeiro (macroprudencial). A nova regulamentação deverá permitir, com o maior equilíbrio na carga regulatória, que as instituições de menor porte e

mais simples busquem continuamente novas formas mais eficientes e sustentáveis de promover a intermediação financeira. “A proporcionalidade da regulação prudencial irá contribuir também para o aumento da concorrência no Sistema Financeiro Nacional”, lembra Otávio Damaso no artigo. Para ele, a expectativa é que o SFN “torne-se cada vez mais eficiente, sem qualquer risco à sua solidez. Com isso, o Banco Central cumpre a sua missão institucional de assegurar um sistema financeiro sólido e eficiente”. Otávio Damaso considera que, em última instância, o principal beneficiado com a Resolução é a sociedade, que contará cada vez mais com produtos e serviços financeiros de melhor qualidade e a custos mais acessíveis. f

OTÁVIO DAMASO: diretor de Regulação do Banco Central

Foto: Banco Central/Divulgação

U

ma medida importante adotada recentemente pelo Banco Central traz benefícios para o setor financeiro e para toda a sociedade: trata-se da Resolução nº 4.533, do Conselho Monetário Nacional, que estabelece que as instituições financeiras serão segmentadas proporcionalmente ao porte e ao perfil de risco de cada segmento, para fins de aplicação da regulação prudencial. A medida traz redução de custos, aumento da eficiência e o consequente estímulo à concorrência no setor, conforme lembrou Otávio Damaso, diretor de Regulação do Banco Central, em artigo no jornal Valor Econômico, assinado também por dois outros membros da equipe do Departamento de Regulação Prudencial e Cambial do BC. A Resolução incorporou sugestões de entidades do sistema financeiro, com destaque para a colaboração da ACREFI. Com a medida, a aplicação da regulação passou a ser realizada de forma estruturada em cinco segmentos. Como exemplo, ao segmento S1 (formado por bancos de maior porte ou ativos no mercado internacional) será aplicado de forma integral o padrão regulatório definido pelo Comitê de Basileia. Para os outros segmentos, o arcabouço regulatório manterá a base do padrão internacional, mas será aplicado com menor intensidade, de forma proporcional, a partir de uma avaliação do equilíbrio entre simplificação e prudência. O S5, por exemplo, é formado por instituições de pequeno porte e perfil de risco simplifica-


novo associado | financeiro

SALVE, NEGRESCO!

A

CRIADA HÁ 15 ANOS, TORNOU-SE UMA DAS MAIS MAIORES FINANCEIRAS DO SUL DO PAÍS

das suas atividades. De acordo com esse conceito, a Negresco S.A. foi criada há mais de 15 anos, período em que conquistou o seu espaço e se tornou uma das maiores financeiras do sul do País. Além da financeira, o Grupo Negresco reúne ainda: a Negresco Administração e Participações; a Negresco Fomento; a Crediparaná; a Fazenda Cambiju; a Gkla – Serviços Médicos; o Instituto Lico Kaesemodel; a LK Eventos Esportivos; e a Smartgreen Desenvolvimento de Tecnologia. f

EDF

ACREFI tem o prazer de divulgar a chegada de mais um seleto integrante entre seus associados: a Negresco S.A. − Crédito, Financiamento e Investimentos, uma das empresas do Grupo Negresco, instituição fundada em 1971 pelo empresário Orlando Otto Kaesemodel, que atua em diversos setores da economia. Com um perfil dinâmico e atento às tendências, o grupo sempre investiu na qualidade dos seus produtos e serviços, sem perder de vista a sustentabilidade

Agora ficou muito mais fácil e rápido investir! Acesse: www.poupabrasil.com.br. Rentabilidade muito superior a investimentos similares, como o Tesouro Direto. Sem cobrança de tarifas e taxas de administração. Sua aplicação via POUPA BRASIL tem garantia integral do FGC – Fundo Garantidor de Créditos. Instituições financeiras associadas (reguladas e autorizadas pelo

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financeiro | workshop

PONTO DE

EQUILÍBRIO Em workshop exclusivo para associados, ACREFI mostra que novas normas para captação de recursos, ainda em discussão no BC, podem gerar benefícios para as financeiras, com aumento natural dos riscos sistêmicos e dos níveis de observância do regulador

30 FINANCEIRO Abril 2017

O ÓRGÃO REGULADOR ESTÁ ATENTO A TODOS OS MOVIMENTOS. ISSO É BOM PARA O SISTEMA E PARA AS EMPRESAS

SÉRGIO ODILON DOS ANJOS: consultor de Regulação e Compliance da ACREFI

HILGO GONÇALVES: presidente da ACREFI

AS FINANCEIRAS NÃO SÃO BANCOS, MAS TÊM UM DESEMPENHO IMPORTANTE NA MOVIMENTAÇÃO DOS RECURSOS

Fotos: Luciano Piva

A

ACREFI tem reforçado sua preocupação em compartilhar, cada vez mais, conhecimento entre os agentes do mercado financeiro. No entanto, algumas informações devem ser debatidas em eventos exclusivos para associados. Foi o que aconteceu dia 16 de fevereiro, no auditório da ACREFI, quando foi realizado o 1º Workshop 2017 GIR (Gerenciamento Integrado de Risco) e Novas Formas de Funding para as Financeiras, conduzido por Sérgio Odilon dos Anjos, consultor de Regulação e Compliance da ACREFI. Os associados tiveram a oportunidade também de ouvir uma breve palestra de Nicola Tingas, consultor econômico da entidade, a respeito da conjuntura do País. O encontro foi patrocinado pela NMAIS, agência responsável pela organização, entre outros grandes eventos, do 11º SIAC. Antes de passar a palavra a Sérgio Odilon, Hilgo Gonçalves, presidente da ACREFI, saudou os associados e falou sobre a importância do compartilhamento de informações e de a entidade participar do dia a dia dos filiados, mantendo-os atualizados a respeito das normas estabelecidas pelo Banco Central. “O órgão regulador está atento a todos os movimentos. Isso é bom para o sistema financeiro e para as empresas”, destacou Gonçalves.


funding | financeiro

GLAUCIA SIMONETTI: sócia da agência NMAIS

Além disso, o presidente da ACREFI contou aos convidados que o workshop, assim como os demais eventos promovidos pela entidade, estavam sendo transmitidos por webinar para os associados sediados fora de São Paulo. “Essa é mais uma preocupação da ACREFI para aproximar tanto os filiados mais próximos quanto os mais distantes. E volto a repetir algo que tenho dito frequentemente: nunca devemos nos esquecer de cuidar bem dos clientes e dos nossos colaboradores. Cliente feliz, colaborador feliz, acionistas felizes”, concluiu ele. Em sua explanação, Sérgio Odilon falou sobre o papel histórico das financeiras na distribuição do crédito no Brasil e da necessidade de atualizar, a partir das normas do Banco Central, sua representatividade no sistema, aumentando a produtividade e a concorrência. “As financeiras não são bancos, mas têm um desempenho importante na movimentação dos recursos”, lembrou Odilon. “No entanto, eventuais novas normas de captação, ainda em discussão no BC, podem gerar benefícios para a financeiras e aumentar também os riscos sistêmicos e os níveis de observância do regulador”, ponderou o consultor de Regulação e Compliance da ACREFI. Mais adiante, Odilon fez questão de valorizar o trabalho que vem sendo realizado por Rosimara Vuolo, presidente da Comissão de Compliance e PLD-FT

ESTAMOS SEMPRE ATENTOS AOS OBJETIVOS DOS CLIENTES, COM ESTRATÉGIAS PERSONALIZADAS PARA CADA AÇÃO da ACREFI, mantendo a interlocução permanente com o regulador e discutindo particularidades inerentes aos níveis de segmentação das instituições financeiras autorizadas a funcionar pelo Banco Central. Antes de encerrar, o consultor da ACREFI ressaltou: “O Banco Central sempre deve ser visto como um importante aliado do sistema financeiro”. Logo após, como patrocinadora do evento, Glaucia Simonetti, sócia da agência NMAIS, apresentou aos associados da ACREFI um breve histórico sobre a empresa e sua experiência em live marketing, que reúne insights integrados das áreas de criação e de planejamento.

AOS POUCOS, A DEMANDA POR CRÉDITO DAS FAMÍLIAS VAI VOLTAR, ESPECIALMENTE A PARTIR DO 2º SEMESTRE

“Estamos sempre atentos aos negócios e aos objetivos dos clientes, com estratégias personalizadas para cada ação”, afirmou Glaucia, enquanto exibia os logos de alguns parceiros já atendidos, como TAM, Cetip, Renault e Alelo. Como é tradição nos encontros promovidos pala ACREFI, o consultor econômico Nicola Tingas fez uma análise da conjuntura do Brasil, apontando que a recuperação do País não será rápida, pois, entre outras dificuldades, as famílias e as empresas estão bastante endividadas, fator que reduz a velocidade da retomada. “Mesmo com os juros caindo, com o dólar em tendência de baixa e com a nossa safra recorde, os estoques continuam muito grandes e o desemprego permanece em alta”, justificou Tingas. A respeito da contração do crédito, o consultor projeta um avanço entre 5% e 8% em 2017. Porém, a retomada do crédito para as famílias deve obedecer também um ritmo mais lento. Além da redução da taxa básica de juros, o fator preponderante para a tomada de crédito para consumo é a volta do emprego. “Aos poucos, a demanda por crédito das famílias vai voltar, especialmente a partir do 2º semestre”, antecipou Tingas, e ela deve ressurgir por iniciativa de trabalhadores que temiam as demissões, mas sobreviveram aos cortes. f

NICOLA TINGAS: consultor econômico da ACREFI

Abril 2017 FINANCEIRO 31


financeiro | seminário

RESULTADOS SOB NOVA PERSPECTIVA CONTÁBIL Evento exclusivo para associados da ACREFI esclarece os principais pontos sobre os benefícios e a implantação do IFRS 9, novo padrão internacional para mensuração de ativos e passivos financeiros. Atenção: ele já passa a valer em janeiro de 2018

A

ntecipar e explicar, detalhadamente, as normas programadas para entrar em vigor no mercado financeiro é também uma das importantes tarefas da ACREFI. Foi exatamente para atender a esse tipo de demanda que a entidade realizou dia 16 de fevereiro, em parceria com a Deloitte, um seminário exclusivo para associados sobre IFRS 9 (International Financial Reporting Standards 9) – Mudanças, Impactos e Desafios. São padrões contábeis internacionais que estabelecem, a partir de janeiro de 2018, diferentes requisitos para a classificação e a mensuração de ativos e passivos financeiros. Portanto, a novidade pode afetar de forma significativa as projeções de resultados, pagamento de dividendos e a percepção das empresas, já que prevê, entre outras medidas, a substituição

do modelo de apuração de perdas incorridas por um modelo de perdas esperadas. Organizado no auditório da ACREFI, em São Paulo, o evento atraiu 45 associados e contou com o patrocínio da Serasa Experian. Na condição de patrocinador, Paulo Melo, diretor de Relações Institucionais da Serasa Experian, abriu o seminário e destacou os resultados positivos da longa parceria da empresa com a ACREFI e a proposta de ampliar esses acordos. Ele fez questão também de valorizar o trabalho em conjunto com a Deloitte. Aproveitou o momento ainda para divulgar o seminário que fará com a ACREFI dia 28 de março, em São Paulo, a respeito do tema Cadastro Positivo − Desafios e Tendências, com a participação de Otávio Ribeiro Damaso, diretor de Regulação do Banco Central; Vander Nagata,

vice-presidente de Consumer Information da Serasa Experian; e Murilo Portugal Filho, presidente da Febraban. Feitas as considerações iniciais, Gilberto de Souza, sócio da área de Mercados de Capitais da Deloitte, abriu sua explanação a respeito do IFRS 9, esclarecendo que essa nova forma de classificação e de mensuração de ativos e de passivos financeiros ainda não foi reconhecida pelo Banco Central do Brasil, mas não poderá ser ignorada pelas empresas obrigadas a prestar contas sobre seus resultados no mercado internacional. “O IFRS é mais que uma nova norma contábil, pois favorece o entendimento das demonstrações financeiras por parte de investidores, órgãos reguladores internacionais e agentes do mercado, além de propor mudanças na forma de apresentação das informações.

PAULO MELO: diretor de Relações Institucionais da Serasa Experian

32 FINANCEIRO Abril 2017

O IFRS É MAIS QUE UMA NOVA NORMA CONTÁBIL, POIS FAVORECE O ENTENDIMENTO DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

GILBERTO DE SOUZA: sócio da área de Mercados de Capitais da Deloitte

Fotos: Luciano Piva

RESULTADOS POSITIVOS DA LONGA PARCERIA DA SERASA EXPERIAN COM A ACREFI E A PROPOSTA DE AMPLIAR ESSES ACORDOS


ifrs 9 | financeiro

MARCELLO DE FRANCESCO: sócio da área de Serviços Financeiros da Deloitte

A PRINCIPAL INOVAÇÃO DO IFRS 9 REFERE-SE À INTRODUÇÃO DE PREMISSAS LIGADAS A VARIÁVEIS MACROECONÔMICAS E SETORIAIS

Por causa dessas mudanças, a nova norma pode afetar de forma significativa as projeções de resultados, pagamento de dividendos e a percepção das empresas, já que prevê, entre outras medidas, a substituição do modelo de apuração de perdas incorridas por um modelo de perdas esperadas”, destaca Souza. “A principal inovação deste sistema refere-se à introdução de premissas ligadas a variáveis macroeconômicas e setoriais nos modelos de estimativas de inadimplência, que terá que ser contabilizada antes mesmo do atraso nos pagamentos”, complementa o sócio da área de Mercados de Capitais da Deloitte. Segundo Marcello De Francesco, sócio da área de Serviços Financeiros da Deloitte, a expectativa é que um banco, por exemplo, que tenha seu modelo de estimativa de perda esperada ajustado, ganhe sustentabilidade ao longo do tempo. “Ou seja, as instituições não poderão rever as premissas constantemente, a fim de gerenciar o impacto no resultado financeiro”, explica Francesco. Apesar dos avanços prometidos pelo IFRS 9, a pesquisa “Sixth Global IFRS Banking Survey / No time like the present”, realizada pela Deloitte, com 91 bancos da Europa, Oriente Médio, África, Ásia e Américas, revela que mais de três quartos do orçamento reservado pelas corporações para projetos ligados ao IFRS 9 ainda precisam ser utilizados. Outro dado relevante extraído do levantamento da Deloitte é de que 60% das instituições financeiras ainda não fizeram ou não conseguiram quantificar o impacto da transição ao IFRS9. O mesmo percentual de bancos, no entanto, estima um aumento de cerca de 25% no volume de provisões com

impairment (ou deterioração) dos ativos. Pelo novo modelo do IFRS, os bancos terão que constituir uma provisão para a perda esperada para o primeiro ano de vigência do empréstimo já no momento da concessão do crédito. O restante do montante para cobrir o débito deve ser contabilizado sempre que houver um sinal de deterioração da qualidade do crédito. “Isso pode acontecer por conta do atraso no pagamento, da redução de rating de determinado ativo ou com base em cenário econômico desfavorável para uma determinada empresa ou segmento do mercado”, concluiu Francesco. Apresentado o tema central do evento realizado em parceria com a Deloitte e patrocinado pela Serasa Experian, os associados da ACREFI ouviram também uma palestra de André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos. Sem grandes explicações, ele já apresentou a sua aposta para a projeção do PIB do Brasil em 2017, nada além de 0,12%. Isso porque, entre outros

fatores, o consumo continua baixo, a endividamento das famílias e das empresas ainda se mantém alto e o índice de desemprego não deve recrudescer tão cedo. “Estamos vivendo uma crise de balanço. As famílias e as empresas estão altamente endividadas. Portanto, será preciso aliviar os balanços para que voltem a consumir e a crescer”. Sobre o esforço do Banco Central e do Ministério da Fazenda direcionado para o corte da taxa de juros, que pode chegar ao fim do ano em 9,5%, o economista acredita que o efeito chegará primeiro aos devedores para depois começar a impulsionar consumo. “Mas isso não será rápido e só deverá acontecer no fim do ano”, alerta Perfeito. Ao analisar o ajuste econômico proposto pelo governo, o economista-chefe da Gradual Investimentos diz que a dúvida é se o Palácio do Planalto terá condições de negociar, estando sitiado por tantas denúncias de corrupção. “A PEC do Teto dos Gastos foi aprovada muito rapidamente porque aconteceu logo depois do impeachment da Presidente Dilma e existia também um esforço dos partidos políticos. Agora temos em curso uma reforma mais delicada, a da Previdência. Vamos ver se o governo consegue angariar forças para aprovar uma reforma avaliada como necessária”, ponderou André Perfeito. Terminada a palestra, Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, agradeceu a presença dos expositores e dos associados da ACREFI, destacando o êxito do evento, e convidou a todos para os próximos encontros programados para 2017. f

AS FAMÍLIAS E AS EMPRESAS ESTÃO ALTAMENTE ENDIVIDADAS. SERÁ PRECISO ALIVIAR OS BALANÇOS PARA QUE VOLTEM A CONSUMIR

ANDRÉ PERFEITO: economista-chefe da Gradual Investimentos

Abril 2017 FINANCEIRO 33


financeiro financeiro| chapéu | seminário 2

Entusiasta dos objetivos da ENAJUD (Estratégia Nacional de Não Judicialização), ACREFI promove seminário e divulga avanços trazidos pelo Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor e pela Secretaria Nacional de Justiça e Cidadania 34 FINANCEIRO Abril 2017

Fotos: Luciano Piva

MAIS SOLUÇÕES E MENOS PROCESSOS


ENAJUD | financeiro

A

sobrecarga de processos do Poder Judiciário e a defesa dos direitos do consumidor são dois temas recorrentes na mídia e que, naturalmente, se inter-relacionam no cotidiano dos clientes das instituições financeiras. Para fomentar o debate e difundir as informações a respeito dos assuntos, a ACREFI promoveu o seminário ENAJUD – Estratégia Nacional de Não Judicialização, dia 10 de março, em São Paulo, com André Luiz Lopes dos Santos, diretor do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor, e Gustavo Marrone, secretário nacional de Justiça e Cidadania, ambos ligados ao Ministério da Justiça. O Seminário ENAJUD, mediado pela jornalista Christiane Pelajo, contou com o patrocínio Cetip, CNseg, Credilink e Serasa Experian. Logo na abertura da sua palestra, André Luiz Lopes dos Santos destacou que o tema de desjudicialização dos processos deveria ser uma pauta abraçada por todos nós, diante de 102 milhões de ações em tramitação na Justiça, sem contar aquelas que aguardam decisão do Superior Tribunal Federal (STF). Isso porque mesmo com o aumento dos julgamentos, a judicialização dos conflitos de consumo continua crescendo e ainda são baixos os índices de conciliação nas Justiças Estaduais ou mesmo nos Juizados Especiais de Pequenas Causas. No entanto, com a ajuda da tecnologia, que trouxe maior conectividade e mobilidade ao cidadão, o site www.consumidor.gov.br − uma plataforma digital de autocomposição – abriu, desde junho 2014, mais um canal de diálogo, via internet, para solução de conflitos entre consumidores e fornecedores. “É um serviço público, fácil, gratuito e que gera resultados efetivos”, enfatiza Lopes dos Santos. “O consumidor é protagonista da ação e as empresas aderem à plataforma de maneira facultativa. Portanto, os fornecedores que participam da plataforma estão empenhados em resolver as questões fora do Judiciário, além de buscar uma melhor qualidade de atendimento”, explica ele. Em seus quase três anos de funcionamento, consumidor.gov.br coleciona

ANDRÉ LUIZ LOPES DOS SANTOS: diretor do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor

bons números: são 576.664 reclamações, 466.818 usuários cadastrados e 371 empresas credenciadas, com um índice médio de 80,1% de solução, 99,6% de reclamações respondidas, prazo de 6,1 dias para envio da resposta e avaliação de 3,3 do consumidor, em uma escala de 1 a 5. Nada mal. Agora, se dividirmos por segmentos, aqueles que têm maior índice de resolutividade das queixas são os seguintes: operadoras de telecomunicações 87%; bancos de dados e cadastros 81%; bancos, financeiras e administradoras de cartões 77,9%; e comércio eletrônico 63,5%. “Diante desses números, não entendo porque as empresas não aproveitam melhor o SAC para resolver os seus problemas com os consumidores”, questiona Lopes dos Santos. O diretor do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor também fez

O CONSUMIDOR É PROTAGONISTA DA AÇÃO E AS EMPRESAS ADEREM À PLATAFORMA DE MANEIRA FACULTATIVA questão de enfatizar a importância dos Procons estaduais, do Ministério Público e das defensorias públicas na busca de soluções fora da esfera do Poder Judiciário. Um bom exemplo, segundo Lopes dos Santos, é o Judiciário do Rio Grande do Sul, que por meio do programa Solução Direta Consumidor, parceria entre o TJRS e a Secretaria Nacional do Consumidor, evita que os usuários ingressem com ações judiciais, além de agilizar a solução dos problemas. Dentro, ainda, do Ministério da Justiça, Gustavo Marrone, secretário nacional de Justiça e Cidadania, destacou aos convidados do seminário que com a retomada da Estratégia Nacional de Não Judicialização (ENAJUD), da qual a ACREFI é uma das signatárias desde julho de 2014, foi realizada, em dezembro do ano passado, uma oficina para planejar as ações

A BASEBALL ARBITRATION É UMA PROPOSTA POLÊMICA, MAS CERTAMENTE INCENTIVARIA A SOLUÇÃO DOS PROBLEMAS NAS AUDIÊNCIAS DE CONCILIAÇÃO

GUSTAVO MARRONE: secretário nacional de Justiça e Cidadania

Abril 2017 FINANCEIRO 35


no biênio 2017/2018. Um dos pontos principais desse plano é o Projeto de Lei 5.900/16, que estabelece critérios mais objetivos para a concessão do pedido de gratuidade da justiça, favorecendo apenas as pessoas realmente carentes. Outra medida importante para estimular as audiências de conciliação é a elaboração de uma proposta legislativa fundamentada na Baseball Arbitration. Inspirada na justiça norte-americana, a medida propõe a condenação daqueles que recorrem a todas as instâncias para dar continuidade à demanda, recusando proposta de acordo que posteriormente seja equivalente ao obtido em sentença. “Essa proposta é polêmica, mas certamente incentivaria a solução dos problemas nas audiências de conciliação”, argumenta Marrone. Especificamente para os bancos e as financeiras, a ENAJUD espera estimular também a participação dos agentes do mercado em meios autocompositivos – em especial, o consumidor.gov.br – e ainda o apoio, em parceria Conselho Nacional de Justiça, ao projeto de lei de retomada de veículos de forma extrajudicial. De acordo com Mar-

rone, a ideia é apresentar ao Legislativo esse projeto de lei até o fim de março ou começo de abril. “Essa seria mais uma medida certeira para a redução das ações judiciais”, considera o secretário nacional de Justiça e Cidadania. Pensando a longo prazo, Christiane Pelajo (à direita) mediou o debate entre mais um desafio que contriGustavo Marrone e André Luiz Lopes dos Santos buiria para a redução dos processos nos tribunais seria uma mudança de esforço para realização de cursos, presenciais posicionamento relacionada à cultura da li- e a distância, da Escola Nacional de Mediatigância. Isso porque, desde a universidade, ção, direcionados à solução de questões em os profissionais do Direito são orientados e mercado regulado. Além disso, contou aos treinados a resolver as questões por meio do convidados da ACREFI sobre lançamenlitígio judicial. “Essa postura precisa mudar. to de edital para contratação de pesquisas No exterior, o advogado é treinado para de avaliação: a primeira sobre a efetividade mediar. Na Itália, por exemplo, submeter dos cursos de mediação para policiais reao problema ao ombudsman da empresa é lizados pela SENASP (Secretaria Nacional condição da ação”, explica Marrone. “Aqui, de Segurança Pública) e a segunda voltada no setor público, as unidades do INSS ao uso/eficácia da plataforma consumidor. não são autorizadas a realizar acordos nos gov.br, da SENACON (Secretaria Nacional processos judiciais, postergando a decisão, do Consumidor), pelos tribunais de justiça. porque a rubrica do pagamento recairia no “São levantamentos essenciais para avaliar próprio posto de atendimento”, conta ele. e aprimorar o contato mais cordial com o Para finalizar, Marrone falou a respeito do cidadão”, conclui Marrone. f

financeiro financeiro| chapéu | nota

UNIÃO ESPERADA Cade aprova integração da BM&FBovespa com a Cetip

O

Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aprovou no dia 22 de março a integração das atividades da BM&FBovespa com a câmara depositária de títulos Cetip. Depois da aprovação, a BM&FBovespa confirmou que Gilson Finkelsztain, presidente da Cetip, vai comandar a empresa resultante da fusão a partir de 1º. de maio. Até aquela data, Edemir Pinto continua como diretor presidente da Bolsa. Os atuais diretores da Cetip vão acumular seus cargos, enquanto a companhia continuar como subsidiária integral da BM&FBovespa. O 36 FINANCEIRO Abril 2017

aval do Cade foi por unanimidade, com restrições, e foi definido um Acordo de Controle de Concentração (ACC), com quatro itens como regras de acesso, tratamento econômico a uma infraestrutura de mercado financeiro que opere no Brasil, mecanismos de governança dos preços de produtos e serviços e condições de acesso à prestação de serviços da Central Depositária de Ativos. Entre outros pontos, os termos do ACC incluem o compromisso da Bolsa e da Cetip vão negociar por até 120 dias com empresas que queiram contratar o

serviço da central depositária. O acordo prevê que o acesso de outras empresas se dará em condições “justas, transparentes e não-discriminatórias”. A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) aprovou em seguida a transação, também por unanimidade, e ressaltou que as medidas adotadas e os compromissos assumidos pela BM&FBovespa “contribuirão para a observância de práticas comerciais comutativas e acesso justo e equitativo ao mercado de valores mobiliários brasileiro, e a evolução contínua de seu papel no desenvolvimento econômico do País”. f

Fotos: Luciano Piva

financeiro | seminário 2


artigo | financeiro

RESTRINGIR TERCEIRIZAÇÃO PRECARIZA INVESTIMENTOS Investir em atividades produtivas é o que amplia empregos e valoriza a mão de obra POR ROBERTO MACEDO*

Crédito: 1ª publicação Estadão 16/3/2017

A

terceirização ao contratar trabalhadores é objeto de projetos de lei com perspectivas de votação brevemente no Congresso Nacional. Grande parte da discussão do assunto envolve a decisão de permitir também a terceirização de atividades-fim, além das atividades-meio em que já ocorre. Restrições às do primeiro tipo vêm da Justiça do Trabalho, que com suas cabeças à obra também arbitra o enquadramento nesses dois casos. Opositores da terceirização sempre argumentam que ela leva à precarização do trabalho, não apenas salarialmente, como em outras condições. Mas essa precarização é apenas uma hipótese a ser avaliada em termos de sua lógica e de adequadas evidências a respeito. Uma evidência tão difundida como enganosa é a de que os salários de terceirizados são menores do que os recebidos pelos que exercem atividades-fim. Mas não tem sentido comparar, por exemplo, remunerações de funcionários de uma agência bancária, como gerentes, atendentes e caixas, com os de terceirizados que cuidam de segurança e lim-

peza. O nível educacional exigido dos trabalhadores e as responsabilidades das ocupações exercidas são mais fortes no primeiro grupo, o que implica salários maiores que os do segundo. Quanto à lógica da terceirização, um empregador que a escolhe está de olho

A GRANDE VANTAGEM DA TERCEIRIZAÇÃO É QUE ECONOMIZA TEMPO NO PROCESSO DECISÓRIO AO DELEGAR PARTE DELE A GESTORES TERCEIRIZADOS

em melhorar o desempenho de sua empresa, aspecto em que o processo gerencial tem fundamental importância. Toda empresa tem, implícita ou explicitamente, um organograma de cargos e funções hierarquizados, cujo bom funcionamento depende de seus gestores e dos trabalhadores envolvidos. A grande vantagem da terceirização é que economiza tempo no processo decisório ao delegar parte dele a gestores terceirizados. Com isso a contratante deixa de administrar parcela das tarefas envolvidas, exceto na cobrança de seus resultados. Ou seja, encurta-se o organograma. Como resultado, a contratante passa a focar mais nos objetivos da empresa em si. E se opta pela terceirização, é porque vale a pena em termos desses objetivos. A questão dos salários a serem pagos pela empresa terceirizada passa ao âmbito dela, também focada nos seus próprios resultados. E não está nos manuais de economia e de administração que pagar salários aviltantes seja o caminho do sucesso, que, sem volteios de linguagem, se espelha no lucro obtido. Ao procurar maximizá-lo, o empregador certamente não vai pagar um salário superior ao vaAbril 2017 FINANCEIRO 37


financeiro | artigo lor que o trabalhador adiciona à produção na atividade em que está engajado, mas se pretender que sua empresa cresça precarizando esse salário, acabará por não conseguir trabalhadores suficientemente qualificados para produzir o melhor resultado possível. O que há no Brasil é que grande parte da mão de obra tem escassas qualificações, às vezes limitadas ao seu próprio esforço físico, e não se credencia a remunerações maiores. Assim, trabalhadores como os referidos terceirizados de agências bancárias são precarizados por natureza, o mesmo ocorrendo com parte dos não terceirizados. É um problema que tomará longo tempo para ser resolvido; e será ainda maior se mantido o frágil esforço que o Brasil faz para resolvê-lo, como nas esferas educacional e de formação profissional. O maior esforço é realizado pelas próprias famílias dos trabalhadores, que vêm reduzindo o número de filhos e, assim, contendo também o crescimento da oferta de mão de obra não qualificada. Se esta de fato se tornasse escassa, como já dava sinais de ficar antes de o partido dito dos trabalhadores levar a economia do País ao profundo buraco em que ainda permanece, seus salários reais aumentariam. Como, aliás, vinham aumentando antes da queda nesse buraco. Suponhamos, agora, que as empresas venham a lucrar mais com a terceirização ampliada. Ótimo! Os lucros lhes dariam mais capital para investir em

O QUE HÁ NO BRASIL É QUE GRANDE PARTE DA MÃO DE OBRA TEM ESCASSAS QUALIFICAÇÕES, ÀS VEZES LIMITADAS AO SEU PRÓPRIO ESFORÇO FÍSICO seus negócios, ampliando a demanda de trabalhadores e pressionando seus salários para cima se o excesso de oferta não comprometer esse crescimento. Portanto, restrições à terceirização precarizam mesmo é o investimento em atividades produtivas, que amplia empregos e valoriza a mão de obra. Recorro, agora, a um laureado com o Nobel de Economia, Douglass North. Ele o recebeu por analisar o papel das instituições no desenvolvimento econômico. Numa economia, essas instituições são “(...) suas regras do jogo, ou

(...) as humanamente desenhadas restrições à liberdade de agir como quiser que dão forma à interação humana”. Para avançar economicamente é preciso que as regras do jogo, formais ou não, reforcem incentivos para que as organizações – e o povo em geral, acrescento – se engajem em atividades produtivas. Não é o caso das restrições à terceirização. Voltando a evidências, recorri ao professor José Pastore, especialista em questões trabalhistas como esta, que, entre outras propostas, prega mais liberdade na terceirização. Ele me disse que entre os benefícios estão mais inovações e o avanço tecnológico. Entendo, como já assinalado, que isso vem porque as empresas contratantes e as terceirizadas se especializam e focam mais nos seus negócios, em lugar de se dedicarem a pontas de organogramas que tomam tempo decisório. Segundo Pastore, aumenta também a produtividade do trabalho, a competitividade, e ampliam-se os negócios. Com o avanço da terceirização, ela exige trabalhadores mais qualificados no que fazem, com o que se credenciam a melhores salários. O Brasil está lento, mal posicionado e hoje até em marcha à ré na corrida pelo desenvolvimento econômico. São razões ainda maiores para não se entregar à insensatez de impedir que empreendedores-investidores-empregadores organizem suas atividades de tal forma que juntamente com seus empregados sejam mais produtivos e competitivos.

Economista (UFMG, USP e Harvard), consultor econômico e de Ensino Superior 38 FINANCEIRO Abril 2017

Foto: Divulgação

*ROBERTO MACEDO


educação | financeiro

DINHEIRO, POUPANÇA E CIDADANIA Programada para acontecer entre os dias 8 e 14 de maio, a 4ª Semana Enef mantém a tradição de difundir informações sobre o uso mais consciente dos recursos pessoais e do equilíbrio do orçamento doméstico

J

á se tornou tradição. E para não decepcionar todos os envolvidos, o Conef (Comitê Nacional de Educação Financeira), presidido este ano pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), está promovendo uma grande mobilização para a realização da 4ª Semana Enef (Estratégia Nacional de Educação Financeira), programada para acontecer entre os dias 8 e 14 de maio. Todos os esforços são direcionados para promover a educação financeira e previdenciária da população, além estimular os conceitos de cidadania, eficiência e solidez do sistema financeiro nacional e a tomada de decisões conscientes por parte dos consumidores.

Foto: Banco Central/Divulgação

BENEFÍCIOS DA EDUCAÇÃO FINANCEIRA Segundo a organização da 4ª Semana Enef, quando o cidadão entende os fatores que influenciam suas escolhas financeiras, consegue equilibrar seus desejos imediatos com suas necessidades de longo prazo. Um dos efeitos disso é o aumento do hábito de poupar, outro importante pilar da educação financeira. E todos saem ganhando, já que o cidadão financeiramente educado

contribui para o bem-estar coletivo, seja porque essa qualificação resulta em um sistema financeiro mais sólido e eficiente, seja porque cada pessoa tem melhores condi-

O CIDADÃO FINANCEIRAMENTE EDUCADO CONTRIBUI PARA O BEM-ESTAR COLETIVO

ções para lidar com as emergências e com os momentos difíceis da vida. Leia mais sobre as novidades da 4ª Semana Enef no link www.semanaenef.gov.br

HISTÓRICO DE SUCESSO Apenas para demonstrar o sucesso progressivo da iniciativa, na sua primeira edição, em 2014, a Semana Enef abriu espaço para 170 eventos (presenciais ou on-line), em 21 cidades pulverizadas por sete Estados e no Distrito Federal. No ano seguinte, organizada no mesmo período da Global Money Week, sua grade de programação evoluiu para 505 atividades. E na última edição, em 2016, foram 1.044 ações (presenciais ou on-line), organizadas por 153 instituições, que alcançaram, aproximadamente, 1,3 milhão de pessoas, em 458 municípios distribuídos em todas as regiões do País.

ESTRUTURA DO CONEF Para quem ainda não sabe, o Conef, organizador da Semana Enef, é formado por representantes dos Ministérios da Fazenda, Educação e Justiça; do Banco Central; da CVM; da Superintendência de Previdência Complementar; da Susep; da Anbima; da BMF&Bovespa; da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais; da CNseg; e da Febraban. f Abril 2017 FINANCEIRO 39


financeiro | painel CETIP

Vendas financiadas de veículos somam 351,2 mil unidades em fevereiro

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volume de financiamentos de veículos encerrou o mês de fevereiro com 351.245 unidades, entre autos leves, motos e pesados. O resultado mostra um aumento de 0,3% em relação ao mesmo período de 2016. Apesar da alta, as unidades novas seguem em baixa. No mês foram financiados 117.322 veículos novos, queda de 12,9% ante fevereiro do ano passado. Já as usadas somaram 233.923 unidades, avanço de 8,6% na mesma base de comparação. O levantamento é da Unidade de Financiamentos da Cetip, que opera o Sistema Nacional de Gravames (SNG), base integrada de informações que reúne o cadastro das restrições financeiras de veículos dados como garantia em operações de crédito em todo o Brasil. O SNG impede que o processo de financiamento de veículos seja suscetível a fraudes sistêmicas.

Entre os automóveis leves, foram financiadas 70.418 unidades novas em fevereiro, queda de 10,8% na comparação com o mesmo período do ano passado. Já as vendas a prazo de carros usados totalizaram 215.235 unidades, alta de 8,6% na mesma base de comparação. 40 FINANCEIRO Abril 2017


Financiamentos de autos leves novos recuam 10,8% na comparação anual Em fevereiro, os autos leves com 9 a 12 anos de uso avançaram 33,3%, na comparação com o mesmo período de 2016, com 35.322 carros negociados. Os carros com 4 a 8 anos de uso também apresentaram alta de 9,8% e somaram 123.364 unidades vendidas a prazo. Já os autos leves novos e com até 3 anos de uso mostraram queda de 10,8% e 9,9%, respectivamente, em fevereiro.

Considerando as modalidades de financiamento, o CDC perdeu 0,7 ponto percentual em sua participação nas vendas financiadas no total de veículos, passando de 83,8% para 83,1% em fevereiro, em relação ao mesmo período de 2016. Apesar de ter apresentado queda, a modalidade continua sendo a mais utilizada pelos consumidores. Em fevereiro, foram vendidos a prazo 292.052 veículos por meio do CDC, aumento de 4,2% na comparação anual.

O prazo médio de financiamento de autos leves de 4 a 8 anos de uso aumentou de 42,6 para 43,3 meses em fevereiro, em relação ao mesmo período de 2016. Já o prazo para carros com mais de 12 anos recuou de 36,7 para 35,8 meses, na mesma base de comparação.

Abril 2017 FINANCEIRO 41


financeiro | carros

INGLÊS INDOMÁVEL

O

Salão do Automóvel de Genebra é sempre generoso em surpresas. Afinal, com o olhar da mídia global mobilizado em cada detalhe criado pelas montadoras, as indústrias não economizam ao apresentar novas tecnologias, equipamentos recém-saídos das fábricas, designs de última geração e até mesmo anúncios institucionais. Na edição deste ano, que terminou dia 19 de março, uma dessas grandes atrações foi o 42 FINANCEIRO Abril 2017

lançamento do McLaren 720S, modelo esportivo intermediário da marca inglesa. Segundo os especialistas, a principal missão do 720S é dividir a atenção daqueles que só têm olhos para Lamborghini Huracán ou Ferrari 488 GTB. Seu design é bastante inovador. Para não interferir na passagem do vento, por exemplo, as portas não têm puxadores e abrem por meio de sistema elétrico. Outra novidade é um dispositivo de recepção que aciona simulta-

neamente o painel de instrumentos e a tela retrátil quando o motorista abre as portas. Mais um atrativo que contribui – e muito – no seu desempenho é uso de alumínio e de fibra de carbono no motor, resultando em um propulsor menos pesado. No entanto, esse conjunto 4.0 V8 biturbo, com câmbio automatizado de sete marchas, não decepciona e gera 719 cavalos e torque de 78,5 kgfm a 5.500 rpm. Ele chega aos 100 km/h em menos de 2,9 segundos e a sua

Fotos: Divulgação

Recém-apresentado no Salão de Genebra, o McLaren 720S, modelo intermediário da marca inglesa, chama a atenção, entre outras qualidades, pelo seu design arrojado, motor mais leve e velocidade máxima de 341 km/h


McLaren 720S | financeiro

Ponto de Criação

velocidade máxima chega a atingir 341 km/h. Já seu consumo de combustível em área urbana é de 6 km/l e na estrada mais do que dobra: 13 km/l. Com três opções de ajuste de suspensão − pista, esporte e conforto −, o chassi apresenta ainda um controle ativo de última geração. Além disso, seus amortecedores são interligados hidraulicamente, o que contribui na estabilização da carroceria, independentemente da inclinação ou da situação da pista. Os carros da McLaren são classificados em séries: a Sports Series reúne os modelos de entrada (540C, 570S e 570GT); a Super Series agrupa os intermediários (650S, 675LT) e a Ultimate Series representada apenas o P1 e sua versão GTR. O McLaren 720S é o primeiro membro da segunda geração da Super Series. Que venham outras, os amantes da velocidade agradecem. f

cerca de 70% de cura, 90% de pacientes do sus e referência no tratamento do câncer infantil

Foto: Maurício Nahas

Com a ajuda de muita gente, ampliamos o nosso hospital e as chances de recuperação de crianças e adolescentes com câncer. Nosso orgulho é poder mostrar a cada doador que sua contribuição é investida com muita responsabilidade para oferecer aos pacientes, como o Kaike, um tratamento digno, humano e comparado aos melhores do mundo. Junte-se a nós! Seja um doador.

www.graacc.org.br Kaike, paciente do GRAACC, com Reynaldo Gianecchini

1991

1998

2013


financeiro | estante

LIVROS O LIVRO DA PAZ Trata-se de uma pequena coletânea de contos e poemas que compõem o Jataka, um conjunto milenar de 547 poemas que se referem às vidas anteriores de Sidarta Gautama, o Buda, muitas vezes sob a forma de um animal. São textos que remetem a reflexões a respeito da paz e trazem ensinamentos para a vida. Adaptadores: Heloisa Prieto, Victor Scatolin Editora: Moderna

CARTAS A UM JOVEM ECONOMISTA São textos em que o autor transita entre suas experiências pessoais e profissionais, além das agruras que viveu no mercado financeiro. O economista conta suas histórias com o objetivo de ajudar os jovens a enxergar a profissão de uma maneira mais humana, transcendente e digna. Autor: Gustavo Franco Editora: Elsevier

POR UM FIO O médico Drauzio Varella reflete sobre o impacto da convivência com a dor e com a perspectiva da morte no comportamento de pacientes e de seus familiares. Em seus trinta anos de experiência clínica, o autor pinçou histórias reveladoras da alma humana diante do câncer. Há narrativas tristes, mas também relatos de curas quase impossíveis, graças aos avanços da medicina. Autor: Drauzio Varella Editora: Cia. das Letras

EFEITO BOLA DE NEVE − O MAIOR INVESTIDOR DO MUNDO A autora narra a vida e as fases de Warren Buffett. Para isso, ela teve acesso ao cotidiano do megainvestidor, a pessoas que trabalharam próximas a ele, às suas opiniões, às lutas e aos triunfos que conquistou, suas loucuras e sabedorias. Autora: Alice Schroeder Editora: Sextante

44 FINANCEIRO Abril 2017


terceiro setor | financeiro

EFICIÊNCIA DA

CARIDADE Foto: Pastoral da Criança/Divulgação

Fundada há 34 anos pela Dra. Zilda Arns e pelo hoje cardeal emérito Dom Geraldo Majella Agnelo, a Pastoral da Criança trabalha, a partir de Curitiba, pelo desenvolvimento integral de milhares de crianças carentes. São mais de 870 mil famílias cadastradas, em 3.665 municípios brasileiros

T

odos os dias o Brasil se volta para Curitiba em buscas das novidades sobre a Operação Lava Jato e os últimos atos do juiz Sérgio Moro. No entanto, a capital paranaense tem outros bons motivos para atrair, diariamente, a atenção dos brasileiros. Um deles é o trabalho humanitário realizado há 34 anos pela Pastoral da

Criança, direcionado ao desenvolvimento integral de crianças carentes, desde a gestação até os seis anos de idade. Seus números retratam e justificam o reconhecimento nacional e internacional: são mais de 870 mil famílias cadastradas, 61 mil gestantes acompanhadas, 176 mil voluntários, contingente distribuído em 32.348 comunidades, de 3.665 municípios brasileiros.

Quando a Pastoral da Criança foi fundada em 1983, em Florestópolis, região de Londrina, pela médica sanitarista e pediatra Zilda Arns Neumann e pelo então arcebispo, hoje cardeal emérito, Dom Geraldo Majella Agnelo, a mortalidade infantil na região era de 127 crianças em cada mil nascidas vivas. Após um ano de atividades, esse índice já tinha Abril 2017 FINANCEIRO 45


financeiro | terceiro setor calendário anual de campanhas. “Assim, cada voluntário terá a certeza de que sua colaboração faz parte de uma grande soma de esforços, que estará acontecendo ao mesmo tempo pelo Brasil afora”, diz a mensagem contida no material distribuído pela Pastoral.

“ASSIM, CADA VOLUNTÁRIO TERÁ A CERTEZA DE QUE SUA COLABORAÇÃO FAZ PARTE DE UMA SOMA DE ESFORÇOS” TODA GESTAÇÃO DURA 1000 DIAS Quem lê o conteúdo compartilhado pela Pastoral percebe que suas campa-

FAMÍLIA RECEBE VISITA DE VOLUNTÁRIA: informação e acompanhamento da criança

46 FINANCEIRO Abril 2017

nhas não sugerem fórmulas prontas. São apenas caminhos para que os voluntários consigam atingir os objetivos. Na ação Toda Gestação Dura 1000 Dias, por exemplo, recomendam que eles visitem os postos de saúde e entreguem os folhetos para os médicos e outros profissionais que mantêm contato direto com gestantes e crianças. Além disso, lembram a importância de manter um bom relacionamento com todas as pessoas que atuam no posto e procuram difundir, permanentemente, o trabalho realizado pela Pastoral da Criança.

COMO AJUDAR Se você ficou sensibilizado pelo trabalho da Pastoral da Criança, veja como pode fazer a sua doação em benefício da educação integral de crianças carentes. Pessoas físicas e jurídicas podem colaborar fazendo doação de equipamento ou dinheiro. As contribuições feitas por pessoas físicas não têm dedução fiscal. Já as doações de pessoas jurídicas, tributadas pelo lucro real, podem ser deduzidas do Imposto de Renda até o limite de 2% do lucro operacional. Mais informações no link: www.pastoraldacrianca. org.br/doar.

NELSON ARNS NEUMANN: coordenador internacional da Pastoral da Criança

Fotos: Pastoral da Criança/Divulgação

diminuído para 28 óbitos, em cada mil nascidos. Em 2010, quando a Dra. Zilda morreu durante o terremoto no Haiti, a mortalidade infantil já havia caído para 17 a cada mil nascimentos. A fórmula da Dra. Zilda para conquistar boa parte dessa transformação era muito simples: o soro caseiro. Uma receita eficiente que ela costumava resumir em poucas palavras: açúcar, sal e alguma coisa a mais. “O sonho da Dra. Zilda era que a Pastoral sobrevivesse a ela”, lembra o filho, Nelson Arns Neumann, médico epidemiologista e atual coordenador internacional e adjunto nacional da entidade. “No começo, o problema eram a mortalidade e a desnutrição. Hoje temos outros desafios e um novo contexto social”, diz ele. No entanto, sem perder o foco na sua missão de garantir o desenvolvimento integral da criança, principalmente a mais pobre, a Pastoral oferece, por meio de seus voluntários e do apoio da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), orientações básicas de saúde, nutrição, educação e cidadania. Para que esse conhecimento atinja cada vez mais famílias, em 2017 a entidade concentra esforços na divulgação do seu


pastoral da criança | financeiro

DRA. ZILDA ARNS: CORAGEM SEM LIMITE

Foto: Jader Rocha/Divulgação

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édica pediatra e sanitarista, Dra. Zilda Arns Neumann sempre foi uma mulher de coragem. Seu primeiro grande desafio foi criar os cinco filhos, depois que o marido morreu do coração, ao tentar salvar uma criança no mar. O filho mais velho estava com 14 anos e a menor com apenas 4 anos. Seu trabalho à frente da Pastoral da Criança não foi menos desafiador, pois vivia para defender crianças, gestantes e idosos; construir uma sociedade mais justa, fraterna, com menos doenças e sofrimento humano. Fazia tudo isso sem nunca tirar o sorriso do rosto. Ela costumava dizer: “Há muito o que se fazer, porque a desigualdade social é grande. Os esforços que estão sendo feitos precisam ser valorizados para que gerem outros ainda maiores”. A Dra. Zilda morreu em 12 de janeiro de 2010, mais uma das vítimas que devastou o Haiti. Naquele mesmo dia, a fundadora da Pastoral discursou sobre como salvar vidas com medidas simples, educativas e preventivas. Fez o que sempre falou: congregar mais pessoas para se unirem na busca de “vida em abundância” para crianças e gestantes pobres. f

“HÁ MUITO O QUE SE FAZER, PORQUE A DESIGUALDADE SOCIAL É GRANDE. OS ESFORÇOS QUE ESTÃO SENDO FEITOS PRECISAM SER VALORIZADOS PARA QUE GEREM OUTROS AINDA MAIORES” Abril 2017 FINANCEIRO 47


financeiro | cultura

ESQUINA

LÍRICA

N

ão são poucos os paulistanos que desconhecem a existência de uma joia arquitetônica e cultural bem na esquina das ruas Albuquerque Lins e Barra Funda, próximo do centro de São Paulo, região em que o movimento da Semana de Arte Moderna, de 1922, começou a ganhar forma. A surpresa é ainda maior 48 FINANCEIRO Abril 2017

quando se descobre que esse patrimônio artístico comemora, em 2017, seu centenário de inauguração. Para quem não matou a charada, estamos falando do Theatro São Pedro – o segundo mais antigo de São Paulo, atrás apenas do Theatro Municipal, inaugurado em 1911. Tombado em 1984 pela Secretaria Estadual de Cultura, após passar por

uma grande restauração, o São Pedro tornou-se há 19 anos a principal referência paulista em montagens de óperas. Com capacidade para mais de 600 lugares, sua estrutura confortável e acústica privilegiada, sem perder a atmosfera aconchegante, favorece as produções operísticas. Além disso, desde 2010, aos poucos, foi se transformando

Fotos: Theatro São Pedro/Divulgação

Ao comemorar seu centenário, o Theatro São Pedro, em São Paulo, mantém programação dedicada à ópera, além de abrir espaço para seleção e formação de novos cantores


theatro são pedro | financeiro em um dos mais importantes polos para seleção e formação de novos talentos do canto lírico. Bem antes disso, nos anos de 1960 e 1970, o palco do São Pedro foi um dos núcleos da resistência à ditadura militar, quando foram encenados espetáculos com claro viés político, como Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto e música de Chico Buarque de Holanda; Marta Saré, de Gianfrancesco Guarnieri e Edu Lobo; Tambores na Noite, de Bertolt Brecht; e Queda da Bastilha, uma criação coletiva, em que os atores Celso Frateschi e Denise Del Vecchio chegaram a ser presos em cena.

TEMPORADA 2017 Ao sair do túnel do tempo para nos retomar à sua vocação erudita, o Theatro

São Pedro abriu sua programação 2017, no dia 15 de março, com a estreia da montagem “O Espelho”, ópera de Jorge Antunes, inspirada no conto “O Espelho”, com libreto de Jorge Coli, direção de Caetano Pimentel, regência e direção musical de Pedro Messias. Dia 1º de

abril acontece a Abertura do 15º Concurso Brasileiro de Canto Maria Callas. Dia 21 estreia a temporada da ópera Gianni Schicchi, de Giacomo Puccini. Acompanhe a continuidade da programação acessando o site: www.theatrosaopedro.org.br. f

Apoie a requalificação do Centro de São Paulo. Associe-se à Viva o Centro.

Associação Viva o Centro

Rua da Quitanda, 80 - Térreo - Centro - São Paulo - SP - CEP 01012-010 11 3556-8999 / avc@vivaocentro.org.br

www.vivaocentro.org.br

A Associação Viva o Centro é reconhecida como Entidade de Utilidade Pública pelos governos do Município de São Paulo, do Estado de São Paulo e Federal (DOU de 10/03/2000) e como Entidade Ambientalista, Entidade Promotora de Direitos Humanos e Instituição Cultural pelo Governo do Estado de São Paulo.


financeiro | palavra final

CONVERGÊNCIA MONETÁRIA AJUDA A IMPULSIONAR A EXPANSÃO DA ECONOMIA

N

este início de 2017, a economia brasileira indica fim da recessão e crescentes sinais de estabilização. Contudo, a retomada do crescimento do PIB esperada entre 0,7% e 1% ainda é modesta. Assim, as expectativas estão voltadas para fatores de aceleração do crescimento ainda em 2017 e, principalmente em 2018, quando se espera que o PIB cresça entre 2,3% e 4,0% para os mais otimistas. Atualmente, já há alguns fatores de impulso econômico. Primeiro, a safra agrícola terá oferta de grãos 20% maior neste ano, beneficiando exportações, renda no campo, compra de equipamentos agrícolas e sementes. Ampliará a renda e o emprego regional, com transmissão para outros canais da economia ligados a esse setor. Outro impulso favorável vem do ciclo de expansão global, que está impulsionando o preço das commodities e beneficiando exportações brasileiras, em momento em que as relações de troca são favoráveis para o Brasil. Além disso, o governo Temer avança firmemente nas reformas fiscais fundamentais, como a aprovação da “PEC do Teto dos Gastos Públicos” e agora sinaliza grandes esforços para aprovar rapidamente uma reforma da Previdência viável, junto a uma agenda de minirreformas e medidas para criar condições de atração do capital estrangeiro para participar de concessões, PPAs e investimentos em infraestrutura. Soma-se a isso a queda forte da inflação e um processo

de ampla flexibilização monetária. Assim, a confiança dos agentes econômicos está retornando. O cenário promissor tem sido precificado nos mercados de ativos financeiros: o risco Brasil caiu fortemente, a Bolsa de Valores alcançou patamar mais alto e o real valorizou. Contudo, a “demanda agregada” permanece fraca: a expansão do gasto público é inviável pela enorme crise das contas públicas; o gasto de consumo das famílias ainda está comprimido; e há pesadas dívidas no balanço das empresas resultando na redução ou no fechamento de milhares delas, ampliando fortemente o desemprego. Positivamente, está ocorrendo uma ampla convergência monetária. A inflação está

ACREFI PROJEÇÕES

PIB % anual IPCA % ano Juros % (1) R$ / USD (1) Crédito Total SFN

em forte e consistente queda. A discussão sobre redução de juros para um dígito já está sinalizada pelo Banco Central, que agora avalia a velocidade e a intensidade dos cortes da taxa de juros e sua extensão até 2018. Além disso, o Banco Central está ampliando as ações da Agenda BC+ no sentido de desenvolver medidas e condições para ampliar a oferta de crédito, melhorar o “cadastro positivo”, reduzir spread e taxas de empréstimo ao longo do tempo. Além contar com o Ministério da Fazenda para a revisão de “Lei de Falência” e da “Alienação Fiduciária”. São passos importantes na retomada qualitativa do Crédito SFN e melhoria na relação entre clientes consumidores e o sistema financeiro.

2017 (p) 2018 (p) 2017 (p) 2018 (p) 2017 (p) 2018 (p) 2017 (p) 2018 (p) 2017 (p) 2018 (p)

0,70 2,30 4,30 4,00 9,00 8,50 3,30 3,50 5a8 8 a 12 Fonte: Elaboração autor. (1) fim de ano

Foto: Mário Bock

NICOLA TINGAS Consultor econômico da ACREFI 50 FINANCEIRO Abril 2017

Artigo enviado 08/03/2017


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